Estudo Espectroscópico da Galáxia Peculiar AM0117-412

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA DEPARTAMENTO DE FÍSICA GIUANA ALVES DA SILVA Estudo Espectroscópico da Galáxia Peculiar AM0117-412 FEIRA DE SANTANA - BA MAIO-2016

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA

DEPARTAMENTO DE FÍSICA

GIUANA ALVES DA SILVA

Estudo Espectroscópico da Galáxia Peculiar AM0117-412

FEIRA DE SANTANA - BA

MAIO-2016

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GIUANA ALVES DA SILVA

Estudo Espectroscópico da Galáxia Peculiar AM0117-412

FEIRA DE SANTANA - BA

MAIO-2016

Monografia apresentada ao Curso de Bacharelado em Física da

Universidade Estadual de Feira de Santana como requisito para obtenção

do título de Bacharel em Física.

Orientador: Prof.º Dr. Paulo César da Rocha Poppe.

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Estudo Espectroscópico da Galáxia Peculiar AM0117-412

Aprovada em 20 de maio de 2016

Monografia apresentada ao Curso de Bacharelado em Física

da Universidade Estadual de Feira de Santana como requisito

para obtenção do título de Bacharel em Física.

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Dedico este trabalho à minha família.

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AGRADECIMENTOS

Na trajetória acadêmica encontrei muito desafios mas também fui agraciada em

conhecer pessoas excepcionais que suavizaram os transtornos das etapas que passei.

É com imensa gratidão que expresso meus sentimentos a todos que contribuíram

para minha formação. Agradeço a Deus por te me colocado onde estou e ter estado comigo em

todo o processo, pois sei que sem ele nada posso fazer. Agradeço à minha mãe Eliane Alves e

minha irmã Aniele Alves, que sempre me deram forças para nunca desistir. Agradeço ao meu

namorado, Walison Pires, pelo companheirismo e pela ajuda nos momento difíceis. À toda

minha família que compreendeu minhas ausências e me confortou com palavras de ânimo.

Sou grata também a Deus por te me dado o privilégio de conhecer meu orientador

Dr. Prof. Paulo César da Rocha Poppe, que sem dúvida foi o que mais colaborou para minha

formação acadêmica e pessoal durante o curso, ensinando-me através do exemplo. Agradeço

aos professores do curso em especial: Dra. Prof. Vera Aparecida Fernandes Martin e Dr. Prof.

Iranderly Fernandes de Fernandes que são pessoas fantásticas.

À todos do Grupo de Astronomia Teórica e Observacional (G.A.T.O), onde

encontrei o apoio para o desenvolvimento da minha pesquisa. Em especial à Rennan, Marcos

e Wilton, meus companheiros de estudos, que dividiram comigo o mesmo “barco” e se

tornaram grandes amigos.

Agradeço à PROBIC/UEFS e ao PIBIC/CNPq pelo apoio financeiro. Agradeço ao

OPD/LNA-MCTI que forneceu os dados espectroscópicos para este trabalho de pesquisa.

Enfim agradeço a todos que fizeram parte desta história que está apenas no começo.

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“Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas.”

Do livro O Pequeno Príncipe

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RESUMO

As chamadas Galáxias Peculiares, quando observadas no visível, são caracterizadas

por apresentarem algumas particularidades em sua morfologia. Estudos baseados em

simulações numéricas apontam que as mesmas possuem origem em processos gravitacionais

do tipo fusão (“merging”, onde dois ou mais objetos são combinados em uma única estrutura),

colisão (neste caso, temos uma seção eficaz de colisão/impacto) e efeito de maré (“tidal

interaction”, onde uma galáxia passa próxima o suficiente para perturbar gravitacionalmente a

estrutura de uma segunda galáxia). O fenômeno de interação gravitacional em galáxias nos

força a re-examinar o nosso ponto de vista sobre a classificação e evolução das mesmas.

Como uma contribuição para esta temática, realizamos um estudo espectroscópico da

galáxia peculiar colisional AM0117-412, conhecida em diversos catálogos extragalácticos

como "Boomerang", sendo formado pelo par interagente ESO 296-IG 011 NED01 e ESO

296-IG 011 NED02 (daqui para frente, NED01 e NED02). As observações no óptico foram

realizadas no OPD/LNA-MCTI (Observatório do Pico dos Dias/Laboratório Nacional de

Astrofísica – Ministério de Ciência e Tecnologia e Inovação – daqui para frente, OPD) com o

espectrógrafo Cassegrain no foco principal do telescópio Perkin-Elmer de 1,6m.

Os espectros nucleares residuais (observado menos modelado), obtidos com o código

de síntese espectral Starlight, revelam razões de linha que permitem classificar ambos objetos

como galáxias Starbursts. Parâmetros físicos e geométricos também serão explorados neste

estudo espectroscópico.

Finalmente, com o objetivo de discutir a natureza morfológica observada, uma

simplificada simulação numérica foi também incluída e discutida neste trabalho de pesquisa,

cujo resultado preliminar encontra-se em bom acordo com a estrutura fotométrica observada.

Toda redução espectral foi realizado com o pacote IRAF 2.16 (Image Reduction and Analysis

Facility) no ambiente Linux (Ubuntu 14.04 LTS).

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ABSTRACT

The Peculiar Galaxies, when observed in visible, are characterized by presenting some

peculiarities in their morphology. Studies based on numerical simulations indicate that they

have originated from gravitational processes, such as fusion ( "merging", where two or more

objects are combined into a single structure), collision (in this case, an effective section

collision / impact is present) and tidal effect ("tidal interaction", where a galaxy passes close

enough to disturb the structure of a second). The gravitational interaction phenomenon in

galaxies forces us to re-examine our point of view on the classification and evolution.

As a contribution to this issue, we conducted a spectroscopic study of the peculiar

collisional galaxy AM0117-412, known in many extragalactic catalogs as "Boomerang",

formed by the pairs ESO 296-IG 011 NED01 and ESO 296-IG 011 NED02. The observations

were made at the OPD/LNA-MCTI (Observatory Pico dos Dias/Laboratório Nacional de

Astrofísica-Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação) with the Cassegrain spectrograph

in the main focus of the Perkin-Elmer Telescope 1.6m.

The residual nuclear spectra (observed minus modeled), obtained with the spectral

synthesis code Starlight reveal important lines to classify both objects as Starbursts galaxies.

Physical and geometrical parameters are also explored in this spectroscopic study.

Finally, in order to discuss the observed morphological nature, a simplified numerical

simulation was also included and discussed in this research work, whose preliminary result is in good

agreement with the observed photometric structure. All spectral reduction was carried out with the

IRAF 02.16 package (Image Reduction and Analysis Facility) in the Linux environment (Ubuntu

04.14 LTS).

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SUMÁRIO

Abstract i

Resumo ii

Prefácio iii

Agradecimentos iv

Sumário v

Lista de Publicações vii

Lista de Tabelas viii

Lista de Figuras ix

Capítulo 1

Introdução 17

1.1 Justificativa Científica 21

1.2 Relevância Científica 23

1.3 Motivação Científica 25

1.4 Objetivo Geral 26

1.5 Objetivos Específicos 26

Capítulo 2. Observações e Redução dos Dados

2.1 A Instrumentação Empregada do OPD/LNA-MCTI 27

2.1.1 O Sistema de Controle do Telescópio Perkin Elmer 27

2.1.2 Detector 28

2.1.3 Espectrógrafo Cassegrain (Boller & Chivens) 29

2.2 AM0117-412: Dados Espectroscópicos 32

2.3 O Procedimento de Redução IRAF 36

Capítulo 3 .Artigos Relacionados 39

Capítulo 4. AM0117-412: Resultados Obtidos

4.1 Os Espectros Calibrados 43

4.2 A Síntese Espectral 47

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4.3 A Classificação Espectral 49

4.4 Parâmetros e Geométricos e Cinemáticos 51

4.5 A Curva de Rotação 53

Capítulo 5. Simulação de N-Corpos

5.1 Simulação Numérica: Um Estudo Preliminar 55

5.2 O Código GADGET-2 59

Capítulo 6. Conclusões e Perspectivas 63

Referências Bibliográficas 65

Apêndices

Apêndice1: Informações contidas no header das galáxias MED01 e NED02 68

Apêndice 2: Produção Científica 72

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1.0: Os tipos de galáxias de acordo com o esquema de classificação de Hubble

proposto em 1936. A letra E representam as galáxias elípticas, S0 as chamadas lenticulares, e

as galáxias espirais são classificadas sem (S) e com barra (SB). Fonte:

http://astro.if.ufrgs.br/galax/. 18

Figura 1.1: Telescópio Perkin-Elmer de 1,60m (esquerda) e o espectrógrafo Boller & Chivens

(direita), que é instalado no foco Cassegrain do telescópio. Fonte: Arquivo pessoal. 22

Figura 1.2: Concepção artística do LSST (observatório e telescópio) – imagem esquerda 24

Figura 1.3: Protótipo do espelho de 8,4 m do LSST – imagem direita. 24

Figura 2.1: Janela principal de controle do TCSPD: telescópio, cúpula, estação meteorológica,

etc. Para maiores informações, acessar:

http://www.lna.br/opd/telescop/TCSPD_manual_v1.2.1.pdf 27

Figura 2.2 CCD Ikon 13739 empregado nas observações. Um manual de operação pode ser

encontrado no link: http://www.lna.br/opd/instrum/ccd/manual_ikon.pdf. Para maiores

detalhes, recomendamos o leitor visitar o site da Andor: http://www.andor.com/scientific-

cameras/high-energy-detection/ikon-l-so. 28

Figura 2.3. Curva de eficiência quântica do CCD Ikon 13739, otimizada em 750 nm. 28

Figura 2.4:Detalhes do Espectrografo acoplado no foco Cassegrain do Telescópio. (1) Ajuste

de foco do colimador; (2) Indicador da posição de foco do colimador; (3) Orifício para

abastecimento de nitrogênio líquido; (4) Garrafa criogênica do detetor CCD; (5) Obturador da

rede de difração - para dentro fecha, para fora abre; (6) Escala de coincidência para ajuste do

ângulo da rede. A posição da rede é travada (unicamente) pelas duas borboletas; (7) Módulo

de guiagem com ocular intensificada – normalmente usado com uma câmera CCD; (8)

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Comutador de feixe (para fora o espectrógrafo recebe o feixe do telescópio, para dentro o

feixe é interrompido e projeta-se a luz das lâmpadas de comparação; (9) Interruptor da

lâmpada de Neônio; (10) Ajuste do ângulo de posição do rotator de instrumentos. Três

parafusos na periferia do rotator travam sua posição; (11) Mostrador da posição do rotator de

instrumentos; (12) Eletrônica de aquisição e controle da câmera CCD; (13) Nônio de abertura

da fenda. O rolete do lado esquerdo da escala trava a posição do nônio; (14) Obturador do

colimador (na vertical abre, na posição transversal fecha); (15) Régua de deckers (totalmente

para dentro obtêm-se a posição aberta (0); as posições 1, 2, e 3 para fora selecionam deckers

cada vez maiores); (16) Interruptor da lâmpada de He+Ar. 30

Figura 2.5: Calculadora de rede usada para obter os parâmetros instrumentais. 31

Figura 2.6: Linhas espectrais do He-Ar obtidas com a rede de 300l/mm. 32

Figura 2.7:Imagem bias obtida com o tempo de exposição de 1s (obturador fechado). 33

Figura 2.8: Imagem flat-fields obtidas dentro da cúpula, iluminando uma tela branca. 33

Figura 2.9: Perfil de uma estrela brilhante usada para o foco. A FWHM foi de ~3,4. 34

Figura 2.10: Escala de Pickering. A FWHM obtida corresponde ao valor 6 na escala. Fonte:

http://www.telescope-optics.net/induced.htm. 34

Figura 2.10: AM0117-412: Imagem no visível obtida no Aladin Sky Atlas (http://aladin.u-

strasbg.fr/). As linhas retas indicam as posições das fendas, com os ângulos calculados de

acordo com o valor de referência para o ângulo inicial do rotator (281,5°). A escala da

imagem é de 30 segundos de arco. Norte (N) está para cima, e o Leste (L) para a esquerda. 35

Figura 2.11: Layout do ambiente inicial do IRAF. 36

Figura 2.12: Diagrama de redução empregado neste trabalho. Em parênteses, as tarefas IRAF

empregadas em cada processamento. 39

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Figura 2.13: Janela de entrada dos dados para o “script” (poppe.cl) de redução da galáxia AM

0117-412. Os (*) permitem que todas as imagens presentes sejam consideradas no processo de

redução. 39

Figura 3.0: Imagem na banda azul (a partir de placas do ESO). Norte para cima e Leste para a

esquerda. Os dados para as regiões numeradas são apresentados em várias Tabelas. Para as

cores, temos: V = 17.48, B-V = 0.40, V-R = 0.52, e R-I = 0.28. Para maiores detalhes,

indicamos o artigo Agüero et al. (1999). 41

Figura 4.1.0: Extração do espectro da galáxia NED01 obtida com a tarefa apall, onde o núcleo

é identificado com a abertura central 1. As demais aberturas representam as regiões

extranucleares. 43

Figura 4.1.1: Extração do espectro da galáxia NED02. Ver comentários na Figura 4.1.0 43

Figura 4.1.2: Extinção atmosférica em UBVRI para o OPD. A curva contínua é o modelo

semiempírico de Bessel (1990) e Hayes & Lathan (1975) para a extinção. A pontilhada, a

transmissão da atmosfera. 44

Figura 4.1.3: Algumas aberturas (abt) para a galáxia NED01, mostrando a evolução dos

espectros (em particular das linhas de emissão nas partes azul e vermelha). 45

Figura 4.1.4: Algumas aberturas (abt) para a galáxia NED02, mostrando a evolução dos

espectros (em particular das linhas de emissão). 46

Figura 4.2.0: Espectro nuclear da galáxia ESO 296-IG 011 NED01: O painel superior

representa o espectro observado (em preto) com o modelado via Starlight (sobreposto em

vermelho). O painel inferior ilustra o espectro residual, subtraído da componente estelar, com

as principais linhas de emissão no intervalo espectral estudado. 48

Figura 4.2.1: Espectro nuclear da galáxia ESO 296-IG 011 NED02. O painel superior

representa o espectro observado (em preto) com o modelado via Starlight (superposto em

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vermelho). O painel inferior ilustra o espectro residual, subtraído das componentes estelares,

com as principais linhas de emissão no intervalo espectral estudado. 48

Figura 4.4.0: Representação das elipses ajustadas para calcular os semieixos maior (a) e

menor (b). Os nodos representam simbologias para as velocidades de recessão, de acordo com

as curvas de rotação. 51

Figura 4.5.0: Curva de rotação da galáxia NED01. Apenas os pontos centrais estão

distribuídos ao longo da curva, com os respectivos erros. 54

Figura 4.5.1: Curva de rotação da galáxia NED02. Apenas os pontos centrais estão

distribuídos ao longo da curva, com os respectivos erros. 54

Figura 5.1.0. Simulação da galáxia espiral M51 produzida por Toomre & Toomre (1972). A

imagem da galáxia M51, como representação, foi obtida do site www.astronomyphotos.com.

56

Figura 5.1.1. Galáxia Hoag (direita) e a M51 (rodamoinho) – Arp 85 (direita). 56

Figura 5.1.2. Resultados das simulações para as galáxias M51 (superior) e Hoag (inferior). 57

Figura 5.2.0. Simulação GADGET-2 para a galáxia de estudo AM 0117-412. 62

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Categorias presentes no catálogo de Arp & Madore publicado em 1987. Adaptado

de http://ned.ipac.caltech.edu/level5/SPGA_Atlas/frames.html. 19

Tabela 2: Características físicas do CCD Ikon 13739. 29

Tabela 3: Configurações instrumentais 32

Tabela 4: Fluxos obtidos para as regiões nucleares (1016 ergs/cm2/s) 49

Tabela 5: Razões de linhas de emissão para as regiões nucleares. 49

Tabela 6: Valores da população dos intervalos definidos acima. As duas últimas colunas

mostram a qualidade do ajuste. 50

Tabela 7: Valores dos parâmetros geométricos do NED01 e NED02. 52

Tabela 8a: Parâmetros cinemáticos determinados. 52

Tabela 8b: Parâmetros cinemáticos publicados. 52

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CAPÍTULO 1

1. INTRODUÇÃO

Desde os tempos mais remotos, o céu vem intrigando os observadores com seus diversos

objetos celestes e, como o maior laboratório da humanidade, o Universo é o palco de inúmeras

descobertas científicas. Historicamente, o céu serviu como conhecimento para a orientação

geográfica, para o estabelecimento da agricultura, do transporte, da religião, etc. Com o passar do

tempo, a criticidade na prática observacional tornou o homem um investigador, e foi com o italiano

Galileu Galilei (1564) que a ferramenta de trabalho do astrônomo foi aprimorada. Galileu Galilei,

ao confeccionar a sua pequena luneta a partir de um instrumento óptico, possivelmente

desenvolvido na Holanda (uma vez que vários países reivindicam o direito quanto à origem da

mesma), visualizou “coisas” que jamais tinham sido observadas até então, como as manchas na

fotosfera do Sol, as crateras na superfície da Lua, as fases de Vênus, os satélites naturais do planeta

Júpiter, etc.

O avanço científico a partir do emprego deste instrumento na Astronomia foi enorme nos

séculos seguintes, e através destes, foi possível ampliar o Universo conhecido até outros limites,

saindo do nosso Sistema Solar e explorando aglomerados de estrelas e, posteriormente, outros

intrigantes objetos. As observações realizadas no início do século passado pelo astrônomo

americano Edwin Powell Hubble (1889-1953), permitiram concluir definitivamente que aqueles

objetos “nebulosos” eram, na verdade, outras galáxias mais longínquas, além da Galáxia Via Láctea,

ratificando assim, a suposição feita anteriormente pelo filósofo prussiano, Immanuel Kant (1724-

1804). Em particular, Hubble observou a galáxia de Andrômeda, utilizando um telescópio de 2,5

metros localizado no Mount Wilson, Califórnia, Estados Unidos. No passado, todos os objetos

extensos, galáxias, aglomerados estelares e nebulosas planetárias, eram classificadas como

nebulosas.

A definição de uma galáxia e o seu processo de formação, constitui ainda hoje, uma árdua e

complexa tarefa, no qual envolve muita ciência e muito debate na literatura. Podemos dizer de

maneira bastante simplificada, que as galáxias são estruturas compostas por estrelas, radiação

eletromagnética, partículas energéticas, meio interestelar (contendo gás e poeira), buracos negros e

matéria escura; tudo isso, em uma complicada harmonia sustentada pela força gravitacional. As

demais forças ou interações fundamentais da natureza (eletromagnética, forte e fraca), contribuem

17

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com parcelas muito diminutas dentro deste cenário. Ainda assim, apesar dessa complexidade, os

astrônomos são capazes de classificá-las de acordo com os aspectos geométricos e físico-químicos,

por exemplo, estudando a morfologia observada, identificando estruturas, mecanismos físicos

geradores de energia nuclear, de absorção e de ionização de linhas atômicas, etc.

Observações de galáxias podem ser realizadas em diversos comprimentos de onda do

espectro eletromagnético, empregando técnicas como a fotometria, a polarimetria e a

espectroscopia, as quais estão amparadas no desenvolvimento da Física Moderna. A instrumentação

científica, por outro lado, associada a melhoria dos telescópios no que tange a automatização e ao

tamanho dos espelhos, permitiu avançar de maneira significativa no conhecimento das propriedades

físicas intrínsecas destes objetos. Hoje em dia, podemos observar objetos situados na vizinhança da

nossa Galáxia ou em grandes distâncias, redshifts (z~8, Labbé et. al 2013), resultando, como um

considerável produto, dentre outros, a construção de catálogos de galáxias e de aglomerados de

galáxias. A classificação morfológica ou do esquema proposto inicialmente pelo astrônomo

americano Edwin Hubble (Figura 1.0), representou um passo importante para este processo.

Contudo, nesta versão, as galáxias Irregulares, Anãs e as Elípticas Gigantes, não se enquadravam no

seu diagrama proposto inicialmente, conhecido na literatura como “Tuning Fork Diagram”.

Figura 1.0: Os tipos de galáxias de acordo com o esquema de classificação de Hubble proposto em 1936. A letra E

representam as galáxias elípticas, S0 as chamadas lenticulares, e as galáxias espirais são classificadas sem (S) e

com barra (SB). Fonte: http://astro.if.ufrgs.br/galax/.

A Figura 1.0 representa um dos primeiros e mais simples esquemas de classificação de

galáxias, empregado até hoje, publicado no livro The Realm of the Nebulae (O Reino das

Nebulosas), Edwin Hubble (1936).

18

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Com o prosseguimento de seus estudos, Hubble descobriu que quanto maior a distância,

maior é a velocidade de recessão do objeto. A este vínculo observacional foi dado o nome de Lei de

Hubble, e uma nova janela, Extragaláctica, foi então aberta na Astronomia. Desta maneira, ele

calculou as distâncias de diversas galáxias, catalogou-as e classificou-as de acordo com suas

características morfológicas.

Algumas décadas mais tarde, esta nova janela observacional permitiu explorar o Universo de

diferentes maneiras, e um particular catálogo com 338 galáxias “peculiares” foi publicado em 1966

pelo astrônomo americano Halton Christian Arp (1927-2013). Particularmente, o principal objetivo

do catálogo foi o de apresentar fotografias exemplificando os diferentes tipos de estruturas

peculiares encontrados entre as galáxias vizinhas. Os objetos presentes no “Atlas of Peculiar

Galaxies”, são ordenados em diversas categorias, de acordo com a aparência morfológica. Em seu

trabalho, Arp também percebeu que os processos físicos, isto é, a razão pela qual as galáxias

formadas em estrutura espiral ou elíptica (presentes na classificação de Hubble), não eram ainda

bem entendidos.

Em 1987, ampliando a pesquisa e as conclusões sobre as possíveis origens dos objetos

observados, Arp (em colaboração com Madore) publicou um novo catálogo (A Catalogue of

Southern Peculiar Galaxies and Associations) reunindo observações de ambos hemisférios,

possibilitando que a natureza fotométrica e espectroscópica desses intrigantes objetos fossem

exploradas em vários comprimentos de onda por diversos observatórios. As galáxias peculiares

estão distribuídas em 25 distintas categorias, cujas origens morfológicas podem ser explicadas por

processos gravitacionais envolvendo colisão, fusão ou interações de maré.

Tabela 1: Categorias presentes no catálogo de Arp & Madore publicado em 1987. Adaptado de

http://ned.ipac.caltech.edu/level5/SPGA_Atlas/frames.html.

Código Breve Descrição Frequência Relativa

1 Galáxias com companheiras interagentes 5,5

2 Interagentes duplas (galáxias com tamanho

comparável)

12,6

3 Interagentes triplas 2,0

4 Interagentes quádruplas 0,5

5 Interagentes quíntuplas 0,1

6 Galáxias aneladas (ou objetos com morfologia similar) 3,1

7 Galáxias com jatos 2,4

8 Galáxias com companheiras aparentes 11,5

19

Page 20: Estudo Espectroscópico da Galáxia Peculiar AM0117-412

9 Tipo-M51 (companheira com brações espirais) 2,0

10 Galáxias com braços espirais peculiares 4,1

11 Galáxias com três e múltiplos braços espirais 0,5

12 Galáxias com discos peculiares 2,8

13 Galáxias Compactas 6,4

14 Galáxias com absorção não usual de poeira 1,6

15 Galáxias com caudas, laços de matéria ou detritos 3,5

16 Galáxias irregulares 4,2

17 Galáxias em cadeias 4,0

18 Galáxias em grupos 4,9

19 Galáxias em aglomerados 1,6

20 Galáxias anãs 6,8

21 Objetos estelares com nebulosas associadas 0,7

22 Miscelânea 1,4

23 Pares próximos 11,4

24 Pares triplos 5,6

25 Nebulosas planetárias 0,9

O objetivo deste trabalho de pesquisa consiste em contribuir para uma melhor compreensão

da natureza colisional da galáxia peculiar AM0117-412 (NED01 e NED02), presente no catálogo de

Arp e Madore (1987), Categoria 15: “Galaxies with Tails, Loops of Material or Debris”. O catálogo

é conhecido pelas iniciais AM, seguida pelas coordenadas equatoriais, ascensão reta () e

declinação () para a época padrão de 1950.0. Como exemplo: AM 0117-412: = 01h17m e =

-41o2' (Arp & Madore 1987).

Basicamente, discutiremos os resultados espectroscópicos obtidos com o telescópio Perkin-

Elmer de 1,60m do Observatório do Pico dos Dias – LNA, ao longo da Iniciação Científica,

desenvolvida ao longo de toda a Graduação, a qual permitiu construir a minha primeira base para o

processo de investigação científica em Astronomia. Contudo, vale a pena mencionar a experiência

prévia, ainda no Ensino Médio, obtida durante 1 (um) ano na Iniciação Científica Júnior, na qual foi

desenvolvida com o auxílio (bolsa) da FAPESB. Nesta, obtive o primeiro contato com a Astronomia

no Observatório Astronômico Antares, onde pude conhecer alguns aspectos já relacionados com a

redução e o tratamento de dados.

20

Page 21: Estudo Espectroscópico da Galáxia Peculiar AM0117-412

1.1 Justificativa Científica

Em geral, as diversas áreas do conhecimento evoluem a partir dos resultados científicos que

são obtidos através de estudos teóricos e/ou experimentais. No caso da Astronomia e em particular

da subárea a qual este trabalho científico está associado, Astronomia Extragaláctica, o

desenvolvimento está extremamente vinculado aos resultados advindos das diversas observações

telescópicas sistemáticas realizadas em solo ou no espaço, com instrumentações que permitem

cobrir boa parte do espectro eletromagnético (de raios gama ao infravermelho). A parcela atribuída

às ondas de rádio e micro-ondas são obtidas por meio dos radiotelescópios, antenas como o VLA

(Very Large Array), EVLA (Expanded Very Large Array), VLBA (Very Long Baseline Array) e o

ALMA (Atacama Large Millimeter Array). No país, o ROI (Radiobservatório de Itapetinga – SP),

ligado ao INPE/MCTI e operando em 7GHz, representa a contribuição brasileira nesta faixa

espectral.

No caso específico do nosso trabalho, as observações foram obtidas no projeto de longo

prazo “Estudo Espectroscópico de Galáxias Peculiares e Associações”, coordenado pelo Prof. Dr.

Paulo César da Rocha Poppe ao longo do período de 2012-2015, envolvendo o telescópio Perkin-

Elmer de 1,60m com o espectrógrafo Boller-Chivens (Cassegrain) operando na janela do visível

(Figura 1.1). O projeto objetiva estudar galáxias que apresentam aspectos peculiares em suas

morfologias observadas, em particular, anéis, pontes, filamentos, jatos, laços, detritos de matéria,

etc.

Para o presente estudo científico, foi selecionado o par interagente conhecido na literatura

como “Boomerang”, formado pelas galáxias espirais NED01 e NED02. Tratam-se de objetos

colisionais do Universo local (z ~0,017) com poucas referências individuais na literatura (base de

dados do NED1), categorias 8 e 6, respectivamente. No entanto, para uma análise global, existem

um conjunto maior com 38 referências. Não existem espectros individuais publicados no referido

banco de dados para estes objetos.

Por outro lado, a escolha deste objeto também foi motivada pelo meu interesse particular em

estudar aspectos relacionados à simulação numérica de N-corpos, na qual pretendo ganhar

experiencia para uma futura pós-graduação. Para tal, foi buscada uma parceria com o grupo de

pesquisa da UNIVAP-SP, na qual pude conhecer alguns pesquisadores que trabalham com esta

temática.

1 https://ned.ipac.caltech.edu/ (NASA/IPAC Extragalactic Database)

21

Page 22: Estudo Espectroscópico da Galáxia Peculiar AM0117-412

Figura 1.1: Telescópio Perkin-Elmer de 1,60m (esquerda) e o espectrógrafo Boller & Chivens (direita), que é

instalado no foco Cassegrain do telescópio. Fonte: Arquivo pessoal.

A valorização dos resultados na produção científica é essencial para justificar o investimento

realizado, neste caso, o tempo de observação concedida para realizar o projeto observacional no

OPD/LNA-MCTI. Por outro lado, também aponta diretamente para o impacto que o telescópio

passa a ter no cenário nacional e internacional, justificando, sobretudo, os atuais e os novos

investimentos necessários para o crescente desenvolvimento da atividade observacional do mesmo,

pautado boa parte na melhoria da instrumentação em diversos comprimentos de onda.

Nesse sentido, entendemos que o tempo associado aos processos de observação e de

publicação deve ser o mais curto possível, necessitando assim o desenvolvimento de estratégias que

minimizem esse tempo e também os custos operacionais de computação envolvidos (redução dos

dados). No caso particular deste trabalho, a proposta consiste em usar o “script” desenvolvido pelo

orientador deste trabalho o qual permite obter de forma rápida (~95% do tempo em relação ao

processo clássico, i.e., tarefa por tarefa e com a remoção individual de raios cósmicos) e confiável

(comparadas com reduções de objetos de controle feitas por outros pesquisadores do grupo) a

redução espectral total dos objetos observados ao longo do projeto de longo prazo. Mas em

trabalhos anteriores (iniciação cientifica júnior) utilizamos o IRAF sem usamos o “script” de

redução.

22

Page 23: Estudo Espectroscópico da Galáxia Peculiar AM0117-412

1.2 Relevância Científica

As novas gerações de telescópios “gigantes” apontam para espelhos que prometem

revolucionar diversos ramos da Astronomia e Astrofísica, como é o caso dos projetos Giant

Magellan Telescope (GMT, 25m), European Extremely Large Telescope (E-ELT, 39m) e o Thirty

Meter Telescope (TMT, 30m). O Brasil ainda discute a participação como parceiro nestes e em

outros projetos, os quais envolvem grandes investimentos que podem ser justificados, não apenas

para a pesquisa científica, mas, também, pelo desenvolvimento que será alcançado em áreas

tecnológicas.

Como exemplo desta perspectiva para a Astronomia brasileira, e em particular para os

futuros pós-graduandos, podemos citar o recente acordo2 firmado entre o Laboratório

Interinstitucional de e-Astronomia (LIneA), o Laboratório Nacional de Astrofísica (LNA), a Rede

Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP) e a Academic Network at São Paulo (ANSP) que permitirá a

participação de pesquisadores brasileiros no projeto de construção do Large Synoptic Survey

Telescope (LSST, Figura 1.2). considerado revolucionário para a Astronomia. O LSST é um

telescópio em construção em Cerro Pachón, no Chile, com previsão para entrar em operação em

2022. Com um investimento da ordem de R$ 1 bilhão, o LSST terá capacidade para fazer o

mapeamento de quase metade do céu em seis filtros por um período de dez anos. O telescópio, com

8,4 metros de diâmetro (Figura 1.3), cobrirá um campo de quase 10 graus quadrados, podendo

mapear toda a região do céu ao qual tem acesso em apenas algumas noites. Com os dados do LSST,

os cientistas vão explorar o Sistema Solar, estudar a estrutura de nossa Galáxia e a formação e

evolução de estruturas do Universo.

A título de informação, a câmera de aquisição consiste de um mosaico de CCD com 3,2

bilhões de pixeis e cada exposição cobrirá uma área correspondente a 40 vezes o tamanho da Lua

cheia. A cada noite serão acumulados da ordem de 15 TB de dados, os quais devem ser transmitidos

para diferentes centros para redução e análise, inclusive no Brasil. O sistema fornecerá aos

astrônomos uma visão dinâmica do Universo, onde variações de posição ou fluxo de objetos

celestes serão registradas em intervalos de algumas poucas noites. Estima-se que o LSST gerará da

ordem de 10 milhões de alertas destas variações a cada noite. Estas variações serão classificadas e

os casos mais interessantes serão observados em outros telescópios para análise mais detalhada.

Ao término de 10 anos o levantamento obterá informações sobre 37 bilhões de estrelas e

galáxias explorando um volume de espaço sem precedentes e gerando da ordem de 100 pentabytes

de dados.

2 http://lnapadrao.lna.br/noticias/brasil-assina-acordo-com-telescopio-lsst. Fonte do texto apresentado acima.

23

Page 24: Estudo Espectroscópico da Galáxia Peculiar AM0117-412

O desenvolvimento destes telescópios será destinado, não apenas, mas em sua grande

maioria, para o estudo de objetos longínquos, situados em grandes redshifts (z > 5). Lacunas em

projetos voltados para o universo local (z < 1), importantes para uma análise e compreensão global,

ainda serão necessários, tendo em vista a quantidade de observações acumuladas em inúmeros

catálogos fotométricos e espectroscópicos. Logo, podemos afirmar que este trabalho possui sua

relevância científica ancorada no estudo das galáxias peculiares observadas com z < 1, ainda pouco

exploradas na literatura extragaláctica. Por outro lado, também se encontra totalmente inserido

dentro dos projetos que estão em fase final de discussão no grupo, envolvendo observações para a

confirmação de novas galáxias peculiares situadas em outros redshifts (z < 2 ou 3), com os

telescópios também gerenciados pelo LNA/MCTI: SOAR (4,10m) e GEMINI Norte e Sul (8,0m).

Em resumo, apesar das novas e empolgantes descobertas que estarão associadas em um

futuro próximo com as novas gerações de telescópios, estamos, por enquanto, empenhados em

explorar as observações realizadas através de telescópios de pequeno porte, como o Perkin-Elmer

de 1,60m do OPD/LNA-MCTI. Contudo, dependendo dos resultados científicos apresentados, nada

impede que tais instrumentos possam melhor caracterizar tais objetos com as sofisticadas

instrumentações que serão construídas. Por outro lado, contribuições importantes do Universo local

feitas com telescópios de pequeno porte, poderão fornecer importantes pistas para a compreensão

de estudos do Universo distante.

Figura 1.2: Concepção artística do LSST (observatório e telescópio) – imagem à esquerda

Figura 1.3: Protótipo do espelho de 8,4 m do LSST – imagem á direita.

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Page 25: Estudo Espectroscópico da Galáxia Peculiar AM0117-412

1.3 Motivação Científica

O presente trabalho consiste em um estudo espectroscópico aplicado galáxia peculiar

AM017-412, integrante do Catálogo de Galáxias Peculiares e Associações (Arp e Madore, 1987).

Portanto, este estudo visa contribuir para um melhor conhecimento deste objeto colisional,

fornecendo resultados relacionados aos processos físicos e geométricos da galáxia.

Apesar de não ser necessário neste momento o desenvolvimento específico de novas tarefas

de redução de dados no ambiente IRAF, necessitamos, contudo, do conhecimento astrofísico destes

objetos, do conhecimento óptico de como a observação é realizada pelo telescópio, de como o

espectro é gerado pela rede de difração presente no espectrógrafo, de como é registrado por um

dispositivo de estado sólido (CCD) e, sobretudo, de como a atmosfera influencia na qualidade final

dos dados observados. Grande parte destas informações físicas foram trabalhadas ao longo do Curso

de Bacharelado em Física da UEFS, de tal forma que o entendimento das mesmas foi obtida, de

certa forma, sem maiores complicações, o que permitiu associar a aplicação de um conhecimento a

um estudo científico de caso.

De maneira específica, os conhecimentos destes processos são fundamentais para uma

escolha adequada de parâmetros e constantes que serão empregados ao longo do processo de

redução espectroscópica. Logo, não apenas iremos realizar a redução IRAF dos mesmos, mas

iremos entender uma importante parte de uma ciência que busca fornecer respostas para problemas

fundamentais da humanidade que ainda encontram-se abertos, relacionados com a formação do

universo, das galáxias, de estrelas e de planetas com a capacidade de abrigar vida em planetas

situados em zonas habitáveis.

Por outro lado, este trabalho também aponta para a justificativa necessária de se produzir

dados científicos a partir dos dados brutos de maneira rápida e segura, permitindo assim que as

observações possam ser discutidas e publicadas imediatamente. Nesse aspecto, as perspectivas são

bastante animadoras, tendo em vista que o objeto em estudo não possui resultados detalhados

(parâmetros físicos, químicos e geométricos) publicados na literatura, fornecendo, assim, alguns

resultados inéditos para estudos que podem ser complementados com outras técnicas ou em outros

comprimentos de onda.

Finalmente, acreditamos que a conclusão deste trabalho permitirá dinamizar as linhas de

pesquisa do grupo de Galáxias Peculiares, e também de criar novas perspectivas de exploração

astronômica em novos telescópios e instrumentos.

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Page 26: Estudo Espectroscópico da Galáxia Peculiar AM0117-412

1.4 Objetivo Geral

O presente trabalho monográfico objetiva fornecer resultados espectroscópicos de fenda

longa para a galáxia peculiar AM0117-412 (constituída do par colisional NED01 e NED02),

observada no óptico com o telescópio de 1,60m do OPD/LNA-MCTI.

1.5 Objetivos Específicos

a. realizar a redução via IRAF e obter espectros finais calibrados em fluxo e comprimento de

onda (nuclear e extranuclear);

b. determinar parâmetros físicos (redshift, massa, classificação espectral via diagramas de

diagnóstico, sínteses de populações (idades e metalicidades) e parâmetros geométricos (eixo maior

e menor, elipticidade, excentricidade e ângulo de inclinação) para cada galáxia colisional;

c. realizar uma simulação numérica preliminar para compreender a morfologia atualmente

observada para esta galáxia peculiar.

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Page 27: Estudo Espectroscópico da Galáxia Peculiar AM0117-412

CAPÍTULO 2. OBSERVAÇÕES E REDUÇÃO DOS DADOS

Neste capitulo apresentaremos a instrumentação utilizada para o colhimento dos dados e o

procedimento de aquisição dos espectros calibrados em fluxo e comprimento de onda.

2.1 A Instrumentação Empregada do OPD/LNA-MCTI

As observações no óptico foram realizadas em 2012 no sítio do OPD, localizado em

Brazópolis (sul de Minas Gerais), altitude 1865m, acima do nível médio do mar, com coordenadas

geográficas: longitude (-45° 34' 57") e latitude (-22° 32' 04").

2.1.1 O Sistema de Controle do Telescópio Perkin Elmer

A escolha do telescópio de 1,6m está relacionado ao tipo de ciência pretendida:

espectroscopia de fenda longa de objetos extragalácticos e fracos. O espelho primário possui 1,6

metros de diâmetro e razão focal no foco Cassegrain f/103. O projeto óptico é tipo Ritchey-Chrétien.

O telescópio é automatizado e gerenciado pelo TCSPD (Telescope Control System), de

forma local ou remota, pela internet. O sistema foi construído em LabView. A Figura 2.1 ilustra a

janela principal de controle do TCSPD.

Figura 2.1: Janela principal de controle do TCSPD: telescópio, cúpula, estação meteorológica, etc. Para maiores

informações, acessar: http://www.lna.br/opd/telescop/TCSPD_manual_v1.2.1.pdf3 A relação f/D, vulgarmente chamada de razão focal, é o quociente da distância focal da objetiva pelo seu diâmetro. Ao

inverso da razão focal, temos a abertura relativa.

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Page 28: Estudo Espectroscópico da Galáxia Peculiar AM0117-412

2.1.2 Detector

O CCD (Charge Coupled Device) utilizado foi o Ikon 13739 (Figura 2.2), com maior

eficiência (otimizado) em 750 nm. Possui perdas na parte azul e vermelha do espectro

eletromagnético, como pode ser visto na Figura 2.3. A Tabela 2 ilustra algumas características.

Figura 2.2 CCD Ikon 13739 empregado nas observações. Um manual de operação pode ser encontrado no link:

http://www.lna.br/opd/instrum/ccd/manual_ikon.pdf. Para maiores detalhes, recomendamos o leitor visitar o site

da Andor: http://www.andor.com/scientific-cameras/high-energy-detection/ikon-l-so.

Figura 2.3. Curva de eficiência quântica do CCD Ikon 13739, otimizada em 750 nm.

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Page 29: Estudo Espectroscópico da Galáxia Peculiar AM0117-412

Basicamente, os CCD são semicondutores que convertem a luz em padrões de energia,

através da transformação de fótons em carga elétrica. Um CCD é formado por milhões destes

conversores. A carga de cada um desses sensores é lida e transformada em uma imagem digital.

Tabela 2: Características físicas do CCD Ikon 13739.

Chip: E2V CCD42-40

(fino, back-illuminated)

Tamanho da Imagem (pixel) 2048 x 2048

Tamanho do pixel (microns) 13,5 x 13.5

De forma comparativa, o CCD utilizado atualmente nas câmeras digitais dos celulares são

iluminados frontalmente (front-illuminated). Basicamente, significa dizer que os fótons que deixam

a imagem que está sendo filmada ou fotografada, incidem sobre os sensores diretamente, liberando

assim os elétrons. Cada sensor pode ser entendido como um "balde", onde os elétrons ficam

armazenados. Estes elétrons são coletados periodicamente, formando, posteriormente, as imagens.

O valor de cada bit ou pixel, dependerá da quantidade de elétrons acumulados nesses "baldes".

Os CCD utilizados em Astronomia, ao contrário, são iluminados por trás (back-illuminated),

preservando, de certa forma, os circuitos eletrônicos. Contudo, para que os fótons atinjam o sensor,

praticamente todo o substrato deve ser removido de forma mecânica ou química, reduzido a uma

fina camada de ~20 micra. Como este é um processo extremamente delicado, devido ao grande

número de perdas durante a produção, o custo sobe exponencialmente com a dimensão da matriz de

pixel desejada.

2.1.3 Espectrógrafo Cassegrain (Boller & Chivens)

As observações no óptico da galáxia peculiar AM0117-412 foram obtidas com o

espectrógrafo Boller & Chivens4, ver Figura 2.4 , acoplado no foco Cassegrain do telescópio de

1,6m. Os espectros foram tomados com a menor rede de difração disponível, 300 linhas/mm,

possibilitando uma maior cobertura espectral. Isso permite, por exemplo, incluir todas as linhas de

absorção e de emissão de interesse de estudo na banda do visível.

4 O link http://www.lna.br/opd/instrum/manual/Manual_160mOPD_Cap2.pdf fornece uma completa descrição do

mesmo.

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Page 30: Estudo Espectroscópico da Galáxia Peculiar AM0117-412

Figura 2.4:Detalhes do Espectrógrafo acoplado no foco Cassegrain do Telescópio. (1) Ajuste de foco do

colimador; (2) Indicador da posição de foco do colimador; (3) Orifício para abastecimento de nitrogênio líquido;

(4) Garrafa criogênica do detetor CCD; (5) Obturador da rede de difração - para dentro fecha, para fora abre;

(6) Escala de coincidência para ajuste do ângulo da rede. A posição da rede é travada (unicamente) pelas duas

borboletas; (7) Módulo de guiagem com ocular intensificada - normalmente usado com uma câmera CCD; (8)

Comutador de feixe (para fora o espectrógrafo recebe o feixe do telescópio, para dentro o feixe é interrompido e

projeta-se a luz das lâmpadas de comparação; (9) Interruptor da lâmpada de Neônio; (10) Ajuste do ângulo de

posição do rotator de instrumentos. Três parafusos na periferia do rotator travam sua posição; (11) Mostrador

da posição do rotator de instrumentos; (12) Eletrônica de aquisição e controle da câmera CCD; (13) Nônio de

abertura da fenda. O rolete do lado esquerdo da escala trava a posição do nônio; (14) Obturador do colimador

(na vertical abre, na posição transversal fecha); (15) Régua de deckers (totalmente para dentro obtêm-se a

posição aberta (0); as posições 1, 2, e 3 para fora selecionam deckers cada vez maiores); (16) Interruptor da

lâmpada de He+Ar.

De forma prática, quando centrada na linha do NaI 5892 Å, a cobertura aproximada será de

3269-8515 Å (ver Figura 2.5). A calculadora de rede, disponível em

http://www.lna.br/opd/instrum/cassegr/calc_cass.html, fornece todos os parâmetros instrumentais

associados.

Por outro lado, uma maior cobertura espectral implica em uma menor resolução espacial,

ocasionando uma “superposição” de linhas que possuem comprimentos de onda muito próximos,

como é o caso das linhas proibidas do [S II]: 6716 Å e 6731 Å.

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Page 31: Estudo Espectroscópico da Galáxia Peculiar AM0117-412

Figura 2.5: Calculadora de rede usada para obter os parâmetros instrumentais.

A largura da fenda usada foi de 240 mm (3”), estabelecida em função das inúmeras

observações empregadas pelo grupo de pesquisa. O tempo de exposição foi de 2100 segundos por

objeto, permitindo obter uma razão sinal/ruído de ~100. Por fim, para obtermos as calibrações em

comprimento de onda, empregamos a lâmpada de comparação He-Ar. Esta, em função do

comprimento de onda central escolhido (5892 Å), fornece uma maior quantidade de linhas para

identificação (Figura 2.6), em relação às lâmpadas de Ne ou de Th.

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Page 32: Estudo Espectroscópico da Galáxia Peculiar AM0117-412

Figura 2.6: Linhas espectrais do He-Ar obtidas com a rede de 300l/mm.

Um resumo das configurações instrumentais empregadas durante as observações

relacionadas com os objetos de estudo são descritas na Tabela 3.

Tabela 3: Configurações instrumentais

Item Configuração

Telescópio Perkin-Elmer 1,60m

Espectrógrafo Cassegrain

CCD Ikon 13739

Rede Difração 300 linhas/mm

Lambda Central 600 nm

Cobertura 338-862 nm

Fenda 240 mm (3”)

Exposição 2100 s/objeto

Lâmpada He-Ar

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Page 33: Estudo Espectroscópico da Galáxia Peculiar AM0117-412

2.2 AM0117-412: Dados Espectroscópicos

A metodologia observacional consiste em obter um conjunto de imagens bias e de flat-fields

que caracterizarão as respectivas correções aditivas e multiplicativas, as quais deverão ser

removidas posteriormente na etapa de redução das observações.

Basicamente, as imagens bias (Figura 2.7) são usadas para estimar o nível de ruído

eletrônico do CCD (transferência de cargas) e devem ser adquiridas com tempos de exposição

curtos (~1 segundo ou menor) e com o obturador do CCD fechado.

Figura 2.7:Imagem bias obtida com o tempo de exposição de 1s (obturador fechado).

As imagem flat-fields (Figura 2.8) empregadas neste trabalho, foram obtidos expondo o

CCD a uma tela uniformemente iluminada por uma lâmpada homogênia , situada dentro da cúpula.

Exposições do céu (amanhecer ou crepúsculo, são empregadas em algumas observações). Estas

exposições revelam a variação de sensibilidade de cada pixel do CCD.

Figura 2.8: Imagem flat-fields obtidas dentro da cúpula, iluminando uma tela branca.

Para se obter excelentes espectros ópticos, diversas correções focais foram realizadas com

estrelas brilhantes (magnitudes <5) antes das observações das galáxias, determinando assim um

ótimo valor (menor possível) para a FWHM (Full Width and Half Maximum). Logicamente, esta

tarefa depende da qualidade do céu do sítio observacional (seeing). A Figura 2.9 ilustra esta etapa

para uma dada estrela selecionada a partir do TCSPD, onde a FWHM foi de ~3,4, o que fornece um

seeing da ordem de 1,7. Obviamente, este procedimento deve ser repetido ao longo da noite, pois a

qualidade do céu pode variar.

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Page 34: Estudo Espectroscópico da Galáxia Peculiar AM0117-412

Figura 2.9: Perfil de uma estrela brilhante usada para o foco. A FWHM foi de ~3,4.

Em termos comparativos, podemos associar a qualidade do céu obtido com a chamada

escala pickering, desenvolvida por William H. Pickering (1858-1938). Esta escala serve para

classificar os níveis de turbulência atmosférica baseado na imagem estelar observada pelo

telescópio (Figura 2.10). Portanto, de acordo com a referida escala, a FWHM obtida (1,7)

corresponde ao valor 6. Em resumo, quanto maior o valor na escala, melhor será a qualidade do céu.

Atualmente, para o OPD/LNA, a qualidade do seeing atinge, na melhor das noites, o valor 7.

Raramente o valor 8 (ou superior) é obtido.

Figura 2.10: Escala de Pickering. A FWHM obtida corresponde ao valor 6 na escala. Fonte:

http://www.telescope-optics.net/induced.htm.

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Page 35: Estudo Espectroscópico da Galáxia Peculiar AM0117-412

Em particular, devido à morfologia do objeto estudado, a fenda de difração com abertura de

3 segundos de arco foi posicionada em dois distintos ângulos de posição (P.A.), conforme a Figura

2.10: 175o (NED01) e 85o (NED02).

Figura 2.10: AM0117-412: Imagem no visível obtida do Aladin Sky Atlas (http://aladin.u-strasbg.fr/). As linhas

retas indicam as posições das fendas, com os ângulos calculados de acordo com o valor de referência para o

ângulo inicial do rotator (281,5°). A escala da imagem é de 30 segundos de arco. Norte (N) está para cima, e o

Leste (L) para a esquerda. O header das galáxias é apresentado no Apêndice 1.

Os espectros foram obtidos com a rede de difração de 300 linhas/mm. Estrelas padrão

espectrofotométricas LTT (Baldwin & Stone(1984)), revisadas por Hamuy et al. (1992), (1994))

também foram observadas ao longo da noite (em diferentes massas de ar) para a devida calibração

em fluxo. As informações da lâmpadas de He-Ar (para as galáxias e estrelas), foram obtidas após as

respectivas imagens espectrais, com o intuito de obter as devidas calibrações em comprimento de

onda.

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Page 36: Estudo Espectroscópico da Galáxia Peculiar AM0117-412

2.3 O Procedimento de Redução IRAF

Para fazer a análise dos espectros brutos, utilizamos o pacote de redução IRAF (Image

Reduction and Analysis Facility, http://iraf.noao.edu/, Valdes (1986)), que foi desenvolvido pelo

National Optical Astronomy Observatory (NOAO), em Tucson, Arizona, EUA. A Figura 2.11 ilustra

a janela inicial do IRAF.

Figura 2.11: Layout do ambiente inicial do IRAF.

O IRAF é amplamente utilizado pela comunidade científica astronômica, pois ele possui

diversos pacotes para a redução e análises de dados. Entre as funções que o IRAF disponibiliza,

podemos citar os processamentos em imagens (fotometria) e em espectros (espectroscopia), além

das integrações com pacotes de redução (“pipelines”) desenvolvidos por vários observatórios. O

IRAF ainda permite “fabricação” de dados artificiais, importantes para a construção ou otimização

de novos programas dentro do ambiente. Além disso, o IRAF fornece “demos” extremamente úteis

para os iniciantes.

O software é dividido em pacote (“packages”) e tarefas (“tasks”). Contudo, como se trata de

um código aberto, “scripts” podem ser construídos com o objetivo de otimizar o processo de

redução de dados. Como mencionado anteriormente, neste trabalho foi utilizado um desenvolvido

pelo orientador desta pesquisa, o qual permite uma redução significativa no tempo de redução, cerca

de 95%, quando comparado ao modo clássico. Neste trabalho utilizaremos os pacotes de

espectroscopia, onde os dados brutos são processados com o objetivo de serem calibrados em fluxo

e comprimento de onda.

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Page 37: Estudo Espectroscópico da Galáxia Peculiar AM0117-412

O objetivo da maioria dos dados de calibração é remover os efeitos aditivos, como o nível

do pedestal eletrônico (medido na região do overscan (pedestal) em cada (frame), o nível de pre-

flash (medido nas imagens de bias)), e, se necessário, a corrente de escuro ou darks, que são obtidos

com o mesmo tempo de exposição do objeto científico de estudo. Por exemplo, se o detector

(CCD) usado não fosse suficientemente frio (cerca de 80o Celsius negativos), contaminações devido

ao aquecimento térmico seriam adicionadas as imagens obtidas, de modo que um tempo igual de

exposição de 2100 segundos (dark) deveria ser realizado para subtrair o efeito contaminante.

Como visto anteriormente, os dados de flat-field irão remover os ganhos multiplicativos

(diferenças de ganho pixel a pixel) e as variações de iluminação através do sensor. Contudo, como

as operações não são comutativas, uma ordem deve ser respeitada, neste caso, para o processo de

redução espectral:

1. seleção da dimensão da imagem para a redução (escolhida a partir de uma imagem flat);

2. subtração de overscan (sobre-leitura, para CCD antigos ainda disponíveis no OPD);

3. subtração de bias (viés eletrônico – sempre);

4. correção por dark (corrente de escuro, térmica – para CCD que não atingem baixas

temperaturas);

5. correção por flat-field (variações de sensibilidade – sempre);

Em termos das tarefas (“tasks”), a primeira usada para o tratamento dos espectros brutos é o

“ccdred”, que permite obter uma dimensão (área) contendo excelentes respostas dos pixel

(contagens). Basicamente, este pacote corta as bordas das imagens do CCD onde a resposta dos

pixel não são eficientes. Esta etapa é feita empregando-se uma imagem flat.

O pacote utilizado para a correção do bias é o “zerocombine”, que combina todas as

imagens bias realizadas; em geral, para fins estatísticos, utilizamos um total de 30 imagens.

Para o flat-fields, a tarefa “flatcombine” combina as todas imagens (também empregamos 30

imagens), com a subsequente aplicação da tarefa response, onde iremos obtemos a normalização do

arquivo final contendo os flat-fields combinados. A correção de todos os arquivos pelo flat-field

combinado e normalizado é feita pela tarefa “ccdproc”. Depois de tratadas as contribuições

referentes à instrumentação, realizamos as correções relacionadas ao fluxo observado do objeto de

estudo. Um fluxograma descritivo é apresentado a seguir (Figura 2.12), com a tela do “script” de

redução na Figura 2.13.

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Page 38: Estudo Espectroscópico da Galáxia Peculiar AM0117-412

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Page 39: Estudo Espectroscópico da Galáxia Peculiar AM0117-412

Figura 2.12: Diagrama de redução empregado neste trabalho. Em parênteses, as tarefas IRAF empregadas em

cada processamento.

Figura 2.13: Janela de entrada dos dados para o “script” (poppe.cl) de redução da galáxia AM 0117-412. Os (*)

permitem que todas as imagens presentes sejam consideradas no processo de redução.

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Page 40: Estudo Espectroscópico da Galáxia Peculiar AM0117-412

CAPÍTULO 3. ARTIGOS RELACIONADOS

Comparativamente a outros objetos no Universo local, a galáxia AM0117-412 é um objeto

pouco analisado na literatura extragaláctica. No site do banco de dados da NASA, NED/IPAC,

encontramos 8 (NED01) e 6 (NED02) artigos para cada galáxia, e um total de 38 artigos com

análises globais que citam a galáxia de algum modo, quer seja em um catálogo fotométrico ou

dentro de um survey espectroscópico. Neste Capítulo, abordaremos alguns resultados da literatura

relacionados com a galáxia de estudo.

O primeiro artigo a citar a galáxia “Bumerangue” foi publicado em 1968 pelo astrônomo

Jose Luis Sersic, com o título de “Atlas de Galaxy Australes”. A maioria dos artigos publicados

deste objeto são oriundos de survey, onde a galáxia compõe o levantamento mas sem observações

dedicadas para a mesma.

Em 1977, Vorontsov-Velyaminov publicou um catálogo de galáxias interativas, catalogando

1500 galáxias com distintos tipos morfológicos (Vorontsov-Velyaminov 1977). Posteriormente, Arp

e Madore em 1987 publicaram o catálogo “A Catalogue of Southern Peculiar Galaxies and

Associations”, introduzido o conceito de objetos peculiares em sua morfologia observada.

A primeira discussão dos elementos químicos do objeto foi feita por Lauberts et al. 1979):

“Eight Southern Galaxies with Strong Emission Line Spectra”. Em 1988 (Lipovetsky et al. 1988) o

objeto foi introduzido no catálogo de galáxias do tipo Seyfert. Mais tarde, os artigos publicados em

2000 e 2002, “A New Database of Observed Spectral Energy Distributions of Nearby Starburst

Galaxies from the Ultraviolet to the Far-Infrared” e “Star formation in distant sttarburst galaxies”

classificaram a galáxia como Starburst. Nesta, ocorre um surto de formação estelar nuclear,

diferentemente da atividade nuclear do tipo Seyfert, um núcleo compacto e muito brilhante, que

produz um espectro de contínuo não-térmico com linhas de emissão alargadas.

Uma detalhada discussão fotométrica deste objeto foi publicado por Agüero et al (1999),

Figura 3.0. De acordo com os autores, as cores (V, B-V, V-R, R-I) através de todo o sistema

mostram pouca variação e refletem a presença da mesma composição estelar jovem. As cores

observadas, bastante azuis nas regiões observadas em ambas as galáxias (ver numeração), indicam

intensa atividade de formação estelar.

40

Page 41: Estudo Espectroscópico da Galáxia Peculiar AM0117-412

Figura 3.0: Imagem na banda azul (a partir de placas do ESO). Norte para cima e Leste para a esquerda. Os

dados para as regiões numeradas são apresentados em várias Tabelas. Para as cores, temos: V = 17.48, B-V =

0.40, V-R = 0.52, e R-I = 0.28. Para maiores detalhes, indicamos o artigo Agüero et al. (1999).

O redshift de referência publicado no NED (z = 0,017337 ± 0,000040) que conduz a uma

velocidade heliocêntrica radial de 5198 ± 12 km/s, foi determinado no “HI Parkes All Sky Survey

Final Catalog” (Wong 2006).

Finalmente, em 2009, o catálogo, “The Imperial IRAS-FSC Redshift” (IIFSCz), contendo

60303, galáxias selecionadas dentro do catálogo de fontes fracas do satélite IRAS (InfraRed

Astronomical Satellite), incluiu a galáxia de estudo. O IIFSCz fornece posições precisas,

características no óptico, no infravermelho próximo e rádio, além de redshifts espectroscópicos (se

disponível) ou redshifts fotométricos (se possível). Cerca de 55% das galáxias no IIFSCz têm

redshifts espectroscópicos, e mais de 20% têm redshifts fotométricos. Neste catálogo, a presente

galáxia possui entrada F01177-4129, z = 0,0173 e fluxo de 0,882 Jy em 60 microns.

41

Page 42: Estudo Espectroscópico da Galáxia Peculiar AM0117-412

CAPÍTULO 4. AM0117-412: RESULTADOS OBTIDOS

A seguir iremos abordar os resultados obtidos da espectroscopia realizada neste trabalho e

os parâmetros: cinemáticos, dinâmicos e geométricos.

4.1 Os Espectros Calibrados

Utilizando as tarefas presentes na sequência de redução (Figura 2.12), obtemos as janelas de

abertura a partir do perfil bi-dimensional construído pela tarefa apall. A tarefa posiciona a abertura

central (identificada como 1) no pico de distribuição de maior velocidade relativa. Em seguida,

construímos as demais aberturas deslocadas de 3 segundos de arco (Figuras 4.1.0 – 4.1.1). Um

ajuste do fundo de céu é feito para cada janela de abertura.

Figura 4.1.0: Extração do espectro da galáxia NED01 obtida com a tarefa apall, onde o núcleo é identificado com

a abertura central 1. As demais aberturas representam as regiões extranucleares.

Figura 4.1.1: Extração do espectro da galáxia NED02. Ver comentários na Figura 4.1.0.

42

Page 43: Estudo Espectroscópico da Galáxia Peculiar AM0117-412

Com as extrações dos espectros, o próximo passo consiste em identificar as linhas relativas

as lâmpadas de calibração de He-Ar (Figura 2.6) das galáxias com a tarefa identify. É importante

dizer que o mesmo procedimento feito até aqui, também se aplica para as estrelas padrão

espectrofotométricas. Contudo, para estas, deveremos criar a curva de sensibilidade, que será obtida

com a tarefa sensfunc em função da curva de extinção média calculada anteriormente para o OPD

(Figura 4.1.2), obtida através de observações de estrelas padrão espectofotométricas (Jablonski et al.

1994).

Figura 4.1.2: Extinção atmosférica em UBVRI para o OPD. A curva contínua é o modelo semiempírico de Bessel

(1990) e Hayes & Lathan (1975) para a extinção. A pontilhada, a transmissão da atmosfera. Fonte:

http://www.lna.br/workshop2010/Proc-OSG/posters/FranciscoJablonski.pdf

Resumidamente, parte da luz emitida por uma estrela que se observa no solo através de um

telescópio, foi absorvida ou espalhada pela atmosfera terrestre. Assim, para que possamos estimar a

intensidade luminosa “real” da estrela, precisamos subtrair as indesejáveis interferências da

atmosfera, calculando a quantidade de luz que foi absorvida ou espalhada nesse processo, a qual

chamamos de extinção. Então, para uma estimativa da extinção da luz, é necessário conhecer,

inicialmente, o quanto de atmosfera a luz atravessou até chegar ao telescópio, i.e., a massa de ar que

foi atravessada pela luz

Como exemplo, para uma observação no zênite, a massa de ar vale 1 e esta aumenta a

medida que a estrela se aproxima do horizonte. Portanto, precisamos determinar uma curva de

43

Page 44: Estudo Espectroscópico da Galáxia Peculiar AM0117-412

extinção em função da massa de ar, o qual é feita através da observação de estrelas padrão, ou seja,

estrelas com brilho não variável e muito bem conhecidas). Geralmente, são estimadas as

magnitudes em cada um dos filtros UBVRI, para cada uma das estrelas padrão, em diferentes

massas de ar e isso servirá como base para a calibração das magnitudes das outras estrelas e de

outros objetos de interesse.

Para calibrar em fluxo, usamos a tarefa “calibrate” com as estrelas espectrofotométricas

observadas na mesma noite. Por fim, realizamos a correção do efeito Doppler com a tarefa

“dopcor” e a correção de avermelhamento com a tarefa “dered”. O resultado final são os espectros

calibrados em fluxo e comprimento de onda, de acordo com as Figuras 4.1.3 e 4.1.4.

Figura 4.1.3: Algumas aberturas (abt) para a galáxia NED01, mostrando a evolução dos espectros (em particular

das linhas de emissão nas regiões azul e vermelha).

44

Page 45: Estudo Espectroscópico da Galáxia Peculiar AM0117-412

Figura 4.1.4: Algumas aberturas (abt) para a galáxia NED02, mostrando a evolução dos espectros (em particular

das linhas de emissão nas regiões azul e vermelha).

As principais linhas de emissão na parte azul do espectro (H 4862Å, [O III] 4959Å, [O

III] 5007Å) e na vermelha (H 6562Å, [N II]6548Å, [N II]6583Å, [S II] 6716Å, 6731Å)

são marcadas em ambas Figuras. Estas, por sua vez, serão empregadas para a classificação espectral

através das seguintes razões de linhas ou, comumente conhecido como diagrama de diagnóstico

(Veilleux & Osterbrock 1987):

log [O III]/H versus log [S II]/H

log [O III]/H versus log [N II]/H

log [O III]/H versus log [O I]/H

Uma discussão sobre a eficiência desses diagramas e as escolhas dessas razões de linha pode

ser obtida em Osterbrock (1989). Basicamente: (i) a possibilidade de diferenciar fisicamente

Núcleos Ativos de Galáxias (AGN) e regiões H II; (ii) a presença de fótons de altas energias como

um importante processo de ionização; (iii) e a produção do O++ predominantemente por fótons UV

situados perto da fonte ionizante.

45

Page 46: Estudo Espectroscópico da Galáxia Peculiar AM0117-412

4.2 A Síntese Espectral

Uma vez obtidas as linhas de emissão, o procedimento de subtrair o espectro da contribuição

estelar subjacente permite realizar uma precisa determinação do fluxo observado. Neste trabalho,

empregamos o cálculo da população estelar usando o código de síntese espectral Starlight,

desenvolvido pelo Grupo de Astrofísica da UFSC: Cid Fernandes et al. (2005); Mateus et al. (2006);

Stasinska et al. (2006); Mateus et al. (2007).

Basicamente, através de combinações lineares de uma base simples de população estelar,

modela-se o espectro observado (Oλ) em diferentes estágios de idade e metalicidade. O método

também dispõe de diversos espectros sintéticos modelados (Mλ), e o que melhor minimiza o 2 , isto

é, o que ajusta-se de forma mais coerente ao contínuo do espectro observado é utilizado. Tal

mecanismo é expresso pela equação:

χ2=Σλ (Oλ−M λ)ωλ

2 (1)

onde wλ é o inverso do ruído no espectro observado. A subtração dos espectros (Oλ–Mλ) tem como

resultado um espectro puro de linhas de emissão, pois a contribuição das linhas de absorção

advindas das estrelas são extraídas, levando assim o espectro residual ao nível zero do contínuo

estelar. As bibliotecas que utilizamos para o modelamento dos espectros sintéticos foram a Bruzual

& Charlot que contêm 3 metalicidades (Z=0,004; 0,020 e 0,050) e emprega uma faixa de idade de 1

mega anos a 13 giga anos (Bruzual & Charlot, 2003).

Os espectros finais obtidos para as regiões nucleares (NED01 e NED02) são mostrados nas

Figuras 4.2.0 e 4.2.1. As intensidades das principais linhas de emissão nebular (Tabela 4), relativas

ao referencial de repouso, também foram devidamente identificadas nos painéis inferiores das

respectivas Figuras.

Percebe-se, claramente, um aumento significativo na intensidade das linhas de emissão na

parte azul do espectro. Acontece que esta parte é mais afetada pelo efeito de extinção e o código

Starlight “devolve” a energia perdida neste processo. Dessa maneira, temos as linhas devidamente

corrigidas para serem medidas, cujas razões específicas permitirão determinar a classificação

espectral nuclear para ambas galáxias.

46

Page 47: Estudo Espectroscópico da Galáxia Peculiar AM0117-412

Figura 4.2.0: Espectro nuclear da galáxia ESO 296-IG 011 NED01: O painel superior representa o espectro

observado (em preto) com o modelado via Starlight (sobreposto em vermelho). O painel inferior ilustra o espectro

residual, subtraído da componente estelar, com as principais linhas de emissão no intervalo espectral estudado.

Figura 4.2.1: Espectro nuclear da galáxia ESO 296-IG 011 NED02. O painel superior representa o espectro

observado (em preto) com o modelado via Starlight (sobreposto em vermelho). O painel inferior ilustra o espectro

residual, subtraído das componentes estelares, com as principais linhas de emissão no intervalo espectral

estudado.

Assim, para a determinação da classificação espectral, usamos as linhas de emissão do

espectro final nuclear, cujos valores obtidos estão presentes na Tabela 4.

47

Page 48: Estudo Espectroscópico da Galáxia Peculiar AM0117-412

4.3 A Classificação Espectral

O método mais utilizado para a classificação espectral é o de razões de linhas, que foi

primeiramente proposto por Baldwin et al (1981). O critério está baseado na combinações de várias

linhas de emissão, cujas representações gráficas fornecem os chamados diagramas de diagnóstico.

De acordo com a Tabela 4 que fornece os fluxos nucleares calculados para ambas galáxias e a

Tabela 5, que utiliza um conjunto de razões de linhas propostos por Veilleux e Osterbrock (1987),

como rediscussão do trabalho anterior, e também de Ho et al. (1997), baseados em um conjunto

maior de observações, concluímos que os núcleos de ambas galáxias apresentam características de

Starburst (intensos surtos de formação estelar), segundo a definição de Weedman et al. 1981.

Tabela 4: Fluxos obtidos para as regiões nucleares (1016ergs/cm2/s)

Íons (Å) NED01 (Fluxo) NED02 (Fluxo)

Hβ (λ4862) 59,13 143,1

[O III] (λ4959) 41,12 78,41

[O III] (λ5007) 126,0 216,0

He I (λ5876) x 13,33

[O I] (λ6300) 11,94 17,67

Hα (λ6562) 174,7 406,6

[N II] (λ6584) 30,19 79,40

[S II] (λ6717) 48,27 103,4

[S II] (λ6731) 27,50 63,59

Tabela 5: Razões de linhas de emissão para as regiões nucleares.

Razões de Linhas NED01 NED02 Veilleux &

Osterbrock

Ho et al.

[O III]/Hβ 2,13 1,51 0.03-8 Qualquer

[O I]/Hα 0,07 0,04 <0.08 <0,08

[N II]/Hα 0,17 0,20 <0,5 <0,6

[S II]*/Hα 0,43 0,41 >0,4 <0,4

Hα/Hβ 2,95 2,84 - -*[S II](λ6717 + λ6731)/Hα

As razões de linha na tabela 5 apresentam a vantagem de melhor distinguir fisicamente os

vários tipos de objetos, além de minimizar os erros de calibração e as correções devido aos efeitos

de avermelhamento. A razão [S II]/H é obtida com a soma das linhas individuais proibidas do

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Page 49: Estudo Espectroscópico da Galáxia Peculiar AM0117-412

Enxofre ionizado uma vez. As razões H/H apontam que as razões obtidas neste trabalho estão em

bom acordo com o valor teórico esperado (2,85) para estas razões, de acordo com Brocklehurst

(1971).

Com o intuito de contribuir com os resultados da classificação espectral, calculamos também

a porcentagem de populações estelares presentes no núcleo de cada galáxia (Tabela 6), empregando

o código de síntese espectral Starlight. Segundo os critérios definidos em Cid Fernandes et al.

(2005), as populações estelares podem ser divididas nas seguintes classes: jovens (xj = t < 5x107

anos), intermediárias (xi = 5x107 < t <2x109 anos) e velhas (xv = 2x109 < t < 9x1010 anos).

Tabela 6: Valores da população dos intervalos definidos acima. As duas últimas colunas mostram a qualidade do

ajuste.

xi(%) xj(%) xv(%) 2 AdevNED01 66,71 21,90 11,39 0,53 5,12NED02 46,62 32,38 21,11 0,72 2.49

Os valores acima confirmam as classificações nucleares obtidas anteriormente (Starburst),

de acordo com as porcentagens presentes de populações de idades jovens e intermediárias. As duas

últimas colunas representam a qualidade do ajuste. Em particular, “Adev” fornece o percentual do

desvio médio de |Oλ−Mλ|/Oλ sobre todos os pixel onde Oλ and Mλ são, respectivamente, os espectros

observados e modelados pelo Starlight.

4.4 Os Parâmetros Geométricos e Cinemáticos

Para a obtenção das características geométricas dos objetos NED01 e NED02, utilizamos

as equações publicadas no NED/NASA-IPAC. Para o cálculo dos eixos menor e maior, utilizamos a

imagem da galáxia AM0117-412 do tipo FITS (Flexible Image Transport System, Wells et al.

(1981)) disponível no Skyview Virtual Observatory da NASA5. Com o auxílio do IRAF e usando a

relação 1 pixel = 0,25 segundos de arco, valor da escala de placa dada pelo Skyview, calculamos por

trigonometria simples (supondo que as galáxias podem ser representadas por simples elipses,

conforme a Figura 4.4.0), os respectivos semieixos maior (a) e menor (b) de cada objeto.

5 http://skyview.gsfc.nasa.gov/current/cgi/titlepage.pl

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Page 50: Estudo Espectroscópico da Galáxia Peculiar AM0117-412

Figura 4.4.0: Representação das elipses ajustadas para calcular os semieixos maior (a) e menor (b). Os nodos

representam simbologias para as velocidades de recessão, de acordo com as curvas de rotação.

É claro que existe uma grande incerteza no procedimento anterior, uma vez que não temos

certeza absoluta dos limites de cada galáxia na imagem. Contudo, os resultados fornecem uma

primeira aproximação para os tamanhos relativos de cada objeto.

Após o cálculo dos parâmetros geométricos, estimamos os seguintes elementos para cada

galáxia: elipticidade, excentricidade e a inclinação de cada galáxia com respeito ao plano do céu.

Os valores calculados assim como as equações utilizadas estão presentes na Tabela 7.

Tabela 7: Valores dos parâmetros geométricos do NED01 e NED02.

Eixo

maior

(“)

Eixo

menor

(“)

Elipticidade Excentricidade Inclinação em

relação ao plano

do céu (o)

2a 2b 1-b/a [(b/a)2-1]/[(b/a)2+1] cos i = (b/a)

NED01 60,7 22,65 0,63 0,14 68.1NED02 58,8 13,53 0,77 0,37 76.7

50

Page 51: Estudo Espectroscópico da Galáxia Peculiar AM0117-412

Outros parâmetros também foram determinados (Tabela 8a) e comparados com os dados da

literatura (Tabela 8b): redshift (z), velocidade radial heliocêntrica (v) e distância (d). Neste trabalho,

assumimos a constante de Hubble igual a Ho = 73 km/s/Mpc (Freedman & Madore 2010).

Tabela 8a: Parâmetros cinemáticos determinados.

z v(Km/s) d(Mpc)

NED01 0,01702 5060±8 69,3

NED02 0,01708 5121±16 70,16

Tabela 8b: Parâmetros cinemáticos publicados.

z v(Km/s) d(Mpc)

NED01 0,01685 5052±36 69,2

NED02 0,01708 5267±53 72,2

A pequena diferença obtida (~60 km/s) reforça a natureza interagente dos objetos que

originaram a morfologia “Boomerang” observada. Os resultados estão em bom acordo com os

publicados na literatura: NED01 (Laubers et al. 1979) e NED02 (Sekiguchi e Wolstenkroft 1992).

4.5 A Curva de Rotação

Em galáxias espirais, o movimento circular das estrelas no disco é dominante sobre o

movimento desordenado das estrelas do bojo, e a massa pode ser determinada através da curva de

rotação, v(R) x R, i.e., velocidade de rotação em função da distância galactocêntrica.

Assumindo que a maior parte da massa da galáxia está no bojo interno e que o movimento

rotacional das estrelas no disco é determinado pela massa do bojo, a massa pode ser determinada de

maneira simples através da terceira lei de Kepler. Sendo M(R) a massa contida dentro de um raio R,

podemos escrever, onde “G” é a constante gravitacional:

M gal=R v (R)

2

G (2)

Resultados observacionais apontam que a quantidade v(R), nas partes mais externas de

muitas galáxias espirais, não depende mais do raio galactocêntrico R, de modo que v(R) permanece

constante. Logo, como conclusão, podemos dizer que quanto maior o raio R, maior será a massa

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Page 52: Estudo Espectroscópico da Galáxia Peculiar AM0117-412

M(R) interna a ele. No entanto, como as partes mais externas das galáxias espirais contêm uma

quantidade menor de matéria luminosa, observamos que a partir de um certo valor de R a

luminosidade não aumenta mais. Porém, de acordo com a curva de rotação observada, a massa

continua crescendo. Esta intrigante questão é conhecida na literatura como o problema da matéria

escura faltante.

Com a tarefa “XCSAO” (A Radial Velocity Package for the IRAF Environment, Kurtz et al.

1992) presente no pacote RVSAO/IRAF, calculamos as velocidades radiais heliocêntricas com

relação ao núcleo de cada galáxia, permitindo construir um gráfico da velocidade pela distância

galactocêntrica (Figura 4.5.0 e 4.5.1). A galáxia NED01 apresenta um comportamento rotacional

revelando que a parte Sul se aproxima (blueshift) e a Norte se afasta (redshift) do observador. Um

efeito semelhante pode ser verificada na galáxia NED02: blueshift (Leste) e redshift (Oeste).

Outro aspecto que pode ser notado consiste na “deformação” das curvas rotacionais que são

provocadas pela interação existente entre ambas galáxias, claramente evidenciado. A galáxia

NED01 apresenta uma curva mais “comportada” em relação à galáxia NED02.

A partir das curvas de rotação, as velocidades obtidas de ambas galáxias foram utilizadas

para estimar as massas: 3,8 x 1011 Msolar.(NED01) e 5,2 x 1011 Msolar (NED02).

Figura 4.5.0: Curva de rotação da galáxia NED01. Apenas os pontos centrais estão distribuídos ao longo da

curva, com os respectivos erros.

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Page 53: Estudo Espectroscópico da Galáxia Peculiar AM0117-412

Figura 4.5.1: Curva de rotação da galáxia NED02. Apenas os pontos centrais estão distribuídos ao longo da

curva, com os respectivos erros.

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Page 54: Estudo Espectroscópico da Galáxia Peculiar AM0117-412

CAPÍTULO 5. SIMULAÇÕES DE N-CORPOS

Neste capitulo iremos apresentar de forma simples como é feita a simulação numérica de

N-corpos. Sem abordar as equações usadas nos códigos dos programas aqui apresentados fazemos a

abordagem geral de uma simulação preliminar.

5.1. Simulação Numérica: Um Estudo Preliminar

A construção de um modelo que represente uma estrutura ou uma evolução física de um

corpo ou de N-corpos é peça fundamental para a concepção do conhecimento da natureza do objeto.

Na Astronomia, muitas vezes não é possível visualizar todo o processo de formação ou interação

dos corpos celestes. Deste modo, o recurso utilizado para a compreensão é a simulação

computacional. Entender o processo de interação gravitacional entre as galáxias é conhecer o

passado do Universo e prever o futuro através de modelos teóricos.

Em geral, as simulações dependem de 6 (seis) variáveis do espaço de fase hexadimensional,

três variáveis de posição e três de velocidade. Entretanto, as observações astronômicas fornecem

apenas três variáveis, duas referentes ao espaço (x e y) e uma componente de velocidade na linha de

visada. Portanto para fazer simulação numérica é preciso estabelecer vínculos que possibilitem a

obtenção dos outros parâmetros. A técnica usada para simulação é elaborar sistemas em equilíbrio e

que evoluam com o tempo a fim de observar as interações, a distribuição de gás, matéria e a

morfologia final.

Os irmãos Alar Toomre e Juri Toomre foram os primeiros astrônomos a propor a simulação

numérica como uma contribuição para o entendimento das interações em galáxias, Toomre &

Toomre (1972). Usando um código bastante simples (basicamente Mecânica Newtoniana) e sem

parâmetros cosmológicos, os irmãos conseguiram simular várias interações por força de maré (Tidal

Interaction). Basicamente, os núcleos de duas galáxias de massas M1 e M2 são tratados como

pontuais, e movem-se sobre a influência gravitacional mútua. A estrutura da interação consiste em

manter uma galáxia fixa (alvo, M1) com um número inicial de anéis e estrelas em uma órbita

circular kepleriana: estes seriam os parâmetros de entrada desta galáxia. Para uma segunda galáxia,

projétil, que irá colidir com a galáxia alvo, as posições e as velocidades são variadas. A massa é

estimada em uma fração da galáxia intrusa em relação a massa da galáxia alvo. A evolução da

simulação é dada em passos de alguns milhões de anos. Um exemplo da simulação para a galáxia

espiral M51 é ilustrado na Figura 5.1.0, retirado de Toomre & Toomre (1972).

54

Page 55: Estudo Espectroscópico da Galáxia Peculiar AM0117-412

Figura 5.1.0. Simulação da galáxia espiral M51 produzida por Toomre & Toomre (1972). A imagem da galáxa

M51, como representação, foi obtida do site www.astronomyphotos.com.

De posse dessas e de várias outras informações presentes no artigo dos citados autores,

“Galactic Bridges and Tails”, construímos ao longo da Iniciação Científica Voluntária (PEVIC-

UEFS, 2014), um programa em linguagem C que fornece uma primeira estimativa de interação

entre galáxias. Como exemplo de aplicação, simulamos as galáxias Hoag (Hoag's Object) e Arp 85

(M51, NGC 5194),Figura 5.1.1.

figura 5.1.1. Galáxia Hoag (direita) e a M51 (rodamoinho) – Arp 85 (direita).

55

Page 56: Estudo Espectroscópico da Galáxia Peculiar AM0117-412

A galáxia tipo Hoag foi introduzida como um objeto de controle para a simulação (validação

do código numérico – ajuste dos parâmetros de entrada). O anel azul é constituído por estrelas

jovens de elevada massa, e contrasta com o núcleo central de estrelas velhas e vermelhas. As

galáxias com forma anelar podem se formar a partir de diversos processos. Uma possibilidade é

através da colisão com outra galáxia. No entanto, no caso da galáxia Hoag, não há sinais de uma

segunda galáxia, de modo que a explicação para a sua forma peculiar é ainda desconhecida. Por

isso, o nosso particular interesse nesse objeto.

A galáxia M51 (Arp 85), por sua vez, representa um objeto em interação que permite

verificar a robustez do código de simulação construído. A estrutura espiral pronunciada da galáxia é

resultado do encontro com sua galáxia satélite, NGC 5195. Devido à interação, o gás na galáxia foi

perturbado e comprimido em certas regiões, resultando na formação de novas estrelas. Sendo a

morfologia bastante comum em galáxias espirais, a estrutura espiral é preferivelmente induzida na

galáxia mais massiva, este caso, na NGC 5194.

As galáxias estudadas foram representadas por discos estelares, cada uma delas com uma

amostragem diferente de partículas. Como ilustradas na Figura 5.1.2, parte das estrelas afastam-se

bastante da maioria das estrelas que formam os discos.

56

Page 57: Estudo Espectroscópico da Galáxia Peculiar AM0117-412

Figura 5.1.2. Resultados das simulações para as galáxias M51 (superior) e Hoag (inferior).

Para obtermos imagens simuladas semelhantes ao sistema real, precisamos escolher o

melhor ângulo de visada do sistema simulado, além dos parâmetros de entrada: posições e

velocidades de cada galáxia, a razão entre as massas e o tempo de evolução do sistema interagente.

Para as unidades, as massas são expressas em 2.0 x 1010 MSol e o tempo em 1,2 milhões de anos. A

distância é padronizada em 500 pc, de modo que a velocidade vale (500 pc) / (1,2 milhões de anos)

400 km/s. A constante gravitacional foi adotada como G = 1.

As partículas, que representam as estrelas das galáxias, sofrem a ação da força da gravidade

exercida por ambas as galáxias (alvo e intrusa). Inicialmente, as galáxias alvos são discos de

partículas perfeitas; a galáxia intrusa é “jogada” em uma órbita elíptica, e os parâmetros iniciais de

entrada (posição e velocidade) fornecem as condições de interação gravitacional. Durante o

movimento orbital, as “estrelas” vão, aos poucos, abandonando a distribuição original de disco, em

virtude da ação das forças gravitacionais a que estão submetidas.

57

Page 58: Estudo Espectroscópico da Galáxia Peculiar AM0117-412

No caso da galáxia Hoag, usamos 10 anéis com 24 estrelas em cada anel, i.e., 240 pontos ou

“estrelas” ao total. A galáxia intrusa interagente, foi representada com igual massa da galáxia alvo.

A morfologia final foi obtida ao final de 78 milhões de anos (65 passos).

Para a galáxia Arp 85, usamos 10 anéis com 50 estrelas em cada anel, ou seja, 500 pontos ou

“estrelas” ao total. A galáxia intrusa interagente, foi representada com ¼ da massa da galáxia alvo.

A morfologia final foi obtida ao final de 648 milhões de anos (540 passos).

Sendo simples, mas representando um importante exercício para a minha formação

acadêmica, o código desenvolvido só consegue reproduzir interações via força de maré, e a

escolhida para este trabalho não apresenta este tipo de interação. Dessa forma, para uma simulação

preliminar da galáxia AM 0117-412, utilizamos um programa mais robusto o GADGET-26

(GAlaxies with Dark matterand Gas intEracT), desenvolvido por Volker Springel (Springel et al.

2001, Springel 2005), do Instituto Max Planck de Astrofísica na Alemanha.

5.2. O CÓDIGO GADGET-2

O GADGET-2 é um programa de código livre que pode ser configurado nos ambientes

LINUX e WINDOWS. Para o cálculo da força gravitacional, o código é estruturado em uma árvore

hierárquica (TREECODE, Barnes & Hut (1986)), e a hidrodinâmica do sistema é feita com a

técnica SSP (Smoothed-particle hydrodynamics), que é fundamentada pela física não colisional.

O código traça três parâmetros (ligados pela força gravitacional) do sistema: a matéria

escura (que é representada pela física não colisional), as estrelas (que também é caracterizada pela

física não colisional) e o gás (visto como gás ideal fazendo uso da técnica SSP).

A física não colisional é composta pelas equações de Boltzmann e Poisson que são

responsáveis pela descrição do movimento do sistema. A parte colisional que é executada pelo

método SSP, faz uso da equação de Navier-Stokes, para um gás compressível. O método foi

elaborado por Lucy (1977) e Gingold & Monaghan (1977), com a finalidade de calcular as

equações de movimento do fluido compressível via interpolação de grupos de partículas. O método

se baseia nas equações propostas por Monaghan (1992). O principal agente do sistema em interação

é a gravidade.

Existem diversas técnicas para calcular a força que uma partícula efetua sobre a outra. A

técnica mais simples é a PP (partícula-particula). A configuração do sistema é determinada em cada

instante t, calculando a interação de todos os pares de partículas do sistema. Em outras palavras,

6 http://wwwmpa.mpa-garching.mpg.de/gadget/

58

Page 59: Estudo Espectroscópico da Galáxia Peculiar AM0117-412

num sistema com “n” partículas, são definidos n(n-1) pares. Em termos de cálculo, este método

considera um esquema de soma direta, o que o torna, do ponto de vista computacional, mais pesado.

O GADGET-2 utiliza a técnica TREECODE, que baseia-se no fato da interação da partícula

com outra de menor distância ser mais relevante do que com uma partícula de maior distância. Uma

descrição mais detalhada pode ser encontrada em Freitas-Lemes & Rodrigues (2011), Krabbe et al.

(2011), cuja aplicação foi feita para a a galáxia AM 2322-821. A Figura 5.2.0 ilustra uma simulação

preliminar (projeção ortográfica) para a galáxia AM 0117-412, com o GADGET-2. O ambiente

gráfico de visualização foi o Glnemo27.

7https://projets.lam.fr/projects/glnemo2

59

Page 60: Estudo Espectroscópico da Galáxia Peculiar AM0117-412

60

Page 61: Estudo Espectroscópico da Galáxia Peculiar AM0117-412

Figura 5.2.0. Simulação GADGET-2 para a galáxia de estudo AM 0117-412.

61

Page 62: Estudo Espectroscópico da Galáxia Peculiar AM0117-412

CAPÍTULO 6 – Conclusões e Perspectivas

Os espectros da galáxia interagente AM0117-412, composta pelos objetos ESO 296- IG 011

NED01 e ESO 296- IG 011 NED02, foram adquiridos com o telescópio de 1,6m do OPD/LNA-

MCTI. Os resultados espectroscópicos das regiões nucleares apresentados no óptico confirmam a

natureza espectral de ambas galáxias (Starburst), em função das razões de linha e do quantitativo de

populações jovens e intermediárias determinadas com o código de síntese espectral Starlight. As

reduções foram obtidas através do “script” poppe.cl (command language, Figura 2.13), que facilitou

muito a redução e o tempo associado ao mesmo.

As velocidades radiais heliocêntricas obtidas, 5060±8 km/s (NED01) e 5121±16 km/s

(NED02), estão em excelente acordo com aquelas publicadas na literatura. Em adição, a pequena

diferença observada na velocidade (v ~ 60km/s) e posição (d < 1Mpc), confirmam a

característica morfológica interagente (z ≤ 1) observada no visível (Lambas et al. 2003).

Os parâmetros geométricos calculados foram obtidos a partir da imagem óptica presente no

banco de dados do Aladin. Contudo, esperamos realizar uma fotometria UBVRI-H para expressar

melhor as variáveis geométricas obtidas, assim como caracterizar um estudo fotométrico refinado

nestas bandas. Em particular, imagens neste último filtro permitirão identificar às regiões de

formação estelar nos objetos.

As curvas de rotação obtidas são típicas para galáxias espirais. Contudo, apenas as regiões

mais centrais foram exploradas neste trabalho, tendo em vista que uma forte dispersão nos valores

das velocidades estão presentes para r > 5kpc. Este resultado está ligado ao fato do sistema estudado

ser fortemente interagente, o que dificulta uma análise para regiões muito distantes do núcleo.

Estimativas das massas foram obtidas a partir das curvas de rotação. Os valores

determinados (NED01: 3,8x1011 MSolar. e NED02: 5,2x1011 MSolar) encontram-se dentro do intervalo

esperado para galáxias do tipo espiral: 109 - 1012 Msolar.

Ainda que realizada de forma simples, apenas como uma etapa preliminar de estudo, a

simulação conduzida com o GADGET-2 empregando o visualizador Glnemo2, representou de

maneira satisfatória um possível cenário interagente para o aspecto morfológico “Boomerang”

observado para estes objetos. Como perspectiva futura, pretendemos refazer a simulação de forma

mais robusta usando o cluster do grupo de pesquisa da UNIVAP-SP, incluindo variáveis que não

foram empregadas na presente análise.

Finalmente, o presente trabalho permitiu realizar um importante aspecto de investigação

científica, que será de suma importância para a continuidade de minha formação acadêmica à nível

62

Page 63: Estudo Espectroscópico da Galáxia Peculiar AM0117-412

de pós-graduação. O aprendizado obtido na redução de espectros no óptico com o IRAF representou

uma grande vantagem e permitirá avançar rapidamente em projetos de pesquisa relacionados com a

redução espectral, bem como a determinação de vários parâmetros associados ao objeto de estudo.

Um resumo das minhas contribuições científicas são apresentadas no Apêndice 2.

63

Page 64: Estudo Espectroscópico da Galáxia Peculiar AM0117-412

Referências

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volume

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Cid Fernandes R., Mateus A., Sodré L., Stasińska G., Gomes J.M., 2005, MNRAS, 358, 363

Cid Fernandes R., Schoenell W., Gomes J. M., Asari N. V., Schlickmann M., Mateus A., Stasinska

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Astronomia)-Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento, Universidade do Vale do Paraíba, São José

dos Campos, SP. 2011.

Freedman W.L., Madore B.F., 2010, ARA&A, 48, 673

Gingold, R. A.; Monaghan, J. J., 1977, MNRAS, 181, 375

Hamuy, M., Suntzeff, N.B., Heathcote, S.R., et al. 1994, PASP, 106, 566

Hamuy, M., Walker, A.R., Suntzeff, N.B., et al. 1992, PASP, 104, 533

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ISBN 9780300025002

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http://www.lna.br/workshop2010/Proc-OSG/posters/FranciscoJablonski.pdf

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66

Page 67: Estudo Espectroscópico da Galáxia Peculiar AM0117-412

Apêndice

Apêndice 1: Informações contidas no header das galáxias NED01 e NED02

ESO 296 IG- 011 NED01:

am0117412.fits[531,2042][real]: object No bad pixels, min=0., max=0. (old) Line storage mode, physdim [531,2042], length of user area 4131 s.u. Created Sat 12:21:11 09-Aug-2014, Last modified Mon 09:38:37 21-Dec-2015 Pixel file "am0117412.fits" [ok] EXTEND = T / File may contain extensions ORIGIN = 'NOAO-IRAF FITS Image Kernel July 2003' / FITS file originator DATE = '2014-08-09T15:21:11' / Date FITS file was generated IRAF-TLM= '2015-12-21T12:38:37' / Time of last modification OBJECT = 'object ' / Name of the object observed COMMENT FITS (Flexible Image Transport System) format is defined in 'Astronomy COMMENT and Astrophysics', volume 376, page 359; bibcode: 2001A&A...376..359H HEAD = 'DZ936_FS,BR' / Head Model ACQMODE = 'Single ' / Acquisition Mode READMODE= 'Image ' / Readout Mode IMGRECT = '1, 2048, 2048, 1' / Image Format HBIN = '1 ' / Horizontal Binning VBIN = '1 ' / Vertical Binning SUBRECT = '690, 1320,2048,1' / Subimage Format XTYPE = 'Pixel number' / Calibration type XUNIT = 0 / Calibration units TRIGGER = 'Internal' / Trigger Mode CALIB = '0,1,0,0 ' / Calibration DLLVER = '2.93.30006.0' / Software Version EXPOSURE= '2100,00000' / Total Exposure Time TEMP = '-81,8 ' / Temperature READTIME= 1.0E-06 / Pixel readout time OPERATN = 4 / Type of system GAIN = '1.0 ' / Ganho EMREALGN= 0 / EM Real Gain VCLKAMP = 0 / Vertical Clock Amplitude VSHIFT = '76,95 ' / Vertical Shift Speed PREAMP = '4x ' / Pre Amplifier Gain SERNO = '13739 ' / Serial Number UNSTTEMP= '-999 ' / Unstabilized Temperature BLCLAMP = F / Baseline Clamp PRECAN = 0 / Prescans FLIPX = 0 / Horizontally Flipped FLIPY = 0 / Vertically Flipped

67

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CNTCVTMD= 0 / Count Convert Mode CNTCVT = 0 / Count Convert DTNWLGTH= 500. / Detection Wavelength SNTVTY = 0. / Sensitivity SPSNFLTR= 0 / Spurious Noise Filter Mode THRSHLD = 0. / Threshold PCNTENLD= 0 / Photon Counting Enabled NSETHSLD= 0 / Number of Photon Counting Thresholds PTNTHLD1= 0. / Photon Counting Threshold 1 PTNTHLD2= 0. / Photon Counting Threshold 2 PTNTHLD3= 0. / Photon Counting Threshold 3 PTNTHLD4= 0. / Photon Counting Threshold 4 AVGFTRMD= 0 / Averaging Filter Mode AVGFCTR = 1 / Averaging factor FRMCNT = 1 / Frame Count USERTXT1= ' ' / User text USERTXT2= ' ' / User text USERTXT3= ' ' / User text USERTXT4= ' ' / User text FRAME = '2012-09-08T04:16:15.313' / Start of Frame Exposure ESHTMODE= 0 / Electronic Shuttering Mode DETECTOR= 'DZ936_FS,BR' / Head Model EXPTIME = '2100,00000' / Total Exposure Time OUTPTAMP= 'Electron Multiplying' / Output Amplifier CAMGAIN = '4x ' / Pre Amplifier Gain DATE-OBS= '2012-09-08T04:16:15' / File Creation Date (YYYY-MM-HHThh:mm:ss) RA = '01:19:56' / Alfa DEC = '-41:14:12' / Delta EPOCH = '2000.0 ' / Epoca AIRMASS = '1.058 ' / Massa de Ar JD = '2456178.70232' / Data Juliana ST = '00:59:37' / Tempo Sideral AH = '-0:20:54' / Angulo Horario TELESCOP= '1.60m ' / Telescopio INSTRUME= 'Ecass+ikon' / Instrumento OBSERVER= 'Paulo Poppe, Carol Lima, Thauane Souza, Mauro' / Observador RDNOISE = '6.0 ' / Ruido de Leitura FILTER = 'Clear ' / FiltroCOMMENT foco 449 IMAGETYP= 'object ' FILTERS = 'clear ' WCSDIM = 2 LTM1_1 = 1. LTM2_2 = 1. WAT0_001= 'system=physical' WAT1_001= 'wtype=linear' WAT2_001= 'wtype=linear' TRIM = 'Aug 9 12:12 Trim data section is [45:575,7:2048]' ZEROCOR = 'Aug 9 12:12 Zero level correction image is Zero.fits' CCDSEC = '[45:575,7:2048]' BIASSEC = '[1:531,17:554]'

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LTV1 = -44. LTV2 = -6. CCDPROC = 'Aug 9 12:21 CCD processing done' FLATCOR = 'Aug 9 12:21 Flat field image is Resp with scale=1.' OBSERVAT= 'lna '

ESO 296 IG- 011 NED02:

m0117-412B_01.fits[524,2041][real]: object No bad pixels, min=0., max=0. (old) Line storage mode, physdim [524,2041], length of user area 4131 s.u. Created Tue 12:41:00 26-Apr-2016, Last modified Thu 10:36:09 10-Mar-2016 Pixel file "am0117-412B_01.fits" [ok] EXTEND = T / File may contain extensions ORIGIN = 'NOAO-IRAF FITS Image Kernel July 2003' / FITS file originator DATE = '2016-03-10T13:36:09' / Date FITS file was generated IRAF-TLM= '2016-03-10T13:36:09' / Time of last modification OBJECT = 'object ' / Name of the object observed COMMENT FITS (Flexible Image Transport System) format is defined in 'Astronomy COMMENT and Astrophysics', volume 376, page 359; bibcode: 2001A&A...376..359H HEAD = 'DZ936_FS,BR' / Head Model ACQMODE = 'Single ' / Acquisition Mode READMODE= 'Image ' / Readout Mode IMGRECT = '1, 2048, 2048, 1' / Image Format HBIN = '1 ' / Horizontal Binning VBIN = '1 ' / Vertical Binning SUBRECT = '690, 1320,2048,1' / Subimage Format XTYPE = 'Pixel number' / Calibration type XUNIT = 0 / Calibration units TRIGGER = 'Internal' / Trigger Mode CALIB = '0,1,0,0 ' / Calibration DLLVER = '2.93.30006.0' / Software Version EXPOSURE= '2100,00000' / Total Exposure Time TEMP = '-81,8 ' / Temperature READTIME= 1.0E-06 / Pixel readout time OPERATN = 4 / Type of system GAIN = '1.0 ' / Ganho EMREALGN= 0 / EM Real Gain VCLKAMP = 0 / Vertical Clock Amplitude VSHIFT = '76,95 ' / Vertical Shift Speed PREAMP = '4x ' / Pre Amplifier Gain SERNO = '13739 ' / Serial Number UNSTTEMP= '-999 ' / Unstabilized Temperature BLCLAMP = F / Baseline Clamp PRECAN = 0 / Prescans FLIPX = 0 / Horizontally Flipped FLIPY = 0 / Vertically Flipped CNTCVTMD= 0 / Count Convert Mode CNTCVT = 0 / Count Convert

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Page 70: Estudo Espectroscópico da Galáxia Peculiar AM0117-412

DTNWLGTH= 500. / Detection Wavelength SNTVTY = 0. / Sensitivity SPSNFLTR= 0 / Spurious Noise Filter Mode THRSHLD = 0. / Threshold PCNTENLD= 0 / Photon Counting Enabled NSETHSLD= 0 / Number of Photon Counting Thresholds PTNTHLD1= 0. / Photon Counting Threshold 1 PTNTHLD2= 0. / Photon Counting Threshold 2 PTNTHLD3= 0. / Photon Counting Threshold 3 PTNTHLD4= 0. / Photon Counting Threshold 4 AVGFTRMD= 0 / Averaging Filter Mode AVGFCTR = 1 / Averaging factor FRMCNT = 1 / Frame Count USERTXT1= ' ' / User text USERTXT2= ' ' / User text USERTXT3= ' ' / User text USERTXT4= ' ' / User text FRAME = '2012-09-08T05:11:50.391' / Start of Frame Exposure ESHTMODE= 0 / Electronic Shuttering Mode DETECTOR= 'DZ936_FS,BR' / Head Model EXPTIME = '2100,00000' / Total Exposure Time OUTPTAMP= 'Electron Multiplying' / Output Amplifier CAMGAIN = '4x ' / Pre Amplifier Gain DATE-OBS= '2012-09-08T05:11:50' / File Creation Date (YYYY-MM-HHThh:mm:ss) RA = '01:19:56' / Alfa DEC = '-41:14:12' / Delta EPOCH = '2000.0 ' / Epoca AIRMASS = '1.064 ' / Massa de Ar JD = '2456178.74092' / Data Juliana ST = '01:55:22' / Tempo Sideral AH = '00:34:48' / Angulo Horario TELESCOP= '1.60m ' / Telescopio INSTRUME= 'Ecass+ikon' / Instrumento OBSERVER= 'Paulo Poppe, Carol Lima, Thauane Souza, Mauro' / Observador RDNOISE = '6.0 ' / Ruido de Leitura FILTER = 'Clear ' / Filtro COMMENT foco 449 IMAGETYP= 'object ' FILTERS = 'Clear ' WCSDIM = 2 LTM1_1 = 1. LTM2_2 = 1. WAT0_001= 'system=physical' WAT1_001= 'wtype=linear' WAT2_001= 'wtype=linear' TRIM = 'Mar 10 10:35 Trim data section is [47:570,8:2048]' ZEROCOR = 'Mar 10 10:35 Zero level correction image is Zero.fits' CCDSEC = '[47:570,8:2048]' LTV1 = -46. LTV2 = -7.

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Page 71: Estudo Espectroscópico da Galáxia Peculiar AM0117-412

CCDPROC = 'Mar 10 10:36 CCD processing done' FLATCOR = 'Mar 10 10:36 Flat field image is Resp with scale=1.'

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6. SILVA, G. A.; POPPE, P. C. R. ; MARTIN, V. A. F. ; FERNANDES, I. F. ; DIAS, C. L. . REDUÇÃOESPECTRAL DE GALÁXIAS PECULIARES. In: Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, 2012, Feira deSantana. XVI semana nacional de ciência e tecnologia, 2012.

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