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MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE INSTITUTO CHICO MENDES DE CONSEVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE ESTUDO SOCIOAMBIENTAL REFERENTE À PROPOSTA DE AMPLIAÇÃO DA RESERVA EXTRATIVISTA MARINHA ARAÍ-PEROBA, ESTADO DO PARÁ Abril de 2014

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MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE

INSTITUTO CHICO MENDES DE CONSEVAÇÃO DA BIODIVERSID ADE

ESTUDO SOCIOAMBIENTAL REFERENTE À PROPOSTA DE AMPLIAÇÃO DA RESERVA

EXTRATIVISTA MARINHA ARAÍ-PEROBA, ESTADO DO PARÁ

Abril de 2014

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LISTA DE SIGLAS

ACS Agentes de Saúde Comunitários

AGRONOL Associação Agropesqueira de Nova Olinda

APA Área de Proteção Ambiental

ARTENOL Associação de Artesanato de Nova Olinda

ASSAGRICOPA

L

Associação dos Agricultores do Patal

AUREMAP Associação dos Usuários da Resex Marinha Araí-Peroba

BASA Banco da Amazônia

CPRM Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais

DPNM Departamento Nacional de Produção Mineral

EMATER Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado do Pará

FEPA Federação dos Pescadores do Estado do Pará

FNO Fundo Constitucional de Financiamento do Norte

FUNAI Fundação Nacional do Índio

IBAMA Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis

ICMBio Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade

IDEFLOR Instituto de Desenvolvimento Florestal do Estado do Pará

IDESP Instituto de Desenvolvimento Econômico, Social e Ambiental do Estado do Pará

ITERPA Instituto de Terras do Pará

MMA Ministério do Meio Ambiente

MPA Ministério da Pesca e Aquicultura

ONG Organizações não governamentais

PFNM Produtos Florestais Não Madeireiros

PSF Postos de Saúde da Família

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1- Área percorrida e comunidades visitadas no município de Augusto Corrêa-PA.

11

Figura 2 - Aspectos das moradias nas comunidades visitadas. 18 Figura 3 - Aspectos das residências e das comunidades visitadas. 19 Figura 4 - Atividades geradoras de renda declaradas pelos entrevistados nas comunidades visitadas no município de Augusto Correa-PA.

24

Figura 5- Aspecto das oficinas realizadas nas comunidades pólos na construção dos Diagramas de Venn, no município de Augusto Correa-PA.

35

Figura 6 - Número de espécies animais por categoria taxonômica citadas pelos moradores das comunidades visitadas no município de Augusto Correa-PA.

37

Figura 7a - Apetrechos de pesca utilizados pelos pescadores no município de Augusto Correa-PA.

40

Figura 7b - Apetrechos de pesca utilizados pelos pescadores no município de Augusto Correa-PA

41

Figura 8 - Imagens de mariscos comercializados nas comunidades visitadas no município de Augusto Correa-PA.

45

Figura 9 - Famílias botânicas com maior número de espécies citadas pelos moradores entrevistados nas comunidades visitadas no município de Augusto Correa-PA.

49

Figura 10 - Aspectos da produção de farinha e carvão nas comunidades visitadas no município de Augusto Correa-PA

51

Figura 11 - Principais tipos de manivas cultivadas nas comunidades visitadas no município de Augusto Correa-PA

53

Figura 12a- Mapa das áreas de uso dos recursos naturais das comunidades do Pólo Urumajó.

55

Figura 12b- Aspectos da oficina e mapeamento no pólo Urumajó 57 Figura13a- Mapa das áreas de uso do pólo Patal. 58 Figura 13b- Aspectos da oficina no pólo Patal.. 59 Figura 14a- Mapa das áreas de uso dos moradores do pólo Nova Olinda. 60 Figura 14b- Aspectos da oficina no pólo Nova Olinda. 61 Figura 15a- Mapa das áreas de uso das comunidades do pólo Zé Castor (Pontinha).

62

Figura 15b- Aspecto da oficina no pólo Zé Castor. 63 Figura 16 a- Mapa das áreas de uso das comunidades do pólo Aturiaí. 64 Figura 16 b - Aspectos da oficina no pólo Aturiaí 65 Figura 17- Acordo de pesca em Nova Olinda. Fonte: Rosa (2007). 67 Figura 18- Aspectos da sede municipal e festas locais do município de Augusto Correa-PA

74

Figura 19 - Aspectos das áreas turísticas no município de Augusto Correa-PA. 74 Figura 20. Mapa de atrativos turísticos do Município de Augusto Corrêa-PA. 75 Figura 21- Mapa de hidrografia do município de Augusto Correa-PA.. 79 Figura 22- Mapa de elevação do município de Augusto Correa-PA. 80 Figura 23 - Mapa de geologia do município de Augusto Correa-PA. 82 Figura 24 – Mapa de geomorfologia do município de Augusto Correa-PA. 84 Figura 25-Mapa de pedologia do município de Augusto Correa-PA 87 Figura 26-Mapa de cobertura vegetal e uso da terra do município de Augusto Correa-PA.

89

Figura 27- Aspectos das áreas impactadas e uso da terra na região visitada. 91 Figura 28– Aspectos dos ambientes na região visitada no município de Augusto Correa-PA.

92

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LISTA DE TABELA

Tabela 1 - Faixa etária e média de idade dos entrevistados no município de Augusto Correa-PA.

16

Tabela 2 - Tempo de residência dos entrevistados nas comunidades visitadas no município de Augusto Correa-PA.

17

Tabela 3 - Origem da água nas residências dos entrevistados no município de Augusto Correa-PA.

20

Tabela 4 - Esgotamento sanitário nas residências dos entrevistados no município de Augusto Correa- PA.

21

Tabela 5 - Área das classes do mapa de Elevação em metros para o município de Augusto Correa-PA.

80

Tabela 6 - Área das classes do mapa de geologia para o município de Augusto Correa-PA

81

Tabela 7 - Unidades de Tempo Geológico 81 Tabela 8 - Área das classes do mapa de geomorfologia 83 Tabela 9- Área das classes do mapa de solo 85 Tabela 10 – Área das classes do mapa de cobertura vegetal e uso da terra 89

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Número de famílias das comunidades visitadas no município de Augusto Correa-PA.

15

Quadro 2 - Atividades geradoras de renda e consumo nas comunidades visitadas no município de Augusto Correa-Pa .

23

Quadro 3 - Divisão social do trabalho nas atividades de pesca, mariscagem e agricultura entre os entrevistados no município de Augusto Correa-PA.

27

Quadro 4 - Diagrama de Venn do pólo Vila Nova Olinda formado pelas comunidades de Buçuzinho, Buçu, Trevinho e Peroba

31

Quadro 5 - Diagrama de Venn do pólo Zé Castor formado pelas comunidades Ilha do Coco, Bacanga Porto, Pontinha Porto, Ponta do Carmo, Jutaí, Igarapé-Açú, Rio do Meio e Cafezinho.

32

Quadro 6 - Diagrama de Venn do pólo Aturiaí formado pelas comunidades Livramento, Pirateua, e Vila Nova e Mirinzal.

33

Quadro 7- Diagrama de Venn do pólo Patal formado pelas comunidades Cocal, Emburuaca, Tijoca e Anoirá.

34

Quadro 8 - Principais espécies de peixes comercializados pelas comunidades visitadas no município de Augusto Correa-PA..

43

Quadro 9 - Principais espécies de mariscos citados pelas comunidades visitadas no município de Augusto Correa-PA.

46

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SUMÁRIO

1 - Introdução 7 2 - Metodologia e área percorrida 8 3 - Resultados 13 3.1 - Identificação e caracterização da população tradicional envolvida na área proposta para criação de Resex e de outros usuários da área.

13

3.2 - Identificação do uso e manejo dos recursos naturais pela população tradicional envolvida na proposta e levantamento dos dados etnobiológicos

36

3.3 - Identificação e caracterização de possíveis comunidades indígenas ou quilombolas presentes na área.

68

3.4 - Identificação de grupos sociais que poderão interferir (de forma positiva ou negativa) no processo de criação da unidade, bem como suas preocupações e interesses.

70

3.5 - Identificação de áreas naturais e culturais relevantes, com oportunidade para uso público.

73

3.6 - Análise do impacto econômico da criação da unidade de conservação

76

3.7 - Levantamento de dados e análise dos impactos ambientais sobre os usos alternativos do solo existentes, que estão em planejamento ou em implementação nas áreas indicadas.

78

3.8 - Levantamento de dados secundários do meio Físico. 78 3.9 - Levantamento de dados secundários do meio biótico 90 3.10 - Realização de reuniões participativas com as comunidades 94 4 - Referências 96

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1-INTRODUÇÃO

O presente documento técnico tem por objetivo apresentar os principais elementos

que definiram a proposta de ampliação da Resex Araí-Peroba, no município de Augusto

Corrêa. Os dados obtidos de levantamentos secundários sobre a região foram analisados

assim como os documentos recebidos referentes ao processo de ampliação da Resex

Marinha. Foi realizada ainda uma reunião na região, especificamente na comunidade de

Arai, junto à diretoria da Associação Mãe antecedendo aos trabalhos de campo e um de

seus diretores esteve presente nas atividades de campo.

As atividades de campo corresponderam a visitas às comunidades citadas no

Laudo de Vistoria Técnica, além da realização de oficinas em pólos comunitários. Os

estudos etnobiológicos focaram os modos de vida dos moradores e principalmente

destes que praticam a pesca na região. Conversas informais e entrevistas com pessoas

chave, além de observação direta permitiram realizar os diagnósticos e a caracterização

desses moradores.

A solicitação para a ampliação da Resex ocorreu nos anos de 2006-2007. Seus

moradores ainda detêm na memória a proposta de ampliação da unidade de

conservação. Proposta esta diretamente associada com a melhoria da qualidade de vida

e conservação dos recursos pesqueiros. Nas comunidades visitadas as presenças de

coordenadores comunitários e dos Agentes de Saúde Comunitárias revelam a forte

presença da igreja e do governo municipal e a ausência quase que total de líderes

comunitários. As organizações de base como Associações Agropesqueiras que

assinaram a solicitação de ampliação da unidade encontram-se desativadas.

As políticas públicas que chegam à região advêm do governo federal, como o bolsa

verde e o bolsa família; a presença do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos

Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) e do Instituto Chico Mendes de Conservação da

Biodiversidade (ICMBio) é citada principalmente no que tange ao período do defeso do

caranguejo e as denúncias de invasões sobre territórios de pesca. Os conflitos

relacionados à pesca são constantes, sobretudo quanto à invasão de áreas de coleta de

crustáceos e pesca com redes por moradores de outros municípios e localidades com

destruição do ecossistema de mangues, e a pesca predatória.

Os resultados do estudo caracterizam uma população que vive da agricultura e da

pesca, o conhecimento da área e do ambiente é notadamente para uso e manutenção

das famílias. A pesca comercial/industrial é praticada na região tendo como principais

investidores compradores externos organizados e capitalizados vindo dos estados do

Nordeste Brasileiro. A prática da aqüicultura principalmente de ostras ocorre na região,

com necessidade de assistência técnica especializada visto que há uma forte tendência a

esta prática. Os moradores buscam nas atuais representações políticas melhorias na

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infraestrutura das comunidades (saneamento, abastecimento de água, escolas); na

produção, sendo a mecanização para uso da terra a principal reivindicação, além de

valorização de sua produção (farinha e feijão) para escoamento em mercados regionais e

externos.

O principal ecossistema da região o manguezal está fortemente ameaçado pelos

modos de vida dos que praticam a agricultura e uso de técnicas predatórias para a pesca

nas cabeceiras de rios e igarapés que abastecem o mangue. A conservação dos

manguezais deve considerar que, correspondente aos valores ecológicos, existe uma

gama de importantes valores culturais, que se relacionam com sua origem, conservação

e funcionamento ecológico.

Este documento está organizado em uma introdução, metodologia adotada seguido

dos resultados e referências bibliográficas. A introdução trata de um breve relato das

atividades realizadas. Nos itens que compõem os resultados estão descritas as

caracterizações gerais dos moradores das comunidades visitadas e seus modos de vida.

Alguns subitens foram gerados a partir das especificações encontradas nas comunidades

visitadas.

2 - METODOLOGIA e ÁREA PERCORRIDA

A metodologia adotada para a realização deste estudo envolveu duas etapas

básicas. Primeiramente foram selecionados dados secundários disponíveis em bancos de

dados e publicações científicas em artigos, dissertações e teses. A segunda etapa,

correspondeu à coleta de dados primários realizados no período de 25 de janeiro a 03 de

fevereiro de 2013. Foram aplicados questionários, realizadas entrevistas semi-

estruturadas junto aos Agentes de Saúde Comunitários, observação direta durante as

visitas às comunidades e conversas informais com alguns moradores. Entrevistas com

base em um roteiro foram realizadas junto aos representantes de instituições

governamentais e não governamentais que atuam na área contemplando suas ações

exercidas na região, e suas visões e entendimentos sobre a proposta de ampliação da

unidade de conservação Reserva Extrativista Marinha Araí-Peroba, doravante Resex

Marinha Araí-Peroba.

Vinte e um atores sociais considerados chave foram amostrados nas comunidades

visitadas e foram entrevistadas em profundidade. Os entrevistados não representam

apenas pescadores artesanais que praticam a pesca diariamente, já que existem também

outros moradores que esporadicamente exercem a atividade de pesca, mas não têm na

pesca o modo de sobrevivência principal.

As entrevistas com duração média de 3 horas buscou levantar informações sobre a

identificação da família, suas formas de organização social, uso da terra, sua

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dependência dos recursos naturais disponíveis no ambiente, os conhecimentos que

detêm de sua área, e se sabem o que é uma reserva extrativista e o que esperam caso

esta seja ampliada. A técnica de listagem livre que segundo Borgatti (1996) é uma

ferramenta eficiente para indicar quais itens pertencem ao domínio cultural, e referem-se

a um grupo de palavras organizadas, conceitos ou sentenças, foi utilizada para coleta de

dados etnobiológicos.

Trabalhou-se ainda com a utilização de pranchas com imagens e fotos de animais

(mamíferos, aves e peixes) para auxiliar a identificação de ocorrência das espécies na

área. Para a identificação da fauna e da flora citadas pelos entrevistados utilizou-se de

referências bibliográficas específicas da região e consultas ao herbário do Museu

Paraense Emílio Goeldi com fotos para identificação vegetal e a coleção faunística, além

de consultas a taxonomistas.

Segundo o Laudo de Vistoria Técnica que compõe o processo de criação da

unidade de conservação, as comunidades solicitantes estão organizadas em polos.

Desta forma, utilizou-se a lista de comunidades de seus respectivos pólos para serem

visitadas: (1) Pólo Urumajó, composto pelas comunidades Ponta do Urumajó, Água Pau,

Perimerim, Ilha das Pedras, Malhado. As comunidades Croa ou Coroa Comprida e Água

Pau citadas como componente deste pólo sofreram modificações. Na primeira seus

moradores foram transferidos para a sede do município em virtude dos efeitos da erosão

que atingiu a área dos moradores e a segunda, foi integrada a comunidade Ponta do

Urumajó com a chegada da energia elétrica; (2) Pólo Patal composto pelas comunidades

Cocal, Emburuaca, Tijoca, Anoirá e Patal; (3) Pólo Aturiaí pelas comunidades Livramento,

Vila Nova, Pirateua, Mirinzal, Tapera e Aturiaí; (4) Pólo Zé Castor tendo como

comunidades Ilha do Coco, Bacanga e Bacanga Porto, Ponta do Carmo, Cafezinho, Rio

do Meio, Zé Castor/Pontinha e Igarapé-Açu; e (5) Pólo Nova Olinda formado pelas

comunidades Buçu, Buçuzinho, Trevinho, Peroba e Vila Nova Olinda. (Figura 1).

Dessas não foram visitadas as comunidades de Tapera e Ilha do Coco. A primeira,

pela dificuldade nas vias de acesso. As informações sobre os moradores foram obtidas

por meio de conversas informais com os Agentes de Saúde Comunitários que atuam na

região. A segunda, a dificuldade de acesso se deveu ao tempo que decorreria devido à

maré. Para se chegar à comunidade existem dois acessos: um pela comunidade Tapera

e outro pela comunidade Vila Nova Olinda levando um dia de viagem. As informações

sobre a comunidade Ilha do Coco foram obtidas por meio de seus moradores e

lideranças que se encontravam na comunidade de Nova Olinda comercializando produtos

e aguardando a subida da maré.

Nas comunidades pólo (Ponta do Urumajó, Patal, Nova Olinda, Zé Castor e Aturiaí)

foram realizadas as oficinas, aplicação de questionários, observações diretas e

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conversas informais com lideranças e moradores. Em todas as comunidades

pertencentes aos pólos foram realizadas visitas com observações diretas e

acompanhamento, quando possível, de atividades produtivas, além de conversas

informais com pessoas chave. Na ocasião estas eram convidadas para divulgarem e

participarem da oficina a ser realizada nas comunidades pólo.

As oficinas foram agendadas de acordo com a disponibilidade e o tempo para a

divulgação junto aos moradores. Em sua maioria as oficinas foram realizadas a noite, no

Centro Paroquial, a exceção da comunidade Zé Castor, que a oficina foi realizada na

escola. Para organização do local, divulgação na comunidade e preparação do material o

apoio dos coordenadores, agentes de saúde e lideranças das comunidades foi

importante.

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Figura 1- Mapa da área percorrida e a localização das comunidades visitadas no

município de Augusto Correa-PA.

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Em todas as oficinas, a estratégia utilizada foi de apresentação dos objetivos desse

estudo, esclarecimentos sobre o que são reservas extrativistas e o processo de

ampliação da unidade de conservação em questão. Além disso, foram trabalhados

exercícios participativos e em grupo que gerassem dados e informações.

Os exercícios aplicados foram: o Diagrama de Venn, a Matriz Histoecológica e

Mapeamento das Áreas de Uso. Apenas no pólo Urumajó a oficina não foi completa. A

liderança responsável pelo apoio para realização da oficina agendou a mesma para

anteceder a reunião que a comunidade teria com os secretários municipais de obras e de

meio ambiente. Assim, os moradores presentes, depois dos esclarecimentos feitos

aceitaram participar apenas do exercício do mapeamento das áreas de uso

As oficinas seguiram a programação: apresentação dos objetivos do estudo, as

atividades a serem realizadas nas comunidades, explicação e convite para formação de

grupos para realização dos exercícios. Após a apresentação do método dos exercícios,

os grupos se formaram aleatoriamente. Os resultados de cada grupo foram apresentados

na plenária para debates e mitigar dúvidas. O representante e presidente da Associação

dos Usuários da Reserva Extrativista Marinha Araí-Peroba (AUREMAP), Sr. José

Augusto (conhecido como Dego) participou de todas as oficinas contribuindo para os

esclarecimentos sobre a vida na Resex Marinha Araí-Peroba.

As articulações e mobilização nas comunidades ocorreram no momento da

chegada da equipe na área localizando agentes de saúde, lideranças e coordenadores

comunitários para auxiliar a equipe na organização das oficinas. Com o apoio do

Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Augusto Corrêa, obteve-se uma

lista de delegados sindicais presentes nas comunidades que poderiam ser contatados.

Como ação preparatória para a mobilização junto às comunidades solicitantes foi

realizada, em 16 de janeiro de 2013, uma breve reunião na comunidade de Arai. O

objetivo desse encontro foi de se reunir com o Conselho Gestor da Resex para esclarecer

as atividades a serem realizadas e solicitar apoio prévio à mobilização. Na ocasião

buscou-se identificar as lideranças nas comunidades solicitantes. Contudo, a reunião com

o Conselho Gestor não ocorreu. Tentou-se contato com a Associação mãe da Resex

Marinha Araí-Peroba, buscando a mobilização junto aos comunitários e alguns dirigentes.

No entanto, a Associação não conseguiu organizar a mobilização in locu.

Os dados quantitativos foram organizados para análise usando o aplicativo

Microsoft Excel 2007. As análises foram realizadas por meio de métodos da estatística

descritiva, com auxílio de representações gráficas e tabelas.

Em anexo encontram-se a lista de participantes das oficinas realizadas nas

comunidades pólo e a lista de espécies animais e vegetais citadas pelos entrevistados.

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3 - RESULTADOS

Os resultados serão apresentados sendo acrescentados, nos itens respectivos, os

produtos obtidos em campo e os resultantes da pesquisa secundária.

3.1-Identificação e caracterização da população tra dicional e de outros

usuários da área envolvidos na proposta de ampliaçã o da Resex.

A população identificada na área percorrida tem como principal característica as

atividades agrícolas, de pesca e de coleta de mariscos. A atividade de pesca está restrita

as comunidades que estão localizadas próximas as áreas de mangue, aos grandes rios e

a maré. Os moradores da terra-firme estão circundados por áreas de fazendas de gado, e

têm na agricultura sua principal atividade; exercem ainda atividades de pecuária de baixa

produção, de coleta de bacuri e praticam a pesca de cabeceiras e extração de mariscos.

Utilizam os recursos naturais das áreas de capoeira alta, principalmente onde há

“florestas“ de bacuri e palmeiras. No setor industrial existem três fábricas de gelo que

atendem a demanda do setor pesqueiro. Uma está localizada na sede municipal, outra

na Ilha das Pedras, localizada no percurso do rio Urumajó, e uma terceira em Nova

Olinda.

Na região há grande influência da Resex Marinha Araí-Peroba, tanto nas relações

institucionais com o atual governo municipal, quanto junto aos moradores das

comunidades visitadas. No entanto, nenhuma referência foi percebida quanto à Área de

Proteção Ambiental Costa do Urumajó (APA Urumajó).

Segundo observado esta influência está diretamente relacionada aos fatores

históricos do processo de criação da unidade de conservação, aos benefícios (moradia,

fomento e bolsa verde) e recursos federais para infraestrutura (construção de trapiches e

outras obras) que chegaram para os moradores e usuários da unidade de conservação.

No histórico de criação da Resex Marinha Araí-Peroba ressalta-se o espaço político

conquistado por lideranças nesse período, principalmente na pessoa do já falecido Sr.

Francisco, o “Chico do Araí”. O “Chico do Arai” foi quem liderou o processo de criação da

unidade de conservação, defendendo a proteção dos mangues, das áreas de pesca e a

criação da Associação de Usuários da Resex Marinha Araí-Peroba (AUREMAP). “Chico

do Arai” ocupou cargo político como vereador do município de Augusto Corrêa. Cabe

destacar que o Sr. Francisco foi mencionado em todas as comunidades visitadas como a

“pessoa da Resex”.

É nesse contexto que as comunidades visitadas “enxergam” a ampliação da

unidade de conservação. O tema é conhecido na região e foi mote de campanha para a

eleição do atual quadro político do município. Com isso houve um aumento das

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expectativas nas comunidades frente à possibilidade de também adquirirem os mesmos

benefícios que os moradores e usuários da Resex Marinha Araí-Peroba conquistaram.

As comunidades visitadas estão localizadas na região norte do município e

limitadas pela estrada PA-462 e a área marinha. Situa-se esta região entre as Resex

Marinha Caeté-Taperaçu, no município de Bragança; a Resex Marinha Gurupi-Piriá, no

município de Viseu; ao norte limita-se com a Área de Proteção Ambiental Costa do

Urumajó, gerenciada pelo município. O acesso às comunidades foi pela Rodovia

Estadual PA-462 e seus ramais. A construção da estrada foi motivo para que muitas

comunidades atuais fossem formadas. Estima-se que cerca de 3.000 famílias ocupem

área (Quadro 1).

As comunidades listadas no Laudo de Vistoria Técnica e seus pólos serviram de

base para ordenamento das visitas. No entanto, algumas das comunidades listadas estão

integradas ou são conhecidas por mais de uma nominação. Caso das comunidades Água

Pau e Ribanceira, que foram integradas as comunidades de Ponta do Urumajó e Buçu,

respectivamente. A comunidade Zé Castor que também é conhecida como Pontinha e a

comunidade Mirinzal, que também é chamada de Varejão.

As nomeações surgiram no momento da criação das comunidades e alguns nomes

foram modificados quando da instalação das escolas. Na região da comunidade Zé

Castor, por exemplo, há vários núcleos familiares que se denominam comunidades, caso

da comunidade Pontinha Porto, ou de moradores que vivem mais afastados do núcleo

comunitário e denominam sua região de comunidade Pontinha. O mesmo ocorre na

região da comunidade Bacanga Porto, onde a distribuição dos moradores pela área os

fez criar nominações como Bacanga Porto (área com maior concentração de residências

de moradores próxima ao porto) e Bacanga para os que moram distantes do porto. No

entanto, é uma mesma comunidade.

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Quadro 1- Número de famílias das comunidades visitadas no município de Augusto

Correa-PA.

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Características gerais

A idade dos entrevistados variou entre 30 e 75 anos o que proporciona uma média

de 54 anos de idade. O maior percentual de idade dos entrevistados ficou situado entre

30 e 50 anos (52,4%), seguido dos que possuem entre 51 e 70 anos (42%) (Tabela 1).

Os dados apresentados mostram que há diferentes gerações nas comunidades visitadas

e não foram localizados jovens identificados como pescadores ou agricultores.

Tabela 1. Faixa etária dos entrevistados nas 28 comunidades visitadas no

município de Augusto Corrêa-PA.

Faixa Etária Nº de moradores Percent ual (%)

30-50 11 52,4

51-70 9 42,9

Acima de 70 1 4,8

TOTAL 21 100,0

Fonte: Dados da pesquisa

Os entrevistados residem em média na mesma comunidade a cerca de 38 anos

(Tabela 2). O percentual de quem reside entre 1 e 20 anos, entre 21 e 40 e entre 41 a 60

anos é de 28,6% respectivamente. Em média estão na região a cerca de 20 anos. Há

moradores que declararam que suas famílias estão na região há mais de 100 anos, como

em Rio do Meio, e outros que recém chegaram às comunidades em busca de trabalho ou

de compra de terras vindos do centro urbano de Augusto Corrêa.

Há mobilidade entre as comunidades, sobretudo para famílias em que o casal já

recebe a aposentadoria. Estes buscam construir suas casas próximas a estrada e

mantém suas áreas de plantio fora do núcleo comunitário. A proximidade ao núcleo

comunitário envolve as facilidades como acesso a transporte e posto médico. Outras

famílias que se mudam para a proximidade da estrada o fazem em busca de proximidade

à escola para os filhos e facilidade para comercialização de produtos.

No entanto, ao serem questionados sobre a intenção de mudar para outro lugar

99% dos entrevistados disseram que não.

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Tabela 2. Tempo de residência dos entrevistados nas comunidades visitadas no

município de Augusto Corrêa-PA.

Tempo na área (anos) Nº de moradores Percentual (% )

1- 20 6 28,6

21-40 6 28,6

41-60 6 28,6

61-80 2 9,5

Mais de 80 1 4,8

TOTAL 21 100

Fonte: Dados da pesquisa

Características das residências

Em geral há uma mistura de tipos de residências e, a exceção dos moradores da

comunidade Pontinha Porto, todas as residências possuem energia elétrica. Nas

comunidades maiores como Vila Aturiaí, Vila Nova Olinda e Vila Nova há formação de

bairros e as ruas já tem nominação e numeração. As casas nos núcleos mais urbanos

estão construídas em alvenaria, com cozinhas e sanitários internos e nos quintais são

mantidos poço e o fogão à lenha e na maioria delas o jirau está presente. Nas

comunidades menores há predominância de casas construídas de barro (pau a pique),

cobertas com telhas de olaria, amianto ou de palha. A cozinha e o sanitário estão

localizados nos quintais, assim como os espaços para guarda de materiais de trabalho,

como redes de pesca e material para a lavoura. Nas comunidades onde há recebimento

de aposentadoria e bolsa família os moradores estão investindo na construção de casas

de alvenaria (Figuras 2 e 3). .Em todas as comunidades o centro está formado ao redor

das igrejas e das praças. Nos portos, como em Vila Nova Olinda e Vila Aturiaí, há

mercados para compra e venda de pescado.

Com a construção da estrada e a chegada da energia elétrica por 24horas,

moradores construíram suas casas e comércios nas proximidades da PA-462. Em todas

as comunidades há escolas até a 4ª série e nas comunidades pólos, escolas que

oferecem ensino fundamental completo e ensino médio. Nas comunidades há igrejas

católicas e evangélicas, algumas localizadas na estrada e outras no interior das Vilas. A

estrada é de terra com grande volume de pedras e seixos. É comum observar

amontoados de pedras em frente as residências. Estas são utilizadas para a construção e

reparos de estruturas domésticas. Observam-se também crateras, ao longo da estrada e

em ramais (Emburuaca), deixadas pela retirada das pedras.

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Figura 2- Aspectos das moradias nas comunidades visitadas.

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Figura 3- Aspectos das residências e das comunidades visitadas.

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2

Saneamento e serviços de saúde

O acesso à água nas comunidades visitadas é via sistema comunitário simplificado

formado por um conjunto de caixas d’água que fazem a distribuição para mais de 54%

das residências, exceto na comunidade Pontinha Porto onde a água provem apenas dos

poços (Tabela 3). Mesmo com o sistema simplificado parte dos moradores mantém poços

artesianos ou simples. Segundo eles, ocorre falta de água nas comunidades causada

pela seca de poços durante períodos prolongados de verão e pela ausência de

pagamento da energia para o abastecimento pelos moradores . Há nas comunidades

uma pessoa responsável pela captação e distribuição da água. O custo para manutenção

e recebimento de água para cada morador varia entre R$10,00 a R$15,00 e o valor

arrecadado paga a energia e o serviço do responsável pela manutenção do sistema. Na

ocasião deste estudo todas as comunidades visitadas estavam com problemas de

abastecimento de água via rede comunitária e com seus poços secando devido ao

período de verão prolongado. Nas comunidades de Vila Nova Olinda e Aturiaí o

abastecimento estava racionado com a água sendo liberada para as residências somente

no período da manhã. Em outras comunidades os moradores estavam cavando ou

ampliando a profundidade de seus poços.

Tabela 3 Origem da água nas residências dos entrevistados no município de

Augusto Corrêa-PA.

Captação da água Nº de citações Percentual

Rede em sistema comunitário 13 54,2

Poço tubular 5 20,8

Poço artesiano 3 12,5

Poço simples 3 12,5

Total 24 100

A água para consumo recebe algum tipo de tratamento sendo coada, fervida ou

utilizam hipoclorito em 100% das residências. Mais de 70% coam a água da torneira ou

dos poços e a armazenam em potes de barro. Os que declararam utilizar hipoclorito o

lançam nos poços, quando o recebem do agente de saúde.

O uso da fossa negra predomina em 42% das residências dos entrevistados e

apenas 19% afirmaram possuir fossas sépticas (Tabela 4). A ausência de sanitários

ocorre nas residências mais afastadas dos centros comunitários. E 65% dos moradores

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afirmaram que o destino final do esgoto sanitário é nos rios e igarapés. Nos quintais onde

são mantidos cozinhas e jiraus1 a prática é a de escoamento direto no solo.

Tabela 4. Esgotamento sanitário nas residências dos entrevistados no município de

Augusto Corrêa-PA.

Esgo tamento sanitário Nº de citações Percentual (%)

Fossa negra 9 42,9

Fossa séptica 4 19,0

Céu aberto 5 23,8

Inexistência de banheiro 3 14,3

Total 21 100

Fonte: dados da pesquisa

O recolhimento público do lixo doméstico ocorre nas comunidades de Aturiaí, Patal,

Cafezinho e Nova Olinda com frequência de duas vezes por semana. Nas demais

comunidades 76% declararam queimar o lixo e outros 14% e 9,5% informaram que

enterram ou jogam no quintal, respectivamente.

No que se refere aos serviços de saúde existem nas comunidades de Aturiaí, Vila

Nova Olinda os chamados Postos de Saúde da Família (PSF). Nesses postos há

presença de médicos, odontólogos e enfermeiros que atendem também as comunidades

vizinhas. Em todas as comunidades há presença de Agentes de Saúde Comunitários

(ACS) que tem como missão a prevenção e encaminhamento de doentes para os PSF ou

hospital da sede municipal.

As principais doenças citadas pelos entrevistados foram gripe, reumatismo e

diarréia. A malária que ocorre na região está sob controle desde o ano de 2005, segundo

os agentes de saúde de todas as comunidades visitadas.

Fontes de renda

A pesca foi citada como a principal atividade de geração de renda para as

comunidades que vivem nas áreas dos grandes rios e nas marés. Os recursos da

agricultura, principalmente a farinha, seguida do feijão caupi (Vigna unguiculata) e coleta

de bacuri (Platonia insignis) são a principal fonte geradora de renda para os moradores

das comunidades localizadas na terra-firme. É também fonte geradora de renda, mas

considerada por muitos como uma atividade inferior a da pesca em geral, a coleta: do

caranguejo (Ucides sp), do siri (Callinects sp) , do mexilhão (Mytella sp.) e da ostra

1 Jirau- espécie de grade de varas ou tábuas sobre esteios fixados no chão que serve para

lavar louças ou roupas, e ainda guardar materiais de trabalho.

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(Crassostrea sp), e a pesca do camarão branco (Xiphopenaeus sp), que ocorrem tanto

nas comunidades próximas as áreas marinhas como nas de terra-firme, mas com

proximidades ao mangue (Quadro 2) .

A comunidade que vive exclusivamente da pesca é a comunidade de Ilha do Coco;

as demais foram categorizadas de acordo com a principal atividade geradora de renda

declarada. Desta forma, as comunidades que vivem quase que exclusivamente da pesca,

mas com pouca atividade agrícola destacam-se: Ponta do Urumajó, Perimerim, Ilha das

Pedras. Nessas comunidades ocorre a pesca comercial e artesanal. Nas comunidades de

Vila Nova Olinda, Aturiaí, Patal, há forte presença de pescadores, mas a atividade

agrícola está na atualidade com predominância. A pesca nestas comunidades é realizada

tanto em grandes barcos quanto de forma artesanal onde também é exercida a extração

de caranguejos, camarão e ostras. As comunidades que se destacam pela produção

agrícola que pesqueira são as comunidades de: Malhado, Emburuaca, Anoirá,

Livramento, Zé Castor, Trevinho, Buçu, Buçuzinho, Igarapé-Açu e Rio do Meio.

As demais comunidades como Vila Nova, Cafezinho, Peroba, Bacanga, e Jutaí

atuam mais com a agricultura do que a pesca. Em geral nessas comunidades a pesca

pode ser realizada em parcerias com patrões donos de barco se caracterizando como um

trabalho provisório. A mariscagem e a pesca de cabeceira (tapagem) são atividades

exercidas para complemento da renda ou apenas para consumo.

A pesca em barcos é realizada por meio de aviamento, em geral barcos com 3

toneladas que levam até 4.000m de rede. O dono do barco cobre as despesas com

combustível, adiantamento para o os pescadores e alimentação. Quando retornam com a

produção esta é vendida aos marreteiros e descontada do valor total apurado os custos

das despesas. O restante é então dividido ficando o dono do barco com 50% e os demais

pescadores com os outros 50%, que então é dividido entre eles.

É importante destacar a atividade agrícola na região. No ano de 2004 algumas

comunidades por meio de suas associações agropesqueiras adquiriram maquinário para

o preparo da terra para a agricultura, junto aos bancos ligados ao programa do Fundo

Constitucional de Financiamento do Norte (FNO). O sistema de uso coletivo do

maquinário era em rodízio. O sistema não funcionou e muitas associações por

inadimplência perderam o equipamento. Atualmente é a secretaria de agricultura do

município quem fornece os maquinários. A comunidade ou grupo de agricultores enviam

um ofício solicitando o trator. O dono da terra fornece o combustível. Há pessoas que

possuem tratores e os alugam aos agricultores ao custo de R$100.00/h. Em geral o

equipamento permanece na comunidade por um período de até 3 semanas. Trabalham

com o sistema de “tarefas”, onde cada “tarefa” corresponde a 0,5ha

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Quadro 2- Atividades geradoras de renda e consumo nas comunidades visitadas no município de Augusto Corrêa-PA. (continua)

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Quadro 2- Atividades geradoras de renda e consumo nas comunidades visitadas no município de Augusto Corrêa-PA.

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Entre os entrevistados, 28,6% declararam exercer múltiplas atividades como

agricultura a pesca e a mariscagem, seguido dos que se dedicam apenas a agricultura

com 23% dos entrevistados, e a pesca e a mariscagem é exercida por 19% dos

entrevistados (Figura 4). Apenas 9,5% dos moradores entrevistados declararam viver

somente da pesca. Pesca essa realizada em barcos de tonelagem e canoas a remo. Os

demais afirmaram que sua renda é gerada pelas atividades de pesca associada à

mariscagem.

0 1 2 3 4 5 6 7

Somente pesca

Somente agricultura

Pesca e agricultura

Pesca e marisca

Agricultura, pesca e marisca

Aposentado

Ativ

idad

es

Nº de citações

Fonte: dados da pesquisa

Figura 4 – Atividades geradoras de renda declaradas pelos entrevistados nas

comunidades visitadas no município de Augusto Corrêa-PA.

A exceção da atividade de pesca realizada em barcos de tonelagem, que contratam

pescadores, as demais utilizam a mão de obra familiar. Há também contratação de mão

de obra nas comunidades que mantém atividades agrícolas e em geral nos núcleos

familiares onde há recebimento de aposentadorias.

A contratação de mão de obra é sob forma de diárias ou empreita, de acordo com

a atividade a ser realizada. O valor das diárias pago para a capina varia entre as

comunidades e custam em média de R$30,00. Já as empreitas variam de acordo com o

número de “tarefas” e as condições da área (mato mais alto). Por exemplo, na

comunidade Rio do Meio a empreita para se fazer a capina está custando para o

empregador entre R$120,00 a R$200,00 por tarefa. Em Vila Nova Olinda o valor da

empreita por “tarefa” para o trabalho no roçado varia de acordo com a atividade. Para o

plantio de manivas o custo é de R$60,00; para a capina é de R$120,00 e para roçar é de

R$180,00. A atividade pode empregar até 10 pessoas e o valor é dividido entre elas. Em

geral a contratação da empreita reúne pais de família ou jovens que estão sem trabalho.

A renda gerada pelas atividades tanto da pesca quanto da agricultura é variável e

depende não somente da produção, mas também do preço pago pelos marreteiros e

comerciantes. Segundo os entrevistados a renda média com a pesca em barcos de

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tonelagem pode gerar entre R$120,00 a R$500,00 por semana de trabalho. O preço

médio pago pela produção da farinha (que na ocasião deste estudo estava em alta) entre

as comunidades variou de R$220,00 a R$320,00 a saca de 60 kg.

Nas áreas de cultivo predomina a mandioca (Manihot sculenta, Crantz), com o uso

de maquinários e a forma tradicional de corte e queima. Os entrevistados que declararam

utilizar maquinário aplicam agrotóxico no terreno, que segundo eles “mata o capim”. O

segundo produto mais cultivado é o feijão caupi (Vigna unguiculata (L.) Walpi), o milho

(Zea mays L). Os cultivos: do arroz (Oryza sp), da abóbora (Cucurbita sp) , do maxixe

(Cucumis anguria L) e da melancia (Citrullus lanatus) nos roçados tem uso destinado à

subsistência das famílias.

Nestas comunidades o padrão é o da agricultura familiar com baixa diversificação e

culturas temporárias. Os agricultores não têm assistência técnica e ficam a mercê do

mercado e dos valores praticados pelos marreteiros compradores, principalmente de

farinha e feijão caupi. Além disso, os produtores corem riscos com a utilização de

agrotóxicos sem orientação e de problemas climáticos e fitossanitários.

A renda média declarada pelos entrevistados foi de R$590,00. Desses 14%

afirmaram receber, em média, menos de um salário mínimo por mês com as atividades

produtivas, 9,5% declarou receber um salário mínimo, 33% declaram obter até dois

salários mínimos e 28,6% declararam receber entre dois a cinco salários mínimos com as

atividades de produção. . É importante destacar na renda das famílias o recebimento da

aposentadoria (por algum membro da família) e da bolsa família que são acessados por

mais de 80% dos entrevistados. Esses valores oscilam entre R$ 620,00 para os

aposentados e entre R$120,00 e R$ 300,00 para os que recebem bolsa família,

dependendo da composição familiar e da faixa etária dos filhos.

O extrativismo vegetal é insignificante como fonte geradora de renda, mas é

utilizado e os produtos comercializados. Os principais produtos obtidos são: a palha do

anajá, inajá ou najá (Maximiliana regia), utilizada para a cobertura de casas; do buriti

(Mauritia flexuosa L.f), utilizado para a construção de casas nos centros de pesca, de

esteiras para montarias quando retiram a fibra denominada localmente de “palha da

costa” e paneiros para transporte do bacuri; do junco e piri (Cyperus giganteus Vahl),

também utilizados para construção de esteiras para montarias, atualmente em extinção,

e do babaçu (Orbignya martiniana B. Rodr) para cobertura de casas. Além desses, o

guarumã (Ischnosiphon arouma) e cipó titica (Heteropsis spp) são utilizados para

confecção de paneiros e peneiras para transporte de mandioca e de peixes, e na

confecção de armadilhas para pesca no mangue.

O bacuri (Platonia sp) é o único produto do extrativismo que gera alguma renda

para os moradores das comunidades de Livramento, Rio do Meio, Vila Nova e Igarapé-

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Açu. Sendo a comunidade Livramento a mais organizada quanto a produção e

comercialização do fruto e da polpa no período da safra.

Divisão do trabalho e relações de gênero

A divisão social do trabalho entre os gêneros é marcante nas comunidades

visitadas. O trabalho das mulheres é fundamental, seja na economia, na conservação

ambiental e na organização social locais. Do ponto de vista da economia, são elas quem

somam atividades do campo produtivo, embora muitas vezes não impactam diretamente

na geração de renda. As mulheres são determinantes para a segurança alimentar da

família. Estas atividades estão representadas no cuidado com os filhos e idosos, na

criação de animais de pequeno porte e, sobretudo, na agricultura. Além disso, exercem a

pesca ou coleta em ambientes próximos às suas casas. Em paralelo, as atividades como

tecer ou o consertar as redes de pesca, tratamento do pescado e por vezes sua

comercialização são vistas sempre como “ajuda”,

No que se refere à questão ambiental, segundo Maneschy (1993) para os povos

dos manguezais é sua presença ativa nas iniciativas de conservação que garantem os

direitos aos meios de vida.

Do ponto de vista da organização social, a divisão sexual do trabalho na pesca é

feita de modo a atribuir ao homem a qualidade de pescador, cabendo à mulher o lugar na

mariscagem. Este trabalho aparece nas estatísticas classificado como “coleta manual”,

não como um trabalho das mulheres, sobretudo pela sua destinação, na maioria das

vezes, para o consumo familiar.

Essa desigualdade se faz sentir entre as tiradoras de caranguejo (no geral, um

reduzido número, devido ao fato da atividade ser mais praticada pelos homens) e

segundo Maneschy (1993), a presença das mulheres na atividade é denotativa muitas

vezes de uma “situação de penúria da família”.

Não há presença das mulheres nas atividades de pesca dos barcos comerciais. As

atividades de pesca estão voltadas para a pesca “nas beiradas”, na coleta de

caranguejo, ostras e mexilhão, e na pesca de camarão próximo as residências. .

A presença feminina é marcante no trabalho dos roçados. As mulheres é quem são

filiadas ao Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais (STTR) e responsáveis

pelas manivas a serem cultivadas. A comercialização dos produtos fica a cargo dos

homens, quando estas não são as responsáveis pela família (Quadro 3)

Deve-se ressaltar que com o recebimento dos benefícios sociais, como o bolsa

família, e devido o cadastro destas famílias serem feitos no nome das mulheres, estas

ganharam status não somente como provedoras mas também no comércio local para

aquisição de alimentos e materiais escolares.

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2

Quadro 3- Divisão social do trabalho nas atividades de pesca, mariscagem e

agricultura entre os entrevistados no município de Augusto Corrêa-PA.

Ambiente institucional e organizacional

Em todas as comunidades visitadas há alguma forma de organização social não

necessariamente em atividade. As histórias da formação das organizações sociais nesta

região estão diretamente ligadas às políticas públicas direcionadas a fomentos e créditos

para os produtores tendo como exigência sua participação em alguma organização. Com

isso houve nos final da década de 1990 a 2000 um boom de formação de Associações

Agropesqueiras. Por meio dessas organizações, pescadores e produtores poderiam ter

acesso a crédito para obtenção de maquinários agrícolas e equipamentos de pesca.

Entre os entrevistados 50% declarou fazer parte de alguma organização e os outros

50% afirmou não participar. Dentre as organizações destacam-se o STTR e a Colônia de

Pescadores Z-18 no município de Augusto Corrêa. Em geral é o casal que está filiado a

alguma das organizações citadas, sendo que as mulheres predominam quanto a filiação

no STTR. O principal motivo citado para sua inclusão na organização está na garantia do

recebimento da aposentadoria e do benefício em caso de alguma doença ou acidente.

Este último motivo prevalece entre os homens filiados a Colônia de Pescadores. O tempo

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médio de filiação nas organizações é de 8 anos. A inadimplência é alta entre os

associados. Estes afirmaram que buscam recursos para se filiar e pagar a organização

quando estão próximos de sua aposentadoria.

Segundo Diegues (2006), o desafio dos projetos comunitários implantados é de

transformar extrativistas sem nenhuma experiência de gestão empresarial e

comercialização em produtores organizados, participando ativamente do

desenvolvimento das ações do projeto.

Nas comunidades de Vila Nova Olinda e Patal existem associações específicas. Em

Vila Nova Olinda há a Associação Agropesqueira de Nova Olinda (AGRONOL) fundada

em 2001 e a Associação de Artesanato de Nova Olinda (ARTENOL) fundada em 2007.

A AGRONOL atua junto aos criadores de ostras desde 2003 e possui 14 famílias

envolvidas que operam como produtores individuais. O grupo é liderado pelo Sr. Miguel

que faz os contatos para a comercialização da produção e compra de sementes. Os

criadouros estão nas áreas de influência marítima próxima a comunidade. A

comercialização é feita na comunidade e o preço de venda é determinado pelo local de

entrega. Esta associação tem importância na região, sendo seus produtos

comercializados para restaurantes na cidade de Belém. Segundo Hoshino (2009) a

comunidade de Nova Olinda sediou primeira ostreicultura para fim comercial no Estado.

Ainda segundo a autora, a produção na ostreicultura em 2007 era de 219 dúzias

mensais. Atualmente, segundo o coordenador, a produção local já está contabilizada na

estatística de produção do estado do Pará correspondendo a cerca de 45% da produção

total.

A ARTENOL surgiu no ano de 2007, vinculada a associação dos ostreicultores, mas

com uma proposta “up down”. Segundo sua presidente “a associação foi criada para as

mulheres dos criadores de ostras”, para que estas trabalhassem com as conchas

confeccionando artesanatos. As mulheres não conseguiram manter a associação, pois

não se identificaram com a atividade. Atualmente a ARTENOL congrega entre 6 a 14

mulheres da comunidade que trabalham com costura e pintura em tecidos. Nenhuma

delas é esposa de ostreicultor.

Na comunidade de Patal a Associação dos Agricultores do Patal (ASSAGRICOPAL)

surgiu no ano de 2008 com o propósito de “ter um acesso maior às máquinas da

prefeitura”. Conta com 25 associados regulares e o atual projeto da associação é o

levantamento (?) de tratores para a mecanização da terra, e criação de peixe e frango.

Na comunidade de Ponta do Urumajó a Associação Agropesqueira ainda existe e

tem atuação, mas com proposta diferente da qual foi criada. Seu presidente ainda é o

mesmo desde o ano de 1996, quando fundada. A proposta inicial foi adquirir

financiamento junto ao Banco da Amazônia (BASA) para aquisição de barcos pesqueiros

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e que segundo seu presidente o banco não liberou o financiamento devido à

inadimplência das demais associações existentes no município. Sem recursos a

organização voltada para a pesca passou a atuar com a agricultura utilizando o

maquinário da secretaria municipal de agricultura para o preparo da terra plantando

mandioca e feijão caupi. Segundo o presidente “os pescadores seguiram cada qual com

o trabalho individual”. Alguns pescadores afirmaram que adquiriram terras para ter

acesso aos atuais benefícios da Associação.

Nas demais comunidades a organização social está desarticulada e as antigas

associações já não funcionam. Todas com a mesma denominação Associação

Agropesqueira e surgidas no final da década de 1990. Em todas as comunidades estas

associações encontram-se inadimplentes junto ao BASA e seus associados sem acesso

a recursos para crédito.

Políticas públicas e Diagrama de Venn

Muitas das questões que envolvem políticas públicas estão na pauta das

comunidades visitadas, embora estas não possuam organização social jurídica que as

representem. No entanto, tanto o ACS quanto o Coordenador Comunitário são indicados

para falarem sobre a comunidade. Nos exercícios do Diagrama de Venn2 realizados

durante as oficinas nas comunidades pólos (ver metodologia) foi possível perceber que

os moradores detêm conhecimento sobre a existência e a função das instituições

públicas geradoras de serviços e cidadania.

É possível perceber entre os quadros do diagrama apresentados nas diferentes

comunidades algumas semelhanças quanto à importância e proximidade da comunidade

de algumas instituições municipais. Nesses casos parece haver influência do recente

quadro político do município, com vereadores comunitários eleitos e um desejo de

possível fortalecimento da representação comunitária no poder municipal, casos de Vila

Nova Olinda, Buçuzinho e Aturiaí. Há também situações, onde os representantes do

STTR (delegados sindicais) fortaleceram-se a partir do novo cargo ocupado pelo

representante do sindicado, agora na secretaria de agricultura, caso das comunidades Zé

Castor, Pontinha Porto, Bacanga Porto e adjacências. Ressalta-se que os quadros

refletem o momento atual vivenciado pelos moradores das comunidades.

Além disso, observou-se também o distanciamento e ausência das organizações de

classe. Nas comunidades pólos com maior número de habitantes e mais distantes da 2 Para este exercício o tamanho e a cor dos círculos foram as referências utilizadas para o

grau de importância dado, pelos moradores, à instituição/órgão proposto. A distância dos círculos em relação às comunidades refere-se à presença ou não da instituição na área.

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sede municipal são dadas importância aos serviços como Correios e Casas Lotéricas e

Energia. Nas demais, a importância é dada aos serviços prestados pelo município.

Cabe destacar que, embora próximos à unidade de conservação, ampla divulgação

e demonstrado interesse pela ampliação da Resex Marinha Araí-Peroba nas

comunidades visitadas, as instituições ambientais federais, o Instituto Brasileiro do Meio

Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis e o Instituto Chico Mendes de

Conservação da Biodiversidade não foram citadas. Neste quesito se insere também a

AUREMAP, organização central das comunidades da unidade de conservação, ou

quaisquer outros grupos organizados como, por exemplo, o Movimento Pró-Resex.

O exercício foi realizado em grupos de trabalho e o resultado foi apresentado em

plenária e discutido com todos (Figura 6). A seguir são apresentados os quadros

formados pelos grupos (Quadros 4, 5, 6 e 7).

Quadro 4- Diagrama de Venn do pólo Vila Nova Olinda formado pelas comunidades

de Buçuzinho, Buçu, Trevinho e Peroba.

Legenda:

pouca importância média importância grande importância

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Durante a apresentação o grupo explicou que as instituições públicas municipais

estão presentes na comunidade e atendem as demais. Inseriram organizações locais

como os Clubes de Futebol. As instituições municipais foram consideradas de grande

importância, mas há distancia das secretarias de Meio Ambiente e das políticas para

saneamento básico. Desejam a presença de serviços como segurança pública, correios e

casa lotérica. Para eles embora a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do

Estado do Pará (EMATER) seja de grande importância esta não presta serviços as

comunidades. O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais

Renováveis (IBAMA) e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade

ICMBio e a AUREMAP não foram citadas.

O STTR e a Colônia de Pescadores segundo eles é de média importância e não

atuam na comunidade seus associados não tem informação. No entanto há delegados

sindicais neste Pólo, exceto na comunidade de Buçuzinho. Cabe destacar o

distanciamento de empresas que prestam serviços como a Celpa e as de telefonia.

Quadro 5 - Diagrama de Venn do pólo Zé Castor formado pelas comunidades Ilha

do Coco, Bacanga Porto, Pontinha Porto, Ponta do Carmo, Jutaí, Igarapé-Açú, Rio do

Meio e Cafezinho.

Legenda:

pouca importância média importância grande importância

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3

O grupo categorizou as instituições públicas e privadas como de grande

importância e as distribuiu no Diagrama pela atuação nas comunidades. A exceção da

EMATER e da Colônia dos Pescadores que foram consideradas de pouca e media

importância respectivamente. Nesse pólo a situação do abastecimento da água é dos

mais críticos. As comunidades estavam, na ocasião deste estudo, com poços secos e

sem acesso a água, tanto que durante a oficina houve mobilização para a elaboração de

um documento para a secretaria municipal responsável. A SEMMA foi considerada de

grande importância, mas sem presença nas comunidades, visto que neste pólo a pesca

predatória é marcante com uso de redes de tapagem nas cabeceiras dos igarapés. O

STTR nesta região é ativo haja vista que nesse pólo estão concentrados os principais

produtores de farinha. Organizações locais como a associação dos agricultores foi

reconhecida.

Quadro 6- Diagrama de Venn do pólo Aturiaí formado pelas comunidades

Livramento, Pirateua, e Vila Nova e Mirinzal.

Legenda:

pouca importância média importância grande importância

Neste pólo instituições como o MMA e o Instituto Nacional de Colonização e

Reforma Agrária (INCRA) foram inseridas no diagrama, segundo o grupo estas

instituições estão diretamente ligadas às questões ambientais, mas não tem influência

nas comunidades. Observa-se que os serviços de telefonia e casa lotérica aparecem

como de grande importância, mas sem atuação no pólo. As entidades de classe como o

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3

STTR e a Colônia de Pescadores ou outra organização local não foram citadas. Neste

pólo estão concentrados os produtores de farinha e áreas de fazendas de criação de

gado. A proximidade com a sede do município pode ter influenciado as instituições

listadas. As secretarias de Educação e Transporte têm ação nas comunidades e atendem

aos serviços como transporte escolar e funcionamento da escola.

Quadro 7- Diagrama de Venn do pólo Patal formado pelas comunidades Cocal,

Emburuaca, Tijoca e Anoirá.

Legenda:

pouca importância média importância grande importância

Este grupo destacou como instituição de grande importância e presente nas

comunidades a Prefeitura como um todo e das secretarias apenas a de Educação.

Segundo eles, a proximidade com a sede e o recém período eleitoral os aproximou dos

representantes municipais. No entanto, os problemas de infraestrutura na comunidade e

a dificuldade de acionar os maquinários agrícolas para o trabalho na terra distanciam as

demais secretarias das comunidades, assim como a ausência de fiscalização nas áreas

de cabeceira dos igarapés e de desmatamento na região dos mangues. As organizações

de classe estão presentes e atuam nas comunidades, sendo o STTR considerado de

grande importância. A proximidade com a sede municipal faz com que os moradores se

desloquem constantemente para a sede para trabalharem e comercializarem seus

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produtos. A ausência de transporte público regular foi marcada pelo distanciamento deste

serviço junto à secretaria responsável.

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3

Figura 5 - Aspecto das oficinas realizadas nas comunidades pólos na construção

dos Diagramas de Venn, no município de Augusto Corrêa-PA.

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3

3.2 - Identificação do uso e manejo dos recursos na turais pela população

tradicional envolvida na proposta e levantamento dos dados etnobiológicos.

Os recursos da biodiversidade são fundamentais para o desenvolvimento

econômico, social e cultural das sociedades humanas. Segundo Alves et al.(2008a), os

modos como os recursos naturais são utilizados pelas populações humanas são

extremamente relevantes para definição de estratégias conservacionistas.

Os países de alta biodiversidade, como o Brasil ou outros países tropicais,

apresentam diversificadas características físicas, climáticas e biológicas que

abrigam variadas formas de vida e ecossistemas. Através de estudos ecológicos

junto às comunidades, as pessoas se conscientizam sobre o prejuízo da perda de

biodiversidade, o valor da etnobiologia e a importância da conservação e do

desenvolvimento sustentável para as presentes e futuras gerações.

Os estudos com comunidades e ambiente levam em conta dois principais

componentes inter-relacionados e interdependentes: as situações práticas de vida

da comunidade estudada, atentando para a cultura e tradição locais e a utilização

sustentável dos recursos naturais locais (Pandey et al, 1998).

Uma das abordagens científicas para estudar a relação do homem com a natureza

é a etnobiologia, que é uma ciência interdisciplinar derivada da antropologia cognitiva e

de áreas das ciências biológicas, como a ecologia (Begossi,1993). O estudo

etnobiológico investiga, analisa e sistematiza o rico e detalhado conhecimento das

populações e pode apresentar resultados de pesquisa que aperfeiçoem utilização de

recursos naturais como a pesca artesanal, onde os peixes compõem um grupo animal de

grande diversidade biológica e importante recurso alimentar (Begossi et al, 2002). Além

disso, os estudos etnobiológicos possibilitam a incorporação de critérios de etnomanejo

(Diegues1995) na determinação das políticas públicas do território marinho.

Os moradores entrevistados, por meio de questionários e de conversas informais

das comunidades visitadas no município de Augusto Corrêa, reconhecem uma série de

animais e plantas que ocorrem na região e, em alguns casos, estes recursos biológicos

têm valor utilitário, sendo utilizados para fins diversos.

Uso da fauna

Os entrevistados citaram 212 animais (189 vertebrados e 23 invertebrados) que

ocorrem na área. Os animas citados pertencem a 8 categorias taxonômicas distintas. As

categorias com maior número de espécies citadas foram: aves, peixes e mamíferos

(Figura 6)

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3

0 10 20 30 40 50 60 70

aves

peixes

mamíferos

anfíbios

répteis

crustáceos

insetos

moluscos

cate

goria

s ta

xonô

mic

as

Nº de espécies

Figura 6- Número de espécies animais por categoria taxonômica citadas pelos

moradores das comunidades visitadas no município de Augusto Corrêa-PA.

Dos 212 animais citados, 61 foram aves. Isto pode estar diretamente relacionado à

variedade desses animais na região em função dos ecossistemas de mar, mangue e terra

firme. Cabe destacar que entre os mamíferos, animais domésticos como gado (4),

cachorro (3) e gato (3) foram citados o que revela certo distanciamento de fauna silvestre.

Dentre os animais que apresentaram o maior número de citações foram Armadillidium sp

(tatus,31), Egretta sp (garças, 23), Cynoscion spp (pescadas, 17),Eudocimus ruber

(guará, 14), Dasyprocta sp (cutia, 14) e Agouti paca (paca 14).

O contato cotidiano de populações humanas com os recursos animais possibilita o

reconhecimento desses organismos, especialmente os recursos com valor utilitário como

os mamíferos, os peixes e as aves.

O uso alimentar de animais engloba, além da pesca, a fauna terrestre nativa, obtida

com a caça e com animais de criação doméstica como galinhas, porcos, patos e outras

aves. Constatou-se a existência de uma conexão utilitária da fauna na região, sendo o

uso alimentar o mais representativo, uma vez que 90% das espécies de peixes citadas,

23% das espécies de mamíferos, 15% das espécies de répteis e 13,6% das espécies de

aves foram associadas a esse tipo de uso.

Dentre os animais citados pelos entrevistados o Leopardus wiedii, Myrmecophaga

tridactyla e Pteronura brasiliensis constam na Lista das Espécies da Fauna Brasileira

Ameaçadas de Extinção (IBAMA, 2003), além desses estão ainda citados o Epinephelus

itajara e Sphyrna tiburo que constam na Lista de Espécies da Flora e da Fauna

Ameaçadas no Estado do Pará (SEMA, s/d).

A caça é praticada na região. Em todas as comunidades visitadas a prática foi

reconhecida “como ainda existente, mas é fraca”. Segundo os moradores o

“desmatamento espantou os bichos grandes como o veado e a anta”. Para eles a perda

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de habitat e o aumento da população foram os principais motivos para o

desaparecimento da caça. Além da caça, o consumo de proteínas advêm das atividades

de pesca e da mariscada.

A pesca e a mariscada

A cultura tradicional das populações de pescadores, grupo social com fortes

ligações com a natureza, deve ser estudada, protegida e valorizada, pois com isso torna-

se maior a probabilidade de assegurar os serviços ambientais dos ecossistemas naturais,

combinando a manutenção da cobertura vegetal e a melhoria da qualidade de vida do

homem nas áreas onde vivem (Diegues 2000).

Pescadores artesanais podem ser definidos como aqueles que, na captura e

desembarque de toda classe de espécies aquáticas, trabalham sozinhos e/ou

utilizam mão-de-obra familiar ou não assalariada, explorando ambientes ecológicos

localizados próximos à costa, pois a embarcação e aparelhagem utilizadas para tal

possuem pouca autonomia. A captura da pesca artesanal é feita através de técnicas

de reduzido rendimento relativo e sua produção é total ou parcialmente destinada ao

mercado (Diegues, 1973).

Os pescadores artesanais mantêm contato direto com o ambiente natural e, assim,

possuem um corpo de conhecimento acerca da classificação, história natural,

comportamento, biologia e utilização dos recursos naturais da região onde vivem

(Silvano, 1997). Para Posey (1987), este conhecimento local sobre o mundo natural não

se enquadra em categorias e subdivisões científicas precisamente definidas.

A atividade pesqueira faz parte das mais antigas tradições dos habitantes do litoral

amazônico, que mantiveram sua riqueza cultural nas formas de exploração dos recursos

naturais, mesmo com a introdução das transformações socioculturais impostas pelo

desenvolvimento econômico na região (Veríssimo, 1970 e Maneschy, 1993, Isaac 2006).

A atividade de pesca é fortemente praticada nas comunidades de Ilha do Coco,

Ponta do Urumajó, Perimerim, Vila Nova Olinda, Aturiaí, Ponta de Pedras e Patal sendo

fonte geradora de renda e manutenção das famílias. Nessas comunidades há moradores

que se identificam exclusivamente como pescadores. A atividade é praticada ao longo do

ano e com destaque para a pesca artesanal, mas com presença da pesca comercial,

incluindo a construção de barcos de pequeno porte. A exceção de Ilha do Coco e Vila

Nova Olinda, as demais comunidades teem fortes relações comerciais com barcos

pesqueiros nos portos da sede municipal por sua proximidade.

As técnicas de pesca são repassadas por gerações e é uma atividade masculina

com rara presença feminina. Os meninos acompanham seus pais nas atividades de

pesca desde criança (entre 8 a 10 anos de idade), tornando-se pescadores também. Para

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alguns pescadores o aprendizado da arte de pesca “já é parte da vida, a gente já nasce

sabendo”. Outros declararam que aprenderam a profissão como na fala do Sr. Wilson

(44) “aprendi a arte desde os 18 anos com as pessoas que trabalhavam de pesca com

curral, rede, arrasto eu foi aprendendo”.

As técnicas de pesca citadas foram: redes, malhadeiras, espinhel, linha, curral e

rabiadeira e variam de acordo com o local de pesca e dependem da espécie alvo. As

redes, malhadeiras, linha e espinhel são utilizados no mar em barcos de pesca comercial

ou barcos menores. Os currais são utilizados nos rios e nas áreas de estuário, onde se

formam com a vazante da maré as “croas” (ilhas de areia formada pela dinâmica das

marés nos estuários). A rede rabeira é utilizada para a pesca nas áreas de croas. A

pesca com tapagem e com o paneiro de filho é praticada nas áreas de cabeceiras e no

mangue respectivamente (Figuras 7a e 7b).

As redes e malhadeiras são confeccionadas com linha de algodão ou nylon e

variam de acordo com as espécies de pescado a ser capturada e podem atingir mais de

4.000m. Dessa forma são categorizadas como malhadeira pescadeira (utilizada para a

captura da pescada); malhadeira gozeira (para a pesca da gó) e rede caiqueira (para a

captura da pratiqueira).

A pesca com espinhel visa principalmente a captura de peixes da família Ariidae o

bandeirado (Bagre bagre) ou a gurijuba (Hexanematichthys parkeri) e consiste de uma

linha de pesca grossa com diversas outras linhas fixadas que na sua extremidade são

acondicionados cerca de 500 a 1.000 anzóis. São utilizadas para a pesca no mar, na

época do inverno e pode atingir até 1.000m de comprimento.

As redes denominadas rabieiras são instaladas nas áreas de formação de croas,

podem atingir até 12 metros e são usadas para captura de corvina (Cynoscion

microlepdotus), uritinga (Hexanematichthys proops), cangatá (Aspitor quadriscutis) e

pescada (Cynoscion spp ).

Os currais capturam um conjunto de espécies extremamente diversificado, de

pequenos peixes estuarinos e costeiros, sofrem o efeito da maré, retendo várias espécies

principalmente a pescada-gó (Macrodon ancylodon), a tainha (Mugil sp.), o bagre

(Hexanematichthys couma), o cangatá (Aspitor quadriscutis), a uritinga

(Hexanematichthys proops) e as arraias (Dasyatis sp.).

A armadilha denominadas de “paneiro de filho ou de sangra” é utilizado para a

pesca do amuré (Gobionellus oceanicus) nas áreas do mangue.

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Figura 7a- Apetrechos de pesca utilizados pelos pescadores no município de

Augusto Corrêa-PA.

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Figura 7b- Apetrechos de pesca utilizados pelos pescadores no município de

Augusto Corrêa-PA.

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Segundo Rosa (2007), que analisou a criação da APA Urumajó por meio de

estudos com pescadores da região, “Na fala dos pescadores locais é perceptível e

evidenciado seus conhecimentos sobre os recursos naturais e os “estragos” locais”.

Referindo-se ao uso de apetrechos que localmente são reconhecidos como instrumento

de pesca predatória.

Para os pescadores o meio ambiente é o ambiente da vida deles e, portanto, não é

concebido de forma separada. As preocupações ambientais são aquelas que dizem

respeito direto à própria existência, não há uma preocupação com o meio natural em si e

para si.

São formas de produzir a vida a partir da natureza, ou seja, suas técnicas são

caminhos encontrados para trabalhar de acordo com o “tempo” do peixe, as intempéries

da natureza, o reconhecimento dos pontos piscosos, a influência da lua, o movimento da

areia e as marés, além das adversidades sociais.

As espécies de peixe citadas como mais importantes para comercializar são o

bagre (Arius spp), a tainha (Mugil sp), a pescada amarela (Cynoscion acoupa), a uritinga

(Hexanematichthys proops), a corvina (Cynoscion microlepidotus), o camurim

(Centropomus spp) , o xaréu (Caranx spp) e o jurupiranga (Arius riguspinis) todos

comercializados com preços variando entre R$5,00 a R$20,00, de acordo com o tamanho

do pescado e a “safra”. (Quadro 8).

O pescado na região é comercializado fresco e salgado, sendo esta última a forma

que oferece maior independência ao pescador, por permitir maior tempo de conservação

do pescado e preço de mercado.

Em geral a produção é comercializada nos portos e mercados nas comunidades de

Patal, Nova Olinda e Aturiaí. O transporte da produção comercializada nos portos

comunitários é feita em pequenos caminhões equipados com isopores e gelo.

Nas demais comunidades a venda é realizada por ambulantes ou em frente às

residências dos pescadores com os peixes acondicionados em isopores com gelo. Há

também entregas de produtos para comunitários, que funcionam como intermediários e

que revendem a produção para a sede do município ou em Bragança. Os pescadores

que comercializam na sede do município têm seus patrões e estes são quem determinam

o preço de venda.

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Quadro 8- Principais espécies de peixes comercializados pelas comunidades visitadas no município de Augusto Correa-PA.

OBS: Os dados referem-se às respostas obtidas dos entrevistados em campo.

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Organização social da pesca

Referente ao nordeste paraense, Conceição (2003), Manescchy & Klovdahl (2007)

traçam um perfil da organização política na Região Bragantina. Segundo os autores,

pescadores e agricultores, frente às exigências burocráticas, criaram as associações e

levaram os associados a se relacionarem com entidades governamentais para regularizá-

las, cujos contatos com entidades financeiras, como bancos, secretarias de Estados,

Organizações não governamentais (ONG), nacionais e internacionais, foram necessários

para a elaboração de projetos de financiamentos. Desta forma surgiram na região as

Associações Agropesqueiras que de certa forma competiram com a Colônia de

Pescadores (Z-18) para a obtenção de sócios e serviços. Atualmente apenas duas

dessas associações, que no ano de 2006 chegavam a cerca de 19 (Rosa ,2007), estão

em atividades.

Dos entrevistados que se identificaram exclusivamente como pescadores (N=6),

apenas quatro estão filiados na Colônia de Pescadores de Augusto Corrêa. Segundo

eles, a Colônia dá apoio principalmente para conseguir a aposentadoria e benefícios,

como auxílio doenças. Os demais que tem na pesca a principal atividade, mas também

atuam como agricultores (N=2), estão filiados a Associações de suas comunidades

(Ponta do Urumajó e Vila Nova Olinda).

Segundo a Colônia de Pescadores, a região não foi selecionada para obtenção do

seguro defeso.

A mariscada

A coleta de crustáceos e moluscos são atividades tanto geradoras de renda como

de subsistência da população local. As capturas são realizadas em conjunto ou

direcionadas à extração de apenas um produto, como no caso dos camarões e dos

caranguejos.

Os crustáceos explorados pelos pescadores são o camarão branco (Litopeneaeus

schmitti), o caranguejo (Ucides cordatus), e o siri (Callinectes sp). Os pertencentes ao

grupo de moluscos estão o mexilhão (Mytella sp.), a ostra (Crassostrea sp) e os turus

(Teredo sp), como importante recurso na região. O sarnambi (Anomalocardia brasiliana),

ou sururu e o sapequara são citados apenas para consumo (Quadro 9).

A pesca do camarão é a segunda atividade mais importante depois do pescado. O

produto tem preço no mercado local e regional. A pesca é artesanal e o principal

apetrecho utilizado é o puçá (Figura 8). As principais áreas de coleta são no mar, nas

beiras e no mangue. Os entrevistados citaram quatro etnoespécies de camarão que são

utilizados na região: o camarão branco (Litopeneaeus schmitti); o camarão cascudo

(Sicyonia dorsalis); o camarão bate-pé (NI) e o camarão piré (NI) (Santos et al, sd) Todos

são comercializados sendo que o camarão branco e o camarão bate-pé atingem maior

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valor comercial. Os camarões são comercializados salgados e pré-cozidos e os preços

variam em função do tamanho.

As ostras e os mexilhões tem seus preços de venda diferenciados em função da

venda dos animais nas conchas ou já pré-cozidos.

Os compradores de camarões nas comunidades (marreteiros) pré selecionam e

ditam os preços de acordo com o tamanho. Em Nova Olinda, o preço do camarão branco

grande estava na ocasião desta pesquisa, a R$ 12,00 o kg e o pequeno a R$10,00. O

marreteiro acumula cerca de 80kg e leva para o patrão em Bragança. Na cidade

consegue vender em média a R$14,00 o kg do camarão grande.

Figura 8- Imagens de mariscos comercializados nas comunidades visitadas no

município de Augusto Corrêa-PA.

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Quadro 9- Principais espécies de mariscos citadas pelas comunidades visitadas no município de Augusto Correa-PA.

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Os caranguejos são coletados o ano todo. Segundo os caranguejeiros há

necessidade de uma organização, “assim como a dos pescadores”, Sr. Wilson (47(?),

Patal), referindo-se à Colônia dos Pescadores. A coleta é diária e em geral podem obter

até 100 animais (3 paneiros). Estes são acondicionados em paneiros com 32 unidades ou

amarrados em “peras” (com as cordas confeccionadas de fibra de malva), com até 15

unidades, o preço de venda nas comunidades é de R$ 15,00 e R$5,00 respectivamente.

Segundo os caranguejeiros, o que faz a qualidade do casco do animal é “lama do

mangue”. Segundo eles “o caranguejo do tintá tem a carne mais fofa e é magro, já o

caranguejo do mangal alto tem ponta grossa, a carne é mais gostosa e mais muciça,

mais agarrada nos ossos”. Para eles o uso do mangal deve ser controlado, pois se “as

pessoas vão todo dia o mangual fica consumido”

Nas comunidades de Tijoca e Anoirá, Cocal, Buçuzinho, Jutaí não há

comercialização de caranguejo, os moradores tiram o caranguejo nos períodos das

“andadas” e segundo eles apenas para consumo “porque o IBAMA dá em cima”.

Conflitos da pesca

Para as comunidades ribeirinhas e costeiras da Amazônia, os mananciais aquáticos

são de extrema importância e prioridade. Sabe-se que a territorialidade da pesca é um

espaço construído e disputado por diversas categorias de pescadores (artesanais,

industriais, esportistas e aqüicultores). Essa territorialidade e espaço leva a pensar numa

“tragédia dos comuns” (Hardin 1968) caracterizada pelo esgotamento dos recursos em

razão de livre acesso dos exploradores aos mananciais (territórios de pesca), e

sustentada pela idéia da finitude dos mesmos. Essa idéia está na base dos conflitos, não

só pela noção de limite dos bens da natureza, mas pelos sinais de esgotamento ou de

ameaças de determinadas espécies já tangíveis anunciados por pescadores experientes

(Furtado, 2003).

Ainda segundo Furtado (2003), a idéia de territorialidade da pesca inclui o saber

nativo, passado de geração a geração, no seu traçado geral, na detecção e definição dos

cardumes; na escolha do recorte dos pesqueiros ou pontos de pesca por parte desses

usuários para captura das espécies segundo suas necessidades (de consumo e de

comercialização). Além disso, há o código de direito costumeiro, que norteia o uso dos

territórios segundo o regime de marés em áreas de litoral e estuário, e o código de ética

elaborados no seio da sociedade agropesqueira a que pertencem.

Segundo estes códigos os direitos do vizinho são respeitados e observados ainda

que tais territórios de pesca não sejam identificados por documentos cartoriais ou por

cercas.

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As marcas são simbólicas vincadas na tradição de posse e uso por parte do grupo

de pescadores que praticam pesca familiar ou pesca de parceria. Dessa forma, a

territorialidade é vista como um espaço de trabalho pelo pescador em seu cotidiano,

levando-o a crer numa posse por direito de uso, o que o faz pleitear o reconhecimento

por parte de outros.

O uso e a apropriação indevida dessa territorialidade tem sido tema de discussão

sob diferentes óticas de estudos nas áreas da Antropologia, da Geografia e da Ecologia

Humana.

Muitas das situações conflituosas na região foram motivadas pela invasão de áreas

de pesca artesanal pela frota pesqueira industrial levando ao fortalecimento da

organização social desse grupo social em suas colônias de pescadores. Muitos desses

conflitos geraram perdas ambientais, como assoreamento e poluição de rios e canais,

disputa por pesqueiros com destruição de habitas naturais, entre outros.

As comunidades através de suas lideranças tomam consciência de sua capacidade

de ação e de mobilizar seus pares. Dessa forma, passam a fazer alianças com outras

associações e movimentos congêneres, bem como articular com instituições

parlamentares, acadêmicas e Ongs para reverter o quadro adverso enfrentado.

No município de Augusto Corrêa não é diferente. Em todas as comunidades foram

citadas ocorrências de conflitos por recursos pesqueiros. O principal foi a invasão nas

áreas do mangue pelos moradores da comunidade do Treme, localizada no município de

Bragança, que chegam para tirar os caranguejos.

Segundo os moradores “eles chegam de barco e ficam até 3 dias no mangal, levam

tudo”. Os moradores da comunidade de Ilha do Coco denunciaram a invasão ao IBAMA

de Bragança, mas ainda “não vieram fazer nada”.

Conflitos que causaram a quase total extinção das ostras, a exceção da

comunidade Nova Olinda que as cultiva. Nas demais comunidades, as ostras já são

consideradas raras, segundo alguns moradores “já tiraram demais, assim que

descobriram que valia, limparam mesmo”.

Nas comunidades de Aturiaí e Nova Olinda houve denúncias de invasão nos rios

pelos pescadores de urisica, da Resex Marinha Araí-Peroba. Segundo os moradores

destas comunidades, os pescadores utilizam as redes malhadeiras proibidas em sua área

e estão destruindo o manancial de pescado.

Uso da flora

Segundo Machado (2007), um novo estudo de conservação estima que 34 mil

espécies de plantas, ou seja, 12,5% da flora global estão em fase de extinção. Apesar de

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50

que a extinção das espécies está fortemente associada com as atividades humanas,

agrícolas e não agrícolas, provocando modificações nos ecossistemas, há o

reconhecimento de que a perda da diversidade cultural de comunidades tradicionais

também está ligada com a perda da diversidade biológica.

Como conseqüência, existe, também, o reconhecimento da importância da

contribuição dos saberes dessas comunidades para a conservação e uso da diversidade

biológica que precisa ser traduzido em benefícios práticos para melhoria das condições

de vida dessas populações.

A relação homem x planta deve ser enfocada sob o ponto de vista sócio-cultural de

grupos humanos com as características de populações tradicionais. Os diversos grupos

étnicos que compõem as populações tradicionais da Amazônia manejam os recursos

naturais de forma diferenciada, considerando a biodiversidade local e sua cultura.

A costa norte brasileira está povoada por populações tradicionais não-indígenas,

remanescentes de quilombos, e populações tradicionais que são notadamente

reconhecidas por suas atividades extrativistas na Amazônia.

Em particular no nordeste paraense, as populações tradicionais utilizam os

recursos das capoeiras sob as mais variadas formas com registros de espécies

madeireiras de valor econômico empregadas na construção de casas e produção de

lenha; espécies frutíferas, medicinais; e, espécies para artesanatos e com potencial

resinífero (Shanley et al., 1998; Rios et al. 2001;Alvino et al., 2005).

As capoeiras, também, desempenham importante papel ecológico pelo acúmulo de

biomassa, controle de erosão, conservação de nutrientes, benefícios hidrológicos e

manutenção da biodiversidade (Pereira e Vieira, 200).

Os moradores entrevistados reconheceram 110 tipos de plantas entre árvores,

palmeiras, ervas e cipós, distribuídas em 44 famílias botânicas. Em relação à distribuição

do número de espécies por famílias, apenas cinco famílias botânicas se destacaram, a

saber: Euphorbiaceae, Myrtaceae, Anacardiaceae, Fabaceae e Arecaceae (Figura 9), o

que pode estar relacionado à mata secundária presente com diversidade e baixa

abundância de espécies vegetais.

A maior parte das plantas citadas é encontrada na região, no entanto as que

tiveram um maior número de citações apresentam finalidades utilitárias como as

palmeiras, as medicinais e as árvores de uso para a construção de casas e currais e

produção de carvão (Figura 10) .

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51

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Arecaceae

Fabaceae

Anacardiaceae

Myrtaceae

EuphorbiaceaeF

amíli

as b

otân

icas

Nº de espécies

Figura 9- Famílias botânicas com maior número de espécies citadas pelos

moradores entrevistados nas comunidades visitadas no município de Augusto Corrêa-PA.

Nessas regiões os manguezais constituem uma fonte de recursos de que se

servem habitualmente as comunidades. Há um tipo de exploração de subsistência, onde

é comum a utilização de madeira do mangue para a construção de casas, de canoas,

cercas, entre outros usos. A Rizhophora mangle é a espécie que tem seu uso mais

difundido pela população adequada para construções mais exigentes quanto à

resistência da madeira, tais como pontes, dormentes, estivas, postes e mastros.

As espécies mais citadas foram Euterpe oleracea (açaí, 13), Maximiliana Maripa

(inajá,12), Platonia insignis (bacuri, 10), Mauritia flexuosa (buriti ou muriti, 8) e as

espécies do mangue como a Rizhophora mangle (mangue vermelho),a Avicennia

shaueriana (siribeira ) e o Laguncularia racemosa (tinteiro) com oito citações cada. Os

critérios de citação das plantas, a exemplo do que ocorre com os animais, estão

diretamente relacionados com o seu uso.

Cabe destacar que a palmeira inajá3 está em evidência junto aos moradores devido

à comercialização das espatas da árvore (é o invólucro das flores das palmeiras)

localmente chamadas de curuatá ou croatá. Segundo os moradores “o patrão é de

Bragança que leva para Belém e de lá vai para Fortaleza, na semana passada passou o

caminhão cheio” (morador de Buçu). O preço de compra de cada unidade é de R$ 0,50.

Fato este também citado nas comunidades de Buçuzinho, Zé Castor e Mirinzal e Cafezal,

que possuem áreas de pasto e intensa atividade agrícola onde a espécie é abundante.

Algumas das espécies citadas foram introduzidas, entre as quais, a mangueira, o

noni, o coqueiro e o bambu. As modalidades de uso mais freqüentes foram: alimentar (38

espécies), construções de currais e de casas, e de utensílios de trabalho (26 espécies).

3 A palmeira inajá é frequente em áreas abertas em regiões com intenso desmatamento e

queimadas o que favorece seu crescimento.

Page 51: ESTUDO SOCIOAMBIENTAL REFERENTE À PROPOSTA DE …€¦ · Figura 14a- Mapa das áreas de uso dos moradores do pólo Nova Olinda. 60 Figura 14b- Aspectos da oficina no pólo Nova

52

Figura 10- Aspectos da produção de farinha e carvão pelas comunidades visitadas

no município de Augusto Corrêa-PA.

Page 52: ESTUDO SOCIOAMBIENTAL REFERENTE À PROPOSTA DE …€¦ · Figura 14a- Mapa das áreas de uso dos moradores do pólo Nova Olinda. 60 Figura 14b- Aspectos da oficina no pólo Nova

53

Segundo os entrevistados as espécies que estão fortemente ameaçadas

(desaparecendo) são: o Platonia insignis (bacuri); o Parahancomia amapa (amapá) e

Tabebuia serratifolia (pau d’arco) e Couratari guianensis (tauari). Segundo eles o motivo

está no desmate para roças e para fazer carvão.

Dentre as espécies que foram citadas como “as que já desapareceram da região”

estão o Cedrela fissilis (cedro), a Lecythis pisonis (sapucaia), a Manilkara amazônica

(maçaranduba). Alguns moradores chegaram a afirmar que quando “se entenderam,

estas espécies já não eram mais encontradas na área”.

Segundo o relatório PNUD (2006), o consumo de lenha pela população local em

Augusto Corrêa corresponde a cerca de 18% do consumo de lenha na região.

A lenha e o carvão são produzidos nas áreas de roçado e pasto. A produção é

comercializada nas comunidades e muitas vezes exportada para os municípios vizinhos,

abastecem as padarias e olarias. O carvão é produzido em fornos ou caieiras e a madeira

é retirada tanto das áreas de roçado quanto das capoeiras. A produção é intensa nas

comunidades distantes dos mangues ou das marés. A saca de 10kg é comercializada por

valores entre R$10,00 a R$15,00.

As espécies de vegetais mais citadas para produção de carvão estão: Ormosia

coutinhoi (buiuçu), bacuri, Byrsonima crassifólia (muruci), e as espécies do mangue,

como tinteiro, siribeira e mangueiro. Alguns moradores afirmaram que fazem carvão com

“qualquer pau menos a embaúba”

Os moradores citaram 42 espécies vegetais utilizadas na região para construção.

As mais citadas foram: anani (Symphonia globulifera), marupá (Simarouba amara), piquiá

(Caryocar villosum (Aubl.), além da tiriba (Eschweilera ovata), da sapucaia (Lecythis

pisonis) e das espécies do mangue. As espécies vegetais são retiradas dos roçados e

das capoeiras próximas e são utilizadas principalmente para construção de currais de

pesca (esteios) e para os ditos “ares da casa” (caibro, perna manca, cumeeira e

travessas). Nenhuma das espécies citadas está na Lista Oficial das Espécies da Flora

Brasileira Ameaçadas de Extinção (MMA) ou na Lista de Espécies da Flora ameaçadas

de Extinção do Estado do Pará (SEMA).

Um operador de moto serra custa R$150,00/dia com o almoço sendo pago pelo

contratante para a retirada da madeira e confecção de tábuas. Em geral o custo para a

construção de uma casa de madeira com até 3 cômodos é de cerca de R$2.000,00.

A técnica de uso da terra para a roça é a derruba e queima, e atualmente muito

difundido na região está o uso de maquinário “para aradar a terra”. O maquinário é

alugado e custa para o produtor R$100,00/tarefa. Os moradores que afirmaram utilizar

maquinário no preparo da terra informaram que utilizam veneno para “matar o capim,

Page 53: ESTUDO SOCIOAMBIENTAL REFERENTE À PROPOSTA DE …€¦ · Figura 14a- Mapa das áreas de uso dos moradores do pólo Nova Olinda. 60 Figura 14b- Aspectos da oficina no pólo Nova

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borrifa glifosato e para matar as formigas uso Bio-ciper a 15%, foi ensinado pela

secretaria de agricultura”.

A mandioca é o principal produto cultivado, seguido do feijão caupi. Segundo os

moradores há ausência de assistência técnica e a terra “já está cansada para outros

cultivos”. Entre os moradores entrevistados e nas conversas informais nas comunidades

foram citadas 34 etnovariedades de manivas (Figura 11).

Figura 11-Principais tipos de manivas cultivadas nas comunidades visitadas.

As origens das manivas são diversas e muitos declararam que “quando eu me

entendi na roça essa maniva já existia” ou “vieram com os antigos” e há trocas entre as

comunidades. A proximidade com o município de Bragança (conhecido pela qualidade da

farinha produzida) favorece a chegada de manivas consideradas localmente como de

qualidade pela cor da raiz. As manivas de raízes amarelas são as preferidas como a

“tomazia”, e a mais recente “gordura”.

No período deste estudo a produção de farinha estava comprometida, apesar do

alto preço pago pelos compradores. A seca das cabeceiras dos rios e igarapés, devido ao

verão prolongado e a consequente falta de água impedia a fase da produção em que as

raízes da mandioca ficam submersas para amolecer. Nas comunidades de Nova Olinda e

Tijoca os produtores declararam que estavam comercializando as raízes para serem

processadas em Bragança e os principais compradores eram da comunidade do Treme.

Page 54: ESTUDO SOCIOAMBIENTAL REFERENTE À PROPOSTA DE …€¦ · Figura 14a- Mapa das áreas de uso dos moradores do pólo Nova Olinda. 60 Figura 14b- Aspectos da oficina no pólo Nova

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Áreas de uso dos recursos naturais

Mapas

Os mapeamentos participativos vêm sendo utilizados como ferramenta

metodológica para incentivar a discussão acerca dos recursos naturais e uso do território

vivenciado por populações tradicionais e indígenas, visto que poderão ser utilizados para

a gestão ambiental.

Os conhecimentos tradicionais ambientais foram abordados a partir do universo das

etnociências com especial ênfase na etnoecologia. Os conhecimentos tradicionais

ambientais que emergiram no processo de construção dos mapas de uso pelos

moradores das comunidades visitadas nos permitem compreender melhor as relações de

seus autores com o meio em que vivem, e possibilitar a participação destes na tomada de

decisão.

Os mapas das áreas de uso dos recursos naturais foram construídos de forma

coletiva durante as oficinas realizadas em cada comunidade pólo. Reuniu moradores de

diversas faixas etárias, mais homens que mulheres, para identificar suas áreas de uso e

os principais recursos utilizados de cada local.

Os mapas base eram imagens de satélite, onde estavam indicadas as

comunidades, a estrada, a sede municipal, assim como os limites das demais unidades

de conservação da região. Antes de os moradores apontarem de onde e quais recursos

são retirados, foram nomeados por eles os principais elementos geográficos.

Vale ressaltar que ao grupo foi “apresentada” a imagem de satélite após breve

explanação sobre as representações dos espaços relacionando as cores ao ambiente.

Logo, foram reconhecidos os espaços aquáticos e a partir desses espaços começaram a

delinear os demais elementos, como as estradas secundárias, as áreas de campo, as

áreas de praia, de croas, o manguezal, e os principais pontos de coleta.

Os mapas das áreas de uso foram construídos por participantes das comunidades

pólo em sua maioria e com o auxílio de moradores das demais comunidades adjacentes

(Figuras 12 a e 12 b; 13 a e 13b;14 a e 14b;15 a e 15b; e 16 a e16 b )

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Figura 12a- Mapa das áreas de uso dos recursos naturais das comunidades do

Pólo Urumajó.

Page 56: ESTUDO SOCIOAMBIENTAL REFERENTE À PROPOSTA DE …€¦ · Figura 14a- Mapa das áreas de uso dos moradores do pólo Nova Olinda. 60 Figura 14b- Aspectos da oficina no pólo Nova

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A denominação de Urumajó4 nomeia a comunidade pólo e o rio que banha a cidade

de Augusto Corrêa. A realização do mapeamento neste pólo foi dificultada pela

problemática da distribuição da água pela rede de abastecimento comunitário. Na

ocasião, a oficina foi agendada pelas lideranças para anteceder a reunião dos moradores

com os secretários municipais de obras e meio ambiente para a busca de uma solução.

Após as explicações sobre as atividades da equipe em campo e abordando o significado

do mapeamento, o grupo se dispôs a trabalhar no mapa.

A pesca é a principal atividade das comunidades deste Pólo. A proximidade com a

sede municipal facilita o comércio da produção. A comunidade de Perimerim foi criada a

partir do desaparecimento de parte da vila da Coroa Comprida há 41 anos, com 800

habitantes e dentre estes aproximadamente 250 pescadores. Os principais tipos de

pesca exercidos pelos pescadores da vila são ouso de redes, espinhel e curral nas áreas

de alto mar e nas croas, respectivamente.

Os moradores indicaram e nomearam a ilha dos pássaros como região de alta

proteção, também conhecida como “ilha do Ibama”; a área abriga ninhais de aves como

guarás e garças e de onde retiram os mexilhões.

Não houve dificuldade para que os moradores identificassem seus espaços de uso,

como as croas de pesca onde os currais são instalados. A pesca é em alto mar em

barcos de tonelagem. Exercem a pesca em canoas movidas a remo ou com motor rabeta

de até 6hp. Há ainda a “tiração” de caranguejos nas áreas de mangue sempre próximos

às margens dos rios e igarapés. Embora não tenham localizado no mapa, fazem a pesca

de camarões utilizando puçás e se dá de acordo com a “maré”. Os moradores da Ilha das

Pedras instalam os currais de pesca, tanto nas croas formadas no rio Urumajó, quanto

nas croas existentes ao longo da área marinha (Figura 12b).

Os roçados estão nas áreas de capoeiras e há uso de maquinários para a

preparação da terra para plantio. Os moradores das comunidades de Malhado e Ponta do

Urumajó foram o grupo que mais identificou esses espaços de uso.

4 Em tupi Urumajó significa balaio grande. Contudo, a história comumente relatada por

populares e registrada no conto “A aldeia” de Antonio Coutinho de Campos, é de que a origem do nome está associada a uma má interpretação dada por um expedicionário da milícia francesa enviada do Maranhão por Daniel de la Touche para reconhecimento da região. Ao indagar um caboclo local sobre o nome do rio, o militar teria recebido como resposta o nome de um pássaro muito freqüente na região acompanhado de sua designação – Uru, Majó (major), tendo assim chamado o rio de Urumajó, nome posteriormente dado à vila.

Page 57: ESTUDO SOCIOAMBIENTAL REFERENTE À PROPOSTA DE …€¦ · Figura 14a- Mapa das áreas de uso dos moradores do pólo Nova Olinda. 60 Figura 14b- Aspectos da oficina no pólo Nova

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Figura 12b- Aspectos da oficina e mapeamento no pólo Urumajó.

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Figura13a- Mapa das áreas de uso do pólo Patal.

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A pesca é realizada ao longo do rio Urumajó e em função da proximidade da sede

municipal os moradores possuem facilidade para comercialização da produção. Utilizam

currais desde a região das cabeceiras do rio até a área da maré. Utilizam a pesca de

tapagem nas cabeceiras dos afluentes do Urumajó. Os mangues são explorados por

todos os moradores das comunidades desse pólo. Há retirada de madeira para

construção, havendo marcenarias e construtores de barcos na comunidade Patal. Nas

comunidades de Emburuaca, Tijoca e Anoirá a pesca é a segunda atividade e realizada

na maré, “quando chega a safra do peixe” saem para os “ranchos” (acampamento de

pescadores construídos nas praias), onde permanecem por até seis dias e a cada quatro

dias transportam a produção para os marreteiros da cidade. Um dos ranchos citados está

na praia próxima a Coroa Comprida. Segundo os moradores, a extração de caranguejo,

de turu e de mexilhão, nestas comunidades é apenas para consumo (Figura 13b).

Na região dos roçados, além do plantio de mandioca há a produção de carvão.

Nesta área também estão concentradas as fazendas de proprietários da cidade e dos

municípios próximos.

Figura 13b- Aspectos da oficina no pólo Patal.

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Figura 14a- Mapa das áreas de uso dos moradores do pólo Nova Olinda.

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Esse pólo concentra o maior número de usuários. A vila Nova Olinda é uma das

mais antigas e maiores em termos de infraestrutura populacionais. Com a presença dos

rios Emboraí e Coco, afluentes nas proximidades das comunidades e sendo navegáveis,

a atividade de pesca está presente nas comunidades, exceto em Buçuzinho, Buçu e

Trevinho, onde a agricultura predomina (Figuras 14a e 14b) ).

Os moradores apontaram suas áreas de pesca em alto mar no rumo norte da Ilha

denominada Porto Velho. Aos que não possuem instrumentos e embarcações de médio

ou grande porte, a pesca fica mais restrita às águas interiores A pesca de curral é

freqüente e sua distribuição está nas áreas de deságüe dos afluentes. A pesca de

camarão é realizada tanto no interior dos rios quanto nas croas da maré, é tida como

atividade rentável. O projeto de cultivo de ostras está localizado no rio Emboraí Velho.

Havendo ainda a coleta de mexilhão e ostras em outras áreas. Os moradores da Ilha do

Coco pescam na região próxima a Ilha e também utilizam a maré. Comercializam seus

produtos em Nova Olinda onde também se abastecem de gelo. O mangue é amplamente

utilizado até mesmo pelos moradores das comunidades que não tem na pesca sua

principal atividade. A caça é praticada nas áreas denominadas de “capoeiras de mata”

(áreas de capoeira alta). A produção de carvão é nos roçados e áreas de pasto.

Figura 14b- Aspectos da oficina no pólo Nova Olinda.

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Figura 15a- Mapa das áreas de uso das comunidades do pólo Zé Castor (Pontinha).

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Neste pólo notadamente predomina a atividade de agricultura . A pesca é realizada

por poucos moradores que se identificaram como pescadores. Estes utilizam currais e

pescam na maré em canoas (Figuras 15a e 15b). A concentração do uso de recursos

aquáticos está nas cabeceiras dos rios Emboraí e Coco, onde há a extração de

caranguejo e outros mariscos. Os produtos da mariscagem são comercializados na

própria comunidade ou levados à Nova Olinda. Da região de capoeira são extraídas

palhas de babaçu e najá, que são comercializadas para cobertura de casas e ranchos.

Há pastos e o carvão é produzido para comercialização em Nova Olinda. Foi localizada

uma olaria na região de Ponta Carmo.

Figura 15b- Aspecto as oficina no pólo Zé Castor.

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Figura 16 a- Mapa das áreas de uso das comunidades do pólo Aturiaí.

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O pólo é constituído por comunidades agropesqueiras. Os pescadores atuam na

Praia Grande e utilizam curral em áreas de estuários e região costeira (Figuras 16 a e

16b). A pesca do camarão branco é considerada de rentabilidade e a área de pesca é

nas proximidades da costa, onde há formação de praias e croas. Há pesca de tapagem

nas cabeceiras dos igarapés. Os moradores das comunidades pólo extraem caranguejo

nas áreas de mangue, assim como mexilhões, turus e ostras. As comunidades mais

distantes têm na agricultura e coleta de bacuri suas principais atividades, além de pastos

para criação de gado, e carvão. A caça é realizada nas áreas remanescente de capoeira

alta, ou “ponta de mata”.

Figura 16b- Aspectos da oficina no pólo Aturiaí.

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As comunidades são perpassadas pela PA-462 e as residências dos moradores

estão distribuídas ao longo da estrada. Há uma dinâmica de mobilidade entre os

moradores que saem das áreas mais isoladas e se instalam ao longo das estradas para

acessarem os serviços de energia elétrica e distribuição de água, caso das comunidades

de Água Pau, que se transferiu para Ponta do Urumajó e na região de Zé Castor. As

sedes das comunidades Patal, Vila Nova, Rio do Meio, Igarapé Açu, Livramento, Aturiaí

estão localizadas cerca de 2km a 3km em ramais que chegam as margens dos rios e do

mangue.

Em geral, há moradias localizadas distantes da sede comunitária como nos pólos

Zé Castor, Jutaí, Aturiaí. Nas sedes comunitárias estão também a infraestrutura como

igrejas e escolas. Nos pólos de Patal e Aturiaí há escolas e posto de saúde na estrada, o

que facilita o acesso aos demais moradores. As casas não possuem cercas, mesmo as

que estão localizadas nas vilas centrais, exceção das áreas onde estão as fazendas de

grandes proprietários, como no caso de Aturiaí.

Nas vilas de Aturai, Nova Olinda e Perimerim existem serviços de restaurantes e

lanchonetes. Há moradores que vivem em seus lotes onde estão construídas as

residências e os espaços para guardar materiais de trabalho e produção (como carvão), e

a casa de farinha. Em geral os lotes estão voltados para a estrada, o que pode favorecer

o escoamento da produção.

Os moradores das sedes comunitárias têm suas casas em espaços menores com

aproximadamente 20x30m e nos quintais está o poço, o jirau, áreas de banho e alguns

criam pequenos animais, assim como os materiais de trabalho. Por exemplo, nas

comunidades de Perimerim e Ponta de Urumajó é comum encontrar as redes e

malhadeiras de pesca penduradas nas árvores dos quintais.

Os comunitários que utilizam os rios maiores como o Urumajó, o Emboraí e o

Aturiaí reconhecem os espaços de uso comuns e afirmaram que não há conflitos pelo

recurso natural, uma vez que cada pescador respeita a área de instalação de currais e

puçás.

Em geral os moradores entrevistados e os que se pronunciaram durante as oficinas

afirmaram que há necessidade de se “proteger o mangal”, segundo alguns deles “o

mangue daqui é rico e farto”, referindo-se a grande variedade de mariscos e peixes. É

notório o conhecimento de que a pesca de rede de tapagem é predatória, como na fala

do Sr. Paulo: “o cabra tece e estica a rede no igarapé de um lado ao outro, até o fundo, a

maré seca na cabeceira e tira todo o peixe, mata tudo, só fica com o graúdo”. No entanto,

esta prática é exercida em todas as comunidades.

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Em conversa com um ex-agente ambiental municipal, a prática da pesca de rede de

tapagem assim como a pesca com rede de “apoita” é considerada crime ambiental e

quando há fiscalização, estas são apreendidas.

Segundo Rosa (2007), nos idos de 1998, período de concretização das

associações agropesqueiras, na Vila Nova Olinda foi elaborado e proposto um acordo de

pesca para o controle do uso das redes de tapagem e de puçás de arrasto (Figura 17).

Cabe destacar ainda que na ocasião deste diagnóstico não foi citada a ocorrência deste

documento em nenhuma entrevista, ou conversas informais ou ainda durante a oficina.

Nesta pesquisa, realizada nos anos de 2005 e 2006, a autora não faz qualquer

menção à existência Resex Marinha Araí-Peroba, quando esta unidade de conservação

já estava, na ocasião, organizando seu Conselho Gestor.

Figura 17- Acordo de pesca em Nova Olinda. Fonte: Rosa (2007).

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3.3- Identificação e caracterização de possíveis co munidades indígenas ou

quilombolas presentes na área.

Afrodescendentes, originados a partir de escravos negros, os quilombolas

sobrevivem em assentamentos humanos, muitas vezes antigas fazendas, deixados por

outros proprietários. No Brasil, foram identificados 2.228 territórios quilombolas, dos

quais, 1.826 comunidades estão certificadas no país (INCRA,2012).

O estado do Pará é o 3º na quantidade de territórios quilombolas. Estes, apesar de

existirem desde a escravatura no fim do século XIX, têm sua visibilidade social como um

fato recente, fruto da luta pela terra, a qual, na maioria das vezes, não possuem

regularização fundiária. No entanto, os quilombolas passaram a ter garantidos seus

direitos com a Constituição de 1988.

Vivem, em geral, de atividades vinculadas à pequena agricultura, artesanato,

extrativismo e pesca, variando de acordo com as regiões em que estão situados. Na

Amazônia, localizados muitas vezes ao longo de rios e igarapés, garantem sua

subsistência com a pesca, o extrativismo e a pequena agricultura. Em outras regiões, as

atividades são quase exclusivamente agrícolas.

O Pará também possui uma população muito grande de afrodescendentes, alguns

dos quais vivendo em comunidades fechadas conhecidas como Quilombos. O estado,

através do Instituto de Terras do Pará (Iterpa) e o Programa Raízes, tem comandado o

processo de cumprir a ordem Constitucional que obriga a emissão de 20 títulos de terras

para as comunidades quilombolas.

O Programa Raízes foi criado pelo governo do Pará em 12 de maio de 2000 por

meio do Decreto Nº 4.054.. Sua missão é articular dentro do governo estadual o

atendimento das demandas dos povos indígenas e das comunidades quilombolas. Trata-

se de uma iniciativa pioneira que busca estruturar uma política governamental específica

para esses setores da sociedade. O Programa Raízes é responsável por receber as

reivindicações das comunidades indígenas e quilombolas, avaliá-las, discutí-las com os

interessados e encaminhá-las para o órgão estadual competente para tratar da questão.

Além disso, o Programa Raízes coordena e acompanha a execução das ações do

governo do Pará dirigidas aos povos indígenas e às comunidades remanescentes de

quilombo. Sua atuação tem sido crucial para sensibilizar o conjunto do governo estadual

para a importância de uma política específica para estes grupos.

Além de legitimar as terras dos Quilombolas, a legislação paraense incorporou o

conceito da auto declaração como o meio probatório para a classificação como

Quilombos a “comunidade constituída por descendentes de negros escravos que

compartilham identidade e referência territorial comuns”.

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A legislação do estado do Pará também reconhece que o espaço territorial está

associado ao espaço de gestão sócio ambiental vital à reprodução física e cultural das

comunidades quilombolas.

Na região do município de Augusto Corrêa, na comunidade denominada Peroba

dos Pretos, durante as conversas informais com os representantes dos moradores, estes

afirmaram que houve estudos para o seu reconhecimento enquanto Quilombolas e que

“essa história de ser quilombola já tem aqui desde que nasci” (Sra. Noca, 47).

É importante destacar que durante os relatos dos moradores, estes informaram

que estavam aguardando a tomada de decisão de seu território. Afirmaram ainda que em

período recente pesquisadores estiveram na comunidade para este reconhecimento e

“trouxeram projetos para construção de uma casa de farinha e formação de uma

associação”. Por meio da associação participaram de eventos em outros municípios do

estado. Ainda segundo eles “o movimento está parado”, que a comunidade deveria ser

registrada como Peroba dos Pretos, e que, ainda, “estarem um território quilombola eles

são reconhecidos e com isso podem desenvolver a comunidade”.

Em levantamentos secundários a fim de obter informação sobre a existência do

território quilombola, não foi encontrado registro deste território nos sites de acesso

(INCRA, MDA, Projeto Raízes ou Iterpa). Contudo, no site da organização Adital5 (ano de

2007) foi encontrada referência ao Quilombo Peroba no estado do Pará e frases de

lideranças locais referentes à educação. Ressalta-se que em entrevista informal junto a

um dos ACS, este informou que o Quilombo existe e em decorrência do território no

município recebe verbas adicionais para a saúde.

Não foram localizados para o município de Augusto Corrêa registro de populações

indígenas ou de reivindicações de reconhecimento deste grupo étnico.

5 ADITAL- Agência de Informação Frei Tito para América Latina é uma agência de notícias que nasceu para levar a agenda social latino-americana e caribenha à mídia internacional. www.adital.com.br. 13.07.07 - Brasil. Falta de titulação de terras ainda é o maior proble ma para quilombolas ...

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71

3.4- Identificação de grupos sociais que poderão in terferir no processo de

criação da unidade, bem como suas preocupações e in teresses.

Os principais grupos sociais identificados na sede do município são as

organizações de classe como o STTR e a Colônia de Pescadores e, da perspectiva

governamental, as secretarias municipais. No âmbito das comunidades, as associações

existentes foram descritas no item organização social deste diagnóstico. Reservou-se

para este item a associação mãe da Resex Marinha Araí-Peroba. Não há registros de

outras ONG’s que atuam no município.

A colônia de pescadores Z-18 tem sede própria e está localizada na sede do

município de Augusto Corrêa. Segundo sua secretária, a Z-18 foi criada na década de

1970. O associado paga R$ 7,00/mês e segundo ela “o pessoal do interior é mais

assíduo no pagamento”. Faz dois anos que os pescadores não recebem o seguro defeso

na região. Nenhum projeto ou ação está sendo proposto ou elaborado pela Z-18. A

principal atividade está na promoção dos benefícios como salário maternidade, auxílio

doença e aposentadoria.

A colônia Z-18 está vinculada à Secretaria Estadual da Pesca (SEAP) e na ocasião

deste estudo, o atual tesoureiro se encontrava em Belém, visando gestionar o retorno do

benefício seguro defeso aos pescadores locais. Segundo dados do Ministério da Pesca e

Aquicultura (MPA) existem 390 pescadores em Augusto Corrêa que possuem o Registro

Geral da Pesca (RGP), todos categorizados como pescadores artesanais. No que se

refere à ampliação da Resex Marinha Araí-Peroba, a Z-18 não soube tecer qualquer

informação, eles não estão acompanhado o processo na região. O Sindicato dos

Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais tem sede no centro da cidade de Augusto Corrêa

e atua desde 1984 com o objetivo de garantir direitos maiores aos agricultores, tais como

acesso mais fácil aos documentos que irão garantir os auxílios do governo. O STTR

atende toda região de Augusto Corrêa e, em quase todas as Vilas e comunidades, conta

com a presença de dois delegados sindicais para agilizar, associar e informar os

moradores. São 8.769 associados inscritos e mais de 60% encontram-se inadimplentes.

Segundo o diretor, funciona no STTR desde 2007 a Secretaria de Políticas Agrárias

e do Idoso. O sindicato criou esta secretaria por meio da Confederação Nacional dos

Trabalhadores (Brasília), sendo o sindicato responsável por fazer a lotação dos membros.

A Secretaria do Idoso é responsável por fazer o cadastro do documento de posse de

terras. Para tanto os sócios pagam R$ 150,00 e não sócios R$ 300,00 pelo serviço. Esta

secretaria analisa a documentação dos trabalhadores e trabalhadoras rurais para agilizar

o processo de aposentadoria. Atualmente o STTR promove a visita de um dentista a cada

15 dias para atender aos associados. O desejo da diretoria é ampliar esta visita nas vilas,

levando também médicos e serviços de manicure e cortes de cabelo.

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72

O ex-presidente do STTR foi convidado pela atual prefeita do município para ocupar

a Secretaria de Agricultura, com isso a organização espera conseguir mais apoio para

projetos locais.

Quanto à ampliação da Resex Marinha Araí-Peroba, para os dirigentes do STTR

esta ação está diretamente ligada ao cadastro de moradores para recebimento de

benefícios como casas e equipamentos, e com isso a vida das pessoas irá melhorar.

As secretarias municipais de Meio Ambiente, Cultura e Saúde atuam na região das

comunidades visitadas. As três secretarias estão em processo de organização, com o

atual quadro político do município. Para a Secretaria Municipal de Meio Ambiente

(SEMMA) a ampliação da Resex “deve vir associada a uma ação de preservação maior

com a promoção de fiscal ambiental em cada comunidade” e esta ampliação é

necessária “devido ocorrer o sentimento de descaso nas comunidades não

contempladas”.

A Casa da Cultura é formada de três departamentos (Cultura, Desporto e

Juventude), onde cada departamento conta com um diretor e um secretário e não possui

status de secretaria municipal. A Feira da Cultura é o principal evento e conta com a

participação de quase todas as vilas e comunidades do município. Para eles a Resex

Marinha Araí-Peroba está voltada à programas sociais e por isso deve ser ampliada.

A Secretaria de Saúde tem como missão o controle para o bem estar social do

município. Executam ações como a coleta de lixo hospitalar, as campanhas de vacinação

e regulam a quantidade de cloro na água. Atuam diretamente nas comunidades por meio

dos Agentes de Saúde Comunitários (ACS) que moram próximo ao local de atuação.

Para eles o papel da unidade de conservação “é o de auxiliar a comunidade no uso

sustentável dos recursos naturais existentes, para que a mesma altere de forma positiva

o dia-a-dia da comunidade”.

A Associação Usuários e Moradores da Resex Marinha Araí-Peroba (AUREMAP),

ou Associação Mãe foi criada em 2005 logo após o decreto de criação da unidade de

conservação, tem como objetivo, segundo o representante e atual presidente, administrar

a co-gestão da Resex. Detém assento no Conselho Gestor e atuam junto às

comunidades que são atuais beneficiarias. A associação não possui nenhum projeto

próprio. Atualmente está gerenciando os programas Habitação e Bolsa Verde e as obras

de infraestrutura (trapiche). Para o presidente da associação, a ampliação da unidade de

conservação “deve ser uma soma de territórios em conservação, importante para o meio

ambiente e conservação dos territórios marinhos. A maior parte da população se

sensibiliza pela preservação, não todos.

Não foram identificadas outras organizações não governamentais que atuam junto

aos moradores das comunidades visitadas.

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73

Percepção sobre a Resex pelos moradores

Por meio das informações obtidas das entrevistas e conversas com os moradores

das comunidades visitadas analisou-se a percepção destes sobre a unidade de

conservação a ser criada. Cem por cento dos entrevistados sabem que existe uma

Reserva Extrativista Marinha no município. Quando perguntado o que é uma Resex e

quais seus objetivos, responderam que: “área para preservar, não pode cortar e roçar

nada”; “para optar pela natureza “ e ainda “cuidar do terreno e da canoa, mas sem

derrubar nada”. E, quando perguntado para que serve uma Resex, responderam: “para

reservar as coisas que precisar um dia”.

Quanto ao quesito ser a favor, ou não, ou ainda não se importar com a ampliação

da Resex ,73% afirmaram ser a favor da ampliação da unidade, apenas um disse não se

importar e os demais não souberam responder. Para 80% a ampliação da unidade de

conservação irá trazer benefícios. Entre os benefícios citados estão a possibilidade de

gerar ganhos como a concessão das casas e barcos e que os benefícios sejam para os

recursos naturais “pois já tem muita gente na comunidade”, ou “não destruir, não ter

queima onde tem fruteira” e ainda “para melhorar para si e para os filhos”.

Quanto aos ganhos que a unidade de conservação poderia promover, novamente

80% afirmaram que sim trará ganhos, dois não souberam responder e os ganhos seriam

com a criação de camarão, obtenção de treinamentos, geração de empregos, catação de

caranguejo entre outros.

Para 53% não se deveria caçar ou pescar dentro da área da Resex, destes 2

sugeriram que não se deveria, ”mas se não tiver outra coisa pra comer”. E para 33% é

correto caçar e pescar na unidade de conservação. Os demais não souberam responder.

Oitenta e um por cento dos entrevistados não conhecem o órgão responsável pela

unidade de conservação. Apenas três entrevistados afirmaram conhecer e citaram Ibama

e ICMBio.

Quando questionados sobre o que se disponibilizaria a fazer em prol da unidade, os

entrevistados afirmaram que poderiam contribuir para repassar informações ou ajudar no

que fosse necessário. Quanto à participação no quesito ambiental, 4 responderam que

poderiam contribuir para a conservação ambiental, conscientizando os vizinhos,

auxiliando na fiscalização ou ainda zelando para “ficar mais bonito”.

Em relação as atividades e ações que o governo deveria implantar na área, 40%

não souberam responder. Os demais sugeriram que o governo implante empregos para

os moradores, atue para a melhoria das condições de vida, traga infraestrutura para as

comunidades e ainda investa na educação ambiental.

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74

Os problemas ambientais apontados pelos moradores dizem respeito à invasão dos

rios por pescadores de fora. Além do desmatamento e pesca predatória.

3.5 - Identificação de áreas naturais e culturais r elevantes, com oportunidade

para uso público.

O Município de Augusto Corrêa foi criado em 1961, a partir de um

desmembramento do município de Bragança. O município de Augusto Corrêa tem muita

tradição em festejos juninos, como os que ocorrem durante a Feira da Cultura Popular

(Figura 18). O município também tem tradição em festejos religiosos, como o Ciro de

Nazaré, que é comemorado todo o ano, reunindo milhares de pessoas. Estima-se que em

2009 mais de dez mil pessoas participaram da 51ª edição da romaria em homenagem à

Nossa Senhora de Nazaré (Amazônia, 2009).

Além da sede municipal, algumas localidades apresentam atrativos turísticos como

por exemplo, o Balneário localizado no Rio Anoirá, próximo a localidade Anoirá e a Orla e

a praia da comunidade de Perimirim (Figura 19). Por se tratar de um município do litoral

paraense, um dos principais atrativos turísticos do município de Augusto Corrêa são as

praias, sobretudo as localizadas na Área de Proteção Ambiental (APA) da Costa do

Urumajó, como, por exemplo, a Praia do Cajueiro, localizada na Ilha Camará-Açu. Além

das extensas áreas de mangue consideradas bem preservadas, o município também

conta com o atrativo da visualização da vida silvestre. Como por exemplo, a grande

concentração de guarás (pássaros) na Ilha da Felipa, localizada na foz do Rio Emboraí e

da Ilha dos Pássaros, que fica próxima a Ponta do Urumajó.

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75

Figura 18- Aspectos da sede municipal e festas locais do município de Augusto

Correa-PA..

a- Balneário no Rio Anoirá (Tinaldo, s.d.) b-Orla da Vila do Perimirim (Santana,

s.d.2).

Figura 19 – Aspectos das áreas turísticas no município de Augusto Correa-PA.

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O mapa das áreas com potencial de uso público localiza os principais pontos

turísticos com praias e balneários da região. Embora a área possua espaços de uso

público como as praias, o acesso a estas é precário e sem infraestrutura necessária para

receber um turismo praiano. O mapa de atrativos turísticos do Município de Augusto

Corrêa (Figura 20) foi construído com base no mapa de potencial turístico elaborado pelo

CPRM (1998) e informações de campo.

Figura 20. Mapa de atrativos turísticos do Município de Augusto Corrêa.

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Áreas culturais

A região do Salgado foi inicialmente ocupada por populações indígenas, que

segundo os estudos arqueológicos e paleontológicos em torno de 5.500 anos AP. Os

poucos assentamentos existentes entre as baías de Marapanim e do Caeté indicam uma

dispersão destes grupos por toda a área do Salgado. Segundo Távora et al (2010), a

Formação Pirabas ocorre descontinuamente nos estados do Pará, Maranhão e Piauí,

(tendo sido onde desde os anos de 1876 estudos registram os calcários ricamente

fossilíferos, sendo 21 no estado do Pará não dá para entender)

Nas comunidades visitadas, nas falas e conversas informais com os moradores

não ocorreram registros de áreas culturais onde poderia haver sítios arqueológicos ou

formação de sambaquis e semelhantes.

No município de Augusto Corrêa, o destaque são as festas de santos e círios

comemorados nas comunidades, além dos festejos juninos. Na ocasião segundo os

moradores há campeonatos entre as comunidades com disputas de futebol e danças de

quadrilhas.

3.6 - Análise do impacto econômico da criação da un idade de conservação

Em 2011 o Ministério do Meio Ambiente em parceria com o Centro para

Monitoramento da Conservação Mundial do Programa das Nações Unidas para o Meio

Ambiente (UNEP-WCMC) desenvolveram o estudo Contribuição das Unidades de

Conservação Brasileiras para a Economia Nacional.

Segundo Medeiros et al (2011), autores do estudo, as unidades de conservação

cumprem uma série de funções cujos benefícios são usufruídos por grande parte da

população brasileira – inclusive por setores econômicos em contínuo crescimento, sem

que se dêem conta disso. Os autores citam como principais exemplos: a qualidade e a

quantidade da água que compõe os reservatórios de usinas hidrelétricas; o turismo que

dinamiza a economia de muitos dos municípios do país só é possível pela proteção de

paisagens proporcionada pela presença de unidades de conservação. Além do

desenvolvimento de fármacos e cosméticos consumidos cotidianamente, em muitos

casos utilizam espécies protegidas por unidades de conservação. Sem contar com o

papel das unidades de conservação para os serviços ambientais, como a mitigação dos

efeitos da emissão de CO2 e de outros gases de efeito estufa decorrentes da degradação

de ecossistemas naturais.

Ainda neste estudo os autores comentam que por se tratar de produtos e serviços

em geral de natureza pública, prestados de forma difusa, o valor e o pagamento por

esses serviços não são percebidos nem pagos pelos usuários. Ou seja, o papel das

unidades de conservação não é facilmente “internalizado” na economia nacional.

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Em se utilizando os itens analisados pelo estudo acima referido, buscou-se

identificar quais aspectos podem ser considerados na região em questão que poderão

gerar impactos econômicos com a ampliação da Resex Araí-Peroba.

Desta forma, a região em questão poderá gerar impactos econômicos com a

conservação da biodiversidade no que tange a: (i) serviços ambientais evitando emissão

de CO2 pela conservação das florestas de mangue, conservação e manutenção das

cabeceiras dos rios que abastecem os mangues; (ii) ICMS Ecológico que repassado ao

município pela existência de unidade de conservação em seu território poderá gerar

novos empregos e melhorias para a eficiência de serviços públicos; (iii) visitação pública

uma vez que a região oferece áreas de praias e ilhas com ninhais de aves, que pode

favorecer grupos turísticos de observadores de pássaros, por exemplo; além da

paisagem das praias.

As atividades produtivas nas unidades de conservação de uso sustentável podem

receber investimentos para desenvolver sua capacidade produtiva. No caso da área em

questão, a pesca e a mariscada, assim como a produção de farinha e seus derivados,

poderão receber investimentos para uma produção organizada e sustentável que

contribua com aumento da eficiência da cadeia produtiva, que poderá aumentar o valor

agregado, e por melhorias no escoamento da produção. Também poderá ser viável a

manutenção das florestas de bacuri, fruto nativo e com valor de mercado.

Em 2011, o Instituto de Desenvolvimento Econômico, Social e Ambiental do estado

do Pará (IDESP) realizou um estudo na região de Integração do Rio Caeté, no qual o

município de Augusto Corrêa está inserido, sobre os produtos florestais não madeireiros

(PFNM) e seus potenciais para esta região. A análise da produção, no que se refere à

agregação de valor, estimou no ano de 2012 que o sistema local foi o que mais adicionou

valor a quase todos os 34 produtos identificados, pois representou 72% do total

agregado. O bacuri foi o segundo produto, depois do açaí com melhor geração de renda

para o agroextrativista. Segundo o estudo, em âmbito estadual, o artesanato é o produto

com maior demanda, mas com menor valor retido pelo setor da produção.

Dessa forma, investimentos nos setores que realizam o beneficiamento e/ou

transformação desses produtos são necessários a fim de que as agregações de valor

sejam indutoras de geração de emprego e melhoria da renda para as populações, tanto

no âmbito local quanto no estadual, de forma a dinamizar as potencialidades das

economias locais. Além disso, busca-se aumentar a produtividade e qualidades desses

produtos ofertados e com isso reduzir impactos a biodiversidade da região.

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3.7 - Levantamento de dados e análise dos impactos ambientais sobre os

usos alternativos do solo existentes, que estão em planejamento ou em

implementação nas áreas indicadas.

O estado do Pará possui papel de destaque na atividade mineral ocupando o

segundo lugar no ranking nacional de produção mineral, com participação que gira em

torno dos 22%, deixando-o como referência absoluta da atividade na região Norte.

Essa produção está dividida principalmente entre oito produtos minerais (94%),

quais sejam: ferro, cobre, bauxita, manganês, ouro, caulim, calcário e água mineral.

Para a região das comunidades estudadas no município de Augusto Corrêa, na

bibliografia pesquisada não foram encontradas referências à exploração de solos ou

projetos no estado. Junto ao Departamento Nacional de Produção Mineral (DPNM)

existem 15 pedidos de estudos e pesquisas de lavras minerais para o município de Viseu.

O mapa de potencial turístico do município de Augusto Corrêa, elaborado pela

Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM), indica um garimpo de ouro

localizado nas proximidades da comunidade Nova Olinda, denominado Santo Antonio de

Buenos Aires, caracterizado como garimpo a céu aberto. Durante o mapeamento de uso

do solo no pólo Zé Castor houve citações de ocorrência de garimpo de ouro nas

proximidades. Há também na região intensa exploração de pedreiras.

3.8 - Levantamento de dados secundários do meio Fís ico

O município de Augusto Corrêa é recortado por inúmeros rios e/ou igarapés. Possui

também inúmeras lagoas e áreas alagadas. Outro componente importante da hidrografia

de Augusto Corrêa são os chamados “furos”, que ocorrem nas áreas mais baixas,

próximas ao litoral. Esses “furos” são canais naturais, geralmente utilizados como

“atalhos” na navegação flúvio-marinha.

Hidrologia

Os principais rios que drenam a região são: rio Urumajó, Aturiaí, Emboraí, Peroba e

seu afluente o Buçu e o Emburanunga (Figura 21). Cabe ressaltar que os dados de

hidrografia foram elaborados com base em PARÁ-SEMA (s.d.). Para tanto foi realizado

um ajuste entre a base de dados e a imagem do satélite Landsat 5, sensor Thematic Map

(TM), de 20 de junho de 2008, tendo esta última sido usada como referência.

Posteriormente fez-se uma correção do curso do Rio Emboraí, com base nos dados de

Elevação.

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Figura 21 – Mapa de hidrografia do município de Augusto Correa-PA.

Elevação e Geologia

Nesta região os valores de elevação variam de próximo a zero (2,0m – nível do

mar) a no máximo 87 metros. Estratificando-se a elevação em nove classes com

intervalos de 10 metros, verifica-se que aproximadamente 76% do município possuí

elevação até de 40 metros (Tabela 5). O dado de elevação foi elaborado com base nos

dados SRTM (Shuttle Radar Topography Mission), organizados por Weber et al. (2004).

De uma forma geral, verifica-se que as elevações mais baixas encontram-se na

região litorânea (norte), observando-se um aumento dos valores de elevação em direção

ao interior do município (sul). Observam-se ainda valores baixos de elevação ao longo

dos rios principais (Rio Urumajó, Rio Emboraí, e o Rio Peroba e seu afluente o Rio Baçu).

A distribuição espacial das classes de elevação pode ser observada no mapa de

elevação (Figura 22).

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Tabela 5- Área das classes do mapa de Elevação em metros para o município de

Augusto Corrêa-PA.

Classes ( em

metros)

Área (km 2) Percentual

02 - 10 186,19 17,0

11 - 20 338,90 31,0

21 - 30 147,27 13,5

31 - 40 158,13 14,4

41 - 50 136,28 12,4

51 - 60 83,18 7,6

61 - 70 39,10 3,6

71 - 80 5,21 0,5

81 - 87 0,45 0,0

Total 1094,70 100,0

Figura 22 - Mapa de elevação do município de Augusto Corrêa-PA.

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Os terrenos do município de Augusto Corrêa, não são muito antigos na escala

do tempo geológico. Do total do território, 95,9% ou pertencem à classe água ou as

Épocas Holoceno, Pleistoceno e Mioceno (Tabela 6). Estas Épocas, pela nova

classificação pertencem ao Período Neogeno, que teve seu início no Mioceno a 23

milhões de anos antes do presente. No entanto, o município de Augusto Corrêa possui

uma pequena área (4,1%) muito antiga, pertencente à Era Neoarqueano com início em

2,8 bilhões de anos antes do presente, região muito provavelmente de concentração

fossilífera (Tabela 7 e Figura 23). O mapa de geologia para o município de Augusto

Corrêa foi elaborado com base nos dados disponibilizados pelo IBGE (s.d.1)

Tabela 6 - Área das classes do mapa de geologia para o município de Augusto

Corrêa-PA.

Classes Área (km 2) Percentual Água 49,75 4,6 Holoceno 340,41 31,2 Pleistoceno 9,98 0,9 Mioceno 645,56 59,2 Neoarqueano 44,17 4,1 Total 1089,86 100,0

Tabela 7 – Unidades de Tempo Geológico

ÉON ERA PERÍODO ÉPOCA INÍCIO1

Fanerozóico Cenozóica Neogeno (Quaternário)

Holoceno 0.0114

Fanerozóico Cenozóica Neogeno (Quaternário)

Pleistoceno 1.806

Fanerozóico Cenozóica Neogeno (Terciário)

Mioceno 23.03

Arqueano Neoarqueano XXXXXX XXXXXX 2800 1 Em milhões de anos antes do presente.Fonte: Adaptado de WIKIPÉDIA (s.d.).

A principal classe do Mapa de Geologia do município de Augusto Corrêa é o

Mioceno (59,2% do território), seguida pelo Holoceno (31,2%). A classe Pleistoceno

representa apenas 0,9% da área do Mapa de Geologia do Município de Augusto Corrêa.

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Figura 23 - Mapa de geologia do município de Augusto Corrêa-PA.

O Neoarqueano é representado pelo Grupo Aurizona. A sequência meta-vulcano-

sedimentar denominada Grupo Aurizona, assim o foi, por encontrar-se notadamente bem

representada no interflúvio Tromai/Maracaçumé, próximo à Vila Aurizona. A Unidade em

questão constitui uma sequência supracrustal de natureza Vulcano-Sedimentar, cujas

paragêneses indicam grau metamórfico de Fácies Xisto Verde, com evolução local para

Anfibolito. Características do Grupo Aurizona: xistos, filitos, metacherts, quartzitos e

metaultramafitos (IBGE, s.d.1; IBGE, 2008a).

O Mioceno é composto basicamente pelo Grupo Barreiras. Os sedimentos

englobados no Grupo Barreiras ocorrem em vários trechos da região costeira do Brasil,

desde o Amapá até o Rio de Janeiro, sendo sua denominação derivada das falésias onde

estão expostos, nos relevos tabulares da costa. O termo "Série das Barreiras" com

conotação estratigráfica foi proposto por Moraes Rego (1930), ao correlacionar os

sedimentos argilosos e arenosos com concreções ferruginosas e cores variadas das

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barrancas de vales de rios do leste do estado de São Paulo. O Grupo Barreira é formado

por arenitos, siltitos, argilitos e conglomerados de cores variegadas, com níveis

concrecionários ("grés do Pará") e caulínicos, depositados em ambiente

predominantemente continental por sistemas fluvial, fluviolacustre e de leques aluviais

(IBGE, s.d.1; IBGE, 2008a).

O Pleistoceno é caracterizado por uma cobertura detrito-laterítica que apresenta as

seguintes características: sedimentos argilo-arenosos amarelados, caoliníticos, alóctones

e autóctones, parcial a totalmente pedogenizados, gerados por processos alúvio-

coluviais. Já os terrenos da Época Pleistoceno são mais expressivas nas áreas

periféricas das grandes depressões da Amazônia e do Centro-Oeste, como a do

Guaporé, do Alto Paraguai, do Araguaia, Sul da Amazônia, do Rio Branco - Rio Negro,

Periférica do Sul do Pará, entre outras (IBGE, s.d.1; IBGE, 2008a).

O Período Holoceno é caracterizado principalmente pelos depósitos de pântanos e

mangues, constituídos por sedimentos predominantemente pelíticos, argilo-siltosos, com

muita matéria orgânica, restos de madeira e conchas, em ambiente fluviomarinho e/ou

litorâneo. Menos expressivos são os depósitos marinhos litorâneos, que são os depósitos

arenosos de praias e restingas atuais da área amazônica, compostos por areias bem

classificadas, inconsolidadas, de granulação fina a média e contendo restos de animais

(IBGE, s.d.1; IBGE, 2008a).

Geomorfologia

A Geomorfologia do Município de Augusto Corrêa encontra-se compartimentada em

três classes: Planície, Pediplano e Tabuleiro (Tabela 8 e Figura 24). Os Tabuleiros

cobrem a maior parte do território (56,9%); a Planície é a segunda classe em importância

(29,8%); o Pediplano, por fim, é a classe de menor área (8,8%).

Tabela 8 – Área das classes do mapa de geomorfologia

Classes Área (km 2) Percentual Água 49,75 4,6 Planície 324,98 29,8 Pediplano 95,38 8,8 Tabuleiro 619,76 56,9 Total 1089,87 100,0

Os Tabuleiros e os Pediplanos situam-se no Domínio das Bacias Sedimentares e

Coberturas Inconsolidadas, representam as áreas que num passado geológico foram

áreas de deposição, mas atualmente sofrem processos erosivos. As Planícies situam-se

no Domínio dos Depósitos Sedimentares Inconsolidados (IBGE, s.d.2).

Os Tabuleiros são resultantes de um Modelado de Dissecação preferencialmente

diferencial tabulares, resultando num conjunto de formas de relevo de topos tabulares,

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conformando feições de rampas suavemente inclinadas e de lombadas, esculpidas em

rochas sedimentares.

São em geral definidas por vales rasos, apresentando vertentes de baixa a média

declividade. Resultam da instauração de processos de dissecação atuando sobre a

superfície de aplainamento (IBGE, 2008b). O mapa de geomorfologia para o município de

Augusto Corrêa foi elaborado com base nos dados disponibilizados pelo IBGE (s.d.2)

Figura 24 – Mapa de geomorfologia do município de Augusto Correa-PA.

Os Pediplanos são superfícies de aplainamento elaboradas durante fases

sucessivas de retomada de erosão, sem, no entanto perder as características de

aplainamento, cujos processos geram sistemas de planos inclinados, às vezes levemente

côncavos. Pode apresentar cobertura detrítica e/ou encouraçametos, indicando

remanejamentos sucessivos (IBGE, 2008b).

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86

As áreas denominadas de “terra firme” e rodeadas por áreas de mangue, que são

comumente denominadas de “ilhas”, são, em geral, Pediplanos.

A Planície é resultante de um Modelado de Acumulação, sendo em geral uma área

plana resultante da combinação de processos de acumulação fluvial e marinha, sujeita ou

não a inundações periódicas, podendo comportar canais fluviais, manguezais, cordões

arenosos e lagunas. Ocorre nas baixadas litorâneas, próximo às embocaduras fluviais

(IBGE, 2008b). Nesta classe encontram-se tanto as planícies fluviomarinhas (áreas de

mangue) quanto às planícies marinhas (praias).

Solos

No Município de Augusto Corrêa encontram-se quatro tipos de solo. Os mais

comuns são Latossolo Amarelo Distrófico, correspondendo a 60,9% do território, e o

Gleissolo Sálico Sódico, que cobre 31,1% do território. Juntos estes dois tipos de solo

representam 92% do território do município. Com menor importância em termos de área

aparecem o Argissolo Vermelho-Amarelo Distrófico e o Neossolo Quartzarênico,

representando 3,3% e 0,1% do território do município, respectivamente (Tabela 9 e

Figura 25). O mapa de pedologia para o município de Augusto Correa foi elaborado com

base nos dados disponibilizados pelo IBGE (s.d.3).

.

Tabela 9- Área das classes do mapa de solo

Classes Área (km 2) Percentual Água 49,75 4,6 Neossolo quartzarênico 1,30 0,1 Gleissolo Sálico Sódico 339,13 31,1 Latossolo Amarelo Distrófico 663,21 60,9 Argissolo Vermelho -Amarelo Distrófico

36,47 3,3

Total 1089,85 100,0

Os Latossolos são, em geral, solos muito intemperizados (alterados), profundos e

de boa drenagem. Caracterizam-se por grande homogeneidade de características ao

longo do perfil tais como: mineralogia da fração argila predominantemente caulinítica ou

caulinítica-oxídica, que se reflete em valores de relação Ki6 baixos, inferiores a 2,2, e

praticamente ausência de minerais primários de fácil intemperização.

Distribuem-se por amplas superfícies no Território Nacional, ocorrendo em

praticamente todas as regiões, diferenciando-se entre si principalmente pela coloração e

teores de óxidos de ferro. Esses fatores determinaram a sua separação em quatro

classes distintas ao nível de subordem no Sistema Brasileiro de Classificação de Solos:

(1) Latossolos Amarelos Solos profundos, de coloração amarelada, perfis muito

homogêneos, com boa drenagem e baixa fertilidade natural em sua maioria. Ocupam 6 Ki = dióxido de silício (SiO2)/óxido de alumínio (Al2O3)

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grandes extensões de terras no Baixo e Médio Amazonas e Zonas Úmidas Costeiras

(tabuleiros). São cultivados com grande variedade de lavouras (IBGE, 2007).

Descrição do Latossolo Amarelo Distrófico (IBGE, 2007; 2008c):

Classe: Latossolo - material altamente intemperizado (alterado), com elevado conteúdo

de sesquióxidos - óxidos e/ou hidróxidos de alumínio (Gibbsita - Al(OH)3) ou ferro

(Hematita - Fe2O3)

Subordem: Amarelo - Cor do Solo

Grande Grupo: Distrófico - saturação por bases menor que 50%

Símbolo: LAd

Textura: Média

Topografia: Plano e suave ondulado

(2) Gleissolos são solos característicos de áreas alagadas ou sujeitas a alagamento

(margens de rios, ilhas, grandes planícies, etc.). Apresentam cores acinzentadas,

azuladas ou esverdeadas, dentro de 50cm da superfície. Podem ser de alta ou baixa

fertilidade natural e têm nas condições de má drenagem a sua maior limitação de uso.

Ocorrem em praticamente todas as regiões brasileiras, ocupando principalmente as

planícies de inundação de rios e córregos. O caráter sálico é uma propriedade referente à

presença de sais mais solúveis em água fria que o sulfato de cálcio (gesso), em

quantidade tóxica à maioria das culturas, expressa por condutividade elétrica no extrato

de saturação maior que ou igual a 7dS/m (a 25º C), em alguma época do ano. O caráter

sódico é usado para distinguir solos que apresentem saturação por sódio (100 Na+/T)

maior ou igual que 15%, em algum ponto da seção de controle que defina a classe

(IBGE, 2007). Gleissolo Sálico Sódico que ocorre no Município de Augusto Corrêa é o

típico (GZn1), apresenta textura indiscriminada e topografia plana (IBGE, 2008c).

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Figura 25 – Mapa de pedologia do município de Augusto Correa-PA.

(3)Argissolos estão amplamente distribuídos por todo o território brasileiro. Estes solos

eram anteriormente chamados de Solos Podzólicos. Estes solos têm como característica

principal a presença de um horizonte B textural (Bt). Esse horizonte B textural é formado

pela movimentação de argila dos horizontes superiores para os inferiores. Como

consequência, os horizontes acima do Bt ficam com teores menores de argila e maiores

de areia.

Embora existam Argissolos de todas as colorações, a maioria deles tem cores

amareladas (UFLA, s.d.). Os teores de Fe2O3 normalmente baixos. São profundos a

pouco profundos, moderadamente a bem drenados, com textura muito variável, porém

com predomínio de textura média na superfície e argilosa em subsuperfície, com

presença ou não de cascalhos. De uma maneira geral, pode-se dizer que os Argissolos

são muito susceptíveis à erosão, sobretudo quando o gradiente textural é mais

acentuado, há presença de cascalhos e relevo mais movimentado com fortes declives.

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Nesse caso, não são recomendáveis para agricultura, prestando-se para pastagem e

reflorestamento ou preservação da flora e fauna. Quando localizados em áreas de relevo

plano e suavemente ondulado, esses solos podem ser usados para diversas culturas,

desde que sejam feitas correção da acidez principalmente quando se tratar de solos

distróficos ou álicos e adubação (Santos et al, s.d.).

(4)Neossolo Quartzarênico (Areia Quartzosa), em geral, são solos originados de

depósitos arenosos, apresentando textura areia ou areia franca ao longo de pelo menos 2

m de profundidade. Esses solos são constituídos essencialmente de grãos de quartzo,

sendo, por conseguinte, praticamente destituídos de minerais primários pouco resistentes

ao intemperismo. Esta classe, embora pequena em termos de área (0,1%), é muito

importante, pois representa as praias, que possuem um forte apelo turístico (Sousa e

Lobato, s. d.).

Cobertura vegetal e uso da terra

O mapa de cobertura vegetal e uso da terra do município de Augusto Corrêa para o

ano de 2008 foi elaborado com base nos dados do Projeto TerraClass, que teve como

objetivo realizar a qualificação, a partir de imagens orbitais, das áreas já desflorestadas

da Amazônia Legal, resultando na elaboração de um mapa digital que descreve a

situação do uso e da cobertura da terra no ano de 2008 (EMBRAPA e INPE, 2011).

A classe de cobertura predominante é a Agropecuária cobrindo 36,5% da área do

município. As áreas com fisionomia florestal (classe Floresta) são a segunda classe em

importância município, cobrindo 26,3% da área. Nesta classe estão incluídas

principalmente as áreas de mangue. Também estão incluídas as florestas de igapó, e,

possivelmente, algumas pequenas áreas de floresta primária (terra firme e/ou aluvial),

todavia com áreas pouco expressivas. A terceira classe em importância é a Vegetação

Secundária, que inclui as capoeiras (porte arbóreo) e as juquiras (porte

arbóreo/arbustivo), respondendo por 24,6% da área do município. A classe Água

responde por cerca de 3,4%, e as classes Campos e Área Urbana por 0,3% cada uma,

da área do município (Tabela 10 e Figura 26).

Com base nessas informações, constata-se que a região mais preservada do

município de Augusto Corrêa são os manguezais, localizados na região costeira, ao norte

do município.

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Tabela 10 – Área das classes do mapa de cobertura vegetal e uso da terra

Classe Área (km 2) Percentual Agropecuária 385,83 36,5 Água 36,37 3,4 Área Urbana 3,22 0,3 Campos 3,17 0,3 Floresta 277,52 26,3 Núvem 90,66 8,6 Vegetação Secundária 260,12 24,6 Tota l 1056,88 100,0

Figura 26 – Mapa de cobertura vegetal e uso da terra do município de Augusto

Corrêa-PA.

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3.9 - Levantamento de dados secundários do meio bió tico.

Especificamente sobre a área visitada não há referências bibliográficas que

destaquem o meio biótico como um todo. Dentre os estudos realizados na região

predominam os realizados com a pesca em todos os níveis (ver banco de dissertações e

tese UFPA e UFPA-Bragança). No entanto, foi possível resgatar de publicações que

citavam a região como entorno ou municípios vizinhos. Além desses utilizou-se das

informações obtidas dos questionários e conversas informais com entrevistados e

moradores (ver item 3.2 deste relatório).

O Nordeste Paraense é a área mais antiga de colonização na Amazônia com sua

cobertura vegetal original já quase que 100% desmatada. A maior parte da região

atualmente apresenta-se com constituição florística de capoeiras com várias idades e

muito pouca vegetação primária, a qual foi moderadamente preservada, encontrando-se

somente em pequenas manchas esparsas, onde são raras as essências da vegetação

original.

A região tem clima tropical úmido e segundo a classificação de Koppen, é do tipo

Awi, com precipitação pluviométrica anual, em torno de 2.100mm, com períodos definidos

de chuvas abundantes (janeiro a junho) e estiagens (julho a dezembro). A temperatura

média anual é de 26,0oC. Os meses de outubro a novembro os mais secos (EMBRAPA,

1998).

Os estuários com a vegetação predominante de mangue são considerados dentre

os sistemas mais produtivos em termos de produção primária formação de substâncias

orgânicas ricas em energia, permitindo a fixação de carbono no ambiente (Pereira, 2002).

A vegetação herbácea ocupa áreas alagadas com influência pluvial e de águas

salobras, estando representada pelos pântanos salinos vegetados. Os campos salinos

estão cobertos por gramíneas e ciperáceas ocorrendo sobre os cheniers e dunas (Souza

Filho, 1995). A riqueza biológica dos ecossistemas costeiros faz com que essas áreas

sejam os grandes “berçários” naturais, tanto para as espécies características desses

ambientes, como para peixes e outros animais que migram para as áreas costeiras

durante, pelo menos, uma fase do ciclo de vida.

A Floresta Equatorial Subperenifólia cobria a maior parte da região que, atualmente,

apresenta-se com constituição florística de capoeiras aparentemente com várias idades e

muito pouca vegetação primária, a qual foi moderadamente preservada, encontrando-se

somente em pequenas manchas esparsas, onde são raras as essências da vegetação

original. As espécies mais freqüentes são: imbaúba (Cecropia sp.), matamatá

(Eschweilera odora (Poep. ex Berg) Miers), lacre (Vismia spp) e núcleos de palmeiras,

principalmente o buriti (Mauritia flexuosa L.f), inajá (Maximiliana maripa.), açaí (Euterpe

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oleraceaMart.), coco-d'água (Cocus sp) e bacaba (Oenocarpus bacaba Mart.) (BRASIL,

1973; Oliveira et al., 1998) (Figura .27)

As principais espécies vegetais do mangue utilizadas pelos moradores são o

Mangue-branco ou Tinteiro (Laguncularia racemosa) e o Mangue vermelho ou Mangueiro

(Rhizophora mangle). Os usos dados a essas espécies implicam em construções para

currais, casa e alguns moradores citaram utilizar a raiz de espécies do mangue como

remédios.

Figura 27- Aspectos das áreas impactadas e uso da terra na região visitada.

Durante o período de estadia em campo foi possível observar ao longo da estrada e

vicinais que a vegetação está impactada e não parece haver critérios para uso da terra

como desmatamento em cabeceiras e margens de rios e igarapés para o

estabelecimento de pastos.

Das espécies vegetais citadas pelos entrevistados o ipê (Tapebuia sp) e o cedro

(Cedrela odorata) são as espécies vegetais mais ameaçadas e estão na lista de espécies

da flora ameaçadas do Estado do Pará classificadas como vulnerável na categoria de

ameaça. (SEMA, 2006). O cipó titica (Heteropsis sp) , assim como o junco (Cyperus sp)

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São citados em algumas comunidades como “já desaparecido”, tanto essas fibras

antes utilizadas para confecção de materiais como paneiros e esteiras estão sendo

substituídas por outras mais abundantes como a Maurithia flexuosa (Figura 28)

Figura 28 – Aspectos dos ambientes na região visitada no município de Augusto

Corrêa-PA.

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A atividade pesqueira faz parte das mais antigas tradições dos habitantes do litoral

amazônico, que mantiveram sua riqueza cultural nas formas de exploração dos recursos

naturais, mesmo com a introdução das transformações socioculturais impostas pelo

desenvolvimento econômico na região (Maneschy, 1993; 2003).

Os manguezais assim como as florestas tropicais úmidas encontram-se sob

ameaça No entanto os mangues não tem recebido tanta atenção, no que se refere a

conservação deste ecossistema. Os manguezais e o ambiente estuarino mantêm um

ciclo de exportação de material orgânico em decomposição e nutrientes provenientes do

mangue para as águas do mar, que favorecem a região para a produção pesqueira.

Desta forma a diversidade de peixes, crustáceos e mariscos é rica, de importância

econômica local e regional. A lista de espécies identificadas para a região estudada

chega a mais de 50 espécies de peixes, 10 de moluscos e 6 de crustáceos.

As aves são as espécies mais abundantes tanto pelo numero de citações dos

moradores quanto à visualização in locu. É possível observá-las nas áreas que margeiam

os rios, nas proximidades das estradas e em alguns quintais das moradias,

principalmente as garças brancas pequenas (Egretta thula) e guarás (Eudocimus ruber).

Os répteis podem ser observados nos quintais como os lagartos e camaleões

(Iguana sp) este últimos, segundo relato em algumas comunidades são caçados pelos

meninos no período de verão (quando há queimada para cultivo) que consomem os ovos

e os animais. No mangue foi citada a ocorrência de jacarés e quelônios.

Os mamíferos, segundo Fernandes & Andrade (2003) a presença de muitas

espécies de mamíferos nos manguezais parece ser determinada pelo seu ciclo de vida,

que por muitas vezes inclui a utilização paralela dos recursos disponíveis nos

ecossistemas contíguos. Na região estudada onde já não há espaços vegetais que

suportem mamíferos de grande porte como Felinos e Perissodátila , este já não ocorrem.

Durante o exercício de identificação dos mamíferos terrestres, por meio das pranchas,

alguns moradores chegaram a declarar “esses bichos já não existiam aqui quando eu me

entendi”. Dentre os animais apresentados estavam a anta (Tapirus terrestris), e a irara

(Eira barbara) e o veado vermelho (Manzana americana). Os moradores citaram mais de

35 mamíferos.

Quanto à ocorrência de espécies endêmicas na região os moradores entrevistados

ao serem questionados “Existe algum animal que você só tenha visto nesta região e que

você nunca viu em outro lugar?” foram unânimes em afirmar que não há.

Dentre as espécies animais que já não ocorrem na região, os moradores citaram os

Artiodáctilos (veados, caititu e porco do mato) entre os mamíferos; os Piciformes e

Opisthocomiformes (tucanos e ciganas) entre as aves e os peixes da família Serranidae e

Carcarrhinidae (meros e cação).

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3.10 - Realização de reuniões participativas com as comunidades

Conforme já descrito na metodologia, foram realizadas cinco oficinas nas

comunidades pólo. Desta forma, as oficinas ocorreram em Ponta do Urumajó, Patal,

Nova Olinda, Zé Castor e Aturiaí.

As reuniões foram organizadas pelas lideranças, coordenadores de comunidades e

os moradores com o apoio da equipe e realizadas sempre nos horários propostos pela

comunidade.

Em todas as oficinas foi proposto e aceito como dinâmica o esclarecimento das

atividades da equipe, realização de exercícios para coleta de dados como: o

mapeamento das áreas de uso dos recursos naturais, o diagrama de Venn e a matriz

histoecológica.

Moradores das comunidades adjacentes foram convidados e as atividades foram

integradas.

A dinâmica da oficina contou ainda com uma “seção” de esclarecimentos sobre

dúvidas existentes quanto ao processo de ampliação da unidade de conservação, o

modo de vida de moradores e usuários de uma Resex Marinha. Este último item contou

com a participação do presidente da Associação Mãe da Resex Marinha Araí-Peroba.

Salvo exceções as dúvidas dos moradores em geral se detiveram em três

temáticas: o processo de ampliação da unidade de conservação e a chegada dos

benefícios e o que se pode ou não fazer depois que ampliar a Resex em questão.

Cabe destacar que em nenhuma das oficinas realizadas houve problemas ou

conflitos. Em todas as oficinas houve presença de homens e mulheres que participaram e

deram opiniões. É importante ressaltar que em todas as comunidades foram denunciados

invasões com perda de recursos naturais e conflitos entre os moradores locais e

pescadores e catadores externos.

Na comunidade de Aturiaí foi proposto, elaborado, assinado e entregue ao

representante da unidade de conservação, um documento para ser encaminhado ao

Conselho Gestor da Resex Marinha Araí-Peroba e a Associação Mãe solicitando

providências imediatas quanto à invasão de pescadores desta unidade de conservação

nas áreas das demais comunidades.

Na comunidade de Patal os participantes manifestaram insatisfação quanto a

ausência de informações sobre a unidade de conservação, principalmente sobre a

“chegada dos benefícios prometidos desde o tempo do o Chico do Arai em 2007”. Na

ocasião eles afirmaram que a proposta era “se aceita a ‘resec’ ganha casa”. Foram dados

os esclarecimentos necessários para o entendimento do processo e o que significa o

recebimento dos benefícios e surgiram questionamentos que foram devidamente

sanados sobre o funcionamento do conselho gestor da unidade.

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96

Na comunidade Zé Castor, um número expressivo de pessoas compareceu a

oficina, e em especial as mulheres. Estas, segundo elas foram convidadas a vir para a

reunião “porque o pessoal estava cadastrando para o recebimento das casas pela

‘resec’”. Uma vez feito o esclarecimento às senhoras, algumas permaneceram e outras

se retiraram.

No pólo Nova Olinda dois temas foram polêmicos: a situação da invasão de

pescadores da Resex Araí-Peroba e a situação de famílias que estão sendo atendidas

pelo Programa Bolsa Verde. O presidente da AUREMAP, afirmou que levará ao

conhecimento da diretoria e do gestor a situação apresentada.

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97

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LISTA DAS ESPÉCIES DA FLORA CITADAS PELOS MORADORES .

CONTINUA

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