ESTUDO TÉCNICO DA UTILIZAÇÃO DO CHAMOTE EM UMA INDÚSTRIA … · A indústria da cerâmica...

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CENTRO UNIVERSITÁRIO CESMAC JOSÉ ARTHUR FISCHER COSTA ESTUDO TÉCNICO DA UTILIZAÇÃO DO CHAMOTE EM UMA INDÚSTRIA DE CERÂMICA VERMELHA DE BOCA DA MATA, ALAGOAS MACEIÓ - AL 2017/1

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CENTRO UNIVERSITÁRIO CESMAC

JOSÉ ARTHUR FISCHER COSTA

ESTUDO TÉCNICO DA UTILIZAÇÃO DO CHAMOTE EM UMA INDÚSTRIA DE CERÂMICA VERMELHA DE BOCA DA

MATA, ALAGOAS

MACEIÓ - AL

2017/1

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JOSÉ ARTHUR FISCHER COSTA

ESTUDO TÉCNICO DA UTILIZAÇÃO DO CHAMOTE EM UMA INDÚSTRIA DE CERÂMICA VERMELHA DE BOCA DA

MATA, ALAGOAS

Trabalho de conclusão de curso apresentado como requisito final, para conclusão do curso de Engenharia Civil do Centro Universitário Cesmac sob a orientação da professora Drª. Allani Christine Monteiro Alves da Rocha.

MACEIÓ – AL 2017/1

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus por toda a força e por toda a sabedoria a mim concedida,

para que eu conseguisse conquistar esse objetivo tão sonhado.

Agradeço também aos meus pais que sempre sonharam comigo, e nunca me

deixaram na mão. À minha esposa, que sempre esteve ao meu lado, me apoiando

nos momentos mais difíceis, dividindo comigo as alegrias e tristezas vividas por mim.

Aos meus colegas de turma, por toda a parceria que tivemos durante todo esse

tempo, e aos meus mestres que se propuseram a nos passar o seu conhecimento da

melhor forma possível.

À consultora técnica em cerâmica, Maura Franco, que, mesmo com tantos

contratempos, me ajudou da melhor forma possível a obter os resultados mostrados

neste trabalho de conclusão do curso.

Por fim, agradeço à minha professora orientadora, Drª. Allani Christine, por ter

me dado um norte para minha pesquisa, por todas as ideias dadas, e por ter aceitado,

de bom grado, me ajudar nesse trabalho.

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ESTUDO TÉCNICO DA UTILIZAÇÃO DO CHAMOTE EM UMA INDÚSTRIA DE

CERÂMICA VERMELHA DE BOCA DA MATA, ALAGOAS TECHNICAL STUDY OF THE USE OF CHAMOTE IN A RED CERAMICS

INDUSTRY OF BOCA DA MATA, ALAGOAS

José Arthur Fischer Costa Graduando do curso de Engenharia Civil

[email protected] Allani Christine Monteiro Alves da Rocha

Doutora em Química e Biotecnologia [email protected]

RESUMO

A geração de resíduos sólidos na indústria de cerâmica vermelha pode ser vista como um problema econômico, para a empresa, e ambiental, para a sociedade. Essa pesquisa, realizada em uma determinada indústria do ramo, servirá para nos mostrar se a utilização do chamote na massa cerâmica ajudará a minimizar os problemas citados. Confeccionou-se 15 corpos de prova, de forma manual, sendo 05 da massa padrão, 05 com adição de 05% de chamote, e 05 com adição de 10% do chamote. Alguns ensaios de caráter físico-mecânicos, denominados de ensaios preliminares, foram realizados, e a partir deles determinou-se as propriedades tecnológicas: impurezas orgânicas e minerais, retração linear, perda ao fogo, módulo de ruptura à flexão, absorção de água, massa específica aparente e porosidade aparente. Os resultados foram extremamente satisfatórios, para todas as amostras, sobressaindo-se a amostra com 10% de adição de chamote.

PALAVRAS-CHAVE: Argila. Chamote. Cerâmica Vermelha. Resíduos.

ABSTRACT

The generation of solid waste in the red ceramic industry can be seen as an economic problem, for a company, and environmental, for a society. This research, conducted in a particular branch industry, will serve to showcase the use of ceramic mass and help minimize the problems cited. Fifteen test specimens were made manually, being 05 of the standard mass, 05 with addition of 5% of chamote, and 05 with addition of 10% of the chamote. Some physical-mechanical tests, called preliminary tests, were carried out and analyzed as technological determinants: organic and mineral impurities, linear retraction, fire loss, flexural rupture modulus, water absorption, specific mass Apparent and apparent porosity. The results were extremely satisfactory for all samples, with the sample being sampled with 10% chamote addition.

KEYWORDS: Clay. Chamote. Red Ceramics. Waste.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Desenho encontrado na Austrália, que pode ter 40.000 anos de idade. . 11 Figura 2 – Vênus de Willendorf. Encontrada na Áustria. Esculpida a cerca de 20.000 anos atrás.................................................................................................................. 12 Figura 3 – Vasos da dinastia Jomon. ....................................................................... 13 Figura 4 – Porcelana chinesa. .................................................................................. 14 Figura 5 – Museu Cívico de Castelvecchio. Castelo da Idade Medieval, em Verona, na Itália. ..................................................................................................................... 14 Figura 6 – Cerâmica vermelha Marajoara. ............................................................... 15 Figura 7 – Tijolo da Cerâmica Sacoman S.A.. .......................................................... 17 Figura 8 – Industria cerâmica no estado do Piauí. ................................................... 17 Figura 9 – Pátio de descarte de uma indústria cerâmica. ......................................... 20 Figura 10 – Marreta, cacos de tijolos e obtenção manual de chamote. .................... 31 Figura 11 – Amostras das argilas, vermelha e preta. ............................................... 32 Figura 12 – Amostras dos resíduos obtidos no teste de percentual de resíduos. .... 32 Figura 13 – Amostrada do chamote utilizado na confecção dos corpos de prova. ... 33 Figura 14 – Conformação dos corpos de prova. ....................................................... 34 Figura 15 – Corpos de prova após queima a 9500C. ................................................ 34 Figura 16 – Resultados do teste de Tensão de Ruptura à Flexão a 950ºC. ............. 36

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Valores limites de algumas características cerâmicas de argilas para fabricação de tijolos maciços, blocos furados e telhas. ............................................. 25 Tabela 2: Caracterização das Matérias-Primas Cerâmicas. ..................................... 35 Tabela 3: Caracterização físico-mecânica dos corpos de prova............................... 37

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LISTA DE FÓRMULAS

Fórmula 1 – Umidade das amostras de argilas. ....................................................... 27 Fórmula 2 – Percentual de resíduo. ......................................................................... 27 Fórmula 3 – Retração linear após secagem. ............................................................ 28 Fórmula 4 – Reatração linear após queima.............................................................. 29 Fórmula 5 – Perda ao fogo. ...................................................................................... 29 Fórmula 6 – Resistência à flexão. ............................................................................ 30 Fórmula 7 – Absorção de água. ............................................................................... 30 Fórmula 8 – Massa específica aparente.. ................................................................ 30 Fórmula 9 – Absorção de água. ............................................................................... 31

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 9 1.1 Objetivo geral ................................................................................................... 9 1.2 Objetivos específicos ...................................................................................... 9 2 REFERENCIAL TEÓRICO ..................................................................................... 11 2.1 A história da cerâmica vermelha ..................................................................... 11 2.1.1 A descoberta da cerâmica vermelha ................................................................ 11 2.1.2 A história da cerâmica vermelha nas primeiras civilizações ............................. 13 2.1.3 A descoberta da cerâmica vermelha no Brasil ................................................. 15 2.1.4 A evolução da cerâmica vermelha no Brasil ..................................................... 16 2.2 A indústria de cerâmica vermelha e os resíduos sólidos no Brasil ............. 20 2.3 Matérias primas ................................................................................................. 21 2.3.1 Propriedades das argilas .................................................................................. 21 2.3.2 Chamote ........................................................................................................... 22 3 METODOLOGIA .................................................................................................... 24 3.1 Dados da Indústria Cerâmica de Boca da Mata (CV)...................................... 24 3.2 Pesquisa de campo ........................................................................................... 24 3.2.1 Materiais e equipamentos utilizados nos ensaios cerâmicos ........................... 25 3.2.2 Ensaios cerâmicos ........................................................................................... 26 3.2.2.1 Umidade das amostras de argilas (preta, vermelha e padrão) ...................... 26 3.2.2.2 Resíduo retido na peneira #325 (mesh) da ABNT, via úmida ....................... 27 3.2.2.3 Distribuição granulométrica dos resíduos retidos na peneira nº325 da ABNT .................................................................................................................................. 27 3.2.2.4 Conformação dos corpos de prova das amostras: AP, AP5%, e AP10% ..... 28 3.2.2.5 Determinação da retração linear após secagem ........................................... 28 3.2.2.6 Determinação da retração linear após queima .............................................. 28 3.2.2.7 Perda ao fogo ................................................................................................ 29 3.2.2.8 Módulo de ruptura à flexão ............................................................................ 29 3.2.2.9 Absorção de água ......................................................................................... 30 3.2.2.10 Massa específica aparente .......................................................................... 30 3.2.2.11 Porosidade aparente ................................................................................... 31 3.2.3 Levantamento fotográfico ................................................................................. 31 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................................. 34 5 CONCLUSÃO ........................................................................................................ 38 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 40

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1 INTRODUÇÃO

A construção civil é um dos ramos que mais geram resíduos sólidos no mundo.

Esse desperdício de material, pode ocorrer por diversos motivos, como por exemplo

o mau uso do produto, mão de obra desqualificada, falta de tecnologia, entre tantos

outros. Na maioria das vezes o descarte ocorre em lugares impróprios, não havendo,

ao menos, uma discussão sobre uma possível reutilização desses resíduos.

Esse refugo não é gerado apenas nas construções, como é de costume se

imaginar. As empresas que alimentam o ramo também são geradoras de resíduos, e

a indústria de cerâmica vermelha coopera com esse triste fato de forma evidente,

tendo em vista a grande demanda de blocos cerâmicos, exigidas pela construção civil.

As empresas de pequeno porte tendem a gerar mais resíduos em sua

produção. Isso acontece, devido ao baixo poder aquisitivo das indústrias, o que,

consequentemente, ocasiona em um menor investimento na tecnologia de produção

das mesmas.

Algumas indústrias cerâmicas reutilizam os rejeitos cerâmicos em questão,

triturando-os, e reintegrando-os à massa cerâmica. O material obtido pela trituração é

chamado de chamote, e em proporções adequadas podem melhorar algumas

propriedades dos blocos, como por exemplo sua resistência.

Seria vantajosa, a utilização do chamote na massa dos blocos cerâmicos,

respeitando todas as normas correspondentes ao caso?

1.1 Objetivo geral

Analisar, tecnicamente, os benefícios que a integração do chamote na massa

de cerâmica vermelha traria para a indústria em questão, por meio de ensaios

laboratoriais, tendo em vista o grande desperdício de materiais, e o mau descarte

desses rejeitos.

1.2 Objetivos específicos

a) Analisar as argilas utilizadas pela cerâmica, através de ensaios físicos e

mecânicos;

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b) Obter o chamote utilizando o simples processo de trituração, manual, dos cacos

dos blocos cerâmicos avariados;

c) Confeccionar corpos de prova para os ensaios em questão, definindo os

percentuais de mistura do chamote na massa padrão;

d) Realização dos ensaios cerâmicos para obtenção e discussão dos resultados

obtidos.

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2 REFERENCIAL TEÓRICO

A revisão bibliográfica é um dos quesitos mais importantes durante o

processo de pesquisa, onde encontram-se referências, as quais baseiam as ações e

geram entendimento sobre as questões abordadas no tema do trabalho. Neste caso,

poucas são as referências encontradas sobre o assunto, porém de grande valia.

2.1 A história da cerâmica vermelha

Não se sabe ao certo qual povo ou civilização seria responsável pela

descoberta da cerâmica vermelha, porém, a história mostra a importância dela para a

evolução da humanidade.

2.1.1 A descoberta da cerâmica vermelha

Na Idade da Pedra, quando as pessoas moravam em cavernas, não havia a

necessidade de construir abrigos, ou utensílios, mas o homem utilizava a argila para

fazer desenhos nas paredes, descrevendo tudo a sua volta (Figura 1). Misturando

água à argila, começou a se observar que a mesma ficava mais plástica, moldável

(BBC Brasil, 2010).

Figura 1 – Desenho encontrado na Austrália, que pode ter 40.000 anos de idade. Fonte: BBC Brasil, 2010.

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Com o passar do tempo, descobertas foram acontecendo, a população foi

aumentando, e novas necessidades para os seres humanos, foram aparecendo. O

Homem virou agricultor, precisava de itens que colaborassem com seu novo afazer,

como vasilhas, por exemplo. As vasilhas tinham que ter boa resistência, precisavam

ser impermeáveis, e teriam que ser fabricadas com materiais fáceis de encontrar.

(ANFACER, 2016). Precisava, também, de mais abrigos, pois as cavernas já não

davam conta. Esses abrigos, teriam que ter todas as características das vasilhas.

Além disso, a arte, que antes era exposta através de desenhos nas cavernas, tendia

a expandir, e agora os homens procuravam novas formas de expor isso, como as

esculturas ou estátuas, por exemplo (Figura 2). Foi aí que a argila entrou em cena.

Figura 2 – Vênus de Willendorf. Encontrada na Áustria. Esculpida a cerca de 20.000 anos atrás. Fonte: Infoescola, 2016.

A indústria da cerâmica vermelha é uma das mais antigas do mundo em virtude

de sua facilidade em fabricar os diversos produtos e por ter uma abundante matéria-

prima, a argila (SILVA, 2007).

A cerâmica é o material artificial mais antigo produzido pelo homem. Estudos

arqueológicos indicam a ocorrência de utensílios cerâmicos a partir do período Pré-

Neolítico (26.000 a.C. a 5.000 a.C., aproximadamente) (SEBRAE, 2008). Do grego

"kerameikos”, que quer dizer “feito da terra”, é um material de imensa resistência,

sendo frequentemente encontrado em escavações arqueológicas (SILVA, 2007).

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Trata-se da produção de muitos artefatos, como vasilhas, panelas, esculturas

e tijolos ou blocos, tendo como matéria-prima a argila. Fácil de moldar quando

molhada, porém muito rígida e resistente quando submetida a secagem, e depois a

altas temperaturas ao redor de 1.000ºC.

Além da construção de casas, vasilhames para uso doméstico e

armazenamento de alimentos, vinhos, óleos e perfumes, a cerâmica vermelha

também era utilizada na construção de urnas funerárias e até como "papel" para

escrita (SINDICER – MF, 2015).

2.1.2 A história da cerâmica vermelha nas primeiras civilizações

Muitas peças antigas de argila cozida foram encontradas em diversos sítios

arqueológicos pelo mundo. No Japão, por exemplo, as peças de cerâmica mais

antigas conhecidas por arqueólogos foram encontradas na área ocupada pela cultura

Jomon, há cerca de 8.000 anos, talvez mais (Figura 3). Antes do final do período Pré-

Neolítico a habilidade na manufatura de peças de cerâmica deixou o Japão e, se

espalhou pela Europa e Ásia, não existindo, entretanto, um consenso sobre como isto

ocorreu (ANFACER, 2016).

Figura 3 – Vasos da dinastia Jomon. Fonte: Pinterest, 2016.

Cada povo descobriu seu próprio estilo, e novas técnicas foram aparecendo.

Os chineses, por exemplo, entre o ano 3.000 a.C. e 2.000 a.C., criaram objetos

pintados e esmaltados. Foram eles também, os primeiros a usarem o caulim, um

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finíssimo pó branco, que permite fabricar vasos translúcidos e leves. Nasce então a

porcelana (Figura 4) (ANFACER, 2016).

Figura 4 – Porcelana chinesa. Fonte: China Link.

Na Itália, por exemplo, a indústria da cerâmica vermelha também se expandia.

No início do renascimento várias cidades italianas produziam a cerâmica, porém, cada

uma a sua maneira, com técnicas e estilos distintos. O sistema de cozimento, de

esmaltar, a composição dos vernizes, tudo era mantido em segredo. Muitas paredes

e castelos da Itália Central são ornamentados com a cerâmica italiana (Figura 5)

(ANFACER, 2016).

Figura 5 – Museu Cívico de Castelvecchio. Castelo da Idade Medieval, em Verona, na Itália. Fonte: Conexão Cultural.

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2.1.3 A descoberta da cerâmica vermelha no Brasil

Na Europa a cerâmica também se expandiu em países como Portugal,

descobridores do Brasil. Mas, diferente do que muitos pensam, a tradição da cerâmica

vermelha não foi trazida para cá por eles, muito menos pelos escravos que com eles

vieram. Quando chegaram, os índios já utilizavam dessa técnica. A única inovação

trazida, foi a forma como eles produziam, mais estruturada, e com concentração da

mão de obra, para que pudessem fabricar com maior escala, já que a necessidade

era grande para quem queria colonizar uma nova terra encontrada (SINDICER – MF,

2015).

Existem indícios de que por volta de 5.000 anos atrás, na região amazônica, já

existia a presença de um tipo de cerâmica vermelha, simples, como mostra a Figura

6. A cerâmica marajoara, proveniente da Ilha de Marajó, também na região

amazônica, tem sua origem na avançada cultura indígena que floresceu na ilha

(SEBRAE, 2008).

Figura 6 – Cerâmica vermelha Marajoara. Fonte: Direitas Já, 2012.

A elaboração da cerâmica Marajoara é um exemplo de desenvolvimento

quando se fala em aperfeiçoamento das técnicas, pois mesmo utilizando instrumentos

rudimentares, utilizavam várias inovações como, raspagem, incisão, excisão e pintura.

Fabricavam muitos tipos de objetos, e entre eles destacavam-se bancos, estatuetas,

rodelas-de-fuso, tangas, colheres, adornos auriculares e labiais, apitos e vasos

miniatura (ANFACER, 2016).

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Quando os portugueses chegaram ao Brasil, no entanto, o processo de

fabricação marajoara sofreu modificação significativa, pois a necessidade de uma

maior produção fez com que fossem instaladas olarias nos colégios, engenhos e

fazendas jesuítas, onde a fabricação de tijolos, telhas e algumas louças necessárias

para o dia a dia. As rodadeiras também foram introduzidas ao processo, trazendo

assim maior simetria na forma, acabamento mais perfeito e menor tempo de trabalho,

como era a sua função (SINDICER – MF, 2015).

2.1.4 A evolução da cerâmica vermelha no Brasil

Com o passar dos anos, a população brasileira foi crescendo, as culturas

indígenas, africanas e europeias, foram se misturando, e novas necessidades

surgiram, como por exemplo a demanda de muitos produtos, essenciais ou não aos

seres humanos.

Pouco tempo após a chegada dos portugueses, por volta do ano de 1550, a

produção foi estimulada, com o intuito de desenvolver cidades mais bem planejadas

e elaboradas. Há indícios da utilização de telhas na formação de vilas que viriam a ser

a cidade de São Paulo, em meados de 1575 (SEBRAE, 2008).

Ainda no século XIX, mesmo com o aumento da produção, os processos ainda

eram manuais, e em pequenos estabelecimentos que produziam tijolos, telhas, tubos,

manilhas, vasos, potes e moringas, os quais eram comercializados localmente. Por

volta de 1850 as cerâmicas começaram a ser fabricadas de forma mais intensa,

inclusive, dando início ao processo de industrialização de São Paulo (SILVA, 2007).

A primeira grande fábrica de produtos cerâmicos do Brasil foi fundada,

justamente, em São Paulo, em 1893, por quatro irmãos franceses, naturais de

Marselha, com o nome de Estabelecimentos Sacoman Frères, posteriormente

alterado para Cerâmica Sacoman S.A., a qual encerrou suas atividades em 1956. O

nome das telhas conhecidas por “francesas” ou “marselhesas” é devido à origem

destes empresários. Os produtos da época não se diferenciavam muito dos de hoje,

como mostra a Figura 7 (SEBRAE, 2008).

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Figura 7 – Tijolo da Cerâmica Sacoman S.A.. Fonte: Coisas antigas, 2010.

Com o avanço industrial, muitos produtos foram criados e melhorados, e isso

tudo devido à tecnologia que também foi implantada nas máquinas responsáveis pela

fabricação, automatizando e robotizando o processo (Figura 8).

Figura 8 – Industria cerâmica no estado do Piauí. Fonte: SINDICER – AL (Sindicato dos ceramistas de Alagoas), 2015.

A Associação Brasileira de Cerâmica (2016), classifica a Indústria Cerâmica em

09 (nove) setores com características bastante individualizadas e com níveis de

avanço tecnológico distintos. Algumas delas são:

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a) Cerâmica Vermelha: Compreende aqueles materiais com coloração

avermelhada empregados na construção civil (tijolos, blocos, telhas, elementos

vazados, lajes, tubos cerâmicos e argilas expandidas) e também utensílios de

uso doméstico e de adorno. As lajotas muitas vezes são enquadradas neste

grupo, porém o mais correto é em Materiais de Revestimento.

b) Cerâmica Branca: Este grupo é bastante diversificado, compreendendo

materiais constituídos por um corpo branco e em geral recobertos por uma

camada vítrea transparente e incolor e que eram assim agrupados pela cor

branca da massa, necessária por razões estéticas e/ou técnicas. São

subdivididos em grupos:

I. Louça sanitária;

II. Louça de mesa;

III. Isoladores elétricos para alta e baixa tensão;

IV. Cerâmica artística (decorativa e utilitária); e,

V. Cerâmica técnica para fins diversos, tais como: químico, elétrico, térmico e

mecânico.

c) Materiais Refratários: Este grupo compreende uma diversidade de produtos,

que têm como finalidade suportar temperaturas elevadas nas condições

específicas de processo e de operação dos equipamentos industriais, que em

geral envolvem esforços mecânicos, ataques químicos, variações bruscas de

temperatura e outras solicitações.

d) Abrasivos: Parte da indústria de abrasivos, por utilizarem matérias-primas e

processos semelhantes aos da cerâmica, constituem-se num segmento

cerâmico. Entre os produtos mais conhecidos podemos citar o óxido de

alumínio eletrofundido e o carbeto de silício.

e) Vidro, Cimento e Cal: São três importantes segmentos cerâmicos e que, por

suas particularidades, são muitas vezes considerados à parte da cerâmica.

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f) Cerâmica de Alta Tecnologia/Cerâmica Avançada: O aprofundamento dos

conhecimentos da ciência dos materiais proporcionou ao homem o

desenvolvimento de novas tecnologias e aprimoramento das existentes nas

mais diferentes áreas, como aeroespacial, eletrônica, nuclear e muitas outras

e que passaram a exigir materiais com qualidade excepcionalmente elevada.

Tais materiais passaram a ser desenvolvidos a partir de matérias-primas

sintéticas de altíssima pureza e por meio de processos rigorosamente

controlados. Estes produtos, que podem apresentar os mais diferentes

formatos, são fabricados pelo chamado segmento cerâmico de alta tecnologia

ou cerâmica avançada. Eles são classificados, de acordo com suas funções,

em: eletroeletrônicos, magnéticos, ópticos, químicos, térmicos, mecânicos,

biológicos e nucleares. Os produtos deste segmento são de uso intenso e a

cada dia tende a se ampliar. Como alguns exemplos, podemos citar: naves

espaciais, satélites, usinas nucleares, materiais para implantes em seres

humanos, aparelhos de som e de vídeo, suporte de catalisadores para

automóveis, sensores (umidade, gases e outros), ferramentas de corte,

brinquedos, acendedor de fogão, etc.

g) Revestimentos Cerâmicos: As placas cerâmicas são constituídas, em geral,

de três camadas: a) o suporte ou biscoito, b) o engobe, que tem função

impermeabilizante e garante a aderência da terceira camada, e c) o esmalte,

camada vítrea que também impermeabiliza, além de decorar uma das faces da

placa. Estes revestimentos são usados na construção civil para revestimento

de paredes, pisos, bancadas e piscinas de ambientes internos e externos.

Recebem designações tais como: azulejo, pastilha, porcelanato, grés, lajota,

piso, etc. A tecnologia do porcelanato trouxe produtos de qualidade técnica e

estética refinada, que em muitos casos se assemelham às pedras naturais.

Os processos industriais têm seus prós e seus contras, e para a cerâmica

vermelha não é diferente. Neste caso, um dos problemas enfrentados pelo setor é o

desperdício do produto final, desde sua fabricação até a sua utilização na construção

civil, mostrada na Figura 9.

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Figura 9 – Pátio de descarte de uma indústria cerâmica. Fonte: IPT (Instituto de Pesquisa Tecnológica), 2014.

A reutilização de materiais avariados é considerada uma boa prática industrial,

nos aspectos ambiental, social e principalmente, econômico. Na Cerâmica vermelha

este tipo de material é reutilizado através do tratamento físico de trituração dos cacos,

transformando em um material chamado chamote (cerâmica moída a seco),

incorporado à massa cerâmica (SCHUMACHER et al., 2014).

2.2 A indústria de cerâmica vermelha e os resíduos sólidos no Brasil

O mercado conta com cerca de 6.900 empresas entre cerâmicas e olarias,

sendo responsável por mais de 290 mil empregos diretos, 900 mil indiretos e gerando

um faturamento anual de R$ 18 bilhões (4,8% do faturamento da indústria da

construção civil). Pode-se verificar, também, que em 2005 foram produzidas cerca de

63,6 bilhões de peças, das quais 75% foram blocos/tijolos. A produção total aponta

um crescimento de mais de 113% em relação a 2004 (ANICER, 2008).

Com esse crescimento de produção, a geração de resíduos sólidos torna-se

preocupante, tanto no âmbito econômico, no caso das indústrias, quanto ambiental,

no caso da sociedade, já que a indústria de cerâmica vermelha também é geradora

de rejeitos, começando do seu processo de queima, até a estocagem do produto. Esta

perda é variável no Brasil, e situa-se entre 2% a 10% da produção, podendo até

ultrapassar este percentual, geralmente em indústrias pequenas, com poucas

inovações tecnológicas (GOUVEIA; SPOSTO, 2009).

A grande maioria das cerâmicas não reaproveitam as peças quebradas,

entretanto, têm que dar um destino final a esses resíduos, que geralmente são

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utilizados para tapar buracos em pontos críticos de estradas que levam às cerâmicas,

descartados em lixos urbanos, ou mesmo dispersos no meio ambiente, causando

transtornos ambientais, e é claro, econômicos para a empresa, já que o percentual de

perda é bastante significativo (SCHUMACHER et al., 2014).

Algumas indústrias já reutilizam esses resíduos, triturando-os em um moinho

específico, e obtendo um material denominado chamote, que pode ser adicionado à

matéria prima durante o processo de produção cerâmico e substituir parte da argila

consumida. Tal rejeito, quando adicionado à massa argilosa em percentuais

adequados, pode contribuir para ajustar a trabalhabilidade da massa, melhorar o grau

de empacotamento, em função da sua granulometria e facilitar a secagem das peças

(VIEIRA et al., 2004). No entanto, alguns fabricantes relataram que o uso desse

material em meio à argila, pode prejudicar a qualidade da matéria prima a ser utilizada

e comprometer a produção dos artefatos cerâmicos (SCHUMACHER et al., 2014).

2.3 Matérias primas

Para execução dos ensaios, algumas matérias primas foram utilizadas, dando

ênfase às argilas, vermelha e preta, e ao chamote, os quais foram obtidos diretamente

no local da pesquisa.

2.3.1 Propriedades das argilas

Argilas são materiais terrosos naturais, que misturados com a água adquirem

a propriedade de apresentar alta plasticidade. As argilas são compostas de partículas

coloidais de diâmetro inferior a 0,005 mm, com alta plasticidade quando úmidos e que

formam torrões de difícil desagregação quando sob pressão (LEGGERINI, [200-]).

A diferença entre as argilas vermelha e preta, além da cor, está basicamente

ligada aos materiais as quais são formadas. A argila vermelha tem um maior

percentual de resíduos, o que a torna menos plástica. Já a argila preta, é mais pura.

Para enterder os resultados obtidos na pesquisa, é necessário o conhecimento

sobre algumas propriedades importantes das argilas.

A granulometria é uma das características mais importantes dos minerais

argilosos e que domina muitas das suas propriedades. Na cerâmica estão

dependentes da dimensão, da distribuição e da forma do grão, propriedades tais como

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a plasticidade das pastas, a permeabilidade e a resistência em verde e em seco dos

corpos cerâmicos (MEIRA, 2001).

A plasticidade, é uma propriedade importantíssima, que permite mudar a forma

de um material de modo definitivo, através de esforço mecânico (LIMA et al., 2004).

Está diretamente relacionada ao tipo de argilo-mineral, tipo de impureza e à

granulometria das impurezas presentes nas argilas utilizadas na fabricação da

cerâmica vermelha, as quais, são principalmente os minerais (silica livre, óxido de

ferro, mica, calcário e grânulos rochosos de quartzo e feldspato) e raízes. Quanto

menor a granulometria das impurezas, maior a plasticidade da argila.

A retração faz com que a peça cerâmica diminua de tamanho e quando a perda

de água não é uniforme a peça se torce e deforma (LEGGERINI, [200-]). Quando

exposta ao tempo a argila perde água, utilizada para conformação da peça cerâmica.

Exposta a altas temperaturas, por volta dos 900ºC, é eliminada água de constituição,

matéria orgânica, além do dióxido de carbono. Uma grande retração pode causar

rachaduras nas peças cerâmicas, causando prejuízo para a indústria.

Apesar de ser um material plástico, quando exposto a altas temperaturas a

argila cria uma alta resistência devido a um processo chamado de sinterização.

Segundo o INFOPÉDIA (2003), a sinterização consiste na operação de aglutinação

de pós ou partículas finas, por aquecimento a temperatura relativamente alta, mas, no

entanto, inferior ao ponto de fusão do material dos pós.

Após o processo de queima, a porosidade tende a aumentar devido à

eliminação de matéria orgânica e água. A absorção de água está diretamente

associada à quantidade de poros da peça, ou seja, quanto mais porosa é a peça,

maior a absorção de água (ZACCARON, 2014).

Alguns fatores podem prejudicar os resultados dos ensaios cerâmicos. A

conformação manual dos corpos de prova, a granulometria do chamote utilizada, e a

temperatura de queima utilizada no processo dos blocos avariados, donde se obtém

o chamote, podem ser alguns deles.

2.3.2 Chamote

Segundo o SEBRAE (2008) o chamote pode ser descrito como o bloco

cerâmico moído, utilizado para dar maior resistência à argila. Pode ser produzido em

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diferentes granulometrias; e argilas de todas as temperaturas podem ser empregadas

para sua produção. No entanto a cerâmica refratária é a mais eficiente.

A granulometria do chamote utilizado também pode influenciar nos resultados

obtidos. Uma granulometria variada significa, por exemplo, maior empacotamento das

partículas, e consequentemente um menor índice de vazios. Neste caso, utilizaremos

a peneira #50 (mesh), com abertura de 0,297mm.

A influência do chamote na massa cerâmica é determinante no seu

comportamento físico-químico agindo principalmente como desplastificante e como

material inerte na queima dos produtos, favorecendo a redução de desperdícios nos

processos de secagem e de queima devido a diminuição dos impactos sofridos

durante a retração linear e à decomposição dos materiais voláteis presentes

(ZACCARON, 2014).

O chamote é material inerte até que atinja a temperatura ao qual foi queimado

pela primeira vez, e a cerâmica CV utiliza tecnologia de queima ultrapassada, que

possivelmente não chega à temperatura de 950ºC, a qual expomos nossos corpos de

prova. Desta forma, mesmo que os resultados estejam dentro dos limites mínimos e

máximos, podem não chegar ao esperado, comparando as amostras em questão,

entre si.

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3 METODOLOGIA

Além da revisão bibliográfica, outros métodos foram adotados para a busca dos

resultados da pesquisa. A pesquisa de campo e os ensaios laboratoriais foram

realizados em uma Industria de Cerâmica Vermelha, da melhor forma possível,

buscado sempre o entendimento dos resultados, para que se possa discutir o assunto

com mais clareza e certeza.

3.1 Dados da Indústria Cerâmica de Boca da Mata (CV)

A Indústria CV, está localizada na Zona Rural da cidade de Boca da Mata, no

Estado de Alagoas, numa capacidade instalada dimensionada para uma produção

mensal de cerca de 300 milheiros de peças. A empresa possui jazida de argila própria,

distribuída numa área de aproximadamente 80.000m² e o setor fabril numa área

coberta de 1.000m2. A secagem acontece de forma natural, em galpões e, a queima

é feita em fornos intermitentes, de chama ascendente, tipo caieira, aberta. São 02

fornos com capacidades para queimar 24.000 e 16.000 blocos de vedação

19x14x09cm, respectivamente.

A empresa encontra-se em processo contínuo de melhoria estrutural e

tecnológica, buscando a otimização do uso dos recursos disponíveis, a qualidade dos

serviços e produtos e a satisfação dos seus clientes.

3.2 Pesquisa de campo

Com o intuito de obter os dados da produção da empresa cerâmica, quantificou-

se o processo de queima das peças: número de peças enfornados; número de peças

desenfornadas; perda de produtos quebrados na queima; perdas de produtos

quebrados no manuseio.

Para os dados técnicos, objetivo da pesquisa, foram realizados ensaios físicos

e mecânicos, utilizando matéria prima da cerâmica CV, e equipamentos próprios para

os ensaios em questão, os quais foram realizados em sua maioria, dentro da própria

cerâmica, em um laboratório montado especificamente para isso, além do Laboratório

de Metrologia da Indústria da Construção do SENAI/AL – LAMIC, onde foi realizado

um dos ensaios.

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Os ensaios cerâmicos realizados nos corpos de prova foram feitos de acordo

com as normas da ABNT abaixo discriminadas:

Tensão de Ruptura à Flexão (TRF) da massa após queima: ABNT ISO

5014:2012 - Produtos refratários conformados densos e isolantes —

Determinação do módulo de ruptura à temperatura ambiente;

Absorção d’água (A), Porosidade Aparente (P), Massa Específica Aparente

(MEA): NBR 6220:1997 – Materiais refratários densos conformados -

Determinação da densidade de massa aparente, porosidade aparente,

absorção e densidade aparente da parte sólida.

As amostras foram queimadas a 950ºC em função da temperatura de

sinterização da maioria das massas cerâmicas, utilizadas pelas indústrias do setor de

cerâmica vermelha.

A Tabela 1 mostra parâmetros relacionados ao módulo de ruptura à flexão seca

a 110ºC e após queima a 950ºC, além do percentual de absorção de água após

queima. Neste caso, a coluna de tijolos furados (blocos), a qual a pesquisa é voltada,

será referência.

Tabela 1: Valores limites de algumas características cerâmicas de argilas para fabricação de tijolos maciços, blocos furados e telhas.

Características da Massa Cerâmica (Manual, Extrusada, Prensada)

Tijolos Maciços

Tijolos Furados (blocos)

Telhas

TRF da Massa seca a 110ºC (Mínimo)

15 kgf/cm2 25 kgf/cm2 30 kgf/cm2

TRF da Massa após queima (Mínimo)

20 kgf/cm2 55 kgf/cm2 65 kgf/cm2

Absorção de água após queima (Máximo)

- 25,0% 20,0%

Fonte: SANTOS, 1989

3.2.1 Materiais e equipamentos utilizados nos ensaios cerâmicos

a) Argila preta (P);

b) Argila vermelha (V);

c) Argila padrão (AP): traço 2P:1V

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d) Cacos de tijolos;

e) Água;

f) Marreta;

g) Balança eletrônica SF – 400A;

h) Forno mufla;

i) Peneiras granulométricas, malha 50, 80, 100, 200 e 325 (mesh);

j) Fogareiro elétrico;

k) Recipiente de alumínio, capacidade 500g;

l) Recipiente de plástico capacidade 1L;

m) Lamina de vidro;

n) Formas de madeira;

o) Prensa hidráulica;

p) Paquímetro digital 0,05mm

3.2.2 Ensaios cerâmicos

Primeiramente foram coletadas as amostras das matérias primas para seus

estudos e utilização na conformação dos corpos de prova. As argilas foram retiradas

das jazidas existentes na cerâmica, enquanto o chamote foi obtido em um processo

manual de moagem dos cacos.

O primeiro ensaio foi o de umidade das amostras de argilas preta, vermelha e

padrão (mistura das argilas preta e vermelha na proporção 2:1). Após a obtenção do

resultado, foi realizado o ensaio de resíduo retido na peneira #325 (mesh) da ABNT,

via úmida. O ensaio de distribuição granulométrica dos resíduos retidos secos na

peneira #325 (mesh) da ABNT, foi o último ligado ao estudo do solo.

Foram conformados 15 corpos de prova, sendo 5 da amostra padrão (AP), 5

da amostra padrão com adição de 5% de chamote (AP5%) e 5 da amostra padrão

adicionados 10% de chamote (AP10%).

Os testes de retração linear são dois, após secagem e após queima. Já os

ensaios de perda ao fogo, tensão de ruptura à flexão, absorção de água, massa

específica aparente e porosidade aparente, são feitos após a queima.

3.2.2.1 Umidade das amostras de argilas (preta, vermelha e padrão)

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A determinação do percentual de umidade das amostras de argilas tem como

finalidade prepara-las para o ensaio de resíduos, cuja amostra deve ser seca. Para

obtenção da umidade, as amostras foram pesadas, obtendo-se o peso úmido e, logo

após, secas no fogareiro de alumínio, obtendo-se o peso seco. Calculou-se o

percentual de umidade pela Fórmula 1:

𝑈% =(𝑃𝑈 − 𝑃𝑆)

𝑃𝑆𝑥10

Fórmula 1 – Umidade das amostras de argilas. Fonte: SANTOS, 1989.

U% - Percentual de umidade PU – Peso úmido PS – Peso seco

3.2.2.2 Resíduo retido na peneira #325 (mesh) da ABNT, via úmida

Pesou-se 100g de cada amostra de argila seca, obtendo-se o peso inicial,

defloculou-se num recipiente plástico com cerca de 600ml de água, durante 24 horas

e a seguir filtrou-se cada amostra na peneira #325 (mesh), em água corrente, de forma

gradual, usando os dedos para quebrar torrões, até que a água que passa pela

peneira esteja límpida. O resíduo retido na peneira foi transportado para o recipiente

de alumínio e seco no fogareiro, obtendo-se o peso seco. O cálculo do percentual dos

resíduos foi feito através da Fórmula 2:

𝑃𝐼

𝑃𝑆=

100

𝑅%

Fórmula 2 – Percentual de resíduo. Fonte: SANTOS, 1989.

R% - Percentual de resíduo PI – Peso inicial PS – Peso seco retido na peneira 325

3.2.2.3 Distribuição granulométrica dos resíduos retidos na peneira nº325 da ABNT

O ensaio de distribuição granulométrica dos resíduos secos foi feito em 05

peneiras (#50, #80, #100, #200, #325 e fundo). Os resíduos (amostras: P, V, AP)

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foram passados por cada peneira, obtendo-se o peso retido. Os resultados do ensaio

consistiram no percentual retido em cada peneira.

3.2.2.4 Conformação dos corpos de prova das amostras: AP, AP5%, e AP10%

Conformou-se manualmente 05 corpos de prova de cada amostra em forma de

madeira medindo aproximadamente 15x5x2cm. O percentual de umidade de

moldagem dos corpos prova foi cerca de 20%.

Os corpos de prova fabricados manualmente podem provocar instabilidade nos

ensaios. A pressão exercida em sua conformação não é a mesma entre elas, como

seria caso a conformação fosse feita por extrusão.

3.2.2.5 Determinação da retração linear após secagem

Ensaio cerâmico baseado no método Brasileiro MB-305 da ABNT. Secou-se os

corpos de prova usando o forno mufla, 02 horas a 110ºC. A retração linear

corresponde à redução das dimensões em função da perda de água coloidal (umidade

de moldagem dos corpos de prova), e é calculada através da Fórmula 3:

𝑅𝑇 =𝐶𝑖 − 𝐶𝑓

𝐶𝑖𝑥100

Fórmula 3 – Retração linear após secagem.

Fonte: SANTOS, 1989.

RT – Retração linear após secagem Ci – Comprimento inicial (após conformação) Cf – Comprimento final (após secagem)

3.2.2.6 Determinação da retração linear após queima

A retração das dimensões dos corpos de prova após queima acontece em

função da perda de água residual e de água de constituição referente aos

argilominerais presentes. É calculada através da Fórmula 4:

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𝑅𝑇 =𝐶𝑖 − 𝐶𝑓

𝐶𝑖𝑥100

Fórmula 4 – Reatração linear após queima. Fonte: SANTOS, 1989.

RT – Retração linear após secagem Ci – Comprimento inicial (após secagem) Cf – Comprimento final (após queima)

3.2.2.7 Perda ao fogo

O teste de perda ao fogo, refere-se a perda de massa durante a queima,

provocada pela decomposição dos materiais voláteis presentes na massa cerâmica

(matéria orgânica, carbonatos, sulfetos, etc). Os resultados são expressos em

percentual de perda em relação à massa da amostra seca a 110ºC, e obtidos pela

Fórmula 5:

𝑃𝐹% =(𝑀𝑆 − 𝑀𝑄)

𝑀𝑆𝑥100

Fórmula 5 – Perda ao fogo. Fonte: SANTOS, 1989.

PF% - Perda ao fogo MS – Massa após secagem MQ – Massa após queima

3.2.2.8 Módulo de ruptura à flexão

Após a secagem e a queima dos corpos de prova foram submetidos ao teste

de módulo de ruptura à flexão, através da prensa hidráulica. A tensão de ruptura à

flexão (TRF) é definida como força por unidade de área necessária para romper um

corpo, como mostra a Fórmula 6. É expressa em quilograma-força por centímetro

quadrado (kgf/cm2) ou mega Pascal (MPa). Neste caso, o resultado foi expresso em

módulo de ruptura à flexão em conformidade com a NBR 5014:2012 (Produtos

refratários conformados densos e isolantes — Determinação do módulo de ruptura à

temperatura ambiente).

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𝑅𝐹 =𝐹

𝐸2𝑋 𝐿

Fórmula 6 – Resistência à flexão. Fonte: SANTOS, 1989.

RF – Resistência à flexão F – Força exercida E – Espessura L – Largura

3.2.2.9 Absorção de água

O ensaio é feito após queima. A absorção de água é o quociente da massa de

água absorvida pelo corpo de prova, saturado de água, pela massa do corpo de prova

seco, como mostra a Fórmula 7. Primeiro determina-se a massa do corpo de prova

seco (MS), depois mergulha-se o mesmo em água, deixando-o submerso por um

período de 24 horas à temperatura ambiente (MU).

𝐴% =(𝑀𝑈 − 𝑀𝑆)

𝑀𝑆𝑥100

Fórmula 7 – Absorção de água. Fonte: SANTOS, 1989.

A% - Absorção de água MU – Massa úmida MS – Massa seca

3.2.2.10 Massa específica aparente

A massa específica aparente, ou densidade aparente, é o resultado da relação

entre a massa do corpo de prova seco pelo seu volume aparente, que é calculado

pela Fórmula 8:

𝑀𝐸𝐴 =𝑀𝑆

𝑉𝐴

Fórmula 8 – Massa específica aparente.. Fonte: SANTOS, 1989.

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MEA – Massa específica aparente; VA – Volume aparente; MS – Massa seca.

3.2.2.11 Porosidade aparente

O ensaio de porosidade aparente é o quociente do volume de poros abertos

do corpo de prova pelo volume aparente do mesmo. O resultado é dado pela

Fórmula 9:

𝑃% =𝑀𝑢 − 𝑀𝑆

𝑉𝐴𝑥100

Fórmula 9 – Absorção de água. Fonte: SANTOS, 1989.

P% – Porosidade aparente; VA – Volume aparente; Mu - MS – Volume de poros abertos.

3.2.3 Levantamento fotográfico

A Figura 10 mostra o equipamento e o material utilizados para obtenção do

chamote, além do material já moído.

Figura 10 – Marreta, cacos de tijolos e obtenção manual de chamote. Fonte: Dados da pesquisa.

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Amostras das argilas (Figura 11), em forma de torrões, utilizadas

para execução dos ensaios, coletadas nas jazidas da cerâmica CV.

Figura 11 – Amostras das argilas, vermelha e preta. Fonte: Dados da pesquisa.

As Figura 12 mostra os resíduos, das duas argilas, obtidos após o ensaio de

resíduo retido na peneira #325.

Figura 12 – Amostras dos resíduos obtidos no teste de percentual de resíduos. Fonte: Dados da pesquisa.

Após o processo de moagem do material avariado e obtenção do chamote,

escolheu-se a granulometria de 300 µm, referente à peneira #50, como mostra a

Figura 13, para utilização na confecção dos corpos de prova.

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Figura 13 – Amostrada do chamote utilizado na confecção dos corpos de prova. Fonte: Dados da pesquisa.

As amostras foram coletadas e registradas durante a execução dos métodos

propostos nesta pesquisa, com o intuito de proporcionar um melhor entendimento do

assunto, quando se trata das matérias primas utilizadas.

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4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os corpos de prova foram confeccionados manualmente, em formas de

madeira, com argila coletada na própria jazida da empresa (Figura 14).

Figura 14 – Conformação dos corpos de prova. Fonte: Dados da pesquisa.

Após a secagem a 1100C os corpos de prova foram levados ao forno mufla para

queima a 9500C, obtendo uma cor alaranjada, derivada da reação química do óxido

de ferro (Fe2O3), como mostra a Figura 15.

Figura 15 – Corpos de prova após queima a 9500C. Fonte: Dados da pesquisa.

O ensaio de resíduo retido na peneira #325 (mesh) da ABNT é uma análise

quantitativa do percentual de impurezas minerais e orgânicas presentes nas argilas.

As impurezas identificadas visualmente nas amostras foram: sílica livre, óxido de ferro

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e raízes. Como mostra a Tabela 2, a argila P contém em sua composição, 19% de

resíduos, enquanto a argila (V) contém 32%. A argila AP, composta pela proporção

de 2P:1V, reteve no ensaio, 23,3% de resíduos.

No ensaio de distribuição granulométrica, mostrado na Tabela 2, as peneiras

de #50 (mesh) e #80 (mesh), apresentaram elevados percentuais de resíduos,

indicando a granulometria grosseira das impurezas presentes, o que pode acarretar

em um menor índice de plasticidade. Apesar dos elevados teores encontrados, a

amostra AP não comprometeu a absorção de água, apenas a resistência à flexão dos

corpos de prova, elevando-as com a adição do chamote, como mostra a Tabela 3.

Tabela 2: Caracterização das Matérias-Primas Cerâmicas.

Amostra

Ensaios cerâmicos

Resíduo retido na peneira

N°325 da ABNT (%)

Distribuição granulométrica

Peneira n°50 (%)

Peneira n°80 (%)

Peneira n°100

(%)

Peneira n°200 -

(%)

Peneira n°325 -

(%)

Fundo (%)

Argila Preta (P)

19,0 31,6 10,5 5,2 26,3 25,2 1,0

Argila Vermelha (V)

32,0 81,2 9,9 3,1 3,1 2,3 0,2

Argila Padrão (AP)

23,3 48,0 10,0 4,2 18,6 17,4 1,0

Fonte: Dados da pesquisa.

Sabendo-se da baixa plasticidade das argilas, subentende-se a necessidade

de uma umidade de conformação um pouco maior, neste caso, utilizou-se 20% para

todos os corpos de prova (Tabela 3).

A retração linear a 110ºC acontece devido à perda de água de conformação

dos corpos de prova, e pouco variou entre a amostra AP e a amostra AP5%,

diferentemente da amostra AP10%, que retraiu menos, chegando a 4% de retração,

significando menor chance de trincar durante a secagem (Tabela 3). A retração linear

após queima a 950ºC ocorre pela eliminação de água de constituição, matéria

orgânica e dióxido de carbono, e o resultado também foi ótimo para as três amostras,

sendo a AP10% a que mostrou melhor resultado (Tabela 3). Isso acontece,

provavelmente, devido á propriedade de inércia do chamote.

O ensaio de perda ao fogo a 950ºC, consiste na perda de massa, oriunda da

decomposição de materiais voláteis. A redução desse percentual da amostra AP para

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AP5% e de AP5% para AP10% seria o ideal, porém, como mostra a Tabela 3, não foi

o que aconteceu. Provavelmente, para este caso, o chamote perdeu sua propriedade

de inércia, devido à exposição à temperatura de 950ºC, e consequentemente massa,

referente aos materiais voláteis que não foram eliminados na primeira queima.

O módulo de ruptura a flexão a 950ºC, como mostra a Figura 16, apresentou

resultados insatisfatórios comparados aos limites mínimos, para blocos, mostrados na

Tabela 1. Porém, nota-se que o baixo resultado obtido não ocorreu devido a utilização

do resíduo chamote, pois como mostra a Tabela 3, as amostras AP5% e AP10%

dobraram sua resistência em relação à amostra AP. Isso acontece, provavelmente,

pela existência do empacotamento das partículas, conferindo maior sinterização ao

corpo cerâmico, processo químico onde as partículas das argilas e resíduos se unem

de forma a tornar-se quase homogênea, e consequentemente mais resistente.

Figura 16 – Resultados do teste de Tensão de Ruptura à Flexão a 950ºC.

Fonte: Dados da pesquisa

Os ensaios de absorção de água e porosidade aparente estão diretamente

associados, pois quanto maior o percentual de porosidade, maior também será o

percentual de absorção de água.

A absorção de água a 950ºC variou um pouco entre as amostras, porém,

mantiveram-se dentro dos limites (Tabela 3). Entretanto, o que se esperava era uma

diminuição de AP para AP5%, e de AP5% para AP10%.

A porosidade aparente também variou um pouco entre as amostras (Tabela 3).

Assim como no ensaio de absorção a água, o ideal seria uma diminuição de poros da

AP para AP5% e para AP10%, supondo-se que ao adicionar o chamote, como material

inerte, a perda de materiais voláteis diminuiria, e consequentemente, o aparecimento

de poros também. Provavelmente, durante o processo de queima o chamote perdeu

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sua propriedade de inércia, devido à sua segunda queima, realizada a uma

temperatura maior do que no primeiro processo.

Tabela 3: Caracterização físico-mecânica dos corpos de prova. Ensaios cerâmicos

Amostra

AP AP5% AP10%

Umidade de Conformação (%)

20,0 20,0 20,0

Retração Linear a 1100C (%)

5,5 5,7 4,0

Retração Linear Após Queima a 9500C (%)

0,8 0,7 0,5

Perda ao Fogo a 9500C (%)

8,0 8,8 8,9

Módulo de Ruptura a Flexão a 9500C (kgf/cm²)

14,8 30,6 33,6

Absorção de água a 9500C (%)

13,8 14,1 14,0

Porosidade Aparente a 9500C (%)

22,3 24,8 23,7

Massa Específica Aparente a 9500C (g/cm3)

1,6 1,7 1,7

Cor (tonalidade) após queima a 9500C Alaranjado Fonte: Dados da pesquisa.

A massa específica aparente trata, nesse caso, da massa (g) existente em

relação ao volume (cm³) do corpo de prova. Pode-se observar o aumento de cerca de

0,1 g/cm³ da amostra AP para AP5% e AP10% (Tabela 3), resultado que pode ser

confirmado pelo aumento da proporção de perda ao fogo referente às mesmas

amostras.

Apesar de todos os resultados mostrarem valores dentro dos limites usuais, o

processo de conformação dos corpos de prova, feito manualmente, e a utilização do

chamote queimado a uma temperatura menor do que a utilizada nessa pesquisa

interferiu, negativamente, nos resultados. Essa interferência se dá, respectivamente,

por não existir pressão ideal para a conformação, como acontece no caso da extrusão,

e pelo chamote perder a sua propriedade de material inerte quando ultrapassa sua

temperatura anterior de queima.

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5 CONCLUSÃO

A pesquisa, em escala laboratorial, do uso do resíduo sólido cerâmico chamote

na produção dos blocos da indústria CV mostrou a viabilidade técnica da incorporação

de 5% e 10% em massa, queimada a 950ºC.

Em relação às propriedades das argilas da cerâmica CV, pode-se observar que

a mesma não é muito plástica, devido ao alto teor de resíduos existentes na sua

composição. Por outro lado, a diversidade granulométrica desses resíduos e a adição

do chamote na granulometria de 300 µm (micrômetros) nas amostras AP5% e AP10%

facilitaram o processo de sinterização, o que torna o material mais resistente.

Entre os resultados positivos da caracterização dos corpos de prova ensaiados,

destacou-se o aumento expressivo da resistência à flexão, em mais de 100%, em

ambas amostras possuindo chamote, com relação à massa cerâmica padrão utilizada

pela indústria, e a diminuição da retração, também em ambas amostras.

O resultado do ensaio de perda ao fogo impressionou, negativamente.

Esperava-se uma diminuição da perda de água, materiais voláteis, e carbonatos,

porém não aconteceu. Apesar do resultado negativo, as três amostras estão dentro

do limite padrão.

Os ensaios de porosidade aparente e absorção de água pouco variaram,

porém, observa-se claramente a associação direta entre os dois ensaios, notando-se

que quando a porosidade aumenta, a absorção de água também aumenta, e quando

diminui, a outra também diminui. Os resultados não foram os esperados, porém estão

dentro dos limites padrões.

A massa específica aparente pouco variou, mostrando um pequeno aumento

de 0,1 g/cm³ da AP para AP5% e AP10%. Podemos associar esse resultado ao do

ensaio de perda ao fogo, onde os resultados também aumentaram de AP para AP5%

e AP10%.

A cor obtida foi alaranjada, resultado da reação química do óxido de ferro

(Fe2O3) com o oxigênio (O2).

As formulações das massas cerâmicas com adição do chamote de 5% e 10%,

analisadas a partir dos ensaios físico-mecânicos preliminares apresentaram

resultados satisfatórios em todos os aspectos, porém a AP10% mostrou-se mais

eficaz em alguns aspectos.

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O estudo do reaproveitamento do chamote representa uma contribuição para a

empresa em fatores diversos tais como eliminação do descarte indevido, acúmulo de

rejeitos nas áreas de expedição dos produtos finais, comprometimento da imagem da

empresa, redução de matéria-prima, aumento da vida útil das jazidas, elevação da

qualidade técnica dos processos e produtos e, agregação do valor econômico ao

resíduo, entretanto, outras formas de diminuir o desperdício podem ser mais viáveis.

A aquisição de maquinários e fornos com maior tecnologia de fabricação e queima,

seria uma delas.

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