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Revista Cincias do Ambiente On-Line Julho, 2009 Volume 5, Nmero 1
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IMPACTO AMBIENTAL DO DESCARTE DE FRMACOS E ESTUDO DACONSCIENTIZAO DA POPULAO A RESPEITO DO PROBLEMA
JOE UEDA1, ROGER TAVERNARO1, VICTOR MAROSTEGA*1, WESLEY PAVAN1
1
Curso de Graduao Faculdade de Engenharia Eltrica e de Computao/UNICAMP
*e-mail para correspondncia: [email protected]
RESUMO: Medicamentos so descartados diariamente. Esse um material txico e, portanto, no deveseguir o mesmo caminho do lixo comum. Tratar incorretamente esses resduos, como deposit-los ematerros comuns ou despach-los pela rede de esgoto, pode ocasionar contaminao de solo, lenisfreticos, lagos, rios e represas, atingindo tambm a fauna e flora que participam do ciclo de vida daregio afetada. um problema marginal, pouqussimo divulgado por rgos de imprensa, governamentaisou entidades de terceiro setor. Visa-se realizar uma pesquisa para esclarecer o exposto e, por meio de umacoleta de dados, verificar quo conscientizada est a populao da UNICAMP nesse sentido. Essa base deinformaes satisfatria para determinar padres de comportamento e avaliar possveis medidas para
melhorar o quadro atual. Os resultados mostram que a maioria das pessoas no tem conscientizao doproblema.
PALAVRAS-CHAVE: medicamentos, frmacos, descarte, contaminao.
ENVIRONMENTAL IMPACT OF DRUGS DISPOSAL AND STUDY OF POPULATIONAWARENESS ABOUT THE PROBLEM
ABSTRACT: Drugs are discarded daily. This is a toxic material and therefore should not follow thesame path of trash. Incorrectly treat these wastes, such as putting it into landfill sites or ship them bysewage can cause contamination of soil, groundwater, lakes, rivers and reservoirs, affecting the fauna andflora that participate in the life cycle of the region affected. It is a marginal problem, very little published
by news or governmental organizations, or nonprofit entities. The aim is to conduct a survey to clarify theabove and through a data collection verrify how aware is the UNICAMP population. This information
base is satisfactory to determine patterns of behavior and evaluate possible measures to improve thecurrent frame. The results show that most people have no awareness of the problem.
KEYWORDS: medicals, pharmaceuticals, disposal, contamination.
INTRODUO
Os frmacos tm um papel de
inquestionvel relevncia em nossa sociedade,
desde sua importncia fundamental no combate
das enfermidades at funes mais recentes,
como o de proporcionar cada vez mais o
prolongamento da longevidade humana. Eles
representam um dos alicerces para sustentar os
desejos e o estilo de vida dos grandes centros
urbanos.
Durante o tratamento urgente ou
rotineiro para se resolver problemas de sade, as
pessoas adquirem medicamentos que, muitas
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vezes, no so consumidos por completo e
acabam por ser armazenados para um possvel
consumo posterior. Muitos desses produtos
sobram aps o tratamento e acabam sendo
descartados com lixo domstico ou esgotocomum.
Este artigo tem como objetivo ilustrar a
situao atual e os impactos causados por estas
substncias no meio ambiente, alm do
conhecimento da populao a respeito destes
problemas. Ainda, so explicitadas alternativas
relativamente simples e viveis para pelo menos
amenizar os danos causados.
MATERIAL E MTODOS
O projeto tem duas fases distintas. Uma
consiste na pesquisa, necessria para que o
assunto possa ser abordado de forma coerente e
bem fundamentado, atravs da consulta dos
meios disponveis para obter o mximo de
informaes disponveis. Outro objetivo
definido analisar a conscientizao da
comunidade da UNICAMP quanto ao assunto,
devido sua diversidade, atravs de uma
enquete simples, com a inteno de generalizar
as concluses sobre a compreenso geral do
problema.
Para a primeira etapa do projeto, diversas
referncias foram consultadas com a finalidade
de um maior esclarecimento da questo para o
grupo, possibilitando a exposio do problema
de uma forma clara e elucidativa.
Assim, foi possvel constatar que, alm
do descarte de remdios no utilizados em lixos
domsticos, a prpria eliminao urinria ou
fecal pode ser considerada, alm da utilizao
rural de antibiticos, agentes parasitrios e
resduos de aplicao de hormnios em raes.Portanto, possvel concluir que a soluo para
o problema deve ser elaborada considerando
cada situao descrita acima isoladamente.
Neste artigo, consideraremos apenas o descarte
domstico de medicamentos.
Embora a soluo deva surgir de uma
anlise de um caso particular da questo, os
efeitos causados pelos frmacos na natureza soclassificados com o tipo de stio de ocorrncia,
podendo ser, geralmente, classificados como:
guas de lenis freticos, guas de rios, guas
ocenicas, sedimentos e solo.
Ainda possvel acrescentar que cada
composto afetar o meio de maneira diferente,
seja por contaminao do meio, alterao no
desenvolvimento de plantas ou metabolizao e
incorporao pelos animais, por exemplo.
A fim de averiguar a conscientizao da
populao da UNICAMP quanto aos impactos
ambientais do descarte de frmacos, realizou-se
uma pesquisa.
Foram determinados quatro pontos para
realizar a coleta de dados: nas imediaes do
HC, em frente ao RA (restaurante da
administrao), a praa da Ciclo Bsico e o
ponto de nibus em frente ao Instituto de
Economia. Estes locais apresentam grande fluxo
e variedade de pessoas, o que propicia a
formao de um conjunto de dados adequado
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para fins de anlise probabilstica.
Os entrevistados receberam um
formulrio contendo as seguintes questes:
Qual o destino dado por voc aos
medicamentos imprprios para uso (com prazode validade expirado, estragados etc)? e Voc
j pensou no impacto ambiental que essa atitude
pode causar?. Para as pessoas que responderam
afirmativamente segunda questo, propomos
uma nova pergunta: Voc acredita que o modo
por voc utilizado para descartar esse material
causa impacto ambiental?.
DISCUSSO
As caractersticas qumicas dos
medicamentos apresentam um risco potencial
sade pblica e ao meio ambiente. Seus resduos
possuem alguns componentes resistentes, de
difcil decomposio, que podem contaminar o
solo e a gua. De fato, em todo o mundo,
anlises em esgoto domstico, guas superficiais
e subsolos detectaram a presena de frmacos
como antibiticos, anestsicos, hormnios,
antiinflamatrios entre outros.
importante citar que muitos
medicamentos causam impacto ambiental
mesmo quando utilizados. Alguns componentes
so excretados pelas fezes e urina. Entre 50% e
90% de uma dosagem excretado sem sofrer
alteraes e persiste no ambiente.
Como exemplo de dano ao ambiente,
podemos citar o estrgeno, um hormnio
feminino presente nos anticoncepcionais e nos
medicamentos de reposio hormonal ps-
menopausa. Esse hormnio pode afetar o
sistema reprodutivo de organismos aquticos,
acarretando na feminizao de peixes machos
que habitam ambientes contaminados.Bactrias presentes em ambientes
contaminados por antibiticos podem adquirir
resistncia a essas substncias, visto que tais
organismos tm material gentico com alta
capacidade de mutao.
Ainda, a contaminao dos animais e do
homem, pelos resduos, acontece por via oral,
respiratria e cutnea, lembrando tambm queanimais so fonte de alimentos.
Isso ilustra a importncia do descarte
apropriado, e da existncia de um tratamento de
esgoto eficaz na remoo desses poluentes. Se
no forem tratados adequadamente, podem
voltar para a casa das pessoas na gua
distribuda pela rede pblica. Na figura 1, um
diagrama ilustra o caminho dos medicamentos
at atingir a gua potvel.
Figura 1. A rota dos frmacos.
No Brasil, o Ministrio da Sade e o
Ministrio do Meio Ambiente normatizam o
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correto descarte de resduos, instruindo as partes
envolvidas no manuseio de medicamentos.
As autoridades do Ministrio da Sade
so responsveis por inspecionar as empresas ou
estabelecimentos que exeram atividadesrelacionadas produo, comrcio, manipulao
ou uso das substncias farmacolgicas. Por sua
vez, o Ministrio do Meio Ambiente deve
garantir que o descarte dos resduos gerados por
esses estabelecimentos esteja dentro dos
regulamentos tcnicos estabelecidos pela
Legislao Ambiental.
Nesse aspecto, as empresasdistribuidoras, farmcias, drogarias e hospitais,
diferentemente das indstrias, no possuem
estrutura organizacional e sequer passam por
fiscalizao no que se refere aos certificados e
licenas para se manterem ativas no mercado.
Muitos desses estabelecimentos contam com o
apoio da prefeitura de seus respectivos
municpios para destinar seus resduos.
Entretanto, comum esta ltima tambm no
dispor de recursos especializados para lidar
adequadamente com o material.
O descarte efetuado pelo consumidor
final o que apresenta maior lacuna na
legislao. No h especificaes muito claras
sobre este ponto. Estabelecimentos comerciais
como farmcias, drogarias e centros de sade
no so obrigados por lei a recolher esses
produtos, mesmo se ainda estiverem dentro do
prazo de validade. O Brasil tem baixa infra-
estrutura faltam aterros sanitrios adequados e
incineradores licenciados em vasta regio de seu
territrio-, o que compromete a aplicabilidade
de medidas geis que possam, ao menos,
amenizar o problema.
Uma das solues mais efetivas, a
incinerao tambm no totalmente eficiente.Reduz e muito a quantidade, mas ainda restam
partculas a serem depositadas nos aterros, alm
de promover a emisso de dioxinas. H a
poluio causada pela queima de correlatos,
como embalagens e frascos.
Por fim, cabe ressaltar a falta de
informao de grande parte da populao quanto
aos mtodos e conduta adequada para o descartede tais produtos, e quanto ao impacto que o
descarte inapropriado desses pode provocar ao
meio ambiente, inclusive ao prprio ser
humano. A embalagem dos produtos
farmacolgicos no fornece instrues de como
proceder com os resduos, ao contrrio de
muitos produtos industrializados de outros
setores.
Portanto, aps esta breve discusso sobre
o assunto, fica claro que necessria a
conscientizao da populao e das autoridades
pertinentes ao assunto, para que sejam
estabelecidas solues para o descarte e
posterior tratamento destes resduos, antes da
liberao dos mesmos no ambiente.
RESULTADOS E ANLISE
A pesquisa teve um espao amostral de
141 pessoas. Destas, 88,6% afirmaram descartar
seus resduos farmacolgicos no lixo domstico;
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9,2% o descartam pelo esgoto e 2,2% tm outro
meio de faz-lo.
Figura 2. Distribuio grfica do destino dos
produtos farmacolgicos.
Os meios qualificados como outros so
irrelevantes para os fins do estudo. So
referentes a pessoas que afirmam no efetuar
tais descartes, seja por no adquirirem tais
produtos - convictos da utilizao somente de
tratamentos homeopticos ou fitoterpicos, por
exemplo -, ou por nunca se enquadrarem nessa
situao.
Quanto ao impacto ambiental causado
pela ao, constatou-se que apenas 28,4% dos
entrevistados j se ativeram questo. Os
demais nunca pensaram a respeito.
Figura 3.Distribuio grfica da conscincia
ambiental.
Os resultados mostram que a maioria das
pessoas no tem conscientizao do problema.
Ainda, constatou-se que, do espao amostral de
pessoas que relataram j ter se preocupado com
o assunto, um percentual de 25% elimina essesprodutos pelo esgoto, acreditando no causar
danos ao ambiente.
Figura 4.Da amostra que apresenta
conscincia ambiental, trs quartos sabem dos
males causados ao ambiente em decorrncia de
seus atos.
Esse comportamento preocupante.
Uma parcela considervel do grupo mais
esclarecido e contextualizado com a preservao
ambiental tem conhecimento muito restrito
nesse mbito. Os outros 75% englobam casos de
descarte pelo lixo domstico e esgoto, mas com
conscincia dos danos provocados por essasatitudes. factvel que a existncia de pontos de
coleta faa com que grande parte desta ltima
parcela faa uso dos mesmos.
Analisando os dados de maneira mais
abrangente, verifica-se que no importante
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apenas promover a implantao de pontos de
coleta muito bem distribudos. muito restrita a
parcela da populao que detm conhecimentos
sobre o problema aqui tratado. Faz-se tambm
fundamental a implementao de campanhas deesclarecimento e elucidao dos males gerados
por esse tipo de poluio. necessria a
conscientizao da populao e das autoridades
pertinentes ao assunto.
Outra medida importante limitar a
concentrao de medicamentos presentes no
ambiente. Investir em estudos para a otimizao
do manejo e descarte de medicamentos umplano a ser considerado. Ateno especial deve
ser voltada para as estaes de tratamento de
esgotos. necessrio constatar a sua eficincia
quanto a esse grupo especial de substncias,
bem como estudar e planejar a necessidade de
adaptaes futuras.
Uma alternativa muito interessante a
venda fracionada da quantidade de remdios.
Esta, alis, passa por tentativas de
implementao, porm sem sucesso
considervel. Isso evitaria a posse desnecessria
pelos consumidores finais.
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
AGNCIA NACIONAL DE VIGILNCIASANITRIA (ANVISA) - Resoluo RDC n.
33, de 25 de fevereiro de 2003. Disponvel em
http://www.anvisa.gov.br/legis/resol/2003/rdc/3
3_03rdc.htm Acessado em maio de 2009.
FRMACOS NO MEIO AMBIENTE - Vol. 26,
No. 4, 523-530, 2003. Daniele Maia Bila e
Mrcia Dezotti - Quim. Nova.
INSTITUTO AKATU Descarte deRemdios: uma questo muito grave -
Disponvel em
http://www.akatu.org.br/central/especiais/2008
/descarte-de-remedios-uma-questao-muito-grave
Acessado em maio de 2009.
NOSSO FUTURO ROUBADO -
Medicamentos contaminam a gua Disponvel em
http://www.nossofuturoroubado.com.br/old/agos
to05.htm - Acessado em Maio de 2009.
O DESCARTE DE MEDICAMENTOS
VENCIDOS E OS ASPECTOS
TOXICOLOGICOS DA INCINERAO -
Pgina 59 - Fernando Koshiba Gonalves e
Yoko Oshima-Franco, 2004.