ESTUDOS DE LIBERAÇÃO, PERMEAÇÃO, ADESÃO E ... · de células de Franz, seguidos da avaliação...

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA MESTRADO EM CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS ESTUDOS DE LIBERAÇÃO, PERMEAÇÃO, ADESÃO E ESTABILIDADE DE MEMBRANAS DE GELATINA CONTENDO ÁCIDO ÚSNICO NA FORMA LIPOSSOMAL PARA O TRATAMENTO DE QUEIMADURAS BRUNO DOS SANTOS LIMA SÃO CRISTÓVÃO - SE 2017

Transcript of ESTUDOS DE LIBERAÇÃO, PERMEAÇÃO, ADESÃO E ... · de células de Franz, seguidos da avaliação...

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

PR-REITORIA DE PS-GRADUAO E PESQUISA

MESTRADO EM CINCIAS FARMACUTICAS

ESTUDOS DE LIBERAO, PERMEAO, ADESO E

ESTABILIDADE DE MEMBRANAS DE GELATINA

CONTENDO CIDO SNICO NA FORMA LIPOSSOMAL

PARA O TRATAMENTO DE QUEIMADURAS

BRUNO DOS SANTOS LIMA

SO CRISTVO - SE

2017

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

PR-REITORIA DE PS-GRADUAO E PESQUISA

MESTRADO EM CINCIAS FARMACUTICAS

ESTUDOS DE LIBERAO, PERMEAO, ADESO E

ESTABILIDADE DE MEMBRANAS DE GELATINA

CONTENDO CIDO SNICO NA FORMA LIPOSSOMAL

PARA O TRATAMENTO DE QUEIMADURAS

BRUNO DOS SANTOS LIMA

Dissertao apresentada ao Ncleo de Ps-Graduao em Cincias da Farmacuticas da Universidade Federal de Sergipe como requisito parcial obteno do grau de Mestre em Cincias Farmacuticas.

Orientador: Prof. PhD. Adriano Antunes de Souza Arajo

SO CRISTVO - SE

2017

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2017

FICHA CATALOGRFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA CENTRAL

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

L732e

Lima, Bruno dos Santos

Estudos de liberao, permeao, adeso e estabilidade de

membranas de gelatina contendo cido snico na forma lipossomal

para o tratamento de queimaduras / Bruno dos santos Lima ;

orientador Adriano Antunes de Souza Arajo. So Cristvo, 2017.

88 f. : il.

Dissertao (mestrado em Cincias Farmacuticas)

Universidade Federal de Sergipe, 2017.

1. Farmcia. 2. Queimaduras. 3. Polmeros. 4. cido snico. I.

Arajo, Adriano Antunes de Souza. II. Ttulo.

CDU 615.12:616.5-001.17

BRUNO DOS SANTOS LIMA

ESTUDOS DE LIBERAO, PERMEAO, ADESO E

ESTABILIDADE DE MEMBRANAS DE GELATINA

CONTENDO CIDO SNICO NA FORMA LIPOSSOMAL

PARA O TRATAMENTO DE QUEIMADURAS

Dissertao apresentada ao Ncleo de Ps-Graduao em Cincias da Farmacuticas da Universidade Federal de Sergipe como requisito parcial obteno do grau de Mestre em Cincias Farmacuticas.

Aprovado em: _____/_____/_____

_________________________________________

Orientador: Prof. PhD. Adriano Antunes de Souza Arajo

_________________________________________

1 Examinador: Prof. Dra. Francilene Amaral da Silva

_________________________________________

2 Examinador: Prof. PhD. Danilo Csar Galindo Bedor

PARECER

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DEDICATRIA

minha me... Tudo aquilo que sou, ou pretendo ser,

devo a um anjo: minha me. (Abraham Lincoln)

AGRADECIMENTOS

Mais um ciclo em minha vida acadmica chega ao fim! Mestrado em cincias

farmacuticas! Obrigado, Deus! Obrigado por todas as bnos e oportunidades!

Agradeo do fundo do corao a minha me, Silvaneide, que nunca mediu esforos

para que essa conquista tornasse realidade. Obrigado por toda dedicao, amor e

carinho! Essa conquista para a senhora! Te amo! Agradeo a minha namorada,

Hoany, por todo amor, apoio e companheirismo durante toda essa etapa. Te amo!

Meus sinceros agradecimentos ao meu orientador, Prof. Adriano Antunes,

pela confiana depositada em mim, pelos ensinamentos transmitidos e por ser um

exemplo de profissional. Agradeo a minha co-orientadora Paula Menezes, por toda

ajuda e disponibilidade em contribuir com meu trabalho em todas as etapas (Do

processo seletivo at a dissertao). s professoras Paula Nunes, Francilene e

Mairim por todas contribuies e avaliaes para com meu trabalho, as quais

levarei para minha vida acadmica!

Agradeo aos meus colegas do LeFT, por toda ajuda e parceria cientfica.

Obrigado Ana Maria, Anny, Bruna, Caio, Clara, Dayanne, Elosa, Gabi, Graa,

Guilherme, Jamily, Igor, Isabella, Isla, Lee, Lvia, Luciana, Marlia, Saran, Vallria,

Tati e Yasmim. Desejo todo sucesso para vocs. turma de mestrado 2016.1 do

PPGCF-UFS pelo apoio e diverso durante as aulas e seminrios da vida. todos

que fazem parte do PPGCF-UFS, principalmente Andr e Cristiani, por sempre me

ajudarem e tirarem minhas dvidas (que no foram poucas).

Por fim, agradeo a todos que direta ou indiretamente contriburam para a

minha formao. todos os colaboradores (universidades, laboratrios,

professores e alunos). CAPES, pelo financiamento, atravs da bolsa de

mestrado. Agora, que venha o doutorado! Vamos em frente, sempre em frente!

RESUMO

Estudos de liberao, permeao, adeso e estabilidade de membranas de gelatina contendo cido snico na forma lipossomal para o tratamento de queimaduras. Bruno dos Santos Lima, 2017.

As queimaduras so leses na pele que geralmente so causadas por acidentes trmicos e o tratamento dessa enfermidade considerado um grande desafio, devido a quantidade de complicaes que podem causar. Dessa forma, necessrio buscar alternativas que otimizem o tratamento das leses causadas por queimaduras, como por exemplo, o uso de membranas bioativas. O cido snico (AU) uma substncia que apresenta potencial para o tratamento de queimaduras. No entanto, esse composto apresenta algumas caractersticas fsico-qumicas desfavorveis, como a baixa solubilidade em gua. Uma das maneiras de estabilizar essa situao atravs da utilizao do AU encapsulado em lipossoma, combinado com uma membrana de gelatina. Diante do exposto, o objetivo desse trabalho foi preparar e caracterizar membranas de gelatina contendo AU incorporado em lipossomas para o tratamento de queimaduras. As membranas foram preparadas de acordo com mtodo de casting e os lipossomas pela tcnica de rotaevaporao do solvente. Aps a obteno, a capacidade de intumescimento das membranas foi avaliada. Um mtodo analtico foi desenvolvido e validado por cromatografia lquida de alta eficincia (CLAE), o qual, foi utilizado para determinar o teor e a eficincia de encapsulao do AU nas membranas. Estudos de liberao in vitro, permeao e adeso do AU nas camadas da pele foram realizados atravs de clulas de Franz, seguidos da avaliao da estabilidade e fotoestabilidade da formulao. Macroscopicamente, as membranas de gelatina apresentaram colorao levemente amarelada, superfcie lisa e capacidade de intumescimento em tampo fosfato (pH 7,4) e soro fisiolgico. O mtodo desenvolvido por CLAE, mostrou-se eficaz para identificao e quantificao do AU e todos os parmetros utilizados para a validao apresentaram resultados adequados de acordo com a legislao vigente (RE 899 ANVISA, 2003). O teor de AU nas membranas foi de 172,07 0,27 gcm-2, obtendo eficincia de encapsulao de 93,75%. Os experimentos de liberao in vitro demonstraram que as membranas de gelatina contendo AU na forma lipossomal apresentaram um perfil de liberao controlado, liberando 98,15% (41,37 gcm-2) do AU em 24 horas de anlise. O AU apresenta capacidade de penetrar e permear nas camadas da pele, pois, foi quantificado na epiderme (3,54 0,79 gcm-2) e na derme (13,64 0,17 gcm-2), respectivamente, bem como, possui capacidade de adeso, uma vez que, permaneceram aderidos na pele aps a lavagem da formulao com soluo salina (epiderme: 2,32 0,95 gcm-2; derme: 8,87 0,56 gcm-2). As membranas apresentaram estabilidade variaes trmicas e a exposio luz, pois no demonstraram alteraes nas caractersticas macroscpicas e/ou diminuio significativa do teor do AU. De acordo com os resultados obtidos, podemos concluir que as membranas de gelatina contendo AU na forma lipossomal uma formulao promissora para o tratamento de queimaduras, pois apresentam capacidade de controlar a liberao do AU e apresentam estabilidade adequada, alm do fato, que o AU apresenta capacidade de penetrar, permear e de aderir-se nas camadas da pele.

Palavras-chave: Queimaduras, biomateriais, gelatina, cido snico, lipossomas.

ABSTRACT

Studies of release, permeation, adhesion and stability of gelatin membranes containing usnic acid incorporated into liposomes for the burns treatment. Bruno dos Santos Lima, 2017.

Burns are injuries in the skin that are usually caused by thermal accidents and the treatment of this disease is considered a great challenge due the amount of complications that are caused. Therefore, is necessary to look for alternatives that optimize the treatment of injuries caused by burns such as the use of bioactive membranes. Usnic acid (UA) is a substance that has potential for the burns treatment. However, this compound presents some unfavorable physical-chemical characteristics, such as low solubility in water. One way to stabilize this situation is through the use of AU encapsulated in liposome and combined with a gelatin membrane. Therefore, the purpose of this work was to prepare and characterize gelatin membranes containing AU incorporated in liposomes to the burns treatment. The membranes were prepared according with the casting method and the liposomes by the solvent rotavaporation technique. After obtaining, the swelling capacity of the membranes was evaluated. The analytical method was developed and validated by high performance liquid chromatography (HPLC), which was used to determine the content and encapsulation efficiency of UA in the membranes. In vitro release studies, permeation and adhesion of UA to skin layers were performed by Franz cells, and after, the stability and photostability of formulation was evaluated. Macroscopically, gelatin membranes showed yellowish color, smooth surface and swelling capacity in phosphate buffer (pH 7.4) and saline solution. The method developed by HPLC was effective to the identification and quantification of UA and all parameters used for validation showed suitable results according with the current legislation (RDC 899 ANVISA, 2003). The UA content in the membranes was 172.07 0.27 gcm-2, obtaining encapsulation efficiency of 93.75%. The in vitro release experiments demonstrated that the gelatin membranes containing UA in liposomes showed a controlled release profile, releasing 98.15% (41.37 gcm-2) of the UA in 24 hours of analysis. The UA has the ability to penetrate and permeate in the skin layers because it was quantified in the epidermis (3.54 0.79 gcm-2) and dermis (13.64 0.17 gcm-2) respectively, as well as, it has adhesion capacity, because it remained adhered to the skin after washing the formulation with saline solution (epidermis: 2.32 0.95 gcm-2; dermis: 8.87 0.56 gcm-2). The membranes showed stability to thermal variations and light exposure, because they didnt show changes in the macroscopic characteristics and /or significant decrease in the UA content. According with the results obtained, we can conclude that gelatin membranes containing AU in liposomes are a promising formulation for the burns treatment, because they have the capacity to release control of UA and showed adequate stability, besides the fact that AU has the ability to penetrate, permeate and adhere in the skin layers.

Keywords: Burns, biomaterials, gelatin, usnic acid, liposomes.

SUMRIO

1. Introduo ........................................................................................................ 16

2. Objetivos .......................................................................................................... 19

2.1. Objetivo geral ............................................................................................. 19

2.2. Objetivos especficos ................................................................................. 19

3. Reviso da Literatura ....................................................................................... 20

3.1. Pele ............................................................................................................ 20

3.2. Queimaduras .............................................................................................. 23

3.3. Cicatrizao ............................................................................................... 26

3.4. Produtos tecnolgicos usados para o tratamento de queimaduras ............ 28

3.5. Biomateriais ............................................................................................... 30

3.6. Gelatina ...................................................................................................... 34

3.7. cido snico ............................................................................................... 35

3.8. Lipossomas ................................................................................................ 38

4. Material e mtodos ........................................................................................... 43

4.1. Material ...................................................................................................... 43

4.2. Preparo das membranas ............................................................................ 43

4.3. Ensaios de intumescimento ....................................................................... 44

4.4. Desenvolvimento e validao do mtodo analtico para a identificao e

quantificao do AU por CLAE.......................................................................... 45

4.4.1. Linearidade .......................................................................................... 45

4.4.2. Limite de deteco e limite de quantificao........................................ 46

4.4.3. Preciso ............................................................................................... 46

4.4.4. Exatido ............................................................................................... 46

4.4.5. Robustez .............................................................................................. 47

4.5. Teor e eficincia de encapsulao do AU nas Memb/AU/Lip..................... 47

4.6. Uniformidade de contedo do AU nas Memb/AU/Lip ................................. 48

4.7. Estudos de liberao in vitro do AU ........................................................... 48

4.8. Absoro transdrmica do AU ................................................................... 49

4.8.1. Preparo da pele ................................................................................... 49

4.8.2. Permeao in vitro do AU nas camadas da pele ................................. 49

4.9. Ensaios de lavabilidade ............................................................................. 50

4.10. Estudo piloto de estabilidade ................................................................... 51

4.11. Estudo piloto de fotoestabilidade ............................................................. 51

4.12. Anlises estatsticas ................................................................................. 51

5. Resultados e discusso.................................................................................... 52

5.1. Obteno das Memb/AU/Lip ...................................................................... 52

5.2. Capacidade de intumescimento das Memb/AU/Lip .................................... 53

5.3. Desenvolvimento e validao do mtodo por CLAE .................................. 55

5.4. Eficincia de encapsulao do AU nas Memb/AU/Lip ............................... 60

5.5. Uniformidade de contedo do AU nas Memb/AU/Lip ................................. 61

5.6. Perfil de liberao in vitro do AU ................................................................ 62

5.7. Estudos de penetrao/permeao in vitro do AU ..................................... 65

5.8. Adeso do AU nas camadas da pele ......................................................... 66

5.9. Estudo piloto de estabilidade das membranas ........................................... 69

5.10. Estudo piloto de fotoestabilidade das membranas ................................... 73

6. Concluso ........................................................................................................ 76

7. Referncias ...................................................................................................... 77

NDICE DE FIGURAS

Figura 1 Representao esquemtica da pele. 21

Figura 2 Representao esquemtica dos tipos de queimaduras na

pele.

25

Figura 3 Estrutura qumica do AU (C18H16O7; massa molar: 344,31

g/mol).

36

Figura 4 A: Estrutura bsica dos lipossomas. B: Representao

esquemtica da incorporao de frmacos hidrofbicos e

hidroflicos nos lipossomas.

39

Figura 5 Classificao dos tipos de lipossomas. 41

Figura 6 Memb/AU/Lip obtida pelo mtodo de casting aps a secagem. 52

Figura 7 Perfil de intumescimento das Memb/AU/Lip em tampo fosfato

(pH 7,4) e soro fisiolgico. Os resultados foram expressos de

acordo com a mdia desvio padro (n= 3) das anlises.

54

Figura 8 A: Cromatograma do AU padro obtido por CLAE (280 nm). B:

Perfil cromatogrfico do AU extrado das membranas obtido

por CLAE (280 nm).

56

Figura 9 Curva de calibrao do AU padro na faixa de concentrao

de 5 100 g.mL-1.

57

Figura 10 Perfil de liberao in vitro do AU nas Memb/AU/Lip e

Memb/AU. Os resultados foram expressos de acordo com a

mdia desvio padro (n= 6) das anlises.

64

Figura 11 Perfil de penetrao e permeao do AU nas camadas da

pele. *** (p < 0,0001). Os resultados foram expressos de

acordo com a mdia desvio padro (n= 6) das anlises.

65

Figura 12 Porcentagem de AU retida nas Memb/AU/Lip e/ou na pele

aps s 4 horas de lavagem. Os resultados foram expressos

de acordo com a mdia desvio padro (n= 6) das anlises.

67

Figura 13 Perfil de adeso do AU nas camadas da pele. *** (p < 0,0001).

Os resultados foram expressos de acordo com a mdia

desvio padro (n= 6) das anlises.

68

Figura 14 Perfil do estudo de estabilidade das membranas sob

refrigerao (5 2 C) durante 120 dias. *** (p < 0,0001). Os

resultados foram expressos de acordo com a mdia desvio

padro (n= 3) das anlises.

70

Figura 15 Perfil do estudo de estabilidade das membranas sob

temperatura ambiente (25 2 C) durante 120 dias. *** (p <

0,0001). Os resultados foram expressos de acordo com a

mdia desvio padro (n= 3) das anlises.

70

Figura 16 Perfil do estudo de estabilidade das membranas

acondicionadas em estufa (45 2 C) durante 120 dias. *** (p

< 0,0001). Os resultados foram expressos de acordo com a

mdia desvio padro (n= 3) das anlises.

71

Figura 17 Perfil do estudo de fotoestabilidade das membranas durante a

exposio luz nos intervalos de tempo de 0 72 horas. ***

(p < 0,0001). Os resultados foram expressos de acordo com a

mdia desvio padro (n= 3) das anlises.

74

NDICE DE TABELAS

Tabela 1 Ensaios de preciso (repetibilidade e preciso intermediria)

da validao do AU.

58

Tabela 2 Teste de recuperao do AU em diferentes concentraes. 59

Tabela 3 Teor (gcm-2) e EE (%) do AU nas Memb/AU/Lip. 60

Tabela 4 Distribuio do AU nas Memb/AU/Lip. 62

Tabela 5 Teor mdio (n= 3) do AU nas fraes das Memb/AU/Lip e

Memb/AU nos intervalos de tempo dos estudos de

estabilidade.

72

Tabela 6 Teor mdio (n= 3) de AU nas fraes das Memb/AU/Lip e

Memb/AU nos intervalos de tempo dos estudos de

fotoestabilidade.

74

LISTA DE NOMENCLATURAS

g: Massa em microgramas;

ANVISA: Agncia Nacional de Vigilncia Sanitria;

AU: cido snico;

CLAE: Cromatografia Lquida de Alta Eficincia;

DP: Desvio padro;

DPR: Desvio padro relativo;

EE: Eficincia de encapsulao;

FDA: Food and Drug Administration;

g: Massa em gramas;

GRAS: Generally Regarded As Safe;

LD: limite de deteco;

LQ: limite de quantificao;

LUV: Vesculas unilamelar grande;

Memb/AU/Lip: Membranas de gelatina contendo AU incorporado em lipossomas;

Memb/AU: Membranas de gelatina contendo AU sem lipossomas;

mg: Massa em miligramas;

mL: Volume em mililitros;

MLV: Vesculas multilamelar;

nm: Nanmetro

PTFE: Politetrafluoretileno;

SUV: Vesculas unilamelar pequena;

TR: Tempo de reteno;

UV: Ultravioleta.

16

1. Introduo

As queimaduras so feridas traumticas que so causadas por agentes

trmicos, qumicos, eltricos ou radioativos. Atuam nos tecidos de revestimento do

corpo humano, ocasionando a destruio parcial ou total da pele e seus anexos,

podendo atingir camadas mais profundas, como o tecido celular subcutneo,

msculos e ossos (LIMA JNIOR et al., 2008). No Brasil, a estimativa que

ocorram aproximadamente 1 milho de acidentes com queimaduras por ano, sendo

que 100 mil pacientes procuram atendimento hospitalar e destes, cerca de 2,5 mil

morrem por razo direta ou indireta de suas leses (RICCI et al., 2015).

No geral, a incidncia de queimaduras est reduzindo nos ltimos anos,

devido ao aumento da preveno por parte da populao, tanto em casa e nos

locais de trabalho. Consequentemente, a taxa global de mortalidade de

queimaduras diminuiu em cerca de 30% devido aos avanos no manejo das

queimaduras agudas e novas tcnicas de controle sepse (principal causa de

mortalidade aps esse tipo de leso) (RAFLA; TREDGET, 2011).

Os aspectos sociais e econmicos devem ser levados em considerao para

o tratamento de pacientes acometidos por queimaduras, pois podem apresentar

efeitos negativos, levando a perda da qualidade de vida e diminuio da

produtividade dos pacientes (SEM; PALMIERI; GREENHALGH; 2015). O

tratamento para as leses drmicas causadas por queimaduras abrange processos

que objetivam combater as infeces, o alvio da dor, o tempo para o reparo

cicatricial completo e a qualidade da cicatriz, a qual, pode gerar resultados fsicos

e psicolgicos desagradveis (ONO et al., 2015).

Dentre os procedimentos teraputicos utilizados para o tratamento de

queimaduras, destacam-se o uso de formulaes farmacuticas derivadas da

sulfadiazina de prata (HERMANS, 2007; SERAFINI et al., 2014). Porm,

dependendo da situao, opta-se pelo uso de cirurgias e outras tcnicas, como o

laser teraputico. No entanto, esses processos so minuciosamente longos, de

alto custo e muitas vezes resultam em cicatrizes e danos na pele que devero ser

tratados atravs de novas terapias aps esses procedimentos. Diante disso, a

busca por novas alternativas para o desenvolvimento de formulaes com ao

17

anti-inflamatria, antimicrobiana e cicatrizante, tornou-se crescente entre

pesquisadores em todo o mundo (ONO et al., 2015).

Uma dessas alternativas, o uso de biomateriais, que surgem como uma

ferramenta promissora para o tratamento de leses causadas por queimaduras,

pois apresentam diversas vantagens, tais como: so biodegradveis, apresentam

baixo custo e podem ser utilizados em tecidos biolgicos para avaliar, aumentar ou

substituir tecidos ou exercer uma determinada funo no organismo (ANDRADE;

LIMA; ALBUQUERQUE, 2010; DAS; BAKER, 2016). Dentre os biomateriais,

membranas sintticas de gelatina, demonstram potencial para o tratamento de

queimaduras, pois apresentam propriedades mecnicas adequadas, capacidade

de promover e acelerar a granulao e epitelizao da pele, alm de permitir a

liberao gradual de frmacos em tecidos alvos (DANTAS et al., 2011; NUNES et

al., 2016).

Diante do exposto, existe um crescente interesse em estudos, que avaliam

a incorporao de compostos bioativos (frmacos sintticos ou produtos naturais)

em biomateriais, com nfase para os derivados de polmeros, como a gelatina.

Dentre os produtos naturais, destaca-se o cido snico (AU), um metablito

secundrio extrado do lquen Cladonia substellata Vainio, que apresenta diversas

atividades farmacolgicas descritas na literatura, como por exemplo: atividade anti-

inflamatria (VIJAYAKUMAR et al., 2000), antibacteriana (KARABACAK; TAYA;

KIVAN, 2014; MARTINELLI et al., 2014), antioxidante (RABELO et al., 2012) e

cicatrizante (NUNES et al., 2016).

De acordo com os exemplos citados, pode-se inferir que as atividades

descritas at o presente momento para o AU, tornam esse composto uma matria-

prima promissora para futuras investigaes. Entretanto, o AU possui limitaes

quanto a sua solubilidade e estabilidade, que podem reduzir os seus efeitos

farmacolgicos. No entanto, possvel contornar a baixa solubilidade em gua e

melhorar as caractersticas fsico-qumicas de frmacos, atravs da sua

encapsulao em nanopartculas (CONTRI et al., 2014).

Dentre os sistemas nanoestruturados, podemos destacar os lipossomas, os

quais, so vesculas constitudas de uma ou mais bicamadas fosfolipdicas

18

orientadas em torno de um compartimento aquoso. A sua estrutura semelhante a

membrana celular, em termos de hidrofilicidade e lipofilicidade, sendo assim, so

adequados como carreadores de frmacos e molculas insolveis em gua. Os

lipossomas so capazes de controlar a liberao, reduzir a toxicidade e melhorar a

biodisponibilidade de frmacos, alm de serem biodegradveis, biocompatveis e

no imunognicos. Desse forma, estes nanossistemas so versteis e

comprovadamente atxicos, sendo candidatos seguros para administrao de

produtos farmacuticos (HUANGA et al., 2014; NUNES et al., 2016; PANDEY;

RANI; AGARWAL, 2016).

Estudos anteriores realizados por nosso grupo de pesquisa, demonstraram

o efeito de membranas de colgeno contendo AU incorporados em lipossomas no

tratamento de queimaduras em ratos. As membranas foram caracterizadas e

avaliadas quanto aos efeitos sobre o processo de reparo cicatricial e concluiu-se

que as membranas promoveram a acelerao da cicatrizao da pele (NUNES et

al., 2011). Outros estudos, avaliaram as propriedades mecnicas e fsico-qumicas

de membranas de gelatina contendo AU em lipossomas, utilizando tcnicas de

anlise estrutural, trmica e morfolgica, alm da adio de nanopartculas de prata

para a realizao de ensaios microbiolgicos (MENEZES, 2013; TEIXEIRA, 2016).

Apesar do desenvolvimento das anlises citadas anteriormente, nenhum

estudo relacionado com a quantificao do AU nas membranas de gelatina foi

realizado, bem como, estudos de liberao, permeao e adeso nas camadas

pele e estabilidade das formulaes. Esses testes so de grande importncia, pois

os resultados obtidos dessas anlises, juntamente com os testes de caracterizao

fsico-qumica e ensaios clnicos comprovaro a eficcia da formulao para o

tratamento de queimaduras. De acordo com o que fora apresentado, este trabalho

teve como objetivo preparar e avaliar o teor, perfil de liberao, permeao, adeso

e estabilidade de membranas de gelatina contendo AU incorporados em

lipossomas para o tratamento de queimaduras.

19

2. Objetivos

2.1. Objetivo geral

- Avaliar o teor, liberao, permeao, adeso in vitro nas camadas da pele e a

estabilidade de membranas de gelatina contendo AU na forma lipossomal.

2.2. Objetivos especficos

- Preparar membranas de gelatina contendo AU incorporados em lipossomas;

- Avaliar a capacidade de intumescimento das membranas;

- Desenvolver e validar um mtodo analtico por Cromatografia Lquida de Alta

Eficincia (CLAE) para identificao e quantificao do AU;

- Determinar o teor, eficincia de encapsulao e uniformidade de distribuio do

AU nas membranas;

- Analisar o perfil de liberao in vitro do AU;

- Verificar a permeao cutnea in vitro e adeso do AU nas camadas da pele;

- Avaliar a estabilidade e a fotoestabilidade da formulao.

20

3. Reviso da Literatura

3.1. Pele

A pele desempenha um papel crucial na manuteno da vida atravs da

regulao do equilbrio hdrico e eletroltico. Atua como barreira mecnica

protegendo os componentes internos dos agentes nocivos do meio externo, sendo

responsvel pela regulao trmica do corpo e armazenamento de gordura, alm

de controlar o fluxo sanguneo e as funes sensoriais, tais como: frio, calor, odor,

tato, presso e dor (NAWAZ; BENTLEY, 2011). Quando esta barreira

interrompida devido leses como queimaduras, essas funes no so mais

adequadamente realizadas. Dessa forma, imprescindvel manter sua integridade

de maneira eficaz e em casos de traumas ou leses e restaura-la o mais rpido

possvel (WOLF et al., 2011).

De modo geral, a pele constituda por trs barreiras principais: a epiderme,

a derme e a hipoderme (Figura 1). A epiderme a camada que fica em contato com

o meio exterior, fina e avascular, representando a barreira fisiolgica de proteo.

A derme a camada abaixo da epiderme, caracterizada por ser altamente

vascularizada, alm de contribuir na elasticidade, coeso e termorregulao da

pele. A hipoderme a camada mais profunda da pele e assume funes de

proteo e reserva energtica. Alm disso, a pele apresenta subestruturas anexas

essenciais para a proteo e manuteno da homeostasia, tais como: a glndula

sebcea e sudorpara responsveis pela produo de sebo e sudorese,

respectivamente e os plos e unhas que apresentam funes de proteo

(COUTURAUD, 2009; RHEIN; PEOPLES; WOLF, 2009).

21

Figura 1: Representao esquemtica da pele.

Fonte: Disponvel em: . Acesso em: 22 de novembro de

2016.

Na epiderme ocorre a migrao celular das subcamadas mais internas para

as mais superficiais, em um processo conhecido como queratinizao. Esta

camada forma-se a partir de sua fronteira com a derme, local definido como juno

dermo-epidrmica. A epiderme, de maneira mais especfica, dividida em

diferentes subcamadas, sendo que a primeira denominada como estrato basal,

seguida do estrato espinhoso, estrato granuloso, estrato lcido e por fim, o estrato

crneo (LORENCINI et al., 2014).

O estrato basal, a subcamada mais profunda da epiderme, composta por

clulas-tronco que originaro os queratincitos e melancitos, os quais produzem

queratina e melanina, respectivamente. A queratina uma protena estrutural que

proporciona resistncia pele e melanina, que o pigmento responsvel pela cor

22

da pele e proteo contra a radiao ultravioleta. Alm disso, o estrato basal

tambm constitudo pelas clulas de Langerhans e de Merkel, que possuem papel

importante para a barreira imunolgica da pele e na percepo sensorial. A

atividade germinativa da camada basal muito alta, proporcionando a migrao

dos queratincitos para as camadas superiores. Nessas camadas, os

queratincitos, tornam-se achatados, acumulam queratina, desidratam-se, perdem

os ncleos e morrem, alcanando o estado mximo da diferenciao celular, no

qual so denominados de cornecitos (RHEIN; PEOPLES; WOLF, 2009;

LORENCINI et al., 2014).

Os cornecitos compem o estrato crneo da epiderme, uma subcamada de

clulas queratinizadas mortas que conferem rigidez superfcie da pele e dificultam

a sua permeabilidade, alm de serem a primeira camada exposta frmacos e

produtos cosmticos. O estrato crneo tambm se apresenta como uma barreira

eficiente contra raios ultravioleta, calor, frio, microrganismos, produtos qumicos e

foras mecnicas. A hidratao adequada do estrato crneo de grande

importncia para que ele descame apropriadamente. O fator de

umectao/hidratao natural da pele composto por lactato, aminocidos

formados a partir da quebra de filagrina, cido carboxlico da pirrolidona (PCA),

cido urocnico, sais inorgnicos, acares e uria. Ento, quando os cornecitos

atingem a poro mais externa do estrato crneo, sofrem descamao. Em uma

epiderme saudvel, h um equilbrio entre os processos de proliferao e

descamao o que resulta em um ciclo completo de renovao em um perodo de

28 dias (BARONI et al., 2012, LORENCINI et al., 2014; WICKETT; VISSCHER,

2015).

A derme uma camada espessa de tecido conjuntivo abaixo da epiderme,

vascularizada, enervada e nela esto presentes as glndulas sudorparas e os

folculos pilosos com suas glndulas sebceas. As clulas mais comuns da derme

so os fibroblastos que so responsveis pela sntese de protenas fibrosas como

o colgeno e elastina, que conferem propriedade viscoelstica a essa camada

(RHEIN; PEOPLES; WOLF, 2009). O colgeno a principal protena fibrosa

insolvel encontrada no tecido conjuntivo e na matriz extracelular drmica,

23

fornecendo pele fora e resistncia. A elastina compe as fibras elsticas da pele,

conferindo-lhe elasticidade (POON; KANG; CHIEN, 2015).

A matriz extracelular da derme caracterizada pela presena de

proteoglicanas e glicosaminoglicanas livres, como o cido hialurnico e por

mastcitos, que desempenham papel de proteo contra infeces. A presena de

vasos sanguneos na derme so de extrema importncia, pois garantem o

fornecimento de nutrientes e promovem a distribuio sistmica de frmacos

aplicados topicamente. As terminaes nervosas (nervos sensitivos) presentes na

derme so responsveis pela determinao das propriedades sensoriais da pele.

A derme est dividida em duas camadas: a camada papilar, que est em contato

com a epiderme e formada por tecido conjuntivo frouxo; e a camada reticular, a

qual, constituda por tecido conjuntivo denso no modelado, onde predominam a

presena das fibras colagenosas (RHEIN; PEOPLES; WOLF, 2009; LORENCINI et

al., 2014).

A hipoderme ou tecido subcutneo a camada mais interna da pele, liga-se

a derme atravs de expanses das fibras colgenas e elsticas e constituda

principalmente por clulas de gordura denominadas adipcitos (clulas que

acumulam lipdios, como os triglicerdeos) e por mastcitos. A quantidade de

clulas, de fibras, vascularizao e inervao depende da regio corporal. A

hipoderme desempenha funes importantes para o corpo, como isolamento

trmico e proteo mecnica do organismo as presses e traumatismos externos,

reservatrio de gordura, alm de sustentar e conferir mobilidade as camadas

superiores da pele (COUTURAUD, 2009; RHEIN; PEOPLES; WOLF, 2009;

LORENCINI et al., 2014).

3.2. Queimaduras

Os aspectos socioeconmicos so relevantes no tratamento de pacientes

acometidos por queimaduras, pois os procedimentos teraputicos necessitam de

cobertura imediata para auxiliar na reparao, proteo contra infeces e

restaurao das funes normais da pele. O tratamento de queimaduras sempre

foi um desafio, tanto pela sua gravidade, como pela multiplicidade de complicaes

que normalmente ocorrem. Apesar da existncia de procedimentos mdicos

24

avanados, o tratamento ainda pode ser um grande problema, uma vez que,

durante esses procedimentos pode ocasionar a ativao de uma cascata pr-

inflamatria predispondo o paciente a estados de sepse e falncia mltiplas dos

rgos (ISERI et al., 2008; ANDRADE; LIMA; ALBUQUERQUE, 2010; SEN et al.,

2015).

A queimadura uma leso na pele provocada geralmente pelo calor, mas

tambm pode ser causada pelo frio, eletricidade, produtos qumicos e radiaes. A

pele pode ser destruda parcialmente ou totalmente, atingindo desde os plos, at

msculos e ossos. Em pases ocidentais, os acidentes causados por chama e

escaldadura, principalmente gua quente e leo, so as causas mais comuns. A

queimadura se constitui em uma leso dos tecidos vivos, a qual, varia desde uma

pequena bolha at formas graves e capazes de desencadear respostas sistmicas

proporcionais sua extenso e sua profundidade (ANDRADE; LIMA;

ALBUQUERQUE, 2010; GHANIM; RIZKALLAH; SAID, 2013).

As queimaduras podem gerar leses traumticas graves que levam

deformidades, invalidez e at a morte. Aproximadamente 195 mil mortes so

atribudas diretamente queimaduras em todo o mundo e a maior parte delas

(95%) ocorrem em pases subdesenvolvidos, onde os programas de preveno a

queimaduras ainda so primrios (WANG et al., 2015). Um estudo de reviso sobre

tratamentos de queimaduras em pases de mdia e baixa renda demonstrou que

cerca de 80% dos pases tm a capacidade de oferecer os cuidados iniciais bsicos

para toda a populao. Porm, a minoria destes so capazes de fornecer

tratamentos avanados (GUPTA et al., 2014).

De acordo com a gravidade e profundidade da leso, as queimaduras podem

ser classificadas em primeiro, segundo e terceiro grau (Figura 2). Quando apenas

a epiderme acometida, caracteriza a queimadura de primeiro grau ou superficial,

apresentando eritema, dor intensa e vermelhido. Porm, no h formao de

bolhas e alteraes hemodinmicas, ocorre regenerao completa da pele e no

deixam sequelas. As queimaduras de segundo grau so caracterizadas por serem

leses drmicas com espessura parcial e apresentam flictenas, visando conter a

perda de gua e sais minerais. So divididas em superficiais e profundas

(FERREIRA et al., 2003; NOWAK, 2012).

25

As superficiais so aquelas que envolvem a epiderme e a poro superficial

da derme, sendo que as glndulas sebceas e sudorparas so conservadas. Os

sintomas so semelhantes com os da queimadura de primeiro grau incluindo o

aparecimento de bolhas, aparncia mida da leso e no costumam deixar cicatriz

no local. As profundas so aquelas que afetam quase toda a poro drmica, sendo

semelhantes s de terceiro grau. H o risco de destruio das terminaes

nervosas da pele, porm so menos dolorosas que as superficiais. Nesses tipo de

queimadura comum o surgimento de cicatriz (FERREIRA et al., 2003; NOWAK,

2012).

Por fim, as queimaduras de terceiro grau, as quais, so caracterizadas por

serem as mais profundas, acometem toda a derme e atingem o tecido subcutneo,

causando a destruio total de nervos, folculos pilosos, glndulas sudorparas,

vasos sanguneos e ainda podem alcanar msculos e estruturas sseas. As

leses causadas por esse tipo de queimadura so esbranquiadas, secas,

indolores e levam a deformao da regio afetada, que no se curam sem

procedimentos cirrgicos, necessitando de enxertos (NOWAK, 2012).

Figura 2: Representao esquemtica dos tipos de queimaduras na pele.

Fonte: Disponvel em: Acesso em: 22 de novembro de 2016.

Os tratamentos das queimaduras implicam no somente em cirurgias de

enxertia de pele precoces, mas tambm em controlar e orientar a regenerao

26

cicatricial. Um dos recursos que est sendo utilizado para este fim a utilizao de

lasers de baixa potncia, que uma tcnica de fototerapia que envolve a aplicao

de luz monocromtica e corrente de baixa energia que apresenta capacidade para

induzir a cicatrizao de leses na pele (ANDRADE; LIMA; ALBUQUERQUE,

2010). Todos os procedimentos voltados para o tratamento de queimaduras tem

como objetivo evitar infeces por agentes externos, amenizar a dor e realizar o

reparo cicatricial da leso com eficcia e rapidez. Porm, a cicatriz continua a ser

o maior problema para os centros de queimadura, contribuindo para resultados

fsicos e psicolgicos negativos. Por isso, de grande interesse a busca por novas

formulaes que possam ser usadas como agentes cicatrizantes e antimicrobianos,

que atuem acelerando a dinmica cicatricial, alm de possibilitar um tratamento

eficaz, de maior conforto e breve retorno normalidade da vida do paciente

(BRUNO et al., 2013; GHIEH et al., 2015; GEE KEE et al., 2015).

3.3. Cicatrizao

A cicatrizao de leses cutneas um acontecimento fisiolgico complexo

concebido no s para restaurar a funo mecnica da pele e sua homeostase,

mas tambm para reduzir o risco de infeco e ainda mais complicaes, como

consequncias sistmicas (GAINZA et al., 2015). O reparo cicatricial

caracterizado por uma sequncia de eventos biolgicos que envolvem a

organizao de clulas, sinais qumicos e matriz extracelular em um processo

dinmico, harmnico e identificado pelo tipo de clula predominante (ZAMAN et al.,

2011).

Cicatrizao um processo de restaurao da integridade fsica interna e

externa das estruturas do corpo e compreende complexas interaes entre as

clulas e vrios outros fatores. um processo dinmico e complexo, composto de

trs fases: inflamao, proliferao e remodelao dos tecidos (SENGUPTA et al.,

2015). A fase inflamatria ou exsudativa, inicia-se logo aps a leso e encerra no

quarto ou quinto dia, incluindo as etapas de hemostasia, migrao de leuccitos e

incio da cascata de reparao tecidual, tendo como objetivo remover tecidos

desvitalizados. Em resposta a agentes inflamatrios, ocorre a diminuio do fluxo

sanguneo pela vasoconstrio para preveno de perda sangunea. As plaquetas

27

ativam processos bioqumicos, liberam mediadores da inflamao, fatores de

crescimento e glicoprotenas adesivas que constituem a matriz celular que auxiliam

no recrutamento das clulas inflamatrias no reparo da leso (ANDRADE; LIMA;

ALBUQUERQUE, 2010; ISAAC et al., 2010).

Aps esse procedimento, neutrfilos, moncitos, macrfagos e plaquetas

so atrados para o local da leso para realizar a fagocitose e degradao de

colgeno e elastina. Nesta fase, o macrfago a clula mais importante, pois

estabiliza a ferida e realiza a limpeza da rea lesionada por meio da fagocitose de

bactrias e tecido necrosado, direcionando o desenvolvimento do tecido de

granulao e preparando a rea para a prxima fase da reparao tecidual

(ROCHA JR et al., 2006; ANDRADE; LIMA; ALBUQUERQUE, 2010; ISAAC et al.,

2010).

A segunda fase do processo de cicatrizao a fase proliferativa, que

responsvel pela formao do tecido de granulao e dividida em trs subfases:

reepitelizao, fibroplasia e angiognese. Durante a reepitelizao ocorre a

migrao de queratincitos do leito da ferida e dos anexos epiteliais. A fibroplasia

a proliferao de fibroblastos, os quais produzem elastina, fibronectina,

glicosaminoglicanas e proteases, que so responsveis pelo desbridamento

(remoo de tecidos desvitalizados para preparar o leito da ferida para a cobertura

definitiva) e remodelamento fisiolgico. Os fibroblastos tambm so responsveis

pela produo de colgeno que conferem fora e integridade ao tecido. A ltima

etapa da fase proliferativa a angiognese que consiste na formao de novos

vasos sanguneos que daro suporte formao da nova matriz, sendo essencial

para a nutrio e a oxigenao do novo tecido que est sendo formado

(MANDELBAUM; DISANTIS; MANDELBAUM, 2003; ROCHA JR et al., 2006;

ANDRADE; LIMA; ALBUQUERQUE, 2010; ISAAC et al., 2010).

A ltima fase do processo a de maturao ou remodelao, onde ocorre a

substituio do colgeno tipo 3 pelo tipo 1, absoro de gua e diminuio do

nmero de vasos. a fase mais longa da cicatrizao, podendo durar meses ou

anos. Durante essa fase, o tecido de granulao retrocede, o colgeno depositado

se remodela e uma cicatriz com maior fora de tenso se forma, devido ao

cruzamento de diferentes padres das fibras de colgeno, sendo este o

28

responsvel pela fora e integridade do reparo. Esses elementos extracelulares,

principalmente o colgeno, comprimem de maneira mecnica as paredes recm-

formadas e delicadas dos capilares sanguneos, diminuindo o nmero de

fibroblastos ativos e a formao de novos vasos (BALBINO; PEREIRA; CURI, 2005;

ANDRADE; LIMA; ALBUQUERQUE, 2010; ISAAC et al., 2010; BOATENG et al.,

2015).

Devido complexidade patolgica e fisiolgica do processo de cicatrizao,

a perfeita regenerao dos tecidos difcil de ser alcanada. Portanto, necessrio

a avaliao de novos tratamentos, bem como, o uso de novas estratgias

relacionadas com a incorporao de frmacos sintticos ou produtos naturais em

sistemas versteis, que promovam a acelerao do processo de reparo cicatricial

de maneira eficaz e segura, alm do fato que esses sistemas devem ser eficazes

em todas as fases de cicatrizao, visto que, cada fase apresenta uma

caracterstica.

3.4. Produtos tecnolgicos usados para o tratamento de queimaduras

A sulfadiazina de prata na forma de cremes e/ou pomadas, bem como,

impregnada em gazes considerada o padro ouro para o tratamento de

queimaduras, pois o produto mais utilizado no tratamento no cirrgico dessa

enfermidade, principalmente em casos de 1 grau e 2 grau superficial. No entanto,

os produtos derivados dessa substncia apresentam algumas limitaes, como por

exemplo, so formulaes opacas e no biodegradveis, necessitando de trocas

dirias. Dessa forma, necessrio o desenvolvimento de novas formulaes e

produtos tecnolgicos para o tratamento das leses causadas por queimaduras

(HERMANS, 2007; SERAFINI et al., 2014).

A busca por formulaes que atuem acelerando a dinmica cicatricial e

possibilitando um tratamento eficaz que possam trazer maior conforto e breve

retorno a qualidade da vida do paciente, tem sido cada vez maior. Vrios materiais

como o alginato, quitosana, colgeno, celulose, gelatina e formulaes como os

hidrogis, hidrocolides e pelculas transparentes so recomendadas como

curativos passivos para feridas e queimaduras, devido sua influncia na resposta

29

celular local (WANG et al., 2012; JIN et al., 2013; MOGOSANU; GRUMEZESCU,

2014). Alguns estudos relatam que vrias formulaes, como as citadas acima,

apresentam capacidade de atuar na teraputica da cicatrizao de queimaduras,

exibindo diferentes aes, tais como: angiognese, inflamao, fibroplasia,

epitelizao e formao de colgeno (NUNES et al., 2011; KANOKPANONT et al.,

2012; WANG et al., 2012; DE ALMEIDA et al., 2013).

Devido aos diferentes tipos de queimaduras e suas profundidades, produtos

especficos que atendam s necessidades e fisiologia de cada caso devem ser

utilizados para tratar as consequncias funcionais e estticas das leses. As

crescentes pesquisas nesta rea que tem como o objetivo aperfeioar os produtos

usados como recurso teraputico e o desenvolvimento de novos tratamentos com

princpios naturais e sintticos, esto melhorando o prognstico dos pacientes

queimados (DE MELO COSTA et al., 2015). Algumas patentes de produtos

produzidos a partir de compostos naturais apresentam potencial para o tratamento

de queimaduras, pois so capazes de acelerar o reparo tecidual, diminuir a dor e a

inflamao, aumentar a sntese de fibroblastos e otimizar a regenerao da pele

(SERAFINI et al., 2014; DE MELO COSTA et al., 2015).

Nos ltimos anos, crescente em centros mdicos e grupos de pesquisa o

uso e desenvolvimento de novos produtos que atuem nos tecidos lesados por

queimaduras. Os curativos tm uma grande variedade de formulaes e

componentes, que podem apresentar atividade anti-sptica, biolgica e/ou possuir

prata na sua composio, como por exemplo, o ActicoatTM, que funciona como uma

membrana de polietileno de alta densidade e revestida de prata nanocristalina que

atua revestindo a regio da pele afetada por queimaduras, protegendo da

contaminao bacteriana e favorecendo a cicatrizao (WANG; KRAVCHUK;

KIMBLE, 2010; SERAFINI et al., 2014).

Alguns curativos podem apresentar ao de ocluso na leso, tais como: o

BiobraneTM, que uma membrana de silicone com nylon ligado peptdios do

colgeno drmico, substituto temporrio da pele curto prazo, por ser

semipermevel, flexvel e com boa aderncia; e o TegadermTM, uma membrana

sinttica que proporciona a formao de uma camada protetora no local lesado,

controlando a reduo de perdas proticas e a diminuio da contaminao e

30

proliferao bacteriana (WANG; KRAVCHUK; KIMBLE, 2010; SERAFINI et al.,

2014).

Alm dos produtos citados, podemos destacar o DuoDermeTM, membrana

impermevel que funciona como curativo hidroativo, ou ainda o CollatampFacieTM,

membrana de colgeno tipo I derivada de tendo de Aquiles de bovinos que pode

ser utilizada como um equivalente epidrmico temporrio (MENDES JUNIOR;

VITERBO; ROSA, 2007). Outros produtos tambm so comercializados para o

tratamento das leses causadas por queimaduras, tais como: Aquacel AgTM,

Mepilex AgTM, Actisorb AgTM. Alm desses, existem diversos produtos base de

biomateriais que so utilizados e comercializados para o tratamento de

queimaduras, demonstrando que o mercado de biomaterias est em constante

crescimento e favorvel para a populao, pois so produtos que apresentam

eficcia teraputica (CASSIDY et al., 2005; CARUSO et al., 2006; KHUNDKAR;

MALIC; BURGE, 2010; RIGO et al., 2012; SELCUK et al., 2012).

Alguns estudos desenvolveram membranas produzidas a partir de gelatina,

pectina, colgeno, goma xantana, entre outros componentes. Os resultados obtidos

mostram, que as membranas so geralmente biodegradveis e biocompatveis, e

funcionam como uma matriz filmognica para os princpios ativos que podem atuar

no processo de cicatrizao. Estas membranas tm sido foco de diversas

pesquisas cientficas e da indstria farmacutica, pois so completamente

absorvidos pela pele, formando uma matriz sobre a queimadura que funciona como

uma rede de apoio para a proliferao celular e neoformao da vascularizao.

Assim, eles agem eficientemente em vrias fases do processo de cicatrizao

(AYMAN et al., 2011; JIN et al., 2013; DE MELO COSTA et al., 2015).

3.5. Biomateriais

O tratamento de queimaduras considerado desafiador devido gravidade

dos sintomas que as leses podem causar. Diversos fatores locais e sistmicos

interferem e retardam a cicatrizao e, por isso, a reparao tecidual tem chamado

ateno de pesquisadores em busca de mtodos teraputicos que possam

solucionar ou minimizar as falhas nesse processo (ANDRADE; LIMA;

ALBUQUERQUE, 2010). Os avanos na tecnologia e na compreenso desse tipo

31

de leso impulsionaram o desenvolvimento de diversos curativos e alternativas de

tratamento. Os curativos atualmente disponveis podem ser classificados em

diferentes tipos, com base nos materiais utilizados para a sua fabricao, podendo

incluir: filmes, membranas, sprays, hidrocolides, hidrogis, entre outros

(GENUINO et al., 2014).

A bioengenharia tecidual um campo multidisciplinar que envolve a

aplicao de princpios e mtodos da engenharia e das cincias da sade para

assistir e acelerar a regenerao e o reparo de tecidos defeituosos ou danificados.

A busca por biomateriais disponveis para a medicina regenerativa cada vez maior

e novos materiais tm sido desenvolvidos, alegando vantagens sobre os j

existentes. A escolha do biomaterial vai depender da aplicao pretendida, porm

a maioria deles deve apresentar boa biocompatibilidade e uma microestrutura

porosa apropriada para facilitar a infiltrao celular, proliferao e diferenciao

(NELL et al., 2012).

Na comunidade cientfica de biomateriais e reas relacionadas a engenharia

de tecidos e medicina regenerativa, um biomaterial definido como uma substncia

produzida para adquirir uma forma, que por si s, ou fazendo parte de um sistema

complexo, atravs do controle da interao com os componentes do sistemas vivos,

utilizada para direcionar o curso de qualquer procedimento teraputico ou

diagnstico. Em outras palavras, um biomaterial utilizado para substituir ou

auxiliar a funo do tecido enquanto est em contato com ele, seja interna ou

externamente (CHEN; LIANGA; THOUAS, 2013).

O progresso da cincia dos materiais foi concomitante com o rpido

desenvolvimento de outros campos, como a biologia molecular e a nanotecnologia,

produzindo uma revoluo no uso dos biomateriais, os quais, foram submetidos a

aplicaes em diversas reas da pesquisa. Existe uma gama de biomateriais

disponveis, porm, a sua utilizao com eficcia e segurana ainda um desafio,

pois podem ocasionar reaes adversas no corpo humano. (EKDAHL et al., 2011;

DAS; BAKER, 2016).

Holzapfel e colaboradores (2013), classificaram os biomateriais em trs

tipos: Inertes, bioativos e bioabsorvveis. Os inertes so os biomateriais mais

32

rgidos, no absorvveis, capazes de provocar nenhuma ou mnima reao tecidual

aps sua aplicao. Os bioativos possibilitam a ligao do biomaterial ao tecido do

hospedeiro, melhorando a migrao do material atravs da estimulao do

crescimento de um novo tecido. Os bioabsorvveis so inicialmente incorporados

dentro do tecido e caracterizados como tempo-dependentes, ou seja, so

completamente absorvidos com o tempo (HOLZAPFEL et al., 2013).

Dentre os biomateriais, podemos destacar os polmeros, os quais, podem

ser sintticos ou naturais. Os sintticos so degradados por eroso em massa e

hidrlise de ligaes de ster e o tempo de degradao pode variar de semanas

anos. So exemplos: polietileno, poli(lcool vinlico), polimetilmetacrilato (PMMA),

polidimetilsiloxano, poli(etileno tereftalato), poli(cido gliclico), poli(cido ltico),

poli(xido de etileno), e poli(-caprolactona). Alguns desses polmeros so usados

como materiais de suturas e alguns fixadores ortopdicos de ligamentos e tendes

(MENDES JUNIOR; VITERBO; ROSA, 2007; JIN et al., 2013).

Os polmeros naturais ou biopolmeros so formados na natureza durante o

ciclo de crescimento de todos os organismos. A sntese desses polmeros envolve

enzimas catalisadoras, reaes de crescimento de cadeias ativando monmeros,

que caracterizam processos metablicos complexos dentro de clulas. Dentre

esses, destacam-se: alginato, amido, quitosana, cido hialurnico, colgeno,

gelatina, casena e heparina. Esses polmeros possibilitam o desenvolvimento de

inmeros produtos na engenharia de materiais e de tecidos e na rea mdica, pois

apresentam arquitetura celular que atua como suporte mecnico para construo

de novos tecidos in vitro ou in vivo, assim como, possibilita a incorporao de

substncias ativas em sua estrutura protica. Portanto, devem apresentar

caractersticas fsico-quimicas bem definidas e adequadas para cada fim

individualmente (MENDES JUNIOR; VITERBO; ROSA, 2007; JIN et al., 2013).

Dentre as formulaes derivadas de biomateriais, podemos ressaltar as

membranas bioativas, as quais, se apresentam como preparaes finas, flexveis,

transparentes (permitindo a visualizao do processo de regenerao cutnea),

permeveis ao vapor de gua, oxignio e impermeveis bactrias. So indicadas

para o tratamento de queimaduras, leses ps-operatria e feridas menores

incluindo abrases e laceraes. Os hidrogis e hidrocolides tambm so

33

amplamente utilizados, principalmente para o tratamento clnico de feridas crnicas

e leses causadas por queimaduras e geralmente, so constitudos de alginato e/ou

glicerina (JEANES; BITMEAD, 2015; DAS; BAKER, 2016).

Segundo Jayakumar e colaboradores (2011), um curativo ideal se comporta

como substituto da pele e utilizado para encobrir a leso e ajudar na cicatrizao,

fornecendo um formato estrutural para o tecido subjacente, induzindo a

neoformao vascular, permitindo trocas gasosas, impedindo a proliferao de

microrganismos, controlando o excesso de exsudato, enquanto mantm o ambiente

mido. Alm disso, precisa ser no aderente, facilmente removido e deve

apresentar propriedades antialrgicas, no txicas, bem como, promover a

cicatrizao da leso (JAYAKUMAR et al., 2011).

As prticas teraputicas que utilizam como base materiais de origem natural

tm ganhado destaque devido s diversas caractersticas favorveis ao processo

de reparao cicatricial, bem como biocompatibilidade, biodegradabilidade e

algumas estruturas semelhantes pele humana. A biocompatibilidade a

capacidade de ao de um biomaterial no momento da realizao de uma aplicao

especfica que consiste na preservao de elementos celulares do sangue, no

provocar respostas imunes e no induzir carcinogenicidade ou mutagenicidade.

Alm disso, devem apresentar propriedades biomecnicas capazes de

corresponder s solicitaes dinmicas e estticas que estaro sujeitas

(BOATENG et al., 2015).

Entretanto, devido necessidade de trocas frequentes e fabricao no

nacional de alguns destes produtos, o custo para a utilizao dos mesmos

elevado, tornando-os pouco acessveis populao de baixa renda e

economicamente inviveis para utilizao em larga escala nas Unidades de Terapia

de Queimados (DARGAVILLE et al., 2013; BANYARD et al., 2015). Assim, um dos

grandes desafios das pesquisas na rea de reparao tissular consiste no

desenvolvimento de produtos base de biomateriais que apresentem as

caractersticas adequadas ao tratamento e que sejam produzidos a partir de

matrias-primas de baixo custo e fcil obteno (DANTAS et al., 2011; GHIEH et

al., 2015; NUNES et al., 2016).

34

3.6. Gelatina

Um dos biomateriais amplamente utilizado na engenharia de tecidos a

gelatina, que uma protena obtida por hidrlise do colgeno. A desnaturao a

partir da tripla-hlice do colgeno resulta na formao de polieletrlitos carregados.

Em soluo, estes polieletrlitos podem interagir com molculas de carga oposta

para formar complexos poli-inicos que permitem a adeso de fatores de

crescimento (AHMAD et al., 2012; BOATENG et al., 2015).

Dois tipos de gelatina podem ser produzidos dependendo do tipo de

extrao. A gelatina tipo A, que obtida a partir da pele de porco, por meio de um

pr-tratamento cido, antes do processo de extrao e a tipo B, extrada por meio

de hidrlise bsica, de ossos de origem bovina (PEREZ et al., 2013). importante

ressaltar, que existe uma fonte alternativa para obteno de gelatina: a pele de

peixe. Esse tipo de gelatina apresenta ponto de fuso inferior em relao s

protenas obtidas de mamferos, o que pode representar vantagem farmacotcnica

no que tange aos aspectos sensoriais. Contudo, sua produo limitada, por ser

um procedimento de extrao caro em comparao aos outros e dessa forma

corresponde apenas a cerca de 1% do mercado de produo de gelatina (YOUNG,

2005; BORAN; REGENSTEIN, 2010; BOATENG et al., 2015).

A gelatina apresenta destaque por suas propriedades biocompatveis,

biodegradveis e no txicas. Sua utilizao nas indstrias cosmtica,

farmacutica e alimentcia, garantiu seu reconhecimento como um material

Generally Regarded As Safe (GRAS) pelo Food and Drug Administration (FDA).

Cerca de 350 mil toneladas de gelatina so produzidas por ano, que movimentam

um mercado de 2 bilhes de dlares (BORAN; REGENSTEIN, 2010; ELZOGHBY,

2013; PEREZ et al., 2013; BOATENG et al., 2015).

Alm disso, a gelatina um polmero natural que no apresenta

antigenicidade, reabsorvvel in vivo e devido presena de um grande nmero

de grupos funcionais na cadeia lateral, pode ser facilmente modificada para formar

materiais quimicamente reticulados, sendo que, apresenta propriedades versteis,

como excelente capacidade de formao de pelculas, permite a incorporao de

elementos ativos em sua estrutura, proporciona hemostasia e assim, facilita a

adeso e proliferao celular durante a cicatrizao. No entanto, as fracas

35

propriedades mecnicas tem sido descritas como algumas das desvantagens deste

biomaterial, mas essas limitaes so geralmente minimizadas com a reticulao

ou combinao de outros polmeros ou a adio de agentes plastificantes, como o

propilenoglicol (CURCIO et al., 2010; PEREZ et al., 2013; BOATENG et al., 2015).

Um estudo proposto por Perez e colaboradores (2013) relata a utilizao de

matrizes inteligentes para a engenharia de tecidos com a incorporao de

compostos bioativos em membranas de gelatina, de modo que esses compostos

possam ser liberados para atuar diretamente na pele lesionada (PEREZ et al.,

2013). Adicionalmente, outros autores sugerem que este produto favorece a

proliferao de fibroblastos, promove a cicatrizao e dessa forma pode ser

utilizada como matriz de uma formulao para o tratamento de queimaduras

(CAVALCANTE et al., 2011; NUNES et al., 2016).

3.7. cido snico

Os lquens so seres vivos resultantes da simbiose entre um fungo

(micobionte) e uma alga ou cianobactria (fotobionte). Podem ser encontrados

desde o nvel do mar at as montanhas mais altas e desta forma cada regio

apresenta organismos simbiticos diferentes com componentes especficos

prprios em resposta a sua condio ambiental. Mais de 17 mil espcies e mais de

800 produtos secundrios de lquens so conhecidos (MARTINELLI et al., 2014).

A produo de metablitos secundrios derivados de lquens, denominados

substncias ou cidos liqunicos, tm sido considerada valiosa devido s suas

atividades biolgicas e por isso, fonte de muitos estudos na medicina tradicional.

Dentre eles, o cido snico (AU) (Figura 3), desde o seu primeiro isolamento, em

1844, tornou-se o metablito liqunico mais estudado, pois este composto natural

apresenta grande potencial teraputico (ARAJO et al., 2015; NITHYANAND et al.,

2015).

36

Figura 3: Estrutura qumica do AU (C18H16O7; massa molar: 344,31 g/mol).

Fonte: Adaptado de ARAJO et al., 2015.

O AU exibe propriedades redox-ativas variveis, atuando como um agente

antioxidante e pr-oxidante, de acordo com as diferentes condies do sistema e

do ambiente celular (RABELO et al., 2012). Carvalho e colaboradores

demonstraram que o AU apresenta atividade antiprotozoria contra o Trypanosoma

cruzi, pois esse composto foi eficaz no combate das formas epimastigota e

tripomastigota desse agente etiolgico (DE CARVALHO et al., 2005). A atividade

antiviral do AU contra o poliomavrus e influenza A (H1N1) foi relatada por

Campanella et al. (2002) e Sokolov et al. (2012), respectivamente, confirmando que

essa molcula pode ser utilizada para o tratamento de infeces virais.

O AU apresenta atividade larvicida contra o Aedes aegypti, evitando a

transmisso da dengue, que uma doena viral causada pelo flavivrus, o qual,

transmitido pelo mosquito Aedes aegypti (BOMFIM et al., 2009). Diversos estudos

comprovaram a atividade antitumoral do AU em clulas humanas, tais como MCF-

7 (adenocarcinoma da mama), HeLa (adenocarcinoma do colo do tero) e HCT-

116 (carcinoma do clon) (SONG et al., 2012; BAKOROV et al., 2012;

BRISDELLI et al., 2013). O AU eficaz na proteo contra a radiao ultravioleta

(UV) e em baixas concentraes pode ser utilizado como ativo no preparo de filtros

solares (KOHLHARDT-FLOEHR et al., 2010).

37

A atividade do AU frente Candida orthopsilosis e Candida parapsilosis foi

investigado por Pires e colaboradores (2012). Os resultados apresentados neste

estudo foi o primeiro relato do AU mostrando atividade inibitria e fungicida (in vitro)

(PIRES; LUCARINI; MENDES-GIANNINI, 2012). Vijayakumar e colaboradores

(2000), demonstraram que o AU apresenta atividade anti-inflamatria dose-

dependente, empregando os modelos agudos e crnicos em roedores

(VIJAYAKUMAR et al., 2000).

No que diz respeito atividade antimicrobiana do AU, Karabacak e

colaboradores (2014), desenvolveram um sistema coloidal utilizando baixas

concentraes de AU e comprovaram sua ao contra diversos microrganismos,

tais como Staphylococcus aureus, Enterococcus faecalis, Escherichia coli,

Pseudomonas aeruginosa, Salmonella typhimurium e Klebsiella pneumonia

(KARABACAK; TAYA; KIVAN, 2014). Micropartculas polimricas carregadas de

AU revelaram eficcia contra Staphylococcus epidermidis e grande potencial para

a confeco de curativos para tratamento de feridas infectadas (MARTINELLI et al.,

2014).

O potencial do AU como agente cicatrizante de leses drmicas foi descrito

na literatura cientfica, sendo o mecanismo de ao correlacionado com a sua

capacidade para estimular a motilidade celular e como um promotor na

regenerao de tecidos, acelerando a migrao celular (JIN; DONG; HE, 2005).

Bruno e colaboradores (2013) atravs de ensaios in vitro e in vivo, apresentaram

resultados consistentes sobre a baixa citotoxicidade e a alta propriedade

cicatrizante do AU. Outros estudos avaliaram o efeito cicatrizante do AU

incorporado em membranas de colgeno em roedores e do AU incorporado em

membranas de gelatina em porcos e comprovaram que o AU apresenta eficcia

para o tratamento e cicatrizao de leses na pele causadas por queimaduras

(NUNES et al., 2011; NUNES et al., 2016).

Como demonstrado anteriormente, o AU apresenta propriedades

promissoras no tratamento de queimaduras, devido principalmente sua atividade

antimicrobiana, anti-inflamatria e cicatrizante. Contudo, essas atividades

teraputicas tornam-se limitadas, pois esse metablito liqunico possui

caractersticas fsico-qumicas desfavorveis, como baixa solubilidade em gua.

38

Outro problema sua alta hepatotoxicidade, que impede a sua administrao por

via oral, limitando sua aplicao teraputica (FRANCOLINI et al., 2013). Sendo

assim, produtos insolveis e/ou txicos devem ser veiculados atravs de um

sistema de liberao capaz de otimizar a dose teraputica, minimizar a ocorrncia

de efeitos txicos e viabilizar a administrao do composto em uma formulao que

melhore sua solubilidade, como exemplo: os sistemas lipossomais (VENTURINI et

al., 2015; PEREZ et al., 2016).

3.8. Lipossomas

Nanotecnologia uma definio para as tcnicas, materiais e dispositivos

que atuam em escala nanomtrica, ou seja, estruturas que mantm forma e

tamanho situados entre 1 a 999 nanmetros (nm). Representa uma das tecnologias

mais promissoras do sculo XXI e tem sido considerada como a nova revoluo

industrial em diversas reas da pesquisa (PAPAKOSTAS et al., 2011). A tecnologia

em nanoescala tm atrado muita ateno pela expectativa do impacto que

materiais nanoestruturados podem causar na veiculao de novos produtos,

proporcionando uma forma de dosagem de frmacos mais adequada, bem como,

melhorando sua penetrao nas clulas e liberao direta nos tecidos alvos

(FERREIRA; RANGEL, 2009).

Nos ltimos anos, com os avanos das pesquisas cientficas, a

nanotecnologia tem sido bastante empregada no tratamento e preveno de

doenas. Os sistemas nanoestruturados, sejam eles nanopartculas lipdicas,

polimricas ou lipossomas, apresentam benefcios para a incorporao de

frmacos, tais como: protegem as substncias contra agentes externos, aumentam

a estabilidade e a biodisponibilidade de formulaes e apresentam a capacidade

de promover a liberao controlada de frmacos (VENTURINI et al., 2015; PEREZ

et al., 2016).

Os lipossomas so estruturas vesiculares formadas por uma ou mais

bicamadas concntricas de lipdios intermediadas por compartimentos aquosos.

Estes sistemas possuem natureza anfiflica, elevada biocompatibilidade e

biodegradabilidade (Figura 4). Alm disso, podem ter seu tamanho, composio

lipdica/aquosa e propriedades de superfcie facilmente modificadas. Estas

39

caractersticas tornam os lipossomas sistemas altamente versteis, atuando como

nanocarreadores, capazes de transportar frmacos pouco solveis em gua, de

forma a aumentar a biodisponibilidade e propiciar sua administrao (DIMER et al.,

2013).

Figura 4: A: Estrutura bsica dos lipossomas. B: Representao esquemtica da

incorporao de frmacos hidrofbicos e hidroflicos nos lipossomas.

Fonte: Disponvel em: Acesso: 23 de novembro de 2016.

A natureza anfiflica dos lipossomas permitem que eles sejam capazes de

encapsular substncias hidroflicas e/ou lipoflicas simultaneamente, sendo que, as

hidroflicas ficam depositadas no compartimento aquoso e as lipoflicas se inserem

na bicamada lipdica. Os lipossomas so capazes de proteger o frmaco da

degradao e reduzir sua toxicidade. Podem ser produzidos e formulados para

realizar a distribuio especfica do composto no tecido alvo e realizam a liberao

controlada do ativo encapsulado (BOZZUTO; MOLINARI, 2015; PANDEY; RANI;

AGARWAL, 2016).

Os lipossomas so basicamente constitudos por fosfolipdios que podem ser

de origem natural ou sinttica e representam os principais componentes das

40

membranas celulares. A porcentagem molar de fosfolipdios varia de 55 a 100%

dos componentes lipossmicos totais. Os lipdios mais utilizados no preparo de

lipossomas so os que apresentam forma cilndrica, como a fosfatidilcolina,

fosfatidilserina, fosfatidilglicerol e esfingomielina. Esses lipdios tendem a formar

uma bicamada estvel em meio aquoso. Porm, dentre estes, a fosfatidilcolina a

mais empregada em formulaes de lipossomas, pois apresentam grande

estabilidade em casos de variaes de pH ou da concentrao de sal no meio (JING

et al., 2015; PANDEY; RANI; AGARWAL, 2016). O colesterol o componente

principal adicionado nas formulaes de lipossomas para estabilizar a bicamada

lipdica. Alm disso, podem ser utilizados para aumentar a fluidez, elasticidade e

permeabilidade dos lipossomas (MAGARKAR et al., 2014).

A classificao dos lipossomas pode ser determinada com base no tamanho

e no nmero de camadas de fosfolipdios. So classificados em: vesculas

multilamelar (MLV), vesculas unilamelar pequena (SUV) e vesculas unilamelar

grande (LUV) (Figura 5). As MLV, so lipossomas compostos por uma srie de

bicamadas fosfolipdicas concntricas separadas por fase aquosa. So grandes em

tamanho, podendo medir at 5 m. As SUV so constitudas por um compartimento

aquoso fechado por uma nica bicamada lipdica. O tamanho destes lipossomas

variam de 20-100 nm. As LUV tambm so compostas de uma nica bicamada

lipdica que circunda o compartimento aquoso, porm, o tamanho destes

lipossomas so maiores que as SUV, variando de 100-250 nm (AKBARZADEH et

al., 2013; PATTNI et al., 2015; PANDEY; RANI; AGARWAL, 2016).

41

Figura 5: Classificao dos tipos de lipossomas.

Fonte: Adaptado de PANDEY; RANI; AGARWAL, 2016.

Existem vrios mtodos para o preparo de lipossomas, tais como: remoo

de solvente, remoo de detergente, remoo de emulso e injeo de etanol. O

mtodo de preparo influencia as propriedades dos lipossomas, incluindo a sua

forma, tamanho, estabilidade e eficincia de carregamento do frmaco. O mtodo

de remoo de solvente o mtodo mais comum e o primeiro descrito para

produo de lipossomas. Resumidamente, os lipdios so dissolvidos em mistura

de clorofrmio e/ou metanol na concentrao de 10-20 mg.mL-1, dependendo da

solubilidade. O solvente removido pela tcnica de rotaevaporao sob presso

reduzida para produzir uma fina pelcula de lipdios, denominada de filme

fosfolipdico. Este submetido a secagem durante o tempo necessrio, seguida por

hidratao com soluo aquosa (LAOUINI et al., 2012; AKBARZADEH et al., 2013;

BOZZUTO; MOLINARI, 2015).

Alguns estudos j utilizaram o AU encapsulado em lipossomas. Lira e

colaboradores (2009) observaram que o uso do complexo AU/lipossomas pode ser

uma estratgia alternativa para superar a baixa solubilidade do AU em gua e

manter a sua atividade antimicrobiana (LIRA et al., 2009). Nunes e colaboradores

(2011), demonstrou que o AU encapsulado em lipossomas e incorporado em

membranas de colgeno, apresenta atividade cicatrizante, sendo eficaz para o

tratamento de queimaduras (NUNES et al., 2011). Ferraz-Carvalho e colaboradores

42

(2016), avaliaram o efeito o AU/lipossomas contra o Mycobacterium tuberculosis

(agente etiolgico da tuberculose) e demonstraram que o AU incorporado em

lipossomas pode ser utilizado como uma forma de dosagem para melhorar a

atividade antimicobacteriana da rifampicina, que um frmaco de primeira escolha

para o tratamento de infeces causadas pelo M. tuberculosis (FERRAZ-

CARVALHO et al., 2016). De acordo com esses estudos, a incorporao do AU em

sistemas lipossomais melhoram suas propriedades fsico-quimicas e eficcia

farmacolgica.

43

4. Material e mtodos

4.1. Material

Para o preparo das membranas de gelatina foi empregado gelatina em p

(fornecedor NP produtos alimentcios LTDA), propilenoglicol (Proquimios) e cido

actico (Neon). Para o preparo dos lipossomas, utilizou-se o lipdio fosfatidilcolina

(Lipoid GMBH), (+)- cido snico (C18H16O7, pureza 98%, Sigma-Aldrich) e

clorofrmio (Dinmica). Dimetilsulfxido (Sytnh) e tampo fosfato pH 7,4

(Neon) foram utilizados como meios de dissoluo para as membranas. Metanol

(HPLC gradient grade, Sigma-Aldrich) e gua ultrapura (milli-q system, millipore)

foram utilizados como fase mvel para os procedimentos analticos.

4.2. Preparo das membranas

As membranas de gelatina contendo AU incorporado em lipossomas

(Memb/AU/Lip) foram preparadas de acordo com o mtodo descrito por NUNES e

colaboradores (2016). Inicialmente, preparou-se a soluo de gelatina, contendo

1 g de gelatina em p, 60 mL de cido actico (0,5 mol/L) e 0,2 g de propilenoglicol

(agente plastificante). Essa soluo foi submetida agitao magntica durante 24

horas.

Os lipossomas foram preparados dissolvendo 250 mg de fosfatidilcolina e 10

mg de AU em 20 mL de clorofrmio. Essa soluo foi sonicada em banho de

ultrassom por 10 minutos e aps esse procedimento, o solvente orgnico foi

evaporado pela tcnica de rotaevaporao sob temperatura de 40 C. Aps a

evaporao do solvente, formou-se um filme fosfolipdico no fundo do balo, o qual,

foi ressuspenso com 40 mL de gua ultrapura e em seguida foi submetido a banho

de ultrassom por 30 minutos, formando uma disperso de lipossomas em meio

aquoso. Aps 24 horas de agitao da soluo de gelatina, verteu-se a soluo dos

lipossomas, mantendo-se sob agitao magntica por mais 24 horas.

As Memb/AU/Lip foram obtidas utilizando o mtodo de casting (NUNES et

al., 2016). Nesse mtodo as disperses aquosas de polmeros so vertidas em

suportes adequados, tais como: superfcies de polietileno ou placas de petri. Dessa

forma, aps s 24 horas de agitao, verteu-se a soluo das membranas em

44

placas de petri de 14 cm de dimetro, as quais, foram depositadas em capela para

a secagem temperatura ambiente.

Membranas de gelatina contendo AU sem lipossomas (Memb/AU) foram

preparadas utilizando a mesma metodologia, com exceo do uso da

fosfatidilcolina para a formao do filme fosfolipdico. Nessa formulao, o AU foi

dissolvido no clorofrmio e adicionado diretamente na soluo de gelatina. Essas

membranas sem lipossomas, ou seja, contendo o AU livre, foram utilizadas como

formulao controle de alguns experimentos, para fins de comparao de

resultados.

4.3. Ensaios de intumescimento

A capacidade de intumescimento das membranas foi avaliada pela tcnica

de imerso (HASANI-SADRABADI et al., 2011). As Memb/AU/Lip foram

fracionadas em rea de 25 cm2 e divididas em dois grupos (A e B). O grupo A foram

imersas em 100 mL de tampo fosfato (pH 7,4) e o B em 100 mL de soro fisiolgico.

As anlises foram determinadas com os meios de imerso temperatura de 37

2 C. Para determinar o grau de intumescimento, as amostras foram inicialmente

pesadas e imersas em recipientes contendo os meios, em diferentes intervalos de

tempo: 0; 0,25; 0,5; 0,75; 1, 2, 4, 6, 8, 10, 12 e 24 horas. Aps cada tempo, as

amostras foram removidas do meio, colocadas em papel filtro para retirar o excesso

de lquido e pesadas novamente. As anlises foram realizadas em triplicata (n= 3)

e a quantidade de lquido adsorvido pelas Memb/AU/Lip foi determinada pela

equao 1.

. (1): = ( )

100

onde, Pu (peso mido) o peso da amostra aps o tempo de imerso no meio e

Ps (peso seco) o peso inicial da amostra.

45

4.4. Desenvolvimento e validao do mtodo analtico para a identificao e

quantificao do AU por CLAE

Para as anlises cromatogrficas, foi preparada uma soluo estoque de AU

(padro; pureza 98%) dissolvido em metanol na concentrao de 200 g.mL-1. A

soluo obtida foi submetida banho de ultrassom por 30 minutos e em seguida,

filtrada em filtros de membrana (PTFE) de 0,45 m. As anlises por CLAE foram

realizadas em um cromatgrafo lquido Shimadzu, equipado com um

degaseificador DGU-20A3, duas bombas LC-20AD, um injetor automtico SIL-20A

HT, um forno CTO-20A, um detector de arranjo de diodos SPDM20Avp, acoplados

a um sistema controlador CBM-20A. As anlises foram determinadas em uma

coluna analtica C18 de fase reversa Phenomenex Luna de 150 x 4,6 mm de

dimetro (5 m tamanho de partcula). O fluxo da fase mvel foi de 1 mLmin-1 e o

volume de injeo da amostra foi de 20 L. Os solventes utilizados na fase mvel

foram: (B) metanol e (A) cido actico (1%) em gua milli-q (v/v). O mtodo

consistiu de um sistema isocrtico de eluio na proporo de 90/10 (B/A) da fase

mvel em um tempo de anlise de 10 minutos (NUNES et al., 2015). O comprimento

de onda para deteco do AU foi de 280 nm e a temperatura do forno foi de 25 C.

Para a identificao do AU nas Memb/AU/Lip, estas foram dissolvidas em 10 mL

de metanol e mantidas sob agitao magntica por 12 horas. A soluo obtida foi

filtrada em filtros de membrana (PTFE) de 0,45 m e analisada por CLAE. O AU

presente nas membranas foi identificado com base no tempo de reteno (TR) e

no espectro de absoro ultravioleta (UV) do AU padro.

O mtodo analtico foi validado de acordo com a Resoluo RE n 899, de

29 de maio de 2003, regulamentada pela ANVISA, que determina a Guia para

validao de mtodos analticos e bioanalticos. Os parmetros utilizados para a

validao foram: linearidade, limite de deteco (LD), limite de quantificao (LQ),

preciso, exatido e robustez (ANVISA, 2003).

4.4.1. Linearidade (Intervalo de calibrao)

A lineariedade do mtodo foi estabelecida atravs da avaliao do

coeficiente de correlao (r) de uma curva de calibrao do AU. A curva foi obtida

46

em cinco concentraes diferentes: 5, 10, 25, 50 e 100 gmL-1. As anlises foram

realizadas em triplicata (n= 3).

4.4.2. Limite de deteco e limite de quantificao

O Limite de deteco (LD) pode ser determinado com base na relao de

que o sinal da substncia analisada 3 vezes maior que o rudo da linha de base

e o limite de quantificao (LQ) com base na relao de 10 vezes maior que rudo

da linha de base (ANVISA, 2003). O LD e LQ foram calculados de acordo com as

equaes 2 e 3, respectivamente.

. (2): = 3

. (3): = 10

onde, DPa o desvio padro do intercepto com o eixo do Y e IC a inclinao da

curva de calibrao.

4.4.3. Preciso

A preciso do mtodo foi avaliada de acordo com a repetibilidade (preciso

intra-dia) e preciso intermediria (preciso inter-dia). A repetibilidade foi

determinada a partir do preparo de 9 amostras do AU na concentrao de

100 gmL-1, realizadas no mesmo dia, com o mesmo analista e instrumentao. A

preciso intermediria foi avaliada com o preparo de 6 amostras do AU na

concentrao de 100 gmL-1 em dois dias diferentes, com analistas e

instrumentao diferentes. Os resultados foram expressos de acordo com o desvio

padro relativo (DPR) das anlises.

4.4.4. Exatido

Para avaliar a exatido do mtodo, realizou-se um teste de recuperao

utilizando o mtodo de adio de padro, o qual, consiste em adicionar quantidades

conhecidas de AU nas solues metanlicas das Memb/AU/Lip. A recuperao foi

determinada adicionando trs amostras de AU em trs diferentes concentraes: 5

(baixa), 50 (mdia) e 100 (alta) gmL-1. Todas as amostras foram analisadas em

47

triplicata (n= 3). As porcentagens de recuperao foram calculadas de acordo com

equao 4 e os resultados tambm foram expressos de acordo com o DPR das

anlises.

. (4): (%) = (. . )

. 100

Onde, a Concentrao experimental a quantidade de AU nas Memb/AU/Lip com

as solues padres adicionadas, a Concentrao terica a quantidade de AU

nas Memb/AU/Lip sem os padres e a Quant. AU adicionada a quantidade de AU

nas trs diferentes concentraes.

4.4.5. Robustez

A robustez foi determinada atravs de pequenas variaes dos parmetros

utilizados no desenvolvimento do mtodo analtico. Os parmetros escolhidos

foram o fluxo da fase mvel e a temperatura do forno o qual a coluna foi aplicada.

O fluxo da fase mvel foi modificado para 0,8; 0,9 e 1,1 mLmin-1 e a temperatura

foi alterada para 20, 30 e 35 C.

4.5. Teor e eficincia de encapsulao do AU nas Memb/AU/Lip

O teor e a eficincia de encapsulao (EE) do AU foram determinados

atravs da dissoluo de segmentos de Memb/AU/Lip com rea de 7 cm2 em 10

mL de metanol, mantidos sob agitao magntica constante (250 rpm) por 12

horas, para permitir que todo AU encapsulado na membrana esteja em soluo.

Em seguida, a soluo obtida foi filtrada em filtros de membrana (PTFE) de 0,45

m e analisadas por CLAE. Os segmentos foram obtidos a partir de trs

Memb/AU/Lip diferentes (A, B e C) e as anlises foram realizadas em triplicata (n=

3). A EE foi calculada de acordo com equao 5, descrita abaixo:

. (5): = 1

2 100

onde, C1 o teor de AU presente nas membranas e C2 a quantidade inicial de

AU utilizado para preparar as Memb/AU/Lip.

48

4.6. Uniformidade de contedo do AU nas Memb/AU/Lip

Para determinar se o AU est distribudo de maneira uniforme ao longo das

Memb/AU/Lip, foram obtidas 11 fraes com rea de 7 cm2, sendo que cada frao

foi dissolvida em 10 mL de metanol e mantida sob agitao durante 12 horas. As

solues obtidas foram filtradas em filtros de membrana (PTFE) de 0,45 m e o

teor de AU em cada frao foi determinado por CLAE. Esse experimento foi

realizado utilizando 3 Memb/AU/Lip diferentes. Dessa forma, foram analisadas 33

fraes por CLAE.

4.7. Estudos de liberao in vitro do AU

Os ensaios de liberao in vitro foram realizados em clulas de Franz

automatizadas (MicroettePlus Multi-Group, Hanson Research Corporation,

Chatsworth, CA, USA), sob temperatura de 37 0,5 C. A rea de difuso das

clulas de Franz foi de 1,76 cm2 e o compartimento do meio receptor de 7 mL.

Membranas de acetato de celulose (12 kDa, Sigma-Aldrich) foram fixadas na

extremidade das clulas com a funo de barreira para a liberao e foram

pr-hidratadas com soluo salina para se fixarem entre o compartimento doador e

receptor das clulas de Franz, sobre as quais, foram aplicadas as Memb/AU/Lip. O

ensaio utilizou como meio receptor, soluo aquosa de DMSO 2% (v/v), sob

agitao magntica constante (250 rpm) e o sistema foi mantido em condio sink

durante todo experimento (SERAFINI et al., 2014). Alquotas de 2 mL do meio

receptor foram coletadas em diferentes intervalos de tempo: 0; 0,25; 0,5; 1; 2; 4; 6;

8; 10; 12; 18 e 24 horas. Na medida em que as alquotas eram retiradas, a mesma

quantidade de meio receptor era reposta no compartimento. As amostras coletadas

foram filtradas em filtros de membrana (PTFE) de 0,45 m e analisadas por CLAE,

para quantificar a quantidade de AU liberado em cada intervalo de tempo. As

coletas e anlises foram realizadas em sextuplicatas (n= 6). Os experimentos de

liberao in vitro tambm foram realizados com a formulao controle (Memb/AU),

com o objetivo de comparar os resultados das duas membranas e comprovar a

possvel liberao controlada que obtida com formulaes contendo lipossomas

(PANDEY; RANI; AGARWAL, 2016).

49

4.8. Absoro transdrmica do AU

4.8.1. Preparo da pele

Para os estudos de penetrao/permeao do AU nas camadas da pele

foram utilizadas peles de orelha de porco como membrana. As amostras de pele

foram doadas por um abatedouro de animais da regio (So Cristvo, Sergipe,

Brasil). O excesso de gordura dos tecidos, hipoderme e plos foram removidos e a

superfcie da pele foi devidamente limpa com gua corrente e armazenada em

papel alumnio -20C at sua utilizao. Antes de cada experimento, a pele foi

cortada em pedaos redondos com rea de 3 cm de dimetro e apresentaram

espessura entre 1,8 e 2,2 mm, medidas por um medidor de espessura de marcao

(No. 7301, Mitutoyo, Japan).

4.8.2. Permeao in vitro do AU nas camadas da pele

Os experimentos de permeao foram realizados em clulas de Franz

automatizadas (MicroettePlus Multi-Group, Hanson Research Corporation,

Chatsworth, CA, USA), sob temperatura de 37 0,5 C, durante 24 horas. O meio

receptor utilizado para a garantia da condio sink foi 7 mL de uma soluo aquosa

de DMSO 2% (v/v), mantido sob agitao magntica constante (250 rpm) durante

todo o experimento (SERAFINI et al., 2014). As peles foram aplicadas

manualmente na rea de difuso da clula de Franz (1,76 cm2) com soluo salina

e sobre elas foram aplicadas as Memb/AU/Lip. Alquotas de 2 mL do meio receptor

foram coletadas em diferentes intervalos de tempo: 0; 0,25; 0,5; 1; 2; 4; 6; 8; 10; 12;

18 e 24 horas. Na medida em que as alquotas eram retiradas, a mesma quantidade

de meio receptor era reposta no compartimento. As amostras col