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ET-004 Alissandra Nazareth de Carvalho
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8/6/2019 ET-004 Alissandra Nazareth de Carvalho
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Especificidades do turismo e hospitalidade nos espaos
rurais: exemplo de Brasil e de Cuba
Alissandra Nazareth de CarvalhoMestre em Turismo e Hotelaria/UNIVALI e Doutoranda em Geografia UNESP
Rio Claro, Professora Bacharelado em Turismo da UFSCar Sorocaba, SaoPaulo, Brasil
Eros Salinas ChvezDoutor em Ciencias Geograficas/Universidade de Havana, Professor da Escola
de Hotelaria e Turismo em Havana, Ministrio de Turismo de Cuba
Resumo: Este estudo teve como objetivo compreender como o espao ruralpode vir a se tornar produto e condio para o desenvolvimento da atividade
turstica, gerando um desenvolvimento local alternativo e criando umaatmosfera propcia para a expresso da hospitalidade. Busca discutir como aslocalidades podem alcanar benefcios se articulando estrategicamente para odesenvolvimento local, configurando-se em um territrio singular ao fomento daatratividade turstica. Pretende-se tambm, identificar as especificidades dasdinmicas territoriais estabelecidas e como o espao produzido para que taldinmica ocorra. Atravs de pesquisa bibliogrfica foram abordadas asalteraes ocorridas no meio rural que permitiram a sua multifuncionalidade e ainsero do turismo no leque destas novas opes de desenvolvimento rural esocial. Ao relacionar atividades econmicas industriais primrias e hospitalidade rural ao turismo, concluiu-se que estas podem ser o grande vetor
desta atividade alternativa no campo, atravs de seus smbolos ecaractersticas peculiares, como por exemplo, a produo econmica rural, agastronomia, a histria e a cultura. A discusso ilustrada com exemplos delocalidades destinadas a indstria agro-aucareira de Cuba e a produocafeeira do Brasil.
Palavras-chave: Espao Rural; Turismo; Hospitalidade; Dinmicas Territoriais;Desenvolvimento Local.
Introduao
Ao longo de muitos anos, no Brasil, principalmente a partir da dcada de
70, o espao rural vem passando por intensas modificaes que alteraram seu
modo de produo e suas estruturas sociais. Os processos de industrializao
e urbanizao, seguidos da insero de novas tecnologias no campo para a
produo agrcola em larga escala, contriburam incisivamente nestas
mudanas e permitiram a transformao deste meio em um territrio
multifuncional.
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Os impactos gerados atravs destas constantes mudanas no meio rural
como o xodo, a desvalorizao cultural e natural, a dificuldade em manter
pequenas e mdias propriedades devido intensa modernizao tecnolgica e
a conseqente diminuio da qualidade de vida das populaes rurais, levaram
busca de novas atividades que pudessem agregar renda a estas famlias.
Denominadas como atividades no-agrcolas, elas esto cada vez mais
inseridas no contexto rural brasileiro e cooperam para amenizar os efeitos das
variveis neste espao.
De acordo com o Projeto Rurbano1, que tem com base os
processamentos das PNADs _ Pesquisa Nacional de Amostra por Domiclio _ ,
dos 12,4 milhes de brasileiros economicamente ativos residentes em
territrios rurais em 2004, 3,7 milhes exerciam atividades no-agrcolas, o que
nos permite apontar a relevncia deste tipo de ocupao, mesmo com a
existncia de residentes no meio rural que exercem atividades no meio urbano.
Falando agora de Cuba, a agroindstria da cana de acar tem
representado historicamente uma atividade relevante, do ponto de vista
econmico para o pas, proporcionando crescimento nas divisas diretas,
geradas pela venda de acar e seus derivados, abastecendo, ademais, a
economa interna e servindo como garanta de pagamento para crditos
externos, gerando emprego para mais de 600 mil trabalhadores em mais de
70% dos municipios do pas.
Assim sendo, por ser a agroindstria em Cuba parte indissocivel de sua
historia, cultura e nacionalidade, assim como representante de largo
desenvolvimento espacial em todo o pas, oferece, tambm um grande
potencial de desenvolvimento turstico-recreativo, atravs do fomento a
visitaes a locais de interesse em instalaes agroindustriais e tambm asuas unidades produtoras diversificadas.
Neste contexto de mudanas, o turismo-recreativo portanto, surge como
uma opo vantajosa no leque das ocupaes no-agrcolas desenvolvidas no
meio rural. Com caractersticas peculiares neste espao, como a hospitalidade,
a atividade ganha cada vez mais fora num mundo globalizado que almeja
melhorias em sua qualidade de vida. Grande atrativo do Turismo no Espao
Rural, a hospitalidade se destaca pela simplicidade e pelo resgate s razes1 Projeto Temtico denominado Caracterizao do Novo Rural Brasileiro -
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culturais de cada regio, bem como por seus smbolos: gastronomia, tradio,
modo de vida, entre outros.
Em vista desse cenrio, este estudo, portanto, teve como objetivo
compreender como o espao rural pode vir a ser produto e condio para o
desenvolvimento da atividade turstico-recreativa, gerando um desenvolvimento
local alternativo e criando uma atmosfera propicia para a expresso da
hospitalidade. Busca discutir como as localidades podem alcanar beneficios
articulando-se estrategicamente para o desenvolvimento local, configurando-se
em um territrio singular para o fomento da atividade turstico-recreativa. Se
pretende tambm, identificar as especificidades das dinamicas territoriais
estabelecidas e como o espao produzido para que tal dinamica ocorra.
Atraves da investigaao bibliogrfica foram abordadas as alteraes
ocorridas no meio rural que permitiram sua multifuncionalidade e a inserao do
turismo no leque das novas opoes de desenvolvimento rural e social.
Ao relacionar atividades economicas industriais primarias e hospitalidade
rural ao turismo e recreaao, se concluiu que estas podem ser o grande vetor
desta atividade alternativa no campo, atraves de seu valor simbolico e
caractersticas peculiares, como por exemplo, a produao econmica rural, a
gastronomia, a histria e a cultura. A discusso ilustrada com exemplos de
localidades destinadas a indstria agro-aucareira de Cuba e a produao rural
no Brasil.
O trabalho, portanto, segue organizado da seguinte maneira: na primeira
parte foi feita uma reviso bibliogrfica que buscou identificar os principais
motivos desta atual multifuncionalidade rural e seus benefcios a este meio.
Posteriormente, foram destacadas as especificidades das dinmicas territoriais
e como o espao produzido para que tal dinmica ocorra no Brasil e emCuba. Por fim a atividade foi relacionada com a hospitalidade de maneira a
cumprir o objetivo do artigo.
Um novo espao rural
Algumas alteraes sociais ocorridas no ltimo sculo, tanto no campo
quanto na cidade, contriburam para o fortalecimento da atividade turstica emgeral. A reduo das jornadas de trabalho e o conseqente aumento do tempo
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livre dos indivduos resultaram numa maior disponibilidade destes para
atividades de lazer e entretenimento.
As mudanas nos padres de consumo, que segundo Schneider (2006,
p. 3) voltam-se crescentemente as amenidades e aos bens no tangveis,
vm somar pontos favorveis ao desenvolvimento turstico. Junto a estes
fatores, que beneficiaram o turismo num mbito geral, a questo da qualidade
de vida vem afetar direta e positivamente no crescimento do Turismo no
Espao Rural.
Schneider e Fialho (2001, p. 31) afirmam que o estresse e o crescente
custo de vida urbano decorrentes do crescimento intenso e desordenado das
cidades fazem com que a populao busque ambientes mais saudveis e que,
em busca desta qualidade de vida, de conforto e segurana, h uma expanso
das residncias secundrias e stios de lazer, o que favoreceu a associao do
ambiente rural com qualidade de vida.
O processo de modernizao tecnolgica dos meios de produo
agrcola, iniciado na dcada de 70 atravs dos Governos Militares, promoveu
uma grande melhoria na produo do campo. Passou-se, ento, a produzir
mais num espao de tempo reduzido, o que favoreceu os grandes produtores
agrcolas. Entretanto, como conseqncia deste avano, os postos de trabalho
no meio rural foram visivelmente reduzidos e a produo de algumas pequenas
propriedades tornou-se invivel pela competitividade com os grandes
produtores. Schneider (2006), ao discorrer sobre os efeitos da globalizao na
agricultura e no meio rural explica que:
[...] abrem-se os mercados, aceleram-se as trocas
comerciais e intensifica-se a competitividade, agora tendopor base poderosas cadeias agroalimentares que
monopolizam a produo e o comrcio atacadista em
escala global, restringindo a participao nestas relaes
de troca de imensas regies produtoras [...]
(SCHNEIDER, 2006, p. 3).
Neste contexto, a soluo encontrada por uma grande parte dapopulao rural em busca de emprego e melhores condies de vida foi a de
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migrar para as cidades, contribuindo para um inchao nas grandes metrpoles,
que passaram a concentrar altos ndices de desemprego e marginalidade.
Assim sendo, a evoluo da populao urbana brasileira muito maior,
em detrimento da rural. A partir da dcada de 70 j se observa mais de 50% do
total de brasileiros residindo em espaos urbanos. Mas observa-se na dcada
de 90 uma diminuio deste xodo. Graziano, Grossi e Campanhola (2005,
p.7) explicam que enquanto no passado as pessoas que deixavam a atividade
agrcola tambm deixavam o campo, nos anos 90, para uma boa parte dessa
populao que deixa a atividade agrcola, no existe mais a migrao para as
cidades. Essa populao passou ento a exercer atividades no-agrcolas no
campo ou a residir no meio rural e trabalhar nas cidades.
Em se tratando de Cuba, em termos populacionais e, no que diz respeito
ao urbano e ao rural, nos ltimos 40 anos, a populao cubana tem se
urbanizado e se tornado concentrada, o que consequentemente provocou
mudanas no povoamento do pais. Em 1970 a populao urbana representava
60,5% e em 2009 o valor estimado pela Oficina Nacional de Estatsticas, em
2010, era de 75,3%, enquanto a populao rural representava apenas 24,7%.
Tem ocorrido um movimento migratrio interno do oriente ao ocidente do pais,
e do campo para a cidade, cujas pessoas, entre outras razes, buscam
melhores oportunidades de emprego e condies de vida.
Atualmente, existe uma politica estatal para tratar de freiar o xodo da
populao rural, especialmente das zonas montanhosas, intensificando o
desenvolvimento destes territrios e oferecendo-lhes melhores opes e ofera
de servios, com objetivo de alcanar uma certa estabilidade no povoado.
Ademais, as Unidades Bsicas de Produo Cooperativas (UBPC), promovidas
nos fins da dcada de 90, estimularam a qualidade de vida nos camposcubanos.
Schneider e Fialho (2001, p.31) citam ainda, como outros fatores que
favoreceram as transformaes no meio rural, a melhoria das estradas e dos
meios de comunicao que facilitaram o acesso a este ambiente, diminuindo o
tempo de locomoo entre o meio urbano e rural.
Muitos autores apontam como maneira de aproveitar as mudanas
ocorridas no meio rural e amenizar os conseqentes impactos, a introduo deatividade no-agrcolas em sua economia. Schneider (2006, p. 4) afirma que a
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partir destas alteraes emerge uma nova concepo da ruralidade, que
passa a ser um espao em que o homem e o ambiente se integram atravs de
mltiplos usos que so de carter produtivo, social, ldico, ambiental etc..
Segundo Portuguez (2002):
iniciativas como a valorizao da indstria familiar, o
revigoramento do artesanato, o incentivo aos setores
comercial e de servios, a emergncia do trabalho
informal e a implementao de programas de turismo
alternativo, so apenas alguns exemplos mais notveis.
(PORTUGUEZ, 2002, p. 71).
Assim, a atividade turstica no meio rural poder propiciar a criao de
novos postos de trabalho no campo, evitando o xodo e o inchao das cidades;
a elevao da renda da populao rural e a valorizao do patrimnio cultural e
natural de cada regio, o que provavelmente implicar na melhoria da
qualidade de vida neste meio.
Turismo no Espao Rural
Segundo o Ministrio do turismo, o Turismo em reas rurais passou a
ser considerado como uma atividade econmica no Brasil somente a partir da
dcada de 80, apesar da visitao a propriedades rurais ser uma prtica
comum no pas. A partir de ento o setor passou a crescer gradativamente e,
hoje, exerce um importante papel econmico e social para diversas famlias
inseridas no meio rural.
Em Cuba, o desenvolvimento da atividade turstico-recreativa se
deu pelo fato de algunas mudanas ocorridas nos egenhos, a saber:
A partir de 2002, por designao do governo, o Ministrio do Acar
iniciou uma restruturao e redimencionamento conhecido no setor como
Tareo Alvaro Reynoso, caracterizado por significativa diminuio e
reordenamento das estruturas produtivas com objetivo de gerar uma
agroindstria mais competitiva e sustentvel, que se adaptasse as condieseconmicas e sociais do cenrio naquele momento.
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Assim, 70 dos 155 engenhos foram fechados e 62% da rea se
converteu em zona de produo agropecuria. Ademais, o potencial produtivo
foi reduzido de 8 para 4 milhes de toneladas de acar por safra. A partir de
ento, era necessrio dar ateno para todos esses empregados que ficaram
sem trabalho, estabelecendo-se como rea prioritaria o desenvolvimento de
planos de desenvolvimento turstico e recreacionista para essa populao.
Foram criadas as casas do trabalhador aucareiro, presentes em
algumas centrais atuais e em algumas desativadas, consistindo em uma
instalao multipropsito: restaurante, cafeteras, bar, sala de computao,
salo de jogos, sala de vdeo, sala para baile, discoteca, biblioteca, salas de
reunio e conferencias, jardins e outras instalaes onde os funcionrios
recebem todos os servios juntamente com suas famlias, muitas vezes,
subvencionados pelas empresas e unidades produtoras. Alm disso, h espao
propicio para realizao de festas e similares.
Ainda, vrias cooperativas aproveitam a oportunidade para se articular e
oferecer servios destinados recreao desses trabalhadores.
Observando as caractersticas expostas conclumos que, em mbito
geral, a hospitalidade acaba constituindo o principal atrativo da atividade
turstica no meio rural atravs da cultura, da gastronomia, da histria, das
tradies e do modo de vida simples. A busca por qualidade de vida, pelo
retorno s razes e por ambientes tranqilos e acolhedores faz da hospitalidade
rural o grande pilar do Turismo em Espaos Rurais, fator que permite a
introduo de novas formas de ocupao a este meio.
A Hospitalidade e o Ambiente Rural
A hospitalidade um processo dinmico muito alm de simplesmente
hospedar, que envolve profundas relaes entre hospedeiros e hspedes. De
acordo com Camargo (2005), a hospitalidade pode ser comparada a uma
ddiva, visto que ambas so fatos totalmente sociais e se inserem na dinmica
de dar, receber e retribuir. A definio dada por Abreu (2003) explicita bem
estas duas caractersticas. Segundo ele, a hospitalidade:
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pode ser definida como o atributo ou caracterstica que
permite aos indivduos de famlias e lugares diferentes se
relacionar socialmente, se alojar e se prestar servios
reciprocamente. (ABREU, 2003, p.29).
Assim, o ato de receber indivduos envolve diversas relaes que vo
desde a recepo at a retribuio, passando pela preparao e consumo de
alimentos e bebidas, disponibilizao de leito, conforto e entretenimento. A
dinmica de dar, receber e retribuir faz da hospitalidade um processo contnuo
que, segundo Camargo (2005, p. 24), alimenta o vnculo humano.
Embora no se possa negar a existncia de estabelecimentos de
hospedagem voltados para o comrcio e nem o fato de que estes possam ser
bons hospedeiros, Costa (2004) afirma que na hospitalidade rural existe maior
expressividade da hospitalidade privada do que da comercial. Isto devido
associao cada vez maior entre o campo e a qualidade de vida, o sossego, a
segurana, a sensao de estar em casa e, acima de tudo, devido ao
acolhimento do espao rural e as relaes entre anfitrio e hspede.
cada vez mais comum indivduos, fugindo do estresse e da vida
agitada das grandes capitais, buscarem ambientes buclicos e simples para
descansar. Esta posio pode ser confirmada por Rego e Silva (2003), que
dizem que:
A seleo desses estmulos depender das expectativas
decorrentes da experincia prvia do turista, na
familiaridade com a localidade ou na comunicao
recebida por canais pessoais ou impessoais. Tambm
depender das necessidades, desejos e interesses que
motivam o turista em seu percurso pela localidade.
(REGO e SILVA, 2003, p. 126).
Esta citao nos remete a algumas questes interessantes. A
experincia prvia do turista um fato bastante influente. Quando ruim,
capaz de fazer com que o visitante nunca mais volte ao local, alm de
promover depoimentos negativos sobre ele. Se, ao contrrio, trouxer boas
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experincias, pode despertar no turista uma sensao de estar em casa,
contribuindo para uma boa divulgao.
Outro fato importante o da familiaridade. Um exemplo simples a
motivao de turistas idosos em relao ao Turismo no Espao Rural. O estilo
de vida rural, a culinria, os objetos, as tradies e os aspectos fsicos deste
ambiente, que um dia fizeram parte da vida deste idoso, sero muito atrativos a
ele, por remontar a lembranas e sensaes de um passado que talvez no o
pertena mais. Rezende (2008) cita que no Turismo Rural:
O caminho que levar o idoso plena satisfao se dar
por meio da viso da velha porteira de madeira, do carro
de boi, do alambique, do monjolo, do lampio, das
lamparinas, ou seja, de objetos que contam uma historia,
que lembram um modo de vida, que evocam imagens da
infncia. (REZENDE, 2008, p.9).
A gastronomia rural se compe a partir de produtos caseiros tpicos
como bolos, pes, doces, vinhos, caf, sucos naturais, queijos, entre outros,
sendo que a maioria destes deve ter relao com a cultura local e buscar a
produo de acordo com os elementos caractersticos de tal regio. Como
exemplos poderamos citar o caf, elemento bsico nas antigas fazendas do
Vale do Paraba, que constitui o principal smbolo do turismo nesta regio.
Assim como os vinhos e sucos marcam o Turismo Rural no Rio Grande do Sul,
regio conhecida pela produo de uvas. Blos (2001, p. 217), ao estudar o
Turismo Rural em Lages, Santa Catarina, coloca como forma de interao com
a produo local o fornecimento de produtos alimentcios em pequena escala
como queijos e outros derivados do leite. A insero destes elementos
tradicionais na alimentao supe uma relao maior entre hspede e anfitrio,
visto que o primeiro passa a ter contato com o modo de vida local e fazer parte
dele, mesmo que por um momento.
Tambm smbolos da hospitalidade, a cultura local e o modo de vida no
campo constituem grandes atrativos. As manifestaes culturais, como festas
juninas, festas em comemorao a boas colheitas, o folclore, a msica, areligiosidade, o artesanato e as danas, assim como o cotidiano rural, incluindo
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o manejo de culturas agrcolas e pecurias, o acesso a brincadeiras, entre
outros, so apenas alguns exemplos de como estes materiais simblicos da
hospitalidade se expressam no meio rural.
Na maioria das vezes, estas caractersticas constituem o entretenimento
no turismo local. Atividades como a pesca, a ordenha, a colheita e cavalgadas
so bastante procuradas por turistas que buscam a interao com o meio.
Tambm as festividades tradicionais, enquanto forma de expresso cultural,
atraem muitos visitantes. Um exemplo a Festa da Polenta, no municpio
capixaba de Venda Nova do Imigrante, conhecido pelo Agroturismo, que retrata
a cultura dos imigrantes italianos que habitam a regio.
Na poca da massificao da produo industrial tipo artesanal e da
globalizao desregulada das trocas de bens, incluindo o artesanato oriental,
h procura pelos artefatos de qualidade, tradicionais ou inovadores e criativos
[...] (RODRIGUES, 2001, p. 93). Esta citao revela a importncia dos
artesanatos tpicos de cada regio que se sobressaem perante aos produtos
ditos artesanais, massificados pela produo industrial.
A relevncia adquirida por estes produtos est em sua identidade, ou
seja, o contexto em que foi produzido, o modo de vida de quem o produziu e
todos os aspectos que permitiram a sua produo, como os materiais comuns
de cada local e as habilidades do produtor. Os artesanatos tambm so formas
de manifestaes culturais e constituem o produto turstico no meio rural.
O Patrimnio Histrico material tambm constitui um smbolo da
hospitalidade. No Turismo Rural, caractersticas histricas so bastante
comuns e esto presentes principalmente nas construes, como casares,
senzalas, estbulos e moinhos; e na histria scio-poltica do local. Rodrigues
(2001), ao estudar o Turismo Rural no Brasil, cita um exemplo no municpio deCastro no Paran, de extrema importncia histrica que remete ao sculo
XVIII, no perodo do tropeirismo:
Quando os tropeiros faziam o caminho Viamo Sorocaba
transportando gado, encontraram s margens do rio Iap
um porto considerado seguro, a nascendo a fazenda
Capo Alto. A casa central desta propriedade, erguida em
taipa de pilo, [...] foi tombada pelo patrimnio histrico do
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mais postos de trabalho, ressaltando o advento da ferrova que dispoe das
locomotivas que se apresentam como grande atrativo turstico e possibilidade
de criaao de roteiros que a utilizem.
Atravs das reflexes levantadas, conclui-se que a mudana de
paradigmas no campo, intensificada pelos processos de industrializao e
urbanizao, contribuiu incisivamente para a insero de novas atividades
neste territrio. Percebe-se que, neste cenrio, a atividade turstica no meio
rural vem se destacando devido s suas peculiaridades, como a hospitalidade,
a ruralidade, a cultura e a gastronomia, cada vez mais valorizadas pelas
populaes urbanas que buscam a fuga do cotidiano e da vida nas cidades.
Entende-se ainda que, grande parte dos engenhos em Cuba e fazendas
histricas no Brasil, abandonaram por completo suas atividades agrcolas ao
aderir o turismo como nova fonte de renda e, naqueles em que a atividade
original ainda mantida, a atividade turstica se configura como o grande vetor
econmico, gerando maior parte da renda local.
Tais resultados permitiram concluir que a insero de novas atividades
econmicas no espao rural fato cada vez mais comum e necessrio neste
ambiente, a fim de amenizar os impactos gerados por suas variveis, como o
xodo, a desvalorizao cultural e natural e a dificuldade em manter pequenas
e mdias propriedades devido intensa modernizao tecnolgica.
A partir da compreenso de que a atividade turstica se configura como
uma nova oportunidade de desenvolvimento no campo, este artigo buscou
levantar algumas consideraes referentes s discusses tericas atuais sobre
os temas abordados, bem como questes sobre as dinmicas tursticas,
permitindo que o assunto oferea bases para novas discusses no mbito
acadmico.
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