Etapas Clínicas para reembasamento e cimentação de pino de ... · lado, pinos de fibra de vidro...

7
Caso Clínico Etapas Clínicas para reembasamento e cimentação de pino de fibra de vidro Prof. Dr. Bruno Reis Especialista em Dentística Mestre em Clínica Odontológica Doutor em Biologia Oral e Biomateriais Professor da Universidade Federal de Uberlândia - ESTES/UFU INTRODUÇÃO Dentes tratadosendodonticamente e que perderam grande parte de sua estrutura coronária necessitam de mecanismos adicionais que auxiliam na retenção da restauração ou núcleo de preenchimento (SCHWARTZ; ROBBINS, 2004). Neste contexto, a colocação de um retentoresintrarradiculares de fibra de vidro tem sido amplamente utilizada (GORACCI; FERRARI, 2011) por apresentar vantagens sobre os núcleos metálicos fundidos como estética, dispensar trabalho laboratorial, menor número e tempo de sessão clínica, além de ter propriedades mecânicas similares as da dentina promovendo um comportamento biomecânico similar ao dente natural e, por isso, reduzindo o risco de fratura coronária (CAGIDIACO et al., 2008; SANTOS FILHO et al., 2013). Por outro lado, uma das limitações apontadas aos pinos de fibra de vidro é o seu formato não se adaptar a morfologia do canal radicular criando uma linha de cimentação espessa e irregular (PEDROSA- FILHO 2006). De forma a solucionar essa limitação, o reembasamento dos pinos de fibra de vidro utilizando resina composta tem sido utilizado(GRANDINI et al., 2003). A técnica de reembasamentoproporciona uma diminuição da linha de cimentação, menor incidência de bolhas e falhas na camada de cimento influenciando na longevidade do procedimento (GRANDINI et al., 2005)(PEDROSA-FILHO 2006). O descritivo a seguir visa elucidar e protocolar as etapas de reeembasamento de pinos de fibra de vidro de forma a auxiliar o clínico a realizar as etapas que se seguem na rotina do consultório. RELATO DE CASO E PROTOCOLO DE REEMBASAMENTO DE PINOS DE FIBRA DE VIDRO COM RESINA COMPOSTA

Transcript of Etapas Clínicas para reembasamento e cimentação de pino de ... · lado, pinos de fibra de vidro...

Page 1: Etapas Clínicas para reembasamento e cimentação de pino de ... · lado, pinos de fibra de vidro não demonstram diferenças na deformação da raiz e fratura independente do comprimento

1

Caso Clínico

Etapas Clínicas para reembasamento e cimentação de pino de fibra de vidroProf. Dr. Bruno Reis

Especialista em DentísticaMestre em Clínica OdontológicaDoutor em Biologia Oral e BiomateriaisProfessor da Universidade Federal de Uberlândia - ESTES/UFU

INTRODUÇÃO

Dentes tratadosendodonticamente e que perderam grande parte de sua estrutura coronária necessitam de mecanismos adicionais que auxiliam na retenção da restauração ou núcleo de preenchimento (SCHWARTZ; ROBBINS, 2004). Neste contexto, a colocação de um retentoresintrarradiculares de fibra de vidro tem sido amplamente utilizada (GORACCI; FERRARI, 2011) por apresentar vantagens sobre os núcleos metálicos fundidos como estética, dispensar trabalho laboratorial, menor número e tempo de sessão clínica, além de ter propriedades mecânicas similares as da dentina promovendo um comportamento biomecânico similar ao dente natural e, por isso, reduzindo o risco de fratura coronária (CAGIDIACO et al., 2008; SANTOS FILHO et al., 2013). Por outro lado, uma das limitações apontadas aos pinos de fibra de vidro é o seu formato não se adaptar a morfologia do canal radicular criando uma linha de cimentação espessa e irregular (PEDROSA-FILHO 2006). De forma a solucionar essa limitação, o reembasamento dos pinos de fibra de vidro utilizando resina composta tem sido utilizado(GRANDINI et al., 2003).

A técnica de reembasamentoproporciona uma diminuição da linha de cimentação, menor incidência de bolhas e falhas na camada de cimento influenciando na longevidade do procedimento (GRANDINI et al., 2005)(PEDROSA-FILHO 2006).

O descritivo a seguir visa elucidar e protocolar as etapas de reeembasamento de pinos de fibra de vidro de forma a auxiliar o clínico a realizar as etapas que se seguem na rotina do consultório.

RELATO DE CASO E PROTOCOLO DE REEMBASAMENTO DE PINOS DE FIBRA DE VIDRO COM RESINA COMPOSTA

Page 2: Etapas Clínicas para reembasamento e cimentação de pino de ... · lado, pinos de fibra de vidro não demonstram diferenças na deformação da raiz e fratura independente do comprimento

2

Figura 1- Situação inicial com o qual a paciente se apresentou. Coroa cerâmica com adaptação marginal deficiente e ausência de pontos de contato nas proximais. Radiograficamente observou-se a presença de núcleo metálico fundido com comprimento menor do que o preconizado e, portanto, alto risco de fratura radicular. Santos Filho em 2008, comparou a resistência a fratura e deformação de raízes que receberam núcleos metálicos fundidos e pinos de fibra de vidro em diferentes comprimentos. Os resultados do trabalho confirmaram que menores comprimentos de cimentação para retentores metálicos aumentam a deformação da raiz quando recebe uma carga e aumenta o número de fraturas radiculares. Por outro lado, pinos de fibra de vidro não demonstram diferenças na deformação da raiz e fratura independente do comprimento que foi realizada a cimentação.

Figura 2 – Foi recomendada a remoção da coroa e do retentor metálico, seguido de substituição por pino de fibra de vidro.

Page 3: Etapas Clínicas para reembasamento e cimentação de pino de ... · lado, pinos de fibra de vidro não demonstram diferenças na deformação da raiz e fratura independente do comprimento

3

Figura 3- Para a remoção do núcleo metálico fundido, utilizou-se o ultrassom. O primeiro passo é reduzir a porção coronária do pino com ponta diamantada até que a porção coronária tem o mesmo diâmetro da porção radicular. Em seguida com o ultrassom piezoelétrico em sua máxima potência deve-se posiciona-lo em todas as faces dos pino mantendo uma pressão durante 40 segundos. Essa ação irá fragmentar o cimento de fosfato de zinco (que apresenta comportamento friável) facilitando a remoção do pino.

Figura 4- Após remoção do pino metálico observa-se na figura acima queo canal apresenta-se amplo principalmente na porção cervical. Portanto, com o objetivo de promover uma melhor adaptação do cimento a raiz, o reembasamento do pino se mostra necessário. Para isto, o canal é isolado com gel hidrosolúvel aplicado com brush.

Figura 5- Após limpeza com álcool 70% com auxílio de uma gaze deve-se realizar o tratamento da superfície do pino com peróxido de hidrogênio a 35% durante 1 minuto. Recomenda-se usar o próprio peróxido do clareador Clareador Clariant 35% Angelus colocando uma gota em um brush e atritando na superfície do pino. O uso do peróxido objetiva a remoção da resina superficial e exposição das fibras do pino o que eleva o valor de adesão (Menezes et al, 2014).

Figura 6- O peróxido dever ser removido da superfície do pino com spray (ar+água) durante 60 segundos seguido de secagem.

Page 4: Etapas Clínicas para reembasamento e cimentação de pino de ... · lado, pinos de fibra de vidro não demonstram diferenças na deformação da raiz e fratura independente do comprimento

4

Figura 7- Com o pino seco realiza-se a aplicação do SilanoAngelus com auxílio de um brush durante 60 segundos. A partir da aplicação do Silano deve aguardar a evaporação superficial do mesmo que ocorre em, aproximadamente, 120 segundos em pote dappen de material plástico. O silano é uma molécula bifuncional que reage com o vidro(Moraes et al. 2015)logo se o pino permanecer com silano em contato com dappen ou placa de vidro a molécula do silano pode ser consumida.

Figura 8- Após evaporação do silano aplica-se uma camada de adesivo. Recomenda-se usar adesivo livre de diluentes, ou seja, somente o bond do sistema FusionAngelus.

Figura 9- Fotoativação por 60 segundos. Observação: Segurar o pino pela extremidade evitando qualquer contato com a área no qual foi aplicado o adesivo. As moléculas de adesivo terão que permanecer livre e intactas para ligação química com a resina composta do reembasamento.

Figura 10- Selecionar uma resina nanohíbrida ou nanoparticulada, remover uma porção e acomoda-la sobre o pino.

Page 5: Etapas Clínicas para reembasamento e cimentação de pino de ... · lado, pinos de fibra de vidro não demonstram diferenças na deformação da raiz e fratura independente do comprimento

5

Figura 11- Posiciona-se o retentor no canal radicular e realiza-se a fotoativação em uma das faces por 5 segundos. Então o pino deve ser removido do canal para complementação da fotoativação.

Figura 12- Complementar a fotoativação fora do canal radicular por mais 60 segundos.

Figura 13- Visto que, após efetuado o reembasamento, o pino é inserido no canal para provar a adaptação ocorrendo contaminação da superfície do pino, recomenda-se, anteriormente a cimentação realizar condicionamento com ácido fosfórico 37% Angelus por 30 segundos seguido de lavagem por 30 segundos.

Figura 14- Aplicação de silanoAngelus na superfície do pino por 60 segundos.

Page 6: Etapas Clínicas para reembasamento e cimentação de pino de ... · lado, pinos de fibra de vidro não demonstram diferenças na deformação da raiz e fratura independente do comprimento

6

Figura 15- O canal radicular deve ser lavado com água abundamente e secado com cones de papel absorvente.

Figura 16- O cimento autoadesivo deve ser inserido no canal de acordo com as instruções do fabricante e o pino posicionado com auxílio de uma pinça. Obs: Recomenda-se inserir o cimento no canal com ponteira aplicadora de cimento de diâmetro fino que possa entrar dentro do canal radicular.

Figura 17- Após cimentação e remoção dos excessos de cimento segue-se com a construção do núcleo de preenchimento em resina composta e preparo para coroa em cerâmica pura.

Figura 18- Coroa de cerâmicas vítrea reforçada com dissilicato de lítrio e confeccionada por sistema CAD/CAM cimentada.

RESUMO DA TÉCNICA DE REEMBASAMENTO DE RETENTORES INTRARRADICULARES.

1. Escolha do retentor intrarradicular: Deve ser selecionado um pino que melhor se ajusta ao diâmetro do canal radicular desde que o comprimento do retentor intrradicular alcance toda a região de alívio.

2. Limpeza com alcool 70% realizada atritando uma gaze embebida contra a superfície do pino

3. Lavagem e secagem4. Aplicação de peróxido de hidrogênio 35% durante

60 segundos com auxílio de um brush.5. Lavagem e secagem6. Aplicação de silano de forma ativa durante 60

segundos, aguardar evaporação do silano mantendo o mesmo longe de uma superfície de vidro

7. Aplicação de sistema adesivo e fotoativação por 60 segundos

8. Com o canal radicular aliviado, realizar o isolamento do conduto com gel hidrosolúvel aplicado com um brush

9. Acomodação do incremento de resina composta na superfície do pino e inserção no canal radicular

10. Fotoativação por 5 segundos, remoção do retentor completando a fotoativaçãocom o retentor fora do canal.

11. Realizar condicionamento com ácido fosfórico 37% e aplicação de silano na superfície da resina de reembasamento.

12. Lavar o conduto com jato de água e ar13. Secagem com papel absorvente

Page 7: Etapas Clínicas para reembasamento e cimentação de pino de ... · lado, pinos de fibra de vidro não demonstram diferenças na deformação da raiz e fratura independente do comprimento

Copyright© 2016 Angelus® Ciência e Tecnologia. www.angelus.ind.br

14. Inserção de cimento autoadesivo (Obs: Se a opção for cimentar o pino com cimento resinoso convencional, dever se realizar hibridização do conduto com ácido fosfórico e adesivo)

15. Posicionar o pino e remover o excesso de cimento.16. Fotoativar durante 40 segundos por face.17. Construção do núcleo de preenchimento 18. Corte do pino

REFERÊNCIAS

1. CAGIDIACO, M. C. et al. Clinical studies of fiber posts: a literature review. The International journal of prosthodontics, v. 21, n. September 2005, p. 328–336, 2008.

2. GORACCI, C.; FERRARI, M. Current perspectives on post systems: a literature review. Australian Dental Journal, v. 56, p. 77–83, 2011.

3. GRANDINI, S. et al. Use of anatomic post and core for reconstructing an endodontically treated tooth: a case report.The journal of adhesive dentistry, vol: 5 (3) p. 243-7, 2003.

4. GRANDINI, S. et al. Evaluation of the cement layer thickness after luting two different posts. J Adhes Dent. 2005; 7: 235- 240.

5. Pedrosa-Filho CF. Influência do reembasamento com resina composta (pino anatômico) na resistência à extrusão de retentores intra-radiculares de fibra de vidro. Tese (Doutorado) da Faculdade de Odontologia de Piracicaba, Universidade Estadual de Campinas- UNICAMP- 2006.

6. SANTOS FILHO, P. C. F. et al. Effects of threaded post placement on strain and stress distribution of endodontically treated teeth. Brazilian oral research, v. 27, n. 4, p. 305–10, 2013.

7. SCHWARTZ, R. S.; ROBBINS, J. W. Post placement and restoration of endodontically treated teeth: a literature review. Journal of endodontia, v. 30, n. 5, p. 289–301, 2004.

8. MENEZES MS, FARIA-E-SILVA AL, SILVA FP, REIS GR, SOARES CJ, STAPE TH, MARTINS LR Etching a fiber post surface with high-concentration bleaching agents.Oper Dent. 2014 Jan-Feb;39(1):E16-21.

9. MORAES AP, SARKIS-ONOFRE R, MORAES RR, CENCI MS, SOARES CJ, PEREIRA-CENCI.Can Silanization Increase the Retention of Glass-fiber posts? A Systematic Review and Meta-analysis of In Vitro Studies.Oper Dent. 2015 Nov-Dec;40(6):567-80