ÉTICA, DIVERSIDADE CULTURAL E JORNALISMO ANÁLISE DA COBERTURA DO INTERIOR BAIANO NO JORNAL A TARDE

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE COMUNICAÇÃO Adalton dos Anjos Bárbara Lisiak ÉTICA, DIVERSIDADE CULTURAL E JORNALISMO ANÁLISE DA COBERTURA DO INTERIOR BAIANO NO JORNAL A TARDE Artigo solicitado para conclusão do curso de

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIAFACULDADE DE COMUNICAÇÃO

Adalton dos Anjos Bárbara Lisiak

ÉTICA, DIVERSIDADE CULTURAL E JORNALISMOANÁLISE DA COBERTURA DO INTERIOR BAIANO NO

JORNAL A TARDE

Artigo solicitado para conclusão do curso de Comunicação e Ética, ministrado pela docente Fayga Moreira

Salvador2009.2

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Introdução

Num país tão vasto quanto o Brasil e com meios de comunicação tão hegemônicos

quanto os que temos por aqui é quase impossível retratar de forma justa a diversidade cultural

desse país. Poucos são os profissionais que se preocupam com essa questão e, a maioria deles,

tratam a cultura brasileira de forma resumida, condensando nos costumes e modo de vida

sulista e nas festas populares do norte-nordeste. Analogamente acontece a mesma coisa com

relação à Bahia. Salvador, a maior cidade e a capital do estado, é aquela que representa toda a

cultura da Bahia, que é tão específica em determinadas regiões. A grandeza do estado baiano,

que reúne 417 municípios, se reflete no modo de falar da população no norte, oeste, sul ou da

capital; das belezas naturais e da comida do recôncavo, da região da chapada ou do sertão e

nas regiões climáticas que influenciam a economia e a agricultura na zona da mata, agreste,

sertão e meio norte.

Contudo, a Bahia é representada apenas através da imagem do morador soteropolitano

e a mídia é uma das instâncias que contribuem para essa visão. Esse trabalho solicitado pela

disciplina Comunicação e Ética, ministrada pela docente Fayga Moreira visa analisar a

cobertura do interior do estado da Bahia realizada pelo jornal A Tarde durante o período de 10

a 16 de novembro 2009. O recorte do nosso trabalho e o objeto de estudo foram escolhidos a

partir do seguinte tema proposto pela docente: “as relações de uma ética da comunicação com

a questão da diversidade sócio-cultural”. Foram pesquisados todas as matérias, notas ou

reportagens que tinham algum vínculo com qualquer cidade baiana, com exceção de Salvador,

em todos os cadernos e editorias deste veículo. Para fazer esse trabalho, será destacado a

deontologia jornalística e as questões éticas, baseadas nas teorias apresentadas nos textos de

Ernest Tugendhat, Muniz Sodré, Raquel Paiva e Fernando Karam. Além disso, as teorias do

jornalismo também serão relacionadas à análise, levando em conta as rotinas do trabalho nas

redações, questão que influencia na produção jornalística.

Diversos são os fatores que orientam os veículos de comunicação a agirem dessa

forma e esses aspectos também serão analisados neste trabalho. Portanto, nosso objetivo nesse

trabalho se divide em duas etapas: como a diversidade cultural é tratada nos meios de

comunicação massivo? E por quê? E numa questão mais prática traremos os resultados de

nossa análise feita do jornal A Tarde sobre sua cobertura do interior da Bahia.

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A ética da comunicação e a rotina de produção

jornalística

O segundo artigo do Código de Ética dos jornalistas se refere a um direito fundamental

ao cidadão, que é o direito a informação. Segundo o referido artigo: “Como o acesso à

informação de relevante interesse público é um direito fundamental, os jornalistas não podem

admitir que ele seja impedido por nenhum tipo de interesse”. Entretanto uma série de

influências externas e a busca pelo cumprimento de interesses privados fazem com que esse

artigo não seja cumprido.

Os códigos deontológicos dos profissionais surgem para balizar as atividades. Eles são

regras de aplicação de uma ética para determinado grupo. De acordo com Karam (1997), o

termo deontologia seria a cristalização provisória do mundo real. Contudo, não é competência

desses códigos as punições coercitivas para aqueles que transgredirem as normas do código.

Essas ocorrem apenas simbolicamente e, por conta disso aliado-se a não construção coletiva

desse código, ele é tão desrespeitado. É preciso destacar também a confusão entre deontologia

e ética, como coloca Alberto Dines (2000). O primeiro surge quando se discutem

comportamentos e procedimentos corporativos. O segundo não pode ser reduzida a um

conjunto de normas pragmáticas de conduta.

O recorte nesse trabalho visa analisar como a diversidade cultural vem sendo tratada

no campo do jornalismo, no caso da cobertura de outros municípios baianos, com exceção da

capital. Para entender tal situação é necessário reconhecer o contexto contraditório ao qual o

jornalismo está inserido. Segundo Karam (1997), ao mesmo tempo que cabe ao jornalismo

garantir a liberdade de expressão, este controla a legitimação e a creditação da informação. O

processo de produção da informação é concebido como uma série de escolhas onde o fluxo de

notícias tem de passar por vários “gates”, ou seja, as decisões do próprio jornalista. Portanto,

só vai ser exposto como notícia o que passar pelo filtro jornalístico. Claro que com a

quantidade de ocorrências diárias no mundo seria impossível divulgar todas. Entretanto, numa

análise mais criteriosa no conjunto dos jornais nos mostra que os conteúdos que passaram

pelos gatekeepers atendem, de forma direta ou indireta, principalmente os interesses

financeiros e/ou mercadológicos daqueles que de alguma forma sustentam o campo. Novos

valores e uma ética capitalista entram em cena no atual modelo da grande imprensa, associado

a emergência da tecnocultura e da pós-modernidade.

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Muniz Sodré em seu texto Comunitas, ethiké traz a idéia do “4º bios”, que seria o bios

midiático, baseado na Teoria de Aristóteles. Pela ordem teríamos o bios da vida

contemplativa, o da vida política, o da vida prazerosa e o bios midiático. Essa nova concepção

nos mostra que há uma cultura própria, uma espécie de tecnocultura, na esfera virtual. Há um

novo modo de vivenciar a realidade da mídia e isso também influencia as formas de fazer o

jornalismo nesse contexto da tecnocultura. Este acaba sendo formado a partir de outros

aspectos, como a ética capitalista, e pelas características da pós-modernidade. A ética

capitalista visa o acumulo de riquezas, em menos tempo e, na atualidade, o agir ético, que era

pautado pela família, escola e religião, segundo Lyotard, em seu livro Moralidades Pós-

Moderna, passa a vir da lógica capitalista. Já a pós-modernidade se caracteriza principalmente

pela nova dimensão temporal, cada vez mais curta. Desse modo, aliando a composição do

campo jornalístico à lógica do capital, à tecnocultura e a idéia da 4º bios e com a compressão

espaço-temporal entendemos as variáveis que são obstáculos para o cumprimento do segundo

artigo do código de ética dos jornalistas.

Sodré aponta que os meios de comunicação de massa seriam de grande importância

para o estabelecimento de uma cultura democrática, sobretudo num país tão vasto como o

Brasil. Entretanto, a hegemonia dos meios de comunicação, que segue uma lógica própria,

privilegiam determinadas culturas. Com que frequencia cidades como Rio Branco, Macapá ou

Porto Velho pautam o Jornal Nacional? Será que não existem notícias nessas capitais? Já

outras cidades como Rio de Janeiro, São Paulo, Porto Alegre, Curitiba ou Belo Horizonte têm

presença marcada todos os dias no telejornal. Os mesmos questionamentos podem ser

colocados em relação às reportagens do Jornal A Tarde em relação a cobertura da Bahia, que

privilegia bastante as grandes cidades do estado. Entre os pressupostos que interferem a lógica

da escolha das pautas dos jornais estão os valores do capitalismo, a sustentação financeira do

veículos através da número de consumidores e do lucro, além das rotinas de produção diárias.

Traquina (2005) ressalta que as rotinas de produção diária de um jornal influenciam

diretamente no conteúdo desses veículos. Os jornalistas são obrigados a desenvolverem

padrões para a atividade de gatekeeper, já que o tempo é quase sempre um obstáculo para

esses profissionais. Para isso, elaboram estratégias para enfrentar o desafio, impondo ordem

no espaço e tempo para trabalhar com maior eficácia. Esses padrões para a escolha do que vai

ser notícia são chamados critérios de noticiabilidade. Entre esses critérios de noticiabilidade

estão o número de pessoas envolvidas e o nível social daqueles que foram ou serão afetados

por determinada notícia, a proximidade entre a fonte e o jornalista que precisa preparar o texto

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para a próxima edição do jornal, o inesperado, entre outros. Percebe-se que os critérios de

noticiabilidade atendem muito mais os interesses daqueles que produzem o jornal e tentam

tratar de forma homogênea um país tão variado como o Brasil em busca da audiência, do que

se preocupam em produzir um conteúdo que respeite a nossa diversidade cultural.

Entretanto, uma das teorias do jornalismo traz a importância de uma cultura

organizacional para o trabalho diário. Além das questões apresentadas, as notícias são também

o resultado de processos de interação social que tem lugar dentro da empresa jornalística. O

jornalismo também é um negócio, depende das receitas das vendas e da publicidade. E o

espaço ocupado pela publicidade intervém diretamente na produção do produto jornalístico.

Há custos, como a contratação de pessoal e o estabelecimento de sucursais. Pode não haver

recursos suficientes que permitam à empresa cobrir todos os acontecimentos com valor-

notícia, dependente muitas vezes da extensão da rede que a empresa coloca para captar os

acontecimentos.

Assim, os meios de comunicação estruturam a sua representação dos acontecimentos

em relação aos aspectos organizacionais e as limitações orçamentais. As rotinas surgem como

elemento crucial nos processos de produção da notícia, resultado de complexa interação social

entre os agentes sociais. A cultura jornalística mostra-se relevante, como também a ideologia

dos membros da comunidade, as rotinas e procedimentos que utilizam em seu trabalho. É

importante então uma reflexão sobre essa cultura e a prática diária, já que os jornalistas são

participantes ativos na construção da realidade. Até porque, a construção da notícia envolve

um processo de identificação e contextualização, em que os mapas culturais do mundo social

são utilizados na organização das idéias. Alias, como coloca Raquel Paiva (2000), a mídia

substitui o espaço público, realizando o espaço público atual e organizando um monumental

esquema de construção do real.

Como atrair novos públicos no contexto da sociedade atual? Esse passou a ser o

objetivo principal dos veículos de comunicação que seguem os valores da grande imprensa de

forma mais intensa na atualidade. Lyotard aponta algumas características desse mundo pós-

moderno, onde espaço e tempo estão comprimidos, não há tempo para reflexões, somos

influenciados por uma miscelânea de valores do diversos grupos aos quais fazemos parte

diariamente e com isso a sensação de pertencimento do agir ético não parte apenas da família,

escola ou religião. Agora somos pautados pelo agir ético baseado no capitalismo.

Consumimos aquilo que mais nos atrai e, na concorrência diária das informações que vão

entrar na agenda do público, ganha a que mais chamar atenção, ser mais espetacularizável.

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Apesar de não contemplar o par cultura e democracia, o espetáculo é a única forma de

expressão social, segundo Sodré.

Rubin (2002) afirma que o espetáculo nasceu antes da mídia, quando tinha sua

produção associada a política e a religião. Mas foi no contexto moderno, com os veículos de

comunicação, que ele pode se autonomizar dessas práticas sociais, “pois passa a ser

majoritariamente produzido com inscrição nos campos cultural e/ou da mídia, recém-

formados na modernidade, assimilada aqui como momento por excelência do movimento de

autonomização de esferas sociais (Weber) ou de campos sociais (Bourdieu).” (Rubin, 2002).

O espetáculo é o elemento que norteia a lógica do jornalismo. Ele chama mais atenção,

atraí novos públicos, atende a vários requisitos dos critérios de noticiabilidade. Entretanto,

quase sempre ofusca fatos que contemplam a diversidade cultural, pois esses nem sempre

seguem suas regras.

Na produção diária de um jornal, se cobre uma determinada área e há determinados

lapsos de tempo. Porém, esse ritmo de trabalho dá ênfase nos acontecimentos e não nas

problemáticas. Além disso, permite também a promoção de “pseudo-acontecimentos”, que

certos fatos para que se tornem públicos, figurem na agenda jornalística a partir de ações

estratégicas de diversos agentes sociais. Desse modo, a rotinização do trabalho pode levar à

dependência nas fontes oficiais e dificuldade de certos agentes sociais de ter acesso aos meios

de comunicação.

Somando a essas colocações, temos o questionamento de Alberto Dines em relação a

preocupação com o design, e à cadernização dos jornais, que debilitou as pautas, de como

transmitir a notícia, relacionada com a ética capitalista, já destacada acima. A criação de uma

rotina, argumenta Dines, pode tornar os procedimentos naturais e criar uma certa

insensibilidade em torno da lisura do processo informativo, submetidos a um sistema

empresarial despreocupado com a qualidade da informação oferecida ao público. Para isso,

seria necessário uma postura crítica, evitando ser castrado pela rotina e pauta. Quem sabe

superaria certas coberturas jornalísticas, como esta analisada neste trabalho, em que beneficia

a capital em detrimento aos outros municípios?

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Análise

A análise do jornal A Tarde, que durou uma semana, confirmou um aspecto recorrente

em grandes meios de comunicação: a apuração das notícias é restrita àquelas com grande

relevância, geralmente associada a Salvador e às que acontecem perto das sucursais do jornal

espalhadas pelo estado.

Quantitativamente, o jornal dedica muito pouco espaço para tratar de assuntos ligados

a cidades do interior. Nos sete dias investigados, apenas 52 matérias, reportagens ou notas

foram dedicados as esses temas. É importante ressaltar que o jornal A Tarde tem em média 50

páginas por dia, exceto aos domingo, quando esse número chega a dobrar. Entretanto,

inclusive este dia (15 de novembro de 2009) foi um dos que menos teve matérias com

conteúdo do interior baiano, apenas 5. Segue abaixo o número de matérias dedicadas a outros

municípios por dia analisado:

Dia da Semana Número de matérias

Terça-feira (10/11/2009) 8

Quarta-feira (11/11/2009) 10

Quinta-feira (12/11/2009) 9

Sexta-feira (13/11/2009) 7

Sábado (14/11/2009) 5

Domingo (15/11/2009) 5

Segunda-feira (16/11/2009) 8

As cidades que foram mais citadas nessa semana também têm características em

comum: estão próximas a Salvador ou possuem sucursais, além de serem grandes cidades

baianas ou serem influentes em determinados setores econômicos, como o turismo, mas com

pouco aprofundamento. Além disso, escândalos políticos fazem com que determinadas

localidades ganhem destaque em detrimento de outras. Juazeiro e Feira de Santana foram as

cidades que mais tiveram matérias locais durante essa semana analisada: foram seis e quatro

textos respectivamente. Ambas as cidades possuem sucursais, e Feira de Santana é a segunda

maior cidade do estado. Ilhéus, Itaparica e Porto Seguro também foram bastante citadas, três

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vezes cada uma, por conta do forte apelo turístico, que sempre foi abordado nas notícias

relacionadas a esses locais. Cadeias foi a segunda cidade baiana, sem se relacionar com

Salvador nas matérias abordadas, que resultaram em quatro textos. Entretanto, é importante

notar que houveram suítes a partir de uma notícia de grande repercussão, o escândalo político

envolvendo um publicitário que usou o nome da mãe morta para fazer doações à campanha da

atual prefeita do município. O fato ainda tem repercussão por conta do envolvimento de

outras pessoas e empresas no esquema, além da relação com o Ministério da Integração

Nacional, comandada pelo ministro Geddel Vieira Lima, pois um dos fraudadores, a

Construtora Lustoza, foi escolhida parra executar obras em Candeias com verba de mais de 1

milhão direcionada pelo Ministério.

A capa de um jornal traz os principais assuntos daquela edição. Ela direciona o olhar

do leitor para as matérias de maior destaque daquele dia, e é bastante desejada entre os

jornalistas por conta da maior visibilidade. Entre os sete dias analisado, apenas 5 das 52

matérias tiveram chamadas na capa do jornal e apenas uma delas tornou-se manchete

principal: o escândalo de Candeias.

Entre os diversos temas abordados pelas matérias, reportagens e notas estão:

apreensões e ações policiais com 6 aparições, fraudes relacionadas a prefeitura em 5 textos;

divulgação de festas, eventos, ou inaugurações apareceram 6 vezes; enquanto a agricultura,

economia e turismo apenas 3 vezes. Outros temas como esporte, visitas e encontros,

reivindicações de grupos, denúncias e saúde apareceram 3 vezes cada um; e reportagens

relacionadas a cultura local como costumes, teatro, música local ou culinária apenas uma vez

durante uma semana, no jornal de domingo, que tratava de um evento em Salinas da

Margarida em que foi servido uma moqueca de chumbinho gigante de cerca de 400kg.

É possível encontrar matérias das sete sucursais do Grupo A Tarde na Bahia durante os

dias analisado. A origem das matérias indicam que nem sempre elas foram assinadas do local

onde o fato aconteceu. Somente 7 textos eram originários do local onde aconteceu o fato,

enquanto em 14 das 21 matérias assinadas o jornalista era de outra região que não o lugar

retratado na matéria. Além disso, a maioria dos textos não eram assinados, com isso era

impossível identificar se essas não passavam de pequenos releases divulgados ou matérias

preparadas em Salvador.

Foi investigado também o número de matérias durante esses dias que tinham relação

com o governo ou com Salvador e foram identificados 12 textos que traziam um vínculo com

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representantes do Estado ou com a capital. Quanto as notícias referentes a outros assuntos dos

municípios interioranos se concentram mais intensamente na sessão Bahia. Verificou-se

também que em determinados cadernos do jornal A Tarde há poucas referências a localidades

que não sejam Salvador. É o caso do caderno 2, caderno que trata da cultura e entretenimento

no periódico. Durante a semana analisada, muitos dias a única referência a outras localidades

era na divulgação de filmes em sala de cinema além da capital. E muitas vezes quando algum

local ganhava destaque era para divulgação de shows e eventos, como foi o caso da

apresentação de Lenine em Praia do Forte.

Considerações finais

Com base nas teorias éticas nos textos trabalhados durante o semestre, e analisando a

apuração e publicação de notícias de outros municípios baianos no jornal A Tarde, vale o

questionamento de que se a reflexão ética, colocada como fundamental por autores como

Tugendhat, existiria no dia-a-dia da cobertura jornalística.

Levando em conta a análise do periódico, supõe-se que a reflexão sobre as relações de

poder, do trabalho jornalístico pouco existe ou não acontece, focando o dia-a-dia na apuração

dos fatos. Acreditamos que uma discussão ampla sobre o tema e que envolvessem os

profissionais que lidam com notícia, e nesse grupo estariam incluídos jornalistas e seus

patrões, ajudariam a construir aos poucos uma nova cultura jornalística. Não será um código

deontológico novo ou uma revolução dos jornalistas que modificaram as normas

sedimentadas ao longo desses anos. Todos, de alguma forma, têm de estar engajados em

produzir novas rotinas que contemplem, ao mesmo tempo, a responsabilidade com a

informação que é distribuída para todos os cidadãos brasileiros e os interesses da organização

jornalística, que seguem o sistema econômico vigente.

Para a realização destas mudanças é necessários que hajam ponderações e muita

paciência de todos os lados. Mas não se pode perder de vista que o jornalismo, por vezes, tem

que assumir o papel de defensor da sociedade e de agente aproximador da vasta cultura

brasileira.

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Bibliografia

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TRAQUINA, Nelson. Teorias do Jornalismo Volume 2. Florianopólis: Insular, 2005.

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