ETIOLOGIA E PATOGENESE DA PANCREATITE CRONICA … · 2 ETIOLOGIA E PATOGENESE DA PANCREATITE...
Transcript of ETIOLOGIA E PATOGENESE DA PANCREATITE CRONICA … · 2 ETIOLOGIA E PATOGENESE DA PANCREATITE...
Dissertação / Artigo de Revisão Bibliográfica
Mestrado Integrado em Medicina
ETIOLOGIA E PATOGENESE DA PANCREATITE CRONICA NO ADULTO
Sérgio Manuel Resende Alves
Orientador:
Dr. Vítor Manuel Correia Valente
Porto, junho de 2015
2
ETIOLOGIA E PATOGENESE DA PANCREATITE CRONICA NO ADULTO
Sérgio Manuel Resende Alves
Artigo de Revisão Bibliográfica, Mestrado
Integrado em Medicina submetido no Instituto
de Ciências Biomédicas Abel Salazar
Ano letivo 2014/2015
Orientador: Dr. Vítor Manuel Correia Valente
Grau académico: Licenciado em Medicina
Título profissional: Cirurgião Geral e
Assistente Hospitalar Graduado Sénior no
Hospital Geral de Santo António
Afiliação: Instituto de Ciências Biomédicas
Abel Salazar, Rua de Jorge Viterbo, n.228,
4050-313 Porto
3
Resumo
Introdução - A Pancreatite Crónica é uma condição irreversível de lesão pancreática
que provoca disfunção endócrina e exócrina e que se associa clinicamente a dor
abdominal crónica e incapacitante, anorexia, esteatorreia e à Diabetes. A análise dos
factores de risco principais já estudados e as atualizações na patogénese da doença
nos últimos anos permitem aos clínicos fornecer o melhor tratamento possível aos
seus doentes.
Objectivos – Proponho-me a realizar uma pesquisa de artigos científicos em bases de
dados disponíveis (Pubmed, Medscape, revistas científicas, entre outras,) e estruturar
a informação selecionada numa dissertação concisa sobre o tema.
Desenvolvimento - As duas formas de doença pancreática não neoplásica; aguda e
crónica partilham muitos dos factores de risco e patogénese. Algumas formas de
pancreatite aguda podem evoluir para a forma crónica, ainda que não se considere a
primeira como precursora da última.
O diagnóstico da doença implica risco de morte aumentado e risco aumentado de
desenvolvimento de carcinoma pancreático. As consequências desta entidade
compreendem a diminuição da qualidade de vida dos doentes, atingimento das suas
relações pessoas e familiares e absentismo laboral com queda de rendimentos
salariais, aumento dos internamentos hospitalares, uso excessivo de medicação
analgésica e necessidade de intervenções cirúrgicas.
O consumo de álcool está relacionado com o desenvolvimento de pancreatite crónica,
no mundo ocidental. Contudo não é causa direta da doença mas um factor de
susceptibilidade e modificador de risco. Embora seja o principal modificador de risco,
apenas 10% dos consumidores de álcool crónicos desenvolve pancreatite crónica
Conclusões - Embora o evento precipitante do desenvolvimento possa ser consistente
(ex. consumo de álcool), é consensual que o desenvolvimento patofisiológico da
doença é multifactorial incluindo factores de risco tóxicos, ambientais, nutricionais e
genéticos.
É preciso reconhecer a importância de um diagnóstico precoce, os principais factores
de risco e patogénese da doença para um óptimo aconselhamento clínico.
Palavras-Chave
Pancreatite Crónica, Etiologia, Patofisiologia, Álcool, Tabaco, Genética, PRSS1,
SPINK1
4
Abstract
Introduction: Chronic Pancreatitis is an irreversible condition of permanent destruction
of the gland and its endocrine and exocrine functions. Associated with incapacitating
and chronic abdominal pain, anorexia, steatorrhoea and diabetes. The perception of
major risk factors already known and, the updates on the pathogenesis in the last few
years, allow the optimization of patient care.
Objectives – I intend to do a research on multiple databases available (Pubmed,
Medscape, scientific journals, among other) on the subject, and elaborate a systematic
review
Development: The two forms of non-neoplasic pancreatic disease: acute and chronic,
share many of the risk factors and pathogenesis. Some forms of acute pancreatitis may
progress into the chronic form, although it should not be considered forerunner.
The diagnosis carries with a high mortality rate and an increased risk of
pancreatic carcinoma. The consequences of this diagnostics may directly affect the
quality of life of the patients by damaging their relationships, increasing labour
absenteeism, lost wages and expenses gain by more hospital internments, analgesic
medication and surgical interventions.
Alcohol consumption is related with the development of Chronic Pancreatitis in
the western world. However, it is not a direct cause but a modifiable susceptibility
factor. Being a major risk factor, only 10% of chronic alcohol consumers develop
Chronic Pancreatitis.
Conclusion: Despite the inciting event may be consistent (ex. Alcohol consumption), it
is generally acceptable that the pathophysiologic development of the disease is
mulfactorial, like toxic, environmental, nutritional and genetics.
It is mandatory to acknowledge the importance of an early diagnosis, the major
risk factors and pathogenesis of the disease for an optimal clinical orientation
Key-words
Chronic Pancreatitis, Etiology, Pathophysiology, Alcohol intake, Smoking, Genetic,
PRSS1, SPINK1
5
Índice Resumo ........................................................................................................................ 3
Abstract ........................................................................................................................ 4
Epidemiologia ............................................................................................................ 7
Incidência e História Natural ...................................................................................... 8
Pancreatite Aguda Vs. Pancreatite Crónica ............................................................... 8
Metodologia ................................................................................................................ 10
Discussão ................................................................................................................... 10
Etiologia .................................................................................................................. 10
Álcool e tabaco .................................................................................................... 11
Pancreatite Hereditária ........................................................................................ 12
Obstrução Ductal ................................................................................................. 12
Pancreatite tropical .............................................................................................. 13
Pancreatite Autoimune ......................................................................................... 13
Pancreatite Idiopática .......................................................................................... 14
Patogénese ............................................................................................................. 14
Genética da Pancreatite Crónica ......................................................................... 14
Células estreladas do pâncreas ........................................................................... 21
Patogenese da dor .............................................................................................. 23
Conclusão ................................................................................................................... 24
Referências ................................................................................................................ 26
6
Introdução
A pancreatite crónica é um processo inflamatório e fibrótico progressivo que
ocorre no pâncreas e que resulta em lesões irreversíveis estruturais com disfunção
endócrina (ilhotas de Langerhans) e exócrina (células acinares). (1)
Numa perspectiva histórica, a anatomia do pâncreas e as primeiras descrições
do ducto pancreático datam de meados do século XVII, por Wirsung, Brunner e Vater
(2). Posteriormente, Cawley estabelece a primeira relação entre a pancreatite e a
Diabetes. Em 1869 Paul Langerhans identifica pela primeira vez um conjunto de
células homogéneas no pâncreas, ilhotas de Langerhans, nomeadas em seu nome por
investigadores à posteriori, perante a sua importância na função endócrina deste
órgão (insulina e glucagão) (3). Pouco depois, Blaser constata que ocorre necrose
gorda na pancreatite aguda, e Chiari suspeita que a pancreatite é causada por um
processo autodigestivo. (2,3)
A apresentação clínica da pancreatite crónica é variável, embora a maioria dos
doentes apresente uma dor epigástrica com irradiação para o dorso, muitas vezes
descrita como difusa e profunda, variando de intensidade média a “insuportável”. A
prevalência de insuficiência endócrina e exócrina é variável (4,5). O tratamento
depende de um diagnóstico correto, sendo que este pode ser desafiante pela
variabilidade semiológica. As hospitalizações por longos períodos são frequentes,
muitas vezes para controlo da dor, e por vezes complicadas. Vários destes aspectos e
outros de cariz socioeconómico e sociais fazem com que esta doença tenha um
impacto multidimensional na qualidade de vida dos doentes (6). Apesar dos recentes
avanços, é difícil parar a progressão da doença e fornecer um alívio adequado.
Já são conhecidos muitos dos factores de risco desta doença, continuando a
haver novos desenvolvimentos nos factores genéticos. No entanto, é consensual que
o consumo de álcool tem muitos efeitos lesivos sobre o pâncreas. Não é causa direta
mas apenas o principal factor de risco modificável, acompanhado pelo tabagismo (7),
factores genéticos (8) e ambientais. A maioria dos doentes apresentam múltiplos
factores de risco e mutações genéticas que conferem susceptibilidade. Cerca de 70%
dos casos de pancreatite crónica podem ser atribuídos ao consumo de álcool, embora
90% dos consumidores de álcool nunca cheguem a desenvolver pancreatite crónica
(9).
A patogénese da doença ainda não é completamente compreendida (10).
Qualquer que seja a etiologia, a Patofisiologia básica envolve um processo
7
inflamatório com destruição progressiva do tecido pancreático e substituição do
mesmo por fibrose.
Assim, pretendo com este artigo realizar uma revisão da literatura sobre os
últimos desenvolvimentos na etiologia, e as hipóteses de mecanismos de patogénese
mais atualizados desta doença, tão incapacitante para o doente, pelas características
da dor e pelas várias dimensões em que afecta a sua qualidade de vida.
Epidemiologia
A pancreatite crónica tem um peso considerável na morbimortalidade das
populações, estando entre as 7 doenças do foro da gastroenterologia mais comuns
nos Estados Unidos. A incidência anual nos Estado Unidos é entre 5 a 14/100.000 (7)
e a prevalência tem valores variáveis desde aproximadamente 50/100.000 nos países
ocidentais onde o álcool é um factor de risco atribuível frequente (11,12), a taxas tão
altas quanto 1/830 doentes nos países orientais e Índia onde a pancreatite tropical é
frequente. (13). A prevalência aumenta com a idade (idade média 62 anos) (14).
Em países tropicais, uma variante da doença, a pancreatite tropical calcificante
é mais prevalente e com início mais precoce. É uma forma da doença, de etiologia não
alcoólica, caracterizada por múltiplos cálculos intraductais e associada a mutações de
susceptibilidade no gene do inibidor de serina protéase 1 (SPINK1) (16).
Cerca de 12% dos doentes com Pancreatite Crónica Recorrente, têm uma
evolução desfavorável da doença, progredindo para pancreatite crónica. O consumo
de álcool e abuso do tabaco, nestes doentes, é frequente e conferem maior
predisposição para a evolução da doença. Assim, o maior preditor para o diagnóstico
de pancreatite crónica, é o diagnóstico prévio de Pancreatite Aguda Recorrente. (13)
É uma doença mais frequente no sexo masculino num rácio (homem/mulher)
de 4,6. A pancreatite relacionada com o álcool é também dominante no sexo
masculino. Um estudo americano, North American Pancreatitis Study (NAPS)
encontrou uma variante genética, CLDN2 ligado ao X, que confere risco alélico para
pancreatite alcoólica (14). Por sua vez, o sexo feminino tem maior predisposição para
pancreatite relacionada com etiologia obstrutiva (litiásica), relacionada com técnicas de
investigação como a colangiopancreatografia retrógrada endoscópica (CPRE) e com
doenças autoimunes (11).
Os afro-americanos têm risco aumentado 2 a 3 vezes, de desenvolver
pancreatite crónica, em relação aos doentes caucasianos. A doença é também mais
prevalente nos primeiros. Estudos sugerem que esta diferença se deva também a
8
variantes raciais, mais do que as diferenças dietéticas e nutricionais ou ambientais
(15).
Também no estudo NAPS, foi verificado que os indivíduos com o grupo
sanguíneo A, B e AB podem condicionar algum factor protetor, com diminuição do
risco de pancreatite crónica nos grandes consumidores de álcool (16)
A taxa de mortalidade associada à pancreatite crónica pode chegar aos 50%
aos 20 anos de diagnóstico, sobretudo quando relacionada com o abuso de álcool.
(17,18)
Incidência e História Natural
A história natural da doença caracteriza-se por dor progressiva, inicialmente
intermitente, mais tarde torna-se constante, e perda de função glandular (exócrina e
endócrina). Frequentemente a perda de função exócrina precede a perda de função
endócrina. (17, 18).
Estudos sugerem que a perda progressiva de função pancreática pode levar a
um alívio dos sintomas (burnout pancreático) (17,21). Resultados do estudo de
Ammann sugerem que a descompressão cirúrgica do ducto pancreático alivia a dor na
maioria dos doentes e atrasa a progressão da disfunção endócrina e exócrina. (22)
As principais causas de morte nos doentes com pancreatite crónica aos 20
anos de diagnóstico (50%) são complicações relacionadas com o abuso de tabaco,
disfunção hepática, infecção e desnutrição. Aproximadamente 20% das mortes são
relacionadas com a pancreatite crónica em si (17,18,19).
Aproximadamente 3 a 4% dos indivíduos com pancreatite crónica desenvolvem
carcinoma, um risco substancialmente maior que a população geral. (20). O risco
cumulativo de carcinoma pancreático em doentes com pancreatite hereditária ronda os
40%. Torna-se portanto crucial o diagnóstico precoce e atempado desta condição
genética pois uma ressecção pancreática mais agressiva pode ser necessária (23,24).
Pancreatite Aguda Vs. Pancreatite Crónica
A pancreatite aguda é uma resposta inflamatória aguda a uma lesão
pancreática e é geralmente não progressiva. Episódios recorrentes de pancreatite
aguda, chamada Pancreatite Aguda Recorrente (PAR) podem levar a pancreatite
crónica ao longo do tempo. A pancreatite crónica pode ter períodos assintomáticos, ou
sintomas de insuficiência pancreática sem dor. A pancreatite aguda é quase sempre
dolorosa. Os indicadores, amílase e lípase sérica estão quase sempre elevados na
pancreatite aguda e tendem a ser normais na forma crónica. Na pancreatite crónica,
as alterações histológicas são focais, com infiltrado mononuclear e fibrose (figura 1).
9
Por sua vez, as lesões na pancreatite aguda envolvem uma grande porção do órgão
com resposta inflamatória predominantemente neutrofilica. (25)
Fig. 1 – Perda progressiva da normal arquitetura celular do pâncreas com substituição de células
acinares por tecido fibrótico (mais claro)
Imagem gentilmente cedida pelo Dr. Withcomb (2009) © Pancreas.org/pâncreas/pathology-
nonmalignant/
A classificação de Marselha veio propor a classificação de pancreatite aguda e
crónica, ambas com as respectivas variantes recorrentes e não recorrentes (26).
Posteriormente a classificação de Cambridge M-ANNHEIM incorpora múltiplos
factores de risco e tem em conta a etiologia, estadiamento e graus de gravidade da
doença (27).
Na figura 2 pretende-se sumarizar o contínuo entre factores de predisposição
biológicos e ambientais. Atualmente não é possível saber o impacto de cada um
desses factores pois não existem dados clínicos e epidemiológicos suficientes
disponíveis.
A classificação de TIGAR-O é mais comummente utilizada e veio incluir vários
factores de risco clinicamente relevantes, dividindo-os em 6 grupos: 1- tóxico-
metabólicos, 2- idiopáticos, 3- genéticos, 4 – autoimunes, 5- Pancreatite aguda
recorrente e severa e 6- obstrutiva (tabela 1).
Fig. 2 – Interação de predisposições biológicas e ambientais.
Schneideir A, Lohr JM, et al (2007) The M-ANNHEIM classification of chronic pancreatitis:
introduction of a unifying classification system based on a review of previous classifications of the disease.
10
Tabela 1 – TIGAR-O, sistema de classificação da pancreatite crónica, Etemad B, Whitcomb DC,
(2001), chronic pancreatitis: Diagnosis, classification and new genetic developments, 682-707
Metodologia
Toda a informação compreendida neste artigo pressupões a pesquisa em arquivos
online de artigos publicados (PubMed, MEDLINE, Medscape), utilizando como
palavras chaves Chronic Pancreatitis, Etiology, Pathophysiology, Alcohol, Smoking,
Genetic, PRSS1, SPINK1. Foram adicionadas referências dos respectivos artigos
consultados.
Discussão
Etiologia
O consumo de álcool é o factor causal mais comum da pancreatite crónica no mundo
ocidental (Europa e Américas), contribuindo para entre 70 a 90% dos casos (28),
contudo a associação álcool e pancreatite crónica é complexa e parece ter sido
sobrestimada. Nos países orientais e Índia os hábitos nutricionais diferem e a dieta
consiste em alimentos de baixa teor em gordura, proteína e têm baixas taxas de
alcoolismo. A frequência de pancreatite tropical calcificante é comum em idades
precoces (29). A ocidentalização das culturas e dos hábitos dietéticos tem vindo a
aumentar os hábitos alcoólicos e a aumentar a etiologia alcoólica nesses países.
11
Estudos recentes, americano (NAPS2) e italiano (PanCroinfAISP) vieram a
demonstrar uma diminuição da prevalência de pancreatite alcoólica para os 45%,
idiopática para os 28% e um grande aumento das etiologias não alcoólicas para os
29%, sobretudo em mulheres (30). Os recentes avanços diagnósticos e a descoberta
de novas mutações genéticas permitiram a classificação de novas etiologias e
consequentemente as novas baixas percentagens atribuídas ao álcool.
Certas doenças sistémicas podem cursar com pancreatite crónica, como
apresentação inicial ou como complicações como é o caso da fibrose cística e o Lupus
Eritematoso Sistémico.
Álcool e tabaco
Apesar de ser o factor mais conhecido, apenas 5 a 10% dos alcoólicos
desenvolvem pancreatite crónica, sugerindo a existência de outros mediadores na
patogénese da doença. (31). Nos doentes admitidos por pancreatite aguda alcoólica,
depois de uma segunda crise de pancreatite aguda, ao fim de 2 anos de follow up há
um risco aumentado de 38% para a progressão para pancreatite aguda recorrente e
posteriormente pancreatite crónica. (32).
É consensual que existe uma relação entre o tempo de consumo de álcool e o
desenvolvimento da doença, existindo casos de doença também em indivíduos com
exposição ao álcool relativamente baixo. Existe, no entanto um limiar de, quando o
consumo é superiora 5 bebidas por dia durante mais de 5 anos, o risco é maior. (33).
Acredita-se que o etanol altere a ativação de zimogéneos digestivos, alterando
os mecanismos de stress do reticulo endoplasmático, induzindo mecanismos de
resposta imune inata. (34).
O consumo de álcool não se relaciona com a necrose inicial, contudo o
consumo continuado parece favorecer a transição para pancreatite crónica (35).
Recentemente foi descoberta uma mutação no gene CLDN2 que foi associado
a um aumento do risco de pancreatite recorrente e progressão para pancreatite
crónica. (8). Também o gene CaSR tem um papel na pancreatite relacionada com o
álcool. (39)
Isto é uma relação perigosa no sentido de gerar estigma para os doentes que
são rotulados como (“closet alcoholics”)
O tabaco é um factor de risco independente do álcool, estando associado ao
rápido desenvolvimento de calcificações pancreáticas, insuficiência exócrina e
anomalias ductais (36). O período de tabagismo ativo é mais importante que a dose, e
a cessação nos primeiros anos de diagnóstico parece prevenir o desenvolvimento de
calcificações (37).
12
Estudos em modelos animais, concluíram que o tabaco aumenta a atividade
inflamatória com supressão da atividade da glutationa peroxidase no pâncreas,
agravando a isquemia e aumentando a infiltração de leucócitos. (38)
Pancreatite Hereditária
Uma pequena percentagem dos casos de pancreatite crónica são atribuíveis a
esta etiologia. É uma doença de transmissão autossómica dominante com 80% de
penetrância. É de início precoce, frequentemente sintomática antes dos 20 anos. Está
associada a risco aumentado de adenocarcinoma do pâncreas (40).
É importante salvaguardar que pancreatite familiar não é o mesmo que
hereditária. Na forma familiar, a incidência de pancreatite crónica numa mesma família
é superior à esperada na população geral. Pode ser de qualquer etiologia e também
pode ser genética ou não genética. A forma familiar parece ter etiologia complexa,
multigénica e genica-ambiental que afectam a regulação da tripsina, através de
variação patogénicas nos genes CaSR, CTRC e CLDN2.
Na pancreatite hereditária, a descoberta de mutações no gene da tripsina
catiónica (PRSS1), e o seu envolvimento na tripsinogenese, veio elucidar-nos na
nossa compreensão da pancreatite crónica. Mutações neste gene foram identificadas
como causa da transmissão autossómica dominante, provocando pancreatite
hereditária. Variações génicas do PRSS1 vão provocar um aumento da tripsina
ativada que provoca lesão pancreática e resposta imune, causando inflamação.
Quando o tripsinogéneo é secretado nas células acinares para o ducto pancreático
provoca um aumento na concentração de cálcio. O cálcio vai favorecer a ativação
prematura de tripsinogéneo e inibir a degradação da tripsina, que é lesiva no
pâncreas, promovendo a inflamação. (41)
Obstrução Ductal
A obstrução ao fluxo de fluídos ricos em zimogéneos, e consequente retenção,
vai promover a autodigestão de tecido pancreático e iniciar um processo de inflamação
que pode tornar-se crónico. Embora, grande parte do processo de desenvolvimento da
doença se deva a etiologias não obstrutivas.
As alterações histológicas podem persistir após alívio cirúrgico da obstrução,
ou por adiamento do procedimento cirúrgico. As obstruções podem estar associadas a
trauma, pseudocistos, litíase, tumores ou malformações. (42).
Disfunções do esfíncter de Oddi podem ser responsáveis pelo desenvolvimento
da doença numa pequena percentagem de doentes. (43)
13
O Pancreas divisum é uma variação anatómica frequente em 7% da população
em que a porção ventral e dorsal do pâncreas não se fundem embriologicamente. Esta
variação não é consensual enquanto factor de risco, pois a maioria dos portadores é
assintomático, e está mais relacionado com a pancreatite aguda. (44)
Pancreatite tropical
Doença de múltiplas etiologias e patogénese desconhecida. Comum na Índia,
países tropicais e orientais, onde não são comuns o abuso de álcool, doença biliar
nem desordens metabólicas. Distribui-se por uma faixa de 30 graus a partir do
equador. Nesses países é a causa mais frequente de pancreatite crónica. (45)
Foi notada uma provável relação com o consumo de tapioca, pois esta fruta
teria correlação com as regiões endémicas e por ser uma fonte de glicosídeos
cianogénicos com possível associação ao mecanismo de lesão oxidativa do pâncreas,
relação já abandonada. (46)
O início dos sintomas é precoce, na infância, e a idade de morte fixa-se perto
dos 50 anos de idade por disfunção endócrina e exócrina.
O pâncreas torna-se difusamente calcificado e atrofiado com dilatação do ducto
de Wirsung, ocorrendo hipertensão pancreática e isquemia.
É uma doença com focos familiares e em que o estudo genético mostrou a
presença de mutações no gene inibidor da serina protéase (SPINK1). (47)
Pancreatite Autoimune
Contribui para 5% dos doentes com pancreatite. Pode apresentar-se como
pancreatite aguda ou evoluir para a forma crónica. Foram descritos 2 tipos. O tipo 1
está associado a níveis séricos elevados de imunoglobulina G4 (IgG4) que promovem
infiltrados em órgãos como o pâncreas, vias biliares, rins, glândulas salivares,
retroperitoneu e outros órgãos. Este tipo é recorrente e pode ser necessária terapia
imunossupressora como a Azatioprina ou Rituximab. O tipo 2 afecta apenas o
pâncreas, atinge doentes mais novos e não está associado à imunoglobulina atrás
referida (48).
Pode ocorrer de forma isolada ou em associação com outras doenças como o
síndrome de Sjögren, colangite esclerosante primária ou a doença inflamatória
intestinal.
Apesar de se poder manifestar como pancreatite crónica, tem clínica e
características histológicas distintas, menos dor, pode cursar com
hipergamaglobulinemia, presença de anticorpos aumentados (ANA, anti-músculo liso e
14
outros), aumento difuso do pâncreas e ausência de calcificações, respondendo bem
aos corticosteróides (49).
Pancreatite Idiopática
Cerca de 30% dos diagnósticos de pancreatite crónica mantém-se sem
etiologia. O tabagismo é provavelmente o factor que mais contribui para este grupo.
(51)
Mutações do gene PRSS1 não parecem estar relacionadas com este grupo.
Em contrapartida, genes de menor penetrância como o SPINK (de 4 a 60% dos
casos), e o CFTR foram identificados em doentes nesta categoria. Sendo que 80%
dos casos, tinham mutações num destes tipos de genes, ou eram trans-
heterozigóticos com mutações nos dois (50).
Como outras formas de pancreatite crónica também está associado a disfunção
endócrina e exócrina, com diferenças fisiológica que justificam uma progressão mais
lenta da doença. Suspeita-se que por ausência de um factor agravante como o álcool.
Patogénese
Genética da Pancreatite Crónica
Todos os genes identificados interferem no mecanismo da tripsina tornando-a mais
ativa.
Fig. 3 – Genética da Pancreatite. Whitcomb DC (2010), Genetic Aspects of Pancreatitis, Annu Rev Med,
61, 414
15
PRSS1 (Tripsinogénio catiónico) – Promove a ativação prematura de
tripsinogéneo que vai ativar a tripsina, gerando níveis elevados de cálcio e baixo pH. O
cálcio é um importante mediador e regulador da função acinar que vai promover a
degradação do tripsinogéneo em tripsina e inibir a degradação da tripsina, gerando
inflamação pancreática. (41). É o gene responsável pela transmissão dominante na
pancreatite hereditária.
CaRS (Receptor sensível ao cálcio) – É um gene que codifica um receptor de
membrana, expresso na paratiróide, osso, intestino, rim, cérebro e nas células
acinares e ductais do pâncreas. Regula os níveis de cálcio por mecanismos de
feedback, ativando a secreção de fluidos e eletrólitos. É altamente influenciado pelo
álcool, que faz aumentar os níveis de cálcio, desregulando o mecanismo. Mutações no
gene que codifica este receptor foram notadas nos consumidores de álcool moderado
e pesado. Este gene e o SPINK1 aumentam o risco de inflamação pancreática (52).
Está a ser ponderada a relação entre a pancreatite e o hiperparatiroidismo primário.
CTRC (gene da Quimiotripsina C) – Facilitador da degradação da tripsina. É
um factor protetor de inflamação. Altos níveis de cálcio diminuem a sua atividade.
Mutações neste gene predispõem ao desenvolvimento de pancreatite por diminuição
do fator protetor. Estão relacionados a risco aumentado de pancreatite tropical. (53)
SPINK1 (Gene inibidor da tripsina sérica Kazal tipo 1) – É um gene que codifica
a secreção de um inibidor da tripsina. Normalmente não é expresso nas células
acinares, e apenas em contexto de inflamação. Bloqueia a tripsina ativada e a ativação
do tripsinogéneo, limitando a lesão pancreática. (54) As mutações que causam perda
de função do inibidor não são factor de risco primário na pancreatite aguda recorrente
nem pancreatite crónica, e por si só não causam pancreatite, mas são modificadores
de doença em casos de falência do controlo por feedback na ativação recorrente da
tripsina.
Foram identificadas duas mutações recorrentes, a N43S e a 194+2T>C. A
mutação N34S pode aumentar a probabilidade de desenvolver a doença por interação
com outros genes e fatores ambientais. A mutação 194+2T>C interfere no Splicing de
mRNA que leva à falta do exão 3 e um defeito na proteína SPINK1 levando a perda de
função.
Mutações neste gene são factores de risco importantes em casos de
pancreatite idiopática e na progressão da pancreatite aguda recorrente a Crónica. Foi
16
notada grande prevalência deste tipo de mutações na pancreatite tropical calcificante
na Índia (55)
CFTR (Regulador de condutância transmembranar da Fibrose Cística) – É um
gene que codifica uma molécula no ducto, que atua como canal aniónico que
transporta clorideos e bicarbonato. Regula as células ductais na produção de fluídos
ricos em bicarbonato que ajudam a conduzir a tripsina para fora do pâncreas e para o
duodeno, “washout”. Atua como agente protetor da inflamação. (56) Ganhou o seu
nome por estar associado à Fibrose Cística.
Mutações neste gene resultam na retenção de tripsina no ducto onde podem
tornar-se ativas e entrar em processo de autodigestão. Estão associados a variantes
patogénicas em dois alelos. A variante p.R75Q é seletiva, afectando apenas a
condutância do bicarbonato e mantém a do clorideo, aumenta o risco de pancreatite,
com efeitos mínimos nos pulmões. Em associação com mutações no gene SPINK1
aumenta consideravelmente o risco de Pancreatite Crónica Idiopática. (57)
CLDN2 (Claudina) – É um modificador da doença relacionado com o consumo
de álcool. Descoberto recentemente, codifica a proteína de junção de células epiteliais
claudina-2. A claudina é expressa no ducto proximal e facilita o transporte de água e
sódio que ajudam no “washout” da tripsina, como o CFTR. (14)
Pensa-se que defeitos nesta proteína estejam associados a localização atípica
destas proteínas nas células acinares aumentando a permeabilidade, desregulando o
sistema de “washout” do bicarbonato. É uma mutação associada ao cromossoma X.
Quase todos os homens diagnosticados com pancreatite alcoólica tinham esta variante
(14)
Etiologia Mutações genéticas (1 ou mais)
Alcoólica SPINK1
CFTR
CLDN2
Tropical SPINK1
Hereditária PRSS1
SPINK1
CFTR
Idiopática SPINK1
CFTR
Tabela 2 – Causas da pancreatite crónica e associações com mutações genéticas reconhecidas
Adaptado de Behrman SW, Fowler ES, (2007) pathophysiology of chronic pancreatitis, 1309-1324
17
Teorias da patogénese da Pancreatite Crónica
Apesar das novas descobertas genéticas envolvidas no mecanismo complexo
da patogénese da pancreatite crónica, ainda não compreendemos completamente tais
mecanismos. (10)
Fig. 4 – Mecanismos patogénicos propostos para explicar a pancreatite crónica por diferentes etiologias.
É provável que diferentes mecanismos expliquem diferentes etiologias. Stevens T., Darwin L, et al (2004)
Pathogenesis of chronic pancreatitis an evidence-based review of past theories and recent developments
Hipótese do Stress Oxidativo – O pâncreas sofre stress oxidativo, resultante de
metabolitos provenientes da circulação sistémica e do refluxo da bile para os ductos
pancreáticos. Foi proposto que a hiperatividade das oxidases hepáticas, ainda que
úteis na destoxificação de resíduos do metabolismo das células, vão exacerbar as
lesões oxidativas (58). O consumo excessivo de lípidos e/ou de álcool, podem
provocar a hiperprodução dessas oxidases. Em modelos animais este mecanismo
parece funcionar. Nos ratos, os antioxidantes parecem prevenir a fibrose (59). No
entanto, produtos oxidados podem estar presentes sem alterações inflamatórias no
pâncreas e representam provavelmente um fenómeno contribuinte para o mecanismo
de lesão, mas que não marca ou explica o inicio da sequência patogénica.
18
Hipótese Tóxico-Metabólica – Outra proposta foi a de que o álcool é diretamente tóxico
para as células acinares promovendo acumulação de lípidos no citoplasma das
mesmas levando a necrose celular e fibrose extensa (60). Contra esta hipótese estão
a ausência de provas de que a esteatose pancreatite seja um verdadeiro precursor de
fibrose ou uma lesão paralela e reversível. (61).
Algumas doenças metabólicas estão associadas à pancreatite crónica,
nomeadamente a hipercalcemia e a insuficiência renal crónica. Na hipercalcemia, há
lesão ductal e inflamação que induz pancreatite aguda por mecanismos mediados pela
tripsina. Se esta condição de hipercalcemia persistir pode precipitar o desenvolvimento
de pancreatite crónica. Como tal, doenças que provocam o aumento de cálcio sérico
como o hiperparatiroidismo foram associados à pancreatite crónica. O mecanismo de
patogénese estará relacionado com a progressão da pancreatite aguda recorrente em
pancreatite crónica como nos elucida a hipótese da necrose-fibrose, embora a
hipercalcemia também predisponha à formação de rolhas ductais proteicas por
modificação do fluido pancreático. (62).
Em relação aos doentes com insuficiência renal crónica, verificou-se um
aumento da prevalência de pancreatite aguda e crónica. A patogénese da pancreatite
crónica na insuficiência renal não é conhecida mas sugerem-se mecanismos de
toxicidade directa da ureia no parênquima, a hipovolémia recorrente pela diálise, que
resulta na diminuição do fluido pancreático e hipersaturação do mesmo, ou ainda a
desregulação do perfil hormonal gastrointestinal, provocando disfunção exócrina. (63)
Hipótese de Obstrução Ductal e Litíase – O processo patogénico da pancreatite
crónica começa no lúmen dos ductos pancreáticos. O álcool modula a função exócrina
do pâncreas aumentando a litogenecidade do fluido pancreático, tornando-o
hiperproteico e propenso a rolhas e litíase. Contacto continuado de cálculos com o
epitélio ductal leva a ulceração e cicatrização, promovendo o processo de obstrução,
estase e favorecendo o processo litogénico, entrando num ciclo vicioso. (Figura 5).
Este processo obstrutivo leva a atrofia e fibrose das células acinares.
Esta teoria pressupões que o álcool seja o modulador primário das
propriedades do fluido pancreático. (64)
Contudo esta hipótese não explica o facto de não se encontrar rolhas proteicas
em todos os casos de pancreatite crónica (65). E por não se ter concluído se a
formação de cálculos precede ou é subsequente à fibrose pancreática.
Algumas proteínas poderão estar implicadas na formação de cálculos. A
litostatina ou Proteína de Cálculos pancreáticos/ Pancreatic Stone Protein (PSP),
19
sintetizada nas células acinares, pensou-se que poderia prevenir a precipitação de
carbonato de cálcio no fluido pancreático hipersaturado. No entanto, esta hipótese foi
abandonada porque foi concluído, em estudos subsequentes, que não interage
diretamente na inibição da formação de cristais, não foram encontradas mutações
deste gene na pancreatite crónica hereditária ou idiopática, e a diminuição da
expressão desta proteína não é específica da forma calcificante, mas aparece noutras
formas da doença sem formação de cálculos. (66)
Outra proteína acinar, que se pensa estar envolvida na litogénese, é a
Glicoproteína 2 (GP-2) que é o constituinte principal das membranas das células
granulares. A GP-2 é libertada no fluido pancreático e tem um papel importante na
formação de rolhas proteicas, sendo análoga da proteína de TammHorsfall na
formação de cálculos renais. (67)
Fig. 5 – Hipótese da obstrução ductal e litíase. Stevens T, Darwin L, (2004), Pathogenesis of chronic
pancreatitis: An evidence-based review of past theories and recente developments, Am J Gastroenterol,
Hipótese da Necrose-Fibrose – Esta hipótese prevê que o processo de fibrose ocorra
de um processo continuado de outras formas de pancreatite (pancreatite aguda e
pancreatite aguda recorrente). A inflamação, necrose e cicatrização dos episódios de
pancreatite aguda, forma tecido cicatricial em áreas periductais. Compressão
extrínseca dos ductos pelas formações de colagénio leva a obstrução dos complexos
20
acinares. O agravamento dessa obstrução leva a atrofia dos complexos, estase e
formação secundária de cálculos. (68) (Figura 6)
Fig. 6 – Hipótese da necrose-Fibrose, Stevens T, Darwin L, (2004), Pathogenesis of chronic pancreatitis:
An evidence-based review of past theories and recente developments, Am J Gastroenterol++**
Todas estas hipóteses formulam vários passos comuns, nomeadamente a
presença de cálculos, lesão epitelial ductal e fibrose. No entanto, não há evidência que
suporte nenhuma das teorias em relação ao processo inicial, litíase ou fibrose.
Hipótese do Ducto Primário – Hipótese recente, baseada em observação de doentes
de etiologia não alcoólica (69). Defende que a lesão primária é provocada por uma
reação imunológica do epitélio ductal que leva a inflamação e fibrose da arquitetura
ductal. O alvo desta reação será provavelmente um antigénio adquirido ou de origem
genética. Segundo esta hipótese a pancreatite crónica é uma doença autoimune. (70).
O álcool poderá ter um papel na modulação dos antigénios alvo no epitélio ductal e ter
um efeito tóxico por estagnação. (71)
Rolhas Ductais Proteicas – Acredita-se que a hipersecreção proteica, quando não
compensada pela libertação de bicarbonatos, leva ao aumento da viscosidade dos
fluidos pancreáticos, o que facilita a formação de rolhas/tampões que promovem a
21
calcificação, levando a litíase nos ductos pancreáticos. Acredita-se que o álcool seja
um modificador da secreção proteica pelo pâncreas (72). Posteriormente ocorre lesão
epitelial dos ductos, e consequente processo de cicatrização que vai contribuir,
juntamente com os fenómenos de calcificação a decorrer, para a obstrução das vias
ductais pancreáticas. O sistema imune vai recrutar mecanismos de resposta
inflamatória que provocam perda celular e substituição por tecido fibrótico. (73)
Células estreladas do pâncreas
Sabe-se que têm uma função importante na fibrinogénese. Estas células
quando inativas, são células triangulares, contêm lípidos e situam-se em regiões
perivasculares. (74)
Mediante ativação, perdem o conteúdo lipídico, tornam-se do ponto de vista
morfológico e funcional semelhantes aos fibroblastos. Migram para áreas peri-acinares
onde expressam proteínas específicas capazes de sintetizar fibras de colagénio tipo I
e tipo III e fibronectina. Tornam-se assim uma descoberta chave no mecanismo de
fibrose pancreática, tendo um papel fundamental na deposição de colagénio nas fases
iniciais do desenvolvimento da fibrose na pancreatite. (75)
Há atualmente evidência, em peças de pâncreas, de doentes com pancreatite
crónica que sugerem a presença de actinas do músculo liso tipo α, presentes em
células estreladas ativadas, em áreas fibróticas do pâncreas. Em modelos animais
com pancreatite crónica demostrou-se um aumento de células estreladas. (76)
Estudos recentes demonstraram vários factores capazes de promover a
ativação das células estreladas. Um destes factores é uma vez mais o álcool e
substâncias do seu metabolismo, acetaldeído, que, em modelos in vitro, mostraram-se
capazes de ativar diretamente as células estreladas pancreáticas, bem como as
células estreladas hepáticas, através do mecanismo de stress oxidativo. (77)
Citocinas na Fibrogenese
Para além do álcool, que é fator ativador das células estreladas do pâncreas e
fundamental nos mecanismos de stress oxidativo e tóxico-metabólicos, também estão
envolvidas múltiplas citocinas nestes processos e na ativação das células estreladas
(78).
Tais citocinas mostraram-se capazes de recrutar infiltrados celulares em
estados iniciais de pancreatite crónica. Assim, fatores como o fator de crescimento
derivado das plaquetas (PDGFR), o fator de crescimento transformador β 1 (TGF-β1),
interleucina 1 e 6 (IL-1, IL-6) e o fator de necrose tumoral α (TNF-α), estão ativos e
implicados durante a fase inflamatória da pancreatite aguda e mostraram-se capazes
22
de estimular a ativação de células estreladas por administração exógena, o que veio
sugerir que a pancreatite aguda recorrente poderá progredir para pancreatite crónica.
(79)
O TGF-β1 tem ganho atenção como mediador de fibrose na doença
pancreática, sendo encontrado em áreas fibróticas do pâncreas humano com
pancreatite crónica e com pouca expressão no pâncreas normal. É considerada uma
citocina importante na mediação do “remodeling” da matriz extracelular na pancreatite
aguda e que a sua administração exógena promove a fibrose na pancreatite aguda
recorrente. (80)
Em conjunto com o fator de crescimento derivado das plaquetas (PDGFR), o
TGF-β1, é libertado durante a necrose e inflamação pancreática, resultando na
formação e deposição de colagénio e outras proteínas da matriz extracelular no
espaço intersticial. Tal vai provocar destruição das células acinares e deformação das
células ductais. A consequência é a perda progressiva da morfologia lobular e da
estrutura do pâncreas, com deformação dos grandes ductos e alteração da disposição
e composição das ilhotas de Langerhans (79, 80). Como já referido, esta destruição
fibrótica é irreversível e as alterações morfológicas e estruturais levam a disfunção
endócrina e exócrina, podendo resultar em malnutrição e diabetes
A Interleucina 10 (IL-10), Interferão γ (IFN-γ) e o fator de crescimento do tecido
conjuntivo (CTGF), poderão também contribuir para o processo de fibrose pancreática
(81).
Hipótese da Pancreatite Aguda Sentinela (SAPE)
Esta hipótese vem propor a unificação das teorias anteriores formulando um
modelo de dois ataques lesionais.
O primeiro seria o processo de lesão primária que ativa a resposta imunitária e
causa o episódio de pancreatite aguda. Processo este que está ligado aos
mecanismos da tripsina.
Um segundo ataque vem modificar a resposta normal inflamatória, levando a
uma ativação sustentada das células estreladas do pâncreas, provocando fibrose.
Diferentes mutações genéticas poderão estar implicadas em diferentes etapas
(39).
Uma descoberta importante, o mecanismo das células estreladas e a sua
importância na fibrose pancreática, foi demonstrada em estudos animais, e
recentemente também nos humanos.
Num indivíduo exposto a factores de risco pancreático (álcool e tabaco), as
células pancreáticas acinares são estimuladas pelo álcool, stress oxidativo e outros
23
agentes agressores. A fibrose só ocorre posteriormente pois não há infiltrado pro-
fibrótico.
A ativação desregulada da tripsina provoca a lesão primária, o evento
sentinela. Este consiste numa resposta inflamatória; pró-inflamatória na fase precoce e
anti-inflamatória na fase tardia. Na fase precoce são recrutados infiltrados celulares
pró-inflamatórios, como macrófagos e linfócitos. Durante esta fase são libertadas
citocinas (TGF-β, TNF- α, IL-6) que vão mediar a inflamação e recrutar um infiltrado
anti-inflamatório na fase tardia. Nesta segunda fase, são atraídas células pro-
fibroticas, as células estreladas do pâncreas que promovem a fibrose pancreática.
Caso os fatores promotores da inflamação como o álcool e fatores de stress oxidativo
sejam removidos, ocorre resolução da inflamação aguda e o pâncreas regressa ao seu
estado normal. Se as células acinares continuarem a secretar citocinas em resposta a
estímulos recorrentes (abuso de álcool, pancreatite aguda recorrente), as células
estreladas do pâncreas que já estarão prontas a responder, depositam colagénio,
formando fibrose peri-acinar e dando inicio a fibrose pancreática irreversível. (82)
Fig. 5 – Modelo de progressão da pancreatite crónica, modelo do evento sentinela da pancreatite aguda
(SAPE), Whitcomb, DC, (2012), Framework for interpretation of genetic variations in Pancreatitis patients,
Front. Physiol.
Este modelo demonstra as várias janelas de atuação terapêutica. Antes do
desenvolvimento da doença aguda os indivíduos podem ser saudáveis mas com
múltiplos factores de risco. Aqui, podem ser implementadas medidas de prevenção
como a abstenção alcoólica. Quando acontece a lesão estocástica que leva à lesão
pancreática ocorre inflamação primária e ativação do sistema imune. O clínico deve
tratar a pancreatite aguda, identificar o risco modificável e prevenir a pancreatite aguda
recorrente. (82)
Patogenese da dor
A dor clássica da pancreatite crónica é epigástrica com irradiação lombar,
presente em 50-85% dos doentes (4). A dor não se relaciona com o grau de fibrose
demonstrada em exames de imagem (83).
24
Foi defendido que a dor na pancreatite crónica é marcadamente neuropática.
(84). O processamento da dor no sistema nervoso central sofre alterações nas
projeções corticais e é muito semelhante aos trajetos vistos em perturbações de dor
neuropática (85).
Estudos recentes mostraram que a dor sustentada na pancreatite crónica leva
à reorganização do córtex insular e a uma diminuição da sensibilidade dos nervos
viscerais, hipersensibilizando-os (86). Alguns doentes com pancreatite crónica
apresentam uma síndrome dolorosa generalizada resistente a opióides (87). Isto
sugere haver participação do fator de crescimento dos nervos e recetores transitórios
de potencial V1 (TRPV1) no mecanismo da dor, o que abre caminho a novas
estratégias terapêuticas (88). Estes recetores TRPV1 são canais catiónicos não
seletivos que respondem a estímulos como temperaturas elevadas (>43ºC), baixo pH
ou à capsaicina e que levam a uma sensação dolorosa tipo queimadura (nocicepção).
Mesmo com ressecção cirúrgica do pâncreas o alívio da dor não é universal,
sendo que até 50% dos doentes necessitam de medicação antiálgica 1 ano após
cirurgia. (89)
Conclusão
A pancreatite crónica é uma doença limitante, multifactorial, descrita e
conhecida há longos anos e com associação ao consumo de álcool que data de 1946.
No entanto o seu mecanismo de patogenese está ainda em constante
desenvolvimento e ainda não se encontra completamente esclarecido.
Tem um desenvolvimento dinâmico e multifactorial que ainda é objeto de
estudo atual. Novas descobertas de anomalias bioquímicas, fatores ambientais,
fisiológicos e percursos neurais contribuem para completar a nossa compreensão
sobre o início da doença, progressão, mecanismos de patogenese e mecanismo de
dor.
Tem complicações importantes resultantes da insuficiência exócrina como a
desnutrição e malabsorção. A degradação lipídica depende em 90% de enzimas
pancreáticas. A insuficiência exócrina vai provocar também défices de vitamina D,
aumentando o risco de osteoporose, sendo o défice desta vitamina sinérgico ao efeito
de inflamação crónica que estimula a atividade osteoclastica.
Ocorre ainda insuficiência endócrina, levando a diabetes secundária
caracterizada como tipo 3c, com perda de ilhotas de Langerhans.
25
Os modificadores de doença e a patogenese são muitas vezes idênticos aos da
pancreatite aguda dado que a forma crónica da doença pode desenvolver-se por
progressão fibrótica, degenerativa e disfuncional de lesão pancreática recorrente.
Segundo a hipótese de SAPE os mecanismos da tripsina permitem esclarecer
sobre o evento inicial de lesão pancreática e o papel das células pancreáticas
estreladas, que parece ser preponderante na fibrinogénese e progressão para a forma
crónica. Esta hipótese mostra-nos vários momentos de oportunidade terapêutica:
primeiro na prevenção e modificação de factores de risco, posteriormente em
estratégias de controlo e tratamento da forma aguda, identificação de fatores de risco,
aconselhamento genético e seguimento dos doentes.
Recentes descobertas no campo da genética forneceram um importante
contributo para a patogenese da doença na medida que encontraram mutações
genéticas que causam alterações importantes na função exócrina normal. Estas
mutações podem atuar por si só como modificadores da doença amplificando fatores
causais, como o álcool ou o tabaco, ou podem ainda ser o fator causal de pancreatite
crónica independentemente de outros fatores de risco.
É uma doença com importantes limitações na vida dos doentes, quer pela dor
incapacitante, quer pelas consequências fisiológicas da insuficiência exócrina, e com
impacto considerável na saúde pública e economia dos países, pelo que considero
fundamental o impulsionamento da investigação científica no esclarecimento das
citocinas envolvidas no processo patogénico, novos conceitos no mecanismo da dor,
recetores e neurotransmissores, estimulantes da ativação das células estreladas
pancreáticas e novas mutações genéticas com implicância na progressão da doença.
26
Referências
1. Steer ML, Waxman I, Freedman S. (1995) Chronic Pancreatitis N Engl J
Med.332.1482
2. Sachs M. (1993) Study of the Pancreas and its Inflamatory Diseases from the
16th-19th century.118. 702-711
3. Beger HG, Warshaw AL et. al (2008) The Pancreas: An integrated Textbook of
Basic Science, Medicine and Surgery, 2nd ed.
4. Puylaert M, Kapurel L, et. al (2011), Pain in chronic pancreatitis. 11. 492-505
5. Vardanyan M., Rilo HL (2010) Pathogenesis of chronic Pancreatitis-Induced
Pain. Discov Med. 9. 304-310
6. Mokrowiecka A., Pinkowski D. et. al (2010), Clinical, emotional and social
factors, associated with quality of life in chronic pancreatitis. Pancreatology.10. 39-46
7. Yadav D. Whitcomb DC (2010). The role of alcohol and smoking in pancreatitis.
Nat Rev Gastroeneterol Hepatol.7. 131-145
8. Witt H, Apte MV, et al (2007) Chronic pancreatitis: challenges and advances in
pathogenesis, genettics, diagnosis and therapy,132, 1557-1573
9. Etemad B, Whitcomb DC, (2001) Chronic pancreatitis: Diagnosis, classification,
and new genetic developments, Gastroeneterology 120, 682-
10. Stevens T. Conwell DL, Zuccaro G. (2004) Pathogenesis of chronic
pancreatitis: an evidence-based review of past theories and recent developments. Am
J Gastroeneterol. 99. 2256-2270
11. Yadav D., Timmons L, et. al (2011), incidence, prevalence and survival of
chronic pancreatitis: a population-based study, Am J Gastroeneterolog., 106, 2192-
2199
12. Hirota M. Shimosegawa T, et al (2014) the seven nationwide epidemiological
survey for chronic pancreatitis in Japan. Clinical significance of smoking habits in
japanese patients. Pancreatology 2014, 14, 490-496
13. Yadav D., O'Connell M et al, (2012) Natural History followying the first attack of
acute pancreatitis. Am J Gastroeneterol., 107, 1096-1103
14. Withcomb DC, LaRusch J, et al, (2012), Common genetic variants in the
CLDN2 and PRSS1-PRSS2 loci alter risk for alcohol-related and sporadic pancreatitis,
Nat Genet. 44, 1349-1354
15. Lowenfels AB, Maisonneuve P, et al, Racial Factors and the risk of chronic
pancreatitis, Am J Gastroenterol. (1999),94,790-794
16. Greer JB, LaRusch J, et al (2011) AB0 blood group and chronic pancreatitis risk
in the NAPS2 cohort. Pancreas,40, 1188-1194
27
17. Ammann RW, Akovbiantz A, et al (1984), Course and outcome of chronic
pancreatitis: longitudinal study of a mixed medical-surgical series of 245 patients.
Gastroenterology,86 ,820-828
18. Lankisch PG, Lohr-Happe A, et al, (1993), natural Course in chronic
pancreatitis: pain, exocrine and endocrine pnacreatic insufficiency and prognosis of the
disease. Digestion 1993, 54, 148-156
19. Hayakawa T, Kondo T, et al (1989), Chronic alcoholism and evolution of pain
and prognosis in chronic pancreatitis. Dig Dis Sci ,34,33-8
20. Lowenfels AB, Maisonneuve P, et al (1993) Pancreatitis and the risk of
pancreatic cancer. N Eng J Med, 328, 1433-1437.
21. Kloppel G, Maillet B, (1992) The morphological basis for the evolution of acute
pancreatitis into chronic pancreatitis. Virchows Arch A Pathol Anat Histopathol, 420, 1-
4
22. Nealon WH, Thompson JC (1993), Progressive loss of pancreatic function in
chronic pancreatitis is delayed by main pancreatic duct decompression: a longitudinal
prospective analysis of the modified puestow procedure. Ann Surg, 217, 458-468
23. Lowenfels AB, Maisonneuve P, et al (1997), Hereditary pancreatitis and the risk
of pancreatic cancer: international hereditary pancreatitis study group. J Natl Cancer
Inst, 89, 442-446
24. Behrman SW, Mulloy M (2006), Total pancreatectomy for the treatment of
chronic pancreatitis: indications, outcomes and recommendations. Am surgical, 72,
297-302.
25. Sarles H. (1991) Definitions and classifications of pancreatitis. Pancreas, 6,
470-474
26. Sarles H (1965). Pancreatitis Symposium. Marseilles, France, karger
27. Schneider A, lohr JM, et al (2007), The M-ANNHEIM classification of chronic
pancreatitis: introduction of a unifying classification system based on a review of
previous classifications of the disease. J GASTROENTEROL, 42, 101-119
28. Pezzilli R, Lioce A, et al, (2008), chronic pancreatitis: a changing etiology? JOP,
9, 588-592
29. Sarles H, Cros RC et al, (1979), A multicenter inquiry into the etiology of
pancreatic diseases. Digestion, 19, 110-125
30. Cote GA, Yadav D, et al (2011), Alcohol and smoking as risk factors in an
epidemiology study of patients with chronic pancreatitis, Clin Gastroenterol Hepatol, 9,
266,273
31. Bisceglie AM, Segal I, (1984) Cirrhosis and chronic pancreatitis in alcoholics, J
Clin Gastroenterol, 6, 199
28
32. Lankisch PG, Breuer n, et al (2009), Natural history of acute pancreatitis: a
long-term population-based study. Am J Gastroenterol,104,2797-2805
33. Levy P, Mathurin P, et al, (1995) A multidimensional case-control study of
dietary, alcohol an tobacco habits in alcoholic men with chronic pancreatitis. Pancreas,
9, 42-46
34. Lu Z, Karne S, et al, (2002), Alcohols enhance caerulein-induced zymogen
activation in pancreatic acinar cells, Am J physiol Gastrointest Liver Physiol, 282-283
35. Takeyama Y, (2009) long-term prognosis of acute pancreatitis in japan. Clin
Gastroeneterol Hepatol, 7, 15-17
36. Wittel UA, Pandey KK et al, (2006) chronic pancreatic inflammation induced by
environmental tobacco smoke inhalation in rats. Am J Gastroeneterol, 101, 148-149
37. Sadr-Azodi O, Andren-Sandberg A, et al (2012) A cigarette smoking , smoking
cessattion and acute pancreatitis: a prospective population-based study, Gut, 61, 262-
267
38. Maisonneuve P., Lowenfels AB, et al (2005) Cigarette smoking accelerates
progression of alcoholic chronic pancreatitis, Gut, 54, 446-447
39. Whitcomb DC, (2013) Genetic risk factors for pancreatic disorders
Gastroeneterology, 144, 1292-1302
40. Sosseinheimer MJ, Aston CE, et al, (1997) Clinical characteristics of hereditary
pancreatitis in a large family based on high risk haplotype. The Midwest Multicenter
Pancreatic Study Group (MMPSG)
41. Withcomb DC, Preston RA, et al, (1996), A gene for hereditary pancreatitis
maps to chromossome 7q35, Gastroenterology, 110, 1975-1980
42. Owayng C, Levitt M. (1991) Chronic pancreatitis. Textbook of
Gastroenterology,2, 1874
43. Tamasky PR, Hoffman B, et al (1997) Sphincter of Oddi dysfunction is
associated with chronic pancreatitis. Am J gastroenterol, 92, 1125
44. Lehman GA, Sherman S. (1995), Pancreas Divisum. Diagnosis, clinical
significance and management alternatives, Gastrointest Endosc Clin N Am, 5, 145
45. Mohan V, Pitchumoni CS, et al (1998) Tropical Calcific Pancreatitis. The
Pancreas, Blackwell Science, 688-697
46. McMillan DE, Geervarghese PJ, et al (1979), Dietary Cyanide and tropical
malnutrition diabetes. Diabetes care, 2, 202, 208
47. Bhatia E, Choudhuri G, et al (2002), Tropical calcific pancreatitis: Strong
association with SPINK1 trypsin inhibitor mutation, Gastroenterology, 123, 1020-1025
48. Sugumar A, Chari ST, et al (2011) Autoimmune pancreatitis, J Gastroenterol
Hepatol, 26, 1368-1373
29
49. Kamisawa T, Chari ST, et al (2013) Recent advances in autoimmune
pancreatitis: type 1 and type 2, Gut, 62, 1373,1380
50. Tzetis M, Kaliakatsos M, et al, (2007) Contributions of the CFTR gene, the
pancreatic secretory trypsin inhibitor gene (SPINK1) and the cationic trypsinogen gene
(PRSS1) to the etiology of recurrent pancreatitis, Clin Genet, 71,451-457
51. Keiles S, Kammescheidt A, (2006), Identification of CFTR, PRSS1 and SPINK1
mutations in 381 patients with pancreatits, Pancreas, 33, 221, 227
52. Chandak GR, Idris MM, et al (2004) Abcense of PRSS1 mutations and
association of SPINK1 trypsin inhibitor mutations in hereditary and non-hereditary
Chronic pancreatitis. Gut,53,723-728
53. Rosendahl J, Witt H, et al (2008), Chymotrypsin c (CTRC) variants that diminish
activity or secretion are associated with chronic pancreatitis, Nat Genet, 40, 78-82
54. Pfutzer RH, Barmada MM, et al (2000) SPINK1/PSTI polymorphisms act as
disease modifiers in familial and idiopathic chronic pancreatitis, Gastroenterology, 119,
615-623
55. Aoun E, Chang CC, et al (2008) Pathways to injury in chronic pancreatitis:
decoding the role of the high-risk SPINK1 N34S haplotype using meta-analysis. PLoS
one, 3, 2003
56. Schneider A, Larusch J, et al (2011), Combined bicarbonate conductance-
impairing variants in CFTR and SPINK1 variants are asoociated with chronic
pancreatitis in patients whithout cystic fibrosis, Gastroenterology, 140, 162-171
57. Noone PG, Zhou Z, et al (2001), Cystic fibrosis gene mutations and pancreatitis
risk: relation to epithelial ion transport and trypsin inhibitor gene mutations,
Gastroenterology, 121, 1310-1319
58. Ekstrom G, ingelman-Sundberg M, (1989), Rat liver microsomal NADPH-
supported oxidase activity and lipid peroxidation depent on ethanol-inducible
cytochrome P-450. Biochem Pharmacol, 38, 13139
59. Atten MJ, Verma A, et al (2003), antioxidants up-regulate PPAR and decrease
fibrosis in chronic pancreatitis. Am J Gastroenterol, 98, A14
60. Bordalo O, Gonçalves D, et al (1977), Newer concept for the pathogenesis of
chronic coholic pancreatitis, Am J Gastroenterol, 68, 27885
61. Sarles H, Bernard JP, et al (1989), Pathogenesis and epidemiology of chronic
pancreatitis. Ann Rev Med, 40, 45368
62. Prinz RA, Aranha GV, (1985), The
associationofprimaryhyperparathyroidismandpancreatitis. AmSurg, 51, 3259
63. Avram MM, (1977),Highprevalencefpancreaticdiseaseinchronicfailure. Nephron,
18, 6871
30
64. Sarles H, (1986), Etiopathogenesis definition of chronic pancreatitis. Dig Dis
Sci, 31, 91-107
65. Ammann RW, Heitz Ph U, et al (1996), Course of alcoholic chronic pancreatitis
A prospective clinico-morphological long-term study. Gastroenterology, 111, 22431
66. Bimmler D, Graf R, et al (2001), Pancreatic stone protein (lithostathine), a
physiologically relevant pancreatic calcium carbonate crystal inhibitor? J Biol Che,276,
496771
67. Freedman SD, Sakamoto C, et al (1993), GP2, the homologue to the renal cast
protein uromodulin, is a major component of intraductal plugs in chronic pancreatitis. J
Clin Invest,92, 83
68. Kloppel G, Maillet B, (1991), Chronic Pancreatitis: Evolution of the disease.
Hepatogastroenterol, 38, 40812
69. Cavallini G. (1993) Is chronic pancreatitis a primary disease of the pancreatic
ducts? A new pathogenetic hypothesis. iTAL j Gastroenterol, 25, 4007
70. Cavallini G, Frulloni L. (2001), Autoimmunityand chronic pancreatitis: A
concealed relationship. J Panreas, 2, 618
71. Tanaka T, Ichiba Y, et al (1990), pathogenesis of chronic pancreatitis. . Am J
Gastroenterol, 85, 1536
72. Sahel J, Sarles H, (1979) Modifications of pure human pancreatic juice induced
by chronic alcohol consumption, Dig Dis Sci, 24, 897
73. Guy O, Robles-Diaz G, et al (1983), Protein content of precipitates present in
pancreatic juice of acoholic subjects and patients with chronic calcifying pancreatitis.
Gastroenterology, 84, 102
74. Bachem MG, Schneider E, et al (1998), Identification, culture, and
characterization of pancreatic stellate cells in rats and humans, Gastroenterology, 115,
42132
75. yokota T, Denham W, et al (2002), Pancreatic stellate cell activation and MMP
production in experimental pancreatic fibrosis, J Sur Res, 104, 10611
76. Vogelmann R, Ruf D, et al (2001) Effects of fibrogenic mediators of the
development of pancreatic fibrosis in a TGF-1 transgenic mouse-model. Am J Physiol
Gastrointest Liver Physiol, 280, 16472
77. Casini A, Galli A, et al (2000), Collagen type I synthesized by pancreatic
periacinar stellate cells co-localizes with lipid peroxidation-derived aldehydes in chronic
alcoholic pancreatitis, J Pathol, 192, 819
78. Norman J, Franz M, et al (1994), Rapid elevation of pro-inflamatory cytokines
during acute pancreatitis and their origination within the pancreas. Surg Forum, 45,
14860
31
79. Apte MV, Haber PS, et al (1999), Pancreatic stellate cells are activated by
proinflamatory cytokines:implications for pancreatic fibrogenesis, Gut, 44, 534-541
80. Brock C, Nielsen LM, et al (2013), Pathophysiology of chronic pancreatitis,
World J Gastroenterol, 19, 7231-7240
81. Demols A, Van Laethem JL, et al (2002), Endogenous interleukin-10 modulates
fibroses and regenrationin experimental chronic pancreatitis. Am J Phys, 282, 110512
82. Whitcomb DC, Schneider A, (2002) Hereditary pancreatitis: A model for
inflamatory disease of the pancreas. Best Pract Res Clin Gastroenterol, 16, 34763
83. Frokjaer JB, Olesen SS, et al (2013) Fibrosis, atrophy and ductal pathology in
chronic pancreatitis are associated with pancreatic function but independent of
symptoms. Pancreas, 43, 1182-1187
84. Demir IE, Tieftrunk E, et al (2011), Pain mechanisms in chronic pancreatitis: of
a master and his fire. Langenbecks Arch Surg, 396, 151-160
85. Drewes AM, Krarup AL, et al (2008), Pain in chronic pancreatitis: the role of
neuropathic pain mechanisms, Gut, 57, 1616-1627
86. Olesen SS, Frokjaer JB, et al (2010), Pain-associated adaptative cortical
reorganisation in chronic pancreatitis, Pancreatology, 10, 743-751
87. Buscher HC, Wilder-Smith OH, et al (2006), Chronic pancreatitis show
hyperalgesia of central origin: a pilot study, Eur J Pain, 10, 363-370
88. Schwartz ES, Christianson JA, et al (2011), Synergistic role of TRPV1 and
TRPA1 in pancreatic pain and inflammation, Gastroenterology, 140, 1283-1291
89. Morgan K, Owczarski SM, et al (2012), Pain control and quality of life after
pancreatectomy with islets autotransplantation for chronic pancreatitis, J Gastrointest
Surg. 16, 129-133