ETNOFARMACOLOGIA E O PERÍODO GESTACIONAL

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ETNOFARMACOLOGIA E O PERÍODO GESTACIONAL Os Constituintes Químicos e suas Respectivas Atividades Biológicas 1º Ten Al CÉLIA CRISTINA DA SILVA MOURA GONÇALVES MUCURY RIO DE JANEIRO 2008

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ETNOFARMACOLOGIA E O PERÍODO GESTACIONAL

Os Constituintes Químicos e suas Respectivas Atividades Biológicas

1º Ten Al CÉLIA CRISTINA DA SILVA MOURA GONÇALVES MUCURY

RIO DE JANEIRO 2008

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1º Ten Al CÉLIA CRISTINA DA SILVA MOURA GONÇALVES MUCURY

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Escola de Saúde do Exército como requisito parcial para aprovação no Curso de Formação de Oficiais do Serviço de Saúde, especialização em Aplicações Complementares em Ciências Militares. Orientador: ANDRÉ LUIZ DA SILVA MOURA.

RIO DE JANEIRO 2008

ETNOFARMACOLOGIA E O PERÍODO

GESTACIONAL Os Constituintes Químicos e suas Respectivas

Atividades Biológicas

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M942e Mucury, Célia Cristina da Silva Moura Gonçalves.

Etnofarmacologia e o período gestacional: os constituintes químicos

e suas respectivas atividades biológicas /. - Célia Cristina da Silva Moura

Gonçalves Mucury. - Rio de Janeiro, 2008.

23 f. ; 30 cm.

Orientador: André Luiz da Silva Moura

Trabalho de Conclusão de Curso (especialização) – Escola de Saúde

do Exército, Programa de Pós-Graduação em Aplicações Complementares

às Ciências Militares.)

Referências: f. 16.

1. Etnofarmacologia. 2. Gestantes. 3. Plantas medicinais. I. Moura,

André Luiz da Silva. II. Escola de Saúde do Exército. III. Título.

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RESUMO

Este trabalho apresenta uma revisão sobre as plantas medicinais mais utilizadas durante a gestação,

relacionando seus constituintes químicos com os fins a que se destinam e os seus possíveis efeitos

adversos para a gravidez. Foram estudadas as plantas conhecidamente contra-indicadas no período

gestacional por possuírem dados científicos que orientam seu uso conforme a sua eficácia e segurança

na gestação. Buscou-se descrever os constituintes químicos de maior relevância quanto às atividades

biológicas causadoras de danos ao feto e/ou ao organismo materno. Dentre as atividades biológicas, as

que se destacaram foram: a abortiva, a emenagoga, a laxante, a mutagênica e a genotóxica. Foi

observado que a rutina é o constituinte químico presente na maioria das plantas analisadas, e verificou-

se que a atividade abortiva está diretamente relacionada à este constituinte. Esta análise reforça a

necessidade de um maior cuidado quanto ao uso de plantas medicinais durante a gestação, tendo em

vista que muitas plantas podem apresentar efeitos maléficos neste período. É de fundamental

importância o conhecimento da atuação das drogas no organismo pelos profissionais de saúde para que

estes possam orientar adequadamente seus usuários.

Palavras-chave: Gestação. Plantas medicinais. Constituintes químicos. Atividades biológicas.

Emenagoga. Laxante. Abortiva. Rutina.

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ABSTRACT

This work shows a review about medicinal plants commonly used during pregnancy period, making a

relationship between the chemical constituents and the aimed target, looking for possible side effects

upon pregnancy. It was studied some plants well known about some avoided chemical constituents for

this period, once they have scientific data which orientates their use in conformity about eficacy and safety

in pregnancy period. It was made a description about some substances that show great importance about

their biological activities whose can cause damages to foetus and/or maternal organism. Corncerning the

biological activities, those were shown being important: emenagogue, abortive, laxative, mutagenic and

genotoxic. It was obseved the ubiquity of rutine as the chemical constituent in several analysed plants,

and also it was verified that abortive activity is directly linked to this substance. This analysis reinforces

the necessity of some care about the use of medicinal plants, so much of them can show side effects with

desastrous consequences for the pregnancy period. We can imagine the great importance about the

knowledge of action of drugs in the organism by people who work in the health area, once they are the

responsible to orientate correctely the pacients.

Key-words: Pregnancy. Medicinal plants. Chemical constituents. Biological activities. Emenagogue.

Laxative. Abortive effects. Rutine.

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Relação das plantas utilizadas como emenagogas/abortivas e laxantes e as atividades

biológicas prejudiciais à gestação. .................................................................. 10

Tabela 2 - Relação dos constituintes químicos e suas respectivas atividades biológicas.

........................................................................................................................................... 13

Page 7: ETNOFARMACOLOGIA E O PERÍODO GESTACIONAL

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 7

2 MEDICAMENTOS NA GESTAÇÃO ................................................................................ 9

3 OS CONSTITUINTES QUÍMICOS E AS ATIVIDADES BIOLÓGICAS ......................... 10

3.1 ATIVIDADE EMENAGOGA ........................................................................................ 11

3.1.1 Ascaridol ................................................................................................................ 11

3.1.2 Boldina .................................................................................................................... 11

3.1.3 Rutina ...................................................................................................................... 12

3.1.4 Tujona ..................................................................................................................... 12

3.2 ATIVIDADE LAXANTE ................................................................................................ 12

4 CONCLUSÃO ................................................................................................................ 15

REFERÊNCIAS ................................................................................................................ 16

ANEXO ............................................................................................................................ 17

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1 INTRODUÇÃO

Os vegetais fazem parte da vida do homem desde seus primórdios como fonte de alimentos, de

materiais para o vestuário, habitação, utilidades domésticas, defesa e ataque, na produção de meios de

transporte, como utensílios para manifestações artísticas, culturais e religiosas e como meio restaurador

da saúde. Até o século XIX, os recursos terapêuticos eram constituídos predominantemente por plantas e

extratos vegetais, ou seja, as plantas medicinais e seus extrativos constituíam a maioria dos

medicamentos, que naquela época pouco se diferenciavam dos remédios utilizados na medicina popular

(Simões et al, 2003).

No início do século passado, esses recursos começaram a ser estudados com os instrumentos

científicos da época e se estabeleceu paulatinamente a tendência de utilização das substâncias ativas

isoladas, os chamados “princípios ativos”. É importante ressaltar que a descoberta da atividade dessas

substâncias não representou apenas o surgimento de um grupo novo de substâncias, mas originou a

identificação de uma nova possibilidade de intervenção terapêutica (Simões et al, 2003).

Como estratégia para investigação de plantas medicinais, a abordagem etnofarmacológica

consiste em combinar informações adquiridas junto a comunidades locais que fazem uso da flora

medicinal com estudos químicos/farmacológicos realizados em laboratórios especializados. O método

etnofarmacológico permite a formulação de hipóteses quanto à(s) atividade(s) farmacológica(s) e à(s)

substância(s) ativa(s) responsáveis pelas ações terapêuticas relatadas pelas populações usuárias. Entre

os adeptos da fitoterapia, é comum o pensamento de que as plantas medicinais de uso tradicional já

foram testadas e homologadas pelo seu uso prolongado na própria espécie humana. Por isso, seriam

remédios eficazes e seguros, naturalmente balanceados, sem os efeitos colaterais comuns aos produtos

sintéticos, não necessitando, portanto, da avaliação exigida para esse tipo de medicamento. A

automedicação milagrosa com plantas medicinais é caudatária dessa crença infundada, tendo-se tornado

prática comum nos países em desenvolvimento (Simões et al, 2003).

As plantas medicinais são amplamente empregadas pela população para o tratamento de uma

infinidade de doenças, inclusive para as que acometem gestantes, que frente ao errôneo conceito de que

medicamentos naturais não provocam danos a ela e ao concepto , fazem uso indiscriminado de diversas

preparações a base de plantas para aliviar os sintomas inerentes a gestação. Sabe-se que muitas

plantas utilizadas para os diversos fins durante a gravidez não têm respaldo científico quanto ao seu

emprego seguro neste período. Por outro lado, já é de conhecimento difundido uma lista de plantas que

apresentam ou promovem alterações na gestação (Brasil, 2002).

Este trabalho tem como objetivo correlacionar os produtos fitoterápicos e os constituintes vegetais

in natura mais empregados nas patologias tocoginecológicas, explicitando tanto os possíveis benefícios

quanto malefícios advindos do seu uso.

Foi realizado uma revisão bibliográfica utilizando alguns artigos publicados na literatura médica e

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farmacológica a respeito do tema proposto, através de pesquisa eletrônica e manual, bem como a

utilização de livros-texto e de publicação oficial.

Buscou-se selecionar dentre as plantas medicinais contra-indicadas pela Secretaria de Estado de

Saúde do Rio de Janeiro (Brasil, 2002), as mais utilizadas pelas gestantes e que apresentam seus efeitos

adversos devidamente relacionados aos constituintes químicos já descritos.

2 MEDICAMENTOS NA GESTAÇÃO

Na gestação ocorrem alterações fisiológicas próprias do período, que, embora sejam

consideradas normais, podem eventualmente causar sintomas desagradáveis à gestante, levando assim,

à utilização de medicamentos para amenizar o desconforto. Essa necessidade que muitas gestantes

têm em buscar nos medicamentos alívio para os seus sintomas, gera grande preocupação quando os

medicamentos de escolha recaem sobre as plantas medicinais de uso corriqueiro pela população, tendo

em vista que a maioria dos usuários desconhecem os efeitos adversos oriundos dessa prática.

Os efeitos nocivos das drogas, durante a gestação, são dependentes da dose administrada, da

idade gestacional e da espécie animal a qual a droga é administrada. As alterações que ocorrem no

organismo materno devidas a gravidez, como a diminuição da motilidade intestinal, aumento da filtração

glomerular, a retenção maior de líquidos e as alterações das proteínas plasmáticas, também podem

influenciar potencialmente na absorção, excreção e distribuição das drogas (Nogueira et al, 2001).

A administração de medicamentos à mulher grávida pode influir sobre o feto de diversas maneiras,

desde melhorar suas perspectivas de vida e seu desenvolvimento ao melhorarem enfermidades

maternas, até levar a malformações congênitas sem afetar sua sobrevida ou afetá-la até a sua morte. O

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período de maior sensibilidade às anomalias dismórficas (período teratogênico clássico) na espécie

humana é o período de desenvolvimento embrionário – organogênese, período esse que vai

aproximadamente do 17º ao 57º dia pós-fecundação. Após esse período, certos órgãos internos como os

genitais e o cérebro continuam seu desenvolvimento, podendo ser adversamente afetados por drogas

(Nogueira et al, 2001).

Considera-se que a maioria dos fármacos capazes de produzir malformações

atua, em princípio, em nível metabólico de maneira direta, através de inibição enzimática, mutação ou

interferência com mitoses. Podem atuar também, de maneira indireta através de ação tóxica sobre a

mãe, a placenta ou sobre os vasos umbilicais (Nogueira et al, 2001).

3 OS CONSTITUINTES QUÍMICOS E AS ATIVIDADES BIOLÓGICAS (Tabela 1)

Dentre as atividades biológicas dos constituintes químicos que possuem maior relevância durante

a gestação, destacam-se a atividade emenagoga e a atividade laxante, uma vez que algumas das

plantas medicinais mais utilizadas pelas gestantes (Clarke et al, 2007; Faria et al, 2004), no país, para

estes fins, são sabidamente contra-indicadas durante a gravidez por ocasionarem dano fetal ou por não

terem seus estudos toxicológicos concluídos (Brasil, 2002).

É de suma importância ressaltar que uma mesma planta medicinal pode apresentar atividades

biológicas diferentes, possuindo vários constituintes químicos, que atuam de modo diverso no organismo,

conforme sua característica própria e modo de uso ( Anexo ).

Tabela 1. Relação das plantas utilizadas como emenagogas/abortivas e laxantes e as atividades biológicas prejudiciais à gestação.

Finalidade Nome popular Nome científico Atividade biológica*

EMENAGOGA Arruda Ruta graveolens L. Abortiva, estimulante do útero

Artemísia Artemisia vulgaris Abortiva

Boldo-verdadeiro Peumus boldus Molina Abortiva, ocitóxica

Buchinha Luffa operculata L. Abortiva

Camomila Matricaria recutita Relaxante do útero

Calêndula Calendule officinalis Abortiva

Funcho Foeniculum vulgare Miller Abortiva, ação hormonal

Losna Artemisia absinthium Neurotóxica, ocitóxica

Mastruço Chenopodium ambrosioides

Abortiva, alta toxicidade

LAXANTE Babosa Aloe spp. Abortiva, ocitóxica e mutagênica

Cáscara-sagrada Rhamnus purshiana DC. Abortiva, estimulante do útero

Ruibarbo Rheum palmatum Abortiva estimulante do útero, genotóxica, mutagênica

Sena Cassia senna L. Abortiva, estimulante do útero

*Referências: Simões et al, 2003; Brasil, 2002; Plantas e ervas medicinais e fitoterápicos, 2007; Liber herbarum minor.

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3.1 ATIVIDADE EMENAGOGA

O uso de plantas com propriedade emenagoga, geralmente, está relacionado com abortamento,

devido a própria característica da atuação dos constituintes químicos no organismo para o fim a que se

destinam. Destacam-se, dentre as espécies relacionadas neste estudo, os seguintes constituintes

químicos: ascaridol, boldina, rutina e tujona. (Tabela 2)

3.1.1 Ascaridol

Representa um dos principais componentes terpenóides presente na composição do óleo

essencial obtido através das folhas do boldo. Possui atividade antibacteriana e antifúngica (Ruiz et al,

2008), e moderada atividade antitumoral, provavelmente associada a efeitos imunomodulatórios (Torres

et al, 2007). Está relacionado a efeitos teratogênicos e abortivos. O ascaridol provoca irritação na pele e

mucosas, vômito, vertigem, dor de cabeça, lesões renais e hepáticas, colapso circulatório e

eventualmente morte (AFITEMA, 2008). Este constituinte também está presente no mastruço,

apresentando as mesmas propriedades descritas acima (Observâncias, 2008).

3.1.2 Boldina

Principal alcalóide presente nas folhas do boldo, representando cerca de 12 a 19% do conteúdo

total de alcalóides, sendo o principal componente do chá de boldo. Possui capacidade antioxidante que

parece estar relacionada com a habilidade de seqüestrar radicais hidroxila e peroxila. Promove inibição

de agregação plaquetária e contém atividade antiinflamatória. Possui efeitos teratogênicos e abortivos

(Ruiz et al, 2008).

3.1.3 Rutina

Page 12: ETNOFARMACOLOGIA E O PERÍODO GESTACIONAL

Flavonóide com propriedade protetora capilar ou ação tônico-venosa. Empregada no tratamento

de enfermidades caracterizadas por hemorragias e fragilidade capilar, tendo sido atribuída à sua ação

sobre a enzima hialuronidase, que tem capacidade de aumentar a permeabilidade e diminuir a fragilidade

capilar. Esta substância também inibe a peroxidação microssomal no coração, atuando assim como

cardioprotetora (Simões et al, 2003). Possui efeito abortivo, atuando na inibição da implantação do óvulo

no útero e causando fortes hemorragias (Blanco, 2008). Está presente na maioria das plantas

relacionadas neste estudo.

3.1.4 Tujona

É um composto monoterpênico com atividade neurotóxica em altas doses, podendo provocar

crises epileptiformes ou tetaniformes (convulsões), distúrbios sensoriais e até psíquicos (Simões et al,

2003).

3.2 ATIVIDADE LAXANTE

Esta atividade é obtida através da utilização de extratos à base de antraquinonas, como a aloína.

Atualmente, há pelo menos três mecanismos conhecidos para a atividade laxante dos antranóides:

� estimulação direta da musculatura lisa do intestino, aumentando a motilidade intestinal – este

mecanismo está possivelmente relacionado com a liberação ou com o aumento da síntese de

histamina ou outros mediadores;

� inibição da reabsorção de água através da inativação da bomba de Na+/k+-ATPase; esta bomba é

inibida por barbaloína, reína, frângula-emodina, pelas correspondentes antronas e por outras

antraquinonas com um grupamento adicional hidroxila fenólica;

� inibição dos canais de Cl-, comprovada para inúmeros 1,8-hidróxi-antranóides (antraquinonas e

antronas), sendo mais intensa para aloe-emodina (Simões et al, 2003).

A potencial genotoxicidade de 1,8 -di-hidróxi-antraquinonas tem sido objeto de estudo de diversos

grupos, em vários modelos de tese, mas ainda há muitas controvérsias. Várias investigações apontam o

potencial mutagênico de diversos antróides, tais como emodina, aloe-emodina, frangulina e glico-

frangulina (Simões et al, 2003).

Das plantas relacionadas neste estudo com a atividade laxante, destacam-se os seguintes

constituintes químicos: aloe-emodina, aloína, barbaloína, emodina e frângula-emodina (tabela 2).

Page 13: ETNOFARMACOLOGIA E O PERÍODO GESTACIONAL

Tabela 2. Relação dos constituintes químicos e suas respectivas atividades biológicas.

Constituinte químico Estrutura Atividades detectadas*

Aloe-emodina / Frângula-

emodina

O

O

OH

OH OH

abortiva, antibacteriana, estimulante do útero, genotóxica, laxante, mutagênica

Aloína / Barbaloína

Abortiva, estimulante do útero, laxante, mutagênica

Ascaridol

O

O

Abortiva, alta toxicidade

Constituinte químico Estrutura Atividades detectadas*

Boldina

N

HO

MeO

MeO

OH

Abortiva, teratogênica

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Rutina

O

O

HO

OH

OH

OH

O

O

OO

HO

HO

HO

HO

OH

HO

Abortiva, estimulante do útero

Tujona

O

Neurotóxica

*Referências: Simões et al, 2003; Brasil, 2002; Plantas e ervas medicinais e fitoterápicos, 2007; Liber herbarum minor.

4 CONCLUSÃO

Os estudos farmacológicos já realizados comprovam várias das atividades atribuídas

popularmente às plantas medicinais correlacionando seus efeitos a partir do isolamento de seus

compostos. Porém, muitas plantas utilizadas corriqueiramente durante a gravidez ainda não possuem

sua eficácia e segurança descritas na literatura científica, o que torna a prática da automedicação

extremamente perigosa.

É de suma importância ressaltar a existência de plantas altamente tóxicas que são normalmente

utilizadas para aliviar os sintomas inerentes a gestação, sem o devido cuidado no seu uso e, na maioria

das vezes, sem orientação médica. O uso de chás e preparados a partir dessas plantas é contra-indicado

neste período, principalmente no primeiro trimestre de gravidez, por aumentarem o risco de

teratogenicidade e abortamentos.

Page 15: ETNOFARMACOLOGIA E O PERÍODO GESTACIONAL

Assim, torna-se evidente a necessidade de haver um preparo adequado dos profissionais de

saúde quanto ao conhecimento do emprego de drogas na gestação, para que a população venha a se

beneficiar com a correta orientação advinda desses profissionais.

REFERÊNCIAS

AFITEMA: erva-de-santa-maria. Mensagem recebida por [email protected] em 12 de jun. de 2008. ALVES, J. Plantas medicinais-erva-de-santa-maria. Observâncias, Rio de Janeiro, 27 abr. 2008. Disponível em: http:observancias.blog.sapo.pt/. Acesso em: 26 jun. 2008. BLANCO, R. A. Arruda, essa desconhecida. Essências da Terra, 13 de maio de 2008. Disponível em: http://www.blogger.com. Acesso em: 26 jun. 2008. BRASIL. Secretaria de Estado de Saúde. Resolução SES/RJ n. 1757 de 18 de fev. De 2002. Contra-indica o uso de plantas medicinais no âmbito do Estado do Rio de Janeiro e dá outras providências. Diário Oficial, Rio de Janeiro, ano XXVII, n. 33, parte I, de 20 de fev. De 2002. CLARKE, J. H. R; RATES, S. M. K; BRIDI, R. Um alerta sobre o uso de produtos de origem vegetal na gravidez. Infarma, v. 19, n. ½, 2007. FARIA, P. G. de; AYRES, A; ALVIM, N. A. T. O diálogo com gestantes sobre plantas medicinais: contribuições para os cuidados básicos de saúde. Health Sciences, Maringá, v. 26, n. 2, p. 287-294, 2004. LIBER HERBARUM MINOR. Relação de plantas medicinais. Português, Brasil. Disponível em: http://www.liberherbarum.com/Minor. Acesso em: abr – ago. de 2008.

Page 16: ETNOFARMACOLOGIA E O PERÍODO GESTACIONAL

NOGUEIRA, Antônio Alberto; CUNHA, Sérgio Pereira da. Drogas na gravidez. In: Tratado de Obstetrícia da Febrasgo. Rio de Janeiro: Ed Revinter, p. 641, 2001. PLANTAS E ERVAS MEDICINAIS E FITOTERÁPICOS. Relação de plantas medicinais. Rio de Janeiro, 22 de out. De 2007. Disponível em: http://www.plantamed.kit.net/. Acesso em: abr – ago. de 2008. RUIZ, A. L. T. G et al. Farmacologia e toxicologia de Peumus boldus e Baccharis genistelloides. Revista Brasileira de Farmacognosia, vol. 18, n. 2, João Pessoa, abr. 2008. SIMÕES, Cláudia Maria Oliveira et al. Farmacognosia: da planta ao medicamento. 5 ed. Porto Alegre: Ed UFRGS, 2003. TORRES, M. C. M. et al. Composição química e atividades larvicida, nematicida e antitumoral do óleo essencial das folhas de Croton regelianus. Sociedade Brasileira de Química, USP, São Paulo, fev. 2007.

ANEXO – Relação de Plantas Medicinais

Aloe spp.

Nome popular: Babosa.

Família: Liliaceae.

Sinônimos populares: aloé vulgaris, aloé barbadensis, caraguatá, erva babosa, aloé perfoliata, babosa-

de-botica, babosa-folha-miúda, babosa-de-jardim, caraguatá-de-jardim.

Constituintes químicos: aloína, barbaloína.

Propriedades medicinais: antiinflamatória, anti-séptica, antifúngica, adstringente, bactericida, cicatrizante,

emenagoga, laxativa.

Indicações: amenorréia, constipação, dermatite, ferimentos externos.

Parte utilizada: seiva das folhas.

Contra-indicações/cuidados: contra-indicada para crianças, durante a gestação e lactação, no período da

menstruação, na presença de inflamações uterinas e ovarianas, hemorróidas, fissuras anais, afecções

renais, enterocolites, apendicite, prostatite e cistite.

Efeitos colaterais: dores abdominais, forte diarréia, nefrite, hipocalemia, surgimento de hemorróidas com

o uso prolongado, irritação dérmica e ocular, abortamento; pode levar à morte.

Modo de uso: suco, resina, tintura.

Artemisia absinthium L.

Nome popular: losna.

Família: Asteraceae.

Page 17: ETNOFARMACOLOGIA E O PERÍODO GESTACIONAL

Sinônimos populares: absinto, absinto-comum, absinto-grande, absinto-maior, absíntio, losna-branca,

losna-maior, vermute, flor-de-diana, erva-dos-vermes.

Constituintes químicos: tujona.

Propriedades medicinais: abortiva, antiemética, antiespasmódica, anti-helmíntica, anti-séptica,

emenagoga, psicoestimulante.

Indicações: atonia uterina, cólicas intestinais, dismenorréia, distúrbios digestivos e hepáticos.

Parte utilizada: flores e folhas.

Contra-indicações/cuidados: contra-indicada na gestação e lactação.

Efeitos colaterais: doses elevadas podem causar abortamento, alucinações, convulsões e degeneração

irreversível do sistema nervoso central.

Modo de uso: infusão, decocção e tintura.

Artemisia vulgaris L.

Nome popular: Artemísia.

Família: Asteraceae.

Sinônimos populares: absinto, artemísia-comum, artemísia-verdadeira, artemija, artemige, artemígio,

erva-de-são-joão, flor-de-são-joão, isopo-santo, losna-brava, losna.

Constituintes químicos: rutina, b sitosterol, estigmasterol.

Propriedades medicinais: antiinflamatória, antimicrobiana cicatrizante, emenagoga, antiespasmódica,

febrífuga.

Indicações: dismenorréia, irregularidade menstrual, amenorréia, cólica intestinal, enterites, flatulência,

verminoses, vaginite, enxaqueca.

Parte utilizada: folha, sumidade florida, rizoma.

Contra-indicações/cuidados: não ingerir crua; contra-indicada na gestação e na lactação; tóxica em doses

elevadas.

Efeitos colaterais: excitação do sistema nervoso central, vasodilatação, convulsões, reações alérgicas,

hepatonefrites, abortamento, presente no leite materno.

Modo de uso: infusão, decocção, uso do suco concentrado.

Calendula officinalis

Nome popular: Calêndula.

Família: Asteraceae.

Sinônimos populares: bem-me-quer, mal-me-quer, bem-me-quer-de-todos-os-meses, calêndula das

boticas, maravilha, maravilha-dos-pudins, mal-me-quer-amarelo, mal-me-quer- dos-campos, mal-me-

quer-dos-jardins, margarida dourada, verrucária.

Page 18: ETNOFARMACOLOGIA E O PERÍODO GESTACIONAL

Constituintes químicos: rutina, b sitosterol, estigmasterol.

Propriedades medicinais: antiespasmódica, emenagoga, colagoga, antiemética, antifúngica, bactericida,

antiinflamatória, cicatrizante, calmante.

Indicações: amenorréia, dismenorréia, ferimentos, vulvovaginites, náuseas/vômitos, tonificante da pele

(contra acne).

Parte utilizada: flores, folhas e caules.

Contra-indicações/cuidados: contra-indicada na gestação.

Efeitos colaterais: abortamento.

Modo de uso: infusão, decocção, cataplasma, tintura, pomada, extrato, óleo, ungüento.

Cassia senna L.

Nome popular: Sena.

Família: Fabaceae.

Sinônimos populares: sene, cássia, cene, fedegoso-do-rio-de-janeiro, lava-pratos, mamangá.

Constituintes químicos: antraquinonas, aloe-emodina.

Propriedades medicinais: carminativa, laxante, purgativa, vermífuga.

Indicações: cólicas biliares, constipação, febre, flatulência.

Parte utilizada: folhas.

Contra-indicações/cuidados: não usar por mais de dez dias seguidos nem acima da dose indicada, pois

pode ocasionar nefrite. Contra-indicada na gestação e na lactação.

Efeitos colaterais: superdosagem pode ocasionar cólicas fortíssimas, diarréia, vômitos, nefrite aguda,

abortamento e pode levar à morte.

Modo de uso: infusão e pó.

Chenopodium ambrosioides

Nome popular: Mastruço.

Família: Chenopodiaceae.

Sinônimos populares: erva-de-santa-maria, menstruz, canudo, erva-santa, mastruz, mata-cobra,

anserina-vermes, erva-mata-pulgas, erva-das-cobras, erva-formigueira, erva-vomiquiera, erva-das-

lumbrigas, mentruz.

Constituintes químicos: ascaridol.

Propriedades medicinais: abortiva, cicatrizante, diurética, parasiticida, vermífuga, antiespasmódica,

emenagoga.

Indicações: irregularidade menstrual, cicatrizante, varizes, insetos caseiros (pulga, percevejo, piolho),

hemorróidas, tosse.

Page 19: ETNOFARMACOLOGIA E O PERÍODO GESTACIONAL

Parte utilizada: planta inteira.

Contra-indicações/cuidados: alta toxicidade; contra-indicada na gestação e na lactação.

Efeitos colaterais: abortamento.

Foeniculum vulgare Miller

Nome popular: Funcho.

Família: Apiaceae.

Sinônimos populares: erva-doce, fiolho, fiolho-de-florena, fiolho-doce.

Constituintes químicos: rutina, b sitosterol, estigmasterol.

Propriedades medicinais: emenagoga, galactagoga, estimulante, tônica, aromática, aperiente,

expectorante.

Indicações: dismenorréia, cólica intestinal, dispepsia, flatulência, irregularidade menstrual, azia, tosse.

Parte utilizada: sementes, fruto, raiz.

Contra-indicações/cuidados: contra-indicado na gestação e em asmáticos com fortes tendências

alérgicas.

Efeitos colaterais: abortamento.

Luffa operculata L. Cogn.

Nome popular: Buchinha-do-norte.

Família: Cucurbitaceae.

Sinônimos populares: cabacinha, buchinha, bucha-dos-paulistas, abobrinha-do-norte, endoço, buchinha-

do-nordeste, bucha-do-norte, abobrinha-do-mato,purga-de-bicho, purga-de-falope, purga-dos-paulistas,

bucha-dos-pescador, bucha-dos-caçador, purga-de-joão-pais.

Constituintes químicos: lufaculina.

Propriedades medicinais: descongestionante, laxante,drástico.

Indicações: herpes, congestão, amebíase, edema, uretrite.

Parte utilizada: fruto.

Contra-indicações/cuidados: tóxica.

Efeitos colaterais: dose elevada irrita mucosa e em uso interno é hemorrágica. Provoca náuseas, cólicas,

fortes dejeções.

Matricaria recutita

Nome popular: Camomila.

Família: Asteraceae.

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Sinônimos populares: chamomilla, camomila-comum, macela-nobre, camomila-vulgar, camomila-da-

alemanha.

Constituintes químicos: rutina.

Propriedades medicinais: laxante, sedativa, adstringente, cicatrizante, bactericida, espasmolítico no muco

gástrico e duodenal, emenagoga.

Indicações: dismenorréia, amenorréia, irregularidade menstrual, galactagoga, azia, flatulência,

enxaqueca.

Parte utilizada: erva, flor, óleo.

Contra-indicações/cuidados: contra-indicada na gravidez; não usar em casos de úlcera gástrica ou

duodenal, refluxo esofágico, colite ulcerativa, colite espasmódica, diverticulite, diverticulose.

Efeitos colaterais: abortamento.

Modo de uso: extratos.

Peumus boldus Molina

Nome popular: Boldo-do-chile.

Família: Monimiaceae.

Sinônimos populares: boldo.

Constituintes químicos: boldina, esparteína, ascaridol.

Propriedades medicinais: antimicrobiana, antiinflamatória, carminativa, colagoga, digestiva, sedativa,

bactericida, antifúngica, emenagoga, estimulante biliar.

Indicações: dispepsia, digestão, cólica, diarréia, flatulência, insônia, constipação.

Parte utilizada: folhas, frutos, óleo essencial.

Contra-indicações/cuidados: contra-indicada na gravidez.

Efeitos colaterais: em altas doses pode provocar vômitos, diarréia e alterações do sistema nervoso (efeito

narcótico); pode provocar hemorragias internas e abortamento; o uso prolongado e/ou de altas doses

pode ocasionar hepatotoxicidade, inflamações na mucosa gastrintestinal, distúrbios da coordenação,

alterações psíquicas e convulsões.

Modo de uso: maceração, infusão, tintura, extrato.

Rhamnus purshiana DC.

Nome popular: Cáscara-sagrada.

Família: Rhamnaceae.

Constituintes químicos: aloe-emodina, antraquinonas,emodina, ramnotoxina.

Propriedades medicinais: emenagoga, estimulante, laxante, tônica, purgativa, colagoga.

Indicações: dispepsia, constipação, irregularidade menstrual.

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Parte utilizada: casca seca.

Contra-indicações/cuidados: contra-indicada na gestação, lactação e em casos de doenças

gastrintestinais.

Efeitos colaterais: se usada por mais de dois meses seguidos, provoca inflamações crônicas no intestino,

espasmos gastrintestinais e perda de líquidos e sais minerais. A casca fresca, sem secagem prévia, pode

provocar vômitos, cólicas violentas, diarréia, hipotensão, hipermenorréia e abortamento.

Modo de uso: infusão, decocção, ingestão de preparados tipo pó e cápsula.

Rheum palmatum L.

Nome popular: Ruibarbo.

Família: Poligonaceae.

Sinônimos populares: ruibarbo-palmado, ruibarbo-do-campo.

Constituintes químicos: aloe-emodina, antraquinonas.

Propriedades medicinais: digestiva, estimulante do fígado, laxante.

Indicações: atonia gástrica, constipação, hemorragia.

Parte utilizada: raíz.

Contra-indicações/cuidados: contra-indicada na gestação e na lactação.

Efeitos colaterais: abortamento, cólicas e diarréia no lactente.

Ruta graveolens L.

Nome popular: Arruda.

Família: Rutaceae.

Sinônimos populares: arruda-doméstica, arruda-dos-jardins, ruta-de-cheiro-forte, ruda.

Constituintes químicos: rutina.

Propriedades medicinais: antiespasmódica, antiinflamatória, carminativa, emenagoga, adstringente,

repelente, estimulante, vermicida, calmante.

Indicações: irregularidade menstrual, ansiedade, constipação, enxaqueca, inflamação, flatulência,

repelente de insetos, abortiva, amenorréia, dismenorréia, cólica intestinal.

Parte utilizada: erva, folha, seiva da árvore.

Contra-indicações/cuidados: tóxica; é venenosa e abortiva. Contra-indicada na gestação, lactação,

hemorragias e sensibilidade na pele.

Efeitos colaterais: doses elevadas do chá podem causar vertigens, tremores, gastroenterites, convulsões,

hemorragia e abortamento em mulheres grávidas, hiperemia dos órgãos respiratórios, vômitos, salivação,

edema da língua, dores abdominais. Pode causar fitodermatite e nas mulheres pode causar hemorragia

uterina grave.

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Modo de uso: infusão, decocção, extrato, xarope.