Evangelização de Bolivianos Em São Paulo e Seus Aspectos Culturais

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  • 7/26/2019 Evangelizao de Bolivianos Em So Paulo e Seus Aspectos Culturais

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    Marcos David de Queiroz Moreira Pereira

    EVANGELIZAO DE BOLIVIANOS EM SO PAULO E SEUS ASPECTOS

    CULTURAIS

    SO PAULO

    2010

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    Marcos David de Queiroz Moreira Pereira

    EVANGELIZAO DE BOLIVIANOS NO BRASIL E SEUS DILEMAS

    CULTURAIS

    Projeto de pesquisa apresentado como requisito

    final no curso de Bacharel em Teologia da

    Faculdade Teolgica Batista de So Paulo.

    Orientador: Prof. Alberto Kenjii Yamabuchi

    SO PAULO

    2010

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    Marcos David de Queiroz Moreira Pereira

    EVANGELIZAO DE BOLIVIANOS NO BRASIL E SEUS DILEMAS

    CULTURAIS

    BANCA EXAMINADORA

    Prof Alberto Kenji Yamabuchi

    Prof

    Prof

    So Paulo

    2010

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    DEDICATRIA

    A todos os bolivianos,

    Que sofreram ou sofrem abusos neste pas.

    A meus pais Abigail e Jos

    Que me instruram nos caminhos do Senhor.

    Ao Pr Edison Queiroz

    Que sempre me incentivou e me apoiou em minha vocao.

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    Agradeo de corao:

    A Deus por me dar salvao, viso, fora e condies de estudar teologia nesta

    casa maravilhosa

    A minha irm por me animar a seguir em frente com meus estudos.

    A Primeira Igreja Batista de Santo Andr por me apoiar e viabilizar meus estudos.

    A minha av Hulda por nunca desistir de orar por mim e acreditar em minha

    vocao.

    Ao Professor Kenji, meu orientador por seu apoio e direcionamentos em meu

    trabalho.

    A meus familiares, mantenedores e amigos por seu apoio direto e real em minha

    vida.

    A meu primo Andr por me animar a fazer deste sonho possvel e acreditar em

    mim como lder e pastor.

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    Se voc correu com homens e eles o

    cansaram, como poder competir com

    cavalos? Se voc tropea em terreno seguro,

    o que far nos matagais junto ao Jordo?

    (Jeremias 12:5)

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    RESUMO

    O objetivo deste trabalho apresentar a realidade e dificuldades dos bolivianos,demonstrando suas relaes com a igreja e sociedade. Apresentando relevantes

    verdades antropolgicas, bblicas e missionrias de como vencer as barreiras

    culturais e mostrar um evangelho puro e simples, sem a necessidade de se

    prender a smbolos culturais impostos por nossa prpria cultura. Espero poder

    esclarecer e ajudar o entendimento do processo de evangelismo de bolivianos no

    Brasil para assim o realizarmos de maneira mais constante e eficaz.

    Palavras-chave:Aculturao, Bolivianos, Cosmoviso, Evangelizao

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    SUMRIO

    Introduo.............................................................................................................10

    I A Realidade dos Bolivianos no Brasil

    1.1Contexto e Realidade....................................................................................12

    1.2Os Laos com a Bolvia.................................................................................18

    1.3As tradies no Brasil....................................................................................20

    IIOs Aspectos Culturais da Evangelizao

    2.1 - Aculturao e seus esquemas culturais.........................................................21

    2.2O confronto do Evangelho e os paradigmas culturais...................................25

    2.3- A viso de Deus dos bolivianos.......................................................................28

    III Vencendo os Dilemas Culturais e Alcanando os Bolivianos

    3.1Os dilemas culturais dos bolivianos...............................................................29

    3.2O desafio do evangelismo contextualizado...................................................32

    3.3Ultrapassando os preconceitos......................................................................35

    Consideraes Finais...........................................................................................39

    Referncias Bibliogrficas...................................................................................41

    Anexo.....................................................................................................................43

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    LISTA DE ILUSTRAOES

    Figura 1Fluxograma do Trabalho Boliviano........................................................15

    Figura 2Grfico de Idade e Sexo dos entrevistados...........................................17

    Figura 3Sistema das Camadas...........................................................................22

    Figura 4Grfico do tempo em que os entrevistados moram no Brasil................30

    Figura 5Pirmides da situao das igrejas.........................................................32

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    INTRODUO

    Os movimentos migratrios nos pases latino-americanos tem crescido a

    cada ano, com a globalizao e a abertura dos mercados econmicos, este

    movimento tende a seguir em um crescimento constante, como expresso de um

    processo de maior mobilidade, porm estes movimentos no so novos.

    At a dcada de 1990 os movimentos de migrao na Amrica Latina se

    mantinham em uma constante, porm, aps este tempo que se torna mais

    intenso o movimento de migrao.Outra questo crucial para entendermos o processo de migrao o

    comeo da intensificao da industrializao nos pases, principalmente Argentina,

    Brasil e Venezuela

    A Bolvia se constitui em um plo de emigrao de mo-de-obra, pela baixa

    expectativa de desenvolvimento que se origina de sua estrutura social e

    econmica, pela instabilidade poltica e pela misria de determinadas regies. O

    Brasil e Argentina se formam como plos receptores dos imigrantes mais pobresdevido ao menor custo de transporte, pela proximidade de fronteira com os dois

    pases.

    O trabalho partir das vises de SILVA (1997), que comenta: Vivem em So

    Paulo em torno de 200.000 bolivianos(p.10) e trata sobre suas diferenas

    culturais e processo de escravido que o povo boliviano enfrenta.

    Outra viso que ser abordada a de HIEBERT (2009). Segundo ele a

    questo antropolgica e sociolgica so muito relevantes para poder se tratar o

    evangelismo de um povo, onde quer que estejam.

    O grande problema da evangelizao dos bolivianos do Brasil sua cultura e

    barreiras impostas por ela. Nesta pesquisa buscarei responder a seguinte

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    questo: Como evangelizar um boliviano, sem destruir sua cultura, mas

    rebatendo s suas crenas e entendo sua forma de trabalho escravocrata?.

    A falta de conhecimento da cultura boliviana, por inmeras vezes tem feito

    com que missionrios e pastores destruam sua forma de vida e no ofereamresposta para suas perguntas e anseios.

    Esse trabalho visa demonstrar que h como evangelizar um boliviano, sem

    desfazer de sua cultura e sua forma antropolgica de pensar, demonstrando a

    importncia da sociedade boliviana e sua imagem sobre Deus, e o que isso pode

    gerar

    A metodologia utilizada para o trabalho ser pesquisa bibliogrfica, que pode

    nos ajudar no caminho dessa pesquisa atravs dos escritos de Siani, Silva e

    Hiebert, analisando a situao e partindo dessas obras para uma sntese de

    pensamentos com relao evangelizao e aspectos culturais dos bolivianos.

    Baseado nos livros citados. Foi feita uma pesquisa de campo, entre 10

    bolivianos cristos, moradores de So Paulo. As entrevistas foram realizadas por

    meio de um questionrio de cinco perguntas escritas e isso gerou uma maior

    confirmao da pesquisa e das opinies dos autores utilizados, dando assim mais

    credibilidade cientfica e terica ao trabalho

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    Captulo I A Realidade dos Bolivianos no Brasil

    A nica dignidade realmente autntica a que no diminui ante a indiferena dos

    outros. (Dag Hammarkskjodsobre a dignidade)

    1.1 - Contexto e Realidade

    No principio da imigrao de bolivianos para o Brasil, a presena dos

    primeiros era nica e praticamente exclusiva para estudo e estes aps o trmino

    de seus estudos, acabavam ficando por nosso pas. Em outros casos, eram

    profissionais liberais que aqui vieram em busca de uma especializao e de

    melhores oportunidades de trabalho. H alguns poucos, que vieram por questes

    polticas, uma vez que a Bolvia passou por vrios momentos de interrupo da

    ordem democrtica.

    Tradicionalmente no Brasil, assim como em outros pases, a indstria do

    vesturio se utiliza de mo-de-obra imigrante clandestina. A comunidade judaicalidera essa atividade na cidade de So Paulo ao longo do sculo XX at a dcada

    de 1970, iniciando a contratao de mo-de-obra coreana clandestina em torno de

    1960. Fluxos migratrios ampliam a comunidade coreana at o final dos anos

    1970, prosperando e passando a liderar essa atividade no Municpio de So

    Paulo, empregando o trabalho clandestino de seus compatriotas.

    Quando cessa o fluxo de imigrao coreana, inicialmente os empregadores

    do setor contratam mo-de-obra nordestina, que no se adapta nem ao ritmo, nem

    s condies de trabalho que lhe so impostas. Os trabalhadores nordestinos so

    cidados brasileiros, encontram-se protegidos pela legislao trabalhista e

    frequentemente recorrem Justia do Trabalho para obter os seus direitos

    trabalhistas, em especial as horas-extras.

    http://www.pensador.info/autor/Dag_Hammarkskjod/http://www.pensador.info/autor/Dag_Hammarkskjod/http://www.pensador.info/autor/Dag_Hammarkskjod/http://www.pensador.info/autor/Dag_Hammarkskjod/
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    Conforme SILVA (1997, p. 64) A liberao econmica e comercial da

    Argentina, do Brasil e da Bolvia, desde os anos de 1980, cria um ambiente

    propcio tanto para informalidade, quanto para a acelerao dos fluxo de

    emigrao para os pases mais ricos. O agravo da concentrao de renda, dapobreza e do desemprego, aliados ao empobrecimento dos extratos sociais

    mdios passa a impulsionar ondas de emigrao dos pases perifricos para os

    pases mais ricos. Os grupos bolivianos mais pobres, em virtude do custo de

    transporte e das facilidades de fronteira emigram para a Argentina e para o Brasil.

    A presena boliviana em So Paulo revive o incio da dcada de 1950 e se

    intensifica a partir de 1980, na ento chamada "dcada perdida" para a Amrica

    Latina, atingindo seu pice em 1990.

    Atualmente, temos os chamados "migrantes laborais", que fogem da crise

    econmica e social, por que passa a Bolvia, migrando para a Argentina, Brasil,

    Estados Unidos, e outros pases, em busca de trabalho.

    CACCIAMALI (2005, p. 30) afirma que A opo dos empregadores

    coreanos da cidade de So Paulo tendo em vista o fracasso no emprego de fora

    de trabalho nativa recai sobre o trabalhador boliviano desde meados da dcada

    de 1980. A sua procedncia de regies altamente pobres, submisso, disposio

    para longas jornadas de trabalho, e a sua habilidade na costura e na tecelagem

    tornam essa mo-de-obra extremamente atraente. Um elemento adicional

    completa o quadro, sendo clandestino, o trabalhador imigrante, no pode recorrer

    Justia do Trabalho nem obter a proteo de outras leis brasileiras

    SILVA (1997, p. 11) afirma que Em sua maioria, eles so jovens, homens e

    mulheres, famlias, oriundos de vrias partes da Bolvia. Seus traos fsicos, como

    a cor da pele, dos cabelos, a baixa altura, a maneira de vestir-se e de falar,

    remarcam as diferenas que podem ser observadas em vrios lugares da GrandeSo Paulo, sendo que com maior presena na Zona Leste e Norte da cidade de

    So Paulo e mais especificamente nos bairros do Brs, Pari, Bom Retiro,

    Cangaiba, etc.

    Os bolivianos em sua maioria entram no Brasil de duas formas: a primeira e

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    mais comum por via terrestre, cruzando a fronteira da Bolvia com Corumb

    (MS), com visto de turista de apenas um trs meses. Aps o vencimento do visto,

    este pode ser prorrogado por mais um ms, e assim sucessivamente at atingir os

    cento e oitenta dias. Depois, no lhes resta outra opo a no ser sair do pas eentrar novamente, ou permanecer ilegalmente. Outra forma de entrada por terra

    realizada pelo Paraguai, onde os emigrantes aguardam juntos, o momento para

    atravessar a fronteira pela Ponte da Amizade. Enquanto aguardam, na maioria das

    vezes no h o que comer ou o que beber. A viagem para So Paulo feita de

    nibus, outra opo para a viagem pela fronteira direta com o Brasil por

    Corumb ou pela regio amaznica.

    Os trabalhadores so recrutados nas cidades de Santa Cruz de la Sierra,

    La Paz e Cochabamba, que funcionam como plos receptores dos emigrantes

    procedentes das regies andinas mais pobres da Bolvia onde as atividades

    econmicas mercantis so muito reduzidas. Nessas localidades o recrutamento

    realizado por vrias mdias nas cidades de maior porte e de redes de contatos

    informais nas vilas andinas. No incio da viagem, o agenciador apreende os

    documentos dos imigrados (SILVA, 1997).

    As relaes entre os costureiros das oficinas de confeco e o empregador

    muitas vezes podem ser caracterizadas como familiares ou de compatriotas,

    estabelecendo-se e evoluindo em uma condio ambgua de fidelidade e

    subexplorao

    A relao tanto pode piorar para o tipo servido por dvida ou dirigir-se para

    uma relao paternalista. O trabalhador s vai receber dinheiro pelo seu trabalho

    quando for embora pelo trmino de vnculo ou devido a uma emergncia, como

    um problema de famlia (Cacciamali, 2005).

    Em 1990 inicia a grande leva de entradas de bolivianos no Brasil e nestamesma dcada, aumenta o domnio da comunidade coreana no ramo do

    vesturio, que pratica em geral contratos triangulares de trabalho. A condio de

    agenciador ou empreiteiro em geral assumida por um boliviano, por vezes

    clandestino, mas tambm pode ser assumida, por um brasileiro. O diagrama

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    abaixo demonstra esta explicao de maneira mais ntida e clara.

    Figura1demonstra fluxograma da mo de obra boliviana

    A subexplorao suportada porque na maioria das vezes ocorre no meio

    de uma relao familiar. O empregador no local de destino a conexo com a sua

    famlia original, que neste local faz muitas vezes o papel de sua famlia.

    Devido a fidelidade, necessidade e a possibilidade de trabalhar, o imigrante

    clandestino exerce um contrato de trabalho verbal no qual ele remunerado por

    pea, totalizando um salrio-hora muito abaixo da mo-de-obra local e exercendouma jornada extensa de trabalho, que pode atingir 16 ou 18 horas por dia. Por

    vezes paga parceladamente a compra da mquina de costura que usa na oficina,

    obrigando-o a trabalhar com maior intensidade para perceber alguma

    remunerao em dinheiro.

    Empregador/dono de loja: coreano

    Empreiteiros: coreanos e bolivianosEmpregados

    clandestino

    documentado

    Sem RegistroCom registro

    Empregados

    bolivianos

    clandestinos

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    A proliferao de oficinas de costura pela cidade tem contribudo, por

    um lado, para acirrar ainda mais competio entre os oficinistas, cuja

    conseqncia direta tem sido a queda dos preos pagos pelos

    coreanos aos bolivianos, e, consequentemente, destes para com os

    seus costureiros. Neste sentido, os preos pagos por pea costurada

    caram consideravelmente, atingindo a nfima cifra de R$0,10, no caso

    das peas mais simples. Por outro lado, a competio instaurada pela

    roupa importada fez com que os produtores passassem a se

    preocupar tambm com a qualidade de seus produtos. Tal exigncia

    impe, por sua vez, mais horas de trabalho aos costureiros, sem que

    isto lhes tenha revertido em ganhos extras.(Silva, 1999, pg.114)

    A insero dos bolivianos em So Paulo impe-lhes a individualizao e a

    mudana no seu cotidiano cultural, com a adoo de novos hbitos alimentares,

    entre eles a incluso do feijo em sua dieta, bem como de uma nova maneira de

    vestir-se, hbitos de poupana e a necessidade de aprender um novo idioma.

    A atividade clandestina, de modo que o trabalhador costura em um

    ambiente inadequado, em galpes sem janelas ou pores respirando o p gerado

    pela grande quantidade de tecido que ser transformado em peas. Ele vive no

    mesmo local dormindo sobre um colchonete, que estende atrs de sua mquina

    de costura, em uma situao abaixo de condies mnimas, sem refeitrio e com

    um banheiro coletivo.

    A intensidade do trabalho, a m alimentao e a promiscuidade constituem

    o caldo ideal para doenas como a tuberculose, doenas sexualmente

    transmissveis, bem como para gravidez precoce entre outros agravos sade

    (SILVA, 2009).

    Com o passar do tempo a realidade est mudando e algo positivo que foi

    aprovado no ano de 2010, que abrangeu a todos os imigrantes irregulares no pascomo os bolivianos, foi a lei da anistia internacional. Onde o boliviano que estava

    no pas de maneira irregular, consegue se regularizar e ter um visto no pas, sem

    especificao de atividades que vai realizar no pas de dois anos.

    Outra realidade muito vista em So Paulo at a lei da anistia, foi o

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    casamento por interesse financeiro, onde o boliviano pagava para uma brasileira

    para casar legalmente com ela para ter o direito de receber um visto permanente

    no Brasil, como residente.

    Sexo por faixa etria

    0

    0,5

    1

    1,5

    2

    2,5

    3

    3,5

    10-20 21-30 31-40 41-50 61-70

    Faixa e tria

    Feminino

    Masculino

    Figura 2baseada em pesquisa realizada com bolivianos

    A maioria dos entrevistados so homens, segundo pesquisa realizada e

    grfico apresentado acima, o que nos mostra que ao contrrio do passado, hoje os

    homens fazem os servios que anteriormente era exclusivo de mulheres.

    A cultura machista boliviana persiste na Bolvia, mas chegou ao Brasil de

    uma maneira mais amena, pois a presena feminina boliviana no Brasil de

    extrema importncia e vital para o funcionamento de algumas oficinas, onde os

    donos j no so mais os homens, seno mulheres bolivianas que so separadas,

    divorciadas ou mes solteiras.

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    1.2 Os Laos com a Bolvia

    A Bolvia alm de ser conhecida mundialmente pelas suas riquezas

    minerais tambm conhecida por ser uma sociedade pluritnica e multicultural,

    uma vez que em seu territrio convivem vrios grupos tnicos, dentre os quais se

    destacam os aymars, quchuas e tupi-guaranis, alm de um grande numero de

    minorias tnicas, fazendo com que cerca da populao seja indgena. Segundo

    ARAGN (1987) No territrio boliviano fala-se pelo menos 26 lnguas diferentes,

    que se subdividem em 127 dialetos j classificados e outros ainda por classificar.

    Existe uma necessidade de dialogar com a cultura pr-colombiana e a

    hispano-ocidental, cuja relao entre ambas tem sido marcada por conflitos, pois a

    cultura do homem branco procurou impor-se s culturas nativas, atravs de um

    novo modo de vida, de produo, de organizao social e de valores religiosos

    catlicos-msticos. Devido a esta constatao, podemos afirmar que ainda hoje

    essas relaes tnico-culturais entre as vrias classes sociais que compem a

    sociedade boliviana so marcadas pelos vcios e preconceitos herdados doperodo colonial (SILVA, 1997).

    O tema das diferentes grupos tnicos e de classes sociais de vital

    importncia para delinearmos alguns elementos culturais que formam a sociedade

    boliviana atual, para uma anlise mais bem sucedida dos vnculos culturais dos

    bolivianos com a Bolvia.

    So poucos os bolivianos que conseguem acumular algum capital para

    investir na terra natal, em vista de uma possvel volta, sobretudo quando

    conseguirem dar aos filhos uma posio confortvel. Entretanto, para a maioria a

    busca do reconhecimento social apresenta-se como um sonho que pode ser

    alcanado dentro do prprio grupo de compatriotas, na medida em que for

    escolhido ou pasar uma festa religiosa, em geral dedicada Virgem Maria,

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    reinventando, desta forma, uma tradio tpica da Bolvia que o prestrio ou

    pasantazgo.

    O princpio central desta instituio consiste em escolher a cada ano um

    novo preste ou pasante(festeiro), que se encarregar de organizar a prximafesta.

    Na Bolvia cabe ao festeiro dispor da maior parte dos recursos para

    organiz-la, explicitando, assim, a sua situao de prosperidade dentro

    do grupo. Porm. costume tambm nomear os padrinhos da festa,

    ou seja, aqueles que o ajudaro nas despesas da organizao da

    mesma. Em So Paulo, a organizao das festas segue um esquema

    diverso, uma vez que aquelas realizadas num mbito mais privado tm

    como regra a participao somente daqueles que so convidados, os

    quais colaboram com alguma coisa, e tudo partilhado entre eles. No

    caso daquelas que so abertas ao publico em geral, parte da comida e

    da bebida servida cobrada dos participantes. Vale ressaltar, porm,

    que nos dois casos praxe nomear padrinhos para a orquestra que

    animar a festa, para a decorao da igreja, para trocar o manto da

    santa, para colaborar com a comida e com a bebida, para as colitas

    (pequenas lembranas oferecidas aos participantes) e no caso da festa

    da padroeira nacional, a Virgem de Copacabana, para a preparao dos

    cargamentos, uma procisso de carros enfeitados com aguayos

    (tecido multicolorido), flores, objetos de prata, etc... A qual sai da casa

    do festeiro e percorre as ruas da cidade at o local dos festejos. (SILVA,

    1999, pg.117-118)

    Quase todo boliviano tem o sonho de alcanar uma quantidade de capital

    financeiro, suficiente para voltar Bolvia e ter uma vida mais saudvel

    financeiramente, em outros casos, o desejo o de manter os negcios no Brasil e

    abrir novos negcios na Bolvia.

    Os bolivianos tem uma semelhana com os brasileiros que vivem nos

    Estados Unidos, pois ambos tentam acumular recursos para voltarem aos seus

    pases e terem condio de enviar recursos financeiros ao seu pas. Um mtodo

    muito comum dos bolivianos enviarem dinheiro a seus familiares na Bolvia,

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    atravs de bancos de recebimento e envio de dinheiro como o Western Union

    1.3 As Tradies no Brasil

    A populao boliviana possui uma tradio de associativismo, usualmente

    expressa por meio de organizaes de caractersticas religiosas, culturais e/ou de

    trabalho. O emigrante conduzido de seu local de origem para uma clausura

    tnica, onde enclausurado, par pagar os custos de sua vinda atravs do trabalho

    (CACCIAMALI, 2005).

    Os trabalhadores bolivianos h mais tempo no pas se encontram

    estabelecidos fora das oficinas so recrutados em praa pblica. Na Praa

    Kantuta, no Pari, bairro da cidade de So Paulo, proprietrios de oficinas, na sua

    grande maioria, bolivianos e coreanos, e trabalhadores bolivianos e paraguaios se

    encontram. Em praa pblica, fazem-se as contrataes e estabelecem-se as

    remuneraes (SILVA, 1999).

    Um dos problemas que os bolivianos enfrentam no Brasil e

    tradicionalmente vindo da Bolvia, a questo dos vcios com bebidas e drogas.

    Devido falta de oportunidades em seus pases, muitos se embriagam ou se

    drogam, utilizando o vcio como uma frmula de escape para seus problemas.

    muito comum observar na Praa Kantuta, aos domingos, os bolivianos se

    reunirem e se embriagarem, pois olhando pelo ponto de vista scio-cultural nos

    fica ntido que uma pessoa que trabalha de 14 a 18 horas diria e que recebe um

    pagamento muito pequeno, no tem condies e nem opes de diverso aos

    domingos, logo estes usam boa parte de seu dinheiro para beberem eesquecerem-se das tristezas do trabalho e da vida que levam no Brasil.

    Em alguns perodos do ano, como as festas das santas bolivianas e da

    independncia boliviana. Os bolivianos utilizam estes momentos para buscar mais

    aceitao perante a sociedade brasileira, buscando a reverso da imagem

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    negativa do grupo como um todo, e demonstrarem os diferentes ritmos e bailes

    folclricos de cada regio da Bolvia. Os grandes interessados em divulgar estes

    elementos do folclore boliviano so grupos residentes na cidade h vrios anos,

    como Kantuta, um grupo formado de pequenos empresrios e profissionaisliberais (SILVA, 2003).

    Vale a pena ressaltar que nos dias de hoje a Praa Kantuta se tornou ponto

    de referncia de eventos bolivianos nos dias de domingo, onde os bolivianos se

    renem para comerem nas barracas, comida tpicas bolivianas como: Antecucho

    (churrasco de corao de boi); Saltea (espcie de salgado com passas, frango,

    pimenta, ervilha e molho vermelho); Pique Macho (prato tpico boliviano com

    carne, arroz, pimento, salsicha e bata frita); Picarn (espcie de massa frita

    molhada no mel). No podemos esquecer das msicas em espanhol que escutam,

    como: Cumbia; chicha; salsa e reggaeton. Outra marca tpica da tradio boliviana

    que existe em Kantuta a venda de produtos e ingredientes culinrios tipicamente

    bolivianos como: aji (espcie de pimenta boliviana), rocoto (pimenta em forma de

    pimento), tunta (batata desidratada).

    Captulo II Os Aspectos Culturais da Evangelizao

    2.1 Aculturao e Esquemas Culturais

    A aculturao ponto fundamental para uma evangelizao eficaz, se as

    igrejas no entenderem a necessidade de um processo de aculturao, quando forlevada a Palavra a um grupo de outra etnia, estar fadada ao fracasso.

    O migrante ao deixar seu pas, leva consigo uma histria, uma cultura e

    muitos sonhos ao entrar em contato com a realidade do pas estrangeiro. Ter que

    readequar esses sonhos, expectativas e desejos ao novo cenrio. Esse encontro

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    pode dar-se de diferentes maneiras, provocando desde uma coexistncia e

    convivncia pacficas entre os valores e costumes das comunidades envolvidas

    at repulsa e marginalizao do estrangeiro. quase certo que haver rearranjos

    de valores e comportamentos e uma leve negociao cultural daqueles queparticipam diretamente e indiretamente da experincia (HIEBERT, 2009).

    figura 3grfico das camadas(WINTER, 1997, pg.440)

    Baseado na teoria apresentada por WINTER (1997, pg.437-441), como

    segue o grfico acima apresentarei essa teoria para um melhor entendimento.

    Uma forma interessante de olharmos este problema de aculturao tanto

    para os brasileiros como para os bolivianos, olhar para uma cultura, observando

    seus sucessivos nveis de entendimento ou cascas (como de uma cebola).

    A primeira coisa que todo missionrio deveria fazer ao chegar a um novo

    local seria perceber o comportamento do povo, essa seria a casca mais externa

    que se dirige a pergunta: o que se faz?, onde observaria aonde as pessoas

    esto indo, o que esto fazendo?, quais so suas prticas? A partir deste

    entendimento comea a se observar como se portam e se tem uma leitura do

    comportamento daquela cultura (WINTER, 1997).

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    A segunda casca, nos remete a observao das escolhas, entendendo o

    que bom e ruim para a cultura e isso nos leva a entender os valores daquela

    cultura que so decises pr-estabelecidas que uma cultura toma diante de

    escolhas que diariamente necessrio fazer. Os valores ajudam aqueles quevivem dentro de uma determinada cultura a decidir o que deveria ser feito para se

    adequar ao padro de vida, desta cultura (WINTER, 1997).

    A terceira casca mais profunda em sua compreenso, pois trata sobre

    crenas culturais. Estas crenas contestam para aquela cultura pergunta: O que

    verdadeiro? (WINTER, 1997).

    Em uma cultura os valores no so escolhidos a ermo, mas frequentemente

    refletem um sistema fundamental de crenas, mas existem dois tipos de crenas:

    as operacionais, que afetam valores e comportamento; e a terica que so

    convices demonstradas atravs de palavras e que quase no tem impacto sobre

    valores e comportamento.

    A ltima casca, como o centro de qualquer cultura a cosmoviso, que

    responde a pergunta mais bsica dos questionamentos: o que real?. Esta

    pergunta na maioria das vezes esquecida e no levada em considerao como

    se deveria, pois ela afeta a vida toda das pessoas em sua cultura e remete a

    inmeras perguntas como: Quem so?, De onde vieram, O momento de agora

    o mais importante?

    Segundo WINTER (1997, pg.441) Esta compreenso da cosmoviso como

    sendo o cerne de cada cultura explica a confuso que muitos experimentam a

    nvel de sua crena... s vezes u sistema novo ou rival de crena introduzido, as

    a cosmoviso no confrontada e permanece sem mudar.

    O modelo apresentado de observao e comeo de aculturao bsico,

    mas para missionrios, pastores e telogos um modelo fcil de entender e parao nosso caso tambm, pois deixam claras as definies e as fases de assimilao

    cultural. Se um missionrio compreender e estudar profundamente este e outros

    modelos, evitar desnimo pela demora de mudanas, pois entender a

    cosmoviso e o tempo do processo de mudanas nesta cultura.

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    Quando os missionrios chegam ao campo, eles sofrem muito estresse,

    pela insegurana de aprende uma nova lngua, adaptar-se ao clima, ambiente,

    tempo, problemas financeiros, desiluses e a todos estes problemas nomeamos

    de choques culturais. Para MOK (2005, p.153) o choque cultural pode sercaracterizado por estresse, solido, decepo com os nacionais.

    Entenderemos melhor a questo dos choques culturais, atravs dos

    esquemas de SCHUMANN (1992, p.134) e OBERG (1960 apub BUENO, 2004,

    P.91), que podem ser divididos em fases ou estgios, resumidos por mim:

    1. fase da euforiaou estgio lua de mel: estado de excitao e entusiasmo

    pelas novidades oferecidas no novo pas. Perspectiva do turista ou

    espectador; nesse momento as culturas prprias e alheias- no so

    questionadas;

    2. fase de estranhamento, choque cultural ou desiluso: comeam a surgir

    os primeiros desconfortos, dificuldades de interao e conseqente

    rejeio de alguns aspectos da cultura local, coloca-se a culpa na

    cultura estranha e glorifica sua prpria cultura;

    3. fase de mal-entendidos: quando os indivduos comeam a sentir-se

    mais confortveis e, gradualmente, aceitam a nova cultura, passando a

    entender melhor o comportamento das pessoas. Sentem-se menos

    isolados, mais familiarizados com os costumes e condies, aprendem

    com a comunidade e progressivamente tornam-se capazes de manter a

    rotina diria apesar de alguns distrbios; os eventuais conflitos so

    entendidos como resultado de mal-entendidos causados por diferenas

    culturais.

    4. fase de entendimento: as novas regras de jogo so entendidas, aceitas,

    aprendidas e finalmente valorizadas; os indivduos passam a gostar decultura e suas rotinas. dirias tornam-se fceis de conduzir. Os aspectos

    positivos da nova cultura so percebidos e nasce um sentimento de

    pertencer ao local.

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    2.2 O Confronto do Evangelho e seus Paradigmas Culturais

    Segundo KWAST (1997, pg.437), o primeiro passo num estado de cultura

    dominar a sua prpria cultura, pois todos ns temos uma cultura e no

    conseguiramos nos divorciar dela.

    Os paradigmas culturais afetam no s os mensageiros, mas tambm a

    mensagem. Cada sociedade olha e codifica o mundo em sua maneira, lngua e

    cultura. No existe cultura ou teologia certa e pura, logo a traduo e a

    comunicao transcultural no so tarefas fceis (MOK, 2005).

    Como citado anteriormente o domnio da cultura, ou o conhecimento

    profundo da mesma, abre as portas para a assimilao cultural e muitas respostas

    para perguntas que esto alm de uma pregao de domingo, mas dependem de

    um estudo profundo da Palavra e de sabedoria Divina para expor da forma e no

    tempo correto, sem estragar a cultura aonde for apresentada.

    Atravs da vida do Apstolo Paulo, vemos o exemplo prtico de aculturao

    e de sabedoria ao compartilhar a obra de Deus com outra cultura:

    Os homens que foram com Paulo o levaram at Atenas, partindodepois com instrues para que Silas e Timteo se juntassem a ele, tologo fosse possvel. Enquanto esperava por eles em Atenas, Paulo ficouprofundamente indignado ao ver que a cidade estava cheia de dolos.

    Por isso, discutia na sinagoga com judeus e com gregos tementes aDeus, bem como na praa principal, todos os dias, com aqueles que porali se encontravam. Alguns filsofos epicureus e esticos comearam adiscutir com ele. Alguns perguntavam: "O que est tentando dizer essetagarela? " Outros diziam: "Parece que ele est anunciando deusesestrangeiros", pois Paulo estava pregando as boas novas a respeito deJesus e da ressurreio.

    Ento o levaram a uma reunio do Arepago, onde lhe perguntaram:"Podemos saber que novo ensino esse que voc est anunciando?

    Voc est nos apresentando algumas idias estranhas, e queremossaber o que elas significam".

    Todos os atenienses e estrangeiros que ali viviam no cuidavam deoutra coisa seno falar ou ouvir as ltimas novidades. Ento Paulo

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    levantou-se na reunio do Arepago e disse: "Atenienses! Vejo que emtodos os aspectos vocs so muito religiosos,pois, andando pelacidade, observei cuidadosamente seus objetos de culto e encontrei atum altar com esta inscrio: AO DEUS DESCONHECIDO. Ora, o quevocs adoram, apesar de no conhecerem, eu lhes anuncio.

    "O Deus que fez o mundo e tudo o que nele h o Senhor do cu e daterra, e no habita em santurios feitos por mos humanas. Ele no servido por mos de homens, como se necessitasse de algo, porque elemesmo d a todos a vida, o flego e as demais coisas. De um s fez eletodos os povos, para que povoassem toda a terra, tendo determinadoos tempos anteriormente estabelecidos e os lugares exatos em quedeveriam habitar.

    Deus fez isso para que os homens o buscassem e talvez, tateando,pudessem encontr-lo, embora no esteja longe de cada um de ns.Pois nele vivemos, nos movemos e existimos, como disseram algunsdos poetas de vocs: Tambm somos descendncia dele.

    "Assim, visto que somos descendncia de Deus, no devemos pensarque a Divindade semelhante a uma escultura de ouro, prata ou pedra,feita pela arte e imaginao do homem. No passado Deus no levou emconta essa ignorncia, mas agora ordena que todos, em todo lugar, searrependam. Pois estabeleceu um dia em que h de julgar o mundocom justia, por meio do homem que designou. E deu provas disso atodos, ressuscitando-o dentre os mortos".

    Quando ouviram sobre a ressurreio dos mortos, alguns deleszombaram, e outros disseram: "A esse respeito ns o ouviremos outravez".

    Com isso, Paulo retirou-se do meio deles. Alguns homens juntaram-se aele e creram. Entre eles estava Dionsio, membro do Arepago, etambm uma mulher chamada Dmaris, e outros com eles (BBLIA,2000, Atos 17: 1634).

    Paulo j conhecia a grande cidade intitulada: A Universidade do Mundo,

    porque depois dela, em lugar algum na histria da poca havia tanta tradio

    cultural. De Atenas havia sado generais, estadistas, historiadores, oradores,

    poetas e filsofos.

    Paulo, homem integrado em sua poca, conhecia muito bem a cultura e os

    costumes do lugar, sabia tambm que a cidade perdera muito do seu antigo

    estado de gloria. Ao entrar nela deve ter feito um retrospecto de toda a histria

    que, ao seu tempo no era to antiga como hoje. Certamente, veio a sua mente o

    papel desempenhado ps Scrates trazendo uma nova orientao ao pensamento

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    humano, atravs da mxima que lera no orculo de Delfos: Conhece-te a ti

    mesmo. Recordou-se de um Plato, de um Aristteles e de muitos outros que de

    formas variadas tentavam explicar o mundo que os cercava (RICHARDSON,

    2005).Mediante a tudo isso que Paulo est inserido. Ele nos ensina atravs de

    sua experincia duas condies necessrias para anunciar o Evangelho a grupos

    de pessoas que ainda no conhecem a Cristo. Primeiro formar uma equipe co

    viso multicultural, ou que estejam dentro dela pessoas nativas do lugar para onde

    se v. Segundo, descobrir meios criativos de apresentar o evangelho em modelos

    de pensamento que vo de encontro cosmoviso das pessoas (SHENK, 1995).

    Paulo sabia que Jesus Cristo a resposta a questes mais profundas da

    espcie humana, como: Qual o sentido da minha vida?,Qual o sentido da

    morte?, Como posso ter uma relao profunda com o divino?. Quer Paulo

    estivesse falando aos politestas, aos filsofos ou a um grupo inteiramente

    familiarizado com as escrituras judaicas, ele centrava sua mensagem e seu

    testemunho na vida, morte e ressurreio de Jesus. Procurava destacar a

    importncia de Jesus dentro da cosmoviso da audincia qual pregava (SHENK,

    1995).

    Quando o evangelho apresentado com relevncia a qualquer cosmoviso,

    ele sempre provoca uma resposta, seja positiva ou negativa. Crena e descrena

    se tornam possveis quando a Palavra de Deus ouvida claramente. Ela s

    ouvida com clareza se for exposta dentro dos modelos de pensamento do povo

    que a est ouvindo. Apenas depois deste processo que podemos afirmar que a

    pessoa realmente ouviu o evangelho, pois foi dentro de sua cosmoviso.

    Um dos grandes erros cometidos pela cosmoviso imperialista americana

    de alguns grupos de cristos, que inmeras vezes, eles no se preocuparamcom a cosmoviso das pessoas a quem se estava evangelizando, e com isso ao

    invs de demonstrarem o evangelho puro e simples, dificultaram o processo de

    evangelizao.

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    Quando olhamos para o passado, devemos aprender com os erros dos

    outros povos e mudar esta realidade para melhor. Para pessoas que esto

    completamente enredadas numa cultura ou cosmoviso, e muito pouco expostas a

    outros modos de vida, poder ser bastante difcil captar as implicaes doevangelho.

    Vemos claramente atravs do exemplo de Paulo e os atenienses que a

    principal relao de Paulo com a cultura do outro conhecimento profundo e

    respeito, em momento algum Paulo vai de encontro contra a cultura, mas ao

    contrrio ele aproveita brechas e espaos dado pela cultura, para inserir a

    mensagem do Evangelho. Ele no impe sua cultura, mas respeita a outra cultura

    (RICHARDSON, 2005).

    Jesus nos ensina, atravs de seu mandamento: O segundo este: Ame o

    seu prximo como a si mesmo. No existe mandamento maior do que

    estes".(Marcos 12:31). O amar ao prximo como Jesus nos ensina a respeitar as

    pessoas e suas respectivas culturas

    2.3 - A viso de Deus dos bolivianos

    Segundo SILVA (1997) a viso de Deus para os bolivianos como a de

    uma divindade para o indgena, onde se necessrio fazer sacrifcios para

    apazaiguar a ira do deus mau, ou seja este deus tpico do povo visto como

    algum bom para se trocar favores, pedir coisas e tambm como o culpado por

    muitos castigos que atingem o pas.

    Conforme pesquisa realizada com bolivianos cristos, a maioria dosentrevistados tem uma viso de um Deus Poderoso de amor que se fez presente

    entre ns, mas poucos so os que tratam Deus como um Pai de amor, mas ao

    contrrio sempre como um Deus de poder e fora

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    Atravs da leitura da cosmovisodestes bolivianos sobre Deus podemos

    entender de forma mais ampla e esclarecedora, o porque de no se misturar a

    viso divina com uma viso paterna, pois aps um tempo de convivencia com o

    povo boliviano percebi que a figura de um pai, nem sempre bem vista pelo povo.A sociedade boliviana extremamente machista e incentiva os homens ao

    adultrio e infidelidade no matrmonio, e pelo devido ndice de drogados e

    alcoolatras entendemos a separao da viso de Deus distinguindo da viso

    paterna.

    Captulo III Vencendo os Dilemas Culturais e Alcanando os Bolivianos

    3.1 Os dilemas culturais dos bolivianos

    Os bolivianos em So Paulo encontraram facilidades no Brasil como:

    comida, roupa e a grande populao de bolivianos que mora em So Paulo

    Segundo pesquisa realizada com os bolivianos (Anexo 1), os bolivianos que

    moram em So Paulo tm como tempo de vida aqui de um a dez anos. O que nos

    remete a ver que a vida deles na rea da costura maior do que um ou dois anos,

    ou seja, eles vm ao Brasil e depois de anos de trabalho e conseguir conquistar

    uma quantia de dinheiro boa para ter uma melhor situao financeira, voltam a seu

    pas.

    Nem sempre a vinda ao Brasil a melhor resposta aos bolivianos, mas

    uma forma tambm destes fugirem de sua dura realidade na Bolvia. O que muitotem ocorrido com os bolivianos de mais tempo de moradia no Brasil a aquisio

    to sonhada ao imigrante de um visto permanente (uma espcie de Greencard

    para os brasileiros moradores dos Estados Unidos).

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    Tempo mdio em que vive no Brasil

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    11-15

    21-25

    31-40

    Figura 4baseado em pesquisa com bolivianos relativo ao tempo que vive no Brasil

    O primeiro dilema apresentado na pesquisa a questo lingstica,

    respondido por 50% dos entrevistados como maior dilema. Segundo ETA (2010,

    pg. 68-75) o fato da lngua portuguesa, ser prxima da lngua espanhola, acaba

    dando a impresso de o portugus ser um idioma fcil, mas isso na prtica uma

    grande barreira para os bolivianos. Pela falta de prtica e falsos cognatos na

    lngua, nem sempre os bolivianos conseguem entender o portugus ou se fazerem

    compreendidos.

    Devido carga horria pesada de trabalho os bolivianos tm escassez em

    horrios livres, na maioria das vezes lhes sobrando depois das 14hs do sbado e

    o domingo, em virtude disto, no conseguem estudar o portugus gramaticalmente

    e de uma maneira mais completa.

    Existem hoje na cidade de So Paulo, algumas igrejas como a IgrejaAdventista e instituies como a Pastoral do Imigrante, chegando at o nvel

    governamental que oferecem este tipo de ajuda ao imigrante, como o Consulado

    do Uruguai no Brasil. Oportunidades aparecem, mas o imigrante no consegue

    aproveitar-las.

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    Os nicos que conseguem aprender o portugus de maneira eficaz so os

    filhos que nasceram no Brasil, ou vieram at os seus 12 anos, pois at esta idade

    o aprendizado do idioma ainda realizado de maneira rpida, devido a relao

    intensa e constante nas escolas dos filhos de bolivianos com os estudantesbrasileiros.

    O segundo dilema apresentado na pesquisa e respondido por 35% dos

    entrevistados como principal dilema a falta de oportunidade de trabalho em outra

    rea para o imigrante. Pois, ele devido a sua falta de documentao, acaba se

    tornando um refm do mesmo tipo de trabalho. Se houver no futuro algum tipo de

    pesquisa feito com os bolivianos, claramente perceberemos que quase todos no

    tiveram oportunidade de mudar de rea, devido a restrio do mercado de

    trabalho para a documentao do estrangeiro e as duras leis para fazer com que

    um imigrante tenha um visto de prazo maior a 6 meses.

    O terceiro dilema respondido por 15% dos entrevistados como principal a

    falta de entendimento cultural dos brasileiros para com os bolivianos. Segundo

    alguns entrevistados, os brasileiros fazem com que a cultura boliviana parea algo

    insignificante, pois valorizam extremamente sua cultura e desvalorizam a cultura

    boliviana.

    A cosmoviso de alguns brasileiros, infelizmente no consegue aceitar e

    entender as diferenas culturais e os bolivianos acabam sendo vistos como

    principais sanguessugas de nosso pas e so culpados pelo desemprego.

    Os dilemas apresentados no devem ser encontrados como problema, mas

    sim como desafio para a igreja brasileira ver e mudar este contexto apresentado

    aos nossos olhos.

    A populao boliviana no Brasil tem sofrido constantemente dificuldades

    devido aos dilemas apresentados neste captulo e infelizmente o governobrasileiro no tem visto ou tem preferido fechar seus olhos para esta dura

    realidade.

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    3.2 O desafio do evangelismo contextualizado

    Segundo MOK (2005, pg.253). Contextualizao significa que os crentesnacionais estabilizam-se dentro de um sistema, organizao, costumes, valores,

    normas conforme a Bblia.

    Contextualizar o evangelismo nos dias atuais um dos maiores desafios da

    atualidade para a igreja e SHENK (1995, pg. 110) mostra isto atravs de seu

    grfico piramidal sobre esta relao como segue abaixo:

    figura 5- situao das igrejas hoje(SHENK, 1995, p.110)

    O grfico A demonstra conforme a teoria de Shenk o que aconteceu em

    muitas igrejas, onde a cultura de quem est levando o Evangelho mais

    importante do que a vida de Cristo, pois a mensagem cheia de caractersticas

    culturais e a contextualizao no bem feita.

    O grfico B mostra a idia de como a igreja que Deus quer que acontea,

    onde a nossa histria e cultura, o menos importante diante da importncia do

    Evangelho, da vida de Cristo e os ensinos sobre o Reino.

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    Conforme MOK (2005, pg.262-263), existem trs posies crists na

    atualidade sobre contextualizao e resumidamente as explanarei abaixo:

    A.) Fundamentalistas enfatizam o texto bblico e esquecem-se do

    contexto, eles colocam a suas posies doutrinrias como quaseque absoluta e no negociveis em quase todos os contextos e

    apresentam um evangelho vertical e esquecem-se do horizontal;

    B.) Liberaisenfocam o contexto, crendo que a evangelizao

    impossvel sem a reflexo na cultura, mas quase sempre

    enfatizam demais o contexto, que acaba negligenciando a Bblia

    e relativizando algumas verdades;

    C.) Neo-evangelicaisafirmam que a palavra de Deus imutvel e

    eterna. No entanto, todos os contextos sempre mudam. Os

    mensageiros tm que entregar o Evangelho, de acordo com os

    receptores orientados.

    Segundo Mok, os fundamentalistas so extremamente voltados a Bblia,

    mas esquecem da cultura. Os liberais enfocam na cultura e esquecem-se da

    Bblia, j os neo-evangelicais so os mais centrados, que seriam segundo ele os

    novos evanglicos, no de igrejas novas, mas de uma nova gerao de

    pensamento e cosmoviso sobre o mundo.

    Segundo HIEBERT (2009, p. 141). Existem trs tipos de contextualizao

    conforme a aceitao do Cristianismo pela cultura nacional: a no-

    contextualizao; a contextualizao acrtica e a crtica

    A no contextualizao parte de uma viso dos missionrios de um perodo

    entre 1850 e 1950, onde eles acreditavam que suas culturas eram o modelo do

    cristianismo e as culturas locais eram satnicas, eles tentaram eliminar a cultura

    local e impor sua cultura ocidental. Nesta poca, criam que estavam levando overdadeiro Evangelho. Um grande exemplo disto quando olhamos para o

    comeo da evangelizao na frica, onde em um sol de quarenta graus, os

    missionrios obrigavam aos convertidos a usarem terno e gravata (MOK, 2005).

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    A contextualizao acrtica considera que todas as tradies e costumes

    locais so bons, ela aceita os excessivamente os costumes e contextualiza sem

    crtica, relativa verdade e a falta de crtica pode gerar uma destruio da

    mensagem do Evangelho, nem todas as coisas d para contextualizar.A contextualizao crtica uma forma mais equilibrada, pois no valoriza

    demasiadamente a cultura, mas tambm no a esquece, entende que os a Bblia

    imutvel, mas deve ser aplicada de maneira simples e entendvel.

    HIEBERT (2009, pg.188-189) nos mostra como fazer a contextualizao

    crtica em quatro passos: 1) a igreja e missionrio devem reconhecer a

    necessidade de lidar biblicamente com todas as reas da vida; 2) a igreja e o

    missionrio devem reunir a congregao a uma reunio no crtica e analisar os

    costumes tradicionais associados questo; 3) o pastor ou missionrio deve dirigir

    a igreja num estudo bblico com a questo em considerao; 4) a congregao

    deve avaliar criticamente seus prprios costumes do passado luz do novo

    entendimento da Bblia e tomar uma deciso com respeito a suas prticas.

    Segundo BOSCH (2002, pg. 425) a contextualizao deve ser feita,

    segundo a teologia transcultural. A teologia de contextualizao no deve ficar

    sozinha, mas sempre ser considerada e avaliada junto com todas s teologias

    crists.

    Devemos nos ater as bases teolgicas da contextualizao: 1) a Bblia

    tomada como autoridade final e definitiva para as crenas e prticas crists; 2) o

    sacerdcio do crente implica que todos devem crer no Esprito Santo como guia

    no entendimento e aplicao das Escrituras em sua vida; 3) a contextualizao

    no tarefa de alguns, mas da igreja como comunidade que raciocina,

    observando que as pessoas contribuem segundo suas capacidades de

    conhecimento, j o pastor ou missionrio, tem um maior conhecimento eentendimento, e ele deve oferecer uma exegese apropriada da Bblia dentro do

    seu contexto bblico.

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    3.3 - Ultrapassando os preconceitos

    BURNS (2008, p. 31-34) trata sobre o preconceito e o racismo, afirmandoque a Europa e os descendentes de europeus criaram uma teoria baseada na

    cincia que o negro e alguns povos eram inferiores aos europeus no processo

    evolucionrio de raciocnio e como homem.

    Devido falta de entendimento cultural no Brasil, os bolivianos tem sofrido

    com uma espcie de preconceito velado por parte dos brasileiros, onde so

    vistos como sanguessugas de empregos em nosso pas, pois so mo-de-obra

    mais barata e para os alguns brasileiros so que causam o desemprego no Brasil.

    Descriminao outra palavra utilizada pelos bolivianos como dificuldade

    enfrentada em nosso pas, onde o imigrante no visto como um ser humano,

    mas como objeto ou nmero em uma estatstica..

    O Apstolo Paulo deixa claro em Romanos 10:12-13, que no h diferena

    entre pessoas diferentes, que para Cristo, todos somos iguais, logo com isso no

    existe raa superior ou pessoa melhor que a outra, mas existem pessoas que

    buscam e no buscam a Deus

    Paulo est nos ensinando que no h motivos para preconceitos e sim

    motivos para um entendimento e um respeito cultural. A mesma coisa fica clara

    para Pedro, quando tem um encontro com Cornlio (Atos 10). Pedro possua um

    pr-conceito estabelecido sobre Cornlio e sua famlia e a impureza dos alimentos

    deles, mas Deus lhe mostra e lhe ensina sobre respeito e amor, com esta

    situao.

    Vamos olhar o que Paulo diz a igreja de Romanos sobre o julgamento e a

    viso sobre o que certo ou errado culturalmente:

    Aceitem o que fraco na f, sem discutir assuntos controvertidos.

    Um cr que pode comer de tudo; j outro, cuja f fraca, come apenas

    alimentos vegetais.

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    Aquele que come de tudo no deve desprezar o que no come, e

    aquele que no come de tudo no deve condenar aquele que come,

    pois Deus o aceitou.

    Quem voc para julgar o servo alheio? para o seu senhor que eleest de p ou cai. E ficar de p, pois o Senhor capaz de o sustentar.

    H quem considere um dia mais sagrado que outro; h quem considere

    iguais todos os dias. Cada um deve estar plenamente convicto em sua

    prpria mente.

    Aquele que considera um dia como especial, para o Senhor assim o faz.

    Aquele que come carne, come para o Senhor, pois d graas a Deus; e

    aquele que se abstm, para o Senhor se abstm, e d graas a Deus.

    Pois nenhum de ns vive apenas para si, e nenhum de ns morreapenas para si.

    Se vivemos, vivemos para o Senhor; e, se morremos, morremos para o

    Senhor. Assim, quer vivamos, quer morramos, pertencemos ao Senhor.

    Por esta razo Cristo morreu e voltou a viver, para ser Senhor de vivos

    e de mortos.

    Portanto, voc, por que julga seu irmo? E por que despreza seu

    irmo? Pois todos compareceremos diante do tribunal de Deus.

    Porque est escrito: " Por mim mesmo jurei, diz o Senhor, diante demim todo joelho se dobrar e toda lngua confessar que sou Deus ".

    Assim, cada um de ns prestar contas de si mesmo a Deus.

    Portanto, deixemos de julgar uns aos outros. Em vez disso, faamos o

    propsito de no colocar pedra de tropeo ou obstculo no caminho do

    irmo.

    Como algum que est no Senhor Jesus, tenho plena convico de que

    nenhum alimento por si mesmo impuro, a no ser para quem assim o

    considere; para ele impuro.

    Se o seu irmo se entristece devido ao que voc come, voc j no

    est agindo por amor. Por causa da sua comida, no destrua seu irmo,

    por quem Cristo morreu.

    Aquilo que bom para vocs no se torne objeto de maledicncia.

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    Pois o Reino de Deus no comida nem bebida, mas justia, paz e

    alegria no Esprito Santo;

    aquele que assim serve a Cristo agradvel a Deus e aprovado pelos

    homens.Por isso, esforcemo-nos em promover tudo quanto conduz paz e

    edificao mtua.

    No destrua a obra de Deus por causa da comida. Todo alimento

    puro, mas errado comer qualquer coisa que faa os outros

    tropearem.

    melhor no comer carne nem beber vinho, nem fazer qualquer outra

    coisa que leve seu irmo a cair.

    Assim, seja qual for o seu modo de crer a respeito destas coisas, queisso permanea entre voc e Deus. Feliz o homem que no se

    condena naquilo que aprova.

    Mas aquele que tem dvida condenado se comer, porque no comecom f; e tudo o que no provm da f pecado. (BBLIA, 2000,Romanos 14: 129).

    Paulo est dizendo aos romanos que no devemos fazer diferena entre

    dias, comidas, etc. Contextualizando este texto para nossos dias, vemos um Paulo

    que est dizendo no as diferenas culturais, que est nos ensinando a amar o

    outro sem pr-conceitos estabelecidos ou vises estreitas sobre o pensamento em

    cada cultura.

    Pedro e Paulo nos deixam claro por meio de suas experincias que para

    Deus no h brasileiro ou argentino, italiano ou francs. Mas h um s Deus que

    ama a todos os povos e que no existe cultura, comida, forma de adorar melhor

    do que a outra.

    SIANI (2007) afirma que existe uma enormidade de Ministrios Hispanos

    espalhados pelos bairros onde os bolivianos moram e que em sua maioria so

    pertencentes a Igreja Assemblias de Deus

    Ministrios batistas existem poucos, mas no dia 24 de Outubro de 2010 foi

    criada a Primeira Iglesia Hispana Bautista en So Paulo situada na Rua Carlos de

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    Campos, 605 no bairro do Pari, esta era uma congregao da Igreja Batista da

    Liberdade que se tornou a nica igreja independente batista do Brasil.

    As igrejas que mais tem de destacado na luta contra o preconceito racial e

    ultrapassado as barreiras culturais para a pregao do evangelho ao povo hispanoso: Primeira Iglesia Hispano Bautista en So Paulo; Assemblia de Deus do Bom

    Retiro situada na Rua Afonso Pena, 560; Igreja Batista Unida do Brs situada na

    Rua Waldemar Dria, 41 e outros endereos no to conhecidos, mas que esto

    fazendo diferena no meio dos bolivianos.

    O grande desafio para os ministrios hispanos dependentes das igrejas

    brasileiras criar uma viso mais ampla ministerial para os brasileiros, fazendo-os

    entender que os ministrios hispanos no devem ficar com o resto, mas devem

    ser tambm considerados parte da igreja.

    Visivelmente fcil perceber um culto hispano por sua alegria e quase

    sempre pela falta de infra-estrutra oferecida pelas igrejas mes.

    .

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    CONSIDERAES FINAIS

    Aps fazer este trabalho tenho cada vez mais a certeza de que a igreja e amisso do Ide de Jesus no deve estar parada no tempo, sem a utilizao de

    ferramentas importantes para o alcance de vidas para a Glria de Nosso Senhor e

    Salvador Jesus Cristo.

    Creio que como salvos e redimidos pelo sangue de Jesus, devemos nos

    aperfeioar na pregao, para isso usando formas novas e criativas de exposio

    da Palavra de Deus e do plano de salvao. Temos de parar de usar estilos e

    formas antiquadas da pregao que no surtem mais efeito em nossos dias.

    A primeira coisa que devemos fazer utilizar das ferramentas

    antropolgicas, para entender de maneira coerente a mente, corao e tica do

    povo a quem queremos alcanar. Temos de estar firmes na Palavra e fazer uma

    contextualizao coerente e correta.

    Os bolivianos em So Paulo no necessitam de mais igrejas, onde

    imponham cultura e forma brasileira de fazer as coisas, o que eles necessitam

    de amor e respeito por sua identidade cultural, forma de pensar e agir.

    A grande barreira observada dentro das igrejas e ministrios hispanos no

    Brasil que visitei que o Evangelho acaba se fechando dentro de uma sub-cultura

    crist brasileira e sendo muitas vezes mais arraigada em uma cultura da igreja

    local, onde a forma e o jeito de se expressar e adorar das pessoas seno for

    segunda esta cultura errada ou est abaixo de pecado.

    Se no mudarmos nossa cosmoviso crist, estaremos fadados ao

    fracasso de uma evangelizao no eficaz e de um julgamento cristo no bblico,

    pois estaremos colocando nossos olhos em nossa cultura e no na bblia.A Bblia supra cultural e nos esclarece muitas coisas quando ela vista

    como verdade e regra de f e prtica. Entendo que existem textos que contm

    princpios bblicos inegociveis e alguns que contm princpios culturais que

    podem ser negociveis.

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    Creio que o importante no est na forma, mas no como, porque e com

    qual inteno est sendo tomada tal atitude. Se quisermos alcanar os bolivianos

    em So Paulo, s conseguiremos com f, persistncia, orao e respeito cultura

    deles.

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    ANEXO

    Data: / /

    Nome: Idade

    Nacionalidade Situao civil:

    1 H Quanto tempo mora no Brasil?

    2 Qual foi o motivo que lhe trouxe ao Brasil?

    3 Quais so as facilidades culturais encontradas no Brasil?

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    4 Quais so as dificuldades culturais enfrentadas no Brasil?

    5 Qual sua viso sobre o cristianismo?

    6 Quem Deus para voc?

    .

    7 Frequenta alguma igreja evanglica?

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    8 Em sua opinio quais tem sido os erros da igreja brasileira na abordagem ao

    povo hispano?