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1 Evolução das Práticas Organizacionais: Um Estudo das Gestão Ambiental e Inovação Sustentável numa Indústria Petroquímica de Triunfo, RS Autoria: Vitor Fabian Brock, Ubiratan Gomes de Carvalho Sá RESUMO A Sustentabilidade entrou na agenda das empresas a partir do entendimento da importância deste tema para a sobrevivência dos negócios. Inicialmente caracterizada como um tripé composto de dimensões econômica, ambiental e social (Elkington 1998; Sachs 2002, 2007; Savitz 2007), a sustentabilidade ganhou complexidade e seu caráter transversal modificou a dinâmica de alguns negócios, especialmente aqueles percebidos pela sociedade como de significativo impacto ambiental e econômico. A indústria petroquímica encaixa-se nesta descrição (Barnett & King, 2008). No estado do Rio Grande do Sul, a presença do complexo petroquímico em Triunfo indica um caso de interesse na modificação de práticas organizacionais motivadas pela importância dada à sustentabilidade. Este artigo, por meio de estudo de caso, de corte transversal, feito com entrevista em profundidade, semi-estruturada com o principal executivo no Brasil de uma das empresas do complexo, análise qualitativa dos dados obtidos e avaliação de documentos, explora a evolução e desenvolvimento das práticas de gestão ambiental e da inovação tecnológica relacionada à sustentabilidade numa subsidiária de empresa petroquímica multinacional instalada no complexo petroquímico de Triunfo. Após uma breve introdução conceitual, o trabalho foi dividido em três seções principais: revisão teórica, pesquisa de campo e considerações finais. Pela amplitude do estudo foi escolhido o corte analítico da gestão ambiental e inovação tecnológica por entender a proximidade e dinâmica destes temas com a sustentabilidade. Encontrou-se fortes indícios de aplicabilidade das teorias estudadas ao caso verificando. Existe pressões externas exercidas pelos acionistas, governo, clientes e comunidade, entre outros que influenciam a gestão ambiental da empresa no sentido de cobrar um desempenho alinhado a expectativa da Responsabilidade Social Corporativa (Elkington 1998; Sachs 2002, 2007; Murillo-Luna et al. 2008; Henriques & Sadorsky, 1999). Estas pressões levam o grupo de gestores a estipular objetivos anuais cujas linhas de orientação gerais estão fundamentadas em elementos de inovação tecnológica relacionada à sustentabilidade na indústria petroquímica (Bessant & Tidd, 2009), e por fim, os projetos, a priorização de investimento, o relacionamento com fornecedores e clientes, o desenvolvimento de parcerias e as relações interdepartamentais são algumas das implicações gerenciais no processo de inovação tecnológica, que influenciam o Sistema de Gestão Ambiental e da Produção. Apenas da unicidade do caso, pode-se verificar na literatura, que tais práticas encontradas na empresa em questão é um reflexo mais amplo do setor e, desta forma, este estudo se torna relevante para entender a complexidade dos temas aqui abordados, assim como elucidar os gestores acerca da importância da questão ambientais para a sustentabilidade do negócio em longo prazo.

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Evolução das Práticas Organizacionais: Um Estudo das Gestão Ambiental e Inovação Sustentável numa Indústria Petroquímica de Triunfo, RS

Autoria: Vitor Fabian Brock, Ubiratan Gomes de Carvalho Sá

RESUMO

A Sustentabilidade entrou na agenda das empresas a partir do entendimento da importância deste tema para a sobrevivência dos negócios. Inicialmente caracterizada como um tripé composto de dimensões econômica, ambiental e social (Elkington 1998; Sachs 2002, 2007; Savitz 2007), a sustentabilidade ganhou complexidade e seu caráter transversal modificou a dinâmica de alguns negócios, especialmente aqueles percebidos pela sociedade como de significativo impacto ambiental e econômico. A indústria petroquímica encaixa-se nesta descrição (Barnett & King, 2008). No estado do Rio Grande do Sul, a presença do complexo petroquímico em Triunfo indica um caso de interesse na modificação de práticas organizacionais motivadas pela importância dada à sustentabilidade. Este artigo, por meio de estudo de caso, de corte transversal, feito com entrevista em profundidade, semi-estruturada com o principal executivo no Brasil de uma das empresas do complexo, análise qualitativa dos dados obtidos e avaliação de documentos, explora a evolução e desenvolvimento das práticas de gestão ambiental e da inovação tecnológica relacionada à sustentabilidade numa subsidiária de empresa petroquímica multinacional instalada no complexo petroquímico de Triunfo. Após uma breve introdução conceitual, o trabalho foi dividido em três seções principais: revisão teórica, pesquisa de campo e considerações finais. Pela amplitude do estudo foi escolhido o corte analítico da gestão ambiental e inovação tecnológica por entender a proximidade e dinâmica destes temas com a sustentabilidade. Encontrou-se fortes indícios de aplicabilidade das teorias estudadas ao caso verificando. Existe pressões externas exercidas pelos acionistas, governo, clientes e comunidade, entre outros que influenciam a gestão ambiental da empresa no sentido de cobrar um desempenho alinhado a expectativa da Responsabilidade Social Corporativa (Elkington 1998; Sachs 2002, 2007; Murillo-Luna et al. 2008; Henriques & Sadorsky, 1999). Estas pressões levam o grupo de gestores a estipular objetivos anuais cujas linhas de orientação gerais estão fundamentadas em elementos de inovação tecnológica relacionada à sustentabilidade na indústria petroquímica (Bessant & Tidd, 2009), e por fim, os projetos, a priorização de investimento, o relacionamento com fornecedores e clientes, o desenvolvimento de parcerias e as relações interdepartamentais são algumas das implicações gerenciais no processo de inovação tecnológica, que influenciam o Sistema de Gestão Ambiental e da Produção. Apenas da unicidade do caso, pode-se verificar na literatura, que tais práticas encontradas na empresa em questão é um reflexo mais amplo do setor e, desta forma, este estudo se torna relevante para entender a complexidade dos temas aqui abordados, assim como elucidar os gestores acerca da importância da questão ambientais para a sustentabilidade do negócio em longo prazo.

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1 INTRODUÇÃO

A indústria petroquímica é um dos setores mais importantes da economia mundial. No Brasil este setor representa 2,6% do PIB (ABIQUIM, 2009), desempenhando um papel de destaque no desenvolvimento de diversas atividades econômicas pelo uso intensivo de capital e conhecimento. Embora a indústria petroquímica participe de quase todas as cadeias e complexos industriais, sua cadeia produtiva (de primeira e segunda geração) concentra-se em um número reduzido de empresas pela intensidade de capital e melhor eficiência operacional.

A primeira geração da indústria petroquímica é caracterizada pela utilização significativa de matéria-prima de origem fóssil (derivados do petróleo), para produção de eteno, propeno, butadieno e benzeno. Estes, por sua vez, são insumos básicos da indústria de segunda geração que irão gerar resinas termoplásticas como polietileno, polipropileno, poliestireno, PVC, EVA, entre outros polímeros destinados ao consumo em milhares de empresas de terceira geração que produzem artefatos plásticos para os mais diversos segmentos. Faz-se importante destacar que a integração vertical ocorre nas empresas de primeira e segunda geração por diversos fatores, como: escala de produção, integração, disponibilidade de matéria-prima, tecnologia, facilidade de acesso a capital e ao mercado consumidor (Gomes et al., 2005)

Com isto, a indústria petroquímica por ser caracterizada pela integração vertical e por utilizar utilizar matéria-prima não-renovável que representa um nível de emissão superior de dióxido de carbono, além de outros impactos ambientais relacionados ao processo produtivo. Entende-se então, que existem fortes pressões dos stakeholders quanto a questões de impacto ambiental (Murillo-Luna et al., 2008), assim como iniciativas sustentáveis por parte das empresas, visto que incidentes podem denegrir sua reputação e causar perdas financeiras e de mercado (Sarkis et al. 1995; Fineman & Clarke 1996; Seuring 2004).

Além do entendimento acerca das pressões externas e práticas quanto à gestão ambiental, faz-se importante explorar as oportunidades de inovações relacionadas ao desenvolvimento de produtos e processos com minimização do impacto ambiental. De fato, o tema de sustentabilidade e eco-efficiency têm estimulado o desenvolvimento de novos produtos e processos em todas as industrias (Mohanty, Misra & Drzal, 2002), assim como expandindo acerca da vantagem competitiva que se pode obter, através da eficiência de custo, prevenção de acidentes, redução de poluentes e até mesmo pela diferenciação ao desenvolver produtos inovadores (Porter & Kraemer 2006).

Através desta contextualização, o objetivo geral deste estudo consiste na seguinte pergunta: Como evoluíram e se desenvolvem as práticas organizacionais acerca da gestão ambiental e da inovação tecnológica relacionada à sustentabilidade numa subsidiária de empresa petroquímica multinacional instalada no complexo petroquímico de Triunfo?

Para tanto, buscou-se os seguinte objetivos específicos: a) identificar as pressões externas que influenciam a gestão ambiental da empresa; b) desenvolver os principais elementos acerca da inovação tecnológica relacionada à sustentabilidade na indústria petroquímica e na empresa em questão; e por fim, c) explorar as implicações gerenciais no processo de inovação sustentável.

A justificativa geral deste trabalho está relacionada a importância que a indústria petroquímica, por ser intensiva conhecimento e capital possui no desenvolvimento da economia nacional e regional, assim como as questões de alternativas sustentáveis para o segmento. Este estudo também justifica-se por fornecer subsídios teóricos para futuros estudos com foco em inovação sustentável.

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2 REVISÃO TEÓRICA

Para atender o objetivo proposto neste estudo, buscou-se na literatura uma revisão das definições de Responsabilidade Social Corporativa, para compreender o impacto das pressões institucionais que sofre a indústria petroquímica, Sistema de Produção e Gestão Ambiental, de forma a estabelecer a ligação entre os tais conceitos. Posteriormente, explora-se os conceitos de Inovação e Gestão Ambiental, para compreender como tais temas estão conectados na literatura e, por fim, será abordado o conceito de Inovação Sustentável.

2.1 Responsabilidade Social Corporativa

Antes de abordar os conceitos chaves de sustentabilidade e gestão ambiental, faz-se necessário desenvolver a ideia de Responsabilidade Social Corporativa. No meio empresarial o conceito de crescimento e desenvolvimento sempre esteve intimamente ligado a fatores econômicos e de capitais, como intensificação de investimentos, expansão da infraestrutura, aquisição de novas máquinas e equipamentos, etc. Embora este processo de crescimento industrial seja inevitável, a grande prerrogativa está no consumo de recursos naturais, muitas vezes não-renováveis, e na geração poluentes em quantidades superiores as quais o ecossistema consegue absorver.

Através destes argumentos, onde o crescimento industrial consome recursos importantes, surge uma reflexão da responsabilidade das corporações quanto às questões socioambientais, visto que as grandes empresas exercem um impacto significativo na vida das pessoas e, por isto, os executivos devem considerar questões de bem estar social em suas políticas (Bowen, 1953; McGuire, 1963). De fato, antes mesmo da crises do petróleo no durante década de 1970, surge a preocupação com a escassez dos recursos naturais e o entendimento de que haveria um limite para o crescimento industrial (Meadows et al., 1972). As crises energéticas que sucederam levaram diversas empresa a repensar suas práticas, criando assim novos conceitos entre gestão e meio ambiente (Kraemer, 2005).

Neste contexto, surge o conceito de desenvolvimento sustentável, abordado no Relatório de Brundtland, também conhecido como “Nosso Futuro Comum” (CMMAD, 1991), onde define-se sustentabilidade como as práticas as quais atendem as necessidade das gerações atuais sem comprometer as gerações futuras (Sachs, 2002). Assim, alinhado com a visão de que as empresas devem perseguir objetivos socioeconômicos que contemplem o bem-estar social (Bowen, 1953; McGuire, 1963) e que os gestores devem desenvolver projetos sociais para agregar valor aos negócios, maximizando os lucros no longo prazo (Johnson 1971), surge o conceito das práticas responsabilidade socioambiental, dividida por Carroll (1979) em quatro pilares: econômico, legal, ético e discricionário, sendo o último aspecto relativo às ações vão além do caráter compulsório.

Observando a evolução dos conceitos de sustentabilidade e responsabilidade, Elkington (1998) consolida tais práticas dentro de uma visão estratégica afirmando que, para uma empresa ser sustentável e maximização do lucro em longo prazo, devem considerar as seguintes dimensões: a) econômica – através do aperfeiçoamento de sistemas produtivos, da cadeia de valor, incremento de escala, valorização patrimonial, etc., b) social – com a capacitação técnica e gerencial, geração de novas oportunidade de trabalho, incremento na renda, inclusão social entre

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outras práticas socais, e c) ambiental – com práticas de preservação e recuperação do meio ambiente, aproveitamento de resíduos e efluentes, etc. (Elkington 1998; Sachs 2002, 2007).

Trata-se então do conceito de triple bottom line, também conhecido como tripé da sustentabilidade ou 3P - people, planet, profit. De acordo com Savitz (2007), empresa sustentável é aquela que consegue simultaneamente gerar lucro para os acionistas, proteger o meio ambiente e melhorar a vida das pessoas com quem mantém interações, sendo que suas atividades promovem a intersecção entre os interesses do negócio, meio ambiente e sociedade. Neste sentido, os conceitos supracitados devem estar incorporados aos princípios e valores das organizações para que estas práticas garantam a competitividade da organização (Kraemer, 2005).

Uma vez compreendido as questões de responsabilidade social e sustentabilidade empresarial faz-se necessário entendermos o desdobramento destas práticas nas dimensões da empresa. Dado o foco da pesquisa apoiar-se na questão ambiental, faz-se necessário a compreensão do impacto gestão ambiental no sistema produtivo, que será desenvolvido a seguir.

2.2 O Sistema de Produção e a Gestão Ambiental

O sistema de produção consiste na maneira pela qual uma empresa organiza seus recursos e realiza suas operações de produção para gerar um produto ou serviço (Brown, 1996). Visto que as operações são a base produtiva de todas as organizações, o sistema de produção é único para cada empresa, pois está intimamente ligado a estratégia corporativa e suas competências. Considerando tais conceitos, a manufatura estratégica pode ser delineada nas dimensões de custo, qualidade, confiabilidade, flexibilidade e inovação (Skinner, 1969, Wheelwright, 1984; Paiva et al., 2009).

Entretanto, a área de operações é particularmente sensível a questões externas a organização, visto que as empresa sofre constante pressão para reestruturar suas operações de forma enxuta e flexível e se adaptarem às exigências mercadológicas e para manterem-se competitivas. Entretanto, além das forças de mercado existem outras forças que moldam as operações globais, tais como forças de custos, tecnológicas, políticas e macroeconômicas (Dornier et al. 2000 p. 141; Porter 1986). As empresas não podem negligenciar a responsabilidade social e sustentabilidade em suas operações, visto que ao repudiar tais práticas podem representam uma exclusão competitiva (Porter & Kraemer, 2006).

Historicamente, as questões acerca da gestão ambiental na área de operações são vistas como um agregado de custos, dado que muitas organizações tiveram de investir em controle e tratamento de efluente, resíduos sólidos e até mesmo deixar de utilizar determinadas matérias-primas, como amianto, em lugar à outras matérias-primas até mais onerosas. Entretanto, aos poucos, os gastos com a questão ambiental começaram a ser vistos pelas empresas como um investimento de benefícios superiores (Kraemer, 2005). O mesmo ocorre dentro da visão da cadeia de valor, Porter e Kraemer (2006) afirmam que ao adotar práticas sustentáveis nas atividades de operações é viável pois, pode-se reduzir o consumo energético, resíduos sólidos, ter melhor aproveitamento de matéria-prima, redução de embalagem, entre outros fatores.

Embora, os conceitos supracitados sejam uma abordagem de vanguarda em operações, as empresas líderes que utilizam os conceitos de produção enxuta já aplicam tais práticas através da eliminação sistemática de tudo que não agrega valor às atividades produtivas. Atualmente, as melhorias nas questões ambientais como a poluição de afluente (cursos d’água), emissões de

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gases e desperdício de matéria-prima estão fortemente associadas com os tipos de desperdícios de manufatura, o que faz com que mudanças nos processos produtivos sejam necessárias para a adequação às questões ambientais.

Neste contexto as práticas ambientais nas operações já são aplicadas parcialmente através dos conceitos de produção enxuta, mas é através da gestão ambiental integrada às operações, que se torna possível orientar práticas ambientais sistêmicas com a identificação, avaliação, monitoramento, controle e redução dos impactos ambientais (Epelbaum, 2004). Dentro desta visão, Salgado (2004) afirma que a gestão ambiental deve buscar alternativas eficientes e ecológicas ao invés de adotar uma postura regulatória nas operações. Desta forma, tem-se o conceito de eco-eficiência, definido pelo World Business Council for Sustainable Development (apud Salgado, 2004) como o fornecimento de bens ou serviços a preços competitivos, que satisfaçam a necessidade dos consumidores e ao mesmo tempo, proporcionem qualidade de vida e reduzam o impacto ambiental, bem como o consumo de recursos.

Segundo os autores (Salgado, 2004; Epelbaum, 2004), a aplicação de práticas eco-eficientes deve contemplar a) Redução do consumo de recursos naturais, tais como energia, materiais, água e solo; b) Redução no impacto na natureza, a qual se entende pela diminuição na poluição do ar e da água; e c) aumento da produtividade ou no valor agregado do produto/serviço, o que pode ser feito através da modificação dos mesmos com vista a atender as necessidades dos clientes com menor utilização de recursos. Tais ações buscam a economia de recursos e redução de custos operacionais, a valorização de subprodutos através da cooperação entre as empresas, maior rentabilidade e participação em mercados mais sustentáveis causadas pelos produtos ambientalmente renovados (Esgolmin & Souza, 2009).

Outra contribuição sobre as práticas eco-eficientes provem dos autores Esgolmin e Souza (2009), também indicada pelo o Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS, 2009), onde a prática de desdobra em três categorias: a) Processos mais limpos, b) Produtos mais limpos, e c) Uso de recursos sustentáveis. O quadro abaixo mostra os principais pontos e limitações de cada categoria.

Quadro I. Comparativo entre Pontos Positivos e Limitações de cada Categoria de Prática Eco-Eficientes.

Categoria Pontos Positivos Limitações

Processos mais Limpos

Fácil implantação, e promove a utilização mais eficiente dos recursos

Atua na adaptação de processos já existentes, não aprofunda as mudanças, realiza melhorias

incrementais Produtos mais

Limpos Alteração do projeto, com a utilização da

análise de ciclo de vida. Necessita mudança no processo produtivo e na

escolha da matéria-prima.

Uso de recursos Sustentáveis

Atuação de forma abrangente, saindo dos limites da empresa, preocupando-se com o

desenvolvimento de fornecedores e conscientização dos consumidores.

Dificuldade para implantação, pois necessita de um grande comprometimento dos públicos

internos e externos da empresa.

Fonte: Esgolmin e Souza, 2009

Observa-se que ao longo do tempo, a questão ambiental evoluiu de uma visão de onerosa de custos, para uma visão mais ampla e estratégica. Dentro de uma lógica clássica, os investimentos em gestão ambiental podem ser considerados dentro da dimensão de qualidade e inovação, fazendo um trade-off com a dimensão de custos (Skinner, 1969; Wheelwright, 1984). Entretanto, ao alinhar os conceitos de produção enxuta, a questão ambiental adquire uma

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importância para eliminar desperdícios e tornar as operações mais eficientes e competitivas (Kraemer, 2002). Desta forma, o conceito de eco-eficiência (Salgado, 2009; Esgolmin & Souza, 2009), possui uma visão mais ampla e competitiva, independente da estratégia de produção adotada, as práticas eco-eficientes devem ser difundidas em todos os níveis da organização (Porter & Kraemer, 2006).

Visto que os conceitos de supracitados impactam diretamente nos processos industriais e na produção de um produto em questão, faz-se necessário abordar os conceitos de inovação em um âmbito da gestão ambiental, conforme será desenvolvido a seguir.

2.3 A Inovação e a Gestão Ambiental

Independentemente do que venha a motivar a gestão ambiental nas organizações, observa-se que é uma tendência inexorável que vem redesenhado a organização em todos os seus níveis e processos, assim como os seus produtos. Dentro desta lógica, pode-se afirmar que a organização precisa constantemente inovar para atender as questões ambientais, visto que segundo Schumpeter (1934), a inovação trata-se de uma função social, de esfera econômica, com uma proposta comercial. Em outras palavras, qualquer inovação deve apresentar retorno financeiro.

Sobre uma ótica tecnológica, o Manual de Oslo (2009), define a inovação tecnológica como a implementação de produtos (bens ou serviços) ou processos tecnologicamente novos ou substancialmente apropriados. A implementação da inovação ocorre quando um novo produto é introduzido no mercado ou quando um novo processo passa a ser operado pela empresa. Para caracterizar uma empresa como inovadora, a organização deve obter êxito com produtos ou processos tecnologicamente novos ou aprimorados, ou combinações de produtos e processos, durante o período de mensuração (Manual de Oslo, 2009).

Tidd et al. (2008) afirma que a inovação é imprescindível, uma vez que pode renovar os serviços ou produtos que a empresa oferece ou, então renovar a forma com que os produtos são produzidos e os serviços executados. Christensen (2001) afirma que a capacidade de mudança de uma empresa, bem como o tipo de inovação que pode enfrentar, tem a ver com três fatores: a) seus recursos, b) seus processos e c) seus valores. O autor defende, ainda, que a avaliação dos recursos não é o bastante para se iniciar um processo inovador, é necessário, também, analisar os processos, ou seja, os padrões de interação, coordenação e tomada de decisão que os envolvidos utilizem para transformar os recursos em produtos e serviços em valor.

Todavia, um processo de inovação vai muito além da colocação de novo produto ou implementação de um novo processo, pois, conforme Schumpeter (1934), a inovação está intimamente ligada ao desenvolvimento econômico país. Por isto, faz-se importante a identificação das trajetória de inovação, que Pavitt (1984) identificou coincidências nos padrões das trajetórias de inovação tecnológicas por setores, baseado em três grupos de variáveis: a) as fontes de tecnologias (P&D próprio ou contratado, usuários); b) as necessidades dos usuários (preço desempenho e confiabilidade); e c) os mecanismos de apropriação dos lucros derivados do sucesso inovativo (segredo industrial, patentes).

Inicialmente Pavitt (1984) definiu quatro categorias de empresas: a) supplier dominated (dominados pelos fornecedores) - setores de consumo não-duráveis, indústria têxtil, agricultura e construção civil, geralmente orientados a inovação de processo; b) production intensive and scale intensive (intensivos em produção e intensivos em escala) – nos setores instrumentação e

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ferramentas especiais, orientados para inovação de produto; c) production intensive and specialized suppliers (intensivos em produção e fornecedores especializados) – nos setores de bem duráveis de consumo, aço e automóveis – orientados para inovação de processo; e, por fim, d) science based (baseados em ciência) – nos setores eletrônicos, produtos químicos e biotecnologia através da inovação de produto e processo. Sendo que o último setor, a autora afirma ter um impacto substancial na economia e na sociedade pela grande concentração em poucas indústrias e grande barreira de entrada para pequenas empresas inovadoras.

Com a fundamentação elaborada acima, pode-se concluir que o processo de inovação é inexorável para o crescimento econômico (Schumpeter, 1934). Entretanto, esta questão é mais significativa em determinados setores, como o setor químico, pelos seus recursos, processos e valores (Christensen, 2001). De fato, tal setor, por ser intensivo em capital e a ser base da matriz energética de muitas industrias, a inovação deve, continuamente renovar os produtos e processos (Tidd et al. 2008) atendendo as demandas externas. Visto a crescente preocupação social por questões ambientais, tais industrias devem responder a esta questão com produtos e processos sustentáveis, fator que leva ao próximo tópico.

2.4 Inovação Sustentável

De acordo com a literatura revisada até então sustentabilidade é definida como as práticas que atendem as necessidades das gerações atuais sem comprometer as gerações futuras (Sachs, 2002) ao passo que inovação é considerada uma novidade (novo produto ou novo processo) com função social e com objetivo econômico e comercial (Schumpeter, 1934). Neste sentido, a inovação sustentável trata-se da junção de dois conceitos, que leva a entender em novos processos e produtos com proposta de minimizar ou eliminar os impactos socioambientais dos mesmos (Salgado, 2004).

De acordo com Larson (2000) a inovação sustentável é uma força emergente e fundamental para as mudanças nos negócios e nas sociedades. Trata-se de uma oportunidade potencial para promover a transformação tecnológica de produtos e de mercados, além de distinguir-se como uma área de oportunidade para empreendedores e de atuar como uma força de destruição criativa (Schumpeter 1934). Neste sentido, Barbieri (2007) defende que uma organização inovadora sustentável é aquela que atua no sentido de alcançar o desenvolvimento social, tecnologicamente prudente e economicamente eficiente. Sendo assim, a preocupação com o meio ambiente está estreitamente relacionada com a inovação, devido seu impacto sobre o meio ambiente e a sociedade, já que elas determinam o que será produzido, como será produzido e como serão distribuídos os resultados do esforço coletivo. Os autores completam que as organizações inovadoras sustentáveis são aquelas que geram inovações desse tipo, de modo contínuo.

Entretanto, embora a literatura defenda que a inovação sustentável, deve objetivar principalmente à eficiência na produção, a minimização do consumo de recursos naturais não-renováveis, emissão de poluentes e produtos recicláveis; para obter um retorno financeiro superior ainda há restrições para diversas empresas introduzirem tais práticas (Donaire, 1994). Entre diversos motivos para isto, Straete (2004) juntamente com Elzen e Wieczorek (2005) afirmam que a inovação em sistemas industriais com forte interpendência de componentes é complexa, pois não pode ser facilmente separada de mudanças estruturais, econômicas, sociais e

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culturas profundas. Por este motivo, muitas empresas atuam de forma reativa a pressões externas na inovação de processos e produtos (Murillo-Luna et al., 2008).

Quanto as pressões externas acerca de medidas inovadoras no campo ambiental, Henriques e Sadorsky (1999) identificam quatro motivos que levam as empresas a adotar práticas ambientais: a) Pressões regulatórias – via governo, associações ou padrões de mercado, etc.; b) Pressões do stakeholders organizacionais – clientes, fornecedores, empregados, acionistas, etc.; c) Pressões da comunidade – associações, grupos, associações de proteção ambiental, etc.; e, por fim, c) Pressões da mídia – especialmente mídia em massa. Os autores também afirmam que as empresas podem ter as seguintes estratégias acerca destas pressões: a) estratégia reativa; b) estratégia defensiva; c) estratégia acomodativa; e d) estratégia proativa (Edelstein 2004).

De acordo com Murillo-Luna et al. (2008) a classificação de Henriques e Sadorsky (1999) é relevante por representar um contínuo nas ações da empresa. Entretanto, sobre uma ótica inovativa, apenas as ações proativas podem ser consideradas como uma inovação sustentável por apresentar algo novo à sociedade. Bessant e Tidd (2009) classificam as inovações acerca das questões ambientais em cinco categorias:

a) Produtos mais limpos com menor impacto ambiental ao longo do seu ciclo de vida;

b) Processos mais eficientes para reutilização ou reciclagem de produtos;

c) Tecnologias alternativas para reduzir emissões e fornecer energia renovável;

d) Novos serviços para substituir ou reduzir o consumo de produtos;

e) Inovações sistêmicas para acompanhar os processos e monitorar o impacto ambiental.

Através dos conceitos supracitados, pode-se afirmar que o processo de inovação para as dimensões da sustentabilidade impõe um novo conjunto de disciplinas e para atendê-lo é imprescindível repensar constantemente o modelo de negócio (Elzen e Wieczorek, 2005).

Por fim, através do entendimento dos enfoques teóricos, acerca dos conceitos supracitados, pode-se concluir que a inovação sustentável trata-se de produtos e processo novos com uma visão econômica e comercial (Schumpeter, 1934) levando em conta a preservação ambiental para as gerações futuras (Larson, 2000; Santos & Bezerra, 2009). Os motivos que levam as empresas a renovarem os produtos e processos são diversos, podendo ser proativos (Henriques e Sadorsky 1999) ou atenderem a pressões externas (Murillo-luna et al., 2008).

3 METODOLOGIA DE PESQUISA

Para atender os objetivos propostos neste estudo, foi realizada uma pesquisa de campo de caráter qualitativo, de corte transversal, através de uma entrevistas em profundidade em uma das empresas do polo petroquímico de Triunfo, RS. A metodologia escolhida foi estudo de caso único de uma empresa petroquímica através de entrevista semi-estruturada, com o principal executivo da empresa no Brasil, assim como análise de documentos secundários encontrados no site da matriz, site e documentação da ABIQUIM e outras entidades como SITEL e setores organizados da sociedade civil das cidades próximas ao pólo (Triunfo, Montenegro e Nova Santa Rita). Em geral, segundo Yin (2005), os estudos de caso representam a estratégia preferida quando se colocam questões do tipo “como” e “por que”, quando o pesquisador tem pouco

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controle sobre os eventos comportamentais efetivos e quando o foco se encontra em fenômenos contemporâneos inseridos no contexto da vida real.

O formato do instrimento foi semi-estruturado, com questões abertas, aplicadas de forma dialogada, para obter o máximo de informações e gravada, para posterior análise. As questões que fizeram parte do questionário foram obtidas por meio da revisão da literatura sobre Responsabilidade Social Corporativa, Sistemas de Produção e Gestão Ambiental, Inovação e Gestão Ambiental e por fim, Inovação Sustentável. Além das entrevistas, houve também contatos, a posteriori, por e-mail e por telefone, visando dirimir eventuais dúvidas.

Após a coleta de dados, os mesmos foram submetidos à analise e interpretação. Houve uma análise qualitativa dos dados obtidos através das entrevistas em profundidade, com o objetivo de entender as decisões quanto suas práticas organizacionais. Nesta etapa, os dados obtidos foram analisados de forma intuitiva, realizando cruzamento teórico. Yin (2005) sugere que os estudos de casos exploram os referenciais teóricos e conformando-os de forma crítica e imparcial com dados empíricos. Mesmo existindo limitações nos métodos da pesquisa, o estudo foi estruturado, para que as informações coletadas representassem confiabilidade e a análise do caso proposto possa ser apresentada em todos os aspectos.

4 PESQUISA DE CAMPO

A seguir serão apresentados os dados coletados e interpretados na pesquisa, relacionando com devido referencial teórico, atendendo o objetivo geral e específicos propostos.

4.1 Caracterização histórica do complexo petroquímico de Triunfo – RS

A indústria petroquímica teve sua origem na indústria do craqueamento de petróleo cujas bases se estabeleceram a partir de 1913 (Freeman & Soete, 1977). Uma economia de mercado crescente nos Estados Unidos e alguns países da Europa assim como a demanda de novos materiais a serem utilizados no esforço das duas guerras mundiais impulsionou a pesquisa e produção de produtos desta indústria no hemisfério norte ocidental. Descobertas científicas aliadas às necessidades da época geraram uma série de produtos como fibras sintéticas, plásticos de alto desempenho, detergentes, elastômeros, fertilizantes e outros.

Figura 1 : Cadeia de suprimento da indústria petroquímica brasileira no início dos anos 2000.

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Fonte: Sindicato de Indústrias de Resinas Sintéticas do Estado de São Paulo, 2000

No Brasil, a indústria de petróleo, incipiente na primeira metade do século XX, tomou impulso com a criação, pelo Estado, da Petrobrás em 1953. Neste período já existiam algumas refinarias em operação e a de Cubatão (estado de São Paulo) foi o núcleo para o primeiro pólo petroquímico. Entre 1958 e 1964 três indústrias iniciaram a produção de etileno, propeno e aromáticos. Mais tarde a primeira central de matérias-primas foi implantada em Mauá – Petroquímica União (PQU), que embora tenha sido constituída com capitais privados teve seu controle acionário entregue a Petroquisa (subsidiária da Petrobrás). O pólo petroquímico de São Paulo foi definitivamente implantado em 1972. A ele seguiram-se o da Bahia em Camaçari (1978) e do Rio Grande do Sul em Triunfo (1984). O modelo concebido no governo militar brasileiro (1964-1985) foi orientado por uma estratégia industrial desenvolvimentista para fortalecer o setor diversificando-o e substituindo importações na cadeia de suprimentos de outros segmentos de base tendo o controle acionário dividido em três partes iguais pela Petroquisa, um investidor nacional e um estrangeiro (normalmente detentor da tecnologia).

Após a consolidação dos três pólos e as dificuldades financeiras enfrentadas pelo Estado brasileiro no final dos anos 1980 o crescimento da indústria petroquímica arrefeceu e o projeto de um pólo no Rio de Janeiro teve sua implantação inviabilizada, tendo voltado recentemente às discussões sobre fornecimento de matérias primas petroquímicas. De acordo com estudos do BNDESPAR (Gomes et al., 2005) a abertura comercial brasileira iniciada nos anos 1990 somada à recessão interna na economia gerou uma crise na indústria petroquímica nacional. Juntamente com esta crise houve um processo radical de privatização que passou o setor ao controle privado em lotes pulverizados com o objetivo de desconcentrá-lo empresarialmente. Do ponto de vista da Petrobrás a saída do setor petroquímico significou uma movimentação contrária à verticalização de empresas petrolíferas mundiais como ExxonMobil, BP e Chevron Phillips. A partir de 2006 o governo brasileiro voltou a incentivar a consolidação do setor por entender a necessidade de competitividade e internacionalização. Em 2008, após uma reestruturação apoiada pelo BNDES, a indústria petroquímica nacional passou por um forte movimento de consolidação.

A Braskem e Petroquímica Ipiranga uniram ativos assim como outras indústrias sob o controle acionário da PQU e formaram dois grandes grupos nacionais: Braskem e Quattor. Em 2009 a Braskem continuou suas atividades de aquisição e incorporou a Petroquímica Triunfo em meio a anúncios de internacionalização (projetos no México e Venezuela). Em 2010, a Quattor foi adquirida pela Braskem numa negociação envolvendo a Petrobras que detém 46% do controle acionário da, neste momento, oitava maior petroquímica mundial em capacidade de produção.

O pólo petroquímico de Triunfo, desde sua implantação, passou por várias mudanças na estrutura acionária e organizacional das empresas. Em 1992 eram nove companhias todas com capital nacional e controle misto (Bignetti, 2006). Em 2010 são apenas cinco, sendo três de capital estrangeiro, todas de controle privado e, das duas nacionais, uma de presença majoritária em volume de produção e impacto financeiro (Braskem). Essas mudanças, por alterar o direcionamento estratégico, impactam o processo de inovação tecnológica e gestão ambiental das empresas.

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4.2 Pressões externas que influenciam a gestão ambiental da empresa

No setor químico e petroquímico, existe, desde 1988, o programa Responsible Care, criado pelo American Chemistry Council (ACC) como resposta aos problemas de imagem gerados pelo acidente de Bhopal (Barnett & King, 2008). Com o tempo, o programa se tornou uma ação global do setor químico e hoje é gerido internacionalmente pelo International Council of Chemical Associations (ICCA) e, em cada país, pela associação nacional de indústrias químicas. No Brasil, o programa se chama Atuação Responsável e é mantido pela Associação Brasileira da Indústria Química (ABIQUIM), no Canadá o Responsible Care é gerido pela Canada’s Chemical Producers Association e assim sucessivamente. Segundo o sítio de Internet do programa, o objetivo do Responsible Care é ajudar o setor químico “a operar de forma segura, rentável e com cuidado com as gerações futuras”, ou seja, de forma sustentável. King e Lenox (2000), entretanto, encontraram mais melhoras no desempenho ambiental de empresas não-participantes do Responsible Care do que nas empresas participantes, sugerindo que o programa, na verdade, serve apenas como uma defesa institucional do que uma fonte efetiva de melhoria contínua. Num estudo mais recente, Barnett e King (2008) identificaram que as empresas químicas participantes do Responsible Care tiveram menos acidentes após a criação do programa, que também serviu como “barreira” entre os participantes, evitando que um acidente num membro criasse problemas de imagem sistemático para o resto do setor. Enfim, tais associações de empresas, presentes nos mais diversos setores da economia, contribuem para a formulação de estratégias operacionais com distintos resultados na sustentabilidade das operações.

A unidade da empresa em foco neste estudo faz parte de uma multinacional de origem holandesa com ações negociadas nas bolsas de Amsterdã e Nova Iorque, sendo listada no Índice Dow Jones de Sustentabilidade na última. Uma das principais fontes de pressão externa é a legislação ambiental holandesa, reconhecida como uma das mais rigorosas do mundo e usada como referência para valores de tolerância a contaminantes solo e água subterrânea pela CETESB (Cap. VI do Manual de gerenciamento de áreas contaminadas), que por sua vez é utilizada por outras empresas estaduais de controle ambiental como a FEPAM (Diretriz técnica para licenciamento de área industrial degradada n. 001/2009). A expectativa dos acionistas pela valorização crescente dos ativos depende da percepção dos consumidores diretos e público em geral que a empresa conduz suas atividades de maneira ambientalmente responsável e é avaliada por um comitê da bolsa de Nova Iorque em questões objetivas de gestão ambiental publicadas anualmente no relatório “Triple P” que se refere à lucratividade econômica, responsabilidades ambiental e social, tripé da sustentabilidade. (Bowen, 1953; Elkington, 1998; Savitz, 2007).

Este documento reúne os dados de todas as unidades operacionais e atividades com algum tipo de impacto nestas áreas e é parte da avaliação do Índice Dow Jones de Sustentabilidade. A partir destes dois aspectos majoritários, requisitos de gestão global foram definidos e servem de base as diretrizes de cada unidade, cuja elaboração e responsabilidade por ter efeito prático no dia a dia são do principal executivo local. Um princípio comum aos requisitos é, no mínimo, o respeito à legislação ambiental local e sendo esta menos exigente que os padrões da companhia (baseados na legislação holandesa), estes últimos devem ser usados. A lógica deste princípio é de manter-se de maneira planejada e menos custosa, à frente do que pede a legislação local que, em algum momento do futuro, deve evoluir para padrões mais rigorosos.

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Conforme a literatura, os executivos do conselho de administração sabem que a imagem da empresa pode e será afetada caso alguma de suas subsidiárias provoque algum acidente com impacto ambiental, portanto tem o rigor no cumprimento dos requisitos uma alta prioridade. Além disso, tais acidentes podem ameaçar a licença de operação das unidades com impacto na lucratividade pela interrupção dos negócios e perda de clientes. (Sarkis et al., 1995; Fineman & Clarke, 1996; Seuring, 2004).

Em função destas pressões exercidas por diversos setores externos a empresa (governos, mercado financeiro, clientes, fornecedores e sociedade civil organizada) adota-se a filosofia de melhoria contínua expressa em planos operacionais anuais onde se destacam atividades de redução do impacto ambiental e desenvolvimento de inovação tecnológica relacionada à sustentabilidade, conforme identificado na literatura de Murillo-Luna et al. (2008). A unidade brasileira é signatária voluntária do programa de Atuação Responsável da ABIQUIM e membro atuante do Conselho Consultivo Comunitário do pólo petroquímico de Triunfo com contatos freqüentes com representantes da comunidade das cidades vizinhas.

4.3 Principais elementos acerca da inovação tecnológica relacionada à sustentabilidade na indústria petroquímica

De acordo com o principal executivo da unidade, anualmente são elaborados dois documentos com o (i) direcionamento tático das operações e de (ii) Segurança Industrial, Saúde Ocupacional e Meio Ambiente (SSMA). Ambos têm base na estratégia da unidade de negócios brasileira que por sua vez está vinculada a unidade global. Há uma ligação direta entre os dois planos nos aspectos relacionados à melhoria contínua com vistas à sustentabilidade.

Nos documentos disponibilizados pela gestão da empresa, verificamos que o direcionamento tático de operações está dividido em cinco partes: (1) licença operacional, (2) custos de produzir, (3) capacidade, (4) qualidade e (5) eficiência organizacional. De modo semelhante está estruturado o plano de SSMA, nas disciplinas indicadas pela sigla. O grupo de gestão responsável pela elaboração de ambos é multidisciplinar e busca, em cada iniciativa, identificar melhorias abrangentes com impacto em SSMA, aumento de produtividade e redução de custos.

Em função do pouco espaço deste estudo e confidencialidade dos dados, será destacado apenas os principais elementos que entende-se associar inovação tecnológica e sustentabilidade da empresa em questão:

a) Aumento de Eficiência Produtiva e Ambiental - Redução do uso de energia elétrica, energia térmica (calor), água, insumos e matéria-prima por unidade de produto fabricada. Neste caso o principal objetivo é reduzir o impacto ambiental pelo aumento da eficiência do processo produtivo. O foco está na inovação incremental do processo, redução de desperdício e substituição de equipamentos por outros mais eficientes. Tecnologia de controle de processo por uso de computadores e programas especiais são aplicações recentes que contribuem para melhorar o desempenho ambiental da produção.

b) Minimizar o Impacto Ambiental Local - Redução na geração de efluentes líquidos, resíduos sólidos e emissões gasosas (especialmente gases do efeito estufa) por unidade de produto fabricada. Aqui a modificação de etapas do processo, substituição de aditivos,

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modificação na forma (estado físico) de recebimento e armazenagem das matérias-primas para evitar operações no fornecedor e na unidade consumidora são as principais atividades. Há a necessidade de envolver os fornecedores e o departamento de tecnologia, pesquisa e desenvolvimento na busca de soluções economicamente viáveis e ambientalmente menos impactantes. Nesta área há iniciativas de inovação incremental, semi-radical e radical nos processos.

c) Filosofia 4R’s (Repensar, Reduzir, Reusar e Reciclar) - Re-uso de água e utilização de embalagem retornável tanto em insumos e matérias-primas como no produto acabado. A busca de utilização de água em mais de uma etapa do processo produtivo pela análise das características de saída em um ponto e especificação mínima de entrada em outros, conectando-os de maneira a ter mais de um uso para a mesma quantidade de água ao invés de usar ao mesmo tempo em dois lugares. A utilização de embalagem retornável para insumos, matéria-prima e produto acabado reduz o consumo de material para este fim tanto em fornecedores quanto na unidade produtiva, elimina a necessidade de descontaminação para uso em outro fim, como é o caso de tambores metálicos, e reduz a geração de resíduos sólidos, muitas vezes descartados em aterro sanitário. Apesar de estas medidas terem um investimento inicial que, a princípio, pode parecer proibitivo, buscamos investigar os ganhos do ciclo e o tempo mínimo de retorno para torná-lo atraente economicamente.

d) Minimizar o Impacto Ambiental Global - Utilização de matéria-prima renovável em substituição de matéria-prima de origem fóssil. Há um grande projeto em curso em colaboração com outras empresas que detêm a tecnologia de produzir matéria-prima ou insumos a partir de fontes renováveis, busca de clientes com mesmo alinhamento estratégico ambiental e desenvolvimento de engenharia de processo para produzir produtos “verdes” com mesma eficiência técnica que os de origem fóssil. Assim este elemento reúne inovação incremental em processo e radical em produto, podendo não apenas estender a utilização de fontes não renováveis como incentivar outros ciclos econômicos, cadeias produtivas e a fixação de gás carbônico, reduzindo a contribuição ao efeito estufa.

e) Extensão de Práticas Sustentáveis aos Fornecedores - Certificação dos fornecedores em boas práticas ambientais e de sustentabilidade como garantir a origem de madeira utilizada em embalagem a partir árvores cultivadas com técnicas ambientalmente responsáveis de manejo florestal.

f) Ciclo Limpo de Produção - Identificação de uso de resíduos sólidos como matéria-prima para outros processos industriais na busca do ciclo fechado. Desta maneira pode-se reduzir o impacto ambiental em duas frentes: eliminar necessidade de disposição em aterros industriais ou similares e reduzir o impacto de obter matéria-prima para algum processo.

Através de pontos estratégicos supracitados pelo diretor da empresa, verifica-se grande consistência das práticas organizacionais com a literatura revisada. Observa-se que, para o setor petroquímico, existem características únicas, dados sua grande verticalização e grande pressão externa acerca de questões ambientais. Desta forma, tratando-se de uma empresa multinacional, entende-se que estes fatores também estão presentes em outras subsidiárias e até mesmo em outras empresas do ramo petroquímico.

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Iniciou-se este estudo com a seguinte questão: Como evoluíram e se desenvolvem as práticas de gestão ambiental e da inovação tecnológica relacionada à sustentabilidade numa subsidiária de empresa petroquímica multinacional instalada no complexo petroquímico de Triunfo? Foi escolhido a técnica de estudo de caso para abordar o problema em função de entendermos como sendo a mais apropriada e pela facilidade de acesso às informações. Encontrou-se fortes indícios de aplicabilidade das teorias estudadas (Elkington 1998; Sachs 2002, 2007; Savitz 2007; Porter & Kraemer, 2006; Salgado, 2004; Epelbaum, 2004), ao caso em questão verificando que há pressões externas exercidas pelos acionistas, governo, clientes e comunidade, entre outros que influenciam a gestão ambiental da empresa no sentido de cobrar um desempenho alinhado a expectativa da Responsabilidade Social Corporativa (Elkington 1998; Sachs 2002, 2007; Murillo-Luna et al. 2008; Henriques & Sadorsky, 1999). Estas pressões levam o grupo de gestores a estipular objetivos anuais cujas linhas de orientação gerais estão fundamentadas em elementos de inovação tecnológica relacionada à sustentabilidade na indústria petroquímica (Bessant & Tidd, 2009), e por fim, os projetos, a priorização de investimento, o relacionamento com fornecedores e clientes, o desenvolvimento de parcerias e as relações interdepartamentais são algumas das implicações gerenciais no processo de inovação tecnológica, que influenciam o Sistema de Gestão Ambiental e da Produção.

Outro aspecto importante a salientar é como na literatura e nesta empresa, os conceitos de Inovação e Gestão Ambiental estão conectados. Ao investigar os principais elementos relacionados com inovação tecnológica, encontrou-se o cuidado com o impacto ambiental em diversos matizes com uma abrangência que se estende além dos limites da unidade industrial, incluído fornecedores e clientes. A iniciativa mais impactante, no nosso entendimento, é a substituição de matéria-prima fóssil (não renovável) por uma de origem biológica, caracterizada como Inovação Sustentável.

Apesar da unicidade deste caso, pode-se utilizar a estrutura de abordagem para identificar pontos comuns em outras indústrias do pólo petroquímico de Triunfo ou dos demais pólos petroquímicos brasileiros, tornando o estudo em um de casos múltiplos e identificando o grau de isomorfismo deste aspecto da gestão ambiental e vínculo com a sustentabilidade. Poder-se-ia ainda comparar o enfoque da indústria petroquímica com outros setores industriais de mesmas características porterianas (alta barreira de entrada, alto investimento em pesquisa e desenvolvimento, alta concorrência na indústria e tendência a verticalização para obter economia de escalas e redução dos custos de transação) identificando um padrão de gestão ambiental com vistas à sustentabilidade. Pela amplitude do tema de Gestão Organizacional, foi escolhido o corte analítico da gestão ambiental e inovação tecnológica por entender a proximidade e dinâmica destes temas com a sustentabilidade. Este trabalho estabelece relações teóricas significativas com as evidências empíricas encontradas, contribuindo assim para a literatura acerca dos conceitos supracitados. Não obstante, este estudo também busca apoiar os gestores nas decisões estratégicas e da importância dos temas citados, além de fornecer subsídios para futuros estudos.

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