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Evolução das candidaturas ao curso de engenharia civil em universidades Portuguesas. Breve análise e possíveis contributos para o aumento da capacidade de atração do curso. F. Pacheco Torgal 1, † Universidade do Minho, Unidade de Investigação C-TAC, 4800 Guimarães, Portugal ABSTRACT O presente artigo analisa a evolução das candidaturas ao curso de engenharia civil, em universidades Portuguesas, durante a 1ª fase de acesso ao ensino superior. A mesma é comparada com a evolução das candidaturas ao curso de arquitetura e a outros dois cursos de engenharia (mecânica e informática). Constatou-se uma elevada redução da procura do curso de engenharia civil em contraponto à estabilidade da procura nos cursos de arquitetura e engenharia mecânica e ao aumento sustentado da procura do curso de engenharia informática. Não se comprova, pelo menos de forma inequívoca, que a crise no sector da construção seja a grande responsável pela perda de atração deste curso, nem que tal perda se deva à recente exigência de provas específicas de Matemática e Física, ainda que se aceite que tais fatores tenham contribuído de alguma forma para a mesma. O presente artigo contextualiza o problema referido em termos internacionais onde também se verificou e continua a verificar uma redução de candidaturas a este curso e sugere alguns contributos para o aumento da capacidade de atração do curso de engenharia civil. 1.INTRODUÇÃO Os resultados da 1ª fase do concurso de acesso ao ensino superior, para o ano letivo 2014/15, confirmaram uma acentuada redução das candidaturas ao curso de engenharia civil, em universidades Portuguesas, redução essa que teve o seu início de forma clara no ano letivo de 2011/12. O facto é que este não é um fenómeno exclusivo de Portugal. Outros autores já há algum tempo que apontam problemas similares noutros países. Byfield (2001) e Edwards et al. (2004) mencionaram uma redução nas candidaturas ao curso de engenharia civil no Reino Unido, a qual desceu de 5104 candidaturas em 1994 para 2905 no ano 2000. Byfield (2003) previu que essa redução levaria a uma escassez de quase 9000 engenheiros civis em 2013. 1 Investigador na Unidade C-TAC, Doutor em Engenharia Civil ([email protected])

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Evolução das candidaturas ao curso de engenharia civil em universidades Portuguesas. Breve análise e possíveis contributos para o aumento da

capacidade de atração do curso.

F. Pacheco Torgal 1, †

Universidade do Minho, Unidade de Investigação C-TAC, 4800 Guimarães, Portugal

ABSTRACT O presente artigo analisa a evolução das candidaturas ao curso de engenharia civil, em universidades Portuguesas, durante a 1ª fase de acesso ao ensino superior. A mesma é comparada com a evolução das candidaturas ao curso de arquitetura e a outros dois cursos de engenharia (mecânica e informática). Constatou-se uma elevada redução da procura do curso de engenharia civil em contraponto à estabilidade da procura nos cursos de arquitetura e engenharia mecânica e ao aumento sustentado da procura do curso de engenharia informática. Não se comprova, pelo menos de forma inequívoca, que a crise no sector da construção seja a grande responsável pela perda de atração deste curso, nem que tal perda se deva à recente exigência de provas específicas de Matemática e Física, ainda que se aceite que tais fatores tenham contribuído de alguma forma para a mesma. O presente artigo contextualiza o problema referido em termos internacionais onde também se verificou e continua a verificar uma redução de candidaturas a este curso e sugere alguns contributos para o aumento da capacidade de atração do curso de engenharia civil. 1.INTRODUÇÃO Os resultados da 1ª fase do concurso de acesso ao ensino superior, para o ano letivo 2014/15, confirmaram uma acentuada redução das candidaturas ao curso de engenharia civil, em universidades Portuguesas, redução essa que teve o seu início de forma clara no ano letivo de 2011/12. O facto é que este não é um fenómeno exclusivo de Portugal. Outros autores já há algum tempo que apontam problemas similares noutros países. Byfield (2001) e Edwards et al. (2004) mencionaram uma redução nas candidaturas ao curso de engenharia civil no Reino Unido, a qual desceu de 5104 candidaturas em 1994 para 2905 no ano 2000. Byfield (2003) previu que essa redução levaria a uma escassez de quase 9000 engenheiros civis em 2013.

1 Investigador na Unidade C-TAC, Doutor em Engenharia Civil ([email protected])

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Lawless (2005) refere o mesmo problema na África do Sul. Adeli (2009) também confirma uma redução de candidaturas a este curso nas universidades dos EUA. Na India um estudo da academia de engenharia daquele país (Chakraborty et al., 2011) aponta para uma grave deficiência de diplomados em engenharia civil a qual se fica a dever ao facto dos estudantes daquele país percecionarem este curso como de baixa tecnologia. Esta perceção já era referida num artigo de 2002 relativamente à imagem da engenharia civil no Canadá (Nehdi, 2002). Quapp e Holschemacher (2013) referem que na Alemanha quase 50% dos estudantes desiste da frequência do curso de engenharia civil o que segundo estes autores agrava o problema relacionado com a escassez de engenheiros civis. Várias explicações tem vindo a ser avançadas para este problema, nas quais se inclui a crise na indústria da construção e também a recente exigência de provas específicas de Matemática e Física, aliada aos fracos resultados dos alunos do secundário nestas provas. Contudo a ausência de um termo de comparação com a evolução da procura de outros cursos cujo emprego também esteja dependente do desempenho da indústria da construção, como o seja curso de arquitetura ou que tenham provas especificas similares, como por exemplo os cursos de engenharia mecânica e informática, não permite extrair conclusões com um mínimo de validade que possam ajudar a compreender a aversão crescente dos alunos do secundário ao curso de engenharia civil. O presente artigo analisa por isso a evolução das candidaturas ao curso de engenharia civil, em universidades Portuguesas, durante a 1ª fase de acesso ao ensino superior, comparando-a com a evolução das candidaturas ao curso de arquitetura e aos cursos de engenharia mecânica e informática. 2.METODOLOGIA A evolução das candidaturas aos cursos de engenharia civil, arquitetura, engenharia mecânica e engenharia informática foi levada a cabo recorrendo aos ficheiros excel disponibilizados pela DGES. Foram utilizados os ficheiros relativos aos últimos sete anos, desde o ano letivo 2008/09. Relativamente ao curso de arquitetura não foram incluídas as candidaturas ao curso de engenharia paisagística. Também não foram contabilizadas as candidaturas a cursos de mecatrónica e eletromecânica. 3.EVOLUÇÃO DAS COLOCAÇÕES Na Fig. 1 apresenta-se o resultado das colocações totais dos cursos de engenharia civil em universidades Portuguesas. A um patamar de aproximadamente 880 colocações nos anos letivos de 2008/09, 2009/10 e 2010/11 seguiram-se várias quedas na procura para o atual valor total de apenas 150 colocações. A evolução das colocações desagregada por universidade (Fig. 2) mostra que nos primeiros três anos letivos da presente análise todos os cursos mantiveram uma procura, que embora diferente de universidade para universidade, não mostrou qualquer quebra. Contudo a partir do ano letivo 2012/13 somente os cursos de engenharia civil do IST e da FEUP conseguiram preencher quase todas as suas vagas. Fenómeno que no entanto já não se repetiu nem no ano letivo de 2013/14 e menos ainda em 2014/15, altura em que até mesmo os dois cursos mais estáveis (e com mais prestigio) a nível nacional foram incapazes de resistir à fuga dos candidatos do ensino secundário ao curso de engenharia civil. A continuar assim é de prever que no futuro só o IST e a FEUP consigam colocações neste curso mas ainda assim muito abaixo do número de vagas abertas por estas duas instituições.

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Fig. 1 – Colocações totais nos cursos de engenharia civil

Fig. 2 – Colocações totais nos cursos de engenharia civil

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A Fig. 3 compara a evolução das colocações em engenharia civil com a evolução das mesmas para os cursos de arquitetura, engenharia mecânica e informática. Desta podem extrair-se várias e importantes conclusões. A primeira é que não tem fundamento assacar à crise no sector da construção a razão principal para a perda de atração do curso de engenharia civil, pois a estabilidade das colocações no curso de arquitetura não validam essa hipótese. Tão pouco se pode dizer que foi fundamentalmente a exigência das provas específicas de Matemática e Física nos cursos de engenharia que contribuiu para afastar candidatos de engenharia civil, não se negando que esse facto pode ter reduzido o leque dos potenciais interessados, na verdade é necessário reconhecer que tal não afetou minimamente a estabilidade das colocações no curso de engenharia mecânica nem muito menos impediu que as colocações de engenharia informática tenham crescido desde o ano letivo de 2011/2012.

Fig. 3 – Comparação das colocações no curso de engenharia civil

e noutros cursos

As Fig. 4 e 5 comprovam que não só a nota do último colocado neste curso, na 1ª fase de acesso ao ensino superior, diminuiu desde o ano letivo 2008/09 como também perdeu na competição face a outros cursos de engenharia. Este estado de coisas confirma a incapacidade crescente do curso de engenharia civil para captar alunos com classificações elevadas, sinal inequívoco da sua perda de influência e a prazo um indício da sua irrelevância. Há três décadas atrás Morris (1989) já referia que os estudantes que ingressavam em engenharia civil eram aqueles que apresentavam o menor desempenho entre vários cursos de engenharia, facto que agora se repete em Portugal. Há duas décadas atrás Hamill e Hodgkinson (2003) já mencionavam uma profissão com baixa visibilidade social e de baixos vencimentos iniciais. É por isso evidente que a recente mediatização de baixos vencimentos iniciais a rondar quinhentos euros (OE, 2012; Davim, 2013) a par das noticias que davam conta que o próprio Governo Português estava a pagar 5 euros pela avaliação de um apartamento (Jornal i, 2012) esquecendo as consequências implícitas no adágio “if you pay peanuts you get monkeys”, não contribuíram para aumentar o prestigio socioeconómico do curso de engenharia civil, contudo como não são exclusivos deste curso, não permitem explicar de forma inequívoca os diferentes níveis de colocações neste curso e por exemplo o nível de colocações em arquitetura ou nos outros cursos de engenharia analisados neste artigo.

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Fig. 4 – Nota da candidatura do último colocado nos cursos de

engenharia civil do IST, FEUP e FCTUC desde o ano letivo de 2008/09

Fig. 5 – Nota da candidatura do último colocado nos cursos de engenharia civil, mecânica, informática e aeroespacial no IST

Certo é porém que as próprias empresas de construção caracterizadas por uma baixa produtividade (Fulford e Standing, 2014) competindo pelo preço mais baixo e com margens cada vez mais curtas (Morby, 2014) e tendo no futuro de enfrentar uma forte concorrência chinesa que até é capaz de construir um prédio de trinta andares em apenas duas semanas (McKinsey, 2014) cada vez menos terá oportunidade de oferecer vencimentos competitivos aos engenheiros civis, facto que não só não contribui para restaurar o prestigio perdido do curso de engenharia civil como irá reduzir ainda mais a atração deste curso junto das novas gerações.

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Mais provável é que os candidatos educados num paradigma digital crescente, percecionem a engenharia civil (à semelhança do que já sucede na India conforme foi referido na introdução deste artigo) como um curso de baixa tecnologia. O que encontra alguma sustentação no facto dos estudantes que este ano entraram para o ensino superior terem estado no 6º ano, quando começaram a ser distribuídos no ensino básico os portáteis Magalhães e no 9º ano, quando morreu o Steve Jobs, acontecimento de elevada mediatização e evidente influência junto desta faixa etária. E também pela convivência diária daqueles com o mundo virtual (via Facebook, Youtube, Instagram, Apps etc etc etc) cuja atração é potenciada pelas fortunas obtidas de forma quase instantânea pelos magos da indústria digital (Gates, Jobs, Allen, Page, Brin, Zuckerberg...) e principalmente pela mediatização de casos de sucesso de jovens adolescentes que recentemente obtiveram rendimentos extramente elevados (com muito pouco esforço) nesta área (Ink, 2014). Uma tal situação não tem qualquer precedente na história onde a regra ditava até há pouco tempo que rendimentos muito elevados só estavam ao alcance de profissionais com elevado currículo e com uma longa carreira e apenas em determinadas áreas. Não admira por isso que seja muito difícil a uma área tradicionalmente conservadora como a área da engenharia civil conseguir competir com áreas com um muito maior potencial de atração em termos de captação de candidatos ao ensino superior. Sendo muito difícil tal tarefa não é no entanto impossível. 4.ALGUNS CONTRIBUTOS PARA AUMENTAR A CAPACIDADE DE ATRAÇÃO DO CURSO DE ENGENHARIA CIVIL Desde logo e atento o elevado estigma negativo que se apoderou deste curso, mediatizado em capas de jornais com o título “já ninguém quer ser engenheiro civil” (JN, 2014) é pertinente e necessário equacionar uma mudança do seu nome. Felizmente esta mudança encontra-se facilitada pelo facto deste curso ser o único entre as diversas engenharias cuja designação não é inequívoca quanto às atividades a que a mesma respeita. Uma análise desta equívoca questão encontra-se bem fundamentada por Singh (2007). Muito mais importante que uma mudança de nome urge porém mudar o seu conteúdo e o seu foco. O documento prospetivo da ASCE (2009) no qual se preconiza que “civil engineers…must increasingly transform themselves from designers and builders to project life-cycle “sustainers.” fornece importantes indícios a este respeito. Também a recente iniciativa que no Reino Unido levou à criação de quatro centros de excelência (ERA, 2012) para formação graduada em projeto de edifícios sustentáveis (sustainable building design), permite uma perceção mais concreta desse foco. Note-se que a designação atrás referida não é a mais feliz, pois não explicita a inclusão da reabilitação energética embora a mesma esteja incluída nesta formação e até curiosamente seja preponderante na mesma. Em Portugal a recente criação conjunta (UL, UP, UC, UM, UNL e LNEC) do doutoramento "Eco Construction and Rehabilitation", financiado pela FCT, insere-se na mesma temática, mas por ser uma formação avançada e fundamentalmente por ser baseada em programas de Doutoramento e unidades curriculares avançadas de Mestrados já existentes (sic) e não num novo e original conteúdo letivo inicial centrado na eco-eficiência da construção/reabilitação, não se perspetiva que seja tão eficaz quanto a formação Britânica, em formar quadros superiores para a indústria da construção, pode contudo contribuir para melhorar (ainda que minimamente) a imagem da engenharia civil entre os futuros candidatos ao ensino superior (mesmo que indiretamente). A este propósito é pertinente fazer alusão a um programa de doutoramento que se entende como particularmente eficaz e completo o qual é ministrado no Imperial College

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London e tem como título “Sustainable Civil Engineering” sendo a parte letiva composta pelas seguintes UC´s (cujos títulos propositadamente aqui não se traduzem):

• Statistical analysis I • Whole life cycle issues in civil engineering • Uncertainty associated with future change • Infrastructure monitoring • Delivering maximum value from existing infrastructure • The circular economy and civil infrastructure • Multiple use infrastructure • Low carbon construction • Statistical analysis II • Processing and managing field data • Reliability in Civil Engineering • Innovation and entrepreneurship in delivering civil infrastructure • Sustainable development

Excetuando o título que constitui uma variante modesta do “status quo” e que é obtido a partir da junção de duas palavras incongruentes (sustentabilidade e engenharia civil) entende-se que este doutoramento é particularmente interessante não só porque está articulado em torno de grandes preocupações comuns às vertidas no programa quadro Horizonte 2020, mas também porque em termos de objetivos este doutoramento tem a preocupação de explicitar que um dos outputs do mesmo é a criação de novas empresas de consultores no domínio da sustentabilidade e também de empresas capazes de desenvolver materiais e tecnologias mais sustentáveis. Este aspeto particular interessa muito aos clientes/alunos mas em Portugal costuma ser secundário, quase parecendo que no nosso país as formações académicas existem mais como forma de angariação de verbas por via dos alunos/clientes e para ocupar quem as leciona e menos para fornecer competências fundamentais e de elevado valor acrescentado a quem as recebe. Desde logo e no atual contexto da superioridade digital sobre a engenharia civil, referida na secção anterior, ressaltam as vantagens de uma aposta no desenvolvimento de aplicações informáticas para a indústria da construção, como seja por exemplo a recente aplicação iRoad desenvolvida na universidade de Coimbra (Ferreira, 2014). Também o desenvolvimento de aplicações informáticas para fachadas dinâmicas que permitam otimizar o desempenho conjunto do trinómio arrefecimento/iluminação/ventilação natural, constituem igualmente uma área de elevado potencial. Tenha-se presente que a utilização de smartphones na auditoria energética de edifícios já não é assunto de vanguarda (Leslie, 2012). Obviamente não se defende uma adulteração completa da engenharia civil tradicional transformando um engenheiro civil num programador eventualmente “usurpando” as funções dos engenheiros informáticos, contudo esse risco é bem menor do que o risco de não haver candidatos para os cursos de engenharia civil. Mais integradora e mais eficaz em termos de modernizar a engenharia civil pensa-se que seja o futuro estabelecimento, promoção e desenvolvimento de interfaces com outras áreas, como seja a iniciativa conjunta entre a unidade de investigação ISISE e o centro de biologia molecular e ambiental (CBMA), ambas da Universidade do Minho, protagonizada através do Instituto de Ciência e Inovação para a Bio-Sustentabilidade (IB-S) com vista ao desenvolvimento de soluções inovadoras associadas “à sustentabilidade combinada do Ambiente Natural e Ambiente Construído”. Julga-se que uma tal associação é virtuosa desde logo porque a biotecnologia é uma das indústrias com maior crescimento a nível mundial, sendo além disso uma das seis tecnologias industriais que no programa Horizonte são designadas por facilitadoras essenciais (Key

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Enabling Tecnologies) às quais está reservado um financiamento específico de 6663 milhões de euros (Pacheco-Torgal, 2014). Também porque possuidoras de um elevado potencial de inovação e de largo espectro abrangendo quase todas as especialidades de engenharia civil (Pacheco-Torgal et al., 2014), essas novas interfaces, têm além disso a grande vantagem de fomentar o aparecimento de uma miríade de start-ups ligadas ao desenvolvimento de soluções de base biotecnológica para o ambiente construído, que não só permitirão alavancar o número de pedidos de patentes, tradicionalmente muito reduzido na área da engenharia civil, como também permitirão a criação de emprego muito qualificado, de doutorados, que atualmente não encontram colocação na conservadora e obsoleta indústria da construção. 4. CONCLUSÕES O presente artigo analisou a evolução das candidaturas ao curso de engenharia civil, em universidades Portuguesas, durante a 1ª fase de acesso ao ensino superior, tendo-se constatado uma elevada redução da procura deste curso em contraponto à estabilidade da procura nos cursos de arquitetura e engenharia mecânica e ao aumento sustentado da procura do curso de engenharia informática. O resultado das candidaturas não permite afirmar que a crise no sector da construção seja a grande responsável pela perda de atração do curso de engenharia civil. Também não permite concluir que tal se ficou a dever fundamentalmente à exigência das provas específicas de Matemática e Física. A mediatização de vencimentos iniciais a rondar quinhentos euros não contribuíram para aumentar o prestígio socioeconómico do curso de engenharia de civil contudo como não são exclusivos deste curso, não permitem explicar de forma inequívoca os diferentes níveis de colocações entre os diferentes cursos analisados neste artigo. Mais provável é que os candidatos educados num paradigma digital crescente, percecionem a engenharia civil como um curso de baixa tecnologia por oposição ao mundo digital com o qual aqueles convivem numa base diária quase desde a sua infância. Neste contexto o desenvolvimento de aplicações informáticas para a indústria da construção assume-se como particularmente interessante para renovar a imagem do curso de engenharia civil. Também o estabelecimento, promoção e desenvolvimento de interfaces com outras áreas como a área da biotecnologia poderá contribuir para aumentar a capacidade de atração deste curso, não só porque esta é uma das indústrias com maior crescimento a nível mundial mas também porque poderão levar ao aparecimento de uma miríade de start-ups e à criação de emprego altamente qualificado. 5. REFERÊNCIAS Adeli, H.,Vision for Civil and Environmental Engineering Departments in the 21st Century. J. Prof. Issues Eng. Educ. Pract., 135, 1, 1–3 (2009). ASCE, Achieving the vision for Civil Engineering in 2025. A road map for the profession. ASCE, Virginia (2009) Byfield, M.P, Graduate shortage: The key to civil engineering's future? Proceedings of the Institution of Civil Engineers: Civil Engineering 144, 4, 161-165 (2001) Byfield, M.P, British civil engineering skills: Defusing the time bomb. Proceedings of the Institution of Civil Engineers: Civil Engineering 156,4, 183-186 (2003) Chakraborty, S.; Iyer, N.; Krishna, P.; Thakkar, S., Assessment of Civil Engineering Inputs for Infrastructure Development. Indian National Academy of Engineering (2011)

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