Evolução recente da estrutura fundiária e propriedade...
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Evolução recente da estrutura fundiária e
propriedade agrícola no Brasil
Marlon Gomes Ney
Universidade Estadual do Norte Fluminense
OBJETIVOS
-Analisar a evolução recente da distribuição da posse da terra no Brasil,
considerando os problemas de comparação dos dados do Censo
Agropecuário de 1995/96 (ano agrícola) com os dos censos de 1975,
1980, 1985 e 2006 (ano civil).
-Avaliar, comparando os dados do censo com os da PNAD, até que
-Avaliar, comparando os dados do censo com os da PNAD, até que
ponto o crescimento do número de pequenas propriedades agrícolas no
país, nos dois últimos censos, pode ser atribuído à expansão da
agricultura familiar ou ao aumento do número de chácaras e sítios para
lazer.
ALGUMAS INFORMAÇÕES SOBRE AS BASES DE DADOS
-Além das unidades voltadas à produção comercial e de subsistência,
são consideradas como recenseáveis os hortos, reform
atórios, asilos,
escolas profissionais, hotéis fazendas e locais para lazer, desde que
tivessem algum tipo de exploração agropecuária, florestal ou aquícola,
com exceção dos quintais de residência com pequenos animais e
hortas domésticas.
hortas domésticas.
-Os dados sobre área, na PNAD, abrangem apenas quem tem
atividade principal de empregador ou conta própria na agropecuária. A
agricultura, portanto, deve ser uma im
portante fonte de renda para o
entrevistado.
Ano
Proprietários
Total
Menos
A partir
Total
Menos
A partir
Total
de 10 ha
de 100 ha
de 10 ha
de 100 ha
1975
1.182
425
3.199
2.602
488
4.988
Tabela 1.-Número de estabelecimentos agropecuários (em
milhares), conform
e dois estratos de área e condição do
produtor. Censo Agropecuário, 1975 a 2006.
1980
1.241
466
3.390
2.598
536
5.151
1985
1.431
501
3.746
3.065
568
5.793
1995/96
1.396
484
3.604
2.402
519
4.838
2006
1.788
434
3.946
2.477
472
4.920
Figura 1.-Evolução do número (em milhares) de estabelecimentos
agropecuários com menos de 10 hectares, conform
e condição do
produtor. Censo Agropecuário, 1975 a 2006.
3.065
2.602
2.598
2.402
2.477
2.000
2.500
3.000
1.788
1.006
689
1.241
1.182
1.396
1.431
1.634
1.357
1.420
500
1.000
1.500
1975
1980
1985
1995/96
2006
Total
Proprietários
Não-proprietários
Figura 2.-Distribuição percentual do número de estabelecimentos
agropecuários de proprietários, conform
e três estratos de áreas. Censo
Agropecuários, 1985 e 2006.
30%
40%
50%
60%
0%
10%
20%
30%
1985
2006
1985
2006
1985
2006
1985
2006
1985
2006
1985
2006
BR
NO
NE
SE
SU
CO
Inferior a 10 ha
10 a m
enos de 100 ha
A partir de 100 ha
Figura 3.-Distribuição percentual do número e da área dos
estabelecimentos agrícolas de proprietários, conform
e três estratos de
área. C
enso Agropecuário, 1985 a 2006.
48,4
47,8
43,7
13,4
13,4
11,0
80,7
81,1
79,8
50%
60%
70%
80%
90%
100%
38,2
38,7
45,3
1,7
1,7
2,0
17,6
17,2
18,1
0%
10%
20%
30%
40%
50%
1985
1995/96
2006
1985
1995/96
2006
Núm
ero
Área
Menos de 10 ha
10 a men
os de 100 ha
A partir de 100 ha
-O aumento de quase 74,4 mil no total de estabelecimentos com área
inferior à 10 ha (+3,1%), entre 1995/96 e 2006, é bem menor do que o
crescimento de 392 mil proprietários (+28,0%).
-O motivo é a forte queda do contingente de pequenos agricultores não-
proprietários, ou seja, arrendatários, parceiros e ocupantes, de cerca de
1milhão para 689 mil (−31,5%).
-É im
portante ainda ressaltar que as atuais 1,7 milhões de unidades
produtoras e os 6,3milhões de hectares ocupados pelos agricultores
produtoras e os 6,3milhões de hectares ocupados pelos agricultores
proprietários com até 10 ha são os maiores valores registrados desde o
censo de 1975, ao contrário dos valores observados para arrendatários e
parceiros, os menores em todo o período analisado.
-Entre os estabelecimentos com área a partir de 100 hectares, há uma
redução de 47,5 mil unidades (−9,1%) e de 23,8 milhões de hectares
(−8,4%).
Figura 4.-Índice de Gini e índice de Atkinson da distribuição da posse da
terra, conform
e a condição do produtor. Censo Agropecuário, 1975 a 2006.
0,85
50,849
0,86
1
0,874
0,818
0,83
6
0,85
7
0,83
4
0,86
7
0,85
6
0,830
0,840
0,850
0,860
0,870
0,880
0,818
0,790
0,800
0,810
0,820
0,830
Gini
Atkinson
Gini
Atkinson
Proprietário
Total
1975
1980
1985
1995/96
2006
Figura 5.-Proporção da área total ocupada pelos 50% menores e 5%
maiores estabelecimentos, conform
e condição do produtor. Censo
Agropecuário, 1975 a 2006.
65,7%
66,5%
66,2%
66,3%
68,4%
40,0%
50,0%
60,0%
70,0%
3,6%
3,4%
3,3%
3,2%
2,7%
0,0%
10,0%
20,0%
30,0%
1975
1980
1985
1995/96
2006
50% menores
5% maiores
CARACTERÍSTICAS DA DESIGUALDADE FUNDIÁRIA
•Uma desigualdade fundiária elevada é caracterizada pelo fato de haver
uma grande proporçãoda área total ocupada por uma pequena
proporçãodos estabelecimentos.
•É im
portante ressaltar que, no caso das estimativas relacionadas à
desigualdade fundiária, as pessoas que não têm estabelecimentos
(empreendimentos) agropecuários, porque não possuem terra
(empreendimentos) agropecuários, porque não possuem terra
suficiente para plantar, não entram nas estimativas.
•Se tivéssemos uma situação hipotética de uma região onde houvesse
um pequeno número de latifúndios e todos com o mesm
o tamanho, o
resultado seria um índice de Gini igual a zero.
CARACTERÍSTICAS DA DESIGUALDADE FUNDIÁRIA
•É possível que a criação de pequenas propriedades rurais por meio
de um programa de reform
a agrária, por exemplo, ao aumentar o
número de estabelecimentos na cauda inferior da distribuição da
posse da terra, contribua para o crescimento da desigualdade
fundiária e, ao mesm
o tempo, reduza a concentração.
•Seu efeito, no índice de Gini, pode ser semelhante ao aumento da
•Seu efeito, no índice de Gini, pode ser semelhante ao aumento da
“concentração” da terra em latifúndios. A diferença entre as duas
situações é que, na primeira, a tendência seria de diminuição da
área média. E
é isso que acontece.
Figura 6.-Área média, em hectares, dos estabelecimentos agropecuários.
Censos Agropecuários, 1975 a 2006.
95,8
90,9
92,0
77,8
90,3
73,1
70,8
64,9
70,0
80,0
90,0
100,0
Área média (em ha)
63,8
64,7
64,9
40,0
50,0
60,0
70,0
1975
1980
1985
1995/96
2006
Área média (em ha)
Proprietário
Total
Tabela 2. Á
rea média dos estabelecimentos agropecuários, em
hectares, e índice de Gini da distribuição da posse da terra, conform
e
Unidade da Federação. C
ensos Agropecuários, 1975 a 2006.
Ano
Espírito Santo
Mato Grosso
Roraima
Área
Gini
Área
Gini
Área
Gini
1975
63,4
0,628
391,6
0,944
608,2
0,887
1980
64,0
0,657
545,7
0,922
658,2
0,788
1985
56,3
0,673
485,6
0,910
336,5
0,753
1995/96
47,7
0,692
633,0
0,871
402,5
0,815
2006
33,9
0,733
427,0
0,865
172,3
0,666
.
•Observou-se que os estados onde há maior aumento do Índice de Gini
também registram grande queda na área média dos estabelecimentos,
o que mostra que não houve necessariamente aumento da
concentração da terra em latifúndios. É o caso do Espírito Santo, onde
o índice de Gini e a área média caem sistematicamente.
•Em Mato Grosso, onde tem acontecido nos últimos anos a expansão
das grandes plantações de grãos, surpreende a queda sistemática do
índice de Gini de 0,944, em 1975, para 0,865, em 2006. N
o entanto, a
área média dos estabelecimentos aumentou de 391,6 hectares para
área média dos estabelecimentos aumentou de 391,6 hectares para
427,0 hectares. Nesse caso, a desigualdade fundiária caiu mesm
o com
o crescimento no número de grandes estabelecimentos.
•O estado de Roraima registrou tanto a maior queda no índice de Gini
(−24,9%) quanto da área média dos estabelecimentos (−71,7%), o que
mostra que desigualdade fundiária caiu por meio do crescimento do
número de estabelecimentos relativamente pequenos na região,
embora os estabelecimentos agropecuários ainda sejam, em média,
grandes.
ALGUMAS OBSERVAÇÕES IMPORTANTES
•Caso a expansão do número de minifúndios no país esteja
associada ao fortalecimento da agricultura familiar, estimulada
pelas políticas de reform
a agrária e de apoio ao pequeno produtor
rural, seu efeito deve ser sentido tanto nos dados do censo quanto
da PNAD.
•O mesm
o, porém, não pode ser dito em relação à construção de
residências rurais pela população urbana, a qual tende a ter pouco
efeito nas estimativas que utilizam os dados da PNAD, porque eles
efeito nas estimativas que utilizam os dados da PNAD, porque eles
se referem às pessoas com atividade única ou principal no setor
primário.
•Nesse sentido, caso os dados da PNAD não confirmem o
crescimento do número de pequenos estabelecimentos, há um forte
indício de que esse aumento no censo provavelmente fora
provocado pela form
ação de chácaras e sítios voltados para a
moradia de pessoas cujo nível de renda tem pouca relação com a
agricultura.
Figura 7.-Número de empreendimentos agropecuários de 0,1 a menos
de 10 ha (em 1.000), de acordo com os dados das PNAD. B
rasil, 1992 a
2008.
1.259
1.275
1.000
1.200
1.400
419
767
481
317
200
400
600
800
199219
9319
9519
9619
9719
9819
9920
0120
0220
0320
0420
0520
0620
0720
08
Proprietário
Parceiro e arrendatário
Cessionário e posseiro
-Quando se considera apenas as pessoas com ocupação principal
na agricultura, como na PNAD, há uma clara tendência de queda no
número de pequenos empreendimentos agrícolas em quase todas as
grandes regiões brasileiras, com única exceção do Sul do país, onde
diminuição também ocorre, m
as não de form
a significativa.
-Ela é mais forte no Sudeste, seguido pelo Centro-O
este e Nordeste.
Os coeficientes de correlação de Pearson entre o número de
agricultores com menos de 10 hectares e o ano da PNAD, na três
regiões, são, respectivamente, de −0,968, −
0,831 e −0,490.
-A forte variação negativa na região Sudeste contrasta com a dos
dados dos dois últimos Censos Agropecuários, que mostram um
crescimento de 37,1% no número de pequenos estabelecimentos
agrícolas.
Estatística
NE
SE
SU
CO
Menos de 10 ha
−0,490***
−0,968*
−0,193
−0,831*
Figura 8.-Evolução do número de minifúndios na região Sudeste.
PNAD, 1992 a 2008.
358.31
8
280.00
0
300.00
0
320.00
0
340.00
0
360.00
0
256.76
0
200.00
0
220.00
0
240.00
0
260.00
0
280.00
0
1992
1999
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
•A enorm
e diferença entre a variação do número de minifúndios no
Sudeste, quando se compara o Censo Agropecuário com a PNAD,
reforça a hipótese de que o aumento do número de
estabelecimentos com menos de 10 hectares, entre os censos de
1995/96 e 2006, teria sido provocado pelo crescimento do número
de chácaras e sítios adquiridos pela população urbana.
•O mais provável é que, como os dados da PNAD consideram a
ocupação principal das pessoas, o número de indivíduos que tiram
a maior parte da sua renda da pequena agricultura esteja
a maior parte da sua renda da pequena agricultura esteja
diminuindo e estejam buscando outros tipos de atividade, como as
ocupações rurais não-agrícolas (Laurenti e Del G
rossi, 2000).
•Por outro lado, por se tratar da região mais urbanizada do país, o
crescimento entre os censos agropecuários de 1995/96 e 2006
deve ter sido causado, em grande medida, pelo fato de o censo
captar o contingente de pessoas que trabalham nas cidades e têm
cultivado pequenos lotes nas áreas rurais apenas como lazer ou até
mesm
o para complementar a renda familiar.
Principais conclusões ao comparar os dados da PNAD e
Censo Agropecuário
•Ao contrário dos dois últimos Censos Agropecuários, a PNAD não
registra um crescimento do número de agricultores proprietáriosde
áreas inferiores a 10 hectares, sendo inclusive as 1,259 milhões de
unidades observadas, em 2008, um numero inferior às 1,275
milhões verificadas em 1992.
•Como as inform
ações sobre área agrícola na PNAD se referem
apenas às pessoas com atividade única ou principal no setor
apenas às pessoas com atividade única ou principal no setor
primário, há um forte indício de que o crescimento do número de
pequenas propriedades nos dois últimos censos teria sido
provocado, sobretudo, pela expansão de chácaras e sítios em que o
nível de renda familiar do dono tem pouca relação com
a agricultura.
•A PNAD m
ostra, m
ais uma vez ao contrário do Censo
Agropecuário, uma tendência à diminuição no número de
empreendimentos com área inferior a 10 ha de 2,6 milhões, em
1992, para 2,0 milhões, em 2008.
Principais conclusões ao comparar os dados da PNAD e
Censo Agropecuário
•O coeficiente de correlação de Pearson entre o número de
pequenos agricultores e o ano da PNAD é de −0,703 e
estatisticamente significativo a nível de 1%.
•A queda é claramente puxada pelos parceiros e arrendatários, que
passaram de 767 mil unidades produtivas, em 1992, para 419 mil,
em 2008.
em 2008.
•A diminuição do número de agricultores produzindo em terras de
terceiros, também observada a partir do censo de 1985, reforça a
necessidade de investigar quais são as suas principais dificuldades
para se manter na atividade.