EXEMPLO DE COMENTÁRIO EXEGÉTICO Tt 1 1-4 · EXEMPLO’DECOMENTÁRIO’EXEGÉTICO’...

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EXEMPLO DE COMENTÁRIO EXEGÉTICO COMENTÁRIO EXEGÉTICO DENTRO DA ESTRUTURA QUIÁSTICA A estrutura proposta para este comentário seguirá o quiasmo observado na estrutura do texto 1 . Em cada perícope, dentro da estrutura quiástica, o leitor encontrará uma tradução 2 proposta, discussões textuais disponíveis 3 , uma síntese exegética que situará o leitor na linha de raciocínio da perícope, discussões sintáticas dos termos mais relevantes 4 , considerações teológicas importantes 5 , análise léxica 6 , e abordagem históricocultural pertinente. 1.1 (A) Saudação inicial (“avspa,zomai ”) 1:1-4 A primeira parte da carta introduz características de Paulo e o propósito de sua vida. O que auxiliaria Tito nas tarefas de estabelecer uma liderança piedosa e capaz (1.69), e de ensinar o correto (2.13.18) enquanto combatia o ensino errado (1.1016 e 3.911). 1.1.1 Texto 1:1-4 BYZ 1 Pau/loj( dou/loj qeou/( avpo,stoloj de. VIhsou/ cristou/( kata. pi,stin evklektw/n qeou/ kai. evpi,gnwsin avlhqei,aj th/j katV euvse,beian( 2 evpV evlpi,di zwh/j aivwni,ou( h]n evphggei,lato o` avyeudh.j qeo.j pro. cro,nwn aivwni,wn( 3 evfane,rwsen de. kairoi/j ivdi,oij to.n lo,gon auvtou/ evn khru,gmati o] evpisteu,qhn evgw. katV evpitagh.n tou/ swth/roj h`mw/n qeou/( 4 Ti,tw| gnhsi,w| te,knw| kata. koinh.n pi,stin\ ca,rij( @e;leoj#( eivrh,nh avpo. qeou/ patro,j( kai. @kuri,ou# VIhsou/ cristou/ tou/ swth/roj h`mw/nÅ Tradução 1 Paulo, que é servo de Deus e apóstolo de Jesus Cristo para anunciar tanto a fé que os eleitos de Deus exercerão quanto o pleno conhecimento da verdade que conduz à piedade, 2 para a esperança que é a vida eterna, a qual Deus, que não é mentiroso, prometeu antes dos tempos eternos, 3 e manifestou a sua palavra em tempos oportunos por meio da pregação, a qual me 1 A Saudação inicial (“avspa,zomai”) 1:1-4 B Pôr em ordem o restante (evpidiorqwsh| ta. lei,ponta) 1:5a C Estabelecer Presbíteros (katasth,sh|j presbu,terouj) 1:5b C' Estabelecer Presbíteros (“katasth,sh|j presbu,terouj”) 1:6-9 B' Pôr em ordem o restante (“evpidiorqwsh| ta. lei,ponta”) 1:10-3:14 A' Saudação final (avspa,zontai) 3:15 2 O leitor encontrará em cada perícope o texto Bizantino com as ausências e outras diferenças do texto crítico entre colchetes para que se possam visualizar as divergências entre os dois textos. A tradução de cada uma das perícopes refletirá as opções sintáticas feitas no comentário. 3 As variantes abordadas aqui são as disponibilizadas em www.laparola.net/greco e serão alistadas na íntegra. Além disto, o comentário das variantes abordadas em METZGER, B. M. “A Textual Commentary on the Greek New Testament”, estarão disponibilizadas no comentário textual. 4 Apenas as palavras que acrescentam ou mudam o sentido do texto serão analisadas. 5 Cada aspecto teológico será discorrido em nível diferente, de acordo com a relevância entendida por este estudante. 6 Sempre que possível, os aspectos de um estudo diacrônico serão utilizados.

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  • EXEMPLO DE COMENTRIO EXEGTICO

    COMENTRIO EXEGTICO DENTRO DA ESTRUTURA QUISTICA A estrutura proposta para este comentrio seguir o quiasmo observado na estrutura do

    texto1. Em cada percope, dentro da estrutura quistica, o leitor encontrar uma traduo2

    proposta, discusses textuais disponveis3, uma sntese exegtica que situar o leitor na linha

    de raciocnio da percope, discusses sintticas dos termos mais relevantes4, consideraes

    teolgicas importantes5, anlise lxica6, e abordagem histrico-cultural pertinente.

    1.1 (A) Saudao inicial (a vspa ,zomai) 1:1-4

    A primeira parte da carta introduz caractersticas de Paulo e o propsito de sua vida. O

    que auxiliaria Tito nas tarefas de estabelecer uma liderana piedosa e capaz (1.6-9), e de

    ensinar o correto (2.1-3.1-8) enquanto combatia o ensino errado (1.10-16 e 3.9-11).

    1.1.1 Texto 1:1-4 BYZ 1 Pau/loj( dou/loj qeou/( avpo,stoloj de. VIhsou/ cristou/( kata. pi,stin evklektw/n qeou/ kai.

    evpi,gnwsin avlhqei,aj th/j katV euvse,beian( 2 evpV evlpi,di zwh/j aivwni,ou( h]n evphggei,lato o` avyeudh.j

    qeo.j pro. cro,nwn aivwni,wn( 3 evfane,rwsen de. kairoi/j ivdi,oij to.n lo,gon auvtou/ evn khru,gmati o]

    evpisteu,qhn evgw. katV evpitagh.n tou/ swth/roj h`mw/n qeou/( 4 Ti,tw| gnhsi,w| te,knw| kata. koinh.n

    pi,stin\ ca,rij( @e;leoj#( eivrh,nh avpo. qeou/ patro,j( kai. @kuri,ou# VIhsou/ cristou/ tou/ swth/roj h`mw/n

    Traduo

    1 Paulo, que servo de Deus e apstolo de Jesus Cristo para anunciar tanto a f que os eleitos

    de Deus exercero quanto o pleno conhecimento da verdade que conduz piedade, 2 para a

    esperana que a vida eterna, a qual Deus, que no mentiroso, prometeu antes dos tempos

    eternos, 3 e manifestou a sua palavra em tempos oportunos por meio da pregao, a qual me

    1 A Saudao inicial (avspa,zomai) 1:1-4

    B Pr em ordem o restante (evpidiorqwsh| ta. lei,ponta) 1:5a

    C Estabelecer Presbteros (katasth,sh|j presbu,terouj) 1:5b

    C' Estabelecer Presbteros (katasth,sh|j presbu,terouj) 1:6-9

    B' Pr em ordem o restante (evpidiorqwsh| ta. lei,ponta) 1:10-3:14

    A' Saudao final (avspa,zontai) 3:15 2 O leitor encontrar em cada percope o texto Bizantino com as ausncias e outras diferenas do texto crtico entre colchetes para que se possam visualizar as divergncias entre os dois textos. A traduo de cada uma das percopes refletir as opes sintticas feitas no comentrio. 3 As variantes abordadas aqui so as disponibilizadas em www.laparola.net/greco e sero alistadas na ntegra. Alm disto, o comentrio das variantes abordadas em METZGER, B. M. A Textual Commentary on the Greek New Testament, estaro disponibilizadas no comentrio textual. 4 Apenas as palavras que acrescentam ou mudam o sentido do texto sero analisadas. 5 Cada aspecto teolgico ser discorrido em nvel diferente, de acordo com a relevncia entendida por este estudante. 6 Sempre que possvel, os aspectos de um estudo diacrnico sero utilizados.

  • foi confiada por ordem de Deus, nosso salvador. 4 A Tito, genuno filho segundo a f comum,

    graa, misericrdia e paz da parte de Deus pai e de Jesus Cristo, nosso salvador.

    Observaes Textuais7

    ]8 C* D F G P 088 256 263 365 629 1175 (1739 1881 l883 l1156 l1443 omite ) 2127 itar itb itc itd itdem itdiv ite itf itg ito itx itz vg (vgmss) syrp copbo goth arm (ethro ) geo1 Ambrosiaster Chrysostom Jerome Theodorelat Augustine Cassiodorus John-Damascus ]9 33 (copsa ) , , ]10 (see 1Timothy 1:2; 2Timothy 1:2) A C2 K L 075 0150 6 81 88 104 181 326 330 424 436 451 459 614 630 1241 1319 1573 1852 1877 1962 2200 2495 Byz Lect (l422 ) copbo(ms) (geo2) (ethpp ) slav Origenlat Teodoret Ps-Oecumenius John-Damascustext Theophylact , , ]11 1984 1985 2492 syrh Metzger diz que12:

    A saudao tipicamente epistolar Paulina, ca,rij kai. eivrh,nh, fortemente apoiada tanto por bons representantes dos tipos textuais alexandrinos quanto dos ocidentais (a C* D G P Y it vg). A insero de e;leoj (A C2 K 81 614 Byz Lect al e o Texto Recebido) parece ser uma emenda proposta pela analogia da saudao trplice em 1 Tm 1.2 e 2 Tm 1.2. Outras variaes menores, tais como a insero de u`mi/n (33) ou soi (copsa), so obviamente modificaes de escribas.

    Embora Metzger parea estar certo com respeito s inseres de u`mi/n e soi, a fora

    alexandrina e ocidental nesta variante no maior do que o texto bizantino13. A evidncia

    externa, pelo contrrio, disputada, pois a distribuio geogrfica est praticamente

    empatada; a data apia levemente a omisso de e;leoj com um sculo de diferena. J a

    solidariedade genealgica, principalmente por causa do texto Bizantino, apia a incluso de

    e;leoj; e a quantidade de manuscritos demonstra vantagem para a incluso.

    Quanto evidncia interna, a saudao trplice em 1 e 2 Timteo, tendo em vista o uso

    de vocabulrio peculiar e o foco comum contido nas pastorais, d fora suficiente para se

    optar por ca,rij( e;leoj( eivrh,nh em Tito.

    ]

    A C D* 088 0240 33 81 365 629 pc it vg Ambrosiaster ] 1739 1881 ] D2 F G Byz syr ] 1175

    7 As notas de roda p logo aps cada leitura das diversas variantes indicaro sua traduo. 8 graa e paz (a ti) 9 graa e paz a vs 10 graa, misericrdia, paz 11 graa, misericrdia e paz 12 METZGER, B. M. A Textual Commentary on the Greek New Testament. BibleWorks 7 Software. 13 Perceba que Metzger no cita vrios dos manuscritos alistados acima em sua discusso.

  • Na evidncia externa a omisso de kuri,ou fortemente apoiada com base numa data

    bastante antiga, melhor distribuio geogrfica, e quase que unnime solidariedade

    genealgica. A quantidade de manuscritos disputada, j que Byz est dividido. Assim, a

    evidncia externa favorece a omisso de kuri,ou.

    A evidncia interna demonstra que qualquer das opes se harmoniza com o texto e com

    o pensamento paulino, mas a omisso de kuri,ou mais freqente. A opo feita aqui pela

    leitura que omite kuri,ou.

    Esboo e Anlise

    A saudao de Paulo revela sua identidade, atividade e apreo por Tito (1:1-4).

    Sntese Exegtica

    Paulo escreve sua saudao a Tito demonstrando quem era e o propsito de seu ministrio.

    Sua identidade de servo - dou,loj e apstolo - avpo,stoloj (1:1a) demonstrava seu

    relacionamento com o Pai e o Filho, e ao mesmo tempo direcionava sua atividade ministerial, a

    saber, conduzir os eleitos f - pi,stin e ao pleno conhecimento da verdade - evpi,gnwsin avlhqei,aj

    (1.1b). Tal atividade havia sido ordenada por Deus (1.3) e produziria esperana - evlpi,di (1.2)

    naqueles a quem o evangelho e o ensino das Escrituras alcanassem. Por fim, Paulo demonstra

    seu desejo de graa, misericrdia e paz a Tito, seu filho na f (1:4), pois precisaria da ao de

    Deus para o cumprimento de sua tarefa em Creta.

    A funo desta percope era prover exemplo, autorizao e incentivo para Tito.

    A identificao de Paulo est intimamente ligada com a misso para a qual o Pai e

    o Filho o designaram (1:1-3).

    A identificao de Paulo demonstra equilbrio entre sua submisso e

    autoridade (1:1a).

    1.1a - Servo de Deus (dou /loj qeou /)

    A palavra usada para dou/loj - servo a palavra usada para escravos ou homens

    acorrentados no mundo antigo14. A idia bsica de algum que subjugado, obrigado

    fora e por isto deve obedincia ao seu senhor/dono. Em Rm 6:6, 14, 16, Paulo usa a forma

    verbal da palavra com o sentido de estar sujeito a, servir, da mesma forma como Aesquilus

    14 Tucidides (V a.C.) demonstra este uso. Eurpedes (V a.C.) faz uso metafrico para um escravo do dinheiro. Sfocles (V a.C.) usa o termo para uma cidade subjugada. E ainda usa a frase corpo escravo em oposio frase mente livre. Persius (I d.C) diz que alguns no foram chamados escravos. LIDDELL, Henry George & SCOTT, Robert. A Greek-English Lexicon. STERGIOU, Costas. Op. Cit. Termo dou/loj.

  • (IV-V a.C.)15. Basicamente, o termo descreve algum controlado por algo ou algum, e usado

    no relacionamento entre Cristo e o homem. dou /loj implica oferecer a si mesmo para

    obedecer a Deus de corao (Ef 6:6, 1Co 7:22-23). Assim, um dou /loj qeou / lida com a

    motivao de fazer as coisas para agradar a Cristo e no pessoas (Gl 1:10). O significado do

    termo dou/loj em relao a Deus intensificado quando se observa a ordem de Paulo para

    que os dou/loi considerassem seus senhores dignos de toda honra (1Tm 6.1). Quanto mais

    digno deveria ser o Senhor celestial!

    Grandes homens de Deus foram chamados de dou/loj16. Abrao (Gn 26:24; Sl 105:42);

    Moiss (Nm 17:7; Ne 9:14); Davi (Sl 89:4); Daniel (Dn 6:20); e os profetas (Jr 25:4; Ez 38:17;

    Am 3:7). Isto demonstra que dou /loj qeou /, desde o AT, um ttulo de honra17 que se refere ao

    relacionamento especial de uma pessoa com Deus. Este ttulo continuou tendo esta

    caracterstica tambm no NT, no entanto, com uma conotao mais submissa que no AT.

    Quando usada para designar algum fora da esfera espiritual, era considerado ttulo

    desprezvel18. Paulo sabia exatamente que a palavra carregava tal significado, pois a usou em

    contraste com de,spothj - senhor (Tt 2.9)19.

    A frase dou /loj qeou / usada por Paulo somente em Tt 1:1. A frase similar dou /loj

    v Ihsou / Cristou / (Rm 1:1; Gl 1:10; Fp 1:1). Talvez a mudana tenha sido feita porque o

    problema que Tito enfrentava em Creta era com os judeus (1:10), ou por Paulo entender que

    era um servo como no AT20.

    O substantivo qeou / deve ser entendido como genitivo de posse21, e no objetivo22, pois

    alm de enfraquecer a declarao de Paulo23, colocaria sua nfase no ministrio e no na

    submisso24. Assim, o sentido de dou /loj qeou / dentro da percope que Paulo est disposto a

    submeter tanto suas vontades como o controle de sua vida a Deus. Isto serviria de exemplo a

    Tito, aos que se opunham s doutrina (1:11 cp. 2:1), e aos cristos de Creta.

    15 Ibid. termo douleu,w. 16 MOUNCE, William D. Word Biblical Commentary, Pastoral Epistles. P. 378. 17 No que este ttulo faa da pessoa algum honrado perante a sociedade ou que d a ela honra por merecimento prprio, pelo contrrio uma honra ter o relacionamento de servo-Senhor com Deus. 18 Observe uso da palavra nos documentos antigos do V sculo a.C. 19 Veja que Euripedes (V a.C.) usa dou/loj em oposio a de,spothj - senhor. LIDDELL, Henry George & SCOTT, Robert. A Greek-English Lexicon. STERGIOU, Costas. Op. Cit. Termo dou/loj. 20 MOUNCE, William D. Op. Cit. P. 378. 21 A idia do genitivo de posse seria servo que pertence a Deus. 22 A idia do genitivo objetivo seria: servo que serve a Deus. 23 A disposio de se submeter a Deus, demonstrada na segunda opo, tambm serviria de orientao para a igreja que tinha como exemplo a disposio contrria dos falsos mestres. Este estudante acredita que a carta tambm deveria ser lida para os crentes baseado em 2.15 (cp. 1Co 16.10-11). 24 Veja comentrio de a vpo ,stoloj abaixo que aponta tanto para autoridade quanto para o ministrio de Paulo. Assim, a palavra dou /loj e a palavra a vpo ,stoloj formam um equilbrio entre submisso e ministrio.

  • e apstolo de Jesus Cristo (a vpo ,stoloj de . VIhsou / Cristou /)

    O verbo avposte,llw - enviar, palavra da mesma raiz do substantivo a vpo ,stoloj, foi

    usado na LXX para a pomba que No enviou com o fim de ver se as guas j tinham baixado

    (Gn 8:8); para os anjos que Deus enviou a fim de destruir Sodoma (Gn 19:13); para Moiss

    quando foi enviado por Deus a Fara a fim de libertar Israel do Egito (x 3:10, 13-15); no

    envio dos espias para observar a Terra de Cana antes de conquist-la (Nm 13:2); e tambm

    foi usada na predio do envio do Messias a fim de restaurar os contritos e de proclamar

    libertao (Is 61:1 cp. Lc 4:18).

    No NT o verbo avposte,llw foi usado quando Jesus enviou os discpulos para pregarem Sua

    mensagem a Israel (Mt 10:1, 5, 16); para o envio de Joo Batista da parte de Deus (Mt 11:10);

    e para o dia que Jesus enviar seus anjos com o propsito de lanarem os que no creram no

    juzo eterno (Mt 13:41). Em suma, a palavra usada para o envio de algum (ou algo) com

    uma misso (Mc 3:14).

    Desta forma, a palavra avpo,stoloj usada para designar algum que foi enviado, com uma

    misso e autoridade25 (Mt 10:1, 5; At 3:43), ainda que tal autoridade no seja maior do que a

    autoridade daquele que o enviou (Jo 13:16).

    H dois tipos de apstolos no Novo Testamento, algum enviado para uma tarefa ou

    ministrio (2Co 8.23; At 14.1426), e algum que foi designado para dar continuidade ao

    ministrio de Cristo (Ef 4.11). importante destacar, todavia, que h critrios especficos para

    fazer parte deste ltimo (At 1:15-23)27.

    avpo,stoloj VIhsou/ Cristou/ em Tito 1:1 significa que Paulo era apstolo comissionado por

    Jesus Cristo para uma tarefa e recebeu autoridade suficiente para realiz-la. A tarefa

    abrangente, mas resumida pelo prprio apstolo nas frases seguintes do texto (1.1-2). O

    genitivo VIhsou/ Cristou/ aqui subjetivo e no de posse, e de. deve ser considerada

    conjuno aditiva e no adversativa28. As razes para diferenciar o uso sinttico de duas

    palavras29 coordenadas neste texto so: 1) o significado inerente palavra avpo,stoloj, e 2) a

    mudana do complemento de cada uma delas30.

    A implicao da frase dentro do livro que Paulo tinha toda a autoridade para enviar

    algum para uma misso e delegar sua autoridade para que esta misso fosse cumprida. Isto

    25 importante dizer que o grau de autoridade da pessoa enviada proporcional ao grau de autoridade que lhe conferido e de acordo com a autoridade que tem aquele que o envia. 26 Quero destacar aqui somente a pessoa de Barnab, pois Paulo apstolo nascido fora de tempo (1Co 15.8), que viu Jesus e foi comissionado por Ele (At 9.1-6; 22.14-15; 26.15-18). 27 Cada um dos 12 homens que Jesus escolheu para serem seus seguidores e para lanarem as bases da Igreja (Mt 10.2-4; Ef 2.20). Bblia Online Software. 28 MOUNCE, William D. Op. Cit. P. 378. 29 As palavras so dou/loj e avpo,stoloj. 30 Para dou/loj o complemento qeo,j, mas para avpo,stoloj o complemento VIhsou/ Cristou/.

  • serviria de incentivo para Tito que era comissionado por Paulo (1:5) e de advertncia para

    aqueles que porventura pensassem em se opor autoridade de Tito (2:15).

    As palavras dou /loj e a vpo ,stoloj juntas sugerem um equilbrio31 entre a

    humildade/submisso e a autoridade/misso de Paulo, o que nortearia Tito no cumprimento do

    legado que Paulo lhe deu.

    O propsito final da atividade de Paulo era produzir firme esperana na

    promessa de Deus anunciada por ele (1:1b-3)

    1.1b - para anunciar a f que os eleitos de Deus exercero (kata , pi ,stin e vklektw /n

    qeou /)

    Os significados da preposio kata. na frase kata. pi,stin kai. evpi,gnwsin podem ser: 1)

    de acordo com (a f e o conhecimento ARC), ou seja, a identidade (servo e apstolo) de

    Paulo est em conformidade com a f dos eleitos e o conhecimento da verdade. Ou 2) para (a

    f e o conhecimento ARA), ou seja, a identidade (servo e apstolo) de Paulo tem como

    propsito levar os eleitos f e ao conhecimento da verdade.

    A opo por um kata. de conformidade torna a posio de servo e apstolo dependente

    da f e do conhecimento, ou igual a ela. Desta forma, esta frase significaria que tanto a posio

    (servo) quanto o ministrio (apstolo) de Paulo esto de acordo com o conjunto de crenas e

    o conhecimento da verdade que os crentes tm. Assim, a doutrina designa a norma que

    governa a vida e aes ministeriais de Paulo32. Neste sentido ainda, outra opo seria, como

    disse Calvino, que Paulo afirma haver uma mtua concordncia entre o apostolado e a f dos

    eleitos de Deus33. A explicao de Calvino se d em termos de Paulo estar defendendo seu

    apostolado, no entanto, nenhum lugar da carta demonstra tal questionamento, pelo contrrio,

    a nica pessoa que poderia ser questionada era Tito, por isto Paulo escreveu 1.5 e 2.15, para

    que, com base em sua autoridade, a igreja e os falsos mestres aceitassem as palavras de Tito.

    Vincent tambm entende que a preposio indica de acordo com, mas com um resultado

    diferente. Ele argumenta dizendo que 1 Tm 1.1 direciona o uso da proposio em Tt 1.1, uma

    vez que naquela passagem est claro o uso do kata. de conformidade. Em suas palavras, ele

    afirma que a preposio significa de acordo com, no para a f, mas correspondendo norma

    ou padro da f que estabelecido para os eleitos de Deus34.

    Vincent parece no fazer diferena entre mandato de Deus em 1Tm 1.1 e f e pleno

    conhecimento em Tt 1.1. O fato que em Timteo Paulo usa uma frase designando algo que

    claramente j ocorreu no passado, ou seja, a ordem e designao de Deus para seu apostolado. 31 PINTO, Carlos Osvaldo. Foco e Desenvolvimento do Novo Testamento. So Paulo, Hagnos, 2008. P. 464. 32 Perceba que o ensino correto orienta aes corretas. 33 CALVIN, John Calvin's commentary. STERGIOU, Costas. Op. Cit. 34 VINCENT, Marvin R. Marvin Vincent's Word Studies has been treasured. STERGIOU, Costas. Op. Cit.

  • No caso de Tt 1.1 os complementos f e conhecimento apontam para o futuro, pois fazem

    referncia aos eleitos35, e quando isto acontece, Paulo designa direo, propsito (2Tm 2.10).

    Desta forma, 1Tm 1.1 pode e deve denotar conformidade, mas Tt 1.1 no. Tal pensamento

    faria sentido, mas teramos de considerar as palavras pi,stij e evpi,gnwsin como sinnimas

    neste texto, o que afirmado por Calvino ao entender a conjuno kai. com o sentido isto .

    Pois ele [Paulo] est explicando a natureza da f que ele mencionara36. No entanto, esta

    concluso no se harmoniza com o ministrio de Paulo, j que ele desde o incio at o fim de

    seu ministrio se empenhou por proclamar o evangelho (ou seja, promover a f) e

    fundamentar as igrejas com o ensino correto (ou seja, promover o pleno conhecimento da

    verdade)37. Alm do mais, isto se harmoniza com o contedo da carta, que demonstra tanto a

    salvao de Deus aos homens (2.11; 3.4-7), quanto o dever de entenderem corretamente a

    Palavra de Deus (1.11; 2.1) e assim viverem de acordo com ela.

    Robertson, por sua vez, afirma que este kata. expressa o objetivo do apostolado de Paulo,

    no o padro pelo qual ele foi escolhido38. Fairbairn tambm afirma que a preposio, neste

    texto, deve ser entendida no sentido de destino39. O que parece mais razovel do que

    conformidade. Thayer's Greek Lexicon40, comentando sobre kata,, afirma que a preposio

    tambm tem o sentido de finalidade, de alvo, propsito para o qual algum se move. Os

    seguintes exemplos so usados por ele: katV evpaggeli,an zwh/j - para promessa da vida (2 Tm

    1:1); katV euvse,beian - visando piedade (1 Tm 6:3; Tt 1:1); kata, pi,stin - despertar, produzir f

    (Tt 1:1)41.

    importante destacar que este no um uso desconhecido por Paulo. (Fp 3.14; 2Co

    11:2142). Alm do mais, ele faz tambm sentido quando Paulo narra o propsito de sua

    converso e ministrio (1Tm 1:16, 2.7), pois Paulo foi estabelecido para o ministrio kata. th.n

    dwrea.n th/j ca,ritoj - de acordo com o dom da graa (Ef 3.7), e no de acordo com a f e o

    35 Calvino afirma que a palavra evkle,ktwn - eleitos faz referncia aos eleitos desde o princpio do mundo demonstrando que Paulo pretendia dizer que no ensinava nenhuma doutrina que no estivesse em harmonia com a f de Abrao e de todos os pais. CALVINO, Joo. Pastorais: 1 Timteo, 2 Timteo, Tito e Filemom. P. 298. Embora isto seja possvel, no faz sentido na funo da percope dentro da carta, pois deixaria de prover lembrana a Tito sobre o foco de seu ministrio em Creta. Veja a funo desta percope na sntese exegtica. 36 Ibid. P. 299. Este pensamento s faria sentido na carta se f significasse tanto a proclamao do evangelho quanto o profundo entendimento das verdades das Escrituras, o que conduziria os leitores a uma vida correta. 37 Perceba-se que Paulo depois de anunciar o evangelho nas cidades por onde viajava, voltava confirmando (fundamentando na verdade) as igrejas (At 15.41; 18.23). Alm disto, o nmero de cartas escritas por pelo apstolo demonstra sua preocupao no s por pregar o evangelho, mas tambm por promover o pleno conhecimento da verdade. Qualquer outra passagem que aborde somente a pregao do evangelho como misso de Paulo precisa ser entendida luz da vida e dos escritos de Paulo como um todo, para que sua misso no seja limitada, at mesmo 1Co 1.17 deve ser entendida luz do contraste entre pregar o evangelho e batizar. 38 ROBERTSON, Archibald Thomas. Word Pictures in the New Testament. STERGIOU, Costas. Op. Cit. 39 FAIRBAIRN, Patrick. Pastoral Epistles. Pg. 256-257. 40 Thayer's Greek Lexicon. BibleWorks7 Software. 41 Exemplos deste uso em Liddell-Scott Lexicon so: kata. qe,an h[kein ter vindo com o propsito de ver, Tucidides (IV a.C); katV th,n timh,n tou/ Qeou/ tou/to poiw/n, fazendo isto para a honra de Deus, Josephus (I d.C.), Antiguidades 3, 11, 4. STERGIOU, Costas. Op. Cit. 42 para desonra digo, kata. avtimi,an le,gw. As verses traduzem de formas bem diferentes, no entanto, est claro que Paulo no usou um kata. de conformidade, cuja traduo seria: de acordo com a desonra digo.

  • conhecimento. Em acrscimo a esta idia, o apstolo afirma que evdo,qh h` ca,rij au[th( toi/j

    e;qnesin euvaggeli,sasqai - esta graa foi dada para anunciar o evangelho aos gentios (Ef 3.8).

    Assim, percebe-se que o apostolado de Paulo no conforme a f e o conhecimento, mas de

    acordo com o chamado, vontade, graa e mandato de Deus (Rm 1.1; 1Co 1.1; 2Co 1.1; Ef 1.1; Cl

    1.1; 1Tm 1.1; 2Tm 1.1).

    O uso de kata, neste sentido demonstra que Paulo tinha como propsito despertar a f

    que os escolhidos por Deus exerceriam, ou seja, pregar a mensagem do evangelho, e promover

    o ensino da verdade.

    A palavra evklektw/n - eleitos43 foi usada para descrever Israel, o povo de Deus no AT

    (1Cr 16:13; Sl 105:6, 43; Is 43:20, 45:4)44. Alm de descrever pessoas, ela usada para anjos

    (1Tm 5.21). uma palavra com caracterstica seletiva (Mt 22.14), que faz referncia aos

    salvos45, tanto os salvos da igreja (Rm 8:33; Cl 3:12; 1Pe 2:9), quanto os da grande

    tribulao46 (Mt 24.22, 24, 31). Tais pessoas, alm de serem o alvo do ministrio de Paulo

    (2Tm 2.10, Tt 1.1), so beneficiadas pela ao justificadora de Deus (Lc 18.7; Rm 8.33). H

    claramente um propsito47 em ser um evklekto,j - eleito, o que implica tanto uma tarefa (1Pe

    2:9) quanto um estilo de vida dentro de um padro agradvel a Deus (Cl 3.12). A palavra foi

    usada tanto para um grupo de pessoas como para indivduos (Rm 16.13; 2Jo 1.1, 13), e

    tambm descreve Jesus (Lc 23.35; 1Pe 2.4, 6). Por fim, a palavra descreve aqueles que estaro

    com o Cordeiro na destruio do sistema mundial governante no fim dos tempos (Ap 17.14).

    A forma verbal usada para os apstolos que Jesus escolheu (Lc 6.13; Jo 6.70; At 1.2,

    24), e para designar seletividade ao fazer diferena entre os 11 e Judas (Jo 13.18) e

    demonstrar a procedncia da escolha apostlica (Jo 15.16). Tal escolha implica separao

    intrnseca (Jo 15.19), e por isto a possibilidade de resultados diversificados (Jo 15.20).

    usado para escolha ministerial, quer sejam tarefas momentneas ou no (At 6.5, 15.7, 22, 25).

    Reflete tambm o tipo de pessoa que Deus predominantemente escolheu para demonstrar

    Sua glria48 (1Co 1.27-28; Tg 2.5). Designa a escolha do Filho pelo Pai (Lc 9.35), a escolha de

    Israel por Deus (At 13.17), e o Seu propsito na escolha das pessoas que compem a igreja (Ef

    1.4). Alm disto, usada para decises cotidianas (Lc 10.42; 14.7).

    43 O estudo desta palavra no tem o propsito de lidar com a chamada doutrina da eleio. campo extenso e requer mais tempo e espao do que proposto para este trabalho. Sugiro que o estudante lide com os seguintes versculos, mesmo entendendo que tais versculos no refletem, nem de perto, a abrangncia do assunto (Ef 1:4; Gl 1:15; 2Tm 2:10; 1Co 10:32-33; Jo 16:8; At 13:48, 2:47; 2Ts 3:2; 2Tm 1:9; Ef 1:11; 3:11; 1Tm 2:4; Mt 23:37; Mt 25:41; 1Pe 1:1-2). Veja tambm GUTHRIE, Donald. New Testament Theology. Pg. 622-627. 44 MOUNCE, William D. Op. Cit. P. 379. 45 Aqueles que creram em Cristo como seu substituto, e por isto vo desfrutar do cu como herana eterna. 46 Este estudante entende que estes textos de Mateus 24 referem-se tribulao. Cf. PINTO, Carlos Osvaldo. Op. Cit. P. 57. 47 O propsito refletir as virtudes de Deus no mundo, quer por aes quer por palavras. 48 Com esta frase no especifico como a participao destas pessoas nesta escolha.

  • O genitivo no poderia ser objetivo, porque a palavra evkle,ktwn - eleitos no o objeto

    da f49. H possibilidade de ser genitivo de posse, designando a f que pertence aos eleitos.

    Neste sentido, a f seria dos eleitos por que eles a possuem e no por serem donos dela. No

    entanto, parece mais provvel que seja um genitivo subjetivo, porque esta a opo mais

    usada pelo genitivo quando acompanhado pela palavra pi,stij50, por causa da natureza da

    palavra evkle,ktwn - eleitos que pessoal, e por pi,stij apontar para um dos propsitos do

    ministrios de Paulo (Cf. 1Tm 2.751; 2Tm 2.10). Alm do mais, um genitivo de posse, excluindo

    o fato que os eleitos no so donos da f, no teria sua fora caracterstica, e por isto teria o

    mesmo significado de um genitivo subjetivo. A idia demonstrada por Paulo, ento, parece ser

    como sugerido na traduo acima, a saber, a f que os eleitos de Deus exercero52. Neste

    sentido, aponta para o futuro iniciado na comisso de Paulo, e no para o passado, como

    afirma Calvino53.

    e pleno conhecimento da verdade que conduz piedade (kai . e vpi ,gnwsin

    a vlhqei ,aj th /j katV eu vse ,beian)

    Alm de proclamar a f, a misso de Paulo envolvia promover evpi,gnwsij. Isto significa

    que Paulo trabalhava para promover nos crentes um conhecimento profundo, pessoal e

    ntimo. evpi,gnwsin usada por Paulo em Ef 4:13 relacionando-a com a maturidade crist. Este

    conhecimento progressivo (Cl 1:10) e leva a uma vida plena e agradvel a Deus (2Pe 1:3).

    Aqueles cujo estilo de vida desagrada a Deus desprezam tal conhecimento (Rm 1.28). E

    mesmo aqueles que tm zelo por Deus podem agir de maneira errada caso no possuam este

    conhecimento (Rm 10.2). Paulo orava para que os Efsios fossem cheios de evpi,gnwsij (Ef

    1.17), a orao tambm buscava este conhecimento de modo que o amor deles fosse

    direcionado por evpi,gnwsij (Fp 1.9), e os colossenses eram tambm alvo deste desejo de

    Paulo (Cl 1.9-10, 2.2, 3.10). Em Timteo, como nas outras cartas, evpi,gnwsij produz estilo de

    vida agradvel a Deus e est diretamente ligado com avlh,qeia - verdade (1Tm 2.4; 2Tm 2.25,

    3.7). interessante notar que o conhecimento da verdade no est desvinculado do

    conhecimento sobre Deus (1Tm 2.454).

    49 Os seguintes exemplos demonstram genitivos como objetos da palavra pi,stij (Mc 11.22; Rm 3.26; Gl 2.16; Cl 2.12; 2Ts 2.12; Tg 2.1; Ap 14.12). 50 WALLACE, Daniel B. Gramtica Grega: Uma Sintaxe Exegtica do Novo Testamento. P. 116. 51 Perceba que Paulo usa a mesma idia de propsito do seu apostolado que Tito 1.1. Ele demonstra que seu ministrio ensinar os gentios com relao f e verdade. 52 O verbo suprido para a traduo est no tempo futuro por entender que Paulo tem em mente sua designao inicial para o apostolado. Assim, contempla os eleitos da perspectiva do incio de seu ministrio. A traduo poderia estar no tempo presente ou no futuro do pretrito. Talvez no tempo passado, caso fosse possvel no excluir aqueles que exerceriam a f no futuro. 53 Cf. acima. 54 Embora aqui ser salva e chegar ao pleno conhecimento da verdade possam ser nuanas diferentes do mesmo significado, em Tito 1.1 a palavra piedade demonstra que f e pleno conhecimento so coisas relacionadas, mas diferentes.

  • A palavra avlh,qeia aqui parece fazer referncia Palavra de Deus, pois um tipo de

    verdade que conduz piedade (katV euvse,beian)55. A preposio kata, mais uma vez indica

    propsito, pois na mente de Paulo o pleno conhecimento tem como propsito produzir estilo

    de vida agradvel a Deus (Cl 1.9-10). Tambm importante ressaltar que tal conhecimento s

    pode estar em conformidade56 com a imagem de Cristo (Cl 3.10), que o padro de tudo que

    agrada a Deus. Este pensamento, por sua vez, ecoa as palavras de Jesus em Jo 17:17, por quem

    Paulo foi ensinado pessoalmente (Gl 1:11-12; 1Co 11:23). Isto se harmoniza com a carta no

    sentido de que o conhecimento correto (cf. s doutrina em 2.1) deveria produzir aes

    corretas, pois o ensino errado dos falsos mestres estava produzindo aes erradas tanto em

    seus ouvintes (1.11), quanto nos prprios falsos mestres (1.16).

    Com a escolha da palavra euvse,beia, Paulo demonstra sua oposio ao ensino dos falsos

    mestres cretenses, que era caracterizado por ser danoso igreja (Tt 1:10-16).

    euvse,beia foi usada na LXX para traduzir a frase temor do Senhor (hw"hy> ta ;r > y > - Is 11:2,

    33:6) e o advrbio euvsebwj (piedosamente) para traduzir a palavra justo (qyDIc; - Pv 12:12), que

    indica algum fiel aliana feita com Yahweh (hw"hy>).

    No NT, a primeira ocorrncia de euvse,beia em At 3:12, onde Pedro declara que no foi por

    seu poder ou piedade (euvse,beia) que curou um coxo de nascena. Em 1Tm 4:7-8 Paulo demonstra

    que piedade traz recompensas nesta vida e na vida que h de vir. Ainda em 1 Timteo, Paulo

    relaciona a palavra com o ensino correto (1Tm 6:3-6). A ausncia de perseguio parece contribuir

    para uma vida piedosa (2Tm 3:12 cf. v.10-11). Quando usada por Pedro, o apstolo demonstra que a

    piedade est sempre vinculada com o procedimento correto, santo, de acordo com o carter de Deus

    (2Pe 3:11).

    Em Tito 1.1, percebe-se que euvse,beia algo produzido pelo conhecimento da verdade.

    Em Tt 1.11 e 16, Paulo, ao reprovar tanto o ensino quanto o estilo de vida dos falsos mestres,

    afirma que eles so pessoas desviadas da verdade (Tt 1:14 cp. v. 12). Isto orienta o significado

    da palavra piedade para um estilo de vida que o conhecimento da verdade produz. E uma

    vez que verdade refere-se aos ensinos da Palavra de Deus, tal estilo de vida baseado no

    conhecimento do carter, plano e vontade de Deus para o homem.

    Assim, seu sentido no texto que o ministrio de Paulo promoveria um conhecimento

    profundo e prtico acerca do carter, plano e vontade de Deus para os homens, de modo que este

    55 Veja comentrio sobre piedade abaixo. 56 Este seria outro possvel significado para a preposio.

  • conhecimento levasse os crentes a um estilo de vida reverente, devotado, consagrado a Deus, que

    baseado em Sua Palavra57.

    1.2 - para esperana da vida eterna (e vpV e vlpi ,di zwh /j ai vwni ,ou)

    O sentido da preposio evpi, expresso pela maioria das tradues que, tanto a f como o

    conhecimento esto fundamentados na esperana da vida eterna. Isto quer dizer que evlpi,di -

    esperana a base da f e do conhecimento promovidos por Paulo, ou ainda pode significar

    que a esperana a motivao para o ministrio de Paulo produzir f e conhecimento.

    Calvino diz que a preposio significa em virtude da esperana. [E] isso denota, sem

    dvida, a causa, que a fora da preposio evpi,, portanto, pode ser traduzida assim: Em razo

    da esperana. A verdadeira religio e a prtica da piedade comeam com a meditao sobre a

    vida celeste58. Guthrie diz que a preposio sugere que tal esperana a base na qual o

    servio cristo edificado59.

    J algumas verses como The New Jerusalem Bible, New Living Translation (ingls),

    Reina-Valera Bible (Espanhol) e NVB San Paolo Edizione (Italiana) fazem opo por uma

    frase que designa propsito, ou seja, para a esperana da vida eterna.

    Mounce60 entende que o mesmo sentido e que a mudana de preposio, de kata, para

    evpi,, pode ser simplesmente questo de estilo, j que Paulo faz isto em 1Ts 4:7 com as

    preposies evpi, e evn, onde tambm indicam propsito.

    A opo de Mounce parece fazer mais sentido do que a de Calvino e Guthrie, pois as

    Escrituras demonstram a esperana como produto da f (Rm 5.1-4; Ef 1.17-18; Cl 1.23) e do

    conhecimento (Rm 8.21-24; Rm 15.4; 2Co 1.7; Ef 1.17-18; 1Ts 4.13), e no como sendo a

    motivao ou a base. A prpria carta de Tito demonstra que salvao (pela f) vem antes da

    esperana do encontro com Cristo (Tt 2.11-13).

    Alm do mais, possvel entender a preposio evpi, como designando propsito, da

    mesma forma como kata,, j que evpi, tambm foi usada por Paulo desta forma (Gl 5:13; Ef 2:10;

    1Ts 4:7; 2Tm 2:14).

    No sentido de propsito ou direo, h duas maneiras de se entender o fluxo do texto: 1)

    O propsito do ministrio de Paulo era promover a f, o conhecimento da verdade e a

    esperana da vida eterna, ou 2) o propsito era promover a f e o conhecimento que por sua

    vez produziriam esperana da vida eterna. Este estudante prefere no considerar f,

    conhecimento e esperana como trs propsitos do ministrio de Paulo. Parece que a

    57 Veja que a frase conhecimento da verdade conduz piedade demonstra doutrina e prtica andando juntas. Um tema abordado em Tito. 58 CALVIN, John Calvin's commentary. STERGIOU, Costas. Op. Cit. 59 GUTHRIE, Donald. The Pastoral Epistles: an introduction and commentary. P. 182. 60 MOUNCE, William D. Op. Cit. P. 380.

  • mudana de preposio foi intencional e no estilstica j que no h um paralelo entre as

    duas preposies como no caso de evpi, e evn em 1Ts 4:7. Alem do mais, a f e o conhecimento

    esto ligados preposio kata,, e a esperana est ligada a evpi,. Assim, parece que Paulo

    pensou em f e conhecimento como sub-propsitos de um propsito maior, a esperana da

    vida eterna. Isto poderia ser visualizado da seguinte maneira:

    Ainda se pode observar que a misso de Paulo de promover esperana tambm

    demonstrada em outras de suas cartas (Cf. Rm 8:24; 12:12; 15:13; Ef 2:12; Cl 1:5; 1Ts 5:8 f e

    esperana juntos; Tt 3:7; Rm 15.4, 13; Ef 1.18, 2Ts 2.16; 1Pe 1.3).

    Deste modo, parece mais provvel dizer que a misso de Paulo era promover f e

    conhecimento da verdade que por sua vez conduziriam a um terceiro propsito, a esperana

    de vida eterna (1Tm 1.16). Na mente de Paulo, no entanto, no havia dvida ou o mnimo de

    impossibilidade de tal esperana no se realizar (Rm 6.22-23). No se travava de uma

    expectativa duvidosa, mas da certeza de estar eternamente com o Senhor (Tt 2.13; 2Co 5.861;

    1Ts 4.17). zwh/j aivwni,ou refere-se, ento, vida que os cristos certamente desfrutaro

    quando encontrarem com o Senhor. O genitivo pode ser de referncia ou apositivo. Este

    ltimo significaria a esperana que a vida eterna. Assim, a esperana e vida eterna seriam

    consideradas sinnimos. O genitivo de referncia, por sua vez, demonstraria que a esperana

    diz respeito vida eterna. A diferena apenas de foco. O genitivo apositivo focalizaria a

    vida eterna como um todo, o de referncia apontaria para detalhes da vida eterna, o que seria

    mais provvel, uma vez que tanto a f quanto o pleno conhecimento da verdade promoveriam

    tal esperana62. importante ainda perceber que tal esperana, na teologia paulina, deve

    promover trs resultados: 1) A perseverana diante do sofrimento (Rm 8.17-25; 2Co 4:16-

    18); 2) O crescimento em santidade (1Tm 4:7-863); e 3) A dedicao no servio do Senhor

    (1Co 15:50-58).

    a qual Deus, que no pode mentir, prometeu antes dos tempos eternos (h ]n o `

    a vyeudh .j qeo .j e vphggei ,lato pro . cro ,nwn ai vwni ,wn)

    Ao falar sobre a esperana, Paulo traz luz uma faceta do carter de Deus. avyeudh.j

    palavra formada por um a - alfa privativo e yeudh.j - mentiroso, o que demonstra a ausncia

    de tal caracterstica em Deus. O que Deus diz tem que ser verdade. Ele nunca mente64, pois Ele

    fiel e no pode mentir (Hb 6.18, 10.23). O carter de Deus ressaltado aqui como garantia

    do cumprimento de Suas promessas e veracidade de Suas palavras. de particular nota que

    61 Perceba que tal era a certeza de estar com o Senhor que era sua preferncia no permanecer neste mundo. 62 Para uma explanao sobre a vida por vir no pensamento de Paulo veja GUTHRIE, Donald. New Testament Theology. P. 881. 63 Confira a mesma idia em 1Jo 3.2-3. 64 Ibid. P. 96.

  • avyeudh.j est em contraste com yeu /stai (Tt 1:12)65, um adjetivo dado aos cretenses. A

    implicao que os cristos cretenses deveriam no s acreditar nas palavras de Deus, mas

    tambm refletir Seu carter em suas vidas e no imitar o mau exemplo dos falsos mestres de

    Creta.

    A promessa de Deus quanto vida eterna foi planejada por Ele antes de tudo existir (pro.

    cro,nwn aivwni,wn - cp. contraste com evfane,rwsen v. 3). Deus j havia decidido oferecer a vida

    eterna em Cristo antes de haver criado todas as coisas (Ef 1.4; 2Tm 1.9-10; 1Pe 1.20)66. Kelly

    afirma que esta a exegese da maioria dos pais e a entende como correta67. E Hendriksen

    demonstra que este pensamento no s paulino como joanino68. Ward acrescenta que, uma

    vez que a graa foi concedida em Cristo69 (2Tm 1.9), j que ainda ningum existia, Deus fez a

    promessa a Cristo Jesus, que a recebeu em nosso lugar70. Tal afirmao demonstra a

    eternidade de Deus. Ele no est sujeito ao tempo, e por esta razo o nico que pode

    prometer vida eterna. O aspecto planejador de Deus tambm abordado no texto. Desde a

    eternidade Ele planejou a vida eterna, e no h nada que se possa fazer para surpreend-lO,

    impression-lO, engan-lO, ou at mudar Seus planos (cf. Is 40-48).

    1.3 - e em tempos devidos manifestou sua palavra pela pregao - (e vfane ,rwsen de .

    kairoi /j i vdi ,oij to .n lo ,gon au vtou / e vn khru ,gmati)

    O ministrio de Paulo de promover f e conhecimento que levariam a esperana, s

    existia porque Deus decidira revelar Sua Palavra. A frase kairoi/j ivdi,oij significa o momento

    certo, apropriado, o melhor momento da histria71. Isto demonstra que Deus preparou e

    escolheu o melhor momento para revelar Sua mensagem redentora ao mundo (to.n lo,gon

    auvtou/). O Logos de Deus encarnado (Jo 1.1, 14), cuja continuidade da mensagem os apstolos

    deveriam viabilizar (Mc 3.13-19; At 2; Ef 2.20, 4.11), foi tambm anunciado por Paulo como

    um representante comissionado por Jesus Cristo (Tt 1.1; 2Tm 2:9, At 9.15-16)72. O meio usado

    65 Sobre a citao atribuda a Epimnedes, veja comentrio abaixo. 66 Calvino entende a frase pro. cro,nwn aivwni,wn no sentido de que a vida eterna foi prometida ao homem muito tempo antes (CALVINO, Joo. Pastorais: 1 Timteo, 2 Timteo, Tito e Filemom. Pg. 301-302.). Seu argumento dizer que antes do incio de tudo no havia algum para se fazer alguma promessa. No entanto, antes de haver qualquer pessoa Ele decidiu eleger Paulo e os Efsios (Ef 1.4), bem como inseriu Paulo e Timteo em Seu propsito e concedeu sua graa a eles antes da fundao do mundo (2Tm 1.9). Outra questo a ser considerada que a preposio pro, em nenhum texto bblico usada desta forma sem alguma dvida (mesmo as passagens possveis so poucas). 67 KELLY, J. N. D. I e II Timteo e Tito: Introduo e Comentrio. P. 227. 68 HENDRIKSEN, William. New Testament Commentary: Exposition of The Pastoral Epistles. P. 342. 69 Ou, por meio de Cristo, uma vez que Ele o agente da graa divina. 70 WARD, Ronald A. Commentary on 1 & 2 Timothy & Titus. P. 235. Perceba que a idia de Deus prometer algo a Cristo e Ele por sua vez conceder aos homens no desconhecida no NT (Lc 24.49; At 1.4, 2.33). 71 Ao passo que cro,noj focaliza o tempo ou a data do acontecimento, kairo,j se concentra no acontecimento de uma determinada data. No entanto podem ser usados como sinnimos. 72 Embora Kelly, Fairbairn, Hendriksen e Mouce entendam lo,goj aqui como o evangelho, parece mais provvel entend-la tanto no sentido de evangelho quanto no sentido do Verbo encarnado. As razes so: 1) A mensagem da vida eterna nunca foi pelos apstolos desvinculada do lo,goj encarnado, morto e ressurreto. Se Cristo no h evangelho, pois Ele as boas novas; 2) O contraste entre prometeu antes dos tempos eternos e manifestou em tempos devidos demonstra a relao eterna entre o Pai e o Filho, bem como o momento escolhido para a encarnao, morte e ressurreio; 3) A promessa da vida eterna est, em todos os

  • por Deus para a propagao da mensagem foi evn khru,gmati - pela pregao73, e tal khru,gma

    seria anunciada por um instrumento humano74. O cognato de khru,gma, ou seja kh/rux, foi

    usado na literatura antiga para um mensageiro pblico75, o qual neste sentido anunciava tanto

    a presena como as declaraes de um rei, e ainda foi usado para um mensageiro de guerra, o

    qual intermediava os acordos e propostas entre as naes76. Herdoto usou kh/rux

    intercabiavelmente com avpo,stoloj, o que demonstra uma possvel associao das duas

    palavras por parte de Paulo77. kh/rux era um ofcio de confiana em vista do alto valor da

    mensagem anunciada e de sua procedncia. A mensagem do evangelho, revelada por Cristo e

    entregue aos Seus mensageiros autorizados, era de imenso valor para Paulo, no s pelo seu

    contedo, mas tambm e principalmente por sua procedncia, o Deus eterno e o Logos

    encarnado.

    a qual eu fui confiado por mandato de Deus, nosso Salvador - o ] e vpisteu ,qhn e vgw .

    katV e vpitagh .n tou / swth /roj h `mw /n qeou /

    A voz passiva empregada no verbo evpisteu,qhn mais uma vez demonstra que o valor da

    mensagem e da misso est nAquele que confiou a mensagem a Paulo (tou/ swth/roj h`mw/n

    qeou/). Alm do mais, apresenta Paulo como representante autorizado da mensagem divina, o

    que demonstra a honra de sua misso. Como era de se esperar, uma misso honrosa implica

    grande responsabilidade, a qual intensificada pela palavra evpitagh.n. A palavra significa

    mandamento, ordem (Rm 16.26; 1Co 7.6, 25), ou autoridade (Tt 2.15). A misso de Paulo no

    foi uma escolha pessoal, e sim ordenada pelo prprio Deus (Tt 1.3; 1Tm 1.1). A conscincia de

    tal responsabilidade percebida com clareza pelas prprias palavras do apstolo em 1Co

    9:16.

    O Deus que havia ordenado Paulo chamado por ele de swth/roj. Isto destaca mais um

    aspecto do carter do Pai. Ele nosso salvador (swth/roj h`mw/n). Paulo, alm de se incluir como

    objeto da obra salvadora de Deus, demonstra Sua participao ativa no processo redentor do

    homem (cp. Lc 1.47; 1Tm 1.1, 2.3, 4.10). Tanto o Pai quanto o Filho recebem esta designao

    (Tt 1.4), e mais ningum no Novo Testamento recebe este ttulo, o que sugere no s a ntima

    ligao de Jesus com Deus Pai, como tambm a divindade do Filho.

    sentidos, vinculada ao lo,goj de Deus; 4) A ordem que Paulo recebeu de Jesus foi: levar o meu nome perante os gentios, e os reis, e os filhos de Israel (At 9.15). 73 Ward prefere que a preposio evn signifique em e no por. Isto por afirmar que tal interpretao preserva Paulo de limitar a manifestao ao seu prprio sermo (WARD, Ronald A. Commentary on 1 & 2 Timothy & Titus. P. 236.). No entanto, o fato de a pregao ter sido confiada a Paulo, no significa que ela est limitada a ele, mas que ele um portador da mensagem. Veja o comentrio sobre a palavra kh/rux que demonstra um portador da mensagem e no o nico detentor. A escolha do ou dos portadores feita pela pessoa de quem procedeu a mensagem. 74 Neste caso refere-se a Paulo. 75 LIDDELL, Henry George & SCOTT, Robert. A Greek-English Lexicon. STERGIOU, Costas. Op. Cit. Termo kh/rux. 76 Tucdides V a.C. 77 Isto no significa que Herdoto usou a palavra apstolo no sentido que os doze ou Paulo foram chamados, mas demonstra que os campos semnticos tm alguma ligao.

  • O desejo de Paulo a Tito foi a proviso de Deus e Jesus (1.4)

    O ltimo versculo da saudao comea citando o nome de Tito78, um fiel e estimado

    companheiro de Paulo. Tal saudao no pode ser entendida simplesmente como mera

    formalidade, mas como o desejo real do apstolo luz das necessidades de Tito. Assim, as

    palavras do apstolo esto intimamente relacionadas com a tarefa de Tito em Creta.

    1.4 - Verdadeiro filho, segundo a f comum (gnhsi ,w | te ,knw | kata . koinh .n pi ,stin)

    A palavra gnhsi,w| faz referncia a algum genuno, sincero (2Co 8:8) e tambm foi usada

    adverbialmente para demonstrar que o carter de Timteo era inquestionvel, isento de

    dissimulao (Fp 2:20). Ao usar a palavra, Paulo faz um contraste entre o carter de Tito e dos

    falsos mestres, demonstrando logo no incio da carta a autoridade que a vida de Tito lhe

    conferia para ministrar em Creta.

    pi,stin aqui significa a confiana que tanto Paulo quanto Tito depositaram em Jesus

    para perdo de seus pecados. A palavra te,knw| - filho na frase te,knw| kata. koinh.n pi,stin pode

    demonstrar que Tito confiou em Cristo por intermdio de Paulo, ou que ele era seu discpulo

    (cp. Lc 11:19)79. De uma forma ou de outra, Paulo d a entender seu ntimo relacionamento

    com Tito, o que refora a autoridade delegada para o cumprimento das tarefas descritas no

    prximo versculo (Tt 1.5).

    graa, misericrdia80 e paz de Deus Pai e de Cristo Jesus (ca ,rij( e ;leoj( ei vrh ,nh

    a vpo . qeou / patro .j kai . Cristou / VIhsou /)

    O desejo de Paulo a Tito por graa - ca,rij demonstra que seu comissionado necessitava

    da interveno divina para ser modelo (2.7-8) e cumprir sua tarefa em Creta (1.5). O favor

    imerecido, tanto do Pai quanto do Filho, seria imprescindvel para Tito. O mesmo pode ser

    afirmado com relao s palavras e;leoj e eivrh,nh.

    e;leoj demonstra a necessidade que Tito tinha de perdo e proviso dirios para a tarefa,

    mesmo sem merecer (Lm 3:22), pois ele deveria ser modelo de um relacionamento sem

    barreiras com Deus, fruto de arrependimento e confisso constantes. Alm disto, e;leoj deveria

    ser padro usado por Tito nos relacionamentos.

    eivrh,nh, por sua vez, demonstra a tranqilidade interior e prosperidade espiritual, que

    so fruto da ao divina sobre aqueles cuja confiana est completamente depositada em

    Deus. Tito careceria desta paz81 para pr as coisas em ordem na igreja de Creta.

    78 Um panorama da vida de Tito apresentado acima em Tito, o destinatrio. 79 PINTO, Carlos Osvaldo. Op. Cit. P. 461. 80 A palavra misericrdia foi alvo de discusso textual acima e entendida como parte do texto original. 81 importante acrescentar que esta paz obtida em sua plenitude medida que o cristo deposita suas preocupaes aos ps de Deus e confia nEle como Algum que tudo controla e opera em todos os momentos para produzir o carter de Seu Filho nos que nEle creram (Rm 8.28-29; Fp 4:6-7)

  • Mais uma vez o carter do Pai e do Filho destacado. Eles so a fonte82 de ca,rij( e;leoj(

    eivrh,nh. A frase Cristou/ VIhsou/ tou/ swth/roj h`mw/n destaca Jesus como o Messias (Cristo)

    prometido, j que Cristou/ ocorre junto com swth/roj83 (cf. Lc 2.11; Ef 5.23; Fp 3.20; 2Tm

    1.10; Tt 2.13, 3.6; Ato 26.22-2384).

    ACRSCIMOS AO SEU COMENTRIO

    NO LTIMO PONTO DO TRABALHO

    Aplicaes pessoais e para a igreja

    NO APNDICE DO TRABALHO

    Dois estudos lxicos (de vocbulos)

    Estudo teolgico (resoluo de problemas)

    82 Perceba-se a preposio avpo. que comunica a procedncia destes trs conceitos. 83 Veja acima o comentrio do versculo 3 para mais observaes sobre a palavra swth/roj. 84 Neste texto as palavras Cristo e Salvador no aparecem juntas, mas Jesus defendido por Paulo como o Cristo prometido.