EXPERIÊNCIAS DE AFINIDADE COM DESIGN SOCIAL EM UMA INSTITUIÇÃO DE EDUCAÇÃO NÃO

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Experiências de afinidade com design social em uma instituição de educação não-formal Experiments affinity on social design in a institute of non-formal education PIMENTEL, B. G. S.; Especializando; Universidade do Estado do Pará [email protected] PIMENTEL, M. O. S.S.; Doutora; Universidade Federal do Pará [email protected] MACEDO, B.C.; Mestrando; Universidade Federal do Pará [email protected] Resumo A partir do acompanhamento de atividades em uma instituição de educação não-formal e cumprimento das funções técnicas, quais utilizadas normalmente na atividade operacional do design, expor-se-á as reflexões acerca do nível exploratório de ações realizadas, descrevendo- as com base nas recomendações de uma educação para a inclusão social. Os relatos se estruturam em atividades catalisadas pelo design transdisciplinar, aonde se dá sua validade. As necessidades da educação para o design, contudo, prescindem a educação hábil a todas as funções, uma validade universal a par, desde a argumentação do entendimento do juízo estético, até a que se objetiva ao desenvolvimento estratégico. Palavras Chave: design; educação não-formal; design social. Abstract From the monitoring of activites at an institution of non-formal education and enforcement of technical functions, wich typically used in operating activites of design, shown will be reflections on the level of exploration activities carried out, describing on basis of the recommendations of an education for social inclusion. The reports are structured on activites catalyzed by transdisciplinary design, where it gives its validity. The needs of education for the design, however, dispenses education to all skilled functions, along with a universal validity, since the reasoning of the understanding of aesthetic judgment, to which the strategiv development objective. Keywords: design; non-formal education; social design.

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A partir do acompanhamento de atividades em uma instituição de educação não-formal ecumprimento das funções técnicas, quais utilizadas normalmente na atividade operacional dodesign, expor-se-á as reflexões acerca do nível exploratório de ações realizadas, descrevendoascom base nas recomendações de uma educação para a inclusão social. Os relatos seestruturam em atividades catalisadas pelo design transdisciplinar, aonde se dá sua validade.As necessidades da educação para o design, contudo, prescindem a educação hábil a todas asfunções, uma validade universal a par, desde a argumentação do entendimento do juízoestético, até a que se objetiva ao desenvolvimento estratégico.

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Experiências de afinidade com design social em uma

instituição de educação não-formal Experiments affinity on social design in a institute of non-formal education PIMENTEL, B. G. S.; Especializando; Universidade do Estado do Pará [email protected] PIMENTEL, M. O. S.S.; Doutora; Universidade Federal do Pará [email protected] MACEDO, B.C.; Mestrando; Universidade Federal do Pará [email protected]

Resumo

A partir do acompanhamento de atividades em uma instituição de educação não-formal e cumprimento das funções técnicas, quais utilizadas normalmente na atividade operacional do design, expor-se-á as reflexões acerca do nível exploratório de ações realizadas, descrevendo-as com base nas recomendações de uma educação para a inclusão social. Os relatos se estruturam em atividades catalisadas pelo design transdisciplinar, aonde se dá sua validade. As necessidades da educação para o design, contudo, prescindem a educação hábil a todas as funções, uma validade universal a par, desde a argumentação do entendimento do juízo estético, até a que se objetiva ao desenvolvimento estratégico.

Palavras Chave: design; educação não-formal; design social.

Abstract

From the monitoring of activites at an institution of non-formal education and enforcement of

technical functions, wich typically used in operating activites of design, shown will be

reflections on the level of exploration activities carried out, describing on basis of the

recommendations of an education for social inclusion. The reports are structured on activites

catalyzed by transdisciplinary design, where it gives its validity. The needs of education for

the design, however, dispenses education to all skilled functions, along with a universal

validity, since the reasoning of the understanding of aesthetic judgment, to which the strategiv

development objective.

Keywords: design; non-formal education; social design.

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Educação e design A Educação não-formal, não escolar ou ainda extra-escolar, caracteriza-se por uma

proposição de atividades socializantes por meio de uma escolha livre de conteúdos, métodos e objetivos de acordo com a eleição própria, sem constrangimentos da obrigatoriedade de cumprimento de normas oficiais (programas e currículos). A eleição dos objetivos da Educação Não Escolar é feita pela intencionalidade da própria instituição. A instituição que oferta esta modalidade de educação pode definir por objetivos informar, habilitar, ou ainda desenvolver a criatividade aplicada a qualquer campo da produção humana. ‘Se dirige a um

público não cativo, por não participar do jogo de atestados sociais que os diplomas

estabelecem’ (Jacobi apud Simsom, p. 62, 2001). Nesta compreensão, a autora esclarece a plasticidade própria da educação não-formal e seu comprometimento com a necessidade e interesse da clientela que atende.

Nesta compreensão, a Fundação Curro Velho é uma Instituição de educação não-formal destinada ao atendimento de populações diversificadas, sendo estas, crianças em idade escolar, adolescentes e jovens, independente destes terem ou não sucesso escolar. Sendo uma instituição situada próximo a uma área de grande concentração de pobreza, a Vila da Barca, a clientela que mais busca os serviços da Fundação é oriunda desta faixa sócio-econômica, com decisão voluntária de aprender determinados saberes e conteúdos e de construir e aprofundar novas relações sociais. Esta é uma grande diferença entre a Educação Formal e a Educação Não Formal:

Há aqui uma completa inversão, quando se compara esse tipo de educação com a educação formal, a qual possui um público definido e cativo. A educação não formal

precisa atrair e ser capaz de cativar os seus educandos para poder realizar o

trabalho educativo. (SIMSOM, 2001, p. 63, 2001).

A possibilidade dos fundamentos de uma prática docente em uma instituição não-formal e seus benefícios, se transportados para as necessidades de um ensino do Design, apontam sua vigência na atividade nativa da realização de projetos transdisciplinares, objetivados a ganhos na esfera da intangibilidade, mas que pode apresentar-se á análise.

Sendo assim, entre prática da docência, implementação e monitoramento de melhorias nas atividades sistêmicas de projeto, verifica-se uma distância didática necessária para o almejo de novos ganhos frente a uma variada gama de indivíduos: sejam eles envolvidos nas atividades projectuais, convivas do ambiente que forma a circunvizinhança da atividade principal, destinatários a que o projeto se realiza, ou mesmo outra variável de interessados que as atividades de prognóstico não possa visualizar ou prever interatividade ou interesse no projeto. Mesmo com a constante busca pelo fortalecimento do cenário informacional, e pela mitigação antecipada dos limites executivos de todo o ciclo de ações concernentes a projeto, a intervenção intelectual bem fundamentada e articulada – projetada para levar o produto a um outro nível - na etapa de criação dos produtos, pode não se mostrar sólida o suficiente para um êxito exemplar em melhoria dos níveis de qualidade dos produtos.

Por outro lado percebe-se o risco como necessidade vital do sucesso do empreendimento, em nível teórico, prático, e sua pregnância mutável em vários âmbitos da atividade projectual: até mesmo para que haja a continuidade existencial da atividade. Os riscos sociais mais preguinantes para a realização de um projeto ou empreendimento, e que podem ser visualizados por análises de aspectos atributivos do potencial do mesmo de forma expandida, assumem forma intangível, como por exemplo, a questão educacional no sentido restrito de suas contingências relacionadas aos usuários – como educação para a técnica - ou

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até mesmo o fundamento de um problema econômico, portanto, de formação da autocracia interna do sujeito, sua autonomia.

Portanto, é possível afirmar que a educação, ou níveis de educação são questões obrigatórias para o alcance de alguns objetivos relativos à cultura material, neste recorte acerca da atividade projectual. Educação para uma cultura empreendedora, hábil em compreender benefícios, enclaves e entraves das idas e vindas da atividade projectual e gestora, bem como problemas mais superficiais, tal qual o próprio potencial dos atributos da usabilidade em determinada interface informacional (Quaresma, et al., 2008), poderiam ser trabalhados mediante atualização de uma formação para tal usufruto. Possivelmente, o almejo de um fortalecimento individual para composição das qualidades autocráticas de seu próprio sujeito, portanto de uma autonomia de pensamento, discernimento e fortalecimento de critérios de escolha (Freire, 1996) o também seriam realizáveis neste aspecto, diretamente ligados à necessidade de mudanças mais fortes nos setores educacionais do Brasil.

Quanto ao termo educação, se aceita uma premissa expandida: hábil em reunir elementos do cognitivismo em sua forma holística, a partir da ação conjunta de sentidos, capacidade reflexiva em contínuo desenvolvimento e em níveis diversos de desempenho, e, enclaves físicos, hábeis em externalizar mediante os limites da universalidade humana, ações de ressignificação da realidade. Porém, ações em contato com a realidade passam por um equipamento interno complexo antes de ser externalizado (Oliveira, 1992), e dentre uma das canalizações a que se destina a comunicação que advirá por entre os sentidos, está o que é composto para o ambiente institucional.

Como ambiente institucional educativo, se aceita o local da escola ou órgão a que se destina a contínua formação dos elementos responsáveis pela condução das capacidades intelectuais, valorais, técnicas e profissionais do ser humano (a considerá-las parte integrante de um conceito maior e existencial, metafísico), com devidas considerações e diferenciações acerca de método, ferramental e objetivo imediato, a ser aplicado em acordo com a faixa etária e condições concretas de execução dado um recorte sócio-econômico.

Sendo assim, é possível diferenciar mediante antagônicas orientações educacionais, o caráter da linguagem produzida em sua amplitude de complexidade e componentes formantes – ligados á interpretação subjetiva, ou ao objetivo prático, no teor do reflexo mediante exigência, assim por dizer, institucional. Tal discrepância entre fim (reflexo e ação) e finalidade (intuitiva e executiva), é regida pelas variáveis sistêmicas da práxis educativa e sua relativa avaliação de execução. Como fortes componentes de uma boa situação de educação, poderíamos admitir: o elemento indutivo, capaz de conduzir e fomentar o afinco na formação intelectual para a autonomia no sentido ontológico; o integrante responsável pela progressividade do aprofundamento técnico; e o aparato responsável pela composição detalhada da superfície emocional, componentes estes habilitados pelo desenho instrucional.

Mediante o entendimento das Inteligências Múltipas (Gardner, 1995), verifica-se um fértil campo de estudos acerca de suas interrelações e compreensão do que seria realmente benéfico educacionalmente no lidar com a Inteligência Espacial, em termos de acréscimo á sua desenvoltura, para o fim do aperfeiçoamento ou para o desenvolvimento de alternativas.

Mediante a compreensão das Artes Visuais em sua concepção modernista (Donis, 1991), e um entendimento sistêmico das possíveis e férteis comunicações entre suas categorias - seja para fins de estruturação de um equipamento técnico educacional e didático, para visualização em prognóstico artístico, ou mesmo para organização de uma linha histórica – compreende-se que, mediante a localidade acidentada e transpassada de suas categorias, têm-se uma excelente formulação acerca dos fins a que uma Inteligência Espacial pode explorar.

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Com estas considerações delineadas, é possível apontar a importância do Design – seja como estruturante do conteúdo instrucional, ferramenta técnica, ou patamar da elaboração subjetiva – na formulação da autonomia do indivíduo, diante da compreensão profunda da realidade circundante, portanto em certo grau, do materialismo, da historicidade hábil à construção dos objetos, e, portanto, dos conflitos e jogos de interesses sociais levados a cabo pela discrepância econômica. Tal nível de compreensão está agregado ao nível de desenvolvimento do equipamento capaz de produzir discernimentos, frente à coletiva autonomia de pensamento no qual a educação para tal fim se alicerça (Bill, et al., 2006).

O projeto endógeno O projeto endógeno (Bonsiepe, 1993) apresentado muitas vezes incluindo a opção de

um vocábulo regionalizado dos termos mais usuais utilizados na atividade de design de produto (Guimarães, et al.; 2006), aponta a presença desta autonomia levada á cabo pela potência trazida pela educação para a atividade projectual, somada ao entendimento aprofundado de uma realidade materialmente acessível pela dialética. Daí a importância da opção e prioridade em criação de projetos nativos, projetos nacionalizados (ou mesmo regionalizados), destinados à competitividade mercadológica mais acirrada.

Porém, compreende-se que o abismo tecnológico que gera a incapacidade de concretizar projetos endógenos é recorrente, e representa mediante sua compreensão, um dos principais problemas ligados à velocidade com que a cultura material se apresenta e é capaz de gerar renda, portanto, fortalecer-se economicamente e também - de forma conseqüencial - politicamente. Sem uma tecnologia apropriada ou suficientemente amadurecida para a inovação, pronta para complementar ou mesmo confrontar o ciclo de fornecimento de uma cultura material historicamente representada por produtos ocidentais, competição, e gestão direcionada a uma autonomia se firmam como metas mais distantes.

Tal como a se compreende o intento da educação para o design afincado aqui, como tentativa de organizar uma breve locação das áreas e habilitações para a autonomia, verifica-se também a necessidade de um embasamento acerca da epistemologia, a vigência da plataforma de pensamento propícia ao caráter da finalidade, inteligência, ou área, e esta intermitentemente ligação com a experiência real de conhecimento de uma cultura material galgada pelo design contemporâneo.

Como parte integrante desta autonomia levada á cabo seja pelo design como organizador, técnico ou estrategista, o desenvolvimento e co-participação do designer em tarefas da economia regional, tal qual um vínculo objetivo nas diretrizes de inclusão social (Mendes, et al., 2006) muitas das vezes apontado como um alicerce esquecido pela sustentabilidade econômica é verificado como área estratégica (estrutural), e fértil da atividade empresarial.

O design social Para Design Social verifica-se na ágil definição em Castro, et. al., 2006: '(...) forma de

concretização de idéias que possibilitem um processo de transformação na sociedade (...)' (p. 2).

De forma complementar, a própria maneira com que o design se apresenta para tentar criar oportunidades de gerar ativos, renda, ou mesmo promover catalisadores para as mudanças nas formas com que certos usuários interagem – de forma a favorecer uma inversão compensatória - gerando forças sociais que, usualmente iriam progressivamente se concentrar no aprofundamento de suas mazelas economicamente desfavorecidas - estas se apresentam se apropriando de uma tecnologia acessível (e geralmente obsoleta à vista do mercado da

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tecnologia de ponta) na forma de solução para a criação de novos produtos, mediante a visibilidade sistêmica de problema e objetivo intangível (Mendes, et al., 2006).

Nestas situações, a atividade de design em comunidades compreenderá geralmente uma atividade artesanal, munida de tecnologia apropriada, e executada por uma estrutura organizacional flexível, em que a atividade intelectual e a prática de projeto, se intercalam em nível exploratório, muitas das vezes – se estiver sem acompanhamento colaborativo - sem compreensão da divisão de trabalho, ou mesmo, sem o próprio discernimento da atividade de projeto.

Por atividade artesanal, entende-se que em sua realização o ciclo produtivo não apresenta sentido massificado na orientação dos produtos, porém diante de atividades promovidas pelo design social (melhor chamado de design em comunidades), percebe-se a possibilidade de certo esvaziamento no termo assinalado, se é exposta a forma com que a atividade colaborativa é promovida durante os processo produtivos (Martins, 2006), pareada ou não com metodologia assistida por computador. Se a ferramenta informatizada for capaz de apontar as diretrizes de execução de projeto, que possivelmente seriam seguidas durante todo processo produtivo, aí então pode caracterizar-se um aspecto híbrido deste tipo de iniciativa, comprovando-se a possibilidade de uma complementaridade entre métodos que resultam em produtos atestadamente artesanais, e aqueles, orientados por uma metodologia assistida por computador.

Intervenção do design em trabalhos com comunidades

atendidas pela Fundação Curro Velho, em Belém do Pará Sendo a clientela atendida oriunda de um bolsão de pobreza de nossa região urbana,

boa parte desta clientela tem a experiência da exclusão social e escolar. Diante desta realidade, a Fundação cumpre o papel socializador para estas populações à medida que oportuniza o contato com práticas que promovem o desenvolvimento do senso estético, da criatividade, a descontração das tensões, o aprimoramento das diversas linguagens direcionadas a um esforço produtivo que promove a auto-aceitação e a comunicação, incidindo na projeção do educando no seu meio social.

A Fundação Curro Velho (http://www.currovelho.pa.gov.br) é uma entidade ligada ao Governo de Estado do Pará, que promove atividades educacionais, acompanhamento e assistência social á moradores – em sua maioria crianças e jovens de 3 a 18 anos - da Vila da Barca, localidade situada na metrópole de Belém, capital do Pará, frente à baía de Guajará, perímetro conhecido pela continuidade em situações sociais de risco social e pobreza.

Há décadas atendendo a demanda da população local diante dos órgãos responsáveis pela gestão governamental em âmbito Estadual, a Fundação Curro Velho promove de forma sazonal a execução de oficinas, eventos, e atividades educativas utilizando as Artes Visuais como celeiro da formação, geração de renda, recuperação do ente que se encontra em perigo social, e entretenimento do morador dos arredores vizinhos, com um corpo de profissionais e técnicos da área artística, habilitados para a prestação de seus serviços operacionais ou educacionais à Instituição.

O estado da técnica das atividades arte-educativas realizadas no recinto é considerado de teor tal em constante aperfeiçoamento, aonde é realizado por demandas as oficinas, que são geridas por profissionais e apoiados por um corpo técnico responsável por dar suporte e acompanhamento aos instrutores.

O design na Fundação Curro Velho aparece de forma vernacular, ora no limite da técnica informatizada (aonde se dá sua atividade mais recorrente), ora na execução

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acompanhada de projetos participativos. Não chega a tomar forma de Design Participativo (cf. Loureiro, 2008), uma vez que não são construídos signos ou formatos materiais de forma colaborativa com as comunidades, usando para tal como ferramenta principal, o design e suas possibilidades.

Tal perfil de atuação se dá na maioria das vezes em atividades relacionadas a eventos, tal como as datas comemoradas pelo calendário brasileiro, como o Carnaval. No ano de 2012 fora desenvolvido em recorrência de atividades anteriores, a realização de atividades neste intento, para a construção de objetos a serem usadas no desfile em via pública.

O design realizado neste projeto foi utilizado como etapa da formulação conceitual em critérios de decisão acerca dos carros alegóricos a serem construídos para o desfile de carnaval ocorrido no dia 11 de Fevereiro de 2012, a partir do samba enredo intitulado Nas Asas da Vovó, um trabalho firmado a partir do diálogo com alguns membros da população de terceira idade dos arredores, buscando atuar de forma reiterada com participação, inclusão, e fortalecimento da importância destes populares para a história do local de forma sustentável (no sentido intergeracional), bem como para o trabalho da instituição. O argumento a ser levado como memorial visual pela materialidade dos objetos a serem desfilados foi acordado entre comunidade e instituição.

Formato impresso criado e impresso para a divulgação do desfile infanto-juvenil

Fonte: www.currovelho.pa.gov.br

De posse do fundamento argumentativo foi-se iniciada a incursão produtiva de adereços, fantasias e carros alegóricos e outros motivos, em acordo com a compreensão do organograma de um carnaval regular destinado a ocupantes infanto-juvenis, com definição de comissões, destaques e alas. Como reiterado, o design produzido diz respeito a um momento pontual da materialidade de um projeto participativo e de cunho social, cuja importância se reitera mediante a afirmação da dimensão da importância social e um projeto para tal realização, em detrimento da função mais racional, sistêmica ou gregária realizada por um designer.

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Uma vez que a aceitação coletiva do trabalho se dá de forma processual e deveras desvencilhada de seu cunho institucional, foram realizadas várias incursões acerca dos projetos executados contando com os populares contratados e os funcionários da instituição. O resultado comparativo pode ser averiguado no caso de um dos carros alegóricos, o principal, relacionado ao tema do enredo.

Registro de todas as etapas do projeto, a considerar: Criação de Sketches; Estruturação; Modelagem;

Base para pintura. Fonte: O autor (2012)

Projeto finalizado. Fonte: O autor (2012)

A diferença entre a proposta inicial na forma de sketch e o carro desenvolvido é tal grande, que se torna capaz de demonstrar o tamanho da intervenção popular aplicada no conceito. Verifica-se, portanto, a possibilidade desta diferença concreta entre sketches conceituais (produzido pelo designer) e resultado tridimensional do projeto, se viabilizar como ferramenta de monitoramento da qualidade, um termômetro para a atividade. Quanto

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menor a participação direta do designer, maior a intervenção dos participantes do trabalho – portanto, maior sua contribuição para o fortalecimento da autonomia, do empoderamento. Maior a colaboração.

Para estruturação do suporte para modelagem da fuselagem do automóvel, utilizou-se das técnicas artesanais de construção em miriti, peculiar madeira nativa da região. Técnicas de aplicação de papel residual de pacotes de cimento em retalhos de diferente tamanho, umedecidas com um composto aderente, resultado do aquecimento da goma da tapioca (vulgo papietagem), fora utilizada de forma similar à modelagem realizada em papel-machê. Para coloração do objeto utilizou-se tinta PVA e pigmentos para solução. Percebe-se aí efetiva contrapartida da produção artesanal realizada na instituição e sua capacidade de envolver eixos estratégicos, tal qual a gestão de resíduos sólidos.

Não foi utilizado em nenhuma das etapas, qualquer tipo de sistema de metrificação, controle de input/output de materiais, ou qualquer tipo de rigor gestionário formal na produção. As únicas variáveis intervenientes no projeto foram o fornecimento de materiais, prazo, aceitação coletiva, e aprovação por parte da superintendência.

Observa-se o destaque nato de funções comumente percebidas na gerência racional de projetos, na forma popular de seus cumpridores, tal qual o engenheiro sênior e o chefe de mão-de-obra. A relação da superintendência e sua aprovação acerca das atividades realizadas no projeto na sua maioria deram-se diretamente, sem aparatos institucionais ou protocolares.

Apontamentos A difusão dos paradigmas do Design Social, ou Design em comunidades, ou mesmo

projetos participativos em que o Design pode emprestar sua contribuição tem amplo terreno de fertilidade em localidades e iniciativas regidas com o intuito do resgate do perigo social. Diferenças de objetivos, conceituações, diretrizes de projetos se esvaziam mediante o crescimento da importância dos problemas sociais que estão sendo mitigados, ou busca-se mitigar. A execução objetiva das diretrizes institucionais dá lugar a uma estrutura organizacional liquefeita, orgânica, contendo em si, aspectos de interrelação do universo do trabalho mais artesanal, do senso comum e da poética popularesca. A semelhança dos potenciais e problemas da comunidade é reiterada em trabalhos como estes, e a partir deles, podem ser fortalecidos intuitos coletivos aptos á empreendimentos tangíveis e intangíveis, tais pequenos empreendimentos ou mesmo reivindicações políticas, empoderamento.

Plataformas como a Economia Solidária, fair trades e fortalecimento tecnológico do setor do artesanato são eixos correntes na qual o design possui natividade, recorrência histórica, e pode utilizar-se disto perenemente para a realização de contribuições sociais, de contrapartida econômica, e de mobilização política, tudo isto de forma assimilada e ressignificada de forma híbrida, pela cultura local e a história oral.

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