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Departamento de Arquitetura EXPERIMENTOS PARA USOS SUSTENTÁVEIS COM FIBRA DE BANANEIRA Aluno: Stephanie Dexheimer Caplan Orientador: Fernando Betim Paes Leme Introdução As fibras de bananeira (Musa sp) se destacam por ser de cultivo fácil em países tropicais. O pseudocaule, após oferecer o fruto, pode proliferar fungos com difícil controle de tratamento, devido à alta umidade incidente nas plantações, causando danos ao meio ambiental e as pessoas. Como atualmente tem crescido a busca pelas ações sustentáveis, aumentaram as pesquisas com fibras naturais. Por serem renováveis, de baixo impacto ambiental e por promoverem ações de inclusão social, este material permite uso em substituição a materiais sintéticos tornando-o um material ambientalmente mais eficiente. O reaproveitamento das fibras do pseudocaule da bananeira, que normalmente seriam descartadas, está crescendo, sendo aplicado em artesanato, compósitos e em outros usos diversos. Com o objetivo de entender mais sobre as características da fibra da bananeira e seu potencial como um material que absorve substâncias em meio aquoso, seja para fixação de coloração ou mesmo para servir como um elemento de filtragem, inicialmente realizou-se uma pesquisa de caráter teórico para conhecer os aspectos físicos, químico e socioeconômicos que envolvem a espécie. Estes estudos tiveram o intuito de, ao realizar o experimento, analisar o que foi estudado teoricamente para confirmação ou não dessas pesquisas. Para tal, o experimento propõe analisar a capacidade de absorção de resíduos e pigmentos pelas fibras da bananeira, fazendo uso de três tipos diferentes de fibras extraídas do pseudocaule, e também observar se alguma tem maior potencial de absorção. O resultado desse trabalho será muito importante, pois buscamos cada vez mais princípios sustentáveis e métodos para ajudar a diminuir a ações poluidoras no meio que vivemos. Se as fibras do pseudocaule da bananeira podem apresentar potencial para absorção de substancias, seu aproveitamento poderá apontar para uma ótima solução acessível e de baixo custo para filtragem de águas contaminadas. Neste sentido, além do fato dessas fibras já serem muito utilizadas em atividades artesanais, ampliar seu uso como material filtrante e apto também ao tingimento, seu uso mostrará ser um atrativo maior para praticas sustentáveis, de baixa custo e rentáveis para varias famílias.

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EXPERIMENTOS PARA USOS SUSTENTÁVEIS COM FIBRA DE BANANEIRA

Aluno: Stephanie Dexheimer Caplan Orientador: Fernando Betim Paes Leme

Introdução

As fibras de bananeira (Musa sp) se destacam por ser de cultivo fácil em países tropicais. O pseudocaule, após oferecer o fruto, pode proliferar fungos com difícil controle de tratamento, devido à alta umidade incidente nas plantações, causando danos ao meio ambiental e as pessoas. Como atualmente tem crescido a busca pelas ações sustentáveis, aumentaram as pesquisas com fibras naturais. Por serem renováveis, de baixo impacto ambiental e por promoverem ações de inclusão social, este material permite uso em substituição a materiais sintéticos tornando-o um material ambientalmente mais eficiente. O reaproveitamento das fibras do pseudocaule da bananeira, que normalmente seriam descartadas, está crescendo, sendo aplicado em artesanato, compósitos e em outros usos diversos. Com o objetivo de entender mais sobre as características da fibra da bananeira e seu potencial como um material que absorve substâncias em meio aquoso, seja para fixação de coloração ou mesmo para servir como um elemento de filtragem, inicialmente realizou-se uma pesquisa de caráter teórico para conhecer os aspectos físicos, químico e socioeconômicos que envolvem a espécie. Estes estudos tiveram o intuito de, ao realizar o experimento, analisar o que foi estudado teoricamente para confirmação ou não dessas pesquisas. Para tal, o experimento propõe analisar a capacidade de absorção de resíduos e pigmentos pelas fibras da bananeira, fazendo uso de três tipos diferentes de fibras extraídas do pseudocaule, e também observar se alguma tem maior potencial de absorção. O resultado desse trabalho será muito importante, pois buscamos cada vez mais princípios sustentáveis e métodos para ajudar a diminuir a ações poluidoras no meio que vivemos. Se as fibras do pseudocaule da bananeira podem apresentar potencial para absorção de substancias, seu aproveitamento poderá apontar para uma ótima solução acessível e de baixo custo para filtragem de águas contaminadas. Neste sentido, além do fato dessas fibras já serem muito utilizadas em atividades artesanais, ampliar seu uso como material filtrante e apto também ao tingimento, seu uso mostrará ser um atrativo maior para praticas sustentáveis, de baixa custo e rentáveis para varias famílias.

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Figura 1: bananeira (Musa sp)

Fonte: http://www.umpedeque.com.br/bkp/site_umpedeque/arvore.php?id=617

Métodos Experimentais Para realizar o experimento proposto de aproveitamento do pseudocaule de bananeira,

serão definidos alguns passos técnicos, baseados em procedimentos adequados a métodos artesanais e acessíveis a cultivadores da espécie. Definida a parte de aproveitamento da planta, faz-se a retirada do pseudocaule com cortes transversais, e com a amostra em estado natural, prepara-se para as etapas de separação das camadas que envolvem a parte retirada.

Figura 2: Desenho esquemático da Bananeira. Ilustração: Élio José Alves

Fonte:http://www.agencia.cnptia.embrapa.br/Agencia40/AG01/arvore/AG01_31_41020068055.html

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Como primeiro passo, são tiradas as “calhas” do pseudocaule com a mão . Em seguida,

com uma faca paralela a fibra, tiramos uma fibra, com características mais amolecidas, chamada de calha mole. Depois retiramos a fibra chamada de renda, pois ela é toda trançada e delicada. E por ultimo temos a fibra mais rígida, chamada de calha dura.

Feito isso, lavamos com água filtrada essas fibras e deixamos secar por 3 dias.

Figura 3;4;5: Calha sendo retirada manualmente do pseudocaule

Figura 6: Fibra sendo retirada da calha

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Figura 7;8;9: Na esquerda calha mole, no centro a renda e na direita fibra chamada calha

dura

As fibras foram divididas em três grupos, um preparado com bicarbonato de sódio, outro com vinagre e outro grupo que não passara por nenhum preparo, sendo chamado assim de “in natura". Foram separadas 6 “fitas” da calha mole de 4 cm de largura e 40 cm de comprimento, da renda separamos 6 “fitas” de 2 cm de largura e 40 cm de comprimento e para a calha dura foram usadas 4 “fitas” que foram cortadas cada uma em 4 pedaços de 3 cm de largura.

Em uma bacia com 600ml de vinagre, foram colocadas 2 fibras da calha mole, 2 rendas e 4 pedaços da fibra mais dura. E em outra bacia com a mesma quantidade de fibras foram colocados 800 ml de água e 4,6 g de bicarbonato de sódio. Os dois grupos de fibras ficaram 4 horas de molho nas soluções e depois foram lavadas com água filtrada e ficaram secando por 1 dia. Foi observado que as fibras que ficaram de molho tanto no bicarbonato como no vinagre secaram muito mais rápido e ficaram com uma textura e aparência de desidratadas.

Apos esses preparos, foram separadas 6 bacias, 2 panelas , colorau (corante natural que contem semente de urucum) e corante artificial de cor azul, da marca Guarany, chamado SINTEX COR. Em uma panela foram fervidos 3 litros de água e depois colocamos 84g de colorau culinário, de uso comercial. Após a temperatura se estabilizar, foram despejados 700ml da solução em 3 bacias, uma contendo as fibras que não passaram pelo tratamento em meio acido nem básico, outra com parte das fibras que foram tratadas com bicarbonato e outra com parte das que receberam tratamento com vinagre. O mesmo processo foi feito com 3 litros de água fervendo com 14g de corante artificial. As bacias ficaram por 24 horas em repouso e depois as fibras foram tiradas e deixadas para secar em temperatura ambiente.

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Figuras 11;12;13;14: A primeira figura da esquerda mostra o colorau em pó e abaixo mostra a bacia com as fibras e o colorau já dissolvido na água. Na primeira foto a direita, temos o corante artificial azul e logo abaixo, a bacia com as fibras e a solução. As fibras que foram expostas ao corante natural, tiveram uma pequena mudança na coloração. O grupo de fibras que mostraram maior potencial para absorver esse tipo de pigmento foram as que receberam pré tratamento com bicarbonato de sódio, e dos três tipos de fibras, a calha mole e a renda foram as que mais apresentaram mudança de coloração.

Figura 15: Na parte superior da imagem, da esquerda para a direita, temos o grupo que não receber pré tratamento, o que foi tratado com bicarbonato e o que recebeu pré tratamento com vinagre. Logo abaixo no centro, a fibra “in natura”.

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Já as fibras que foram expostas ao corante artificial de cor azul, tiveram uma brusca mudança na coloração. E a renda mostrou um alto poder de absorção, pois foi dos três tipos de fibras, a que mais mudou nos três grupos. Não houve muita diferença quando foram comparados os três grupos, podem as que mudaram um pouco mais foram as que passaram pelo pré tratamento com vinagre.

Figura 16: Na parte superior da imagem, da esquerda para a direita, temos o grupo exposto ao vinagre, o que não recebeu pré tratamento e o que recebeu pré tratamento com bicarbonato de sódio. Logo abaixo no centro, a fibra “in natura”. Para analisar se as fibras apresentam boa fixação e aderência aos corantes, amostras foram colocadas por 30 minutos em 6 copos com 300 ml água filtrada para observar se a cor da água e a cor das fibras iriam mudar. Como as fibras expostas ao corante natural não apresentaram mudança significativa de cor, a água também não apontou alteração, ficando apenas um pouco turva. Já a água que ficou em contato com as fibras expostas ao corante artificial azul, a mudança da coloração da água foi brusca. E fibras não mudaram muito de cor depois de serem retiradas desse banho de água filtrada.

Figura 17: Fibras expostas ao corante natural depois de terem passado um período dentro dos copos com água

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Figura 18: Amostras das fibras tingidas em corante artificial, seguindo a ordem de pré

tratamento (esq. para dir.): meio ácido, não tratada e meio alcalino.

Figura 19: Fibras expostas ao corante artificial apos terem passado 30 minutos submersas em

água filtrada (seguem a ordem da esquerda para a direita seguindo a ordem da fig. 18). Conclusão Para tirar as conclusões desse experimento, foram comparadas as fibras tingidas com as fibras “in natura”. Analisando o potencial de absorção que essas fibras possuem e se esse potencial é modificado quando essas fibras passam por algum tipo de pré tratamento, nesse caso 2 grupos de fibras passam por meio básico e meio alcalino. Também foi observado se ocorreria alguma mudança na capacidade dessas fibras se fossem expostas a corantes artificiais ou naturais. Depois dessas analises, o resultado foi positivo para o potencial dessas fibras de absorverem pigmentos, sendo a renda, fibra que se encontra entre a calha mole e a calha dura, a mais promissora para tal. O segundo fato observado foi que aparentemente a fibra absorveu mais pigmentos do corante artificial, o que afirma, mesmo necessitando estudos mais aprofundados, as boas qualidades dessas fibras com potencial para uso como elemento filtrante. Foi observado também, a questão do pré tratamento com meio acido e básico, no qual para o colorau de cor mais avermelhada, era esperado que a cor ficasse mais intensa nas fibras que foram expostas ao pH acido, o que ocorreu o inverso. A mesma situação ocorreu para a coloração artificial azul, que era esperado que ficasse mais forte em meio alcalino. Esse resultado levou ao questionamento de algumas informações teóricas.

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O resultados apos as fibras ficarem meia hora expostas a água filtrada foram interessantes, mostrando que mesmo as fibras que foram expostas ao corante artificial tendo incorporado o corante, elas liberaram pequena parcela de resíduo de pigmentação na água, porem não houve mudanças drásticas na cor das fibras, mas nada muito significativo. Já em relação as fibras expostas ao corante natural, a mudança da cor das fibras e da água, não foi muito perceptível. Outras situações foram questionadas, como por exemplo, se ao mudar as concentrações de fibra e de quantidade de corantes o resultado seria outro. Outra questão foi se a fibra realmente absorveu o pigmento ou ocorreu apenas aderência superficial. Caso as fibras não tivessem sido separadas, o resultado poderia ser outro. Ou se as fibras tivessem sido aquecidas junto com os corantes, a coloração seria possivelmente diferente. Essas questões levantadas nos mostra a necessidade de um estudo mais aprofundado, mesmo que esse experimento tenha levado a resultados promissores na questão do uso dessas fibras, tanto aproveitamento em sistemas filtrantes quanto para tingimento em trabalhos artesanais. Os resultados apontam sobretudo para geração de renda para populações carentes que façam cultivo da bananeira, indicando assim, caminhos para uso e consumo ampliado de materiais sustentáveis.

Referencias Bibliográficas

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2 – E. C. Dall �Agnol; D. Baraúna; J. S. Anselmo; A. P. T. Pezzin; D. A. K. Silva ; Aplicação de Corantes naturais extraídos de vegetais no tingimento da polpa de papel com variações de mordentes. In: Congresso Brasileiro de Engenharia e Cie�ncia dos Materiais, 18.,2008, Porto de Galinhas, PE, Brasil. Resumos.. Porto de Galinhas: Departamento de Engenharia Ambiental da UNIVILLE,2008. p.9.

3 –Ferreira, E. L. Corantes naturais da flora brasileira: Guia prático de tingimento com plantas. Curitiba: Optagraf Editora e Gráfica Ltda., 1998.

4 –Perini,B.L.B.;Drews,J.L.;Cunha,S.K.K.;Krohl,D.R.;Sellin,N.; Adsorção de corantes de efluentes têxtil por resíduos da bananicultura. In: Congresso Brasileiro de Gestão Ambiental , 3.,2012. Goia�nia/GO. Resumos.. Goiânia: Instituto Brasileiro de Estudos Ambientais,2012. p.6.

5 – Borges, L. A.; Souza, D. S. L. Banana,. Net, Brasília . Agencia de informações Embrapa. Disponível em: http://www.agencia.cnptia.embrapa.br/Agencia40/AG01/arvore/AG01_31_41020068055.html

6 – UM PÉ DE QUE? Programa idealizado por Estevão Ciavatta e Regina Casé. Desenvolvido por Pindorama Filmes e Canal Futura. Apresenta arvores dos biomas brasileiros. Disponível em: http://www.umpedeque.com.br/bkp/site_umpedeque/arvore.php?id=617