Explora Web Magazine

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Ano II - Volume VI - Jan/Fev/Mar - 2014 Sobre lógica e precaução As Gerais sobre duas rodas Encontros Águas vivas no sul do Brasil Páginas Verdes O maior primata das Américas Diário de Campo Longe de Casa México Cavernas pirâmides e recifes

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explora testando novo servidor

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4 Sobre lógicae precaução

As Gerais sobreduas rodas

EncontrosÁguas vivas nosul do Brasil

Páginas Verdes

O maior primatadas Américas

Diário de Campo

Longe de CasaMéxicoCavernas

pirâmidese recifes

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J ane i ro/ F e v e re i ro/ Març o/ 2014 - A no 2 - N º 6

CAPA Pirâmide maia de Kukulkán em Chichen Itzá

Foto: Edson Faria Júnior

Explora Web Magazine é uma produção independente de periodicidade trimestral. Diretor Geral: Edson Faria Júnior. Revisão e conteúdo: João Doria, Rodrigo Costa Araújo Colaboradores desta edição: Alexandre Siqueira Côrrea, Igor I n f o r z a t o , J o n a t h a n L a w l e y , L u c a s C a b r a l , Ma r i na S i s s i n i , P au lo F a r i a Sede : F l o r i anópo l i s / SC E x p l o r e e m w w w . f a c e b o o k . c o m / e x p l o r a m a g a z i n e . C o n t a t e e x p l o r a m a g a z i n e @ g m a i l . c o m

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México, cavernas pirâmides e recifes

As gerais sobreduas rodas

Edson F

ari

a Júnio

r

Longe de casa

Seções

Editorial 3

Mural 4O local para sua ideia,

críticas e sugestões

O Foco é seu 5Suas aventuras, suas fotos,

o seu espaço

Crônicas 7Um jeito diferente de

pensar os fatos

Páginas Verdes 8Conservação, desafios e

ciência: a realidade verde

Destino Aventura 10Mais do que limites,

o seu próximo roteiro

Diário de Campo 12Os bastidores do

meu trabalho

Longe de Casa 23Uma experiência ao

redor do mundo

Encontros 38Na hora certa, em

qualquer lugar

12O maior primatadas Américas

Diário de Campo

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An

o II

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olu

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201

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Sobre lógicae precaução

As Gerais sobreduas rodas

EncontrosÁguas vivas nosul do Brasil

Páginas Verdes

O maior primatadas Américas

Diário de Campo

Longe de CasaMéxicoCavernas

pirâmidese recifes

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Editorial

Meu primeiro contato com a ciência, assim como muitos da minha geração, veio com programas de

TV como X-Tudo e O Professor, ambos da TV Cultura. Antes da internet era a televisão que tentava popularizar a ciência. Infelizmente a televisão não tentava muito (e não tenta até hoje). Felizmente para mim, tinha acesso à biblioteca de mamãe, onde descobri a ficção científica e o fascínio que aquelas fantásticas aventuras traziam para um jovem projeto de gente. Em meio à ficção, descobri livros de divulgação e com eles os prazeres da não ficção científica. Passava horas desvendando os mistérios do corpo humano e do sistema solar, tentando descobrir como funcionava o universo. Cresci e continuo tentando descobrir como funciona o universo. Como Biólogo estudo parte dele, como pessoa me delicio com o todo. Consumo divulgação científica em diversas formas, mas o grosso é disponibilizado pela internet. Existe muita coisa boa por aí, mas existe também muita coisa ruim. A beleza da internet é a liberdade que temos de disponibilizarmos o que quisermos pro mundo todo, o ruim é que o filtro de qualidade somos nós mesmos. Como diferenciar um conteúdo baseados em fatos concretos, de mera especulação desinfor-mada? Desinformação é tática de guerra e a capacidade de separar informação de desinformação é essencial para qualquer órgão de inteligência. Porque seria diferente

pra gente? A Mídia está em guerra pela nossa atenção. Tempo é dinheiro, e tempo gasto consumindo conteúdo é dinheiro pra quem o produziu . Se eu pref i ro consumir o sensacionalismo e a desinformação, contribuo pra que isso se perpetue. Se eu prefiro consumir a informação baseada em fatos, contribuo pra que isso se perpetue. É a lógica econômica colocada em prática. Se a divulgação cientifica é um pequeno nicho de mercado, cabe a nós consumidores consumi-la. Se a divulgação cientifica não é atraente para o consumidor, cabe a nós produtores de conteúdo torna-la atraente. Não muito tempo atrás videogames eram um pequeno nicho de mercado, hoje é uma das maiores indústrias do entretenimento. Por quê? Por que os jogos estão cada vez mais atraentes para o consumidor. A ciência vende. Ou melhor, o discurso c i e n t í f i c o v e n d e ( o u v o c ê a c h a q u e propagandas de pasta de dente sempre tem alguém de jaleco branco porque é bonito?). Mas então, por que a divulgação científica não vende? Ora, falta conteúdo no discurso científico, e discurso no conteúdo científico. Se por um lado o cientista não se preocupa com seu discurso (só quem lê artigos científicos sabe o esforço que é ler alguns por aí), o sensacionalista não se preocupa com seu conteúdo. Não é a toa que o maior ícone da divulgação científica, Carl Sagan, aliava o dom do discurso com o conteúdo científico. A receita de sucesso da divulgação científica. Eu não tenho pretensões de me comparar a Carl Sagan, nem de definir o que é o discurso ou o conteúdo ideal pra divulgação científica. Meu papel aqui é o de instigador, o de fazer você questionar o que consome e o como você consome. Eu tento passar o que aprendi desde criança, que é legal e divertido questionar-se sobre o mundo, que é legal e divertido aprender sobre o mundo. Por isso colaboro com a Explora. Por isso resolvi estudar e trabalhar com biologia. Por isso o meu filtro sempre começa com uma simples pergunta: Será?

João Doria

Revisor

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Mural

A Explora é uma revista interativa e estimula a participação de colaboradores e leitores.

Diversas seções da revista estão abertas para receber contribuições, seja uma foto para a seção O foco é seu, ou um artigo contando os bastidores de sua pesquisa em Diário de Campo. Você é bem vindo para contribuir com o conteúdo da revista.

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Escreva para [email protected] para obter as instruções para autores. Lembre-se de nos dizer o nome da seção da revista que desejas publicar o seu artigo.

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O foco é seu

Parque Nacional Nahuel Huapi, Bariloche, Argentina A beleza estonteante da paisagem faz a

caminhada até o Refúgio de Montanha parecer brincadeira de criança. Paisagem do Refúgio Emílio Frey, entre

as mudanças brucas de visibilidade do céu. Carlos André Zucco Florianópolis, SC

L a g o H a y e s , N o v a Zelândia Próximo a cidade de

Queenstown, na ilha do sul da Nova Zelândia compõe um dos diversos lindos cenários do país. Belas montanhas nevadas a o f u n d o d a p a i s a g e m . F e r n a n d o P e r e s M a r t h e Sorocaba, SP.

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O foco é seu

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Torre Eiffel, Paris, França Sem dúvida um dos cartões postais mais visitados do mundo, e com certeza

um dos lugares mais fotografados, fica ainda mais bonita durante a noite. Fernando Peres Marthe Sorocaba, SP.

Florianópolis, SC, Brasil

Pôr-do-sol no Pântano do sul, bairro no sul da ilha de Santa Catarina. Por entre barcos pesqueiros de manezinhos e olhares curiosos de turistas, a luz do fim de tarde vem das colinas e faz reflexo fulgoroso no mar. Sofhia Rosa Perelló Florianópolis, SC

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Crônicaspor João DoriaFloripa no séc. XXII

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altam mais duas janelas e termino o serviço. As Ftábuas estão no lugar, mais algumas marteladas e os vidros estão protegidos. Agora esse furacão pode passar por aí que minhas janelas não vão se quebrar. Creio que mereço uma cerveja depois de trabalhar a tarde toda. Sento no sofá e ligo a TV. Melhor aproveitar enquanto ainda tem energia e ver as últimas notícias sobre esse Furacão. “... mais informações. Rosana.” “Boa noite, Mário. Como podemos ver nas imagens, o Furacão Tatiane continua em rota direta para Florianópolis. Os últimos modelos indicam que ele deve chegar à Ilha de Santa Catarina nas próximas 4 a 5 horas. A Defesa Civil recomenda que quem ainda não deixou a cidade não saia mais. Os congestionamentos nas rodovias que deixam a Grande Florianópolis prejudicam a saída das pessoas e há risco de que muitos motoristas sejam alcançados pela tempestade ainda na estrada. Mário.” Caramba! Eu que não queria ser pego na estrada. Ainda bem que mandei Leila e as crianças pra Urubici quando a notícia de mais um Furacão se formando na costa saiu. Sozinho aqui na ilha, eu fico mais sossegado. Com a casa preparada e com comida e água pra vários dias sei que posso passar por essa com um bom lucro. Que droga! Como eu posso pensar em dinheiro numa hora dessas? Porra,

Jorge! Eu sei que o meu trabalho é esse. Que ganho dinheiro restaurando os estragos das tempestades e demolindo o que não tem mais concerto. Mas, que droga! Preferia que isso não acontecesse. Já não bastam as casas que o mar tá engolindo? Tem bastante trabalho ali. São Pedro podia dar uma folguinha pra gente e não mandar esses furacões todos os anos. Aqui não é China pô! Não era assim antes. Quando é que isso vai parar?

*** O filme nem tinha acabado quando o sono começou a bater. Foi um dia duro de trabalho, e é preciso descansar enquanto há tempo. Logo a tempestade vai chegar e o barulho não vai deixar ninguém dormir. Mal tinha pegado no sono e um barulho muito forte de alguma coisa batendo me acordou. Parei pra escutar por alguns segundos e percebi que a tempestade tinha chegado de vez. Agora não tinha mais como dormir. Era aguentar a barulheira até tudo se acalmar. Tentei ligar a TV, mas nada aconteceu. E lá se foi mais uma série de postes. Talvez alguns transformadores na subestação. O certo é que seriam uns dois ou três dias sem luz. Olhei pro meu relógio e fiz as contas. O Furacão estava quase uma hora adiantado. Ainda bem que eu não estava na estrada agora. Coitados.

Você estava certo. Essas ruínas da terra sãomesmo impressionantes !

Futuro Submerso

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Páginas Verdespor Alexandre Siqueira Corrêa

e acordo com o dicionário, a palavra lógica Dpode ser interpretada como um modo de raciocinar tal como de fato se exerce, ou se refere a um estudo que tem por objetivo determinar quais as operações que são válidas e quais as que não o são. Já a palavra precaução se refere à cautela antecipada, cuidado ou prudência perante cenários futuros. Para o Direito, a precaução serve como um princípio básico, garantindo que ações envolvendo riscos potenciais cujos resultados não podem ser identificados a partir do estado atual do conhecimento não sejam tomadas. Mas o que estas palavras teriam a ver com páginas verdes? Absolutamente tudo.

Decisões que envolvem o meio ambiente deveriam ser tomadas tendo como base o raciocínio lógico e, principalmente, a precaução, já que a grande maioria das ações que o impactam envolvem riscos desconhecidos pela ciência. Pensando mais especificamente em um tema de extrema relevância para a vida na Terra, as mudanças climáticas são um ótimo exemplo de como a lógica e a precaução podem ser aliadas na tomada de decisão sobre temas polêmicos. Quando falamos em mudanças climáticas, parece que estamos lidando com um debate sem fim, no qual todos possuem argumentos que validam ou invalidam a possibilidade do clima na Terra estar mudando. Os otimistas com relação às mudanças usam argumentos como “Em outros tempos geológicos o clima na Terra já esteve muito mais quente do que está hoje”, ou então “As ações do homem não seriam suficientes para alterar o clima numa escala tão grande”. Já os pessimistas argumentam que “A temperatura na Terra tem sofrido alterações drásticas em um curto espaço de tempo”, ou então “As calotas polares estão se derretendo muito rapidamente”.

Dentro deste debate cheio de incertezas, uma das poucas evidências apresentadas pela ciência é de que a composição de gases na atmosfera sofreu alterações nos últimos anos, sendo que os resultados futuros destas alterações são totalmente incertos para o clima. A partir de então, a discussão toma outros rumos e os cientistas se questionam se essas alterações seriam ou não consequência da ação do homem na Terra, ou se essas alterações

seriam ou não suficientes para mudar o clima na Terra de forma tão drástica que pudesse afetar a vida.

Assim como ressaltado anteriormente, diante de incertezas deveríamos recorrer à precaução e ao raciocínio lógico para basear nossas decisões. Pensando nisso, um professor de ciências chamado Greg Craven, escreveu um livro intitulado “What's the Worst That Could Happen?: A Rational Response to the Climate Change Debate”. No livro, ele apresenta um modelo muito interessante de como estimular a ação contra as mudanças climáticas, independentemente dos debates e das incertezas da ciência. Apesar da complexidade que envolve o assunto, o professor utilizou-se de argumentos lógicos para propor uma teoria simples e robusta.

Inicialmente, o raciocínio parte do pressuposto de que existem dois cenários possíveis para as mudanças climáticas: um deles assume que as mudanças são verdadeiras e o outro que elas são falsas. Perante estes cenários, e assumindo que nós seres humanos podemos fazer algo contra as mudanças, temos duas alternativas possíveis: agir ou não agir. A combinação das possibilidades gera quatro cenários possíveis com as respectivas consequências, que podem ser resumidas em um quadro (ver figura).

No primeiro dos casos, teríamos optado por atuar contra as mudanças climáticas e elas se mostrariam falsas no futuro. Considera-se, neste caso, que fizemos uma opção incorreta e esta decisão geraria custos financeiros, o que poderia levar a uma grande depressão econômica. Na segunda combinação, faríamos a opção por não agir contra mudanças que realmente não viriam a ocorrer, o que resultaria em uma decisão correta sem maiores consequências. No terceiro dos casos, faríamos a opção por agir e as mudanças climáticas realmente viriam a ocorrer no futuro. Neste caso também haveria custos, porém, considera-se que o investimento foi uma opção correta. No último dos casos faríamos a escolha por não agir contra as mudanças e elas se mostrariam verdadeiras no futuro. Este é considerado o pior dos cenários, pois tomaríamos a decisão incorreta que teria consequências em diversas esferas. Neste caso

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Sobre lógicae precaução

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então, teríamos crises irrompendo no âmbito político, social, ambiental, econômico, alimentar e em sistemas de saúde. A partir destas combinações, é importante ressaltar que dentre as duas decisões incorretas, uma delas pode ter por consequência uma grande depressão econômica, enquanto que na outra a depressão econômica é apenas mais uma entre as diversas consequências possíveis. Estes são os c e n á r i o s e x t r e m o s d e u m a m i r í a d e d e possibilidades e que consideram apenas duas alternativas, agir ou não agir contra as mudanças climáticas. A interpretação deste modelo nos leva a refletir que além da incerteza científica a respeito da veracidade da ocorrência de mudanças climáticas, existe uma base lógica que justifica a ação contra elas. Apenas a partir de um raciocínio simples, podemos determinar quais operações são válidas,

tendo como princípio básico a prudência e a cautela antecipada (lembrando o dicionário). As referidas ações contra as mudanças climáticas são muito variadas e vão desde uma maior consciência coletiva para cobrar atitudes mais enérgicas dos tomadores de decisão, a ações individuais como preferir meios de transporte menos poluentes ou que minimizem a poluição atmosférica. Não é minha intenção entrar em detalhes de quais seriam as melhores ações, porém, é importante ter em mente que os argumentos em favor de uma mudança nas nossas atitudes existem. A partir disso, espero que passemos a usar mais lógica e precaução nas nossas próprias escolhas, pois isso poderia levar a mudanças positivas em muitos aspectos da nossa vida, principalmente aquelas que envolvem um bem comum.

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MudançasClimáticas

Ação

Falso Custos - Depressão econômica

Custos - Decisão correta

Crises:

AmbientalPolíticaSocial

EconômicaAlimentar

Sistemas de Saúde

Decisão correta

Verdadeiro

Sim Não

Quadro apresentando as consequências da ação ou não perante os cenários de mudanças climáticas

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Destino aventura

por Paulo Faria

Aventura paragente grande

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m vilarejo com, segundo alguns moradores Ulocais, mais de 4 mil habitantes, com igreja, comércio, centro comunitário e escola, e fortalecido economicamente pelo cultivo de café e por estar encravado em rotas tradicionais utilizadas pelos caçadores de diamante, antes muito abundantes naquela região do sertão baiano. Este era o vale do Pati em meados das primeiras décadas do século XX que, hoje distante do seu auge econômico, mostra o poder de regeneração da natureza da região – o vale agora nos surge como uma região aparentemente selvagem e pouco explorada, encravada entre imponentes paredões de rochas sedimentares no coração do Parque Nacional da Chapada Diamantina. Para muitos – entre revistas especializadas ou amantes das caminhadas de longo percurso, a

Travessia do Pati figura entre os destinos de caminhada mais belos do planeta. Existem diversas variações de trajeto para a travessia, uns mais tradicionais, hoje não tão procurados por serem mais árduos e pouco fomentados pelas operadoras locais, partindo de Andaraí com destino ao vale do Capão ou até Lençóis, com até 8 dias de caminhada, além de versões mais curtas, a partir de 3 dias de caminhada. No percurso, é fácil entender o porquê desta ser uma das principais travessias brasileiras - o trajeto é cravejado de paisagens incríveis, com campos rupestres, mata atlântica, cânions, grutas, cachoeiras, mirantes e diversos resquícios da riqueza da região no século passado, como segmentos de trilhas lindamente calçadas com pedras, aos moldes das trilhas imperiais espalhadas

Vista do Vale do Pati e Morro da Lapinha (Castelo)

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pelo sudeste do Brasil. Para atenuar a carga da mochila, ainda há a opção de pousar na casa dos chamados patizeiros – o s p o u c o s m o r a d o r e s t r a d i c i o n a i s q u e permaneceram na região. Lá, além da possibilidade de se hospedar em quartos com algum conforto (dentro dos padrões da região, naturalmente) ou em campings nos quintais das casas, é possível provar de farta e saborosa comida regional e se deleitar com as histórias dos antigos moradores sobre a vida em local tão isolado. Para os mais experientes em trilhas em terrenos muito acidentados, há duas atrações que merecem destaque na travessia – a subida do Morro da Lapinha, também conhecido como Morro do Castelo, que conta com o mirante mais belo de toda a travessia, cujo acesso se dá por uma trilha muito íngreme, com trechos de “escalaminhada” e passagem de uma bela gruta, e o chamado “Cachoeirão por baixo”, um cânion com mata atlântica densa, com grande densidade de palmito juçara, e belíssimas cachoeiras, acessado pelo leito pedregoso do rio. O Parque Nacional da Chapada Diamantina e a Travessia do Pati, assim, são destinos obrigatórios para todos que buscam grandes aventuras em ambiente natural ou ainda que desejem conhecer algumas das mais belas

paisagens brasileiras.

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Poço de banho no "Cachoeirão por baixo"

Ingreja antiga na ‘’ruinha‘’, um dos pontos de pernoite na travessia

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Diário de Campopor Igor Inforzato

O maior primata das Américas:

Vivendo a vida dosMuriquis-do-norte

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á era novembro de 2010, eram os últimos dias na Juniversidade e logo me tornaria Biólogo. Na época buscava oportunidades singulares para

trabalhar em 2011. Em um ato rotineiro acesso meus e-mails e reparo em um título escrito em caixa alta: SELEÇÃO PARA PARTICIPAÇÃO NO PROJETO MURIQUI DE CARATINGA*. Naquele momento recordei que já havia lido algumas linhas sobre este projeto em um dos clássicos livros de David Quammen, O Canto do Dodô. Curioso, clico sobre a mensagem e vejo que o trabalho consistia no monitoramento de um grupo de muriquis em vida livre durante 14 meses. Sem piscar, releio atentamente a mensagem, penso por alguns segundos, e concluo em voz alta: “é exatamente isso que estou procurando!” A idéia de viver imerso na natureza por tanto tempo me remetia a uma paz grandiosa e a uma oportunidade ímpar de colaborar para a conservação dos muriquis. E em meio a tantas incertezas que martelavam minha cabeça na época, por que não viver 14 meses longe da vida agitada da cidade e seguindo um bando de muriquis isolado em um remanescente de Floresta Atlântica no leste de Minas Gerais? Foi o que eu fiz!

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O projeto de longo prazo Muriqui de Caratinga é coordenado pela Drª. Karen Strier, professora da Universidade de Wisconsin-Madison e pelo Dr. Sé rg io Lucena Mendes , p ro fesso r da Universidade Federal do Espírito Santo. O projeto existe desde 1983 e a cada 14 meses, três novos pesquisadores são treinados durante dois meses, para substituírem os três pesquisadores vigentes e dar continuidade ao projeto. Os dados coletados pelos pesquisadores pertencem ao projeto, entretanto é possível usar uma parte dos dados em um mestrado ou doutorado. As atividades do projeto Muriqui acontecem na Reserva Particular do Patrimônio Natural Feliciano Miguel Abdala (RPPN FMA), antiga Estação Biológica de Caratinga (EBC), a 300 km a leste de Belo Horizonte/MG. O objetivo principal do projeto é manter o monitoramento sistemático de longo prazo da população de muriquis-do-norte que vive no local. A reserva representa um santuário para os muriquis, pois abriga a segunda maior população existente. A RPPN FMA é gerenciada pela ONG Preserve Muriqui, com sede em Caratinga/MG.

O pôr-do-sol na floresta com imponentes Angelins

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Muro que separa Israel, o sinal da repressão

Muriqui-do-norte descansando

O muriqui-do-norte

O nome Muriqui significa gente tranquila ou gente que vai e vem em tupi guarani. O Muriqui-do-Norte, ou Brachyteles hypoxanthus (Kuhl, 1820), é um primata brasileiro que ocorre apenas na Floresta Atlântica e encontra-se criticamente ameaçado de extinção. Acredita-se que existam apenas 1000 indivíduos divididos em aproxi-madamente 15 populações entre Minas Gerais, Espírito Santo e Bahia. Os muriquis são animais pacíficos e apresentam uma organização social igualitária entre machos e fêmeas, não existindo dominância de um sexo sobre o outro. Além disso, fêmeas e machos são fisicamente semelhantes, sendo possível diferenciá-los em campo apenas pela observação das genitálias, uma vez que as fêmeas possuem clitóris em forma de pendulo

e os machos possuem testículos grandes. São primatas exclusivamente herbívoros e se alimentam principalmente de frutos e folhas em grandes quantidades.

Uma característica interessante dessa espécie é o fato de os machos permanecerem no grupo de origem por toda sua vida, favorecendo a construção de fortes vínculos entre eles, enquanto as fêmeas migram para outro grupo quando se aproximam da puberdade. A primeira gravidez ocorre entre oito e nove anos de idade e o período de gestação dura em média 7,2 meses, nascendo geralmente um filhote. Os nascimentos ocorrem de três em três anos e a mãe amamenta e transporta o filhote pela floresta até ele atingir dois anos de idade. Entretanto o filhote ainda depende de sua mãe para outras atividades até alcançar os três anos.

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A seleção e o primeiro encontro com os muriquis

Entre aviões, ônibus, caronas e alguns poucos quilômetros de caminhada com minha mochila, chego à RPPN FMA para participar da seleção (Ufa!). Logo na entrada da reserva observo que o topo das árvores de ambos os lados da estrada são conectados, causando a impressão de estar e n t r a n d o e m u m t ú n e l m i s t e r i o s o e predominantemente verde. Sigo caminhando, atento a cada detalhe. Em poucos minutos vejo uma serpente verde deslizando sobre os arbustos; um pouco mais a frente escuto a imponente vocalização de um bugio, me trazendo a sensação de estar em um ambiente realmente selvagem. Caminhei cerca de 30 minutos até chegar à casa dos pesquisadores vigentes, André Ferreira, Marlon Lima, Tatiane Cardoso e Carla Possamai, que viviam no local há nove meses e, além de monitorar a população de muriquis, eram também os responsáveis pela seleção dos novos pesquisadores para o projeto. No dia seguinte fui acompanhar o trabalho que eles realizavam e me recordo como se fosse ontem: era 24 de fevereiro de 2011, uma quinta-feira de um verão demasiado quente. Desde as 7h, Marlon e eu caminhávamos pelo relevo acidentado da Floresta Atlântica na RPPN FMA à procura de um grupo de muriquis-do-norte. O relógio já se aproximava do meio dia e a floresta estava silenciosa, com exceção dos ruídos do meu estômago e o constante zumbido de algumas dúzias

de mosquitos bioluminescentes. Marlon me alerta que os muriquis estão próximos, dizendo que conseguia sentir o cheiro deles (pensei: “um dia quero ficar assim”). Subitamente o silêncio que imperava é interrompido pelo barulho de intensas vocalizações semelhante ao relincho de um cavalo, seguido pelo som de galhos sendo quebrados. Eis que um distinto macaco, de pelagem espessa e acinzentada, braços e pernas longas, além de uma enorme cauda preênsil, surge na copa de uma imensa figueira e fica a nos encarar. Segundos depois, 10 outros indivíduos se unem ao primeiro e, pendurados em um galho pela cauda, se amontoam uns sobre os outros formando um imenso cacho de muriquis “relinchando” sem parar. Fico perplexo, não sabendo muito bem como agir, afinal, era a primeira vez que ficava frente a frente com o maior primata das Américas, e um dos animais mais ameaçados de extinção do planeta. Foi um encontro emocionante e, a partir deste momento, tive a certeza de que gostaria de estudar a vida dos muriquis pelos 14 meses seguintes. Tinha em mente que, imerso na floresta e seguindo diariamente um bando de macacos, eu t e r i a u m a o p o r t u n i d a d e ú n i c a d e autoconhecimento e me sentiria mais vivo e estaria mais próximo do que realmente é importante na vida. Eu estaria vivendo a vida da floresta... A vida dos muriquis!

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Um dos diversos Muriquis que passaria a observar diariamente

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A chegada à reserva

A divulgação do resultado da seleção ocorreu no início de março de 2011, quando soube que faria parte da equipe e viveria a vida dos muriquis de 1º de junho de 2011 até 31 de julho de 2012. Para dividir essa história comigo, os biólogos Robério Filho e Pollyanna Campos foram os outros selecionados; ele de Fortaleza/CE e ela de Caratinga/MG. Robério, Pollyana e eu não nos conhe-cíamos, e o primeiro encontro aconteceu em Caratinga, quando então fomos juntos para a reserva. Cinquenta quilômetros depois, chegamos à RPPN. A estrada que conecta Caratinga à reserva é de terra e relativamente inóspita. Além disso, o rio Manhuaçu, um dos maiores afluentes do Rio Doce, com sua água esverdeada, acompanha a estrada até a entrada da reserva, gerando uma atmosfera agradável. Ao chegar, fomos muito bem recebidos pelos pesquisadores que iriam nos ensinar, durante dois meses, tudo para manter o bom andamento do projeto. Nesse momento tive a certeza que não sairia daquele lugar, ao menos nos próximos 14 meses e pensei “vou viver a base de pão de queijo e café, além de um bom friozinho!” (Pelo menos foi o

que me falaram!). Mas o “friozinho” de 5°C não é lá muito agradável para quem esta acostumado ás mínimas de 30°C de Campo Grande/MS. Foi então que me lembro da matéria na primeira edição da Explora, onde a Bióloga Paola Sanches relata sua incrível vivência na Antártica (Grrrr, frio!).

A casa da floresta

Na RPPN FMA, existe uma antiga casa de colonos, doada aos pesquisadores pelo senhor Feliciano Miguel Abdala na década de 80, época em que a RPPN ainda era uma fazenda e da qual o Sr. Feliciano era o dono. É uma casa rústica e simples, cercada por montanhas que chegam a 620 m de altitude, e fica em um vale no coração da floresta. Entretanto, diferente dos anos 80 e 90, hoje ela está equipada com energia elétr ica, tendo os pesquisadores direito à ducha quente, geladeira e televisão, além de internet (instalada em 2012). Assim, não é mais preciso viajar 25 km em estrada de terra até Ipanema/MG, a cidade mais próxima da reserva, para dar um telefonema ou enviar um e-mail, como relatado pela Drª Karen Strier no livro Faces na Floresta. Mesmo assim, morar nesse local significava ter uma vida simples, mais tranquila,

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A casa da floresta, o lar durante o trabalho no

projeto

“(...) Nesse momento tive a certeza que não sairia daquele lugar, ao menos nos próximos 14 meses e pensei “vou viver a base de pão de queijo e café, além de um bom friozinho!” (...)”

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um grande contraste para todos nós em relação ao modo que vivemos na cidade.

O treinamento - nascimento

Durante 60 dias recebi treinamento para monitorar o grupo de muriquis com mais de 100 indivíduos, o maior grupo conhecido existente na natureza. O propósito desse período foi entender o complexo sistema de trilhas existentes na reserva e, principalmente, identificar cada indivíduo do grupo. Essa individualização só é possível devido aos padrões individuais de despigmentação facial e outras marcas como coloração da pelagem, formato das narinas, orelhas e até mesmo pelo timbre das vocalizações. Também foi necessário que os macacos se acostumassem com a minha presença diária ou ao menos, me tolerassem. Sem dúvida foi um período de aproximação com o cotidiano dos muriquis e com a própria floresta. Nenhum indivíduo do grupo era marcado com rádio colar, e, dessa forma, a rotina demandava muita disciplina. Tínhamos que acompanhar o grupo até o crepúsculo, momento em que os macacos se organizavam para dormir, e acordar muito cedo para retornar ao local em que o grupo

havia pernoitado antes que iniciassem sua viagem diária pela floresta. Também não era interessante voltar ao alojamento para almoçar, pois eles poderiam se deslocar para outra região da mata. Assim, levantar com o nascer do sol e carregar alimentos para o dia inteiro era a maneira mais inteligente para seguir os muriquis. Essas atitudes evitavam minutos, horas e às vezes dias desperdiçados vasculhando a floresta em busca do grupo “perdido”. Com o passar dos primeiros 60 dias, pude vivenciar e começar a compreender na prática a organização social dos muriquis. Pude notar quão pacífico esse enorme primata é em suas relações com seus semelhantes, com a natureza, e quão tolerantes eles são com os observadores. Percebi que, com os muriquis, eu estava tendo uma chance de aprendizado que ia além do profissional, estava tendo uma oportunidade singular de aprender como viver em mais harmonia com meus próprios semelhantes.

A Adolescência

Após o treinamento, um novo desafio me foi imposto: teria que ficar na floresta durante nove até

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Acompanhado os Muriquis

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13 horas diárias apenas na companhia dos muriquis, ou, muitas vezes, somente com os sons da natureza. O fato de ficar sozinho por horas diariamente, somado ao relevo severamente acidentado, exigia de mim tranquilidade e autocontrole. Essas foram minhas maiores dificuldades no começo do trabalho. Entretanto, com o decorrer dos meses, a saudade de pessoas próximas, junto com a previsibilidade do dia-a-dia, tornaram-se os maiores desafios a serem controlados. Dessa forma, eu fui obrigado a explorar alguns de meus limites psicológicos, tendo a oportunidade de ampliar meu autoconhecimento ao mesmo tempo em que monitorava um bando de muriquis encravado em um fragmento de mata atlântica. O dia a dia solitário seguindo cada muriqui identificado me permitiu registrar dezenas de abraços entre irmãos, mães e filhos de todas as idades. Presenciei mães muriquis atuando como verdadeiras pontes para que seus filhotes conseguissem atravessar de um galho para o outro. Registrei indivíduos conquistando sua primeira cópula. Vi alguns encontros emocionantes entre grupos distintos e até mesmo inusitados momentos nos quais os muriquis desciam das árvores para o chão. Em meio a tantas lembranças, recordo-me

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De olho nos Muriquis

Uma fêmea carregando seu filhote

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de um episódio interessante no qual eu estava no cume de uma montanha com grande parte do grupo. Reparei que uma fêmea se deslocava agitada entre as esparsas árvores do topo do morro, a uma altura aproximada de 10 metros, enquanto a maioria dos outros indivíduos alimentava-se tranquilamente. De repente, a fêmea fez um salto incrível para outra árvore um pouco mais distante. Entretanto, o galho escolhido quebrou com seu peso e ela e o galho foram direto para o chão gerando um verdadeiro estrondo. Imediatamente após a queda, a fêmea escalou aproximadamente dois metros do tronco da árvore e então ficou cerca de cinco minutos paralisada olhando para o local de sua queda. Quatro outros indivíduos que estavam próximo deixaram de se alimentar e prontamente se deslocaram em direção a fêmea que havia caído e a abraçaram por mais de um minuto, ao mesmo tempo em que vocalizavam de forma amistosa.

Em outra ocasião, eu estava monitorando um subgrupo de muriquis machos na encosta de um morro. Dali eu tinha uma visão panorâmica que contemplava um vasto vale, verde e denso, bem como a crista de outras duas exuberantes montanhas no horizonte. Desse local foi possível perceber a chuva se aproximando aos poucos, molhando primeiro a montanha mais distante, depois o vale e, por fim, alcançando os muriquis e eu. Com a chegada da chuva os muriquis vocalizaram e se moveram rapidamente para uma árvore de copa densa que havia na área, provavelmente para se protegerem da tempestade. Enquanto se abraçavam, emitiam vocalizações amistosas uns com os outros até todos conseguirem se acomodar em posição de “bolinha”. Somente duas horas depois, quando a chuva parou, os muriquis se espalharam e voltaram a se alimentar.

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Um verdadeiro cacho de Muriquis

Muriqui atravessando a copa das árvores

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A fase adulta

Contudo, apesar de na esmagadora maioria do tempo eu estar em contato visual com os muriquis, existiam momentos em que, mesmo chegando cedo ao seu local de dormida, eles já haviam se deslocado para outro lugar. Por consequência, iniciava-se a missão de encontrar o grupo o mais rápido possível. Essa não é uma tarefa fácil e demanda boa dose de paciência. A floresta é extensa, as árvores alcançam 30 metros de altura, o relevo é íngreme e os muriquis, apesar de seu peso e tamanho corpóreo, conseguem ser impressionantemente silenciosos. Nesses momentos de procura pela floresta, eu seguia vestígios deixados pelos muriquis, como maiores concentrações de folhas caídas no chão e fezes por exemplo. À medida que aumentava meu tempo imerso na floresta minhas capacidades auditivas e olfativas se tornavam mais apuradas, o que me trouxe uma facilidade em encontrá-los. Aliado a isso, passei a investir energia em identificar e selecionar alguns locais da floresta que apresentavam maior alcance auditivo e comecei a permanecer uma hora parado nesses pontos tentando escutar alguma manifestação dos muriquis. Somente após ouvi-los, eu me deslocava em direção à origem do som. Essa estratégia, semelhante a um predador do tipo “senta e espera”, era mais vantajosa do que investir tempo e energia caminhando ativamente em busca deles, uma vez que ruídos gerados ao caminhar e até mesmo uma respiração mais ofegante podia fazer com que algum som emitido pelos macacos passasse despercebido. Embora os momentos de procura pelos os muriquis fossem menos vantajosos do que o monitoramento, eram nesses momentos de busca

que eu inevitavelmente olhava com mais atenção para a floresta e pude perceber a diversidade de vida que ali habitava. Os vales eram pre-dominantemente escuros, preservados e com árvores enormes como jequitibás, enquan-to os topos de morro t inham vegetação predominantemente secundária e de menor porte. Uma variedade de cores, formas e sons faziam parte da rotina na floresta. Isso tornava tudo mais interessante. Uma incrível diversidade de cogumelos, musgos e artrópodes decoravam o chão e os troncos das árvores. Enormes abius, figueiras e centenários jequitibás rasgavam o contínuo dossel arbóreo transformando-se em verdadeiras sentinelas da floresta. Aves como saíras, arirambas, choquinhas, arapaçus, pica-paus, beija-flores, canários, araçaris e os imponentes gaviões pato, carijó e acauã eram observados com frequência. Seus cantos e rumores se tornaram notórios e com o tempo aprendi a distingui-los, além de saber em qual região da floresta cada espécie costumava ocorrer. Posso dizer que toda essa vivência me permitiu perceber mudanças que ocorriam na floresta, por mais singelas que fossem.

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Fungos multicoloridos encontrados durante os trabalhos de campo. Acima uma Ariramba

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O dia-a-dia em casa

O dia-a-dia em casa se limitava à primeira hora após o despertar, quando degustávamos o café da manhã, e a noite. Nossas noites eram regadas a boas doses de conversas entre amigos (Pollyanna, Robério e eu), músicas e reflexões do que estávamos vivendo. Sábado à noite costumávamos preparar uma bela pizza caseira acompanhada de uma sessão de cinema, enquanto em noites de lua cheia íamos a um mirante contemplar o espetáculo do luar. Tudo isso em uma pequena casa encravada no meio da Floresta Atlântica, o que nos dava a sensação de sermos privilegiados. Outros pesquisadores, fotógrafos, viajantes e amantes da natureza de várias partes do planeta apareciam de vez em quando e se hospedavam conosco por alguns dias. Isso realmente era bom, pois fazíamos novas amizades e recebíamos novidades trazidas de fora. Além disso, fizemos vínculos verdadeiros com os antigos moradores da região, aqueles que nasceram e cresceram na floresta, e não ficaram ali por “apenas” 14 meses.

O que aprendi com isso?

Foram “dias de chuva e dias de sol” durante os 14 meses imerso na natureza, longe de amigos e da família, porém foram dias com propósitos bem definidos – contribuir para conservação da natureza e ter uma oportunidade de auto-conhecimento. Digo que finalizei minha vivência na floresta com a genuína sensação de estar fazendo a minha parte em prol da natureza, em específico, para a conservação do maior primata das Américas – o muriqui. Eu sei que essa foi uma vivência desafiadora devido ao fato de estar relativamente isolado, passar horas sozinho em diferentes partes da floresta e por sentir saudades de muitas pessoas. Mas, a partir dessa vivência, pude manter uma distância dos atropelos da vida na cidade grande, pude alcançar uma redução do estresse, ter uma alimentação mais saudável e ter a fascinante oportunidade de estar próximo da organização social pacífica dos muriquis. Sem dúvidas esse contexto em que estive inserido me colocou de frente-a-frente com a minha verdadeira essência e valores. Percebi que o clímax do bem estar pode vir do contato direto e contínuo com a natureza. Essa mesma natureza que nos nutre, ao menos à mim!

Pesquisadores em um dos pontos estratégicos para escutar os muriquis

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por Marina Sissini & Lucas Cabral

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ar a volta ao mundo em um veleiro, fazer uma Dviagem de bicicleta... Doces sonhos! É como se resgatássemos nossa liberdade pueril... É voltar a brincar, encontrar a felicidade nas coisas simples da vida, como ver o sol nascer, se refrescar em uma cachoeira inesperada que surge no caminho. O cicloturismo, termo cunhado para definir a forma de turismo que consiste em viajar utilizando a bicicleta como meio de transporte, vem ganhando espaço e adeptos no Brasil nos últimos anos. Mas viajar de bicicleta é muito mais do que “turistar”, é, literalmente, sentir cada quilômetro rodado. É conhecer o caminho que nos separa do destino final e vivenciá-lo com todos os sentidos. É sentir as irregularidades do terreno, o sol na cabeça, o cheiro que muda. É apreciar as paisagens, hora mais urbanas, hora mais rurais. É buscar a tranquilidade no meio do caos dos carros e caminhões e sentir-se pequeno no meio dos sons da floresta. Alguns circuitos estão bem estruturados, como, por exemplo, a Estrada Real (ER), que liga Minas Gerais ao mar, o Vale Europeu em Santa Catarina e a Rota do Descobrimento na Bahia. Cada um com suas peculiaridades, cultura e charme. E queríamos fazer todos! Mas tínhamos que começar por um. Após sonhar com a brisa do mar, a sombra e uma água de coco geladinha da Bahia, um oceanógrafo e uma bióloga resolveram voltar seus

olhares para a terra, para “os mares de morros de Minas Gerais”.

A história da Estrada Real

Durante os séculos XVII e XVIII, esse caminho era utilizado para escoar as riquezas de Minas para os portos de Paraty e depois Rio de Janeiro, de onde seriam enviadas, então, a Portugal. Na verdade, existam inúmeros caminhos, mas a coroa portuguesa, com o intuito de combater o contrabando e facilitar a fiscalização, criou um caminho oficial, chamado de Estrada Real. Inicialmente, o caminho ia da antiga Vila Rica (hoje Ouro Preto) até Paraty (Caminho Velho), mais tarde foi criada uma rota mais rápida e segura que terminava na cidade do Rio de Janeiro (Caminho Novo). Com a ascensão do diamante, foi necessário ligar também a cidade de Diamantina, sendo este então conhecido como o Caminho dos Diamantes. Atualmente, o instituto Estrada Real é o responsável por fomentar e gerenciar o projeto turístico. Nossa viagem foi baseada nas planilhas disponíveis no site www.estradareal.tur.br e o caminho pode ser percorrido de carro, moto, cavalo, bicicleta ou a pé, dependendo do gosto de cada um.

Longe de casaAs Gerais sobreduas rodas

As bicicletas eram as protagonistas da aventura

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O nosso caminho

Cruzar o caminho completo de bicicleta era nossa vontade, contudo, isso nos levaria entre um mês e meio a dois meses e, por compromissos com a faculdade, não dispúnhamos de todo esse tempo. Então, optamos por começar do início do Caminho dos Diamantes (para algum dia completá-lo) e seguir até onde fosse possível. Nosso objetivo era seguir em um ritmo bom (isso seria cerca de 70 km por dia, mas não contávamos com o rendimento reduzido nas estradas de terra e a média diária foi de 50 km), sem deixar de desfrutar cada lugar. Deixamos Diamantina, uma das mais lindas cidades históricas de Minas, no dia 30 de dezembro de 2012, com os alforjes carregados e as bikes equipadas rumo à cidade de Milho Verde, onde havíamos programado passar a virada de ano. Este

primeiro trecho foi, de longe, o mais difícil de toda viagem. Terreno irregular, muitas pedras formando canaletas que a todo momento pareciam querer nos passar uma rasteira! Paramos em um hotel fazenda para pedir um pouco de água e, prosa vai, prosa vem, a água misturou-se com cevada e acabamos vendo o sol se pôr ali mesmo. Apesar de sabermos que teríamos ainda 10 km até chegar ao próximo vilarejo, foi impossível não se deixar levar pela hospitalidade mineira, que já haviamos ouvido muito falar e encontramos ao longo de todo caminho. Se viajantes já chamam atenção, movidos à bicicleta despertam ainda mais curiosidade. Acampamos próximo a um riacho na mesma fazenda, tomamos um delicioso café da manhã junto com nossos novos amigos e partimos. Uma longa descida nos levou à Milho Verde. O pequeno vilarejo, constituído por uma rua principal e algumas outras travessas, vem ganhando popularidade, e para nossa surpresa, estava lotado! Chegamos a tempo de tomar o último banho do ano e a água acabou-se. Assim como a energia elétrica, que foram substituídas pelas charmosas velas. Aproveitamos “Miô verde”, terra tão admirada por Milton Nascimento, para recarregar as energias com deliciosos banhos de cachoeiras, broas de milho, “cafezin” e queijos de primeira! No dia terceiro dia do ano, partimos. Vimos os cenários mudarem ainda muitas vezes. Comemos o famoso queijo do Serro, na cidade com mesmo nome, onde também fizemos a siesta no chão de pedras da igreja local (nada confortável, mas o único lugar sombreado para dois viajantes exaustos). Até este ponto, o caminho estava relativamente tranquilo, apesar das longas subidas (e como eram longas!). O movimento de veículos motorizados era pequeno, cenário que mudou drasticamente após passarmos por Serro. Imaginamos que estávamos nos aproximando de terras de mineradoras devido ao aumento considerável no fluxo de caminhões. Após c o m e r m o s m u i t a p o e i r a , c h e g a m o s à Itapanhoacanga já de noite, guiados apenas pelas lanternas de nossas bikes. Ficamos ali o tempo suficiente para conseguir pronunciar o nome corretamente. Cruzamos Tapera e chegamos em Conceição do Mato de Dentro, onde desfrutamos de um farto almoço. Em seguida, desviamos alguns quilômetros da ER para conhecer a terceira maior queda de água do Brasil, com seus 273 m de queda livre, a Cachoeira do Tabuleiro, situada no Parque Natural

Caminho dos Diamantes

Sabarabuçu

Caminho VelhoCaminho Novo

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Mapa ilustrando os caminhos da Estrada Real

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Estadual da Serra do Intendente (a maior queda é a Cachoeira do Araçá, no Amazonas, e a segunda maior a Cachoeira da Fumaça, na Bahia). A caminhada até a cachoeira tem duração de uma hora e meia e a vegetação característica de cerrado é um espetáculo à parte. Podemos definir o Tabuleiro como um reduto onde a vida é simples e é bela por ser assim. Tivemos que ficar por três dias. Aproveitamos esse intervalo sem pedaladas para decidir o destino de nossa viagem. Pelos dias que ainda nos restavam, chegar à Ouro Preto não seria possível. Mas havia uma outra opção, diria que uma opção muito atraente! Resolvemos desviar totalmente da ER para visitar um lugar secreto, escondido nas montanhas de Santa Maria de Itabira, a fazenda do Macuco. A sede da fazenda é um casarão que remonta ao século XIX, foi construído em 1889, com colunas feitas de grandes toras de madeiras e paredes de pau-a-pique (um entrelaçado de bambu preenchido de barro) que parecem não sofrer com a ação do tempo. Dr. Hercílio, junto com sua esposa D. Dorita, preservam este paraíso que fora de seu pai e, hoje, desfrutam da aposentaria, junto da sempre companheira Tetê, rodeados por flores, florestas, pés das mais variadas frutas, aves e muita tranquilidade. Fomos acolhidos da clássica maneira

mineira: comida em abundância (pão de queijo, “cafezin” passado, broa de milho, canjiquinha, tudo feito pelas mãos carinhosas de Tetê) acompanhada por uma prosa para lá de boa! Difícil foi a partida...

Resumo da viagem

Entre 30 de dezembro de 2012 e 10 de janeiro de 2013 percorremos cerca de 300 km da ER (dos 1630 km totais) e adjacências, passando por estradas de terra, asfaltadas, fazendas coloniais, vilarejos aconchegantes e cidadezinhas tomadas pelo “desenvolvimento”. Nenhum pneu furado, nenhum raio, câmbio, quadro ou qualquer outra parte das bicicletas quebrada! Por outro lado, foi uma viagem de superlativos: muitos banhos de cachoeiras, muitas cachaças deliciosas degustadas, muitas subidas (e nem tantas descidas). Essa, que foi nossa primeira viagem de bicicleta, foi a primeira de muitas outras (três meses depois fizemos em dois dias os 120 km entre Vitória e Regência-ES). Cruzar o norte de Minas Gerais, embaixo de sol forte, com pouca água, bagagens pesadas e movidos unicamente por moléculas de ATP mudou nossa concepção de viajar. Agora, quando planejamos uma viagem, pensamos: Qual será o melhor percurso para irmos de bike?

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Uma ótima surpresa na chegada em Milho Verde (MG), uma longa descida.

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Escolhemos um destino final, mas sentimos que é necessário desfrutar os caminhos e descaminhos até chegar lá. Viajar de bicicleta não é fácil. Você passa dias com duas mudas de roupas. Vez ou outra se vê em meio a perrengues. Sem contar que viajar de bicicleta cansa. Mas a felicidade proporcionada por esse estilo de viagem vale cada um dos perrengues! É sentir o vento no rosto, é viver a simplicidade.

Foi pedalando que descobrimos

Se nos séculos XVII e XVIII os portugueses levavam ouro e prata de nossa querida Minas, hoje, os portugueses assinam com o nome de Vale, Anglo Gold, MBR e vários outros e levam além do nosso

minério de ferro, parte da cultura brasileira. Foi pedalando que vimos e ouvimos muitos relatos de pessoas insatisfeitas com o “desenvolvimento”. Em Conceição do Mato Dentro e Morro do Pilar, duas cidades que há poucos anos estavam contagiadas com o progresso que viria através da mineração, se lamenta as suas consequências. Cidades foram transformadas para abrigar novos migrantes e, com eles, o aumento da violência, drogas, prostituição e todas as tensões das grandes cidades. Foi pedalando por esse Brasi l que descobrimos seus encantos, seu povo, suas diferenças. Na busca por uma forma de viajar sustentável, descobrimos um Brasil que ainda é explorado.

Cachoeira do Tabuleiro, a terceira maior queda d’água do Brasil

Acampamento próximo a um riacho antes de partir para mais um dia de pedal

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Dicas valiosas - Faça uma revisão na sua bicicleta e tenha todos os seus equipamentos em ótimo estado. Em todo o percurso que fizemos na ER, não encontramos apoio caso tivéssemos tido algum problema com as bicicletas.

- Leve sempre cons igo k i t remendo, bomba para encher pneus e duas câmaras de ar reservas. Na estrada, a borracharia mais próxima sempre está bem longe.

- Se você fizer a viagem no verão, procure sair o mais cedo possível, o ideal é parar de pedalar perto das 11 horas da manhã, o sol a pino castiga! Se tiver lanternas e o caminho for seguro, pedalar de noite pode ser uma ótima opção para fugir do sol forte.

- Leve apenas o necessário e fique atento ao peso dos alforjes, cada grama extra se tornará uma tonelada nas subidas.

Nas estradas da vidacarroça e cavalo

da mata ao cerradoareia e barro

Na montanha, uma cruzUm orai por nós

Na arte, o sagradoUm reino a vós

No café com MariaUm bom dia, Seu João

Na cozinha, casinhade terra no chão

Real é sua lidae seu arroz com feijão

Garimpeiros de sonhosdo mar ao sertão

Trecho do poema do Mar ao Sertão, de Ana Ribeiro Barbosa

Muita terra e poeira no caminho

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texto e fotosEdson Faria Júnior

Cavernas, Pirâmides e Recifes

México

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e pararmos por um instante para pensar sobre

So México, qual seria a primeira imagem que

nos viria à cabeça? Grandes desertos, Coyotes

atravessando a fronteira ilegalmente para os

Estados Unidos, Mariachis com seus grandes

sombreiros, doses de tequila com limão, festas

multicoloridas homenageando o día de los muertos,

praias de areias brancas e águas azuis turquesa,

badalações em Cancún e, para os mais aficionados

por mergulho, alguns dos grandes destinos do

mundo. Passei duas semanas me aventurando por

parte desse grande país, e descobri que sempre há

algo mais para se conhecer sobre o México.

Um país grande e com uma gigantesca

diversidade cultural, de ambientes, de destinos

turísticos e de aventura. Difícil fazer um roteiro por

um lugar com tantas possibilidades, sempre é

necessário fazer escolhas e algumas coisas acabam

ficando de fora.

Para se chegar ao México existem diversas

possibilidades e diversas companhias aéreas

partindo do Brasil. Sem dúvida, a forma mais barata

de aterrissar na terra da tequila é escolhendo voos

para a capital, Cidade do México, e, posteriormente,

optar por voos de companhias aéreas locais para

chegar a outros destinos. Voar diretamente para

outras cidades pode, por vezes, custar mais do que

o dobro da opção via Cidade do México.

Mas vamos ao destinos. Berço de diversos

povos pré-hispânicos, o México abriga muitas

ruínas dessas antigas e majestosas civilizações. Para

completar, o país também possui alguns dos

grandes destinos de mergulho do mundo, seja no

ambiente marinho ou em cavernas. Assim, estava

decidido: o roteiro deveria incluir ruínas, recifes e

cavernas.

Saí de Porto Alegre, sul do Brasil, com

destino à Cidade do México. Com o tempo contado

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Detalhes da Pirâmide da Serpente emplumada exposto no museu de arqueologia da Cidade do México

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e considerando a grande área do México, o roteiro

foi fechado entre a capital e a península de Yucatán,

no litoral mexicano voltado para o Oceano

Atlântico.

A cidade do México é a segunda cidade mais

populosa da América Latina, ficando atrás apenas

de São Paulo. Possui tudo o que se espera de uma

grande região metropolitana, facilidades urbanas,

trânsito caótico e uma agitada vida noturna. Mas

são as peculiaridades que nos atraem, que instigam

a nossa vontade de conhecer lugares diferentes. E a

capital mexicana possui muitas dessas peculia-

ridades.

Fundada pelos Astecas (ou Mexicas) com o

nome de Tenochtitlán, a Cidade do México já era

uma das maiores cidades do mundo antes mesmo

da colonização espanhola. Após a invasão

europeia, sobraram apenas as ruínas do centro do

Império Asteca, onde, a mando da Espanha, foi

construída a Cidade do México. Eis que a Cidade do

México está construída sobre as ruínas da maior

cidade Asteca. Visitando a região central da atual

cidade, é possível encontrar museus com

escavações que mostram as ruínas da antiga cidade.

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A cidade de Teotihuacán vista do topo da Pirâmide da Lua.

A Pirâmide da Lua em Teotihuacán recebe milhares de

turistas anualmente

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Embaixo da atual catedral católica está uma das

maiores pirâmides astecas já encontradas. Ainda

hoje novas relíquias ou ruínas do antigo império

são encontradas sob as construções modernas da

atual cidade. Isso nos leva a acreditar que podemos

encontrar vestígios da antiga civilização local a

cada nova escavação realizada na região central da

cidade.

Mas há muito mais do que ruínas Astecas no

México. Esse grande país foi colonizado por

diferentes civilizações ao longo da história. De

longe, os povos mais famosos são os Astecas e os

Maias, porém ainda existiram os Olmecas (a

primeira civilização a ocupar a região), a civilização

de Teotihuacan, os Toltecas, os Zapotecas, entre

outras. Distante 40km da capital, é possível visitar

as ruínas da cidade de Teotihuacan, a maior cidade

conhecida na América pré-colombiana. Muito

famosa pelas pirâmides do Sol e da Lua, ainda é

possível visitar ruínas de outras construções que

compunham a cidade. Sem dúvida um local

imperdível, apesar das centenas de turistas que

lotam o complexo. Uma visita ao museu de

Antropologia, nas imediações do grande Parque de

Chapultepec na Cidade do México também é

parada obrigatória para entender um pouco mais

da complexa história de ocupação do país e

conhecer uma infinidade de artefatos de muitas

dessas civilizações.

Seguindo para a península de Yucatán, na

costa atlântica do México, o primeiro destino foi a

cidade de Mérida. Construída sobre as ruínas da

antiga cidade maia de T'Hó, Mérida pode ser um

excelente ponto de partida para conhecer os

principais pontos turísticos da península. Ela está

próxima das mais belas ruínas de cidades maias

como Uxmal e Chichén Itzá, além de ser próxima do

litoral e estar em uma região que possui uma

infinidade de cenotes, cavernas cheias de água.

Chichén itzá é considerada uma das sete

maravilhas do mundo moderno e, sem dúvida, é

uma das cidades maias mais famosas e visitadas. É

onde está localizada a famosa pirâmide de

Kukulkán, além da Praça das Mil Colunas, campo

de Jogos dos Prisioneiros, o Templo dos Guerreiros,

o Cenote Sagrado, além de outras ruínas que

compunham a antiga cidade. Como em todos os

sítios arqueológicos mantidos pelo governo

mexicano, a entrada para estrangeiros é paga, mas

vale cada centavo investido. É um lugar que possui,

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Foto

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Muitas das construções de Teotihuacán são adornadas

com entalhes na própria pedra

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“Ruínas e vestígios de diversas civilizações tornam a experiência uma verdadeira volta ao passado e ajudam a compor algumas das mais belas paisagens do mundo”

Templo de Kukulcán, em Chichen Itzá, umas das sete maravilhas do mundo moderno

Praça das mil colunasDetalhes da Pirâmide do Adivinho, em Uxmal

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sem sombra de dúvida, algumas das paisagens mais bonitas do mundo. Ainda próximo à Mérida é possível visitar diversos cenotes. O que não faltam são listas dos mais bonitos, não importando se são muito visitados, pouco visitados, com estrutura para visitação ou praticamente sem estrutura. Comumente o visitante está atrás de um refrescante banho de água doce, outros cenotes ainda possibilitam a prática de mergulho autônomo, mas recomendo levar máscara, snorkel e nadadeiras próprias para uma excelente experiência de mergulho livre. Quase todos possuem águas azuis extremamente transparentes e escondem uma paisagem ainda mais bonita sob a água. Entre os visitados, Kankirixche, X-batun, Ik kil, Xkeken e outros, o mais bonito foi o primeiro. Escondido no meio da mata e de difícil acesso, Kankirixche impressiona pela claridade e azul da água. Um cenário de tirar o fôlego. Partindo rumo a Riviera Maya, parte caribenha da Península de Yucatán, encontramos outra imponente cidade. Tulum localiza-se ao sul do estado de Quintana Roo, uma cidade maia que esteve habitada até a colonização espanhola. Sua beleza está relacionada principalmente à sua localização na beira do mar do caribe, cercada por

O cenote Ik Kil é sede de campeonatos de saltos ornamentais, um dos preferidos para visitação.

Abaixo, o escondido cenote Kankirixhe

Cavernas e água cristalina, cenários frequentes na ilha

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Contraste entre as ruinas mais e o azul do mar caribenho em Tulum

águas azuis e areias brancas. Ímpar.

Mas as grandes belezas da região vão além

das ruínas maias. Famosa pelo agito e badalação de

Cancún, a região abriga incríveis destinos e belezas

naturais. As águas azuis turquesa do lado

caribenho da península abrigam incríveis

mergulhos. No norte, Cancún possui um Museu

Subaquático, onde é possível contemplar esculturas

expostas no fundo do mar. Na região de Playa del

Carmén, um pouco mais ao sul, começam a se

destacar lindos recifes de coral.

Apesar de ainda belos, os recifes do caribe

mexicano possuem algumas características de

degradação como muitos recifes caribenhos. Se

antigamente eram recobertos por corais duros,

verdadeiros, hoje são dominados por florestas de

gorgônias, octocorais. Os recifes mais costeiros

possuem pouca profundidade, grande abundância

das citadas gorgônias e ainda é possível encontrar

peixes grandes. Nas ilhas próximas a costa, como

Cozumel, o cenário já muda um pouco. Nesses

locais o mergulho característico é em paredes, pois

partindo da costa o mar logo atinge grandes

profundidades. Com maiores profundidades e

correntes mais intensas, além de uma maior

cobertura coralina, se encontram grandes peixes e,

com um pouco de sorte, alguns tubarões. Claro que

tudo isso é preenchido por águas quentes, 30°C, e

claras, chegando a 30m de visibilidade. Em algumas

épocas do ano ainda é possível mergulhar com

tubarões baleia ou com grandes grupos de tubarão

cabeça chata, localmente conhecidos por tubarões

touro.

Se os mergulhos nos recifes de coral já

surpreendem é já seriam suficientes para convencer

muitas pessoas a visitar a região, ainda têm mais

água pela frente. O lugar é simplesmente um

paraíso para mergulhos de caverna. Compararia a

região a um queijo suíço, devido à infinidade de

cavernas encontradas na região. É tanta quantidade

e variedade que existe espaço desde o mergulhador

iniciante até o mergulhador técnico mais

experiente. As límpidas águas azuis, muitas vezes

doce, outras vezes se misturando com água

salgada, dão uma sensação de levitação única. É

como se estivéssemos flutuando, pois ao mergulhar

naquelas águas 100% transparentes, simplesmente

não vemos a água, não há suspenção, se não fosse

fria e molhada esqueceríamos que se tratava de um

mergulho.

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“Mesmo sem peixes, e praticamente sem vida, as múltiplas formas, diversas cores, cortinas de luzes e labirintos tortuosos são mais do que suficiente para encher nossos olhos e tornar os mergulhos em caverna uma experiência inesquecível”

Cortinas de luzes e silhuetas de mergulhadores formam as paisagens mais bonitas no cenote Chac mool

Uma pequena camada de algas na superfície torna verde a luz que entra no cenote

Diversas estalactites abundam os tetos das cavernas

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Não há peixes, pelo menos na maioria dos

casos, não há corais, quase não há vida. Mas há

labirintos de estalactites, cortinas de luz que

adentram a caverna por suas aberturas, muitas

vezes em meio à floresta, diferentes cores e formas.

É tanta variedade de formas que esquecemos que

não vemos animais durante o mergulho. O cenário

por si só já é suficiente para preencher nossos olhos

e nossas mentes. Mesmo sendo limitado muitas

vezes pelo alcance da luz da lanterna, o sentimento

de exploração torna os mergulhos nos cenotes da

região uma experiência única. Poderia dedicar uma

matéria inteira, uma expedição inteira, só para

conhecer e escrever sobre os cenotes, e ainda seria

difícil de contemplar a maioria, dada a quantidade e

a singularidade de cada um.

Cultura, arquitetura, história, incríveis

belezas naturais desde cavernas submersas até

recifes tridimensionais cheios de vida. O México

s e m d ú v i d a a b r i g a u m a i n f i n i d a d e d e

possibilidades, para todos os gostos, idades, estilos

de vida e níveis de adrenalina. Em pouco tempo

pode-se ter um panorama geral do país, mas, para

se conhecer mais a fundo cada peculiaridade do

lugar, é necessário focar em uma coisa de cada vez.

Surpreenda-se com os topos das pirâmides e com a

profundidade dos cenotes, e esteja atento para as

histórias do receptivo povo mexicano.

Águas claras e quentes, com o recife dominado por gorgônias

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Encontrospor Jonathan Lawley

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esde que vi um documentário no Discovery Channel sobre as temidas vespas-do-mar (medusas

Daustralianas que tem um formato cúbico e uma potente toxina) me vi fascinado pelas águas-vivas. Mas nunca imaginei que veria uma em seu habitat natural. Talvez porque os mais fascinantes encontros

venham nos momentos mais inesperados.

Lembro do belo dia de sol em que fui auxiliar uma colega bióloga em suas saídas de campo para monitorar um banco de corais no sul do Brasil. Equipados para o mergulho, entramos na água e iniciamos a nossa descida até os corais. No meio do caminho, o inesperado encontro aconteceu. Me deparei com uma Olindias sambaquiensis, uma água-viva mais conhecida como “reloginho” (com uns 10cm de diâmetro, um indivíduo grande para a espécie). Congelei e esqueci completamente das atividades para as quais estava designado, e comecei a fotografar e filmar a medusa. Nem me importei com as possíveis queimaduras, que por sorte não tive. Estava absolutamente maravilhado. As gônadas do animal bem amareladas e uns tons mais rosados em certas porções dos tentáculos. Que mergulho! De repente a minha colega me acorda dos meus devaneios com um cutucão, com uma cara de: “O que aconteceu? Vamos continuar descendo!”.

Pode não parecer um encontro tão deslumbrante quanto se deparar com um imponente predador africano, ou até mesmo com um tubarão baleia em Galápagos. Mas esse encontro me ensinou, que nem sempre precisamos ir tão longe para nos maravilharmos com a natureza, basta olhar ao seu redor!

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