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Escalando por aí: Tem Escalada no Nordeste? Exposição Montanhas no CEL PAPO DE MONTANHA www.celight.org.br ano 1 | número 2 | abril 2013 Mapeamento de Processos do CEL A História da ATM no Rio de Janeiro Escalando Vias Ferratas

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Escalando por aí: Tem Escalada no Nordeste?

Exposição

Montanhas no CEL

PAPO DE MONTANHAwww.celight.org.br

ano 1 | número 2 | abril 2013

Mapeamento de Processos do CEL

A História da ATM no Rio de Janeiro

Escalando Vias Ferratas

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índice

editorial

CEL - Clube Excursionista Light

Presidente: Claudney NevesVice-Presidente: Éder AbreuSecretário Geral: Lucas FigueiraTesoureiro: Claudio VanDiretoria de Montanhismo: Hans RauschmayerDiretoria Social: Karla PaivaDiretoria de Ecologia: Daniel ArlottaDiretoria de Comunicação: Paulo Ferreira Judith VieiraDiretoria Cultural: Claudia Gonçalves

__________

Direção de Arte: Paulo Ferreira

______________

Papo de Montanha é uma publicação do CEL - Clube Excursionista Light. As opiniões expressas pelos autores são de inteira responsabilidade dos mesmos e não representam a opinião da revista Papo de Montanha e do CEL.

Fale Conosco:Envie cartas ou nos visite na Av. Marechal Floriano, 199/501, Centro, Rio de Janeiro - RJ.Tel.: +55 21 [email protected]

Enfim chegou a tão esperada Abertura da Temporada de Montanhismo 2013, e no Rio de Janeiro, a festividade ocorre na Praça General Tibúrcio (Urca).

Federações, clubes, lojas e outras entidades, juntas para dar as boas-vindas à temporada, apresentar o esporte aos alunos dos Cursos Básicos de Montanhismo e trazer informação de qualidade aos praticantes das atividades de montanha, confraternizar, marcar atividades e relembrar.

Para realizar esse evento, todos os membros das federações, associações, diretorias dos clubes, trabalham duro para poder fazer sua parte em prol desse evento tão querido e esperado que visa divulgar essa atividade que é mais que um esporte, é um estilo de vida.

Nesta edição, o leitor poderá ter acesso a uma matéria especial que conta a história por trás da ATM do Rio de Janeiro, conhecerá o que o nordeste tem de escalada para oferecer, saberá como proceder em escaladas em via ferrata e verá que o CEL está valorizando sua história e investindo em sua organização documental.

O leitor perceberá que as matérias terão sua leitura complementada na revista digital no site do CEL e essa é mais uma iniciativa do CEL, que visa promover a leitura da Revista Papo de Montanha no site do clube em seu formato digital.

Dessa forma, conseguimos contribuir para um mundo sustentável, buscando o mínimo impacto não só nas montanhas, mas no nosso convívio diário.

Esperamos que a temporada traga grandes aventuras para todos, momentos incríveis, desafios e montanhas cada vez mais altas.

Que comece a ATM 2013!

históriaHistória da ATM ........................ 04 Waldeci Mathias conta como tem sido organizar a ATM (Abertura da Temporada de Montanha), no Rio de Janeiro.

técnicaCabo de Aço ................................. 06 Hans aborda um tema que virou notícia recentemente com o acidente ocorrido na via CEPI no Pão de Açúcar. As técnicas de segurança foram todas revisadas nessa matéria.

escalando por aíTem Escalada no Nordeste? ............ 08Claudney Neves conta suas histórias em mais um tour nordestino e divulga o XII Encontro de Escaladores do Nordeste (EENe).

exposiçãoMontanhas no CEL ........................... 12 A exposição desta temporada resgata a memória fotográfica do CEL e revela ao público fotos históricas do arquivo do clube.

consultoriaMapeamento de Processos .............. 15Pensando em evitar a solução de continuidade que atinge muitos Clubes de montanha, o CEL mapeou suas atividades e documentou todos esses fluxos.

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Domingo, 22 de março de 1987, escaladores de todo o Brasil se reúnem sob o sol forte na Praia Vermelha, Rio de Janeiro, para lembrar a todos que o esporte de montanha, no Brasil, vive.

Com o título TEMPORADA 87 DE ES-CALADA, a Revista Montanha, única publi-cação do gênero na época e de vida efême-ra, abriu a matéria com o parágrafo acima. Nosso evento ainda não possuía o título de hoje, Abertura da Temporada de Montanhis-mo, mas foi o primeiro encontro entre esca-ladores para celebrar a melhor época para se escalar. Esse primeiro encontro foi promovido pelo Centro Excursionista Guanabara. Os ou-tros clubes logo fi-zeram coro. Nos anos 1990 ATM tomou o corpo que é usado até hoje: cada entidade com sua barraca/stand, gincanas, escaladas pela manhã e social à tarde com sorteio de brindes encerran-do a ATM. Lembro

que cada clube tinha que levar sua própria barraca, uma gazebo, montar e desmontar. E as gincanas agregava legal a galera. Com o tempo, elas saíram da programação, acho que o pessoal enjoou...

Já mais pro final dos anos 1990 entraram empresas para montar a ATM. Foi aí que ela cresceu muito. Entrou a

autor: Waldecy Mathias

ATM 1995

Reunião com o prefeito do Rio

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participação de patrocinadores e também da Prefeitura, via Secretaria Municipal de Esportes.

Já na segunda metade dos anos 2000, não havendo compensação financeira, nenhuma empresa quis mais tocar a ATM. Em 2007, quando eu era vice-presidente da FEMERJ, o Bernardo Collares, o então presidente da FEMERJ, me chamou para tocar a ATM. Se não o fizesse, ela acabaria. Bati muita cabeça pra

aprender os caminhos pra se montar um grande evento ao ar livre. Muita gente me ajudou. Gente que também não queria que a ATM acabasse. “Wal, tem gente que eu só vejo uma vez por ano - na ATM, ela não pode acabar...” me diziam.

A Prefeitura começou a pedir uma série de exigências. A ATM de 2010, que eu chamo de ATM mendiga (!), tocamos ela somente com o lucro da venda das cami-setas, sinistro! E mesmo com o Prefeito Eduardo Paes assinando em fevereiro de 2010 o Decreto n. 31906 que reconhece a ATM no calendário oficial da Cidade do Rio de Janeiro. Já em 2011, a RioTur resolve colabo-rar com a ATM - é a prefeitura novamente entrando no nosso grande evento. Foi-se a ATM mendiga...hahaha.... Após esses 26 anos de vida, a Aber-tura da Temporada de Montanhismo virou o maior evento de nosso esporte no Brasil. Recebe montanhistas do país todo e conta com um apoio sólido da Prefeitura. Este ano está previsto um grande muro de es-calada, cinema na praça com projeção de filmes de montanha, workshops de esca-lada e palestras. Mas o que não mudou nesses longos anos é a grande confra-ternização da galera... Isso não muda... Nos vemos então lá, na Praça General Tibúrcio, Praia Vermelha, nos dias 27 e 28 de abril!

ATM 2004

Reunião com o prefeito do Rio

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Em dezembro do ano passado ocorreu um acidente fatal no Pão de Açúcar que chamou muita atenção na população. Entre os montanhistas, a discussão girou especialmente sobre o fato do acidente ter ocorrido na única Via Ferrata existente no estado do Rio de Janeiro. A FEMERJ logo instituiu um grupo de trabalho com objetivo de elaborar recomendações tanto para instalação quanto para uso de cabos de aço, englobando vias ferratas (ex. CEPI) e também escaladas com seções de cabo de aço (ex. Passagem dos Olhos, Dedo de Deus etc.).

A seguir apresentamos as recomendações sobre técnicas de segurança em escaladas com cabo de aço. Convidamos o leitor a aprofundar o conhecimento em oficinas técnicas no Clube Excursionista Light (veja programação no site) e a estudar o documento inteiro que será publicado no site da FEMERJ.

Esta matéria visa transmitir as informações básicas para escalar com segurança em trechos com cabo de aço. Visto que há pouquíssimas vias ferratas no Brasil, o texto não explica todas as variações – se o leitor pretende praticar esta forma de montanhismo recomenda-se procurar mais fontes detalhadas. Existem três técnicas de segurança quando se escala um trecho de cabo de aço, seja ele uma Via Ferrata ou parte de uma via de escalada tradicional:• Usando corda e costuras, como em escalada em livre;

• Usando um Kit de Via Ferrata com absorvedor de energia;• Usando solteiras estáticas.Em seguida são apresentadas as três técnicas. Depois segue uma comparação com indicações e riscos específicos e outras observações.

1. Segurança com Corda

Nesta técnica, a segurança é idêntica à escalada em livre: a corda une o guia e o segurador. Ela é clipada nas ancoragens do cabo de aço mediante costuras. A potencial queda é amortecida por um freio. Todas as

técnica

autor: Chris Semmel tradução e adaptação: Hans Rauschmayer

fotos: Pitt Abel e Hans Rauschmayerilustrações: Georg Sojer

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técnicas de segurança válidas para escalada em livre devem ser aplicadas.

Cuidados especiais:• Os elementos de fixação do cabo de aço (presilhas, roscas) e o próprio cabo (fiapos) podem danificar a corda durante progressão ou queda.

• O cabo atrapalha a movimentação das costuras.

Por isso é importante que o guia tome muito cuidado durante a ascensão, prevendo os cruzamentos entre corda e fixações. Verifique os exemplos abaixo:

2. Segurança com Kit Via Ferrata O Kit Via Ferrata foi desenvolvido para que uma pessoa consiga escalar de forma segura, independente de um

parceiro. Antigamente existiam dois formatos, o em “Y” e o em “V”. O último foi retirado da norma, devido à várias desvantagens e não deve ser mais usado.

Figura 1: PERIGO - a corda pode ser danificada pelas roscas ou romper durante uma queda

Figura 4: Cuidado onde a corda cruza o cabo - verifique se há fiapos ou algo que possa danificar a corda.

Figura 3: Correto - as costuras em gram-pos separados mantêm a corda longe do cabo.

Figura 5: A costura foi clipada do lado errado do cabo, não respeitando a linha da escala-da. Por falta de liberdade de movimentação, o mosquetão ficou em posição atravessada.

Figura 2: PERIGO - a ancoragem do cabo pode danificar a fita ou prender o mosquetão

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A variedade de modelos no merca-do é enorme e está havendo uma evolução rápida. Em seguida são apresentados os princípios em comum. Antes de usar um kit, estude com atenção o manual específico do modelo, experimente o uso em casa e leve o manual junto nas primeiras escaladas para tirar dúvidas no local. A figura abaixo apresenta os elementos de um kit típico.

Figura 6: Formatos de Kits Via Ferrata

2.1. A Alça de fixação A alça serve para prender o kit no loop da cadeirinha por boca de lobo. Alguns kits são eq-uipados com uma alça adicional que serve como solteira estática para des-cansar.

Figura 7: Elementos típicos de um Kit Via Ferrata

Figura 8: Fixação do kit na cadeirinha

2.2. A solteira A solteira é um pedaço de fita ou corda. Modelos mais sofisticados têm uma solteira retrátil que facilita o manuseio (cuidado: houve recalls em 2012 – procure no site do fabricante do seu equipamento). As solteiras ja-mais devem ser encur-tados – nós e quinas no mosquetão reduzem a resistência.

Figura 10: Quebra de solteira retrátil

Figura 11: Não encurte a solteira

Figura 9: Alça de descanso

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Figura 10: Quebra de solteira retrátil

2.3. O absorvedor (freio)

A função do absorvedor é amortecer a queda. Há, basicamente, dois tipos: • A solteira passa por uma chapa metálica. Durante a queda, a ponta livre corre pela chapa, onde o atrito absorve a energia.

Figura 13: Freio tipo fita costurada

• A ponta livre da solteira é costurada da forma que as costuras rasgam durante a queda, absorvendo a energia (O cinto automotivo funciona dessa forma). A norma EN 958 / UIAA 128 exige que o caminho de frenagem deve ter 120cm e a força máxima incidindo ao corpo do escalador durante a queda deve ser de 6kN. O teste é efetuado com um peso de 80kg. No entanto, observou-se que as condições de teste não são seguras para escaladores com peso inferior, podendo resultar em uma força mais alta e até perigosa para pessoas leves (testes da associação alemã de alpinismo em 2010). Por isso existem modelos com frenagem progressiva, protegendo uma faixa maior de peso do usuário.

Outros fatores podem modificar o comportamento do freio, especialmente no modelo de chapa: a corda seca corre diferente da molhada; ela endurece com o tempo. O departamento de segurança da associação alemã de alpinismo (DAV) recomenda comprar kits com absorvedores do tipo fita costurada, por sofrer menos com o envelhecimento (Bergundsteigen 01/2013).

No ensaio, a altura da queda são 5m, o que corresponde a um desnível de 3m entre grampos (veja Figura 17). Em quedas mais altas o freio pode não funcionar de forma segura. Os ensaios da UIAA estão em fase de evolução constante e ainda não chegaram a um procedimento consolidado. Há-de-se esperar muita inovação durante os próximos anos.

E após a queda, pode se reutilizar o freio?

Pelo impacto da queda, no freio de chapa, a corda / fita muda de característica e não atenderá mais à norma. Ela até pode ser rebobinada para terminar a escalada, mas deve, logo depois, ser substituída por outra recomendada pelo fabricante para este modelo (qualquer uma não serve!).

O freio costurado é descartável – jamais tente consertar! Entre em contato com o fabricante para se informar sobre peças de reposição.

2.4. O mosquetão

Os mosquetões dos kits são específi-cos, chamados de tipo K (K = “Klettersteig”, via ferrata em alemão). Em relação a mos-quetões de escalada livre, a norma (EN 12275, UIAA 121) exige para este tipo uma resistên-cia maior com trava aberta e um ensaio de torção. Eles costumam ser dotados de um mecanismo que facilita o destravamento du-rante o uso.

Figura 14: Risco de torção do mosquetão e ensaio pela norma

Kits antigos fixaram o mosquetão com um nó, o que se mostrou muito per-igoso porque o nó se afrouxa durante o uso. Utilize somente kits com mosquetão cos-turado e não refaça a costura com meios próprios –somente máquinas industriais e fios especiais garantem a segurança.

Figura 12: Freio tipo chapa metálica

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2.5. O uso

Antes de sair de casa: • Verifique se o fabricante emitiu um recall para seu modelo•Verifique no manual se o kit é adequado para o peso do escalador que pretende usá-lo• Verifique se o kit e o freio ainda estão em condições perfeitas. Em freios tipo chapa pode ser necessário rebobinar a corda / fita alguns milímetros conforme indicações do modelo.

Equipar: • Vestir cadeirinha e capacete; • Fixar o kit no loop da cadeirinha com boca de lobo. Jamais utilize um mosquetão!•Arrumar a ponta livre da corda da forma que ela possa entrar no freio durante uma queda, mas que não atrapalhe os seus movimentos;• Verificar o parceiro. Ao escalar sozinho, não deixe de revisar tudo criteriosamente.

Escalar: • Mantenha sempre os dois mosquetões presos no cabo de aço. Clipar somente um no cabo e o outro na cadeirinha pode ser um erro fatal.• Procure escalar empurrando os mos-quetões com a mão para evitar que eles fiquem presos em algum obstáculo.

2.6. Quedas Com o kit via ferrata o fator de queda aumenta muito: em um trecho com distância vertical de 3m entre dois grampos pode-se chegar a um fator de queda de 6! O tranco é violento e a probabilidade de bater contra fer-ragens ou a própria parede é alta. Quedas são raras em vias ferratas, mas quando acontecem causam, no mínimo,

alto incômodo no escalador. Fraturas das costelas ou outros ferimentos são frequentes. Por isso, o escalador terá dificuldades ao continuar a via após uma queda.

Evite quedas! Vias Ferratas não são um ambi-ente adequado para testar limites.

2.7. Vida útil A vida útil do kit via ferrata é informado pelo fabricante no manual (normalmente entre 5 e 10 anos). Uso frequente ou outros fatores podem reduzir a vida útil consideravelmente.

Figura 16: Fator de queda em vias ferratas

Figura 15: Como passar os mosquetões pelas fixações – mantenha sempre os dois mosquetões no cabo!

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Importante: nenhum fabricante inclui produtos antigos, cuja vida útil já passou, em campanhas de recall. Observar este fato é re-sponsabilidade do consumidor.

3. Solteiras estáticas Solteiras estáticas (sem absorvedor) podem ser utilizadas para poupar a força dos braços em trechos horizontais (ex. Passagem dos Olhos) ou para descansar em grampos. O uso em trechos verticais é errado, já que o material estático (fita, mosquetão) vai romper durante uma queda.

Corda Kit Via Ferrata Solteira estática

Aplicação

•Qualquer situação, desde que aplicando todos os pro-cedimentos da escalada em livre

•Cabo de aço confiável •Trechos horizontais em cabo de aço con-fiável •Descansar em fixações

Velocidade •Lenta •Rápida

Vantagens•Redundante ao cabo de aço•Permite ajudar a partici-pantes menos fortes

•Escalada sem parceiro•Pouco material

Riscos

•Danos e rompimento de corda por fixaçõesConflito entre fixações e costuras

•Rompimento do cabo•Cansaço•Quedas violentas

•Rompimento do cabo

Não usar

•Escalador muito leve ou mui-to pesado (confira no manual)•Distância vertical das ancora-gens acima de 3m•Pessoas inseguras no uso do kit

•Não usar onde há risco de queda de qualquer altura!

Tome cuidado de guardar as solteiras em trechos verticais (ex. final da Passagem dos Olhos), já que a falsa sensação de segurança já contribuiu para muitos acidentes.

4. Comparação A seguinte tabela apresenta as cara-cterísticas de cada técnica de segurança em trechos de cabo de aço. Fica evidente que não existe a técnica perfeita. A escolha cabe ao escalador. Pode ser necessária mudar a se-gurança ao longo da escalada.

Exemplos

Passagem dos Olhos (Pedra da Gávea):

A maior parte do cabo de aço é horizontal, perfeito para empregar duas solteiras estáti-cas que previnem um cansaço nos braços. Se duvidar do estado do cabo, use também segurança de escalada com corda, costurando os grampos. Já o último trecho é vertical – as solteiras não segurariam uma queda. È recomendado retirar as solteiras e usar segurança de escalada com corda.

Dedo de Deus, trecho inicial:

Os primeiros cabos no acesso ao Dedo de Deus são verticais – a segurança com solteiras estáticas dá uma falsa sensação de segurança e deve ser abandonada. O Kit Via Ferrata também não procede, por causa da distância vertical acima de 3m entre as ancoragens. A única técnica correta usa corda e costuras.

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CEPI (Pão de Açucar):

A grampeação da CEPI ainda não respeita as recomendações para vias ferratas, da forma que ela deve ser encarada como uma escalada tradicional, usando corda e costuras. A ade-quação para uso do Kit Via Ferrata está sendo planejada – acompanhe a lista da FEMERJ para ficar por dentro da situação.

5. Outros Assuntos

5.1. Outros equipamentos para cabos de aço Não deixe de usar um capacete: a alta frequência de escaladores em vias ferratas aumenta a quantidade de objetos em queda livre (pedras, garrafas de água, etc.). E as quedas tipicamente não são limpas, aumen-tando o risco de lesões. Luvas de couro macio protegem as mãos contra fiapos de aço e protegem a pele. Há modelos para escalada, com pontas dos dedos livres, parecidos a luvas de ciclismo. Evite couro grosso, porque cansa as mãos.

5.2. Antes de escalar: como avaliar o cabo de aço? Será que é possível avaliar o estado de segurança de um cabo de aço antes de usá-lo? Resposta curta: não é possível, pois não conseguimos ver o cabo inteiro. A melhor forma para conhecer o estado é consultar a comunidade local de escaladores, mas, como em qualquer via de escalada, não há garantias. Alguns fatos indicam mau estado: • Cabo enferrujado ou muito fino;• Ancoragens finas, tortas, soltas ou enfer-rujadas;• Falta de fixações (o ponto final do cabo e emendas devem estar fixados por três presilhas);• Fiapos expostos;• Fita isolante ou plástico envolvendo o cabo: pode estar escondendo fragilidades. É reco-mendado retirar. Afinal, o que está podre deve ser visível e é melhor que alguém machuque a mão num fiapo do que perca a vida por um cabo rompido por corrosão. Se encontrar uma situação duvidosa, avalie se é melhor continuar a via com cui-dado ou abandoná-la. A escalada, como em qualquer via, ocorre sob risco e responsa-bilidade do próprio escalador. Não deixe de avisar a comunidade local sobre os defeitos para informar os próximos e providenciar reparos.

5.3. Como cansar menos Em vias ferratas, a maioria dos resgates ocorre por causa de escaladores com braços cansados. Claro, o cabo induz ao se puxar continuamente. Melhor é usar os pés onde possível, aproveitando agarras e as fixações da via. Os braços são indispensáveis em trechos negativos e de oposição.

5.4. Usar o cabo ou escalar em livre? Segurar o cabo de aço reduz o risco de quedas, portanto é aconselhável usá-lo. Se optar por dispensá-lo, fique ciente dos riscos adicionais durante quedas:• Os pés do escalador podem ficar presos atrás do cabo. Ele pode bater contra grampos, fixações ou degraus de metal;• A corda pode ser danificada por fiapos ou fixações.

5.5. Distância Se um escalador cair, ele chega a 3m abaixo da próxima ancoragem, adicionando solteira, ponta livre e as pernas dele. Mantenha distância!

Figura 17: É arriscado escalar em livre do lado de vias ferratas

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5.6. Ascensão artificial É imprescindível conhecer bem a ascensão artificial para situações de braços feridos ou cansados, ou quando o cabo está molhado ou escorregadio. A técnica, chamada de auto ascensão por prusik é idêntica à ensinada em cursos básicos de escalada e deve ser treinada com frequência. No cabo de aço é ainda necessário transpor as fixações. Além do cordelete pode-se usar uma fita com nó marchard

Figura 18: Mantenha distância!

Fotos (onde não indicado diferentemente): Hans Rauschmayer, Pitt AbelDesenhos gentilmente cedidos por Georg Sojer www.illustration.de Fontes:•Pit Schubert, Seguridad Y Riesgo em Roca e Hielo, vol II e III, Ed. Desnível, 2007 (trad. da 1ª edição alemã de 2002): pág. 59-101, 265-266•Pit Schubert, Seguridad Y Riesgo em Roca e Hielo, vol III, Ed. Desnível, 2009, pág. 45-55, 181-194, 219-22, 253-262•Revista Bergundsteigen 2/00, 3/00, 2/04, 3/05, 2/07, 3/07, 3/10, 4/10, 2/11, 3/12, 1/13, www.bergundsteigen.at •Normas EN 958, EN 12275•http://de.wikipedia.org/wiki/Klettersteig•http://www.klettersteig.de/•http://www.via-ferrata.de •http://www.mammut.ch/viaferrata_explanation_operating_instructions •www.mammut.ch/images/Klettersteigfibel_D_.pdf

Figura 19: Como prusikar em cabo de aço

levemente modificado, chamado de nó autoblocante FB (os iniciais do seu inventor Franz Bachmann) – observe a asel-ha formada na costura da fita.Este nó prende bem até em cabo molhado, mas é fácil de soltar para progredir.

5.7. Descarga atmosférica (raios) O cabo de aço na montanha nada mais é do que um para raio enorme. Afaste-se do cabo quando há temporais. Observe a previsão do tempo antes da escalada.

Figura 22: O nó autoblocante FB

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Em setembro de 2009, através da lista da Federação de Montanhismo do Estado do Rio de Janeiro (FEMERJ), Antonio Paulo Faria sugeriu um levantamento das escaladas no país. O título era “Total de Vias de Escalada no Brasil”. Na mensagem ele quantificou 5.200 vias, sendo metade destas nos estados de Rio de Janeiro e Minas Gerais, seguidos por Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Bahia, Goiás, Distrito Federal, Espírito Santo e outros estados. O nordeste inteiro, com exceção da Bahia, estava contido nesses outros estados, que, segundo o levantamento contariam com 200 vias. Na época, somente no Ceará, havia mais vias que esse número. De 2009 até hoje esta imagem já mudou um pouco. A pergunta comum “Tem escalada no nordeste?” não é mais tão repetida como

no passado, quando conversamos sobre o assunto em alguma roda de amigos. Um dos principais fatores responsáveis por essa divulgação é o Encontro de Escaladores do Nordeste (EENe), que em 2013 vai para a sua 12ª edição. Mais adiante falo o que é o EENe, sua história e a importância do evento para a escalada naquela região.

Redescobrindo o nordeste Desde que me apaixonei por esse mundo da escalada já conheci muita coisa pelo nordeste, mas sempre foram viagens curtas ou fugas das festas de família e exigências de Dona Irene, a Matriarca dos Neves, que me fizeram passar poucos dias escalando por lá. Ano passado queria ficar um pouco mais. Conseguimos!

escalando por aí

autor: Claudney Nevesfotos: Claudney Neves | Karla Paiva

XI EENe 2012Serra Caiada

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Aproveitando as festas de final de ano, combinei com Karla que passaríamos o natal em João Pessoa, o réveillon em Fortaleza e rechearíamos os dias restantes com escaladas em outras cidades. Ao todo 22 dias rodando pelo nordeste, “a pé”.

Pernambuco Aterrissamos em Recife e pegamos um ônibus para Caruaru, de lá uma Toyota. Nosso destino era Brejo da Madre de Deus, onde chegamos no final da tarde. Encontramos Silas, que nos recebeu e levou ao abrigo mantido pela Associação Pernambucana de Escalada em Rocha (ASPER). Resolvemos dormir por lá, mesmo com a diária sendo abusiva, R$ 15 pelo período que você quiser passar, seja qual for a quantidade de dias. Então, se seu desejo é escalar um mês em Brejo, vai pagar R$ 15 por esses trinta dias. A noite foi de confraternização, com Felipe, Clara e Silas. O casal foi embora no dia seguinte. A temporada no Nordeste estava bastante seca, bem mais que o normal. Todos que viram as fotos se assustavam com o estado da vegetação. O que era verde durante o ano inteiro, estava cinza. Não acordamos cedo, acontecimen-to comum durante quase toda a viagem, e fomos para o Setor da Caverninha, na Serra do Estrago, conhecer três novas vias espor-tivas que ainda não estavam no guia editado pelo Cauí Vieira, que pode ser baixado neste endereço http://escaladape.blogspot.com.br/. Felipe, de Recife, nos acompanhou. As vias são de agarras e bem técnicas, uma verdadeira régua, a primeira de 5º grau, a segunda um 6º e a última um 7º, essas duas últimas com o primeiro grampo bem alto. Felipe escalou as duas primeiras e teve que voltar para a capital. Karla e eu ficamos por lá e, após sofrermos na que restava, procuramos abrigo até o sol se acalmar.

Quando a sombra chegou à Falésia dos Desenhos Animados, seguimos para lá e entramos na Gasparzinho (V sup), via muito interessante completamente em móvel. Começa em um diedro, continua por uma fenda de dedo horizontal e termina em um entalamento de mão. O sol que nos castigou mais cedo começava a ir embora quando Karla chegou ao final da via. Descemos e fomos jantar a melhor carne de sol do planeta no posto quase em frente à Serra, mais conhecido como Simpático. Quem tiver o prazer de comer ali vai entender o porquê do nome. O dia seguinte também amanheceu preguiçoso. Tomamos café pela cidade, pegamos dois mototáxis e, após uns 10 ou 15 minutos de moto, entramos na trilha da Pedra da Bicuda, uma formação inconfundível, vista de longe. A base da pedra parecia outra dimensão em meio ao calor infernal que estava naquela tarde. O vento sopra fresco. Só com muita vontade de escalar para deixar aquele conforto após 40 minutos de microondas no meio da Caatinga. Queríamos escalar vias tranquilas nessa tarde. Entramos na Rei das Coxinhas (3º V), uma clássica do lugar e na Recruta Zero (3º V), esta com trechos positivos e algumas

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barriguinhas que merecem respeito. O fato curioso do dia foi uma águia chilena que apareceu quando estávamos na primeira via. Ela soltou alguns grunhidos, nos acompanhou por um tempo e depois foi embora. Alguns dias depois mais um fato, digamos, íntimo, aconteceria com outro bicho desses. Rapelamos já à noite e da trilha ligamos para nosso resgate. Como um dos mototaxistas não conseguiu contactar outro parceiro, voltamos os três em uma moto para a cidade e jantamos mais uma vez no Simpático. Karla não passou a noite muito bem. Tínhamos combinado escalar o Diedro dos Grampos Mal Batidos (4º IV) na manhã do dia seguinte e partir para Campina Grande à tarde. Desfizemos os planos. Quando o dia avançou a menina disse que toparia tentar a via, fomos então. O acesso estava sendo feito pelos fundos da Secretaria de Agricultura, fomos lá no dia anterior e falamos com a Beth,

que também escala, conseguiu autorização para entrarmos, mas não soube passar muitos detalhes sobre a trilha. Resultado, acabamos chegando ao diedro por um caminho bastante alternativo. Mato, espinhos, maribondos e a incerteza de não encontrar a via nos

acompanhou até a base, mas chegamos. O diedro possui 80 metros e é feito totalmente em móvel, apenas com as paradas em grampo, que dão o nome à via. Escalei a primeira enfiada, mas Karla sentiu a noite mal dormida e a trilha difícil, não conseguiu subir. O detalhe é que o diedro

faz uma curva para a direita e eu só estava levando uma corda, a outra estava com ela. O primeiro problema seria alcançar a outra corda, o segundo retirar as peças da fenda, o terceiro não voar na diagonal. Em uma mistura de rapel, ascensão, homem-bala e segurança de guia atrás de blocos, conseguimos descer sãos e salvos.

O diedro possui 80 metros e é feito

totalmente em móvel, apenas com as paradas em grampo, que dão o

nome à via.

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Na volta pela trilha, vimos que havia totens marcando o caminho, na ida apenas entramos no lugar errado, muito à esquerda. Foi fácil chegarmos à Secretaria antes do final da tarde.Nessa noite conhecemos Marcus e Sabrine no abrigo, pena que partimos no dia seguinte. No ano seguinte encontramos com ele em Bariloche em outra viagem e outra história.

Paraíba De Brejo da Madre de Deus para Campina Grande também não é tão fácil de chegar. Primeiro pegamos uma Toyota até a BR, em um lugar conhecido como Lampião, de lá entramos em outra para Santa Cruz do Capibaribe e, por último, uma camionete até o destino da vez. Chegamos no dia do aniversário do pai de Claudionor, o xerife da escalada local, que nos recebeu em sua casa e intimou Ricardo, Rossini e família, que nos levaram para escalar na Pedra do Marinho, o Parque do Poeta estava fechado por conta de problemas com o acesso de escaladores. Após ajudarmos a acabar com a comida e bebida do aniversariante, Ricardo passou na casa de Claudionor e seguimos para encontrar Rossini, já na sombra das vias do lugar. A tarde foi uma mistura de risadas e escaladas interessantes. Karla e eu fizemos uma via inteira e a primeira enfiada de mais três vias porque queríamos participar das conversas de base. A rocha é bastante abrasiva e as vias bem interessantes, com lances técnicos e de dificuldade diversa. Passeamos entre o 3º e o 6º grau. Os setores ainda não contam com um

guia. A dica é interagir com os escaladores locais, que, com prazer te levarão para as pedras. O dia foi embora, nos despedimos de Ricardo e pegamos carona com Rossini e família. Após algumas horas de conversa regadas com cerveja e abastecidas com pizza, voltamos para a casa de nosso cicerone. Amanheceu e Claudionor nos levou para conhecermos promessas de novos setores de escalada na região. São lugares onde há uma ou outra via de escalada, mas que ainda podem crescer muito se

aparecer gente interessada nisso. No final dessa tarde corremos para pegar um ônibus para Araruna, nossa pon-te para chegar no nosso próximo destino. Ainda na Paraíba A Pedra da Boca é um Parque Estadual e onde se concentram hoje a maioria das vias

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paraibanas. A dica do lugar é ficar no Seu Tico. Estadia no galpão da associação de moradores ou em barraca no seu quintal. Comida barata e simpatia à vontade. Para os que gostam de um pouco mais de conforto, Julio Castellianno terminou a pouco tempo dois bangalôs à uma pequena caminhada dali. Os dois foram nos buscar de carro em Araruna, quando chegamos de Campina Grande. Cerca de uma hora depois estávamos deitados em nossas redes. Na manhã do dia seguinte fizemos uma visita ao Julio e conversamos sobre a necessidade de uma guia do lugar, que está no forno há algum tempo. Com cerca de 40% das vias já catalogadas, falta gente pra ajudar na empreitada, principalmente para repetir as vias. Se você tem tempo e disposição é uma causa muito nobre para entrar. À tarde fomos conhecer um novo setor no contraforte da Pedra da Boca. São vias cur-tas e fáceis. Perfeitas para o final do dia, onde a sombra cobre toda aquela face. O grau varia de 3º a 5º e a rocha lembra muito a Pedra do Marinho, com seus cristais agressivos. No dia seguinte, entramos na Estilo Agressivo (4º V sup), com duas enfiadas, sendo a última uma canaleta-chaminé que me

cuspiu quando um dos cristais do pé quebrou lá dentro. Para variar nessa temporada, o sol estava assando. Ao chegar ao final da via, no cume da Pedra do Carneiro, voltei para um platô alguns metros abaixo, de onde fiz a segurança de Karla na sombra. Rapelamos, voltamos para o galpão e arrumamos as

mochilas para partir mais uma vez. A Pedra da Boca, oferece muito mais vias dos que as simples que fizemos. Há escaladas para todos os níveis e estilos, os cristais predominam, mas há fendas, diedros, churreiras e até um pouco de agarrência. É um dos lugares onde você sempre tem alguma via nova para se divertir. Dona Nazaré conseguiu um taxi para nos levar até Serra Caiada, nosso próximo ponto de parada e onde faríamos a maior via dessa viagem.

Rio Grande do Norte Na verdade a Cavalo de Tróia (4º V A0), fica em Sítio Novo, distante 35 km de Serra Caiada, mas nossa base foi no abrigo do Denn Malloy, de frente para a pedra que empresta o nome à cidade. Romeritho, de Natal completaria a segunda cordada. Serra Caiada foi a sede do último EENe, que rendeu um guia para os setores, disponível em http://www.aern.org.br/GuiaXIEENe.pdf. A pedra lá é o gnaisse, que produzem boas agarras e também um boa diversidade. Chegamos no lugar já quase noite, resgatamos a chave do abrigo onde Denn nos

indicou que estaria e fomos procurar onde comer. Nas proximidades da rodoviária se concentram as maiores possibilidades. Terminamos ali e fomos comprar os mantimentos para o outro dia. Denn e Romeritho chegaram da capital já noite. Acompanhamos os dois até uma lanchonete e conversamos sobre a via. A Cavalo de Tróia possui 290m e hoje é a maior via do estado. Durante o dia inteira fica de cara para o sol, por isso iniciar bem cedo é a melhor estratégia. E assim fizemos, acorda-mos às 4h30 e um pouco depois das 6h estávamos na base, ape-nas dez minutos desde onde es-

tacionamos o carro. Nos primeiros lances da via há um 4º sup, depois disso segue um 3º grau constante até a base do artificial, na 7ª enfiada, onde há outro 4º sup depois. Passados desses lances e chegando à P7, dois grampos protegem uma canaleta e uma rampa final conduz ao cume. Cristais e aderência alternam as passadas.

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Ceará Os cearenses hoje contam com a croquiteca mais atualizada do nordeste, temos 225 vias catalogadas (março de 2013), a maioria em Quixadá, e cerca de mais 50 ainda sem croquis. Todas podem ser vistas aqui http://escaladanoceara.com.br/croquis.php. Chegamos em Fortaleza e ficamos um pouco na casa dos meus pais antes de falarmos qualquer coisa sobre escalar. Meu desejo era conhecer a Pedra da Pitombeira, em Redenção, e repetir a única via da Pedra Aguda, em Aracoiaba. Para essa última não encontramos companhia, para a primeira Minhoka a Junior Maia foram voluntários. A primeira via da Pedra da Pitombeira foi a Meio do Mato (4º VI sup), aberta em 2011 para o EENe daquele ano. Já em 2005 fui apre-sentado à montanha, ainda sem nenhuma via. Hoje são apenas quatro e nós repetiríamos as primeiras delas. Até Redenção são 70 Km, saímos às 8h de casa e pegamos a estrada, estacionamos o carro em frente ao portão de um sítio e iniciamos a trilha, inicialmente bem definida e após alguns metros, inexistente. Chegamos à base da Meio do Mato e Minhoka foi procurar a Limpa Monstro, não encontrou e voltou. Nós quatro entraríamos na maior via de 190m do mundo. Predominantemente em agarrência, com algumas passadas em móvel e um crux bem definido na última enfiada, a Meio do Mato só peca pela posição de alguns grampos, onde o escalador se arrisca ao fazer o lance desprotegido ou acaba saindo da linha natural da via. Demoramos muito na trilha, um pouco mais para começar a escalar e o resultado foi um rapel à noite e o medo de não encontrar a pseudo-trilha, encontramos. Estávamos de volta ao carro emprestado pela minha irmã por volta das 20h. Ainda era o aniversário de Karla, a primeira mulher do mundo a subir a Pedra da Pitombeira. Após o réveillon, Junior Maia nos convidou para conhecer um setor recém aberto em Itaitinga, distante 22 Km de Fortaleza. São vias esportivas em uma rocha que quase chega a ser um mármore. O vento e as palmeiras são companhias constantes na Ponta da Serra. A trilha segue por um caminho de pedras soltas e demora apenas 15 minutos. Hoje são cinco vias. Fizemos três dessas e descemos para beber alguma coisa no bar do Seu Chico Del,

No início dessa viagem pelo nordeste tivemos o primeiro contato com uma águia chilena, nesse dia outro desses bichos foi mais insistente. Na terceira enfiada um deles começou a dar rasantes em nós, sem maiores consequências até quando cheguei no trecho artificial. Depois de muitos avisos do Denn

quando ela estava pres-tes a baixar, abrimos a guarda e o bicho deu o bote, bateu no meu capa-cete e deixou a marca de uma garra no meu ombro. Sem contar o pequeno incidente, a

escalada foi ótima, um excelente passeio por mais esse point pouco conhecido da grande massa. Para baixar o croqui, visite: http://cauivc.blogspot.com.br/2013/01/sitio-novorn.html. A descida é feita por trilha. Cerca de meia hora depois estávamos de volta ao carro, que nos levou à uma churrascaria próxima de

Serra Caiada. Esta foi nossa última refeição no Rio Grande do Norte. Pegamos uma carona com Romeritho até Natal, à uma hora dali, e, da rodoviária, um ônibus para João Pessoa. Voltaríamos para a Paraíba, onde uma ceia nos aguardava na casa dos pais da Karla. Ficamos na vida boa até o dia 26, quando partimos para Fortaleza, nossa cidade para o réveillon.

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que nos presenteou com uma saca de mangas, colocamos os 10 Kg de frutas no portamalas e voltamos para Fortaleza. Três dias depois estávamos de volta ao Rio de Janeiro, com saudade de todos os amigos que deixamos por lá, felizes de termos feito novos e com a certeza que o nordeste precisa ser redescoberto sempre. São poucos os lugares onde encontramos gente que nos recebe em casa como um membro da família, onde tudo é muito barato e você quase chega a se sentir mal com tanta boa vontade por parte de todos, seja para encontrar um lugar para comer ou te guiar até a base de uma via. Recomendo sempre!

O Encontro de Escaladores do Nordeste

“Realizado anualmente, a cada edição em um estado nordestino, o EENe é hoje o fator mais importante para o desenvolvimento da escalada em rocha na região, atraindo escaladores não apenas do nordeste, mas de todo o Brasil e do exterior para conhecerem o potencial esportivo das cidades que sediam o evento. Foi criado, a princípio, com o intuito de aproximar os escaladores nordestinos, para que pudessem se confraternizar e trocarem experiências. As primeiras edi-ções tiveram um caráter informal, já que naquela época a divulgação do evento era feita no boca a boca. Com o passar dos anos o EENe ganhou força e adeptos fiéis, fazendo com que tomasse lugar de destaque na mídia esportiva, incentivando pessoas de várias partes do país a conhecerem e frequentarem os polos de escalada do nordeste. Palestras e Oficinas ministradas por escaladores renomados também fizeram com que o evento ganhasse respeito e novos participantes, agregando valor cultural e educativo aos Encontros. A integração entre as associações organizadoras e a população local tem valorizado a cultura, os costumes e a economia dos municípios sede desde então, visto que em todas as edições a população participa ativamente das atividades oferecidas.” Com esse texto de Édervan Menger o EENe abre a página de história em seu novo site http://www.eene.com.br/. Em 2013, como falei lá no início, será realizada sua 12ª edição, em uma cidade do interior da Paraíba, chamada Algodão de Jandaíra.Esta é a oportunidade perfeita para conhecer os escaladores locais e um pouco da escalada no nordeste. Os últimos eventos tem atraído cerca de 200 pessoas e a cada ano melhora sua estrutura e organização. No site é possível acompanhar o que está sendo feito e obter mais informações sobre o lugar. Fica o convite, então, para que você participe e também se apaixone. De 15 a 17 de novembro estaremos lá.

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exposição

MONTANHAS NO CELO projeto Montanhas no CEL é uma iniciativa da diretoria social do Clube Excursionista Light

e tem como proposta apresentar periodicamente exposições sobre o tema montanhas, reunindo registros de amigos, fotógrafos amadores e profissionais da fotografia, sempre com foco no montanhismo e todas as suas vertentes.

Nesta edição o projeto abre espaço para comemorarmos o aniversário do nosso clube, fundado em 12 de fevereiro de 1957, e para esta exposição foi realizada a recuperação do acervo fotográfico com imagens de diversas atividades que aconteceram entre os anos 60, 70 e 80 que contam um pouco da história dos primeiros sócios aqui no Rio de Janeiro.

Foi feito um cuidadoso processo de seleção e organização das fotos, escaneamento e sutil recuperação digital. As fotos originais foram dispostas em álbuns e encontram-se em nosso acervo para apreciação de todos os sócios e público em geral.

As atividades realizadas pelo clube foram registradas em diversos formatos. Entre as principais estão “o treinamento de escalada”, termo usado inicialmente pelos sócios para descrever o pai do CBM, as festas Juninas, inaugurações das sedes (esta é a segunda sede pelo que podemos perceber nas imagens), além do registro de algumas expedições à praias e cidades como São Paulo (Instituto Butantan) que revelam o caráter originalmente excursionista do clube.

Esta seleção especial de fotos encontra-se exposta em nossa sede até o final do mês de maio.

curadoria: Karla Paivarealização: Diretoria Social

Primeira excursão do Clube Excursionista Light1o de maio de 1957

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Sem Título (Francisco T. Lisboa)

Campanha Florestal (9/05/1970)

Homem da Montanha Campo Escola (Paulo Martins Ribeiro)

1o Lugar - Tema MontanhistaEscalando o Diedro (R. Luiz Minchetti)

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A exposição conta com parte do acervo de fotos históricas do CEL, que estão passando por um processo de digitalização e tratamento para preservar sua memória, e ficam em exposição que fica em exibição na sede do clube até 30 de junho de 2013.

Festa Junina

Prateleiras(Na foto Paulo Coutinho)

Inauguração da Sede Atual22 de Fevereiro de 1970

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O Mapeamento de processos realizado no Clube Excursionista Light teve como pro-dutos: fluxogramas, normas e manuais. Es-tes documentos possibilitam a melhoria no fluxo de informação, melhor consciência da função de cada colaborador na organização, eliminação de retrabalho e potencialização da eficiência do mesmo.

A finalidade do projeto consistiu na organização e padronização dos processos internos da empresa visando criar uma melhor base para as execuções dos processos assim como a melhoria do clube como um todo em sua parte estrutural.

Um mapeamento de processos se resume a Metodização (criação de um método padrão para execução dos processos) e Normatização (documentação das atribuições)

O projeto teve duração total de seis meses e como resultado direto mapeou 51 processos das nove diretorias do CEL. Gerando 51 fluxos, 9 normas e 9 manuais. Com isso, foi possível padronizar as atividades do clube e redistribuí-las entre as diretorias, aprimorar a cogestão

entre as gestões e, por fim, contribuir para gestão do conhecimento no Clube.

O projeto se tornou caso de sucesso em relacionamento com o cliente entre as Em-presas Juniores cariocas pela participação ativa dos representantes do clube no projeto: Claudney Neves (presidente), Lucas Figueira (secretário geral) e Éder Abreu (vice-presidente) gerando ainda mais valor agregado aos resultados para o mesmo.

A CEFET JR. Consultoria parabeniza o CEL pela iniciativa empreendedora e inovadora de investir em sua gestão organizacional voltando-se para gestão do conhecimento, e assim, deixando um legado para muitas gestões que virão no clube e farão história no montanhismo carioca.

Conheça mais sobre o Movimento de Empresa Júnior e sobre o trabalho da CEFET Jr. Consultoria em nosso site: http://www.cefetjrconsultoria.com.br.

Por sua alta rotatividade na gestão e falta de know how em funções administrativas, Clubes e instituições sem fins lucrativos normalmente sofrem com a gestão do conhecimento, principalmente em relação às atividades da Diretoria. Para sanar tal necessidade, o Clube Excursionista Light procurou a Empresa Júnior de consultoria em Administração e Engenharia CEFET Jr. Consultoria.

autor: Diego Flausino (Diretor de Projetos)

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Programação permanente na Sede do CEL:- Todas as Terças: Treinamento no muro de escalada

- Todas as Quintas: Reunião Social- Terceira semana do mês: Palestra/ Debate no Papo de Montanha

- Última Quinta-feira do mês: Festa dos aniversariantes

acesse:

www.celight.org.br

e fique sabendo das programações do clube e as vantagens de se associar.