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exposição de Júlio de Sousa no S. P. N. O artista Júlio de Sousa é já bastante conhecido do público e da crítica. Per- tence ainda à época das inovações no nosso meio, que felizmente já não é duma tacanhez tão excessiva que nos mereça um desprezo absoluto. Companheiro do infeliz Tagarro, mor- to prematuramente, e de outros, Júlio de Sousa não é um constructor, na ele- vada concepção que a arte atribui ao termo; essa glória pertence aos maio- res: Dordio, Almada, Macedo, Franco. Júlio expõe, no S. P. N.: escultura, bonecos de barro, pintura e desenho. Escultura: É na escultura que o artista melhor nos mostra o seu talento. Dos bustos e máscaras, destacam-se, entre os demais, o retrato de Augusto de Abreu, o busto de Julieta Ferrão e o de Adelaide Felix. No primeiro, realista na concepção, é de linhas fisionómicas bastante expres- sivas (o realismo ainda possui virtudes salutares...) já o mesmo não acontece a outros trabalhos de tendências dema- siadamente amaneiradas, caindo muitas vezes no superficial e no figurino de modas, como acontece com o retrato de Oliva Guerra. No busto de Julieta Ferrão de óptima modelação, ampla e sóbria, magnífico de concepção, tendo algo de carranca, Júlio faz-nos lembrar a arte dos renas- centistas. No de Adelaide Felix impressiona-nos sobretudo a expressão profundamente anímica, e o egipcianismo da forma mais concretiza esse efeito. Os bonecos de barro: são caricaturas de personagens em destaque. Neste género, muito pouco cultivado entre nós, Júlio merece lugar proemi- nente. A tendência caricatural de Júlio é notória, e inclusivamente os seus bus- tos a acusam. Pintura e desenho: Sobre estas duas modalidades pouco diremos porque na realidade muito pouco há a dizer. A pintura de Júlio toca essa fase superficial de que já falá- mos, e também surge na escultura. Vazia e inexpressiva, fria e crua de cores, não se observa nela a exponta- neidade de que a sua escultura está possuída. Finalmente: a arte não é nem habili- dade nem falta de habilidade, é qual- quer coisa que une um princípio a um fim. RÓMULO 1 9

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Page 1: exposição de Júlio de Sousa nodspace.uevora.pt/ri/bitstream/123456789/288/22/Síntese... · 2013. 3. 12. · Os bonecos de barro: são caricaturas de personagens em destaque. Neste

e x p o s i ç ã o

de Júlio de Sousa no S. P. N.

O artista Júlio de Sousa é já bastante conhecido do público e da crítica. Per­tence ainda à época das inovações no nosso meio, que felizmente já não é duma tacanhez tão excessiva que nos mereça um desprezo absoluto.

Companheiro do infeliz Tagarro, mor­to prematuramente, e de outros, Júlio de Sousa não é um constructor, na ele­vada concepção que a arte atribui ao termo; essa glória pertence aos maio­res : Dordio, Almada, Macedo, Franco.

Júlio expõe, no S. P. N . : escultura, bonecos de barro, pintura e desenho.

Escultura:

É na escultura que o artista melhor nos mostra o seu talento. Dos bustos e máscaras, destacam-se, entre os demais, o retrato de Augusto de Abreu, o busto de Julieta Ferrão e o de Adelaide Felix.

No primeiro, realista na concepção, é de linhas fisionómicas bastante expres­sivas (o realismo ainda possui virtudes sa lu ta res . . . ) já o mesmo não acontece a outros trabalhos de tendências dema­siadamente amaneiradas, caindo muitas vezes no superficial e no figurino de modas, como acontece com o retrato de Oliva Guerra.

No busto de Julieta Ferrão de óptima modelação, ampla e sóbria, magnífico

de concepção, tendo algo de carranca, Júlio faz-nos lembrar a arte dos renas­centistas.

No de Adelaide Felix impressiona-nos sobretudo a expressão profundamente anímica, e o egipcianismo da forma mais concretiza esse efeito.

Os bonecos de barro:

são caricaturas de personagens em destaque.

Neste género, muito pouco cultivado entre nós, Júlio merece lugar proemi­nente. A tendência caricatural de Júlio é notória, e inclusivamente os seus bus­tos a acusam.

Pintura e desenho:

Sobre estas duas modalidades pouco diremos porque na realidade muito pouco há a dizer. A pintura de Júlio toca essa fase superficial de que já falá­mos, e também surge na escultura.

Vazia e inexpressiva, fria e crua de cores, não se observa nela a exponta-neidade de que a sua escultura está possuída.

Finalmente: a arte não é nem habili­dade nem falta de habilidade, é qual­quer coisa que une um princípio a um fim.

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