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Letras e cores Ideias e autores de 5 a 16 de Outubro | Biblioteca Diana-Bar Exposição

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Letras e cores Ideias e autores de 5 a 16 de Outubro | Biblioteca Diana-Bar

Exposição

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ULTIMATUM O caçador Simão

Jaz el-rei entrevado e moribundo Na fortaleza lôbrega e silene… Corta a mudez sinistra o mar profundo… Chora a rainha desgrenhadamente…

Papagaio real, diz-me, quem passa? - É o príncipe Simão que vae á caça.

Os sinos dobram pelo rei finado… Morte tremenda, pavorosa horror!... Sae das almas atónitas um brado, Um brado immenso d’amargura e dor…

Papagaio real, diz-me, quem passa? - É o príncipe Simão que vae á caça.

Cospe o estrangieor affrontas assassinas Sobre o rosto da Patria a agonisar… Rugem nos corações furias leoninas, Erguem-se as mãos crispadas para o ar!...

Papagaio real, diz-me, quem passa? - É o príncipe Simão que vae á caça.

1890 _ 11 de Janeiro - Ultimatum inglês.

1891 _ 31 de Janeiro - Revolta republicana no Porto.

1909 _ Fevereiro - Fundação da Liga Republicana das Mulheres Portuguesas. _ 23, 24 e 25 de Abril - Congresso Republicano de Setúbal - onde se decidiu tentar a via revolucionária para a conquista do poder e implantação da república. Eleição de um novo Directório: Teófilo Braga, Basílio Teles, José Relvas, Cupertino Ribeiro e Eusébio Leão.

1910 _ 10 de Fevereiro _ Primeiro número do semanário Alma Nacional, de António José de Almeida (último nº. 29 de Set.) _ 5 de Outubro - Proclamação da República. Teófilo Braga tornou-se Presidente da República interino.

1911 _ 20 de Abril - Lei de Separação da Igreja do Estado. Corte de relação com a Santa Sé.

1916 _ Portugal entre na Guerra. Constituiu-se o Corpo Expedicionário Português, que iria combater em França, com 30 mil homens, sob o comando do general Norton de Matos.

A Cruzada das Mulheres Portuguesas foi fundada a 20 de Março de 1916, por iniciativa de um grupo de mulheres, presidido por Elzira Dantas Machado, esposa do então Presidente da Repúbli-ca, Bernardino Machado. Fundada para prestar assistência moral e material aos que dela necessitassem por motivo da guerra com a Alemanha, nos termos da respectiva Lei Orgânica.

1917 _ 5 de Dezembro - Revolução chefiada por Sidónio Pais - “República Nova”.

1919 _ Janeiro e Fevereiro - Tentativas de restauração monárquica - Porto e Monsanto.

1921 _ 15 de Outubro - primeiro número da Seara Nova.

1926 _ 28 de Maio - Golpe Militar a que se seguiu uma ditadura.

LETRAS E CORES IDEIAS E AUTORES DA REPÚBLICA

João Vaz de Carvalho

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A Pátria é morta! A Liberdade é morta! Noite negra sem astros, sem pharoes! Ri o estrangeiro odioso á nossa porta, Guarda a Infamia os sepulcros de Heroes!

Papagaio real, diz-me, quem passa? - É o príncipe Simão que vae á caça.

Tiros ao longe numa lucta accesa! Rola indomitamente a multidão… Tocam clarins de guerra a Marselheza… Desaba um throno em súbita explosão!...

Papagaio real, diz-me, quem passa? - É alguem, é alguem que foi á caça Do caçador Simão!... Vianna do Castello, 8 de Abril de 1890. Guerra Junqueiro, Finis Patriae, Porto, Empreza Litteraria e Typographica, 1891.

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MONARQUIA Com a parte girondina dos meus amigos bastava-me ceder ao instinto para nos encontrarmos todos em uníssono absoluto. Era ponto de fé, para lá do postulado, que a regeneração do País só poderia fazer-se derrubando a Monarquia. Espíri-tos modernos e homens de boa vontade entregavam-se a essa tarefa de corpo e alma. Os comícios monstros que baldeavam Lisboa para os terrenos vagos da Avenida D. Amélia, hoje Almirante Reis, eram sinais pujantes da vaga democrática e liberal que açoutava o trono. A parte culta do País, na maioria, estava ganha à ideia republicana. Os propagan-distas tinham feito obra sobretudo de demolição, e frutuosa como fora, só os censuravam os desrespeitados. Para se fazer um edifício novo onde só há ruínas e pardieiros, antes de mais nada está indicado que se deite abaixo e se removam os escombros. A casa lusitana estava velha e carcomida, e os mais culpados eram os reis. Primeiro os absolutos, em tanto que senhores de corpos e almas, depois os constitucionais, uma vez cingidos mesmo às normas da Carta, tinham sempre possibilidade de influir no timão para que dentro dos poderes que lhes confere a Constituição acima dos partidos, para disporem de espaço que permi-tisse representarem com eficácia a sem erguer atritos de nenhuma espécie o papel de moderadores plásticos. Em pleno século XX, antes de Fontes Pereira de Melo, Portugal, salvo a capital e duas ou três cidades, viva em plena Idade Média. No geral, o povo sertanejo continuou a viver a vida dos antepassados que há quinhentos, mil anos, habitando choças sem ar, sem luz, bebendo a água das fontes de chafurdo, ignorando a higiene e o conforto. Muitas das vilas continuavam ligadas à sede distrital pelos caminhos romanos e célticos, como ainda hoje sucede com as aldeia em relação à sede do concelho. O poder central, à semelhança duma grande santola, com as patas a vibrar aos quatro pontos, se fazia menção de saber que existia e onde a récua numerosa de portugueses, era apenas para os sugar. Aquilino Ribeiro, Um escritor confessa-se, Lisboa, Bertrand, 2008.

LETRAS E CORES IDEIAS E AUTORES DA REPÚBLICA

Ultimatum - Em resposta à tentativa portuguesa de ocupar as regiões africanas compreendidas entre Angola e Moçambique, o ultimatum inglês provoca um clima nacionalista de agitação política e social marcado por grande contestação ao sistema político de governo e pela ascensão das ideias republicanas. A questão religiosa - Um dos aspectos mais importantes da propaganda republicana é a necessidade de libertação do país da influência nociva da Igreja, embora a atitude anticlerical não seja exclusiva do Partido Republicano. Em 1911 é publicada a Lei da Separação da igreja do Estado. 5 de Outubro de 1910 - A República é proclamada nos Paços do Concelho de Lisboa. Educação - No início do último quartel do século XIX, mais de quatro quintos da população portuguesa é analfabeta. Para os republicanos, a instrução constitui a base da democracia e do exercício da cidadania. A educação popular deve ser laica, democrática e naciona-lista. Assim, a acção republicana intensifica-se a partir da última década do séc. XIX, com a proliferação de centros republicanos. Mulheres - Ao longo do século XIX e nas primeiras décadas do século XX algumas mulheres instruídas tentam afirmar-se no espaço público, antes reservado aos homens, nomeadamente através da escrita. Modernismo - Movimento estético de vanguarda, pós simbolista, surgindo em Lisboa com a publicação da revista Orpheu em 1915. Expressa-se em atitudes complexas e heterogéneas de repúdio e provocação às normas burguesas vigentes e numa procura de novas formas estéticas. Portugal na Grande Guerra - A 9 de Março de 1916 Portugal entra formalmente na guerra. Alguns autores, como Jaime Cortesão e Augusto Casimiro, alistam-se no Corpo Expedicionário Português que combatia na Flandres. Seara Nova - Perante a crise política e social sentida no fianl da I República, um grupo de intelectuais (Raúl Proença, Jaime Cortesão e António Sérgio, entre outros) organiza-se em torno da revista Seara Nova. Partilhavam a ideia da falta de elites dirigente e de um projecto político mobilizador.

Afonso Cruz

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5 DE OUTUBRO Nisto, de longe, uma surda explosão abalou o ar tranquilo da manhã. Os pequenos pararam, voltaram-se a olhar o pai, que ficou sério, às escuta, um quase nada pálido. O do quiosque deitou a cabeça de fora, disse - «Temo-la armada!» - e desa-pareceu. Dois, três estampidos cavos sacudiram de longe a cidade mal desperta. Depois houve um estranho rumor que parecia de pranchas a desabar confusamente, ou de portas de ferro ondulado a fechar-se a toda a pressa, um eco imenso… - É a fuzilaria! - disse o pai, e apertou os folhos ao corpo. Esqueceram por instantes o massacre dos índios e o banho de mar. O do quiosque tornou a recolher à pressa a mercadoria exposta. Da Rua do Benformoso desembocou um homem em cabelo, calças de ganga desbotada e casaco remendado, com um embrulho debaixo do braço. Pálido como um defunto, desgrenhado, passou por eles a correr, gritou: - A revolução está na rua! Viva a República! - e desapareceu para o lado da Avenida Dona Amélia. O largo recaiu na quietação, como se visse crescer a luz doirada da manhã do Outubro e de insurreição. De longe continuava a rolar pelo céu a voz cava da artilharia, passavam rajadas intermitentes de fuzilaria. O homem punha os taipais. Muito branco, o pai abotoou o paletó: - Voltem para casa, filhos. A vossa mãe vai ficar ralada se os não vê aparecer. Andem, depressa. Digam-lhe que eu fui para o Hotel. Tu, Santiago, leva os teus irmãos pela mão. Voltem pelo mesmo caminho. Travessa do Maldonado… Direitinhos a casa! Vá, tenham juízo e adeus… Curvou-se a beijá-los. Tinha os olhos molhados, os beiços tremiam-lhe debaixo do bigode cor de cobre escuro. Juntou-lhes as cabeças numa carícia comum e murmurou: - Viva a República, filhos… Adeus! [...] Naquela noite, contra o costume, o sr. Augusto chegou cedo. Três dias tinha ficado fora de casa. Vinha pálido e fatigado, nem se tinha despido, com a barba crescida, mas radiante. Trazia uma mancheia de shrapnell, duma granada que tinha explodido na lavandaria do Hotel, uma recordação do Cinco-de-Outubro. José Rodrigues Miguéis, A Escola do Paraíso, Lisboa, Estampa, 1993 (1ª edição—1960).

António Cabral (1863-1956) As minhas memórias políticas, 4 vols., Lisboa, Livr. Francisco Franco, 1929-1932.

Tomás da Fonseca (1877-1968) Memórias dum chefe de gabinete, [pref. de Lopes de Oliveira], Lisboa, Livros do Brasil, 1949.

José Rodrigues Miguéis (1901-1980), A Escola do Paraíso, Lisboa, Estampa, 1993; «Saudades para Dona Genciana», Léah e outras histórias, 9ª. Ed., Lisboa, Editorial Estampa, 1983.

José Gomes Ferreira (1900-1985), Calçada do Sol, Lisboa, Moraes, 1983.

Aquilino Ribeiro (1885-1963), Um Escritor Confessa-se, Memórias, Amadora, Bertrand, 1974 [2ª ed. rev. e aument., Lisboa, Bertrand, 2008]; Lápides partidas, Lisboa, Bertrand, 1945 [Amadora, Bertrand, 1985].

Raúl Brandão (1867-1930), Memórias, 3 vols., Lisboa, Relógio d’Água, 1998-2000.

LETRAS E CORES IDEIAS E AUTORES DA REPÚBLICA

Bernardo Carvalho

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IGREJA Assim as nações civilizadas da Europa, não só as carimbadas oficialmente de católicas, como a nossa, mas outras come essa grande pensadora que é a Alemanha, sofrem todas mais ou menos duramente o jugo do papismo romano, que é em última análise o mais absurdo e irrisório travão posto pela bestialidade humana à felicidade comum, à expansão natural do nossos destinos e à santa e libérrima glorificação da vida!... De sorte que a organização social não melhorará senão quando tenhamos sacudido as algemas da Igreja e conseguido elevar, por meio de uma cultura cientifica universalmente espalhada e racionalmente distri-buída, os conhecimentos dos cidadãos no que se refere ao mundo e ao homem, na engrenagem natural das suas mútuas relações e na lógica estrutural da sua essência. Quando isto se conseguir, a solução definitiva para o problema da vida, pela paz, pelo amor, realizar-se-á então por si mesma. A questão da forma de governo chegará a não ter importância. «O indispensável é educar, despertar, dignificar a mocidade, formar cidadãos livres! E radicalmen-te incutir nas massas o culto da razão, limpando do pesadelo da superstição as consciências, repudiando a tutela nefasta da Igreja e santificando o clarão emancipador da Escola!» Ana Botelho, Próspero Fortuna, Porto, Chardron, 1910 A lenta mas persistente investida com que a Igreja Católica, durante e após a primeira Grande Guerra, procurou demolir a obra social que, em poucos anos de República, conseguimos erguer, impõe-me o dever de recordar, tanto aos novos agentes dessa Igreja, como à descuidosa geração que ela traz empenhada em ambiciosos devaneios – as razões que tivemos para falar e agir como adiante pode verificar-se. As rudes e também persistentes campanhas que, frente a frente, - pela escola, pela conferencia, pelo jornal, pelo livro e ainda pelas armas, - travamos com instituições que, fortemente abaladas, ruíram em 1910, bem merecem que a geração actual as considere e avalie. Pelo que foram, como também pelos ensinamentos que tanto esta como as futuras gerações hão-de pesar e recolher – caldiados e batidos como foram pela lógica e pelo sentimento, que os tornou amados pela Grei, e fecundos pelo sangue generoso com que foram ungidos. Tomás da Fonseca, Águas passadas, Lisboa, edição de autor, 1950

LETRAS E CORES IDEIAS E AUTORES DA REPÚBLICA

«O Governo Provisório da República faz saber que em nome da República se decretou, para valer como lei, o seguinte:

Capítulo I

Da liberdade de consciência e de cultos

Artigo 1º - A República reconhece e garante a plena liberdade de consciência a todos os cidadãos portugueses e ainda aos estrangei-ros que habitarem o território português.

Artigo 2º - A partir da publicação do presente decreto, com força de lei, a religião católica apostólica romana deixa de ser a religião do Estado e todas as igrejas ou confissões religiosas são igualmente autorizadas, como legítimas agremiações particulares, desde que não ofendam a moral pública nem os princípios do direito político português.

Artigo 3º - Dentro do território da República ninguém pode ser perseguido por motivos de religião, nem perguntando por autoridade alguma acerca da religião que professa.

Artigo 4º - A República não reconhece, não sustenta, nem subsidia culto algum; e por isso, a partir do dia 1 de Julho próximo futuro, serão suprimidas nos orçamentos do estado, dos corpos administra-tivos locais e de quaisquer estabelecimentos públicos todas as despesas relativas ao exercício dos cultos.

Lei da Separação da Igreja e do estado, 20 de Abril de 1911.

[...]»

Marta Torrão

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EDUCAÇÃO Nas literaturas vivem todos os sonhos e aspirações humanas. Todas as experiên-cias de sentimento aí aparecem: a curiosidade nova, o amor, o enternecimento, a audácia. A alma arrastada para a rigidez e secura das abstracções científicas precisa tomar contacto com a vida real, se sorrisos e lágrimas, de amor e sofrimento, de dedicações e heroísmo. Que monstruoso homem esse que aí passa ruminando fórmulas e esquecendo a vida! Se dá alegria e felicidade inte-lectual saber classificar uma planta, quanto mais não vale, poder sentir-lhe a beleza, o inebriamento de perfume, adivinhar-lhe o sentido oculto, as palpitações intranhas. E tudo isto é economicamente inútil, mas tudo isto é moralmente sublime. A educação deve dar o homem a si mesmo, envolvendo-o de claridade interior; dá-lo à família pelo enternecimento, à humanidade pelo amor, ao Univer-so pelo deslumbramento e pelo sacrifício. Partindo de si, o homem deve abraçar todo o Universo. Ser boca onde todas as dores venham cantar; olhos onde todos os sofrimentos venham chorar lágrimas de piedade e ternura universais. Leornado Coimbra, Obras Completas, I, tomo I, Lisboa, INCM, 2004 (publicado em A Águia, Porto, ano I, 1º série, nº1, 1 de Dezembro de 1910).

[…] Quatro quintas partes do povo Português não sabem ler nem escrever, quer dizer: sabem falar incompletissimanente. A palavra escrita é imprescindível para a vida social moderna. Actualmente ela é o instrumento usual mais importante da sociabilidade. Na complexidade da vida de hoje, o homem que não sabe ler e escrever é um homem incompleto, desarmado para a luta do pão quotidiano. É nestas lastimosas condições de inferioridade social que se encontra a maioria da população portuguesa. Incapaz de receber e transmitir ideias e sentimentos, o cérebro da grande massa da sociedade portuguesa, em virtude daquele impiedo-so principio lamarckiano que condena à morte o órgão que não trabalha, define-se, atrofia-se, lenhifica-se, e a alma portuguesa estagna na tranquilidade morta das águas paludosas. Acrescente-se a esta lenta agonia do espírito nacional a influencia corruptora e secular da educação jesuítica, sinistra e deprimente, e a única coisa que espanta verdadeiramente é a pasmosa resistência deste desgra-çado povo que tudo tem sofrido e que ainda não sucumbiu totalmente ao peso do seu mau destino […] Manuel Laranjeira, O Pessimismo Nacional, Lisboa, Fnenesi, 2009 (publicado em O Norte, 7 de Janeiro 1908).

Alice Pestana (1860-1929), La educación en Portugal, Madrid, Junta para Amp.de Est.e Inv. Científicas, 1915.

António Faria de Vasconcelos (1880-1939), Lições de pedagogia e pedagogia experimental, Lisboa: Antiga Casa Bertrand, [19—].

João de Barros (1881-1960), A república e a escola, Lisboa: Aillaud, 1914; Educação republicana, Lisboa: Aillaud e Bertrand, 1916.

Ana de Castro Osório (1872-1935), Instrução e educação: crianças e mulheres, Lisboa: Guimarães & Ca., 1909.

João de Deus Ramos (1878-1953), A reforma do ensino normal, Lisboa: Liv. Ferreira, 1912.

António Sérgio (1883-1969), Educação cívica, Porto: Renascença Portuguesa, 1915, A função social dos estudantes e a sua preparação para a intervenção futura na sociedade portuguesa, Porto: Renascen-ça Portuguesa, 1917.

Leonardo Coimbra (1883-1936), A questão universitária, Lisboa: Imp. de Libâno da Silva, 1919. O problema da educação nacional, [tese apresentada ao Congresso da Esquerda Democrática em 1926], Porto: Marânus, 1926.

Adolfo Lima (1874-1943), Educação e ensino: educação integral, Lisboa: Guimarães & Ca., 1914.

Irene Lisboa (1892-1958), Modernas Tendências da educação, Lisboa: Cosmos, imp. 1942.

LETRAS E CORES IDEIAS E AUTORES DA REPÚBLICA

Teresa Lima

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MULHERES Mulheres da minha terra!... Gatas borralheiras com o cérebro vazio, que esperam sentadas na lareira e com estremecimentos mórbidos, a hipotética aparição do príncipe encantado; criadas graves, que passam ávidas com a chave da dispensa e a agulha na mão, sem terem a menor noção da economia domestica nem de higiene, confundindo a honestidade com o desleixo da beleza; animais de carga ou de reprodução, rodeadas de filhos que não sabem criar nem educar; bonecas de luxo, «vestidas como as senhoras de Paris» e com a inteligência toda absorvida na decifração das modas, incapazes de outro interesse ou de outra compreen-são; pequenos fenómenos absurdos criados pela excepção de uma instrução levemente superior e que, na vacuidade do meio, aparecem como prodigiosos foles cheios de vento, assoprados de vaidade, anormais e infelizes; instrumentos passivos nas mãos habilidosas do jesuitismo que as modela como cera; servido-ras ferventes do snobismo e da bisbilhotice; imitadoras superficiais de modelos que mal conhecem… Pobres mulheres da minha terra! Virgínia de Castro e Almeida, in «Prefácio», A Mulher, Lisboa. Liv. Colónia, 1913.

A «Liga Republicana das Mulheres Portuguesas», interpretando as aspirações da minoria culta das mulheres deste país, e o sentir, embora inexpresso, da sua quasi totalidade, mergulhada na mais crassa ignorância e na mais culposa atonia, resolveu na sua assembleia geral de 19 do corrente vir até vós, singelamente e democraticamente, para apresentar ao Governo Provisório da República as reclamações que mais urgentemente se fazem necessárias para entrarmos decisivamente num caminho largo e progressivo de renovação social. A situação da mulher em Portugal é, perante as leis e os costumes, a mais deprimente e vexatória para seres livres, mas nós não vimos expor teorias e problemas floreando estilo, vimos, apresentando as nossas justas queixas, reclamar aquilo que é do nosso mais imediato interesse, mas interessa também a toda a colectividade Portuguesa. As nossas palavras são simples, justas, concretas, resumindo cada uma delas uma aspiração libertadora, que em si contém séculos de servidão, sofrimento e vexame. Nós vimos pedir ao Governo Provisório da República, que é legitimo Governo do Povo, eleito pelo esforço redentor de todos os que verdadeiramente amam a terra portuguesa, as leis que mais correspondem, ás necessidades imediatas da família e da mulher, individualmente, cidadã livre de uma pátria livre e respeitada. Ana de Castro Osório, A Mulher no casamento e no divórcio, Lisboa, Guimarães & Cª. Editores, 1911.

LETRAS E CORES IDEIAS E AUTORES DA REPÚBLICA

Guiomar Torresão (1844-1898), No theatro e na sala, [carta-prefácio de Camilo Castelo Branco], Lisboa, David Corazzi, 1881: Educação moderna: comédia em três actos, Lisboa, José Bastos, 1894.

Angelina Vidal (1853-1917), Ódio á Inglaterra, Lisboa, Imp. Minerva, 1890. Semana de paixão: carta a sua magestade a rainha Sra D. Amélia sobre os marinheiros recentemente condenados no tribunal de S. Julião de Barra, Lisboa, Typ. Artística, 1907.

Alice Moderno (1867-1946), Versos da mocidade: 1888-1911, Ponta Delgada, Typ. A. Moderno, 1911. Na véspera da incursão: peça em um acto, Ponta Delgada, Typ. A. Moderno, 1913.

Virgínia de Castro e Almeida (1874-1945), a Mulher, Lisboa, Liv. Colónio, 1911.

Ana de Castro Osório (1872-1935), A mulher no casamento e no divórcio, Lisboa, Guimarães Editores, 1911. De como Portugal foi chamado à guerra: história para crianças, Lisboa, Livr. Ed. Para Crianaças, 1918.

Maria Veleda (1871-1955), A Conquista: discursos e conferências, Lisboa, Livr. Central de Gomes de Carvalho, 1909.

Emília de Sousa e Costa (1877-1959), A Mulher no lar: arte de viver com economia, Lisboa, A. M. Teixeira, 1916.

Rachel Caiano

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MODERNISMO Basta pum basta! Basta pum basta! Uma geração que consente deixar-se representar por um Dantas é uma geração que nunca o foi. É um coio d’indingentes e de cegos! É uma resma de charlatães e de vendidos, e só pode parir abaixo de zero! Abaixo a geração! Morra o Dantas, morra! Pim! Uma geração com um Dantas a cavalo é um burro impotente! Uma geração com um Dantas ao leme é uma canoa em seco! O Dantas é um cigano! O Dantas é meio cigano! O Dantas saberá gramática, saberá sintaxe, saberá medicina, saberá fazer ceias para cardeais, saberá tudo menos escrever que é a única coisa que ele faz! O Dantas pesca tanto de poesia que até faz sonetos com ligas de duquesas! O Dantas é um habilidoso! O Dantas veste-se mal! O Dantas usa ceroulas de malha! O Dantas especula e inocula os concubinos! O Dantas é Dantas! O Dantas é Júlio! Morra o Dantas, morra! Pim! […]Portugal que com todos estes senhores conseguiu a classificação do pais mais atrasado da Europa e de todo o mundo! O país mais selvagem de todas as Áfricas! O exílio dos degredados e dos indiferentes! A África reclusa dos euro-peus! O entulho das desvantagens e dos sobejos! Portugal inteiro há-de abrir os olhos um dia – se é que a sua cegueira não é incurável e então gritará comigo, a meu lado, a necessidade que Portugal tem de ser qualquer coisa de asseado! Morra o Dantas, morra! Pim!

José Almada–Negreiros, Manifesto Anti–Dantas e por extenso, s.I., ed. De autor, 1915.

Camilo Pessanha (1867-1926), Clepsydra, [ed. de Ana de Castro Osório, reunindo poemas ditados de memória pelo próprio autor], Lisboa, Lusitânia, 1920.

Teixeira de Pascoaes (1877-1952), A saudade e o saudosismo: dispersos e opúsculos, [compilação, introdução, fixação e notas de Pinharanda Gomes], Lisboa, Assírio & Alvim, 1988. Livro de memórias, Coimbra, Atlântida, 1928 [pref. de António Cândido Franco, Lisboa, Assírio & Alvim, 2001].

Luiz de Montalvor (1891-1947), O livro de poemas de Luís de Montal-vor, [ed. De Arnaldo Saraiva], Porto, Campo das Letras, 1998.

António Botto (1897-1959), Canções, 2ª ed., muito aumentada [apreendida por ordem do governo]. Lisboa, Olisipo, 1922.

António Ferro (1895-1956), Teoria da indiferença, Lisboa, Portugália, 1920; Leviana: novela em fragmentos, Lisboa, H. Antunes, 1921.

Fernando Pessoa (1888-1935), Mensagem, Lisboa, Parceria A. M. Pereira Editora, 1934 [ed. António Apolinário Lourenço, Coimbra, Angelus Novus, 2008].

Mário de Sá-Carneiro (1890-1916), A confissão de Lúcio, Lisboa, ed. do autor, 1914; Dispersão, Lisboa, Tipografia do Comércio, 1914.

Almada Negreiros (1893-1970), Ultimatum futurista às gerações portuguesas do século XX, 1917 [Lisboa, Ática, 2000].

LETRAS E CORES IDEIAS E AUTORES DA REPÚBLICA

Jorge Miguel

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GRANDE GUERRA Março de 1916. Mazina, Kuangar, Naulila… Nomes que soam como bofetadas. Depois hesita-se, disputa-se, combate-se. Já a face arrefece. Alguns querem mesmo oferecer a outra. Mais um passo: requisitam-se os navios… E a hora grande bateu: estala a decla-ração da Alemanha. Na câmara a sala, de pé, desde as carteiras até às galerias, ao formigueiro humano, delira e aclama, com uma só boca: Viva a República! Viva a guerra! As almas abriram caminho umas para as outras e a emoção de cada um multiplica-se pelo entusiasmo frenético da turba. Ao meu lado este grande Gavroche, que passou a vida a rir e a descrer, tem os olhos afogados em lágri-mas. Uma voz vai erguer-se talvez com fria dúvida, mas a onda de fogo tudo engole. Uma seriedade nova vinca as frontes e põe labaredas nos olhos. Comun-gamos a Pátria; somos em estado de graça. Não durmo nessa noite. É um diálogo entre mim e a consciência. Decido ofere-cer-me para partir, e ao dia seguinte, em carta ao Ministério da Guerra, Norton de Matos, declaro-lhe sacrificar essa grande obrigação os sagrados deveres de família, pois entendo que esta guerra terá para o bem da Humanidade conse-quências tamanhas, quais ninguém mesmo pode prever desde já. Por terras de Portugal, nas cidades, o povo ergue-se ao grito da guerra. Em Lisboa uma multi-dão imensa vai à Câmara Municipal manifestar ao Chefe de Estado o seu apoio. Céu azul rútilo. Dia da apoteose na terra e nas almas. Olavo Bilac, o grande Poeta brasileiro, assiste ao desfilar da multidão e do alto duma varanda saúda o Povo que o aclama. Ao sair do Palácio do Município, na carruagem presidencial, além do ministro inglês e do Chefe do Governo, Dr. A. J. d’Almeida, vai também Guerra Junqueiro. Os dois poetas lusitanos, epónimos das suas nações, sagram com a sua assistência o acto ingénuo da turba. […] É inútil negá-lo: uma grande parte da nação não pensa nem sofre. Há três séculos que está entorpecida. Ignorância, egoísmo e cobardia. São o zero à esquerda. Por si nada valem. E dentre dos que se disputam a primazia de facto-res da massa inerte, os valores mais altos uniram-se em torno à bandeira da República por adaptação necessária a esta lei natural: só as formas e as ideias progressistas são elementos de vida contínua, isto é, se multiplicam. Foi essa parte da nação – poucos chefes e muito povo -, que, ao estalar a grande guerra, encarnou genialmente esta verdade. Jaime Cortesão, Memorias da Grande Guerra (1916- 1919), Porto, Renascença Portuguesa. 1919.

LETRAS E CORES IDEIAS E AUTORES DA REPÚBLICA

Afonso Lopes Vieira (1878-1946), Ao Soldado Desconhecido (Morto em França), Lisboa, 1921.

André Brun (1881-1926), A malta das trincheiras: migalhas da Grande Guerra, 1917-1918, Lisboa, Guimarães, 1918.

Jaime Cortesão (1884-1960), Memórias da Grande Guerra (1916-1919), Porto, edição da «Renascença Portuguesa», 1919.

Aquilino Ribeiro (1885-1963), “A Guerra”, Um Escritor Confessa-se. Memórias, Amadora, Bertrand, 1974 [2ª ed. rev. e aument.].

Augusto Casimiro (1889-1967), Nas Trincheiras da Flandres, Porto, Renascença Portuguesa, 1919; Calvário da Flandres, Porto, Renascen-ça Portuguesa, 1920.

Pina de Morais (1889-1953), Ao Parapeito, 2ª. ed., Porto, Renascença Portuguesa, 1919 [3ª. ed. Porto, Maranus, 1924].

Maria Lamas (1893-1983), Para Além do Amor, [S.l.: s.n.], 1935 [Lisboa, Parceria A. M. Pereira, 2003].

Carlos Oliveira (1921-1981), “Look Back in Anger”, Sobre o Lado Esquerdo in Trabalho Poético, Lisboa, Assírio & Alvim, 2003 [1ª ed. 1968].

Carla Nazareth

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CHIADO Ali no Chiado é que se vê tudo bem patente. A Havanesa é um termómetro. A gente que parava àquela esquina foi substituída por outra gente desconhecida: o Tabordinha, o António de Azevedo, com o secretário, que diz agora dele cobras e lagartos; o Barbosa Colen, o Júlio de Vilhena a mamar um grande charuto, etc., foram substituídos por ilustres desconhecidos e, entre eles, um muito feio, de mãos espalmadas, luvas brancas nas mãos e flor enorme na botoeira, que dá no goto a quem passa. Que lugar arranjou este tipo que ainda há pouco pedia meia coroa emprestada, nos cafés? Os outros estão na província ou na emigração. Retirados, ofendidos, dizem muito mal do novo regime. Alguns, para matar o tempo, escrevem livros, como o António Cabral; outros limitam-se a remoer e a sonhar a queda da república e a voltar ao poder. Agora é que eles sabem o que é ser pobre - e, pior que pobre - não ser ninguém. Um morreu de desgosto. - Isto não dura… - Entre-tanto, ninguém lhes faz a corte, ninguém lhes pede nada: não têm importância nenhuma de4sde que perderam a situação política. Estão abandonados. Agora é que eles começam a compreender que o seu valor era o valor da ficção José Luciano ou da ficção Hintze Ribeiro. É com uma certa satisfação que a gente os vê apeados dos seus pedestais - agarrados desesperadamente à literatura sediça - enquanto aquele, que era amanuense de qualquer repartição, diz, quando o acusam de pouco honesto: - Sim, sim, mas agora não torno a passar fome!... - meteu-se em bancos, em companhias, em negócios… Os outros incharam num instante. Raul Brandão, Memórias III, ed. José Carlos Seabra Pereira, Lisboa, Relógio d’Água, 2000. Fui ontem para a galeria do S. Luís. Estava tudo cheio de gente, da que antiga-mente frequentava a plateia, repleta de novos-ricos e de mulheres de xale. Toda a baixa de Lisboa se está a transformar em brancos, casas de câmbio e casas de batota. Um dia destes jantei no Leão Triste, que estava abarrotado de mulheres, e o Columbano, sentado ao meu lado, disse: - ainda me lembro do tempo em que não entrava nos restaurantes nenhuma mulher séria. Era uma vergonha. Hoje está tudo cheio de mulheres a comer nos restaurantes, porque há muito dinheiro e a falta de criados é grande. Raul Brandão, Memórias III, ed. José Carlos Seabra Pereira, Lisboa, Relógio d’Água, 2000.

Teófilo Graga (1843-1924), História das ideias republicanas em Portugal, Lisboa: Nova Livraria Internacional, 1880 [Lisboa, Veja, 1983].

Teixeira de Queirós [Bento Moreno] (1848-1919), O Sallustio Nogueira, estudo de política contemporânea (romance), Lisboa, Mattos Moreira & Cardosos, 1883.

Guerra Junqueiro (1850-1930), A velhice do Padre Eterno, Porto, Chardron, 1885 [Mem Martins, Publicações Europa-América, 1889].

Abel Botelho (1856-1917), Amor crioulo: vida argentina, Porto, Chardron, 1919; O barão de Lavos, 2ª ed., Porto, Livraria Chardron, 1898 [O barão de Lavos, Porto, Lello Editores, 1984].

Manuel Teixeira Gomes (1860-1941), Gente singular, Lisboa, Clássica Editora, 1909; Maria Adelaide (1876-1925), Lisboa, Seara Nova, 1938.

Júlio Dantas, A ceia dos cardeaes, Lisboa, Tavares Cardoso e Irmão, 1902 [54ª ed. Lisboa, Liv. Clássica, 1993].

Raul Brandão (1867-1930), Os pobres, Lisboa, Empresa da História de Portugal, 1906 [Lisboa, Marujo, 1986]; Húmus, Porto, Renascença Portuguesa, 1917 [Matosinhos, QuidNovi, 2008].

Teixeira de Pascoaes (1887-1952), Elegias, Porto, s.n., 1912.

António Patrício (1878-1930), O fim: história dramática em dois quadros, Porto, Chardron, 1909.

Raul Proença (1884-1941), Páginas de política, 2 vols. [pref. De Câmara Reis], Lisboa, Seara Nova, 1938-1939.

Aquilino Ribeiro (1885-1963), A via sinuosa, Lisboa, Aillaud e Bertrand, 1918 [Lisboa, Bertrand, 1985]; Andam faunos pelos bosques, Lisboa, Aillaud e Bertrand, 1926 [Lisboa, Bertrand, 1985].

LETRAS E CORES IDEIAS E AUTORES DA REPÚBLICA

Gémeo Luís

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REVISTAS O fim desta Revista, como órgão da »Renascença Portuguesa» será, portanto, dar um sentido às energias intelectuais que a nossa Raça possui; isto é, colocá-las em condições de se tornarem fecundas, de poderem realizar o ideal que, neste momento histórico, abrasa todas as almas sinceramente portuguesas: - Criar um novo Portugal, ou melhor ressuscitar a Pátria Portuguesa, arrancá-la do túmulo onde a sepultaram alguns séculos de escuridade física e moral, em que os corpos definharam e as almas amorteceram. Por isso, a Sociedade a que me referi se intitula «Renascença Portuguesa». Mas não imagine o leitor que a palavra Renascença significa simples regresso ao Passado. Não! Renascer é regressar às fontes originárias da vida, mas para criar uma nova vida. Teixeira de Pascoaes, «Renascença», in A Águia, vol. I, 2ª Série, nº 1, Janeiro 1912.

Nossa pretensão é formar, em grupo ou ideia, um número escolhido de revela-ções em pensamento ou arte, que sobre este princípio aristocrático tenham em ORPHEU o seu ideal esotérico e bem nosso de nos sentirmos e conhecermo-nos. [...] E assim, esperançados seremos em ir a direito de alguns desejos de bom gosto e refinados propósitos em arte que isoladamente vivem para aí, certos que assinalamos como os primeiros que somos em nosso meio alguma cousa de louvável e tentamos por este forma, já revelar um sinal de vida, esperando dos que formam o público leitor de selecção, os esforços do seu contentamento e carinho com a realização da obra literária do ORPHEU. Luiz de Montalvôr, Orpheu, nº1, 1915.

«Renovar a mentalidade da elite portuguesa, tornando-a capaz de um verdadeiro movimento de salvação; Criar uma opinião pública nacional que exija e apoie as reformas necessárias; Defender os interesses supremos na Nação, opondo-se ao espírito de rapina das oligarquias dominantes e ao egoísmo dos grupos, classes e partidos; Protestar contra todos os movimentos revolucionários, e todavia defender e definir a grande causa da verdadeira Revolução; Contribuir para formar, acima das Pátrias, a união de todas as Pátrias - uma consciência inter-nacional bastante forte para não permitir novas lutas fratricidas.» Seara Nova, nº1, Outubro 1921.

LETRAS E CORES IDEIAS E AUTORES DA REPÚBLICA

Alma Feminina (Lisboa, 1907, Dir. Albertina Paraíso)

Nova Silva (Porto, 1907, Dir. Leonardo Coimbra, Jaime Cortesão, Cláudio Basto e Álvaro Pinto).

Alma Nacional (Fev. 1919, Dir. António José de Almeida)

A Águia (Porto, 1910, Dir. Álvaro Pinto, Teixeira de Pascoaes, Leonardo Coimbra e outros)

A Vida Portuguesa (Porto, 1912, Dir. Jaime Cortesão)

Educação Feminina (Lisboa, 1913, Dir. Irene Lisboa e Ilda Moreira)

Alma Nova (Faro/Lisboa, 1914)

Orpheu (Lisboa, 1915, Dir. Luís de Montalvôr e Ronald de Carvalho; Fernando Pessoa e Mário de Sá Carneiro)

Portugal Futurista (Lisboa, 1917, Dir. Carlos Filipe Porfírio)

Seara Nova (Lisboa, 1921, Dir. Aquilino Ribeiro, Augusto Casimiro, Jaime Cortesão, Câmara Reys, Raul Brandão, Raul Proença António Sérgio, Sarmento Pimentel e outros)

Contemporânea (Lisboa, 1922, Dir. José Pacheco)

Homens Livres (Lisboa, 1923, Dir. António Sérgio)

Athena (Lisboa, 1924, Dir. Fernando Pessoa e Rui Vaz)

Alex Gozblau

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01 ULTIMATUM JOÃO VAZ DE CARVALHO 02 MONARQUIA AFONSO CRUZ 03 5 DE OUTUBRO BERNARDO CARVALHO 04 IGREJA MARTA TORRÃO 05 EDUCAÇÃO TERESA LIMA

06 MULHERES RACHEL CAIANO 07 MODERNISMO JORGE MIGUEL 08 GRANDE GUERRA CARLA NAZARETH 09 CHIADO GÉMEO LUÍS 10 REVISTAS ALEX GOZBLAU

“Eu, meu senhor, não sei o que é a República, mas não pode deixar de ser uma coisa santa. Nunca na igreja senti um calafrio assim. Perdi a cabeça então, como os outros todos. Todos a perdemos. Atirámos então as barretinas ao ar. Gritámos então todos: viva, viva, viva a República.” (soldado implicado na reviravolta durante o julgamento) Manifesto dos emigrados da revolução portuguesa de 31 de Janeiro de 1891.

O que é a exposição? A Direcção-Geral do Livro e das Bibliotecas convidou dez ilustradores a trabalhar dez temas, a partir de textos de alguns autores contemporâneos da República. Exposição - Letras e Cores, Ideias e Autores da República Organização - Direcção Geral do Livro e das Bibliotecas - Comissão Nacional para as

Comemorações do Centenário da República Montagem e Divulgação Biblioteca Municipal Rocha Peixoto Na Maré da República

LETRAS E AUTORES Guerra Junqueiro (1850-1923) | Aquilino Ribeiro (1885-1963) | José Rodrigues Miguéis (1901-1980) | Abel Botelho (1856-1917) | Tomás da Fonseca (1877-1968) | Manuel Laranjeira (1877-1912) | Virgínia de Castro e Almeida (1874-1945) | Ana de Castro Osório (1872-1935) | José de Almada Negreiros (1893-1970) | Jaime Cortesão (1884-1960) | Raul Brandão (1867-1930) | Revistas Literárias – A ÁGUIA, ORPHEU, SEARA NOVA IDEIAS Ultimatum | Monarquia | 5 de Outubro | Igreja | Educação | Mulheres | Modernismo | Grande Guerra Chiado | Revistas CORES João Vaz de Carvalho | Afonso Cruz Bernardo Carvalho | Marta Torrão | Teresa Lima Rachel Caiano | Jorge Miguel | Carla Nazareth Gémeo Luís | Alex Gozblau

Arranjo gráfico - Hélder Jesus