Expressões médicas: falhas e acertos -...

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  • Os mdicos dispem de excelente cultura geral,adquirida desde os cursos escolares e universitrios.Apesar disso, a linguagem mdica apresenta muitasimperfeies, que requerem especial esforo parareconhecer e corrigir.

    Nas apresentaes de artigos mdicos feitas poracadmicos de Medicina no Centro de Pediatria Cirrgicado Hospital Universitrio, Universidade de Braslia, oscomentrios dos membros docentes de CirurgiaPeditrica sobre os temas relatados tambm abrangem

    atitudes inadequadas na apresentao e defeitos delinguagem mdica. Como forma de apoio, foramelaboradas apostilas sobre esses itens. Uma pequenalista de expresses mdicas errneas foi organizadainicialmente. Anotaes subseqentes demonstraramque expresses errneas, na linguagem mdica,constituem vastssimo captulo da Medicina, emborapobremente conhecido e divulgado. Por serem motivosde obscuridades, ambigidades e de outros problemasde linguagem que dificultam a compreenso dos relatos,

    Special

    III

    Expresses mdicas: falhas e acertos

    Simnides BACELAR1, Carmem Ceclia GALVO2, Elaine ALVES3 , Paulo TUBINO4

    Deve-se empregar as palavras na linguagem cientfica,com o mesmo rigor com que se empregam os smbolos

    em matemtica (Plcido Barbosa, Dicionrio deTerminologia Mdica Portuguesa, 1917).

    Continuing with a series of articles related to scientific research and the writing of scientific articles, this issuepresents an excellent work entitled Medical Expressions: Shortcomings and suitability. It discusses the fact that,although medical doctors have an excellent general culture, there are frequently imperfections in respect to thelanguage they use in scientific papers. Often obscure and ambiguous statements and other linguistic problemsimpair the comprehension of these reports.

    Considerations about the cases presented in this report are supported by what is recommended by themajority of experts in the Portuguese language and in medical terminology. According to these scholars the followingprinciples, among others, are recommended:(1) In language there is not right and wrong as there are distinct levels of language. There is adequacy andinadequacy for each of these levels.(2) In language, it makes good sense to adopt flexibility.(3) The scientific language should be exact, so as not to have misunderstandings; simple, to be well comprehendedand concise, to save the time of the reader and space in publications.(4) The normative grammar, owing to its formation based on the standard culture of the language, is adapted tothe formal scientific language.(5) It is recommended to avoid terms criticized by good linguists and to use non-condemned synonyms.(6) In science, it is convenient to have only one name per item.(7) In general, follow rules, that is, proceed according to the majority of cases is preferable to the exceptions.(8) Medical slang should be avoided in formal reports.(9) Foreign words are welcome when there is a need and if there is no equivalent in Portuguese.(10) Very laconic or synthetic expressions, in which several terms are taken for granted, are often antiscientific andcreate misunderstandings.(11) Unnecessarily invented words (neologisms) that do not appear in dictionaries should be avoided.

    Although many of the principles mentioned above are pertinent to scientific reports written in English, the majorityof the terms discussed in this article are specific to the Portuguese language. Many shortcomings have reference togrammatical structures, phrases or words which have been incorrectly translated into Portuguese or even to Englishwords that have a Portuguese equivalence.Thus translation of this article to the English language seems unnecessary and will serve no purpose.

    Medical Expressions: Shortcomings and suitability

  • recomendvel conhecer e corrigir esses desalinhos.As consideraes sobre os casos apresentados

    neste relato apiam-se no que recomenda a maioria dosconhecedores da lngua portuguesa e da terminologiamdica. De acordo com esses estudiosos, soaconselhveis, dentre outros, os seguintes princpios:(1) em linguagem, no h o certo nem o errado, visto queexistem distintos nveis de linguagem. H o adequado eo inadequado para cada um desses nveis; (2) emlinguagem, de bom senso adotar a flexibilidade; (3) alinguagem cientfica deve ser: exata, para no propiciarequvocos; simples, para que seja bem compreendida;concisa, para economizar tempo de leitura e espao naspublicaes; (4) a gramtica normativa, por sua formaobaseada no padro culto da lngua, a adequada linguagem cientfica formal; (5) recomendvel evitartermos criticados por bons lingistas e usar equivalentesno condenados; (6) em cincia, conveniente que hajaum s nome para cada coisa; (7) em geral, seguir regras,isto , proceder de acordo com a maioria dos usos prefervel s excees; (8) grias mdicas devem serevitadas em relatos formais; (9) estrangeirismos so bem-vindos quando necessrios e se no houver termosequivalentes em portugus; (10) expresses telegrficasou sintticas, em que vrios termos ficam subentendidos,so freqentemente anticientficas por possibilitaremequvocos; (11) palavras inventadas (neologismos)desnecessariamente e inexistentes nos dicionriosdevem ser desconsideradas.

    Alm de consultar o Aurlio [1], o Houaiss [2], oMichaelis [3] e outros dicionrios, em caso de dvidas, indispensvel que o relator de trabalhos cientficostambm consulte: (1) o Vocabulrio Ortogrfico daLngua Portuguesa (VOLP) [4], em que se registra aortografia oficial do Brasil, elaborado pela AcademiaBrasileira de Letras, disponvel no endereo eletrnicohttp://www.academia.org.br/ortogra.htm; (2) aTerminologia Anatmica [5], elaborada pela SociedadeBrasileira de Anatomia com base na Nomina Anatmica,publicao internacional editada em latim, em que seregistram nomes das estruturas anatmicas humanas;(3) os cadernos da Associao Brasileira de NormasTcnicas (ABNT) e do Instituto Nacional de Metrologia(Inmetro) entidades oficiais, isto , amparadas por lei para aferio de medidas, smbolos, abreviaes,bibliografias, normatizao de publicaes; e (4),sobretudo, revisores de redao, profissionais da reade letras, antes de divulgar publicaes mdicas ou defazer apresentaes nos encontros cientficos.

    O Departamento de Lingstica da Universidade deBraslia (UnB) mantm o Servio de Atendimento aoLeitor (SAL) para desfazer dvidas de linguagem. Atendepelos telefones (061) 340 6162 e (061) 307 2741.

    necessrio treino e dedicao para aprender aexpressar-se em linguagem-padro. Configura-se comoassimilar outra lngua, mas adquirida essa habilidade, tallinguagem torna-se mais acessvel e prtica. Hvantagens compensadoras. Como veculo de expresso

    cientfica, o padro culto permite: (1) enunciados claros,sem ambigidades, obscuridades, equvocos; (2)conciso ao texto, enuncia-se mais com menos palavrase em menos espao de publicao, porquanto no hprolixidades, ou seja, divagaes, muitas palavraslongas, termos dispensveis; (3) entendimento fcil deum relato entre lusfonos de todo canto, porquehabitualmente no traz grias, regionalismos, modismos,estrangeirismos suprfluos, termos rebuscados,desordens sintticas, palavras inventadas eneologismos desnecessrios; (4) fcil traduo paraoutras lnguas, visto que seus termos esto registradosem dicionrios e gramticas de uso corriqueiro; (5)aprendizado metdico, uma vez que linguagem formadadentro de preceitos organizados por profissionais eestudiosos de valor.

    Em seqncia, alguns casos de defeitos habituaisde linguagem mdica e sugestes de correo.

    * * *

    Alternativas. Significa opo entre duas coisasapenas. Embora aceitas por bons lingistas, autores denota criticam expresses do tipo: H vrias alternativas..Procurar outras alternativas.. Testes de cincoalternativas.. S h uma alternativa. Alternar significamudar entre duas opes. Em latim, alter significa ooutro, como em alter ego (o outro eu), por exemplo. Emrazo da imperiosa Lei do Uso, o termo alternativas temsido usado como sinnimo de opes e assim estregistrado na ltima edio do Aurlio [1]. Mas tal desviosemntico, originrio do desconhecimento do significadoprprio da palavra, no pode pertencer linguagem deprimeira linha apesar de no ser erro.

    A nvel de. das expresses mais condenadas pormuitos estudiosos da lngua portuguesa, designadacomo espanholismo, francesismo, modismo, cacoete,tragdia lingstica e outras ms qualificaes. recomendvel no us-la. Amide, termo intil. Porexemplo, em lugar de dor a nvel de hipocndrio direito,pode-se dizer: dor no hipocndrio direito.

    Antomo-patolgico. Escreve-se anatomopatolgico,sem hfen, de acordo com a ortografia oficial, publicadano VOLP [4], que tem fora de lei.

    Antibitico. Nome criticvel. Do grego anti, contra,e biotos, meios de vida [6], literalmente significa contraa vida e nada indica acerca da especificidade de seuuso, ao contrrio de antimicrobiano, antibacteriano,antiviral, antifngico, anti-helmntico, antiparasitrio,microbicida entre outros termos mais ajustados. Assim,sempre que possvel, recomendvel usarantimicrobiano ou agente antimicrobiano, por seremnominaes mais precisas.

    Aspecto anatmico. Expresses encontradas noslaudos mdicos, como hilo pulmonar de aspectoanatmico, hilo com dimenses anatmicas, antrogstrico de configurao anatmica, no esto exatas:

    IV

  • precisam ser complementadas. O aspecto anatmicopode ser normal ou anormal, este estudado comoanatomia patolgica. Ser cientificamente mais adequadodizer, por exemplo, aspecto anatmico normal oudimenses anatmicas normais (ou anormais).

    Atravs. Conceituados lingistas repelem o uso deatravs como est nas seguintes frases: Conheci-oatravs de um amigo.. Fiz o diagnstico atravs daradiografia.. O doente foi curado atravs dequimioterapia.. Fui nomeado atravs de concurso..Soube atravs de um artigo. Atravs tem sentido deatravessar algo no espao ou no tempo. Noatravessamos uma radiografia para chegar a umdiagnstico, nem sabemos de algo atravessando umartigo publicado. Podemos, com acerto, usar porintermdio de, por meio de, por, com. Ex.: Foi curado por(ou com) quimioterapia. Diagnosticar por meio deradiografias. Nomeado por meio de concurso. Operadopela tcnica de Thal.

    Bala de oxignio. Gria mdica. Termo tcnico: cilindrode oxignio, de uso recomendvel nos relatos cientficosformais. Pela mesma razo, imprprio dizer torpedoou balo de oxignio. O tamanho expresso pelacapacidade em metros cbicos e varia entre fabricantese distribuidores.

    Bastante grave. recomendvel dizer que o pacientese apresenta em estado muito grave, visto que no seadoece at bastar.

    Bexigoma. Gria mdica para indicar repleo oudistenso vesical. Inexiste nos dicionrios.Adequadamente, pode-se dizer distenso, globo ourepleo vesical.

    Boca da colostomia boca distal ou proximal dacolostomia. Pleonasmos. Do grego stma, boca,colostomia significa boca ou estoma do colo. Entretanto,colostomia distal e colostomia proximal so termos aceitospor se referirem a uma parte especfica da abertura.Termos tcnicos: estoma distal, estoma proximal, duploestoma ou dupla estomia.

    Bolsa escrotal. Redundncia. Escroto o mesmoque bolsa. como dissssemos bolsa bolsal. Do latimscrotum, bolsa. Termos adequados: escroto, bolsa, bolsados testculos, bolsa testicular. Cabe acrescentar quebons anatomistas denominam bolsa testicular cada umadas duas divises do escroto: bolsas testiculares, direitae esquerda; cada testculo abriga-se em uma delas [7].Escroto o nome recomendvel por ser o que consta naTerminologia Anatmica [5].

    Brnquio fonte. Recomendvel: brnquio primrioou principal, como est registrado na TerminologiaAnatmica [5] e nos compndios de anatomia.

    Cirurgia. Em linguagem culta, refere-se disciplinaque trata das intervenes cirrgicas ou operaes. recomendvel dizer, por exemplo: operao de Duhamel,operao de Pea, operao de Thal.

    CID. incorreto dizer o CID da doena, o nmerodo CID. A sigla significa Classificao Internacionalde Doenas, no Cdigo Internacional de Doenas. Se

    classificao do gnero feminino, diz-se, ento, a CID.Alm disso, atualmente a Classificao expressa emsistema que inclui letras e nmeros, o que caracterizacdigo, no nmero. Desse modo, mais adequadoreferir-se ao cdigo da CID, no ao nmero da CID.

    CT de crnio. Em portugus, diz-se tomografiacomputadorizada; logo, a sigla adequada TC, no CT,sigla anglo-americana.

    Colher gasometria. Expresso coloquial sinttica,inadequada para relatos cientficos formais. No possvel,evidentemente, colher gasometria, hemograma,leucograma. Colhe-se material para realizao dos exames.

    Colostograma. Inexiste nos dicionrios. Termoimprprio, j que no se faz exame radiogrficocontrastado de colostomia, porquanto esta apenas aporo externada do colo. Recomendvel: colografiadistal ou proximal ( colostomia).

    Corrigir a gasometria. mais adequado dizer:corrigir os distrbios gasosos. Gasometria a aferioqumica da quantidade de gases existentes em umamistura, no um distrbio. Hemogasometria termo maisexato para indicar aferio de gases sangneos.

    Diagnstico esclarecer. Corretamente: diagnsticoa esclarecer. Nesse caso, o a no craseado, porquantoantes de verbo no h crase, visto que, a, no h artigo,mas s a preposio a. Cabe ressaltar que bonslingistas condenam essa construo por serfrancesismo. Preferem dizer, por exemplo diagnsticopara esclarecer, e outras formas.

    Devido a. Expresso excessivamente usada nosrelatos mdicos. Pode denotar pobreza de vocabulrio.H muitos termos equivalentes: pelo, pela, graas a, porcausa de, em virtude de, merc de, em razo de, emresultado de, em decorrncia de, em vista de, graas a,causado por, em conseqncia de, secundrio a,ocasionado por e outros.

    Diurese. imprprio usar esse termo na acepode urina, mico, freqncia miccional ou volumeurinrio. Diurese excreo de urina [8], fenmenoque se d nos rins. Um paciente com reteno urinriaaguda pode, inicialmente, ter diurese normal. errneocitar diurese em lugar de urina, como nas construes:diurese com densidade de 1.006, diurese clara,Paciente com diurese clara, Diurese apresentaaspecto normal; em lugar de mico; Pacienteapresentou diurese tarde, Paciente apresentabalonamento do prepcio diurese; ou em lugar devolume urinrio: Anotar diurese. aconselhveldeixar de parte as expresses diurese abundante oumico abundante pelo seu sentido jocoso. Podemosdizer urina abundante ou volume urinrio abundanteou aumentado.

    Dreno de penrose dreno de Pen Rose. Correto:dreno de Penrose. De Charles Penrose (18621925),ginecologista norte-americano.

    Duhamel operao de Duhamel. Epnimo em honrade Bernard Duhamel, cirurgio-pediatra francs.Pronuncia-se diaml, no durraml.

    V

  • VI

    Em. So criticveis expresses do tipo: dor em joelhodireito, dor em fossa ilaca direita, edema em membrosinferiores, abscesso em regio deltide, amputaoem perna esquerda. A tendncia normal do portugus usar artigo antes de substantivos especificados e omiti-los antes dos que tm sentido generalizado. Assim: dorem joelhos e dor no joelho esquerdo; edema em membrose edema nos membros inferiores. O hbito de alguns emomitir os artigos que especificam nomes contribui para adesorganizao da nossa lngua.

    Endovenoso. Termo defeituoso por ser hbrido, isto, formado com elementos de lnguas diferentes (do grego,endo, e do latim, vena e -oso). O hibridismo criticadopor bons gramticos, especialmente quando existemoutros termos bem formados que podem ser acolhidos.Nesse caso, intravenoso o termo adequado, j quetodos os seus elementos so latinos. Assim, prefervela abreviao IV (intravenoso) a EV (endovenoso).

    Envolver. So criticveis frases do tipo: A lesoenvolve o pncreas e o duodeno.. Metstaseenvolvendo ossos.. O seqestro envolveu a cabeado fmur. Em rigor, envolver significa rodear, cercar,abranger em volta. freqente a expresso metstaseenvolvendo fgado. Mas uma metstase no envolveum fgado. Na verdade, d-se o contrrio. Podemos dizercom exatido: a metstase invadiu (ou comprometeu) ofgado. Outros exemplos: A leso atingiu pncreas e oduodeno. O seqestro acomete a cabea do fmur. Otumor afetou o rim direito. // Outrossim, podemos dizeracertadamente: O abscesso envolve o apndice. O tumorenvolvia a artria renal. A meninge envolve o crebro. Operisteo envolve o osso.

    Evidenciar. Verbo desgastado pelo excesso de usoem medicina. Em lugar de evidenciar, pode-se usar outrosverbos: mostrar, identificar, patentear, demonstrar,revelar, indicar, expor, comprovar, confirmar, constatar,verificar-se, descobrir, certificar. Ex.: O exame evidenciou(comprovou) anemia.. Evidenciada (constatada)peritonite laparotomia.. tomografia, evidenciou-se (verificou-se) aumento de partes moles..

    Evoluir o paciente. So discutveis expresses como:O paciente foi evoludo.. Vou evoluir o paciente..Evoluir a dieta.. Evoluir significa transformar-se,progredir. At o presente, no h, nos dicionrios, evoluircom o sentido de fazer descrio ou anotaes nopronturio sobre o estado de sade do paciente, comoocorre no jargo mdico. H tambm fazer a evoluodo doente com a mesma acepo. No sentido fazerdescrio, no se diz evoluir uma paisagem, evoluiruma personagem, evoluir uma pintura, fazer aevoluo de uma viagem. Parece desvio semntico deuso imprprio e exclusivamente notado no jargo mdico.Pode-se usar fazer a descrio, fazer as anotaes,anotar a evoluo (da doena), todas no sentido dedescrever o curso da doena no paciente ou dosprocedimentos mdicos realizados.

    Esterelizar. Correto: esterilizar. Provm de estril, node estrel, que no existe no lxico.

    Exame normal. Em rigor, exame normal o que se fazcumprindo-se as boas normas tcnicas de um exame,seja clnico, radiolgico, laboratorial, anatomopatolgico,seja de outra natureza. Em lugar de paciente com exameclnico normal, exame radiogrfico normal ou examede urina normal, ausculta normal, podemos,acertadamente, dizer: paciente normal ou semanormalidades ao exame clnico, sem anormalidades aoexame radiolgico (ou com raios X), urina normal ao examede laboratrio, paciente normal ausculta.

    Expresses desgastadas. Bons gramticos e cultoresdo bom estilo de linguagem reprimem expresses surradaspor denotarem pobreza vocabular. Costumam chamar taisexpresses de lugar-comum, pssimo recurso, mau-gosto.So exemplos a serem evitados: arsenal teraputico,ventilar o assunto, leque de opes, devido a, monstrosagrado, no que tange a, suma importncia, em termos de,dar nome aos bois, fugir regra, sem sombra de dvidase semelhantes. A expresso via crucis, por exemplo,pelo prprio nome, v-se que j foi muito usada.

    Faixa etria. Expresso demasiadamente utilizada.Em vez de faixa, podemos dizer: categoria, classe,condio, escalo, fase, grau, grupo, nvel, perodo,situao. Grupo parece termo mais condizente comdeterminada quantidade de indivduos. Etria pode sertambm adequadamente substituda por ettica, formaconsoante ao timo latino tate, idade, ou pelaexpresso de idade.

    Feito radiografia. Solecismo. So errneasexpresses ou frases como: Em um caso foi feitofluoroscopia. Feito radiografia, Foi feito duasnefrectomias, Colhido amostras, Solicitadoradiografias, Mantido observao, Feitolaparotomia, Realizado ecografia, Foi visto umaleso, Foi diagnosticado uma hipospdia, Foitentado puno venosa, Foi evidenciado umaestenose, Foi includo 38 crianas no trabalho,Retirado os clculos renais, Feito resseco cirrgica,seguido de radioterapia, No exame, foi observadopresso arterial alta, sopro em cartidas, pulsos radiaisdiminudos, Orientado a me a trazer a criana,Institudo terapia. So erros de concordncia verbalsobremaneira comuns na linguagem mdica. O verbodeve concordar com o sujeito. Na frase Foi feitaradiografia, o sujeito radiografia, que paciente doverbo fazer (na voz passiva). Na ordem normal, o verboest depois do sujeito. Nessas frases, ocorre inversoda ordem (verbo antes do sujeito). Pelo exposto,expressam-se corretamente: Foi feita fluoroscopia. Foifeita radiografia. Foram feitas duas nefrectomias. (Foi)prescrita medicao. (Foi) prescrita eritromicina. (Foram)dados pontos. Foram observados presso sangneaelevada, sopro nas cartidas, pulsos radiais fracos. //Entretanto, nos tempos compostos com verbo auxiliar(ter e haver) mais particpio, s o auxiliar varia: Temospreparado as mamadeiras. Havamos feito radiografias.

    Foi de Fui de. Formam cacfatos obscenos. Evitarditos do tipo: Pela taxa encontrada, que foi de 10% dos

  • pacientes.. No curso, fui de estagirio. . O primeirocaso foi de uma paciente de 15 anos. Pode-se dizer:Encontrada a taxa de 10% dos pacientes. Ou: Entre ospacientes, a taxa foi 10%. Tambm: ...a taxa foi a de 10%.Ou: o valor porcentual foi 10%. No curso, fui estagirio(em como estagirio tambm cabe duplo sentido).

    Frente a - Foi mudado o tratamento frente ao novodiagnstico. Frente a inexiste no portugus culto [9-11]. Existem frente de, em frente a ou em frentede. No h frente a como locuo prepositiva, senocomo construo castelhana [9]. Preferir outros termos:Foi mudado o tratamento em face do (ou: em virtude do)novo diagnstico; qualquer mecanismo biolgicoutilizado para multiplicao gnica ineficiente tendoem vista os mecanismos de amplificao gnica; devemosfazer estratgias diante das dificuldades. Pode-se dizerfazer frente s dificuldades, estar em frente de umproblema, apresentar-se frente do grupo, em quefrente tem funo de substantivo [9]. Pode-se tambmusar: ante, diante, perante.

    Grama gramo. errneo dizer recm-nascido demil e quinhentas gramas, tumor com duzentas gramas.Ou: Foram dadas trezentas miligramas de 6/6 horas..Utilizamos dois miligramos de soluto.. Prescritos 1,5gramos de antibitico ao dia. Grama do gneromasculino, assim como suas divises. Exs.: duzentosgramas, dois miligramas, quinhentos decigramas, prescrito1,5 grama. Na linguagem culta, gramo no existe comosinnimo de grama, unidade de peso.

    H mudo. Conforme as instrues 11, 12 e 42 do VOLP[4], no h h mudo no meio das palavras, exceto nosaportuguesamentos de nomes estrangeiros, no topnimoBahia e nos compostos com hfen, cujo segundo termoinicia-se com h (intra-heptico, neuro-hipfise). So, porisso, discutveis termos como oncohematologia,panhipopituitarismo, rehidratao, imunohistoqumico,polihidrmnio, pseudohermafroditismo. Com acerto, usa-se hfen ou, na maioria dos casos, suprime-se o h: onco-hematologia, imuno-histoqumica ou imunoistoqumica,pan-hipopituitarismo, reidratao, poliidrmnio oupolidrmnio, pseudo-hermafroditismo. O uso irregulardo h mudo mediano, na palavra, tem influncia de lnguasestrangeiras, mormente a inglesa.

    H anos atrs. Redundncia. O verbo j indica opassado. suficiente dizer: Eu o vi h anos. Eu me formeih dez anos. Paciente refere que, h dois anos, teveictercia. // Diz-se tambm: Eu o examinei dias atrs. Eleme consultou tempos atrs.

    Haviam pacientes. No sentido de existir, haver impessoal: no usado no plural. Diz-se gramaticalmente:Havia vrios pacientes. Se houvesse muitas dvidas.Sabemos que haveria grandes contradies. H trspacientes para operar.

    Herniorrafia. Significa sutura de hrnia. Hrnia a protruso de elementos de uma cavidade atravs deum orifcio. Assim, no suturamos hrnias, mas oorifcio que as forma. Melhor: correo cirrgica oureparo de hrnia.

    Hidropsia hidrpsia. Recomendvel: hidropisia(pronuncia-se hidropiza), conforme consta nosdicionrios de portugus. Hidropsia e hidrpsia,apesar de errneos, so termos amplamente usadosno meio mdico e podero vir a ser registrados emalgum dicionrio futuramente, o que ser lamentvel.Hidropsia (ou hidrpsia) indica viso da gua (dogrego hdor, gua, e psis, vista), mas a julgar pelosentido de necropsia e biopsia, d a entender exameda gua, no acmulo de lquido, que sua acepomdica.

    Hifenizaes imprprias. O VOLP [4] a expressoda ortografia oficial brasileira. Sua elaborao foiautorizada por lei federal e, por respeito aos notriosfillogos que o elaboraram e pela necessidade de haverum padro ortogrfico de valor em nossa lngua, debom juzo adot-lo. Suas normas so seguidas nosdicionrios Aurlio [1], Houaiss [2], Larousse [12],Michaelis [3] e outros em suas edies mais atualizadas.Desse modo, numerosos nomes encontrados com hfenna literatura mdica, na verdade, constam sem este sinalnesse Vocabulrio. Exemplos:

    cido-bsico..................acidobsicoantomo-patolgico.......anatomopatolgicoano-retal....................... anorretalntero-posterior.............anteroposterioranti-inflamatrio............antiinflamatriocrnio-enceflico...........cranioenceflicoscio-econmico...........socioeconmicosub-agudo................ .....subagudotrans-operatrio.............transoperatriotrqueo-brnquico.........traqueobrnquicovsico-retal.......... .........vesicorretal

    Hood Recm-nascido no hood com FiO2 a 100%.Anglicismo inecessrio. Recomendveis: capacete,capuz, oxitenda, tenda de oxignio. No se deve dizercapacete de Hood. Em ingls, hood significa qualquercoisa que cobre, sobretudo a cabea.

    Horas. A maneira regular de escrever as horas,preconizada pelos mais autorizados lingistas, , porexemplo, 8h20, 6h45, 12h, 15h30. Esse o modeloadotado na linguagem culta, na escrita-padro, conformeconsta nos melhores jornais e revistas nacionais. Osmbolo de minutos (min.) pode ser omitido. No dizemos:So 8 e 30 horas. Mas: So oito horas e trinta minutos.Na forma indevida 8:30h, o que precisamente se l 8dividido por 30 horas (dois pontos sinal matemticode diviso). , portanto, cientificamente irregular escrever8:30, 10:40, 00:20. So tambm errneas formas como hse hrs. O smbolo de hora(s) s h.

    Hormonioterapia. Recomendvel: hormonoterapia,como registrado nos dicionrios [4,8]. A forma regulardos prefixos , usualmente, forma reduzida dosubstantivo ou adjetivo correspondentes. Assim,escrevem-se: oxigenoterapia, exsanginotransfuso. Da,hormono ser forma prefixal regular: hormonognese,hormonologia, hormonossexual, hormonoterpico.

    VII

  • Iatrogenia. Iatropatogenia expresso maisadequada. A primeira, literalmente, significa apenasproduo de mdico, a segunda, produo de doenapelo mdico. Do grego iatrs, mdico, paths,sofrimento, e gneia, de gnos, do radical da verbo gregogignesthai, nascer [1].

    Iniciais maisculas inadequadas. Nas redaesmdicas, comum encontrar-se paciente comInsuficincia Renal Aguda, O HipotiroidismoCongnito endocrinopatia comum, Houve benefcioscom o uso de Metronidazol, Apresentou fratura daApfise Espinhal e semelhantes. Em alguns casos ntida a influncia das siglas, como este exemplo copiadode um peridico: Os teste utilizados foram os seguintes:Tempo de Coagulao (TC), Tempo de Sangramento (TS),Retrao de Cogulo (RC), Prova de Lao (PL) eContagem de Plaqueta (CP); mas, no decorrer do texto,o autor no mais citou as siglas substitutivas. Bonsgramticos contestam o uso de inicial maiscula apenascomo forma de destacar palavras. Essa forma no constadas normas contidas na instruo 49 do FormulrioOrtogrfico [4]. So recursos adequados para destaque:letras itlicas, negrito, versaletes (tudo em letramaiscula), espaamento maior entre as letras, uso deletras com outra cor, trao subscrito. O uso de iniciaismaisculas regido por normas oficiais [4], em que noconsta a utilizao supracitada.

    Inmeros. Termo usado como reforo de expresso,mas cientificamente errneo. Amide, inmeros temsido usado em referncia a elementos contveis. Osnmeros so infinitos. Logo, qualquer quantidade numervel. contestvel citar, portanto, num relatoformal, que o paciente sofreu inmeras operaesou que podem ocorrer inmeras complicaes e ditossemelhantes. Podemos substituir termos comoinmeros, um sem-nmero e inumerveis pornumerosos, copiosos, muitos, vrios, grande nmero,elevado ou alto nmero de. H elementos incontveis(no, inumerveis), como estrelas, gros de areia nomar, folhas nas florestas.

    Lavagem exaustiva. Expresso inexata e anticientfica,j que o cirurgio no fica exausto aps lavagem deferidas contaminadas ou da cavidade peritoneal nasperitonites purulentas, por exemplo. Afinal, ele precisarde energia para terminar a operao. Pode-se dizerlavagem rigorosa ou completa.

    Manter a mesma conduta. Redundncia (manter amesma). Diz-se adequadamente: Manter a conduta.

    mls. No adequado dizer ou escrever dez mls desoro, 400 mls de sangue. De regra, os smboloscientficos no tm flexo de nmero (plural). Alm disso,de acordo com os preceitos da Associao Brasileira deNormas Tcnicas (ABNT), nos impressos, devemosescrever L (litro) e mL (mililitro) para no ocorrer confusoentre a letra ele (l) e o nmero um(1). Exs: 2l > 2L, 10 ml >10 mL. Por serem elementos diferentes, aconselha-se adeixar espao entre o nmero e o smbolo.

    Necrotizante. Neologismo desnecessrio, ainda

    que existente no VOLP [4] e no Houaiss [2],procedente de necrotizar, mas freqentemente usadocomo traduo do termo ingls necrotizing. Podemosdizer: enterite necrosante, fascite necrosante, vasculitenecrosante e similares. Outrossim, necrosante termomais curto e registrado em maior nmero de dicionriosque necrotizante.

    Neonato. Palavra mal formada por ser hibridismo, isto, composta de um termo de origem grega (neo) e outrooriginrio do latim (nato). Os hibridismos so reprimidospor bons gramticos, conquanto muitos estejamconsagrados em nossa lngua e no h como extingui-los. Mas, por iniciativa prpria, podemos substitu-lospor palavras mais bem formadas. Nesse caso, recm-nascido, formado de elementos latinos, melhor termoque neonato.

    Orquidopexia. Recomendvel orquiopexia. Orqui orquio orquid orquido so prefixos provenientesdo grego orkis, orkis, gnada masculina. Apesar deorqui ser prefixo existente em diversos vocbulos(orquicora, orquineuralgia, orquipausa), nosdicionrios, no h orquipexia. H orquiopexia eorquidopexia. No obstante, o segundo termo irregular,porquanto rkidos forma errnea de genitivo grego[13]. Da raiz ork, forma-se o tema orki, prefixo de vriostermos mdicos em diversas lnguas, introduzidos nalinguagem cientfica a partir do sculo XIX. Emportugus: orqui. Orquio o tema grego orki acrescidoda vogal de ligao o. Pela praxe, as palavras de sentidorestritivo procedentes do grego originam-se do genitivodessa lngua. Da, orquiopexia o vocbulo regular, poistem o elemento orquio procedente do genitivo gregoorkeos ou orkios (e no, orkidos), com valor restritivo.GALVO [14] pondera que o Dict. de Littr e outrostrazem orchidopexie donde pareceria justificar-se aforma orchidopexia; mas, de facto, no existindo o (delta)no radical (rkhis), e formando-se os mais derivadoscongeneres com a flexo orkhio, claro que em portuguezo vcb. correcto e acceitavel orchiopexia.

    Ostomia ostomisado osteoma. Ostomisado forma incorreta de ostomizado, neologismo malformado e, assim como ostomia, inexistente nosdicionrios. Correto seria estomizado, do grego stma,boca, e -izado. Em portugus, as formas derivadas destoma fazem-se com e, no o, quando inicia palavra:estoma, estomatite, estomdio [4]. No h ostoma,nem ostomia. Estoma nome regular, autnomo eexistente no lxico [4]. Ex.: estoma distal (ou proximal) dacolostomia. Geralmente usado para compor vocbulos:estomalgia, estomatomicose. O termo colostomia, porexemplo, composto de trs elementos: colo+estoma+iaou colo+stoma+ia. Do mesmo modo, podem ser tambmdecompostos os vocbulos vesicostomia, ileostomia,nefrostomia e semelhantes. Outrossim, no h estomianos dicionrios como palavra independente. Entretanto, nome encontrvel na literatura mdica: O atrativo datcnica a presena de nica estomia e Verificou-se aocorrncia de dermatite periestomia, efluente lquido

    VIII

  • das estomias; Estomias e drenos veiculam secreesdigestivas e secrees purulentas [15]. VOLP [4] registraestmia. Ostomia erro grfico indiscutvel. Osteoma,em lugar de estomia, erro grosseiro. Tem sido adotado,em medicina o termo estomoterapeuta, neologismo til ebem formado. No VOLP [4], h estomocefalia,estomocfalo, estomogstrico, estomografia entreoutros. Na formao de palavras procedentes do gregoou latim, usa-se o e prosttico (no o) antes de termosiniciados por s, seguido de outra consoante. Exemplos:species> espcie, stilus> estilo, spatium>espao,stmachs>estmago, stratega>estratgia,stoma>estoma. Note-se que no se diz fazer umaoscopia mas, escopia, tendo em vista os termoshisteroscopia, gastroscopia, duodenoscopia,rinoscopia, otoscopia, colonoscopia.

    Paciente com suspeita de apendicite. Construodbia. No o paciente que est com suspeita, mas omdico assistente que tem a suspeita. mais adequadodizer que o paciente est com manifestaes ou quadrode apendicite. Dubiedade vcio de linguagem assazcriticado pelos cultores do bom estilo de linguagem.

    Paciente evoluindo estvel. Expresso incorreta. Maisadequado: Paciente em condies estveis. Ou: pacientesem alteraes do quadro mrbido. No o paciente, masa doena que evolui e transforma o paciente com suaevoluo. Se est evoluindo, no estvel.

    Paciente evoluiu com. Expresso extremamentedesgastada. Alm disso, em rigor, a doena (no opaciente) que evolui, isto , se transforma, apresentacomplicaes, diversas manifestaes, desaparece ouleva o paciente ao bito. Paciente e doena so entidadesdiferentes. O enfermo sofre a doena e tomaprovidncias contra a evoluo dela. Pode-se usar outrosverbos ou mudar a construo da frase. Ex.: Pacienteevoluiu com (apresentou) dor e febre. A criana evoluiucom (teve) melhora do quadro. O doente evoluiu bem nops-operatrio (O ps-operatrio transcorreu bem).

    Paciente iniciou com dor. Frase defeituosa. Falta-lhe o complemento do verbo iniciar. Quem inicia, iniciaalgo. Digamos mais adequadamente: Paciente apresenta(queixa-se de, tem, refere) dor. Ou: O quadro se inicioucom dor. O paciente quem sofre as doenas. Osagentes causadores que, de ordinrio, as iniciam, noo doente. Em geral, as manifestaes so iniciadas pelasleses, no pelo doente, embora, em certos casos, sejao prprio enfermo causador de leses. Um indivduopode iniciar envenenamento ao tomar substnciastxicas ou infeco intestinal se ingerir alimentoinfectado. // caracterstica da linguagem no-literriadizer: O paciente internou, Ele formou em medicina,Ele levantou cedo. Mas, na linguagem formal, aregncia dos verbos estabelecida por normas deuso culto.

    Palavras inventadas. Na literatura mdica, h grandenmero de termos ausentes dos dicionrios. Soinvenes desnecessrias por haver equivalentesperfeitos no lxico. Denotam desconhecimento de

    linguagem e, s vezes, pernosticismo e podem estar malformados. recomendvel evit-los at que sejamdicionarizados ou usados por alguma autoridade emgramtica ou por mdicos reconhecidamenteconhecedores de gramtica e de linguagem mdica ecientfica. Neologismos so bem-vindos quando no htermos substitutos na linguagem corrente, como ensinambons lingistas. Muitos so decorrentes dodesenvolvimento cientfico. Alguns exemplos de nomescriticveis, colhidos da literatura mdica, e termosequivalentes registrados nos dicionrios: reflexoslentificados (reflexos lentos), rim funcionante (rimprodutivo ou ativo), paciente vitimizado (pacientevitimado), hipernatremia dilucional (hipernatremia pordiluio), dficit atencional (deficincia de ateno),criana carenciada (criana carente), fgadocirrotizado (fgado com cirrose), cirrotizaoheptica (cirrose heptica), doente analgesiado(doente medicado com analgsico), medicalizaoeficiente (medicao ou medicamentao eficiente),factibilidade (exeqibilidade), medida paliativista(medida paliativa), oportunizar (tornar oportuno),perviedade (permevel), obituar (morrer, ir a bito),refluxante (com refluxo), topicizao (tornar tpico),tumefativo (tumefacto), urgencializar (tornarurgente), seqelado (com seqela), recreacional(recreativo) e outros.

    Papa de hemcias. Apesar de ser expresso registradano Aurlio [1], o termo mdico mais adequado concentrado de hemcias (recomendvel usar o plural,hemcias). Tambm: concentrado de plaquetas,concentrado de leuccitos, concentrado de fator. Aacepo prpria de papa alimento em forma de mingau,especialmente farinha cozida no leite ou na gua atadquirir consistncia de pasta mais ou menos espessa.Em rigor, papa de hemcias equivale a mingau dehemcias. Do latim pappa ou papa, alimento nalinguagem infantil [1].

    Patologia rara, patologia grave. Nos dicionrios,em geral, patologia no sinnimo de doena. Patologiasignifica o estudo das enfermidades. o ramo damedicina que se ocupa das alteraes sofridas peloorganismo em decorrncia de doenas. Do grego paths,sofrimento, e lgos, tratado, discurso. Incluir patologiaentre os sinnimos de doena amplamente criticadono meio mdico. impropriedade desnecessria, porqueh dezenas de nomes equivalentes mais adequados emnossa lngua, como: acometimento, afeco, agravo,anomalia, anormalidade, caso, condio, defeito, defeitocongnito, deformidade, desarranjo, doena, desordem,desordem congnita, defeito, defeito congnito,disfuno, distrbio, endemia, enfermidade, entidadeclnica ou cirrgica, epidemia, estado mrbido,indisposio, leso, mal, molstia, malformao, m-formao, morbidade, morbo, perturbao, processo,sofrimento, transtorno, caso cirrgico, caso clnico. Outermos especficos: associao, combinao, seqncia,enteropatia, osteopatia, pneumopatia, dermatose,

    IX

  • toxicose, nefrose, artrose, micose, hepatite, cardite,encefalite, sndrome, dade, trade, alm dos nomes daprpria doena. Em lugar de patologia do fgado, pode-se dizer, por exemplo, hepatopatia, distrbio heptico,doena heptica, afeco heptica.

    Raio X do paciente. So censurveis expressescomo: Fazer raio X do paciente.. Examinar o raio X dodoente.. O paciente fez um raio X de trax.. Pedir umraio X de abdome.. O termo cientificamente egramaticalmente adequado radiografia. Raios X (usa-se no plural) so radiaes eletromagnticas. Em bonsdicionrios como o Aulete [16], o Aurlio [1], o Houaiss[2], o Michaelis [3] e outros, raio X no sinnimo deradiografia. Isso comprova que raio X no tem essesignificado na linguagem culta. preciso cuidar paraque expresses populares, prprias da linguagemcoloquial, no sejam usadas na linguagem cientficaformal, como publicaes mdicas, discursos emcongressos, aulas no mbito universitrio. Por suadubiedade, podem ser cmicas frases como: Tirar umraio X do paciente.. Ver um raio X.. Acompanhar oraio X do paciente.

    Rehidratao. Erro grfico. Correto: reidratao.Tambm se escrevem: hiperidratao, desidratao(v. h mudo).

    Recuperao anestsica. So errneas, por seremambigidades, expresses como alta aps recuperaoanestsica, sala de recuperao anestsica,recuperao anestsica satisfatria. o paciente quese recupera, no o anestsico ou a anestesia. Pode-sedizer recuperao ps-anestsica ou ps-anestesia (dopaciente). Ambigidade ou duplo sentido vcio delinguagem e deve ser evitado nos relatos cientficosformais. Recuperar a anestesia o mesmo quereanestesiar o doente.

    Recklinghausen doena de Von Recklinghausen.De Frederich von Recklinghausen (18331910),patologista alemo [17]. Mais adequado: doena deRecklinghausen, como consignam FORTES & PACHECO[19]. Em outras lnguas, tambm se omite a preposiovon. CARDENAL [13] registra enfermedad deRecklinghausen, Stedman [17], Recklinghausensdisease. Na lngua inglesa, a repetio prepositiva (ofvon) evitada pelo uso do genitivo ou pelo uso donome antes do substantivo como expresso adjetiva:von Willebrands disease, von Kossa stain. A partculavon preposio equivalente a de em portugus eescreve-se com inicial minscula. Dizer doena de vonRecklinghausen equivale repetio de de. Assim, grafarVon, com inicial maiscula, imprprio, apesar daindicao de nobreza da preposio von em alemo. Seriacomo escrever Joo Da Silva ou Pedro De Oliveira.Reklinghausen ou Rechlinghausen so erros grficos.

    Respirador ventilador. Muitos dicionrios registramcomo respirador, e no como ventilador, o aparelho usadopara respirao mecnica. Entretanto, do ponto de vistasemntico, ventilador termo mais exato, dado que talaparelho ventila, ou seja, produz fluxo de ar, mas no

    respira, como o faz o paciente. Por conseguinte, sotermos prprios: aparelho de ventilao, ventilaomecnica, ventilador mecnico, respirao assistida(apenas auxiliada pelo ventilador), respirao controlada(com ritmo imposto pelo ventilador).

    Severo. Traduo incorreta do termo ingls severeem expresses como alcoolismo severo, baixaestatura severa, anemia severa, ictercia severa.Em portugus, grave ou intenso so os termosrecomendveis. Ex.: severe pain, dor intensa; severeinfection, infeco grave. Por anemia severaimagina-se o mesmo ao se dizer anemia austera ouanemia sisuda.

    Siglas. comum o uso de siglas e abreviaes emmedicina, mas seu uso inadequado e abusivo prejudicaa compreenso do texto. Freqentemente, encontramossiglas de que no conhecemos o significado(regionalismos, ou siglas de uso pessoal) e outras commuitas interpretaes. Exceto redues muitoconhecidas, como IV, AAS, DNA, sua explicao deverser feita em sua primeira referncia no relato mdico, oupoder ocorrer, em relao a muitos leitores ou ouvintes,justo constrangimento ou falsa compreenso. Emapresentaes formais, criticvel escrever pcte, qdo,tto, dn, tb, ca, c/, p/. Tais redues so desconformess normas gramaticais de abreviatura. tambmreprovvel escrever sinais desnecessariamente (mesmoem diapositivos) como substitutos de palavras. Exs.: Foiobservado (decrscimo) do nmero deesplenectomias. A mortalidade (aumentou) em 28%.Referia dor abdominal havia (cerca de) 2 dias. Crianacom Blumberg+ (com sinal de Blumberg).

    Sintomatologia dolorosa. Sintoma manifestaosubjetiva de alteraes mrbidas no paciente.Sintomatologia significa estudo dos sintomas.Sintomatologia dolorosa significa, literalmente, estudodoloroso da dor. Alm disso, expresso prolixa e podeser adequadamente substituda por dor: Ex.: em lugar dePaciente com sintomatologia dolorosa leve no abdome,pode-se dizer: Paciente com dor leve no abdome.Sintomatologia amplamente usada no meio mdicocomo sinnimo de sinais e sintomas e devemos ter emconsiderao a Lei do Uso, que, infelizmente, consagratermos mesmo inadequados. Mas sinais e sintomas tmconceitos diferentes, conforme estabelecem osestudiosos de Semitica. Assim, em lugar desintomatologia no sentido de sinais e sintomas, podemosdizer manifestaes, quadro clnico ou, explicitamente,sinais e sintomas. Nos relatos cientficos formais, recomendvel usar nomes em sua acepo precisa comoapregoam bons orientadores de mestrado e doutorado.

    Sonda de nelaton. Correto: sonda de Nelaton. DeAuguste Nlaton (18071873), cirurgio francs quecriou uma sonda de borracha para vrias utilizaesmdicas [17]. Nelaton no material de que feita asonda, mas um nome prprio. Escreve-se, portanto,sonda de Nlaton em lugar de sonda de nelaton. justificvel a inicial minscula para se referir, por

    X

  • extenso, a uma sonda nelaton ou apenas umanelaton, como ocorre com gilete, sanduche, lambreta,mertiolate, isolete, sutupack, angstrom e outros termosoriginrios de nomes prprios. O mesmo se aplica ssondas de Malecot, de Pezzer, de Bniqu. Mas, nostrabalhos cientficos, substancialmente essencialusar termos tcnicos consoante ao portugus culto,e no formas excepcionais e excees s regrasgramaticais. Importa notar que os epnimos podemser substitudos por nomes tcnicos, cientificamentemais apropriados. Adequadamente, podemos dizersonda uretral ou sonda uretral de cloreto de polivinila(PVC) siliconizada, por exemplo.

    SOS. Evitar essa sigla em relatos cientficosdestinados publicao. sinal internacional de perigo.No pertence ao lxico mdico.

    Topografia. a descrio detalhada de um local, oque se escreve sobre este. Assim, inadequado dizer:na topografia do bao, dor na topografia do rimesquerdo, palpao da topografia da vescula biliar,fungos existentes em vrias topografias do centrocirrgico. Em lugar de topografia, pode-se usar: rea,local, localizao, regio. Dor na topografia do baosignifica que a descrio regional do bao est doendo.

    Trocater. Procede da expresso francesa trois cart,em referncia s trs facetas na ponta do instrumento deperfurao. Trocater, em lugar de trocarte, embora sejaamplamente usado no mbito mdico, recomendveldizer trocarte ou trocar. A mudana de fonemas comumem nossa lngua, que, dentre outras palavras, deubliciqueta, sastifeito, pobrema, Crudio...

    Tumorao tumor. Tumorao palavra registradano VOLP [4]. No dicionrio Aurlio [1], est definidacomo formao de tumor (de tumorar = formar tumor) epresena de tumor. Regularmente, vocbulos terminadosem -o, derivados de verbo, geralmente designam o atoindicado pelo verbo ou o efeito da ao verbal (o efeito resultado do ato). Exemplos: realizao o ato derealizar, amortizao o ato de amortizar, colorao oato de colorir, cicatrizao, ato de cicatrizar (no dizemoscicatrizao umbilical em lugar de cicatriz umbilical).Logo, tumorao o ato de tumorar (formar tumor). difundido seu uso como sinnimo de tumor, mas, peloexposto e por amor exatido dos termos cientficos, recomendvel usar tumor em referncia massa, etumorao para exprimir formao ou desenvolvimentodo tumor. Exs.: O tumor localiza-se no epigstrio. O tumorest aderido. A neoplasia desenvolveu rapidamente umtumor. A tumorao distendeu a regio epigstrica. Aneoplasia originou uma tumorao de crescimentorpido. Houve uma tumorao da neoplasia. A tumoraorpida pode causar necrose no tumor. // Pela lgica, ficamestranhas afirmaes como: Palpa-se uma tumorao..Foi vista tumorao na cavidade peritoneal.. Excetuam-se casos em que se pode ver crescimento rpido dotumor: em casos de hemorragia interna nesse tipo deleso, por exemplo. Pelo exposto, redundncia dizer:formao de tumorao ou formar tumorao. // A

    maioria dos dicionrios no averba essa palavra. LIMA[19], em seu artigo Expresses Mdicas, afirma quetumorao no coisa nenhuma. Freqentemente, napresena do doente, usa-se tumorao para afastar otermo tumor, de sentido mais traumtico. Nesse particular,pode-se dizer massa, massa tumoral, abaulamento,processo tumoral, crescimento, ndulo, tumescncia,intumescncia, volume, neoplasia, neo, endurecimento,neoformao e h quem use, como eufemismo,crescimento mittico, leso ou formao expansiva.

    Ultrassonografia. Recomendveis: ultra-sonografia,ultra-som. De acordo com as gramticas da lnguaportuguesa, o prefixo ultra liga-se com hfen ao elementoseguinte iniciado por H, R, S e vogal. Ultrasonografia eultra sonografia so tambm formas errneas. Sotambm criticveis expresses do tipo: examinar o ultra-som do paciente, fazer um ultra-som. Nesses casos, mais adequado usar ultra-sonografia.

    Umbelical. Recomendvel: umbilical. Emboraumbelical tenha apoio etimolgico, essa forma no usada em nossa lngua e, modernamente, no apareceem nenhum dicionrio de portugus.

    Vlvula ileocecal. Melhor: valva ileocecal [5]. Acomunicao entre o leo e o ceco no apresentapropriamente uma vlvula, mas um mecanismoesfincteriano semelhante ao piloro. Mais adequado dizerjuno ileocecal.

    Verbos pronominais. H verbos s usados compronome reflexivo (se): arrepender-se, queixar-se,indignar-se, resignar-se, suicidar-se: Paciente queixou-se de dor (e no: queixou dor). // Outros porm sopronominais s quando usados em determinadassituaes: Os pacientes submeteram-se aos exames (masno, submeteram aos exames). A ferida reinfectou-se (eno, reinfectou). O paciente levantou-se cedo (e no,levantou cedo). Ele se sentou na cadeira (e no, elesentou). Eu no me atrasei hoje (no, eu no atraseihoje). Deitou-se no leito (no, deitou no leito). Formou-se em medicina (no, formou em medicina). Classificou-se em primeiro lugar (e no, classificou em). Ele seacalmou (no, ele acalmou).

    Visualizar visibilizar. So verbos imprprios naacepo de ver, observar, identificar, como esto nasfrases: Visualizada leso ecografia.. Plipovisibilizado coloscopia.. Tumor visualizado naradiografia.. Visualizar e visibilizar significam formarmentalmente, tornar visvel mentalmente, como se vnestes exemplos: O engenheiro deve visualizar bem seuprojeto. O cirurgio visibilizou bem a operao no diaanterior interveno. // Citar que um radiologistavisualizou tumor numa radiografia, pode significar queo tumor foi imaginado. Vizualizar e vizualizao sodescuidos de grafia.

    Wilms (tumor de). De Max Wilms (18671918),cirurgio alemo. Pronuncia-se vilms. Assim comotambm dizemos doena de vilebrand (Willebrand), canalde virsung (Wirsung), infestao por vuquerria(Wuchereria bancroft) inciso de vertaime-migs

    XI

  • (Wertheim-Meigs). A pronncia uilms tem influnciainglesa, mas para essa lngua a pronncia verncula.

    COMENTRIO FINAL

    Este modesto glossrio pequena amostra da amplaquantidade de defeitos existentes na linguagem mdica,pontos criticveis que podem levar um relator srio asituaes desconfortveis. Aborda uma rea em que hpoucas pesquisas, raras publicaes e vasto campo paraestudos, ainda desconhecido. Mesmo se censurveis,no errado usar as expresses correntes no mbitomdico se trazem comunicao clara. Mas cabe ressaltarque, se um mdico cuidadoso em seus procedimentos,diagnsticos, tratamentos, e elegante em seudesempenho profissional, congruente que se expresseem portugus de primeiro time.

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    UNB Faculdade de Medicina Hospital Universitrio daUniversidade de Braslia Centro de Pediatria Cirrgica.Braslia, DF.1 - Mdico Assistente, Professor Voluntrio, Centro de PediatriaCirrgica do Hospital Universitrio da Universidade de Braslia.2 - Bacharel em Lngua Portuguesa e Mestranda em Lingsticapela Universidade de Braslia.3 - Professora Adjunta de Cirurgia Peditrica, Universidade de Braslia.4 - Professor Titular de Cirurgia Peditrica, Universidade de Braslia.E-mail: [email protected]

    Nota do EditorEste artigo est sendo publicado na Revista Brasileira deCirurgia Brasileira com permisso especial dos autores.

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