Expressionismo alemão no cinema

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Expressionismo alemão Tudo se inicia após o fim da primeira guerra mundial, na república de Weimar, em 1920, onde depois do fim da guerra o povo alemão se horrorizava de novo, desta vez com um filme: O gabinete do Dr. Caligari, com um enredo de pesadelo e com cenários mais bizarros criados até então. O impacto de Caligari e de outros filmes igualmente sombrios e enigmáticos provindos de Weimar nos anos seguintes levou à constituição de uma escola cinematográfica que ficaria conhecida como "expressionista". Mas antes de falarmos em cinema expressionista, é preciso que conheçamos as características desse movimento. O expressionismo, ligado inicialmente a outras artes, ressalta as experiências emocionais do artista sob formas excepcionalmente vigorosas, ou seja, ela "convida o espectador a experimentar um contato direto com o sentimento gerador da obra". Era o início do modernismo alemão, representado pela filosofia de Nietzsche, pela descoberta do inconsciente por Sigmund Freud, pelas pesquisas de Max Planck e Albert Einstein sobre a mecânica quântica e por várias outras novidades, entre elas um movimento radical nas artes plásticas e na poesia, que mais tarde ficaria conhecido como Expressionismo. Portinari e Van Gogh na pintura. O gabinete do Dr.Caligare Caligari é uma história recorrente na cultura alemã, trata de rivalidades, figuras paternas muito poderosas, mães ausentes, mulheres frágeis e objetos de desejo inalcançáveis. Seu enredo é bastante conhecido: o misterioso doutor Caligari (Werner Krauss) chega à pequena cidade de Holstenwall com um espetáculo em que seu assistente, o sonâmbulo Cesare (Conrad Veidt), adivinha o futuro das pessoas. Logo depois da chegada da dupla sinistra, uma série de crimes praticados na cidade fazem com que as suspeitas se voltem para o sonâmbulo, flagrado sequestrando uma moça, Jane (Lil Dagover), namorada do jovem. Obcecado pelo assunto, Francis descobre que o mandante dos crimes é o próprio doutor Caligari, que controla os atos de Cesare por hipnose.

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Um pouco sobre o expressionismo alemão no cinema

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Expressionismo alemão

Tudo se inicia após o fim da primeira guerra mundial, na república de Weimar, em 1920, onde depois do fim da guerra o povo alemão se horrorizava de novo, desta vez com um filme: O gabinete do Dr. Caligari, com um enredo de pesadelo e com cenários mais bizarros criados até então.

O impacto de Caligari e de outros filmes igualmente sombrios e enigmáticos provindos de Weimar nos anos seguintes levou à constituição de uma escola cinematográfica que ficaria conhecida como "expressionista".

Mas antes de falarmos em cinema expressionista, é preciso que conheçamos as características desse movimento. O expressionismo, ligado inicialmente a outras artes, ressalta as experiências emocionais do artista sob formas excepcionalmente vigorosas, ou seja, ela "convida o espectador a experimentar um contato direto com o sentimento gerador da obra".

Era o início do modernismo alemão, representado pela filosofia de Nietzsche, pela descoberta do inconsciente por Sigmund Freud, pelas pesquisas de Max Planck e Albert Einstein sobre a mecânica quântica e por várias outras novidades, entre elas um movimento radical nas artes plásticas e na poesia, que mais tarde ficaria conhecido como Expressionismo. Portinari e Van Gogh na pintura.

O gabinete do Dr.Caligare

Caligari é uma história recorrente na cultura alemã, trata de rivalidades, figuras paternas muito poderosas, mães ausentes, mulheres frágeis e objetos de desejo inalcançáveis. Seu enredo é bastante conhecido: o misterioso doutor Caligari (Werner Krauss) chega à pequena cidade de Holstenwall com um espetáculo em que seu assistente, o sonâmbulo Cesare (Conrad Veidt), adivinha o futuro das pessoas. Logo depois da chegada da dupla sinistra, uma série de crimes praticados na cidade fazem com que as suspeitas se voltem para o sonâmbulo, flagrado sequestrando uma moça, Jane (Lil Dagover), namorada do jovem. Obcecado pelo assunto, Francis descobre que o mandante dos crimes é o próprio doutor Caligari, que controla os atos de Cesare por hipnose.

Caligari inspirou uma cinematografia inovadora estética e tecnicamente, em que se destacaram, entre outros, os filmes O golem (1920), de Paul Wegener; Nosferatu: Uma sinfonia do horror (1922) e Fantasma (1922), de Friedrich Wilhelm Murnau; A morte cansada (1921) e Dr. Mabuse: O jogador (1922),de FritzLang; Genuine (1920) e Raskolnikow (1923), de Robert Wiene; Da aurora à meia-noite (1920), de Karl Heinz Martin; O gabinete das figuras de cera (1924), de Paul Leni.

Características do Expressionismo alemão

a) composição (cenografia, fotografia e mise-en-scène);

b) temática recorrente (tipologia de personagens e de situações dramáticas);

c) estrutura narrativa (modo de contar as histórias e de organizar os fatos).

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Composição - Os filmes feitos depois de Caligari apresentavam uma junção única de diferentes aspectos ligados à mise-en-scène (luz, decoração, arquitetura, distribuição das figuras e sua organização em cena), que resultava numa ênfase na composição, reforçada por maquiagem e figurino estilizados. Nesses filmes, personagens e objetos se transformavam em símbolos de um drama eminentemente plástico, causando, às vezes, a impressão de que uma pintura expressionista havia adquirido vida e começado a se mover.

Outro ponto forte foi outro estilo alemão por excelência: o gótico medieval. Onde podemos perceber claramente em Nosferatus (1922)

No que diz respeito ao medievalismo, há que recordar outro filme de Lang: Metropolis (1927), realizado após o declínio do Expressionismo. Nessa fantasia futurista, produz um ambiente industrial ultramoderno e ao mesmo tempo bem próximo do gótico.

Temática recorrente - dos filmes reteve sobretudo seus vilões, personagens que pareciam ter saído da imaginação sombria de um conto fantástico: o médico/louco doutor Caligari, o vampiro pestilento Nosferatu, o demônio Scapinelli. Uma das principais características de muitos filmes alemães pós-Caligari foi justamente a presença desses personagens destituídos de bondade e isolados em egotrips de poder, chamados de "tiranos".

Dr. Mabuse: O jogador (1922) Lang criou uma espécie de alegoria do poder oculto, com um vilão que assume diversas personalidades e lidera um bando de assassinos e falsários que aterrorizam a sociedade.

Ainda no âmbito das encarnações do mal, há que se destacar, pelo menos, ais três filmes que, embora posteriores às experiências expressionistas, mantiveram algumas de suas características. São eles Tartufo (1925), de Murnau: O vampiro de Dusseldorf( 1930), de Lang; e O anjo azul (1930), de Josef Von Sternberg.

Estrutura Narrativa - o segredo do fascínio exercido por esses filmes alemães sobre o público e os críticos pode vir do fato de suas narrativas serem suficientemente oblíquas para encorajar todo tipo de especulação e frustrar qualquer tentativa de explicação definitiva. Outra estratégia que se tornou recorrente no cinema alemão foi a da "narrativa-moldura" muitas vezes usada para justificar o caráter fantasioso das histórias

Em sua busca por produzir narrativas mais enigmáticas, os filmes alemães também se destacavam por um tipo de decupagem em que o uso do espaço offscreen (o espaço fora da tela) adquiria diferentes significados, especialmente o de fonte de imprevisibilidade e enigma.

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Depois de algum tempo, por volta de 1920 o Expressionismo era ensinado nas escolas, decorava galerias e lojas, era a base estética de peças e filmes de grande sucesso popular. No entanto, essa larga aprovação esvaziava, de certa maneira, as esperanças no potencial revolucionário do movimento, gerando uma série de debates acerca do esgotamento do Expressionismo e de uma necessidade de retorno à arte figurativa.