extremismo-evangelico

download extremismo-evangelico

of 10

Transcript of extremismo-evangelico

  • 7/23/2019 extremismo-evangelico

    1/10

    w

    F

    R

    Y

    i

    k

    l

    4

    4

    4

    3

    P

    V

    L

    N

    W

    4

    a

    l

    e

    (

    5

    l

    h

    .

    2

    b

    k

    -

    0

    ?

    ?

    -

    4

    0

    I

    k

    .

    ,

    ,

    .

    ,

    .

    ,

    .

    .

    .

    r

    I

    $

    ,

    ,

    1

    ,

    .

    ,

    H

    ,

    1

    1

    ,

    ,

    ,

    ,

    .

    v

    k

    ,

    A

    s

    ,

    g

    ,

    w

    ,

    t

    ,

    .

    :

    v

    .

    .

    .

    :

    .

    ;

    4

    1

    4

    ;

    1

    .

    4

    .

    e

    g

    :

    1

    ;

    4

    4

    .

    P

    .

    ,

    k

    0

    :

    '

    N

    .

    4

    ,

    ,

    1

    k

    5

    N

    M

    1

    W

    W

    5

    t

    '

    e

    r

    .

    ,

    `

    .

    '

    1

    1

    ,

    .

    .

    .

    .

    .

    t

    M

    i

    N

    '

    4

    L

    V

    J

    e

    s

    s

    "

    +

    '

    ,

    1

    ,

    1

    .

    7

    4

    ~

    ,

    x

  • 7/23/2019 extremismo-evangelico

    2/10

    , 10 .Tr

    Se der polcia, some , prega o pastor para uma milci

    de jovens fiis prestes a atacar um terreiro de candombl'

    E a violncia religiosa brotando no Brasi

    ,.'1~

    SETEMBRO 2015

    SUPER

  • 7/23/2019 extremismo-evangelico

    3/10

    LCIO BARRETO JNIOR, opastor

    Lucinho , uma estrela da Igreja

    Batista da Lagoinha, tradicional

    instituio evanglica de Belo Ho-

    rizonte. Nos lt imos meses, Luci-

    nho pregou na Inglaterra, Espanha

    e Luxemburgo. Tambm foi para

    o Rio de Janeiro, Santa C atarina e

    Paraba. M uitas das suas pregaes

    tm ingressos esgotados. Ele urna

    celebridade eva nglica.

    Em seu s i te o f ic ia l , Lucinho

    vende camisetas com a frase Com

    Jesus, veno at Chuck N orris . Ele

    t ambm tem uma l inha de DVD s,

    com t tulos como A Verdadeira Tro-

    pa d e El i te e

    Tre inando um Louco

    Por Jesus.

    Na igreja da Lagoinha, Lucinho

    responsvel po r evangelizar jo-

    vens e adolescentes, e se apresenta

    como se fosse um. N em de perto

    aparenta seus 43 anos -usa cabe-

    lo espetado e grias de quem tem

    pouco menos de 20anos. Tambm

    faz questo de se definir como um

    Louco por Jesus , uma verso reli-

    giosa do vida loka da puberdade.

    Lucinho fez dessa def inio tan-

    to um slogan das suas pregaes

    quanto um estilo de v ida.

    Num vdeo que c i rculou pelo

    Facebook neste ano, o pastor apa-

    rece pregando em Belo H or izon-

    te . Logo no comeo , Lucinho diz:

    S va i ter marcha das vadias se

    voc quiser. S vai ter boate gay,

    parada gay, parada dos maconhei-

    ros, se voc quiser. Outro dia, em

    Belo Ho rizonte, falaram com igo:

    'Lucinho, vai ter a festa do P reto

    Velho'. Eu falei, 'ningum m e pe-

    diu. No aceito. No vai ter' . Ento

    ele explica como estragar a festa

    alheia. Cheguei l no meu grupo

    de jovens, chamei 20 jovens, falei

    ' v amos dar um B .O. na fe s ta do

    capeta?' . Os jovens, para tristeza

    do pastor, no estavam dispostos

    a dar B.O. na fes ta de umba nda.

    M as Lucinho no desiste.

    En to fui no melhor depar ta-

    mento d e qualquer igreja. Fui falar

    com os adolescentes . Cheguei e

    fa le i 'p reciso de 20 malucos p a-

    ra dar uma busca e apreenso no

    Preto Velho. ' O pastor diz que os

    meninos aceitaram na hora. E passa a

    gritar com a multido que ouvia sua

    pregao: Fica velho, mas no fica

    idiota. Faz faculdade, mas no vira

    um retardado mental. No perde o

    sangue nos olhos. No deixa a s su-

    as muitas letras te levarem a delirar.

    No vira um palhao. No porque

    agora est vestindo uma roupinha

    engomadinha que no pode dar uma

    busca e apreenso no capeta .

    Na sequncia, ele conta como

    treinou os ad olescentes ao longo

    de ao dias. Eles no podiam cau-

    sar tumultos e deveriam seguir as

    regras da disperso: Se der po-

    lcia, confuso, FB I, d o 'vazari'.

    Som e . E conclui: O mais legal

    voc pegar gente s imples . Vo -

    c pode desenhar Cristo na alma

    deles , melhor do que gente que

    voc tem que desconstruir para

    depois construir .

    M isso dada, misso cumprida.

    No final do vdeo, o pastor descre-

    ve como os adolescentes cercaram

    a praa, a confuso com a festa da

    umba nda, a chegada da polcia e

    como um dos meninos depredou a

    esttua do Preto Velho. A festa, que

    deveria ir at as 6h, acabou antes da

    meia-noite. Lucinho diz que isso

    prova de autoridade divina, de que

    Jesus est guiando cada um deles.

    O v deo abre para ap lausos e

    gritos da multido dentro da Igreja

    Batista da Lagoinha. Centenas de

    pessoas celebravam um pastor que

    acabava de contar como tinha for-

    mado uma milcia adolescente para

    acabar com a celebrao de outra f.

    Poder e intolerncia

    Lucinho no um caso isolado

    de atitudes extremas e linguagem

    beligerante dentro da comunidade

    evanglica. O v deo do pastor s

    uma entre diversas evidncias de

    intolerncia que tm se acumulado.

    Por exem plo : o pas to r Ceza r

    Cavalcante, rei tor da Faculdade

    Teolgica Betesda, de Cam pinas

    (SP), disse, em entrevista Folha

    d e S.Paulo, que tem todo o direito

    de pregar contra a umba nda e o

    candombl porque, afinal, so duas

    religies em pecado .

    Nessa toada extremista, a Igreja

    Universa l lanou uma campanha

    d e ev an g e l iz a o ch am ad a d e

    Gladiadores do Altar. Num vdeo

    recente, as p essoas , ves t idas de

    soldados , dizem que graas ao

    Senhor, hoje estamos aqui prontos

    para a batalha .

    A batalha evanglica tambm

    extrapolou o al tar e chegou com

    fora bruta p oltica. Em Braslia,

    deputados evanglicos bloqueiam

    qualquer proposta que v contra

    as suas crenas religiosas. Eles re-

    zam o pai -nosso no Congresso e

    propem projetos para criminalizar

    crticas sua religio.

    A lm disso, a Cmara dos De-

    putados j aprovo u le is que au-

    mentam a i seno de impos tos

    a igrejas, livrando o s pastores de

    pagar tributos pelas comisses que

    recebem. Eles tm metas a alcanar.

    Precisam conquistar novos fiis e

    aumentar a arrecadao de dzimo.

    Logo, so bonificados por seus lde-

    res quando conseguem . E isso era

    tributado. Pela prop osta, no ser

    mais. A inda no pacote tributrio,

    a C mara anist iou mul tas de

    R

    200

    milhes aplicadas pela Receita

    Federal a igrejas.

    Tem mais. A Cmara estuda pro-

    posta que inclui as igrejas entre as

    instituies que podem propor a es

    de inconsti tucionalidade no STF

    (Supremo Tribunal Federal). Hoje,

    apenas o governo, a OA B, partidos

    polticos e alguns sindicatos tm es-

    se direito. Se pastar, igrejas podero

    contestar aes que aumentam direi-

    tos LGBT no P as, por exemplo. Elas

    ganhariam um p oder institucional

    grande demais dentro de um Estado

    que, a princpio, laico.

    Po r f im, temos vrios outros

    pastores Lucinhos brotando pelo

    Brasil. Principalmente no Rio de

    Janeiro. O R io o Estado com maior

    presena evanglica no Pas. E nos

    ltimos meses passou S o Paulo no

    ranking de reclama es de intole-

    rncia religiosa. H vrias denncias

    de invases de terreiros e agresses.

    Nas fav elas da cidade, traficantes

    conver tidos probem umb anda e

    candombl nos seus domnios.

    maiores

    religies

    do Brasil

    Catlicos

    123,2

    milhes

    Evanglicos

    (incluindo

    os pente-

    costais)

    4

    2

    2

    m i l h e s

    spritas

    3,8

    milho

    Outras

    1

    ,4

    milho

    Sem religio

    15,3

    milhes

    SUPER SETEMBRO 2015

  • 7/23/2019 extremismo-evangelico

    4/10

    O s templos evanglicos foram e ainda so fundam entais

    para a construo do Pas: providenciam con forto

    espiritual e socializao on de o E stado no ch ega.

  • 7/23/2019 extremismo-evangelico

    5/10

    Os l deres evangl icos sabem

    f a z t emp o qu e t m p o d e r . A d i -

    ferena que eles nunca tiveram

    uma base to grande para jus t if i -

    car esse poder. Nunca houve tan-

    tas pessoas para ou vi-los e seguir

    suas or ientaes . E tudo por um

    motivo inusitado: a C hina.

    Sim, a C hina. Nossas igrejas

    evangl icas do nfase chama-

    da teologia da prosperidade . Po r

    esse ponto de v ista, o sucesso deve

    ser procurado na vida te r rena. E

    Deus devolve em dobro a quem

    contr ibui com a igreja , fazendo

    o fiel ganhar dinheiro, acumular

    bens , conquis tar um a vida ma is

    confortvel.

    Bom , o crescimento acelerado

    do P IB na l tima dcada ajudou

    milhes de b rasileiros a acumular

    bens , conquis tar um a vida ma is

    confortvel. Uma fatia gorda dessa

    populao ou j era evanglica, ou

    tornou-se no meio do cam inho, e

    passou a fazer uma associao entre

    seu progresso financeiro e a igre-

    ja. Se a carteira do fiel estava mais

    recheada, era porque D eus estava

    a g i n d o a f a v o r d e l e . E s e D e u s e s t a v a

    com ele, era graas igreja, graas

    ao pastor. Nada mais natural do que

    confundir o alho do crescimento

    econmico com o bugalho da te-

    ologia da prosperidade.

    Mas fora do mundo espiritual o

    benfeitor foi outro: o crescimen-

    t o d a C h in a . A s eg u n d a m a io r

    economia do mundo se tornou o

    comprador nmero um das nossas

    mercadorias agrcolas e minerais.

    Isso fez chover d lar no Brasi l ,

    ajudando a gi rar as engrenagens

    d o r e s to d a econ om ia . Fo i u m

    dos m aiores c rculos v i r tuosos

    da nossa his tr ia , com inflao

    sob con trole, renda l em cima e

    desemprego l embaixo.

    M as a ve io a c ri se - a C hina

    perdeu o flego, o gov erno federal

    pedalou na p ol t ica econm ica, a

    inflao saiu da toca e o dem nio

    do desemprego voltou a assombrar

    nossas almas. Nisso, a corrente para

    frente da teologia da prosperidade

    comeou a enferrujar. A final, co-

    mo justificar que Deus est tirando

    a lgo que essas pessoas sua ram

    tan to pa ra conquis ta r? E ssa a

    teoria que alguns pesquisadores

    vm montando pa ra en tender o

    radical ismo evangl ico recente .

    C o m a crise econmica, difcil

    sustentar a teologia da prosperida-

    de. A agenda m oral, portanto, vem

    a calhar. Ela serve para manter os

    fiis unidos sob uma bandeira clara

    e agressiva. Nada ma is distante das

    origens humildes de nossa comu-

    nidade evang lica.

    A

    fonte do poder

    Eles foram uma minoria pol-

    t ica e re ligiosa por dcadas. O s

    evanglicos sofreram um enorme

    preconceito num pas m ajoritaria-

    mente catlico. Vrios cemitrios

    adminis t rados p or catl icos no

    permit iam que pastores fossem

    enterrados ali. Os fiis eram desde-

    nhosamente chamados de crentes

    e classificados de ignoran tes. Ain-

    da h resqucios desse olho torto

    - basta escutar uma conversa num

    bar descolado na zona sul do R io

    de Janeiro ou na Vila M adalena, em

    So P aulo. Se a pessoa se declara

    evanglica, uma bigorna classifica-

    tria cai sobre a cabea dela.

    O tempo de m inoria acabou. Os

    dados do censo de

    2010 mostram

    que h 42 milhes de evanglicos

    no Brasil. Um em cada cinco brasi-

    leiros segue um a entre as milhares

    de igrejas espalhadas pelo P as. S

    que algumas lideranas eva nglicas

    se esqueceram da poca em que a

    democracia os protegeu. Afinal, de-

    mocracia no o regime da maioria

    cont ra as m inor ias . Um dos m -

    ritos da democracia proteger as

    minorias contra a m aioria.

    S e g u n d o o I B G E, qu e f a z o

    censo, os evangl icos es to em

    r i tmo a centuado de crescimento.

    Em mdia, a Igreja C atl ica per -

    deu 46 5 f iis por dia ent re 2000

    e 2010.

    Os evanglicos ganharam

    4.383 novos fiis por dia no mes-

    mo pero do. Hoje, o catolicismo

    mais forte entre os mais velhos. Os

    mais jovens tendem a ser evang-

    licos. Pela primeira vez na histria

    do censo, o nm ero absoluto de

    catl icos diminuiu no Pas . M i-

    lhes de indivduos esto trocando

    o padre p elo pastor.

    Vrias razes expl icam essa

    expanso. Em boa parte das reas

    pobres do B rasil, as igrejas evan-

    glicas so as nicas inst ituies

    presentes . No h Es tado ou o u-

    t ra organizao comunitria. Em

    vrias favelas, como mostram os

    estudos do ant roplogo R onaldo

    de A lmeida, da Unicamp, igrejas

    so centros com unitrios, reas de

    lazer e centros de ass istncia social.

    Elas oferecem tanto consolo espi-

    ritual quanto benefcios terrenos.

    A s igrejas fazem at papel de Tin-

    der, ajudando fiis a encontrar seu

    par. Nos m omentos de dificuldade,

    pastores e religiosos atuam com o

    te rapeutas e ps icana l i s tas para

    populaes que nem sonham em

    ter como paga r t ra tam entos psi -

    colgicos.

    Em alguns casos, essa influncia

    separa a v ida da mo r te . Os a nos

    1990 registraram recordes de vio-

    l ncia em S o Paulo e no R io de

    Janei ro . Os pastores t iveram um

    papel importantssimo em ameni-

    zar a violncia de vrias periferias.

    Os R acionais M C, maior grupo de

    rap do Brasil, fez sua homenag em

    aos pastores em um a cano cha-

    mada

    Vida Loka Par te

    1): F em

    Deus que ele justo/Ei irmo nu n-

    ca se esquea , na guarda, guerreiro/

    Levanta a cabea truta, onde estiver

    seja l como for/Tenha f porque

    at no lixo nasce flor/Ore por ns

    pastor, lembra da gente/No culto

    dessa noi te , fi rmo segue q uen-

    te /Adm iro os c rente /D l icena

    aqui/M funo, m tabela , pow,

    desculpa a .

    A cientis ta social A na Pa ula

    Ga ldeano, do Centro Brasileiro de

    A nlise e Planejamento (Cebrap),

    mostrou em uma p esquisa o que

    os Racionais cantaram em m sica:

    as igrejas ajudam at a organizar

    a segurana de reas pob res e

    convencem l deres c r iminosos

    a diminuir a ferocidade. Elas fa-

    zem aq ui lo que sem pre pareceu

    impossv el no Brasil : diminuir a

    violncia endm ica.

    SUPER SETEMBRO 2015

  • 7/23/2019 extremismo-evangelico

    6/10

    Em tempos de desaquecimen to econm ico, tique

    une

    os evang licos no m ais tanto a teologia da

    prosperidade, mas o conservadorismo m oral.

  • 7/23/2019 extremismo-evangelico

    7/10

    A lm disso, as igrejas evang-

    licas esto sempre perto dos fiis,

    pelo rdio e pela televiso. A lm da

    Record, propriedade da Universal,

    os pas to res a lugam os ho r r ios

    nobres da Bandeirantes e da Re-

    de TV, alm de contar com uma

    mirade de rdios em basicamente

    todos os 5 .57o municpios do P a-

    s. Vrias pesquisas mostram como

    essa estrutura de m dia foi funda-

    mental para manter uma l igao

    forte e constante entre pastores e

    fiis. Se o pastor no p ode celebrar

    cultos o dia todo, os veculos de

    comunicao podem . Porm, h

    outro ponto-chave para entender

    essa expanso m iditica. o esp-

    rito missionrio dos p rprios fiis.

    H um forte conservadorismo no

    Brasil, e entre os evanglicos em

    particular , conta M agali Cu nha,

    da Universidade M etodista de So

    Paulo, especialista em religio, po-

    ltica e comunica o. A s pessoas

    querem ver sua agenda representa-

    da na TV. P or isso que elas no tm

    problema algum em doar dinheiro

    para igrejas que vo defender cau-

    sas nas quais elas acreditam , diz.

    Com essa quantidade de gente

    ao seu lado, inclusive dispostas a

    dar dinheiro, os pastores saram do

    templo e foram para o Parlamento.

    E a agend a da igreja virou pauta

    do Pas.

    A disputa de poder

    Os evangl icos esto na po l tica

    brasi lei ra desde m eados do scu-

    lo 20. M as foi s a part ir de 1986

    que eles ganharam alguma fora .

    Naquele ano, os parlamentares que

    fa r iam a p r imei ra C ons t i tu io

    ps-di tadura foram elei tos . Um

    impul so para a o rganizao dos

    evanglicos foi o boato, numa era

    pr-redes sociais, de que a Consti-

    tuio faria do B rasil um pas ofi-

    cialmente catlico. O s eva nglicos

    costumavam dizer que crente no

    se mete em poltica . O receio de ter

    sua rel igio vir tualmen te banida

    fez com q ue eles t rocassem essa

    ideia pelo conceito de que irmo

    vota em irmo . E tomaram gosto

    pela coisa. Em 198 6, foram eleitos

    32 deputados federais evanglicos.

    Ho je, o C ongresso tem 78 par la-

    mentares que professam essa f .

    Quase um em cada seis deputados

    evanglico, incluindo o presiden-

    te da Cmara dos D eputados, Edu-

    ardo Cunha (PMDB-RJ).

    Essa bancada gravita em torno

    da Frente Parlamentar Evanglica,

    cr iada em 2003 e que hoje conta

    com um a das es t ru tu ras po l ti -

    cas mais eficientes do P as. Cada

    mem bro cede um assessor par la-

    mentar frente, de tal forma que

    eles conseguem acompanhar cada

    movi mento no Congresso . Mai s

    recentemente , essa organizao

    ganhou u ma bandeira unif icada.

    A gora, alm da organizao, eles

    tm uma agenda forte em comum :

    a defesa da famlia tradicional.

    Um estudo do telogo Jung M o

    Sung, da Un iversidade M etodis-

    ta de So Paulo, mostra que essa

    agenda muito impo rtante para a

    nova classe mdia evanglica. Te-

    mas como aborto e legalizao da

    maconha seriam o fensas diretas a

    Deus - mesm o que a Bblia tenha

    mais citaes contra a manipulao

    da f do que contra a hom ossexu-

    alidade.

    Por causa da fora na sociedade,

    essa bandeira est se expandindo

    para a l m do P ar lamento . J h

    associaes ev anglicas de juzes,

    que vm tentando bloquear algu-

    mas pautas que no passariam no

    Co ngresso, mas tm aceitao no

    Judicirio - a unio civil de pessoas

    do mesm o sexo e uma legislao

    mais moderada para o uso de dro-

    gas, por exemplo.

    O pastor Ricardo Gondim, mes-

    t re em cincias da re l igio pela

    Universidade M etodista e pastor

    da Igreja Betesda, em So P aulo,

    um cr tico dessa agenda extre-

    mista. Ho je, a agenda evanglica

    reacionria. Eles s reagem, e isso

    vem dando unidade a essa parcela

    mais radical , diz Gondim , que

    uma figura influente entre os evan-

    glicos mais liberais. Isso uma

    pena, porque divide o Pas e refora

    o estigma de que todo evanglico

    um radical.

    De fato. No faz sentido gene-

    ralizar os evanglicos. um erro

    achar que todos seguem uma agen-

    da comum , conta Christina Vital

    da Cunha, professora de antropo-

    logia cultural da U FF (Universidade

    Federal Fluminense) e pesquisado-

    ra da relao entre evanglicos e

    poltica. Pou cas coisas unem todos

    os lideres da igreja. E todos, no final

    das contas, competem por fiis para

    seus templos. A agenda de defesa

    da fam lia tradicional uma das

    poucas coisas que eles tm em co-

    mum , explica ela.

    Dois personagens, com forte as-

    cendncia na Frente Parlamentar

    Ev anglica, sinalizam essas s e m e -

    lhanas

    e diferenas. Eles simbo-

    l izam as duas instituies com os

    projetos polticos ma is claros.

    Silas Malafaia, pastor da A ssem-

    bleia de Deus, usa as redes sociais

    e a TV para ofender adversrios,

    pregar contra o aborto, atacar ho-

    mossexuais e pressionar candidatos

    a cargos pblicos. admirado e te-

    mido por vrios lideres evanglicos

    Pas afora. E adora ostentar riqueza.

    M ostra o carro de meio milho de

    reais e o relgio carssimo com o

    provas de que Deus aprova o seu

    trabalho. Malafaia cresceu bastante

    a part ir de 2010 , quando se trans-

    formou num dos principais oposi-

    tores do PT, e segue como op osio

    ao governo federal.

    Do outro lado est Edir M acedo,

    da Igreja Universal. Ele j mistura

    f e poltica h m uito tempo. Des-

    de os anos 1990, seus programas

    de rdio e TV e seus templos so

    usados para ungir algumas pessoas,

    atacar outras e defender a fam lia

    tradicional. Um dos seus primeiros

    alvos, h mais de 20 a nos, foi o en-

    to eterno candidato presidncia

    Luiz Incio Lula da Silva (PT ), que

    alguns dos seus pastores definiam

    como o demnio de quatro dedos .

    Essa fase passou quando Lula foi

    eleito presidente em 200 2 e con-

    tou com apoio significativo da U ni-

    versal. Desde ento, M acedo tem

    adotado um a ati tude discreta em

    pblico e agressiva nos ba stidores.

    Ele emplacou ministros e aliados,

    5

    aiores

    igrejas

    evang-

    licas do

    Brasil

    Assembleia

    de Deus

    12,3

    milhes

    Igreja

    Evanglica

    Batista

    3,8

    milhes

    Congrega-

    o Crist

    do

    Brasil

    2,3

    milhes

    Igreja

    Universal do

    Reino

    De Deus

    1,9

    milho

    Igreja do

    Evangelho

    Quadrangu-

    lar

    1,5

    milho

    SUPER

    SETEMBRO 2015

  • 7/23/2019 extremismo-evangelico

    8/10

    A

    M

    -

    -

    1

    *

    s

    .

    e

    p

    t

    p

    e

    g

    *

    4

    1

    V

    .

    4

    t

    s

    1

    V

    4

    0

    A

    k

    M

    A

    .

    0

    g

    w

    i

    e

    w

    .

    e

    .

    1

    9

    /

    O

    .

    4

    :

    4

    0

    k

    .

    4

    S

    .

    '

    r

    ,

    ,

    4

    t

    .

    e

    e

    r

    4

    4

    t

    .

    ,

    e

    Z

    1

    0

    1

    .

    e

    e

    ,

    "

    4

    1

    .

    b

    -

    1

    #

    i

    l

    e

    i

    )

    .

    4

    ?

    4

    h

    ,

    ,

    "

    4

    0

    4

    4

    b

    .

    .

    1

    1

    .

    o

    N

    i

    p

    ~

    n

    w

    A

    k

    4

    i

    ,

    4

    ,

    A

    -

    ;

    4

    n

    t

    %

    .

    r

    e

    4

    f

    4

    4

    v

    p

    F

    4

    r

    .

    o

    p

    j

    4

    .

    1

    e

    r

    A

    :

    ,

    :

    4

    -

    4

    1

    .

    o

    .

    e

    4

    ,

    t

    o

    .

    1

    1

    ?

    ,

    4

  • 7/23/2019 extremismo-evangelico

    9/10

    E U A

    G A N A

    NDONSIARASIL IGRIA

    183,5

    milhes

    325,1

    255,7

    milhes

    ilhes

    4 , 6

    milhes

    88

    milhes

    4

    milhes

    26,9

    milhes

    milhes

    2 6 , 9

    milhes

    milhes

    B R A S I L

    Enquanto a Igreja

    Catlica perdeu 9

    pontos percentuais

    em penetrao

    entre z000 e 2010

    os evanglicos ga-

    nharam 6,8 pontos.

    22.2

    15 .4 %

    Evanglicos

    11 13.2

    Espritas e outros

    73.6

    11 64.6

    Catlicos

    6 9 2

    I

    1 9 S U D E S T E

    24.6

    17.596

    3 . 3 15.9

    Pentecostais no mun do

    As igrejas de Silas Malafaia e Edir Macedo pertencem

    a essa vertente evanglica. E o Brasil o pas com mais fiis.

    Populao ristos entecostais

    O pastor sobe e o padre desce

    A proporo de catlicos cai em todas as regies do Brasil, enquanto

    a de evanglicos cresce. Confira a variao dos percentuais entre s000 e solo,

    de acordo com os ltimos censos do IBGE.

    2

    79 .9

    71 3

    2 2

    I 60.6

    N O R T E

    78. 5

    O R D E S T E

    19.8

    89 10.

    9

    10 3

    16 4

    9 8

    114

    1.1

    le

    Catlicos Evanglicos

    spritas

    atlicos Evanglicos Espritas

    e outros

    outros

    6 9 1 9 6

    1

    6

    E

    NjR 0 0 E S T E

    12.0

    13.6

    Catlicos

    Fonte Distribuio percentual da

    populao residente, por Grandes

    Regies,1BGE. Censo Demogrfico

    2000/2010

    Evanglicos

    spiritas

    e outros

    77.4

    I 701

    Catlicos

    S U L

    153

    20.2 70

    Evanglicos

    Catlicos

    vanglicos

    7.3

    93

    Espritas

    e outros

    Espritas

    e outros

    S U P E R SETEMBRO 2015

  • 7/23/2019 extremismo-evangelico

    10/10

    em m inistrios e postos-chave dos

    governos Lula e Dilma. Apesar de

    sua igreja no ser a maior do P as,

    a m ais influente.

    Um a prova desse poder se tor -

    nou concreto . O T emplo de Salo-

    mo, inaugurado em 2014 e sede

    da Un iversal , o maior temp lo

    religioso do Brasil. Ele custou R $

    685 m ilhes e tem uma rea qua-

    tro vezes maior do que o santurio

    catlico de A parecida, tambm em

    So P aulo. A const ruo imi ta o

    templo do re i Salomo s que

    n u m a v e r s o e s t u pen d am en te

    maior que a do santurio original,

    descrito pela Bblia como uma edi-

    ficao modesta. Na inaugurao,

    a presidente D ilma, o governador

    Geraldo Alckmin (PSD B) e o pre-

    feito Fernando Haddad (P T) mar-

    caram presena. Nenhum deles

    evanglico, mas q uem se atreveria

    a desagradar Macedo?

    M alafaia e Edir esto longe de

    ser unanimidade entre os evangli-

    cos, naturalmente. Vrios p astores

    so contra a m istura de f e poltica

    e preferem fazer seu trabalho de

    formiguinha nos recantos do Pas.

    E no so poucos.

    Tanto que o nmero de evan-

    gl icos que f requentam templos

    menores ou q ue no se identificam

    com uma igreja especfica explodiu

    nos ltimos anos. A s pessoas vo

    aos lugares onde se sentem bem .

    Na p rtica, aumentou a infidelida-

    de a um a igreja especfica. como

    uma p laylist da f - voc escolhe

    apenas as experincias que fazem

    mais sent ido para voc. A o mes-

    mo tempo, a Universal, igreja mais

    identificada com poltica partidria,

    foi uma das poucas a perder fiis

    entre 2000 e

    2010.

    M ais um ponto

    a favor dessa tendncia de uma co-

    munidade evanglica mais difusa,

    menos disposta a servir como mas-

    sa de manob ra ou curral de votos.

    A moderao vem de dentro

    M acedo , M ala fa ia e o pas to r

    Lucinho l do incio do texto so

    trs entre os 42 milhes de evan-

    glicos do Brasil, mas de um ram o

    especfico. Eles so evanglicos

    pentecostais - assim com o outros

    26 ,9 milhes de brasileiros. Segun-

    do dados do W orld Christian Data-

    base, o Brasil o pas com o maior

    nmero de seguidores desse ramo

    do cristianismo. Nigria, Estados

    Unidos, Indonsia e Gana comple-

    tam o ranking dos cinco m aiores.

    Os evanglicos pentecostais so

    difceis de entender num pas ma-

    joritariamente catlico, acostumad o

    com uma hierarquia rgida, com pa-

    pa, bispos e padres, e com uma ce-

    lebrao clara - a missa, organizada

    em torno do serm o do sacerdote.

    Evanglicos no tm uma doutrina

    padronizada nem uma forma nica

    de celebrao muito menos um

    papa , claro. Q ualquer um pode

    mudar de igreja e continuar sendo

    evanglico. Na prtica, dizer que

    algum evangl ico to vago

    quanto dizer que algum nasceu

    na A mrica do Sul, sem mencionar

    o pas, a regio, a cidade.

    H os evanglicos nascidos na

    reforma protestante, como os lu-

    teranos, metodistas e calvinistas.

    H os batistas, que so anteriores

    grande ciso com a Igreja C atli-

    ca. H a linhagem fundamentalista,

    que surgiu nos EU A , no incio do

    sculo

    20,

    e pregava um a interpre-

    tao literal do Velho T estamento,

    mo da do que fazem os judeus

    ul t raor todox os . Por f im, h os

    evangl icos pentecosta is - que

    so b as icamente os evangl icos

    que chamamos de evanglicos no

    Brasil. M uitas dessas pessoas esto

    em igrejas que tm expoentes co-

    mo S ilas M alafaia e Edir M acedo.

    Outros m ilhes, no.

    Os evangl icos pentecosta is

    nasceram nos EUA , no comeo do

    sculo ao. Eles so inspirados pelo

    dia de Pentecostes o quinqua-

    gsimo dia aps a Pscoa, ocasio

    em que os ap stolos , segundo a

    Bblia, receberam do Esprito Santo

    a capacidade de falar l nguas es-

    trangeiras, de modo que pudessem

    pregar a palavra de Jesus pelo mun-

    do inteiro. Pentecostais acreditam

    em curas espirituais e profecias. E,

    alm de conservadores, so forte-

    mente missionrios.

    N o s a n o s 1 9 7 0 , s u rg e o n e o -

    pen t ecos t a li s m o - u m a v e r s o

    ma is midi t ica e es tr idente dos

    pentecostais. Eles do nfase

    ma ior cura - espiri tual e f sica

    - e, principalmente, teologia da

    prosperidade. Por isso mesmo os

    neopentecos tais ganharam tanta

    fora no B ras i l nos anos d e es ta-

    bilidade e crescimento, j que en-

    tenderam tal bonana como prova

    da graa divina.

    Mas a teologia da prosperidade

    e a posio reacionria no so as

    nicas bandeiras, claro. Na verda-

    de, elas at ofuscam outras causas

    evanglicas, como a assistncia so-

    cial e a organizao com unitria

    de ajuda mtua. No fim das contas,

    colocar todo evanglico no balaio

    conservador de Si las M alafaia e

    Edi r M acedo como d ize r que

    todo b rasileiro foi corintiano en-

    quanto Lula, que torce para o time

    do Parque S o Jorge, foi presidente.

    H m uita vida alm do fanatismo.

    Basta olhar para a histria.

    Nos EUA, um pas majoritaria-

    mente evanglico, vrios lderes co-

    munitrios so pentecostais ou de

    outros ramos evanglicos. M artin

    Luther King, l der do m ovimento

    de direitos civis nos anos 1960, era

    pastor. No Brasil, vrios pastores

    vm abrindo seus templos para gays

    e lsbicas. Essa quantidade enorme

    de pessoas, m uitas delas silenciosas,

    sofrem um dup lo preconceito. Pa-

    ra os evanglicos radicais, elas no

    so evanglicas o suficiente. Para o

    restante da sociedade, so fanticos.

    Portanto, se h algum caminho

    para impedir o crescimento dessa

    agenda agressiva, ele passa necessa-

    riamente por esses evanglicos mo-

    derados. So os milhes de pessoas

    que seguem as p alavras que Jesus

    disse quando alguns radicais que-

    riam matar uma mulher a pedradas:

    Quem no tiver pecado que atire a

    primeira pedra . Esses evanglicos

    so os mesmos fiis que o pastor

    Lucinho chama de palhaos . Na

    vida real, porm, eles no tm nada

    de ridculos. So nada m enos que a

    chave para a construo de um Brasil

    to evanglico quanto tolerante.

    ;)