Fabico - Uma Memoria a Resgatar

download Fabico - Uma Memoria a Resgatar

of 79

description

Uma Memória a Resgatar

Transcript of Fabico - Uma Memoria a Resgatar

  • UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL FACULDADE DE BIBLIOTECONOMIA E COMUNICAO

    DEPARTAMENTO DE CINCIAS DA INFORMAO

    JULIANO LEAL CAMARGO

    FABICO: UMA MEMRIA A RESGATAR

    PORTO ALEGRE 2009

  • JULIANO LEAL CAMARGO

    FABICO: UMA MEMRIA A RESGATAR

    Trabalho de Concluso de Curso elaborado como requisito parcial para obteno do ttulo de Bacharel em Biblioteconomia, do Curso de Biblioteconomia da Faculdade de Biblioteconomia e Comunicao, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Orientadora: Profa. Dra. Lizete Dias de Oliveira Co-orientador: Prof. Dr. Rafael Port da Rocha

    PORTO ALEGRE 2009

  • UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL Reitor: Prof. Dr. Carlos Alexandre Netto Vice-Reitor: Prof. Dr. Rui Vicente Opermann FACULDADE DE BIBLIOTECONOMIA E COMUNICAO Diretor: Ricardo Schneiders da Silva Vice-Diretora: Regina Van der Lann DEPARTAMENTO DE CINCIAS DA INFORMAO Titular: Ana Maria Moura Suplente: Helen Rozados COMISSO DE GRADUAO DO CURSO DE BIBLIOTECONOMIA: Titular Glria Ferreira Suplente: Samile Vanz

    CIP Catalogao na Fonte Departamento de Cincias da Informao Rua: Ramiro Barcelos, 2705 Sala 507 Porto Alegre/ RS - 90035-007 Tel.: 33085067 Fax: 33085435 E-mail: [email protected]

    C172f Camargo, Juliano Leal

    FABICO: uma memria a resgatar / Juliano Leal Camargo ; orientadora Lizete Dias de Oliveira, co-orientador Rafael Port da Rocha. Porto Alegre, 2009.

    77 f.

    Monografia (bacharelado) Universidade Federal do Rio

    Grande do Sul, Faculdade de Biblioteconomia e Comunicao, Porto Alegre, 2009.

    1. Memria Social. 2. Memria Institucional. 3. Oralidade. 4.

    FABICO. 5. Web 2.0. I. Oliveira, Lizete Dias de. II. Rocha, Rafael Port da. III. Ttulo.

    CDU: 378.6(816.5)FABICO

  • JULIANO LEAL CAMARGO

    FABICO: UMA MEMRIA A RESGATAR

    Trabalho de Concluso de Curso elaborado como requisito parcial para obteno do ttulo de Bacharel em Biblioteconomia, do Curso de Biblioteconomia da Faculdade de Biblioteconomia e Comunicao, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Orientadora: Profa. Dra Lizete Dias de Oliveira Co-orientador: Prof. Dr. Rafael Port da Rocha

    Aprovado em 9 de dezembro de 2009, pela banca examinadora.

    BANCA EXAMINADORA:

    ____________________________________ Orientadora: Prof. Dr Lizete Dias de Oliveira

    _____________________________________ Co-orientador: Prof. Dr. Rafael Port da Rocha

    ____________________________________

    Profa. Ma. Maria do Rocio Fontoura

    _____________________________________ Profa. Ma. Marlise Maria Giovanaz

  • Em primeiro lugar, agradeo, pelo esmero, a meus pais Rui e Carolina Camargo e a meu irmo pai apo Kelton, que proporcionaram minha educao.

    Para Felipe Chemale, pela fora e apoio dado. Aos amigos de adolescncia: Janine Santiago, Milton Guerra e

    Michele Trindade. Aos amigos que ganhei e me ajudaram nesta jornada: Andra Freitas,

    Valria Frantz, Janana Leite. A minha orientadora e incentivadora Lizete Dias de Oliveira.

    E Virgem, me de Deus e de todos ns.

  • RESUMO

    Estudo elaborado com o objetivo de resgatar a memria da FABICO (Faculdade de Biblioteconomia e Comunicao), servindo-se de subsdios que a memria social e a oralidade podem proporcionar, bem como da pesquisa bibliogrfica. Como ponto de partida, foram utilizadas entrevistas produzidas por alunos da disciplina BIB 03202 - Histria do Rio Grande do Sul Aplicada Cincia da Informao 2008/2. Todo o material documental e iconogrfico aproveitado e elaborado pelo presente estudo compe o projeto CIM FABICO (Centro de Informao e Memria). Este projeto prope-se, tambm, a testar uma ferramenta especfica como suporte armazenador dos fragmentos de memria recolhidos (web 2.0), abrigando-os em uma base de dados, para a organizao e criao de documentos que venham a enriquecer a memria da FABICO, editados no projeto. PALAVRAS-CHAVE: Memria Social. Memria Institucional. Oralidade. FABICO.

    Web 2.0.

  • RIASSUNTO Saggio scritto collo scopo di riscattare la memoria della FABICO (Facolt di Biblioteconomia e Comunicazione), adoperando dei sussidi ofertisi dalla memoria soziale e tramite la oralit, altres giovandosi di una acurata ricerca bibliografica. Come punto di esordimento, furono utilizzati delle interviste ottenute dagli allievi della disciplina BIB 030202 Storia del Rio Grande del Sud Applicata alla Scienza della Informazione-2008/2. Tutto il materiale e documentale ed iconografico sfruttato ed ingegnato in questa indagine stato inserto nel progetto chiamato CIM FABICO (Centro di Informazione e Memoria). Sidetto progetto si propone anche a sperimentare un attrezzo specifico confacente a ricoverare frammenti mnemonici raccolti (web 2.0), alloggiandoli in un repositorio di dati, acciocch siano reperibili e innanzitutto sempre intenti alla sistematizzazione e creazione di altrettanti documenti, i quali possono arricchire il bagaglio di memorie della FABICO editi in codesto lavoro. PAROLE CHIAVE: Memoria Sociale. Memoria Istituzionale. Oralit. FABICO. Web 2.0

  • LISTA DE FIGURAS

    Figura 1 - Exemplo de metadados Dublin Core Simples .................... 30

    Figura 2 - Exemplo de elementos qualificados ................................... 31

    Figura 3 - Exemplo de tags .................................................................. 33

    Figura 4 - Fragmentos do artigo Web Social: impacto no

    comportamento informacional na produo do conhecimento ........... 35

    Figura 5 - Foto da construo do prdio que hoje abriga a FABICO .. 45

    Figura 6 - Foto atual do prdio da FABICO ......................................... 46

    Figura 7 DACOM .............................................................................. 48

    Figura 8 CABAM ............................................................................... 48

    Figura 9 - Primeira sede da Faculdade de Economia e Administrao, onde o Curso de Biblioteconomia iniciou, cujo prdio hoje o ocupado pela Faculdade de Direito .................................................................... 52

    Figura 10 - Quarta sede do Curso de Biblioteconomia, a Faculdade de Cincias Econmicas........................................................................... 52

    Figura 11 - Prdio da antiga Faculdade de Filosofia, onde o Curso de Jornalismo funcionava ......................................................................... 58

    Figura 12 - Imagem do editor de texto do ambiente Fabrico .............. 59

    Figura 13 - Lista de textos ................................................................... 60

    Figura 14 - Lista de links (bookmarks) ................................................ 61

    Figura 15 - Assunto biblioteconomia ................................................. 61

    Figura 16 - Classes de hierarquia ...................................................... 62

    Figura 17 - Cdigos das imagens no ambiente ................................... 65

    Figura 18 - Foto recuperada atravs do link ....................................... 65

    Figura 19 Metadados ........................................................................ 66

    Figura 20 - Nuvem de assunto ............................................................ 67

    Figura 21 Museologia ....................................................................... 67

    Figura 22 - Nuvem de pessoas ............................................................ 68

    Figura 23 - Pessoa selecionada .......................................................... 68

    Figura 24 - Entrevista da pessoa selecionada .................................... 69

  • SUMRIO

    1 INTRODUO .................................................................................. 8

    2 INFORMAO E MEMRIA ........................................................... 13

    2.1 MEMRIA SOCIAL........................................................................ 14 2.2 MEMRIA INSTITUCIONAL ......................................................... 22

    3 WEB 2.0 ............................................................................................ 25

    3.1 BASES DE DADOS DE REFERNCIA OU FONTE ..................... 27 3.2 METADADOS ................................................................................ 28 3.2.1 Metadados Dublin Core ............................................................ 29 3.3 ORGANIZAO SOCIAL DA INFORMAO .............................. 31 3.4 AMBIENTE WIKI ............................................................................ 34

    4 UM CIM PARA A FABICO ............................................................... 37

    4.1 UM HISTRICO ............................................................................ 38 4.1.1 Do Prdio ................................................................................... 39 4.1.2 Diretrios Acadmicos ............................................................. 46 4.1.3 Departamento de Cincia da Informao ............................... 49 4.1.3.1 Curso de Biblioteconomia ........................................................ 49 4.1.3.2 Curso de Arquivologia ............................................................ 53 4.1.3.3 Curso de Museologia ............................................................... 54 4.1.4 Departamento de Comunicao .............................................. 54 4.1.4.1 Curso de Jornalismo ................................................................ 55

    5 AMBIENTE FABRICO (o que )...................................................... 59

    5.1 GESTO DO ACERVO DO PROJETO CIM / FABICO ................ 62 5.2 TIPOLOGIA DOCUMENTAL DO CIM FABICO ............................ 63 5.3 VANTAGENS E LIMITAES DA FERRAMENTA (FABRICO) .. 69

    6 CONCLUSO ................................................................................... 71

    REFERNCIAS ................................................................................... 73

  • 8

    1 INTRODUO

    Desde sua criao, em 1970, a Faculdade de Biblioteconomia e

    Comunicao FABICO registrou muito pouco sua memria. Fatos,

    acontecimentos e a prpria juno em um mesmo prdio, que ocupa at hoje,

    com certo distanciamento de seus dois primeiros cursos, Biblioteconomia e

    Documentao e Jornalismo, deixaram de ser registrados documentalmente,

    ficando guardados nas memrias individuais, em um perodo em que as

    pessoas temiam expressar suas opinies. A despeito de no haver riqueza de

    registros e assentos documentais, assoma, em testemunhos da oralidade dos

    participantes da histria institucional, a verso de que dita unio, feita em um

    perodo de chumbo, conturbado e sem liberdade de expresso, teria objetivado,

    antes de tudo, o enfraquecimento da poltica estudantil, notadamente a dos

    Institutos da Filosofia e do Jornalismo, vistos, ento, como focos subversivos.

    Assim, a juno, em um mesmo prdio, de cursos distintos como a

    Biblioteconomia e o Jornalismo (este ltimo, destacado da Faculdade de

    Filosofia, no lendrio campus central) acarretou certa animosidade no convvio

    dos primeiros anos.

    A convivncia entre os dois cursos no foi pacfica e, segundo depoimento de professores, os dois cursos repartiam o espao fsico compartilhando uma desconfiana recproca. Herdeiro poltico e pedaggico da SNICT, dentro da lgica da Segurana Nacional, o Curso de Biblioteconomia e Documentao da UFRGS era injustamente identificado como um representante da represso de forma automtica e sem muita reflexo, informao tornou-se sinnimo de delao, ao passo que comunicao tornou-se sinnimo de clandestinidade. (OLIVEIRA; ROCHA, 2009, p. 389).

    A memria institucional da FABICO foi deixando de ser registrada e

    acontecimentos de pocas no muito distantes, esquecidos. O que teria sentido

    um aluno nos anos inaugurais da faculdade? Com que cautela, naqueles tempos

    de delao, o professor devia ministrar sua aula? Por fora da represso e de

    um certo descaso, a memria da instituio a que estamos vinculados no foi

  • 9

    sendo registrada. O que se deu no apenas na FABICO, mas em muitas

    instituies de ensino universitrias federais.

    Hoje, a memria institucional um saber quase clandestino na prpria instituio universitria. Habita uma espcie de limbo, dotado de prestigio simblico, mas desprovido de um plano de expresso consistente que oferea memria institucional um canal efetivo de acesso para a comunidade universitria. (MATOS, 2004, p.35)

    A memria institucional nas instituies federais de ensino (IFES), de

    certa forma, vem sendo tratada como um recorte de pocas, ou seja, o

    rememorador grava em seu inconsciente somente o que viveu e achou

    interessante dentro do contexto institucional, registrando em sua memria

    individual s os fatos acontecidos durante sua experincia acadmica (docente

    ou discente).

    Seguindo essa tendncia, o memorizador repensa o curso universitrio

    num corte temporal limitado, restrito sua vivncia, ignorando o histrico da

    unidade de ensino a que est vinculado, desconhecendo a forma como a

    instituio foi construda e a participao de seus principais colaboradores,

    porque a ele no dado acesso a esse tipo de informaes, nem, ao menos, lhe

    fomentado o interesse por tais indagaes.

    As instituies, tambm, em sua vida orgnica, foram funcionando

    automaticamente, desapercebidas de sua histria, sem tempo para conhecerem-se,

    para saberem como foram formadas e a que fim dirigidas.

    A idia central, de recolher fragmentos de memria da Faculdade de

    Biblioteconomia e Comunicao FABICO, que esto dispersos pela

    comunidade de fabicanos e ex-fabicanos, surgiu da preocupao com o

    passado institucional, pela busca de suas identidades, contemplando as

    divises caractersticas entre seus dois departamentos.

    Tendo como ponto de partida, para a construo da memria recente,

    neste trabalho esto sendo usados trabalhos acadmicos propostos na

    disciplina BIB 03202 2008/2 Histria do Rio Grande do Sul Aplicada Cincia

    da Informao, onde alunos recolheram grande quantidade de entrevistas que

    pudessem recuperar parte da histria recente da instituio. Para elaborao

  • 10

    deste, pesquisou-se em diversas fontes materiais que pudessem trazer uma luz

    histrica que clareasse os contornos do passado recente: portarias, circulares,

    artigos acadmicos, informaes disponibilizadas via web, bem como o material

    fotogrfico obtido especialmente para este estudo, e pesquisa no acervo de

    fotos relativas FABICO do Museu da UFRGS, tudo peneirado no escopo de

    enriquecer o trabalho.

    Alm de todo o material documental e iconogrfico que foi separado para

    fazer parte do projeto CIM FABICO (Centro de Informao e Memria), sentiu-se

    a necessidade de elaborar um histrico individualizado do prdio, Centros

    acadmicos e, por fim, dos Cursos que compem a Faculdade, para um melhor

    entendimento de sua histria e seus desdobramentos atravs dos anos. Mas a

    carncia de material, principalmente dos Cursos de Publicidade e Propaganda e

    de Relaes Pblicas, fez com que o histrico se fragmentasse, descrevendo os

    Cursos por Departamentos, todo o material disponvel na pgina ser

    futuramente disponibilizado para a comunidade universitria, atualmente o

    acesso ao projeto s permitido a pessoas envolvidas na sua elaborao.

    Utilizou-se o mtodo de pesquisa qualitativo, atravs da tcnica de

    pesquisa exploratria. A opo pelo mtodo qualitativo deu-se pelo estudo ser

    de natureza social e no ter quantificao, e a pesquisa ou estudo exploratrio,

    pela reunio de material investigado.

    Sobre o mtodo qualitativo descreve Bradley (1993 apud DIAS, 2000)

    [. . .] o pesquisador um interpretador da realidade.

    Ao pesquisador dado o direito de pesquisar e interpretar aquilo que os

    frutos colhidos, por sua sondagem, teriam a testemunhar sobre uma

    reconstruo de uma realidade, que, embora facetada, oferece uma verso

    resgatvel dos fatos. Em outras palavras, os fatos no so recuperveis em sua

    integralidade.

    Nesta vertente de pensamento, Bosi (2003 p. 49) acentua: Logo no incio

    o pesquisador deve enfrentar o fato de que uma histria de vida, ou mil histrias

    de vida jamais substituiro um conceito ou uma teoria da histria. Tecendo a

    malha desses fragmentos de memria individual e coletiva, interconectando

  • 11

    dados oriundos de diferentes fontes, o pesquisador recompe, quase como um

    restaurador, um passado que se estava por esquecer.

    Tendo como objeto de estudo a memria social e Institucional, valendo-se

    dos recursos que a web 2.0 proporciona para armazenagem da informao,

    todos os materiais provenientes deste estudo esto disponveis em ambiente

    virtual. O objetivo geral resgatar os fragmentos da memria da FABICO,

    tendo como ponto de partida as entrevistas e fotos recolhidas pelos alunos no

    semestre de 2008/2 so utilizadas para pesquisa e enriquecimento de um

    projeto maior que o CIM FABICO. Assim, o material sobre a histria de quem

    faz ou fez parte da comunidade universitria da FABICO no se dispersa,

    ficando reunido. Especificamente, este estudo tenta fazer um resgate da

    Memria institucional da FABICO, testar uma ferramenta especfica como

    suporte armazenador dos fragmentos de memria recolhidos (web 2.0) e

    armazenar, em uma base de dados, os trabalhos produzidos durante o semestre

    2008/2, por alunos da disciplina BIB 03202, e outros materiais supracitados.

    Referidos materiais sero depositados em um ambiente denominado FABRICO,

    onde o projeto CIM FABICO est inserido, o FABRICO foi criado pelo Professor Dr.

    Rafael Port da Rocha, e se configura em uma Base de Dados e serve-se de

    recursos tecnolgicos adivindos da Web 2.0.

    Este trabalho divide-se em quatro captulos: o primeiro aborda a questo

    da informao e da memria, trazendo um histrico sobre memria social, com

    enfoque em vrios autores e suas pesquisas, e no atinente memria

    institucional, buscando enfatizar mais o lado emocional, ressaltando o que cada

    pessoa com a bagagem de suas lembranas pode representar e contribuir

    dentro de uma engrenagem institucional.

    O segundo captulo trata da questo web 2.0 e todas as tecnologias que

    surgiram na esteira desta, como, por exemplo, a possibilidade de descrever

    assuntos, atravs de metadados, o que facilita a recuperao de documentos, e

    faz com que este recurso torne-se mais fcil para seus usurios. Outrossim,

    apresenta uma breve explanao sobre base de dados, a qual surgiu no cenrio

    da informtica bem antes da web 2.0, sendo implementada com tecnologias

    atuais, provenientes de novos avanos tecnolgicos.

  • 12

    O terceiro captulo, intitulado Um CIM para a FABICO, abre com uma

    exposio do que o CIM FABICO, feita a modo de uma declarao de amor

    Faculdade. Nesse captulo, buscou-se material para a confeco do histrico da

    FABICO, um histrico que para ser construdo demandou a busca de materiais

    elucidativos de como, por exemplo, era o terreno onde est instalada a FABICO

    hoje, para que fim o prdio foi construdo, etc. Muitas dessas respostas foram

    encontradas em material disponvel na Faculdade de Arquitetura, em um

    relatrio do reitorado de Elyseu Paglioli, reitor poca da obra, sendo outras

    obtidas na biblioteca setorial da Biblioteconomia e Comunicao, onde o

    conhecimento da bibliotecria Miriam Loss foi muito vlido orientao da

    pesquisa. Alguns materiais foram coletados junto direo da Unidade, bem

    como no Programa de Ps-Graduao Comunicao e Informao (PPGCOM),

    este ltimo tendo sua memria muito bem registrada e de fcil acessibilidade.

    O quarto, e ltimo, captulo descreve o ambiente FABRICO, como esse se

    configura, suas possibilidades de armazenamento, suas ferramentas para

    recuperao da informao e criao de textos em ambiente colaborativo, seus

    links, os critrios para um documento permanecer ou ser excludo do ambiente,

    a tipologia dos documentos que compem o projeto, ou seja, explicita a

    definio do que foi colocado nesse ambiente virtual.

    Dessa forma, o presente estudo busca trazer alguma contribuio para a

    memria da Faculdade de Biblioteconomia e Comunicao FABICO, de modo

    que materiais sobre a mesma e seus atores fiquem disponibilizados em um

    projeto maior, que o CIM FABICO, o qual, por ser orgnico, possibilitar a

    participao de outros colaboradores para um maior enriquecimento da memria

    institucional da FABICO.

  • 13

    2 INFORMAO E MEMRIA

    Nada, talvez, evidencie de modo to ntido a fragilidade humana do que a

    fugacidade da sua memria. O homem, comprimido pela conscincia de toda sorte

    de limitaes, e, por outro lado, incapaz de a elas conformar-se, desde o incio dos

    tempos, luta para sobreviver, no s fisicamente, mas tambm espiritualmente,

    cercando de perpetuar-se em seu mundo circunstante, deixando vestgios,

    lembranas de sua passagem, heranas de seus feitos, legados de suas aquisies,

    materiais e intelectivas. Mas, a fugacidade da memria e a capacidade de reter fatos

    sempre desafiou o homem, inseguro e vaidoso, em seu af de combater a

    volatilidade das idias, o enfraquecimento das lembranas, o desfazimento de tudo o

    que criado, imaginado, em fim. Tudo votado ao olvido, morte.

    Para tanto, lanou mo de diversos expedientes, procurando armazenar, no

    s riquezas corpreas, mas tambm seu patrimnio afetivo, cultural, filosfico e

    cientfico, consolando sua vaidade ferida de ser consciente de sua finitude,

    atormentado por sua dependncia e ignorncia na contemplao e exibio de seus

    feitos e prodgios. Na senilidade progressiva das idades, no desperdcio das

    faculdades, no extravio das idias, no esmaecer das imagens, no apagar-se

    paulatino das rememoraes, vez outra mais desbotadas, o homem debate-se

    para reesculpir sua prpria cara na face do tempo, vido de perpetuar-se,

    rejovializado, na contemplao narcsica de seus ideais, de sua criao, como

    algum que tenta recuperar do espelho os traos, os lineamentos, que este,

    desapiedadamente, lhe vai furtando a cada dia... Assim, foi documentando,

    apontando, registrando, atravs de sinais, da escrita, das artes, da fotografia, das

    filmagens e gravaes. Guardando para no perder, armazenando para conservar

    seus cabedais. Para anular-se um homem, bastaria extrair-se-lhe a memria de si,

    de seu passado, de sua cultura, para que no houvesse possibilidade de futuro. Em

    maior escala, uma cultura ou civilizao que no cultue e cultive sua memria, est

    fadada a ser dominada, aculturada.

  • 14

    2.1 MEMRIA SOCIAL

    A sociedade industrial e a atual era informtico-robtica vm deixando pouco

    tempo s humanidades, preenchendo a vida do ser humano de atividades

    repetitivas, indiferentes aos seus interesses e emoes, num af de

    instantaneidades descartveis, num preguiar de acessibilidades facilitadas, e numa

    alienao das atividades laborais, que passam a formar um caudal de horas mortas,

    sonolentas, espaos brancos de memria, onde nada retido, porquanto a memria

    permeada de forte conotao afetiva, e aquilo que no toca o rememorador

    descartado, apagado.

    Mais e mais prepondera a memria-hbito, que, conforme Bosi, (2003, p. 52)

    vista como: repetio do mesmo esforo, adestramento cultural. Aquela reteno

    e recuperao de lembranas socializadas, de valores e status consolidados e

    repetidos, ganha primazia sobre a memria-pura, espontnea evocao que transita

    do presente ao passado e ao futuro, o que produz inevitvel esvaziamento da

    capacidade narrativa.

    Importante observar que a memria, desde os gregos que a deificaram como

    uma entidade, Mnemsine, era vista como fundamental para afirmao da existncia

    e para o domnio epistemolgico do homem, haja vista que dela Mnemsine

    fizeram nascer as nove Musas, inspiradoras das artes e cincias.

    verdade, porm, que nossos ritmos temporais foram subjugados pela sociedade industrial, que dobrou o tempo a seu ritmo, racionalizando as horas de vida. o tempo da mercadoria na conscincia humana, esmagando o tempo da amizade, o familiar, o religioso... A memria os reconquista na medida em que um trabalho sobre o tempo, abarcando tambm esses tempos marginais e perdidos na vertigem mercantil. (BOSI, 2003, p. 53).

    Conforme Gondar (2005, p. 15), a memria social, como objeto de pesquisa

    passvel de ser conceituado, no pertence a nenhuma disciplina tradicionalmente

    existente. Trata-se aqui, no de inter ou multidisciplinaridade, mas, sim de

    transdisciplinaridade, de outra parte no se ignora o forte componente ideolgico na

  • 15

    perpetuao da memria social. Nas palavras de Gondar (2005 p. 17): H sempre

    uma concepo de memria social aplicada na escolha do que conservar e do que

    interrogar. Uma rememorao ou documento, que tenham chegado at ns, vieram

    filtrados e repaginados por uma vontade, de classe ou poltica, de sua gerao ou

    das seguintes; interessadas em sua perpetuao.

    Somente na atualidade a memria passa a ser vista como uma construo

    processual e no como uma expresso da verdade do que se passou. Filosofia,

    Psicologia Social, Sociologia, colaboram com o estudo da construo da memria.

    Nora1 (1993 apud GONDAR, 2005 p. 21) concebe o tempo como degradao: Os

    lugares de memria so construdos porque perdemos os meios de memria, sendo

    preciso reparar o dano. O ser busca a perpetuao do ser, o permanecer,

    cercando-se de objetos afetivos, de smbolos que testemunhem seus valores e os

    de seu grupo social. Nessa esteira, insere-se a significao da memria familiar ou

    institucional, conservadora dos marcos da identidade individual, referenciando e

    contextualizando o memorizador em objetos de sua identificao.

    A memria individual, coletiva, transgeracional, histrica, ou sob qualquer

    denominao que possa receber, ao talante do furor classificatrio, sempre

    seletiva, discriminatria. A memria elemento manipulvel da construo histrica,

    dela a urdidura do que ser transmitido, inoculado nas geraes que se sucedem.

    Vestgios so tambm as relquias, e com este termo queremos designar qualquer fragmento de um ser ou de um objecto inanimado que, tal como uma imagem objectiva, pode ser transmitido de indivduo para indivduo, de gerao para gerao. Imagens e relquias apresentam-se ambas sob a forma de coisas, e ambas se encontram nas colectneas, nas coleces, que so precisamente a correlao objectiva da memria especificamente humana que a memria colectiva e transgeracional. (POMIAN, 2000, p. 508).

    H vrios campos da tradio mnemnica, desde os narradores, contadores

    da era pr-advento da escrita, passando pelos compiladores, escribas, arquivistas

    reinis, at aos marqueteiros e formadores de opinio da mdia hodierna, todos

    serventes ao poder, tramando, com os filamentos da rememorao e dos instveis

    1 NORA, Pierre. Entre memria e histria: a problemtica dos lugares. Projeto histria, So Paulo, n.

    10, 1993.

  • 16

    registros dos grupos sociais, que reconstrem um passado ideal, para exaltar

    determinadas lideranas e ideologias.

    No caso de um ser humano, igualmente a capacidade para repetir os comportamentos aprendidos, mas tambm de ressuscitar as impresses ou os sentimentos j vividos ou de os descrever oralmente [. . .]. (POMIAN, p. 508).

    A memria a depositria da herana das civilizaes, dos povos, das

    castas, classes sociais, da famlia, dos agrupamentos, das tribos. Graas a ela, um

    jovem do sculo XXI j se desenvolve com uma bagagem de afinidades e de

    identificaes ou rejeies, dirigidas ao antigo, ao passado. O ser vivente da

    modernidade convive com figuras histricas, como Alexandre Magno, como se

    essas fizessem parte de sua pr-memria, como se fossem reminiscncias de seu

    universo de conhecimento. Por este prisma, a memria acervo cultural das gentes,

    patrimnio compartilhvel e intersubjetivo dos indivduos, arte da civilizao em

    narcsico reconhecimento e mutao.

    Na prtica, esta arte da memria uma arte da linguagem: ensina a conservar as narrativas e permite, pois, a um indivduo tornar-se o depositrio das recordaes daqueles a quem nunca conheceu porque morreram muito antes do seu nascimento. Assim se forma a tradio oral que, durante milnios, constituiu o principal contedo da memria colectiva e transgeracional. (POMIAN, p. 509).

    A memria , em boa parte, eletiva, e cinge suas muralhas e fronteiras, disputa a

    primazia de exaltar seus faustos e os de sua grei. Assim, podemos ter a memria

    coletiva de um determinado perodo histrico, como o da Resistncia francesa ao

    nazismo, cindida entre a dos gaullistas e comunistas, os quais recriam suas

    rememoraes para servir a determinado ideologismo.

    A priori, a memria parecer ser um fenmeno individual, algo relativamente ntimo, prprio da pessoa. Mas Maurice Halbwachs, nos anos 20-30, j havia sublinhado que a memria deve ser entendida tambm, ou sobretudo, como um fenmeno coletivo e social, ou seja, como um fenmeno construdo coletivamente e submetido a flutuaes, transformaes, mudanas constantes. (POLLAK, 1992, p. 201).

  • 17

    A memria compilatria, arbitrria em sua seletividade, permeada

    ideologicamente, propelida afetivamente, instvel em suas variantes. Em seus

    estudos, Michael Pollak observou que as mulheres francesas que testemunharam a

    tomada e libertao da Normandia, na Segunda Guerra, demonstraram-se aptas a

    relembrar datas precisas de uma memria da vida privada, consistente em

    nascimentos, bodas, bitos, mas incapazes de precisar fatos da vida pblica. J

    seus maridos, que ocupavam cargos e participavam das lidas polticas, lembravam-

    se, com preciso, de datas dos combates, da liberao, sendo vagos quanto

    fixao das efemrides domsticas.

    Quais so, portanto, os elementos constitutivos da memria, individual ou coletiva? Em primeiro lugar, so os acontecimentos vividos pessoalmente. Em segundo lugar, so os acontecimentos que eu chamaria de vividos por tabela, ou seja, acontecimentos vividos pelo grupo ou pela coletividade qual a pessoa se sente pertencer. So acontecimentos dos quais a pessoa nem sempre participou mas que, no imaginrio, tomaram tamanho relevo que, no fim das contas, quase impossvel que ela consiga saber se participou ou no. (POLLAK, 1992, p. 201).

    Outro fenmeno mnemnico corrente o da transferencialidade do registro

    memorvel, ou seja, para exemplificar: franceses que se reportavam s

    reminiscncias da Segunda Guerra, seguidamente descreviam os soldados alemes

    com a farda e o capacete de ponta utilizados na Primeira Guerra, porque sua

    memria ficara impregnada pela descrio feita por seus pais dos boches

    prussianos. A memria to intrincada que se deixa permear por componentes

    idealizados, imaginrios, fantsticos, que coexistem com os factuais, entretecendo

    quadros e perfis, s vezes, hericos, ou, tambm, prosaicos.

    Esses trs critrios, acontecimentos, personagens e lugares, conhecidos direta ou indiretamente, podem obviamente dizer respeito a acontecimentos, personagens e lugares reais, empiricamente fundados em fatos concretos. Mas pode se tratar tambm da projeo de outros eventos. o caso, na Frana, da confuso de fatos ligados a uma ou outra guerra. (POLLAK, 1992, p. 202).

    A memria elege seus elementos: fatos, pessoas, lugares, grupos, e fixa, com

    forte colorao ideolgica, suas imagens, maquiladas pela sensibilidade do

    rememorador e pela influncia dos ideologismos e das estticas vigentes, traando

  • 18

    uma historiografia subjacente, informal, porm: [. . .] a memria seletiva. Nem tudo

    fica gravado. Nem tudo fica registrado. (POLLAK, 1992, p. 203).

    Esse ltimo elemento da memria a sua organizao em funo das preocupaes pessoais e polticas do momento mostra que a memria um fenmeno construdo. Quando falo em construo, em nvel individual, quero dizer que os modos de construo podem tanto ser conscientes como inconscientes. O que a memria individual grava, recalca, exclui, relembra, evidentemente o resultado de um verdadeiro trabalho de organizao. (POLLAK, 1992, p. 204).

    A memria no una, pelo reverso, dspare, dialtica, mitificadora, em

    algumas vertentes. Classes sociais, grmios polticos ou esportivos sedimentam

    seus curriculi mnemnicos ao sabor de suas parcialidades afetivo-ideolgicas, numa

    promscua miscibilidade de elementos racionais e irracionais, a ponto de uma

    mesma poca, movimento ou fato histrico, ser apropriado e recriado por memrias

    coletivas e individuais em tudo contrapostas, engendradoras de lembranas e cultos

    divergentes em contedo e forma.

    Pensar a memria como uma reconstruo racional do passado, erigida com base em quadros sociais bem definidos e delimitados, como o fez Halbwachs, leva-nos a um tipo de posicionamento poltico; afirmar, em contrapartida, que a memria tecida por nossos afetos e por nossas expectativas diante do devir, concebendo-a como um foco de resistncia no seio das relaes de poder, como props Foucault, implica outra tica e outra posio poltica. (GONDAR, 2005, p.16).

    A memria reveste-se tambm do ingrediente do oportunismo mnemnico,

    que se embala na relatividade de tudo o que fica nas brumas do oblvio. Resgata-se

    o que convm, ressalta-se aquilo que nos exaltar. A histria poltica j foi composta

    e decomposta em tantos modos, ao apetite dos poderosos, que a memria da mdia,

    da opinio pblica, da sociedade j se moldou, anestesiou e exorcizou infinitamente,

    de gerao em gerao, de era em era.

    Nos anos 50, Jean Moulin aparece como um dos lderes da Resistncia que pouca gente conheceu pessoalmente. Depois do traslado do seu corpo para o Panthon, e do seu reconhecimento como lder inconteste da Resistncia interna, ou seja, como aquele que foi enviado por Londres e realizou a obra de unificao dos diversos grupos da Resistncia, ele passou a ser conhecido pessoalmente por todos. (POLLAK, 1992, p. 206).

  • 19

    Despiciendo seria apor-se, neste passo, a concluso de que a memria,

    assim como a informao, so alvo do assalto constante, acossador dos aparatos de

    poder, dos difusores das teorias de dominao massiva. Isso j consabido, algo

    incorporado banalizao de todas as formas de violncia contra a individualidade.

    Le Goff, no seu livro Histria e memria, faz um percurso atravs da histria, desde a Grcia arcaica at os dias atuais, onde afirma que os esquecimentos e os silncios da histria so reveladores de mecanismos de manipulao da memria coletiva por parte de classes, de grupos, de indivduos que dominaram e dominam as sociedades histricas, revelando tambm a preocupao destas categorias em tornarem-se senhores da memria e do esquecimento. (LUCAS, 1998, p. 88).

    Por outro lado, pode-se, tambm, buscar o robustecimento de uma memria

    de resistncia ocupao daquela memria aliengena, reforando as fontes

    naturais, puras, de onde brota a sabedoria de uma nao a oralidade, o resgate

    das tradies culturais genunas, a conscientizao dos excludos, o culto da

    identidade.

    A memria oral um instrumento precioso se desejamos constituir a crnica do quotidiano. Mas ela sempre corre o risco de cair numa ideologizao da histria do quotidiano, como se esta fosse o avesso oculto da histria poltica hegemnica. Os velhos, as mulheres, os negros, os trabalhadores manuais, camadas da populao excludas da histria ensinada na escola, tomam a palavra. A histria, que se apia unicamente em documentos oficiais, no pode dar conta das paixes individuais que se escondem atrs dos episdios. A literatura conhecia j esta prtica pelo menos desde o Romantismo: Victor Hugo faz surgir Notre Dame de Paris num quadro popular medieval que a histria oficial havia desprezado. (BOSI, 2003, p. 15).

    Subjacente histria e s suas fontes alimentadoras oficiais, a tradio oral e

    a informalidade garantem o resgate da viso e da voz daqueles que no escreveram

    os acontecimentos, permitindo que sejam sondados os meandros da sociedade. a

    histria viva, cotidiana, do pretrito e do presente, que se sedimenta na memria do

    dia-a-dia, do senso comum. , por outro lado, a possibilidade de se conhecer a

    histria dos vencidos, dos oprimidos, daqueles que no inscrevem seus nomes nas

    pginas dos compndios ou nos bronzes dos monumentos.

  • 20

    No caso da histria oral, as pistas so relatos do passado, surgidos a

    posteriori, portanto. O passado existiu independente dessas pistas, mas hoje s

    pode existir por causa delas e de outras. (ALBERTI, 2003, p. 1).

    Na esteira da elevao da tradio oral categoria de fonte histrica

    consagrada, temos o marco, no Brasil, na dcada de 70, da realizao do Primeiro

    Curso Nacional de Histria Oral, organizado com a colaborao de quatro

    instituies: Biblioteca Nacional, Arquivo Nacional, Fundao Getlio Vargas e o

    Instituto Brasileiro de Bibliografia e Documentao, o que levou a implementao do

    Programa de Histria Oral do Centro de Pesquisa e Documentao de Histria

    Contempornea do Brasil (CPDOC), que se propunha a:

    [. . .] estudar a trajetria e o desempenho das elites brasileiras desde a dcada de 1930. A idia era examinar o processo de montagem do Estado brasileiro como forma, inclusive, de compreender como se chegou ao regime militar (1964-85) ento vigente. Com as entrevistas, procurava-se conhecer os processos de formao das elites, as influncias polticas e intelectuais, os conflitos e as formas de conceber o mundo e o pas. (ALBERTI, 2005, p.160).

    As entrevistas, testemunhos de quem viveu essa poca (1964-1985) so a

    nica fonte de informao desse perodo no Brasil: o que aconteceu, somente

    relatado por seus participantes. Os arquivos produzidos pelo rgo de investigao

    vigente a poca, o DOPS (Departamento de Ordem Poltica e Social), que se

    encarregava de vigiar e investigar todos aqueles que se opusessem ao regime, s

    foram disponibilizados muito aps a queda da ditadura. Mas, a maioria das

    informaes que temos so os trabalhos de pesquisa que nos levam a montar um

    quebra-cabea de apenas uma face dos fatos acontecidos. Hoje, tem-se em mos

    materiais produzidos por pessoas que se dedicam a investigar sobre este assunto,

    como, por exemplo, as investigaes, muitas vezes feitas na forma de entrevista,

    sobre o que aconteceu em determinados pontos do pas, no Araguaia, ou na

    fronteira Livramento-Rivera, onde perseguidos polticos vindos de muitas partes do

    Brasil tinham a utopia de liberdade, passando uma linha traada por marcos

    divisrios. A liberdade, no entanto, muitas vezes era vigiada, por colaboracionistas

    do regime no lado uruguaio.

  • 21

    Ali era necessrio faz-lo desaparecer debaixo do nariz dos vigilantes, e faz-lo renascer, por vezes literalmente, do outro lado. Para tanto o conhecimento minucioso do ambiente era indispensvel, para se esgueirar entre as pilhas de tbuas de uma estao de trem ou no burburinho de uma rodoviria, quando as pegadas se perdiam para que seus donos pudessem se salvar. (AGUIAR, 2009, p.179).

    Seguindo a linha da oralidade atravs de entrevistas, Marlon Assef fez uma

    grande pesquisa para sua tese de Mestrado, que acabou resultando em um livro

    lanado recentemente sobre o perodo de chumbo na fronteira da paz (1964-85),

    entrevistando pessoas que arriscaram suas vidas para salvar outras e aquelas que

    passaram por Livramento para exilar-se em Rivera, bem como os santanenses que

    buscaram refgio na cidade vizinha.

    Alguns dias depois, no final de outubro, com o meu primo Jeca dirigindo a mais de cem quilmetros por hora estradas de cho batido, atingimos Rivera. Tomei o nibus para Montevidu. Meu corao abrigava sentimentos contraditrios [. . .] o cerco as organizaes armadas brasileiras me faziam refletir. Eram como umas frias voltar militncia no Brasil. Comearia um exlio que duraria oito anos. (ASSEF, 2009, p.104).

    Valioso instrumento de investigao histrica e sociolgica a entrevista,

    onde o rememorador conta fatos acontecidos no passado ou presente, induzido pela

    magia alqumica, cabalstica, quase hipntica do pesquisador, daquele que cata, na

    profundeza lodosa da memria alheia, detalhes reveladores dos acontecimentos que

    nos chegam pausterizados.

    Em um artigo em que faz consideraes metodolgicas sobre a histria oral, Lutz Niethammer, que durante muitos anos coordenou o projeto Lusir, na Alemanha, identifica quatro componentes do texto da entrevista. Em primeiro lugar, trata-se do registro de uma interao social (entre entrevistado e entrevistador); em segundo, de uma ou mais verses da histria de vida do entrevistado; em terceiro lugar, o texto rene uma variedade de informaes, que podem ser verdadeiras ou no (e cabe ao pesquisador indagar-se sobre sua plausibilidade, comparando-as com outras fontes); em quarto lugar, finalmente, quase toda entrevista contm histrias. (ALBERTI, 2003, p. 6).

    A memria est intimamente ligada ao narrar, ao discorrer, desde que

    habilmente estimulada para tanto. Fazer afluir a memria genuna, liberta das

    convenes do hbito, o caminho que possibilita o assomar das sensaes puras

  • 22

    sobre o passado, a revivncia depurada da reconstruo ideolgica operada sobre

    ela, o frescor da imagem recuperada, transitada e traduzida no presente.

    Na tentativa de reavivar a identidade da FABICO, alunos da cadeira BIB

    03202 2008/2 (Histria do Rio Grande do Sul Aplicada Cincia da Informao)

    utilizaram-se amplamente da tcnica da entrevista, como instrumento de

    reconstruo da memria institucional, explorando a memria individual dos atores

    que participaram ou participam da vida acadmica nesta faculdade. Assim,

    buscaram com os recortes das memrias individuais, compor um mosaico de

    informaes a respeito da instituio em que esto inseridos.

    2.2 MEMRIA INSTITUCIONAL

    A memria institucional est fortemente ligada s rotinas administrativas de

    uma instituio, ou seja, com tudo aquilo que no passado foi utilizado como

    instrumento de tomada de deciso, num enfoque mais voltado para a prtica

    arquivstica e documental. Uma das novidades talvez consista na ruptura da

    hierarquia entre as modalidades de registro: por exemplo, o escrito com carimbo

    institucional comea a deixar de ser a nica fonte fidedigna. (DIFERENTES...,

    1991, p. 12). Pois tambm dever-se-ia prestar ateno no outro vis desta memria,

    que o individuo que consumiu parte de seu tempo servindo de algum modo

    instituio: este tem em suas memrias fatos ocorridos dentro do ambiente

    institucional e as repercusses dos mesmos sobre ele. No fundo dessa concepo

    est a constatao de que a instituio composta de indivduos, cada um com uma

    forma de pensar, e de reter fatos, peas para o funcionamento da instituio a que

    esto atrelados.

    Importante acrescentar que, como professa Gondar (2005, p. 25), no

    existem memrias fora de um contexto afetivo. Somos afetados, tocados por

    odores, sabores, que nos transportam a uma sensao j vivida, uma cidade j

    visitada, uma catedral, o rosto de uma pessoa que se v refletido em outra pessoa.

  • 23

    O ser coloca um pouco de si em todas as rotinas de trabalho. Assim, nas instituies

    de ensino, os estudantes fazem parte da memria de forma diferente, como que em

    ciclos de estada na instituio. Estes ciclos so importantes para o andamento do

    todo, reflexos de uma dcada, lembranas de um tempo, tanto para os que ficam na

    instituio, como para os que dela saem - o tempo que no volta mais e que, de

    certa forma, aloja-se na memria de cada um como sendo o melhor perodo de suas

    vidas, ou no; tudo dependendo da impresso que a instituio e o momento da vida

    de cada um exerce sobre o indivduo. As tentativas, por vezes frustradas, de

    melhorias e adaptaes so feitas por parte da equipe diretiva e dos professores,

    conforme experincias j vividas dentro da engrenagem institucional.

    Isto porque uma instituio pode ser vista como forma fundamental de saber-poder, que se reproduz em prticas sociais, as quais constituem hbitos que, por sua vez, se nutrem de memrias. As instituies selecionam os discursos que fazem circular como verdadeiros: o que deve ser produzido, selecionado, preservado, recuperado, bem como aquilo que dever permanecer em silncio. (COSTA, 1996, p. 70).

    O silenciamento de alguns dentro da engrenagem de uma instituio, com o

    passar do tempo, pode ser trazido tona, e tornar-se pea chave na histria, haja

    vista que fatos que foram excludos podem ter sido assim olvidados inclusive por

    ordem poltica superior. A, cada membro da sociedade adota uma conduta passiva,

    aceitando fatos impostos, at o momento de queda de tal situao.

    A memria institucional parece invadir as fronteiras do quadro temporal, para suscitar questes do vivido. O que ontem era ocultado, silenciado, segregado, pode hoje apresentar-se como realidade a ser (re)vista no campo institucional. (COSTA, 1996, p. 71).

    A memria social e individual vem contribuir com a instituio em vrios

    aspectos, pois no momento em que fatos so suscitados, o indivduo participante o

    principal rememorador destes, viveu o perodo e pode ser pea fundamental na

    construo de um passado que, por sua vez, no necessita ser to remoto. Com a

    preocupao de sanar outras reas, a memria deixa de ser contemplada como

    pea importante dentro de organizaes.

  • 24

    A voz do passado reverbera no presente. Os discursos retornam, se reatualizam e, ao faz-lo, so sustentados e reforados pelas instituies. A memria institucional um permanente jogo de informaes, que se constri em prticas discursivas. (COSTA, 1996, p. 71).

    As prticas discursivas s sero vlidas dentro de um contexto, se os

    depoentes que viveram determinado perodo dispuserem-se a ajudar e

    positivamente falar o que realmente aconteceu.

    Mas no v algum pensar que as testemunhas orais sejam sempre mais autenticas que a verso oficial. Muitas vezes so dominadas por um processo de estereotipia e se dobram memria institucional. (BOSI, 2003, p. 17).

    Como Bosi enfatiza acima, algumas vezes as testemunhas podem no ser

    autnticas na rememorao dos fatos, este fenmeno pode dar-se, entre outros

    motivos, pelo simples fato de o rememorador no querer se comprometer de alguma

    forma, mesmo j estando fora da engrenagem da instituio; a, seu depoimento

    figura como uma repetio do que a instituio tem em seus arquivos, sem levar em

    considerao, por exemplo, o que acontecia no contexto nacional que levou a

    instituio a tomar determinadas atitudes.

    importante ter um olhar para a memria institucional, no s a partir do

    ponto de vista da arquivstica, mas de uma memria emocional. De certa forma,

    deve ser contemplada a percepo do individuo que viveu a histria, pois s assim

    tem-se preservado a histria da instituio em uma parcela mais generosa, ficando

    mais fcil traar uma linha do tempo com os acontecimentos que fizeram parte da

    histria institucional, sem que estes dados tenham que ser pesquisados s pressas,

    quando houver necessidade de serem utilizados para elucidao de fatos ou uso em

    pesquisas. Pois, apressadamente, provavelmente, fatos seriam esquecidos de ser

    includos em seu histrico. A disseminao de um bom histrico de uma instituio

    de ensino e, neste parmetro, inclui-se a FABICO, abre campo para pesquisas

    posteriores, sendo de grande importncia para a visibilidade da instituio. Seu

    crescimento atravs do tempo e o engajamento de pessoas que fazem ou fizeram

    parte de seu sistema mostra certo prestigio dentro da sociedade em que est

    inserida. Seus membros so os principais construtores do passado e, por sua vez,

    este passado reflete-se no presente.

  • 25

    3 WEB 2.0

    Diante das possibilidades apresentadas pela Internet, despertou-se, no

    prprio usurio, a necessidade de maior interatividade com os contedos disponveis

    na Rede.

    Assim, a Web 2.0, que tambm chamada de Web Colaborativa, Web Social,

    dentre outras nomenclaturas, surgiu como recurso catalisador, estimulador de uma

    dinamizao da instrumentalidade da pesquisa em nvel globalizado. Com isso,

    enseja a participao ativa e co-participativa do usurio, integrando-o em uma rede

    mundial, na qual o mesmo possui maior poder de deciso, literalmente interagindo e

    manipulando dados atravs da colaborao autoral.

    A Web 2.0 democratizou ainda mais o acesso rede, facultando ao usurio

    uma participao mais ativa, interventora, rompendo com a tradicional passividade

    de espectador que caracterizou os primeiros tempos da Internet.

    Esses novos hbitos so resultados de novas relaes com o tempo, devido a possibilidade de um retorno imediato, e ao mesmo tempo, novas relaes sociais se estabelecem na medida em que, em um livro tradicional, a relao estabelecida entre o autor e o leitor de 1 : 1, enquanto que com a Web Social a interao se d de 1 : . Nesse sentido, a Web Social pode ser identificada nas mdias sociais como servio de um para muitos, estando representada por canais de compartilhamento de contedos, como o micro-blogging, redes de relacionamento sociais e wikis para promoo do retorno imediato dos pares, partilham de experincias pessoais para proporcionar um maior e mais rpido processamento da informao (cognio), sua (re) utilizao e correo. (MIRANDA, 2009, p. 6).

    Est destacada, nessa recente verso, a interatividade usurio/informao, ao

    contrrio do anterior modelo de Web, no qual as pginas eram rgidas, estanques,

    sem possibilitar a interconectividade com os usurios, os quais se limitavam a

    apenas ler ou copiar textos acabados e informaes fechadas, sem possibilidade de

    participao. Conforme Primo (2007, p. 1) a Web 2.0 mais que a segunda verso

    Web e instrumento para potencializar a produo e disseminao interativa na Rede,

    refere-se [. . .] tambm a um determinado perodo tecnolgico, a um conjunto de

    novas estratgias mercadolgicas e a processos de comunicao mediados pelo

    computador.

  • 26

    Tim O'Reilly citado por diversos autores de mltiplas reas do

    conhecimento, dentre estes Primo (2007), como o criador da expresso Web 2.0.

    Filsofo e fundador de uma grande empresa de TI, a O'Reilly Media, Tim creditado

    como o maior disseminador da Web 2.0 e entusiasta da tecnologia de livre acesso

    informacional, desde softwares livres, cdigos de acesso livre, Rede Mundial.

    Conta-se que o termo Web 2.0 apareceu, pela primeira vez, em uma sesso de brainstorming encabeada por Tim O'Reilly, na qual se buscava dar um novo enfoque Web, depois de observada a derrocada que sofreram parte das empresas .Com. Nesta brainstorming se viu de maneira clara que o mundo Web tal e como estava nesses momentos no triunfaria, motivo pelo qual se deveria mudar radicalmente o foco de negcio da Internet. (FONTECHA, 2006, p. 1, traduo nossa).

    A apresentao da Web 1.0 por Fontecha (2006, p. 2), citada anteriormente,

    conclui com uma exposio comparativa entre aquela e a Web 2.0, interessante

    para anlise deste novo servio.

    Neste trecho de Fontecha perceptvel a ligao social entre as adequaes

    tecnolgicas ocorridas na Web Colaborativa, chamada de "uma mudana de

    mentalidade" por Barros (2006, p. 48). Para Barros, a cooperao e a transparncia

    so elementos comuns na Nova Rede, j que o usurio detm possibilidades

    inumerveis de ao, desde criao de stios online como participao ativa em

    websites "prontos", na alterao de visualizaes, textos, gerenciamento de

    informao, e enfim, com a possibilidade de disponibilizar seu contedo

    personalizado a outros e formar comunidades, reconhecer afinidades/interesses.

    O fluxo da informao deixa de ser top-down (de cima para baixo), do

    produtor para o consulente (termo selecionado para representar o papel do usurio,

    ator passivo no antigo processo), e passa a bottom-up (de baixo para cima), de

    usurio (agora sim, j que pode fazer uso da informao, consultando e interagindo

    com esta). Esta relao bottom-up, de maneira alguma encerra a criao de

    informaes "fechadas", contudo, o usurio busca, mais a cada momento, servios e

    aplicativos que o representem, ou seja, aqueles nos quais ele participa e decide.

  • 27

    3.1 BASES DE DADOS DE REFERNCIA OU FONTE

    Desta forma, o ambiente FABRICO est estruturado, como sendo uma base

    de dados de Referncia ou Fonte. Assim, abriga projetos - dentre eles, o CIM

    FABICO - efetuados atravs de colaborao entre pesquisadores e alunos, alojando

    em seu interior informaes pertinentes ou produzidas no ambiente do projeto, ou

    descrevendo o endereo da informao atravs de link.

    Bases de dados, tambm chamada de banco de dados, so sistemas que

    guardam grande quantidade de informao, de uma forma estruturada. Nesse

    cenrio temos dois tipos de Bases de Dados: de referncia e de fonte. Na de

    referncia temos somente os metadados, e os descritores, que permitem a

    recuperao do documento. Estas Bases podem conter links para informao

    completa. BD de fonte contm a informao alojada e metadados.

    Este recurso amplamente utilizado, diariamente, por muitos utilizadores da

    Web, pois a informao que acessada pode estar lincada de outro stio ou

    hospedada no prprio ambiente onde feita a busca. Mas, para uma gama de

    usurios desta tecnologia, pouco importa a forma de estar alojada a informao.

    Falta-lhes um entendimento de como a informao disponibilizada. O que mais

    levado em considerao o produto da busca.

    Entretanto, muitos autores concordam que o fator que realmente provocou a exploso das bases de dados foi a sua utilizao por parte dos servios de indexao e anlise bibliogrfica, atravs das aplicaes relacionadas com a preparao mais rpida de originais de suas publicaes para impresso em fotocomposio. (CUNHA, p. 45, 1989).

    Todo o avano desta tecnologia se apia em estudos e enriquecido desde

    antes da dcada de 70. Em um artigo sobre o assunto, Cunha (1989 p. 45) salienta:

    No incio dos anos setenta existiam menos de dez bases de dados disponveis

    atravs dos bancos DIALOG e ORBIT. Sendo que na atualidade quase impossvel

    saber quantas bases de dados existem, talvez o que seja possvel seja ter uma idia

    de quais os tipos de bases mais utilizados atualmente.

  • 28

    Para este estudo, necessrio enfatizar a unio de dois tipos de bases de

    dados, as Bases de Referncia ou Fontes, para Rocha (2007, p. 6): So bases de

    dados que contm metadados, que descrevem recursos informacionais, permitindo a

    recuperao e o uso destes recursos, podendo inclusive armazenar os prprios

    recursos. Assim, estas bases so a unio de dois tipos de recursos informacionais.

    As Bases de dados de Referncia so como Catlogos On-line que remetem o

    usurio para a fonte do documento, em seu catlogo so expressados apenas

    dados sobre o documento, como resumo, dados catalogrficos, autores e endereo

    da fonte. J as Bases de Fontes alojam documentos, pois contm a informao na

    ntegra. o caso, por exemplo, de uma biblioteca digital com textos integrais para

    disposio de seus usurios.

    A interoperabilidade entre bases de referncia ou fonte vista pela norma

    ANSI/NISO, apud Rocha (2009a) como: Habilidade com que mltiplos sistemas,

    com diferentes plataformas de hardware e software, estruturas de dados e

    interfaces, trocam dados com perdas mnimas de contedo e funcionalidade. Esta

    interconectividade possibilita a construo de uma federao de bases de dados,

    que nada mais do que a unio de vrias bases de dados apresentadas para o

    utilizador como sendo uma base nica. As bases dispem de metadados para a

    federao e mecanismos de busca recuperam a informao dentro de uma base

    maior (base de dados da federao, que se compe de bases menores).

    3.2 METADADOS

    A dependncia atual do homem tecnologia, principalmente dos recursos da

    Web, faz com que alguns usurios busquem conhecer um pouco mais sobre seus

    elementos, a fim de entender como a plataforma funciona e as melhores maneiras

    para interagir com ela.

    Neste cenrio, surgem os metadados, que constituem tudo o que

    apresentado na rede; conceituados conforme Rocha:

  • 29

    O conceito de metadados bastante simples: metadados so dados sobre dados. Quando se trata do mundo digital, chama-se de recurso o objeto descrito por metadados, pois este pode ser tanto um simples dado, quanto um documento, uma pgina da web, ou at mesmo uma pessoa, uma coleo, um sistema, um equipamento ou uma organizao. (ROCHA, 2004, p. 113).

    Ou seja, os metadados so utilizados para descrever permanentemente, em

    qualquer recurso de informao, sejam eles o Dublin Core ou MARC, pois para

    descrevermos qualquer tipo de informao necessitamos de uma codificao, algo

    que traduza o que queremos ilustrar. Podemos identificar trs tipos de metadados e

    que so usados, conforme Loureno (2007, p. 74-75) [. . .] na rea de preservao

    e digitalizao de imagens, so eles os metadados descritivos, os quais descrevem

    as informaes relativas dos documentos; os metadados estruturais que levam

    informaes relevantes para entendimento do objeto ao usurio, descrevendo a

    organizao interna do documento e a relao hierrquica de seus assuntos e os

    metadados administrativos, os quais so utilizados para ajudar na gesto do

    recurso, pois incluem dados sobre a criao dos documentos. No entanto, uma

    gama muito grande de esquemas de metadados, como define Rocha (2004 p. 113),

    [. . .] pode levar a uma sobreposio de esquemas, com esquemas sendo definidos

    para as mesmas finalidades. Sem um padro, torna-se difcil uma tentativa de

    estandartizao. Para este fim, surgem os Registros de Metadados, que nada mais

    so que repositrios onde esquemas de metadados ficam ao alcance do usurio

    para evitar o surgimento de novos esboos e tornar o esquema de metadados mais

    universal.

    3.2.1 Metadados Dublin Core

    O esquema Dublin Core visa a descrever, de forma simples, objetos digitais

    de vrios tipos (entrevistas, fotos, vdeos e etc.). Assim, pessoas que no tenham

    conhecimento de sistemas de catalogao so capazes de utiliz-lo, por ser um

    esquema de fcil operao. composto por quinze elementos que fazem a

  • 30

    descrio de um item a ser descrito, mas pode ser representado com menos

    elementos, configurando-se como um facilitador para a descrio, um esquema

    simples, com semntica para entendimento universal, estabelecendo um padro

    para a descrio dos recursos de informao. Assim seguindo esta descrio

    utilizada por vrias pessoas, tem-se uma melhor recuperabilidade da informao.

    Todo o material contido no projeto CIM FABICO descrito atravs de Metadados

    Dublin Core, o que visa a uma melhor descrio dos itens e, como retorno, tem-se

    uma melhor recuperabilidade dos dados descritos. Conforme Fugisawa: Desde

    1996, o Dublin Core Metadata Element Set, ou simplesmente Dublin Core, vem se

    evidenciando como a soluo mais vivel para descrio de recursos eletrnicos na

    Internet. (SOUZA, [2000]). Alm do esquema de descrio simples com 15

    descritores, o Dublin Core abre a possibilidade de um Dublin Core Qualfiers

    (qualificado). Estudiosos da rea, dentre eles Rocha (2008), destacam-no como:

    [. . .] mecanismos que refinam ou qualificam os elementos de metadados de DC ou

    seus valores, afim de tornar a descrio mais precisa [. . .] segue o principio Dumb-

    Down. Os refinamentos de elementos tornam uma especificao mais precisa, um

    elemento qualificado compartilha espao com um simples, mas com escopo mais

    restrito. O cliente que no entender a especificao de um qualificador, ou no

    desejar represent-la, pode ignorar a especificao e us-la como se fosse no

    qualificada.

    Figura 1 - Exemplo de metadados Dublin Core Simples Fonte: http://www6.ufrgs.br/fabrico/notes/descricao.php?&uri_sujeito=http://www6.ufrgs.br/fabrico/wiki/doc.php?u=/projetos/centro_de_informacao_e_de_memoria_da_fabico/acervo/entrevistas_-_depoimentos/abilio_paulo_martins

  • 31

    Figura 2 - Exemplo de elementos qualificados Fonte: Rocha (2008).

    3.3 ORGANIZAO SOCIAL DA INFORMAO

    Saindo do assunto metadados e chegando Folksonomia, v-se que o

    descritor assunto, o qual um dos itens descritos atravs de metadados, aqui ser

    abordado de forma mais esclarecedora.

    Folksonomia uma juno da palavra folk (do ingls, que significa pessoas)

    com taxionomia. Esta expresso foi criada por Thomas Vander Wal, e uma

    alternativa taxonomia: na folksonomia, os termos so associados, o que reflete

    uma horizontalidade na informao, e criados com o lxico dos usurios,

    diferentemente da taxionomia, onde estabelecida uma hierarquia, em categorias

    pr-estabelecidas. O usurio escolhe informalmente palavras-chave [. . .] escolhidas

    de maneira livre, chamadas freqentemente como tags. (OREILLY2, 2009 apud

    ROCHA, 2009). Tags ou marcadores so etiquetas que expressam o assunto que

    contm no documento, e provm de uma escolha pessoal do autor ou criador do

    item de contedo, isto , no fazem parte de um esquema formal de classificao.

    A teoria da intencionalidade destacada por Miranda (2009 p. 11) o que

    impulsiona o indivduo a descrever o objeto de forma mais cabvel: Na prxis, seria

    2 OREILLY, Tim. What Is Web 2.0: Design Patterns and Business Models for the Next Generation of

    Software. 2005-2009. Disponvel em: . Acesso em: 21 nov. 2009.

  • 32

    a direcionalidade da metainformao criada por ele para encontrar o contedo

    desejado [. . .] o vocabulrio natural ento criado por desenvolvedores e utilizadores

    de servios da web social. o recurso mais utilizado hoje em dia nos sites e blogs

    de contedo colaborativo, como You tube, flicker. O primeiro site a usar um sistema

    de folksonomias foi o Del.icio.us (http://delicious.com). Uma foto, vdeo ou

    documento tambm pode ser marcado, de forma que sua recuperabilidade fique

    comprometida, j que o usurio que atribui os marcadores ao contedo que est

    descrevendo, partindo de uma escolha pessoal. Por exempo, explorando a tag cat

    no flicker, pode-se encontrar desde fotos de gatos, que o mais provvel, at fotos

    de coelhos, isto se d por uma m escolha de descritores. Segundo Miranda (2009,

    p.11) [. . .] a folksonomia, embora naturalmente menos precisa, convida os usurios

    a investigar, a navegar, a descobrir o contedo do site de uma maneira agradvel.

    Desta forma, a Serendipity (descoberta) manifesta-se e, de forma instigante, faz com

    que o usurio, atravs de uma construo do conhecimento livre, encontre materiais

    que jamais localizaria, em um modelo de web como antigamente, top-down.

    A juno de marcadores ou tags formam uma nuvem de tags, sendo estas

    muito importantes para a construo do conhecimento do usurio, j que s assim

    [. . .] possvel ver o coletivo, com tags maiores, mais freqentes, mostrando tendncias, mas tambm mostrando, na cauda longa, as tags menores, menos frequentes. A diferenciao ento aparece na possibilidade de identificao das intencionalidades, no individuais, mas do coletivo. (MIRANDA, 2009, p.13).

    Na Wikipdia, a nuvem de tags est descrita da seguinte forma:

    [. . .] conjunto de tags utilizadas em um determinado website disposto em ordem alfabtica, e o volume de contedos que o site apresenta em cada tag mostrado proporcionalmente pelo tamanho da fonte. Dessa forma, em uma mesma interface possvel localizar uma determinada tag tanto pela ordem alfabtica como pela frequncia da incidncia de contedos marcados com a mesma tag no referido site. (NUVEM..., [200-])

    As tags que compem uma nuvem so links que remetem ao item ou aos

    itens que esto relacionados s palavras da tag. Alguns sites do dicas de tags mais

  • 33

    utilizadas para seus usurios; isto proporciona coeso de termos e faz com que no

    haja um aumento de volume dos mesmos nos sites.

    Figura 3 - Exemplo de tags Fonte: http://www.flickr.com/photos/tags/

    Acima temos o exemplo do Flickr, que disponibiliza para seus usurios um rol

    de tags mais utilizadas. Por outro lado, esta sugesto apresentada pode causar uma

    limitao na representao feita por um usurio que a utilize como parmetro para

    descrio de seus documentos, pois pode no dar uma abrangncia cabvel ao

    mesmo, assim o material representado no ser de fcil recuperabilidade entre os

    usurios.

  • 34

    3.4 AMBIENTE WIKI

    Como na organizao social da informao, onde o usurio o detentor da

    possibilidade de descrever o contedo inserido por ele na web, o ambiente wiki

    possibilita a construo de conhecimento colaborativo na web, ou seja, qualquer

    usurio pode ser o escritor/colaborador na construo do conhecimento. Destacado

    por Anderson apud Miranda (2009 p. 12) como: "[. . .] auto-regenerativo e quase

    vivo. Esse modelo de produo diferente cria um produto fluido, rpido, renovvel e

    gratuito." A proposta apresentada por este ambiente a colaborao e a

    disseminao da informao feita pelo coletivo. Pessoas de uma mesma rea ou

    ligadas pela interdisciplinaridade podem trocar idias, expandir conhecimentos em

    reas afins, isto feito de maneira mais rpida e construtiva.

    A etimologia da palavra Wiki descrita na Wikipdia, enciclopdia que feita

    com a colaborao de seus utilizadores, e descrita por Miranda (2009 p. 12) como

    enciclopdia dos tempos modernos da seguinte forma:

    O termo Wiki wiki significa super-rpido no idioma havaiano. J em Maori Wiki significa fimde-semana. tambm a forma diminutiva de Wikitria, verso Maori do popular nome cristo vitria. [. . .] Chamado Wiki por consenso, o software colaborativo permite a edio coletiva dos documentos usando um sistema que no necessita que o contedo tenha que ser revisado antes da sua publicao. (WIKI, [200-]).

    A tecnologia wiki marcada pela coletividade, cada colaborador pea

    fundamental do conhecimento expressado, j que de certa forma tambm autor.

    A coletividade e a colaborao faz com que o wiki seja diferente das outras pginas da internet pelo fato de estar disponvel em um tipo de rede horizontal, em que "eu" coloco o meu contedo e "voc" pode alter-lo e que essa interao permite a gerao de conhecimento e, conseqentemente, de uma maior audincia por parte dos usurios. (LOPES, [2008?]).

  • 35

    O diferencial desta tecnologia o fato de uma pessoa acrescentar um

    pargrafo em um artigo, ou um subttulo ao ttulo, um resumo em um artigo ou um

    hipertexto no corpo do texto; enfim, uma colaborao positiva e enriquecedora

    obra criada nesta tecnologia.

    Figura 4 - Fragmentos do artigo Web Social: impacto no comportamento informacional na produo do conhecimento Fonte: Miranda et al. (2009).

    Podemos visualizar um exemplo prtico acima, um artigo escrito a quatro

    mos entre dois pesquisadores na cidade do Porto, (Mjory Miranda, Alexandre

    Miranda) e dois em Porto Alegre (Lizete Dias de Oliveira, Rafael Port da Rocha).

    Esta ferramenta evidencia quebra de barreiras, como a distncia, e acrescenta

    facilidades, como menor tempo possvel para a informao estar disponvel para

    seus pares ou pessoas que busquem conhecimento na rede. A Wikipdia o maior

    exemplo manifestado de tal tecnologia, de certa forma um auxlio para a educao

    moderna, por envolver o coletivo.

    Essa enciclopdia dos tempos modernos, um dos trs pilares da reproduo do conhecimento, pode ser entendida como uma terceira forma de reunio do conhecimento humano. A primeira caracterizada pela compilao do conhecimento por apenas um sbio, como foi o caso de Aristteles, Plinio o Velho ou o chins Tu Yu. Em uma segunda forma de

  • 36

    compilao, a Enciylopdie de Diderot foi uma criao coletiva, mas no colaborativa, que precisou vinte e nove anos para ser finalizada, passando por incrveis dificuldades editoriais e sociais. Essas duas formas de compilao do conhecimento so baseadas na relao de autoridade de 1 : muitos ou de muitos : muitos, sendo os produtores selecionados por seu reconhecimento anterior. (MIRANDA, 2009, p.12).

    A informao sofre de metamorfose, e acresce em contedo, e na Wikipdia

    este processo mais rpido devido a interatividade, mas esta fonte no deve ser a

    nica para quem busca subsdios informacionais, "deve ser a primeira fonte de

    informao, mas no a ltima, deve ser o site para a explorao de informaes,

    mas no a fonte definitiva dos fatos" (Anderson apud Miranda, p.13). Assim, a

    Wikipdia serve de auxlio, mas, nunca como nico recurso de informao.

  • 37

    4 UM CIM PARA A FABICO

    O CIM/FABICO (Centro de Informao e Memria) foi pensado como um sim,

    como uma tentativa de eternizao e salvaguarda da memria fugidia e voltil das

    rotinas e experincias universitrias, como um auxlio para a memria fugaz do

    homem. Um complexo de armazenamento de registros, proporcionado pelos

    avanos tecnolgicos da hodiernidade, para posterior consulta e compartilhamento,

    pois j, no agora no se limitar somente a materiais coletados pelos alunos, mas se

    concretizar em uma atividade voltada para a conservao das lembranas,

    vivncias e experincias da comunidade acadmica da Fabico, envolvendo todos

    seus atores. Para atingir seus objetivos, o CIM busca coletar, resgatar depoimentos

    e pr luz fatos da histria passada da entidade, bem como, registrar a memria da

    atualidade, para que esta no se perca.

    A consulta s memrias individuais de sujeitos de diferentes perodos e fases

    da histria da Fabico; a entrevista; a busca do documento e do depoimento das

    geraes antecessoras; o registro imediato do momento atual e presente e de como

    este vivenciado por alunos, mestres, servidores; a preservao do maior somatrio

    de dados e opinies, tudo isso, enfim, contribui para a conservao e atualizao da

    memria coletiva e institucional meta principal do CIM, o ator ajudando a escrever

    a histria institucional atravs de suas vivncias pessoais.

    Diferentes impresses, pontos-de-vista, verses da histria pretrita e atual

    da FABICO merecem ser compilados. Relatos e depoimentos de professores,

    jubilados e atuantes, de bibliotecrios e profissionais da informao, sados de seus

    bancos, de alunos e ex-alunos, de servidores dos mais diversos escales, podem

    ajudar a compor um mosaico democrtico e participativo, a par da coleta de

    materiais escritos, fotogrficos, audiovisuais, etc., relativos ao histrico institucional.

    A identidade afirma-se na memria, como perpetuadora do conhecimento.

    Manter vivo e ao alcance de todos tudo aquilo que pode morrer com o descaso e

    perecimento natural das coisas um modo de vencer a perda inexorvel de tudo

    aquilo que passa, que se torna passado ou, mesmo, ultrapassado. uma postura

    afirmativa, de dizer sim, em confronto com o aniquilamento e o desconhecimento. A

  • 38

    contribuio de um ex-aluno, de uma secretria, faxineira, diretora, mestre,

    segurana, pode somar significativas informaes para detalhar e humanizar a

    histria institucional, em suas diferentes percepes da realidade acadmica

    vivenciada. Por fim, na estreita comunho entre histria e memria que se pode

    tentar preservar, no exerccio da participao de todos os agentes, o patrimnio

    cultural comum.

    Um dos marcos da memria da Fabico no poderia deixar de ser sua prpria

    formao como unio dos Departamentos de Biblioteconomia e Comunicao

    Social, exigindo o estudo sobre a conjuntura do perodo histrico em que se

    processou dita reunio, assim como fora a existncia das duas faculdades no

    perodo anterior, sobre as causas que levaram instituio da Fabico, os que

    pugnaram por ela, os que se opuseram, seus argumentos, suas opinies.

    Reconstruo de uma trajetria institucional, da vida de seus atores, do registro dos

    acontecimentos mais marcantes. As sedes, suas alteraes, reformas, as mudanas

    de currculo, os diferentes cursos, as relaes entre eles, esses os objetos principais

    do trabalho investigativo a que se prope o CIM, na tentativa de retratar a memria

    como uma constelao, sem distines entre os Cursos que compem a FABICO.

    Desde sua criao at os tempos atuais.

    4.1 UM HISTRICO

    Neste trabalho de busca de resgate da memria da Fabico, foi elaborado um

    histrico, na tentativa de reproduzir momentos da histria institucional da Faculdade.

    Assim, atravs de pesquisa bibliogrfica, no pouco material editado e, por vezes,

    raro, fez-se um histrico abordando-se trs aspectos: o prdio onde a Faculdade

    est instalada, os Diretrios Acadmicos e os dois Departamentos que compem a

    FABICO, traando um apanhado de seus Cursos na rea da Cincia da Informao

    e Comunicao Social. Desse modo, arestas sero fechadas, j que participantes da

  • 39

    disciplina BIB 03202 2008/2 colheram depoimentos que tratam das experincias de

    professores, funcionrios, alunos e ex-alunos da Faculdade.

    4.1.1 Do Prdio

    O atual prdio da FABICO foi construdo entre os anos de 1960 e 1964, com o

    intuito de dar melhores condies estruturais para a grfica, que mesmo mudando

    constantemente de endereo, atendia a toda a demanda de materiais impressos

    para a universidade, tanto para a parte administrativa, como os materiais editados

    por alunos e professores da entidade. A grfica atendia toda a produo impressa

    da ento URGS. Alm da grfica, no prdio recm-inaugurado em 1964, funcionava

    um almoxarifado e a cooperativa de funcionrios da URGS. Em 1964 o ento reitor

    Elyseu Paglioli, enfatizava em seu relatrio de reitorado a importncia da grfica

    para a comunidade acadmica e sua avanada tecnologia:

    O moderno parque grfico e o capacitado pessoal que atende esse importante e indispensvel servio, tem prestado inestimveis vantagens Universidade, quer pelo baixo custo dos trabalhos como pela alta qualidade dos mesmos e a rapidez com que atende os pedidos. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL 1964, p. 78)

    O terreno onde est situado o Campus-Sade era uma rea que beirava o

    Arroio Dilvio. Na parte sul (fundos do terreno), este no era ainda canalizado, o que

    tornava parte da rea um verdadeiro charco, tendo sido necessrio um aterro de 5

    metros no local, principalmente na parte do Hospital de Tisiologia, hoje prdio da

    Psicologia. A grande rea era conhecida como campo de polo, onde se praticava

    dito esporte.

    O desejo de construir um avanado complexo de sade partiu do ento

    presidente da Repblica Getlio Vargas, em 1952. Conforme Universidade Federal

    do Rio Grande do Sul (1964, p. 271), [. . .] com a aquisio do campo de plo,

    passou o ministrio a tomar a iniciativa da construo, pois Vargas desejava a

  • 40

    construo dessa obra para o Rio Grande. A obra que comea em 1953, somente

    acabou em 1964, mas vrios fatos ocorreram durante o projeto e a sua concluso,

    muitas vezes perderam-se prazos e verbas e, com a urbanizao do entorno da rea

    onde est situado o Campus Sade, houve invases de terras por parte de

    empresas de loteamento, o que s acabou com a construo de uma cerca de

    arame farpado com moires de pedra que ia da Avenida Protsio Alves at a

    Avenida Ipiranga. O traado da Rua Ramiro Barcelos, ao invs de favorecer a

    construo do complexo de sade, avanou seguidas vezes sobre a rea que seria

    destinada a ele, assim privilegiando os loteamentos que ocuparam as terras vizinhas

    ao complexo hospitalar.

    Contudo, a Grfica da Universidade ganha um moderno prdio e estrutura

    para desempenhar um melhor trabalho e atender sua demanda, assim como a

    cooperativa dos funcionrios da Universidade e um almoxarifado, que tambm foram

    alojados no prdio.

    J na dcada de 70, mais precisamente no dia 1 de setembro 1970, com a

    implantao da portaria n 714, foi criada a Faculdade de Biblioteconomia e

    Comunicao (FABICO).

    Resolve: Art 1 - Criar a faculdade de Biblioteconomia e Comunicao, prevista no artigo 17 do Estatuto, constituda dos seguintes departamentos: de Biblioteconomia e documentao de Comunicao conforme consta no item 2 da alnea c do artigo 2 do regimento Geral da Universidade, aprovado pelo Conselho Federal da Educao e homologado pelo Senhor Ministro de Estado dos Negcios de Educao e Cultura em 7 de julho de 1970. (FARACO, 1970, f. 1)

    3.

    Assim, o prdio da grfica situado na Rua Jacinto Gomes n 540, no Campus

    Sade, cede lugar tambm para os cursos de Jornalismo, em 1970 e

    Biblioteconomia e Documentao, no ano de 1972, fato este ocorrido pela edio de

    uma portaria: dois cursos sem afinidades aparentes, ocupando o mesmo espao. O

    curso de Jornalismo tinha sua sede anterior junto ao antigo prdio da Faculdade de

    Filosofia no campus central e o curso de Biblioteconomia tinha como sede a

    3 FARACO, Eduardo Z. Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Portaria n. 714, de 1. de set. de

    1970. Cria a faculdade de Biblioteconomia e Comunicao.

  • 41

    Faculdade de Cincias Econmicas. Nos primrdios desta nova faculdade, os

    espaos no prdio eram bem exguos, j que a grfica ocupava ali uma grande

    extenso.

    Naquela poca a Grfica ocupava quase que o prdio inteiro; sendo utilizados, para salas de aula e para a administrao da unidade, apenas o terceiro (com o laboratrio de fotografia e a sala de redao) e o quinto andar. O primeiro andar tambm era ocupado pela grfica, sendo seu deposito. (JEZUS, 2006, f.31).

    As novas instalaes deram ao curso de Jornalismo um acrscimo na

    qualidade do ensino prtico, j que laboratrios (como o de fotografia) e salas

    especiais foram incrementados no novo prdio, pois o espao fsico favoreceu em

    qualidade do Curso, e, de certa forma, os descontentamentos pela mudana de local

    e a no-transformao do Jornalismo em uma Faculdade independente foram sendo

    amornados.

    Dentro de um regime de chumbo, onde todas as manifestaes artsticas e

    culturais eram vigiadas e censuradas (perodo Mdici), os alunos de Jornalismo no

    ano de 1970 organizaram uma exposio chamada Saco 70 (Semana de Arte e

    Comunicao de 1970), que ganhou notoriedade na imprensa, saindo matrias em

    jornais at de fora do Estado.

    Todo esse andar de baixo, esse trreo da FABICO era um grande espao aberto. E nessa de fazer alguma coisa veio a idia de fazer o SACO 70, o Salo de Arte e Comunicao. E acabou sendo to interessante e badalado que fomos notcia at no Jornal do Brasil. Eram centenas de metros quadrados, todas as salas de aula de hoje era tudo aberto. Conseguimos sacos de linhagem para sentar. Montamos um palco e fizemos isso com o apoio dos loucos da arquitetura, os loucos do Instituto de Artes, da Filosofia, da Sociologia. Quem tinha alguma manifestao artstica para mostrar, trazia do jeito que viesse. Assim foi durante uma semana. As pessoas chegavam, ganhavam sacos, o pessoal espirrava muito. (WEBER, [200-]).

    O trreo todo vazio, com toda sua extenso, abrigou uma manifestao

    cultural, que hoje se pode chamar de multiartstica, pois reunia em um mesmo

    espao diferentes manifestaes de arte. Infelizmente, houve apenas uma outra

    edio. Sobre a segunda edio Flvio Dutra comenta:

  • 42

    [. . .] a primeira dentro do prdio e a outra no canteiro (hoje urbanizado) na frente da Fabico, porque a direo proibiu as manifestaes, alegando que o pessoal estava fumando maconha (sim, j se fumava maconha naquele tempo) e bebendo muito durante o evento. (JEZUS, 2006 f. 45).

    A biblioteca da nova unidade comea suas atividades no ano de 1972,

    mesmo ano em que o curso de Biblioteconomia muda-se para o prdio. Localizada

    no 4 andar, onde at hoje tem sua sede, comeou pequena.

    Ento, a Zenaira Garcia Marques primeira diretora (e que se manteve na direo por 21 anos!), professora da biblioteconomia, trouxe todo o acervo de livros de Jornalismo para dar inicio Biblioteca. Eu me lembro bem: eram no mximo 21 livros!!! E assim comeou. (SILVA apud JEZUS f. 44).

    O acervo da nova biblioteca da FABICO teve como provenincia os livros

    vindos da biblioteca da Faculdade de Filosofia, no que se referia ao Jornalismo, e os

    de Biblioteconomia da biblioteca da antiga Escola de Biblioteconomia e

    Documentao, que se localizava no prdio da faculdade de Cincias Econmicas,

    mas, desde o ano de 1966, funcionando independente e com verba prpria. Em

    1987, a biblioteca, que tinha uma rea de 135m, ampliada e passa a ter um total

    de 306m. Atualmente, estuda-se uma nova reforma para as instalaes da

    biblioteca4.

    No comeo da dcada de 80, crescia entre os estudantes o desejo de um

    ponto de encontro para atividades mais informais do que as de aula e estudo, e tal

    espao cobiado era o de um bar, territrio livre de integrao. Em 1981, um coeso

    movimento grevista universitrio perdurou por 22 dias, ao cabo do qual, uma bem-

    sucedida invaso da reitoria conduziu aprovao de um rol de reivindicaes

    estudantis, entre as quais, gratamente acolhida pelo ento reitor (Mrio Rigatto),

    figurava a da disponibilizao de um bar. E, em um ms, eram iniciadas as obras do

    aguardado Bar da Fabico. O vencedor da licitao foi o aluno de Jornalismo Marco

    Poli, que assumiu o economato do bar at sua formatura.

    Em questo de dias, pencas de estudantes que antes no tinham onde se reunir passaram a fazer do bar um local de encontro, em funo do caf. Desde a manh cedo, em especial o pessoal da Biblio, at 22h, 23h,

    4 Informao extrada do site: http://www.ufrgs.br/fabico/biblioteca.htm

  • 43

    quando os bomios da Comunicao iam embora. Esses, passaram a pedir cerveja e outras bebidas alcolicas, no que foram prontamente atendidos. Eu pessoalmente fazia o abastecimento de cervejas e preparava cachacinhas especiais, zelando no apenas pela qualidade, mas pela quantidade. (POLI apud JEZUS, 2006, f. 56)

    O bar da Fabico transformou-se em um ponto de encontro, onde assuntos das

    mais distintas ordens eram discutidos, local onde alunos e professores conviviam. A

    seguinte proprietria do estabelecimento era conhecida como Neca, mas o bar era

    nominado por todos como bar da Lena, pessoa que atendia o estabelecimento.

    Sobre o local, Sarmento (2008) descreve: [. . .] para fazermos lanche ou

    conversarmos, o point era o Bar da Lena, localizado no trreo, prximo ao diretrio

    acadmico e ao elevador dos fundos. J Godoy, (2008), indagada sobre quais os

    gostos e cheiros faziam-na lembrar da FABICO, responde: [. . .] cheiro de po de

    queijo sempre me lembra o saudoso Bar da Lena, que no existe mais. Nos dias

    atuais, o prdio j no abriga um bar especfico para a faculdade, a comunidade

    fabicana utiliza o bar da Escola Tcnica.

    No mesmo ano, em 1981, inaugurada na unidade uma biblioteca-

    laboratrio. Esta tinha como objetivo especfico reduzir os erros cometidos atravs

    de uma superviso cuidadosa. (PINTO, 1984, p. 111). Este tipo de biblioteca, para

    um aprendizado mais seletivo, aproximando o aluno da prtica diria de uma rotina

    de trabalho e sanando deficincias, foi uma iniciativa empreendedora, mas que,

    infelizmente, no chegou aos tempos mais recentes desta faculdade, j que a atual

    Biblioteca-escola situada no trreo no cumpre esta funo.

    Em 1985, o prdio passa a abrigar um estdio de televiso, no mais

    dependendo do estdio da PUC, que fora utilizado durante onze anos. Ainda

    faltam[vam] equipamentos, mas rompemos uma dependncia, como disse a

    professora Vera Ferreira, chefe do Departamento de Comunicao na poca, ao

    Boneco de 1985. (JEZUS, 2006, f. 40).

    No fim da dcada de 80, a FABICO passa por uma grande reforma para sanar

    problemas com as enchentes que assolavam o andar trreo, que, a cada chuva mais

    torrencial, era inundado. Muda-se sua entrada principal para o lado da Rua Ramiro

    Barcelos, passando a ter o nmero 2705. Alm dessa mudana. Santos e Silveira

    (2000, p. 288), destacam outras que aconteceram: [. . .] outras incorporaes

  • 44

    importantes ao pavimento trreo: auditrio com capacidade para 150 pessoas, a

    Biblioteca-escola Minda Groisman, sala de recursos udio-visuais, espao para os

    diretrios acadmicos e para o bar, alm de vrias salas de aula.

    Uma particularidade do prdio da FABICO seu elevador, o qual marca oito

    andares em um prdio que s possui cinco pavimentos, o que motivo de

    constantes enganos para pessoas que nele embarquem e queiram ir ao ltimo

    andar. Envolvendo elevadores, tambm havia o problema da porta que se fecha

    sozinha, o que foi sanado em um deles, mas a lenda continua em outro e, at os

    idos de 2002, algumas pessoas que embarcavam nesse transporte, visitaram seu

    fosso. Era s passar um pouquinho do limite de peso. Sobre essa passagem da

    Fabico, Tavares (2008), comenta: Sempre me arrependo de no tirar uma foto da

    cara que as pessoas faziam assim que o elevador abria: espanto, seguido de um

    longo sorriso. Soube depois que criaram at comunidade no Orkut para o elevador.

    Os mais velhos na casa sabem que o primeiro que entra deve apertar o boto PO,

    para os prximos entrarem com segurana.

    No ano de 2006, a grfica da universidade encerrou suas atividades junto ao

    prdio da FABICO, ganhando novas instalaes junto ao prdio do Restaurante

    Universitrio do Campus da Sade. Com isso, o espao vago pela grfica passou a

    ser reformado (todo o 2 pavimento e um pedao do trreo esquerda de quem

    entra). Com a reforma, foi possvel criar, no segundo pavimento, espaos para salas

    de aula, Programa de Ps-graduao, salas para professores e laboratrios de

    informtica. Tanto o LIBIA (Laboratrio de Informtica da Biblioteconomia e

    Arquivologia), que era no quarto pavimento, como o LICO (Laboratrio de

    I