Fabio Montalvão Soares - A Produção de Subjetividades No Contexto Do Capitalismo Contemporâneo...

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  • 7/26/2019 Fabio Montalvo Soares - A Produo de Subjetividades No Contexto Do Capitalismo Contemporneo Guattari e Negri FRACTAL, 2016

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    Artigo

    Introduo

    Em 1986, Flix Guattari arma em Micropoltica:cartograas do desejo, livro escrito em companhiade Suely Rolnik na poca de sua visita ao Brasil, suaconcepo de subjetividade como sendo um processoeminentemente coletivo e poltico, composto por umadiversidade de vetores, para alm de um eixo organizadorvinculado a uma instncia psicolgica, ou fundadona lgica da representao. Herdeiro de uma tradio

    psicanaltica, Guattari desponta como um pensadorprofundamente implicado na militncia poltica. Fatoque o leva a construo de uma profunda crtica aos

    preceitos vigentes, tanto da psicanlise, quanto domarxismo em sua expresso materialista na poca(ZAMBONI; BARROS, 2012). Nos chama a ateno

    nos escritos de Guattari e em sua prpria vida militante,seu posicionamento em relao indissociabilidadeentre a subjetividade e a poltica e sua crtica ferrenhaao capitalismo. Segundo sua concepo este j assumirauma perspectiva global, em sua condio de mundial eintegrado, tal como apontava em 1977 em Revoluomolecular: pulsaespolticas do desejo. A proposta desteartigo justamente a de reetir no contexto atual, sobre omodo de funcionamento do capitalismo contemporneoe a produo de subjetividades, considerando-a em seuestatuto heterogneo e ontolgico, a partir dos textosde Guattari e associando-o com o que o pensamento

    poltico contemporneo vem assinalando sobre o tema,principalmente a obra de Antnio Negri e Michael Hardt.Tambm estes pensadores estabelecem uma concepo

    de subjetividade que se baseia num primado coletivo,sendo fundamento do que denominam poder constituinte(NEGRI, 1992), ou poder da multido (HARDT; NEGRI,2000). Neste sentido, identicamos a atualidade e a

    pertinncia de uma crtica ao modo de funcionamento docapitalismo contemporneo e a captura dos processos desubjetivao por este engendrada.

    Uma concepo ontolgica de subjetividade:

    heterogeneidade e coletividade

    No texto Subjetividade e Histria deMicropoltica:cartograas do desejo, Guattari arma que: asubjetividade no passvel de totalizao ou decentralizao do indivduo (GUATTARI; ROLNIK,1986, p. 31). Felix a dene como indissociavelmentevinculada ao plano do desejo, enquanto materialidadede onde emanam e sustentam-se as produes coletivas.Os processos de subjetivao realizam-se, portanto, porintermdio de componentes heterogneos, de materiaisdistintos, de linhas e vetores diversos relativos sexistncias, onde seus movimentos prprios caracterizam-se como devires mltiplos que se atravessam num planoinnito de conexes e agenciamentos. Neste aspecto, nose trata somente de uma leitura sobre os fatores biolgicos,ou da dinmica psquica envolvida em tal produo.

    Trata-se tambm, de fenmenos que dizem respeito poltica, ao Estado, as tecnologias, bem como ao espao

    A produo de subjetividades no contexto do capitalismo

    contemporneo:Guattari e NegriFabio Montalvo SoaresH

    Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, Brasil

    Resumo

    Este artigo visa traar um panorama sobre a relao entre a produo de subjetividades e a poltica no cenrio atual, tendopor referncia a leitura das obras de Flix Guattari, Antnio Negri e Michael Hardt sobre o tema. A partir da constatao doestatuto ontolgico e coletivo inerente aos processos de subjetivao, busca-se pensar suas implicaes no contexto do capitalismocontemporneo, destacando suas principais caractersticas, o movimento de captura a m deste se apropriar da produode subjetividades em sua gnese e as possibilidades de resistncia pelos autores esboada, propondo a elaborao de novasestratgias para o enfrentamento do problema.

    Palavras-chave: subjetividade; tempo; capitalismo contemporneo.

    The production of subjectivity in the context of contemporary

    capitalism: Guattari and NegriAbstract

    This articleaimsto give an overviewon the relationshipbetween thesubjectivity production and politicsin the currentscenario, referring to the works ofFlixGuattari,AntonioNegriandMichael Hardton the subject.From the discoveryof the ontological and collective status inherent in the subjectivity processes, we seek to think their implications inthe contextof contemporary capitalism, highlighting theirmain characteristics, the motion of capture in order toappropriate the production of subjectivities in its genesisandthe possibilitiesof resistanceoutlinedby the authors, byproposing the development of new strategies to face the problem.

    Keywords: subjectivity; time; contemporary capitalism.

    HEndereo para correspondncia: Instituto de Psicologia da Universidade Federal

    do Rio de Janeiro. Programa de Ps-Graduao em Psicologia. Av. Pasteur, 250

    fundos. CEP: 22290-902 - Praia Vermelha - Rio de Janeiro, RJ, Brasil.E-mail:

    [email protected]

    Fractal: Revista de Psicologia, v. 28, n. 1, p. 118-126, jan.-abr. 2016. doi: http://dx.doi.org/10.1590/1984-0292/1170

    http://lattes.cnpq.br/3442710033811049mailto:[email protected]://-/?-http://-/?-mailto:[email protected]://lattes.cnpq.br/3442710033811049
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    A produo de subjetividades no contexto do capitalismo contemporneo: Guattari e Negri

    urbano, aos meios de comunicao, a vida cotidiana e asmais variadas formas de agenciamentos indicativos dasmultiplicidades e dos diversos uxos sociais:

    Os processos de subjetivao [...], no so centrados emagentes individuais (no funcionamento de instnciaspsquicas, egicas, microssociais), nem em agentesgrupais. Esses processos so duplamente descentrados.

    Implicam o funcionamento de mquinas de expressoque podem ser de natureza extrapessoal, extraindividual(sistemas maqunicos, econmicos, sociais, tecnolgicos,icnicos, ecolgicos, etolgicos, de mdia, enm, sistemasque no so imediatamente antropolgicos), quantode natureza infra-humana, infrapsquica, infrapessoal(sistemas de percepo, de sensibilidade, de afeto, dedesejo, de representao, de imagens, de valor, modos dememorizao e de produo idica, sistemas de inibio ede automatismos, sistemas corporais, orgnicos, biolgicos,siolgicos, etc) (GUATTARI; ROLNIK, 1986, p. 31).

    No podemos incorrer numa leitura ingnua sobrea noo de subjetividade do autor, considerando-a, porexemplo, como algo que comporte de tudo um pouco,numa espcie de bricolagem de elementos gerais. Naverdade, Guattari chama a ateno para o fato de quea produo de subjetividades indissocivel de umamultiplicidade de vetores que se atravessam constantee incessantemente. Torna-se claro que ela se manifestana prpria constituio desses vetores, ao invs desimplesmente advir deles, no sendo, portanto, produtode uma instncia individual. No a subjetividade queemerge de uma singularidade do sujeito e sim este, a prpriavida e o mundo que se encontram nela mergulhados. Talconcepo se alinha com a armao de uma condio

    ontolgica da subjetividade pensada antes comoDiferena (DELEUZE, 1968), sendo puro devir, solo

    pulsante que faz variar todo esse plano de multiplicidades.A novidade justamente a descentralizao da noo desubjetividade, antes comumente considerada um produtoexclusivo de uma instncia psquica ou individual, emfavor de uma perspectiva coletiva: Penso, ao contrrio,que a subjetividade individual que resulta de umentrecruzamento de determinaes coletivas de vriasespcies (GUATTARI; ROLNIK, 1986, p. 340). E se

    partimos da proposio de que a subjetividade no umproduto de uma individualidade, no podemos entender

    a coletividade armada por Guattari simplesmente comoum conjunto de indivduos reunidos.1 A coletividadediz respeito prpria heterogeneidade de vetores que acompe. Ou seja, a multiplicidade das innitas linhas, dosdevires moleculares que se atravessam, se imbricam, seentrelaam e se agenciam, compondo as formas molaresno plano da experincia concreta.

    1Esta a concepo usualmente adotada nos estudos sobre poltica, tal como,por exemplo, por Hanna Arendt. Embora o poder seja traduzido em termosde coletivo, ele no expressa o sentido que damos ao termo, pois diz respeitoao conjunto de singularidades pensadas em termos individuais (o exemplo dador fsica como subjetividade radical proposto pela autora). O poder no propriedade de um indivduo, mas pensado como capacidade de agir em comumacordo. Ele pertence a um grupo, mas este, no sentido de nossa objeo, nadamais do que um conjunto de singularidades individuais orientadas num pacto

    de renncia do governo de si. Sobre o conceito de poder citamos: Podercorresponde capacidade humana de no somente agir, mas de agir em comumacordo. O poder nunca propriedade de um indivduo; pertence a um grupo eexiste somente quando o grupo se conserva unido (ARENDT, 1969, p. 123).

    Produo de subjetividades e o Capitalismo

    Mundial Integrado

    A concepo ontolgica e coletiva dos processosde subjetivao proposta por Guattari evidencia aindamais a relao deste tema com a poltica, surgindo daa necessidade de pens-lo em suas implicaes como regime capitalstico. No toa a sua armao de

    que no cenrio contemporneo a subjetividade bemmais valiosa do que o petrleo (GUATTARI; ROLNIK,1986, p. 26). O autor realiza uma crtica exacerbaodo materialismo na discusso contempornea sobre omarxismo, em detrimento da subjetividade e armaque os marxistas e progressistas no compreenderama importncia da discusso deste tema, pelo fato de seapegarem ao dogmatismo terico. importante notarque na apresentao do captulo, o autor prope umaconcepo de subjetividade de natureza industrial/maqunica: Ou seja, essencialmente fabricada, modelada,recebida, consumida (GUATTARI; ROLNIK, 1986,

    p. 25). Arma-se de modo curioso e paradoxalmenteneste texto, uma produo de subjetividades em escalaindustrial regida pela lgica de funcionamento capitalistaem escala internacional:A ordem capitalstica produz osmodos das relaes humanas at em suas representaesinconscientes: os modos como se trabalha, como se ensinado, como se ama, como se trepa, como se fala, etc(GUATTARI; ROLNIK, 1986, p. 42). O autor vislumbrauma estranha relao entre os processos de subjetivaoe o modo de funcionamento do sistema capitalista,armando que o segundo cada vez mais se entrelaa ao

    primeiro e que, ao contrrio dos marxistas e progressistas,este procurou cada vez mais investir nesse novo nicho,

    expropriando-o e lhe impondo ostensivamente umalgica de correlao de valor.2Da o entendimento de queo capitalismo promove como sua principal estratgia deexpanso, a captura dos processos de subjetivao.

    EmRevoluo molecular, Guattari (1977) j armavaque o capitalismo mundial integrado - CMI opera poruma ostensiva miniaturizao dos meios, indo bem almdos maquinismos tcnicos. O capitalismo se apoderados seres humanos por dentro (GUATTARI, 1977, p.205), operando na base dos comportamentos perceptivos,sensitivos, afetivos, cognitivos, lingusticos, dentre outros.A instncia individual torna-se uma espcie de terminal

    consumidor das demandas articialmente produzidas,ou industrializadas pelos dispositivos capitalistas: esseterminal individual se encontra na posio de consumidorde subjetividade (GUATTARI; ROLNIK, 1986, p. 32).EmAs trs ecologias, Guattari (1989a, p. 30-31) rearmaesta relao entre capitalismo e subjetividade, apontandoque o CMI tende cada vez mais a descentralizar seusfocos de poder, das estruturas de produo de bens ede servios, para as estruturas produtoras de signos2Em Revoluo molecular (GUATTARI, 1977) o autor aponta, no captuloreferente ao Capitalismo Mundial Integrado CMI, que a sua expressoeconmica no depende unicamente de um sistema de signos monetrios,bolsistas, etc. antes uma categoria semitica que se refere ao conjunto denveis de produo e ao conjunto dos nveis de estraticao dos poderes. Neste

    sentido, no se refere somente aos seus produtos como forma de expressomonetrio-econmica, mas aos prprios bens de produo (servomecanismosmaqunicos) como meios nos quais a produo de subjetividades se realiza. Ver:GUATTARI (1977, p. 213).

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    armativos da lgica das relaes de poder vigente e desubjetividade, especialmente por meio de dispositivosde controle como as mdias, a informtica, as produestcnico-cientcas, dentre outras. Nas Cartograasesquizoanalticas (GUATTARI, 1989b), destaca comoos modelos de subjetivao escapam ao controle dosdispositivos de poder dominantes, embora o cenrio

    scio-histrico-poltico indique que a subjetividade seencontra hoje, massivamente controlada por dispositivosde poder e saber que pem as inovaes tcnicas,cientcas e artsticas a servio das guras mais retrgadasda sociedade (GUATTARI, 1989b, p. 17). E contra omovimento de captura orquestrado pelo CMI, Guattari

    prope uma revoluo molecular, a criao de mquinasde guerra autogestivas que viabilizem e potencializemos devires minoritrios e os micromovimentos quesubvertem os regimes molares j estraticados. Trata-seda armao de um plano instituinte em contraposio aoregime institudo; da possibilidade de se investir na prpriasubjetividade como estratgia de resistncia ao modo de

    funcionamento do capitalismo. Esse fato nos conduz necessidade de um mapeamento sobre como o temados processos de subjetivao vem se congurando nocenrio atual. Torna-se, portanto, pertinente uma leitura,tanto sobre o modo de funcionamento do capitalismo naatualidade, quanto da prpria concepo de um estatutocoletivo da subjetividade no campo poltico, o que nosaproxima das discusses propostas por Antonio Negri eMichael Hardt, no cenrio contemporneo.

    Negri e Hardt: Poder constituinte e as potncias da multido

    Em 1992, Antnio Negri publica O poder

    constituinte, obra que ir tratar da consolidao deum plano poltico fundado numa ontologia do tempocomo base dos processos coletivos e revolucionrios,cunhando seus conceitos de Poder Constituinte eMultido. Em 2000a, Negri publica ainda o livroKairs,Alma Vnus, Multitudo: nove lies ensinadas a mimmesmo, no qual se dedica ao trabalho sobre o conceitode Kairs, signo/potncia da irrupo revolucionriade uma temporalidade pura e libertria. Lana assim,as bases para o desenvolvimento de uma teoria polticaarmativa de uma proposio coletiva, como opo naconstruo de estratgias de enfrentamento ao processode captura engendrado pelas entidades denominadas

    transcendentais,3 dentre elas o Estado e o prprio3Uma observao importante em relao ao termo transcendncia: ele tomadona obra de Negri e Hardt (2000), a princpio, como smbolo de um absoluto,ou universal, tal como, por exemplo, evocado na tradio kantiana, na EstticaTranscendental em Crtica da Razo Pura. E neste sentido que os autores seapropriam do termo para denir o Estado e o prprio capital como supostasentidades absolutas. No entanto, os autores se aproximam da tese deleuziana,na qual a Diferena no se reduz a nenhuma determinao, sendo ela mesma oa priorina gura da temporalidade pura do Devir. Se existe uma transcendnciaou uma essncia para Deleuze (1968), esta se exprime como a prpria Diferenae o seu movimento intrnseco de diferir. Tal posio tambm se aplica aconcepo do tempo deKairscomo essncia da multido. Entretanto, se existea transcendncia da multido por direito, existe ainda o uso arbitrrio da ideia detranscendncia de fato, tal como os autores a pensam no contexto do surgimentoda modernidade. Ela seria assim, remetida segundo a tradio racionalista, a algouno, ao homogneo e ao universal. Logo, a transcendncia, nesta parte da obrade Hardt e Negri, revela o movimento contrarrevolucionrio de captura do poder

    constituinte e da multido como signos do plano revolucionrio de imanncia. Otermo visa reetir a imposio de princpios/tabus inquestionveis, como eixosde justicativa da soberania moderna. Ver: Hardt e Negri (2000, p. 87-109).Sobre a transcendncia, ver Deleuze (1968, p. 63-125).

    capitalismo contemporneo. Segundo o autor, o poderconstituinte, no se caracteriza como a produo denormas constitucionais ou de um novo ordenamento

    jurdico regulador das relaes sociais. Ele no emanasimplesmente do Estado, mas se congura como o

    processo pelo qual a vontade democrtica da multidoentrou no sistema poltico, debilitando os fundamentos

    constitucionalistas (NEGRI, 1992, p. 21). A multidoobviamente no equivale a um conjunto de indivduosou a conceitos que primam por unicar e homogeneizaras diferenas que lhe caracterizam, tais como povo,turba, massa, plebe, dentre outros, embora se relacionecom essas entidades. Em parceria com Michael Hardt,o autor a denir posteriormente emMultido: guerra edemocracia na era do imprio(HARDT; NEGRI, 2004),como um conjunto de singularidades, um sujeito socialcuja diferena no pode ser reduzida uniformidade, umadiferena que se mantm diferente (HARDT; NEGRI,2004, p. 139). Tambm esta a denio do autor emCinco lies sobre o Imprio (NEGRI, 2000b). Ou seja, a

    multido como plano das singularidades se arma comoeminentemente revolucionria e democrtica, sendo ofundamento do poder constituinte:

    O poder constituinte se dene emergindo do turbilhodo vazio, do abismo da ausncia de determinaescomo uma necessidade totalmente aberta. por issoque a potncia constitutiva no se esgota nunca no

    poder, nem a multido tende a se tornar totalidade, masconjunto de singularidades, multiplicidade aberta. O

    poder constituinte essa fora que se projeta para almda ausncia de nalidade, como tenso onipotente ecrescentemente expansiva. (NEGRI, 1992, p. 26).

    Cabe salientar que, por no representar um conjuntode indivduos, um arranjo grupal ou qualquer forma derepresentao, o poder constituinte se caracteriza pelaausncia de qualquer determinao. E a singularidade no singularidade de um. No se trata de um diferente comoresduo exclusivo de um ente, mas da Diferena em simesma como pura qualidade. A multido como expressoda potncia constitutiva est assim presente nessasinstncias e nelas manifesta-se sem, no entanto, reduzir-se a elas. Trata-se da armao de um plano de potnciasintensivas, antes mesmo de pensarmos nas formas nasquais estas venham a se materializar no campo social. E

    no podemos deixar de pensar nesse plano como sendoda ordem de uma coletividade. A Multido, portanto,abarca todas as manifestaes, humanas e no humanas,

    podendo compreender fenmenos psicolgicos, sociais,do Estado, tecnolgicos entre outros. Ela implica dessemodo, uma dimenso de heterognese, compondo-se poruma multiplicidade de linhas de fora, mas sem limitar-se a elas. importante enfatizar que o poder constituintecomporta uma dimenso subjetiva no localizvel,nem mesmo nos microdevires moleculares que porventura lhe componham, mas naquilo que se desvia dasdeterminaes e nalismos.

    Num continuum as teses de O poder constituinte,Negri em parceria com Hardt publica Imprio(2000), destacando-se o movimento instituinte dessas

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    A produo de subjetividades no contexto do capitalismo contemporneo: Guattari e Negri

    foras revolucionrias no contexto do surgimento damodernidade. Segundo os pensadores, instaura-se nessemomento, uma revoluo radical, estabelecendo-se umnovo paradigma de vida. Nessas origens da modernidade,

    portanto, o conhecimento passou do plano transcendentepara o plano imanente e, por conseguinte, esseconhecimento humano tornou-se um fazer, uma prtica

    de transformar a natureza. (HARDT; NEGRI, 2000, p.90). O plano de imanncia ora citado para os autores,aquele no qual as potncias da multido manifestam-se,na instaurao permanente do poder constituinte.

    O plano de imanncia aquele no qual os poderes dasingularidade so realizados e aquele no qual a verdadeda nova humanidade determinada histrica, tcnica epoliticamente. Por esse fato nico, por no haver qualquermediao externa, o singular apresentado como multido(HARDT; NEGRI, 2000, p. 91).

    Sendo assim, ele o bero de toda metamorfose, puravariao e transformao constantes, caos revolucionrio

    que se exprime em sua dimenso mais espetacularnas manifestaes coletivas. As potncias da multidoadquirem nesse momento, verdadeiro estatuto ontolgico,armando-se como caracterstica da era modernanascente. Porm, diante dessa revoluo radical, surge ummovimento contra revolucionrio que procurou dominar eexpropriar a fora dos movimentos emergentes:

    Este o segundo modo da modernidade, construdopara combater as novas foras e estabelecer um poderpara domin-las. Ele surgiu [...] para alterar sua direo,transplantar a nova imagem de humanidade para um planotranscendente, relativizar a capacidade da cincia paratransformar mundo, e acima de tudo, opor-se reapropriaodo poder pela multido (HARDT; NEGRI, 2000, p. 92).

    Trata-se, no cenrio da modernidade e no processode armao do capitalismo, da imposio de um poderconstitudo transcendente em oposio a um poderconstituinte imanente. Ordem versusdesejo. A foraconstituinte relativa multido passa a ser contida eestraticada por um poder constitudo, que procura selegitimar segundo valores de uma pretensa racionalidadeexpressa num cienticismo iluminista/positivista,cujo solo epistemolgico baseia-se no princpio darepresentatividade como caracterstica fundamental doEstado. Da os autores o denirem como transcendental,em funo deste ser um princpio preestabelecido e seimpor dogmaticamente como universal. De acordo comessa perspectiva, o Estado teria por funo garantira organizao e a gesto dos conitos e dos interessesindividuais, baseando-se na lgica hobbesiana darepresentao poltica, ou seja, na renncia de umgoverno de si mesmo em favor de uma cvitas.4 Tallgica se expressa e se aprofunda no plano jurdico, noconfronto e no connamento da potncia constituinteem uma estrutura constitucional, denida falsamente4Hobbes (1999, p. 144) arma: A nica maneira de instituir tal poder comum[...] conferir toda sua fora e poder a um homem ou assembleia de homens, quepossa reduzir suas diversas vontades, por pluralidade de votos, a uma s vontade.

    [...] Cedo e transro o direito de governar-me a mim mesmo, a este homem ouassembleia de homens [...]. Feito isso, a multido assim unida numa s pessoase chama Estado, em latim, cvitas. Trata-se da abdicao do governo de si afavor de um princpio de representatividade transcendente como base do Estado.

    como fonte da legitimidade de um Estado representativo,atravs do processo jurdico-normativo implcito nasrelaes contratuais: O poder constituinte deve serreduzido norma de produo do direito e interiorizadono poder constitudo _ sua expressividade no deve semanifestar a no ser como norma de interpretao, comocontrole de constitucionalidade, como atividade de

    reviso constitucional (NEGRI, 1992, p. 10). Arma-se assim, a pseudolegitimidade deste poder constitudo.Uma vez estabelecido ele procura afastar a coletividadedaquilo que mais a caracteriza, ou seja, a sua potnciaconstitutiva relativa ao plano de imanncia, as foras damultido: O desao bsico deste iluminismo foi dominara ideia de imanncia sem reproduzir o dualismo absolutoda cultura medieval, construindo um maquinismotranscendental capaz de disciplinar uma multido desujeitos formalmente livres (HARDT; NEGRI, 2000,

    p. 96). Por conseguinte, o Estado surge como primeiramanifestao deste maquinismo dito transcendental,como aparato de captura da multido.

    A subjetividade e seu estatuto ontolgico: o Kairs

    Para alm do homem, as singularizaes operadasfora dele e atravs dele, constituem uma potncia deilimitao, neste caso, cerceada pela instituio de um

    princpio considerado universal. Devemos enfatizar queos acordos, pactos e contratos balizados por tal princpiosurgem no a priori, como resoluo, mas a partir dos

    prprios conitos e tensionamentos relativos s relaesde poder. Os pactos e acordos so agenciamentos,

    produzidos no conito, no embate entre as potnciasda multido e no como mediaes de uma instncia

    supostamente transcendental, sendo este o princpio,segundo os autores, de uma democracia revolucionria. Daconstatao da existncia de uma dimenso heterogneacomo uma das caractersticas da multido, partimos paraa discusso sobre o estatuto ontolgico da subjetividadenos escritos de Negri. E ele se arma principalmentena estreita relao entre o poder constituinte e o tempo,sendo este o motor dos processos revolucionrios:

    O poder constituinte tem sempre uma relao singular como tempo. Com efeito, o poder constituinte por um lado,uma vontade absoluta que determina o seu prprio tempo[...]. Mas isto no basta: o poder constituinte representaigualmente uma extraordinria acelerao do tempo. [...] Sob

    este ponto de vista, o poder constituinte est estreitamenteligado ao conceito de revoluo (NEGRI, 1992, p. 22).

    Devemos enfatizar que esta acelerao implica umacontrao irresistvel do tempo cronolgico (presente,

    passado e futuro) na singularidade de um acontecimentonico e extraordinrio que o retira do seu eixo. Trata-seda qualidade do tempo no instante, como movimento devariao, ruptura e abertura, armao de um presentefugidio e que se torna singular. Tal tese melhorcontemplada na imagem do Kairs. Para Negri (2000a),ela o signo dessa temporalidade pura, fundamento damultido e do poder constituinte. Ela , na concepo

    clssica, o presente, momento singular de ciso, de rupturae de abertura para um novo estado de coisas: Kairs a

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    modalidade do tempo atravs do qual o ser se abre, atradopelo vazio que est no limite do tempo, e decide preenchereste vazio (NEGRI, 2000a, p. 43). Neste sentido, a vida seapresenta como um verdadeiro campo heterogneo e nelase manifesta a multido, potncia de ilimitao que escapaao institudo e a subjetividade se encontra no cerne dadiscusso sobre o poder Constituinte. Para Negri (2000a,

    p. 80), ela a temporalidade em sua forma mais pura,potncia disruptiva em sua armao mais radical: Asubjetividade, no subsiste, mas produzida peloKairs.Ela , portanto, produto de uma temporalidade desmedida,5sendo prprio fundamento da multido e do poltico.As potncias da multido so signatrias desse estatutoe o seu fundamento poltico caracterizado por esseregime de uma temporalidade considerada intempestiva,insubordinvel ao tempo cclico. Ao armarmos o adventode um plano de imanncia e das multiplicidades, primamos

    pela compreenso de o imperativo deste fundamentoontolgico ser a condio desta intempestividade doKairscomo solo da produo das singularidades.

    Sobre o capitalismo Contemporneo

    Desvendar o modo de funcionamento do capitalismocontemporneo equivale a compreender a apropriao queeste realiza do plano das singularidades ou da produode subjetividades, entendido em nossa discusso comoverdadeira potncia de ilimitao e cuja estratgia de

    produo contraria a vertente de captura. Tanto Guattariquanto Negri se esforam por demonstrar como se desse movimento, esboando propostas alternativas deresistncia a ele. Porm, frente s singularidades relativasao plano de imanncia, o capital tambm se consolida

    como uma nova gura considerada transcendental.Como nos mostra Neves (2002), ao tentar se apoderardos seres humanos por dentro, ele busca se personicarcomo um verdadeiro empreendedor ontolgico.Mas o que se encontra em jogo efetivamente nestaoperatria? importante observar que o prprio Estadoassume na atualidade, uma funo secundria em favordo capitalismo globalizado. Na verdade, ele continuaservindo como eixo organizador das relaes atravs danormatividade jurdica. Mas se at aqui ele se supunhatranscendental, o imperativo da expanso capitalista(desdobrada nos dispositivos de controle baseados navolatilidade do capital nanceiro) assumiu propores

    to gigantescas, que acabou por tornar invivel a funoreguladora do Estado sobre a movimentao dessecapital voltil. Guattari (1977) j havia assinalado essatransio, de um regime sedentrio e regionalizado paraum sistema apoiado na dinmica de mecanismos exveisno contexto macro e micro social, como caracterstica doCMI. Autores como Gilberto Dupas (1999) armam, porexemplo, que os Estados nacionais tm encontrado bvioslimites em relao a sua atuao, sendo este um sintoma5A desmedida se encontra na prpria armao insurgente do poder constituinte.Se considerarmos o institudo, o estabelecido como um sistema fechado, nelea desmedida se impe como necessidade de abertura. Em relao ao tempo,Chronosse fecha e se espacializa como medida do tempo e um tempo medida.Entretanto, o acontecimento escapa sempre a qualquer formalizao. Ele se torna

    assim uma desmedida, aquilo que desequilibra, que subverte. Como nos mostrao autor na exposio desta temporalidade usando como exemplo o paradoxo doarqueiro: o tempo , na echa que o constitui, a desmedida entre aquele antese este depois (NEGRI, 2000a, p. 70).

    da nova fase do capitalismo. E mais desastrosa ainda paraa pretensa transcendentalidade do Estado, a presso queeste ordinariamente sofre para reduzir suas atribuies,a m de que seu territrio representado possa desfrutardos investimentos do mercado global. Em certa medida,os Estados no tm hoje outra alternativa seno tentaratrair as transnacionais, de forma a garantir empregos

    e receitas ao pas (DUPAS, 1999, p. 130). O Estadotransforma-se numa espcie de refm do mercado decapitais, gurando mais como um dispositivo de controle,represso e excluso a servio do sistema capitalista.Ele torna-se verdadeiramente sua agncia reguladora.

    Na verdade, estamos diante de uma transformao nosmodos de acumulao prprios do capitalismo. DavidHarvey (1990) analisa as transformaes ocorridas nomodo de produo capitalista a partir dos anos setenta

    por intermdio do que ele conceitua como regime deacumulao. Este descreve a estabilizao, por um longo

    perodo, da alocao do produto lquido entre consumo eacumulao; ele implica alguma correspondncia entre a

    transformao, tanto das condies de produo como dareproduo dos assalariados (HARVEY, 1990, p. 118).Sua descrio baseada na transio entre o regime deacumulao caracterstico do modelo fordista para omodelo contemporneo da acumulao exvel. Ea transio para esse novo modelo teria como uma desuas condies, a descentralizao do papel do Estado naregulao dos processos econmicos:

    Hoje, o Estado est numa posio muito mais problemtica. chamado a regular as atividades do capital corporativo nointeresse da nao e forado, ao mesmo tempo, [...], a criarum bom clima de negcios, para atrair o capital nanceiro

    transnacional e conter [...] a fuga de capital para pastagensmais verdes e mais lucrativas (HARVEY, 1990, p. 160).

    O que desejamos demonstrar que no contemporneo,o capital, em detrimento do Estado, torna-se o novotranscendental. E o fenmeno da globalizao nosindica ainda, a formao de uma nova ordem mundial

    baseada em um novo modelo de soberania. Hardt eNegri (2000) a deniro como Imprio, uma ordempara alm dos Estados constitudos: Nossa hiptesebsica que a soberania tomou nova forma, compostapor uma srie de organismos nacionais e supranacionais,unidos por uma lgica ou regra nica. Essa nova forma

    global de economia o que chamamos de Imprio(HARDT; NEGRI, 2000, p. 12).

    No contexto da formao de uma nova ordemglobal imperial, h uma signicativa transformao nasrelaes de poder, que no se polarizam ou se modulamsomente segundo o eixo gravitacional do Estado.Concomitantemente sua condio secundria no planoregulatrio das relaes, registramos uma mudanano prprio eixo gravitacional. Isso implica uma totalrecongurao das relaes polticas e de poder, pois oEstado perde sua antiga funo. A poltica ganha novaconotao e amplia seu foco de atuao para alm da

    Polis, dos Estados-Nao e dos territrios. Deparamo-nosno contemporneo, com uma verdadeira deslocalizaodo poltico. E o poder constituinte da multido nos leva a

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    A produo de subjetividades no contexto do capitalismo contemporneo: Guattari e Negri

    este entendimento, pois toda ao sendo oriunda de umapotncia, ou conjunto de potncias, torna-se eminentementepoltica. Por conseguinte, esta se vitaliza e se renovaincessantemente, transpondo um lugar ou um domnioque lhe caracterize. Poltica vida. Ela est na ordem dasrelaes de poder e da produo de subjetividades. Tudoento passa a ser de interesse poltico, no sentido de uma

    autogesto da vida. Trata-se, portanto, da armao deum governo de si mesmo em contrapartida a instituiode uma cvitas. Para alm do macro, as micropolticas seoriginam no embate entre as potncias da multido. Maso capitalismo, em suas mltiplas modulaes, impe lgica da autorregulao das foras coletivas, um poderconstitudo em termos de um coletivo pensado comoconjunto de indivduos e consolidado na expropriaotranscendental do contrato (comum acordo). Ele liberaos uxos inerentes vida, com a condio de que estesse modulem a seu modo de funcionamento, impondo sualgica como agencia reguladora.

    Consequentemente, o capitalismo global, investindosobre a vida em toda a sua generalidade, tende a seapropriar da produo de subjetividades na dimensode sua temporalidade. Autores como Octvio Ianni(1995) armam, por exemplo, que a globalizaoinveste fundamentalmente sobre o tempo e o espao,modicando radicalmente nos ltimos anos a forma demanipul-los. O capital tenta, na verdade, se apropriarda vida em sua potncia heterognea de variaocomo produo. Sabemos que ele organiza essasduas instncias no campo produtivo. Mas a discussosobre esse assunto no se esgota, por exemplo, numasimples questo logstica do espao geogrco e da

    administrao do tempo produtivo e de trabalho prprios instalao de um complexo industrial transnacional, oumesmo na transmigrao deste complexo de uma regioou pas para outro. As corporaes podem atualmenteocupar minimamente o espao de alguns andares em umarranha-cu em qualquer lugar do globo e investir numsistema virtual de representatividade de seu produto,desobrigando-se de investimentos em setores primriosde produo:uma das maiores fabricantes de tnis domundo, no produz nenhum cadaro sequer (DUPAS,1999, p. 42). Mesmo nas grandes indstrias de base essatransmigrao j se congura rotina. Uma imensa fbrica

    de automveis ou uma siderrgica podem facilmentemudar de localidade, bastando para isso lhes ser ofertadauma reduo de carga tributria, ou que o valor de mode obra numa outra regio seja sucientemente atrativo.A globalizao tambm produziu transformaes sobrea movimentao dos uxos nanceiros. Eles circulamlivremente de territrio em territrio, num continuumque, embora no dissolva, consegue transpor as fronteirasdos Estados-Nao subvertendo suas regulaes. Talexibilizao na transmigrao dos bens de produo edo uxo nanceiro, nos indica uma mudana radical narelao com o tempo. Ele de certa maneira se acelera,segundo as determinaes da lgica global. Graas aodesenvolvimento tecnolgico, a produo se aperfeioa,

    produzindo-se mais em menos tempo. As transaes

    nanceiras tambm se beneciaram dessa otimizao. Atecnologia digital possibilita transaes instantneas entraas bolsas de valores e demais organizaes nanceiras;a internet e a tecnologia digital produziram umaincomensurvel agilidade no processamento e circulaode informaes, alm de um ecaz sistema de controle evigilncia, alterando o panorama geopoltico do planeta.

    Entretanto, h de se estabelecer nesse momento,uma diferena crucial em relao ao investimentosobre o tempo e o espao por parte do capitalismocontemporneo. No se trata mais de uma simplesorganizao destas categorias ou dos recursos delasoriundos. Desejamos enfatizar que a vida como produose torna um fenmeno cuja essncia o prprio tempo.A questo no mais a de organizar e controlar a

    produo sobre um tempo-espao a priori. O prpriotempo, e consequentemente, o espao tornam-se agoraos verdadeiros agentes produtores. Todos os regimes devariabilidade seja esta fsica, biolgica ou psicolgica, seoriginam dele. O tempo o cerne da vida como processoincessante de produo. No s o homem, sujeito dacultura, que produz e transforma a natureza. J no sesustentam mais contradies como essas, e a natureza

    passa a ser vista como regime maqunico de produo,tal como nos armam Deleuze e Guattari (1966) emO Anti-dipo. No devemos, portanto, nos referir

    produo como nos sistemas econmicos tradicionais,interpretando-a como ao industriosa especca aohomem ou cultura, mas produo de produo:

    O consumo e o registro determinam diretamente aproduo, mas a determinam no seio da prpria produo.De tal modo que tudo produo: produo de produes,

    de aes e reaes; produes de registro, de distribuiese de pontos de referncia, produo de consumos, devolpias, de angstias e de dores. Tudo produo: osregistros so imediatamente consumidos, destrudos,e os consumos diretamente reproduzidos (DELEUZE;GUATTARI, 1966, p. 09).

    A vida se autotransforma. Ela se produz segundo umregime de variao inerente ao tempo. E o capitalismoglobal tende a investir nisso. Ele se expande sobre estenovo registro da produo que a prpria vida e, paratal, tenta se apropriar do tempo como solo-fundao doregime de variabilidade. Desse modo, o capitalismo,

    em seu movimento de expanso, tenta se impor como oeixo organizador de toda e qualquer relao. no tempoque o capital quer se plugar a todo custo, com unhas edentes! Se defendermos a hiptese de que a vida temseu fundamento constitutivo num regime especial detemporalidade, nossa investigao nos leva a crer queo capitalismo quer se apropriar dela em seu carterontogentico e por consequncia, da potncia de variaoque lhe corresponde. Ao se apropriar da vida ele investe(no melhor sentido de um empreendedor voraz e vido porum nicho de mercado potencialmente gerador de lucro)sobre essa potncia. deste modo que o capitalismo se

    torna eminentemente um empreendedor ontolgico. Elequer se inltrar no ser das coisas, ser a imanncia dondetudo ui. Da sua aspirao transcendental. A hiptese

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    a de que o capitalismo sobrepe velocidade do tempocomo devir, a acelerao de Cronos. Como armaGuattari (GUATTARI; ROLNIK, 1986, p. 43): A ordemcapitalista incide nos modos de temporalizao. Eladestri os antigos sistemas de vida, ela impe um tempode equivalncias, a comear pelo assalariamento, atravsdo qual ela valoriza as diferentes atividades de produo.

    O tempo do capitalismo e a produo de subjetividades

    No mago do poder constituinte, a contrao dotempo cronolgico num acontecimento instituintenos indica a passagem a sua forma pura, assumindo acondio de potncia criadora. Porm, lembremos queela se ope acelerao de Cronos, caracterstica docapitalismo. A primeira relaciona-se ao devir, gerandonovos agenciamentos, novas formas, modos de ser e estarno mundo. Ela nada tem a ver a princpio, com a segunda,ordinariamente entendida como o tempo acelerado dasconexes instantneas do mercado de aes, ou o ritmocada vez mais rpido de vida nos centros urbanos, como

    exemplos de uma suposta acelerao temporal. Nesteltimo caso, estamos nos referindo ao tempo cclico. Ele efeito da captura do tempo no acontecimento. Pensar deoutro modo, no plano poltico, a eminncia de um tempo

    puro como fundamento da imanncia e das singularidadesque compem a multido, nos leva sem dvida, a umadiscusso sobre a produo de subjetividades queescape ao modelo de organizao baseado num eixotranscendental. Como nos aponta Flix, a produode subjetividades pelo CMI serializada, normalizada,e centralizada em torno de uma imagem, de umconsenso subjetivo referido e sobrecodicado por uma

    lei transcendental (GUATTARI; ROLNIK, 1986, p.40). A subjetividade se encontra, portanto, no centro doembate entre o poder constituinte e o poder constitudorepresentativo e legitimador do Estado regulador, poisse ela singularidade, s pode assim se designar comoexpresso das potncias da multido, plena armaodo poder constituinte como garantia democrtica de suarevolucionalidade. Consequentemente, apostar numarevoluo constante como base do poder constituinteimanente, em contraposio ao poder constitudo doEstado, armar novos modos de singularizao quesejam espontneas manifestaes desse poder, resistindo captura ostensiva perpetrada pelas instituies e pelos

    diversos organismos que compem o corpo social emseus mais variados dispositivos de controle.

    A subjetividade constitui-se na singularidade deum tempo intempestivo. No se trata simplesmentede uma singularidade atribuda a um sujeito, mas dodesenrolar do tempo nos fenmenos relativos vida,tida aqui como processo maqunico. Ou seja: as linhasse estraticam, se codicam e se sobrecodicam, mas a

    pulso insistente relativa ao Kairsproduz desmedidas,desarranjos, variaes, novas transmutaes, produzindonovas formas de funcionamento. As mquinas desejantesinoculam a produo no produto. Por conseguinte, a

    produo diz respeito pulso de variao inerente vida e cujo solo-fundao oKairs, essncia do poderconstituinte. Tal o cerne do plano de imanncia. Logo, a

    produo de subjetividades considerada questo centralna geopoltica de expanso capitalista. Da a importnciamonumental da discusso proposta por estes autoressobre o tema, delineando-se o movimento de sua capturaengendrado pelo capitalismo globalizado contemporneo,

    pois o lucro capitalista fundamentalmente, produode poder subjetivo (GUATTARI; ROLNIK, 1986, p. 32).

    A expanso capitalista paradoxalmente, no investemais somente em uma direo espacial como territrioexterno ao sujeito. O que se desdobra uma expanso

    para dentro, uma expanso que investe na contrao dotempo cronolgico e do espao, no esforo de capturarseu elemento disruptor, o qual armamos ser o regimede temporalidade inerente multido. Trata-se deuma expanso no sentido do mnimo, ou singular. Ocapitalismo inverte a lgica de expanso, mergulhandona nma extenso da subjetividade, buscando seapropriar dela em sua gnese. Por isso, uma geopolticadada em um regime molecular das relaes de poder.Sua pseudo transcendentalidade se arma por meio dasubjugao deKairsa um poder constitudo, segundo anova lgica do capital. Hardt e Negri (2000) armam queum dos movimentos do novo poderio soberano imperialfoi justamente o de sobrepujar os antigos binarismossegregatrios fundados, por exemplo, no princpio dadialtica hegeliana como base de formao jurdica dosEstados-Nao. Na experincia do iluminismo existiamduas tradies distintas: a do humanismo renascentista,com a celebrao da imanncia, da singularidade(pensadas com Duns Scott e Spinoza, dentre outros); e aoutra tradio racionalista, na busca do controle das forasda primeira tradio. O modo transcendental dialtico

    dualista serviu por um longo perodo como princpio deorganizao dessas foras. Mas as transformaes dadasno desenvolvimento da soberania global levaram a umaexibilizao das fronteiras e abolio das dicotomias,num aparente movimento de reinveno das instituies:Os binarismos e dualismos da soberania modernano so desorganizados apenas para que outros seestabeleam. Ao contrrio, o prprio poder dos binrios dissolvido quando fazemos as diferenas atuarem sobrefronteiras (HARDT; NEGRI, 2000, p. 159). Nessesentido, poderamos armar que na nova ordem mundial,o capitalismo exalta a armao das diferenas, deixando

    transparecer apenas uma exibilizao das fronteiras antesrgidas na geopoltica das relaes de poder. A estratgiadeixa de ser a de rechaar ou reprimir as diferenas e

    passa a ser a de distribu-las em linhas limtrofes deorganizao e regulao: Essas diferenas, claro, noatuam livremente num liso espao global, mas so de

    preferncia arregimentadas em redes globais de poder,que consistem em estruturas altamente diferenciadas emveis(HARDT; NEGRI, 2000, p. 169). Portanto, noforam dissolvidas as fronteiras. Pelo contrrio, a meta fazer as diferenas atuarem sobre elas como dispositivosde regulao de conitos. A diferena apregoada pelocapitalismo diz respeito variao de um modelo numamedida, srie ou padro, que pode ser denominadacomo estrutura ou fronteira transcendental a priori. E se

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    A produo de subjetividades no contexto do capitalismo contemporneo: Guattari e Negri

    a Diferena como subjetividade ou temporalidade pura o solo desmedido da variao da vida e da produo,o capitalismo em sua lgica expansionista tenta delaapropriar-se, regulando seu regime de variabilidade:

    Circulao, mobilidade, diversidade e mistura so ascondies que a tornam possvel. O comrcio junta asdiferenas, e quanto mais, melhor! As diferenas (de

    mercadorias, de populaes, de culturas e assim por diante)parecem multiplicar-se innitamente no mercado mundial,que no ataca nada com tanta violncia como as fronteirasxas: ele esmaga qualquer diviso binria com as suasinnitas multiplicidades (HARDT; NEGRI, 2000, p. 168).

    Trata-se efetivamente, de uma produo desubjetividades. Porm, de subjetividades capturadas. Seo poder constituinte nos impele ao carter revolucionrioda multido como gnese das singularizaes ou dosmodos de existncia, a contra revoluo se caracteriza

    justamente pelo cerceamento desta potncia. A estratgiado capitalismo contemporneo consiste em capturar

    a potncia revolucionria nela implcita, isto , seapropriar da dimenso do tempo como fundamento damultido. Uma vez efetivada a captura, a produo desubjetividades passa a se orientar segundo uma lgicadita transcendental, na qual a potncia constituinte expropriada num processo de ordenao temporal, numanormatividade transcendente preestabelecida. E nessesentido que o consideramos funestamente como umempreendedor ontolgico.

    Capitalismo e controle

    Conclumos que o capitalismo paradoxalmentearma seu funcionamento pela contnua apropriao,

    regulao e liberao dos uxos inerentes vida. muito fcil acreditar que na atualidade alcanamos oauge do liberalismo. Tudo permitido, contanto quese pague um preo alto. O preo segundo Deleuze(1990), o controle. Este se caracteriza justamente poressa liberao dos uxos na medida proporcional,estreita e direta de sua modulao moeda corrente e aouxo monetrio do mercado nanceiro como expressomxima da circulao de valores. A partir do momentoem que a prpria vida tornou-se um bem com seucorrelato valor de uso e de troca, nada se deixa escapara uma possvel modulao num espectro em moeda.

    Consequentemente, todos os fenmenos da vida passam aocupar as prateleiras do mercado, constituindo-se bens deconsumo. A tendncia, a princpio, de que nada escapea esse novo regime de expansividade do capitalismoglobal. Este passa a se expandir explorando a potnciade variao, e com isso lhe impondo ostensivamente umacorrelao de valor. Deparamo-nos aqui com um embatemicropoltico por excelncia, pois se as potncias da vidaou da multido compem o campo das prticas, tendo por

    base a coletividade, estas dizem respeito a um verdadeiroplano imaterial ou molecular. Plano heterogneo deintensidades, de afetos, que se atravessam, se conectam,se modulam e produzem, em seus agenciamentos, os

    mais variados modos de existncia. Por um lado, vemoso capitalismo em sua vertente de apropriao da vida a

    partir da instituio do controle como forma de captura.Por outro, os fenmenos de expanso da multidoindicam tambm um agenciamento potencializador da

    prpria vida. Da a proposio feita por Guattari de umamicropoltica como resistncia s formas de dominao.

    O capitalismo, em seu implacvel movimento deexpanso, busca expropriar o plano de imanncia,

    produzindo o sucateamento das existncias ao lhesimpor uma forma de controle sobre os processos desubjetivao. Esta a diculdade de se tentar enfrentara estratgia contra revolucionria imperial, pois a

    princpio, o empreendedor ontolgico j percebe aproduo como inerente no exclusivamente ao humano,mas vida em sua totalidade. Ele se apropria da potnciade vida como produo. Mas cabe sempre lembrar queas multiplicidades emergem na gnese e na metamorfosede uma produo eminentemente maqunica, centrada nasingularidade dos acontecimentos, no devir. A produose congura como um fenmeno da vida como umtodo. Consider-la como exclusiva ao homem ou aosujeito da cultura que transforma a natureza, a falciatranscendental que oculta o verdadeiro sentido do poderda multido. Porm, a vida sempre escapa ao controle enela a desmedida se impe, subvertendo o estabelecido, oinstitudo. Desejo versusordem. Mas, se o capitalismose apropria da potncia de ilimitao no o faz pela sualimitao ou represso, mas por sua plena explorao.Da, a lgica de expanso capitalista se moldar variaoda vida enquanto sua principal caracterstica. Da mesmamaneira pela qual o poder constituinte interiorizado

    pelo poder constitudo, a variabilidade inerente vida interiorizada no regime de expansividade do capitalismo.

    Surge ento, uma espcie de variao a partir do controlee ela diz respeito submisso da potncia de ilimitao aum pressuposto vetor como gnese e como organizadordessa variabilidade. Consequentemente, este assumeo status de transcendental. E, considerando a tentativado capitalismo de se apropriar da variao inerente vida como produo, a grande inovao torna-se o fatodeste no se congurar mais unicamente como doadorde trabalho. Ao se apropriar da potncia de variabilidadeele torna-se fundamentalmente doador de tempo. Elecanaliza os processos produtivos da vida como umtodo e, em especial, se apropria da temporalidade

    como motor dessa produo, fazendo-os operar sob umprincpio nico. Ou seja, o capitalismo visa apropriar-se da potncia em sua gnese. Portanto, ele buscacapturar o prprio tempo e se no consegue realizarintegralmente esta faanha, tenta ao menos lhe impor umvetor de ordenao e organizao, sobre o qual toda avariao deva uir. Tal a caracterstica do capitalismocontemporneo: o cerceamento da potncia de ilimitao(fundamentada na dimenso do tempo relativo aos

    processos de subjetivao) se d pela instituio de eixostranscendentais, organizadores de sua variabilidade.A operao consiste em deslocar para coadjuvantea mutabilidade prpria ao tempo intempestivo, doacontecimento relativo ao Kairs, submetendo-o a umtempo linear e cronolgico como vetor de organizao

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    a priori de toda variao. O capitalismo torna-se doadorde tempo na medida em que ele expropria o processode produo inerente vida. Ele desterritorializa os

    processos de subjetivao, fazendo-os reterritorializarsegundo sua lgica estruturante. Desta maneira ele insisteem se apropriar da funo do tempo nos fenmenos da

    produo de subjetividades.

    Concluindo: O atrevimento de singularizar

    Investir na coletividade, na potncia dasmultiplicidades, nos devires minoritrios. Produzir emcada canto, revolues moleculares nas quais a maiorvirtude seja a de suplantar os dispositivos de controle eescapar lgica imposta pelo capitalismo contemporneo: preciso que cada um se arme na posio singular queocupa; a faa viver, que a articule com outros processos desingularizao e que resista a todos os empreendimentosde nivelao de subjetividade (GUATTARI; ROLNIK,1986, p. 50). Trata-se de armar a singularidade nelamesma como tal, de se apropriar daquilo que acontece

    em si e a partir de si mesmo. Governo de si ao invs derenncia ou pactos de representatividade. Subjetividadeinsurgente versus poder imperial. Entretanto, armar assingularizaes j no nos parece suciente, uma vez queo prprio capitalismo tambm as arma. E pior do queesse fato o movimento estabelecido de se tragar qualquermote de subjetivao divergente, de inltrar-se nele pordento e corromp-lo, impondo-lhe sorrateiramente sualgica de valor e tornando-o mais um produto em sua

    prateleira de novidades prt--porter. A m de resistira esse movimento Guattari insiste num investimentoconstante na coletividade. No nos indivduos ou grupos

    somente, mas principalmente na potncia heterogneaque se arma no plano de imanncia como base dasnovas singularizaes neles perceptveis.

    Mas como estabelecer movimentos divergentes, se ocapitalismo j se instala no mago do ser e se apropriado tempo? Negri (2000a, p. 148-149) conclui que acaracterstica maior da multido o amor pelo tempo,amor pela singularidade naquilo que ela , para alm dosmodos ou formas singularizadas. O que nos mostra oautor justamente a falncia dessa suposta apropriao.Os dispositivos jurdicos do Estado e do Capital jno do mais conta da innidade de acontecimentosque se deagram no globo a todo instante, pasmem,

    potencializados muitas vezes pelos prprios dispositivosde controle que o capital tenta impor. Neste sentido,cabe a insistncia no investimento no tempo da multidocomo vetor de subjetivao: Tempo uma experinciacoletiva que ganha corpo e vive nos movimentos damultido (HARDT; NEGRI, 2000, p. 425). Hardt e

    Negri (2000, p. 427-431) nos mostram que se trata deuma reapropriao da vida como produo e de uma

    posse, considerada em termos do que o corpo e a mentepodem fazer. O contemporneo se arma assim como umnovo momento de insurgncia dos poderes da multido.E camos, sob a inspirao de Guattari, com a mensagem

    nal desses autores, de que a atitude por excelncia a do

    militante que resiste criativamente ao comando imperialna produo de novos modos de ser e estar no mudo, nummovimento incessante de contgio.

    Referncias

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