Faça a coisa certa - um ensaio sobre a obra de Spike Lee

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 aça a coisa certa - um ensaio sobre a obra de Spike Lee Dowglasz Abhorsky Nramachandra  Assistindo ao fi lme F AÇA A COISA CERTA, de Spike Lee, é possível compreender como se dá, na pr ática, a po lariza çã o do neonazismo, sugerida no ensaio RACIALIZAÇÃO DA CULTURA E INTERCULTURALIDADE, de minha autoria, e também observ ar a influência da hipnagogia utilizada pela mídia sobre a sociedade, explicada em ensaio futuro. O Neonazismo polarizado Quanto à polari zaç ão do neonazismo, inclusive pelo contexto temporal do filme, observa-se o efeito em sua fase inicial nos EU A. A convenção de “bairro negro”, conferida pelo apar the id, é aceita, assimilada e defendida por esses “negros” que ali  vivem, gerando um paradoxo sobre a ideia de que o apartheid teria sido uma imposição – es pe cialme nt e ao se inte rp re tar qu e os “brancos” seriam os autores dessa imposição. O que se observa nas ruas do filme é que os “neg ros” odeiam os “brancos”, mas não somente. Os “negros” vivem em um bairro “negro”, logo os “não-negr os” não são bem-v indos ali: os “não-negr os” que insistem em “fazer parte” do bairro “negro” são odiados pelos “donos do lugar”. Natural e historicamente, os “brancos” e os “negros” se odeiam mutuamente. Mas, nesse “bairro

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Ensaio inspirado no filme FAÇA A COISA CERTA, de Spike Lee. Analisa a polarização do Neonazismo através do Progressivismo.

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Faça a coisa certa - um ensaiosobre a obra de Spike Lee

Dowglasz Abhorsky Nramachandra

 Assistindo ao filme FAÇA A COISA CERTA,de Spike Lee, é possível compreender como sedá, na prática, a polarização do neonazismo,sugerida no ensaio RACIALIZAÇÃO DA CULTURA E INTERCULTURALIDADE, de minhaautoria, e também observar a influência dahipnagogia utilizada pela mídia sobre asociedade, explicada em ensaio futuro.

O Neonazismo polarizado

Quanto à polarização do neonazismo, inclusivepelo contexto temporal do filme, observa-se o efeitoem sua fase inicial nos EUA. A convenção de“bairro negro”, conferida pelo apartheid, é aceita,assimilada e defendida por esses “negros” que ali vivem, gerando um paradoxo sobre a ideia de queo apartheid teria sido uma imposição –especialmente ao se interpretar que os “brancos”seriam os autores dessa imposição.

O que se observa nas ruas do filme é queos “negros” odeiam os “brancos”, mas não somente.Os “negros” vivem em um bairro “negro”, logo os“não-negros” não são bem-vindos ali: os “não-negros”que insistem em “fazer parte” do bairro “negro” sãoodiados pelos “donos do lugar”.

Natural e historicamente, os “brancos” e os“negros” se odeiam mutuamente. Mas, nesse “bairro

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negro” do filme, o ódio dos “brancos” é suficientepara os “negros”; porém o ódio dos “negros” édemais apenas para os “brancos”, sendo estendidoaos coreanos que também aparecem no contexto.

 Ainda pior, o ódio dos “negros” é tão grande eextensivo que é autonocivo, como se observa nacena descrita a seguir.

O Neonazismo Polarizado é extensivo eautonocivo

Os três velhos que ficam sentados na rua

“observando o movimento”, como se diz, são“negros”. Mas um deles, o do meio, é desprezadodentro desse mesmo grupo, quando o da esquerdalembra que aquele é porto-riquenho. Isto significadizer que o “ódio negro” não está necessariamenteligado à cor da pele, como o “ódio branco”; istosignifica dizer que o “ódio negro” não é racista,

mas xenófobo. Qualquer um que possa ter vindo“de fora” será odiado, mesmo que isto signifiqueodiar a própria família ao descobrir que seusascendentes vieram de outro território. E signifiqueainda que, ao odiar a própria família por essemotivo, o indivíduo tenha que odiar a si mesmo jáque, por extensão, ele também seria “de fora”.

Olho por olho, e já estamos todos cegos;dente por dente, e já não nos alimentamosde sólidos.

Os italianos, da pizzaria, “brancos”, odiavam eeram odiados pelos “negros” do bairro, mas nãoestabeleciam esse tipo de relação com os coreanos,

da mercearia, que além de ser de outra “raça” ede outra “etnia”, ainda eram concorrentes nocomércio. Os coreanos também eram odiados pelos

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“negros”, apesar de não retribuir o mesmo ódio eaté, por medo ou não, dizem no final do filme“nós somos iguais”, recebendo como resposta dos“negros” o típico desprezo e rispidez de quem odeia

gratuitamente acima de tudo. Me incomoda não ter visto nem mesmo a mais simples expressão desseódio entre os italianos e os coreanos.

Estudando a polarização do Neonazismoatravés do Progressivismo

No filme, como dito acima, observam-se essas

características da polarização do neonazismo em seuestágio inicial. Hoje, ao sair na rua, ao ler oPNE, ao participar das discussões sobre “afro-brasilidade”, “afro-cultura” e “afro-afinidades” épossível perceber como o neonazismo se desenvolveuao longos dessas poucas décadas. Aplicando osconceitos do PROGRESSIVISMO, então, pode-se

concluir, como dito em outras discussões, que umdos objetivos de declarar, por exemplo, a Bahia não mais como território brasileiro mas como territórioafro-brasileiro é justamente reunir aqui essas pessoas que odeiam esse lugar, que odeiam essa cultura eque odeiam esse povo – tendo construído e jádisseminando, uma nova cultura, uma nova história,um novo contexto, um novo mundo. Mais tarde,quando já não for mais possível manter tantos“africanos” em território politicamente brasileiro egeograficamente americano então todas as pessoas queaqui nasceram porque seus familiares foramsequestrados, serão todos enviados de volta para“casa”, de volta para o lugar onde seus antecessoresnasceram e deveriam ter vivido: a África.

O problema é decidir arbitrariamente que eu ou você somos negros, que sendo negros somos “afro-

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descendentes”, que sendo “afro-descendentes” devemos voltar para a África. Eu nunca sequer conheci a África, portanto nem mesmo poderia voltar para lá.E, se fosse o caso de recuperar minha árvore

genealógica, registrá-la no único documento aceitopara tal (a Carta de Pedigree) e decidir voltar parao lugar onde meus ascendentes nasceram, certamenteeu teria uma grande variedade de opções. Nãosendo possível, já que não se usa esse documentopara pessoas, apenas a própria pessoa pode falarsobre isso – e eu baseio esse argumento na Lei.

Não havendo nada nem ninguém que possaconfirmar ou desmentir essas informações, eu possoora dizer que sou afrodescendente, ora dizer quesou descendente de portugueses, e depois dizer quesou descendente de índios. Sendo brasileiro é atéprovável que eu não esteja mentindo em nenhumadessas ocasiões. Ninguém poderá confirmar oudesmentir porque não haveriam dados suficientes. Ainda assim, no instante seguinte ao que eu fizessequalquer uma dessas afirmações, ninguém poderiasequer repetir as minhas palavras ou eu poderiaabrir processo por calúnia, difamação, injúria,discriminação, racismo, xenofobia...

Resumindo: ninguém, absolutamente ninguémalém da própria pessoa pode fazer afirmações sobre

sua ancestralidade.

A mídia manipuladoraQuanto à hipnagogia praticada pela mídia, no

filme pode-se observar um radialista que fica o diatodo numa transmissão ao vivo como de dentro deuma vitrine onde ele observa tudo o que acontece

no bairro, de dentro de sua redoma. Ele descreveos fatos, emite sua opinião e dá sugestões. Talvez

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a sugestão mais importante seja “Hoje será um diaquente!”, mensagem recebida pelos ouvintes quandoainda estão dormindo. A ordem de acordar veminstantes depois, com a mesma voz. Criticamente, é

possível encontrar relações entre o caos estabelecidono bairro e as transmissões dessa rádio. E é tudoque eu irei comentar sobre hipnagogia nessemomento, deixando ainda um dever de casa paraas crianças responderem: qual o papel da mídia nasociedade?Dwsz.

Tags: Faça a coisa certa, Spike Lee, Nazismo,Neonazismo, Racialismo, Racismo, branco, negro,apartheid, xenofobia, Progressivismo, miscigenação,segregação, afro-descendente, hipnagogia, hipnose, mídia,manipulação.