Facilitacao grafica em projetos editoriais izabel meo 2014

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Facilitação Gráfica no Brasil e seu Uso em Projetos Gráficos Editoriais

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Trabalho de conclusão de curso de Pós Graduação em Design Editorial pelo SenacSP

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Facilitação Gráfica no Brasil e seu Uso em Projetos Gráficos Editoriais

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SENACIzabel Marques Meo

A Facilitação Gráfica no Brasil e seu uso em projetos gráficos editoriais

São Paulo2014

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Izabel Marques Meo

A Facilitação Gráfica no Brasil e seu uso em projetos gráficos editoriais

Trabalho de conclusão de cursoapresentado ao Senac – Unidade Lapa Scipião,

como exigência parcial para obtenção dograu de Pós Graduação em Design Editorial

Orientador Profº Henrique Nardi

São Paulo2014

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(ficha catalográfica)

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Às minhas avós e aos meus avôs

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Izabel Marques Meo

A Facilitação Gráfica no Brasil e seu uso em projetos gráficos editoriais Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Senac – Unidade Lapa Scipião, como exigência parcial para obtenção do grau de Pós Graduação em Design EditorialOrientador Profº Henrique Nardi

A banca examinadora dos Trabalhos de Conclusão, em sessão pú-blica realizadaem__/__ /____ , considerou o(a) candidato(a):

1) Examinador(a)2) Examinador(a)

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Agradeço minha mãe, Célia Regina Marques da Silva Meo, que acreditou em mais essa loucura.

Agradeço minha irmã, Bianca Marques Meo, meu pai Elias Meo e meu noivo, Rafael Lopes de Matos, que compreenderam minha ausência e sempre me estimularam.

Meu orientador, Henrique Nardi, por ter embarcado nessa comi-go e ter descoberto afinal, o que é facilitação gráfica.

A Vitor Massao, meu amigo inspirador que me ajudou a entrar nesse mundo.

À Arlete Rodrigues, Guilherme Aleixo, Lidiane Suman, Bruna Okamura, Mônica Ramos, Luive Osiano, Márcio Bonfá, Felipe Villela, Beatriz Filgueiras, João Paulo Amaral, Izabela Machado, Martina Horvath e Arnaldo Batista, membros da equipe do Idec que me inspiram também. Agradeço pela feliz companhia que me fazem todos os dias, por compreenderem meus atrasos nos últi-mos meses e minhas experimentações de facilitação gráfica em nossas reuniões.

A todas as fantásticas mulheres facilitadoras gráficas que me deram entrevistas para esta monografia, além do Vitor Massao.Fiquei apaixonada por todas vocês: Camila Rigo, Carla Hirata,

Carolina Ramalhete, Donatella Pastorino, Fernanda de Paula, Mila Motomura e Wânia Borges.

Ao coletivo da Escola de Ativismo, do qual faço parte e onde tive o primeiro contato com facilitação gráfica. Obrigada equipe por também entender minhas ausências.

Ao meu professor e amigo, Marcio Freitas, pelos e-mails de ma-drugada com ideias para este trabalho, ainda na fase de projeto, e pelos e-mails de madrugada para conversar e distrair um pouco.

A Regiane Santana, Daiane Ramos, Patrícia Ishihara, Geraldo Teixeira Junior, Andrea Bruno, Felipe Santiago, Madalena Ma-der, Adriano Kitani, Samira Souza e todos os demais alunos e alunas da turma de 2012-2014 do curso de pós Graduação em De-sign Editorial do Senac que, desde o primeiro dia de aula, foram amigos e amigas fiéis e que me ensinaram muito em dois anos.

E sempre a Deus, meu guia, que colocou tantas pessoas maravi-lhosas no meu caminho.

Obrigada!

AGRADECIMENTOS

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“Break your rules when you mean it”Brandy Agerbeck

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This paper has the objective to explain and show what is gra-phic facilitation, who does graphic facilitation in Brazil and how its elements can be explained in editorial projects. It was used for research: books, websites, blogs, professional’s forums, from Brazilian) and foreign sources. Interviews were made with eight professionals active in Brazil. Graphic facilitation is an activity that arrived in Brazil arround 2003, but it started in USA in 1970. Graphic Facilitation consists on making a live record usu-ally in big scale, in big pieces of paper on the wall, with colorful drawings and visual metaphors about what a group or plenary are discussing ou producing at the meeting.

KEYWORDS: 1. graphic facilitation. 2. editorial design. 3. de-sign thinking. 4. ideas map. 5. harvest. 6. graphic recorder

O presente trabalho tem o objetivo de explicar e mostrar o que é facilitação gráfica, quem faz facilitação gráfica no Brasil e como seus elementos podem ser aplicados em projetos editoriais. Foram usados para a pesquisa livros sobre o assunto, sites, blogs e fóruns de profissionais, brasileiros e estrangeiros. Também foram realizadas entrevistas com oito profissionais brasileiros em atividade. A Facilitação gráfica chegou ao Brasil há dez anos, mas nos Estados Unidos existe há trinta anos. A atividade consiste em registrar ao vivo, geralmente em grandes paineis de papel colados na parede, com cores, desenhos e metáforas visuais o que um grupo ou plenária está discutindo ou produzindo.

PALAVRAS CHAVE: 1. facilitação gráfica. 2. design editorial. 3. design thinking. 4. mapa de ideias. 5. colheita. 6. registro gráfico.

resumo abstract

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lista de figuras

Figura 1 - Facilitação Gráfica do discurso de Barack Obama.............18Figura 2 - Processo de trabalho de um facilitador gráfico...................19Figura 3 - Facilitador, ora telescópio, ora ser um microscópio............19Figura 4 - Esquema “cume da montanha”............................................22Figura 5 - Capa do livro Reuniões Visuais...........................................22Figura 6 - Constelação de princípios e habilidades para facilitadores gráficos..................................................................................27Figura 7 - Planejamento Fundo Brasil de Direitos Humanos.............28Figura 8 - O que é Design Thinking......................................................32Figura 9 - Sinergia de trabalho entre os facilitadores.........................35Figura 11 - Montagem com Fernanda de Paula trabalhando..............36Figura 12 - Uma Verdade Inconveniente, de Al Gore..........................37Figura 13 - Facilitação gráfica como base no conteúdo de uma publicação de 18 páginas....................................................37Figura 14 - Modelo de canvas em português.......................................40Figura 15 - Cópia de duas páginas do livro Business Model Generation...45 Figura 16 - Abertura de capítulo do livro Business Model Generation..46 Figura 17 - The Essential 8...................................................................47Figura 18 - Entomofobia........................................................................49Figura 19 - Capa do Livro “Cadernos de Exercícios para Aumentar a Autoestima”........................................................................50Figura 20 - Página dupla “Cadernos de Exercícios para Aumentar a Autoestima”.......................................................................51Figura 21 - Atividade “pintar um arbusto”...........................................51Figura 22 - Capa do livro “Cadernos de Rabiscos para Adultos Entediados no Trabalho”....................................................52Figura 23 - Atividade “pingos nos ‘is’ e engolir sapos”.........................52Figura 23 - Capa de “Destrua este diário”...........................................53Figuras 24a24b - Detalhe de uma das instruções para a destruição....54Figura 25 - Relação entre designers, tecnologia e usuários.................55

Figura 26a e 26b - As condicionantes do designer digital....................55Figura 27 - Capa de DT para Educadores.............................................56Figura 28 - Fluxo do processo de design thinking................................56Figura 29 - Capa do Livro Reuniões Visuais........................................57Figura 30/31 - Tipos de facilitação gráfica............................................58Figura 32 - Capa do Livro BMG............................................................59Figura 35 - Modelo canvas completo e simples.....................................60Figura 33 e 34 - Explicação gráfica do modelo canvas........................60Figura 36 - Capa do PDF BrandyFesto................................................61Figura 37 - Interior da publicação BrandyFesto..................................61Figura 38 - Capa publicação sobre a PNRS.......................................62Figura 39 - Interior da publicação sobre a PNRS................................63Figura 40 - Capa do Relatório do 1º Encontro CRAS..........................64Figura 41 - Interior do relatório 1º Encontro CRAS.............................64Figura 42 - Interior do livro com ilustrações de Rohde........................65Figura 43 - Sketchnote feita por Eva Lotta..........................................65Figuras 44, 45 e 46 - imagens do vídeo The Story of Stuff..................66Figuras 47- Vídeo “Mudando os paradigmas da educação”................67Figuras 48- Final vídeo “Mudando os paradigmas da educação”.......67Figuras 49 e 50 - Projeto Passe Livre..................................................68Figuras 51/52 - Dois momentos do vídeo para Nextel.........................69Figuras 53 - Final do vídeo da Atrium Consultoria............................70Figura 54 - Painel Empreendedorismo............................................... 76Figura 55 - Painel e colheita de Planejamento Estratégico................ 77Figura 56 - Carla Hirata trabalhando.................................................78Figura 57 - Facilitação Gráfica do Coletivo Entrelinhas.....................81Figura 58 - Linha do Tempo da SOFTEX.............................................82Figura 59 - Página dupla do documento Multi&Stakeholder..............83Figura 60 - Carolina Ramalhete..........................................................84Figura 61 - Painel de comemoração do dia da mulher.........................85

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Figura 63 - Água....................................................................................85Figura 62 - Painel sobre Escolas Sustentáveis.....................................86Figura 64 - Donatella Pastorino............................................................87Figura 65 - Registro da palestra do Flavio Maneira............................93Figura 66 - Painel para a Febraban......................................................94Figura 67 - Painel sobre engajamento...................................................95Figura 68 - Fernanda Costa...................................................................96Figura 69 - Facilitação Gráfica em aula da agência C.O.R................101Figura 70 - Construção de Equipe e Planejamento Estratégico na SEE..102Figura 71 - Vitor Massao.....................................................................103Figura 72 - Anotação em caderno - EU MAIOR.................................108Figura 73 - Encontro de Sustentabilidade do Projeto Jovem de Futuro do Instituto Unibanco.......................................................109Figura 74 - Mila Motomura..................................................................110Figura 75 - Fluxogramas para publicação..........................................112Figura 76 e 77 - Frames do vídeo produzido para a Coral Tintas.....112Figura 78 - TedEX Amazônia...............................................................113Figura 79 - Wania Borges....................................................................114Figura 80 - Registro Visual do Evento 4° Geração de Empreendedores...116Figura 81 - Registro Visual do Evento Ideias Inovadoras.................117Figura 82 - Registro Visual do Evento da UFMS e FGV..................118

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Tabela 1 – Comparação entre os processos de trabalho de Brandy Agerbeck e David Sibbet............................................................24

lista de tabelas

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INTRODUÇÃO ..........................................................................14

CAPÍTULO 1 - O que é Facilitação Gráfica...............................16 Definição.............................................................................17 A colheita na facilitação gráfica........................................20 David Sibbet, o ‘pai’ da facilitação gráfica........................21 Princípios da Facilitação Gráfica......................................23 Como se forma um facilitador ou facilitadora gráfico?......................................................24

CAPÍTULO 2 - A importância da linguagem visual.................29 Design Thinking.................................................................31 Design de Informações.......................................................33

CAPÍTULO 3- Os gráficos na facilitação gráfica.......................34 Para elaborar panéis em larga escala e ao vivo...............38 Canvas: facilitação gráfica em função da construção de um modelo de negócios.........................38

SUMÁRIO

CAPÍTULO 4 - Projeto Editorial ...............................................41 Imagens, ilustrações e diagramas....................................44 Diagramas - A estrutura da facilitação gráfica................47 Facilitação Gráfica em projetos editoriais........................50 Vídeos em Facilitação Gráfica...........................................66

CAPÍTULO 5 - Entrevistas com facilitadores/as gráficos........71 Camila Rigo.......................................................................72 Carla Hirata......................................................................78 Carolina Ramalhete..........................................................84 Donatella Pastorino...........................................................87 Fernanda Costa de Paula..................................................96 Vitor Massao....................................................................103 Mila Motomura................................................................110 Wânia Borges...................................................................114

CONCLUSÃO............................................................................119 BIBLIOGRAFIA.......................................................................121 ANEXOS.....................................................................................125

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Esta monografia pretende explicar o que é e onde pode ser aplicada a Facilitação Gráfica. Uma atividade rela-tivamente nova no Brasil, 10 anos, que tem conquistado empresas e organizações sem fins lucrativos inovadoras.

Em busca de uma forma nova e eficiente de registrar ideias e tornar processos participativos mais criativos, designers, administradores, psicólogos, artistas, publi-citários e até professores tem aprendido, e praticado muito, as técnicas e teorias da facilitação gráfica.

Trata-se de uma prestação de serviço, ou atribuição de alguém específico em uma empresa. Um facilitador gráfico é um elemento silencioso em reuniões, debates, palestras e apresentações. Ele, ou ela, registra com fra-ses pontuais e desenhos, geralmente metáforas visuais, usando muita cor, síntese e organização, tudo que vem sendo discutido, demandado, sugerido, aprovado e defi-nido.

Fazemos associações visuais o tempo todo. Quando al-guém nos explica algo só um pouco mais complicado logo solta a famosa frase “quer que eu desenhe?”. Quando ex-plicamos algum caminho, frequentemente desenhamos um mapa, ou quando queremos buscar a relação entre as pessoas, produzimos um pequena árvore genealógica ou organograma da empresa. Além da linguagem visual facilitar processos “naturalmente”, nós pensamos muito por meio de metáforas e parábolas.

introdução

Desde a catequese até palestras motivacionais para equi-pes de vendas, os “facilitadores” (nesse caso não neces-sariamente gráficos) sempre usam exemplos simples e rotineiros para chegar a uma coisa maior, uma diretriz ou meta. Sempre que estamos conversando e alguém nos conta que fez algo errado ou algo não deu certo numa combinação pensamos, e muitas vezes falamos também: “puxa, ele pisou na bola”. Uma clara referência ao fute-bol, mesmo que a conversa seja sobre o mercado de ações ou o planejamento da festa de 15 anos de alguma garota.

A monografia teve duas publicações como principais refe-rências: um livro exclusivamente sobre facilitação gráfica de Brandy Agerbeck, profissional dos Estados Unidos, e outro sobre como a linguagem visual pode deixar as reu-niões muito mais dinâmicas e produtivas, de David Si-bbet, facilitador gráfico norte americano. Também utili-zei livros de design que pudessem ajudar a fazer a ligação de Facilitação Gráfica com a produção editorial.

Além disso, foram feitas oito entrevistas com profissionais brasileiros e uma grande pesquisa na internet, meio pelo qual grande parte deles divulga seu trabalho e troca ex-periências. Em uma avaliação rápida destas entrevistas, podemos perceber que é um mercado dominado por mu-lheres. Das oitos entrevistas, somente uma foi respondida por um homem. Porém, foram mapeados 16 profissionais em atividade no Brasil, sendo somente quatro homens.

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As pesquisas na internet ajudaram a encontrar os pro-fissionais e principalmente buscar a ligação entre eles, esta ligação está graficamente facilitada na abertura do capítulo cinco. Apesar de querer buscar ao máximo o que é e como se faz facilitação gráfica no Brasil, esta monografia focou em projetos editoriais que fossem ba-seados, ou tivessem elementos da facilitação gráfica, ou seja, projetos que tem mais tempo de produção, avalia-ção, revisão, etc com elementos de uma atividade desen-volvida ao vivo e “a mão”. Essa relação pode ser compre-endida no capítulo quatro.

Para chegar nisso e provar que elementos como flechas, caixas, sinais, tipografia manuscrita, cores, linhas, for-mas e “pessoas -palito”, fazem sim diferença na comuni-cação, uma vez que 70% do cérebro humano está focado em elementos visuais, os capítulos três e dois explicam respectivamente a estrutura e tipos de painéis de facili-tação gráfica e a importância da linguagem visual para a comunicação.

Boa leitura!

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CAPÍTULO 1

O que é facilitação gráfica

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Definição

A definição de “facilitação” segundo o dicionário Aulete é (fa.ci.li.ta.ção) sf. 1. Ação ou resultado de facilitar, de remover dificul-dades, embaraços ou impedimentos. 2. Desatenção, descuido. 3. Fisl. Processo através do qual são criadas condições para que um ato fisiológico ocorra de forma mais ágil.4. Jur. Ajuda dada por alguém que facilita a prática ou execução de um ato. 5. Med. Fe-nômeno bioelétrico que torna mais eficaz a transmissão das men-sagens nervosas.

A definição de “gráfica” segundo o mesmo dicionário é (grá.fi.ca) sf. 1. Arte de grafar as palavras. 2. Forma de grafar as letras. 3. Oficina onde são impressos jornais, livros, revistas etc.; TIPO-GRAFIA.

Quando juntas estas duas palavras definem uma atividade nova no Brasil, mas que começou no anos 70 nos Estados Unidos. Pri-meiro em reuniões de equipes de negócios, depois em treinamen-to de lideranças em empresas inovadoras, depois para setores estratégicos, organizações não governamentais, grupos de dis-cussão e até convite para festas. De acordo com as entrevistas feitas para este trabalho, devido a pouca bibliografia em português sobre o assunto, a facilitação gráfica consiste em participar como ouvinte em um grupo que esteja construindo ou debatendo algo ( reunião, debate, encontro, treinamento, palestra), registrar ao vivo o que o grupo produz de conteúdo, ou a que conclusões chegam, sempre focando no essen-cial do que foi dito, de modo a, no fim do dia, se ter um resumo do que foi falado e as deliberações registradas em palavras, frases, expressões e, sempre que possível, desenhos, ilustrações e metá-foras visuais.

A facilitadora gráfica em atividade no Brasil há quatro anos, Ca-mila Rigo, diz que uma forma melhor de explicar o que é facili-

tação gráfica é mostrando. Por exemplo, o discurso inaugural do presidente Barack Obama, em 20 de janeiro do 2009. Longo para assistir, frio para ler. Existe uma forma de apresentá-lo que seja mais atrativa: os tópicos e pontos altos da fala do Presidente es-critos junto a ilustrações e muitas cores. (Figura 1)

A facilitadora norte-americana Brandy Agerbeck, que em 2012 escreveu um livro sobre como fazer facilitação gráfica e ser um fa-cilitador gráfico e mantêm um site (http://www.loosetooth.com/) com muito conteúdo sobre o assunto, resolveu o problema da com-plexidade e tamanho do discurso:

“Facilitação gráfica é servir a um grupo, escre-vendo e desenhando sua conversa ao vivo e de forma grande para ajudá- los com seu trabalho. É uma poderosa ferramenta para ajudar as pes-soas a se sentirem fortes, para desenvolver um conhecimento compartilhado enquanto grupo e disponíveis para sentir e tocar de uma forma que não poderiam antes” (AGERBECK, Brandy em The Graphic Facilitator’s Guide - 2012 - 4ª capa)

Brandy define este profissional como alguém que é um facilita-dor, pois torna as coisas mais simples, utiliza gráficos, realiza seu trabalho ao vivo e em grandes paineis de papel, e ajuda um grupo a criar significado para o trabalho realizado.

Em seu livro, a autora também explica que facilitação gráfica é um processo composto por partes iguais de ouvir, pensar e desenhar. O ouvir é o input, o pensar é o processo e o desenhar é o output. As três qualidades andam juntas e de forma igual. (Figura 2)

Brandy compara o trabalho de um facilitador gráfico com micros-cópio porque ele assiste\ajuda na concentração de um grupo in-ternamente e relata detalhes, nuances e coisas não observadas antes. Também pode ser um telescópio, por que foca num me-

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Figura 1 - Facilitação Gráfica de Brandy Agerbeck para o discurso do presidente dos EUA, Barack Obama. Imagem disponível em http://www.loosetooth.com/Viscom/gf/obama.htm. Acesso em 3 de dezembro de 2013

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Figura 3 - Facilitação gráfica feita por Brandy para demonstrar um dos princípios do trabalho de um facilitador, ora ser um telescópio, ora ser um microscópio. Imagem dis-ponível no site da profissional http:\\loosetooth.com. Acesso em 3 de dezembro de 2013.

Figura 2 - Esquema feito por Brandy de como se dá o processo de trabalho de um facilitador gráfico. Imagem retirada do livro “The Graphic Facilitators Guide”, de Brandy Agerbeck, página 11

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lhor entendimento de uma grande figura e um grande contexto da conversação. Confira, na figura 3, esse último parágrafo em forma de facilitação, disponível no site da autora.

A Facilitação Gráfica chegou ao Brasil no fim dos anos 90. Atu-almente existem diversas consultorias que prestam esse serviço para empresas, escolas, ongs e etc no Brasil. Uma delas, a Design de Conversas explica o que é Facilitação Gráfica em seu site para os futuros clientes dessa forma:

É a sistematização criativa da inteligência cole-tiva gerada em palestras, processos participati-vos em grupo, workshops ou onde houverem diá-logos significativos. (diponível em http://desig-ndeconversas.com.br/ - acesso em 23 de fevereiro de 2014.

Para os facilitadores, desenhar conversas significa também: escu-tar, passar por um processo de aprendizagem e inovação, utilizar metáforas em imagem, organização em design e a captação e sín-tese de informações.

Dessa forma, desenhar informações exige simplicidade e sofisti-cação, captação e síntese de informações e também novos cami-nhos de compreensão.

Nas entrevistas que realizei os facilitadores definiam a facilita-ção gráfica como:

• Um processo para ajudar as pessoas no desenvolvimento de uma ideia que aconteceu no grupo. (Vitor Massao)

• Uma ferramenta da aprendizagem. (Donatella Pastorino)

• Facilitação Gráfica é a arte de usar o design de informações em grandes telas/projeções para ajudar grupos a tornar seus

processos mais visíveis, claros e memoráveis. (Mila Motomura)

• Um tipo específico de Colheita, que é um registro visível aos participantes de uma conversa os “frutos” produzidos, em tempo real. (Camila Rigo)

• É um processo de colheita e registro, no qual os conceitos e ideias apresentados ao longo de uma fala são traduzidos, em tempo real, em forma de desenhos e mapas mentais lúdicos, orgânicos e atraentes, no intuito de facilitar a assimilação e a fixação dos conteúdos. (Carla Hirata)

• Uma maneira inovadora de ilustrar conteúdos e conceitos. O intuito é comunicar uma ideia ou transmitir uma mensagem por meio de imagens e apelos visuais. (Wania Borges)

• É uma metodologia de facilitação de grupos que usa recursos de comunicação e arte de forma sinérgica. (Carolina Rama-lhete)

Nas falas dos profissionais percebemos a facilitação gráfica como um suporte a algo maior: o aprendizado ou desenvolvimento do grupo. Esse apoio é paupável, ao ser visto nos murais desenhados e também imaterial, na conclusão sobre o tema debatido que o grupo conquista ao contar com o registro da facilitação.

A colheita na facilitação gráfica

Camila Rigo, facilitadora de processos e também facilitadora grá-fica, criou um site [http://www.facilitacaograficacolheita.com.br/] para reunir tudo que vinha aprendendo e descobrindo sobre me-todologias de facilitação e colheita.

Para Camila, colheita é um termo que veio da tradução de harvest, “colher”, usado em comunidades internacionais de anfitriões de con-versas signicativas, ou seja, facilitadores de grupos para reuniões

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mais produtivas. A ‘colheita’ seria o registro, por escrito ou ilustra-do, do que de mais significativo o grupo discutiu naquele encontro.

Ela pode ser feita independente da facilitação gráfica, que geral-mente contêm desenhos, a colheita pode ser feita somente com palavras e frases essenciais.

“A clareza sobre os objetivos de uma conversa ou reflexão é muito importante para uma boa colheita. É imprescindível que o profissional da Colheita esteja em plena conexão com o propósi-to da conversa, que tenha a percepção aguçada para promover a seleção e captação dos elemen-tos que realmente importam, para estabelecer re-lações e sínteses – e finalmente realizar o registro (que poderá ser um registro escrito, um registro visual ou assumir formas ainda mais criativas como poemas, canções, etc).” (RIGO, Camila. Em http://www.facilitacaograficacolheita.com.br/colheita/ - acesso em 27 de fevereiro de 2014)

David Sibbet, o ‘pai’ da facilitação gráfica

David Sibbet é um líder mundial em facilitação gráfica e pensa-mento visual para grupos. É fundador e presidente da The Gro-ve Consultants International, uma empresa cujas ferramentas e serviços para visualização panorâmica, facilitação gráfica, li-derança de equipes e transformações organizacionais, são usa-das por consultores e organizações em todo o mundo. Apesar de trabalhar com facilitação gráfica desde os anos 1970, Sibbet es-creveu o guia “Visual Meetings” em 2010 que três anos depois ganhou uma versão em português, “Reuniões Visuais”.

Em seu currículo, Sibbet carrega a responsabilidade de ter parti-cipado da criação da Apple University, nos anos 1980, trabalhou no Groupware Users Projetc com o Institute for the Future no

final dos anos 1980 e 1990; liderou um time de consultores inter-nos na National Semiconductor em 1990, ensinou na Mars As-sociates ao redor do mundo a facilitação de forma gráfica. Sibbet também trabalhou com a Hewlett Packard nos anos 90.

Sempre facilitando processos, ou planejando processos de apren-dizagem, o autor construiu “Reuniões Visuais” como um testemu-nho a evolução das ferramentas de produção gráfica. Seu livro é o maior exemplo de como a facilitação gráfica pode ser utilizada em projetos editoriais. Sibbet confessa que, desde que adquiriu seu Mac SE pretendia fazer um trabalho de autoria que combinasse com total fluidez, texto e gráfico.

Escrevi o Reuniões Visuais com o meu MacBook Pro conectado a um tablet Wacon Cintiq, de for-ma que pude tanto desenhar quanto escrever à vontade, integrando texto e imagens. Depois en-viei estes arquivos para meu novo iMac, com o Adobe InDesign instalado, e, diagramei as pági-nas para ver como elas ficariam. Pude então vol-tar e reescrever, redesenhar e mudar o conteúdo de acordo com minha vontade - tudo em tempo real. (...) Os desenhos, em sua maioria, são meus. O restante foi incluído com permissão. (SIBBET, David. Reuniões Visuais. 2013, página XXVI da intodução)

Quando fez parte da equipe da Apple, Sibbet desejava trabalhar interativamente com comunicação visual, inspirado na maneira como os arquitetos e designers trabalhavam, mas aplicada a reu-niões comuns. Em 1972, o autor aprofundou-se nas técnicas que mostravam o poder da visualização para transformar o pensa-mento e os processos de um grupo.

Em sua experiência na Apple, David pode criar um workshop de interface gráfica do usuário, algo que fizesse tanto sentido no

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mundo real quanto o que a empresa vinha fazendo com computa-dores. Para o evento foram planejadas molduras, mas a imagem central não era preenchida. Ao longo do evento os participantes fariam isso. Em alguns casos, como o da abertura que era o cami-nho até o cume de uma montanha representando a jornada, esses quadros eram metáforas, em outros, modelos reais de gráficos e estruturas. Já neste exemplo vemos a ligação com a produção editorial, os gráficos de programação gigante (que ficavam nas paredes) eram os mesmos dos folhetos que entregaram aos parti-cipantes. (SIBBET, 2013)

A teoria de Sibbet é de que se os grupos conseguem ver padrões diferentes em seus pensamentos, eles ficam mais inteligentes. Essa é a importância da linguagem e do pensamento visual para a facilitação gráfica.

A capa do livro “Reuniões Visuais” ilustra o processo pelo qual os grupos deixam de imaginar possibilidades, e partem para a ação. Trata-se também de um processo de aprendizagem, onde cada etapa envolve uma visualização, veja:

As quatro etapas deste desenvolvimento são:

• Imaginar: o que imaginamos ser as nossas tarefas, vão mol-dar as nossas percepções

• Engajar: a participação e o engajamento dispararam assim que se permite que as pessoas falem e se expressem, e de-monstre que elas são ouvidas. Uma forma é escrever e dese-nhar o que elas falam.

• Pensar: pensar é um processo de busca de conexões que ex-pliquem as coisas, resolução de problemas, revelação de um plano, ou de estabelecimento de critérios para a tomada de decisões.

Figura 4 - Demonstração do “cume da montanha” criado por Sibbet para o evento da Apple. Imagem disponível no livro “Reuniões Visuais”, página 5

Figura 5 - Capa do livro Reuniões Visuais, de David Sibbet.

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• Atuar: agir por meio da visualização é estimular a força da simulação. Como se pode imaginar a visualização torna-se im-portante nesse momento como um guia para ver como as ações funcionarão ao longo do tempo. Mapas de roteiro, planos, pai-néis, mapas de progressos e pastas. Estes são exemplos de vi-sualização que refletem ações ao longo do tempo, e nos ajudam a pensar sobre a implementação.

Princípios da Facilitação Gráfica

Sibbet acredita que as ferramentas e exercícios que ensina no “Reuniões Visuais”, muitas das quais abordadas no seu primeiro livro “Graphic Facilitation: Transformirng Group Process with the Power of Visual Listening”, são potencialmente melhor apro-veitadas em situações como:

• Brainstorms• Planejamento de programação• Reflexões sobre o aprendizado• Necessidades dos consumidores e clientes

Brandy Agerbeck, em seu manual, explica que desde o mais bá-sico texto escrito dentro de um flipchart, até o mural mais elabo-rado, existem três poderes presentes o tempo todo nos mapas de facilitação gráfica de encontros/reuniões.

• “O poder de ser ouvido (The Power Of Being Listened To): o facilitador gráfico é um ouvinte público, um recurso humano dedicado a coletar todas as vozes, inserções e ideias e gra-vá-las. Seja nosso trabalho interno ou externo ao grupo, nós devemos ouvir com ouvidos forasteiros. O facilitador gráfico deve ouvir a conversa livre de políticas e responsabilidades. Geralmente, nossa falta de conhecimento específico ou co-nhecimento industrial permite a nós mais facilidade para ver padrões na conversação\fala e destilar as ideias com menos jargões da fala industrial.

• O poder de compartilhar conhecimento (The Power Of Shared Understanding): O pequeno trabalho é feito isolada-mente. E o trabalho individual é frequentemente comparti-lhado mais tarde. Todos nós queremos que nosso trabalho seja importante. Para ser entendido, para ser valorizado pelos ou-tros. Um facilitador gráfico auxilia no entendimento por meio de suas habilidades para organizar a informação a ser com-partilhada e sintetizá-la em um conjunto claro.

• O Poder de Ver e Tocar seu Trabalho (The Power of Se-eing e Touching your work): O trabalho precisa ser visível e tangível. Em uma reunião todos assistem a conversação to-mando forma. Todos podem ver o trabalho de forma tangível no mapa. Todos podem encontrar clareza na complexidade por meio de um desenho bem organizado. O processo do grupo é registrado nos mapas. O grupo pode acompanhar o progresso durante a reunião\encontro e refletir nele depois.” (AGERBE-CK, 2012 - páginas 35 a 43)

Como um resumo de tudo que um facilitador precisa ser e fazer, e muito relacionada com as regras e orientações de David, Brandy criou um mapa estrelar de princípios para navegação do futuro facilitador gráfico. (figura 6) A orientação da autora é focar em um princípio, considerando uma constelação ou observar todo o céu. Estes princípios são divididos em cinco áreas: Panorama; Ouvin-do; Praticando; Desenhando e “Em Uma Sala”.

Apesar de apresentações e nomes diferentes, Agerbeck e Sibbet seguem a mesma linha de raciocínio. Veja na tabela abaixo a com-paração entre as ‘etapas’ de cada processo, só que Brady resume em seis etapas e Sibbet em quatro, mas três delas se dividem em três ou quatro subetapas:

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BRADY (1) SIBBET (2)PANORAMA (overview) ENGAJAR: escute-visualize-veja-faleOUVINDO (listening)PENSANDO (thinking) PENSAR: contexto-ação-visãoDESENHANDO (drawing)PRATICANDO (practicing) IMAGINAR:

visão- valores- resultados- açõesEM UMA SALA (in the room) ATUAR

Tabela 1 – Comparação entre os processos de trabalho de Brandy Agerbeck e David Sibbet, conceitos retirados dos livros The Graphic Facilitator’s Guide (1) e Reuniões Visuais (2)

Em abril de 2013 os sócios e facilitadores gráficos Vitor Massao e Carla Hirata, do Coletivo Entrelinhas, realizaram a facilitação gráfica de um encontro de projeto do Fundo Brasil de Direitos Humanos. A experiência foi tão rica que destacaram a participa-ção da dupla em uma notícia no site da organização.

O tema do encontro era “Comunicação e direitos humanos - Arti-culação e ativismo na Era da Informaçao”, e reuniu em São Paulo representantes de projetos selecionados por meio de um edital, para receber verba do Fundo Brasil de Direitos Humanos.

Além de sistematizar o conteúdo de cada um dos momentos da transformação em paineis ilustrativos, o Coletivo Entrelinhas ofereceu uma oficina sobre esta forma de organização de conteú-do aos participantes, pois para os facilitadores o registro visual permite que as informações sejam processadas de maneira não linear e podem ajudar na assimilação e fixação do que foi discu-tido. Palavras, conceito e ideias formam um panorama do que foi abordado. Veja o resultado na figura 7.

“É indispensável estar atento a tudo que está sendo discutido para extrair a essência das fa-las e, dessa forma identificar as palavras chave que vão compor com as ilustrações o painel final. Também é importante tentar trazer o sentimento do grupo participante, a reação de quem assiste o que está sendo abordado por um palestrante.” (retirado da notícia sobre o evento facilitado, disponível no site do Fundo Brasil de Direitos Humanos, http://bit.ly/1kUDapT, acesso em 16\03\2014)

Como se forma um facilitador ou facilitadora gráfico?

No Brasil, há cerca de 10 anos não se falava em facilitação grá-fica, ou registro gráfico. Donatella Pastorino, facilitadora gráfica entrevistada para esta monografia, descobriu a facilitação gráfica por meio de sua irmã, que estava em um evento em Nova Iorque e viu um profissional fazendo o registro gráfico do conteúdo. Isso lhe chamou a atenção e ela foi conhecer essa pessoa e voltou para o Brasil convencendo a então consultora em tecnologia da infor-mação a apostar nessa novidade.

Donatella fez sua formação nos Estados Unidos com David Si-bbet, da The Grove. Assim como ela, outros brasileiros buscaram aprender mais sobre o poder do pensamento visual. A The Grove oferece três tipos de cursos para quem quer aprender facilitação gráfica:

1. Principles of Graphic Facilitation: básico para quem quer entrar no mundo da facilitação gráfica. Dura três dias misturan-do teoria e prática.

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2. Virtual Graphic Facilitation: todos os aprendizados do cur-so básico, agora aplicados para reuniões onde nem todos os parti-cipantes estão no mesmo lugar.

3. Visual Leaders – Increase Your Organization’s Visual IQ: curso de um dia, dado pelo próprio Sibbet, onde ele apresen-ta um panorama global do que tem sido a facilitação gráfica nas últimas décadas e o que é hoje em dia. Nesse dia ele explica o que tem funcionado e o que não. As metodologias, modelos, processos, dinâmicas, etc. que a The Grove tem descoberto e/ ou criado ao longo dos anos e o que ele recomenda. (ALFONSO, disponível em http://bit.ly/1leROIw, acesso em 23 de março de 2014).

Donatella conta, na entrevista, que quando trouxe os aprendiza-dos dos EUA para o Brasil não foi muito bem recebida. A princi-pal diferença foi na objetividade do idioma. Em inglês as pessoas são muito mais diretas do que em línguas latinas. Consequen-temente o facilitador gráfico registra menos ainda, pois foca na essência do que foi dito. Além disso, os norte-americanos usam um painel para um dia todo de reuniões e não usam muitas cores, duas ou três além do preto para escrever. Donatella contornou as diferenças adaptando seus aprendizados com a expectativa dos clientes latinos e criou sua metodologia de trabalho.

Mila Motomura é a responsável por um dos cursos de facilitação gráfica no Brasil. Sua empresa, a Moombr, além de fazer facili-tação gráfica de eventos, oferece cursos para compartilhar com diversos públicos a ferramenta de colheita e facilitação gráfica. Englobando tanto técnicas simples de desenho quanto organiza-ção e sistematização de ideias e informações, é aberto a públicos distintos, a partir dos 12 anos de idade; e também workshops com parceiros para que alunos de diferentes áreas possam expe-rimentar a facilitação gráfica. Outra alternativa são os cursos sob demanda, direcionados à organizações interessadas em treinar suas equipes de trabalho com a ferramenta, como em empresas, agências de publicidade e escolas, por exemplo.

Cinco dos oito facilitadores gráficos entrevistados fizeram o curso de facilitação gráfica de Motomura: Vitor Massao, formado em design gráfico; Wania Borges, artista visual; Carla Hirata, artis-ta plástica e facilitadora de grupos; Carolina Ramalhete, jorna-lista e Fernanda Paula, pedagoga.

Para Carolina, boa parte do aprendizado acontece com a prática, empenho pessoal e com a inspiração de quem já está no caminho há mais tempo.

Carla aposta que depois de fazer o curso, o profissional precisa se esforçar para adquirir experiência fazendo.

Para Wania, o que falta na formação nacional de facilitadores gráficos no Brasi são mais materiais para estudo e aprofunda-mento da metodologia escritos e traduzidos em português, e tam-bém materiais disponíveis no mercado nacional e regional, que seja de fácil acesso e com custos menores.

Fernanda, da Regência Consultoria, acredita que a formação do facilitador gráfico ainda é uma incógnita, porque a área também não é definida ainda como profissão, mas está se consolidando. Também não existe um marco em torno do que é uma formação adequada. Uma ideia é promover uma discussão entre os pró-prios facilitadores que estão no mercado hoje.

Uma particularidade que as entrevistas mostraram, foi a impor-tância do “conhecimento prévio” de cada profissional antes de se tornar facilitador. A profissão anterior ajudou a direcionar o ta-lento e desenvolver habilidades necessárias para ser um facilita-dor gráfico.

Na Colômbia uma facilitadora gráfica que estudou comunicação e educação em Londres e facilitação criativa, consultoria em apren-dizagem organizacional na escola dinamarquesa Kaospilot, mon-tou curso online de facilitação gráfica.

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“A Kaospilot é uma escola internacional de em-preendedorismo, criatividade e inovação social localizada na cidade de Aarhus, no interior da Dinamarca. Fundada em 1991, propõe uma for-mação de 3 anos onde os “alunos profissionais” são protagonistas do seu próprio aprendizado, e onde estudos de caso são completamente substi-tuídos por projetos reais com clientes de verdade. A formação, não reconhecida formalmente pelo Governo Dinamarquês, tem três ênfases: desenho e gestão de projetos criativos; desenho e lideran-ça de processos criativos; desenho e criação de novos negócios. A cada ano, formam-se 35 novos ‘pilotos do caos’. Em 2009, formou-se o primeiro brasileiro.” (VEDANA, disponível em http://bit.ly/1jsS8PF acesso em23 de março de 2014)

Zulma Sofía Patarroyo é fundadora da Pataleta, uma empresa de facilitação gráfica que, após anos em atividade na Europa, ofe-rece serviços em inglês e espanhol para vários tipos de eventos. (PATARROYO, disponível em http://facilitaciongrafica.com/#sec-tion2, acesso em 23 de março de 2014)

O curso de Zulma é procurado por pessoas como consultores, edu-cadores, profissionais de recursos humanos, ou de departamentos de inovação em organizações. Facilitadores, designers e desen-volvedores. Alguns querem enriquecer suas habilidades pedagó-gicas ou comunicativas, e outros estão cansados de ficar sentados no computador e querem trabalhar mais com seres humanos.

Trata-se de uma introdução para as práticas, princípios e ferra-mentas da facilitação gráfica. O curso foi planejado para enten-der porque a facilitação gráfica funciona, e para ajudar os partici-pantes com as habilidades de escuta, concentração e síntese que a profissão requer.

Para Zulma, não importa a área de estudo ou trabalho, todos po-dem beneficiar-se de escutar melhor e criar mais clareza, com-preensão e entendimento para si próprio. Ter um registro para ser visto depois, ajuda a entender o processo e a conclusão, mas também as emoções geradas durante o período de aprendizagem coletiva. O curso promete ajudar os participantes a vencer seus medos de desenhar, desenhar em público e não captar as mensa-gens a tempo. Desenvolvido numa plataforma semelhante a uma rede social, os participantes não estarão sozinhos durante o per-curso. (PATARROYO, disponível em http://www.youtube.com/watch?v=XRO8x3td1RM)

De volta ao Brasil, o IED Rio promoveu um workshop de Facili-tação Gráfica com Luis Rosenthal, da Ludic Group, em 2009. O workshop, dividido em três partes: introdução-prática- leitura de portfólios, buscava introduzir os conceitos básicos desta técnica e foi planejado para ilustradores interessados em conhecer parti-cularidades desta prática. (IED, disponível em http://bit.ly/1jsV-DFW acesso em 23 de março de 2014)

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Figura 6 - Constelação de princípios e habilidades para facilitadores gráficos. Este diagrama foi criado por Brandy Agerbeck e está em seu livro “The Graphic Facilitators Guide”, páginas 46 e 47

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Figura 7 - Facilitação gráfica realizada para o Fundo Brasil de Direitos Humanos pelo coletivo Entrelinhas (Vitor Massao e Carla Hirata) em parceria com Mariana Kz.

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CAPÍTULO 2

a importância da linguagem visual

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Segundo a publicação “Curso Completo de Design Gráfico”, orga-nizado por Nobu Chinen, da Editora Escala, ilustrações engra-çadas e a ausência de limites nas demarcações com inserções de texto na figura, refletem uma atmosfera de descontração e espon-taneidade ao tema projetado pelo designer.

A linguagem visual é uma forma de comunicação constituída por imagens representadas por símbolos diversos. “É um conjunto de signos e símbolos usados para se comunicar visualmente com harmonia e senso de estética” (HALLAWELL, 2008 in Max Ribeiro, disponível em http://bit.ly/1fBV9cA).

A visualização é uma forma poderosa de resolução de problemas entre grupos.

“Muito do nosso entendimento dos sistemas e de como as coisas funcionam em conjunto (...) é re-presentado por imagens, histórias e metáforas animadas por nossa própria experiência. (...) Reuniões visuais são supreendentemente produ-tivas em relação a isso, tanto por fornecer uma maneira segura de nos tornarmos conscientes de nossas metáforas, como por permitir formas criativas de cocriação de novas metáforas”. (SI-BBET, David. Reuniões Visuais - 2013 - página XII da introdução)

Sibbet lista três ferramentas poderosas para reuniões eficazes, a essência da facilitação gráfica:

• habilidade natural para se comunicar visualmente• lembretes autoadesivos e outras mídias interativas• mapeamento de ideias

Mapeamento de ideias, segundo o autor, seria utilizar metáforas visuais inseridas em modelos gráficos e planilhas de trabalho, de forma que o grupo consiga pensar visualmente. Sibbet lembra

que inventores sempre lidaram com diagramas e desenhos em seus diários, assim como engenheiros e designers trabalham em quadros brancos e mesas de desenho. Esta técnica não precisa ficar restrita a estes profissionais, pois trata-se de uma aborda-gem flexível que contempla desde quem trabalha em uma folha de papel em branco até gráficos mais elaborados e softwares que auxiliam o grupo a visualizar o que estão pensando e planejando.

“Os pesquisadores em aprendizado e inteligência cognitiva sabem agora que os seres humanos pro-cessam a informação de formas diferentes e que o pensamento visual é uma parte grande do que fazemos. Parece que nossos cérebros são maciça-mente desenvolvidos para processar informação visual, alguns sugerem que até 80% de nossas cé-lulas estão envolvidas nisso.” (SIBBET, David. Reuniões Visuais - 2013 - página XVI da intro-dução)

Vitor Massao, facilitador gráfico entrevistado para esta monogra-fia, costuma dizer para seus clientes e amigos, quando explica sua profissão “se o nosso pensamento não é linear por que nossas anotações precisam ser?”. Isso vai na mesma linha do que Sibbet defende em relação à representação de conversas e Brandy quan-to ao registro gráfico como forma de facilitação de processos.

O benefício do uso da facilitação gráfica é tanto, que Alexander Osterwalder e Yves Pigneur, conselheiro na área de inovação e professor de sistemas de gerenciamento de informações, respec-tivamente, incluíram em seu livro “Business Model Generation - Inovação em Modelos de Negócios” informações significativas de como o pensamento visual e seu registro podem auxiliar no desen-volvimento de inovadoras ideias para negócios.

“O pensamento visual aprimora os questiona-mentos estratégicos, tornando o abstrato concre-

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to, iluminando as relações entre os elementos e simplificando o que era complexo” (OSTERWAL-DER, Alexander e Pigneur, Yves. Business Model Generation - 2011 - página 148)

Osterwalder e Yves falam muito em utilizar anotações em lem-bretes autoadesivos (Post-Its) para otimizar as reuniões de cria-ção e planejamento, mas também defendem que desenhos podem ser ainda mais poderosos que estas anotações, pois as pessoas reagem com mais força às imagens que às palavras. As imagens apresentam suas mensagens instantaneamente. Desenhos sim-ples podem expressar ideias que exigiriam muitas palavras (OS-TERWALDER, 2011).

Por isso que a facilitadora gráfica Fernanda da Costa, entrevis-tada para esta monografia, e sua irmã, que a treinou, reúnem exemplos de desenhos e metáforas em pastas, para servirem de exemplo e inspiração para o momento em que elas estão ao vivo registrando uma reunião, ou facilitando o processo de criar um “canvas”, um diagrama específico para planos de negócios.

A visualização remete a questões importantes. Entre os benefí-cios está que em uma reunião, portanto ao vivo, o registro da es-sência do que é discutido mostra imediatamente que alguém foi ouvido, e como esta pessoa foi ouvida, de uma forma que a comu-nicação verbal não consegue fazer, uma vez que, a não ser que in-terrompamos o processo e perguntemos aos participantes “o que foi que você entendeu deste exemplo que eu acabei de dar?”. Tra-balhar de forma visual integra. Porque combina a forma visual, lado direito do cérebro, e verbal, lado esquerdo, com a interação e movimento físico. Exposições gráficas podem conter informações contraditórias na mesma folha, atenuando o pensamento do tipo ‘e / ou’ que nossa linguagem falada tende a reforçar. Metáforas gráficas permitem que as pessoas expliquem diretamente como elas estão entendendo as coisas, inclusive, as representações vi-suais estimulam a imaginação das pessoas, tornando mais aces-

síveis as esperanças e sonhos, intenções e visões. Por fim, a tra-dução da palavra escrita para a representação visual, força todos a se tornarem conscientes dos padrões de ambas. (SIBBET, 2013)

Sibbet resgata uma citação de Bob Horn, do livro Linguagem Vi-sual, que resume bem todas as justificativas apresentadas: “A linguagem visual emerge, como qualquer outra linguagem, atra-vés do uso e criação pelas pessoas… está nascendo da necessida-de delas, do mundo todo, de lidarem com ideias complexas que são difíceis de expressar somente em texto”.

A facilitação gráfica, nesse contexto, sugere que o ato de mapear e diagramar, é, por si só, um tipo de raciocínio, e a qualidade dos recursos visuais nem é tão importante quanto viver o proces-so de construção. Grupos ficam muito mais dispostos a aceitar e implementar ideias que vem de dentro do grupo, do que aquelas impostas por pessoas de fora - mesmo que sejam por experts. (SI-BBET, 2013)

Design Thinking

Com o avanço das pesquisas sobre facilitação gráfica, encontrei ligações fortes com o design thinking, área do conhecimento que, segundo o professor Rique Nitzsche em seu livro “Afinal o que é Design Thinking”, se refere ao complexo processo mental que o projeto contemporâneo exige do designer. Rique acredita que o design thinking existe desde que o design começou a ser pratica-do há muitos milhares de anos (NITZSCHE, 2012).

Design thinking vem sendo estudado como um tipo de pensamento que usa o design como ferra-menta de trabalho mental de uma forma holís-tica. Os dicionários ingleses oferecem um signi-ficado para pensar em algo (thinking of): imagi-nar, visualizar e até sonhar. Pensar sobre algo, como um problema, (thinking about), parece ser

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Figura 8 - Facilitação gráfica feita pelo coletivo Design de Conversas, disponível em http://designdeconversas.com.br/portfolio/design-thinking/ acesso em 27 de março de 2014

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uma atividade na qual se considera, se reflete, se delibera. Já pensar através de algo (thinking through) é entender, compreender, descobrir. (...) design thinking parece abranger todas es-sas qualidades imperativas. (em “Afinal o que é Design Thinking”, de NITZSCHE , Rique. 2012, páginas 33 e 34)

O designer Fabio Silveira e a jornalista e especialista em edu-cação digital Priscila Gonsales, desenvolveram um material so-bre design thinking para educadores. Este ‘caderno’ explica os fundamentos desta teoria com ferramentas direcionadas para problemas, envolvendo o ambiente escolar. Para estes autores, Design Thinking é um modelo de pensamento, pois significa acre-ditar que as pessoas podem fazer a diferença, desenvolvendo um processo intencional para chegar em soluções criativas com im-pacto positivo. O Design Thinking estimula a criatividade com o propósito de transformar desafios em oportunidades. Esta teoria--prática é centrada no ser humano, pois começa com uma profun-da empatia e um entendimento das necessidades e motivações das pessoas. Colaborativo, o “pensar design” valoriza que muitas mentes brilhantes são sempre mais fortes que uma só ao resolver um desafio. (GONSALES e SILVEIRA 2014)

“Otimista. O Design Thinking é a crença funda-mental de que nós todos podemos criar mudan-ças – não importa quão grande é um problema, quão pouco tempo temos disponível ou quão res-trito seja o orçamento. Não importa que restrições existam à sua volta, pensar como designer pode ser um processo divertido. (...) Design Thinking te dá a liberdade de errar e aprender com seus erros porque você tem novas ideias, recebe feedback de outras pessoas, depois repensa suas ideias. Dada a gama de necessidades de seus estudantes, seu trabalho nunca estará terminado ou “resolvido”.

Está sempre em processo”. (SILVEIRA, Fabio e GONZALES, Priscila. Em Design Thinking para Educadores. 2014, página 11)

A abordagem do Design Thinking está relacionada à facilitação gráfica, quando é encarado como na definição de Nitzsche: uma prática de design que conversa intimamente com a prática dos negócios em um processo interativo de troca de conteúdo.

Confira na próxima página uma facilitação gráfica para explicar o “design thinking” feita pelos sócios da consultoria Design de Conversas.

Design de Informações

Na definição da Sociedade Basileira de Design de Informações, esta abordagem tem o objetivo de equacionar os aspectos sintá-ticos, semânticos e pragmáticos, que envolvem os sistemas de informação através da contextualização, planejamento, produ-ção e interface gráfica da informação junto ao seu público alvo. Seu princípio básico é o de otimizar o processo de aquisição da informação efetivado nos sistemas de comunicação analógicos e digitais. Portanto, facilitação gráfica, visualização de dados, de apresentações corporativas e design de interação, podem ser con-sideradas subdivisões do design de informação.

Além de facilitadora gráfica, a psicóloga por formação, Mila Mo-tomura descreve-se como designer de informações e descreve seu processo de trabalho assim: compreender o produto, nos eventos ouvir tudo e ler o que o palestrante está apresentando, captar to-das as informações racionais, mas também as emotivas, facilitar a compreensão do conteúdo por meio dos desenhos e da parte escrita, construindo grandes quadros\painéis com o essencial que foi dis-cutido (trecho retirado da entrevista com Mila Motomura em 2012, disponível aqui http://bit.ly/1kUGSzQ).

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CAPÍTULO 3

os gráficos na facilitação gráfica

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Facilitação gráfica é a arte de usar palavras e imagens para criar um mapa conceitual de uma conversa. Esta é a definição resu-mida de Brandy Agerbeck. Um facilitador gráfico geralmente é o parceiro silencioso de facilitador de processos tradicional. Ou seja, enquanto um usa técnicas de condução de conversas com foco em tirar o melhor daquele grupo, o outro desenha em larga escala uma imagem do que está acontecendo naquela sala, em tempo real.

Facilitação gráfica é ao mesmo tempo produto e processo. Focan-do no grupo e auxiliando-o a concentrar-se e também capturando e organizando suas ideias. Depois do evento, o mapa se torna um documento, uma prova do progresso da reunião e suas direções. Esse resultado conceitual é engajador e significativo, porque a plateia assistiu sua criação, criando um relacionamento desta experiência. As imagens são emocionais e subjetivas, os partici-pantes podem então interpretar as imagens e se lembrar dos mo-mentos que mais lhe chamaram a atenção. (AGERBECK, 2013)

O trabalho de facilitação gráfica pode ser dividido em modelos, e dentro dos modelos os estilos de cada facilitador, e isso depende muito do profissional e do tema tratado.

Os modelos são:• Larga escala e ao vivo• Larga escala e não ao vivo• Pequena escala e ao vivo (uma folha de papel ou um bloco de

anotações)• Pequena escala e não ao vivo• Cartões, como cartões de visita ou cartões de um jogo de ba-

ralho.

A facilitação gráfica em larga escala e ao vivo pode ser feita em uma palestra, onde o facilitador gráfico acompanha o que o pales-trante diz e as reações do público, e vai registrando em grandes folhas de papel.

Figura 9 - Sinergia de trabalho entre o facilitador de processos e o facilitador gráfico. Facilitação gráfica feita por Brandy Agerbeck, disponivel em seu site http:\\loose-tooth.com, acesso em setembro de 2013

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Um exemplo desse trabalho é o desenvolvido pelas irmãs e sócias Fernanda e Flávia de Paula no Fórum de negociação da HSM, empresa especializada em eventos e cursos voltados para gestão e inovação. As facilitadoras acompanharam vários dias do Fórum registrando os ensinamentos e aprendizagens do evento. (figura 11)

Brandy considera mais “pessoal” a facilitação gráfica em larga escala, em tempo real, mas sem plateia. Trabalhos como o painel da figura 12, feito enquanto ela assistia ao DVD do documentário de Al Gore “Uma verdade inconveniente”, são um exemplo. Outra modalidade é fazer um trabalho em pequena escala, que não é em tempo real, nem tem plateia, portanto. O exemplo dado por Brandy em seu site é a síntese de uma publicação de 18 pági-nas sobre inovação. Vejam na figura 13.

Figura 11 - Montagem com Fernanda de Paula trabalhando no painel da palestra de Robert Cialdini no Fórum HSM de 2013, a plateia presente no evento e o resultado final. Disponível em: http://on.fb.me/1lGiGOX. Acesso em 16\03\2014

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Figura 12 - Facilitação gráfica feita por Brandy Agerbeck sobre o documentário Uma Verdade Inconveniente, de Al Gore. 91,4 cm x 91,4 cm. 100 minutos para ser feito. Disponível aqui http://bit.ly/1cN6OKS Acesso em 16\03\2014

Figura 13 - Facilitação gráfica com base no conteúdo de uma publicação de 18 pági-nas. Feita por Brandy Agerbeck em 5 horas. Possui aproximadamente 28cm x 12,7cm. Disponível em seu site http://bit.ly/1kyQaif Acesso em 16\03\2014.

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Para elaborar painéis em larga escala e ao vivo

Brandy lista oito elementos essenciais para um facilitador gráfico e que devem estar em seu trabalho. São eles: as letras, as cores, flechas, caixas, símbolos, linhas, pessoas e dimensões. Brandy justifica esta escolha pois, para ela, existem formas de fazer mar-cações terem conteúdo e significado.

Podemos encontrar padrões no trabalho de cada profissional com base nas entrevistas, como o uso de grandes painéis de papel, que são fixados na parede, ou em algum suporte na vertical. Canetas coloridas, muitas cores, frases precisas, balões remetendo à fala, caricaturas, desenhos infantis, homens-palito, homens-estrela, muitas flechas e direções.

Os painéis são feitos ao vivo, conforme a reunião ou palestra acon-tece. Quando o foco é construir um canvas de modelo de negócio, a participação do grupo é ainda mais fundamental para escrever nos post-its as ideias, transformando um diagrama frio e monocromá-tico em uma explosão de cores e ideias escritas pelos participantes.

Osterwalder, do livro “Business Model Generation, preparou um resumo mostrando como é utilizar um diagrama em papel:

No papel:

• quadros utilizando o papel ou posters podem ser facilmente criados e utilizados em qualquer lugar; entre nossos entrevis-tados temos exemplos de painéis que se tornaram manuais e outros que são a base da identidade visual de toda companhia.

• os quadros baseados em papel ou cartazes, impõem poucas barreiras: não é necessário aprender a utilizar um aplicati-vo específico; o modelo canvas apresentado no livro BMG já possui uma versão em aplicativo disponível para Ipad

• intuitivo e atraente para o trabalho em equipes diversificadas;

• encoraja a criatividade e incita a ideação, quando se utiliza grandes superfícies; ideação é uma das etapas de criação uti-lizando a metodologia do Design Thiking

As aplicações de painéis em papel

• Breves rascunhos para desenhar, compreender ou explicar modelos de negócios

• Sessões colaborativas de brainstorms para desenvolver ideias em modelos

• Avaliação colaborativa de modelos

Canvas: facilitação gráfica em função da construção de um modelo de negócios

Canvas é uma ferramenta e uma estratégia. É uma ferramenta por ser um diagrama composto por nove espaços onde cada es-paço, ou componente como Osterwalder e Yves chamam, define uma área ou questão a ser pensada para começar a escrever um plano de negócios. É também uma estratégia, pois ele pode fun-cionar online, por meio de um software que facilite esse trabalho com equipes situadas em locais diferentes, ou num grande pai-nel, onde os participantes da reunião podem escrever suas ideias ou crenças para cada um dos componentes em Post-its e assim construírem juntos o plano de negócios. Os componentes de um canvas são: segmentos de clientes, proposta de valor, canal, rela-cionamento com o cliente, fontes de receita, recursos principais, atividades chave, parcerias principais, estrutura de custo.

O livro “Business Model Generation” pretende convencer empre-endedores que o pensamento visual os fará chegar mais longe, ter ideias melhores em um tempo menor de discussão. Por isso,

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explica que os desenhos fornecem a quantidade certa de informa-ções para permitir ao observador capturar a ideia, sem detalhes demais para distraí-lo. Usar imagens deixa o modelo de negócio mais tangível. Uma linguagem visual compartilhada, suporta a troca de ideias e aumenta a coesão, inclusive, pessoas de dife-rentes partes de uma organização podem compreender profun-damente partes de um modelo de negócios, mas somente quando especialistas desenham em conjunto, todos os envolvidos passam a entender cada componente individual, e desenvolver uma com-preensão compartilhada das relações entre eles.(OSTERWAL-DER, 2011)

A seguir um modelo do canvas em português, com os componen-tes e as perguntas chave que o grupo deve se fazer para começar a preencher o diagrama com os Post-Its. (Figura 14)

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Figura 14 - Modelo de canvas em português com perguntas que orientam para seu preenchimento. Extraído do site http://viversemchefe.com/ acesso em 1º de março de 2014.

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CAPÍTULO 4

projeto editorial

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“Um livro é um espelho flexível da mente e do corpo. Seu tama-nho e proporções gerais, a cor e a textura do papel, o som que pro-duz quando as páginas são viradas, o cheiro do papel, da cola e da tinta, tudo se mistura ao tamanho e a forma ao posicionamento dos tipos para revelar em pouco do mundo em que foi feito. Se o livro se parecer apenas com uma máquina de papel, produzida conforme a conveniência de outras máquinas, só máquinas vão querer lê-lo”. Estas palavras abrem o capítulo 8, que fala sobre a forma da página de um livro, do livro “Elementos do Estilo Tipo-gráfico”, de Robert Bringhurst.

Muitos autores confirmam que o design, ou projeto gráfico, de um livro ou publicação só é percebido quando tem algum problema. Quando algo está fora do lugar, ou deixa de fazer sentido. Quan-do o texto do autor não cabe naquele projeto, ou quando a leitura fica complicada. É a qualidade da composição que determina a aparência do livro. (TSCHICHOLD, 1975)

Richard Hendel escreveu que o trabalho real de um designer de livros não é fazer as coisas parecerem “legais”, diferentes ou bo-nitas, mas sim descobrir como colocar uma letra ao lado da outra de modo que as palavras do autor pareçam “saltar da página”. O design é colocado a serviço das palavras, serve a este propósito e não a si mesmo. Em seu livro O Design do Livro, Hendel enumera os passos para a criação de um livro. Ao conjunto destes passos, com detalhes e particularidades, damos o nome de projeto gráfico:

• Formato da publicação• Margens• Tipografia• Detalhes como: parágrafos, algarismos, versais e versaletes,

travessões, citações, tipo do título, títulos correntes, aqueles que vão em todas as páginas, ou pelo menos uma sim uma não intercalando com o nome do autor ou do capítulo, fólio, folha de ante-rosto e página de rosto, etc.

O limite entre aplicar as regras do design e exagerar num projeto gráfico é muito pequeno, por isso Hendel acredita que o design de livros não é uma arte que possa receber uma criatividade infini-ta e sem limites. O livro todo conversa com seu conteúdo, não é somente o que o autor escreve que vai definir o assunto da publi-cação. Isso também é definido por meio da forma física e da esco-lha tipográfica. Cada escolha feita por um designer causa algum efeito sobre o leitor. (HENDEL, 1999)

A tipografia é um item decisivo quando o designer define um pro-jeto gráfico. Diante de tantas mensagens a que somos expostos atualmente, a tipografia precisa chama a atenção para si própria antes de ser lida. Legibilidade, este é um dos princípios da tipo-grafia durável, e o que faz um leitor se manter no livro até o fim. (BRINGHURST, 1992)

Robert Bringhurst no manual “Elementos do Estilo Tipográfico”, lista princípios e táticas para uma boa escolha tipográfica: (pági-nas 23 a 30)

• A tipografia existe para honrar seu conteúdo.• As letras têm vida e dignidade próprias• Há um estilo além do estilo - o que significa o estilo literário

encaixado com o estilo tipográfico “(...) tem estilo a tipografia que pode andar por terrenos familiares sem cair em lugares--comuns, que responde às novas condições com soluções ino-vadoras e que não irrita o leitor com sua própria originalida-de(...)”

• Leia o texto antes de fazer seu projeto visual• Descubra a lógica externa da tipografia na lógica interna do

texto• Faça com que a redação visual entre o texto e seus outros ele-

mentos (fotografias, legendas, tabelas, diagramas, notas), seja um reflexo de sua real relação. (Aqui vemos a relação com a facilitação gráfica)

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• Escolha uma fonte ou um conjunto de fontes que elucide e honre o caráter do texto.

• Dê forma à página e emoldure o bloco de texto, de modo a re-velar e honrar cada elemento, cada relação entre os elementos e cada nuance lógica do texto.

• Dê total atenção tipográfica, mesmo a detalhes incidentais.

Por essa lista vemos a importância da escolha tipográfica em um projeto. O professor André Carvalho, da pós graduação em De-sign Editorial do Senac, baseado no livro O Design do Livro, re-sumiu quais as perguntas que os designers precisam fazer sobre o livro, quando se seleciona a tipografia de um livro:

• Qual é o tema do livro?• Quem o escreveu?• Quando ele foi escrito?• Onde ele será composto/impresso?• Para quem o livro foi escrito?• O livro será publicado em várias línguas?• O livro é composto como um texto único ou ele contém diversas vozes?• A obra inclui histórias marginais independentes?• Como as ilustrações são legendadas?• Há uma quantidade significativa de matérias entre aspas? • O livro tem referências ou nota de rodapé, de margem ou notas bi-

bliográficas?• Qual é a hierarquia dos capítulos, títulos, seções e assim por diante?• A obra tem prefácio ou introdução?• O material possui anexos muito extensos?• Há quantidades significativas de tabelas ou gráficos?• O livro tem glossário de termos técnicos?• Como ele é indexado?• Quais são os valores destinados à produção, papel, impressão

e encadernação?• Que qualidades tonais a tipografia do livro possui?• A tipografia deverá ser reproduzida em que cor?• Qual o preço de capa estimado?

Continuando com as instruções de Bringhurst, que muito coinci-dem com Hendel, o designer precisa tomar atenção na forma da página, esta que é um pedaço de papel, mas também uma propor-ção visível e tangível, onde está o bloco de texto que precisa dialo-gar com a página. Os dois juntos, bloco e página, produzem uma geometria polifônica, que por si só é capaz de prender o leitor ao livro, mas também fazê-lo cansar daquele conteúdo, irritá-lo ou fazê-lo desistir da leitura.

A página possui proporções e, para Bringhurst, é melhor escolher proporções de páginas favoráveis ao projeto, do que aquelas que seguem alguma requisição de estoque de material ou mesmo for-matos arbitrários. O conteúdo deve ser priorizado, bem como o panorama histórico do período quando a publicação foi feita.

“Os primeiros escribas egípcios - quando não es-creviam na vertical - tendiam a produzir linhas longas e colunas largas. Essa linha egípcia rea-parece em outros contextos ao longo dos séculos: nas tabuleiras imperiais romanas, nas escritu-ras e contratos da Europa medieval e em muitos trabalhos de prosa acadêmica do século 20. De um modo geral, isso é um sinal de que o ato de escrever é mais enfatizado do que o de ler, e de que a escrita é vista mais como um instrumento de poder do que de liberdade. E que a prolixi-dade, oral ou visual, raramente é uma virtude” (BRINGHURTS, Robert em Elementos do Estilo Tipográfico, 2005)

Uma publicação que tenha foco na leitura da maior parte de pes-soas, precisa ser composta em colunas mais altas do que largas, de forma que o bloco de texto se equilibre e contraste com o for-mato geral da página. Outro elemento aliado à composição, são as margens. O designer precisa incluir margens no projeto, e o projeto nas margens. (BRINGHURST)

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O projeto gráfico de uma publicação define o caminho que o leitor vai fazer, por isso a importância do número de páginas, todos no mesmo lugar e compostos com a mesma tipografia, peso e tama-nho. Um exemplo de unidade e diferenciação nesse quesito está no “Reuniões Visuais”, que usa numerais romanos para marcar as páginas da introdução - bem longa - e depois numerais car-dinais para o restante do livro. Na introdução, o título do livro vem na frente do número da página, no mesmo tamanho de fonte. No restante do livro são os nomes dos capítulos em questão que acompanham o número da página, recurso interessante para que o leitor saiba onde está.

Robert Bringhurst não aconselha “reforçar o óbvio”, ou seja, colo-car o título do livro em todas as páginas, ou acompanhando o fólio (número de página) ou no cabeçalho com um tratamento de fonte diferenciado. Mas o autor abre uma exceção a conteúdos que po-dem ser fotocopiados, para resguardar o autor original.

Além da proporção, do tamanho da página, do bloco de texto, margens e número de páginas, outros elementos complementam um projeto gráfico, como: corpo dos títulos, intertítulos, onde é a abertura dos capítulos, onde fica posicionado o fólio, como se apresentam as notas de rodapé, parágrafo com recuo ou sem, com capitular ou sem.

Todos estes elementos ficam dentro do grid, literalmente uma grade, linhas invisíveis que os designers traçam para montar o trabalho no papel (ou na tela do computador), seja ele um livro, um cartaz, um folheto, um anúncio, etc. Além de organizar o con-teúdo ativo da página (texto e imagens), o grid estrutura os espa-ços brancos, que deixam de ser meros buracos vazios e passivos e passam a participar do ritmo do conjunto geral. (LUPTON E PHILLIPS)

“Muitos artistas adotaram o grid como uma for-ma racional e universal, externa ao seu produtor.

Ao mesmo tempo, o grid é culturalmente associa-do ao urbanismo, à arquitetura e à tecnologia da época moderna. (...) Os grids auxiliam os desig-ners na criação de composições ativas e assimé-tricas, em vez de estáticas e centradas. Dividindo o espaço em unidades menores, estimulam-nos a deixar algumas áreas abertas, no lugar de pre-encher a página inteiramente” (LUPTON, Ellen e COLE, Jennifer em Os Novos Fundamentos do Design, 2008 - página 175)

Delimitando um grid, o designer pode construir composições, layouts e padronagens dividindo um espaço em campos e preen-chendo-os ou delineando essas células de maneiras diferentes. Os mesmos princípios formais aplicam-se à organização de texto e imagens num projeto de publicação. (LUPTON)

Imagens, ilustrações e diagramas

Os livros podem ter ilustrações que se espalham pelo texto, ou imagens que ficam em uma página separada do texto, às vezes até de outro papel. É importante planejar no projeto gráfico, que a imagem e a mancha de texto, nesse caso, tenham o mesmo ta-manho. Tradicionalmente as estampas e pinturas no geral são proporcionalmente retangulares e precisam de uma legenda. (TSCHICHOLD)

Em “A Forma do Livro”, Jan Tschichold pondera que ao usar ilus-trações nos livros, as margens de páginas espelhadas tem que unir página de texto e página de ilustração num todo, pois o efeito de um par de páginas é importante.

Para ilustrar um dos exemplos de Tschichold, veja na próxima página duas páginas duplas do livro Business Model Generation onde a margem foi pensada de duas maneiras a favorecer o con-teúdo. (figuras 15 e 16)

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Figura 15 - Cópia de duas páginas do livro Business Model Generation, Altabooks

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Figura 16 - Abertura de capítulo do livro Business Model Generation, AltaBooks

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As duas páginas duplas no meio do capítulo, apresentam cada uma, uma grande imagem horizontal que ocupa mais de 50% da área. As margens são espelhadas, sendo que, como o livro é em formato paisagem, o fólio, o nome do capítulo e do sub-capítulo estão fora da margem, na página par do lado esquerdo e na pági-na ímpar estão do lado direito. A margem inferior é menor que a superior, que é menor que a lateral externa. Tschihold defendia que estampas horizontais são incômodas, que no caso de um livro com muitas imagens horizontais a melhor saída seria um proje-to no formato paisagem e compor o texto em duas colunas. E foi exatamente isso que foi feito. No exemplo seguinte, podemos ver a abertura de um sub-capítulo. (figura 16)

Diagramas - A estrutura da facilitação gráfica

Chamamos de diagrama, a representação gráfica de uma estru-tura, situação ou processo. Diagramas podem descrever a anato-mia de uma criatura, a hierarquia de uma corporação ou o fluxo de ideias (LUPTON). Podemos dizer então, que o resultado do trabalho dos facilitadores gráficos é um diagrama. Ellen Lupton escreve em “Os Novos Fundamentos do Design”, que diagramas nos permitem enxergar relações que não viriam à tona numa lista convencional de números, nem numa descrição verbal. Na facilitação gráfica, o veterano David Sibbet estimula as pessoas a fazerem anotações visuais enquanto outras falam para fixar o conteúdo, e também o uso de imagens fotográficas e ilustrações evocativas como suporte ao diálogo de um grupo.

Os “fundamentos do design” listados por Lupton, convergem no design de diagramas. O ponto, a linha, o plano, a escala, cor, a hierarquia, e camadas. Também Sibbet coloca significado nestes elementos para documentar reuniões visualmente: pontos (“olhe aqui”); linhas (conexão ou separação); ângulos (mudança ativa); quadrados e retângulos (organização formal); setas vazadas (orga-nização ativa); espirais (unidades dinâmicas); círculos (unidade).

No exemplo da figura 17, retirado do livro de Lupton, temos um gráfico que utiliza desenhos e cores para estudar o medo do de-signer de vários insetos. Aqueles que causam mais medo são indi-cados em preto. Os demais em verde. Próximo aos animais estão informações sobre sua ordem na classificação científica, seu nome e, também, seu nome científico. No centro, há uma cabeça huma-na, que representa o designer. Uma classificação por círculos de-fine o grau de medo de cada espécie: extremamente ansioso (EA), sobriamente ansioso (SA) e não ansioso (NA).

Brandy Agerbeck, em seus treinamentos, faz um mix da teoria do design de diagramas, com os significados que as formas podem assumir. Ela criou os “8 essenciais” elementos gráficos que como o próprio nome diz, são essenciais para este trabalho (figura 17):

Figura 17 - The Essential 8, de Brandy Agerbeck, disponível em seu site: http:\\loosetooth.com, acesso em 12 de março de 2014

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• Lettering - caligrafia, precisa ser legível mesmo quando es-crita rápido

• Bullets - símbolos, pontos feitos separadamente com cores e formas diferentes, para criar um código visual

• Colors - cores, vibrantes e convidativas, são usadas para criar uma organização no conteúdo

• Lines - linhas, usadas para delimitar as ideias por meio de linhas finas, grossas, pontilhadas

• Arrows - flexas, direcionam a atenção, criam fluidez e movi-mento

• People - pessoas, trazem vida ao trabalho e expressam emo-ções

• Boxes - caixas, chamam a atenção e definem uma das partes do diagrama, agrupam ideias.

• Shading - sombreamento, ‘eleva’ itens da página e cria di-mensão

Isso segue a mesma linha da observação que Lupton faz dos ele-mentos, quando diz que as marcas gráficas e relações visuais adquirem significados específicos, codificados no diagrama para representar aumentos númericos, tamanho relativo, mudança temporal ligações estruturais e outras situações.

“Gráficos de informação tem um papel efetivo a desempenhar no campo do design editorial. A lin-guagem dos diagramas produziu um repertório rico e evocativo dentro do design contemporâneo. Em contextos editoriais, os diagramas servem, com frequência, para iluminar e explicar ideias complexas” (LUPTON, Ellen e COLE, Jennifer em Os Novos Fundamentos do Design - página 199)

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Figura 18 - Entomofobia - Diagrama criado por Jacob Lockard, Design Gráfico Avançado. Jennifer Cole Phillips, docente. Disponível em “Os Novos Fundamentos do Design, pági-nas 2010 e 211

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Figura 19 - Capa do Livro “Caderno de Exercícios para Aumentar a Autoestima”

Facilitação Gráfica em projetos editoriais

É possível identificar o uso de facilitação gráfica em projetos im-pressos e digitais. Vamos explorar alguns exemplos de publica-ções que usam esse recurso para facilitar o entendimento do con-teúdo, ou só como forma ilustrativa. A profissão é nova no Brasil, então, livros em português com esse recurso também. Mas conse-guimos reunir exemplos publicados.

“Caderno de exercícios para aumentar a auto estima”. Rosette Poletti e Barbara Dobbs.Ilustrações de Jean Augagneur. Editora Vozes. Coleção praticando o bem-estar. 64 páginas.

O livro brochura tem o objetivo de apresentar atividades manuais e de reflexão, para de fato aumentar a auto estima dos leitores.

O livro tem 16cm x 21,7cm (fechado), papel offset 75mg aproxi-madamente, possui duas fontes principais, a primeira para de-talhes. As legendas e textos dos testes que o livro propõe, são na fonte que imita a grafia de uma máquina de escrever. A segunda fonte, a mais utilizada, imita uma letra de forma feita manuscri-ta.

Os desenhos foram feitos para complementar cada exemplo ou explicação do texto, seja literalmente ou por meio de metáforas. Além disso, as autoras propõem uma série de atividades para os leitores preencherem os livros, como escrever seus sentimentos em balões, pintar uma mandala, completar um teste.

Como disse David Sibbet, a facilitação gráfica possui ferramen-tas e métodos que promovem a esperança de novas maneiras de encarar níveis cada vez mais altos de dinamismo e de mudança, muitas dessas ferramentas são simples e poderosas, como escre-ver os sentimentos.

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“Caderno de Rabiscos para adultos entediados no trabalho” Claire Fay. Intrínseca. 48 páginas. 2006.

O livro tem um formato muito parecido com o “Caderno de Exer-cícios para Aumentar a Auto-Estima”. 16cm x 22cm. Capa em papel cartão e miolo em offset. Acabamento em lombada canoa com grampo.

A cada uma ou duas páginas, a autora propõe uma atividade lú-dica ou manual, sempre usando o humor, para de fato entreter pessoas entediadas com o trabalho.

Usando metáforas do mundo dos profissionais, existe, por exem-plo, uma página com 40 xícaras de café desenhadas e uma instru-ção: “Pausa para o café: colorir as xícaras até que transbordem”.

Algumas páginas adiante, Claire sugere que os leitores coloquem os pingos nos ‘ís’, faça uma dobradura com as “notas fiscais” caso a mesa esteja com muito acúmulo de papel.

A tipografia da capa é serifada e possui um acabamento para parecer que foi feita com uma caneta. A do miolo é um tipo sim-ples, sem serifa e com o corpo pequeno, somente para servir de instruções, o desenho é o que recebe mais destaque nesse livro, e também no que o leitor vai transformar para se entreter.

Figura 22 - Capa do livro “Cadernos de Rabiscos para Adultos Entediados no Trabalho”

Figura 23 - página dupla do mesmo livro, usando metáforas para propor atividades aos leitores. Pingos nos ‘is’ e engolir sapos.

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Figura 23 - Capa de “Destrua este diário”

”Destrua este diário”Keri Smith. Intrínseca.

Semelhante ao “Caderno de Rabiscos” na temática, mas bem di-ferente no formato. Este livro estimula a atividade do journaling com sketchnotes. Ou seja, fazer o registro das atividades em um diário, mas de forma gráfica.

O livro de 13,5cm x 20,5 cm, com uma lombada reforçada de qua-se 2 cm, foi feito em papel polen bold de 90g\m² (miolo) e cartão supremo alta alvura 250g\m² (capa). A fonte, chamada de ‘keris-mith’ no colofão, é toda feita a mão pela autora.

“Destrua este diário” possui instruções em cada página para que o leitor vá, aos poucos destruindo, ou incrementando a publica-ção. Depende do humor e da criatividade.

Nas primeiras páginas já é passada uma lista com materiais ne-cessários, desde os mais básicos, como cola, canetas e tesoura, até os mais elaborados, como medo, sapatos e fósforo.

Uma das tarefas que mais lembra a facilitação gráfica está quase no meio do livro, que não tem números de páginas proposital-mente para que o leitor os coloque, e pede para que a página seja rabiscada loucamente com canetas emprestadas, mas deve haver o registro de onde elas vieram.

Esse é um estímulo muito grande à explicar graficamente histórias.

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Figura 25 - Um dos diagramas utilizados por Royo para explicar a relação entre designers, tecnologia e usuários.

Figura 26a e 26b - Mais um esquema do livro Design Digital sobre as condicionantes do designer digital (página completa acima e o detalhe abaixo)

“Design Digital” Javier RoyoRosari. 170 páginas

O livro é essencialmente teórico. Foi composto na fonte Syntax. Miolo em papel offset e capa em papel cartão com laminação-17cm x 24cm. Apesar de ser 85% texto, o livro possui diversas ilustrações simples, que remetem ao universo infantil e tem uma característica cômica.

Na página 95 temos um diagrama, que pode ser classificado como facilitação gráfica, pois utiliza desenhos, poucas palavras, fle-chas, pontos e linhas para gerar um significado, nesse caso o de explicar a relação entre o designer, a tecnologia e o usuário, den-tro de um determinado contexto.

Mais adiante, na página 104, um gráfico explica o condiciona-mento do designer digital, relacionando a evolução natural do de-sign com a pressão e a velocidade da sociedade.

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Figura 27 - Capa de DT para Educadores

“Design Thinking para educadores”Fabio Silveira e Priscila Gonzales. Disponível em http://issuu.com/dtparaeducadores 90 páginas.

O livro digital lançado em 2014, utiliza a facilitação gráfica ao organizar o conteúdo das cinco partes que compõem o livro (fora a introdução e o apêndice).

Os autores utilizam um símbolo para o abre de cada capítulo (des-coberta - bússula; interpretação - lupa; ideação - lâmpada; expe-rimentação - engrenagem; evolução - flechas em formas cíclicas).

Além disso, os autores criaram um gráfico que revela o processo do design, onde cada parte é também uma das etapas descritas no livro.

A abertura de cada capítulo, cada etapa fica de uma cor diferente no gráfico.

Figura 28 - Fluxo do processo de design thinking, com os ícones de cada etapa.

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“Reuniões Visuais”David Sibbet. Alta Books. 265 páginas.

O livro em formato paisagem (24cm x 17cm) foi escrito, ilustrado e projetado por David Sibbet. Ele possui ilustrações, metáforas visuais, fotos de paineis feitos por David, imagens de passo - a - passo em todas as páginas.

Como a publicação incentiva que as reuniões e projetos de seus leitores sejam mais significativos, ela mesma utiliza muitas técnicas descritas por Sibbet. A capa é colorida e já apre-senta uma facilitação que sintetiza seu conteúdo.

O interior utiliza duas cores - pre-to e verde - para destacar desenhos, texto, imagens, e variações nos tons para hierarquizar o conteúdo.

Figura 29 - Capa do Livro Reuniões Visuais

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Figura 30 - Página interna do livro Reuniões Visuais com os tipos de facilitação gráfica que os profissionais podem fazer

Figura 31 - Segunda parte da página anterior de Reuniões Visuais

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Figura 32 - Capa do Livro BMG

“Business Model Generation - Inovação em Modelo de Negócios” Alexander Osterwalder e Yves PigneurAltaBooks

Da mesma editora e no mesmo formato do Reuniões Visuais, BMG foca mais no exercício de criatividade e auto conhecimento, que são requisitos para criação de ideias inovadoras.

O conteúdo é dividido em cinco partes mais o resumo e o epílogo. Cada parte possui uma cor, que é mais destacada na diagrama-ção: Quadro - vermelho; Padrões- preto; Design-amarelo; Estra-tégia-azul; Processo-verde; Resumo e epílogo - cinza.

O livro possui três tipos de imagens: ilustrações que humanizam, quadro canvas que serve de gabarito e fotos de grupos utilizando a metodologia para desenvolver ideias.

O texto é dividido em duas colunas e vai encaixando nas imagens, que são priorizadas neste projeto.

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Figura 33 e 34 - Páginas duplas com a explicação gráfica do modelo canvas

Figura 35 - Modelo canvas completo e simples. AC - Atividades-Chave; PP - Parcerias Principais; RP - Recursos Principais; C$ - Estrutura de Custo; RC - Relacionamento com Clientes; SC - Segmentos de Clientes; PV - Proposta de Valor; CN - Canais; R$ - Fonte de Receitas

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Figura 36 - capa do PDF BrandyFesto

Figura 37 - interior da publicação BrandyFesto

“Brandyfesto - draw practice shape be”Brandy Agerbeck. Loosetooth. 26 páginas (PDF)

Criado e disponibilizado gratuitamente pela facilitadora gráfica Brandy Agerbeck, o Brandyfesto (trocadilho com manifesto) tem o objetivo de convencer os leitores que desenhar é uma ferramen-ta de pensamento, qualquer um pode desenhar e que há um meio de recuperar e redefinir o desenho de forma a usá-lo a favor das pessoas.

A diagramação é simples, 26 A4 fechados em pdf, formato paisa-gem. O projeto gráfico é dividido em duas colunas, onde o texto está sempre na direita, e fotos da Brandy trabalhando, exemplos de facilitações gráficas e desenhos que complementam o conteúdo estão à direita.

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Figura 38 - Capa documento sobre a PNRS

“Guia para a implantação da Política Nacional de Resí-duos Sólidos nos municípios brasileiros de forma efetiva e inclusiva”Programa Cidades Sustentáveis. 57 páginas (PDF)

O Programa Cidades Sustentáveis tem como objetivo sensibi-lizar, mobilizar e fornecer às cidades brasileiras ferramentas que as auxiliem a se desenvolverem de forma econômica, social e ambientalmente sustentável. Defender essa causa e colocá-la em prática representam um grande desafio. A participação de ci-dadãos, organizações sociais, setores empresariais e governos é condição essencial para que esses objetivos sejam bem sucedidos. (NOSSA SÃO PAULO).

A publicação é o resultado de um dia de workshop com pessoas de diversas ONGs, coletivos e grupos que discutem a PNRS - Po-lítica Nacional de Resíduos Sólidos. 80% do pdf em tamanho A4 paisagem, é texto, dividido em duas colunas, com fotos e box que acompanham a largura das colunas.

Algumas páginas são diferentes, elas trazem as facilitações grá-ficas feitas por Vitor Massao (Coletivo Entrelinhas) no dia do en-contro, e que ajudaram o grupo a discutir o conteúdo aprofunda-do na publicação.

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Figura 39 - Interior da publicação sobre a PNRS

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“+ Telecentros - Educação, Tecnologia e Cultura pela inclusão digital”Centros de Referência em Assistência Social 45 páginas (PDF)

O encontro do CRAS (Centros de Referência em Assistência So-cial) também foi acompanhado pelos facilitadores do Coletivo En-trelinhas. O projeto gráfico da publicação, com o resultado dos debates, além de fotos e gráficos de atendimento dos Centros, combinou com os mapas de ideias produzidos pelo Entrelinhas, que também fez a facilitação do grupo no que diz respeito a or-ganização do evento. O relatório possui 45 páginas, formato A4, texto em preto, detalhes em vermelho, fotos coloridas e os mapas multicoloridos.

Cada momento do encontro ganhou um painel para registrá -lo: Apresentação e boas-vindas, Fluxos de comunicação, Mapa de articulações municipais, Troca de experiências, Aquário (técnica de facilitação de processos), Espaço Aberto (idem), Definição dos próximos passos.

Os demais momentos, como consi-derações e avaliações do encontro, ganharam gráficos tradicionais de análise quantitativa e colheitas de análise qualitativa. Para auxiliar na leitura dessa colheita a publica-ção conta com uma nuvem de ter-mos para ver quais os mais recor-rentes.

Figura 40 - Capa do Relatório do 1º Encontro CRAS Figura 41 - Interior do relatório com o primeiro painel de boas - vindas

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“The Sketchnote Handbook - the illustrated guide to visual note taking” Mike Rohde52 páginas. (PDF)

O livro é um manual que se propõe ensinar a fazer registros sig-nificativos de eventos ou situações. Sketchnote significa ‘anota-ção’, mas de forma diferente, combinando tipografia e desenhos simples para registrar ideias, integrando no cérebro o modo visu-al e verbal.

É uma facilitação gráfica em pequena escala, porque os sketchno-tes são feitos em pequenos cadernos, como os do tipo Moleskine. Rohde, o autor, fez o livro em forma de anotações criativas ensi-nando como se faz.

Dividido em sete partes o sketchnote primeiro explica o que são estas anotações diferentes, porque fazer essas anotações, a im-portância de ouvir, o processo de anotar de forma criativa, os tipos de sketchnotes, modos de fazer pensando na hierarquia e personalização, e por fim as técnicas.

Rohde destaca como elementos do sketchnot,e os mesmos pontos que Sibbet e Agerbeck já tinham destacado na facilitação grá-fica em paineis: títulos, tipografia, diagramas e desenhos, letra manuscrita, linhas divisórias, flechas, símbolos (bullets), ícones, balões de conteúdo e assinatura para finalizar.

Rohde incentiva o uso da técnica para eventos e sempre fotogra-far as anotações quando acabar e compartilhar na rede, assim o conteúdo chega a mais pessoas, difundindo a técnica e o seu executor.

Figura 42 - Interior do livro com ilustrações de Rohde

Figura 43 - Sketchnote feita por Eva Lotta para o livro de Rohde sobre seu trabalho de anotações criativas

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Vídeos em Facilitação Gráfica

Vídeos não são exatamente conteúdos editoriais. Mas conteúdos editorias podem ser apresentados em vídeos. Por isso listei al-guns vídeos sobre temas diversos que usam a facilitação gráfica, animação e metáforas visuais para explicar temas complexos:

The Story of Stuff

“A História das Coisas” foi escrito por Annie Leonard e Jonah Sa-chs, dirigido por Louis Fox e produzido pela Free Range Studios. A produção executiva inclui Tides Foundation e Funders Work-group for Sustainable Production e Consumption. Ele foi feito em dezembro de 2007.

Esse vídeo, com mais de 2 milhões de visualizações, combina de-senhos simples, animação, encenação e narração para explicar o ciclo de produção, consumo e descarte das “coisas”. Baseado na pesquisa de 10 anos da cientista Annie Leonard, em 20 minu-tos convence a repensar o sistema linear de extração, produção, distribuição, consumo e descarte num planeta finito. Algo está errado.

O modelo de “A História das Coisas” deu tão certo que se transfor-mou em um projeto desdobrado em outros vídeos com as mesmas características: A História da Solução, A História da Água En-garrafada, A História dos Cosméticos, A História dos Eletrônicos,

A História da Mudan-ça. A seguir imagens do vídeo principal em andamento. (disponí-vel em http://storyofs-tuff.org/movies/story--of-stuff/, acesso em 21 de março de 2014)

Figuras 44, 45 e 46 (sentido horário) - imagens do video The Story of Stuff em anda-mento

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“Mudando os paradigmas da educação”The RSA

A RSA ( Real Sociedade para o encorajamento das Artes, Manu-faturas e Comércio, em inglês) é uma organização de esclareci-mento, criada para buscar soluções práticas e inovadoras para os desafios sociais de hoje em dia. Por meio de suas ideias, pesqui-sas e 27 mil seguidores-colaboradores, ela busca compreender e aumentar a capacidade humana para fechar uma lacuna entre a realidade e o que as pessoas imaginam como um mundo melhor. Um modo de ter acesso às pesquisas complexas da The RSA, é por meio de seus vídeos.

O mais conhecido é “Mudando os Paradigmas da Educação”, em 11 minutos e 40 segundos na narração e uma mão desenhando ilustram a palestra sobre a pesquisa de Ken Robinson, um reno-mado especialista em educação. O audio da palestra foi gravado e editado para poder servir de narração ao painel, que não foi feito em tempo real, mas de forma contínua.

Cada teoria de Robinson foi sendo desenhada de forma a inte-grar-se com o todo. No fim do vídeo, podemos ver como ficou o desenho final. Feito em duas cores, preto e laranja, este vídeo é diferente de A História das Coisas por não utilizar os desenhos animados, pelo narrador não aparecer no vídeo, como Leonard aparece, e por mostrar a mão que desenha. A seguir imagens do vídeo no começo e no fim, o painel todo. (Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=zDZFcDGpL4U, acesso em 22 de março de 2014). Os demais vídeos da The RSA aqui: https://www.youtube.com/user/theRSAorg

Figuras 47- início do vídeo “Mudando os paradigmas da educação”

Figuras 48- final do vídeo com todos os desenhos e textos formando o painel

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Entenda o projeto de lei Tarifa Zero SP

Vídeo de 2013, uma produção coletiva de vídeo realizada pelo Projeto Cala-Boca Já Morreu e pelo Coletivo Entrelinhas, como colaboração para a Campanha Tarifa Zero.

Diferente do vídeo da The RSA, este conta com uma dupla na narração, dois jovens que se revesam. O texto foi escrito especial-mente para o vídeo e os desenhos são metáforas do que está sendo dito, no anterior são ilustrações e até mesmo o texto idêntico ao que é falado.

O vídeo do Coletivo Entrelinhas usa ainda colagens de outros ele-mentos já desenhados. Como no The RSA, a mão do facilitador gráfico é vista na filmagem. Este também utiliza menos efeitos de edição, como aceleração de câmera, mais presentes nos dois últimos.

Ao lado imagens do vídeo, disponível em https://www.youtube.com/watch?v=GjRU4yMD2Lc, acesso em 22 de março de 2014.

Figuras 49 e 50 - Duas imagens do vídeo com intervenções de colagens.

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Facilitação Gráfica para Nextel

O vídeo é na verdade uma palestra animada pela ferramenta Prezi (de apresentações criativas), feita pela consultoria Design de Conversas, de Victor Farah e Amanda Gambale.

Trata-se de uma mensagem motivacional, destinada ao público interno da Nextel, ou seja, seus funcionários, sobre liderança, inovação e resultados. Sem narração, as ilustrações e pequenas frases foram organizadas na ferramenta Prezi, de forma a criar uma narrativa.

Além de não ter a narração e a mão do desenhisa, a principal diferença é não vermos como os desenhos se conectam quando acaba o vídeo.

A seguir, imagens da apresentação que está disponível aqui http://bit.ly/1rcXi7X, acesso em 22 de março de 2014.

Figuras 51 (acima) e 52 (ao lado) - Dois momentos do vídeo para Nextel com facili-tação gráfica

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Figuras 53 - Final do vídeo da Atrium Consultoria com o painel completo

Amostra do trabalho da Atrium Consultoria

Em dois minutos e meio as facilitadoras gráficas da Atrium Con-sultoria, explicam como seu trabalho funciona e que tipo de even-to pode se beneficiar dos serviços da empresa.

O vídeo foi editado em Quick Time e não possui narração, mas possui a mão da desenhista, textos escritos com a letra manuscri-ta e outros com letras digitais.

Os desenhos prevalecem à quantidade de texto. A “câmera” começa focando no desenho e vai seguin-do em plano sequência, sempre para a direita.

No fim, o enquadramen-to abre e percebemos que cada desenho que foi feito fazia parte de um grande painel. Disponível em ht-tps://www.youtube.com/watch?v=1aW6bQWa2j4, acesso em 22 de março de 2014.

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CAPÍTULO 5 - entrevistas com facilitadores/as

gráficos

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CAMILA RIGOCamila Scramim Rigo tem 34 anos e é formada em publici-dade, mas migrou para o trabalho com grupos e chegou à facilitação de processos participativos e à facilitação grá-fica. Hoje se considera sim uma facilitadora gráfica, por usar o registro gráfico em reuniões significativas, uma de-nominação do Art of Hosting (AOH ).

O AOH é um grupo de pessoas que dominam a arte de an-fitriar conversas. Ou seja, apoiar grupos para que reuni-ões e debates fiquem mais produtivos. Camila é sócia em uma empresa de facilitação de grupos, a Cocriar, mas seus trabalhos como facilitadora gráfica geralmente vem por conta da consultoria Mundo Afora, que montou com seu pai para qualquer atividade que estivesse fazendo.

Ela atua como facilitadora gráfica no Brasil inteiro, mas predominantemente nas regiões Sul e Sudeste, há quatro anos. Ela concedeu a entrevista por e-mail no dia 29 de outubro de 2013, e no dia seguinte recebeu a pesquisadora para uma conversa sobre seu site, Art Of Hosting e a dife-rença entre colheita e facilitação gráfica

• O que é facilitação gráfica para você?

Para mim é um tipo específico de Colheita, que é um registro visí-vel aos participantes de uma conversa os “frutos” produzidos, em tempo real. Na Facilitação Gráfica a linguagem visual é aliada da linguagem verbal para produzir registro mais interessantes, leves, coloridos, divertidos.

• Por que e como você criou seu site…

Eu acho que foi mais uma necessidade de eu organizar os meus

aprendizados do que propriamente sentir falta de, é claro que quando você publica um site e não escreve num caderno tem um lado que é motivação de compartilhar o que eu aprendi, mas eu sentia muito essa necessidade de ter um repositório de coisas que eu fui sacando que são legais, bacanas, ou para aplicar em outros contextos ou para perceber olha que interessante perceber como contextos diversos, então acho que teve um momento primeiro de eu organizar os meus aprendizados acho que tem um movimento de falar para o mundo que eu aprendi algumas coisas e que eu fui cha-mada para aplicar aquelas coisas, então tem um lado divulgação.

Tem um lado divulgação, mas eu não via muito sentido em fazer divulgação tradicional de ficar vendendo serviço. Eu achava que os cases mesmo, as experiencias eram mais férteis, até por isso, você vai falar de uma super vantagem mas que não acontece num outro contexto, então é mais legal que esteja conectado com aque-le contexto do aprendizado que ele foi produzido. Em termos de motivação foi isso.

• Em quais setores você mais atua? Existe diferença na metodologia de trabalho?

Trabalho principalmente no 2o setor (grandes empresas) e, com uma frequência menor, no 3o setor. A atividade econômica varia bastante (tenho clientes nas áreas de saúde, infraestrutura, cos-méticos, comércio, industria de base, bancos, educação, papel e celulose, telefonia, automobilística). A metodologia de trabalho não varia, não. É sempre ouvir, sentir qual a essência do conteú-do que precisa ser sintetizado, criar metáforas visuais ou ilustra-ções que remetam ao conteúdo e mandar bala!

• Ao ser convidado para fazer um painel/mapa de ideias, como você se prepara?

Converso com o cliente para entender o objetivo e a estrutura do encontro, dou uma olhada no site dele para entender as cores e

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linguagem visual adotada, separo e testo todos os materiais, cui-do de estar descansada e totalmente presente no dia do evento. No mais, confio bastante na minha bagagem e intuição.

• Como você define o seu estilo de facilitação?

Foco no conteúdo, nas relações de significado e na inteligência coletiva.

• Você trabalha sozinha ou tem um outro facilitador de grupo junto?

Eu nunca faço os dois juntos. A facilitação de processos e a fa-cilitação gráfica. Eu faço ou um ou outro. Eu acho um desafio grande, porque eu entendo que o “drive” de quem está colhendo é diferente do drive de quem está conduzindo processo, especial-mente pq eu tenho essa atenção voltada para o conteúdo.

Eu acho que já é trabalho suficiente você ouvir todo o conteúdo, tentar extrair a essência, fazer síntese, e expressar isso com uma linguagem visual acompanhando, eu acho que é trabalho já bas-tante suficiente.

Quanto a fazer o registro gráfico sozinha, depende do tamanho do grupo, se é um grupo muito grande e que a gente tem que en-contrar formas criativas de fazer o conteúdo ir chegando para a gente. Por exemplo, fazemos subgrupos e as pessoas podem pro-duzir cartoezinhos com sinteses do que elas estão fazendo e a gente precisa coletar tudo aquilo e organizando isso visualmente em tempo real pq isso vai alimentar a próxima fase do processo. Isso é uma coisa difícil de fazer sozinho.

• A organização visual de ideias e discussões geralmente facilita reuniões ao vivo, isso também vale para livros, de que tipo?

Tendo a achar que livros que precisem ter o entendimento facili-tado, como é o caso dos livros teóricos / didáticos, poderia ter um benefício direto com a organização visual de idéias. No caso dos livros para fruição, como é o caso da ficção e do romance, eu sin-ceramente não percebo um benefício tão grande. Mas penso que livros de auto-ajuda seriam grandes candidatos a se beneficiarem da linguagem da Facilitação Gráfica.

• Você poderia citar exemplos de projetos gráficos que usem facilitação gráfica como ponto de partida. Seu trabalho já “migrou” também, ou serviu de inspiração para um projeto editorial?

Só conheço livros sobre Facilitação Gráfica que claramente te-nham a Facilitação Gráfica como ponto de partida. Creio que aquela coleção “O Livro da Filosofia”, “O Livro da Economia”, “O Livro da Psicologia” acaba tendo alguma relação com essa arte de tentar utilizar ilustrações para facilitar o entendimento ou “colo-car luzes” sobre a essência de uma determinada corrente teórica. Não, meu trabalho não migrou ou inspirou um projeto editorial ainda, que eu saiba.

• Você acha que existem profissionais suficientes no mercado?

Não considero esta uma atividade imprescindível (o mundo con-segue sobreviver sem ela), mas tenho sentido um aumento na de-manda que pode chegar, sim, ao limite da capacidade dos atuais profissionais em atendê-la. Ainda não está nesse ponto.

• O que você acha da capacitação desses profissionais?

Os profissionais que conheço são bem preparados. Cada um no seu estilo e no seu foco (alguns com mais foco na linguagem visu-al - e portanto melhores nisso! - outros com mais foco no conteú-do, como eu).

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• O que falta para que a formação em facilitação gráfica no Brasil seja plena?

Na minha opinião, duas coisas são essenciais: de um lado, desenvolver a capacidade de síntese, o relacionamento entre ideias; de outro, desenvolver o traço, a linguagem visual. Talvez não seja a resposta que você esperava, mas penso que um bom ensino funda-mental em língua portuguesa, matemática e educação artística já seriam excelentes (e talvez suficientes) pontos de partida. Outros aprimoramentos poderiam ser conseguidos em cursos livres de cartoon e de ilustração voltada para metáfora visuais.

• Você poderia explicar melhor o que é colheita por ser do AOH (Art Of Hosting)

Antes de ser Facilitadora Gráfica, antes de eu saber que isso exis-tia, quando eu participei de uma imersão do AOH eu vi pela pri-meira vez esse papel da pessoa que faz registro, qualquer registro visando a todos os participantes de uma conversa e o poder que isso tem, como é diferente de você fazer uma anotação pessoal escondidinha e uma anotação grande visivel para todo mundo.

Eu iniciei o trabalho sendo colheitadora, eu entrava numa reu-nião que queria ser mais produtiva, que queria gerar uma me-mória de maior qualidade do era gerado, e pegada um flipchart e anotava cada coisa em caneta mesmo, caneta piloto, fui notando e deixado visivel, então fiquei com um flipchart colado atrás do outro com as ideias organizadas daquela reunião.

Eu fui percebendo assim, coisas muito interessantes acontecen-do: primeira coisa, as pessoas saindo de uma reunião de 2 horas falando assim “gente eu não acredito que produzimos tudo isso em duas horas” e não porque tivesse alguma coisa muito especial nessa reunião, mas em geral porque as reuniões não são, tem esse lado do produtivo, vou falar disso, mas em geral elas não são

acompanhadas e detalhadas o conteúdo para você ter essa visão. Ou “Nossa! Por quantos assuntos passamos aqui, quanta riqueza nas falas até aqui”. As falas ao vento a gente vai perdendo, as mensagens que foram trazidas e tal.

Segunda coisa, tornar a reunião mais produtiva porque tem um fenômeno que acontece nas reuniões que é, e é natural assim, sem falar nada de mal de quem faz reuniões, mas assim, quando algo é dito que gera um gancho com alguma história sua, natural-mente você vai para sua história e começa a divagar e não sei o que e num determinado momento você leva um susto e fala “dei-xa eu voltar para a reunião” e você volta e tem toda aquela fase de voce tentar entender onde eles estão e o que eu perdi… Você vai entrar na reunião mesmo um pouco depois, e pode acontecer de uma pessoa ter um gatilho em um momento que você ainda está se familiarizando com negócio. As coisas estão desconexas poque as pessoas se desconectam e voltam e outra se desconecta e volta… As pessoas não participaram da mesma reunião, quando você tem o registro visível as pessoas tem essa possibilidade de rever o que perderam se distraindo.

Terceira coisa: todo mundo que já participou de reunião já sentiu aquela coisa assim “gente essa pessoa ta falando isso de novo” e batendo na mesma tecla, e na mesma tecla. Por quê? Porque mui-tas vezes a gente não tem certeza que a gente foi ouvido, não te-mos certeza se as pessoas estavam ouvindo nesse momento, não temos certeza se a gente foi bem compreendido do que a gente disse, então queremos redizer e redizer e redizer, se foi feito um trabalho de colheita daquela reunião, você olhando lá que tá es-crito e o que está escrito é o que queria passar, você se tranquili-za, então esse tipo de fala você elimina da reunião, então tem isso de deixa-la mais produtiva e tem o outro lance de você conseguir enxergar essa produção.

Isso é colheita pura de reunião. Existem vários formatos de co-lheita, tem esse que é o bem objetivo é o que eu fazia, é cognitivo

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mesmo, organização de informação relações não sei o que, porque eu tenho um perfil mais estruturante então é assim. Tem outros tipos de colheita, que são muito mais sensíveis, tem colheitas que são músicas, tem colheitas que são poesia. Qualquer outro tipo de expressão, que possa resgatar algum aspecto que seja essencial e importante daquele encontro daquela conversa e que possa ser devolvido para o grupo.

Outra característica interessante da Colheita é checar conheci-mento. Se de repente aquilo escrito não foi bem o que ela disse, ou queria dizer, então a pessoa fala que o que ela queria trazer realmente e o grupo segue em diante a partir dali.

Colheita é uma coisa mais ampla que a Facilitação Gráfica, que no meu modo de ver é um tipo específico de colheita.

• E esse termo vem de alguma coisa em inglês, de harvest, ou foi aqui no Brasil que foi criado?

Foi no Art Of Hosting que, no internacional, que esse termo foi criado, foi criado como harvesting, mas também tem essa relação de estranhesa que acontece no portugues, acontece no inglês… se você procurar no google harvesting vai ver coisas agrícolas, assim como se você procurar colheita virá coisas agrícolas, então ela é uma linguagem figurada, é uma metáfora.

A seguir, exemplos do trabalho da Camila.

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Figura 54 - Painel para o Encontro Sobre Educação e Empreendedorismo da Ernest & Young, de 2013. Arquivo pessoal.

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Figura 55 - NEA (Núcleo de Educação Ambiental - Fibria) – painel e colheita do encontro de Planejamento Estatégico, de 2011. Arquivo pessoal.

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Carla hirata

Carla Cristina Hirata Miya-saka tem 26 anos e vive em Brasília. É artista plástica e facilitadora de grupos.

Carla se considera uma re-gistradora gráfica, e não fa-cilitadora propriamente dita, por avaliar que os paineis que constroi com seu sócio, Vitor Massao, do Coletivo Entreli-

nhas funcionam mais como registro e para consulta pos-terior do que facilitação do processo ao vivo do grupo, que seria o objetivo da facilitação gráfica.

Ela acredita que sua atuação, enquanto facilitadora de grupos, tenha contribuído muito mais para a formação como facilitadora gráfica do que seu diploma de artista, pois o mais essencial para o facilitador gráfico é a escuta e o poder de síntese, mais do que o desenho.

Em crise com os termos, mas disposta a discutir, ela con-cedeu esta entrevista por e-mail no dia 17 de janeiro de 2014.

• O que é facilitação gráfica para você?

É um processo de colheita e registro, no qual os conceitos e ideias apresentados ao longo de uma fala são traduzidos, em tempo real, em forma de desenhos e mapas mentais lúdicos, orgânicos e atraentes, no intuito de facilitar a assimilação e a fixação dos conteúdos.

Então, Facilitação Gráfica para mim é uma forma de mediar um grupo (ou seja, estar a frente de um grupo, auxiliando-o a chegar a um objetivo comum de forma participativa e conversacional) por meio de mapas mentais e registros feitos em tempo real, nos quais os conteúdos das conversas são traduzidos de forma gráfi-ca, objetiva e orgânica, no intuito de facilitar a assimilação e a fixação dos conteúdos.

O que eu faço hoje, acredito, é Registro Gráfico, que como disse anteriormente, é um processo de colheita e registro, no qual os conceitos e ideias apresentados ao longo de uma fala são traduzi-dos, em tempo real, em forma de desenhos e mapas mentais lú-dicos, orgânicos e atraentes, no intuito de facilitar a assimilação e a fixação dos conteúdos. A diferença é que é algo feito meio que dissociado do grupo. O registro é feito num canto da sala enquan-to outra pessoa conduz a conversa em outro canto da sala.

• Você se considera um facilitador gráfico? Se não o que você é?

Estou no meio de uma crise. Eu me considero uma Graphic Re-corder [Registradora Gráfica]. Na Conferência que fui em Nova York vi muito clara essa diferença entre Graphic Facilitation e Graphic Recording. Há muito clara a percepção sobre o que é Fa-cilitação Gráfica e sobre o que é Registro Gráfico. O que acredito não ser tão claro aqui no Brasil, por isso digo que sou Facilitadora Gráfica, que é o nome pelo qual esse mercado está sendo reconhe-cido, mas penso que ainda sou uma Graphic Recorder.

Massao, meu sócio, e eu sempre tivemos o desejo de fazer mais do que um registro, mais do que um desenho bonito. Isso é algo que buscamos a cada trabalho, mas não é sempre que consegui-mos. Ainda são poucos os clientes que topam sentar conosco para pensarmos juntos a programação e a metodologia do evento, para então pensarmos como a potencialidade de facilitação de conteú-do que a Facilitação Gráfica possui pode ser utilizada. Apesar de tentarmos e acreditarmos que é possível facilitar um grupo com

Figura 56 - Carla Hirata trabalhando. Arquivo pessoal

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Facilitação Gráfica, acredito que ainda fazemos apenas registro gráfico e não facilitação gráfica. Não acredito ainda que o tra-balho que fazemos (nós, todos, facilitadores gráficos brasileiros) gera um impacto no sentido de facilitar as conversas no momento do evento.

Acredito que o impacto da Facilitação Gráfica hoje nos eventos que trabalhamos se dá após as conversas terem sido feitas. Ela per-mite uma continuidade dessas conversas, permite que as pessoas percebam coisas que não haviam percebido antes e entendam os conteúdos trazidos de outra forma e perspectiva, o que pode gerar novos insights. Mas a Facilitação Gráfica ainda não facilita uma conversa, nos termos que entendemos de facilitação...

• Quando começou a trabalhar nesta área?

Comecei a fazer facilitação gráfica em 2010. Sou facilitadora de grupos há 10 anos e sempre que facilitava algum encontro gran-de, eu acabava desenhando cenas das palestras que não eram facilitadas por mim. Eu fazia uma especie de caricatura de deter-minadas falas, eram desenhos soltos sem um fio lógico. Quando descobri a facilitação gráfica, em 2009, percebi que eu já fazia muito das coisas da facilitação gráfica, mas que ainda existia um potencial enorme a ser explorado. • Em quais setores você mais atua? Existe diferença na

metodologia de trabalho?

Instituições não-governamentais, movimentos sociais, governo. A maioria dos trabalhos está relacionada à politicas públicas, isso ocorre porque tanto eu quanto o Massao atuamos há muitos anos nessa área como ativistas. Sendo assim, nossa rede de contatos é muito forte nesse âmbito.Fizemos poucos trabalhos para a ini-ciativa privada. Não sei dizer se existe uma diferença na meto-dologia. O que percebo é que as empresas estão menos abertas a conversar sobre a metodologia conosco e estão mais focadas no

produto da facilitação gráfica e não no processo. • Ao ser convidada para fazer um painel/mapa de ideias,

como você se prepara?

Primeiro de tudo é garantir o espaço físico adequado para fazer-mos o painel. Quando possível, visitamos o local do evento para ver se as paredes são lisas, se podemos pregar papel nas paredes, se há espaço suficiente de circulação para gente. Se não, fazemos por telefone com a pessoa responsável pelo espaço ou pelo evento. Caso não haja condições ideais para fazer o trabalho, corremos atrás de uma estrutura mínima.

Outra coisa importantíssima é fazer um bom briefing com o clien-te. Sobre o que é o evento, qual o objetivo, o que ele espera do nos-so trabalho, qual é a programação, qual é a metodologia. Quando possível, pedimos as apresentações de ppt dos palestrantes (não é sempre que conseguimos). Após receber todo esse material, ve-mos se não tem nada que nos deixa dúvidas, como siglas e termos desconhecido por nós. Ainda que tiremos todas as dúvidas com o cliente, pedimos para que uma pessoa chave (do cliente) fique atenta ao registro para que, caso ela escute algo que é super im-portante de registrar e que talvez a gente não pegue por desco-nhecer a dinâmica do grupo, ela nos avise.

A partir daí, planejamos a quantidade de painéis baseados na programação e lá na hora, um pouco antes de cada atividade, pensamos a estrutura do painel.

• Como você define o seu estilo de facilitação?

Percebo que há um equilibrio entre escrita e desenho nos pai-néis que faço junto com meu sócio Massao. Colocamos bastante conteúdo escrito, mas de forma sintética, e brincamos muito com metáforas visuais que conversam com os conteúdos. No entanto, quando trabalho sozinha há muito mais escrita do que desenho,

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da mesma forma de quando o Massao trabalha sozinho, há muito mais desenho do que escrita.

• A organização visual de ideias e discussões geralmente facilita reuniões ao vivo, isso também vale para livros, de que tipo?

Acredito que para livros teóricos e didáticos possa ser uma fer-ramenta bastante eficaz, uma vez que a organização visual das informações ajudam na assimiliação e na memorização dos con-teúdos. Mapas mentais são recursos muito eficientes na hora de estudar alguma coisa.

Já para livros de ficção, romances e todos esses outros tipos que pedem que sua imaginação se solte e crie um mundo a parte ba-seado na historia que se está lendo... Não sei explicar muito bem, mas é a mesma sensação que tenho quando vejo um filme base-ado num livro antes de lê-lo. Quando vou ler o livro não consigo desassociar o filme da historia. • Seu trabalho já “migrou” também, ou serviu de inspira-

ção para um projeto editorial?

Recebemos os relatorios de alguns dos eventos que participamos, no quais os clientes usaram as imagens dos painéis:• Multi&Stakeholder Workstudio – ‘’Innovation towards Sus-

tainable Entrepreneurship, Sustainable Consumption and Production on the ICT Sector’’ (2012) Disponível em http://bit.ly/1ikPOt2 acesso em 4 de abril de 2014

• 1º Encontro Regional de CRAS (Centros de Referência em As-sistência Social) Disponível em http://bit.ly/1jJ1YPy, acesso em 4 de abril de 2014

• 2º Encontro Regional de CRAS (Centros de Refe-rência em Assistência Social) Disponível em http://bit.ly/1ikPVFa,acesso em 4 de abril de 2014

• Você acha que existem profissionais suficientes no mercado?

No Brasil não, em Brasília muito menos. É um mercado muito novo no Brasil, as pessoas estão começando a descobrir agora e a demanda aumentou consideravelmente.

Em Brasilia, ainda há pouquíssimos profissionais. A demanda têm aumentado e os poucos profissionais que existem precisam se desdobrar para atender tudo, quando é possivel.

• O que você acha da capacitação desses profissionais?

Ainda é muito fraca e falo por minha própria experiência. São poucos os cursos especificos de Facilitação Gráfica e são introdu-torios. Depois de fazer o curso, o lance é se esforçar para adquirir experiencia fazendo. Massao e eu demoramos um tempo até dar-mos um salto de qualidade e chegarmos onde estamos hoje. Mas isso significou alguns trabalhos que hoje consideramos ruins.

• Você já participou de algum congresso de facilitadores gráficos, o que achou? Sente falta de eventos assim no Brasil?

Participei nesse ano do IFVP Big Apple 2013 Conference. Foi a 18a. edição dessa Conferência. Foi uma experiência incrível! O que mais me atraiu foi a oportunidade de ver uma porção de faci-litadores gráficos trabalhando ali ao vivo! Ver o processo criativo de cada um foi muito bacana. Essa possibilidade de ver como os outros trabalham amplia sua forma de ver seu proprio processo de criação.

Outro aspecto que achei bastante interessante é que além das oficinas e palestras relacionadas à criação e ao campo artistico do nosso trabalho, haviam atividades que focavam na parte busi-ness da profissão (como vender nosso trabalho, como estruturar

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nossa empresa etc), o que acho que seria bastante interessante ter em uma formação em Facilitação Gráfica aqui no Brasil.

Sinto falta de eventos assim no Brasil no sentido de sentir falta de uma rede mais estruturada entre os profissionais da área. É algo muito recente aqui e de-vemos nos unir para fazer crescer ainda mais. Um evento como esse faz justa-mente isso, permite a troca (de expe-riencias, de contatos, de dicas) entre os facilitadores gráficos e fortaleça a pro-fissão.

• O que falta para que a formação em facilitação gráfica no Brasil seja plena?

Reconhecimento da profissão, rede estruturada dos facilitadores gráficos brasileiros.

A seguir, exemplos do trabalho de Carla.

Figura 57 - Montagem no sentido horário: Facilitação Gráfica do Coletivo Entrelinhas, Vitor Massao e Carla Hirata tra-balhando. Arquivo pessoal.

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Figura 58 - Linha do Tempo da SOFTEX, feita em 2013 em parceria com Mariana KZ. Arquivo pessoal.

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Figura 59 - Página dupla do documento Multi&Stakeholder Workstudio – Disponível em http://bit.ly/1ikPOt2 acesso em 4 de abril de 2014

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CarOLINARAMALHETE

Carolina Ramalhete Vieira tem 31 anos e nasceu em Mambai, Goiás.

É bacharel em comunicação social e mestre em desenvolvimento susten-tável. Hoje vive em Brasília, DF e além de trabalhar como consultora de comunicação, desde 2012 é facili-tadora gráfica também.

Carolina concedeu esta entrevista por e-mail em seis de novembro de 2013.

• O que é facilitação gráfica para você?

É uma metodologia de facilitação de grupos que usa recursos de comunicação e arte de forma sinérgica.

• Em quais setores você mais atua? Existe diferença na metodologia de trabalho? Como você se prepara quan-do é convidada para fazer um painel

Eu atuo com maior frequência na área sociobiental e social, e quando recebo algum trabalho procuro ler sobre o tema, estudar siglas e fazer um esboço prévio do layout do painel e de ícones dos temas chave, que podem surgir na conversa do grupo focal.

• Como você define o seu estilo de facilitação?

Valorizo muito a precisão da informação, afinal, sou jornalista. Mas nunca pensei sobre uma marca ou estilo.

Figura 60 - Carolina Ramalhete. Arquivo pessoal

• A organização visual de ideias e discussões geralmente facilita reuniões ao vivo, isso também vale para livros, de que tipo?

Trabalho somente com reuniões presenciais. A organização visu-al da informação facilita a compreensão de qualquer conteúdo, mas isso não é o mesmo que facilitação gráfica. Acho uma exce-lente ferramenta para estudo e auto organização.

• Existem profissionais suficientes no mercado?

É uma área nova, ainda há espaço para expansão, mas precisa crescer também a demanda pelo serviço.

• O que você acha da capacitação desses profissionais?

Acho que para ser facilitador gráfico no Brasil é preciso um misto entre ampliação da oferta de cursos de aprofundamento, auto-didadisto e trocas de experiências entre quem já está no cam-po. Boa parte do aprendizado acontece com a prática, empenho pessoal e com a inspiração de quem já está no caminho há mais tempo.

• O que falta para que a formação em facilitação gráfica no Brasil seja plena?

Bons livros traduzidos para o português, cursos de aprofunda-mento e uma rede fortalecida de troca de experiências entre quem já está na área.

Nas próximas páginas, exemplos do trabalho de Carolina.

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Figura 61 - Painel de comemoração do dia da mulher. Nas raízes, escrevemos com risos e suor nossos valores. “O que é ser mulher? Que belezas reconhecemos em nós?” (com Equipe Escola Millena, Mambai, GO) Disponível em http://on.fb.me/1mCBlOZ acesso em 30 de março de 2014

Figura 63 - Água, projeto pessoal, disponível em http://on.fb.me/1mjytn3 acesso em 30 de março de 2014

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Figura 62 - IV CNIJMA – Painel sobre Escolas Sustentáveis, disponível em http://on.fb.me/1pEgyYg acesso em 30 de março de 2014

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donatellapastorino

Donatella Pastorino é facilitadora gráfica. Mas antes trabalhou como analista de siste-mas. Donatella trouxe a facilitação gráfica para o Brasil.

Em uma viagem aos Es-tados Unidos sua irmã, a também facilitadora Renatta Pastorino, este-

ve em um evento que contava com um facilitador gráfico. Ela foi conversar com ele e pesquisar mais sobre essa ati-vidade.

Donatella estava em um momento de transição na carreira, já possuia uma consultoria em TI, a Atrium Consultoria, já tinha estudado administração de empresas e gestão de negócios. Agora investia em uma graduação em Artes Plás-ticas. Mas foi o treinamento de David Sibbet, em São Fran-cisco (EUA) que deu rumo para a profissão das duas irmãs.

A Atrium teve sua razão social alterada e desde 2003 que Donatella registra reuniões, eventos, conversas, treinamen-tos, cartilhas e manuais para diversas empresas, de diversas áreas, resquícios de seu networking com consultora em TI.

Donatella concedeu esta entrevista, onde conta um pouco de sua vida e trabalho, pessoalmente no dia dois de no-vembro de 2013.

• O que é facilitação gráfica para você?

Para mim a facilitação gráfica é uma ferramenta da aprendiza-gem. Quando a gente está na sala a gente apoia os participantes desse evento, dessa reunião a entender melhor todo o conteúdo que está sendo trabalhado. Ela funciona como um facilitador de aprendizagem. Por que os paineis são grandes, (as pessoas) estão envolvidas por esse trabalho. Dá um sentimento de acolhimento muito grande para quem está na sala ver suas próprias palavras na parede. Então ele está em contato com aquilo o tempo todo. Então, para mim, é uma ferramenta de aprendizagem.

• Você se considera uma facilitadora gráfica?

Eu sou facilitadora gráfica, se você ver no livro da Brandy Ager-beck, ela diz que tem muita gente que se é facilitador gráfico não está facilitando o grupo, é a pessoa que está só escrevendo. Cha-mam de scribing, register (registrador). Mas a Brandy fala “Não, eu sou facilitadora, estou facilitando o processo visual”, então eu estou na linha da Brandy. Sou facilitadora gráfica.

• Você acha que existem profissionais suficientes no mercado?

Eu acho que depende do mercado, o mercado é muito grande. Eu acho que tem espaço para todo mundo e tem vários tipos de faci-litação, não tem um só. Por que tem a ver com o estilo da pessoa e com especialização que ela tem. Eu estou especializada em em-presas, business, alta liderança. Trabalho com presidentes, dire-tores, gerentes.

Por que foi aonde eu me inseri, me especializei e juntei com meu background. Então eu estou muito mais confortável em atender um presidente de empresa, como eles conversam comigo como estamos conversando aqui [durante a entrevista], do que as vezes ong, ou uma causa. Já trabalhei e trabalho ainda, porém, sou especializada nisso.

Figura 64 - Donatella. Arquivo pessoal

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Nos EUA eles atendem muitos mercados segmentados, tem gen-te que só trabalha com farmacêutica, tem gente que só trabalha com ONGs, tem gente que só trabalha com sustentabilidade, área médica, na academia, com professores, mestres. Eles estão sepa-rando por temas. Assim, tem muitas possibilidades, o mercado é muito grande tão vasto que tem espaço para todo mundo. São formações diferentes, eu me inseri numa área que para mim era muito mais fácil entrar, eu já vinha dali. Eu já conheço todas as áreas da empresa, estudei bastante isso por que tem a ver com a minha formação.

• Em quais setores você mais atua? Existe diferença na metodologia de trabalho?

Eu atuo um todos os setores, na verdade, depois de tantos anos de experiência atendemos qualquer tipo, pode ser uma empresa de serviços, tecnologia, industria, mineradoras, petrolíferas, celulo-se e papel. Qualquer tipo de negócio ou industria conseguimos atender, até

ONGs, organizações diferentes, qualquer tipo de organização. E dentro das organizações a gente atende muitas áreas: RH, comu-nicação, só liderança. Independente da área somente os líderes reunidos. 90% do nosso trabalho é para alta liderança, então é um público diferente. é um público específico, e as vezes tem 30 países representados naquela reunião, então são culturas dife-rentes também.

Fazemos muitos eventos crosscultural, que é juntar culturas di-ferentes, por exemplo uma empresa japonesa se junta com uma empresa brasileira. Completamente diferente, então vamos lá e apoiamos o processo de interação cultural.

• Ao ser convidada para fazer um painel, como você se prepara?

Hoje, depois de tantos anos, quase não tem preparo. Preciso sa-ber basicamente para onde eu tenho que ir, qual o nome do tema da reunião e vou. Porque a experiência me permite que eu me adapte a qualquer situação. Mas o ideal, que as vezes acontece, as vezes não. Depende do cliente e do tempo de antecipação que a gente sabe do trabalho, às vezes a gente sabe há três meses do trabalho, mas ainda não têm muita informação suficiente porque ele não foi aprovado, a proposta ainda está rolando dentro da empresa, não é simples.

A empresa não me diz tudo que vai acontecer, todos que irão falar antes de ver e aprovar a minha proposta. Trabalhar com empre-sas não é fácil. Hoje o ideal seria receber um briefing do cliente do que vai acontecer nesse evento para saber que caminho tomar. Terá uma análise swot terei que me preparar porque a análise swat é muita conversa, ideias, jogadas. É um “word café” então terão muitas mesas, uma colheita no final, então eu já sei mais ou menos como que é. Mesmo assim, muda tudo, porque os con-sultores, a gente sempre trabalha com consultores em sala, ou diretamente com a empresa. As vezes o consultor muda tudo!

Como eu sou facilitadora também, porque eu tenho várias for-mações em facilitação de grupo, para mim, grupo é uma massa de pão. Que você vai mexendo e sentindo o que ela precisa, se é água para dar uma amolecida, ou mais farinha para dar uma estruturada. Eu vejo o grupo assim, eu ‘meio’ a sala dessa forma. Então as vezes você está em um evento com tudo desenhado, o facilitador está fazendo isto, o público interno da empresa está e o grupo te leva para outro lugar. E você é obrigada a mudar toda a programação.

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Então mesmo que eu me prepare, mesmo que eu receba toda a agenda do evento pode mudar tudo lá dentro. É fundamental que você tenha um preparo por que depois o que der e vier você está apta a fazer. Por isso a metodologia precisa ser muito forte. Ima-gina se eu tivesse uma metodologia para cada tipo de trabalho para cada tipo de empresa. Então a fórmula tem que ser a mes-ma.

70% do nosso trabalho é só o grupo, geralmente a empresa me chama diretamente e eu fico lá registrando. E 30% tem um facili-tador envolvido, um consultor, com o grupo

• Como você define o seu estilo de facilitação?

Meu estilo é com foco na essência e na informação. Meu estilo não valoriza muito o desenho, ele é secundário. O foco é na informa-ção.

• Quando entra no desenho, tem alguém que faz a arte final para você, ou geralmente é sozinha.

Não, tanto eu quanto minha equipe trabalhamos sozinhas. A gen-te faz tudo, desenha, pinta, escreve, tira o painel, coloca… Vamos sozinhos para o evento, só vamos em dupla quando é em inglês, ou espanhol, porque é muito cansativo, a gente não aguenta, mui-to tempo, então vamos revesando. A cada duas ou três horas uma vai para o painel. Ou quando são mais de 500 pessoas em sala vamos em dupla para captar mais. Eu já fiz um word café com 400 pessoas, 40 mesas, em espanhol, sozinha no Paraguai. E dai a colheita no fim. Depende da configuração do evento, tem cafés que eu posso deixar na mesa ferramentas para que os participan-tes façam a colheita enquanto conversam.

• A organização visual de ideias e discussões geralmente facilita reuniões ao vivo, isso também vale para livros, de que tipo?

Sim, funciona pra livros, para material de treinamento para empresas. Fazemos muito material de treinamento com nossa linguagem visual onde tudo é escrito a mão. Não desenhamos no computador, desenhamos a mão e depois digitalizamos este trabalho. O cliente recebe digitalizado e impresso. Então nós já fizemos a ilustração de livros, com desenhos nossos a nossa lin-guagem, ja complementamos livros com pedaços de painéis nosso e fazemos muito material nosso. Além de vídeos, aquele com a mãozinha desenhando. Mas todo material de treinamento que fa-zemos é confidencial.

Quando escrevemos a mão nosso cérebro se força mais a enten-der. Você presta mais atenção, por isso que esse trabalho é uma ferramenta de aprendizagem. Porque quando você está lendo uma letra com a tipografia do computador o seu cérebro passa muito rápido por ela. Quando você lê a manuscrita observa que ela é diferente da sua, o ‘e’ por exemplo, é mais fechado, mais aberto, o ‘i’ pode ter pingo ou não. O cérebro se força mais para decifrar. E até um desenho. Você faz um starperson, e por que o starperson não precisa estar perfeito como uma pessoa? Porque o cérebro completa a informação para você! Só com 30% da infor-mação o cérebro completa o resto, você faz uma pessoa palito e ele já entendeu que é uma pessoa.

Neurologicamente a gente já tem isso. 70% do nosso cérebro tra-balha para a visão, a visão é um filtro tremendo. Você fixa mais. Os paineis dão vontade de ler, porque é uma coisa colorida, bo-nita, com desenho! Só de escrever colorido já muda tudo. Mate-riais de treinamento, pedaços de livros com esses esquemas, com

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a nossa linguagem são muito bacanas por causa disso. Eu tenho um livro holandês que tem muitos painéis dentro do livro, eles fazem parte. É um livro sobre tecnologia bancária, da área finan-ceira que está apoiado pelos paineis da reunião.

Nossa consultoria faz projetos editoriais, manuais de treinamen-to, coisas de saúde e segurança fazemos muito! Porque você tem que ver aquelas mensagens, tem que ver o como, o bonequinho lá fazendo a ação que tem que ser feita é muito mais efetivo que uma frase e um texto que ele tem que ler numa Cartilha. Então Cartilha do Trabalhador, Código de Conduta...Isso com apoio vi-sual, com a nossa linguagem é muito mais forte.

• Aconteceu com um dos facilitadores gráficos de dese-nhos do painel que ele fez irem parar no relatório de atividades do cliente. Isso já aconteceu com você?

Sim, várias vezes, inclusive os clientes pedem para a gente já fazer desenhos de identidade visual. E a gente explica que não so-mos uma agência de publicidade, não faz branding. Mas os clien-tes querem os nossos desenhos, o nosso traço. Então fazemos.

Eles querem o nosso traço, que já está difundido na empresa, tem empresas que atendemos a cinco ou seis anos. Posso citar um exemplo, fizemos um trabalho para a DELL agora, fizemos o registro gráfico de dois ou três eventos, e eles iam fazer um livri-nho de anotações sobre cloud computing e pediram para fazermos as anotações para ficar nos livrinhos, e fizemos. E eles adora-ram. Mas por que? Porque temos a experiência de transformar o texto numa imagem, uma imagem forte que represente aquele texto. De novo, tem a ver com informação, não é o desenho só. Não somos ilustradores, não somos desenhistas, conheço gente no mercado que é desenhista, ilustrador e está migrando para a facilitação gráfica. Mas o nosso foco não é esse, é informaçao.

Da demanda de trabalho que exite, trabalhando sua agenda e de seus colegas você vê que tá faltando gente para fazer isso ou “Nossa não vai dar tempo”, você não tem um parceiro para indi-car, por que ele também está cheio de trabalho.

Olha acontece em parte para mim, por que somos um equipe de quatro pessoas, sou eu e mais quatro que fazemos esse trabalho. Então como são cinco é muito difícil não ter agenda porque sem-pre uma ou outra vai ter. E eu não tinha muito acesso a essas outras pessoas que fazem esse trabalho, agora que eu estou come-çando a conversar com elas, conhecendo mais… Desde Nova York (no congresso IFVP) onde a gente se conheceu.

• O que você acha da capacitação desses profissionais? Aqui no Brasil e sua experiência nos EUA.

Aqui no Brasil eu não conheço como é essa capacitação, eu sei que eu tenho muito cuidado com ela, de vez em quando eu dou curso fechado em empresas, porque nós somos humanos e temos tendência a interpretar as coisas. A formação de um profissional demora de seis meses a um ano, no mínimo! Para trabalhar em empresas como eu trabalho. Você tem que ter um conhecimento mínimo prévio do que eles estão falando, você não pode chegar numa reunião que eles estão falando breaktrue, por exemplo, você precisa saber o que é.

No exterior é muito diferente a capacitação também, não existem muitas opções para você se capacitar, e as poucas que tem, eu por exemplo me capacitei com o David Sibbet o autor do livro Reu-niões Visuais, eu conheço ele pessoalmente, há oito anos já. Um amor de pessoa. Ele fez jornalismo e faz journaling desde sempre, desde adolescente. E ele tem todos os journals guardados, ele tem mais de 500. Ele numera e guarda na sequência. É muito bacana você estar numa reunião, num evento ao lado dele e ele está fa-zendo o journal, mas o journal dele é um registro gráfico.

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Quando eu fui fazer minha capacitação nos EUA eu aprendi uma forma muito objetiva e muito resumida. Os americanos traba-lham com um painel só para o dia todo. Tem que caber. Eles pe-gam a essencia, da essência da essência. Só. Eles não vão colocar lá a abertura, os passos, uma palavra já resumiu 45 minutos de fala. Isso vem da cultura norte americana. Na cultura latina, por que eu sou latina e moro no Brasil, não é assim. Os latinos são prolixos, gostam de falar, sao redundantes, a lingua hispânica, o espanhol, é muito redundante! Você tem que colocar todos os detalhes, mais até que o português.

Inglês é lingua objetiva, quando eu fiz minha formação lá fora eu aprendi a cultura americana de fazer. E cheguei aqui para fazer esse trabalho e não foi muito aceito. Eu tive que adaptar a for-mação que eu tive lá fora para a cultura brasileira latina. Como eu trabalho muito fora do Brasil na América Latina, eu tive que adaptar, colocar mais informação, mais detalhe, mais cor.

Os americanos usam duas ou três cores, eles olham o meu traba-lho e falam “Uau, como você consegue combinar tantas cores? ma-ravilhoso”. Na América Latina é assim, gostamos de cor, de deta-lhe, de informação. Eu adaptei e criei uma metodologia minha aí eu criei o meu universo de organizar a informação, de análise de sistemas, e tudo aquilo que eu já trabalhava antes, por isso que eu agreguei. Juntei os dois universos. Porque só a formação lá de fora não foi suficiente para sustentar nesta cultura brasileira nativa. Agreguei outras ferramentas e muito da minha persona-lidade também para fazer o trabalho que faço hoje de uma forma que as pessoas aceitem, comprem!

Sobre a formação tem uma outra coisa bacana sobre a formação. Tem uma entidade chamada Kaos Pilot (pilotos do caos, em por-tuguês), que fica na Dinamarca. É uma formação com jovens, de no máximo 20 poucos anos de no máximo 10 meses. E você apren-de a facilitar grupos, lidar com técnicas de dinâmicas de grupo, inclusive facilitação gráfica.

• O que falta para que a formação em facilitação gráfica no Brasil seja plena?

Eu acho que mapear o mercado e mapear as áreas onde cada um pode atuar. Eu acho que cada um pode atuar no seu melhor. Ima-gine se eu fosse uma pessoa só de tecnologia e quero entrar nessa área, poxa, eu posso focar em empresas de tecnologia, assim cada um pode dar o seu melhor e dar o melhor de si, por que, de novo, para mim o mais importante é servir ao grupo. Como que eu pos-so servir melhor aquele grupo? Tem alguns trabalhos que, se você não tiver segurança é melhor falar não.

• Você já participou de algum congresso de facilitadores gráficos, o que achou? Sente falta de eventos assim no Brasil?

Eu já participei de sete congressos, desde que eu descobri que isso existe e faço esse trabalho eu participo desses encontros. Tem pessoas do mundo todo, começou com dois ou três países, e eu era a única representante da América Latina, agora temos 15 países representados nesse congresso e apareceram outras pessoas do Brasil, como o Massao, a Flávia…

É bem bacana, mas de novo tem que guardar as proporçoes para nossa cultura latina americana. Por exemplo, todo ano eu tenho por hábito fazer um brinde para os clientes. E os americanos acharam super inovador. São técnicas diferentes por que a cultu-ra é diferente, eu preciso que os meus clientes lembrem de mim. Lá (nos EUA) eles já tem esse mercado desenvolvido há 38 anos. David Sibbet foi um dos pioneiros! Ele criou isso praticamente.

Sou apaixonada por esse trabalho e no primeiro congresso que eu participei nos EUA eles entrevistaram as pessoas “O que você acha da facilitação gráfica no futuro no mundo?” e eu respondi “Olha, eu acho que facilitação gráfica é uma coisa que no futuro a gente não vai viver sem”. Eu sustento isso, eu acho que é sus-

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tentável, é saudável, e que alguém em algum momento nesses encontros seria bacana ter alguém registrando visualmente. Não precisa ser com toda essa pompa, com um papel deste tamanho, pode ser num A4, num flipchart…. é bacana ter esse registro.

• Facilitação gráfica no mundo

Eu posso falar um pouco dos oito anos que eu conheço facilitação gráfica no mundo no mundo você percebe pessoas de todas as idades fazendo. Então tem pessoas de 60 anos. Trabalhos sem desenhos, com desenhos, sem cor, ou só com uma cor, tipo um re-latório mesmo. Em japonês feitos da direita para a esquerda, em kanji. Em duas cores, tipo preto e azul e preto e laranja. Tinha um americano que foi ilustrador por 25 anos e eu perguntei para ele por que só usava duas corespara trabalhar. Ele contou que quando começou não tinha dinheiro para comprar caneta. Então ele só tinha preta e só poderia comprar mais uma cor. Então fez o trabalho tudo em preto com detalhes em azul. e fica lindo. Conhe-ço australianos que fazem, japoneses, argentinos, americanos, colombianos, dinamarqueses. Conheço pessoas do mundo todo! Da Bélgica, da Holanda, Cingapura. E cada um tem seu estio. Tem gente que desenha mais, tem gente que desenha menos, tem gente que desenha menor. Tem de tudo.

• Por que o registro de reuniões funciona?

Funciona muito porque você vê que a função, por isso meu foco não é desenho, que a função é a informação. Fica mais bonito por-que a imagem ancora e fortifica aquele conceito. Tem um estudo da universidade de Stanford, feito ano passado ou anterior, que foi citado no congresso esse ano, que tem um estudo onde viram que se tem facilitador gráfico na sala a audiência, o público, re-têm 30% a mais do conteúdo. Isso muda a dinâmica da coisa. E o cérebro funciona melhor se você está assim (olhando para baixo) ou assim (olhando para o horizonte).

Por isso que o cavalete é de pé, mesa não funciona, porque quimi-camente você está fazendo outras coisas aqui no cérebro. É qui-mica do cérebro, você cria melhor, oxigena mais o cérebro. você tem que treinar escrever aqui na horizontal, porque você não tem o apoio que você tem numa mesa

O que eu aprendi, o que eu acho que faz a diferença nesses even-tos é a informação, é o resgate que você faz dessa info e a retenção maior que você faz quando a gente está ali, e só um desenho não diz isso, se você abrir um painel dois anos depois você tem que ser hábil de lembrar ou ver o que aconteceu ali. com meu painel você ve, mas com um desenho desse você só tem o desenho. Quem não estava no evento não vai nem entender. Meus painéis as vezes o presidente chega só para fazer o encerramento, ai ele vem, lê tudo e diz “ah, na swot vocês colocaram isso, ah vocês acham q é fraqueza, eu achava que era oportunidade…” e já pega o gancho e dá a mensagem que ele quer passar.

A seguir, exemplos do trabalho da Donatella.

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Figura 65 - Registro da palestra do Flavio Maneira, disponível em http://on.fb.me/1hPN6KS

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Figura 66 - Painel para a Febraban, disponível em http://bit.ly/1hpfEOJ acesso em 30 de março de 2014.

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Figura 67 - Painel sobre engajamento com base na palestra de José Carlos Cunha sobre engajamento de pessoas. Disponível em http://on.fb.me/1pECd2F acesso em 30 de março de 2014

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FERNANDA COSTA DE PAULA

Fernanda Costa de Paula é pedagoga e estudou design instrucional. Ela e a irmã, Flávia Costa de Paula traba-lham juntas desde 2011 com facilitação gráfica.

Flávia tinha uma consultoria aberta em empreendedoris-mo e treinamento e Fernanda outros projetos em pedagogia. As duas irmãs foram saber mais sobre a facilitação grá-fica juntas, mas Fernanda pa-rou por um tempo por conta da maternidade. Quando vol-

tou, Flávia, que tinha desenvolvido melhor, a levou para eventos como aprendiz e agora elas são sócias na Regên-cia Consultoria. A empresa, criada em 2006, passou por uma reforma na marca e estratégia de negócio devido ao crescimento dos pedidos de facilitação gráfica da dupla.

Para Fernanda, o bom de trabalhar em dupla é poder dividir os clientes e absorver mais a demana crescente. Ela conce-deu esta entrevista por Skype no dia 28 de outubro de 2013

• O que é facilitação gráfica para você?

Eu trabalho muito com a facilitação gráfica dentro do contexto de aprendizagem, já que eu sou pedagoga. Fazer mapa mental, de como você sistematiza as ideias e os fluxos, eu tenho este olhar para facilitação gráfica, o olhar de aprendizagem mesmo, de con-

ceito, conteúdo, e não tanto a parte estética de arte ou de coisa gráfica só. Talvez alguns profissionais tenham mais este enfoque.

• Como você define seu estilo de facilitação gráfica?

Eu me considero um facilitadora mais conteudísta. Bem focada na mensagem. Sou bem preocupada com a veracidade da men-sagem, do que as pessoas estão falando. Assim, tem duas coisas, dois pontos da minha facilitação gráfica que são bem clássicos:

1- Eu me preocupo bem com o que as pessoas estão falando, eu co-loco as frases literalmente do que elas estão falando, entre aspas, muito balãozinho, muito da parte humana que está lá.

2 - Eu gosto muito de usar humor, sempre que tem alguma coisa divertida eu vou colocando, principalmente as metáforas. Mesmo numa reunião difícil, numa reunião pesada, em sempre procurei extrair um pouco de humor, colocar alguma coisa engraçada que rolou, eu gosto de representar isso na Facilitação.

Sou mais focada na mensagem, eu não sou tão artista.

Eu e Flávia seguimos no mesmo estilo. A gente trabalha muito com a questão do suporte. A facilitação gráfica como suporte para a aprendizagem, para grupos, para a questão de sistematizar co-nhecimento, organizar conhecimento através do fluxo de mapas.

Nós temos dois tipos de clientes, tem a facilitação gráfica com foco no conteúdo e aqueles que pedem para você fazer uma coisa visual que tenha impacto, e é quase como se fosse um trabalho de cartoon, ou design. Tem gente que fala em graffiti e quer esse suporte artístico mesmo.

Figura 68 - Fernanda. Arquivo pessoal

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• Quando você é convidada para esta facilitação, seja numa reunião ou numa palestra, como você se prepara.

Primeiro eu faço um briefing bem detalhado com o cliente. Do que ele precisa, qual o objetivo da reunião. No caso da palestra, a gente faz um briefing pequeno, a gente pede para o cliente di-zer o que ele vai precisar, se quer uma coisa mais voltada para o visual, ou se quer que a gente colha mais o conteúdo, mas daí a gente faz um briefing menor, porque o foco mesmo é ter o painel mais pela performance do evento.

Para um cliente corporativo tradicional, nos preocupamos com o que ele quer de resultado, do que ele vai precisar que a gente foque na reunião. Qual o tipo de abordagem que ele quer que a gente dê para o painel ou painéis, porque geralmente é mais de um. Esta é a etapa 1.

A etapa 2 é se preparar fazendo pesquisa de conceitos, entenden-do o que é aquela empresa, coisas dele, da área, conceitos chave, a gente faz uma pesquisa grande de desenhos porque isso ajuda muito na hora, como a gente tem que focar muito no conteúdo, desse tipo de reunião, não dá muito tempo de criar a parte de desenho, então, você tem que ir com os desenhos mais ou menos prontos na cabeça. Então, você já vai com um repertório de dese-nhos que vão casar naquela empresa. Fazemos toda essa prepa-ração de conceitos da empresa e também dos desenhos que vamos usar, preparamos o material, vemos se não está faltando nada. Esse check list é importante, e só.

E quando é um facilitador de grupo parceiro que vai trabalhar, as vezes fazemos uma reunião presencial com essa pessoa, por-que as vezes temos que alinhar bem alinhado o workshop. Tem facilitador que pede para construirmos juntos esse workshop. Ou seja, o nosso tempo de trabalho não é só lá não. Tem bastante coisa antes.

• Quais os setores que você mais atua?

Eu trabalho muito com empresas, fazendo reunião de planeja-mento estratégico, moderando conversas de grupos, entre áreas, teambuilding de empresas, dentro da facilitação acho que sejam 80% dos trabalhos que a Regência faz, isso eu e a Flávia. E eu tenho um cliente grande na área da educação, que é uma ONG, a Parceiros da Educação, que nos paga para fazer um trabalho mensal na Secretaria de Educação. Eu faço muito pouco oficina, assim, oficina de ong, de instituto, muito pouco, a Regência aca-bou se especializando no público corporativo, como reuniões de planejamento. Ficou meio que um nicho da empresa.

• Existe diferença na metodologia de trabalho, quando você faz para essa ong por exemplo, que é uma ong que lida com governo e quando você faz para empresa?

Mais ou menos, tem um cliente que eu acabei não falando que agora que eu me lembrei que a gente faz evento. Evento que é: tem, sei lá, seis palestras, no evento fazemos um painel para cada palestra. Isso é bem diferente. Isso a gente faz no Fórum HSM de Inovação, por exemplo.

Eu fiz um congresso de governança corporativa uma vez: todo mundo com microfone, as vezes a palestra é em inglês e a gente faz a colheita, nesses casos é uma coisa rápida e você tem pouca interação com o grupo, tem pouco contato com o público, você está lá trabalhando, colhendo e pronto acabou, é uma coisa mais fria em relação à plateia, embora depois a platéia venha falar com a gente, mas no geral eles veem você trabalhando mas não interfe-rem no papel.

Em todos os outros trabalhos que fazemos, mesmo este que faço para a Secretaria, são aqueles que a gente interage direto, a gen-te faz o painel junto. Então o painel faz parte do processo de de-senvolvimento daquela conversa, ou as pessoas em algum mo-

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mento vão colar Post It nele, ou fazemos a colheita de um Word Café (outra ferramenta de facilitação de grupos), organizamos as informações e as pessoas vão lá e leem e o facilitador do grupo, por que normalmente a gente trabalha com o facilitador do gru-po, o facilitador vai lá, lê, mostra para o pessoal, então rola uma interação muito boa, é muito legal fazer quando é assim.

Este facilitador de grupo normalmente é alguém contratado. Às vezes o grupo faz uma reunião com uma conversa só entre eles, sem facilitador, mas na maioria das vezes que eu trabalho é um facilitador também consultor. Por que a gente faz muito trabalho em empresa, e daí com facilitação gráfica e um consultor, para fazer uma intervenção no grupo. Nesse caso a facilitação gráfi-ca faz parte desse processo. Pode ser um treinamento, um team building, debate, qualquer coisa. O nosso trabalho tem sido muito usado nesse contexto.

É um terceiro elemento e ele é importante! Para nós é um profis-sional que trás muito trabalho, trás muita demanda! Quem nos contrata é este facilitador. A gente tem mais 4 ou 5 empresas de consultoria parceiras, que nos chamam quando precisam de um facilitador gráfico para construir o workshop junto. Muitas ve-zes o painel é uma grande tabela que o pessoal vai completando, às vezes fazemos desenhos, outras coisas para ilustrar, mas tem esse perfil a nossa facilitação gráfica.

• A organização visual de ideias e discussões geralmente facilita reuniões ao vivo, isso também vale para livros, de que tipo?

Eu acho que é mais design de informação que facilitação gráfica ou colheita gráfica, o design de informação em mapas e infográfi-cos é muito legal. Eu acho que as pessoas aprendem mesmo com eles. Porque tem muita gente que é visual, na forma de aprender, então eu acho que tem sentido.

Agora estou fazendo um trabalho para uma empresa no Rio. Uma empresa de logística de navios, eles trabalham para uma empre-sa de petróleo, nessas plataformas. Eles precisam que a gente crie manuais todos visuais, porque os funcionários não leem. Eles precisam que seja tudo OPL (One Point Lesson), que funciona assim, faz um mapa e você tem uma frase chamariz que vai ser a frase fundamental para ler, passa uma mensagem direta, funda-mental e pontual mesmo. Temos que sintetizar tudo na imagem.

Os livros infantis trabalham com a imagem há muitos anos. Eu estudei um pouco a relação da da literatura infantil e da impor-tância que a imagem tem nela. É bem diferente dos livros de adulto. A imagem no livro infantil é fundamental, assim, é parte da história mesmo, e eu acho que a parte educacional editorial para a adultos tende a evoluir, que a imagem não seja mais um acessório, que ela seja a forma de passar a mensagem mesmo e sistematizar a informação.

Eu acredito que a gente está migrando para uma sociedade mais visual, e isso vai ser cada vez mais uma necessidade.

• Você poderia citar exemplos de projetos gráficos que usem facilitação gráfica como ponto de partida. Seu trabalho já “migrou” também, ou serviu de inspiração para um projeto editorial?

Mapas de cultura. Algumas demandas de empresas são você criar um mapa da cultura organizacional da empresa, mas não aquele negócio de hierarquia, mas que seja com mais informações, ele-mentos, dai aquilo vira um quadro, sabe, para a pessoa colocar numa área comum da empresa, nós temos recebido pedidos des-sas coisas também, desse tipo de mapa.

Isso deve acontecer com quem trabalha mais com a coisa de ilustra-ção mesmo. Mas tem uma empresa com quem a gente trabalha, do ramo farmacêutico, que eles fazem uns livros com o nosso material.

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Normalmente entregamos pro cliente só o painel, físico e digitali-zado, e eles pegam o digitalizado e transformam em cadernos in-ternos da empresa.

Teve uma outra empresa uma fez, que fizemos um grande painel e eles pediram para a gente desdobrar em pequenos paineis com etapas que era para eles usarem nas plantas da fábrica. Eles não iam usar, mas gostaram do jeito que organizamos a informação e falaram ‘não tem como vocês fazerem os paineizinhos?’ Então virou uma cartilha e usaram nas plantas de fábrica para o pesso-al analfabeto tal que não conseguia entender aquela informação complexa e era uma informação complexa… Então viraram uns mapinhas baseados no mapão com o conceito todo e a gente não usou praticamente nada escrito.

• Você acha que tem profissionais suficientes no mercado?

Não, eu acho que tem muita demanda reprimida. Eu acho que a sociedade, principalmente as empresas que são o meu público principal, elas não sabem que existe Facilitação Gráfica e quando descobrem ficam “uau!!” e tem essa demanda reprimida. Talvez existam profissionais suficientes para quem conhece, mas para este potencial todo de mercado que está se abrindo, eu acho que não. A gente já tem a agenda lotadíssima, isso porque pouca gen-te sabe o que é, e estamos numa época de recessão, nossos clien-tes são empresa. Imagina numa época que não seja de recessão, com as empresas sabendo o que é… É uma boa área para você investir. O foco não é tanto a questão da estética, de fazer graffiti, cartoon, é saber organizar a informação, sistematizar conteúdo, ouvir…Ouvir é uma das questões assim da FG, ouvir o que o pú-blico está trazendo, e daí você filtra e transforma.

• O que você acha da capacitação dos profissionais de FG?

Na verdade não existe uma capacitação específica, eu não sei se você perguntou se o tipo de formação que tem no Brasil é bom,

que praticamente não existe, uma das únicas pessoas que dá cur-so aqui é a Mila Motomura, o curso dela é muito bom, o primeiro curso que eu fiz foi com ela. A formação do facilitador gráfico é uma incógnita, como não é uma área definida ainda, como profis-são, está se consolidando, também não existe um marco em torno do que é uma formação adequada. Teria que ser pensado. Discu-tido entre os próprios facilitadores que estão no mercado hoje…

Se você cria um curso só de facilitação gráfica, tipo um técnico ou graduação você mata essa formação básica que é importante, porque, dependendo da formação inicial que a pessoa tem, ela vai ter mais habilidade com um dos skills (habilidades) que a facilitação gráfica pede. A escuta é um dos skills, a capacidade de desenhar e ter uma letra legal, tanto de desenho quanto de letra mesmo, é uma das habilidades, e a capacidade de sistematizar a informação.

Eu considero estes três temas fundamentais. Dependendo da sua formação inicial você terá forte uma dessas questões, talvez o psi-cólogo tenha uma ótima escuta, um designer terá uma letra e um desenho espetacular e um pedagogo sabe muito bem sistematizar informação, ler abstrair, como que insere, o que é hierarquia o que não é, aí eu vou complementar com a minha formação depois em outra coisa. Mas eu tenho uma formação base com base nes-ses skills…

Mas tem coisas que você tem que maturar na vida… Por exemplo, tem reunião pesada que a gente faz facilitação gráfica, as vezes de empresa, reunião pesada com assunto denso, que para você segurar 8 horas trabalhando de pé, não é fácil. Você está lidando com temas complexos, às vezes de grandes embates entre grupos, e você precisa transformar aquilo em uma síntese que gere re-sultado interessante para o grupo se ver lá. Isso exige uma certa maturidade eu acho, de entender pessoas, até de entender a vida. Eu não sei o quanto uma pessoa muito jovem consegue ser um bom facilitador. Por esse aspecto que eu estou falando de ter um

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entendimento do grupo, entender o que está rolando, em algum embate, uma coisa mais profunda é mais complicado de segurar a onda.

• O que falta para que a formação em facilitação gráfica no Brasil seja plena?

Eu acho que mais integração entre os facilitadores, que já são profissionais, para criar espaço de troca que formem as pessoas no trabalho. Eu acho que a facilitação é um negócio que você se forma na prática, mesmo. Eu tive uma professora legal que foi a Flávia, que começou antes de mim e me levou… Depois eu come-cei a fazer meu primeiro cliente sozinha, e daí eu fui indo. Então eu acho que tem essa coisa de talvez ter esse caminho de apadri-nhar, não só o curso, criar uma escola de aprendizes na prática…

A seguir, trabalhos da Fernanda.

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Figura 69 - Facilitação Gráfica em aula da agência C.O.R sobre inovação. Disponível em http://bit.ly/1f7tmlj acesso em 3 de abril de 2014

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Figura 70 - Construção de Equipe e Planejamento Estratégico na SEE - Projeto realizado em Parceria com Nodal Consultoria, idealizado pela Parceiros da Educação. Realizado na Escola de Formação de Professores da Secretaria de Educação de São Paulo. Disponível em http://bit.ly/1hVEh7s acesso em 3 de abril de 2014

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VITOR MASSAOVitor Massao é um comu-nicador. Desda a adoles-cência ele está militância de movimentos sociais, promovendo mudanças por meio da comunicação e todas as suas possibili-dades.

Há 2 anos descobriu a faci-litação gráfica por meio de sua sócia no Coletivo En-trelinhas, Carla Cristina

Hirata. Ambos fizeram o workshop de facilitação gráfica de Mila Motomura, referência no assunto, e começaram a trabalhar prioritariamente com movimentos sociais e po-líticas públicas.

Mesmo trabalhando como consultor em educomunicação e comunicação comunitária, Massao passou a adotar o título de facilitador gráfico para legitimar a profissão. Ele conce-deu esta entrevista por skype no dia 5 de dezembro de 2014

• O que é facilitação gráfica para você?

Trata-se de uma colheita visual. Acima de tudo é um processo para ajudar as pessoas no desenvolvimento de uma ideia que aconteceu no grupo. Temos que partir muito da ideia de que tem pessoas que são mais visuais, que são mais orais, e como que a gente consegue conectar mais as ideias. Então, é um processo para poder conectar as ideias e facilitar a visualização para todos. A colheita vai muito nesse sentido, de como fazer as pessoas perceberem melhor, terem uma visão sistêmica do que está sendo discutido.

• Então a facilitação a gente também pode chamar de co-lheita?

Tem várias expressões e funções também, tem registro gráfico, tem gente que chama de visual thinking, eu considero a facili-tação diferente do registro gráfico; normalmente as pessoas cha-mam para fazer registro gráfico que é apenas registrar o con-teúdo, seja de um palestrante, seja um debate. Eu acho que a facilitação, ela exigi uma interação maior, e tem um propósito que muitas vezes é uma medida de conteúdo, que é se onde se quer chegar com aquele grupo, não em termos de conteúdo, mas em termos de caminho.

A facilitação está muito nesse papel de alinhar esse moderador, mediador de conteúdo, para melhor estimular o conteúdo. As ve-zes, não necessariamente, eu registro o que as pessoas conver-sam, as vezes eu boto na verdade provocações para aquele grupo, porque tem um objetivo deles chegarem numa discussão x. Isso tem que estar alinhado, por isso acho que é uma facilitação…

• Você se apresenta como Facilitador Gráfico?

Geralmente é assim, quando perguntam eu explico sabe aquele assim “tá complicado quer que eu desenhe?” eu faço a parte do “quer que eu desenhe”. Eu tenho me apresentado cada vez mais como facilitador gráfico. eu acho que isso é muito legal porque é uma, inclusive é uma ação de legitimar a profissão. É para perce-ber que profissão não é só o que vem da academia. como a gente começa a legitimar essas profissões, mas isso gera problemas, in-clusive financeiros, porque a gente não tem CNPJ, não tem um código do CNPJ de Facilitação Gráfica.

Brandy [Agerbeck] fala muito e eu gosto que é isso “facilitação gráfica é 80% processo e 20% produto” quando a gente está falan-do 80% de processo a gente está falando das pessoas, de quem está lá convivendo naquele espaço, que é o que eu vou investir naque-la facilitação. quando a gente está falando em 20% de conteúdo,

Figura 71 - Vitor Massao. Arquivo pessoal

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a gente está falando do facilitador gráfico. então é isso assim, ter essa clareza de porque a gente está lá, a gente está lá por conta de um processo, o próprio [Coletivo] Entrelinhas tem uma coisa que a gente não assina os trabalhos, a gente pede que as pessoas, porque tem gente que assina mesmo, deixa o nome e tudo mais. e a gente sempre está numa ideia de que todos os paineis estejam em Creative Commons até por uma ideia de democratização da informação, então acreditamos no Creative Commons como uma ideia de estimular e incentivar mas acima de tudo é perceber que o que a gente está fazendo é uma extensão das pessoas que estão lá, então não é nosso painel, é uma visão nossa, mas não é nosso é daquelas pessoas que estão produzindo no evento, então não assinamos.

• Quando foi que você começou a trabalhar com a Faci-litação Gráfica.

Em 2012 faz dois anos para três anos que eu estou completamen-te dedicado para isso. Ainda faço consultoria para outros assun-tos, mas estou focado nisso. Eu comecei há três ou quatro anos.

A Facilitação Gráfica existe há uns seis ou sete, no Brasil, então dentro desta medida estou bem. Eu já atuava com a questão do audiovisual, pensando em educomunicação e comunicação comu-nitária, então eu sempre atuei com isso e isso me deu muita base, o que muda é meu jeito de mostrar isso, mas isso (a educomuni-cação) me deu muita base e de certo modo eu atuava de um modo diferente, que eu não considero facilitação gráfica, mas que me preparou para isso. Se analisar nesse contexto, já faz mais de 10 anos.

• Quando você faz a facilitação gráfica é sempre com esse mediador presente também para ajudar a conduzir ou é você sozinho?

Não. E sempre por uma questão de que o Brasil ainda não ter

percebido os potenciais e é muito novo, não é sempre não. Tem ve-zes que temos que tomar a frente e tem vezes que é puro registro gráfico mesmo. Isso não é uma regra, pelo contrário, é uma rari-dade assim. Normalmente não somos chamados para construção metodológica, convidam a gente na última hora e meio que faço a programação. Quando já está tudo definido [no evento] temos que nos adaptar e fazer o melhor trabalho possível. Isso quando não passam tudo em cima da hora, no mesmo dia.

Tem um exemplo muito legal foi o “Como vira a sua cidade” da Virada Sustentável. Era uma apresentação de 50 e poucos coleti-vos de intervenção na cidade de São Paulo, debatendo a questão da relação da cidade, e a sustentabilidade na cidade. Se a gente fosse lá só para fazer o registro a gente ia só aparecer e pegar o que as pessoas estavam falando. Como a gente participou da reunião prévia, chegamos com a construção da metodologia e já levamos um painel semi pronto, de uma cidade cinza já desenha-da em linhas e as pessoas chegavam e ja viam aquele painel sem entender muito bem por que, vendo aquela cidade, e aí, conforme os coletivos iam se apresentando a gente ia mudando a cidade na frente das pessoas, a cidade ia ficando colorida. E iamos mos-trando as intervenções e você via a mudança na cidade, pela fa-cilitação gráfica.Você gerava essa mudança. e isso só era possível porque a gente viu antes, conversou antes de forma coletiva, não era só o registro.

• Você começou a fazer a facilitação gráfica depois que você fez o worshop com a Mila Motomura ou você fazia antes?

Eu já tinha feito dois trabalhos antes do curso da Mila, de Faci-litação Gráfica mesmo. quem tinha me chamado foi a Carlinha, que já tinha feito o curso e sugeriu fazermos algo diferente.Ela me passou uma base e nós fizemos dois trabalhos se eu não me engano. Um foi para uma questão da Copa do Mundo, abordando essa questão do abuso sexual de crianças e adolescentes durante a Copa e outro foi um evento sobre nutrição.

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Depois eu fiz o curso da Mila, que foi super importante, inclusive de entender várias coisas, inclusive de entender minhas próprias anotações no caderno, que de certo modo era uma facilitação grá-fica, mas era para mim e a gente tinha que perceber como eu estava fazendo isso para os outros. Isso muda muita coisa para a linguagem, inclusive de percepção para o outro. Eu acho que fazer o curso da Mila para mim, foi legitimar várias coisas, foi me empolgar para várias coisas, foi abrir meu campo de visão. Vamos fazer uma amarração com a teoria que eu já tinha vivido.

• E você tem uma diferença de metodologia de registro ou preparação quando vai trabalhar com um ou com outro grupo?

Depende muito de quem chama. Eu sempre tento oferecer ou fa-zer algo a mais, se vem no sentido de movimentos populares e tal, por exemplo eu faço trabalhos para o Senac, para o Sesc, que ainda está dentro de um mesmo núcleo, ainda dentro de uma ideia de perspectiva da construção dentro da área de educação e do desenvolvimento local e da ideia do diálogo e da participação política, está tudo permeando esse campo.

Eu acho que essa questão da metodologia vai muito do espaço que você tem para a metodologia. Então, se você falar para mim o que eu gosto de fazer enquanto metodologia eu gostaria muito de participar desde as construções metodologicas, pensar novas formas, formas de atuar com o grupo, pensar em ambientes tam-bém, não é só pensar que o registro ficará na parede, mas como esse ambiente interage com as pessoas, provocam as pessoas, as vezes são só estímulos. Eu gosto de construir junto…

• Como que você se prepara para um trabalho, você tem algum procedimento….?

Eu normalmente levo o material, quando dá eu vou antes para ver o espaço, na verdade raramente isso é possível… Eu me pre-

paro, vamos ao evento, fazemos o trabalho depois eu digitalizo o material, a gente trata as imagens, inclusive mexe nas cores al-guma coisa. Não é readequar conteúdo, mas é meio, deixar mais harmônico. Porque, como a gente faz na hora, algumas coisas não ficam harmônicas na hora, então eu dou aquela arrumada e en-trego digital para as pessoas. Eu dou o arquivo e entrego os pai-neis quando solicitam.

• Como que você define o seu estilo de facilitação gráfica?

Eu sou mais visual, definitivamente. E o legal de trabalhar com a Carlinha é que eu mexo com o conteúdo, mas eu sou mais visu-al, e a Carlinha mexe com o visual mas é mais conteúdo. O mais interessante de trabalhar em dupla é que a gente balanceia, fica uma coisa mais equilibrada entre conteúdo e visual.

• A organização visual de ideias e discussões geralmente facilita reuniões ao vivo, isso também vale para livros, de que tipo?

Eu acho que o visual sempre ajuda na real, né… Manual é uma coisa que sempre ajuda, a própria ata super ajuda. Eu acho que de certo modo facilitação gráfica pode se encaixar em qualquer coi-sa, até em matemática. E eu gosto de falar do Ladislau Dawbor, porque ele é um economista que consegue falar com imagens, que economista consegue falar com imagens? E o Ladislau muda a mente com imagens, é lindo ouvir ele falar de economia, e o fato dele falar com imagens torna a coisa muito mais clara para mui-tas pessoas, onde economia é uma coisa fechada, sabe, uma coisa difícil de entender, então eu acho que tem essa coisa que é muito bacana, e eu acho que sim, partindo do princípio que tem pessoas que são mais visuais que orais, que lógico, a facilitação gráfica sempre vai ajudar de alguma forma.

O recurso visual sempre vai ajudar de algum modo, eu não sabe-ria dizer em alguma coisa específica, mas a ideia é sempre ajudar

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a passar a informação. Como fazer as pessoas perceberem… O nosso pensamento não é linear, acho que a partir do momento que estamos pegando uma publicação e ela é toda linear, a publi-cação por si só te força a ter esse pensamento linear, de uma coisa atrás da outra.

Então a facilitação gráfica numa publicação, tem que perceber es-sas conexões é trabalhar no ritmo que trabalha o cérebro, é gerar essas conexões. Então ela contribui inclusive por essa maneira limitada que a gente tem de escrita.

• Trabalhos seus já serviram de inspiração para projetos editoriais?

Já aconteceu de tudo, já virou catálogo, teve gente que saiu em publicação, saiu em revista da ESPM, já virou até capa, teve uma facilitação gráfica que virou capa do Movimento Nossa São Pau-lo, teve gente que desmembrou e fez virar ilustrações separadas, teve gente que já mandou fazer um banner e pregar na parede, teve gente que enquadrou. Então ja fizeram de tudo com o resul-tado desse material.

• Você acha que tem profissionais de Facilitação Gráfica suficientes no mercado?

Eu acho que eu tenho uma visão diferente das pessoas, eu já disse que conhecimento tem que ser disseminado acima de tudo. En-tão, é, tem muita gente falando “ah, agora deu um boom a facili-tação gráfica” só que eu não acho que ela deu um boom, a minha visão é está tento mais demanda que profissionais. E eu acho que tem que ter mais profissionais qualificados e ao mesmo tempo que está nesse meio, nesse espaço que ainda está sendo definida o que é facilitação gráfica no Brasil. Não só no Brasil como na América Latina.

Eu sou super a favor do crescimento dos profissionais, acho que tem muito lugar que ainda não tem, tem muito lugar que eu me questiono porque eu estou indo por falta de profissional. Tem muitos estados sem profissional nenhum! E eu acho que tem que começar a investir para crescer isso aí, para disseminar.

Acreditamos que a partir do momento que começamos a ter essa visao mais sistêmica, começamos a procurar também novas solu-ções e isso ajuda no próprio reencantamento do mundo, na nossa missão está a questão da difusão da facilitação gráfica. A gen-te quer difundir o máximo possível a facilitação gráfica, a gente mesmo, já faz algum tempo, estamos começando a pensar em fa-zer um curso específico, pensando em movimentos populares, a ideia não é fazer as pessoas virarem facilitadoras gráficas nesse caso, mas ter esse conhecimento pode, de repente, ajudar dentro dos movimentos populares.

• O que você acha da capacitação dos profissionais da facilitação gráfica.

Bom, você praticamente não tem opção de curso de facilitação grá-fica no Brasil, já começa por aí.... A Mila é uma grande referencia, mas eu volto a dizer, eu acho que a facilitação gráfica ainda está se constituindo no Brasil e está se constituindo pelos saberes que tem. agora a gente está começando a formar uma coisa que é a cara da facilitação gráfica no Brasil e que vem desse acúmulo de vários saberes e que de um certo modo é muito legal, que não é aquela coisa engessada que muitas quando eu vejo a facilitação gráfica lá fora dos outros países é uma coisa muito engessada com muitas regras e a gente não, tem uma versatilidade de saberes no sentido positivo, e é muito América Latina isso. E tem muita relação com nossa história de ocupação de muros, né? A América Latina como um todo tem uma forte relação com o visual com as cores, então, eu acho que estamos começando a constituir isso aí..

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• Você já participou de algum congresso de facilitação gráfica? Sente falta de eventos assim no Brasil?

Participei em NY, foi demais, legal, porque lá fora existe há mais de 30 anos essa profissão, e de repente, estar conversando com essas pessoas que atuam há mais de 30 anos é bacana. É legal ter outras visões, e ter visões críticas sobre isso.

Em alguns lugares é uma coisa mais engessada, e tem a ver com culturas diferentes. Por exemplo, fazer facilitação gráfica para um alemão é uma delícia, porque alemão só fala o necessário. Agora fazer com os brasileiros que querem contar tudo! Só isso gera uma diferença, é legal porque eu acho que trouxe um pouco essas diferenças.

O congresso trouxe essa perspectiva de entender melhor nosso trabalho, conversar com outras pessoas. Teve até um movimento do “não se sentir sozinho” eu nunca tinha visto tanto facilitador gráfico junto, isso foi muito legal, e essa troca de ideias, troca de conhecimentos... E outras maneiras, outras maneiras de usar ilustração de atuar com organização de conteúdo, eu acho que foi muito legal.

Eu vejo muito necessário (isso) no Brasil, e eu tenho um desejo além, que é um desejo de fazer uma coisa mais latino americana, eu acho que na América Latina surge mais ou menos na mesma época a Facilitação Gráfica. A Argentina surge agora, Colômbia vem na mesma hora, está todo mundo começando agora. A gente já, inclusive, começou a dar formação no Paraguai. E eu acho que tem uma coisa muito rica, eu sou um cara que acredito muito nessa questão da construção da América Latina como um todo. E aproveitar esse movimento que estamos crescendo, estamos co-meçando, para aproveitar pra trocar ideias. Então eu vejo muito necessário conhecer outros profissionais, outras maneiras de atu-ar, ver o que cada um está fazendo, depende das pessoas.

Nas próximas páginas, exemplos do trabalho do Massao.

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Figura 72 - [Anotação em caderno] Prosa com os realizadores do documentário EU MAIOR — com Andre Melman. Disponível em: http://on.fb.me/1nx8M2T. Acesso em 2 de abril de 2014

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Figura 73 - Encontro de Sustentabilidade do Projeto Jovem de Futuro do Instituto Unibanco. (Vitor Massao Guarani Kaiowá e Carla Cristina Hirata Miyasaka). Disponível em: http://on.fb.me/1iznndD

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mila motomuraMila Motomura é psicóloga por formação, facilitadora gráfica, designer de infor-mações e também educado-ra, por ser a primeira profis-sional no Brasil a desenvol-ver uma formação em faci-litação gráfica. Ela trabalha com design de informações desde 2002. Mila é o elo que liga todos os facilitadores gráficos justamente por ter este curso. Ela concedeu esta entrevista por e-mail no dia 20 de janeiro de 2014.

• O que é facilitação gráfica para você?

Facilitação Gráfica, para mim, é um dos ramos do “Design de Informações”. Se considerarmos o Design de Informações todo tipo de trabalho gráfico planejado (que une desenhos e textos) que ajuda o leitor a compreender informações de uma forma mais fluida e intuitiva (infográficos, mapas mentais, mindscappings, charges, etc.) a Facilitação Gráfica é a arte de usar o design de informações em grandes telas/projeções para ajudar grupos a tor-nar seus processos mais visíveis, claros e memoráveis.

• Qual sua formação?

Me formei em psicologia na Puc - SP, fiz pós-graduação em análi-se bioenergética no IABSP (Instituto de Análise Bioenergética de São Paulo) e em vegetoterapia com Maria de Melo e Gino Ferri. Atendi na clínica psicológica de 2002 a 2012.

• Quando começou a trabalhar nesta área?

Trabalhei no Centro de Saúde de Pinheiros (de X a Y) dando ofi-cinas de arte (usava a arte como ferramenta de linguagem com jovens em situação de risco) e foi aí que a linguagem artística como ferramenta de comunicação começou a entrar na minha vida - isso sem contar minha adolescência, onde eu trabalhava meus cadernos graficamente e tinha muitos pedidos de xerox to-dos os dias.

Meu primeiro trabalho como Designer de Informações foi em 2002 no Projeto Jovens da Amana-Key. Depois disso fiquei muito tempo sem fazer nada oficialmente, mas sempre era a “anotadora profissional” por onde eu passava, inclusive nos meus trabalhos seguintes que eu tive. Em 2007 fiz o programa Guerreiros sem Armas do Instituto Elos para jovens empreendedores e trabalhei nessa ONG de 2008 a 2009 desenvolvendo metodologias de jogos sociais. Saindo do Elos comecei oficialmente a trabalhar com faci-litação gráfica num evento do Alan Kaplan, no Hub SP. A partir desse evento os convites foram surgindo e até hoje a única propa-ganda que eu tenho é o boca-a-boca.

Em 2010 nasceu a MooM - tecendo o invisível, minha empresa de Design de Informações. Atualmente, além de fazer Facilitação Gráfica, produzimos vídeos, damos cursos, desenvolvemos ferra-mentas gráficas de trabalho em grupo e temos alguns produtos diferentes de design de informação.

• Em quais setores você mais atua? Existe diferença na metodologia de trabalho?

Atuo atualmente mais na área da Educação, Meio Ambiente, Saúde e Social. Meus principais trabalhos foram para a Funda-ção Telefônica, Instituto Unibanco, Tedx Amazônia, Arapyaú, Secretaria de Assistência Social de Vargem Grande Paulista, de Araçatuba, Instituto Arredondar, Projeto Eu Maior.

Figura 74 - Mila Motomura, arquivo pessoal.

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Não existe diferença na metodologia, apenas mais paixão quando trabalho esses temas.

• Ao ser convidada para fazer um painel/mapa de ideias, como você se prepara?

Entro no site do meu contratante, pesquiso sobre ele, estudo o material que o cliente me envia, faço reuniões de planejamento e/ou esclarecimento e no dia faço alianças com colaboradores da própria empresa que possam me assessorar em termos de conte-údo, quando necessário.

• Como você define o seu estilo de facilitação?

Humor, boas sínteses, bastante conteúdo e alta qualidade gráfica. A organização visual de ideias e discussões geralmente facilita reuniões ao vivo, isso também vale para livros, de que tipo? (teó-ricos, ficção, romances, didáticos…)

• Você poderia citar exemplos de projetos gráficos que usem facilitação gráfica como ponto de partida. Seu trabalho já “migrou” também, ou serviu de inspiração para um projeto editorial?

Sim. Especialmente livros/revistas que trazem conteúdos com-plexos difíceis de serem visualizados com facilidade. Metodolo-gias complicadas, pesquisas, informativos.

Mas qualquer tipo de conteúdo pode ser facilitado por um traba-lho gráfico. Eu diria que só não o usaria em livros onde a imagi-nação é mais importante que a compreensão . Quando o desenho estraga a riqueza do que o leitor pode imaginar?

Super interessante, a revista. Tem um trabalho de design de informações incrível e impecável. Meu trabalho já migrou para

publicações da Fundação Telefônica, Instituto Amata, Vale, Prat-tein.

• Você acha que existem profissionais suficientes no mercado?

De alguma forma o número de profissionais no mercado vai fa-zendo com que a demanda aumente - e os clientes enxerguem os benefícios de termos essa ferramenta presente nas organizações e empresas. Estamos criando esse mercado ao mesmo tempo em que novos profissionais vão surgindo. Mas objetivamente minha resposta é não. Não acho que temos profissionais suficientes no mercado. Muitas vezes clientes nos procuram e não podemos atender, indicamos todos os bons profissionais que conhecemos e ainda assim o cliente não consegue ser atendido.

• O que você acha da capacitação desses profissionais?

A capacitação hoje em dia, aqui no Brasil, é principalmente dada por mim. É básica, suficiente para que a pessoa tenha uma idéia do que é a Facilitação Gráfica e tenha referências para se aper-feiçoar sozinha.

Ainda não temos uma formação completa, onde a pessoa entra no curso e sai uma profissional competente. Ela precisa ralar muito sozinha para chegar a um bom nível para entrar no mercado.

• O que falta para que a formação em facilitação gráfica no Brasil seja plena?

No que depende de mim, falta ter certeza do que significa uma formação plena, construir conjuntamente com os par-ceiros algumas linhas guia de boas práticas para a clas-se profissional, e fôlego para empreender mais esse projeto.

Confira nas próximas práginas o trabalho de Mila.

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Figura 75 - Criação de 10 Fluxogramas para publicação de combate ao Abuso Sexual. Novembro 2011

Figura 76 e 77 - Frames do vídeo produzido para a Coral Tintas, com narração como suporte

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Figura 78 - TedEX Amazônia - Bloco “Estar Melhor”. Fevereiro 2011

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WÂNIA BORGES

Wânia Moreira Borges tem 27 anos e mora em Campo Grande, Mato Grosso do Sul. Artista vi-sual, estudou na UFMS (Universidade Federal do Mato Grosso do Sul) e seu trabalho de conclusão de curso foi sobre facilitação gráfica.

Ela atua na área desde 2011 e ainda não tinha participado de nenhum congresso ou evento de facilitadores gráficos no Brasil, ou no exterior. Esta entrevista foi concedida por e-mail no dia 31 de outubro de 2013.

• O que é facilitação gráfica para você e como você “aprendeu” a fazer?

Facilitação Gráfica ou registro visual é uma maneira inovado-ra de ilustrar conteúdos e conceitos. O intuito é comunicar uma ideia ou transmitir uma mensagem por meio de imagens e apelos visuais.

Fazer facilitação é treino, saber ouvir, pensar, organizar e dese-nhar, colocar de forma visual e organizada uma informação. Isso exige dedicação e pode ser iniciado de modo informal, numa sala de aula, palestra, qualquer lugar onde você pode pegar informa-ções.

Com o tempo o interesse por referências bibliográficas é natural, mas uma coisa que percebi é que cada um segue o caminho que se sente bem, uns procuram referências voltadas para conteúdos que tem relação com a parte mais artística, outros referências sobre comunicação, enfim, com o tempo você descobrirá qual o melhor caminho a ser seguido.

• Em quais setores você mais atua? Existe diferença na metodologia de trabalho?

Realizo registro visual praticando diversas metodologias, tudo ao vivo. Também faço paineis interativos, para facilitar a visualiza-ção de conteúdos complexos. O registro visual ao vivo exige pla-nejamento e acesso ao conteudo, já que tudo é realizado ao vivo. Se tenho acesso a todo o material, consigo fazer um trabalho mais organizado. Caso não tenha, o trabalho acontece, mas de acordo com o ritmo e complexidade do assunto.

• Ao ser convidada para fazer um painel mapa de ideias, como você se prepara e como você define o seu estilo de facilitação?

Primeiro preciso conhecer o conteúdo proposto, depois preciso es-colher um esquema mais adequado para unir as ideias e conte-údos. Estou utilizando recursos mais coloridos e que lembrem a infância ou remeta a alegria, fazendo com que as pessoas se iden-tifiquem no painel, gerando descontração e risos por detectarem semelhanças pessoais no trabalho.

• A organização visual de ideias e discussões geralmente facilita reuniões ao vivo, isso também vale para livros, de que tipo? Você poderia citar exemplos de projetos gráficos que usem facilitação gráfica como ponto de partida. Seu trabalho já “migrou” também, ou serviu de inspiração para um projeto editorial?

Figura 79 - Wania Borges. Arquivo pessoal.

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tece com a utilização dos ícones gerados durante um evento ou palestra para ilustrar cadernos ou cartilhas. No meu ponto de vista para todos os tipos de livros, mas principalmente para li-vros didáticos e teóricos.

Um bom exemplo disso é o trabalho que foi realizado na base de estudo da UFMS no Pantanal, o Fórum de Inovação da FG-V-EAESP (Escola de Administração de Empresas de São Paulo – Fundação Getúlio Vargas), que promoveu o Encontro de Inova-ção sobre sustentabilidade em 2012, o registro visual que realizei nesses dois dias foi utilizado para ilustrar o Caderno de Inovação volume 3 do evento.

Também estou fazendo ilustração para livros.

• Você acha que existem profissionais suficientes no mercado?

Acredito que é uma nova profissão, que está conquistando o gos-to de outros profissionais. E isso se intensifica com a divulgação dos facilitadores gráficos existentes. Acredito tambem que nas regiões de São Paulo e Paraná existam mais profissionais e isso ocorre por serem as pioneiras no país. • O que você acha da capacitação desses profissionais?

Por ser uma área nova, ainda existem poucos cursos disponíveis. Todos estão buscando. Precisa-se deslocar para o exterior para se ter um ótimo treinamento. Mas para quem está começando, exis-tem cursos bons, com profissionais brasileiros que estão um bom tempo atuando na área, principalmente em São Paulo, Capital. Todos apresentam um trabalho de qualidade e diferenciado.

Exemplos do trabalho de Wânia. Disponíveis em http://bit.ly/1h6Sisy, acesso em 29 de março de 2014)

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Figura 80 - Registro Visual do Evento 4° Geração de Empreendedores. Registro Visual realizado no Evento 4° Geração de Empreendedores no dia 04-09-2012, no Armazém Cultural pelo SEDESC. O painel atingiu 6 metros de comprimento por 1 metro e meio de largura, registrando o 1°, 2°, 3° e 4° Geração de Empreendedores. O último painel foi representado ao vivo.

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Figura 81 - Registro Visual do Evento Ideias Inovadoras para Líderes Empreendedores - UFMS (Auditório unidade X)

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Figura 82 - Registro Visual do Evento da UFMS e FGV - Fórum de inovação

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A atividade de facilitação gráfica está no Brasil há cerca de dez anos. Como ela foi chegando pela vivência das pessoas e a inclu-são de várias técnicas em algum trabalho que já era desenvolvido antes, muitas coisas não estão padronizadas, como a formação e o preço pelo serviço prestado.

Porém, questões mais básicas ainda estão se definindo. Por exem-plo o nome que se dá às teorias, aos profissionais e ao produto desenvolvido. Nas leituras em livros, sites, blogs e redes sociais sobre a profissão identifiquei três categorias de termos: as “teo-rias” usadas para explicar o que é facilitação gráficas; como os profissionais se definem; que nome dão ao resultado de seu tra-balho, o “produto”.

TeoriasAs palavras e expressões usadas para definir a facilitação gráfi-ca costumam ser: lúdico, leve, linguagem visual, organização do conteúdo, inteligência coletiva, pensamento visual, não linear, compreensão compartilhada, registro gráfico, cocriação, técnicas visuais (tabelas e gráficos), aprendizagem. Um processo de diálo-go, exploração e comunicação que gera compreensão.

ProfissionaisEles se identificam como facilitadores gráficos, mas também: ilustradores, designers de fluxos de conversação, de informações, de eventos, profissional visual, registrador gráfico, educador.

CONCLUSÃO

ProdutoO resultado do trabalho recebe nomes ainda mais variados: co-lheita, facilitação gráfica, facilitação visual, painel, quadro de ne-gócios, sistematização ilustrativa, ou criativa, mapa conceitual, murais.

Quanto à produção editorial. Alguns livros foram identificados como contendo elementos da facilitação gráfica em seu projeto editorial, mas nenhum (público) ainda é feito completamente com essa técnica, ou seja, vários painéis (em versão reduzida para im-pressão) explicando o conteúdo.

Os facilitadores entrevistados para esta monografia indicaram alguns trabalhos seus que migraram para projetos editoriais, como relatórios institucionais, relatórios de reuniões, manuais de trabalho e manuais de conduta de empresas, alguns, infeliz-mente, sigilosos por trazer informações sobre as empresas que contrataram estes profissionais.

A comunicação visual é um caminho. A linguagem rápida da in-ternet e avalanche de informações que recebemos todos os dias nos faz priorizar conteúdos. Uma das formas de escolher sobre o que se informar é a forma como o conteúdo é apresentado.

Em abril de 2014 o BlueBus, um site referência sobre publicidade e cultura digital, publicou um artigo (pequeno) e um vídeo info-

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gráfico sobre o crescimento de vídeos na internet. O vídeo tem dois minutos e vinte e um segundos e se chama “Mostre-me algo”. Segundo os produtores um e-mail com um vídeo tem 96% mais chance de ser aberto que um com um link de texto.

Nas redes sociais as pessoas estão duas vezes mais propensas a clicar em um vídeo do que em um link de texto, além disso, 60% do conteúdo virtual circulando pelo planeta, são vídeos. A teoria é que quando estamos olhando para uma tela não estamos racio-cinando muito sobre aquilo que é apresentado, estamos apenas pedindo: mostre-me algo. (disponível aqui http://bit.ly/PQOshH acesso em 9 de abril de 2014)

Os painéis de facilitação gráfica, ao contrário, não propõem uma postura passiva de seus expectadores. Enquanto são produzidos, colaboram para a construção do processo onde estão inseridos.

Quando são produzidos, para alguma palestra, sem muita inter-ferência da plateia, são um registro lúdico e colorido que ajudará os participantes a sempre lembrarem das partes principais do que foi dito.

Se colocadas em livros, as facilitações gráficas colaboram com o texto que as acompanham e fazem as engrenagens do cérebro trabalharem mais e melhor.

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• Livros

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BRINGHURST, Robert. Elementos do Estilo Tipográfico - Versão 3.2. 2ª ed. São Paulo, 2011

CHINEN, Nobu (organizador). Curso Completo - Design Grá-fico. ed. Livros Escala, 2009

DOBBS, Barbara, POLETTI, Rosette e AUGAGNEUR, Jean (ilustrações). Caderno de Exercícios para Aumentar a Au-toestima. ed. Vozes, 2008.

FAY, Claire. caderno de rabiscos para adultos entediados no trabalho. ed Intrínseca, 2006

HENDEL, Richard. O Design do Livro. ed. Ateliê Editorial, 1999

LUPTON, Ellen. PHILLIPS, Jennifer Cole. Novos Fundamen-tos do Design. São Paulo: Cosac Naify, 2008

NITZSCHE, Rique. Afinal, o que é design thinking?. ed Ro-sari, 2012

OSTERWALDER, Alexander e Yves Pigneur. Inovação em Mo-delos de Negócios. Rio de Janeiro: Alta Books, 2011

ROYO, JAVIER. Fundamentos do Design - Design Digital. ed. Rosari, 2008

SIBBET, David. Reuniões Visuais - Como gráficos, lembre-tes autoadesivos e mapeamento de ideias podem trans-formar a produtividade de um grupo. Rio de Janeiro: Alta Books, 2013 (exemplo de projeto gráfico e conteúdo para a mo-nografia) TSCHICHOLD, Jan. A Forma do Livro - Ensaios Sobre Tipo-grafia e Estética do Livro. ed. Ateliê Editorial, 1975

__________. O Valor do Design - Guia ADG Brasil de Prática Profissional do Design Gráfico. ed. Senac, 2003SMITH, Keri. Destrua Este Diário. ed Intrínseca, 2007.

• PDFs e arquivos digitais

CRAS. Relatório do 1º Encontro Regional de CRAS (Cen-tros de Referência em Assistência Social). Disponível em <http://bit.ly/1jJ1YPy>. Acesso em 4 de abril de 2014.

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BIBLIOGRAFIA

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• Websites

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