FACINA - Cidade Do Funk Expressões Da Diáspora Negra Nas Favelas Cariocas

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25 a 27 de maio de 2010 Facom-UFBa Salvador-Bahia-Brasil CIDADE DO FUNK: EXPRESSÕES DA DIÁSPORA NEGRA NAS FAVELAS CARIOCAS Adriana Carvalho Lopes 1 Adriana Facina 2 Resumo: O funk é uma das expressões da diáspora africana no Brasil. Gênero perseguido pelo poder público, pela mídia corporativa e por setores da classe dominante, o funk é parte inegável da cultura urbana do Rio de Janeiro. Nas suas letras, sobretudo nas músicas produzidas na década de 1990, os MCs afirmam a identidade das favelas como pertencentes à cidade e como territórios que não se resumem à violência midiática, mas que constroem sociabilidades e outros padrões de interação social entre as camadas populares. Na contramão do discurso criminalizante e da tese da democracia racial, o funk denuncia o preconceito racial e de classe, ao mesmo tempo em que recusa a associação favela=lugar da violência, favelado=bandido, propondo ressignificar esses espaços no mapa simbólico da cidade. Palavras-chave: funk, diáspora africana, favela Pra quem não conhece o funk é com muito prazer que eu me apresento agora pra você. Eu sou a voz do morro o grito da Favela sou a liberdade em becos e vielas. Sou da sua raça, sou da sua cor, sou o som da massa, sou o funk eu sou." (MCs Dollores e Galo) Mar, movimento, mistura são metáforas que dão vida ao sentido poético da cultura negra contemporânea. Fundamental na constituição do mundo moderno ocidental, mas situada com toda violência a sua margem, essa cultura tem origem híbrida nas viagens de antigos navios. Música, dança e estilo são as marcas dessa cultura que desafia as fronteiras dos estados- nação com seus padrões de ética e estética. Disseminação é a forma de sua trajetória. Diaspórico é o estilo de sua identidade, que só pode ser entendida no plural. (GILROY, 2001) Renovadas política e sonoramente com as invenções do disco long-play e de toda uma complexidade tecnológica, as culturas negras transformam-se em hip-hop em solo 1 Professora da UFRRJ e doutoranda em Linguística na UNICAMP. [email protected] 2 Professora do Departamento de História da UFF e pós-doutora em Antropologia Social pelo Museu Nacional/UFRJ. [email protected]

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25 a 27 de maio de 2010 Facom-UFBa Salvador-Bahia-Brasil CIDADE DO FUNK: EXPRESSES DA DISPORA NEGRA NAS FAVELAS CARIOCAS Adriana Carvalho Lopes 1 Adriana Facina2 Resumo:OfunkumadasexpressesdadisporaafricananoBrasil.Gnero perseguidopelopoderpblico,pelamdiacorporativaeporsetoresdaclasse dominante, o funk parte inegvel da cultura urbana do Rio de Janeiro. Nas suas letras, sobretudo nas msicas produzidas na dcada de 1990, os MCs afirmam a identidade das favelas como pertencentescidade e como territrios que no seresumem violncia miditica,mas queconstroemsociabilidades e outros padres de interao socialentre as camadas populares. Na contramo do discurso criminalizante e da tese da democracia racial, o funk denuncia o preconceito racial e de classe, ao mesmo tempo em que recusa a associao favela=lugar da violncia, favelado=bandido, propondo ressignificar esses espaos no mapa simblico da cidade. Palavras-chave: funk, dispora africana, favela Pra quem no conhece o funk com muito prazer que eu me apresento agora pra voc. Eu sou a voz do morro o grito da Favela sou a liberdade em becos e vielas. Sou da sua raa, sou da sua cor, sou o som da massa, sou o funk eu sou." (MCs Dollores e Galo) Mar,movimento,misturasometforasquedovidaaosentidopoticodacultura negra contempornea.Fundamental na constituio do mundo moderno ocidental, mas situada comtodaviolnciaasuamargem,essaculturatemorigemhbridanasviagensdeantigos navios. Msica, dana e estilo so as marcas dessa cultura que desafia as fronteiras dos estados-naocomseuspadresdeticaeesttica.Disseminaoaformadesuatrajetria. Diasprico o estilo de sua identidade, que s pode ser entendida no plural. (GILROY, 2001)Renovadas poltica e sonoramente com as invenes do disco long-play e de toda uma complexidadetecnolgica,asculturasnegrastransformam-seemhip-hopemsolo

1 Professora da UFRRJ e doutoranda em Lingustica na UNICAMP. [email protected] 2ProfessoradoDepartamentodeHistriadaUFFeps-doutoraemAntropologiaSocialpelo Museu Nacional/UFRJ. [email protected] estadunidenseeseespalhamcriativamentepelomundo,inclusivenoBrasil.Porcanais informais de comunicao, o hip-hop desvinculado do seu local de origem histrica chegando em diferentes territrios do globo com realidades parecidas. Locais que possuem como pano de fundoexperinciasurbanasmarcadasporformassimilares,masnoidnticas,deracismo, pobreza e segregao espacial.Nos subrbios e nas favelas da cidade do Rio de Janeiro, o hip-hop da Flrida recebe o nomedefunk.Logonosprimeirosdezanosdeexistncia,essaprticamusicaldeixadeser uma simples imitao ou reproduo da forma e estilo que haviam sido afetuosamente tomados de emprstimo dos negros de outros locais para se transformar num ritmo que conjuga a esttica dohip-hopsprticasnegrasdasfavelascariocas.Nofunkencontramosvriasperformances queevidenciamessamescla:afalacantadadorapper,muitasvezes,carregaaenergiados puxadores de escola de samba, as habilidades do corpo do break so acentuadas com o rebolado e a sensualidade do samba e o sampler vira batida de um tambor ou atabaque eletrnico.Porm,comotodaculturanegra,ofunkcriativoeestratgico,mastambm vulnervel.Asforasdamercantilizaopenetramdiretamentenassuasformasdeexpresso, classificando e homogeneizando a sua musicalidade, oralidade e performance. Reifica-se, desse modo, os binarismos dos padres culturais ocidentais: autntico versus cpia, alto versus baixo, resistnciaversuscooptao,etc.Ofunkentranaclassificaodicotmicaque,maisdoque revelarumaqualidadeintrnsecaproduocultural,serveparamapearasperformances culturais negras dentro de uma perspectiva burguesa, na qual a alteridade posta em seu devido lugar, ou seja, constituda sempre pelo adjetivo que carrega o trao negativo desses binarismos hierrquicos.Mas o funk contraditrio e tira proveito at mesmo dos esteretipos e de tudo aquilo queseacumulacomolixoevulgarnaculturamoderna.Umabreveanlisedesuacurta existncianoBrasilmostradoisaspectosimportantes.Primeiro,ofunkevidenciacomoa juventudenegraefaveladareinventa-secriativamentecomosescassosrecursosdisponveis, subvertendo,muitasvezes,asrepresentaesqueinsistememsitu-lacomobaixaeperigosa. Almdisso,acrticaaofunkescancaraamaneirapelaqualasociedadebrasileirarenovaseu racismo e preconceito de classe camuflados pelo retrica ocidental do bom gosto esttico. So dois os argumentos que fazem do funk hoje um ritmo maldito, que ofende ouvidos maissensveiseducadosnatradiodascasas-grandes.Porumlado,temosaidia,muito difundida, sobretudo pelos defensores de um certo nacionalismo cultural, que se percebe como deesquerda,dequeofunkseriaumritmoaliengena,importado,arefletiraalienaoea barbriedasclassessubalternas,particularmentenasuaversolmpen.Nestaperspectiva,o funk seria produto de uma srie de faltas: falta de educao, de conscincia poltica ou de classe, de gosto, de bom senso e mesmo de moral (a deles ou a nossa?, teramos de perguntar). Outro argumento, mais explicitamente racista e descaradamente preconceituoso com os debaixo,vaidizerqueofunkmsicadebandido,incitaviolncia,corrompemenores, aumentaousodedrogaseutilizamaisumasriedeafirmaesmoralistasparadefenderseu puroesimplesbanimento.Ofunkcasodepolciaepontofinal.Naimpossibilidadede exterminar os que fazem, escutam e se identificam com o funk afinal, quem limparia as casas, faria as comidas, engraxaria os sapatos, cuidaria dos filhos das classes dominantes procura-se censuraremesmoliquidarsuasformasdelazer,desociabilidade,poisdespersonalizaro inimigo,sobretudoquandoesteoprimidoporumasociedadequeseerguesobresuascostas, comaforadeseutrabalho,primordialparagarantirsuasubmisso.Soboargumentoda ordem, de uma inventada necessidade de ordenamento urbano, o funk interditado como agente do caos, sobretudo como expresso musical da violncia armada existente nas favelas. Aperseguioaosritmosnegrosnoumanovidadehistricaentrens.Mesmoo samba,hojelargamenteaceitoeincorporadoculturaoficial,foiacusadodeincivilizadoe ameaador,sofrendoperseguiespoliciais,preocupandoosdefensoresdaordempblica.No entanto,osambaintegrou-sechamadaculturabrasileiranummomentoemqueaselites nacionaisaindatinhamprojetodenao,impossveldeseconcretizarsemselevaremconta, ainda que de forma subalternizada e domesticada, o povo e as suas manifestaes negras. Como uma forma de incluir hierarquizando, cria-se o mito da democracia racial.Ofunksurgecomoexpressoculturalpopularemoutromomentohistrico,oda devastao neoliberal, onde a incorporao da classe trabalhadora ao mercado via emprego e as iluses da democracia racial so jogadas gua abaixo. Sem nada a oferecer como miragem aos subalternizados,asociedadedemercadotransformaamaioriadahumanidadeempotenciais inimigos,emsereshumanossuprfluosquenemmesmocomoexrcitodereservademo-de-obraservemparaela.3Nessecontexto,aindamaisnumasociedadeprofundamentedesigual comoanossa,conterasclassessubalternizadassetornaagendaprioritriadosgovernos,seja atravsdainstitucionalizaodoextermnio,sejapormeiodacriminalizaocotidianados pobres e suas expresses culturais. Na viragem do arremedo de Estado do Bem Estar Social para o Estado Penal, o inimigo vai ser construdo como o jovem negro, favelado, rotulado como traficante. No entanto, como o racismo no se confessa por aqui, a cultura que vai demarcar de modo explcito as fronteiras definidas pela cor da pele.Assim, como demonstra Michael Herschmann, a palavra pivete substitudaporfunkeiroparatratardossupostosjovensmarginaiscariocas,emsuamaioria pretosfavelados,apartirdoperodops-arrastesnoinciodadcadade1990 (HERSCHMANN,2006).OrlandoZacconetambmdemonstraqueocrimedetrficode drogas, termo utilizado para se referir ao comrcio varejista de substncias ilcitas nas favelas, serveparaaprisionaressesjovensejustificarsuaeliminaopelasforasdoEstado,jque

3 Sobre a idia de humanidade suprflua ver os trabalhos de Zygmunt Bauman. jovemnegrofavelado=supostotraficantenalinguagempolicialemiditica.Comoofunka forma de lazer e o ritmo que identifica essa segmento social, ento tm-se jovem negro favelado = traficante = funkeiro. No resultado final, funk=coisa de bandido. (ZACCONE, 2007)muitocomumquenotciassobreassassinatosdejovensemfavelassejam relacionadasaofunknasmatriaspublicadaspelamdiacorporativa.Umexemplorecente:os trsjovensdoMorrodaProvidnciamortosporumaaodoExrcitoemconluiocomuma faco criminosa em 2008. Em todos os veculos da imprensa aparecia a informao de que eles estavamvoltandodeumbailefunknaMangueira,dadoqueprovavelmenteseriaomitidoseo lazerfosseoutro.Osimplesfatodelesteremidoaumbaile,aindamaisnumafavela,jos colocavasobsuspeita,tantodoscriminososfardadosepagoscomosimpostosdapopulao brasileira(inclusiveafavelada)quantodaimprensaedachamadaopiniopblica(leia-sea minoria formada pelos que lem jornais). Assim, o jovem favelado construdo no singular como um grande perigoso sujeito. As representaesdosgruposhegemnicosnoacionamimagensdefavelasnoplural,massima imagemdeumanicaentidadetotalizante.Comoseessesterritriosestivessemsituadosem uma outra cidade, utilizam um olhar que no enxerga as prticas cotidianas e concretas que por l circulam. Como se os sujeitos que l habitam no fossem to sujeitos, criam um discurso que silencia as vozes locais e delimitam os territrios favelas como um espao genrico do perigo edabarbrieligada,nicaeexclusivamente,aochamadotrficodedrogas.Porm,paraa juventudefaveladadofunkcadafavelatemnomeprprioesignificadacomoumlocal heterogneoedehabitao.Emoutraspalavras,alinguagemdofunkdsentidofavela: fazendo ver outros mapas e desenhando diferentes percursos na cidade do Rio de Janeiro. O funk veste com nome prprio cada favela e os espaos no interior dela. Alm disso, a presena dofunke se espalhapelacidade.Ofunkfaz comque a presenadasfavelassejamaisvisvel ainda, ultrapassando as barreiras fsicas e simblicas que consituem o territrio urbano. quase impossvelpassarumdianacidadedoRiodeJaneirosemouvirosomdobatidovindode algum lugar de um aparelho de MP3 de algum caminhante, de carros, celulares, etc. Emsua contraditriarelaocomaindstriacultural,quelucrasimultaneamentecomasua criminalizao e com a sua mercantilizao, o funk deixa espao para que os jovens negros das favelaspossamexistirsocialmente.Paraeles,ofunkdiverso,trabalhoesensualidade,mas tambm a realidade e a linguagem da favela, denncia e movimento cultural.Essamesmalinguagemquecriaalgumasdificuldadesmetodolgicasparaasquaiso pesquisadortemdeestaratento-poisasgriassodinmicasetransformamossentidosdas palavras de acordo com o contexto em que os discursos so emitidos -permite que o funk seja umgrandeveculodecomunicao,falandodiretamenteaoseupblico.Paraentendermoso potencial de comunicao popular que o funk possui, preciso levar em conta que ele hoje o estilo musical mais difundido nas favelas e periferias cariocas. Estima-se que em todo o estado existamcercade5milhesdefunkeirosepodemosdizerquesopoucasasfestasebailesda juventudecariocanasquaisogneronotocado.Osbailesfunks,nasfavelasounoasfalto, renem milhes de jovens a cada semana e possvel encontrar em vrios deles um pblico de mais de 5 mil pessoas. Alm de ser um tipo de msica, o funk tambm configura estilos de vida e consumo que so identificados s favelas. Com isso, o funk pode ser compreendido como um meio de comunicaopopular com grandeinflunciasobreajuventudepobre.Expressandorealidadesmltiplas,servindocomo diverso, transmitindo mensagens e, sobretudo, transformando em registro artstico a linguagem dafavela,cheiadegriasesentidosdiversosdalnguaculta.Comoofunk,quese originanas favelas,chegaaoasfaltotambmcomgrandeimpactoacabaservindodemediadorentreas diferenteslnguasdacidade,contribuindoparaincorporaraoportuguscariocaosfalaresdo morro.Numcontextonoqualcadavezmaisasfavelassoguetificadasporumapolticade (in)seguranapblicaquemarcadapelacriminalizaodapobreza,ofunkganhauma importncia comunicacional ainda maior, espcie de jornal popular, no dizer de Mr. Catra. precisolembrarqueafavelaumterritriomarginalizadoconstrudonointeriorde umasociedadefundadanomitodademocraciaracial.ComomostraFlauzina(2008),talmito foi utilizado no s para interditar a formao de uma identidade negra no Brasil, como tambm paraapagaroconflitoderaaexistentenanao.Umdosvestgiosdesseconflitoseriaa segregaoespacial,quelanouapopulaonegraparaasperiferiasdetodoopas.Nesse sentido,poderamosentenderafavelacomoresultadodeumadivisoracial,que,nodiscurso hegemnico,operadeformasilenciosa.SegundoPinho(2003),nocontextobrasileiro,o racismo s tem eficcia simblica por meio de sua dissimulao, uma vez que a excluso racial foisubstitudapelaretricanacionaldemestiagembrasileira.Assimpossvelumracismo sem sujeito (os racistas) e sem objeto (os negros). Mesmo com as mudanas recentes sobre o pensamento racial no Brasil, a cidade do Rio deJaneiro,queserviudepalcoparaainvenodanacionalidadee,logo,damestiagem brasileira,reiteracontinuamentetaissilnciosnasleiturasquesofeitassobreosterritrios destacidade:quesituamdoladodec,acidademaravilhosa,aterradosamba,dasbelas praias e do carnaval e do lado de l, as favelas e seus perigosos sujeitos. O preconceito contra os sujeitos e o lado de l da cidade parece no colocar em xeque o mito da democracia racial. comoseahierarquizaosobredeterminadosterritriosdacidadenoameaasseomitoda sociabilidadecariocaquecelebraademocraciaeindistinodeclasses,coreseculturas. Em uma cidade onde a mistura de raa simbolicamente (re)atualizada, o discurso hegemnico silencia a referncia distino de cores, substituindo-a pela distino do local de origem isto , do local onde se mora. Assim, possvel compreender como funk carioca reivindica a favela comosuaraizsemfazermenesexplcitasaossignificadosraciais.Nofunkcarioca,ha reivindicaodeumaorigemespacialconstitutivadeumaidentidadequepodeservistacomo metonmia4 da identidade negra na cidade do Rio de Janeiro, a identidade favelada.Essesfunkeiroscomeamacantarafavelanummomentoem queestasignificada no discurso hegemnico como um todo homogneo dominado pelochamado trfico (comrcio varejista de drogas); um discurso que generaliza e atenua completamente qualquer oposio que possahaverentreaquelesqueseriambandidoseaquelesqueseriammoradores.Segundo Peralva (2000), desde 1980, a favela vista e reconstruda pelaclasse mdia como o oposto da cidade, como o espao inimigo, onde qualquer forma de violncia do Estado legtima.Como mostram alguns autores da geografia cultural, o espao no uma entidade fsica, inocenteea-poltica.DeacordocomLefebvre(1991,p.26)oespaoumaprticadiscursiva determinante na constituio das identidades sociais. Partindo desse pressuposto, alguns autores fazemumadistinoentreespaoelugarproduzidasocialmente,tilparacompreendera forma pela qual determinados sujeitos no s interagem, como tambm se situam e significam o mundo.DeacordocomForman(2002:25),ambospossuemumarelaodialgica,masao passoqueolugardefinidopelainteraohumanalocalimediata,oespaomostraas trajetrias mais amplas e genricas. De forma semelhante, De Certeau (2008) argumenta que o local uma prtica que se constri no ato de caminhar pela cidade e o espao no ato onividente deobservar,mediredelimitar.5SegundoDeCerteau(2008),essasprticaslocaiseespaciais so como atos de fala que constroem mapas das cidades. Se o discurso hegemnico aciona atos de fala para constituir e delimitar a favela como um espao dominado pelo trfico de drogas, os MCs com os seus atos de fala lricos fornecem um outro tipo de existncia para esses territrios. Estes passam a ser o local do funk, onde os baileseasprticasqueoconstituemsodetalhadamenteenunciados.Umexemplonotrio dessa identidade o rap Endereo dos Bailes dos MCs Junior e Leonardo, em que os artistas fazem ver um outro mapa do Rio de Janeiro: Endereo dos Bailes (Junior e Leonardo) No Rio tem mulata e futebol,Cerveja, chopp gelado, muita praia e muito sol, ... Tem muito samba, Fla-Flu no Maracan, Mas tambm tem muito funk rolando at de manh Vamos juntar o mulo e botar o p no baile Dj ah! Peo paz para agitar,

4 Referimo-nos figura retrica que possibilita deslocar uma parte para significar o todo. Assim, o que enunciadocomooobjetodopreconceitosoimagensidentitriasqueseassociam,silenciosamente,ao corpo negro (seja a imagem do pobre, do favelado, do marginal, do funkeiro etc.). Tal operao retrica perpetua o racismo sem que ele seja explicitamente identificvel. 5 O local est para o caminhante, assim como o espao est para o cartgrafo. Eu agora vou falar o que voc quer escutar ! Se liga que eu quero ver O endereo dos bailes eu vou falar pra voc que de sexta a domingo na Rocinha o morro enche de gatinha Que vem pro baile curtir Ouvindo charme, rap, melody ou montagem, funk em cima, funk embaixo, Que eu no sei pra onde ir O Vidigal tambm no fica de fora Fim de semana rola um baile shock legal A sexta-feira l no Galo consagrada A galera animada faz do baile um festival Tem outro baile que a galera toda treme l no baile do Leme l no Morro do Chapu Tem na Tijuca um baile que sem baguna A galera fica maluca l no Morro do Borel ah! Peo paz para agitar, Eu agora vou falar o que voc quer escutar ! Se liga que eu quero ver O endereo dos bailes eu vou falar pra voc Vem Clube ris, vem Trindade, Pavunense Vasquinho de Morro Agudo e o baile Holly Dance Pan de Pillar eu sei que a galera gosta Signos, Nova Iguau, Apollo, Coelho da Rocha, ... Vem Mesquito, Pavuna, Vila Rosrio Vem o Cassino Bangu e Unio de Vigrio Balano de Lucas, Creib de Padre Miguel Santa Cruz, Social Clube, vamos zoar pra dedu Volta Redonda, Maca, Nova Campina Que tambm tem muita mina que abala os coraes Mas me desculpa onde tem muita gatinha na favela da Rocinha l na Clube do Emoes Vem Coleginho e a quadra da Mangueira Chama essa gente maneira Para o baile do Mau O Country Clube fica l praa seca Por favor, nunca se esquea, Fica em Jacarepagu ah! Peo paz para agitar, Eu agora vou falar o que voc quer escutar EmEndereodosBailes,osartistasfazemmaisdoqueumadescriodosbailes. Enfatizandoosaspectospositivosdessadiverso,elesrealizamumconviteaosolhoseaos ouvidos.ORiodeJaneirodeixadeservistoapenascomooespaogenricodosamba,do futeboledapraiaostoconsagradossmbolosnacionais,parasertambmolocalonde aconteceminmeroseespecficosbailesfunk.NummomentoemqueosMCsbuscavamdar visibilidade e legitimidade ao funk, eles acabaram por fazer o mesmo com o local em que este eraproduzidoeconsumido.Taislocaispassamaserenunciadoscomoparteintegranteda cidade.Vriosfunksproduzidosnadcadade1990tmnomedefavelasespecficas,por exemplo,oRapdaRocinha,RapdoVidigal,RapdaCidadedeDeus.Damesmamaneira, muitosMCsdessapocatambmeramconhecidoscomorepresentantesdecertagaleraoude uma favela especfica, como por exemplo, William e Duda do Borel, Galo da Rocinha, Mascote doVidigal,etc.Onomedosrapsedosartistasdefunkindicaumreferencialcomunitrio.Os artistasdefunkexistempublicamentecomoumsujeitocoletivodaRocinha,doVidigal, etc.; e, ainda, enunciam em nome de suas prprias favelas ou comunidades6. Nessas poesias, os aspectos positivos das favelas so reiterados, medida que os MCs nomeiam as ruas, esquinas e os lugares de entretenimento de cada um desses locais, como mostramos no rap a seguir. Rap do Vidigal e da Rocinha (Mascote e Galo) E a MC Galo, como que ta a Rocinha?Um paraso, onde tem muitas mulheres. E o Vidigal?Vidigal um Morro de Lazer, em frente ao mar Quem sobe no quer mais descer Vai, vai, vai, vem, vem, vem Quem dana no Vidiga, dana na Roa tambm O Vidigal um morro de valor uma favela que o Papa batizou Comunidade humilde, um morro muito shock l que mora o MC Mascote

6Atualmente,osfunkeirosjnoutilizamcomfrequncia,comonadcadade1990,nomesdefavelas especficasnosfunks,poisenunciaropertencimentoaumdelaspodeserentendidocomoenunciaro pertencimento a certa faco criminosa. Tal fenmeno deve-se ao um aumentoda violncia no mercado varejista de drogas diretamente relacionado ao acirramento, nos ltimos quinze anos, de uma poltica de Estado que criminaliza a pobreza e as favelas cariocas (Malaguti, 2003). A Rocinha uma comunidade linda a maior favela da Amrica Latina Se liga sangue bom, preste atenoNo que eu te falo l que mora o tal do MC Galo Se liga amigos, no me leva a mal Agora eu vou falar das reas do Vidigal Subindo a escola vai parar no Barraco Subindo sempre tem, voc para no Canto Passa rua trs, Rua Nova, Orelho Logo mais em cima, tem a associao Tem que continuar subindo no sapatinho Se de repente lombra, voc corta o caminho Olha meus amigos, eu no vou perder a linha Agora eu vou falar das rea da Rocinha Vem a Rua 1, a Rua 2 e a Rua 3 E tambm a Rua 4 no se esquea de vocs Cachopa, Pocinho, Vila Verde, Terreiro,Cidade Nova, Curva do S e Fundao Vem a Via pia, Paulo Brito e BoiadeiroRoupa Suja e o Valo, sempre tem que vir primeiro Vidigal tem conceito, a Rocinha pede a paz,Vidigal tem conceito, a Rocinha pede a paz Nesterap,doisMCsestabelecemumdilogoemquecadaumnarraasprticas espaciais de seus locais de habitao: as favelas do Vidigal e da Rocinha. Cada MC, na posio de locutor, situa-se como caminhante que mais do que fazer ver um determinado local, prope um itinerrio. Por exemplo, os MCs evidenciam as favelas com nome e caractersticas positivas prprias,Rocinha,umparaso,Vidigal,ummorrodeLazer,mastambmopercursoque realizam em seus locais de habitao, Subindo a escola vai parar no Barraco, Logo mais em cima, tem a associao.possvelperceberque,apesardascondiesmateriaisdasfavelascausarem indignao em seus moradores, ela tambm um local capaz de gerar um enorme sentimento de orgulhoe pertencimentonossujeitosquelhabitam.Talsentimentoenunciadonasletrasde funk.Pormeiodelas,osMCstravamverdadeirasbatalhaslingsticascontraodiscurso hegemnico em que a favela construda como o espao de atos de atrocidade comcondies desoladoras.NorapCidadedeDeus7,osMCsCidinhoeDocaencenamatosdefalaquese constituemcomoumarepostacontestatriaaodiscursohegemnico,conformeexpostono fragmento a seguir. Cidade de Deus (Cidinho e Doca) C -I- D- A- D- E- D- E- D- E- U- S e v se no esquece de Deus Cidade de Deus C -I- D- A- D- E- D- E- D- E- U- S e v se no esquece de Deus Cidade de Deus Cidade de Deus Dizem que ns somos violentos, mas desse jeito eu no agento. Dizem que l falta educao, mas ns no somos burros no. Dizem que no temos competncia, mas isso sim que violncia. Que s sabemos fazer refro se liga sangue bom, mas no assim. Ns temos escola ns temos respeito se quer falar de nsv se fala direito. Estou documentado doutor cidado brasileiro e tenho o meu valor. Meu pai pedreiro, mame costureira e eu cantando rap pra massa funkeira O ritmo quente alucinante ta povo do funk ta povo gigante. Eu quero ouvir geral no refro Cidade de Deus Cidade de Deus C -I- D- A- D- E- D- E- D- E- U- S e v se no esquece de Deus Cidade de Deus C -I- D- A- D- E- D- E- D- E- U- S e v se no esquece de Deus Cidade de Deus

7 Esse rap foi gravado em 2003, um ano depois do lanamento do filme Cidade de Deus, dirigido por Fernando Meirelles. Esse filme popularizoue projetou a Cidade de Deus, internacionalmente, como o espao da barbrie e de uma violncia brutal.Cidade de Deus Mas se tu no sabe eu te conto, mas eu no sei se tu est pronto. Nem tudo o que falam verdade. Queremos paz, justia e liberdade. Quando tiver um tempo sobrando, se liga no que estou falando vai l conhecer minha cidade. Eu vou te dizer a que comea, tu vai se amarrar vai se divertir Depois que tu entrar no vai quere sair. Vai ver alegria vai ver sofrimento No escondemos nada o que temos l dentro. Porque a comunidade tem f a vida que levamos tipo mar As vezes t alta, as vezes t baixa, quem sabe navegando essa mar se acha. Esquea a caneta escreva de lpis quando a mar mudar voc passa a borracha. Porque a vida do povo assim As vezes t tranqila e as vezes t ruim. (....) OrapteminciocomorefroemqueosMCssoletramonomedaFavela CidadedeDeus(C-I-D-A-D-E-D-E-D-E-U-S)edepoisrepetem-noinmeras vezes,aolongodamsica.ApalavraDeusenfatizada(vsenoseesquecede Deus).Nessemomento,osMCsfornecempistassobrequemoseuinterlocutor:o sujeitoquenospoderiaesqueceroatributodeDeus,comotambmassociaressa Cidadeaumatributooposto(nemtoDivino)!Amsicaumaresposta/defesa daqueles que vivem nas favelas para aqueles que esto fora delas. De um lado, temos os MCsquenarramemprimeirapessoaparamarcarumaenunciaoemnomedeum sujeito coletivo: o ns da Cidade de Deus. Mesmo quando eles enunciam na primeira pessoa do singular, trata-se de um reforo dessa coletividade, uma vez que eles acionam representaesparadigmticasdaformapelaqualosmsicossignificamosujeitoda favela:nocomoobandido,mascomoumcidadobrasileiro,msico,filhodepaistrabalhadores (estou documentado, doutor/ cidado brasileiro/ tenho o meu valor/ meu paipedreiro/mamecostureira).Deoutrolado,temosointerlocutor,aquelesujeito quenodafavela,significadooracomodoutor,oracomosanguebom.Esse ltimo termo uma gria do chamado favels8 que designa uma forma de tratamento

8EssetermofoipublicizadopelorapperMVBilleexplicitaumaspectotpicodaculturacarioca:a existncia de uma lngua produzida a partir das interaes sociais que ocorrem nas favelas e que impem grias e modas lingsticas ao conjunto dos habitantes das cidades. amigvelcomooutro.Osanguebomexplicitamenteconvidadoaconhecera Cidade de Deus (Se Liga no que eu estou falando/vai l conhecer a minha cidade).Logoapsorefro,osMCscitamcertasimagenstipicamenteacionadasno discursohegemnico(ounodiscursododoutor)sobreasfavelas:oespaoda violnciaedafalta(Dizemquenssomosviolentos/Dizemquelfaltaeducao/ Dizemquenotemoscompetncia).Enunciandocomoumcoletivo,osMCscitamtal discursoparacontestaratosdefalaque,violentamente,interpelameconstituema favelaeseussujeitos,unicamente,poresteretiposviolentos(Masdessejeitoeuno agento, mas ns no somos burros no, mas isso sim que violncia). Nesse rap, no s os aspectos positivos das favelas so significados. Ainda que se tenha o local favela como uma categoria central na organizao de suas narrativas, nosetratadeumespaoidealizadoretratadoporapenasumaperspectiva.Muito pelocontrrio,osrapsnosmostramosaspectospositivosdolocalfavela,mas tambmfuncionamcomodennciasocial.Aofazeroconviteaodoutor,osMCs realizam uma caminhada, em que mostram as dificuldades de se viver numa favela (vai veralegriavaiversofrimento/noescondemosnadaoquetemosldentro).sobo ponto de vista do sujeito que vive as prticas locais, tecendo contornos e trajetrias das favelas,queosaspectospositivosenegativosdesseterritriosonarrados, transformando a habitao e o hbito em algo que vale a pena lutar. Parafraseandoorap,trata-sedeumatrajetriavulnervel,quespodeser escrita lpis (Esquea a caneta escreva de lpis/ Quando a mar mudar voc passa a borracha).No entanto, tal trajetria o destino de milhares de sujeitos que, nesse rap, so(re)escritos:ofavelado,quenodiscursohegemnicointerpeladocomouma perigosa estereotipia, aqui significado como um sujeito de direito, ou melhor, como povobrasileiro(porqueavidadopovoassim/asvezesttranqila,asvezest ruim). Ofunk,portanto,aoinscreverafavelanageografiasimblicadacidade,afirmaque favelacidadeeque,portanto,deveserterritriodedireitodecidadania.Omapadacidade deveincluir,portanto,aspopulaespobresquenaexperinciadaprecariedadeconstruram modosdevidaeidentidadesurbanasquesoconstitutivasdosercarioca.Reivindicaro direito cidade , no caso do funk, afirmar sua cultura e a legitimidade dessa expresso musical diasprica que embala coraes, corpos e mentes da juventude negra, pobre e favelada.Para MC Leonardo, nascido e criado na Rocinha, as elites combatem e criminalizam o funkdetodasasmaneiras,poisabrigadofunkantesdetudoumabrigaracial.Queironia! Logonaterraemquegovernos,mdiacoporativaeelitesartsticas/intelectuaiscelebrama democraciaracialeaigualdadedeclasses,coreseculturas.impossvelpensarmosnuma transformaoradicaldasociedade,senocomearmosapelomenosreconhecererespeitara legitimidadedaculturadajuventudenegracontemporneaeadialogarcomassuas contradies.ComodizoMCdamaiorfaveladaAmericaLatina,ofunkcariocauma poderosa arma porque uma forma de comunicao, que mostra o que ns favelados vivemos, pensamos e queremos. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS: BITTENCOURT,B.FunkmovimentaR$10milhespormssnoRiodeJaneiro,diz estudo.JornalFolhadeSoPaulo.Disponvelem: Acesso em:27 de janeiro de 2009. BLACKLEDGE,A.TheracializationoflanguageinBritishpoliticaldiscourse.In:Critical DiscourseStudies,Volume3,Issue1,2006,p.61-79.Disponvelem:http://www.informaworld.com/smpp/title~content=t713695016 Acesso em:maio de 2008. BUTLER, J. Excitable speech: a politics of the performative. 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