factory in guimarães

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Memória Descritiva e Justificativa Uma fábrica abandonada. Um recinto vazio. Uma estrutura expectante. Os edifícios fabris revelam uma matriz espacial com extremas potencialidades. Talvez por isso motivem, recorrentemente, à transgressão dos seus limites. As suas possibilidades infinitas tornam a fábrica abandonada num espaço informal, e portanto, numa obra aberta. Marginalidades à parte, estas estruturas contêm um potencial assinalável para o desenvolvimento de produções artísticas, atividades recreativas e de reunião. O seu romantismo e a generosidade espacial promovida pelos grandes e altos vãos, suportados por uma métrica de pilares, racionalmente distribuídos, constroem um palco privilegiado para os, “transgressores”, atores sociais. Ignorar este potencial é deixar escapar oportunidades. © Marilene Baldissero Então o que fazer com uma fábrica abandonada? Afirmar as suas fronteiras? Construir maciçamente o seu miolo ao ponto de se tornar um quarteirão impenetrável, mono-funcional, especulativo e ordinário? Ou dever-se-á olhar para a fábrica abandonada como um ativo extraordinário que é? A fábrica abandonada, quando requalificada, pode e deve promover a regeneração urbana, a ativação de novas vivências e estar aberta à comunidade. É uma obra aberta porque foi fábrica mas pode vir a ser uma outra qualquer coisa e é fundamental que este raciocínio faça parte, também, do próximo uso que lhe vier a ser dado, para que esta possa abrir-se ao exterior e fundir-se com a cidade. A permeabilidade do espaço da antiga fábrica é um elemento fulcral para a aproximação socioeconómica. Por estar acessível e receptiva, a estrutura poderá continuar a contar com o interesse e visita informal da comunidade que a rodeia, tornando-se em ultima instância num local privilegiado para a implementação de programas variados e em correta proporção, ao serviço dos utilizadores. Com o estímulo provocado por uma estrutura aberta à cidade e livre para ser apropriada, acontece o interesse no local. Assim, o referido interesse, não é resultado de a estrutura ser de âmbito comercial, habitacional ou de serviços, mas por ser uma estrutura recreativa. Não é uma estrutura que se proponha servir o utilizador. É sim, antes, o utilizador quem “viola” a estrutura. Por este factor é que a permanência é uma consequência. Abrir uma antiga fábrica à cidade é libertá-la dos seus limites. É “despir” a pele que veste a estrutura. Ao fazê-lo revela-se, ainda mais, a proeminência de magníficas estruturas, umas pela sua forma, outras pela sua escala. © Marilene Baldissero Autor desconhecido

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Page 1: factory in guimarães

Memória Descritiva e Justificativa

Uma fábrica abandonada. Um recinto vazio. Uma estrutura expectante.

Os edifícios fabris revelam uma matriz espacial com extremas potencialidades. Talvez por isso

motivem, recorrentemente, à transgressão dos seus limites. As suas possibilidades infinitas tornam a

fábrica abandonada num espaço informal, e portanto, numa obra aberta. Marginalidades à parte, estas

estruturas contêm um potencial assinalável para o desenvolvimento de produções artísticas, atividades

recreativas e de reunião. O seu romantismo e a generosidade espacial promovida pelos grandes e altos

vãos, suportados por uma métrica de pilares, racionalmente distribuídos, constroem um palco

privilegiado para os, “transgressores”, atores sociais.

Ignorar este potencial é deixar escapar oportunidades.

© Marilene Baldissero

Então o que fazer com uma fábrica abandonada? Afirmar as suas fronteiras? Construir maciçamente o

seu miolo ao ponto de se tornar um quarteirão impenetrável, mono-funcional, especulativo e ordinário?

Ou dever-se-á olhar para a fábrica abandonada como um ativo extraordinário que é?

A fábrica abandonada, quando requalificada, pode e deve promover a regeneração urbana, a ativação

de novas vivências e estar aberta à comunidade. É uma obra aberta porque foi fábrica mas pode vir a

ser uma outra qualquer coisa e é fundamental que este raciocínio faça parte, também, do próximo uso

que lhe vier a ser dado, para que esta possa abrir-se ao exterior e fundir-se com a cidade.

A permeabilidade do espaço da antiga fábrica é um elemento fulcral para a aproximação

socioeconómica. Por estar acessível e receptiva, a estrutura poderá continuar a contar com o interesse

e visita informal da comunidade que a rodeia, tornando-se em ultima instância num local privilegiado

para a implementação de programas variados e em correta proporção, ao serviço dos utilizadores. Com

o estímulo provocado por uma estrutura aberta à cidade e livre para ser apropriada, acontece o

interesse no local. Assim, o referido interesse, não é resultado de a estrutura ser de âmbito comercial,

habitacional ou de serviços, mas por ser uma estrutura recreativa. Não é uma estrutura que se

proponha servir o utilizador. É sim, antes, o utilizador quem “viola” a estrutura. Por este factor é que a

permanência é uma consequência.

Abrir uma antiga fábrica à cidade é libertá-la dos seus limites. É “despir” a pele que veste a estrutura.

Ao fazê-lo revela-se, ainda mais, a proeminência de magníficas estruturas, umas pela sua forma, outras

pela sua escala.

© Marilene Baldissero  Autor desconhecido 

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Este tipo de intervenção parte do esqueleto do edifício. Coloca-o cruamente exposto. Não restarão

duvidas de que, pelo facto de ter sido removida a sua pele, a antiga fábrica continue a ser lida, quer

espacialmente, quer morfologicamente.

A memória da antiga fábrica continua clara, mas não foi guardada estaticamente. Criteriosamente,

pode-se partir de uma vontade de preservação de uma pré-existência e adaptá-la, recompô-la e

desconstruí-la.

Esta foi a bengala que motivou a abordagem à antiga Fábrica de Fiação e Tecidos de Algodão.

Como uma fabrica abandonada, é em tudo igual a tantas outras que se encontram na mesma situação,

portanto, também, com o mesmo potencial. O imóvel é composto por dois volumes, um principal de três

pisos, orientado longitudinalmente à Avenida D. Afonso Henriques e, um outro, em anexo, mais baixo,

predominantemente de um piso, situado a Poente no logradouro do lote. A citada Avenida D. Afonso

Henriques constitui-se como o único ponto de acesso e, que pela sua pendente, cruza os três pisos do

volume principal. A Nascente, a fachada principal apresenta um edifício com uma imagem compacta e

impenetrável, de grandes planos cegos e poucas fenestrações. Os demais alçados são toscos e

resultam da necessidade. Ainda assim, independentemente do seu exterior, é no interior que a fábrica

mostra o seu potencial: a matriz estrutural.

O projeto inicia-se pela análise de hierarquias, promovendo a manutenção do volume principal e, por

oposição, anulando o volume em anexo, situado a Poente, equilibrando a proporcionalidade entre a

área construída e área livre, devolvendo o logradouro ao lote.

A intervenção no volume principal, agora única construção da antiga fábrica, passa por libertá-la da

pele que a envolve derrubando, assim, fronteiras para que se funda com a envolvente. A exposição das

entranhas do edifício põe a nu uma matriz espacial que se revela num espaço aberto de oportunidades.

Uma grelha horizontal de três pisos permeável física e visualmente.

La Cros Old Factory – Diaz y Diaz Architects © Xoan Pinon 

La Cros Old Factory – Diaz y Diaz Architects © Xoan Pinon 

Fábrica de Fiação e Tecidos de Algodão

 

Pérgula – grelha espacial aberta, permeável

 

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A antiga Fábrica de Fiação e Tecidos de Algodão tornar-se-á uma plataforma informal para ser

apropriada pela comunidade, onde se estabelecerão jardins, percursos e espaços multiusos exteriores

e interiores e um parque de automóveis, complementados por uma pequena porção de comercio e

restauração.

O que se propõe com este projeto é alterar a percepção do que é uma estrutura fabril abandonada,

transformando-a num espaço de reunião social, portanto, num espaço público. É um espaço luxuoso

para o estacionamento, mas também para o lazer e para a recreação formal e informal, onde todas as

partes são interdependentes e são, também, valor acrescentado umas das outras.

O projeto de revitalização propõe um novo espaço de partilha, orientado ao utilizador e que, por isso,

também incorpora o automóvel. O Edifício será um local onde se cruzarão atividades diversas, tais

como, o exercício físico, eventos sociais, conferências, cinema ao ar livre, entre outros.

1111 Lincoln Road – Herzog & De Meuron

 

1111 Lincoln Road – Herzog & De Meuron

 

SESC Pompéia – Lina Bo Bardi

 

1111 Lincoln Road – Herzog & De Meuron

 

Marquise do Ibirapuera – Oscár Niemeyer

 

Marquise do Ibirapuera – Oscár Niemeyer

 

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O projeto de intervenção na antiga Fábrica de Fiação e Tecidos de Algodão não se constitui, apenas,

como um ato de subtração ou de remoção mas, também, de adição. Uma vez que o projeto integra o

automóvel, foi adicionada uma construção paralela à pré-existência, pousada no logradouro do terreno.

Uma rampa promove a ligação entre os diversos pisos da antiga fábrica. A imagem dos viadutos e da

escala das suas estruturas serviu como bengala para encontrar a solução para a nova construção.

Este novo edifício completa a composição e fecha o conjunto. Um edifício pré-existente, de

predominância horizontal e de permanência e um outro, novo, de acesso vertical, de fluxos, mas que

não assume características meramente funcionais. O novo edifício, hierarquicamente,

programaticamente e pela sua escala, torna-se secundário relativamente ao volume da antiga fábrica

mas, ainda assim, é nele que está situado o ponto de exceção de todo o projeto. Como um farol, ou

miradouro, o novo edifício culmina a sua rampa no ponto mais elevado de toda a composição tornando-

se, assim, no local ideal para a implantação de um lugar exclusivo - A “Penthouse”.

A abordagem arquitectónica, bem como, o conteúdo programático pensado para a antiga Fábrica de

Fiação e Tecidos de Algodão foi uma reação sensível à sua envolvente, onde para além de se situar

numa área predominantemente residencial encontra, do lado oposto da Avenida D. Afonso Henriques,

o Centro Cultural Vila Flor. Se, por um lado, o facto do entorno à antiga fábrica ser predominantemente

habitacional se constitui como uma oportunidade para a criação de uma estrutura recreativa informal

para os residentes, por outro, a presença imediata do Centro Cultural Vila Flor, como espaço formal e

principal equipamento cultural de Guimarães, estimulou a informalidade para a requalificação do imóvel.

O que se pretende com a proposta de projeto é a geração de uma sinergia, coabitando lado a lado o

Centro Cultural, como espaço formal, semipúblico e fechado e a antiga Fábrica de Fiação e Tecidos de

Algodão como um espaço informal, público e aberto. A polarização entre o formal e o informal permitirá

a continuidade de atividades de carácter diverso entre os equipamentos, aumentando a referencia e a

importância do local para a cidade de Guimarães.

© Mamédia

 

© Paulo Pires Teixeira - Viaduto de Lourenço, Moçambique

 

© Spicka – Centro Cultural Vila Flor

 

© Vitor Mesquita – Centro Cultural Vila Flor

 

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A intervenção e requalificação de um imóvel como a antiga Fábrica de Fiação e Tecidos de Algodão

para além de dever e poder ter um carácter social, não pode descurar a sua consequente

rentabilização e sustentabilidade económica. Tornar o atual imóvel privado num grande jardim público

não geraria o necessário estímulo para a sua requalificação efetiva. Deste modo, o programa

apresentado promove o equilíbrio entre a concepção de âmbito social da intervenção e, aproveitando

esta geração de riqueza, potenciar uma outra, mas desta feita, de âmbito económico.

A requalificação da antiga fábrica conta com um programa abrangente e interdependente. Por um lado,

existem jardins, percursos, parque infantil, anfiteatro e espaços multiusos exteriores – cobertos e

descobertos – que promovem o estímulo social. Por outro, estão contemplados um ginásio e um campo

de jogos para a prática desportiva, um espaço expositivo orientado à cultura, um quiosque e uma loja –

que pode ser subdividida – orientado ao comercio, um restaurante e esplanadas para a restauração,

parque para estacionamento automóvel e um hostel “Penthouse”, orientado ao alojamento turístico,

agregando assim, um conjunto programático que promove a sustentabilidade económica da proposta.

Pelas características do projeto existe ainda a possibilidade de rentabilizar, pontualmente e em função

de uma gestão futura do imóvel, os espaços exteriores públicos para eventos sociais exclusivos.

Mais detalhadamente, o piso do rés-do-chão organiza-se à cota 182,90 e é composto por parque

automóvel, um posto de controlo e recepção geral – local que se propõe ser um espaço de atendimento

aos utentes, posto de turismo, reservas, inscrições e pagamentos -, um espaço de exposições, um

ginásio, balneários, campo de jogos e um jardim que se estabelece no logradouro do lote, sobreposto

pelo novo edifício de acesso automóvel, estendendo-se até à antiga fábrica. Neste piso verifica-se o

ponto de acesso pedonal e automóvel ao interior do lote através do passeio da Avenida D. Afonso

Henriques, à cota 183,50. O jardim é para este piso um elemento que permite estender e agregar, não

só, os programas que nele se situam, sendo também um remate para conjunto. Assim, evita-se afirmar

os limites do lote gerando-se, antes, uma continuidade com a grande mancha vegetal situada a Poente.

O piso 1 desenvolve-se na cota 186,90 e tem um acesso pedonal pelo passeio e um outro, para

automóvel, através da nova ampliação que se desenvolve em rampa. Neste piso a loja e o quiosque

foram posicionadas muito próximas do ponto de acesso pedonal para que, ainda que recuadas em

relação ao passeio, possam gozar de condição de urbanidade, visibilidade e acessibilidade, não

servindo única e exclusivamente o edifício onde se insere, constituindo-se assim, como lojas de rua. A

esta cota existe um outro jardim que concentra um parque infantil e espaços de lazer, balizado pelo

limite Norte da construção e pelo anfiteatro a Sul, pontuado pela cúpula piramidal do espaço expositivo

do rés-do-chão. O estacionamento automóvel serve todo o piso.

© Jipsy – Halloween 1111 Lincoln Road

 

© Catherine Fox – evento expositivo

 

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O piso 2 organiza-se à cota 192,10 e tem acesso pedonal pelo passeio e acesso automóvel pela nova

ampliação. Neste piso encontram-se o restaurante - situado junto à entrada pedonal, o espaço

multiusos e um anfiteatro exterior, ambos exteriores cobertos, os quais são servidos por

estacionamento automóvel.

O piso 3 desenvolve-se à cota 196,80 e é dominado pelo Hostel “Penthouse” que remata, no ponto

mais elevado, a nova ampliação. A cobertura do volume da antiga fábrica é subdividida, interrompendo-

se a continuidade da atual laje, promovendo assim dois espaços: o de maior dimensão, a Norte, propõe

um jardim com vistas privilegiadas, percursos e áreas de lazer, apoiado por uma cafetaria – extensão

do restaurante no piso 2. De menor dimensão e situado a Sul, localiza-se o jardim privativo do Hostel

“Penthouse”, o qual tem um acesso independente através de uma caixa de escada e elevador,

permitindo aos seus utentes a utilização do parque de estacionamento do piso 2, bem como, de todo o

restante edifício.

O Hostel “Penthouse” permite um total de 14 hóspedes e organiza-se num esquema fluido e open-

space, com o volume das instalações sanitárias a dividir a área de convívio da área de repouso. Este

local goza de uma posição e vistas privilegiadas para o turismo.

A proposta para a requalificação da antiga Fábrica de Fiação e Tecidos de Algodão apresenta, como

conceito geral, uma intervenção baseada na transformação de um imóvel de carácter industrial

abandonado, numa estrutura recreativa informal e heterogénea.

O projeto propõe a manutenção do volume principal, expondo a sua ossatura, completado com

construção de um novo edifício, em rampa, e que culmina num espaço turístico de exceção.

Hostel – área de repouso - Autor desconhecido  Hostel – área de convívio - Autor desconhecido 

Projeto para a antiga Fábrica de Fiação e Tecidos de Algodão 

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1-4Concurso de ideias para a revitalização de um imóvel em Guimarães DESAFIOS URBANOS‘12

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2-4Concurso de ideias para a revitalização de um imóvel em Guimarães DESAFIOS URBANOS‘12

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3-4Concurso de ideias para a revitalização de um imóvel em Guimarães DESAFIOS URBANOS‘12

Rés-do-chão - demolição | construção 1º Andar - demolição | construção

2º Andar - demolição | construção 3º Andar - demolição | construção

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4-4Concurso de ideias para a revitalização de um imóvel em Guimarães DESAFIOS URBANOS‘12