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Faculdade Boa Viagem DeVry Brasil Centro de Pesquisa e Pós-Graduação em Administração CPPA Mestrado Profissional em Gestão Empresarial MPGE Maria de Fatima Silva MODA OU ARTE? O CASO DAS SANDÁLIAS JAILSON MARCOS À LUZ DA FILOSOFIA DE SCHOPENHAUER RECIFE 2015

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Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil

Centro de Pesquisa e Pós-Graduação em Administração – CPPA

Mestrado Profissional em Gestão Empresarial – MPGE

Maria de Fatima Silva

MODA OU ARTE?

O CASO DAS SANDÁLIAS JAILSON MARCOS À LUZ DA FILOSOFIA DE

SCHOPENHAUER

RECIFE

2015

Faculdade Boa Viagem – DeVry Brasil

CPPA – Centro de Pesquisa e Pós-graduação em Administração

MPGE - Mestrado Profissional em Gestão Empresarial

CLASSIFICAÇÃO DE ACESSO A DISSERTAÇÕES

Considerando a natureza das informações e compromissos assumidos com suas fontes, o acesso

à dissertação do Mestrado Profissional em Gestão Empresarial - MPGE do Centro de Pesquisa

e Pós-Graduação em Administração – CPPA – da Faculdade Boa Viagem é definido em três

graus:

Grau 1: livre (sem prejuízo das referências ordinárias em citações diretas e indiretas);

Grau 2: com vedação a cópias, no todo ou em parte, sendo, em consequência, restrita a

consulta em ambientes de bibliotecas com saída controlada;

Grau 3: apenas com autorização expressa do autor, por escrito, devendo, por isso, o texto,

se confiado a bibliotecas que assegurem a restrição, ser mantido em local sob chave ou

custódia;

A classificação desta dissertação se encontra, abaixo, definida por seu autor.

Solicita-se aos depositários e usuários sua fiel observância, afim de que se preservem as

condições éticas e operacionais da pesquisa científica na área de administração.

Título da Dissertação: “Moda ou arte? O caso das sandálias Jailson Marcos à luz da filosofia

de Schopenhauer”

Nome da autora: Maria de Fatima Silva

Data da Aprovação: 27 de novembro de 2015

Classificação conforme especificação acima:

Grau 1 ×

Grau 2 ×

Grau 3 ×

Recife, 25 de fevereiro de 2016

Assinatura da Autora

Maria de Fatima Silva

MODA OU ARTE?

O CASO DAS SANDÁLIAS JAILSON MARCOS À LUZ DA FILOSOFIA DE

SCHOPENHAUER

Dissertação apresentada como requisito

complementar para obtenção do grau de

Mestre em Gestão Empresarial do Centro

de Pesquisa e Pós-Graduação em

Administração – CPPA da Faculdade Boa

Viagem – DeVryBrasil, sob a orientação

do Prof. Dr. Rafael Lucian.

RECIFE

2015

Catalogação na fonte -

Biblioteca da Faculdade Boa Viagem | DeVry, Recife/PE

S586a Silva, Maria de Fatima.

Arte ou Moda? O caso das sandálias Jailson Marcos à luz da

filosofia de Schopenhauer / Maria de Fatima Silva. – Recife:

FBV | DeVry, 2015.

114 f. : il.

Orientador (a): Rafael Lucian

Dissertação (Mestrado) Gestão Empresarial -- Faculdade Boa

Viagem - DeVry.

Inclui anexo.

1. Arte. 2. Arte vestível. 3. Moda. 4. Consumo. 5.

Schopenhauer. I. Título. DISS 658[15.2]

Ficha catalográfica elaborada pelo setor de processamento técnico da Biblioteca da FBV | DeVry

''Todos nós temos a oportunidade de ver além do mundo

das aparências, olhando para dentro de nós mesmos''

Arthur Schopenhauer.

AGRADECIMENTOS

Agradeço,

Ao meu orientador professor Dr. Rafael Lucian (contaminado pelo design) pela paciência,

cobranças, estímulos e, especialmente, a confiança neste nosso projeto construído de forma

inteligente e criativa.

À FBV DeVry por me proporcionar esta oportunidade e aos professores do MPGE, em

especial, Haj e Dorinha.

À doce avaliadora externa Maria Alice Rocha pelo olhar encantador que trouxe a essa

dissertação.

Ao querido amigo professor Marcelo Machado Martins que, juntos, subimos os primeiros

degraus desta longa e emocionante escada.

Ao complô do bem das coordenadoras Lívia Valença, Marina Ramires, Daniela Vasconcelos,

Danielle Simões-Borghiani e à professora Hajnalka Gatique, que me estimularam e me

apoiaram nessa jornada.

À turma dez, que é 10! A troca de artigos nas madrugadas desses dois anos muita força

envolvida para chegarmos juntos ao final. Agradeço especialmente a Dani, minha parceira de

trabalhos e profissão, sem ela essa trajetória teria sido muito mais difícil.À Dante, Deusa,

Mauro, Raquel, Rosana e Vera, que fortaleceram nossos aperitivos didáticos, parceiros até os

últimos momentos. E a energia de Chris, Evandro e João Bosco que, por motivos diferentes,

não conseguiram terminar o sonho que começamos juntos.

Aos colegas de trabalho e aos amigos da vida que me estimularam e me apoiaram

enormemente nessa jornada,

Aos amigos professores Adailton Laporte, Bartos Bernardes, Cristina Huggins, José Carlos

Marçal, Kátia Lima e Robson Lustosa que, em momentos diferentes, contribuíram para o

desenvolvimento desta dissertação.

Aos amigos José Carlos Mélo e Vera Cabral que não mediram esforços para iluminar meu

caminho.

Aos queridos alunos pela torcida e paciência. Nos capacitamos para melhor capacitá-los.

À minha querida família, por entender minha ausência que se fez presente em quase todo

tempo do mestrado, pela força, incentivo, torcida e, principalmente, por acreditar demais em

mim.

À Jailson Marcos, pela confiança, dedicação e paciência. E por me permitir invadir seu

atelier, estudar seus pisantes e seus preciosos consumidores.

Enfim, seguindo o pensamento do filósofo Arthur Schopenhauer, existe um passado para cada

presente. Passado e presente agora juntos:

queridos Marcelo Machado Martins e Rafael Lucian, dedico este trabalho a vocês.

MUITO OBRIGADA!

RESUMO

O objetivo deste trabalho buscou realizar um estudo ns sandálias Jailson Marcos com o intuito

de compreender se são produtos de moda ou de arte. Para atingir o objetivo foi necessário

investigar o processo criativo do sapateiro para localizar sua percepção de arte, compreender

sua percepção de moda e descobrir como surgem suas ideias no momento da criação. Para

adentrar no tema foi estudado o consumo de produtos do vestuário e de moda movidos pelo

hedonismo, pelo encantamento, através das necessidades e desejos dos consumidores à luz da

filosofia de Schopenhauer em O Mundo como Vontade e Representação, assim como a

efemeridade da moda entendida através de teóricos contemporâneos. Sua natureza qualitativa

possibilitou a análise documental de falas do sapateiro Jailson Marcos em entrevistas

divulgadas na mídia. Através dos resultados fez-se necessário analisar o consumo sob a

perspectiva do Arts and Crafts que direcionou aos princípios da arte vestível, do wearable art.

Palavras-chave: Arte. Arte vestível. Consumo. Moda. Schopenhauer.

ABSTRACT

This work aimed to study the sandals Jailson Marcos Brand, in order to investigate and

understand if the products are characterized as fashion or can be considered an art. To achieve

the goal was required to know the Creative Process Shoemaker to realize what it means art in

the owner's design and Understanding his fashion Perception to understand how the insights

appear when he creates the products. To support the research was held a study on the

consumption of clothing and fashion products powered by hedonism and enchantment , as well

as through the needs and desires of the consumer based in Schopenhauer's philosophy in his

work "The World as Will and Representation"

As well as the fashion ephemerality understood through the Contemporary theorists. Its

qualitative nature enabled the documentary analysis of the speeches Shoemaker Jailson Marcos

in published interviews in the media. Through the results it was necessary to analyze the

consumption on Arts and Crafts perspective that directed the study to the Principles of wearable

art.

Keywords: Art. Wearable art. Fashion. Consumption. Schopenhauer.

LISTA DE FIGURAS

Figura 1- O fetiche do salto alto ............................................................................................................ 17

Figura 2 - Saltos de um universo imaginário e arquitetônico nos calçados Jailson Marcos ................. 18

Figura 3 - Página título da primeira edição do livro O Mundo como Vontade e Representação .......... 26

Figura 4 - Schopenhauer ....................................................................................................................... 27

Figura 5 - Recife aos olhos dos turistas ................................................................................................. 34

Figura 6 - Cor na moda | Cor fora de moda ........................................................................................... 36

Figura 7 - Modelo de justificativas e valores ....................................................................................... 40

Figura 8 - Categorias do prazer com produtos ...................................................................................... 41

Figura 9 - Le Bon Marché ..................................................................................................................... 46

Figura 10 - Funções dos produtos de acordo com Löbach e Norman ................................................... 49

Figura 11 - Primeiro sapato que se tem registro .................................................................................... 51

Figura 12 - Sapatos que participaram das Leis Suntuárias .................................................................... 52

Figura 13 - Sandálias Jailson Marcos .................................................................................................... 55

Figura 14 - Um ciclo normal de moda .................................................................................................. 56

Figura 15 - Comparação do Ciclo de Vida de Produtos de Moda ......................................................... 57

Figura 16 - Estilistas contemporâneos do Wearable Art - Alexander McQueen, Iris Van Herper ..... 60

Figura 17 - O Manto da Apresentaçao de Artur Bispo do Rosário ....................................................... 61

Figura 18 - Jailson Marcos na mídia ..................................................................................................... 61

Figura 19 - Divulgação espontânea por parte dos consumidores .......................................................... 62

Figura 20 - Ronaldo Fraga visita loja JM .............................................................................................. 63

Figura 21 - Walter Rodrigues palestra em Recife e encontra Jailson MarcosErro! Indicador não

definido.

Figura 22 - Bilhete de Carol Garcia a Jailson Marcos .......................................................................... 63

Figura 24 - Sandálias Jailson Marcos 2005 ........................................................................................... 64

Figura 25 - Sandálias Jailson Marcos 2015 ........................................................................................... 65

Figura 26 - Ofício de sapateiro .............................................................................................................. 66

Figura 27 - Jailson Marcos na Fenearte 2015........................................................................................ 67

Figura 28 - Esquema teórico ................................................................................................................. 67

Figura 29 - Etapas da pesquisa .............................................................................................................. 70

Figura 30 - Corpus pesquisado .............................................................................................................. 73

Figura 31 - Palmilha estendida JM e modelo pré-dinástico .................................................................. 83

Figura 32 - Resultado da Análise .......................................................................................................... 85

Figura 33 - Arquitetura moderna ........................................................................................................... 86

Figura 34 - As formas arquitetônicas .................................................................................................... 86

Figura 35 - Fonte de inspiração ............................................................................................................. 87

SUMÁRIO

RESUMO ............................................................................................................................................. 10

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 15

1.1 Contextualização da pesquisa .................................................................................................. 15

1.2 Problema de pesquisa.......................................................................................................... 18

1.3 Objetivos .............................................................................................................................. 19

1.3.1 Objetivo geral ................................................................................................................ 19

1.3.2 Objetivos específicos ..................................................................................................... 19

1.4 Justificativas ........................................................................................................................ 19

2 REFERENCIAL TEÓRICO ...................................................................................................... 22

2.1 A compreensão da arte por Schopenhauer ............................................................................. 22

2.1.1 A vida e obra de Schopenhauer ........................................................................................ 22

2.1.2 A metafísica do belo ........................................................................................................... 32

2.1.3 Consumo .............................................................................................................................. 37

2.1.4 Consumo como representação schopenhaueriana ........................................................... 37

2.1.5 Consumo hedônico ............................................................................................................. 38

2.1.6 Consumo por encantamento .............................................................................................. 40

2.1.7 Satisfação do consumidor .................................................................................................. 42

2.1.8 Marketing de experiências ................................................................................................. 43

2.2 A perspectiva da moda pelo design .......................................................................................... 44

2.2.1 Breve história do design ..................................................................................................... 44

2.2.2 Design de moda ................................................................................................................... 50

2.2.3 Design de moda aplicado aos calçados ............................................................................. 51

2.2.4. Consumo de moda ............................................................................................................. 55

2.3 Arte, moda e artesanato ............................................................................................................ 57

2.3.1 Arts and Crafts ................................................................................................................... 57

2.3.2 Artwear .............................................................................................................................. 58

2.3.3 Arte, moda e arquitetura ................................................................................................... 59

2.3.4 Wearable Art ...................................................................................................................... 59

2.4 Jailson Marcos ........................................................................................................................... 61

3 METODOLOGIA ............................................................................................................................ 69

3.1 Delineamento da pesquisa .................................................................................................. 70

3.2 Etapas da pesquisa .............................................................................................................. 70

3.3 Processo de coleta de dados ...................................................................................................... 70

3.3.1 Estudo de caso..................................................................................................................... 71

3.3.2 Pesquisa documental .......................................................................................................... 72

3.3.3 Análise de conteúdo ............................................................................................................ 75

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................................... 85

4.1 Limitações .................................................................................................................................. 88

4.2 Sugestões para pesquisas futuras ............................................................................................. 88

REFERÊNCIAS .................................................................................................................................. 89

APÊNDICE A ....................................................................................................................................... 95

15

1 INTRODUÇÃO

A metafísica da beleza, a percepção da arte no processo criativo e o consumo de efêmeros

produtos de moda que perpassam do hedonismo ao encantamento motivaram esta pesquisa de

mestrado. O consumo associado à arte, moda, design, estética e marketing, analisados à luz da

filosofia, direcionado à sua compreensão, de acordo com o pensamento do filósofo Arthur

Schopenhauer, assim como a linha de pensamento do contemporâneo Gilles Lipovestky.

A moda em sua constante renovação busca mudanças constantes em um ciclo de vida que tem

se encurtado a cada estação. Através das imagens, moda e arte constroem um caminho paralelo,

argumenta-se que, muitas vezes, caminham juntas, dialogam, se entrelaçam e, por vezes, são

confundidas. A arte se apoia nas referências individuais, sua criação baseia-se nos valores

estéticos com conteúdos intelectuais, enquanto que a moda se fundamenta nos conteúdos

funcionais. A moda é movida pela efemeridade, a arte por produtos de vida útil mais prolongada

(BONSIEPE, 2002; SVENDSEN, 2010; PIAZZA, 2015). Essa inquietação motivou a

construção da pergunta da pesquisa, conduziu a contextualização, os objetivos geral e

específicos, bem como as justificativas para a realização desta pesquisa, presentes neste

capítulo.

1.1 Contextualização da pesquisa

Durante séculos a vida coletiva se desenvolveu sem o culto às fantasias e às novidades, sem a

instabilidade e a temporalidade efêmera da moda que, nesse contexto, certamente não quer dizer

sem mudança nem curiosidade ou gosto pela realidade exterior (LIPOVETSKY, 2005).

O crescimento da população aliado à crescente produção de bens tem, ao longo do tempo,

ativado novas necessidades e despertado o desejo de consumo através de um ciclo vicioso. Na

sociedade contemporânea é possível observar que quanto mais se consome, mais se quer

consumir: a época da abundância é inseparável das satisfações desejadas e de uma capacidade

de eliminar apetites de consumo, sendo toda saturação de uma necessidade acompanhada,

imediatamente, por novas procuras (LIPOVETSKY, 2005). Nessa premissa, o desejo é

demorado, suas exigências tendem para o infinito; a satisfação é curta, parcimoniosa e medida.

Após o desejo ser satisfeito cederá lugar em breve a um novo desejo, em um ciclo que se repete,

para cada desejo satisfeito, dez pelo menos são contrariados (SCHOPENHAUER, 2001).

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A satisfação das necessidades está, então, atrelada às histórias individuais, às experiências de

aprendizagem e ao ambiente cultural do indivíduo consumidor. Nessa perspectiva, todo querer

precede uma necessidade que relaciona-se com o desejo rumo à privação e ao sofrimento que

só terá fim através da satisfação desses (SCHOPENHAUER, 2001).

Duas formas de consumo são, então, definidas por Hirschman e Holbrook (1982). Além da

satisfação das necessidades básicas através do consumo utilitário, o consumidor busca

experiências multissensoriais, relacionadas ao prazer, ao hedonismo. O consumo hedônico

possibilita a vivência de experiências prazerosas na aquisição ou uso de bens ou serviços. Elas

são experiências multissensoriais, prazerosas e emotivas que acontecem na interação do

consumidor com o consumo, na satisfação do desejo que tem origem através das necessidades.

O design, por sua vez, tal qual grande parte das ciências contemporâneas, se utiliza de

referências filosóficas para se conceituar originalmente e para desenvolver metodologias de

criação. Apesar disso, percebe-se que, pragmaticamente, há pouca investigação que relaciona

o mix de marketing com a arte, a essência da estética, conceitos de design e estudos de consumo

de produtos de moda.

A moda reflete a maneira como as pessoas vivem, os estilos de vida, conta a história do

consumidor, tem o poder de resgatar memórias e estimular o consumo e o desejo. Para Frings

(2012), a mudança da moda acontece não apenas através do estímulo ao consumo, muda porque

as pessoas estão em constante mudanças; porque reflete os estilos de vida e eventos atuais e,

especialmente, porque as pessoas cansam dos produtos que têm. Em alguns segmentos da moda

esse é um fato recorrente, tanto na produção de peças do vestuário quanto no segmento de

acessórios como bolsas, cintos, bijuterias e sapatos.

Anualmente, mais de dezenove bilhões de pares de calçados são produzidos no mundo

(SANTIAGO; MIRANDA, 2014), desde os funcionais aos que seguem tendências de moda e

são descartados com maior velocidade. O sapato, entre os vários itens do mercado da moda, é

considerado um dos grandes objetos de desejo. Sonhos, vontades e sensações são despertadas

e estimuladas. Em algumas situações, esse produto do vestuário, assim como outros, também

pode despertar lembranças e resgatar memórias agradáveis que impulsionam o consumo. O

fetiche dos calçados estimula o consumo e é comumente apresentado através dos saltos altos,

que também remetem à elegância, poder e sensualidade, refletindo-os além do estilo, gosto

17

individual e status social (SEFERIN, 2012), como se pode observar na publicidade do sapato

na figura a seguir (Fig. 1).

Figura 1- O fetiche do salto alto

Fonte: Santa Lolla, 2015

No antigo teatro grego os atores utilizam saltos para representar sua hierarquia na peça, quanto

mais alto mais importante seu papel. O salto começou a ser utilizado moderadamente no final

do século XVI (LAVER, 2011). Os saltos derivam dos chapins do século XVI, plataformas

utilizadas pelas cortesãs venezianas para elevá-las do chão e se distanciarem da sujeira nas ruas

(CHOKLAT, 2012), funcionando como uma necessidade básica.

As empresas de calçados utilizam-se das pesquisas de tendências, dos bureaux especializados,

antecedendo ao processo criativo, porém, além destes dados, as referências culturais locais vêm

agregando novos valores, transformando-os em produtos diferenciados e desejados. Isso pelo

fato do mercado de calçados, entre os produtos de moda, ser o que mais seduz.

Pernambuco não é considerado um foco calçadista, ainda é muito tímida a abordagem deste

assunto nos cursos de design de moda. Mesmo assim, já é possível observar o surgimento de

algumas marcas de calçados que oferecem produtos a consumidores locais e nacionais, como

os exemplos de Jailson Marcos, Gabi Fonseca, Adriana Ribeiro, Fernando Viana, Vitalina, entre

outros.

Jailson Marcos, em seu processo criativo na produção de calçados, aparentemente, faz um

resgate de referências da cultura regional através das alpargatas dos boiadeiros, nos traços

cosmopolitas do entorno de uma grande cidade, nos volumes desconstruídos e reconstruídos,

nas assimetrias das formas inusitadas que rompem com a tradição, a ousadia das sobreposições

e os entrelaces curiosos e inovadores. Nessa linha criativa, os saltos passeiam por um universo

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imaginário e fantasioso, que desafia o equilíbrio e a gravidade, repensando uma tradição aliada

à uma modernidade futurística. A ousadia na inovação das formas para a construção da sua

identidade estética-artística é visível no trabalho do sapateiro, vide exemplo (Fig. 2).

Figura 2 - Saltos de um universo imaginário e arquitetônico nos calçados Jailson Marcos

Fonte: Fanpage Jailson Marcos, 2015

1.2 Problema de pesquisa

Para Solomon (2002) o consumo sobrevive da satisfação de uma necessidade, dando forma ao

desejo. Satisfação é a sensação de realizar uma necessidade ou desejo, a expectativa positiva

gerada como resultado da experiência de consumo (MANNETTI et al, 2014) sejam essas

necessidades básicas ou prazerosas.

Sob a ótica de Schopenhauer, são as necessidades que, ao serem transformadas em desejos

satisfeitos, alimentam o consumo hedônico e, trazendo-as para a atualidade, essas necessidades

em si não são criadas pelo marketing, surgem antes, quando o marketing associado a outros

fatores influenciam os desejos (SOLOMON, 2002).

Lipovetsky (2004), complementarmente, traz a reflexão de que o consumo hedônico

corresponde a produtos e serviços que se relacionam aos cinco sentidos. A lógica da efetivação

da compra passa pela busca de um bem-estar subjetivo, é desinstitucionalizada e intimizada, é

um ato individualizado, representando um cenário ideal para os consumidores.

Dentre as necessidades humanas, o homem precisa de calçados para proteger seus pés contra o

frio, calor ou a aridez do solo; no entanto, não se faz necessário um modelo ou marca

específicos: o desejo é que direciona à escolha.

A moda sobrevive da efervescência do tempo, da velocidade de renovação de produtos que,

hoje adorados, amanhã são esquecidos, enquanto que a arte pode perdurar por muito tempo, às

vezes, com duração infinita.

19

Com o desejo de entender como acontece o processo criativo e a percepção do criador no que

se refere à moda e à arte presente em produtos do vestuário, será trabalhado nesta dissertação

de mestrado o seguinte problema de pesquisa:

À luz da filosofia de Schopenhauer, as sandálias Jailson Marcos são produtos de moda ou de

arte?

1.3 Objetivos

1.3.1 Objetivo geral

Compreender se as sandálias Jailson Marcos são produtos de moda ou de arte.

Para atingir tal meta, é necessário determinar etapas intermediárias que ajudem o pesquisador

a conduzir sua investigação. Sendo assim, o próximo subtópico apresenta os objetivos

específicos.

1.3.2 Objetivos específicos

Objetivo específico 1: investigar a percepção de arte no processo criativo de Jailson Marcos;

Objetivo específico 2: compreender a percepção de moda no processo criativo de Jailson

Marcos;

Objetivo específico 3: descobrir como surgem as ideias no processo criativo de Jailson Marcos.

1.4 Justificativas

Através das justificativas apresentam-se as lacunas teóricas, que ajudaram a mostrar porque se

justifica pesquisar o tema e como uma dissertação de mestrado vai crescer em trabalho como

ciência. As justificativas fortalecem os argumentos para realização desta pesquisa.

Esta pesquisa traz à tona conceitos consagrados pela literatura de marketing, mas que ainda não

foram confrontados à luz da filosofia de Schopenhauer. É uma abordagem inovadora para

investigações sobre moda e arte, com recortes sobre consumo hedônico e encantamento em

produtos do vestuário e, obviamente, se trata de um tema pouco estudado e pouco relacionado.

A escolha da filosofia de Schopenhauer como luz das análises se deu, primordialmente, por

seus textos possuírem forte alinhamento com a atual e mais forte corrente de estudos em Design

representada por Lipovesky, como será aprofundado no referencial teórico. O design possibilita

20

o consumo a partir do momento que oferece produtos com símbolos e significados dentro do

sistema de circulação e socialização do consumo dos mesmos (FAGGIANI, 2006). Sendo o

marketing de moda uma disciplina completamente independente do design, essa pesquisa ganha

sentido e se torna oportuna pela inovação teórica proposta.

Adentrando às passagens da obra de Shopenhauer que embasam tal triangulação está a

passagem que assume que, enquanto a nossa consciência está preenchida pela Vontade1, as

pessoas são subjugadas pelo impulso do desejo, pelas esperanças e pelos temores contínuos que

ele faz nascer, ou seja, enquanto os consumidores forem súditos do querer não existirá nem

felicidade duradoura, nem tampouco repouso (SCHOPENHAUER, 2001). Dessa forma, a

estética como princípio da individualização assume papel central na luta entre os seres, seus

desejos e felicidades.

A existência da sociedade hedonista foi sugerida como resultado da união das ações de

marketing, da sociedade de consumo e da vida. Os valores hedônicos prevalecem e são guiados

tanto pelo crescente consumo quanto pelo hábito desenvolvido na sociedade, o de acúmulo de

bens (ALBUQUERQUE et al, 2010). Como os produtos têm o seu valor hedônico e/ou utilitário

intrínsecos, os consumidores também desenvolvem diferentes níveis de valor de compra

hedônico e/ou utilitário.

Enquanto que, para Braudillard (2003), as necessidades visam mais os valores que os objetos,

e sua satisfação possui, em primeiro lugar, o sentido de uma adesão a tais valores. A escolha

fundamental, inconsciente e automática do consumidor é aceitar o estilo de vida de determinada

sociedade particular. Portanto, deixa de ser escolha e, dessa forma, acaba igualmente por ser

desmentida a teoria da autonomia e da soberania do consumidor.

O processo de design se pauta nos processos, nos produtos e no consumidor, através do

fetichismo ou simbolismo dos objetos que tem foco em como os processos criativos e

metodológicos refletem nos produtos e nos significados dos mesmos, agregando-lhes valores

simbólicos. Simbolismo esse obtido através das experiências vividas, das sensações e dos

aspectos de uso, além dos valores pessoais e da experiência cotidiana de cada possível

consumidor que percebe o produto de uma forma diferente de outros. O design atua com a

1Vontade e Representação são iniciados em letras maiúsculas pois são considerados substantivos, são entidades da

filosofia schopenhaueriana.

21

perspectiva de representar de uma forma coletiva ao mesmo tempo que o usuário a percebe

individualizada (CARDOSO, 2008; LÖBACH, 2001).

22

2 REFERENCIAL TEÓRICO

Nesse capítulo será abordada a compreensão de Schopenhauer. O consumo da sociedade atual

é explicado através do pensamento do filósofo em uma obra escrita no período em que surgiram

as primeiras lojas de departamento na Europa, quando a palavra consumo não fazia parte do

vocabulário cotidiano. A evolução e importância do design, aliado aos estudos de

comportamento do consumidor vem, ao longo do tempo, ganhando espaço, gerando símbolos,

produzindo novos significados aos produtos, promovendo o prazer da contemplação e do

encantamento, assim como a percepção da estética e da arte no complexo mundo de

experiências emocionais.

2.1 A compreensão da arte por Schopenhauer

O objetivo desta seção é adentrar a filosofia de Shopenhauer em busca de respaldo teórico que

oriente a construção dessa dissertação. Tal esforço é importante pois trará ao debate o

pensamento filosófico original e seu desdobramento contemporâneo, fazendo conexões entre

arte, design, consumo e produtos de moda. Além da possibilidade de permitir a reflexão sobre

como o consumo é estimulado através da satisfação das necessidades que são criadas, recriadas

e renovadas. Passados duzentos anos da publicação dessa obra magna, essa dissertação se

propõe a analisar produtos de moda contemporâneos, sob sua ótica filosófica.

2.1.1 A vida e obra de Schopenhauer

Antes de compreender sua filosofia, é necessário visitar o contexto ao qual ela foi escrita. A

história de Arthur Schopenhauer tem início no ano de 1788, na cidade livre de Dantzig, Gdansk

na atual Polônia, em período anterior à Alemanha ser constituída como país. Teve uma vida

confortável, entre várias viagens com a família, viveu no conforto burguês, recebeu e exigiu

pouco amor na infância. Seu pai, um comerciante aristocrático, a mãe de beleza exuberante e

carreira artística frustrada (STRATHERN, 1998).

Arthur passou a maior parte da sua vida em Frankfurt, no entanto, durante a infância, passou

por várias mudanças. Com apenas cinco anos, a família mudou-se para Hamburgo, fugindo do

domínio prussiano e, aos 10 anos, foi enviado à Paris para estudar francês durante dois anos.

Na adolescência, aos 15 anos, em uma viagem em família realizada pela Europa, Schopenhauer

se encantou com Piccadilly e os teatros de Londres. Contrariando aos seus anseios pessoais por

uma vida literária, foi forçado a uma imersão, que durou meses, para estudar inglês em

Wimbledon, em uma escola muito rígida, que incluía maus-tratos diários aos alunos, que eram

23

frequentemente chicoteados e, para despertar, eram jogados na piscina antes do café da manhã,

além de fazê-los digerir a “cozinha inglesa” e do tempo dedicado aos serviços religiosos,

enquanto seus pais continuavam a viagem pela Escócia. Ainda nesta trajetória de formação

acadêmica, a escola o preparou para alguns passeios turísticos. Schopenhauer esteve por dois

meses em Bordeaux, na mesma casa em que o poeta lírico e romancista alemão Hölderlin (1770-

1843) foi acometido por um acesso de loucura.Também esteve no local onde 6 mil escravos

foram aprisionados e acorrentados em inimagináveis condições de falta de higiene, em Toulon

(STRATHERN, 1998; SCHOPENHAUER, 2013). A percepção da miséria, as guerras, os

mendigos mutilados e “expostos” nas ruas, durante as viagens com a família, contribuíram para

potencializar a oscilação do seu comportamento depressivo, agravado pelo histórico familiar

melancólico e instabilidade mental (STRATHERN, 1998).

Durante a vida, para acompanhar os pais nas longas viagens, foi-lhe imposto que recebesse

aulas de negócios. Contra sua vontade, apesar de já demonstrar aptidão intelectual, continuou

sendo preparado pelo pai para ser um homem de negócios, resultando em ter que trocar,

temporariamente, os estudos para trabalhar em um estabelecimento comercial em Hamburgo,

local onde viveu. Por seus anseios em desempenhar um papel próprio no mundo cultural, viveu

momentos de muita angústia pessoal (STRATHERN, 1998; SHOPENHAUER, 2013).

Com o suicídio do pai em 1805, a família mudou-se para Weimar, no entanto, Schopenhauer

continuou na cidade com as aulas e os negócios da família. Dois anos depois, contrariando os

sonhos do patriarca, reuniu forças e mudou-se para Gotha, com o objetivo de se preparar para

a universidade e iniciar os estudos clássicos. Com idade mais avançada que os outros alunos,

foi expulso da escola por escrever um poema de mau gosto sobre um professor alcoolizado. Em

consequência, foi morar com a mãe, com quem teve muitos problemas durante toda a vida, por

se chocar com seu comportamento, não aceitando seus relacionamentos amorosos e pelo ciúme

do sucesso da mesma, que havia se tornado estrela dos salões literários (STRATHERN, 1998;

SCHOPENHAUER, 2013).

Após quatro anos de ranhuras no relacionamento entre mãe e filho, para alívio de todos, mudou-

se para Göttingen, em 1809, matriculando-se na escola de medicina. Ao mesmo tempo,

começou a seguir sua trajetória intelectual, frequentando aulas de filosofia, quando tem os

primeiros contatos com a obra de Platão e Kant, que tiveram forte influência na construção da

base filosófica do seu pensamento (STRATHERN, 1998; SCHOPENHAUER, 2013).

24

Desde a infância, foi estimulado pelos pais a fazer relatos diários sobre as viagens que fazia,

enchendo cadernos de anotações, uma prática que o acompanhou ao longo da sua vida. Na

escola de filosofia, seus cadernos revelam o espírito crítico em relação às obras dos mestres.

Entre os grandes filósofos, Schopenhauer se destacou pela forma refinada, elegante e requintada

de falar, sendo, dessa forma, considerado um dos maiores filósofos e estilistas2 da literatura,

logo após Platão (STRATHERN, 1998).

Durante sua vida profissional, foi uma figura difícil, pessimista, com uma filosofia atraente,

cativante e forte, uma carga de emoção da sua personalidade agressiva e egoísta, possessivo e

ciumento. Mesmo tendo como base o idealismo alemão, sua filosofia contemporânea e seu

pensamento não se encaixavam em nenhum dos sistemas da sua época. Seu pensamento

filosófico recebe influência de Kant, Platão, Buda, Goethe e Hegel, assim como da filosofia

hindu, que lhe forneceu justificativa intelectual para toda sua visão pessimista (STRATHERN,

1998).

O filósofo, frequentemente, demonstrava que não gostava da vida, considerando-a uma piada

de mau gosto e, movido por essa visão, desprezava os que tinham um ponto de vista otimista

(STRATHERN, 1998; SHOPENHAUER, 2013). O pessimismo lhe era, aparentemente,

revigorante, no entanto, o filósofo o adotara por declarar que “o mundo é indiferente ao nosso

destino, não é de propósito que ele nos frustra” (STRATHERN, 1998).

Com a mudança para Weimar, teve a oportunidade de conhecer Goethe, um famoso poeta,

romancista e dramaturgo alemão, um gênio amadurecido (STRATHERN, 1998; FRASER,

2012), que lhe transmitiu conhecimentos artísticos e recebeu influências de Schopenhauer para

sua obra ‘A teoria das cores’. No princípio deste estudo, publicado em 1810, Goethe discordou

fortemente da teoria de Newton sobre luz e cor, estudando a física da luz, na qual sua oposição

é de ordem filosófica e prática. Na tentativa de minimizar as discordâncias sobre o uso da cor

na arte, recorreu a uma linguagem pessoal para expor suas ideias, fazendo alusão aos ‘efeitos

sensuais e morais’, à ‘privação’ e ao ‘poder’, além de relacionar as cores aos estados

emocionais, pois observava a cor a partir da percepção individual, até hoje utilizado na

psicologia das cores e de grande relevância para o design (FRASER, 2012).

2 Diz-se do, ou o escritor notável por causa do apuro de estilo, do burilamento da linguagem, que tem um estilo

apurado. Fonte: www.significados.com.br.

25

Concomitantemente, descobriu a filosofia hindu que forneceu justificativa intelectual para sua

filosofia pessimista, que permaneceu atual até o fim de sua vida (STRATHERN, 1998). A

ilusão do que se pode ver através dos conceitos pré-existentes, como é possível observar na

citação a seguir, e perceber que a visão das coisas acontece de acordo com o repertório

individual de cada um. Repertório esse que vai se modificando através do tempo, tais como o

conhecimento que potencializa a percepção das coisas, através da Representação, quando

analisada pelo ponto de vista do sujeito e não apenas como objeto, visto que relaciona a

sensibilidade, o entendimento e o conhecimento,

E Maya é o véu da ilusão que, ao cobrir os olhos dos mortais, lhes faz ver um mundo

que não se pode dizer se existe ou não existe, um mundo que se assemelha a um sonho,

à radiação do sol sobre a areia, onde, de longe, o viajante acredita ver uma toalha de

água, ou ainda a uma corda atirada por terra, que ele toma por uma serpente

(SCHOPENHAUER, 2001, p.14).

A teia de Maya, que se assemelha a um sonho, e que também remete ao Mito da Caverna de

Platão, ao dizer que enquanto o sujeito se limita à percepção sensível assemelha-se a homens

sentados acorrentados lado a lado sem poder mover a cabeça para os lados em uma caverna

escura, limitando-se a visualizar as sombras formadas pela claridade de uma fogueira externa,

sombras essas que se movem e podem adquirir formatos surreais. No entanto, ao sair da caverna

e conhecer as imagens reais, adquire o conhecimento e, mesmo ao voltar a caverna, já não mais

conseguirá ver aquelas sombras (SCHOPENHAUER, 2001).

Schopenhauer doutorou-se na Universidade de Berlim, recolheu-se em Rudolstadt para redigir

sua tese intitulada‘Sobre a raiz quadrupla do princípio de razão suficiente’, que consiste na

exploração kantiana dos tipos de causa e efeito; defendendo-a aos 25 anos (STRATHERN,

1998; SCHOPENHAUER, 2013).

Conhecedor da literatura, admirador e com ideias bem definidas sobre as artes, freqüentador de

teatro, concertos e galerias, Schopenhauer escreveu muito sobre diversas manifestações

artísticas, (como bom observador durante todas as viagens que realizou) entre todas,

considerando a música a mais elevada (BARBOSA, 1997; STRATHERN, 1998). Para o

filósofo, a música é de tamanha grandeza que se localiza acima de todas as artes, vai além das

imagens e das ideias, “fala diretamente a imagem da coisa-em-si” (BARBOSA, 1997, p.74). O

jovem músico Wagner foi contaminado com seu pessimismo, descobrindo-o antes da fama seu

espírito jovem misturado ao niilismo anárquico próprio que, durante anos, buscou inspiração

artística através das leituras de Schopenhauer, que também influenciou filósofos posteriores

como Nietzsche, Freud e Ludwing Wittgenstein (STRATHERN, 1998).

26

Lecionou na Universidade de Berlim, contemporâneo de Hegel, o mais famoso filósofo alemão,

cuja linha de pensamento era considerada exagerada, passando do sublime ao ridículo, fato que

Schopenhauer considerava monstruoso, tratando-o com desprezo. Desta forma, tornou-se seu

rival na disputa de títulos da filosofia alemã e decidiu marcar suas aulas para o mesmo horário.

No entanto, enquanto que as aulas de Hegel eram lotadas, para sua decepção, suas aulas eram

solipsistas (vazias), fato que, além de decepcioná-lo, fortaleceu seu desafeto pela filosofia

acadêmica (STRATHERN, 1998; SCHOPENHAUER, 2013). Como resultado positivo desse

fato, o texto sobre Metafísica do Belo é parte de um conjunto de preleções de aulas de Estética

lidas em 1820, dois anos depois da sua obra O Mundo como Vontade e Representação

(BARBOSA, 2001).

Essa obra prima, idealizada e escrita durante muitos anos, apesar de ter sido concebida ainda

na adolescência, quando o filósofo tinha 15 anos, sua redação tarda um pouco, tendo iniciado

11 anos depois (BARBOSA, 1997), concluindo-a no ano seguinte, em 1815 (STRATHERN,

1998). Tamanha era a confiança no sucesso do seu trabalho que, na primeira tentativa de

publicação, enviou ao editor uma nota pessoal que acompanhava o original, com o seguinte

texto: “este livro será a fonte e a motivação de uma centena de outros livros”. Para sua tristeza,

após uma espera que durou 16 anos, recebeu um comunicado dos editores de que quase toda

sua obra havia sido rasgada, pois foi considerada malsucedida (STRATHERN, 1998;

SCHOPENHAUER, 2013).

Figura 3 - Página título da primeira edição do livro O Mundo como Vontade e Representação

Fonte: Schopenhauer Die Welt als Wille und Vorstellung, 1819

Esta obra filosófica, composta por quatro livros foi, finalmente, publicada em 1819 (Fig. 3),

nos quais filosofa sobre diversos temas como a teoria do conhecimento, a filosofia da natureza,

a metafísica do belo e a ética, entre outros.

27

Impaciente, não conseguia entender o porquê de não fazer sucesso, nem o porquê do silêncio

de tantos anos. Em síntese, jamais conseguiu entender o que havia de errado consigo, apesar de

afirmar constantemente que compreendia o mundo e seus erros.

Finalmente, após 35 longos anos de espera, a fama merecida da sua obra-prima O Mundo como

Vontade e Representação finalmente chega, deixando-o muito feliz. O sucesso, para

Schopenhauer, sempre demorou a chegar, com o livro Parerga et paralipomena chegou em

1853, de forma inesperada e também tardia (STRATHERN, 1998). Depois da convivência com

tantos insucessos, e por sua excentricidade, Schopenhauer manteve a desenvoltura agressiva e

o ar de superioridade perante todos; sua arrogância não o permitia demonstrar a felicidade e a

satisfação com o sucesso, chegando a pedir as referências das publicações em jornais às pessoas

com quem ainda tinha contato, para ler no dia seguinte.

Sofreu pela contradição de caráter presente em toda vida, vivendo os últimos 30 anos em

Frankfurt. Sua vida chegou ao fim aos 72 anos, em 1860, na cidade de Frankfurt, onde havia

vivido seus últimos anos.

Figura 4 - Schopenhauer

Fonte: Jules Lunteschütz (1822–1893)

A contribuição de Schopenhauer (retratado na Figura 4) para a filosofia e para a construção do

pensamento ocidental é indiscutível, entretanto, ao longo dos anos, sua contribuição tornou-se

distante da pragmática empresarial. Ao escrutinar tal filosofia, esta dissertação contribui com o

resgate da compreensão shoupenhauerniana que, de forma precisa, pode ser de grande valia

para a compreensão de problemas contemporâneos, entretanto, é necessário, previamente,

28

apresentar seu pensamento e sua forma de compreender o mundo. “O apelo de Schopenhauer

ao temperamento criativo continua até hoje inspirando quase tantas respostas quanto criadores”

(STRATHERN, 1998, p.42).

Entre as várias obras que deixou, a mais importante foi O Mundo como Vontade e

Representação. Shopenhauer passou anos para concluir sua gigantesca obra-prima com mil

páginas, o que demostra o zelo que teve pela obra e sua incapacidade de dar-se por satisfeito,

sempre buscando melhorias no texto (SCHOPENHAUER, 2001; STRATHERN, 1998).

Schopenhauer classifica a Vontade como a objetivação mais imediata do mundo, um sentimento

mais íntimo do corpo, que provoca dor, que provoca o querer que precede uma necessidade. “A

Vontade só existe no entendimento, in abstracto. É apenas pela reflexão que existe, uma

diferença entre querer e fazer: com efeito é a mesma coisa [...] ela designa-se dor quando vai

contra a vontade, pelo contrário, chama-se bem-estar ou prazer” (SCHOPENHAUER, 2001,

p.110).

Nessa obra, o autor mostrou sua compreensão sobre um mundo sensível nos seus múltiplos

aspectos e abundância, como resultado da contínua e renovada Vontade, em que defendeu o

temporário e ilusório, a satisfação das necessidades e a realização dos desejos individuais. O

prazer em realizá-las dando lugar a outros desejos, fazendo surgir novas necessidades. O prazer,

para o filósofo, é visto como um momento negativo que pode ser suspenso quando da sua

realização e logo volta a ser negativo, ganhando um outro formato (SCHOPENHAUER, 2013).

As teorias contemporâneas de consumo reafirmam o pensamento de Schopenhauer, assim como

as teorias do Marketing Estratégico, que afirmam que os desejos são estimulados, criados e

recriados, transformando-se em necessidades. Na atualidade, o marketing e os estudos sobre

comportamento do consumidor trabalham na perspectiva de antever, estimular, criar e recriar

necessidades, algumas até então desconhecidas por consumidores.

Pelo fato do ser humano tentar viver o presente, passado e futuro ao mesmo tempo, desenvolve

uma habilidade de predizer algumas necessidades ainda inexistentes. Em particular, utiliza-se

de muitos artifícios para se transportar a um tempo que já não exista ou que talvez possa não

vir a existir. Consequentemente, fortalece o poder e a capacidade de sofrer, de forma que os

tempos se confundem, o futuro pode ser previsto e o passado permanece infinitamente presente

(SCHOPENHAUER, 2001).

29

Ao aprofundar os estudos filosóficos, percebe-se que existe um passado para cada presente. Os

humanos acreditam dominar a vida livremente, transitando entre passado, futuro e presente ao

mesmo tempo, ou seja, o controle total de um período de tempo, o império ilimitado do possível.

O passado depende do presente para sua existência, fazendo-se necessário que, no presente, o

tempo que o sucede, seja pensado, seja resgatado. A relação humana entre passado, presente e

futuro é um tema bastante amplo, com uma grande motivação a ser analisada

(SCHOPENHAUER, 2001).

No campo da moda, passado, presente e futuro fazem uma interação produtiva. É o passado que

só existe condicionado ao presente. Seguindo essa linha de pensamento, “nada de moda sem tal

revolução da relação com o devir histórico e o efêmero” (LIPOVETSKY, 2005, p. 69). De

acordo com esse autor, para o sistema da moda existir, foi necessário que o moderno fosse

aceito e desejado, assim como que o presente fosse considerado mais importante que o passado,

em oposição ao pensamento de Schopenhauer, que traz a importância do passado sempre

presente no tempo presente, ou seja, passado e futuro neste infinito presente. Por conseguinte,

a sociedade não vive sempre no presente, pois busca referências no passado, observando o

presente para construir o futuro, o que estar por vir, efetivamente uma das características da

hipermodernidade, a crono-reflexividade (LIPOVETSKY, 2004).

Daí se tem a importância dessa obra, ainda atual, tanto para estudos na área de design como na

área de estudos sobre consumo e comportamento do consumidor. Os fundamentos seguem

atualizados. Percebe-se que as esperanças e pretensões dão origem e alimentam os desejos. A

Vontade dá a chave da própria existência fenomenal do indivíduo e seu significado, mostrando

a força interior que produz o seu ser, suas ações e seu movimento.

Para Schopenhauer, Representação é a objetividade da Vontade, quando esta se torna objeto.

Na verdade, localiza-se na nítida fronteira que separa o objeto do sujeito, na demarcação de

quando começa um e quando termina o outro. Pela ótica da filosofia de Schopenhauer, o

primeiro ponto de vista é que o mundo existe apenas como Representação. Para ele, o mundo

existe enquanto Vontade, a vontade dá a chave da própria existência fenomenal do indivíduo e

seu significado e mostra a força interior que produz o seu ser, as suas ações, o seu movimento

(STRATHERN, 1998), como se pode observar:

A Vontade é cega, perpassa todas as coisas e é sempre destituída de objetivo [....] é

isso que provoca toda miséria e sofrimento do mundo, que só termina com a morte.

Nossa única esperança é nos libertarmos do poder dessa Vontade e da carga de

individualidade e egoísmo atada a ela. Isso só pode ser obtido pela renúncia expressa

na compaixão por nossos irmãos sofredores, pela abnegação da vontade tal como

30

praticada pelos santos e eremitas de todas as raças e credos, e pela apreciação estética

das obras de arte (que inclui a contemplação sem vontade) (STRATHERN, 1998,

p.25).

Dessa forma, a Vontade é a essência de todas as coisas e de toda força da Natureza ou de todo

conhecimento, até então desconhecido. Para Schopenhauer, esse conceito de Vontade não tem

origem em um fenômeno, origina-se na consciência individual que a reconhece, embora não

possua uma forma definitiva (SCHOPENHAUER, 2001). Para a sua efetivação, o processo tem

início no momento que a Vontade passa pelos mecanismos do cérebro e se transforma em

entendimento. Logo, ganha forma como Representação para estimular a Vontade e é a

objetivação da Vontade que a torna objeto.

Diante dessa perspectiva, pode-se dizer que a Vontade é a chave da própria existência, a

essência determinante de todas as coisas do mundo e da natureza, o princípio da

individualização. A Vontade, nesta perspectiva, é o elemento que dá sentido às coisas através

da união entre corpo e sentimento, a essência da metafísica e o enigma da vida, um querer

individual que não cessa, que se renova.

É a Vontade que move a inconsciência. Efetivamente,

Enquanto nossa consciência está preenchida pela nossa Vontade, enquanto somos

subjugados pelo impulso do desejo, esperanças e pelos temores contínuos que ela faz

nascer, enquanto somos súditos do querer, não existe para nós nem felicidade

duradoura, nem repouso (SCHOPENHAUER, 2001, p.206).

Para Schopenhauer, a Vontade produz o sofrimento, a dor. O desejo é alimentado pelas

esperanças e pretensões, pois, tem origem nas necessidades e na Vontade. Vontade que é

renovada através da realização de um desejo que, após satisfeito, dá origem a outro desejo,

fazendo surgir uma outra necessidade em um ciclo interminável de sonhos e anseios. É a

Vontade que produz o sofrimento.

Didaticamente, no esforço de fazer-se claro aos leitores, Schoupenhauer, metaforicamente,

compara a Vontade como calor e a Representação com a luz, ou seja, é “a Vontade que dá a

chave (do enigma) da própria existência fenomenal do indivíduo e seu significado e mostra a

força interior que produz o seu ser, as suas ações, o seu movimento” (SCHOPENHAUER, 2001,

p.109-110).

Trazendo a filosofia em análise, ao objeto de interesse desta dissertação, pode-se dizer que o

consumo de produtos de moda, que é um fenômeno contemporâneo, teve seu início em um

período anterior à Revolução Industrial. No entanto, nos dias atuais, é possível observar que

31

houve, comparativamente, um aumento do desejo e uma necessidade latente e crescente, cada

vez mais presente na sociedade, que agora vive a chamada era do hiperconsumo

(LIPOVETSKY, 2005). São as diferenças individuais que atuam de forma coletivizada, através

dos vários sentimentos, os valores, os desejos e as necessidades de cada um se interligam aos

outros com poder de produzir o surgimento de um novo fenômeno da Vontade.

Contextualizando o pensamento de Schopenhauer, a metafísica acredita em Vontade como o

mecanismo da felicidade, baseia-se nos pensamentos da arte, especialmente a música, para o

filósofo considerada a mais maravilhosa entre todas. Fazendo-se uma analogia com a passagem

de um desejo à sua realização, seguido de outro desejo em um ciclo capaz de tornar o homem

feliz, comparando ao andamento de uma música, cuja melodia harmônica e seus movimentos

dissonantes, por vezes dolorosos e tristes, seguidos por compassos com movimentos rápidos,

alegres, em allegreto, o alegro majestoso. Em uma sinfonia, vários movimentos contam a

história, emocionam, entristecem, trazem felicidade e satisfação.

Para Lipovetsky (2005), a expansão das necessidades na sociedade possibilita a inversão da

ordem financeira passar para o universo da moda através da efemeridade que comanda a

produção e do consumo (em massa). Resultado do tempo breve da moda, da efemeridade, do

desuso e das novas necessidades estimuladas pelo hiperconsumo. Com efeito, são os desejos

que precedem às necessidades, segundo Schopenhauer, é o fim de um sofrimento, de uma

privação que, rapidamente, dá lugar a outro.

Atualmente, o consumidor é exposto diariamente a uma quantidade de produtos bem maior do

que as suas necessidades, o que pode provocar o estímulo a compras não planejadas, a compra

por impulso (ÂNGELO et al, 2003). Impulso que foge à razão, que foge da lógica do querer e

da vontade, no entanto, além de assumi-los conscientemente, é necessário mantê-lo vivo

(SCHOPENHAUER, 2001). Certamente, uma urgência que surge como uma resposta a um

estímulo imediato com força para estimular a compra, “ continuar ou fugir, temer a felicidade

ou o gozo são, na realidade, a mesma coisa: a inquietude de uma vontade sempre exigente, sob

qualquer forma que se manifeste, enche e perturba sem cessar a consciência”

(SCHOPENHAUER, 2001, p.206).

A compra por impulso acontece de forma repentina quando o consumidor, movido por alguma

emoção, não controla seus atos (ENGEL et al, 1995). Produtos de moda, como os calçados, tem

o poder de alimentar o impulso nas necessidades básicas acidentais. As compras por impulso,

com fortes traços de emoção, trazem o consumo hedônico para esse contexto em uma

32

tempestade de paixões que atormentam a tirania do desejo que estimula do consumidor,

estimulando a efetivação da compra (SCHOPENHAUER, 2001).

Para Engel, Black e Miniard (1995), na efetivação da compra por impulso, o consumidor não

conhece sua necessidade até posicionar-se frente ao produto, enquanto que para Rook (1997) o

impulso encoraja a compra imediata, fortalecendo o indivíduo para uma ação imediata. Entre

as categorias de consumidores por impulso, uma delas baseia-se na busca de prazer de comprar

(COSTA e LARAN, 2003). Fazendo um paralelo com o pensamento de Schopenhauer, que diz

que é esse impulso de novos desejos que acontece de forma objetiva, provocando que o sujeito

saia da sua normalidade, independente da relação existente com a vontade.

2.1.2 A metafísica do belo

Como forma de equilibrar seu ser em relação à felicidade da alma e a dor da Vontade,

Schopenhauer propõe o equilíbrio através da metafísica do belo, das expressões abstratas na

concretização das formas necessárias. Para o filósofo, é através da arte que o Mundo como

Representação terá uma nova apresentação, a outra face, o avesso do Mundo como Vontade,

que considera a arte como uma manifestação da Ideia.

Para melhor entendimento do conceito de Ideia, faz-se uma analogia ao pensamento de Löbach

(2001), que busca referência no design ao trazê-lo como

uma ideia, um projeto ou um plano para a solução de um determinado. O design

consiste na codificação da ideias para, com a ajuda dos meios correspondentes,

permitir a sua transmissão aos outros. Já que nossa linguagem não é suficiente para

tal, a confecção de croqui, projetos, amostras, modelos constitui o meio de tornar

visivelmente receptível a solução (LÖBACH, 2001, p.16).

É o conhecimento estético que remete à nomenclatura de Metafísica. O Belo é a objetivação

mais perfeita da Vontade, e onde não existe fronteira entre o sujeito e o objeto que, ao se

fundirem, permite a contemplação (CACCIOLA, 1998). Sendo assim, ao entender a arte como

portal, diz-se que é através dela que o inconsciente se comunica positivamente com o consciente

(SCHOPENHAUER, 2001).

Para adentrar no tema do design e alcançar um melhor entendimento filosófico do consumo,

será estudado a diferença entre estética e “semântica”. A consciência e o conhecimento do

objeto como coisa-em-si, itens indissociáveis na contemplação estética. A contemplação do

belo, o sentimento da beleza que é provocado pela contemplação que a precede, provocando o

prazer estético. A beatitude dessa contemplação capaz de libertar a Vontade, a ideia que se

expressa e se individualiza através da riqueza e clareza das formas, o Belo que age sobre os

indivíduos, o sentimento da beleza provocado.

33

Neste estudo, os signos não serão analisados, a pesquisa será limitada à análise estética e sua

riqueza de significados, à clareza das formas, à percepção individualizada, ou seja, a

representação da estética como fruto do conhecimento imediato do objeto.

O Sublime está associado ao êxtase, um superlativo do Belo, que ultrapassa a própria

individualidade. Um estado de êxtase tem força para remover as barreiras de resistência do

sujeito diante da beleza. O sujeito que se volta para seu núcleo, para o lado mais íntimo do ser

onde está localizada a consciência pura, ao conhecimento puro, em busca da elevação plena da

liberdade e da consciência, libertos da vontade e do conhecimento prévio do objeto, o lado

subjetivo da estética independente da vontade, revela o sentimento do sublime. Quando o belo,

em sua transição ao sublime, age sobre o indivíduo e o sentimento da beleza, envolve-o,

convidando à contemplação, elevando-o ao estado de êxtase, de encantamento, pode-se dizer

que é um fenômeno efêmero da Vontade (SCHOPENHAUER, 2001).

Uma alegria através do conhecimento puro, intuitivo que independe da Vontade, o Sublime, o

lado subjetivo da contemplação do prazer estético. Para o filósofo, a Natureza tem esse poder

de despertar o prazer estético, por vezes momentâneo, até mesmo nos menos sensíveis, pois

que a natureza, por vezes, solicita contemplação estética, posicionando o homem em sujeito

que conhece além da Vontade. Podendo ser observado que é o sentimento da beleza que provoca

o Belo a agir sobre si, posicionando-se acima de si, acima da personalidade, acima da vontade,

permitindo, dessa forma, a distinção do sentimento de Sublime que distingue-se do Belo.

A contemplação estética baseia-se no lado objetivo da beleza, pois que a Natureza, por vezes,

nos solicita por contemplação estética, posicionando o homem em sujeito que conhece além da

Vontade. É o sentimento da beleza que provoca o Belo, que age sobre si, acima da

personalidade, acima da Vontade, sendo, dessa forma, o sentimento do Sublime que se distingue

do Belo.

A Contemplação precede de dois elementos: o conhecimento do objeto e a consciência isenta

da Vontade. Tanto no Sublime quanto no Belo, o objeto da contemplação estética parte da

objetivação da Vontade em graus determinados, ou seja, ao explicar que um objeto é Belo,

refere-se à Contemplação estética, quando a visão é acionada e se tem consciência da sua

individualidade, isenta da vontade.

Pode-se exemplificar a contemplação da natureza e da vida a partir da contemplação do belo,

um bom exemplo acontece através do olhar dos turistas nesta imagem da cidade do Recife –PE

34

(Fig.5), que observam detalhes, atentos as mais diversas formas, a estética, a arquitetura, ao

estilo de vida dos transeuntes, a contemplação estética da natureza local e do entorno. Enquanto

que os residentes, já acostumados e a visão acomodada com a natureza e as formas, já não

observam os detalhes, não se detém a contemplá-los.

Figura 5 - Recife aos olhos dos turistas

Fonte: Álvaro Severo, 2012

Dá-se o nome de bonito a toda coisa bela, alegre. No entanto, o filósofo traz a beleza negativa

para essa discussão, que consiste no feio, no repugnante que, tal qual o bonito positivo, também

tem o poder de estimular a vontade e suprimir a contemplação, nesse caso, puramente estética,

por vezes, resultando em repulsa, em horror.

O sentimento do prazer estético, segundo Schopenhaur, acontece através da luz, da visão. Para

a contemplação e realização do sentimento estético faz-se necessário a importância da luz

natural ou artificial. A luz que nas diversas religiões representa o bom, a salvação, enquanto

que a escuridão e a treva, o mal. Para que a visão cumpra seu papel, faz-se necessário a presença

da luz, da iluminação, pois, sem esta nada seria visto, contemplado, em suma, precisa dela para

existir. É ela que permite o conhecimento contemplativo das formas, a harmonia das cores, o

prazer estético, o sentimento da beleza provocado no observador. É preciso harmonizar, por

diversos meios, os fins estéticos com os fins utilitários para se alcançar a contemplação estética

na arte, podendo ser percebida como uma necessidade. O prazer estético também acontece

através da arte, que Schopenhauer (2001) considera a manifestação suprema e perfeita sobre

todas as coisas, já que para alguns esta imita a Natureza e reproduz ideias oriundas da

contemplação.

35

Nessa perspectiva, a estética do objeto sob a ótica de Löbach (2001) faz parte do processo

criativo, os aspectos estéticos são investigados com objetivo de reconhecer a percepção do

observador, do consumidor. Em relação à estética do objeto, o foco de atenção está na descrição

do que é perceptível e torna-se possível realizar uma descrição desta realidade estética. No

processo de metodologia de design, para o projeto de um produto é necessário conhecer e

enumerar as características estéticas que atendam os valores e que correspondam às

necessidades do consumidor, muitas vezes satisfeitas com o uso do produto, se manifestando

como valor de uso.

Relacionando a percepção da estética com o mundo da experiência e da reflexão, pode ser

considerado uma espécie de caverna imaginária em que vive a sociedade, escura e cheia de

incertezas, capaz de iludir com a percepção do que se acredita ser real. O Mito da Caverna de

Platão ilustra essa reflexão, quando os homens acreditavam estar vendo as imagens ilusórias

criadas através de sombras e luz (BARBOSA, 2007). Aquele que sai da caverna e vê as imagens

reais, que adquirem conhecimento, ao regressar não mais conseguirão ver aquelas sombras

(SCHOPENHAUER, 2001). “Enquanto nos fechamos exclusivamente na percepção sensível,

assemelhar-nos-emos a homens sentados numa caverna obscura, acorrentados tão

apertadamente” (BARBOSA, 2007, p.179). Esse mesmo autor traz para esta reflexão o fato da

complexidade do trabalho intelectual estar aliada às sensações dos sentidos, traduzindo na

capacidade de recepção dessas, para transformar em imagens através do entendimento. Dessa

forma, sem essa percepção não seria possível a Representação, para simplificar, de forma

comparativa, a uma televisão sem o satélite para a transmissão dos programas.

De acordo com Löbach (2001), a estética pauta-se nos valores individuais que, por vezes,

assemelham-se entre os pares. São formulados com frequência, apoiando-se nas bases

emocionais ou racionais. Entre os valores humanos, esta dissertação se detém aos estéticos por

ter uma relação direta com o tema abordado e com o design. Considerando o valor estético

como categoria, ao se estudar ou analisar produtos de uso direto do consumidor ou localizados

no entorno, sempre contemplados estando presentes tanto na consciência individual quanto na

coletiva, agregando-lhes valor.

Através da Estética acontece a libertação. Com o conhecimento é possível escapar da

escravidão. Segundo Schopenhauer, a “estética ensina o caminho através do qual o efeito do

Belo é atingido, dá as regras às artes, segundo as quais ela deve produzir o Belo”. A Estética

como princípio da individualização, o conhecimento potencializando a percepção da Estética

36

(SCHOPENHAUER, 2001). Já para Löbach (2001), a individualização se distingue na estrutura

da consciência através da percepção pessoal influenciada pela vida cotidiana, dessa forma, pode

sofrer variações e mudar com o tempo. A constância das variações acontece pelo anseio por

mudança e a necessidade por novidades alimentadas pelo desejo humano.

O mercado da moda, por sua própria efemeridade, sofre além da pressão econômica as

influências constantes de alterações estéticas que direcionam a produção e estimulam anseios e

desejos dos consumidores. Produtos que rapidamente são descartados e substituídos por outros

que, com velocidade semelhante, também serão substituídos e comercializados através das

novas preferências estéticas (LÖBACH, 2001).

A importância das cores refletem, definem e delimitam o espírito da estação, da coleção de

moda (SEIVEWRIGHT, 2009). Cores podem ter diferentes significados de acordo com a

cultura, com o tempo e com o local, promovendo novos significados e transmitindo mensagens

significativas (FRASER, 2012; SEIVEWRIGHT, 2009). Assim como a estética, a mudança de

cores de uma estação para outra tem acontecido com uma velocidade feroz, de um momento

para outro a cor predileta da estação entra em desuso e rapidamente é substituída por outra.

como pode-se observar a seguir (Fig. 6).

Figura 6 - Cor na moda | Cor fora de moda

Fonte: Lilian Pacce, 2015

Partindo da compreensão do significado físico e psicológico da cor, que transmite credibilidade,

além de tornar-se atrativo ao público a que é direcionado o projeto, as cores na moda seguem

influências múltiplas e variadas dentro das paletas propostas pelas pesquisas de tendências,

sendo previstas e monitoradas por várias organizações mundiais (FRASER, 2012;

SEIVEWRIGHT, 2009). Nesse contexto, Seivewright (2009) traz à discussão que a cor é

37

fundamental no processo de design, à medida que pode ser um dos primeiros elementos a ser

notado, é um dos primeiros a ser definido nos projetos.

Os símbolos são utilizados através de produtos de moda para representar a identidade do

consumidor. Para Svendsen (2010) uma das formas de representar o significado, de apresentar

a individualidade, visto que o vestuário faz parte da individualidade, apresenta grupo ao qual

pertence classe social, faixa etária, informações sociodemográficas. A construção da

simbologia presentes em produtos de moda, os saltos e suas formas, as modelagens das roupas,

a mistura no uso de materiais e das novas tecnologias em produtos.

Para Lipovetsky (2005) a moda é pautada nos fatores culturais que tem como ponto de

referência o incentivo ao individualismo, o culto das aparências e a estetização das formas a

definem. Através dos valores, significados, estilos e normas de vida conduzem o consumidor à

busca crescente por novidades. Enquanto que, para Schopenhauer (2001), o impulso quando

assumido conscientemente é acompanhado por uma constante Vontade.

2.1.3 Consumo

Para Blackwell et al (2008), o consumo representa “o uso do produto adquirido pelo

consumidor” (BLACKWELL et al, 2008, p.167). McCraken (2003), por sua vez, considera que

o consumo é um fenômeno cultural, moldado e dirigido a partir de considerações culturais, e

complementa o seu pensamento ao dizer que tanto os bens de consumo quanto o design

trabalham em todos os seus aspectos a partir dessas considerações.

2.1.4 Consumo como representação schopenhaueriana

A compreensão do consumo de moda pela filosofia schoupenhaeuriana é possível se o conceito

de Representação for revelado e trazido para o debate como a transformação de um

conhecimento abstrato em realidade, ou seja, a efetivação da realização da Vontade.

Sendo assim, para a perspectiva dos estudos no campo do comportamento do consumidor, pode-

se dizer que a compra é uma Representação simbolizada (efetivada) através da objetivação da

Vontade. São as necessidades que surgem e se renovam dando origem a novas necessidades

através de um conjunto de sensações renováveis. Para Baudrillard (2004), o consumidor

relaciona a obrigação ao prazer e à satisfação, que o denomina feliz, sedutor, participante.

Na contemporaneidade, o consumidor, enquanto cidadão moderno, não tem que se esquivar a

essas sensações citadas anteriormente. McCraken (2003) compara-as a obrigatoriedade do

38

trabalho e da produção, fazendo parte do cotidiano deste consumidor.O mundo da moda em sua

faceta efêmera reflete a forma como o consumidor tem se comportado perante esse

hiperconsumo crescente quando os produtos mudam, se transformam e seduzem os

consumidores. Sob a ótica schoupenheueriana, esse consumo reflete a compra como uma

Representação, como a objetivação da Vontade, no momento que o desejo se transforma em

aquisição do produto.

Ao trazer essa reflexão para o presente observa-se que o princípio filosófico se mantém

atualizado, ao verificar que para Hirschman e Holbrook (1982) o consumo hedônico relaciona-

se a aspectos multissensoriais, emocionais e fantasiosos presentes na relação indivíduo-produto.

Quando o consumidor acredita que a necessidade será satisfeita na aquisição do bem ou

produto, nesse momento, Schopenhauer (2001) relata que essa necessidade, após satisfeita, dará

vazão à outra.

Ao contrário, Albuquerque et al (2010) enfatiza que consumidores podem também despertar

sensações hedônicas relacionadas ao ato de não consumir, pois, muitas vezes, o prazer está

localizado na experiência proporcionada através da descoberta de possibilidades, em observar

vitrinas, experimentar produtos, comparar preços, analisar características dos produtos que

proporcionam o mesmo prazer, a aventura da busca. A diferença sob o aspecto comercial

consiste em não efetivação da compra.

2.1.5 Consumo hedônico

O consumo é classificado como hedônico quando vai além da satisfação da necessidade de

consumir. Em verdade, busca-se o prazer no consumo, ato que, cotidianamente, é mais

relacionado ao desejo que à própria necessidade, podendo ser obtida através das reações

positivas quando as emoções e estímulos multissensoriais se fazem presentes, motivam e

determinam o consumo (HIRSCHMAN; HOLBROOK, 1982) ou através de diferentes níveis

de valor hedônico, desenvolvidos pelo consumidor na compra de produtos (TONETO; COSTA,

2011).

Restritamente, a existência de uma sociedade hedonista resulta da união das ações de marketing,

da sociedade de consumo e estilo de vida. Aliado a isso, os valores hedônicos prevalecem e são

guiados tanto pelo crescente consumo quanto pelo hábito desenvolvido nesta sociedade, de

acúmulo de bens (ALBUQUERQUE et al, 2010).

39

Os produtos adquirem valor hedônico e/ou utilitário que despertam novas dimensões no

comportamento do consumidor através de imagens multissensoriais, fantasias e emoções

construindo as relações de compra entre o hedônico e o utilitário.

Para facilitar e conduzir a compreensão, faz-se necessário entender que todo querer precede

uma necessidade, isto é, de uma privação, de um sofrimento, que somente a satisfação põe um

fim, por conseguinte, o desejo satisfeito cede lugar a outro, no entanto, esse mesmo desejo pode

deixar de existir, tornando-se incapaz de produzir a dor caso não haja esperança que o alimente

(SHOPENHAUER, 2001).

São as esperanças e as pretensões que engendram e alimentam o desejo (SCHOPENHAUER,

2001). A busca das sensações de prazer que está em descobrir “coisas”, em se divertir no ritual

dessa descoberta (ALBUQUERQUE et al, 2010).

Na sociedade de consumo, diversos fatores influenciam a escolha da aquisição de produtos e,

em particular, para esse projeto de dissertação, sapatos, tendo em vista a diversidade e

quantidade de produtos que são oferecidos aos consumidores. Uma pesquisa realizada pela

Federação do Comércio - FECOMÉRCIO apresenta números impressionantes, no Brasil se

consome mais calçados do que muitos produtos de necessidades básicas, equiparando o

consumo de calçados ao de um dos produtos da cesta básica, o feijão.

O consumo, que é regido pelas necessidades hedônicas e/ou utilitárias, é movido pelas

necessidades humanas. As necessidades básicas movimentam-se em direção às justificativas

utilitárias, são importantes qualidade e utilidade dos produtos, enquanto que as necessidades de

entretenimento e prazer, as hedônicas (Fig. 7). O consumo hedônico é motivado pela felicidade,

pelo prazer em consumir, muitas vezes, independe do preço do produto. Enquanto que o

utilitário pauta-se na funcionalidade, na utilidade e qualidade dos produtos. Löbach (2001)

reflete sobre conhecer as necessidades e desejos do consumidor para, dessa forma, “dotar o

produto com as funções adequadas a cada uso” (LÖBACH, 2001, p.55).

Seguindo esse raciocínio chega-se ao design sob o ponto de vista das distinções visuais e da

semântica cultural com poder de influenciar nas emoções, no comportamento e atitudes do

consumidor. As emoções, segundo Bonsiepe (2011), são fenômenos efêmeros, de curta

duração, pois acontecem de forma instantânea, interrompendo o fluxo das ações, enquanto que

os sentimentos têm maior duração, pois referem-se a atitudes relacionadas a possíveis futuras

ações. No momento que a consciência é preenchida pela Vontade, o sujeito é conduzido ao

40

impulso de desejo e esperanças, as expectativas do consumidor que, quando alcançadas,

provocam a satisfação.

Figura 7 - Modelo de justificativas e valores

Fonte: Arruda Filho e Dolakia, 2013

2.1.6 Consumo por encantamento

Na contemporaneidade, o design do produto está cada vez mais focado no consumidor, nas suas

percepções e emoções, na importância do usuário como elemento central do processo de design

(JORDAN, 1998). Observa-se forte tendência em produtos que atuam com estímulos

emocionais, que levam em consideração a base cognitiva das emoções do produto, a aparência

e suas relações hedônicas (DESMET e HEKKERT, 2002). Aliado a um mix de sentimentos

que, associados ao prazer, resultam em benefícios hedônicos no consumo do produto que seja,

satisfação, orgulho, confiança, segurança e emoção.

A percepção dos produtos de consumo é resultado das respostas emocionais provenientes de

avaliação pessoal. Ou seja, este é um processo individualizado, apesar do consumidor estar

inserido em um grupo e estes se influenciarem nas decisões de consumo, a emoção é individual

(DESMET e HEKKERT, 2002), enquanto que Jordan (1998) correlaciona investigação

comportamental ao prazer de usar o produto afetando futuras escolhas.

O prazer na utilização de um produto é definido por Jordan (1998) como os benefícios

emocionais e hedônicos associados ao uso do produto, enquanto que para Desmet e Hekkert

(2002) quando o benefício excede a funcionalidade abrange emoções agradáveis e considera o

prazer como uma dimensão da emoção. Para Syarief (2008), ao longo da história, o prazer se

localizou entre a lógica e os sentidos.

41

As emoções de prazer estão presentes na relação com o produto, funcionando como seu ponto

de partida. É o prazer como benefício emocional que complementa a funcionalidade do objeto.

Quando produtos que eliciam emoções, que fazem o consumidor pensar em possui-los

conduzindo a fantasias que podem, dessa forma, provocar uma emoção como o desejo, levando

em conta a base cognitiva das emoções do produto (DESMET e HEKKERT, 2002). Jordan

(2008) classifica quatro tipos de prazeres que o ser humano relaciona ao consumo de produto:

o fisio-prazer, sócio-prazer, psico-prazer e ideo-prazer (Fig. 8).

Figura 8 - Categorias do prazer com produtos

Fonte: Jordan (2008)

O fisio-prazer relaciona o corpo aos sentidos, ou seja, os prazeres relacionados ao corpo através

dos cinco sentidos humanos, especialmente quando acontece a interação através da visão e do

tato. No sócio-prazer a interação acontece compartilhada com outros consumidores,

conferindo-lhe status social. O psico-prazer relaciona as questões cognitivas e emocionais do

consumidor, ao seu estado psicológico, como exemplo o uso de produtos interativos. Enquanto

que o ideo-prazer está relacionado ao resultado da experiência e do julgamento de valores do

produto para o consumidor (DESMET e HEKKERT, 2002; JORDAN, 2008).

O lado afetivo da experiência do produto através de elementos como prazer e emoção agregam

valor ao produto (DESMET e HEKKERT, 2002). As experiências prazerosas entrelaçam a

visão e a emoção com força capaz de produzir vínculos com o consumidor. Neste caso, é o

prazer que ganha forma quando o objeto é possuído, usado ou através da sua interação com o

usuário. Percebe-se que este fato tem início em momento anterior ao consumo através da

visualização, quando a imagem do produto produz o encantamento através do objeto, com seus

vínculos e interações (SYARIEF, 2008). Para Rocha (2004), o encantamento é a sensação de

estar “apaixonado”, de que não se pode viver sem o produto, quando o consumidor não sabe

explicar a razão de gostar, de querer.

Jordan (2008) trabalha as necessidades do consumidor, sugerindo uma linha hierárquica com

três níveis. No primeiro, localiza a funcionalidade do produto, que seja capaz de desempenhar

as funções adequadamente. No segundo, a usabilidade que permite o consumidor utilizar o

42

produto sem dispender muito esforço no uso ou manuseio. No terceiro, o prazer, quando

conexão emocional entre consumidor e produto é capaz de ultrapassar os benefícios oferecidos,

promovendo bem-estar pessoal. A satisfação relaciona-se com a avaliação cognitiva, o

encantamento com a reação emocional que supera a expectativa do consumidor (DESMET e

HEKKERT, 2002).

2.1.7 Satisfação do consumidor

Oliver (1987) relaciona a satisfação do consumidor ao desempenho do produto, enquanto que

para Angnes et al (2015) a satisfação do consumidor potencializa a recompra. Nessa premissa,

a importância de oferecer experiências prazerosas ao consumidor, as emoções e sentimentos

valorizam a experiência de consumo ao agregar valor aos produtos e resultar na satisfação do

consumidor. Nessa linha de raciocínio, significa que desempenho alcançado resulta em

satisfação. Quando esse desempenho vai além das expectativas, o consumidor se encanta com

o produto, movimentando o hedonismo do consumo.

As expectativas são provocadas pela experiência de consumo, pelo boca-a-boca ou através das

informações e promessas do marketing. Acontece a comparação por parte do consumidor ao

perceber se recebeu o que esperava, ou seja, se as necessidades e expectativas foram satisfeitas

(Angnes et al, 2015). No entanto, percebe-se que, dentro de uma gama multifacetada de

produtos, somente o desempenho dos produtos não provocará a satisfação, faz-se necessário

analisar como o consumo é influenciado através do afeto, que tanto pode ser positivo como

negativo, ou seja, experiências positivas e negativas, concomitantemente (OLIVER, 1987).

No pós consumo acontece a avaliação do consumidor, decorrente da satisfação de suas

expectativas em relação ao produto. Blackwell, Engel & Miniardi (2008) refletem sobre a

avaliação positiva ou negativa que acontece no pós consumo, que refletirá no envolvimento

hedônico das futuras decisões de consumo como resultado da satisfação do consumidor. Nessa

mesma linha de pensamento, Oliver (1987) argumenta que os processos de pós compra são

fundamentais para a decisão da recompra de um produto. Esse é um fato que atrai a atenção dos

pesquisadores de consumo, como exemplo, alguns consumidores de calçados que recompram

o mesmo produto, apesar de novos modelos que são lançados a cada ano e da enorme oferta de

calçados no mercado de consumo, representando a satisfação da marca e do produto específico.

Nos produtos em que o consumo é utilitário essa é uma prática relativamente frequente, no

objeto de estudo dessa dissertação de mestrado, vários fatores estão envolvidos, além do

hedonismo do consumo. Fatores esses como as tendências de moda, a influência através do

43

marketing ou o desejo em sentir parte de determinados grupos, por exemplo (OLIVER, 1987;

CASTILHO & MARTINS, 2005).

2.1.8 Marketing de experiências

As pessoas mudaram e, paralelamente, também mudaram as formas de consumo. Esse é um

novo paradigma de consumo contemporâneo, um advento atual que vem provocando uma outra

forma de pensar o Marketing para adaptar-se a esta recente realidade do mercado de consumo.

Diariamente, o consumidor é exposto a milhares de imagens, marcas e produtos. Com a

globalização e a democratização das informações, esse consumidor, cada dia mais exigente,

mais informado, mais preocupado com seu bem-estar e a satisfação das suas necessidades,

sejam de caráter utilitário ou hedônico. Nesse contexto, tem-se percebido a sensação do tempo

estar encurtando devido à crescente demanda de atividades, resultando em muitos indecisos em

suas decisões de compra. Para Agostinho (2013) o Marketing de Experiências possui uma

alternativa mais direta, sensorial e emocional com capacidade de conquistar esses

consumidores.

Marketing de Experiências, esta nova teoria tem como proposta a oferta de experiência de

consumo, rompendo com o modelo tradicional e massificado. Um estudo do Boston Consulting

Group, publicado no AdAge3, apresenta como resultado que a geração Millenials (nascidos

entre 1980 e 2000) preferem experimentar que consumir. Partindo desse resultado, aponta-se o

direcionamento de um novo modelo de consumo, fruto de exigências do mercado. Quelch

(2010), especialista em marketing e branding global, em entrevista para o Dossiê Consumidor

3.0, da revista HSM Management4, traz para esta reflexão esse novo grupo de consumidores,

classificando-os como os que “vivem o presente” e preferem gastar mais em experiências que

em consumo de bens. Partindo dessa premissa, empresas iniciam ajustes e começam a repensar

modelos para oferecer novas experiências de compra e atendimento diferenciado, para que o

consumidor se sinta especial. São experiências centradas no ser humano e seus valores, cuja

proposição baseia-se nos aspectos funcionais, emocionais e espirituais. Holbrook (1982) traz

para a reflexão a experiência como um fenômeno espiritual com variedade de significados

simbólicos e critérios estéticos, compreendido como estado consciente e subjetivo.

3Advertising Age - AdAge é considerada a principal fonte mundial de notícias, inteligência e conversa para as

comunidades de marketing e mídia.

4Revista HSM Management publica sobre as tendências mundiais e os principais conceitos em gestão.

44

De acordo com Roberts (2005), as pesquisas demonstraram a emoção como assunto legítimo,

afirmando que são as emoções que movem o ser humano e não a razão, apesar do entrelaçado

existente entre elas. A importância de envolvê-las e descobrir seu significado, assim como

afetam o comportamento, fez movimentar as pesquisas na área do marketing, ao detectar que a

vontade crescente das pessoas em escolher produtos ou experiências que permitam satisfazer

necessidades e desejos através do estímulo às emoções, sem deixar de fortalecer os valores.

Nesse contexto, o consumidor passa a ser o centro das atenções do marketing.

2.2 A perspectiva da moda pelo design

De acordo com Castilho e Martins (2005), a moda entre as várias linguagens deste mundo

complexo tem mantido um diálogo com as artes, com estudos do design, pesquisas de novas

tecnologias e as mídias. Nessa perspectiva, é o marketing que instaura o tempo, fortalecendo as

significações através dos seus discursos, ou seja, o marketing no entendimento do consumidor

de produtos de moda (LUCIAN, 2015).

2.2.1 Breve história do design

A história do design acompanha a evolução da manufatura e, em algum grau, o próprio

desenvolvimento dos meios de produção. Sua origem é desconhecida, porém, remete ao período

ancestral, quando os produtos já tinham forma e atendiam às necessidades humanas. Vitruvius

viveu cerca de 80 – 10 a.C., sua obra: Dez livros sobre a arte em construção, foi um dos

primeiros trabalhos sobre configuração e projeto que descreve a necessidade do arquiteto em

relacionar a arte à ciência e a relação entre teoria e prática. Disserta que “toda construção deve

obedecer a três categorias: a solidez (firmitas), a utilidade (utilitas) e a beleza (venustas)”

trazendo a tona a base para o conceito do funcionalismo que só veio a ser utilizado com o design

moderno no Século XX (BÜRDEK, 2010, p.17).

Trazendo tais conceitos para o contemporâneo, é possível adentrar aos estudos de design e

observar que os preceitos de Schopenhauer, embora não explicitamente referenciados,

permanecem atuais e ainda contributivos para a discussão acadêmica. O design se utiliza de

referências filosóficas para se conceituar, para desenvolver as metodologias de criação

(BONSIEPE, 2011).

No entanto, somente com a industrialização, a invenção da máquina a vapor utilizada nas

indústrias têxtil e de transportes na Grã-Bretanha que se possibilitou o avanço acelerado dos

produtos e meios de produção (CARDOSO, 2013).

45

A Revolução Industrial, então, provocou forte impacto na sociedade do século XVIII, tanto nos

processos de fabricação quanto na criação de produtos, com forte e importante repercussão no

consumo até o período atual. Somente após esse período o design conquista seu sentido atual,

quando tem início a industrialização da produção e o aumento da oferta de bens de consumo

(CARDOSO, 2013; CARDOSO, 2008; BÜRDEK, 2010).

As indústrias logo sentiram a necessidade do design. A princípio, artistas foram contratados

para trabalhar no processo de criação com o intuito de interferir no gosto da população através

de novas configurações de produtos. O design, então, começou a ganhar espaço no processo

criativo, as fábricas aos poucos substituíram as oficinas, a mecanização se fez presente, o

planejamento nas várias etapas do processo produtivo, a divisão de tarefas, o designer para gerar

e gerir o projeto. A indústria têxtil foi um dos primeiros setores a sentir necessidade deste

profissional no seu quadro de funcionários, quando os tecidos produzidos na Inglaterra

atingiram valores acessíveis a um maior número de compradores que desejavam adquiri-los.

Nesse período, já se percebia que o aumento da produção estimulava um maior consumo

(CARDOSO, 2008).

Uma elite consumidora já se fazia presente em alguns países na metade do século XIX. A

produção industrial aumentou os bens disponíveis, a produção de bens efêmeros estimulava o

desejo de possuir e de fazer parte de uma nova classe social economicamente ativa, quando o

consumo foi transformado em uma atividade de lazer para uma pequena minoria da sociedade

(CARDOSO, 2008).

Coincidindo com o período que Schopenhauer produzia seus textos filosóficos na Alemanha,

surgiram as primeiras lojas de departamento na Europa (Fig. 9), que promoveu o consumo

feminino a uma atividade de lazer, à realização de desejos através do mundo de possíveis sonhos

presentes nestes espaços, estimulando o imaginário e a construção do pensamento ‘consumir

com os olhos’, dessa forma, novos hábitos de consumo fizeram ascender essa nossa classe

consumidora (CARDOSO, 2008).

Com a quebra da bolsa de Nova York, em 1929, deu-se início a um período de recessão

econômica, a grande depressão (1929-1935). Para sair da crise, o consumo precisava ser

estimulado, ao mesmo tempo que o desejo de renovação e substituição dos produtos antigos

por considerá-los fora de moda, enfatizando, desta forma, o estilo e a moda. Deu-se início ao

surgimento de um novo conceito para agregar valor aos produtos e estimular este consumo

através do design, o styling. A pesquisa das tendências como conhecemos na

46

contemporaneidade, os produtos teriam um ciclo de vida sendo substituído por outros e

impulsionando novas vendas, prática que segue até a atualidade (CARDOSO, 2008).

Figura 9 - Le Bon Marché

Fonte: Visual Merchandising, 2011

Na América Latina, o design só se estabeleceu após a Segunda Guerra, ainda que de forma

bastante tímida. Para o argentino Tomas Maldonado, que nos anos 1980 lecionou nas

Universidades Federais de Pernambuco e da Paraíba, o design deveria libertar-se das tradições

artesanais e ser desenvolvido seguindo conceito do moderno. Já o alemão Gui Bonsiepe, com

forte orientação tecnológica, atuou no Programa de Design Brasileiro do Conselho Nacional de

Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPQ e contribuiu com o incentivo e a

conscientização das atividades do design. No seu discurso teórico, o subdesenvolvimento

tecnológico, a inovação e a periferia eram temas constantes (BONSIEPE, 1983).

Com as diferenças históricas e as influências culturais (CARDOSO, 2008; BÜRDEK, 2010), o

design, no Brasil, que recebeu todas essas influências, precisou de alguns anos para adquirir sua

maturidade e identidade. Em decorrência a essa maturidade e a busca de novas soluções, desde

os anos 1980, vive-se um verdadeiro boom no design. Fato que, no Brasil, coincide com o fim

da Ditadura Militar, ao mesmo tempo que, no cenário internacional, velhos paradigmas foram

quebrados e o design finalmente se libertou das normas rígidas, ingressando na era digital que

trouxe velocidade e “uma grande dose de liberdade para o exercício do design” (CARDOSO,

2008, p.242).

Novos pressupostos, modelos e paradigmas, vive-se a pós modernidade plural. Percebe-se

novas formas de consumo neste cenário, outros possíveis consumidores que são beneficiados

pelos produtos de design. Segundo Cardoso (2008) “à medida que a produção industrial vai se

tornando mais precisa e diferenciada, é no âmbito eminentemente subjetivo da experiência e da

emoção que as verdadeiras decisões de projeto vão se dar” (CARDOSO, 2008, p.236).

47

Uma nova prática projetual em diversas áreas de conhecimento, da cibernética à sociologia, o

design com uma nova visão interdisciplinar (CARDOSO, 2008). Dentro dos métodos aplicados

do conhecimento de design, Bürdek (2010) traz a necessidade de uma reflexão filosófica pelas

constantes crises que direcionam os sentidos do design, daí a importância das ciências humanas

nesse contexto.

A consciência de que o industrialismo tenha atingido uma certa maturidade – ou de

que tenhamos ingressado em uma nova fase, como querem alguns, de capitalismo

tardio – aponta em pelo menos duas direções opostas. Por um lado, a difusão mundial

de um modelo consumista americano significa que a perpetuação do sistema atual

depende da expansão contínua da produção e do consumo (CARDOSO, 2011, p. 236).

Ainda nesse período, o design se despede do aspecto unicamente funcional, se valendo da arte

e outros valores para retrabalhar objetos de uso cotidiano (BÜRDEK, 2010). É, pois, na arte

que o mundo como Representação se apresenta, como um avesso do mundo como Vontade,

como sua outra face (SCHOPENHAUER, 2001). Bonsiepe (2002) traz uma reflexão ao afirmar

que “arte e design são mundos de discursos diferentes. A primeira se apóia no autor referência

individual, o último na resolução de problemas sociais” (BONSIEPE, 2002)

Nessa premissa, faz-se necessário compreender o design através das configurações dos

produtos, das formas de vida e desenvolvimento da sociedade (LÖBACH, 2001). A forma de

pensar e se relacionar com os produtos, a influência do design que altera a maneira como o

indivíduo vê os novos produtos e bens de consumo e como se sentem em relação a estes,

percebendo-se que os bens de consumo, os produtos e os objetos comuns rapidamente se tornam

objetos de desejos (FORTY, 2007).

As informações desta atividade profissional são relativamente recentes. O presente está sendo

construído em tempo real, através do passado recente e com os olhos focados no futuro, fato

que pode ser percebido através da importância crescente do design no contexto nacional, nessa

linha de raciocínio. Cardoso (2008) resgata a fala sobre o design brasileiro, a forma como é

visto, a velocidade que tem mudado e transformado o mercado de trabalho, e a efemeridade nas

formas de consumo do design, através da rápida transformação. Cardoso (2008), ao se referir

ao designer no mercado global, vai buscar uma frase do movimento ambientalista dos anos

1990, “pense em escala global, atue no local”. A globalização fomentou o reconhecimento do

design e suas metas, apesar de esta profissão ainda ser incipiente e ter o destino imprevisível.

O mercado, com muitas possibilidades, encontra-se aberto ao novo e ao inovador, atua em

48

diversas fronteiras que são: “a ideia e o objeto, o geral e o específico, a intuição e a razão, a arte

e a ciência, a cultura e a tecnologia, o ambiente e o usuário” (CARDOSO, 2008, p.253).

Atentos às complexas características individuais no contexto globalizado, nesse sentido,

algumas empresas decidiram se posicionar em diversas localidades com o intuito de sondar o

mercado, de desenvolver produtos para serem consumidos nesta rede global, podendo, desta

forma, aproximar as tendências, integrando os estudos e resultados. Com o mercado globalizado

e com a velocidade das informações, o design caminha em direção ao futuro; design, tecnologia

e pensamentos filosóficos se mesclam, através de pensamento sistêmico, correspondendo à

lógica da indústria (CARDOSO, 2013).

Desde a Revolução Industrial, o design tem sido trabalhado como processo de resolução de

problemas. Neste período, surgiu a divisão das tarefas e a separação das atividades manual e

intelectual em algumas indústrias. Desta forma, o poder de produção com maior qualidade foi

ampliado, mais rápido e com menor custo (CARDOSO, 2008; NEUMELER, 2010). O que

aconteceu, de acordo com Cardoso (2008), foi que, com a profissionalização do designer, o

design se encaixou como um fenômeno humano através do processo de projetar e de fabricar

objetos, ou artefatos, que são objetos resultados de trabalho humano.

Inerentes ao ser humano, pois, todos possuem necessidades, e são essas que dão origem aos

produtos. Para Löbach (2001) são as carências que dão origem às necessidades que buscam

satisfação, determinam o comportamento humano e originam os produtos. Em suma, o design

é fruto de uma necessidade.

Faz-se necessário uma reflexão sobre as funções dos produtos e sua percepção, sejam através

de valores afetivos ou simbólicos. As funções práticas, estéticas e simbólicas para Löbach

(2001), na mesma linha de pensamento, Norman (2008), classifica por visceral,

comportamental e reflexivo (CARDOSO, 2013). Embora a nomenclatura seja diversificada,

observa-se que essas funções estudadas por diversos autores conduzirão aos consumos

utilitários e hedônicos como representado na imagem comparativa das funções dos produtos,

de acordo os autores Löbach e Norman (Fig. 10).

Como o design detém um importante papel de criador de símbolos e significados, Cardoso

(2013) exemplifica que um sapato pode ser simplesmente um sapato, mas além disso, contém

também uma gama de informações, de valores, estilos, podendo estar carregado de significados

e símbolos. Dessa forma, entende-se que, metaforicamente, através dos significados acrescidos

49

aos objetos, estes ganham vida e se comunicam com o consumidor, ao mesmo tempo que tem

poder de proporcionar a comunicação entre os pares, entre os grupos sociais, delimitando

classes sociais, sugerindo atitudes e comportamentos, estimulando desejos, e dando origem às

novas necessidades (CARDOSO, 2013; BÜRDEK, 2010; LÖBACH, 2001).

Figura 10 - Funções dos produtos de acordo com Löbach e Norman

Fonte: Silva; Martins, 2013

No mundo contemporâneo, é difícil imaginar uma vida sem design. O design está presente

durante todo o dia em todos os espaços, do espaço privado ao público, do individual ao coletivo.

No entorno, o design está presente em toda parte, de acordo com Bürdek (2010), configurado

de forma consciente ou inconsciente, seja próximo ao corpo (produtos do vestuário) ou de uso

espacial. É considerado responsável pela definição de grupos sociais, que se definem através

dos produtos e suas comunicações. Para Andrade (2012) “o design não é algo efêmero; é um

reflexo plural de nossos tempos” (ANDRADE, 2012, p.17).

Em relação ao objetivo geral desta dissertação de mestrado, o aspecto do design que,

particularmente, desperta interesse é o design de moda e, especialmente, sua interface com a

produção de calçados, sendo assim, o consumo deste produto através da história da moda, da

sociedade de consumo e dos calçados.

50

2.2.2 Design de moda

Na história da sociedade, a moda sempre esteve relacionada ao status social, tendo início com

as sociedades de classe, da Idade Média até a industrialização. Nesse período, procurava

distinguir-se dos outros através do uso de símbolos de status. Entre os diversos tipos possíveis,

as expressões de comportamento e o código de vestir através da sua linguagem. Hoje, muitos

códigos permanecem, apesar dos símbolos terem se modificado ao longo do tempo, através dos

estilos de vida, da globalização, do desejo de pertencimento a grupos sociais. Verifica-se que

esses fatores estimulam, através da moda, e que algumas simbologias implícitas a essa lhes

conferem a posição social, ou a ideia de que a detém.

Desde o Renascimento, a moda tem influenciado as sociedades. O ser humano, desde o início

da sua história social, começou a cobrir seu corpo por diversos motivos, seja por proteção,

pudor ou como uma maneira de se ornamentar. O vestuário se transformou em moda, a

democratização através do prêt-à-porter, os eventos foram disseminados, as publicações

encheram bancas de revista, as novas formas de consumir a moda. A necessidade fez surgir as

escolas de Design de Moda e a profissionalização nas diversas atividades do setor

(SVENDSEN, 2010).

Teve início a divulgação dos eventos de moda nos principais noticiários mundiais, com

cobertura ao vivo, transmitidas em tempo real para as diversas mídias. As distâncias se

encurtaram, a moda ganhou papel de destaque e se globalizou. Na atualidade, é vista como

importante por merecer tamanho destaque. Para Svendsen (2010), possivelmente, essa atenção

a torne importante, visto o surgimento da moda para ambos os sexos, para todas as idades, para

classes sociais e tribos urbanas, que ultrapassaram as roupas, invadindo outras áreas de

consumo.

Os tempos se confundem, passado, presente e futuro convivem juntos, traduzindo em uma moda

efêmera (LIPOVETSKY, 2005). Para Svendsen (2010) a moda não se resume à inserção de

novos produtos ao cenário, pode também ser o momento em que o retira de “moda”, exemplifica

essa reflexão através da observação relativa ao uso dos chapéus, ou seja, quando este entrou em

desuso, um acessório considerado elegante em alguns eventos sociais, mesmo assim saiu de

cena no dia-a-dia.

Cada instante de duração, por exemplo, só existe com a condição de destruir o

precedente que o engendrou, para ser também, em breve, por sua vez anulado; o

passado e o futuro, abstração feita das consequências possíveis daquilo que eles

contêm, são coisas tão vãs como o mais vão dos sonhos, e o mesmo se pode dizer do

51

presente, limite sem extensão e sem duração entre os dois (SCHOPENHAUER, 2001,

p.13).

As peças do vestuário, no período que antecederam à moda, eram semelhantes para todas as

classes sociais, diferenciando-se, unicamente, no material e no uso dos ornamentos que deram

origem aos acessórios. As formas das roupas foram mudando ao mesmo tempo que os

acessórios, no entanto, estes de forma mais veloz. Com o surgimento das primeiras revistas de

moda, entre 1770-1780, a difusão desses produtos ganhou em velocidade (SVENDSEN, 2010).

É notória a presença dos acessórios nas pinturas rupestres, nos relatos antigos e, hoje, no

cotidiano das pessoas. Desde o período neolítico, já se tem registro do uso de calçados, com

diversas funções, assim, conclui-se que os calçados surgiram por necessidade de proteger os

pés.

2.2.3 Design de moda aplicado aos calçados

Apesar da história dos calçados remontar a um longínquo passado,Van der Linden (2004) relata

que se encontra arraigada à história cultural de cada povo. No entanto, o estudo do design de

calçados é relativamente recente.

Estima-se que o primeiro calçado surgiu no período paleolítico, desenvolvido com a função de

proteger os pés do frio, calor e do solo (Fig. 11). Os mais antigos exemplos já remetem a

preocupação com a função, a forma, ao design (SEFERIN, 2012). Surgiu pela necessidade de

proteção, passando por símbolo de distinção social, crendices, até chegar ao afeto, ao fetiche.

Chocklat (2012) traz para a reflexão o fenômeno da paixão pelos calçados ter nascido ao mesmo

período que estes produtos são transformados em objetos de desejo, sonho, poder e sedução

(ANDRADE, 2012).

Figura 11 - Primeiro sapato que se tem registro

Fonte: Choklat, 2012

52

Ao longo da história, o sapato passou por diversos formatos e materiais, diferentes formas de

uso, acabamentos e ornamentos. Na idade média, o tamanho e formato do bico determinava o

status social. Até o século XIX os pés dos sapatos eram iguais e, somente a partir desse período,

a ergonomia passou a ser um item na construção de um calçado, tendo apenas em 1880 a

numeração começando a ser adotada.

No Egito Antigo, as leis suntuárias foram aplicadas nos calçados, as sandálias eram de uso

exclusivo das classes mais altas. As leis eram violadas, o desejo de consumo estimulado. A

burguesia buscava imitar a corte em um processo repetitivo que perdura até a atualidade,

quando os consumidores imitam os artistas, os famosos ou formadores de opinião. Como

Svendsen (2010) comenta “o desejo por itens do consumo simbolicamente poderosos se torna

então um mecanismo autoestimulador que é, ao mesmo tempo, causa e consequência de

desigualdade social” (SVENDSEN, 2010, p. 42). Enquanto que, no universo da moda, as Leis

Suntuárias presentes do século XIII ao século XVII reservavam peças do vestuário, cores,

acessórios e calçados para algumas classes específicas (Fig. 12).

Figura 12 - Sapatos que participaram das Leis Suntuárias

Fonte: Sapatos: espírito da moda, 2015

O vestuário passou por uma longa trajetória até transformar-se em moda, e na sua trajetória

desenvolve o papel de indicar posições sociais em diferentes épocas. Durante séculos,

constituiu-se como identificador do indivíduo, tais como: identidade regional, ocupação, classe

social e religião. Percebe-se que, através da sua evolução e das modificações, funcionou como

indicador das relações sociais, identificando os grupos que participam nos diversos espaços

públicos. As túnicas utilizadas até a Idade Média foram sendo substituídas por peças mais

53

ajustadas, mais próximas ao corpo, confeccionadas sob medida, percebendo-se, dessa forma, a

influência da corte e das altas classes, nesse período (CRANE, 2006).

No final do século XVI, ocorreu o boom do consumo, estimulado pela nobreza elisabetana. As

famílias estimuladas a almejar status através de competições sociais, dando início ao consumo

mais individualizado e cada vez menos familiar, que fez produzir novos padrões de consumo

em novas e escrentes escalas (MCCRAKEN, 2003), que perduram até a contemporaneidade.

Considerado elemento de cultura material, repleto de significados, os artefatos deixam de ser

produzidos de forma individualizada, passando a ser produzidos para um conjunto de artefatos

e consumidos por um grupo da sociedade (CARDOSO, 2008). Em suma, percebendo que

através da cultura material se entende a forma, a produção e o consumo.

O desenvolvimento dos calçados através do tempo comunica os desejos e anseios por novidade

na sociedade contemporânea. As aspirações sociais, as formas de usar e o inserir as outras

funções intrínsecas desse produto, quando a elegância vence o conforto e outros aspectos são

inseridas nesse contexto: funcionais, estéticos e simbólicos (SEFERIN, 2012).

Para Löbach (2001), no processo de criação e desenvolvimento desses artefatos, leva-se em

consideração a possibilidade de satisfazer as necessidades de seus consumidores através das

funções práticas, estéticas e simbólicas, ou como Andrade (2012) classifica como funções

subjetivas, simbólicas e funcionais dos produtos, imprescindível para o uso, respeitando esses

conceitos quando concebidos, bem como fatores ergonômicos, sociais, sustentáveis,

econômicos e tecnológicos.

Sendo assim, o designer, através do desenvolvimento de produtos físicos ou digitais,

desenvolve e insere habilidades científicas, artísticas e filosóficas nos objetos ao transmitir

mensagens e significados, tendo como preocupação, muitas vezes, tanto a estética quanto a

funcionalidade desses artefatos (ANDRADE, 2012).

A necessidade de transformação, a metamorfose individual, o desejo de mudar, através da

renovação que o atual mercado impõe ao consumidor. Barthes (1979) fala do poder de

transformação individual em outro, a metamorfose humana que também é perceptível com o

uso de sapatos que conferem o poder de transformação, tanto fisicamente quanto em relação a

autoestima. O uso do salto eleva a mulher, reposiciona seu corpo, modifica a percepção,

confere-lhe uma nova postura, sentimento de poder (SEFERIN, 2012).

54

As influências dos mecanismos de sedução, atrelados ao impulso, a satisfação dos desejos e as

necessidades do consumidor que busca viver novas experiências, emoções e sensações. Curioso

observar a velocidade com que o encantamento se acaba dando lugar a outro, um sapato novo

provoca emoções, tem o poder de encantar, de seduzir, ao passo que após usado já não provoca

essas mesmas sensações no consumidor (ANDRADE, 2012).

Os sapatos usados contam muitas histórias, tanto ao longo da história social quanto no âmbito

individual. O salto, ao projetar a pessoa, promove-lhe novas sensações com força para alterar

as atitudes e o estilo de vida dos consumidores, “o estilo original não é mais privilégio do luxo,

todos os produtos são doravante repensados tendo em vista uma aparência sedutora”

(LIPOVETSKY, 2005, p.163).

Acompanhando a evolução tecnológica, através do avanço da informática que democratiza a

comunicação, a troca de arquivos e compartilhamento de conhecimentos, os novos recursos e

equipamentos disponíveis, o processo criativo quase utiliza de novos processos e novas

referências e vem sendo utilizadas na concepção de projetos com identidade para produtos

inovadores. A identidade do design é motivada pelo anseio de autonomia e poder de decidir o

futuro (ANDRADE, 2012; CARDOSO, 2008). Com a globalização, os produtos rapidamente

atravessam continentes, passando de locais a globais. Cardoso (2008) traz a reflexão da

necessidade de desenvolver projetos de valor universal em um universo fragmentado, ou seja,

pensar na modernização sem esquecer da linha de pensamento consciente das culturas locais.

Na atualidade, os calçados, mais que produtos desenvolvidos para proteção dos pés, ganham

destaque como elementos de experimentação e inovação, através dos materiais e novas

tecnologias (LÖBACH, 2001; COX, 2009).

O sapato, entre os vários itens do mercado da moda, é considerado um dos grandes objetos de

desejo, quando sonhos, vontades e sensações são despertadas, estimuladas. Em algumas

situações, os calçados, assim como outros produtos do vestuário, também despertam as

lembranças, resgatam memórias remetendo o usuário a algum lugar através do tempo ou do

espaço. O fetiche dos calçados estimula o consumo. Fetiche esse comumente apresentado

através dos saltos altos que também remetem à elegância, poder e sensualidade, refletindo-as

além do estilo, gosto individual e status social (SEFERIN, 2012).

Nas imagens das sandálias (Fig. 13) do potiguar Jailson Marcos, radicado em Recife, há mais

de vinte anos no cenário pernambucano da moda, é possível observar traços arquitetônicos

representados por meio do design de moda configurado no artefato calçado com variada gama

55

de referências e inspirações para criações de novos modelos, incluindo diferentes formas,

materiais, cores, tecnologias e técnicas de produção (ANDRADE, 2012).

Figura 13 - Sandálias Jailson Marcos

Fonte: Jailson Marcos, 2015

2.2.4. Consumo de moda

A produção e renovação de produtos de moda movidos pela sua efemeridade direcionam o

consumo e o descarte com grande velocidade. Produtos já nascem com data de validade

programada, quase vencidas, tornando-se voláteis (LIMA, 2006; LIPOVETSKY, 2009).

Lipovetsky (2009) reflete sobre a obrigatoriedade imposta pelo mercado através de lançamentos

contínuos e frequentes, produtos com vida comercial abreviadas rapidamente são substituídos

por outros que, provavelmente, repetirão o mesmo ciclo.

Mesquita (2004) e Cidreira (2005) refletem sobre a velocidade feroz com que os produtos

entram e saem de moda, uma coleção que rapidamente é consumida e renovada, substituindo a

anterior que rapidamente será descartada e substituída. Vive-se um tempo acelerado, com uma

moda veloz e novas coleções sazonais que se encontram em constantes mudanças, pressionado

pelo mercado que exige produtos novos, forçando uma constante renovação. Dessa forma, para

as autoras supracitadas, fazer moda não é somente substituir a moda do ano anterior, mas

desclassificá-la.

O Ciclo de Vida dos Produtos tem sido estudado, determinado e utilizado como modelo de

consumo na perspectiva do Marketing. O conceito de CVP5 apresenta a vida dos produtos no

mercado, que é movido pelo comportamento de consumo, regido pelas necessidades do

consumidor, pela oferta de novos produtos (POLLI e COOK, 1969) que, descrevendo sua

evolução, passa por uma série de estágios (COX, 1967). Ou seja, em três estágios: introdutório,

de aceitação e de regressão. Nesses estágios, o ciclo passa por seis fases: inovação, elevação,

5CVP: Ciclo de Vida dos Produtos

56

aceleração, aceitação, declínio e obsolecência (SOLOMON, 2002). Na maioria dos produtos,

a curva do CVP é representada em formato de sino (Fig. 14).

Figura 14 - Um ciclo normal de moda

Fonte: Solomon, 2001, p.

Iniciando o percurso com baixo crescimento no momento que os produtos são introduzidos no

mercado nos estágios introdutórios. Nessa fase, é frequente que alguns recebam um pouco de

rejeição, por tratar-se do período de aceitação, sendo consumidos apenas por alguns grupos

específicos. O período de identificação e aceitação acontece com a percepção do desempenho

do produto, período em que um maior segmento de consumidores o adota, as vendas crescem

em ritmo mais acelerado, alcançando a maturidade do ciclo. A saturação é provocada pela

diminuição do consumo, nesse período (estágios de regressão), os produtos são retirados ou

substituídos, o que acontece quando o declínio passa a ser suficientemente baixo e o produto

sai de cena, a partir daí, um novo produto é apresentado e o ciclo é renovado (POLLI e COOK,

1969).

Na lógica da efemeridade, o sistema da moda é movido pelo gosto por novidades, sua constante

renovação no universo das fantasias faz com que os CVP de moda sejam abreviados,

provocando incessantes mudanças. Por sua efervescência temporal, a curva de consumo difere

da maioria dos produtos, vive-se em um ciclo ditado pelos bureaux de tendências, pela

velocidade com que são criadas e recriadas novas coleções (LIPOVETSKY, 2005). Os ciclos

de moda são imprevisíveis, dura o tempo para atender uma necessidade, ou apenas até o

surgimento de novos produtos que provocam o esquecimento da necessidade anterior, O CVP

é controlado pelos calendários dos próximos lançamentos, os produtos que entram e saem do

mercado com velocidade planejada, apesar da indústria ter controle sobre esse tempo de vida,

um breve retorno ao passado mostra que esse tempo está sendo encurtado.

Nas semanas de moda – Fashion Weeks – acontecem os lançamentos conceituais que

rapidamente são traduzidos para o consumidor. Esse ciclo tão veloz, segundo as teorias de

Marketing, passa por quatro estágios: distinção, emulação, massificação e declínio.

57

O período de distinção antecede a emulação ou maturidade, nesse período, o desejo de

consumir, de fazer parte do grupo através da imitação. Seguido da massificação - o período do

declínio que demonstra que o ciclo está finalizando e será renovado.

Figura 15 - Comparação do Ciclo de Vida de Produtos de Moda

Fonte: Solomon, 2002, p. 408

O ciclo de vida dos produtos de moda, ilustrado na figura 15, acontece em tempos e velocidade

diferentes, ou seja, o Modismo dura pouco tempo, obtém rápida aceitação e declina

rapidamente, enquanto que o Clássico tem longa aceitação e permanece por maior tempo no

mercado, às vezes, classificado como anti-moda (SOLOMON, 2002).

2.3 Arte, moda e artesanato

Para Solomon (2002) existe uma distinção entre arte e artesanato, indo buscar referências no

Movimento Arts and Crafts que defende o artesanato criativo, valoriza o trabalho manual na

medida que, para o autor, produto de arte é desprovido de função funcional, sendo trabalhado

com a finalidade da contemplação estética que, além disso, desempenha função utilitária.

Complementa o pensamento citando diferenças na produção, esclarecendo que a arte é pensada

de forma original e sutil, enquanto que o artesanato possibilita a produção mais rápida.

2.3.1 Arts and Crafts

O movimento que teve origem na Inglaterra na segunda metade do século XIX até inicio do

século XX, surgiu como fruto da desigualdade social, da velocidade da indústria, provocando

a miséria urbana, provenientes em oposição à mecanização promovida pela Revolução

58

Industrial. A desilusão, as preocupações estéticas e sociais, provocadas pela produção em massa

e a desumanização do processo industrial motivaram o surgimento do movimento e estimularam

o resgate às manualidades, uma arte mais voltada à natureza (MACKENZIE, 2010), uma reação

à Revolução com retorno aos ofícios manuais, inserindo, dessa forma, a arte na vida do povo.

De acordo com Mackenzie (2010), decepcionados com a baixa qualidade dos produtos

industrializados, o movimento Arts and Crafts defendia que o operário conhecesse todo o

processo de produção. A produção de arte sob encomenda, tendo como intuito a valorização da

satisfação do produtor no momento da criação, da produção que, provavelmente, proporcionaria

a contemplação do futuro consumidor. Produtos artesanais com identidades pautadas na

fidelização de materiais, do resgate às tradições e às formas.

Para Harashima (2013) o artesanato é uma atividade antiga, que remonta ao início da história

social humana. Com o passar do tempo, tem se transformado em geração de emprego e renda.

Valorizada pelas atividades turísticas através da ressignificação contemporânea do artesanto e

do fortalecimento da identidade do artesão.

Löbach (2001) também traz a divisão do trabalho industrial como forma de o trabalhador só

conhecer uma parte do processo, produzindo, dessa forma, pouco contato com o fruto do seu

trabalho.

2.3.2 Artwear

Surgiu na década de 1960 e se fortaleceu com a cultura do feito à mão, do retorno ao passado e

a contestação ao mundo industrializado, defendido pelo movimento Hippie, na década de 1970.

Para Mendonça (2013) a artwear é considerada uma das mais importantes manifestações no

universo da arte contemporânea, que aconteceu através do cruzamento dos mundos da moda e

das artes, quando artistas (nas escolas de arte) começaram a criar peças tendo como base

elementos têxteis que se transformaram em obras que vestiam o corpo. Artistas plásticos

proziram peças do vestuário que deram origem à arte vestível. O movimento segue a mesma

linha de raciocínio produtivo do arts and crafts.

Arte e moda estão intimamente relacionadas, provocando confusão em seus conceitos, em seus

limites. A pergunta clássica, “até onde a arte influencia a moda e vice-versa?, perdura até a

contemporaneidade, gerando discussões enriquecedoras sobre o assunto. A arte utilizada na

moda, a moda que busca referência na arte, ou seja, a arte usada na moda (MENDONÇA, 2013).

59

2.3.3 Arte, moda e arquitetura

Apesar da distância exitente entre a alta-costura e peças comerciais do vestuário, esta, muitas

vezes, utiliza-se da arte para vestir o corpo. Em um retorno ao passado da história da moda,

pode-se perceber que os criadores se viam como artistas, conceituando suas criações como

obras de arte e recorrendo aos conceitos da arte que, apesar de serem vestíveis e

comercializadas, não tinham como objetivo ser “traje de moda” (MENDONÇA, 2013). Nessa

perspectiva, o corpo vestido funciona como suporte de representação artística, muitas vezes,

essas peças resultam em exposições em museus e galerias.

Segundo Schpoenhauer (2001) a arquitetura trabalha formas, luz, gravidade e resistência. A

gravidade que tende para baixo e a resistência impede que isso aconteça. As formas aliadas a

essa luta de resistência provocam a contemplação e sustentam a metafísica schopenhaueriana

através da beleza, que estimula a consciência estética e o conhecimento da ideia. A relação

moda/arquitetura tem início no final da Idade Média através da verticalização da arquitetura,

influenciando o vestuário (BUENO, 2013). Enquanto que Seivewright (2009) resgata o que a

moda e a arquitetura tem em comum, ambas partem do corpo humano para ganhar forma, para

projetá-las, ambas partem de uma superfície plana antes de se tornarem tridimensionais.

Complementando a frase de Coco Chanel que diz que “Moda é arquitetura. É uma questão de

proporções”.

Para Coppola (2010), o binômio arte e moda faz parte de uma reflexão não recente. Na década

de 1980, nos Estados Unidos, um movimento já pesquisava a arte de vestir e as relações entre

arte e moda, uma arte que pudesse ser contemplada e usada: o Wearable Art.

2.3.4 Wearable Art

Como resultado da diversidade de técnicas e da crescente fonte de materiais, teve início nos

anos 1950, através de uma mudança na área têxtil promovida pelo desenvolvimento industrial

que estimulou a criatividade dos artistas da época. Em oposição à mecanização promovida pela

Revolução Industrial, com proposta de possibilitar o uso e a contemplação de peças de arte que

pudessem ser vestidas, uma arte vestível teve origem nos Estados Unidos, nos anos 1960, ou

seja, uma obra de arte produzida por um artista transformada em peça do vestuário com mais

liberdade. Transcendendo à função de indumentária, não seguindo os ditames da moda,

utilizando-se da liberdade de ousar, de experimentar, resultando em peças atemporais, “não

passarão de moda, não virarão velharias, terão o seu próprio alento, a própria mensagem, o

próprio porque. Moda além da moda, levando intrinsecamente sua resposta, mostrando a

60

diferença que existe entre o utilitário e o artístico, entre o artesanato, a moda e a arte”

(SITÔNIO, 2012) wearable art: “a arte que não passa de moda”.

Artistas do Wearable Art migraram para o design, para a produção de peças do vestuário, no

entanto, em quantidade reduzida, seguindo a ideologia do feito a mão. O uso de inovadores e

ousados experimentos utilizados no vestuário e acessórios por diversos artistas e designers na

linha do tempo da moda, como Alexander McQueen e Iris Van Herper, exemplificados nas

figuras a seguir (Fig. 16), entre outros, fez evoluir a valorização artística e estimularam a

atemporalidade de produtos de moda.

Figura 16 - Estilistas contemporâneos do Wearable Art - Alexander McQueen, Iris Van Herper

Fonte: Kylieepq6; Arabia.style7

Em 1980, o Wearable Art chega ao Brasil (SITÔNIO, 2012). A obra de Artur Bispo do Rosário – O

Manto da Apresentação (com o qual ele se apresentaria a Deus) (Fig. 17), um exemplo de arte vestível

brasileira, arte e moda se confundem e se aproximam, se complementam, se fundem.

Para Mendonça (2013), a Wearable Art trabalha na intersecção entre o universo do vestuário e

das artes plásticas através da valorização do feito à mão, da experimentação e da exploração de

diferentes materiais e suas técnicas de manuseio.

São características reconhecíveis na Wearable Art, a par da paixão de seus criadores

pela escolha do material a ser trabalhado, o valor imputado aos tecidos feitos à mão,

a experimentação constante para conseguir o exato efeito desejado, a exploração das

diferentes possibilidades da matéria prima, a aplicação das mais elaboradas técnicas

artísticas, aproximando a obra das artes ditas maiores e a tentativa de manter um

distanciamento da moda comercial. Esse desejo de isolamento do círculo da moda

pode ser explicado, talvez, pela ânsia de reconhecimento como uma forma legítima

da arte que, durante largo tempo, mantivera-se um reduto predominantemente

masculino. Já a moda foi, por muitos anos, considerada “coisa de mulher”. Como a

Artwear congregava em seu seio um grande número de representantes do sexo

feminino que trabalhavam com tecidos e trajes, a procura por uma recontextualização

6https://kylieepq.wordpress.com/ 7http://arabia.style.com/fashion/news/iris-van-herpen-to-host-solo-exhibition-at-the-cartel-dubai-for-art-night/

61

de sua obra como arte séria, elidindo a conotação de “trabalho de mulher”,

incrementou a necessidade desse distanciamento do fashion (MENDONÇA, 2013,

p.2).

Figura 17 - O Manto da Apresentaçao de Artur Bispo do Rosário

Fonte: tecituras, 20158

2.4 Jailson Marcos

No vasto território do consumo, é pertinente realizar um estudo de caso sobre a percepção de

arte e moda e como acontece o processo criativo do consumo hedônico, observado através de

referências presentes nas sandálias Jailson Marcos (JM). A importância dessa pesquisa se dá

pela visibilidade que o seu trabalho tem no mercado local e entre famosos nacionais, que pode

ser observado através dos consumidores e admiradores da marca, sejam através de espaços reais

ou virtuais, como pode ser observado na figura 18.

Figura 18 - Jailson Marcos na mídia

Fonte: Arquivo pessoal Jailson Marcos, 2014

8https://tecituras.files.wordpress.com/2011/03/arthur-bispo-do-rosc3a1rio-manto.jpg

62

JM participa ativamente das redes sociais Facebook e Instagram. Nesses espaços virtuais, é

possível observar as demonstrações espontâneas de desejo dos produtos por parte dos

consumidores. O mesmo pode ser observado na mídia impressa, através de editoriais de moda

em revistas de abrangência nacional, como exemplo, as revistas Vogue e Elle, que são

divulgados na fanpage da marca nas redes sociais e comentadas pelos consumidores (Fig. 19).

Figura 19 - Divulgação espontânea por parte dos consumidores

Fonte: Fanpage Jailson Marcos, 2015

Além dos consumidores, percebe-se que a admiração se faz presente por parte de estilistas,

profissionais de moda, designers, artistas, cantores e formadores de opinião que, ao passarem

pela cidade do Recife, vão ao atelier ou à loja da marca para conhecer e adquirir produtos, como

pode observar Ronaldo Fraga (Fig.20) que confessa acompanhar as criações através das redes

sociais (ALBERTO, 2015).

O estilista Walter Rodrigues (Fig. 20), em palestra sobre oportunidade do mercado varejista do

projeto Inspira Mais, realizada no Marco Pernambucano da Moda, Recife – PE, em setembro

de 2015, cita Jailson Marcos como exemplo ao falar sobre a importância e oportunidade de

surpreender o consumidor, de proporcionar novas e boas experiências, ao citar que “cada

entrada de um cliente numa loja precisa ser vista como uma oportunidade de surpreendê-lo. É

necessário tornar a compra uma experiência especial” (SANTOS, 2015).

Os calçados Jailson Marcos entraram no mercado local e vem, ao longo do tempo, estimulando

o desejo dos consumidores. Seus produtos sempre presentes na mídia através de notícias que

relatam ou anunciam lançamentos, das participações em renomados eventos no universo

63

brasileiro da moda, como o São Paulo Fashion Week – SPFW, imagens de formadores de

opinião e artistas usando-os ou de coleções produzidas especialmente para estilistas famosos,

como Ronaldo Fraga, Melk Z-Da e Eduardo Ferreira. O início da sua carreira foi marcado com

uma coleção para Beto Kelner, que marcou sua primeira experiência nas passarelas da moda

(MARCOS, 2015).

Figura 20 - Ronaldo Fraga visita loja JM - Walter Rodrigues palestra em Recife e encontra Jailson Marcos

Fonte: João Alberto, 2015

De forma involuntária, o início do trabalho de Jailson Marcos faz referências ao do italiano

Salvatore Ferragamo, através suas formas ousadas, das composições, da irreverência, da

mistura de materiais, texturas, harmonia das cores e das características do trabalho experimental

e artesanal (MARCOS, 2015). Carol Garcia, professora de consumo e moda, percebeu essa

conexão entre as linhas de trabalho, através da experimentação, da estética, das formas ousadas

e inovadoras, materiais alternativos entre os profissionais (Fig.s 22 e 23), ilustrando-a em uma

matéria para um jornal curitibano Gazeta do Povo, em novembro de 1996.

Figura 21 - Bilhete de Carol Garcia a Jailson Marcos

64

Fonte: acervo Jailson Marcos, 2014

Segundo Choklat (2012), para Ferragamo (1898-1960), um ícone italiano na produção de

calçados inovadores, no momento da criação, o designer não pode ter medo de experimentar.

No início da carreira, ao desenvolver sapatos para as drags queen, JM teve a oportunidade de

experimentar e extravasar sua criatividade, utilizando diversas técnicas como papier mârché e

materiais alternativos.

Figura 23 – Criações de Jailson Marcos e de Salvatore Ferragamo

Fonte: Acervo Jailson Marcos, 2014 Fonte: Salvatore Ferragamo, 2015

Através de um resgate histórico de documentos e imagens, percebe-se que, ao longo do tempo,

seus produtos passaram por grandes transformações estéticas; os conceitos (princípios) da arte,

estética, Gestalt, harmonia, modelagem e pesquisa se fazem mais presentes e visíveis, apesar

da permanência de determinados traços marcantes da identidade da marca.

Figura 22 - Sandálias Jailson Marcos 2005

65

Fonte: Diário de Pernambuco, 2015

Percebe-se uma estética de formas orgânicas, naturais, curvilíneas em 2005, enquanto que, em

2015, torna-se arquitetônica, geométrica, os traços foram modernizados, retas e curvas

trabalham em harmonia, as tendências de moda se fazem presentes e a composição de cores é

trabalhada de forma a realçar os detalhes. A evolução das formas estéticas acompanha o

amadurecimento profissional do sapateiro, visivelmente observado através das figuras 24 e 25.

Figura 23 - Sandálias Jailson Marcos 2015

Fonte: Jailson Marcos, 2015

O sapateiro, segundo Andrade (2012), aprende o ofício na oficina, na própria fábrica (Fig. 26),

não frequenta escolas de moda, dessa forma, a estética vai sendo desenvolvida intuitivamente

ou por observação. Existe uma carência de mão de obra qualificada devido à complexidade na

produção artesanal de sapatos, pois, para desenvolver um par de sapatos, envolve entre duzentas

e trezentas operações (FRINGS, 2012).

66

Figura 24 - Ofício de sapateiro

Fonte: Comparsaria, 2015

No início da carreira, Jailson Marcos experimentou diversos materiais e técnicas, o papier

mârchê, palha, cortiça, plásticos, couro e a mistura destes. No seu trabalho, é perceptível que o

sapateiro vai buscar referências no passado para construir produtos no presente, com traços

futuristas, nessa premissa, seguindo uma linha de raciocínio que direciona ao pensamento do

filósofo Schopenhauer (2001) que diz que existe um passado para cada presente. De tal forma

que a estética das formas é trabalhada através de diversos olhares, passado e futuro se

complementam e se entrelaçam, JM vai buscar referências em um tempo passado para o

seguinte, as referências históricas se fazem presentes.

O surgimento do Mercado Pop, em 1996, na cidade do Recife-PE, uma feira de artesanato

inspirado no Mundo Mix que acontecia em São Paulo que teve como referência eventos em

Londres, chegando a Pernambuco com uma versão mais regional.Teve início no movimento

mangue e tinha como objetivo a popularização da cultura nordestina e sua fusão aos aspectos

da cultura pop. Resultou em um espaço que reuniu diversas expressões artísticas, como o

artesanato, design, música e pintura e o desejo de, através da participação dos expositores,

possibilitar a abertura de novos mercados a esses expositores. Neste evento, através da

participação e apresentação, os calçados Jailson Marcos foram conquistando e seduzindo

consumidores, funcionando verdadeiramente como sua primeira vitrine (SOUZA, 2014). O

público deste evento aponta para quem viria a ser seus fortes consumidores até a atualidade.

Atualmente, a grande vitrine continua em uma feira de artesanato (Fig. 27), a Feira Nacional de

Artesanato (Fenearte) que, desde 1999, acontece anualmente na cidade de Olinda – PE, com

duração de 12 dias. Há alguns anos transformada em um evento internacional, conta com a

67

participação de diversos países de todos os continentes. A edição de 2015 recebeu mais de 330

mil visitantes, de acordo com a edição online do dia 13 de julho do Jornal do Comércio (2015).

Figura 25 - Jailson Marcos na Fenearte 2015

Fonte: elaboração própria, 2015

Nas suas criações, Jailson Marcos promove um diálogo entre arte, estética, design e artesanato

brasileiro, tendo as sandálias sertanejas a primeira inspiração, o ponto de partida, que aliado aos

conceitos arquitetônicos, a assimetria, aos vazados, sobreposições e pespontos o sapateiro

constrói seu universo de criação.

Na trajetória profissional, a estética dos seus produtos passou de conceituais a comerciais, sem

perder os traços marcantes estéticos, as características artesanais, a modelagem diferenciada e

as referências culturais presentes e não caricatas nos seus produtos. O contato com os

consumidores permitiu o entendimento dos mesmos através das opiniões, comentários e

sugestões que influenciaram e fortaleceram a trajetória estética utilizada ao longo da carreira.

Figura 26 - Esquema teórico

68

V7

V8

V9

V10

V3

V4

V5

V6

V2V1

UTILITÁRIO

ENCANTAMENTO

HEDONISMO

VONTADE

NECESSIDADE

REPRESENTAÇÃO

MODA

ARTE

CONSUMO

DESEJO

Fonte: dados da pesquisa, 2015

A Vontade estudada nessa dissertação segue a linha de pensamento de Arthur Schopenhauer

em ‘O Mundo como Vontade e Representação’, ou seja, derivada da palavra em inglês Will,

que significa dar possibilidade.

A Vontade que se origina no íntimo humano é o elemento que dá sentido às coisas através da

união entre corpo e sentimento, é um querer que não cessa, que se renova. É a objetivação mais

imediata, o sentimento mais íntimo do corpo que provoca o querer, que precede uma

necessidade. Para Schopenhauer, para cada Vontade que se concretiza, dez outras foram

perdidas e substituídas por novas vontades.

A Representação é a objetivação da Vontade. O ser humano acredita viver passado, presente e

futuro ao mesmo tempo, com isso, desenvolve habilidades de predizer algumas necessidades

ainda inexistentes ou desconhecidas e utilizar-se de artifícios para se transportar no tempo.

Transitando entre eles (tempo), concomitantemente, por acreditar que domina a vida

livremente. No entanto, para o passado existir é necessário do tempo presente para firmar essa

existência, ou seja, o passado só existe condicionado ao tempo presente de agora.

No campo da moda, passado, presente e futuro fazem uma interação produtiva. De acordo com

Lipovetsky, para o sistema da moda existir, foi necessário que o moderno fosse aceito e

desejado e que o presente fosse mais importante que o passado e aceito.

A expansão das necessidades e a efemeridade da moda resultam em um abreviamento da vida

útil dos produtos que, rapidamente, entram em desuso promovendo o surgimento de novas

necessidades estimuladas pelo hiperconsumo crescente.

69

A importância dos estudos sobre consumo e comportamento, baseados no pensamento

filosófico de Schopenhauer em sua obra O Mundo como Vontade e Representação, trazem

como tema para reflexão que são as esperanças e pretensões que dão origem e alimentam os

desejos. O consumidor acredita que sua necessidade ou desejo será satisfeita após a aquisição

ou consumo do produto, no entanto, esse desejo satisfeito dará lugar a outro.

Os desejos tem forte poder de estimular o consumo. Classificado hedônico quando vai além da

necessidade de consumir, relacionando o desejo ao prazer, enquanto que, no consumo utilitário,

as necessidades básicas se movimentam em direção a utilidade e a qualidade dos produtos. Já

o encantamento é aquela sensação de estar apaixonado, de não poder viver sem o produto em

que o consumidor não sabe explicar a razão de gostar, de querer.

A arte se apoia nas referências individuais, sua criação se baseia nos valores estéticos com

conteúdo intelectual, sua vida útil, em muitos casos, pode ser infinita, enquanto que a moda é

efêmera, segue um processo metodológico, tendo como foco o consumidor e seus desejos e

necessidades, fundamentada nos conteúdos funcionais.

Moda, arte e seus caminhos paralelos que se entrelaçam e, por vezes, se confundem. Através

da promoção de um diálogo entre moda, arte, estética e artesanato, JM investe na estética das

formas, na desconstrução das formas, nas referências arquitetônicas, na assimetria e nas formas

inusitadas. Desafia o equilíbrio, inverte a função dos objetos ou parte deles, repensa a

modernidade futuristas com referência a um longínquo passado, utilizando-a na construção da

sua identidade estética.

3 METODOLOGIA

Este capítulo apresenta os procedimentos metodológicos a serem utilizados na investigação da

questão desta pesquisa, de acordo com a pergunta: As sandálias Jailson Marcos são produtos

de moda ou de arte?

Nesta seção são detalhados os procedimentos utilizados na pesquisa, apresentado o desenho

metodológico, instrumento de pesquisa, instrumentos de coleta e método de análise que

envolvem a mesma. Por se tratar de uma pesquisa com embasamento filosófico, de uma

representação não-numérica, sãoestudadas as percepções de arte e moda, os sentimentos e

emoções, buscando entender os significados no processo criativo e a percepção de arte e moda.

A metodologia é qualitativa, em que a pesquisa passa pela coleta, análise e interpretação de

informações (YIN, 2001). A escolha pela pesquisa exploratória proporciona maior

70

familiaridade com o problema, o planejamento é flexível, possibilitando a visualização de

variados aspectos relacionados ao fato estudado (GIL, 2002).

3.1 Delineamento da pesquisa

Para Yin (2001) o estudo de caso de caráter exploratório tem como propósito estabelecer um

debate sobre o tema estudado e o desejo de compreender um fenômeno contemporâneo no

cotidiano real. Por se tratar de uma pesquisa acadêmica de produtos comerciais, por

considerações pragmáticas, a coleta de dados se dá através da realização de uma pesquisa

documental em entrevistas, falas e relatos que permitem compreender se as sandálias Jailson

Marcos são produtos de moda ou arte através de investigação no processo criativo.

3.2 Etapas da pesquisa

Este estudo seguiu proposta de Gil (2010), de acordo com esquema a seguir:

Figura 27 - Etapas da pesquisa

Fonte: Gil (2010)

3.3 Processo de coleta de dados

Essa pesquisa foi conduzida através de uma análise documental, sendo assim, a primeira

atividade da pesquisa foi conhecer o clipping coletado por JM no período de 1992 a 2015.

Durante esse período, foram coletados 116 publicações que serviram de matéria bruta para as

Formulação do problema

As sandálias Jailson Marcos são produtos de moda ou de arte?

Determinação

dos objetivos

Geral e

Específicos

Caracterização

da pesquisa

Exploratória

Elaboração dos

instrumentos para coleta de

dados

Pesquisa documental

Técnica de análise

Análise de conteúdo

Análise e

discussão dos

resultados

Considerações

finais

71

análises. Com esse material, foi possível entender a evolução estética dos produtos e o

crescimento profissional no mercado de trabalho, assim como a importância de realizar essa

pesquisa para a dissertação do mestrado.

Compreender a percepção de JM no momento de criação dos calçados de sua marca, por meio

de dados secundários impressos e digitais, possibilitou melhor desempenho na evolução da

pesquisa qualitativa, pois, além das informações obtidas através das falas na entrevistas, as

descrições da vida social também poderão ser fonte de informação para novas pesquisas

(GASKELL, 2002).

3.3.1 Estudo de caso

Entre as estratégias de métodos de pesquisa qualitativa, o estudo de caso é um dos mais

utilizados quando se pretende examinar os acontecimentos contemporâneos, não permitindo a

manipulação de comportamentos relevantes. Segundo Yin (2001) “o estudo de caso conta com

muitas das técnicas utilizadas pelas pesquisas históricas, mas acrescenta duas fontes de

evidências que, usualmente, não são incluídas no repertório de um historiador: observação

direta e série sistemática de entrevistas” (YIN, 2001, p.18).

Apesar da possível sobreposição entre estudo de caso e pesquisas históricas, o estudo tem poder

de diferenciar-se através da capacidade de lidar, além do estudo histórico, com grande universo

de evidências, ou seja, documentos, entrevistas, observações e artefatos. Por se tratar de uma

técnica em que os procedimentos metodológicos não são definidos, em algumas situações,

podem surgir vieses que podem comprometer a qualidade do resultado na pesquisa. Para

minimizar esse efeito, faz-se necessário maior rigor na coleta e análise de dados (YIN, 2001).

A opção por estudo de caso se deu devido à importância como estratégia contemporânea da

pesquisa e a possibilidade de investigação direcionada à pergunta do estudo. O aprofundamento

lógico em pesquisas sociais, na atualidade, tem sido cada vez mais utilizado, funcionando como

um investigador do desejo de se compreender fenômenos sociais complexos.

Para Yin (2001), as questões utilizadas na pergunta “como” e “por que” são ambivalentes e

necessitam de esclarecimentos.

Em resumo, o estudo de caso permite uma investigação para se preservar as

características holísticas e significativas dos eventos da vida real, tais como ciclos

de vida individuais, processos organizacionais e administrativos, mudanças ocorridas

em regiões urbanas, relações internacionais e a maturação de alguns setores (YIN,

2001, p.13).

72

Em síntese, o estudo de caso, amplamente utilizado em pesquisas sociais, consiste em um

aprofundamento exaustivo do estudo do objeto, permitindo, dessa forma, um maior e mais

detalhado conhecimento sobre o tema estudado. Por algum tempo, não foi considerado como

técnica científica, no entanto, na contemporaneidade, é perceptível a forma crescente da

utilização do estudo de caso com diversos propósitos (GIL, 2002).

A pesquisadora estudou um único caso como objeto de pesquisa, com interesse em pesquisar

um caso específico, particular com o propósito de estabelecer uma discussão e promover debate

sobre o tema, o caso, para compreensão de um fenômeno individual, em suma, o estudo de caso

único não representará uma “amostragem”, pois tem como objetivo fazer uma análise

generalizante, estudar uma única organização.

3.3.2 Pesquisa documental

A riqueza de informações contidas em uma pesquisa documental possibilita o resgate histórico,

a construção da relação entre informações que ajudam a identificar conceitos, comportamentos,

assim como a maturação e a evolução do tema pesquisado. A pesquisa documental pode se

constituir numa técnica valiosa de abordagem de dados qualitativos, seja complementando as

informações obtidas por outras técnicas, seja desvelando aspectos novos de um tema ou

problema.

Trata-se de uma técnica exploratória de investigação científica com prévia organização e

catalogação das informações para análises posteriores. Para a coleta de dados, faz-se necessário

a aplicação de instrumentos elaborados com uso da técnica selecionada mais apropriada,

seguindo algumas etapas.

Após a catalogação, de acordo com Lakatos (2003), o pesquisador deve seguir algumas etapas:

seleção, codificação e tabulação. Na seleção, primeiro momento, acontece o exame detalhado

dos documentos, observando os aspectos mais importantes de acordo com os objetivos

específicos da pesquisa, e registrando a quantidade de dados disponíveis com atenção para

evitar informações incompletas ou detalhamento insuficiente. O agrupamento dos dados por

categoria que acontecem na codificação são gerados códigos para facilitar o manuseio. A

tabulação facilita a identificação da relação entre os dados. Trata-se de conhecer, categorizar,

analisar e elaborar sínteses sobre o objeto de pesquisa (SILVA et al, 2009).

Os dados coletados em documentos previamente catalogados, como jornais que formam um

clipping (impresso e eletrônico), blogs, sites e canais do youtube mapeiam o campo da pesquisa

73

documental e formam o corpus da pesquisa, esgotando todas as pistas até sua saturação, ou seja,

quando as informações se tornarem repetitivas.

Na construção do corpus faz-se necessário a criação de uma tabela quantificando os

documentos pesquisados em um período de tempo da vida profissional do pesquisado. Para esta

dissertação de mestrado, a busca por informações em 116 publicações que possibilitaram a

coleta de dados seguiu-se de acordo com o quadro a seguir:

Figura 28 - Corpus pesquisado

Período Clipping

Jornal

impresso

Clipping

Jornal

eletrônico

Entrevistas

Site

YouTube

Blogs

1992 2

1996 3

1998 3

1999 3

2000 4

2001 2 1

2002 13

2003 16

2004 14 1

2005 13

2006 2

2007 5

2008 5

2009 1

2010 6 2

2011 5

2012 2 1

2013 2 1 1

2014 4 1

2015 1 1 1

101 8 3 4

Fonte: dados da pesquisa, 2015

Após análise do clipping aconteceu a seleção dos temas mais recorrentes e pertinentes à

pesquisa, localizando 52 publicações com informações, citações e depoimentos que

contemplam a arte, moda, artesanato, processo criativo e fontes de inspiração.

De acordo com Silva et al (2009), a extração das informações segue um método, um roteiro de

procedimentos, utilizadas como fonte de informações que buscam coletar dados que servirão

para elucidar questionamentos constantes nas fontes primárias, ou seja, documentos sem o

tratamento analítico prévio.

74

A organização das informações e sua categorização acontece através da localização, coleta de

citações e entrevistas que fazem parte do pensamento sobre temas específicos em um período

de tempo da vida profissional do sapateiro Jailson Marcos.

Tendo como intuito ler nas entrelinhas dos dados coletados, compreender o pensamento e as

percepções através da delimitação dos conceitos e sentidos das palavras dentro do contexto da

frase, do texto falado ou não. Que acontece através da reunião das partes e os aspectos

relevantes ao tema e expressões recorrentes pesquisados. São dispositivos comunicativos que

se transformam na construção de versões sobre eventos de realidades sociais. Relevante a

preocupação de observar a origem do documento, para quem foi produzido, em qual contexto

e, por fim, qual o significado da informação.

Na categorização, as informações foram separadas de acordo com o tema pesquisado,

resultando em seis categorias. que agrupadas deram origem ao quadro que pode ser visto no

Apêndice A.

75

3.3.3 Análise de conteúdo

A análise desta dissertação se deu através da interpretação do conteúdo contido nas palavras

que representam o pensamento e a ideologia trabalhada pelo sapateiro Jailson Marcos.

Referenciado pela teoria estudada ao longo desta pesquisa das áreas de moda, arte, filosofia,

consumo, hedonismo, encantamento e marketing, foi possível analisar as categorias de análise

que se referem aos objetivos específicos da pesquisa.

Objetivo específico 1: Investigar a percepção de arte no processo criativo de Jailson Marcos.

Categoria 1 – arte x processo criativo

Para atender a proposta do Objetivo específico 1, através da pesquisa documental, a existência

da percepção da arte no processo criativo de JM através dos documentos analisados à luz da

filosofia de Schopenhauer.

ARTE

Sempre soube que meu ofício estaria atrelado ao universo da arte (16/10/2014 -

Empreendedores da Moda: Jailson Marcos, o artesão dos calçados -

www.cultura.pe.gov.br/canal/designemoda/empreendedores-da-moda-jailson-marcos-

o-artesao-dos-calcados/).

Sempre me interessei pela arte e, em geral, (...)bastou isso para me identificar com

essa arte (24/06/2013 - Sandálias ganham design diferenciado no sertão – Entrevista a

Lilian Pace no GNT Fashion -

gnt.globo.com/programas/gntfashion/videos/2651837.htm).

Foi aí que descobri minha verdadeira arte (06/11/2010 - Jailson Marcos, o mundo

aos pés - brunosoutomaior.blogspot.com.br/2010_11_01_archive.html).

Assim descobri minha arte (17/10/10 - Com nome e sobrenome – Suplemento Jornal

do Commércio).

Trabalho com arte e produzo muitos modelos sob encomendas (30/04/2001 - Pulo

do gato dos artesanais - www.old.pernambuco.com/diario/2001/05/05/

empregos6_0.html).

ARTESANAL / ARTESÃO

Meu trabalho é completamente artesanal (19/09/2015 - Conhecendo a coleção de

sapatos do designer Jailson Marcos – Em entrevista ao blog da Dany -

www.youtube.com/watch?v=UTJCtQ5PQLU).

Sou artesão mesmo. Sapateiro, de verdade, sabe? E tenho orgulho de dizer que

comecei na raça, sozinho (16/10/2014 - Empreendedores de moda: Jailson Marcos, o

76

artesão dos calçados - www.cultura.pe.gov.br/canal/designemoda/empreendedores-da-

moda-jailson-marcos-o-artesao-dos-calcados/).

Pelo material analisado, as falas do sapateiro fazem inferência ao conceito de arte utilizado

como sinônimo de produto manufaturado, artesanal. Tendo como objetivo manter a tradição

artesanal, trabalhar peças exclusivas e personalizadas. De acordo com as falas do sapateiro, é

possível verificar que seu trabalho, em diversas circunstâncias se autodenominando como tal,

se relaciona a conceitos de artesanato, de arte e de produtos de moda interligados.

Para Schopenhauer (2001), a arte reproduz ideias (eternas) que são concebidas da contemplação

pura, a partir de uma tela em branco, ou seja, uma arte não alimenta outra. Harashima (2013)

traz para reflexão o artesanato como uma atividade antiga, que remonta ao início da história

social humana. Ao longo do tempo, tem proporcionado trabalho e renda, assim como tem sido

valorizada pelas atividades turísticas através da ressignificação contemporânea do artesanato e

do fortalecimento da identidade do artesão.

A distinção entre arte e artesanato foi citada por Solomon (2002), ao buscar referências em um

movimento que defende o artesanato criativo, valoriza o trabalho manual na medida que para

ele, produto de arte é desprovido de função funcional, sendo trabalhado com a finalidade da

contemplação estética que, além disso, desempenha função utilitária, o Arts and Crafts.

Complementa o pensamento citando diferenças na produção, enquanto a arte é pensada de

forma original e sutil, enquanto que o artesanato possibilita a produção mais rápida. Uma arte

mais voltada à natureza (MACKENZIE, 2010), com retorno aos ofícios manuais.

De acordo com Mendonça (2013), a artwear é considerada uma das mais importantes

manifestações no universo da arte contemporânea, que aconteceu através do cruzamento dos

mundos da moda e das artes, quando artistas (escolas de arte) começaram a criar peças tendo

como base elementos têxteis que se transformaram em obras que vestiam o corpo. Artistas

plásticos produziram peças do vestuário que deram origem à arte vestível. O movimento segue

a mesma linha de raciocínio produtivo do Arts and Crafts.

Categoria 2 – moda x processo criativo

Objetivo específico 2: Compreender a percepção de moda no processo criativo de Jailson

Marcos.

77

Na categoria 2, busca-se analisar a percepção da moda no processo criativo através dos

documentos analisados.

A criação dos calçados apresentados está baseada no conceito de que moda se move

em busca de conhecimento (06/11/2010 - Jailson Marcos, o mundo aos pés -

http://brunosoutomaior.blogspot.com.br/2010_11_01_archive.html).

DIFERENTES/DIFERENCIADOS

Eu adoro recriar saltos, buscar diferencial. Isso é muito importante na moda. E o

mais bacana disso é que tem muito ainda para ser feito, criado. E me surpreendo a cada

criação (18/10/2015 – Editorial – www.jailsonmarcos.com).

Apesar de toda a simplicidade, os turistas adoram o conforto do ateliê e ficam surpresos

com o design diferenciado das minhas sandálias (25/09/2014 - Saiba onde comprar o

melhor da moda pernambucana -

www.diariodepernambuco.com.br/app/noticia/turismo/2014/09/25/interna_turismo,53

1724/descubra-onde-comprar-o-melhor-da-moda-pernambucana.shtml).

Minhas sandálias criam uma família. Muitos modelos partem de uma mesma ideia e vão

se multiplicando em peças diferentes (22/10/2014 – Um novo espaço para Jailson

Marcos - http://portaltagit.ne10.uol.com.br/moda/25184/um-novo-espaco-para-jailson-

marcos/).

Não trabalho com o comum, na verdade fujo dele. Gosto de produzir uma moda

diferente. Só fico satisfeito quando visualizo o que fiz em 360° e vejo que todos os

ângulos estão diferentes (12/12/2013 - O talento inconfundível de Jailson Marcos -

Chá da tarde com Rosângela Société - rosangelasociete.wordpress.com/tag/rosangela-

gomes/).

As plataformas são as que eu mais gosto de fazer. Elas fogem um pouco do

convencional, pois quando criamos em cima de uma ideia, há mais possibilidades

(06/11/2010 - Jailson Marcos, o mundo aos pés -

http://brunosoutomaior.blogspot.com.br/2010_11_01_archive.html).

Queria algo moderno, mas integrado à nossa cultura. (01/10/2010 – a arte dele está nos

pés - Supl_JOR_JM 01/10/2010).

Acredito que o mercado sempre abre as portas para quem faz um produto diferenciado.

Mas é importante persistir e buscar inspiração dentro de cada um mesmo. Abomino a cópia (17/12/2006 - Jailson: sapateiro com grife – Suplemento Jornal do

Commércio).

Meu trabalho é um mix. Peças diferentes do que a gente encontra nas sapatarias (19/10/2004 - Estilistas antecipam o verão - Caderno Viver made in Recife - Diário de

Pernambuco).

No que se refere à análise sobre o que é Moda para JM, o discurso tende para conceituar moda

como sinônimo de produtos do vestuário com estética diferenciada. No entanto, a teoria mostra

que a efemeridade da renovação da moda promovida pelo consumo e descarte ocorre com

78

velocidade feroz, ou seja, ao serem lançados já estão programados para saírem de cena (LIMA,

2006; LIPOVETSKY, 2009). Vive-se um tempo acelerado, com uma moda veloz e novas

coleções sazonais que se encontram em constantes mudanças, pressionado pelo mercado que

exige produtos novos, forçando uma constante renovação. Dessa forma, para as autoras

supracitadas, fazer moda não é somente substituir a moda do ano anterior, mas desclassificá-la

(CIDREIRA, 2005; MESQUITA, 2004).

EXCLUSIVAS/PERSONALIZADAS

A demanda aumentou muito, mas quero manter as coisas exclusivas,

personificadas (28/03/2012 – As sandálias de Jailson Marcos -

www.joaoalberto.com/2012/03/28/as-sandalias-de-jailson-marcos/).

EXPERIMENTOS

Para dar continuidade ao meu processo criativo eu experimento todos os tipos de

materiais: cana, couro, casca de árvore, palha (18/10/2015 – Editorial –

www.jailsonmarcos.com).

Essa coleção específica tem uma brincadeira. Estou dando um ressignificado às

criações que já fiz, brincando com elas. Pego um bico que vira um traseiro, um cabedal

de cobre vira um traseiro… Eu gosto disso. (24/10/2014 – Um novo espaço para Jailson

Marcos - http://portaltagit.ne10.uol.com.br/moda/25184/um-novo-espaco-para-jailson-

marcos/).

Pego algo antigo e vou inventando, avaliando se dali pode sair alguma coisa nova…

Eu só consigo definir um modelo quando olho para ele em 360 graus. Em cada ângulo,

vejo uma forma nova (22/10/2014 – Um novo espaço para Jailson Marcos -

http://portaltagit.ne10.uol.com.br/moda/25184/um-novo-espaco-para-jailson-marcos/).

Não quero nada industrializado nas minhas sandálias. Prefiro a experimentação, que

me permite criar organicamente peças cheias de identidades/referências culturais de

nossa terra, sem perder de vista o conforto e a qualidade (16/10/2014 - Empreendedores

de moda: Jailson Marcos, o artesão dos calçados -

www.cultura.pe.gov.br/canal/designemoda/empreendedores-da-moda-jailson-marcos-

o-artesao-dos-calcados/).

Através das falas de JM localizadas através da pesquisa documental, percebe-se que o sapateiro

se pauta na construção de produtos diferentes, pouco convencionais, sendo o diferencial um dos

seus objetivos. De acordo com Lipotestky (2009), no universo da moda, os produtos cotidianos

seguem uma metodologia de design, realiza-se pesquisas de tendências que incluem estudo

sobre formas, cores e conceitos, para a criação de produtos direcionados a um público

79

específico, desde o início do processo criativo, passando pelo momento da produção até o

consumo. Enquanto que para Walter Benjamim, a moda é a “eterna recorrência” do novo que

potencializa a velocidade com que se renova e provoca o esquecimento de produtos

anteriormente desejados. Produtos de moda no lançamento já tem data marcada para sair de

cena, o que vai contrário aos produtos JM que seguem produzidos anos após seu lançamento.

Na literatura especializada percebe-se que existe uma diferença entre produtos de moda e

produtos do vestuário. Os produtos de moda, geralmente, duram o período de uma estação.

Seguindo essa linha de pensamento, Mesquita (2004) e Cidreira (2005) refletem sobre o ciclo

de renovação dos produtos de uma coleção que rapidamente será consumida e renovada,

substituindo a anterior que, com a mesma velocidade, também será descartada e substituída.

Jailson Marcos experimentou diversos materiais e técnicas, o papier mârchê, palha, cortiça,

plásticos, couro e a mistura destes. Involuntariamente, no início da carreira, seu tabalho fez

referências ao do italiano Salvatore Ferragamo (1898-1960), através de suas formas ousadas,

das composições, da irreverência, da mistura de materiais, texturas, harmonia das cores e das

características do trabalho experimental e artesanal (MARCOS, 2015). Segundo Ferragamo, de

acordo com Choklat (2012), no momento da criação, o designer não pode ter medo de

experimentar.

Categoria 3: Ideias x processo criativo

Objetivo específico 3: Descobrir como surgem as ideias no processo criativo de Jailson Marcos.

Para dar continuidade ao meu processo criativo eu experimento todos os tipos de

materiais: cana, couro, casca de árvore, palha (18/10/2015 – Editorial –

www.jailsonmarcos.com).

IDEIA

Desses desenhos, surgem várias ideias, que dou forma nos moldes que já tenho

(16/10/2014 - Empreendedores de moda: Jailson Marcos, o artesão dos calçados -

www.cultura.pe.gov.br/canal/designemoda/empreendedores-da-moda-jailson-marcos-

o-artesao-dos-calcados/).

As plataformas são as que eu mais gosto de fazer. Elas fogem um pouco do

convencional, pois quando criamos em cima de uma ideia, há mais possibilidades

(06/11/2010 - Jailson Marcos, o mundo aos pés -

http://brunosoutomaior.blogspot.com.br/2010_11_01_archive.html).

80

Capto as ideias e trago para o meu universo. (06/11/2010 - Jailson Marcos, o mundo

aos pés - brunosoutomaior.blogspot.com.br/2010_11_01_archive.html).

ARQUITETURA

Tudo. Em geral artes plásticas, arquitetura, eu gosto de ver forma, é no universo,

em geral, e eu já vejo essas formas no calçado. (30/12/2014 -

http://nobalaio.tvpe.tv.br/2015/01/07/nobalaio-30122014-retrospectiva-2014/).

Pego um bico que vira um traseiro, um cabedal de cobre vira um traseiro… Eu gosto

disso. E o bacana é captar uma forma nova a partir de algo que já existe. Mas,

claro, sempre preocupado com a harmonização das linhas, das curvas, da

arquitetura (24/10/2014 – Um novo espaço para Jailson Marcos -

http://portaltagit.ne10.uol.com.br/moda/25184/um-novo-espaco-para-jailson-marcos/).

Me inspiro muito na arquitetura, na geometria, nas formas, nas curvas – isso está muito

ligado ao meu trabalho. (22/10/2014 – Um novo espaço para Jailson Marcos -

http://portaltagit.ne10.uol.com.br/moda/25184/um-novo-espaco-para-jailson-marcos/).

Dialogo também com a geometria e as paralelas. Gosto muito de arquitetura

(25/09/2014 - Saiba onde comprar o melhor da moda pernambucana -

www.diariodepernambuco.com.br/app/noticia/turismo/2014/09/25/interna_turismo,53

1724/descubra-onde-comprar-o-melhor-da-moda-pernambucana.shtml).

Elas podem vir da natureza, das artes plásticas e da arquitetura, como as volutas

da arquitetura barroca, além dos novos prédios em construção no mundo

(06/11/2010 - Jailson Marcos, o mundo aos pés -

brunosoutomaior.blogspot.com.br/2010_11_01_archive.html).

As plataformas são as que eu mais gosto de fazer. Elas fogem um pouco do

convencional, pois quando criamos em cima de uma ideia, há mais possibilidades.

(06/11/2010 - Jailson Marcos, o mundo aos pés -

http://brunosoutomaior.blogspot.com.br/2010_11_01_archive.html).

Capto as ideias e trago para o meu universo. Elas podem vir da natureza, das artes

plásticas e da arquitetura, como as volutas da arquitetura barroca, além dos novos

prédios em construção no mundo (06/11/2010 - Jailson Marcos, o mundo aos pés -

http://brunosoutomaior.blogspot.com.br/2010_11_01_archive.html).

Me inspiro na desconstrução da arquitetura moderna, no design de móveis, em

tudo o que vejo pela cidade (01/10/2010 – a arte dele está nos pés - Supl_JOR_JM

01/10/2010).

Mercado São José, alfaias, boias de pescar, volutas de arquitetura barroca, gradeados e

sacadas da Rua da Aurora, antena parabólica, bandeira de Pernambuco, cana de açúcar,

tudo serve de inspiração para mim. O universo me inspira (Dez/2007 - Inovação nos

calçados é sinônimo de sucesso – Agenda cultural/dez 2007- Recife – PE).

Utilizo o desconstrutivismo (sic) da engenharia moderna, a exemplo do prédio da Casa

do Comércio (Av. Tancredo Neves, em Salvador) (Caderno 2ª_A Tarde 09/12/2003).

81

Tudo pode ser uma fonte de inspiração, que é ampla. O discurso desse bloco tende para a

arquitetura, sua desconstrução, formas geométricas. Dessa forma, JM vai buscar referências

arquitetônicas para o formato dos seus produtos, através da desconstrução de formas, da

sobreposição de elementos, da verticalização de alguns produtos ou de usos de elementos da

arquitetura no produto. As formas capturadas com o olhar podem estar nas ruas, nos mercados

ou entorno da cidade. A arquitetura que trabalha formas, luz, gravidade e resistência, de acordo

com Schopenhauer (2001).

Para melhor entendimento do conceito de ideia, uma analogia ao pensamento de Löbach (2001)

que busca referência no design ao trazê-lo como

Uma ideia, um projeto ou um plano para a solução de um determinado. O design

consiste na codificação da ideias para, com a ajuda dos meios correspondentes,

permitir a sua transmissão aos outros. Já que nossa linguagem não é suficiente para

tal, a confecção de croqui, projetos, amostras, modelos constitui o meio de tornar

visivelmente receptível a solução (LÖBACH, 2001, p.16).

UNIVERSO

Tudo. Em geral, artes plásticas, arquitetura, eu gosto de ver forma, é no universo, em

geral, e eu já vejo essas formas no calçado. (30/12/2014 -

http://nobalaio.tvpe.tv.br/2015/01/07/nobalaio-30122014-retrospectiva-2014/).

Capto as ideias e trago para o meu universo. Elas podem vir da natureza, das artes

plásticas e da arquitetura, como as volutas da arquitetura barroca, além dos novos

prédios em construção no mundo (06/11/2010 - Jailson Marcos, o mundo aos pés -

http://brunosoutomaior.blogspot.com.br/2010_11_01_archive.html).

Elas podem vir da natureza, das artes plásticas e da arquitetura, como as volutas

da arquitetura barroca, além dos novos prédios em construção no mundo(06/11/2010 -

Jailson Marcos, o mundo aos pés -

brunosoutomaior.blogspot.com.br/2010_11_01_archive.html)

Mercado São José, alfaias, boias de pescar, volutas de arquitetura barroca, gradeados e

sacadas da Rua da Aurora, antena parabólica, bandeira de Pernambuco, cana de açúcar,

tudo serve de inspiração para mim. O universo me inspira (Dez/2007 - Inovação nos

calçados é sinônimo de sucesso – Agenda cultural/dez 2007- Recife – PE).

Nas falas presentes nas entrevistas de JM, é possível perceber que o artesão utiliza-se das

referências artísticas, da desconstrução e reconstrução de formas que passeiam por um universo

imaginário, produzindo novas formas, novas soluções.

SALTO

82

Eu lembro que uma das primeiras sandálias que fiz, o salto era o pé de um guarda roupa,

então procurei um torneador, mandei ele tornear e virou um salto. Então é isso, esse

universo em si que me inspira. (30/12/2014 -

http://nobalaio.tvpe.tv.br/2015/01/07/nobalaio-30122014-retrospectiva-2014/).

Vi uma boia de pescar e pensei: isso dá um salto (01/10/2010 – a arte dele está nos pés

- Supl_JOR_JM 01/10/2010).

O sentido das palavras no discurso sobre os saltos fantasiosos e as formas não convencionais

remetem o leitor a pensar, de novo, na experimentação, na busca por novas formas,

diferenciadas, inovadoras.

Os saltos que alimentam o fetiche, que estimulam o consumo, que remetem à elegância, poder

e sensualidade, refletindo o estilo, gosto e status social (SEFERIN, 2012).

Na sua linha criativa, os saltos passeiam por um universo imaginário, fantasioso, que desafia o

equilíbrio e a gravidade, repensa uma tradição aliada à uma modernidade futurística, a ousadia

na inovação das formas para a construção da sua identidade estética-artística, visível no seu

trabalho. Através da necessidade de transformação, da metamorfose individual, do desejo de

mudar, através da renovação efêmera que o atual mercado impõe ao consumidor (SEFERIN,

2012). Os sapatos históricos e as histórias contidas nos sapatos individuais e seu caminhar, tanto

ao longo da história social quanto no âmbito individual.

PALMILHA

Fiz uma brincadeira, eu prolonguei a palmilha com o cabedal cobrindo os dedos dos

pés, e isso virou identidade no meu trabalho. (30/12/2014 -

http://nobalaio.tvpe.tv.br/2015/01/07/nobalaio-30122014-retrospectiva-2014/).

Essa essência nordestina não é algo que eu coloco nos sapatos propositalmente. Ela

está nas minhas raízes (25/09/2014 - Saiba onde comprar o melhor da moda

pernambucana -

www.diariodepernambuco.com.br/app/noticia/turismo/2014/09/25/interna_turismo.53

1724/descubra-onde-comprar-o-melhor-da-moda-pernambucana.shtml).

Observando suas tiras que se cruzam para proteger os pés desenvolvi duas linhas. Em

uma, resgatei as mesmas características, apenas redesenhando a parte do dorso do pé.

Na outra, estilizei as sandálias usadas em regiões arenosas, como o sertão e o

deserto, virando a ponta de maneira acentuada (26/07/2014 - DP online

http://www.old.pernambuco.com/diario/2004/07/26/ vivermulher1_0.html).

Fiz uma releitura dos sapatos sertanejos, arredondando e emborcando o bico das

sandálias, e isso agradou os antenados com a moda quanto os mais desligados

(Dez/2007 - Inovação nos calçados é sinônimo de sucesso – Agenda cultural/dez 2007-

Recife – PE).

83

Apesar das informações quanto a autoria deste formato, foi localizada que este é o design

utilizado nas sandálias inspiradas em modelos pré-dinásticos, confeccionadas em ouro de

Psusennes I (1036 – 939 a.C.) - acervo do Museu Egípcio do Cairo (Fig. 31). No entanto, o

grande diferencial do sapateiro Jailson Marcos foi trazer referências estéticas utilizadas quase

um século antes de Cristo para a atualidade, funcionando como diferencial de seus produtos e

tornando-a marca registrada da sua marca.

Figura 29 - Palmilha estendida JM e modelo pré-dinástico

Fonte: Jailson Marcos Fonte: Museu Egípcio do Cairo

INSPIRAÇÃO

Ai comecei a.... a entender esse universo do calçado (19/09/2015 - Conhecendo a

coleção de sapatos do designer Jailson Marcos – Em entrevista ao blog da Dany -

www.youtube.com/watch?v=UTJCtQ5PQLU).

Sou um criador, e isso tudo me instiga a criar ainda mais (24/10/2014 – Um novo

espaço para Jailson Marcos - http://portaltagit.ne10.uol.com.br/moda/25184/um-novo-

espaco-para-jailson-marcos/).

Gostava de criar e inventar coisas (16/10/2014 - Empreendedores da Moda: Jailson

Marcos, o artesão dos calçados - www.cultura.pe.gov.br/canal/designemoda/

empreendedores-da-moda-jailson-marcos-o-artesao-dos-calcados/).

São nos traços dos desenhos que sempre surge uma ideia e é com ela que busco

atingir a minha missão, o diferencial (07/05/2014 - Made in Pernambuco -

www.azdecor.com.br/tag/jailson-marcos/).

Acompanho muitos trabalhos feitos aqui e priorizo a essência da nossa cultura”, “Meu

trabalho pensa a moda dentro de uma cultura regional (07/05/2014 - Made in

Pernambuco - www.azdecor.com.br/tag/jailson-marcos/).

Acredito que o mercado sempre abre as portas para quem faz um produto diferenciado.

Mas é importante persistir e buscar inspiração dentro de cada um mesmo. Abomino a cópia (17/12/2006 - Jailson: sapateiro com grife – Suplemento Jornal do

Commércio).

84

Em alguns relatos, o sapateiro cita as sandálias sertanejas como seu ponto de partida para

responder a pergunta. Utilizando-se, em algumas situações, da memória discursiva,

parafraseando a si mesmo, sustentando palavras ou frases já ditas, o que fortalece a construção

dos sentidos (GOMES, 2006).

Pelo que se pode observar, percebe-se, através das falas contidas nas entrevistas veiculadas nas

mídias, que o sapateiro utiliza-se de experimentos na busca por produtos diferentes do que o

mercado oferece. Seu processo criativo tanto pode ter origem através da recriação de produtos,

como através de traços, desenhos, croquis, ou seja, uma ideia o conduz a outra, suas próprias

criações são referências para novas, fato que o surpreende a cada criação. Em alguns protocolos,

é possível observar a referência a elementos da tradição cultural, e geométricos, à arquitetura.

Embora citado algumas vezes, o tema cultura não foi analisado porque não estava contemplado

nos objetivos dessa dissertação.

85

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esta pesquisa procurou investigar um produto do vestuário no mercado por provocar desejos,

alimentar necessidades, fortalecer emoções e encantar consumidores. Procurando compreender

se as sandálias Jailson Marcos são produtos de moda ou de arte, a análise possibilitou esclarecer

os objetivos específicos desse estudo.

Como forma de organizar as ideias em torno do tema e facilitar a compreensão do leitor, foi

elaborado um esquema teórico que reflete as principais variáveis abordadas na análise e que

são retomadas neste capítulo.

A construção de produtos de moda segue uma metodologia para o planejamento e a criação de

uma coleção pautada em uma pesquisa de tendências que é resultado do trabalho dos bureaux

de tendências presentes e conectados em vários países. De forma que, na sociedade globalizada,

é frequente encontrar exemplos de peças do vestuário com muita semelhança em diversas partes

do planeta, fruto de uma globalização que tem grande influência no mundo da moda.

Figura 30 - Resultado da Análise

Fonte: dados da pesquisa, 2015

Como resultado da pesquisa (Fig. 32), pode-se perceber que os calçados artesanais de JM são

carregados de referências da arquitetura moderna brasileira, a estética, a geometrização, a

desconstrução e as assimetrias trabalhadas de forma harmônica e diferenciada. Elementos

arquitetônicos foram citados como referência em várias entrevistas e é perceptível no resultado

dos seus trabalhos.

Por sua formação em Educação artística, traz na bagagem as referências de arte. Entendendo

arte como área de expressão artística relacionada com técnicas e habilidades individuais, tendo

86

o sentimento do artista dentro de si, funcionando como uma tela em branco em que o artista a

transforma com liberdade, saindo de nobres inspirações do mundo imaginário para a realização

física de ideias ousadas e inovadoras.

Tal constatação torna-se evidenciável apenas através da análise dos fragmentos documentais

levantados na elaboração desta dissertação. Ao contrastar a fonte da ideia com seu produto final,

apenas olhos treinados podem julgar senso matemático ou modelos tradicionais na inspiração

de Jailson Marcos. Seu estilo é, acima de tudo, resultado de uma ideia passante, viva, tal como

a metafísica do belo atribui aos entes entre a representação e a vontade.

Figura 31 - Arquitetura moderna

Fonte: Jailson Marcos, 2015 Fonte: Revista das dicas, 2015

Figura 32 - As formas arquitetônicas

Fonte: casanovah, 2015 Fonte: Jailson Marcos, 2015

Em vários momentos, o sapateiro cita que utiliza-se de referências culturais no seu processo

criativo, alimentando-se, assim, da fonte do cangaço e da estética das alpargatas dos vaqueiros

nordestinos, assim como de elementos culturais da região nordestina.Trata-se de um trabalho

artesanal, como resultado de análise, é possível observar que os produtos fazem alusão no que

87

se refere aos materiais utilizados, como a mistura no uso do couro e palha, que são produtos

que referenciam o nordeste brasileiro.

Sob tal perspectiva, é possível questionar o papel desta inspiração original em relação ao

conceito tradicional de moda, o qual não exclui tais possibilidades de seu repertório criativo.

Na moda, então, os produtos cotidianos seguem tendências, formas, cores e conceitos, são

direcionados a um público específico, desde o início do processo criativo, passando pelo

momento da produção até o consumo. Os produtos de moda, ao contrário das criações de JM,

tem vida útil presumidamente resumida, ao serem apresentados ao mercado consumidor já tem

data marcada para sair de cena.

Finalmente, sobre o seu processo criativo, o artesão relata, através das entrevistas, que sua

inspiração é alimentada do universo, que tudo pode ser uma referência, repetindo, com

freqüência, duas principais fontes que são a desconstrução das formas arquitetônicas e a

tradição cultural através das sandálias sertanejas (Fig. 35), como comentado anteriormente.

Figura 33 - Fonte de inspiração

Fonte: archdaily, 2015 Fonte: portal do cangaço, 2015

Seu trabalho, enfim, foca o diferencial no processo criativo. Percebe-se que o sapateiro faz uma

conexão entre passado e futuro, transformando as formas em produto do vestuário presente.

Inspira-se na estética da arquitetura moderna para produzir de forma artesanal, como os antigos

sapatateiros, produtos que alimentam o desejo, estimulam a face hedônica do consumo,

produzindo encantamento nos consumidores. Curioso observar que produtos criados em

coleções passadas transformam-se em peças atemporais e continuam sendo consumidas e

encantando seus fieis e novos consumidores. Nessa perspectiva, os produtos JM fazem uma

88

junção de moda, arte, artesanato e arquitetura, produzindo produtos através da arte vestível, do

Wearable Art.

Pragmaticamente, Wearable Art está no sentido oposto à moda, percorre uma trajetória com

liberdade de criação com o propósito de ser vestível, independente dos modismos. Para tanto,

ao adentrar o universo do caso, pode-se afirmar que Jaílson Marcos trabalha a conexão entre

arte, artesanato, arquitetura e vestuário, seguindo os preceitos do Wearable Art, que não se

rende ao fast fashion, ao sistema da moda que é propenso a constantes mudanças para o público

ávido por mudanças, em um breve espaço de tempo. Jailson Marcos faz um elo entre o passado

e o futuro, uma ponte que retorna ao passado, ao Arts and Crafts, direcionando seu trabalho ao

Wearable Art, ou seja, a arte vestível.

4.1 Limitações

Havia o agendamento e a confirmação para realização de uma entrevista em profundidade com

o sapateiro Jailson Marcos, no entanto, a poucos minutos do horário previsto, o mesmo se

comunica informando estar doente e solicitando adiamento da entrevista, que foi remarcada e

cancelada mais duas vezes. Com o avanço da data, optou-se por substitui-la por uma pesquisa

documental, processo que foi facilitado pelo material previamente catalogado e pela

interatividade da comunicação e sua democratização que pontencializa a disseminação das

informações através da internet. Embora haja prejuízo na troca das técnicas, a pesquisa

documental foi realizada com todo o rigor metodológico recomendado pela literatura para que

os resultados fossem relevantes.

4.2 Sugestões para pesquisas futuras

A pesquisa mostra que esse é um tema amplo e com muitas lacunas a serem preenchidas,

pesquisadas. A evolução estética, o significado semiológico dos produtos Jailson Marcos, nos

20 anos de existência da marca, certamente, revelará a grande evolução estética, com

possibilidade de relacioná-la ao tempo vivido pelo artesão.

Assim como estudar o encantamento produzido nos consumidores que compram e recompram

seus produtos anos após haverem sido lançados no mercado, fato que foge à lógica do consumo

de moda.

89

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95

APÊNDICE A

C

ateg

ori

as

PR

OT

OC

OL

O

TÍT

UL

O

DA

TA

LO

CA

LIZ

ÃO

TE

XT

O

AR

TE

#1 Jailson

Marcos, o

mundo aos pés

06/1

1/1

0

http://brunosoutomaior.blogspot.com

.br/2010_11_01_archive.html

Depois de largar o trabalho na área de

administração pública, o desejo de atuar em algum

negócio ligado à moda começou a se manifestar em

Jailson. Ele iniciou fabricando cintos e bolsas

artesanais e, após um curso, em São Paulo, com um

artesão argentino, que o ensinou a costurar sapato

mocassim, apaixonou-se de vez pelos calçados.

Passou, então, a criar sapatos para as irmãs e os

amigos. “Todos gostaram. Foi aí que descobri

minha verdadeira arte”, conta ele.

#2 Pulo do gato

dos artesanais

30/0

4/0

1 http://www.old.pernambuco.com/dia

rio/2001/05/05/empregos6_0.html

Trabalho com arte e produzo muitos modelos

sob encomendas, principalmente as plataformas e

sapatilhas baixas, que são uns dos modelos fortes

para esta estação.

96

#3 Com nome e

sobrenome

17/1

0/1

0

Revista JC

SUPL_JOR_JM_O1/10/2010

Tenho formação em educação artística e já fui

funcionário público, mas não gostava do que fazia.

Deixei o emprego e fui para São Paulo comprar

cintos e bolsas para vender. Foi quando conheci um

argentino que me ensinou a fazer mocassins

costurados à mão. Assim descobri minha arte.

#4 Empreendedor

es da Moda:

Jailson

Marcos, o

artesão dos

calçados -

16/1

0/1

4

http://www.cultura.pe.gov.br/canal/d

esignemoda/empreendedores-da-

moda-jailson-marcos-o-artesao-dos-

calcados/

Tudo começou de maneira despretensiosa, como

lembra o próprio Jailson. “Antes de morar no

Recife, em 1985, estudava Educação Artística na

Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

Sempre soube que meu ofício estaria atrelado ao

universo da arte. Gostava de criar e inventar

coisas, mas, como todo menino de uma cidade de

interior [sou de Santana do Matos], vivia o dilema

de ter que estudar e trabalhar ao mesmo tempo.

#5 Sandálias

ganham design

diferenciado no

sertão (Lilian

Pace)

24/0

6/1

3

GNT Fashion (00:50)

http://gnt.globo.com/programas/gntfa

shion/videos/2651837.htm

sempre me interessei pela arte e em geral (...)

argentino que me ensinou a fazer um mocassim,

sapato típico indígena, bastou isso para me

identificar com essa arte.

AR

TE

SA

NA

TO

/

AR

TE

O

#6 AS

IRRESISTÍVE

IS

SANDÁLIAS

DE JM 11/0

8/1

2

(Celebs PE)

http://www.celebspe.com.br/as-

irresistiveis-sandalias-de-jailson-

marcos/

No que diz respeito ao incentivo local, o designer

foi bastante criterioso e reconheceu o estímulo dos

lojistas da cidade quando se trata de trabalhos

artesanais. “Os empresários locais acreditam nos

profissionais ligados ao artesanato, tenho

exemplos como as lojas Refazenda, Avesso,

97

Preta da cor, entre outras, que acreditam no

nosso trabalho”, comentou. Uma revelação

interessante feita pelo próprio Jailson é que os seus

calçados criados a partir de um estilo

contemporâneo e exclusivo atraiu um público

masculino significativo. “Tenho uma boa clientela

masculina. O mercado masculino gosta da

exclusividade e também as próprias mulheres

levam e incentivam as peças para os parceiros”,

disse o criador do estilo da palmilha estendida.

#7 Conhecendo a

coleção de

sapatos do

designer

Jailson Marcos

19

/09/1

5

Blog da Dany

https://www.youtube.com/watch?v=

UTJCtQ5PQLU

1:41

Meu trabalho é completamente artesanal, então,

por ser artesanal, aqui outra sandália que adoro ...

estilo gladiadora, sendo masculina

DANY- É assim, é um masculino mas que pode ser

usado né”..

[[ J: é unissex

[[ D: eu usaria

JM: eu brinco muito com isso, minhas sandálias

não tem sexo não.

#8 Empreendedor

es de moda:

jailson marcos ,

16/1

0/1

4

Http://www.cultura.pe.gov.br/canal/d

esignemoda/empreendedores-da-

moda-jailson-marcos-o-artesao-dos-

calcados/

Da confecção de acessórios para entrar no mundo

dos calçados, foi um salto. “Um amigo argentino,

que era meu vizinho na Boa Vista, me ensinou a

costurar à mão um mocassim. Fiz o primeiro para

minha irmã e, a partir dos pedidos das amigas dela,

98

o artesão dos

calçados

formei uma cartela de clientes bem razoável.

Porém, para ficar mais conhecido na cidade, decidi

que ia vender meus sapatos na feirinha de Boa

Viagem. [...] Sou artesão mesmo. Sapateiro, de

verdade, sabe? E tenho orgulho de dizer que

comecei na raça, sozinho”, contou.

#9 Saiba onde

comprar o

melhor da

moda

pernambucana

25/0

9/1

4

http://www.diariodepernambuco.com

.br/app/noticia/turismo/2014/09/25/in

terna_turismo,531724/descubra-

onde-comprar-o-melhor-da-moda-

pernambucana.shtml

Tudo tem seu tempo. Meu trabalho ainda é

artesanal, com produção diária de 25 pares.

Para qualquer indústria, é muito pouco, mas

eles têm um significado e um valor agregado

para mim". Em relação aos viajantes, Jaílson faz a

propaganda: "Apesar de toda a simplicidade, os

turistas adoram o conforto do ateliê e ficam

surpresos com os design diferenciado das minhas

sandálias"

#10 UM NOVO

ESPAÇO

PARA

JAILSON

MARCOS

22 /

10/1

4

http://portaltagit.ne10.uol.com.br/mo

da/25184/um-novo-espaco-para-

jailson-marcos/

Meu trabalho é bem artesanal. Eu venho desse

processo e primo por isso. Com o tempo, a coisa

foi aumentando e tomou uma proporção tão grande

que eu tive que dar uma organizada na produção,

no que se diz respeito à área física do ateliê,

maquinários… Meu projeto é fazer uma reforma,

para daí poder atender melhor a essa demanda da

loja e, futuramente, de possíveis franquias. Já tenho

alguns empreendedores interessados, mas não me

sentia seguro em atender essa demanda.

99

Independente de qualquer coisa, quero prezar

pelo sapato artesanal, sem grande escala.

#11 AS

SANDÁLIAS

DE JAILSON

MARCOS

28/0

3/1

2

http://www.joaoalberto.com/2012/03

/28/as-sandalias-de-jailson-marcos/

A marca Jailson Marcos, que já tem pontos de

venda em diferentes estados brasileiros, emprestou

sua cara recentemente para compor o figurino de

algumas novelas famosas, calçando o personagem

do ator Wolf Maya em um folhetim deste ano.

Apesar da visibilidade estrondosa, Jailson não

pensa em industrializar ou massificar sua produção.

“Quero manter a tradição artesanal”, fala o

artista, que administra em sua residência a fábrica

e o ateliê de suas produções. “A demanda

aumentou muito, mas quero manter as coisas

exclusivas, personificadas”, comenta ele, que dá

liberdade aos clientes para adaptarem os calçados.

Jailson já teve algumas experiências de venda no

exterior e conta com uma cliente fixa na Espanha,

que anualmente leva diversos pares de sua coleção,

todos elogiados lá na Europa.

AU

TO

DID

AT

A

#12 Empreendedor

es de moda:

Jailson

Marcos, o

artesão dos

calçados

16

/10/1

4

Http://www.cultura.pe.gov.br/canal/d

esignemoda/empreendedores-da-

moda-jailson-marcos-o-artesao-dos-

calcados/

Da confecção de acessórios para entrar no mundo

dos calçados, foi um salto. “Um amigo argentino,

que era meu vizinho na Boa Vista, me ensinou a

costurar à mão um mocassim. Fiz o primeiro para

minha irmã e, a partir dos pedidos das amigas dela,

formei uma cartela de clientes bem razoável.

100

Porém, para ficar mais conhecido na cidade, decidi

que ia vender meus sapatos na feirinha de Boa

Viagem. [...] Sou artesão mesmo. Sapateiro, de

verdade, sabe? E tenho orgulho de dizer que

comecei na raça, sozinho”, contou.

#13 Clippings - Site

JM

18/1

0/1

5

FS_007 O Mercado Pop reunia gente pensante, que

produzia muita coisa bacana....Já no segundo, que

ocorreu de forma inusitada dentro de um outro

evento no Centro de Convenções, comecei a

produzir para vender lá. Então a cada edição era

uma nova coleção de 15 a 20 modelos de sapatos.

E tudo eu fazia sozinho: criava, cortava,

costurava.

MO

DA

#14 O talento

inconfundível

de

Jailson Marcos

12/1

2013

Chá da tarde com Rosângela Société

https://rosangelasociete.wordpress.co

m/tag/rosangela-gomes/

O trabalho de Jailson Marcos não demorou tanto

para ser reconhecido e valorizado. O diferencial do

que ele produz é visivelmente detectado. O trabalho

artesanal tem um alto nível de qualidade somado ao

conforto e beleza, além disso, Jailson conseguiu

expressar em suas criações uma identidade bem

forte e própria, produzindo sempre o diferente.

“Não trabalho com o comum, na verdade, fujo

dele. Gosto de produzir uma moda diferente. Só

fico satisfeito quando visualizo o que fiz em 360°

e vejo que todos os ângulos estão diferentes”,

explica o artista.

101

#15 Jailson

Marcos, o

mundo aos pés

06/1

1/1

0

http://brunosoutomaior.blogspot.com

.br/2010_11_01_archive.html

O designer cria o sapato dos sonhos de qualquer

reles mortal, com total exclusividade. Sandálias,

tamancos, rasteiras, saltos torneados, agulha,

anabela e sandálias plataformas conceituais para

desfiles. “As plataformas são as que eu mais

gosto de fazer. Elas fogem um pouco do

convencional, pois quando criamos em cima de

uma ideia, há mais possibilidades”, diz. Jailson

produz independente de coleções, seguindo a

vontade de criar peças diferentes. De acordo com

ele, seus calçados são mais adequados para o verão

e resultam de muita pesquisa. “Capto as ideias e

trago para o meu universo. Elas podem vir da

natureza, das artes plásticas e da arquitetura, como

as volutas da arquitetura barroca, além dos novos

prédios em construção no mundo”.

#16 Made in

Pernambuco

07/0

5/1

4

http://www.azdecor.com.br/tag/jailso

n-marcos/

O atelier de Jailson define seu trabalho como a

tradição artesanal com status de alta costura. O

designer já desfilou em importantes eventos do

mundo da moda, como a São Paulo Fashion Week

e seus calçados estão fazendo sucesso nos pés de

famosos. Jailson Marcos definiu seu trabalho como

a busca pela essência da moda regional.

“Acompanho muitos trabalhos feitos aqui e

priorizo a essência da nossa cultura”, explicou.

102

“Meu trabalho pensa a moda dentro de uma

cultura regional”.

#17 Moda made in

PE

28/0

3/1

2

http://www.joaoalberto.com/2012/03

/28/as-sandalias-de-jailson-marcos/

Quem diria que uma demissão inesperada e uma

indenização bem aplicada fariam surgir uma marca

de sucesso como a das sandálias do Jailson

Marcos? Pois foi assim, após ser demitido da

empresa onde trabalhava, que Jailson deixou o

Recife com destino a São Paulo e começou a

produzir cintos e bolsas de modo artesanal. “A

demissão me preocupou, mas me fez sentir um

alívio enorme”, conta o artista, “pude começar a

trabalhar com arte e moda, que era o que me

encantava.” Hoje, Jailson Marcos é rapidamente

reconhecido em suas sandálias pelos quatro cantos

do país. Criou a tendência da palmilha estendida,

que virou sua marca registrada de sucesso.

#18 A arte deles

está nos pés

01/1

0/1

0 Supl_JOR_JM_01/10/10 O antigo Mercado Pop foi um laboratório. A cada

mês que um evento acontecia, criava uma nova

coleção, de 20 pares.

#19 Jailson

Marcos, o

mundo aos pés

06/1

1/1

0

http://brunosoutomaior.blogspot.com

.br/2010_11_01_archive.html

As peças do designer é presença marcante nas

passarelas do calendário da moda brasileira, em

parceria com estilistas renomados. No desfile

Primavera-Verão 2010/2011, da São Paulo Fashion

Week, elas estiveram no desfile da coleção Turista

Aprendiz, do mineiro Ronaldo Fraga. Com este

103

tema em mente, Jailson buscou inspiração na Rua

da Praia, no Centro do Recife, através das boias de

pescar. “A criação dos calçados apresentados

está baseada no conceito de que moda se move

em busca de conhecimento”, afirma.

#20 Empreendedor

es de moda:

Jailson

Marcos, o

artesão dos

calçados

16/1

014

Http://www.cultura.pe.gov.br/canal/d

esignemoda/empreendedores-da-

moda-jailson-marcos-o-artesao-dos-

calcados/

Atualmente, jailson marcos emprega nove pessoas

em seu empreendimento (oito na produção e uma

no setor administrativo). “como moro aqui,

começamos a produzir por volta das 8h da manhã.

Sou autodidata e, geralmente, esboço algumas

peças numa salinha que tenho lá nos fundos da

casa. Desses desenhos, surgem várias ideias, que

dou forma nos moldes que já tenho”, disse ele,

que vai inaugurar, na próxima quinta-feira (23/10),

uma nova loja na galeria Joana D’Arc, no Pina.

#21 UM NOVO

ESPAÇO

PARA

JAILSON

MARCOS

22 /

10/2

014

http://portaltagit.ne10.uol.com.br/mo

da/25184/um-novo-espaco-para-

jailson-marcos/

Eu sou autodidata. Nunca fiz cursos de desenho ou

design. Me inspiro muito na arquitetura, na

geometria, nas formas, nas curvas – isso está muito

ligado ao meu trabalho. Eu tenho uma forma bem

diferente de criar – é quase como uma moulage.

Pego algo antigo e vou invertendo, avaliando se

dali pode sair alguma coisa nova… Eu só

consigo definir um modelo quando olho para ele

em 360 graus. Em cada ângulo, vejo uma forma

nova. Minhas sandálias criam uma família. Muitos

104

modelos partem de uma mesma ideia e vão se

multiplicando em peças diferentes.

AR

QU

ITE

TU

RA

#22 Saiba onde

comprar o

melhor da

moda

pernambucana

25/0

9/2

004

http://www.diariodepernambuco.com

.br/app/noticia/turismo/2014/09/25/in

terna_turismo,531724/descubra-

onde-comprar-o-melhor-da-moda-

pernambucana.shtml

A primeira parada é na Rua Visconde do Uruguai,

97, Torre, bairro da Zona Norte do Recife, mais

especificamente no ateliê do artista plástico Jailson

Marcos. O local remete às casas do interior

nordestino: muro baixo, cadeiras no terraço e

azulejos rebuscados. “As pessoas costumam se

lembrar da casa da avó, quando vêm ao ateliê”,

conta Jailson. Ele mostra suas sandálias em

expositores montados pelos cômodos da casa, que

possuem ainda esculturas de sapatos gigantes feitos

de papel machê. As sandálias de Jailson

incorporam as características das alpercatas (ou

“alpargatas”), um calçado de couro típico dos

sertanejos, que protege a frente do pé e tem

aberturas nas laterais para ventilar. “Essa essência

nordestina não é algo que eu coloco nos sapatos

propositalmente. Ela está nas minhas raízes”,

explica o artista. “Dialogo também com a

geometria e as paralelas. Gosto muito de

arquitetura”, revela.

#23 UM NOVO

ESPAÇO

PARA

22

/10/2

01

4

http://portaltagit.ne10.uol.com.br/mo

da/25184/um-novo-espaco-para-

jailson-marcos/

Eu sou autodidata. Nunca fiz cursos de desenho ou

design. Me inspiro muito na arquitetura, na

geometria, nas formas, nas curvas – isso está muito

105

JAILSON

MARCOS

ligado ao meu trabalho. Eu tenho uma forma bem

diferente de criar – é quase como uma moulage.

Pego algo antigo e vou invertendo, avaliando se

dali pode sair alguma coisa nova… Eu só consigo

definir um modelo quando olho para ele em 360

graus. Em cada ângulo, vejo uma forma nova.

Minhas sandálias criam uma família. Muitos

modelos partem de uma mesma ideia e vão se

multiplicando em peças diferentes.

Essa coleção específica tem uma brincadeira. Estou

dando um ressignificado às criações que já fiz,

brincando com elas. Pego um bico que vira um

traseiro, um cabedal de cobre vira um traseiro… Eu

gosto disso. E o bacana é captar uma forma nova

a partir de algo que já existe. Mas, claro, sempre

preocupado com a harmonização das linhas, das

curvas, da arquitetura.

PR

OC

ES

SO

CR

IAT

IVO

#24 Made in

Pernambuco

07/0

5/1

4

Http://www.azdecor.com.br/tag/jails

on-marcos/

Os traços saídos de uma folha de papel e

transformados em realidade na pequena fábrica

montada no fundo do atelier do designer são únicos.

Basta um olhar para reconhecer um sapato ou

sandália do designer. “São nos traços dos

desenhos que sempre surge uma ideia e é com

ela que busco atingir a minha missão, o

diferencial”, contou Jailson Marcos.

106

#25 Editorial – site

de JM

18/1

0/1

5 FS_09 Eu adoro recriar saltos, buscar diferencial. Isso

é muito importante na moda. E o mais bacana disso

é que tem muito ainda para ser feito, criado. E me

surpreendo a cada criação.

#26 Desconstrução

09/1

2/0

3 Caderno 2ª_A Tarde 09/12/2003 Utilizo o desconstrutivismo (sic) da engenharia

moderna, a exemplo do prédio da Casa do

Comércio (Av. Tancredo Neves, em Salvador).

#27 Conhecendo a

coleção de

sapatos do

designer

Jailson Marcos

19/0

9/1

5

Blog da Dany (2:05)

https://www.youtube.com/watch?v=

UTJCtQ5PQLU

Quando eu crio, geralmente, eu penso na mulher,

quando eu estou criando a coleção, eu crio

primeiro a feminina, né? Porque você tem mais

delicadeza, tem que pensar um pouco mais o corpo,

no conjunto mesmo, e depois que eu crio a

feminina eu transformo aquele modelo em um

masculino.

#28 Empreendedor

es de moda:

Jailson

Marcos, o

artesão dos

calçados

16/1

0/1

4

Http://www.cultura.pe.gov.br/canal/d

esignemoda/empreendedores-da-

moda-jailson-marcos-o-artesao-dos-

calcados/

Atualmente, jailson marcos emprega nove pessoas

em seu empreendimento (oito na produção e uma

no setor administrativo). “como moro aqui,

começamos a produzir por volta das 8h da manhã.

Sou autodidata e, geralmente, esboço algumas

peças numa salinha que tenho lá nos fundos da

casa. Desses desenhos, surgem várias ideias, que

dou forma nos moldes que já tenho”, disse ele,

que vai inaugurar, na próxima quinta-feira (23/10),

uma nova loja na galeria Joana D’arc, no pina.

107

#29 Um novo

espaço para JM

22/1

0/1

5

http://portaltagit.ne10.uol.com.br/mo

da/25184/um-novo-espaco-para-

jailson-marcos/

Sou um criador, e isso tudo me instiga a criar

ainda mais. Nesse novo espaço, quero atingir um

novo público, e esse objetivo é meu novo desafio.

#30 Conhecendo a

coleção de

sapatos do

designer

Jailson Marcos

19/0

9/1

5

Blog da

Danyhttps://www.youtube.com/watc

h?v=UTJCtQ5PQLU

O primeiro sapato que fiz, eu fiz masculino, fiz pra

mim. Aí os amigos começaram a gostar, se

identificar. Passei a criar pra minhas irmãs, as

primeiras cobaias. Aí comecei a.... a entender esse

universo do calçado.

#31 Editorial – site

de JM

18/1

0/1

5

FS_08 Para dar continuidade ao meu processo criativo eu

experimento todos os tipos de materiais: cana,

couro, casca de árvore, palha.

#32 Jailson

Marcos, o

mundo aos pés

06/1

1/1

0

http://brunosoutomaior.blogspot.com

.br/2010_11_01_archive.html

O designer cria o sapato dos sonhos de qualquer

reles mortal, com total exclusividade. Sandálias,

tamancos, rasteiras, saltos torneados, agulha,

anabela e sandálias plataformas conceituais para

desfiles. “As plataformas são as que eu mais gosto

de fazer. Elas fogem um pouco do convencional,

pois quando criamos em cima de uma ideia, há mais

possibilidades”, diz. Jailson produz independente

de coleções, seguindo a vontade de criar peças

diferentes. De acordo com ele, seus calçados são

108

mais adequados para o verão e resultam de muita

pesquisa. “Capto as ideias e trago para o meu

universo. Elas podem vir da natureza, das artes

plásticas e da arquitetura, como as volutas da

arquitetura barroca, além dos novos prédios em

construção no mundo”. P

AL

MIL

HA

ES

TIC

AD

A

#33 Fantasia nos

pés

09/1

2/0

3

Caderno 2_a tarde 09/12/2003 Fiz primeiro um modelo para mim, deu certo e as

pessoas gostaram. Esse bico levantado vou sempre

reeditar em meu trabalho, porque já virou marca

registrada.

#34 Tradição

artesanal com

status de alta

costura

26/0

7/2

004

JOR_JM_Trad Alta costura_07.2004 Observando suas tiras que se cruzam para proteger

os pés desenvolvi duas linhas. Em uma, resgatei as

mesmas características, apenas redesenhando a

parte do dorso do pé. Na outra, estilizei as

sandálias usadas em regiões arenosas, como o

sertão e o deserto, virando a ponta de maneira

acentuada.

#35 Do mundo

18/1

0/1

5 FS_13 Tem uma cara oriental também, e um toque

meio greco-romano.

109

#36 Inovação nos

calçados é

sinônimo de

sucesso

Dez

2007

Agenda cultural_dez 2007 Fiz uma releitura dos sapatos sertanejos,

arredondando e emborcando o bico das

sandálias, e isso agradou os antenados com a moda

quanto os mais desligados.

N

SP

IRA

ÇÃ

O

#37 Tradição

artesanal com

status de alta

costura

26/0

7/1

4

DP online

http://www.old.pernambuco.com/dia

rio/2004/07/26/

vivermulher1_0.html

Muito antes de suas sugestões, o pernambucano

Jailson Marcos já havia descoberto a plasticidade

das sandálias de vaqueiro, chamadas por essas

bandas de alpercatas xô boi. "Observando suas

tiras que se cruzam para proteger o pé

desenvolvi duas linhas. Em uma, resgatei as

mesmas características, apenas redesenhando a

parte do dorso do pé. Na outra, estilizei as

sandálias usadas em regiões arenosas, como o

sertão e o deserto, virando a ponta de maneira

acentuada", relembra. As duas viraram sua marca-

registrada. "Com elas até fui convidado para calçar

os modelos de Eduardo Ferreira e da estilista Lena

Santana, no último Fashion Rio", conta Jailson.

#38 No BALAIO

30/1

2/1

4

http://nobalaio.tvpe.tv.br/2015/01/07/

nobalaio-30122014-retrospectiva-

2014/

8:21 – 9:35

ENTR- O que te inspira? A gente dá uma volta por

aqui e vê que tem coleções incríveis, são espelhada,

imagino, em diversas coisas.

JM – Tudo. Em geral, artes plásticas,

arquitetura, eu gosto de ver forma, é no universo

em geral e eu já vejo essas formas no calçado. Eu

110

Entrevista falada lembro que uma das primeiras sandálias que fiz, o

salto era o pé de um guarda roupa, então procurei

um torneador, mandei ele tornear e virou um salto.

Então é isso, esse universo em si que me inspira.

ENTR- e de que maneira as tuas origens sertanejas

estão nas tuas criações?

JM – Eu tenho isso no meu... na minha cultura, no

meu subconsciente, meu pai criava gado, então eu

gostava de ver a roupa de couro, os adornos do

cavalo. E tem essa coisa de Pernambuco também,

quando eu descobri essa sandália alpercata no

mercado São José que era o lugar onde eu sempre

ia, e observando ela, um certo dia eu criei uma pra

mim, e fiz uma brincadeira: eu prolonguei a

palmilha com o cabedal cobrindo os dedos dos pés,

e isso virou identidade no meu trabalho. E isso, pra

mim, foi um momento marcante na minha carreira.

#38 Mais perto da

moda

pernambucana

05/1

0/0

3

made in recife 2003_JC_05out2003

001

(arquivo digitalizado)

Quero desviar os olhares para os pés, que

parecerão flutuar por causa dos saltos

aerodinâmicos.

#40 Inovação nos

calçados é

Dez

2007

Agenda cultural Recife - _dez 2007 Mercado São José, alfaias, boias de pescar, volutas

de arquitetura barroca, gradeados e sacadas da Rua

da Aurora, antena parabólica, bandeira de

111

sinônimo de

sucesso

Pernambuco, cana de açúcar, tudo serve de

inspiração para mim. O universo me inspira.

#41 A arte deles

está nos pés

01/1

0/1

0 Supl_JOR_JM 01/10/2010 Me inspiro na desconstrução da arquitetura

moderna, no design de móveis, em tudo o que

vejo pela cidade.

#42 A arte deles

está nos pés

01/1

0/1

0 Supl_JOR_JM 01/10/2010 Vi uma boia de pescar e pensei: isso dá um salto.

#43 Estilistas

antecipam o

verão

19/1

0/0

4 DP

Viver_made in Recife_DP_19/10/04

Meu trabalho é um mix. Peças diferentes do que

a gente encontra nas sapatarias.

#44 Jailson:

sapateiro com

grife

17.1

2.0

6

Supl_JCa 17.12.2006 E como anda o mercado para sapateiros em Recife?

Acredito que o mercado sempre abre as portas para

quem faz um produto diferenciado. Mas é

importante persistir e buscar inspiração dentro

de cada um mesmo. Abomino a cópia.

#45 Em busca dos

sapatos

femininos

ideais 25/0

1/1

5

JC

http://jconline.ne10.uol.com.br/canal

/suplementos/jc-

mais/noticia/2015/01/25/em-busca-

O conforto é sempre pensado pelo designer de

sapatos Jailson Marcos na hora de elaborar suas

peças. As coleções de Jailson são repletas de

rasteiras e a maioria dos saltos tem até 5 cm.

Autodidata, ele busca inspiração nos ensinamentos

112

dos-sapatos-femininos-ideais-

165403.php

do italiano Salvatore Ferragamo. “Outra coisa em

que sempre penso é na palmilha. Nunca deixo o pé

apertado. Mesmo quando o sapato é coberto, deixo

o pé à vontade”, explica.

TR

AD

IÇÃ

O C

UL

TU

RA

L

#46 Made in

Pernambuco

07/0

5/1

4

http://www.azdecor.com.br/tag/jailso

n-marcos/

O atelier de Jailson define seu trabalho como a

tradição artesanal com status de alta costura. O

designer já desfilou em importantes eventos do

mundo da moda, como a São Paulo Fashion Week

e seus calçados estão fazendo sucesso nos pés de

famosos. Jailson Marcos definiu seu trabalho como

a busca pela essência da moda regional.

“Acompanho muitos trabalhos feito aqui e

priorizo a essência da nossa cultura”, explicou.

“Meu trabalho pensa a moda dentro de uma cultura

regional”.

#47 Saiba onde

comprar o

melhor da

moda

pernambucana

25/0

9/1

4

http://www.diariodepernambuco.com

.br/app/noticia/turismo/2014/09/25/in

terna_turismo,531724/descubra-

onde-comprar-o-melhor-da-moda-

pernambucana.shtml

Essa essência nordestina não é algo que eu coloco

nos sapatos propositalmente. Ela está nas minhas

raízes.

#48 Empreendedor

es de moda:

jailson marcos,

o artesão dos

calçados 16/1

0/1

4

Http://www.cultura.pe.gov.br/canal/d

esignemoda/empreendedores-da-

moda-jailson-marcos-o-artesao-dos-

calcados/

Com o trabalho mais reconhecido pelo grande

público, o criador de calçados foi chamado para

montar uma exposição, no Centro de Convenções

de Pernambuco, com sapatos de papel machê. O

resultado foi tão satisfatório que a mídia e os

formadores de opinião se renderam aos encantos do

113

potiguar. “Ganhei uma resenha de uma jornalista

do Rio Grande Sul, a Carol Garcia, que associava

meu trabalho ao de Salvatore Ferragamo – designer

italiano que, até então, eu desconhecia. E,

pesquisando, vi que tínhamos muitas coisas em

comum, mas minha produção tem uma coisa única:

o processo artesanal. Não quero nada

industrializado nas minhas sandálias. Prefiro a

experimentação, que me permite criar

organicamente peças cheias de

identidades/referências culturais de nossa terra,

sem perder de vista o conforto e a qualidade”, falou.

#49 Jailson

Marcos

JU

NH

O 2

010

https://www.blogger.com/profile/045

18906164762052001

Tradição artesanal com status de alta costura, é

assim o trabalho do designer de sapatos Jailson

Marcos. Modelos exclusivos que passaram pelas

passarelas de todo o mundo, e que você também

pode ter.

#50 Sandálias

ganham design

diferenciado no

sertão (Lilian

Pace)

GNT Fashion

24/0

6/1

3

Sandálias ganham design

diferenciado no sertão (Lilian Pace)

GNT Fashion

Comecei a me integrar mais com a cultura local e

vi essa sandália nordestina, essa sandália alpercata

que é uma sandália que o nordestino usava, que o

cabedal cobria os dedos dos pés ...

114

#51 A arte deles

está nos pés

01/1

0/1

0 Supl_JOR_JM 01/10/2010 Queria algo moderno, mas integrado à nossa

cultura.

#52 No BALAIO

30/1

2/1

4

http://nobalaio.tvpe.tv.br/2015/01/07/

nobalaio-30122014-retrospectiva-

2014/

8:21 – 9:35

Entrevista falada

ENTR- e de que maneira as tuas origens sertanejas

estão nas tuas criações?

JM – Eu tenho isso no meu...na minha cultura,

no meu subconsciente, meu pai criava gado, então

eu gostava de ver a roupa de couro, os adornos do

cavalo. E tem essa coisa de Pernambuco também,

quando eu descobri essa sandália alpercata no

mercado São José, que era o lugar onde eu sempre

ia , e observando ela, um certo dia eu criei uma pra

mim, e fiz uma brincadeira: eu prolonguei a

palmilha com o cabedal cobrindo os dedos dos pés,

e isso virou identidade no meu trabalho. E isso pra

mim foi um momento marcante na minha carreira.