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A Expressão da Alegria no Homem e no Cão Emoção animal
I
FACULDADE DE BELAS ARTES
A Expressão da Alegria no Homem e no Cão
Emoção Animal
ANA QUEIMADO
MESTRADO EM ANATOMIA ARTÍSTICA
Orientador: Professor Doutor Paulo Valejo Coelho
Coorientadora: Professora Doutora Graça Pires
2014
A Expressão da Alegria no Homem e no Cão Emoção animal
II
Agradecimentos
Algumas pessoas reclamam porque as rosas têm espinhos;
Eu sou grato porque os espinhos têm rosas.
Alphonse Karr
Começo por referir, com gratidão, aqueles que estiveram sempre comigo desde que
decidimos, juntos, iniciar este percurso: o Professor Doutor Paulo Coelho e a
Professora Doutora Graça Pires, os meus orientadores.
O seu silêncio muitas vezes me pareceu infindável e absoluto; as presenças também
são silenciosas, e é quando tudo se cala que se entendem melhor as ideias, as
emoções e os sentimentos.
Tenho a salientar o incentivo, a afetuosidade, a presença serena, confiante, positiva, e
a atitude pedagógica, que foram fundamentais para a alegria da conclusão deste meu
projeto, feito com amor.
Com muita simpatia, agradeço ao etólogo, de coração terno e mente compassiva,
Marc Bekoff (homem de paz), pelas palavras de apreço e pelas sugestões
bibliográficas.
A Robert Brost, marido da falecida etóloga Patrícia Simonet, pela disponibilidade,
simpatia, e pela orientação de fontes de pesquisa.
Ao meu pai, com amor.
À minha mãe saudosa (in memoriam), também artista.
Aos meus irmãos amigos.
Com todo o amor, aos meus sete filhos que adoro.
Aos meus queridos netos, Maria, Francisco e Oriana.
À adorável mãe dos meus netos Francisco e Oriana, a Cátia.
A todos os que, com a sua simpatia, tornaram possível a concretização deste projeto.
Ao Horácio (in memoriam), à Kiri-Kira, à Sukee, à Suri, à Piti e ao Pintas, seis cães
meus amigos. Ao Fígaro, à Mikuruka, um gato e uma gata meus amigos. Ao Araci, à
Aruna e à Lila, um galo e duas galinhas meus amigos e ao melro Liró, meu amigo
também.
Todos fazem parte da alegria da minha vida e a todos dedico este trabalho com amor.
Bem Hajam!
A Expressão da Alegria no Homem e no Cão Emoção animal
III
Resumo
Na História da Arte, os animais, desde a pré-história, são representados com um
caráter mágico. Na Antiguidade, com caráter simbólico, encontramo-los nos temas da
Mitologia grega, romana e nórdica, estendendo-se a sua presença simbólica e
mitológica pela Idade Média. O cão figura nas representações de caçadas feitas pelo
homem; a sua figuração encontra-se também, nesta época, em pinturas e tapeçarias,
brasões e iluminuras. Na Renascença, os animais, com a aproximação à natureza e o
retorno à Antiguidade Clássica, encontram-se presentes em obras de arte cujo tema é
religioso ou mitológico. Na arte barroca, com o surgimento das pinturas de género
(petit genre), a presença de animais de companhia alcança uma maior
representatividade e realismo.
Inequivocamente, o cão é encontrado em toda a História da Arte. Atualmente é
retratado por pintores e fotografado (sessões fotográficas) a pedido dos seus donos e
amigos, pois está a verificar-se, relativamente ao que por muitos é considerado o
maior amigo do homem, uma mais aprofundada integração na sociedade humana.
A manifestação da alegria é feita e compreendida através da mímica facial e corporal.
A alegria é um sentimento positivo que é fundamental na vida dos seres conscientes
de si próprios; a alegria promove a evolução dos indivíduos. Quem vive a alegria
desenvolve a auto-realização.
Este sentimento pode estar presente, de forma diferente, no homem ou no cão, assim
como em todos os animais que têm consciência de si. Quando os indíviduos estão
impedidos de sentir alegria de viver a sua natural evolução sofre alterações negativas.
O sorriso, o riso e a gargalhada são expressões reconhecidas universalmente como
expressões de alegria e permitem compreender o sentimento de quem se expressa.
Por exemplo: o cão tem a possibilidade de expressar a alegria através do riso.
Todos os mamíferos têm, a diferentes níveis, a capacidade de, a partir de expressões
faciais ou corporais, estabelecerem distintas maneiras de se relacionarem entre si ou
com indivíduos de outras espécies; basicamente, têm a possibilidade de compreender
os outros e de fazer-se entender, estabelecendo um canal de ligação que tem origem
num sistema de “neurónios em espelho” (SNE) (sistema distribuído em várias áreas
frontoparietais do cérebro) A este mecanimo de sincronização, que é uma
característica do reino animal, chama-se empatia. Entre os seres humanos e os
animais é comprovável a existência de empatia.
Palavras-chave: Alegria, Emoção Animal, Anatomia Artística
A Expressão da Alegria no Homem e no Cão Emoção animal
IV
Abstract
The manifestation/demonstration of joy is made and understood through facial and
bodily expressions.
Joy is a positive feeling that is essential to the life of human beings; joy promotes the
evolution of individuals. Those who live happily develop self-realization.
Smiles and laughter are expressions which can be related to joy (happiness) and help
to understand the feelings that one expresses. For example, a dog can also express
joy with a laugh.
In Art History, animals have been represented, in pre-history, with a magical character,
and, in Antiquity, with a symbolic character. They’re present in the themes of greek,
roman and nordic mythologies, spreading through the Middle Ages. The dog is found in
the representations of hunts led by Man and also in paintings and tapestries, blazons
and rubrications. In Renaissance, with the approximation to Nature and the return to
Classic Antiquity, animals are present in paintings of religious and mythological
themes. In Baroque art with the emergence of genre paintings (petit genre), the
presence of pets reached greater representation and realism.
Unequivocally, the dog is found throughout the entire History of Art, portraits currently
commissioned by their owners and friends, fruit of a deeper integration into human
society.
All mammals have, at different levels, the ability to establish distinct ways to
communicate among themselves or with individuals of other species through body
language and facial expressions; they have the possibility to understand others and
make themselves understood, establishing a link that originates in a “mirror neuron”
system, which is distributed in several fronto-parietal areas of the brain. This
synchronizing mechanism, a characteristic of the animal kingdom, is called empathy
and its existence between human beings and other animals is verifiable.
Key-words:
Joy, Animal Emotion, Artistic Anatomy
A Expressão da Alegria no Homem e no Cão Emoção animal
V
Existe um caminho que vai dos olhos ao
coração, sem passar pelo intelecto
Gilbert Keith Chesterton
A Expressão da Alegria no Homem e no Cão Emoção animal
VI
Índice de Imagens
Figura 1 - Cérebro do cão. (http://www.caotinhodolabrador.com/m_cerebro.php, 2013)2
Figura 2 – Anatomia comparada do cérebro, aspeto geral. (Web, 2013) ......................... 3
Figura 3 – Gobustan. Grande Cordilheira do Cáucaso.
(http://tempodoshomens.blogspot.pt/2011/04/arte-rupestre.html) ...................................... 7
Figura 4 – Arte rupestre do vale de Foz Coa – Portugal.
(www.dominiosfantasticos.com.br, 2013) ............................................................................... 8
Figura 5 - Entre 6000 a.C. e 1500 a.C. Pintura rupestre de humanos e animais em
Tassili n’Ajjer, Deserto do Saara, Argélia. .............................................................................. 9
Figura 6 - Anúbis, deus egípcio dos mortos ........................................................................... 9
Figura 7- Banco egípcio. (http://www.essenciamoveis.com.br/blog/2012/09/historia-
dos-moveis-a-ideia-principal-da-mobilia/) ............................................................................. 10
Figura 8 – Cama com patas de leão.
(http://estudosdedesign.blogspot.pt/2010/12/arquitetura-e-mobiliario-antigo-egito.html)
..................................................................................................................................................... 10
Figura 9 - Trono de Tut Ank Amon - Trabalhado com madeira, ouro, turquesa e
lapislazúli, finamente decorado com patas de leão e cenas do cotidiano do Faraó.
(http://www.essenciamoveis.com.br/blog/2012/09/historia-dos-moveis-a-ideia-principal-
da-mobilia/)) ............................................................................................................................... 11
Figura 10 – Cães - baixo-relevo egípcio. .............................................................................. 12
Figura 11 - ................................................................................................................................. 12
Figura 12 - ................................................................................................................................. 13
Figura 13- Esfinge egípcia (esquerda) Querubim (direita ) -www.google.pt/imghp, 2013
..................................................................................................................................................... 14
Figura 14 – Porta de Ishtar.- www.google.pt/imghp, 2013 ................................................. 14
Figura 15 - Harpias- sátiros- quimera- www.google.pt/imghp, 2013 ............................... 15
Figura 16- Centauro (à esquerda) e Grifo (à direita).-.www.google.pt/imghp, 2013 ...... 16
Figura 17 - Dragão, Ponte Ljubljana, Eslovénia. ( web 2013) ........................................... 16
Figura 18 - Virgem com unicórnio – 1604-1605, Palazzo Farnese, Roma. ................... 16
Figura 19 - Leucrota www.google.pt/imghp, 2013............................................................... 17
Figura 20 -Sereia de Canosa, séc. IV a. C. (esquerda) - sirénio (direita)
http://aquariovgama.marinha.pt ................................................................................................ 18
Figura 21 - Escultura em areia na praia Great Yarmouth, Norfolk ( web 2013) ............. 18
Figura 22 - Gárgula do Mosteiro da Batalha (1386) .............................................................. 19
Figura 23 - Gárgulas em forma de iguana, Sagrada Família , Gaudi, 1882 ................... 19
Figura 24- Tratado de caça de Gaston. Caça ao veado (Tratado de caça)- Livro de
orações ,Simon de Varie Phébus ......................................................................................... 20
Figura 25 - Iluminador Anónimo, 1290-1310 (Costumes Feudais de Aragão) ............... 20
Figura 26 - Anónimo. São Francisco Pregando aos Pássaros, Basílica de S. Francisco,
Assis, 1290 (década de 90 do séc. XIII) ............................................................................... 21
Figura 27 - Jan Van Eyck, O Casal Arnolfini, 1434, National Gallery, Londres .............. 22
Figura 28 - Cabeça do cão que aparece aos pés de Arnolfini .......................................... 22
Figura 29 - Diego Velázquez, Las Meninas, 1656, Museu do Prado, Madrid ................ 23
A Expressão da Alegria no Homem e no Cão Emoção animal
VII
Figura 30 - O cão, com o pé de uma criança em cima do seu dorso (pormenor de Las
Meninas) .................................................................................................................................... 23
Figura 31 - Diego Velazquez, Principe Filipe Próspero de Espanha, 1659,
Kunsthistorisches museum, Viena ......................................................................................... 24
Figura 32 - Pormenor do cão ( Princípe Filipe Próspero de Espanha) ............................ 24
Figura 33 – Murillo (1617-1687), La Sagrada Família del Pajarito ................................... 25
Figura 34 - Gerard Ter Borch, Mulher a lavar as mãos, 1681 ........................................... 25
Figura 35 - Pormenor do cão (Mulher a lavar as mãos) ..................................................... 26
Figura 36 - Tomás da Anunciação, Vista da Penha de França, 1857, Museu do Chiado
..................................................................................................................................................... 26
Figura 37 - Giacomo Balla, Dinamismo de um Cão à Trela. ............................................. 27
Figura 38 - Pablo Picasso (1881 - 1973), Jacqueline e Lump (cão) ................................ 28
Figura 39 - Joseph Beuys (1921-1986), I like America and America likes me
(conceptual art, performance, 1974). ................................................................................... 29
Figura 40 - Andy Warhol, Orangutan, 1983. ....................................................................... 30
Figura 41 - Andy Warhol, Sam, 1954. ................................................................................... 30
Figura 42 - Andy Warhol e Archie ( 1928-1987). ................................................................. 31
Figura 43 - Svetlana Novikova, bulldog francês, Svetlana Novikova, bulldog. ............... 31
Figura 44 - (jaimenetopetography.com/category/sessões) ................................................ 32
Figura 45- jaimenetopetography.com/category/sessoes ................................................... 32
Figura 46 - Ringbahn, 2005, vídeo, DVD-PAL, cor, som. (MELO, Alexandre, Arte e
Artistas em Portugal, p. 216) .................................................................................................. 33
Figura 47 – Expressão da alegria, Le Brun .......................................................................... 36
Figura 48 – Do sorriso à gargalhada. .................................................................................... 37
Figura 49 - Esquema que mostra duas secções transversais do encéfalo do cão.
(web,2012) ................................................................................................................................. 39
Figura 50 - Cérebros de diferentes animais. (web, 2012) .................................................. 40
Figura 51 - Cão numa atitude submissa e afetuosa, desenho de Riviére. (Fonte:
DARWIN, Charles, A Expressão das Emoções no Homem e nos Animais, p. 55) ....... 41
Figura 52 - O mesmo cão aproximando-se de outro cão com intenções hostis,
desenho de Riviére. (Fonte: DARWIN, Charles, A Expressão das Emoções no Homem
e nos Animais, p. 55) ............................................................................................................... 42
Figura 53 – Posturas comportamentais de leões. (Animals Need Help And
Compassion, 2012) .................................................................................................................. 44
Figura 54 – Posturas comportamentais de suínos. (Animals Need Help And
Compassion, 2012) .................................................................................................................. 44
Figura 55 - Cão com objeto e cão expressando riso. (Getty Images, 2012) ................. 45
Figura 56 - Diferente expressão de riso e satisfação. (Animals Need Help And
Compassion, 2012) .................................................................................................................. 45
Figura 57 – Diferentes expressões de alegria. (Katu, 2012) ............................................. 46
Figura 58 – Idem. (Animals Need Help And Compassion, 2012) ..................................... 46
Figura 59 – Cão a receber massagem humana, apenas para relaxar. ( Fonte: Animals
Need Help And Compassion, 2012) ...................................................................................... 48
Figura 60 – O “patear” [agradável!] feito por companheiro felino. ( Fonte: Animals
Need Help And Compassion, 2012) ...................................................................................... 48
A Expressão da Alegria no Homem e no Cão Emoção animal
VIII
Figura 61 – Cão com comportamento de obediência que revela uma atitude. (Animals
Need Help And Compassion, 26-10-12, 11:03)................................................................... 49
Figura 62 - Della fisionomia d’ell huomo, páginas 189 e 203 do terceiro livro
Physionomie humaine de Della Porta. .................................................................................. 51
Figura 63 - Della fisionomia d’ell huomo, páginas 131, 132, 143 e 93 do terceiro livro
Physionomie humaine de Della Porta. .................................................................................. 52
Figura 64 - Della fisionomia d’ell huomo, páginas 18, 61, 87 e 37 do terceiro livro
Physionomie humaine de Della Porta. .................................................................................. 53
Figura 65 – Desenho. .............................................................................................................. 54
Figura 66 – Desenho. .............................................................................................................. 55
Figura 67 – Desenho. .............................................................................................................. 55
Figura 68 – Desenho. .............................................................................................................. 56
Figura 69 – Desenho. .............................................................................................................. 57
Figura 70 – Desenho. .............................................................................................................. 58
Figura 71 – Diferentes expressões caninas. (web, 2012) .................................................. 60
Figura 72 - Comparação dos esqueletos do homem e da ave. ........................................ 61
Figura 73 - Baleia, rã, cavalo, leão, homem. Morcego e ave. Estrutura óssea dos
membros anteriores de várias espécies do reino animal. (web, 2012)............................ 62
Figura 74 - ................................................................................................................................. 62
Figura 75 – Aparelho respiratório do homem e do cão. (web, 2012) ............................... 63
Figura 76 - Coração de um cão (à esquerda) e coração humano (à direita). (web,
2012) .......................................................................................................................................... 63
Figura 77 - Coração de galinha. (web, 2012) ...................................................................... 64
Figura 78 - Comparação de membros anteriores entre diferentes espécies. (web,
2012) .......................................................................................................................................... 64
Figura 79 - Membros anteriores. (web, 2012) ...................................................................... 65
Figura 80 - Cérebro do homem e do cão. (web, 2012) ...................................................... 65
Figura 81 - Comparação esquelética entre espécies diferentes. ( web, 2012) ............. 66
Figura 82 - Comparação entre diferentes embriões: do porco, da vaca, do coelho, do
homem e do cão. (Adaptado de Richardson et. al. Anat. Embryol. P. 196.) ................. 67
Figura 83 - Imagem de neuropepetídeos.
(http://www.scribd.cm/doc/14180375/Bioquimica-neuropepetideos) ............................... 68
Figura 84 - Sorriso humano: intrauterino e do bebé. (web, 2012) .................................... 69
Figura 85 – Expressões faciais de fetos de caprino (gentileza da Professora Doutora
Graça Pires, Faculdade de Medicina Veterinária de Lisboa). ........................................... 70
Figura 86 – Expressão de cabritos. (Animals Need Help And Compassion, 2012) ...... 70
Figura 87 – Expressões faciais de fetos de suíno (gentileza da Professora Doutora
Graça Pires, Faculdade de Medicina Veterinária de Lisboa, 2012). ................................ 71
Figura 88 – Expressão de leitões. (Animals Need Help And Compassion 2012) .......... 71
Figura 89 - Expressões faciais de fetos de bovino (gentileza da Professora Doutora
Graça Pires, Faculdade de Medicina Veterinária de Lisboa, 2012). ................................ 72
Figura 90 – Expressão de vitelo e progenitora. (Animals Need Help And Compassion,
2012) .......................................................................................................................................... 73
Figura 91 - Imagens comparativas dos cornos dos carneiros. (Animal Equality, 2012) 74
Figura 92 – Pantomima. (web, 2013 ..................................................................................... 76
Figura 93 – Expressões faciais e corporais humanas.(web, 2012) .................................. 77
A Expressão da Alegria no Homem e no Cão Emoção animal
IX
Figura 94 - Expressões faciais e corporais humanas. (web, 2012) ................................. 77
Figura 95 – Músculos e mimica facial. (web, 2012) ............................................................ 79
Figura 96 – Espanto. (web, 2012) .......................................................................................... 79
Figura 97 – Músculos da face e pescoço. (web, 2012) ...................................................... 80
Figura 98 – Gargalhada. (web, 2012) ................................................................................... 80
Figura 99 – Vários tipos de sorriso. (web, 2012) ................................................................. 81
Figura 100 – Músculos faciais. (web, 2012) ......................................................................... 81
Figura 101 –Músculo temporomandibular. Exemplo de uma ação no
semblante. (web, 2012)
(web, 2012) ................................................................................................................................ 82
Figura 102 – semblante exibindo fúria (web, 2012) ............................................................ 82
Figura 103. (web, 2012) .......................................................................................................... 83
Figura 104 (web, 2012) ........................................................................................................... 83
Figura 105. (web, 2012) .......................................................................................................... 83
Figura 106 – Sorriso da Gioconda. (web, 2012) .................................................................. 84
Figura 107 – Exemplo de expressão de menosprezo. (web, 2012) ................................. 85
Figura 108 – Dor física e dor psicológica. (web, 2012) ..................................................... 85
Figura 109 – “A vénia”. http://caninablog.wordpress.com/2012/07/26/gustavo-campelo-
como-estimular-a-brincadeira-entre-caes/) ............................................................................... 87
Figura 110 – Cães exibindo satisfação nas fácies. (Animals Need Help And
Compassion, 2012) .................................................................................................................. 88
Figura 111 – Exemplos de comunicação canina. ................................................................ 89
Figura 112- http://equipeveterinariafv2010.blogspot.pt/2012/02/musculos-da-face-e-
pescoco-do-cao.html ................................................................................................................ 90
Figura 113 - Aspectos de expressão facial na interação com os congéneres e o meio
ambiente. ................................................................................................................................... 93
Figura 114 - (Animals Need Help And Compassion, 2012) ............................................... 93
Figura 115 (Animals Need Help And Compassion, 2012) .................................................. 94
Figura 116 - ( Web, 2012) ....................................................................................................... 95
Figura 117- (web, 2012) .......................................................................................................... 96
Figura 118-( Fonte: web) ........................................................................................................... 97
Figura 119- (Animals Need Help And Compassion, 2012) ................................................ 97
Figura 120 – (http://tudodecao.blogspot.pt/2011/04/porque-que-os-caes-latem.html) . 99
Figura 121- (Animals Need Help And Compassion, 23-10-12, 22:23) .......................... 100
Figura 122- (Animals Need Help And Compassion, 2013) .............................................. 101
Figura 123 - (Animals Need Help And Compassion, 21-10-12, 16:57) ......................... 102
Figura 124 - (Animals Need Help And Compassion, 23-10-12, 3:26) ............................ 102
Figura 125 - (Animals Need Help And Compassion, 27/11/2013,22:30)) ..................... 103
Figura 126 - (Animals Need Help And Compassion, 23-10-12, 22:27) ......................... 103
Figura 127 - (Animals Need Help And Compassion 29/11/13,22:55 e 25/11/13, 6:30 )
................................................................................................................................................... 104
Figura 128 ( Animals Need Help And Compassion,21-10-12, 16:55) ............................ 105
Figura 129 (Animals Need Help And Compassion, 09-10-12, 22:39) ............................ 106
Figura 130 - (Animals Need Help And Compassion 10-10-12, 23:56)) ......................... 106
Figura 131 – (Animal Equality, 2013) .................................................................................. 107
A Expressão da Alegria no Homem e no Cão Emoção animal
X
Figura 132 - (WAAL, Frans de, The Age of Empathy: Nature's Lessons for a Kinder
Society, 2009) ......................................................................................................................... 108
Figura 133 – (Animal Equality, 2013) .................................................................................. 108
Figura 134 - ( fonte: dogdogs.net) ....................................................................................... 109
Figura 135 – (Animal Equality, 2013) .................................................................................. 110
Figura 136 – (Animal Equality, 2013) .................................................................................. 110
Figura 137 – (Animal Equality, 2013) .................................................................................. 111
Figura 138 - (Animals Need Help And Compassion, 2013) ............................................. 111
Figura 139 - (Fonte: web) ...................................................................................................... 113
Figura 140 - (web 2013) ........................................................................................................ 114
Figura 141- (web, 2013) ........................................................................................................ 115
Figura 142 - (web, 2013) ....................................................................................................... 116
Figura 143 - (web 2013) ........................................................................................................ 116
Figura 144 - (web, 2013) ....................................................................................................... 117
Figura 145 - ( web, 2013) ...................................................................................................... 117
Figura 146 - ( web, 2013) ...................................................................................................... 118
Figura 147 - ( Animal Equality, 2013) .................................................................................. 118
Figura 148 - (web, 2013) ....................................................................................................... 119
Figura 149- (Animal Equality, 2013) .................................................................................... 119
Figura 150 - (Animal Equality, 2013) ................................................................................... 120
Figura 151 - (dreamstime.com, 2013) ................................................................................. 120
Figura 152 - (http://images.search.conduit.com), 2013) ................................................... 121
Figura 153 - (http://images.search.conduit.com), 2013) ................................................... 121
Figura 154 - (http://images.search.conduit.com, 2013) .................................................... 122
Figura 155 - (Animals Need Help And Compassion, 2013) ............................................. 123
Figura 156 - (http://images.search.conduit.com, 2013) .................................................... 123
Figura 157 ( http://images.search.conduit.com, 2013) ..................................................... 124
Figura 158 (Fonte :Animals Need Help And Compassion, 2013) ................................... 124
Figura 159 (http://images.search.conduit.com, 2013) ...................................................... 125
Figura 160 ( http://images.search.conduit.com, 2013) ..................................................... 125
Figura 161- noticias.uol.com.br24.jan.2013 ) ..................................................................... 126
Figura 162 -( dreamstime.com, 2013) ................................................................................. 127
Figura 163- .............................................................................................................................. 128
Figura 164--( dreamstime.com, 2013) ................................................................................. 129
Figura 165 -(http://diariodigital.sapo.pt/news.asp?id_news=61985307-03-
2013 às 16:52) ........................................................................................................................ 130
Figura 166 – Cão guia de cão cego- http://www.youtube.com/watch?v=YXqmlb5E6qg,
19-08-2013) ............................................................................................................................. 130
Figura 167 – Cão guia de cão cego-
(http://respeitoanatureza.blogspot.pt/2012/05/cachorro-cego-tem-cao-guia.html 10
maio 2012) ............................................................................................................................... 131
Figura 168 – Ganso guia de cão cego
(http://novosinsolitos.blogspot.pt/2011_04_05_archive.html ........................................... 131
Figura 169- (Animals Need Help And Compassion, 2013) .............................................. 132
A Expressão da Alegria no Homem e no Cão Emoção animal
XI
Figura 170- (http://www.amambainoticias.com.br/geral/a-inteligencia-dos-animais-e-
possivel-incrementa-la,11/12/2011 07h15 .......................................................................... 132
A Expressão da Alegria no Homem e no Cão Emoção animal
XII
Índice de conteúdos
Agradecimentos ................................................................................ II
Resumo ............................................................................................ II
Abstract ............................................................................................ IV
Objetivos do projeto .......................................................................... 1
Introdução - Os Animais na História da Arte .................................... 6
Capítulo I - A Alegria ...................................................................... 34
Capítulo II - Antropomorfismo ......................................................... 50
Capítulo III - Estruturas análogas e homólogas (anatomia
comparada) ..................................................................................... 61
Capítulo IV – Mímica Facial e Corporal .......................................... 75
Capítulo V - A expressividade do cão ............................................. 86
Capítulo VI - A expressão dos sentimentos nos animais ............... 99
Capítulo VII - Etologia Visual ........................................................ 111
Capítulo VIII - Discussão .............................................................. 133
Conclusão ..................................................................................... 144
Referências Bibliográficas ............................................................ 147
A Expressão da Alegria no Homem e no Cão Emoção animal
1
Objetivos do projeto
Yo declaro la Paz como la mayor
Obra de Arte
Wolf Vostell, 1979
O presente trabalho é um estudo que envolve várias pesquisas e ramos do
conhecimento sobre a expressão da alegria no homem e no cão, e a emoção animal
no sentido lato.
O estudo do que liga a expressão emocional ao processo da emoção, e que se pode
traduzir na mímica facial ou corporal, convoca a fisionomia, a anatomia, a arte, a
filosofia, a psicologia, a filogenia, a etologia, a neuroética, a neurobiologia, a
sociologia, a antropologia, a medicina e ainda outras áreas do conhecimento
humano.
Recordando Cureau de La Chambre (1610- 1663): “A natureza não deu ao homem
[aplica-se também a outras espécies animais] apenas a voz e a língua (…)”1, pois é
possível expressar-se com os músculos que constituem a face e todo o corpo,
desenvolvendo movimentos conducentes a expressões que poderão ser
compreendidas por quem as observa.
Segundo Diderot (1713 – 1784), num indivíduo, cada instante tem a sua fisionomia, a
sua expressão e podemos concluir que o rosto, no entendimento humano, está no
centro das perceções de si e da sensibilidade a outrem.
As ações que exprimem emoções e sentimentos associam-se facilmente umas às
outras e frequentemente os movimentos corporais alteram-se quando as mentes são
afetadas. Assim, podemos ver alguém sorrir e abanar a cabeça ao mesmo tempo ou
abrir os olhos e levantar os ombros em simultâneo; em todos os mamíferos as
expressões faciais aparecem acompanhadas de movimentos do corpo; nas
expressões comunicativas do ser humano, o comportamento não-verbal está sempre
presente, podendo estar, ou não, de acordo com a expressividade verbal.
O estudo das emoções no mundo animal está profundamente influenciado
pelos trabalhos pioneiros de Charles Darwin. Notáveis etólogos como Nicolás
Timbergen, Donald Griffin, Jane Goodall, Frans Waal, Konrad Lorenz, Patricia
Simonet ou Marc Bekoff, norteiam as suas pesquisas na observação direta das
emoções dos animais. O valor das emoções mais subtis como a alegria, a empatia, a
serenidade, a solidariedade ou a gratidão tem levado mais tempo a descobrir por ser
1 L’art de conaitre les hommes, pág. 1: Paris, 1659 (Courtine & Arroche, História do rosto).
A Expressão da Alegria no Homem e no Cão Emoção animal
2
de caráter indireto e ser menos evidente, mas sabe-se que promovem os aspetos
físicos e psicológicos assim como os sociais, fortalecendo os laços entre os
indivíduos da mesma espécie ou entre espécies diferentes, aumentando as
possibilidades de sobrevivência, reforçando a participação e contribuição no grupo e
têm sido encontrados nas espécies estudadas com destaque para as aves e os
mamíferos.
Paul Ekman, pioneiro no estudo das emoções humanas na relação que
apresentam com as expressões faciais, concorda com Darwin ou Daniel Golemam,
autor de Inteligência emocional (1990), no sentido de que a busca do prazer é uma
emoção primária, enraizada no sistema límbico, estrutura cerebral que partilhamos
com outros animais superiores:
Figura 1 - Cérebro do cão. (http://www.caotinhodolabrador.com/m_
cerebro.php, 2013)
A Expressão da Alegria no Homem e no Cão Emoção animal
3
Figura 2 – Anatomia comparada do cérebro, aspeto geral. (Web, 2013)
Estudos feitos por especialistas em comportamento animal (Patricia Simonet, Marc
Bekoff ou Toni Shelbourn) revelam que os cães manifestam a sua alegria exibindo
expressões que entendemos como divertimento e satisfação (“a vénia de brincar”,
estudada por Marc Bekoff, 1945; a “gargalhada”, estudada por Patricia Simonet,
1959-2010, os saltos, a língua de fora, os movimentos da cauda, etc.).
A atual linguagem corporal canina e os respetivos sinais para comunicar,
frequentemente transmitem a confusão em que a mente destes animais se encontra
devido ao nosso fraco entendimento do que nos tentam transmitir. Acrescem a este
facto as punições exercidas por nós quando nos mostram as suas emoções que,
muitas vezes, não estão ao alcance da nossa compreensão.2
Na opinião do filósofo alemão, Theodore Lipps (1851-1914), o conceito de empatia
tem o seu aparecimento no séc. XX a propósito da relação entre o artista e o
espetador, no que se refere à projeção deste na obra de arte.
Empatia, do grego empatheia – paixão, forma de identificação de um sujeito com
uma pessoa, uma ideia ou uma coisa; faculdade de compreender emocionalmente
um objeto (um quadro, p. ex.); capacidade de projetar a personalidade de alguém
2 SHELBOURN, Tony, The truth about wolves and dogs, p. 57.
A Expressão da Alegria no Homem e no Cão Emoção animal
4
num objeto, para que este pareça como que impregnado dela. Capacidade de se
identificar com outra pessoa, de sentir o que ela sente, de querer o que ela quer, de
apreender do modo como ela apreende, etc.; processo de identificação em que o
indivíduo se coloca no lugar do outro e, com base nas suas próprias suposições ou
impressões, tenta compreender o comportamento do outro; forma de cognição do eu
social mediante três aptidões: para se ver do ponto de vista de outrem, para ver os
outros do ponto de vista de outrem, ou para ver os outros do ponto de vista deles
mesmos. Etimologicamente, provem do inglês empathy.3
Na base da empatia estão os “neurónios em espelho”, descobertos nos anos noventa
por Giacomo Rizzollati e colaboradores, na área pré-motora de macacos Rhesus.
Segundo as neurociências contemporâneas e a psicologia, as manifestações de
alegria, pertencentes ao mundo das emoções, estão relacionadas com programas
complexos, em grande medida automatizados, de ações modeladas pela evolução.
As ações são completadas por um programa cognitivo (…) mas o mundo das
emoções é, sobretudo, um mundo de ações levadas a cabo no nosso corpo, desde
as expressões faciais e posições do corpo até às mudanças nas vísceras e meio
interno.4
A expressão facial, corporal ou comportamental que podemos observar na
diversidade dos seres vivos é a manifestação, essencialmente, da sensibilidade e da
capacidade de viver experiências, que envolvem emoções e sentimentos,
decorrentes de uma maior ou menor evolução cognitiva dos seres.
As expressões faciais ou corporais são indicativas e podem elucidar acerca das
emoções ou dos sentimentos dos indivíduos de qualquer género ou espécie que, ao
manifestarem-se, revelam elaboração mental e eventualmente necessidade de
comunicar com outros. Podemos ler claramente as expressões faciais dos cães e
dos seus familiares selvagens - fácies de submissão, rosnando com os dentes à
mostra, por oposição, a boca aberta e a língua de fora para brincar- numa grande
variedade de situações sociais.5
Nesta parte introdutória apresentamos os objetivos que nos propusemos
desenvolver e também, de seguida, mencionaremos, em síntese, os conteúdos que
reúnem as abordagens e estudos que entendemos serem mais significativos, feitos
até à atualidade, nas áreas relacionadas com o tema exposto.
Passamos a mencionar de forma sintética as abordagens e estudos que compõem
cada capítulo:
O primeiro capítulo, A Alegria, leva-nos a fazer um percurso sobre a expressão facial
e corporal da emoção e do sentimento da alegria que é expresso pelo homem, pelos
mamíferos em geral e, em particular, pelo cão, que analisaremos.
3 Dicionário do Português atual HOUAISS, 2011, p. 914. 4 DAMÁSIO, António, O Livro da consciência, p. 143. 5 BEKOFF, Marc, A vida emocional dos animais, p. 79.
A Expressão da Alegria no Homem e no Cão Emoção animal
5
A verdadeira alegria tem como manifestação, no ser humano, um sorriso verdadeiro,
por contraste com o sorriso de cortesia.
Entre os seres humanos, o ato de sorrir evoluiu, constituindo hoje um valor simbólico
de mensagem de não agressividade, de atitude amistosa que tranquiliza. Estudos
(Charles Darwin, 1809-1882, Freitas-Magalhães, 1966) revelam que a sua origem é
essencialmente genética, descende diretamente de outros animais, com ênfase para
os primatas. Os movimentos dos músculos da face, em particular os da boca,
permitem emitir um som mais agudo. Inicialmente, parece ter sido usado como
defesa própria em emoções como o medo, situações que impeliam os animais a
tentar estratégias (contrações musculares) para parecerem mais pequenos ou mais
inofensivos, tentando afastar os possíveis agressores.
As alterações dos músculos da face, que dão expressão, são de grande importância
para podermos avaliar as emoções do cão, quando mostra os dentes, a língua, abre
a boca ou abre e fecha os olhos (pestaneja).
No segundo capítulo, Antropomorfismo, abordamos a relação que, desde a Idade
Média até aos nossos dias, se estabelece entre o homem e os outros animais,
referindo as obras de Della Porta e de Le Brun, e os trabalhos atuais de Marc Bekoff,
etólogo, o qual preconiza que, para falar de seres semelhantes a nós mas com
posições diferentes no reino animal, temos que ser antropomórficos por uma questão
de entendimento linguístico. No entanto, afirma, o antropomorfismo não é apenas
uma questão linguística, pode ser um modo intrínseco de conceptualizar o mundo em
geral, como apontam investigações recentes feitas por Andrea Herberlein e Ralph
Adolphs, 2004.6
No terceiro capítulo sobre Estruturas Homólogas e Análogas, está presente a
anatomia comparada, a importância da ontogenia no processo evolutivo das
espécies e a influência do meio ambiente na organização dos genes dos indivíduos.
No capítulo seguinte, Mímica Facial e Corporal, são descritos os músculos da
expressão facial no homem e no cão. No homem, estes músculos distinguem-se pela
forma como se fixam, inserindo-se uma extremidade no esqueleto e a outra na
camada mais profunda da pele; podem mover a pele do couro cabeludo e da face,
inervados pelo nervo facial (VII par craniano), permitindo a exteriorização dos
sentimentos quando se contraem e produzem alterações nos orifícios anatómicos;
podem ser acionados por via motora voluntária ou involuntária, exibindo expressões
de conveniência social ou expressões genuínas.
Mencionamos os músculos e algumas expressões de emoções e sentimentos
associadas aos seus movimentos, como a surpresa, o choro, a gargalhada, vários
tipos de sorrisos, a desconfiança, o desprezo, a dor, a tristeza e outros.
No quinto capítulo, A Expressividade do cão é referida a importância dos sentidos
do cão e também a sua anatomia da expressão facial e corporal; são mostrados
exemplos do riso do cão, emitido como uma gargalhada (estudos feitos por Patricia
Simonet e Stanley Coren).
6 Impaired Spontaneous Anthropomorphizing Despite Intact Perception and Social Knowledge.
A Expressão da Alegria no Homem e no Cão Emoção animal
6
No sexto capítulo, A Expressão dos Sentimentos nos Animais, analisamos alguns
comportamentos de animais nossos conhecidos e como é importante para perceber
os seus sentimentos compreender as suas expressões faciais e corporais.
Os sentimentos são manifestações mentais da harmonia ou do desacordo que
acontecem no interior da carne (palavras de António Damásio escritas na página 154
da sua obra intitulada Ao Encontro de Espinosa).
No sétimo capítulo, Etologia Visual, a pensar no interesse estético do tema fulcral
deste trabalho: a expressão dos sentimentos e o lado estético das expressões faciais
e corporais. As imagens deste capítulo carecem de legenda explicativa
intencionalmente.
Este capítulo é também uma proposta para uma pesquisa futura, a desenvolver e
aprofundar, de Etologia Visual Artística.
No oitavo e último capítulo, Discussão, procuramos de uma forma panorâmica
mostrar a importância do cão na vida dos seres humanos e, também, por aspetos
análogos, a de outros animais que convivem no dia a dia com o homem (quintas,
jardins zoológicos, circos, unidades pecuárias de criação intensiva, laboratórios de
investigação científica, canis, gatis e outros casos). Consideramos importante mudar
o paradigma atual assente na filosofia moral tradicional que, à luz das mais recentes
descobertas científicas sobre etologia, neurociência e biologia evolucionária, está a
ficar obsoleto em muitos aspetos.
Introdução - Os Animais na História da Arte
As paredes, os tetos de grutas e afloramentos rochosos, decorados com desenhos,
são hoje os museus das gravuras rupestres do mundo, onde podemos apreciar
registos encantadores e monumentais de animais que, representados
longinquamente, nos parecem de grande atualidade.
Ainda existem povos primitivos limitados ao emprego de ferramentas de pedra para
executar imagens rupestres de animais com fins mágicos. (…) por vezes acreditam
até que certos animais se relacionam com eles de algum modo fabuloso e que toda a
tribo é a tribo do lobo.(…) os romanos acreditavam que Rómulo e Remo foram
amamentados por uma loba e tinham uma imagem em bronze da loba no recinto
sagrado do Capitólio. Ainda hoje uma loba é mantida viva numa jaula perto das
A Expressão da Alegria no Homem e no Cão Emoção animal
7
escadas do Capitólio. (…) Parecem, por vezes, viver numa espécie de mundo onírico
em que podem ser homem e animal ao mesmo tempo.7
A filosofia interessa-se por todas as manifestações culturais. Chama-se experiência
do sagrado a uma determinada experiência que resulta da presença de uma potência
ou de uma força que não se consegue explicar; é uma experiência que
simbolicamente estabelece a diferença entre seres que possuem superioridade e
poder sobre outros seres, e que se consideram misteriosos, temidos e desejados.
Por exemplo: um animal fértil, um animal que não se consegue vencer, que é muito
veloz ou é astuto. O que é admirável opera como que conferindo encantamento ao
mundo, desenvolvendo vínculos e ações de simpatia-atração e de antipatia-repulsa,
agindo num plano que não comporta distâncias e estabelece ligações secretas e
eficazes entre seres diferentes.
Figura 3 – Gobustan. Grande Cordilheira do Cáucaso.
(http://tempodoshomens.blogspot.pt/2011/04/arte-rupestre.html)
7GOMBRICH, E.H., A História da Arte, pp. 42 e 43.
A Expressão da Alegria no Homem e no Cão Emoção animal
8
Figura 4 – Arte rupestre do vale de Foz Coa – Portugal. (www.dominiosfantasticos.com.br, 2013)
A Expressão da Alegria no Homem e no Cão Emoção animal
9
Figura 5 - Entre 6000 a.C. e 1500 a.C.
Pintura rupestre de humanos e animais em Tassili n’Ajjer, Deserto do Saara, Argélia.
A História da Arte revela a abordagem feita aos animais pela sociedade humana,
numa relação que manifesta atração por valores estéticos, que despertam emoções
e sentimentos.
Figura 6 - Anúbis, deus egípcio dos mortos
. Pintura de parede na Pirâmide de Menkaure no Egito.
No antigo Egipto, as pernas de cadeiras cerimoniais, camas, cadeiras, bancos, são
pernas zoomórficas, como por exemplo, patas de touro, patas de leão e patas de
gazela; eram também muito usados móveis feitos com couro e marfim ou de ripas de
madeira de assento côncavo, outras vezes de curva dupla e pés cruzados, que
tinham a forma do pescoço e do bico de um pato.
A Expressão da Alegria no Homem e no Cão Emoção animal
10
Figura 7- Banco egípcio. (http://www.essenciamoveis.com.br/blog/2012/09/historia-dos-moveis-a-ideia-principal-da-mobilia/)
Figura 8 – Cama com patas de leão. (http://estudosdedesign.blogspot.pt/2010/12/arquitetura-e-mobiliario-antigo-egito.html)
A Expressão da Alegria no Homem e no Cão Emoção animal
11
Figura 9 - Trono de Tut Ank Amon - Trabalhado com madeira, ouro, turquesa e lapislazúli, finamente decorado com patas de leão e cenas do cotidiano do Faraó.
(http://www.essenciamoveis.com.br/blog/2012/09/historia-dos-moveis-a-ideia-principal-da-
mobilia/))
A Expressão da Alegria no Homem e no Cão Emoção animal
12
Figura 10 – Cães - baixo-relevo egípcio.
(Web, 2013)
Figura 11 -
Entre 200 a.C. e 300 d.C., Cultura Colima, México.
The British Museum – Londres.
A Expressão da Alegria no Homem e no Cão Emoção animal
13
Figura 12 -
Entre 200 a.C. e 600 d.C.
Cerâmica da Cultura Nasca, Peru.
The British Museum – Londres.
O imaginário artístico8 reúne exemplos de entes hibridos, ou seja, figuras que
combinam seres de espécies e classes distintas detentores de determinados
atributos, que simbolizam qualidades específicas e que representam sentimentos e
paixões humanas. Estas figuras pertencem à mitologia egípcia, grega, romana e
nórdica.
“O mito é uma realidade cultural extremamente complexa que pode ser abordada e
interpretada em perspetivas múltlipas e complementares (…) o mito conta uma
história sagrada, relata um acontecimento que teve lugar no tempo primordial, o
tempo fabuloso dos começos (…) o mito conta, graças aos feitos dos seres
sobrenaturais, uma realidade que passou a existir, quer seja uma realidade total, o
cosmos, quer apenas um fragmento, uma ilha, uma espécie vegetal, um
comportameno humano, é sempre, portanto, uma narração de uma criação.
Descreve como uma coisa produzida começou a existir.” ELIADE, Mircea, Imagens e
simbolos, pp. 58, 59.
As esfinges, figuras míticas com corpo de leão e cabeça humana, foram usadas, no
antigo Egipto, para demonstração de poder. Encontram-se na cultura hebraica as
esfinges aladas, querubins, guardando a Arca da Aliança no Templo de Salomão.
8 Aulas de Anatomia Comparada ( Mestrado de Anatomia Artística, 2011) da Profª Drª Graça Pires.
A Expressão da Alegria no Homem e no Cão Emoção animal
14
Um dos mais impressionantes conjuntos de arte animalista da história da arte,
constituído por dezenas de leões representados em tijolos esmaltados e touros em
cerâmica policromada, tendo cada animal representado mais de 2 metros de
comprimento, foi encontrado no lugar da antiga Babilónia, data do século VI a. C.,
pertence às paredes do palácio real e estende-se desde a porta de Ishtar até ao
grande ziggurat.9
Figura 13- Esfinge egípcia (esquerda) Querubim (direita ) -www.google.pt/imghp , 2013
Figura 14 – Porta de Ishtar.- www.google.pt/imghp , 2013
9 Torre escalonada de sete pisos, coroada por um templo a 90 m de altura- Torre de Babel, Génesis, 11 (1-10).
A Expressão da Alegria no Homem e no Cão Emoção animal
15
Criaturas com cabeça de leão, corpo de cabra e cauda de serpente exalando fogo
pela boca – as quimeras - tinham entre os gregos um papel protetor e foram
retratadas tanto em templos como em edifícios laicos, representadas em pinturas ou
esculpidas. Também podem ser encontradas em objetos variados, como joias,
escudos, amuletos, vários recipientes e em outros artefatos.
As harpias, figuras compostas por cabeça e torso de mulher, pernas, cauda e asas
de ave, associadas, na cultura grega, à luxúria e à entrega do homem aos prazeres
sexuais; os sátiros ou faunos (na cultura romana), com torso humano, cabeça com
cornos e a metade inferior do corpo semelhante a um bode, têm conotação erótica;
os centauros, parte homem parte cavalo, associados à brutalidade, e os grifos,
também encontrados entre os persas, compostos por cabeça, bico, asas, torso e
patas dianteiras como as de uma águia, e com orelhas, quartos traseiros e cauda de
leão, estão relacionados com a ideia de realeza. Na Idade Média, os cavaleiros
usavam escudos com a imagem de grifos e, apoiados na lenda que diz haver grande
rivalidade entre grifos e cavalos por se terem envolvido em combate por causa da
posse do ouro que pertencia aos grifos, pretendiam, assim, amedrontar os cavalos
do inimigo.
Figura 15 - Harpias- sátiros- quimera- www.google.pt/imghp , 2013
A Expressão da Alegria no Homem e no Cão Emoção animal
16
Figura 16- Centauro (à esquerda) e Grifo (à direita).-.www.google.pt/imghp , 2013
O Dragão é um animal fantástico, está muito presente na cultura medieval, no
entanto, a sua origem está ligada à antiguidade de várias culturas, a sua idealização
pode estar ligada aos fósseis de dinossauros. Na Idade Média estava associado a
aspetos maléficos por estar presente na cultura dos povos bárbaros (enquanto
pagãos).
Figura 17 - Dragão, Ponte Ljubljana, Eslovénia. ( web 2013)
O unicórnio, possuidor de vários significados, oriundo da mitologia grega, representa,
na heráldica, a nobreza e a virilidade. Se encontrado junto de uma jovem, representa
a pureza da virgindade.
Figura 18 - Virgem com unicórnio – 1604-1605, Palazzo Farnese, Roma.
A Expressão da Alegria no Homem e no Cão Emoção animal
17
A leucrota representada do tamanho de um equino, com o traseiro de um veado e o
peito e as patas de um leão, cabeça de cavalo e mandíbula aberta tem uma
particularidade que a liga aos humanos: a capacidade de produzir sons que se
assemelham à voz humana.
Figura 19 - Leucrota www.google.pt/imghp , 2013
Sereias, referidas pela primeira vez no canto XII da Odisseia de Homero, são seres
mitológicos que provavelmente têm origem em relatos da existência de animais com
características próximas daqueles que mais tarde foram classificados como sirénios10
10
Atualmente, os sirénios estão seriamente ameaçados, encontrando-se algumas espécies à beira da extinção. A atividade humana tem sido responsável por um acentuado decréscimo das populações destes animais:
Através da caça, para aproveitamento da sua pele ou carne
Pela destruição dos seus habitats naturais.
Pelos efeitos das várias formas de poluição
Através de acidentes com embarcações
http://aquariovgama.marinha.pt
A Expressão da Alegria no Homem e no Cão Emoção animal
18
Figura 20 -Sereia de Canosa, séc. IV a. C. (esquerda) - sirénio (direita) http://aquariovgama.marinha.pt
.
Cerberus, em grego Kerberos, demónio do poço, era um monstruoso cão de
múltiplas cabeças e cobras ao redor do pescoço que guardava a entrada do reino
subterrâneo dos mortos, o Hades da cultura grega.
Figura 21 - Escultura em areia na praia Great Yarmouth, Norfolk ( web 2013)
Gárgulas, termo proveniente da palavra francesa gargouille (garganta), do latim
gurgulio, que é originado do som feito pela água a correr; goteiras que, para não
destoarem no conjunto harmónico das edificações, inicialmente das grandes
catedrais góticas, serviam, talvez, como esculturas, para representar poder,
documentar episódios ou como guardiãs, protegendo de influências malévolas os
locais onde eram colocadas. São figuras que associam elementos zoomórficos,
antropomórficos ou grotescos.
A Expressão da Alegria no Homem e no Cão Emoção animal
19
Figura 22 - Gárgula do Mosteiro da Batalha (1386)
Figura 23 - Gárgulas em forma de iguana, Sagrada Família , Gaudi, 1882
.
A representação de cães na arte da Idade Média reporta-nos ao cotidiano: caçadas,
como divertimento e treino para lutar; necessidade de proteção (pessoas e bens). É
de salientar, também, a presença da sua imagem, por exemplo, no brasão duma
família de aristocratas, no livro de orações feito por Simon de Varie.11
11 http://www.getty.edu/oudry/default/tags/medievalbeasts
A Expressão da Alegria no Homem e no Cão Emoção animal
20
Figura 24- Tratado de caça de Gaston. Caça ao veado (Tratado de caça)- Livro de orações ,Simon
de Varie Phébus
Figura 25 - Iluminador Anónimo, 1290-1310 (Costumes Feudais de Aragão)
Nos finais do século XIII, expandiu-se por toda a Europa uma visão do mundo mais
antropocêntrica, que se opunha à visão teocêntrica de até então.12
12 O humanismo foi um movimento intelectual dos finais do séc. XIII, seguia os poetas e filósofos greco-latinos.
A Expressão da Alegria no Homem e no Cão Emoção animal
21
Um dos temas principais da vida de S. Francisco de Assis é a sua ligação à
natureza. (…) todos os seres estão ligados (…).13
Figura 26 - Anónimo. São Francisco Pregando aos Pássaros, Basílica de S. Francisco, Assis,
1290 (década de 90 do séc. XIII)
Um dos primeiros temas, não sagrados, que retrata uma cena de costumes onde o
cão está presente, pintado com notável detalhe por ser um animal de estimação ou
como emblema de fidelidade (fides é o nome latino para fidelidade e étimo de um
nome comum para cão, “Fido”)14, é a obra de Jan Van Eyck, Os Esponsais dos
13 A Nova História da Arte de Janson,nona edição, p. 454. 14 A Nova História da Arte de Janson, nona edição, p. 498.
A Expressão da Alegria no Homem e no Cão Emoção animal
22
Arnolfini, 1434: um simples recanto do mundo real fora subitamente fixado por magia;
nada lhe faltava.15
Figura 27 - Jan Van Eyck, O Casal Arnolfini, 1434, National Gallery, Londres
Figura 28 - Cabeça do cão que aparece aos pés de Arnolfini
15 GOMBRICH; E.H. A História da Arte, p. 240
A Expressão da Alegria no Homem e no Cão Emoção animal
23
Os cães no ambiente palaciano, presentes nos admiráveis registos do cotidiano,
realizados pelo mestre Velázquez, que, ao captar as impressões mais características
dos intervenientes, convoca a nossa imaginação.
“(…) os fundadores do impressionismo, em Paris, no século XIX, admiravam
Velázquez acima de todos os outros pintores do passado.”16
Figura 29 - Diego Velázquez, Las Meninas, 1656, Museu do Prado, Madrid
Figura 30 - O cão, com o pé de uma criança em cima do seu dorso (pormenor de Las Meninas)
16 GOMBRICH, E.H., A História da Arte, p. 411
A Expressão da Alegria no Homem e no Cão Emoção animal
24
Figura 31 - Diego Velazquez, Principe Filipe Próspero de Espanha, 1659, Kunsthistorisches museum, Viena
Figura 32 - Pormenor do cão ( Princípe Filipe Próspero de Espanha)
A Expressão da Alegria no Homem e no Cão Emoção animal
25
O cão, no calor humano da pintura de Murillo, ou na sofisticada pintura de género de
Gerard Ter Borch:
Figura 33 – Murillo (1617-1687), La Sagrada Família del Pajarito
Figura 34 - Gerard Ter Borch, Mulher a lavar as mãos, 1681
A Expressão da Alegria no Homem e no Cão Emoção animal
26
Figura 35 - Pormenor do cão (Mulher a lavar as mãos)
Tomás José da Anunciação (1818-1879), em 1874, deslocava-se ao campo para
trabalhar, ao vivo, a sua temática animalista.17
Figura 36 - Tomás da Anunciação, Vista da Penha de França, 1857, Museu do Chiado
17 Publicada por Com Jeito e Arte à(s) 23:09
A Expressão da Alegria no Homem e no Cão Emoção animal
27
A captação do movimento de um cão à trela (Pintura Futurista).18
Figura 37 - Giacomo Balla, Dinamismo de um Cão à Trela.
Óleo sobre tela, 91 x 100 cm, 1912.
18 http://artesplasticasehistoriadaarte.blogspot.pt
A Expressão da Alegria no Homem e no Cão Emoção animal
28
Pablo Picasso partilhando o desenho do seu cão com o próprio.
Figura 38 - Pablo Picasso (1881 - 1973), Jacqueline e Lump (cão)
Joseph Beuys, em maio de 1974, capturou um coiote selvagem e levou-o de
ambulância para a Rene Block Gallery (US), com o qual permaneceu por períodos de
oito horas, durante três dias; para se envolver usou um pedaço de feltro, e um monte
de palha serviu-lhes para descansar. No final dos três dias, o coiote permitiu ser
abraçado por Joseph Beuys.
O animal voltou de ambulância ao aeroporto e foi devolvido à natureza.
A Expressão da Alegria no Homem e no Cão Emoção animal
29
Este artista (um dos mais influentes da segunda metade do século vinte) começou
por se dedicar à medicina, embora na sua juventude também tenha estado ligado à
arte, e foi depois da segunda Guerra Mundial que se desenvolveu plenamente como
artista plástico.
Figura 39 - Joseph Beuys (1921-1986), I like America and America likes me (conceptual art, performance, 1974).
A Expressão da Alegria no Homem e no Cão Emoção animal
30
Andy Warhol, artista que se destacou por ter a capacidade de nos impressionar, ao
trazer para o domínio da arte aquilo que é o nosso cotidiano de coisas a que já nos
acostumámos, também gostou de representar os animais.
Figura 40 - Andy Warhol, Orangutan, 1983.
Figura 41 - Andy Warhol, Sam, 1954.
A Expressão da Alegria no Homem e no Cão Emoção animal
31
Figura 42 - Andy Warhol e Archie ( 1928-1987).
Svetlana Novikova (nascida na Rússia, 01-01-1970) tem vários trabalhos sobre
animais, como exemplo, cães e gatos de estimação.
Figura 43 - Svetlana Novikova, bulldog francês, Svetlana Novikova, bulldog.
A Expressão da Alegria no Homem e no Cão Emoção animal
32
Para os registos das expressões de animais de estimação (cão, gato e outros)
existem fotógrafos especializados na matéria.
DO DESCRIÇÃO Uma jovem estudante universitária descobriu um nicho de mercado pouco explorado.
Sessõonos tratam-nos como elementos da própria famíl
Figura 44 - (jaimenetopetography.com/category/sessões)
Figura 45- jaimenetopetography.com/category/sessoes
A Expressão da Alegria no Homem e no Cão Emoção animal
33
Filipa César (1975). (…) A temática relacional que rodeia a sua obra irá criar uma
sequência de obras nas quais o devaneio do flâneur será transformado num
“encontro”. O “encontro” é o encontro com o olhar do Outro, e esse Outro é sempre,
em última análise, o olhar da câmara, que Filipa César simula pertencer a alguém,
encenando um persistente fantasma romântico, o do encontro fortuito, numa
expressão de nostalgia pela noção de comunidade e comunicação. A presença mais
recorrente na sua obra é a dos “terrenos vazios” do afeto, lugares da impossibilidade
comunicacional como são os grandes passeios urbanos, os centros comerciais ou as
salas de espera. Nesses lugares as personagens deambulam exercitando um
alienante cruzamento entre alheamento e expectativa, entre o vazio e a promessa.19
A artista convocou o cão para este seu trabalho:
Figura 46 - Ringbahn, 2005, vídeo, DVD-PAL, cor, som. (MELO, Alexandre, Arte e Artistas em Portugal, p. 216)
19 MELO, Alexandre, Arte e Artistas em Portugal, p. 216.
A Expressão da Alegria no Homem e no Cão Emoção animal
34
“Que todos os seres se unam eternamente pela felicidade e pelas causas da felicidade”
Oração tradicional budista
Capítulo I - A Alegria
Não há arauto mais perfeito da alegria do que o silêncio. Eu sentir-me-ia muito pouco feliz se me fosse possível dizer
a que ponto o sou. William Shakespeare
A alegria é um estado de regozijo interior que nos permite ver o lado positivo e gracioso das coisas; produz prazer e felicidade. É uma emoção expansiva que necessita ser partilhada com os outros. A alegria produz-se em situações onde é confirmado o conceito de valor do indivíduo e se afirma a autoestima relacionando-se com o sentimento de auto-realização. Quem sente alegria consegue um melhor relacionamento com os outros, estabelecendo ligações que o tornam mais feliz. Alegria - estado de viva satisfação, de vivo contentamento, regozijo, júbilo, prazer,
festa, divertimento, folguedo.20 A alegria também é jocosidade no que diz respeito à
brincadeira, à diversão, à comicidade, ao gracejo, à zombaria e à hilaridade. Spinoza
(1632-1677), referindo-se à alegria, afirmou que o papel dos afetos positivos na
construção das individualidades é o fortalecimento do conatus, essência atual de
cada coisa, princípio de expansão e aprimoramento (conatum, termo que se traduz
por esforço, tentativa ou tendência). Segundo o filósofo holandês, a alegria é uma
paixão que nos leva a fortalecer o conatus, por ser encarada como um caminho para
a evolução individual; por ser útil, convir à natureza dos seres e ter como princípio
fundamental preservar os mecanismos que permitem a evolução. O texto em latim:
virtutis fundamentum esse ipsum conatum proprium esse conservandi, et felicitatem
in eo consisterem, quod homo suum esse conservare potest.
Qualquer pessoa que diga que a vida é menos importante para os animais do que
para nós nunca teve nas suas mãos um animal a lutar pela vida. Todo o ser do
animal é lançado nessa luta, sem reserva. Elizabeth Costello (in The Lives of
Animals, 1999),
Os animais, [este termo abrange os seres humanos], estão constantemente a pedir
para serem melhor tratados ou deixados em paz, afirma Marc Bekoff (1945), que
estuda, como cientista, as paixões dos animais e as suas virtudes, há mais de trinta
anos.
Na expressão da alegria ou contentamento surge inevitavelmente o sorriso que é
referido por elevado número de investigadores, como Charles Le Brun, Duchenne,
Darwin, Ekman ou António Damásio, como uma expressão que parte das emoções e
que tem funções sociais.
20 Dicionário do Português atual Houaiss, 2011.
A Expressão da Alegria no Homem e no Cão Emoção animal
35
Segundo Charles Darwin, o sorriso das pessoas torna-se frequentemente em riso e,
enquanto rimos, permanecemos com a boca aberta com maior ou menor amplitude,
dependendo da intensidade do riso. Patricia Simonet (1959-2010) observou que os
cães expressam o riso ao abrirem a boca, colocarem a língua de fora e produzirem
uma espécie de arfar. Segundo a investigadora, esta manifestação é contagiante e
promove o jogo entre os congéneres.
Jaak Panksepp (1943), neurocientista, afirma que os circuitos neurais do riso podem
ser encontrados em regiões muito antigas do cérebro (…) as origens da brincadeira e
do riso são instintivas e subcorticais.
Nos Ensaios sobre a Psicologia do Riso, Herbert Spencer (1863) demonstra que,
quando a mente é intensamente excitada por pensamentos agradáveis se gera uma
quantidade de energia nervosa, súbita, contida ou refreada no momento, obrigando o
excesso a ser descarregado, o que resulta na irrigação de uma série de músculos,
que produzem variados movimentos convulsivos aos quais chamamos riso.
Nos animais, o riso (estudado por Patricia Simonet (1959-2010) nos cães, por Jane
Goodall (1934) nos chimpanzés ou por Jaak Panksepp (1943) nas ratazanas) faz
parte dos jogos sociais, que é um comportamento importante para a sobrevivência e
que, ao mesmo tempo, é agradável, tendo a capacidade de unir os indivíduos e
regular as interações.21
Os estudos e pesquisas feitos ao rosto e ao corpo humanos, na procura dos seus
significados, no que respeita à expressividade, quer na Idade Média, quer na
Renascença, mencionaram a analogia com a natureza e o cosmos. De entre tais
estudos destaca-se a obra de Della Porta (1535 – 1615) Physionomie Humaine
(1586) com grande influência até aos meados do séc. XVIII; no entanto, outras
abordagens se foram impondo no campo da fisiognomonia. O pintor Charles le Brun,
destacado fisionomista, (1619 – 1690) introduz novos dados com as célebres
Conférences sur l’éxpression des passions, pronunciadas, em 1668, perante a
Academia Real de Pintura e Escultura. Inspirado em Descartes, releva os aspetos
físicos da expressão e demarca-os das especulações metafísicas; o seu interesse
centra-se no universo das formas, no corpo individual, na expressão subjetiva22. Le
Brun, no seu exercício de pintor, elabora uma sistematização das paixões a partir da
representação de 41 cabeças humanas, atribuindo a cada uma a expressão de
determinada paixão, procurando, assim, fornecer um sistema prático para o estudo e
representação correta das paixões que, na sua opinião, se originam na alma que tem
por base a epífise, pequena glândula endócrina, em forma de pinha ou grão,
localizada perto do centro do cérebro, entre os dois hemisférios, mas é, como opina,
nas modificações físicas dos traços do rosto que se pode estudar a natureza das
paixões.
21 BEKOFF, Marc, A vida emocional dos animais, p. 87. 22 COURTINE, Jean Jacques e HAROCHE, Claudine. História do Rosto pp. 41, 68 e 69.
A Expressão da Alegria no Homem e no Cão Emoção animal
36
Prospero Aldorisio, em 1610, concebe uma fisiognomonia do riso e David Laigneau
(1610-1663) da voz, onde o sopro, o suspiro, a sua supressão ou mesmo o silêncio
dão expressividade ao homem.23
Podemos distinguir dois aspetos: a capacidade de sentir emoções e a capacidade de
as exprimir ou representar.
Figura 47 – Expressão da alegria, Le Brun
A face sobressai naquilo que constitui o corpo de um indivíduo; é na face que
podemos apreciar a fascinante complexidade das expressões dos sentimentos, tais
como a alegria, a compaixão, a preocupação, a tristeza ou a felicidade.
Os músculos subcutâneos ou músculos da expressão (musculi facialis) são utilizados
para efetuar modificações na face, e podem alterar drasticamente a aparência do
rosto, em mais de dez mil expressões, segundo Ekman24.
Os músculos faciais permitem que o rosto manifeste uma alteração momentânea (…)
de tal modo que os efeitos produzidos nos seus traços são diretos e imediatos25. Na
expressão da alegria, o músculo zigomático maior e o orbicular dos olhos estão
diretamente associados quando a contração é involuntária (sorriso verdadeiro).
23 Ibid., p.79. 24 Citado por Freitas Magalhães, A Psicologia das emoções: O Fascínio do Rosto Humano (2011). 25 Ramos, Artur, Retrato, o desenho da presença, p. 166 (2010).
A Expressão da Alegria no Homem e no Cão Emoção animal
37
Figura 48 – Do sorriso à gargalhada.
(WEB, 2012)
A alegria pode expressar-se no sorriso, mais ou menos intenso, no riso e na
gargalhada.
As emoções são universais, mas as diferenças culturais influenciam a quantidade e a
qualidade das manifestações e expressões emocionais. A alegria e a cólera são
exprimidas com facilidade pelos americanos. Já os japoneses, que controlam
fortemente as expressões, têm dificuldade em ocultar a repulsa. Entre o Ocidente e o
Oriente existem diferenças que, ao nível das expressões faciais, revelam que os
ocidentais, para transmitirem um estado emocional, usam sobretudo a boca e os
orientais são mais expressivos nos olhos.26
É do conhecimento comum, assim como especificamente dos etólogos, que os
animais sabem controlar e até inibir as suas emoções, em situações de
autopreservação.
Charles Darwin (1809 - 1882), através de variadas observações, procurou encontrar
respostas para a questão da origem da expressão emocional, usando o método
comparativo, ao estudar espécies que têm maior proximidade e também as que têm
um maior afastamento entre si. O investigador usou vários métodos de avaliação
como a observação de expressões e gestos entre culturas, observação de insanos
que, relativamente a indivíduos normais, possuem menos capacidade de dissimular
as próprias emoções, analisou também expressões existentes na produção artística
(pinturas e esculturas), e, entre os animais, as expressões dos cães domésticos
foram as mais estudadas. A observação de bebés e as expressões resultantes de
estimulação elétrica de músculos faciais (técnica também utilizada, na época, por
Duchenne de Boulogne, que, mediante o estudo da ação dos músculos do rosto,
26 Prof. Dr. Paulo Coelho, Conferência de Anatomia Artística, Faculdade de Belas Artes, julho de 2012.
A Expressão da Alegria no Homem e no Cão Emoção animal
38
procurou conhecer as leis que governam a expressão)27 foram também utilizadas
pelo investigador.
Na sua obra intitulada “A expressão das emoções no homem e nos animais”, conclui
que as raízes da nossa capacidade de sentir e raciocinar estão igualmente presentes
nos outros animais.
Do ponto de vista histórico, os seres humanos, devido aos seus sentimentos e
também ao desenvolvimento da área frontal do cérebro, distinguiram-se
qualitativamente dos outros animais e, por essa razão, atingiram um nível que os
coloca num plano superior. No entanto, se quiserem continuar este caminho de
superioridade, não poderão ir contra uma montanha crescente de pesquisa científica
sólida, desafiadora e empolgante, a qual vai surgindo quase todos os dias, sobre os
animais. Os cientistas acreditam, agora, na universalidade das emoções primárias
com base nos estudos que revelam que os seres humanos e os animais partilham
sistemas químicos e neurobiológicos semelhantes ( …) dados científicos e diversas
histórias indicam que os animais também sentem muitas emoções secundárias.28
Na sua investigação cuidada, Darwin reafirmou repetidamente que as diferenças
entre muitas espécies eram mais diferenças de grau do que diferenças de tipo (…).
Segundo Darwin, há uma continuidade evolutiva entre os animais, não só nas
estruturas como o coração, os rins e os dentes, mas também no cérebro e nas suas
capacidades cognitivas e emocionais associadas (…) a continuidade evolutiva: as
semelhanças e contrastes entre espécies são nuances ou tons de cinzento e não
diferenças claras de preto e branco.29 É o que sucede com todos os mamíferos, que
sentem prazer e dor, emoções que conduzem a sentimentos como a alegria e a
mágoa; diferem certamente de espécie para espécie, de indivíduo para indivíduo
mas não deixam de ser alegria ou mágoa.
(…) Por que razão os animais desenvolvem doenças mentais que se parecem
arrepiantemente com as humanas e que reagem às mesmas medicações? - James
Vlahos.30
27
Estudos documentados na sua obra intitulada Mécanisme de la Physionomie Humaine. 28
BEKOFF, Marc A vida emocional dos Animais, p. 35. 29
BEKOFF, Marc, A vida emocional dos animais, p. 61. 30
Citado por BEKOFF, Marc, op. cit.
A Expressão da Alegria no Homem e no Cão Emoção animal
39
Figura 49 - Esquema que mostra duas secções transversais do encéfalo do cão. (web,2012)
1- Neocórtex;
2- Paleocórtex;
3- Arquicórtex;
4- Tálamo;
5- Mesencéfalo.
A Expressão da Alegria no Homem e no Cão Emoção animal
40
Figura 50 - Cérebros de diferentes animais. (web, 2012)
O sorriso e a expressão facial das emoções não são exclusivos do homem, as fácies
também são extremamente importantes para avaliar os sentimentos dos animais.31
Charles Darwin e investigadores posteriores salientaram a importância das
expressões faciais. E, embora se atribua a outros mamíferos, especialmente aos
primatas, um conjunto de expressões homólogas às dos humanos e meios análogos
que permitem a manifestação das emoções, através dos movimentos da face, é, por
transposição de conceitos, que a maior parte das vezes falamos dos outros animais
a partir de uma visão antropocêntrica; baseados no especifismo, classificamo-los em
superiores e inferiores, o que, segundo Marc Bekoff, professor de Etologia e Biologia
31 BEKOFF, Marc, A Vida Emocional dos Animais, p. 79.
A Expressão da Alegria no Homem e no Cão Emoção animal
41
Evolucionária na Universidade de Colorado, leva os seres humanos a ignorarem o
bem-estar dos animais e é realmente biologia de má qualidade32.
Figura 51 - Cão numa atitude submissa e afetuosa, desenho de Riviére. (Fonte: DARWIN, Charles, A Expressão das Emoções no Homem e nos Animais, p. 55)
Definição de especifismo, segundo o Oxford English Dictionary: discriminação ou
exploração de certas espécies animais pelos seres humanos, baseada na presunção
da superioridade da humanidade.33
Segundo Marc Bekoff, as emoções dos animais, que partilham a terra connosco,
diferem das nossas e não necessitam de ser iguais, mas, por outro lado, estes seres
diferentes são ao mesmo tempo muito parecidos com os seres humanos.
A sua anatomia e fisiologia, embora apresente diferenças entre as variadas
espécies, e relativamente a nós, têm em termos gerais funções similares; partilham
com os seres humanos estruturas cerebrais próximas e sistemas químicos
importantes no processamento das emoções.
Nos mecanismos básicos da emoção, está a dependência da rede de circuitos do
sistema límbico, onde a amígdala e o cíngulo têm o papel preponderante. Estas
mesmas estruturas mantêm a sua importância nas emoções de tipo secundário e, tal
como as básicas ou primárias, alteram o equilíbrio homeostático, mas dão-nos a
consciência das emoções, despertando os sentimentos, e, ao contrário das
primárias, que são automáticas, processam-se no cérebro, nos córtices frontais do
córtex cerebral, permitindo ao indivíduo pensar nelas e tomar decisões quanto ao
32 BEKOFF, Marc, Manifesto dos Animais, p. 34. 33 Ibid.
A Expressão da Alegria no Homem e no Cão Emoção animal
42
seu próprio comportamento. São estas emoções, de tipo secundário, que permitem a
autoperceção.34
Na opinião de Marc Bekoff, a ciência dos nossos dias está a confirmar as nossas
intuições sobre os animais; apoiada em pesquisas e descobertas recentes sabe-se,
entre outras coisas, que os animais são apaixonados, conscientes e têm
personalidades individuais, claro, tudo à sua própria maneira.
Os animais não humanos, diz Darwin na sua obra A Origem do Homem,
experimentam as mesmas sensações que nós, humanos, pois o terror age neles da
mesma forma, fazendo tremer os músculos, acelerar o coração, relaxar os
esfíncteres, eriçar os pelos, experimentam afeição e desejo de serem amados, o
instinto de autopreservação, o amor sexual, a afeição pela mãe e pelos recém-
nascidos, o desejo que estes últimos possuem de ser aleitados, assim como as
necessidades de contacto e proximidade.
Figura 52 - O mesmo cão aproximando-se de outro cão com intenções hostis, desenho de Riviére. (Fonte: DARWIN, Charles, A Expressão das Emoções no Homem e nos Animais, p. 55)
Dois Terriers, (…) encontrados, imundos e aterrorizados, que mostravam ser amigos
e não companheiros (…) foram levados a um veterinário local que afirmou que um
dos terrier fora apunhalado, e ambos os olhos tiveram de ser removidos e as
pálpebras cosidas. Dois dias depois voltou para o canil onde estava, também, o seu
amigo,( o outro terrier) o qual, passou a ser cão-guia que o segurava no cachaço e o
levava a andar pelo quintal até ele saber a disposição do terreno. Depois de uma
equipa de televisão gravar este espantoso espetáculo, os dois cães encontraram um
34 DAMÁSIO, António, O Erro de Descartes, pp. 180 a 184.
A Expressão da Alegria no Homem e no Cão Emoção animal
43
lar maravilhoso com um casal de idosos. Nesta nova morada dormiam juntos e
enrolados um no outro.35
Mas não é o único caso em que um animal com visão ajuda outro cego: Annie, uma
mula cega, e o seu companheiro habitual e guia, Charlie, um boi. (…) ambos
inseparáveis, vivem como residentes permanentes no Colorado’s Black Forest
Animal Sanctuary (BFAS), uma organização de acolhimento sem fins lucrativos.
Annie e Charlie, tal como os dois amigos terriers, dormem encostados um ao outro.36
(…) gerir e proteger a vida é a premissa fundamental do valor biológico. O valor
biológico influenciou a evolução das estruturas cerebrais e influenciou, em qualquer
cérebro, a grande maioria das operações cerebrais, (…) o valor biológico tem o
estatuto de um princípio. A mente consciente emerge na história da regulação da
vida. A regulação da vida, um processo dinâmico conhecido como homeostasia, tem
início em estruturas unicelulares, tal como a ameba (…) o processo vai evoluindo nos
indivíduos cujo comportamento é gerido por um cérebro simples, como no caso dos
vermes, e prossegue a sua marcha nos indivíduos cujo cérebro gera não só
comportamento, mas também uma mente, de que são exemplos insetos e peixes.
Estou disposto a acreditar que o cérebro começa a gerar sentimentos primordiais – e
isso poderá acontecer bastante cedo na história evolutiva – os organismos tornam-se
sencientes numa forma primitiva. A partir desse momento, poderá vir a desenvolver-
se um processo de eu organizado, que se acrescenta à mente, garantindo assim o
início de mentes conscientes mais complexas. Os répteis, por exemplo, merecem
essa distinção, as aves ainda mais, e para os mamíferos não há qualquer dúvida.37
Charles Darwin afirma que os animais divertem-se com a excitação e sofrem com o
tédio. Na sua obra A Origem do Homem, (pp. 91 a 97), as emoções e faculdades
fundadas na inteligência, tais como a curiosidade, a imitação, a memória, o hesitar,
decidir ou resolver, a razão, a imaginação (que é detetada durante o sono, em
expressões corporais e emissão de sons) são apontadas como sendo observáveis
em animais não humanos e são de extrema importância, pois constituem a base para
o desenvolvimento das faculdades mentais superiores, emoções consideradas do 2º
grau.
Por exemplo, o riso, que pode ser desencadeado por uma qualquer ideia ridícula,
não pode ser considerado propriamente uma ação reflexa, segundo Darwin é
necessário existir uma predisposição. Por analogia, mencionamos a opinião de
Rosamund Young38; as galinhas, quando não sujeitas ao desconforto e à dor,
causados por vários métodos de criação industrial, como corte do bico (sem
anestesia), fraturas ósseas, várias lesões nas patas, problemas articulares, arrancar
das penas e outros, gostam de brincar, são emotivas e sabem fazer amizades; é fácil
observar a sua capacidade de se divertirem.
35
BEKOFF, Marc, A Vida Emocional dos Animais, pp. 109 e 110. 36
BEKOFF, Marc, A Vida Emocional dos Animais, p. 110. 37
DAMÁSIO, António, O livro da consciência, pp. 44 e 45. 38
YOUNG, Rosamund, The Secret Life of cows, 2005.
A Expressão da Alegria no Homem e no Cão Emoção animal
44
- Os animais dividem connosco o privilégio de terem uma alma.
Pythagoras
Figura 53 – Posturas comportamentais de leões. (Animals Need Help And
Compassion, 2012)
Figura 54 – Posturas comportamentais de suínos. (Animals Need Help And Compassion, 2012)
A Expressão da Alegria no Homem e no Cão Emoção animal
45
A alegria nos animais pode ser evidente aos nossos olhos, mas também é
confirmada por estudos neurobiológicos, “ciência pura”, sobre os efeitos do jogo e do
riso.39
Figura 55 - Cão com objeto e cão expressando riso. (Getty Images, 2012)
Figura 56 - Diferente expressão de riso e satisfação. (Animals Need
Help And Compassion, 2012)
39 BEKOFF, Marc, op. cit., p. 87.
A Expressão da Alegria no Homem e no Cão Emoção animal
46
Figura 57 – Diferentes expressões de alegria. (Katu, 2012)
Figura 58 – Idem. (Animals Need Help And Compassion,
2012)
Paul Ekman, no início da sua carreira, era favorável ao relativismo antropológico que
contradiz Darwin. Contudo, em 1966, iniciou as suas pesquisas sobre a influência
das diferentes culturas na manifestação de emoções e a relação das emoções com
as expressões faciais, o que o levou a concluir (tal como, mais recentemente, o
neurobiólogo António Damásio) que as emoções e os sentimentos não são respostas
exclusivamente humanas e as suas expressões são universais.
A Expressão da Alegria no Homem e no Cão Emoção animal
47
Estudiosos da vida animal, como Vila, Leonard, Patricia Simonet, Rooney e outros,
revelam que a história comum dos homens e dos cães remonta a 100 000 anos,
período em que foram desenvolvidos certos sinais de comunicação, tais como o
olhar fixo, o toque, o sorriso e o riso.
A gargalhada de um cão soa semelhante a uma normal aspiração ofegante. Quando
este riso canino é gravado e ouvido por cães em abrigos, pode desencadear
brincadeira, promover comportamento pró-social e diminuir níveis de stress. Cento e
vinte cães, num abrigo, foram observados num estudo que expôs indivíduos entre os
4 meses e os 10 anos à gravação do riso canino e concluiu-se que, entre os cães
expostos, foram reduzidos os comportamentos de stress (rosnar, salivar, ladrar) e
aumentou a frequência de brincadeira, abanos de cauda e lambidelas.40
Ofegar de cão (1 segundo)
Riso de cão (1 segundo)
Toni Shelbourn, autora de “Truth about Wolves and Dogs: Dispelling the Myths of
Dog Training” (2012), considera que nos treinos de educação ou no normal
relacionamento, nenhum ser humano poderá assumir o papel de alfa41 da matilha,
pois os cães não são lobos (0.04% de diferença genética é suficiente para
estabelecer a diversidade); também entre nós e os macacos _+ 98,7% em comum, e
não estamos ao mesmo nível evolutivo.
Os cães apreciam uma boa massagem, dada por um companheiro humano ou um
amigo gato.
40 Patricia Simonet et al, 7th International Conference On Environmental Enrichement, july 31 – august 5, 2005, New York. 41 Alfa ou lobo líder.
A Expressão da Alegria no Homem e no Cão Emoção animal
48
Figura 59 – Cão a receber massagem humana, apenas para relaxar. ( Fonte:
Animals Need Help And Compassion, 2012)
Figura 60 – O “patear” [agradável!] feito por companheiro felino. ( Fonte: Animals
Need Help And Compassion, 2012)
Há quem considere os cães uma maravilhosa companhia. Muitas pessoas, que
vivem com eles, tratam-nos como membros da família; são capazes de fazer
sacrifícios pela saúde e bem-estar do seu companheiro animal, pois, consideram a
sua perda irreparável; devendo-se isso, certamente, ao reconhecimento e à
admiração que nutrem por ele.
A Expressão da Alegria no Homem e no Cão Emoção animal
49
Num estudo aleatorizado de setenta e seis doentes com insuficiência cardíaca
hospitalizados, os investigadores do Centro Médico do UCLA descobriram que as
taxas de ansiedade baixaram em média 24 por cento em doentes que interagiam
com cães, independentemente da raça. Os cães ficavam deitados na cama dos
doentes durante doze minutos enquanto estes simplesmente lhes faziam festas e lhe
coçavam as orelhas.42
Figura 61 – Cão com comportamento de obediência que revela uma atitude. (Animals
Need Help And Compassion, 26-10-12, 11:03)
42 BEKOFF, Marc, A Vida Emocional dos Animais, p. 41.
A Expressão da Alegria no Homem e no Cão Emoção animal
50
Capítulo II - Antropomorfismo
Nada do que é humano me é estranho.
Montaigne
A atribuição de características e comportamentos humanos a formas inanimadas, a
seres que fazem parte de crenças religiosas, ou a seres vivos do mundo natural, é
considerada uma visão do mundo ou doutrina filosófica (antropomorfismo).
Como seres humanos que estudamos outros animais, apenas podemos descrever e
explicar o seu comportamento com palavras com as quais estamos familiarizados de
um ponto de vista centrado no ser humano. Por isso, quando tento perceber o que se
passa na cabeça de um cão, tenho que ser antropomórfico, mas tento fazê-lo de um
ponto de vista centrado no cão (…) um cão está feliz ou com ciúmes, não significa
que está feliz ou com ciúmes como o ser humano, nem sequer como outros cães.
Ser antropomórfico é uma ferramenta linguística para tornar os pensamentos e
sentimentos de outros animais acessíveis aos seres humanos.43
Na opinião de Mark Bekoff, o antropomorfismo apresenta grande complexidade. Está
relacionado com a capacidade de conceptualizar o mundo em geral, e não apenas
outros animais; esta capacidade manifesta-se a partir dos sistemas neurológicos
onde se originam as emoções de caráter primário; o antropomorfismo assenta numa
base neurológica que dá expressão a um modo de inteligência social, que possibilita
a compreensão dos estados mentais dos outros, existindo provas que esta empatia
cognitiva não é exclusiva dos seres humanos como é reportado por CeAnn Lambert,
diretora do Indiana Coyote Rescue Center, em experiências com ratos.44
A Physionomie humaine de Della Porta (1535 – 1615), obra que apresenta desenhos
zoomórficos, os quais estabelecem comparações com base nas doutrinas da Idade
Média das assinaturas e simpatias 45, procura explicar as paixões humanas que, pela
43 BEKOFF, Marc, A vida emocional dos animais, pp. 162 e 163. 44 BEKOFF, Marc, op. cit., p. 37. 45 “Doutrinas das assinaturas” : cada coisa, tem imprimido na sua superfície a assinatura de todas as forças e propriedades que estão contidas em si própria. A similaridade das formas estabelece as correspondências e as mútuas simpatias entre os seres e as coisas. Vide História do Rosto, p. 43.
A Expressão da Alegria no Homem e no Cão Emoção animal
51
relação de simpatias com o universo das formas e dos carateres dos animais,
estabelece uma relação entre o homem exterior e o homem interior, onde este e os
outros animais se chegam a fundir .
Os olhos, para Giambattista della Porta, ao olharem, dizem a expressão. Um
pensamento mais profundo faz com que os olhos se semi-fechem ou fechem, pois, a
visão parece orientar-se para dentro. Ainda, na obra de Porta, os olhos são luzes de
amor, estremecem, piscam e são vistos numa ligação ao universo do mundo animal
e das formas naturais.
Figura 62 - Della fisionomia d’ell huomo, páginas 189 e 203 do terceiro livro Physionomie humaine de Della Porta.
A Expressão da Alegria no Homem e no Cão Emoção animal
52
Figura 63 - Della fisionomia d’ell huomo, páginas 131, 132, 143 e 93 do terceiro livro Physionomie humaine de Della Porta.
A Expressão da Alegria no Homem e no Cão Emoção animal
53
Figura 64 - Della fisionomia d’ell huomo, páginas 18, 61, 87 e 37 do terceiro livro Physionomie humaine de Della Porta.
Por exemplo: a disposição das formas ósseas por cima dos olhos é interpretada
como um franzir de sobrancelhas; esta característica, combinando com os cantos da
boca muito puxados para trás, dá (…) uma expressão de fácies altiva e resoluta.
A Expressão da Alegria no Homem e no Cão Emoção animal
54
Charles Le Brun, fisionomia do homem e dos animais
Destaca-se na obra de Le Brun uma série de desenhos onde procede a uma
comparação sistemática das morfologias faciais dos homens e de certos animais,
mas como exercício de representação de formas híbridas onde os carateres
morfológicos, que apresentam analogias entre o homem e outros animais, não
procuram explicar paixões humanas como em Della Porta. Le Brun, como que
explica onde se aproximam e afastam as morfologias, numa ação de separar
(individualizar) o homem nas suas expressões; é sobretudo no universo das formas
que procura o valor anímico das expressões.
Desenhos de Charles Le Brun:
Figura 65 – Desenho.
A Expressão da Alegria no Homem e no Cão Emoção animal
55
Figura 66 – Desenho.
Figura 67 – Desenho.
A Expressão da Alegria no Homem e no Cão Emoção animal
56
Figura 68 – Desenho.
A Expressão da Alegria no Homem e no Cão Emoção animal
57
Figura 69 – Desenho.
A Expressão da Alegria no Homem e no Cão Emoção animal
58
Figura 70 – Desenho.
Solipsismo: doutrina segundo a qual só existem, efetivamente, o eu e as suas
sensações, sendo os outros entes (…) como partícipes da única mente pensante,
meras impressões, sem existência própria; vida ou conjunto dos hábitos de um
indivíduo solitário.46
Os humanos possuem uma história de solipsismo, de verem a raiva num vento
quente e malícia nos ataques dos tubarões. Nós temos uma forma de fazer com que
tudo seja acerca de nós.47
46 Dicionário HOUAISS, 2011. 47 BEKOFF, Marc, O Manifesto dos Animais, p. 60.
A Expressão da Alegria no Homem e no Cão Emoção animal
59
Uma figura antropomórfica da arte egípcia que convoca o cão é Anúbis, deus dos
mortos, da mumificação e do submundo no Antigo Egipto. O nome deste deus em
egípcio era “Anpu” ou “Inpu”, uma derivação de “inep”, termo que significava purificar
ou apodrecer. O termo Anúbis é grego.
O seu antropomorfismo (homem com cabeça de chacal ou cão) parece ter origem na
observação dos animais necrófogos (chacais e cães selvagens) que, nos cemitérios
com sepulturas de pouca profundidade, desenterravam os corpos das pessoas para
lhes servirem de alimento.
Este deus egípcio, que guiava os mortos a caminho do submundo, está associado a
Maat, deusa da Verdade e da Justiça cuja pluma era colocada na balança onde
Anúbis pesava as almas (ou corações), antes de seguirem o seu caminho, o que
decidiria, se fossem mais pesadas que a pluma, serem devoradas(os) pelos
demónios.
O culto de Anúbis está patente nas necrópoles do Antigo Egipto, onde se podem ver
preces e hinos que invocam a sua proteção. Os principais centros de culto foram na
décima sétima província em Cinopólis e Licópolis, cidades do Alto Egipto.48
Observar atentamente as expressões faciais dos cães, levando em consideração as
características rácicas e as particularidades do indivíduo, tendo em conta as suas
capacidades de comunicação, ajudar-nos-á a perceber aquilo que nos afasta e aquilo
que nos aproxima deles.
Assente numa grande mobilidade, que advém da existência de músculos que ligam a
cartilagem auricular a diferentes regiões circundantes e, ainda, à cartilagem
escutiforme, as orelhas dos cães podem girar, baixar, erguer-se ou moverem-se para
a frente. Quando as orelhas do cão estão viradas para a frente está interessado e
alerta; quando estão para baixo e coladas à cabeça, manifesta medo; para baixo,
pode estar relaxado.
Os olhos são misteriosos, evocadores e comunicadores imediatos.49 Olhar
profundamente para os olhos de outrem é a forma mais direta de comunicar.
A observação do medo na face dos seres humanos feita através de um estudo que
incluía sujeitar uma pessoa portadora de lesão numa parte do cérebro chamada
amígdala, e que, por tal motivo, não conseguia reconhecer expressões faciais de
medo, concluiu que a razão da sua incapacidade para reconhecer o medo era o facto
de não olhar diretamente para os olhos de quem expressava medo.50
O cães, ao apresentarem uma expressão doce e terna, comunicam afeto, confiança
e ausência de medo; o olhar de soslaio (abdução ocular) manifesta medo e
desconfiança; o cão, ao piscar os olhos, procura acalmar-se, manifesta algum stress
e pode estar confuso; o olhar duro e direto impõe domínio e mostra agressividade.
48 http://www.infoescola.com/mitologia/anubis/ 49 BEKOFF, Marc, A vida emocional dos animais, p. 80. 50 P. Vuilleumier, Starting Fear in the Face, Nature 433 ( 2005), pp. 22, 23.
A Expressão da Alegria no Homem e no Cão Emoção animal
60
Bocejar pode indicar aborrecimento; franzir o focinho, ansiedade; bater os dentes
significa muita emoção; lamber ou lamber-se acontece quando está submisso,
quando cumprimenta, quer acalmar-se ou acalmar outrem.
Figura 71 – Diferentes expressões caninas. (web, 2012)
A Expressão da Alegria no Homem e no Cão Emoção animal
61
Capítulo III - Estruturas análogas e homólogas
(anatomia comparada)
Homologia: ETIM gr. Homologia, as, linguagem concordante, donde acordo.51
“O corpo do homem é sempre a metade possível de um atlas universal. Sabe-se,
como Pierre Belon (1517 – 1564) traçou, até nos detalhes, a primeira tábua
comparada do esqueleto humano com o dos pássaros: ali se vê ‘a ponta da asa,
chamada apêndice, que está em proporção com a asa, com o polegar, com a mão; a
extremidade da ponta da asa, que é como os nossos dedos (…); o osso, tido como
pernas para os pássaros, correspondendo ao nosso calcanhar; assim como temos
quatro dedos pequenos nos pés, assim os pássaros têm quatro dedos, dos quais o
de trás tem proporção semelhante à do dedo grande do nosso pé’.”52 Cumpre
esclarecer que nem todas as aves têm quatro dedos nem o terceiro para trás.
Figura 72 - Comparação dos esqueletos do homem e da ave.53
(de Pierre Belon, 1555, Histoire de la nature des Oyseaux, apud Papavero & Llorente-Bousquets)
51
Dicionário HOUAISS, 2011. 52
FOUCAULT, A Prosa do Mundo pp. 29-30. 53
Papavero, N. & J. Llorente-Bousquets.1995. Principia taxonómica. Una introducción a los fundamentos lógicos, filosóficos y metodológicos de las escuelas de taxonomía biológica. Volumen VI. Analogía y conceptos relacionados en el periodo pre-evolutivo. Universidade Nacional Autónoma de México, México. AMORIM, Dalton de Souza, Ao Redor de Charles Robert Darwin, in Com Ciência, Revista electrónica de jornalismo científico. 10/04/2009.
A Expressão da Alegria no Homem e no Cão Emoção animal
62
Num determinado ambiente podem evoluir, de forma independente, estruturas que
se relacionam entre si num processo conhecido como evolução convergente. A
convergência reside na função, conhecendo-se as estruturas como análogas. Por
exemplo, a história evolutiva e a estrutura dos pés dos vertebrados e dos insetos
diferem, mas ambos usam estes membros na locomoção.
O naturalista inglês Charles Darwin, no seu trabalho escrito acerca da seleção
natural sobre os indivíduos, usou pela primeira vez o conceito de evolução
divergente, referindo as pequenas diferenças que se vão somando até se originarem
múltiplas espécies, constituídas por estruturas homólogas entre si, pois têm um
ancestral comum, divergências, que ao evoluírem para funções distintas, buscam
adaptar-se e assegurarem a sobrevivência no meio onde vivem.
Figura 73 - Baleia, rã, cavalo, leão, homem. Morcego e ave. Estrutura óssea dos membros anteriores de várias espécies do reino animal. (web, 2012)
Em animais que são exteriormente muito diferentes existem sistemas internos que
são anatómica e fisiologicamente semelhantes.
Figura 74 -
(web, 2012)
A Expressão da Alegria no Homem e no Cão Emoção animal
63
Figura 75 – Aparelho respiratório do homem e do cão. (web, 2012)
Figura 76 - Coração de um cão (à esquerda) e coração humano (à direita). (web, 2012)
A Expressão da Alegria no Homem e no Cão Emoção animal
64
O coração das aves e o dos mamíferos é semelhante, possuindo ambos dois átrios e
dois ventrículos.
Figura 77 - Coração de galinha. (web, 2012)
Figura 78 - Comparação de membros anteriores entre diferentes espécies. (web, 2012)
A Expressão da Alegria no Homem e no Cão Emoção animal
65
Figura 79 - Membros anteriores. (web, 2012)
Na homologia, considera-se a similaridade das estruturas, a posição anatómica
relativa, e a filogenia comum, por exemplo, as células ocuparem a mesma posição
num organismo para darem origem ao mesmo tipo de órgão ou estrutura.
Figura 80 - Cérebro do homem e do cão. (web, 2012)
A Expressão da Alegria no Homem e no Cão Emoção animal
66
Figura 81 - Comparação esquelética entre espécies diferentes. ( web, 2012)
Atualmente, como grande princípio da biologia, a biodiversidade tem como base a
unidade molecular e celular, defendendo a maior parte dos cientistas a evolução das
espécies a partir de um ancestral comum. Deste modo, os sistemas de classificação
refletem as relações de parentesco entre as várias espécies.
Com base no estágio filotípico do desenvolvimento embrionário de várias espécies
animais, é possível encontrar, na forma do corpo, a existência de estruturas comuns
nas diferentes fases dos embriões em vertebrados como o cão, a vaca, o porco, o
coelho, a galinha e o homem, que os sucede na escala zoológica, não apresentando
diferenças significativas entre si.
A correspondência entre os estados apresentados durante o desenvolvimento
embrionário revela a existência de uma origem comum, que dá lugar a repetições de
processos, onde a semelhança da constituição genética mostra o condicionamento
da mesma base hereditária que, ao evolucionar, produz divergências, ou mantém o
padrão genético.
De acordo com a teoria molecular do código genético, a epigenética, a genómica e
as ideias atuais sobre a evolução, as formas adultas e os respetivos comportamentos
dos seres vivos resultam de uma interação de grande complexidade, onde participam
os fatores genéticos, fatores internos, que se manifestam durante o desenvolvimento,
e os fatores que estão presentes no ambiente. A ontogenia é a causa da filogénese
A Expressão da Alegria no Homem e no Cão Emoção animal
67
das espécies, processo determinado por causas materiais, num movimento onde o
homem emerge tal como as outras espécies o fazem.
Figura 82 - Comparação entre diferentes embriões: do porco, da vaca, do coelho, do homem e do cão. (Adaptado de Richardson et. al. Anat. Embryol. P. 196.)
Cada organismo apresenta ciclos de vida próprios que correspondem a diferentes
estratégias por eles encontradas para garantirem a sua própria reprodução, face à
interação do meio ambiente, que tanto pode manter a preservação como permitir a
evolução das espécies. A ontogenia é uma fase onde os processos criadores de
evolução podem acontecer e também onde se resolvem os problemas de adaptação
ao meio ambiente.
A elevada posição evolutiva que, especialmente, os mamíferos alcançaram põe em
destaque a sua eficiência do ponto de vista ontogénico, apresentando determinados
fatores que não podemos deixar de referir como sendo de extrema importância no
processo de emancipação da ontogenia em relação ao meio ambiente. As principais
características que possibilitam a vida no meio terrestre e que garantem essa
aquisição, feita por determinados organismos do reino animal, são um aparelho
respiratório capaz de utilizar o oxigénio atmosférico, a fecundação interna das
fêmeas (mamíferos placentários). Por outro lado, a aquisição de mecanismos
homeotérmicos permite aos mamíferos, onde se inclui o homem, grande resistência à
secura do ambiente e ao frio. Comportamentos adquiridos como os migratórios
também constituem uma forma de compensar as variações climáticas que
caracterizam o ambiente terrestre.54
O paradigma que, durante muito tempo, foi dominante (desenvolvido nos anos 30 do
séc. passado) defendia, em oposição a Jean Baptiste Lamarck (de opinião que a
54 Ver SACARRÃO, G.F., Ontogenia e ambiente na evolução dos vertebrados, pp. 78 e 79.
A Expressão da Alegria no Homem e no Cão Emoção animal
68
evolução acontecia no espaço de uma ou duas gerações), que os efeitos do meio
ambiente só poderiam ocorrer muito lentamente. Hoje, a epigenética esclarece que
as experiências vividas pelos pais, relacionadas com a sobrevivência, tais como
situações limite, de fome ou cuidados maternos, deixam marcas no material genético
do óvulo ou do espermatozoide e são transmitidas às próximas gerações.
A luta constante pela existência determina os mais diversos comportamentos e a
manifestação de instintos que detêm vantagens para cada espécie em particular.
A instalação dos mamíferos no meio terrestre foi possível quando surgiram
mecanismos que permitiram a adaptação do desenvolvimento embrionário. Por
exemplo, a possibilidade de o ovo originar um embrião dentro de um saco cheio de
líquido amniótico, o que lhe confere autonomia em relação ao ambiente externo, mas
por outro lado uma grande ligação e consequente dependência dos progenitores.
Essa dependência começa no útero materno e, sobre as expressões das faces nas
diferentes fases da vida intrauterina dos animais (no que respeita à expressão de
felicidade), chamamos a atenção para a que comporta o sorriso endógeno, de
natureza reflexa e de caráter fisiológico, geralmente associado ao sono, a ciclos de
excitação e descargas neurofisiológicas e à secreção bioelétrica dos
neuropepetídeos.55
As expressões de embriões humanos e também de outros mamíferos manifestam
possíveis vivências de emoções e sentimentos das referidas espécies no útero
materno.
O Laboratório de Expressão Facial da Emoção, da Faculdade de Ciências da Saúde,
da Universidade do Porto, está a estudar o sorriso no feto humano. Este estudo
procura dar respostas sobre as causas e funções do sorriso na vida intrauterina.56
Figura 83 - Imagem de neuropepetídeos.
(http://www.scribd.cm/doc/14180375/Bioquimica-neuropepetideos)
55
Os neuropepetídeos são pequenas proteínas formadas por cadeias de aminoácidos que atuam como neurotransmissores no SNC ou no periférico; podem influenciar tecidos periféricos e atuar, de forma endócrina, fora do SN; modelam respostas somáticas como a sensibilidade e as emoções: a fome, a dor, o prazer e outros processos do organismo. 56
Lusa / AO online / Nacional / 23 de Fev de 2010, 17:35
A Expressão da Alegria no Homem e no Cão Emoção animal
69
Figura 84 - Sorriso humano: intrauterino e do bebé. (web, 2012)
A Expressão da Alegria no Homem e no Cão Emoção animal
70
Figura 85 – Expressões faciais de fetos de caprino (gentileza da Professora Doutora Graça Pires, Faculdade de Medicina Veterinária de Lisboa).
Figura 86 – Expressão de cabritos. (Animals Need Help And
Compassion, 2012)
A Expressão da Alegria no Homem e no Cão Emoção animal
71
Figura 87 – Expressões faciais de fetos de suíno (gentileza da Professora Doutora Graça Pires, Faculdade de Medicina Veterinária de Lisboa, 2012).
Figura 88 – Expressão de leitões. (Animals Need Help And
Compassion 2012)
A Expressão da Alegria no Homem e no Cão Emoção animal
72
Figura 89 - Expressões faciais de fetos de bovino (gentileza da Professora Doutora Graça Pires, Faculdade de Medicina Veterinária de Lisboa, 2012).
As ações expressivas, por um lado, estão ligadas diretamente à necessidade de
satisfazer algum desejo (básico ou complexo), suavizar, libertar ou impedir o efeito
de alguma sensação, por outro lado, podem manifestar-se independentemente,
despertadas por leves estímulos, pelo princípio do hábito e da associação.(…) Todos
os movimentos expressivos hereditários parecem ter tido uma origem natural e
independente da expressão; ainda que, depois de adquiridos, tais movimentos
possam ser utilizados voluntária e conscientemente como meios de comunicação.57
(…) Há ainda outras emoções, como o afeto, que não costumam conduzir a nenhum
tipo de ação e que, como tal, não se manifestam por nenhum sinal exterior particular.
Na verdade, o afeto, na medida em que é uma emoção aprazível, estimula os sinais
normalmente identificados com o prazer.58
57 DARWIN, Charles, A Expressão das Emoções no Homem e nos Animais, p. 327. 58 DARWIN, Charles, A Expressão das Emoções no Homem e nos Animais, p. 322.
A Expressão da Alegria no Homem e no Cão Emoção animal
73
Figura 90 – Expressão de vitelo e progenitora. (Animals Need Help And
Compassion, 2012)
"Chegará o dia em que os homens conhecerão o íntimo dos animais e, nesse dia, um
crime contra um animal será considerado um crime contra a Humanidade."
Leonardo Da Vinci
É aceite que a vida na terra tenha surgido numa data não superior a 3,5 mil milhões
de anos.
Uma das provas mais iniludíveis do transformismo, que a paleontologia nos põe em
evidência, é a que os diversos grupos animais aparecem numa altura que
corresponde ao seu nível de organização. Isto é, há concordância entre a data do
aparecimento de um grupo e o nível que lhe confere a sua organização. Isto significa,
por exemplo, que os primeiros mamíferos que se conhecem são posteriores aos
répteis, seus antepassados, da mesma maneira que os batráquios atuais são
posteriores aos estegocéfalos, as aves atuais posteriores à Archae opteryx, (…), e
assim por diante. A posição de um grupo corresponde à que lhe assinala o seu grau
de complicação estrutural. Existe, assim, aquilo a que podemos chamar uma
correlação estrutura/ tempo, de grande significado como testemunho do processo
evolutivo. Testemunho sob a forma de evidência indirecta, claro está.59
Caso exista variabilidade genética que permita a evolução dos organismos, haverá
adaptação por parte destes ao meio ambiente, também se pode evoluir para formas
que não conseguem atingir um estado de melhoria devido a restrições impostas
pelas condições exteriores.
Ao longo do curso de trinta anos de um estudo sobre a biodiversidade na montanha
Ram, em Alberta, no Canadá, o biólogo Maro Festa-Bianhet Sherbrooke descobriu
que tanto os carneiros machos como as fêmeas estavam a ficar mais pequenos e
59 SACARRÃO, G. F., Ontogenia e ambiente na evolução dos vertebrados, p.15.
A Expressão da Alegria no Homem e no Cão Emoção animal
74
que o tamanho dos cornos dos carneiros de cornos compridos declinou cerca de
25%. Os biólogos defendem que a caça levou a uma forma de evolução invertida (…)
(isto ameaça a viabilidade das espécies e, na verdade, deixa poucos dos cobiçados
troféus animais que os caçadores mais desejam).60
Figura 91 - Imagens comparativas dos cornos dos carneiros. (Animal Equality, 2012)
O termo proteção orgânica apresentado pelo ilustre professor da Faculdade de
Ciências da Universidade de Lisboa, G.F. Sacarrão, na sua obra intitulada Ontogenia
e Ambiente na Evolução dos Vertebrados, encontra-se intimamente ligado à
necessidade que todos os seres têm de ascensão e libertação. Há dois processos
pelos quais os progenitores asseguram a proteção da descendência. Um a que
chamarei “orgânico”, engloba todos os métodos e dispositivos morfológicos e
fisiológicos com os quais se assegura a proteção. (…) o outro processo, que
designarei “psíquico”, compreende todos os atos de natureza instintiva que
asseguram a proteção das fases embrionárias e da proteção dos jovens61.
Outras emoções e sensações há a que chamamos depressoras, pelo facto de não
conduzirem habitualmente a ações enérgicas (exceto num primeiro momento) como
60 BEKOFF, Marc, Manifesto dos Animais, pp. 143 e 144. 61SACARRÃO, G. F., Ontogenia e ambiente na evolução dos vertebrados, p. 103.
A Expressão da Alegria no Homem e no Cão Emoção animal
75
acontece com a dor extrema, o medo e a angústia, que acabam por conduzir à
completa exaustão; e estas ações e emoções manifestam-se sobretudo através de
sinais negativos e por um estado de prostração.62
Sabemos muito sobre os animais; todos o dias são objeto de estudo em laboratórios.
O que sabemos sobre os animais e, também, sobre o valor da vida, tem modificado
algumas leis sociais (a partir de 11 - 03 - 2013, a União Europeia proibiu a venda de
cosméticos testados em animais). Há muitos movimentos de pessoas a favor dos
animais, que verdadeiramente aliviam o seu sofrimento, mas pensamos que há um
nível de dignidade que falta ser reconhecido pela grande maioria dos seres humanos
como um direito dos animais, o qual está intrinsecamente ligado ao valor da vida, ao
respeito pelo que é a natureza de um ser que diverge de nós, nas suas escolhas, na
orientação da sua vida, nas suas apetências, um ser que tem a sua longevidade
natural, que é consciente de si e do que o envolve, independentemente de ser
considerado inteligente ou não pela espécie humana.
Privilegiamos alguns animais em detrimento de outros, mas sempre em função dos
nossos gostos, das nossas preferências e apetências. Podemos afirmar que a vida
tem sentido quando existe reciprocidade, mas não é por criarmos esquemas nos
quais indivíduos de outras espécies ficam dependentes de nós, como o peixinho do
aquário, o cão preso à árvore, as galinhas na capoeira, as vacas no estábulo, as
cabras no curral, os coelhinhos na gaiola, etc. que temos o direito de dispor das suas
vidas para o que entendermos.
É do nosso conhecimento que todo o DNA que os seres vivos possuem corresponde
ao genoma, que é um mecanismo da organização dos genes na formação do
indivíduo, e que essa organização está intimamente ligada às heranças transmitidas
pelos progenitores.
A utilização de outros seres conscientes para proveito próprio deverá considerar
seriamente as mais recentes descobertas do valor da vida e da sensibilidade dos
seres.
Capítulo IV - Mímica Facial e Corporal
Utilizarei aqui factos observados tanto nos homens como nos animais inferiores; entretanto os
últimos são preferíveis, já que menos propensos a nos enganar.63
62 DARWIN, Charles, A Expressão das Emoções no Homem e nos Animais, p. 322. 63 DARWIN, Charles, A Expressão das Emoções no Homem e nos Animais, p. 35.
A Expressão da Alegria no Homem e no Cão Emoção animal
76
Pain may be the reason for somebody’s laugh. My laugh must never be the
reason for somebody’s pain.
Charles Chaplin
Mímica: Maneira de expressar o pensamento por meio de gestos, expressões
corporais e fisionómicas. A arte de assim se expressar; pantomina. Conjunto de
gestos que acompanham a fala oral; gesticulação.64
As expressões faciais variam de indivíduo para indivíduo, ligam-se à
exteriorização dos sentimentos e são atos que expressam emoções.
Figura 92 – Pantomima. (web, 2013
64 Dicionário do Português atual Houaiss, 2011.
A Expressão da Alegria no Homem e no Cão Emoção animal
77
Figura 93 – Expressões faciais e corporais humanas.(web, 2012)
Figura 94 - Expressões faciais e corporais humanas. (web, 2012)
A Expressão da Alegria no Homem e no Cão Emoção animal
78
Os músculos da expressão facial denominam-se músculos dérmicos e estão
intimamente relacionados com o couro cabeludo, a pele da face e do pescoço,
apresentam-se de forma numerosa e são muito delgados. Estes músculos estão nas
partes anterior e posterior do escalpe, face e pescoço. As suas duas extremidades
não se fixam igualmente: uma parte insere-se no esqueleto e a outra prende-se na
camada mais profunda da pele, são todos inervados pelo VII par craniano (nervo
facial) e, como podem mover a pele do couro cabeludo e da face, são responsáveis
pelas alterações da expressão facial. Ao contraírem-se, produzem variações na
forma dos orifícios anatómicos, pregas e sulcos da pele, alterando a fisionomia e
permitindo assim a exteriorização dos sentimentos. Os músculos faciais podem ser
acionados por via motora voluntária ou involuntária. Tomemos como exemplo o
sorriso que, por razões de conveniência social, pode ser programado, é o sorriso
consciente. O sorriso espontâneo, acionado por via motora involuntária, não é
consciente, é automático e revela sentimentos genuínos – mostra o que vai na alma.
Associado ao sorriso está também o conceito de beleza. O conceito de beleza e
funcionalidade acompanham os mais antigos registos da existência humana como
uma lei natural. Conhecida dos egípcios, popularizada na Grécia Antiga e na
Civilização Romana, foi denominada por “Proporção Divina”. (Luca Bartolomeu de
Pacioli, 1445-1517) ou “Propriedade Divina” ( Johannes Kepler, 1571-1630).
A aplicação deste conceito, na Grécia Antiga, resultou no desenvolvimento de várias
formulas matemáticas por parte dos arquitectos gregos. Destas proporções, a mais
conhecida é a proporção áurea ou divina, uma fórmula matemática para definir a
harmonia de uma figura, escultura ou construção arquitectónica, consiste em dividir
um segmento de reta em duas partes desiguais onde a relação (ou proporção) entre
a parte maior e a parte menor tem de ser igual à proporção do todo relativamente à
parte maior. Daqui resulta um número irracional (phi) com o valor arredondado a três
casas decimais de 1,618 (o número de ouro). Phidias (escultor grego) usou
vastamente a secção áurea na construção do Parthenon.
A proporção áurea é uma lei natural de crescimento para os reinos animal e vegetal
e encontra-se nas suas anatomias. Está presente na natureza, no corpo humano e
no universo. Como sequência aparece no comportamento da refracção da luz, dos
átomos, do crescimento das plantas, no centro de uma maçã, nas espirais das
galáxias, nas ondas do oceano, na estrela do mar, nos furacões, etc.65
Um sorriso esteticamente agradável tende a exibir um alto grau de simetria com base
na linha média do rosto, no entanto, as assimetrias, os desalinhamentos e outras
discrepâncias podem fazer parte de determinada harmonia natural entre as estruras
do sorriso e da face, não pondo em causa a estética correspondente.
65 Aulas de Anatomia Artística da Professora Doutora Isabel Ritto, 2011.
A Expressão da Alegria no Homem e no Cão Emoção animal
79
Músculos da mímica facial e expressões faciais:
Figura 95 – Músculos e mimica facial. (web, 2012)
O Músculo Frontal (ociptofrontal) participa na expressão de surpresa, espanto ou
preocupação, ergue o supraciliar e franze a testa.
Figura 96 – Espanto. (web, 2012)
Referimos, também, como de grande importância, o músculo occipital que firma
e retrai a aponeurose epicrânica, tracionando o couro cabeludo para trás.
A Expressão da Alegria no Homem e no Cão Emoção animal
80
Figura 97 – Músculos da face e pescoço. (web, 2012)
O músculo orbicular do olho está envolvido no encerramento palpebral quando é
expressado o choro ou a gargalhada.
Figura 98 – Gargalhada. (web, 2012)
Na expressão do sorriso, desde o sorriso tímido (boca fechada), o riso ou a
gargalhada, estão presentes o pequeno zigomático e o grande zigomático, principais
músculos do sorriso.
No sorriso forçado, o músculo risório dirige a comissura labial para fora e para trás.
A Expressão da Alegria no Homem e no Cão Emoção animal
81
Figura 99 – Vários tipos de sorriso. (web, 2012)
Figura 100 – Músculos faciais. (web, 2012)
O músculo temporal é um músculo da articulação temporomandibular (ATM).
Levanta a mandíbula, move a mandíbula posterior e lateralmente e mantém a
posição da mandíbula em repouso. Participa em várias expressões, ex.: a
desconfiança.
A Expressão da Alegria no Homem e no Cão Emoção animal
82
Figura 101 –Músculo temporomandibular. Exemplo de uma ação no semblante. (web, 2012) (web, 2012)
O músculo corrugador ou superciliar, que confere ao rosto a expressão do
carrancudo, a expressão da ira, zanga, raiva e também a da atenção, puxa a
extremidade medial da sobrancelha para baixo e vinca verticalmente a fronte.
f
Figura 102 – semblante exibindo fúria (web, 2012)
O músculo prócero é um músculo nasal, compressor da narina, responsável pelo
franzir do nariz e também funciona como auxiliar do músculo frontal. A prega
horizontal abaixo da glabela é originada por este músculo.
A Expressão da Alegria no Homem e no Cão Emoção animal
83
Figura 103. (web, 2012)
O músculo depressor do lábio inferior deprime o lábio inferior e permite expressar
dor, desprezo ou beicinho.
Figura 104 (web, 2012)
Na expressão de desprezo, o músculo mentoniano eleva a dobra da pele do queixo
e traciona para cima o lábio inferior.
Figura 105. (web, 2012)
A Expressão da Alegria no Homem e no Cão Emoção animal
84
O músculo bucinador, na expressão do sorriso, nivela as bochechas:
Figura 106 – Sorriso da Gioconda. (web, 2012)
A Expressão da Alegria no Homem e no Cão Emoção animal
85
Um homem bem disposto, segundo Darwin, tem sempre alguma tendência para
retrair os cantos da boca, mesmo que não expresse claramente o sorriso.
Este investigador refere outro aspeto importante que difere da ação dos músculos,
que é quando os olhos brilham e o rosto adquire cores mais vivas devido ao
aumento do fluxo sanguíneo na cabeça, produzindo uma circulação mais rápida ao
nível do cérebro, sendo reativadas as capacidades inteletuais as ideias ficam mais
presentes e movimentadas, assim como os afetos.66
O músculo elevador do lábio superior puxa o canto da boca e a asa do nariz para
cima e atua na expressão de menosprezo:
Figura 107 – Exemplo de expressão de menosprezo. (web, 2012)
Na expressão da dor ou tristeza, o músculo depressor do ângulo da boca eleva o
ângulo da boca:
Figura 108 – Dor física e dor psicológica. (web, 2012)
66 DARWIN, Charles, A Expressão das Emoções no Homem e nos Animais, p. 193.
A Expressão da Alegria no Homem e no Cão Emoção animal
86
Segundo investigadores, como Darwin ou Ekman, existe uma estreita similaridade
dos movimentos espasmódicos provocados por um acesso de choro ou um ataque
de riso; é comum a todas as raças e culturas, e pode verificar-se em qualquer idade.
De facto, muitas vezes, torna-se difícil distinguir a diferença; os músculos orbiculares
ao contraírem-se espasmodicamente para proteger os olhos, devido ao afluxo de
sangue que acontece no rosto e na cabeça, permitem que as lágrimas se soltem com
facilidade e o rosto pode ficar banhado por elas, escorrendo pelo rosto.
A gargalhada forte impele o corpo a fazer movimentos que o projetam para trás e
que o fazem estremecer convulsivamente.
O riso com lágrimas pode estar associado a costumes, como por exemplo, a mímica
nos povos europeus e entre os selvagens da Austrália. A dor profunda pode fazer
eclodir o riso, facto observado frequentemente entre os chineses, como refere
Darwin na página 190 da sua obra intitulada A Expressão Das Emoções No Homem
e nos Animais.
Pensamentos de tristeza ou de alegria têm no cérebro mecanismos que podem ser
ativados sem a emoção e os sentimentos habituais. O neurobiólogo António
Damásio afima que, a partir de determinadas estimulações elétricas, feitas no tronco
cerebral, é alterado o funcionamento dos núcleos motores que estão ligados a
pensamentos que costumam ocorrer na presença de emoções como a tristeza ou a
alegria, pondo em evidência a autonomia relativa dos mecanismos que
desencadeiam a emoção, e refere que os sentimentos são tão mentais como os
objetos e as situações que as desencadeiam.
Experiências que conduziram a conclusões semelhantes, levadas a cabo por Paul
Ekman, centraram-se na estimulação dos músculos faciais, e induziram os indivíduos
sujeitos à estimulação a experimentar sentimentos compostos pelo experimentador
na medida em que eram estimulados os músculos específicos que atuam
automaticamente na capacidade expressiva das emoções e dos sentimentos.67
Capítulo V - A expressividade do cão
Comprender as emoções de um cão e como ele poderá reagir através da sua
linguagem corporal requer que consideremos em conjunto os sinais que cada parte
do corpo apresenta. O contexto em que a comunicação se verifica deve fazer parte
da avaliação. Por exemplo, o abanar da cauda tanto pode indicar alegria como alerta,
de acordo com a presença de algo agradável ou suspeito.
“As faces também são extremamente importantes para avaliar os sentimentos dos
animais” ( Marc Bekoff, A vida Emocional dos Animais, p. 79).
67
DAMÁSIO, António, Ao Encontro de Espinosa, p. 83.
A Expressão da Alegria no Homem e no Cão Emoção animal
87
Na cabeça , as orelhas, a zona superciliar, os olhos e a boca são os indicadores das
expressões que procuramos avaliar. Na postura corporal há que considerar o
pescoço, os pelos, o dorso e a cauda; em geral, a maneira de colocar a cabeça, o
tronco e os membros são os elementos expressivos.68
Figura 109 – “A vénia”. http://caninablog.wordpress.com/2012/07/26/gustavo-campelo-como-estimular-a-
brincadeira-entre-caes/)
A “vénia”, estudada durante anos pelo biólogo Marc Bekoff, é uma solicitação para
brincar, sendo também usada para regular o bom andamento de um jogo social, pois
é feita sempre que uma ação desajeitada ou mais violenta possa ser interpretada
como agressão. Neste caso é como um pedido de desculpas e a confirmação de que
o jogo poderá continuar. O animal ao executar a vénia (rígida e estereotipada, que a
partir de uma filmagem pode ser medida como uma frequência cardíaca ou o
comprimento de um braço), “tende a aninhar-se nas patas dianteiras, eleva-se nos
quartos traseiros e pode abanar a cauda”.69
68 In ESPECIAL SÁBADO, pp 34 a 42, 24 a 30 de maio de 2012. 69 BEKOFF, Marc, A Vida Emocional dos Animais, p. 64.
A Expressão da Alegria no Homem e no Cão Emoção animal
88
Na expressão de contentamento, os músculos orbiculares dos olhos fazem contrair
os tecidos que ficam à volta, ocasionando variáveis aberturas, e o músculo
zigomático puxa as comissuras labiais para cima; a posição das orelhas é para
baixo.
Figura 110 – Cães exibindo satisfação nas fácies. (Animals Need Help And Compassion, 2012)
Os cientistas descobriram que os cães prestam de facto especial atenção a sinais
humanos, manifestando capacidade de interagir. Stanley Coren, autor do bestseller
“A Inteligência dos Cães”, conceituado especialista em comportamento animal,
dividiu a inteligência canina em três categorias e afirma que a inteligência instintiva
é inata, comum a todos os cães, e independente da interferência do homem.
A Expressão da Alegria no Homem e no Cão Emoção animal
89
Figura 111 – Exemplos de comunicação canina.
Ethos Psicologia Animal | Cães, Gatos, Aves - Pet
2012
A Expressão da Alegria no Homem e no Cão Emoção animal
90
Músculos da expressão facial do cão (anatomia comparada)
Figura 112-
http://equipeveterinariafv2010.blogspot.pt/2012/02/musculos-da-face-e-pescoco-do-cao.html
1- M. frontal 2- M. interescutular 3- Cartilagem escutiforme 4- M. elevador do ângulo medial do olho 5- M. orbicular do olho 6- M. retrator do angulo lateral do olho 7- M. esfíncter profundo do pescoço 8- M. zigomático 9- M.orbicular da boca 10- M. malar 11- M.parotidoauricular 12- Glândula parótida 13- M. zigomaticoauricular 14- R. zigomático do n.auriculopalpebral 15- M. elevador nasolabial 16- Folículos pilosos (pelos labiais) 17- M. cutâneo da face 18- R. cutâneo do nervo cervical II
A Expressão da Alegria no Homem e no Cão Emoção animal
91
Tabela comparativa da importância dos sentidos dos humanos e dos sentidos dos
cães:
Humanos: 1- Visão; 2- Tato; 3-Audição; 4-Olfato; 5-Paladar.
Caninos: 1-Olfato; 2-Audição; 3- Visão; 4- Tato; 5- Paladar
Especialistas em comportamento dos cães afirmam que as orelhas destes animais se
podem comparar aos olhos dos humanos na expressão da perturbação emocional;
fechar os olhos, virar ou baixar a cabeça para não ver (comportamento humano);
baixar, contrair ou mover para trás as orelhas para não ouvir (comportamento
canino).
Nas orelhas dos cães, os músculos que ligam a cartilagem auricular e a escutiforme
proporcionam amplos movimentos; a orelha que é exteriormente constituída pela
cartilagem auricular situada à volta do poro do meato auditivo externo liga-se através
de um grupo de músculos à parótida e à zona temporal, permitindo-lhe mover-se
ventral e caudalmente. A isto acresce a presença de cartilagem escutiforme que
apresenta músculos que tensionam a cartilagem auricular em direção à escutiforme.
Os músculos interescutiformes também aproximam as duas orelhas na direção do
plano sagital mediano.
Os cães, para produzirem grande parte das suas inúmeras expressões faciais,
utilizam as orelhas que podem ficar abaixadas, em pé e até rodar. Também
conseguem movê- las independentemente uma da outra.
A Expressão da Alegria no Homem e no Cão Emoção animal
92
A Expressão da Alegria no Homem e no Cão Emoção animal
93
Figura 113 - Aspectos de expressão facial na interação com os congéneres e o meio ambiente.
(Animals Need Help And Compassion, 2012)
Com a boca aberta e a comissura labial levantada, a língua pendurada, expressam
excitação, alegria, vontade de brincar (a comissura labial caída reflete cansaço).
Figura 114 - (Animals Need Help And Compassion,
2012)
A Expressão da Alegria no Homem e no Cão Emoção animal
94
OS OLHOS
Os olhos do cão dizem muito ao nosso intelecto.
Figura 115 (Animals Need Help And Compassion, 2012)
O ato de encarar representa desafio e isso pode ajudar a compreender o temperamento do cão. Ao olhar nos olhos podemos perceber, por exemplo, se o cão está tranquilo, calmo, se está em sofrimento, excitado ou irritado.
Olhar fixo - o cão está muito interessado.
Olhar sonolento - o cão está muito pouco interessado.
Olhar de soslaio - o cão está muito desconfiado e não consegue olhar diretamente nos olhos.
Olhar de baixo para cima - o cão pode estar desconfiado e se estiver deitado com a cabeça entre as patas anteriores, o olhar pode revelar preocupação e expetativa pelo que poderá acontecer.70
70 HEIKE SCHMIDT, Röger e BLANK, Suzane, Quando os cães envelhecem, 2007.
A Expressão da Alegria no Homem e no Cão Emoção animal
95
Figura 116 - ( Web, 2012)
A Expressão da Alegria no Homem e no Cão Emoção animal
96
Figura 117- (web, 2012)
A Expressão da Alegria no Homem e no Cão Emoção animal
97
Figura 118-( Fonte: web)
Figura 119- (Animals Need Help And Compassion, 2012)
A Expressão da Alegria no Homem e no Cão Emoção animal
98
O nariz do cão é de extrema importância na noção de si próprio, rodeado por tecido
queratinizado é muitíssimo sensível, o que resulta da área olfativa ou mancha
amarela ser muito mais rica em células neuro-sensoriais do que no caso humano; é
constituído por narinas em forma de vírgula com orientação rostro-lateral, possui
trinta e duas vezes mais terminações nervosas no nervo olfativo que o nariz de um
ser humano. Acresce a isto a existência de uma separação entre a área respiratória
e a olfactiva, dentro da cavidade nasal, feita pela presença de uma lâmina óssea a
separar a fossa que retém o ar rico em substâncias odoríferas, impressionadoras das
células olfactivas do restante ar que, através das coanas,71 prossegue para a laringe.
Assim, durante mais tempo essas células de Schultze são impressionadas. O córtex
cerebral olfativo também tem maior representação do que no humano.72
A partir de investigações feitas na Universidade de Parma, (Itália) parece haver uma
maneira de perceber os outros, sem ter de se recorrer ao raciocínio conceptual;
consiste na estimulação direta, e é apenas necessário ter capacidade de sentir; esta
base neurológica é chamada de: “neurónios em espelho” que podem ser usados no
olfato e em outros sentidos. Estes neurónios em espelho, segundo Frans de Waall
(biólogo primatologista), fazem parte da capacidade de ser empático e é algo que os
seres humanos compartilham com outros animais; relaciona-se com o canal corporal
da sincronização, que fundamenta a empatia, é uma característica do reino animal e
é universal em praticamente todos os mamíferos. Pode entender-se, por exemplo,
através do contágio do bocejo. As pessoas autistas, portadoras de desequilíbrio com
dificuldade nas relações sociais, não são contagiadas pelo bocejo.
Este contágio emocional, feito apenas pelo referido canal corporal, é acionado em
determinadas zonas do cérebro e está presente no cão e em outros animais.
A capacidade de compreensão e partilha daquilo que os outros sentem é, também,
um aspeto da empatia mas mais limitado, (o canal cognitivo) e só alguns animais
como os primatas e os elefantes podem, de algum modo, comportar-se de acordo
com a perspetiva do outro.
71
Aberturas nasais posteriores que fazem a comunicação com a laringe. 72
Aula de Anatomia Comparada da Professora Doutora Graça Pires.
A Expressão da Alegria no Homem e no Cão Emoção animal
99
Figura 120 – (http://tudodecao.blogspot.pt/2011/04/porque-que-os-caes-latem.html)
Capítulo VI - A expressão dos sentimentos nos animais
“Não há diferenças fundamentais entre o homem e os outros animais nas suas
faculdades mentais. (…) os animais, como os humanos, demonstram sentir prazer, dor,
felicidade e sentimento.”
Charles Darwin
Os sentimentos são percepções interactivas
António Damásio
A Expressão da Alegria no Homem e no Cão Emoção animal
100
Figura 121- (Animals Need Help And Compassion, 23-10-
12, 22:23)
Antes de mais, há que colocar a questão sobre quem é que pode ter e exibir
sentimentos. Em termos muito simplistas, é necessário um corpo que tenha um
sistema nervoso integrativo capaz de elaborar mapas das estruturas desse mesmo
corpo, dos diferentes estados a que poderá estar sujeito, e traduzir toda esta
informação em imagens mentais. Em termos de consciência, a sensação pode
tornar-se consciente e sobre esta elaboram-se respostas motoras ou secretórias.
Depois, podem ainda ocorrer os pensamentos e estes podem resultar em
sentimentos de satisfação, prazer, felicidade, tristeza ou outros que, por sua vez,
condicionam a maneira de elaborar novos pensamentos (como observa António
Damásio, os sentimentos são, em suma, as manifestações mentais do equilíbrio e da
harmonia (…) referem-se mais imediatamente à harmonia ou ao desacordo que
acontecem no interior da carne)73 e o modo de se expressarem reflete-se em
qualquer nível do organismo: endógeno ou exógeno.
Os sentimentos estão ligados aos processos de regulação da vida (reações
homeostáticas), às emoções desencadeadas na interação com o meio ambiente e
perante diferentes relações sociais. É através dos sentimentos que se pode
perceber, de algum modo, a condução da vida.
As emoções e os sentimentos estão na base dos comportamentos sociais, que
convocam a ética, o altruísmo, a reciprocidade, o consolo, a empatia, a simpatia, o
orgulho e a humildade. Os estudos feitos até à atualidade em mamíferos e aves
provam que os comportamentos éticos existem noutras espécies, além dos seres
humanos, tendo como pilares a reciprocidade e a empatia. A essência do
comportamento ético não parece ter começado com os seres humanos. Há dados
notáveis de estudos feitos em aves (como corvos) e em mamíferos (como os
morcegos, os lobos e os chimpanzés ) que indicam claramente que espécies não
73 DAMÁSIO, António, Ao encontro de Espinosa, p. 154.
A Expressão da Alegria no Homem e no Cão Emoção animal
101
humanas parecem comportar-se (…) de uma forma ética. Exibem simpatia,
apegamentos, embaraço e vergonha, orgulho dominante e humilde submissão. São
capazes de censurar e recompensar ações de animais congéneres.74
Figura 122- (Animals Need Help And Compassion, 2013)
Analisemos alguns comportamentos de animais nossos conhecidos: as vacas,
animais muito sociáveis, desenvolvem laços afetivos semelhantes aos desenvolvidos
pelos cães em matilha, são dóceis, gentis, e mantêm-se muito atentas ao desenrolar
das situações que vivem, conseguindo, assim, aperceber-se do que vai acontecer,
agindo muitas vezes com base nessa capacidade de antecipação, parte da qual
resulta de aprendizagem prévia.75
74 DAMÁSIO, António, Ao encontro de Espinosa, p. 176. 75 In Animais Excepcionais, pp. 2, 3, 4, 6 e 8, 2006. www.animal.org.pt
A Expressão da Alegria no Homem e no Cão Emoção animal
102
Figura 123 - (Animals Need Help And Compassion, 21-10-
12, 16:57)
Figura 124 - (Animals Need Help And Compassion, 23-
10-12, 3:26)
Se quisermos caracterizar os porcos mencionaremos a simpatia, a lealdade e a
inteligência (na opinião de cientistas especializados estes animais possuem uma
inteligência superior à do cão).76
76 In Animais Excepcionais, pp. 2, 3, 4, 6 e 8, 2006. www.animal.org.pt
A Expressão da Alegria no Homem e no Cão Emoção animal
103
Figura 125 - (Animals Need Help And Compassion,
27/11/2013,22:30))
Figura 126 - (Animals Need Help And Compassion, 23-
10-12, 22:27)
Os cavalos mostram capacidades para resolver problemas e o seu nível mental
permite-lhes, como acontece com outros animais, vocalizar sons com diferentes
significados para comunicar entre eles.77
77 In Animais Excepcionais, pp. 2, 3, 4, 6 e 8, 2006. www.animal.org.pt
A Expressão da Alegria no Homem e no Cão Emoção animal
104
Figura 127 - (Animals Need Help And Compassion
29/11/13,22:55 e 25/11/13, 6:30 )
Especialistas em comportamento e cognição animal apuraram que as ovelhas
recordam e podem manter na memória, por um período superior a dois anos, a
lembrança de, no mínimo, cinquenta faces de indivíduos diferentes, da sua espécie,
animais que identificam de frente ou de perfil. A sua visão é considerada excelente.78
78 In Animais Excepcionais, pp. 2, 3, 4, 6 e 8, 2006. www.animal.org.pt
A Expressão da Alegria no Homem e no Cão Emoção animal
105
Animals Need Help And Compassion13-10-12,14:32 ( esquerda, e 13-10-12, 14:38, direita)
Figura 128 ( Animals Need Help And Compassion,21-
10-12, 16:55)
Os coelhos reforçam as suas relações no grupo a que pertencem tratando da
higiene uns dos outros, pois são animais muito sociáveis.79
79 In Animais Excepcionais, pp 2, 3, 4, 6 e 8, 2006. www.animal.org.pt
A Expressão da Alegria no Homem e no Cão Emoção animal
106
Figura 129 (Animals Need Help And Compassion, 09-10-12, 22:39)
Os cisnes e os gansos, por exemplo, protegem durante toda a vida o parceiro que
escolhem, assim como os filhos, desenvolvendo laços de uma coerente lealdade.80
Figura 130 - (Animals Need Help And Compassion 10-10-
12, 23:56))
80 In Animais Excepcionais, pp. 2, 3, 4, 6 e 8, 2006. www.animal.org.pt
A Expressão da Alegria no Homem e no Cão Emoção animal
107
Estudos recentes revelam que as galinhas possuem mais de trinta sons diferentes
que combinam para comunicar umas com as outras, mas a postura e a comunicação
visual também fazem parte da sua capacidade de relacionamento.81
Na Escola de Ciências Veterinárias da Universidade de Bristol, foi demonstrado que
as galinhas possuem capacidade empática. Os cientistas escolheram galinhas e
pintainhos, porque consideraram que a empatia tem a sua origem na preocupação
parental. Foi realizado um número de procedimentos controlados que faziam arrepiar
com um jato de ar as penas dos pintainhos (facto desagradável) e, em tempos
diferentes, faziam arrepiar as penas das mães galinhas. Quando as crias,
observadas pelas progenitoras, eram expostas a jatos de ar, este facto, fazia com
que o batimento cardíaco das progenitoras aumentasse e a temperatura dos olhos
baixasse – uma clara demonstração de stress – e o seu estado de alerta
aumentava.82
Figura 131 – (Animal Equality, 2013)
No mundo dos primatas, uma mãe chimpanzé ajuda o filho a descer de uma árvore
depois de ele ter gritado e implorado pela sua atenção.
81 In Animais Excepcionais, pp. 2, 3, 4, 6 e 8, 2006. www.animal.org.pt 82 Estudo publicado no Proceedings of The Royal Society.
A Expressão da Alegria no Homem e no Cão Emoção animal
108
Figura 132 - (WAAL, Frans de, The Age of Empathy: Nature's
Lessons for a Kinder Society, 2009)
Um jovem passa o braço ao redor de um macho adulto que grita após ter sido
derrotado numa luta contra o seu rival.83
Daniel Goleman foi quem publicou um interessante estudo, em 1995, intitulado
Inteligência Emocional, onde integra pesquisas e difunde trabalhos que demonstram
a estreita e inequívoca relação entre a inteligência e a emoção, onde se apura que
quando as emoções não se encontram equilibradas, mesmo que as capacidades
intelectuais estejam em perfeito funcionamento, o comportamento dos indivíduos
torna-se perturbado, disfuncional, nomeadamente no que diz respeito à capacidade
de tomar decisões, ou à forma de os mesmos se relacionarem com os da mesma
espécie, ou de outra diferente.
Figura 133 – (Animal Equality, 2013)
83 Frans Waal, Comportamento Moral em Animais. TED.com.
A Expressão da Alegria no Homem e no Cão Emoção animal
109
O Companheirismo é de extrema importância para os cães. Alguns gostam, além de
companheiros da sua espécie, de companheiros humanos.
Por não ser um animal selvagem, que é auto-suficiente, o companheiro humano, terá
que ser consciente de que para o seu companheiro animal ser feliz, o que significa
ter um comportamento equilibrado e satisfatório, terá que lhe dedicar diariamente
atenção e integrá-lo na sua vida como um elemento respeitado; proporcionar-lhe
uma nutrição adequada, e cuidar da sua saúde e bem-estar físico e psicológico,
evitando situações negativas, como o abandono e o isolamento.84
.
Figura 134 - ( fonte: dogdogs.net)
84 Shelbourn, Toni, The Truth about wolves and dogs, p. 87.
A Expressão da Alegria no Homem e no Cão Emoção animal
110
Figura 135 – (Animal Equality, 2013)
Figura 136 – (Animal Equality, 2013)
A Expressão da Alegria no Homem e no Cão Emoção animal
111
Figura 137 – (Animal Equality, 2013)
Figura 138 - (Animals Need Help And Compassion, 2013)
Capítulo VII - Etologia Visual
“Sem os animais a existência do homem seria ainda mais incompreensível”
George-Louis Leclerc, conde de Buffon85
85 Naturalista, matemático e escritor (1707-1788), as suas teorias influenciaram Lamarck e Darwin.
A Expressão da Alegria no Homem e no Cão Emoção animal
112
As raízes da etologia perdem-se na noite dos tempos.
É, sem dúvida, da observação que nasce a Etologia. Pablo Picasso disse: só
encontramos o que procuramos; o prazer de olhar, de contemplar a natureza, a
vontade de desvendar o que surge como um mistério; é no olhar apaixonado que
nascem as grandes interrogações.
A etologia brota, talvez, de uma experiência emocional do estado-de-natureza, e de
um permanente vaivém de identificação/distanciação em relação à natureza
vivida/observada, sendo por essência mais voyeurista do que as outras ciências do
homem (Vieira, 1983).86
The Emotions in Man and Animals, de Darwin, é o trabalho pioneiro que abre o
caminho para a etologia como ciência.
As sociedades humanas que recorriam à caça ou à pastorícia como forma de
sobrevivência tinham conhecimento do comportamento animal; sem observação
direta não há etologia, mas o simples olhar apaixonado, se não levar a um
enquadramento metodológico que faça uma filtragem da realidade percepcionada em
função de uma grelha de análise teoricamente elaborada, não será etologia.87
Em 1973, Konrad Lorenz, Niko Tinbergen e K. Von Frisch, destacados fundadores da
etologia europeia, receberam o prémio Nobel pelas descobertas feitas em fisiologia.
Estes naturalistas, partidários da observação direta da natureza, apresentaram nos
seus trabalhos uma relevante componente estética. Os animais foram encarados
como elementos vivos no todo ambiental, e o amor por eles e o gosto pela
observação naturalista estavam na base da procura dos significados das complexas
questões que levantavam.
Fotografias, vídeos, filmes, desenhos científicos ou artísticos documentam o
comportamento animal, a sua performance, evolução social, e as influências do
homem nas outras espécies animais.
Articular a construção de imagens fotográficas com a perspetiva do pensamento
etológico, inventariar elementos comportamentais que decorrem da ação dos grupos
sociais ou de indivíduos, de espécies animais diferentes do homem, levanta
questões relacionadas com o ato de olhar: a forma de quem olha se relacionar com
as imagens, a contextualização da imagem, o explicitar de narrativas, o olhar em
função de conteúdos inscritos numa pesquisa etológica: do cotidiano, da perceção do
mundo, das estratégias de sobrevivência.
O texto pode ser visual; a imagem pode narrar os comportamentos em liberdade ou
em confinamentos: canis municipais, jardins zoológicos, circos, laboratórios, casas
de particulares, unidades pecuárias, quintas pedagógicas, caçadas, vida na rua
(vadios), etc.
86 Citado por Sockza, Luís, Ensaios de etologia social, p. 141. 87 Sockza, Luís, Ensaios de etologia social, p. 142.
A Expressão da Alegria no Homem e no Cão Emoção animal
113
Mapear e retratar os animais numa vertente de etologia visual permite-nos
desenvolver uma reflexão de interesses para o homem e para as outras espécies
animais.
LOBOS
Figura 139 - (Fonte: web)
A Expressão da Alegria no Homem e no Cão Emoção animal
114
Figura 140 - (web 2013)
A Expressão da Alegria no Homem e no Cão Emoção animal
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Figura 141- (web, 2013)
A Expressão da Alegria no Homem e no Cão Emoção animal
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CÃES
Figura 142 - (web, 2013)
Figura 143 - (web 2013)
A Expressão da Alegria no Homem e no Cão Emoção animal
117
Figura 144 - (web, 2013)
Figura 145 - ( web, 2013)
A Expressão da Alegria no Homem e no Cão Emoção animal
118
Figura 146 - ( web, 2013)
Figura 147 - ( Animal Equality, 2013)
A Expressão da Alegria no Homem e no Cão Emoção animal
119
Figura 148 - (web, 2013)
Figura 149- (Animal Equality, 2013)
A Expressão da Alegria no Homem e no Cão Emoção animal
120
Figura 150 - (Animal Equality, 2013)
Figura 151 - (dreamstime.com, 2013)
A Expressão da Alegria no Homem e no Cão Emoção animal
121
Figura 152 - (http://images.search.conduit.com), 2013)
Figura 153 - (http://images.search.conduit.com), 2013)
A Expressão da Alegria no Homem e no Cão Emoção animal
122
Figura 154 - (http://images.search.conduit.com,
2013)
A Expressão da Alegria no Homem e no Cão Emoção animal
123
Figura 155 - (Animals Need Help And Compassion,
2013)
Figura 156 - (http://images.search.conduit.com, 2013)
A Expressão da Alegria no Homem e no Cão Emoção animal
124
Figura 157 ( http://images.search.conduit.com, 2013)
Figura 158 (Fonte :Animals Need Help And Compassion,
2013)
A Expressão da Alegria no Homem e no Cão Emoção animal
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Figura 159 (http://images.search.conduit.com, 2013)
Figura 160 ( http://images.search.conduit.com, 2013)
A Expressão da Alegria no Homem e no Cão Emoção animal
126
Figura 161- noticias.uol.com.br24.jan.2013 )
A Expressão da Alegria no Homem e no Cão Emoção animal
127
Figura 162 -( dreamstime.com, 2013)
A Expressão da Alegria no Homem e no Cão Emoção animal
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Figura 163-
Gata guia de cão cego88
88 boasnoticias.sapo.pt, 2013
A Expressão da Alegria no Homem e no Cão Emoção animal
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Figura 164--( dreamstime.com, 2013)
A Expressão da Alegria no Homem e no Cão Emoção animal
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Figura 165 -(http://diariodigital.sapo.pt/news.asp?id_news=61985307-03-2013 às 16:52)
Figura 166 – Cão guia de cão cego- http://www.youtube.com/watch?v=YXqmlb5E6qg, 19-08-2013)
A Expressão da Alegria no Homem e no Cão Emoção animal
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Figura 167 – Cão guia de cão cego-
(http://respeitoanatureza.blogspot.pt/2012/05/cachorro-cego-tem-cao-guia.html 10 maio 2012)
Figura 168 – Ganso guia de cão cego (http://novosinsolitos.blogspot.pt/2011_04_05_archive.html
A Expressão da Alegria no Homem e no Cão Emoção animal
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Figura 169- (Animals Need Help And Compassion, 2013)
Figura 170- (http://www.amambainoticias.com.br/geral/a-
inteligencia-dos-animais-e-possivel-incrementa-la,11/12/2011
07h15
A Expressão da Alegria no Homem e no Cão Emoção animal
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Capítulo VIII - Discussão
A alegria é uma emoção expansiva que necessita ser partilhada, e, assim, surge o
comportamento expressivo por parte de quem está alegre.
O sentimento de alegria, segundo Spinoza, tem como princípio fundamental
preservar os mecanismos que permitem a evolução dos indivíduos. O sorriso e o
riso, intimamente associados à alegria, são expressões que partem das emoções e
têm funções sociais, unindo e regulando as interações dos indivíduos no grupo.
As origens da brincadeira e do riso são instintivas e subcorticais (Jaak Panksepp).
O cão, à sua maneira, demonstra sentir alegria expressando-se de um modo
passível de ser compreendido pelo homem, que também exibe a expressão da sua
alegria. Em ambas as espécies pode ser compreendida na expressão facial.
A relação de companheirismo e de proximidade entre o homem e o cão desperta o
interesse pelo estudo do seu comportamento. Podemos reconhecer na alegria, tanto
no cão como no homem, os laços afetivos que existem entre ambos, e analisar a sua
especificidade: como se expressa o cão, como se pode entender a sua expressão e
como podemos ver a sua expressão de alegria à luz da expressão da alegria no
homem. Considerar a sua expressão de alegria é pertinente na medida em que o cão
é racional e tem consciência de si. A Anatomia Comparada, a Ilustração Científica, o
Desenho, a Fotografia, o Vídeo, entre outros meios artísticos têm documentado a
expressão de alegria deste companheiro de longa data e poderão, à luz das novas
descobertas científicas, documentar de forma mais esclarecedora a alegria na sua
expressão própria e individual e na interação entre o homem e o cão.
Ao distinguirmos o cão, uma espécie domesticada pelo homem, poderemos, por sua
vez, evocar outras espécies também domesticadas, na medida em que também
possuem emoções e sentimentos, o que resulta da consciência que os indivíduos
têm de si próprios e da capacidade de raciocínio que possuem. O estudo das suas
expressões e do seu comportamento pode levar-nos a compreender como estes
animais entendem o mundo e, deste modo, contribuir para dilatar o conhecimento
humano sobre o processo evolutivo.
A expressão da alegria no cão pode começar por uma “vénia”, também conhecida
por “vénia de brincar”, reconhece-se quando o animal se aninha nas patas dianteiras,
eleva os quartos traseiros e abana a cauda. Marc Bekoff, professor de Biologia
Evolucionária na Universidade de Colorado, estudou durante anos a “vénia”,
medindo a sua duração e as semelhanças das expressões entre si, facto que lhe
permitiu concluir que este comportamento evoluiu para uma forma rígida e
estereotipada que os cães utilizam como um sinal quando querem comunicar, estão
alegres e dispostos a brincar.
Os mamíferos partilham muitas expressões faciais, tais como mostrar os dentes,
abrir a boca e pôr a língua de fora, bocejar, pestanejar, dilatar as narinas, etc..
A Expressão da Alegria no Homem e no Cão Emoção animal
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Giorgio Vallortigara, do Centro para as Ciências do Cérebro da Universidade de
Milão, revela que o cérebro dos cães está dividido em lado direito e lado esquerdo,
cada lado com desempenhos diferentes, caraterísticas que se verificam também nos
seres humanos.89
A busca do prazer é uma emoção primária presente na vida dos homens e,
possivelmente, na de muitos outros outros animais. Ambos, com diferenças muitas
vezes relevantes, procuram liberdade de ação, pertencer a um grupo de familiares e
amigos, não sentir dor ou privação, poder viver as suas emoções e sentimentos,
mostrando capacidade de ter preferências.
Gregory Berns, professor de Neuroeconomia, na Universidade de Emory (EUA)
publicou um artigo no jornal New York Times, intitulado “Os cães também são
pessoas”, onde revela o estudo levado a cabo por uma equipa de cientistas para
compreender como funciona o cérebro destes animais, e concluiu que os cães são
capazes de terem experiências emocionais, de tal forma, que podem ser
comparáveis às das crianças humanas.90
Os sinais de alegria são claramente percebidos através do comportamento que os
animais envolvidos em brincadeira exibem: eles ficam relaxados e deslocam-se
descontraidamente, como se os membros estivessem presos ao seu corpo por
ligações elásticas, o andar é saltitante, as caudas abanam; estas expressões são
acompanhadas de comunicações orais, como latidos ou guinchos de
contentamento.91 Estudos recentes, dirigidos por Giorgio Vallortigara do Centro para
as Ciências do Cérebro da Universidade de Milão, publicados no Jornal Cell Press,
dão a conhecer que o abanar da cauda para a direita comunica estados de
descontração e de brincadeira, por oposição ao abanar de cauda para a esquerda
que produz ansiedade e aumento do batimento cardíaco, pois sugere situações de
luta e defesa.92
Aristóteles (384-322 a.C.), São Tomás de Aquino (1225-1274), René Descartes
(1596-1616), Emmanuel Kant (1724-1804), representantes notáveis da filosofia moral
tradicional, consideraram o homem como o único, no reino animal, que tem
racionalidade, capacidade de pensar e usar linguagem, de ter pensamentos,
consciência e razão, excluindo, portanto, os outros animais. Este paradigma
especista mantem-se na atualidade.
O conceito de pessoa, segundo Peter Singer (filósofo, 1946), assenta na consciência
de si e na racionalidade, difere do conceito de ser humano. Na sua opinião, seres
humanos são todos os indivíduos que pertencem à espécie humana mesmo que não
tenham consciência de si. Pessoas são todos os indivíduos que apresentem
consciência de si, portanto, além dos seres humanos, que têm consciência de si,
existem também animais não humanos que por terem consciência de si e
racionalidade também são pessoas. O estado atual do conhecimento humano aplica
o conceito de pessoa apenas aos seres humanos mas, para este filósofo
contemporâneo, muitos mamíferos, entre os quais está o cão, apresentam, em graus
89
Sapo.pt Boas Notícias, 08-11-2013 90
Sapo.pt Boas Notícias, 09-10-2013 91
BEKOFF, Marc, A Vida Emocional dos Animais, p. 85. 92
Sapo.pt Boas Notícias, 08-11-2013
A Expressão da Alegria no Homem e no Cão Emoção animal
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distintos, características que definem uma pessoa: ser racional, ser autoconsciente,
consciente de si próprio como entidade distinta com passado e futuro.
(…) Se a vida humana possui mesmo um valor especial ou um direito especial a ser
protegida, possui-os em virtude de a maioria dos seres humanos serem pessoas.
Mas, se alguns animais não humanos também forem pessoas, a vida desses animais
tem de possuir o mesmo valor especial ou direito à proteção.93
Diana Reis (1949), professora de psicologia no Hunter College de New York,
demonstrou que os golfinhos comuns podem se reconhecer num espelho e utilizá-lo
para inspecionar as diversas partes do seu corpo – habilidade atribuída apenas a
seres humanos ou aos grandes símios. Considerou também a capacidade que estes
animais têm de aprender com rapidez novos tipos de comportamentos de outros
golfinhos, o que faz deles criaturas que evoluem culturalmente. O cérebro dos
golfinhos foi estudado, através de ressonância magnética pela zoóloga Lori Marinho
da Universidade de Emory em Atlanta, Georgia, que afirmou, com base na
neuroanatomia, ser possível estabelecer uma continuidade psicológica entre os
humanos e os golfinhos, facto que tem profundos envolvimentos na ética das
interações dos humanos com os golfinhos.94
Num comunicado emitido pelo Ministério do Ambiente e das Florestas da Índia, em
outubro de 2013, que resulta do facto de o governo ter assinado a Declaração dos
Direitos dos Cetáceos, é afirmado que os golfinhos devem ser entendidos como
“pessoas não humanas” e, como tal, devem ter direitos próprios, como o
reconhecimento da sua individualidade, sendo moralmente inaceitável matá-los para
servirem de alimento ou mantê-los em cativeiro para fins de entretenimento.95
Atualmente, investigadores nas áreas da bioética, da ética, da neurociência, da
filosofia e outras disciplinas relacionadas com a defesa do meio ambiente e do
planeta Terra mostram-se interessados em discutir sobre a atribuição de
personalidade a animais como os cetáceos, os grandes símios e os elefantes,
incidindo a discussão sobre os critérios e as noções que poderão sustentar essa
personalidade em campos como o direito, a ciência comportamental, a ética e a
filosofia.
Segundo Paul Ekman (1934, psicólogo), há sete emoções universais que são: a
surpresa, a alegria, a tristeza, o medo, a raiva, o nojo e o desprezo.
Numa pesquisa sobre expressões faciais de cães, feita com Mal, um cão polícia do
Departamento de Correções da Pensilvânia, a quem os cientistas montaram uma
série de situações de estímulo comportamental para detetar as respetivas
expressões. Foram apuradas as expressões de tristeza, alegria, nojo, raiva, medo e
surpresa. As expressões faciais foram submetidas à observação de um grupo de
93
SINGER, Peter, Ética Prática, p. 136. 94
http://golfinhosmissionarios.wordpress.com/2012/02/25/cientistas-na-maior-conferencia-cientifica-do-
mundo-afirmam-golfinhos-sao-pessoas/
95http://www.ptjornal.com/2013102418860/pt-animal/noticias/os-golfinhos-na-india-sao-pessoas-nao-
sao-e-humanos.html
A Expressão da Alegria no Homem e no Cão Emoção animal
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voluntários, que com relativa facilidade as identificou, demonstrando que a
comunicação facial entre humanos e cães não é difícil.96
Expressão de tristeza (à esquerda) e de raiva (à direita).
96 http://cienciahoje.uol.com.br/noticias/2013/04/esta-na-cara, 04/04/2013
Notícias /
A Expressão da Alegria no Homem e no Cão Emoção animal
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Expressão de nojo (à esquerda) e de alegria (à direita).
Expressão de surpresa (à esquerda) e medo (à direita).
A Expressão da Alegria no Homem e no Cão Emoção animal
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A alegria do homem e a alegria do cão, em alguns aspetos, tem sido compartilhada.
No início da domesticação estão os lobos dos quais descendem os cães. Estes
animais acompanhavam o homem nas suas caçadas a animais de grande e pequeno
porte e, ao longo de milhares de anos, trabalharam com as pessoas como ajudantes
indispensáveis, a puxar trenós (na América do Norte) onde transportavam os bens
das pessoas; na Europa, como cães pastores e de salvamento (o São Bernardo, na
Suíça), como cães utilitários, de defesa de pessoas e bens; na guerra feita pelos
homens, em ações de grande risco; na orientação de pessoas invisuais ou como
companhia que ajuda a manter a saúde física (exercícios de brincadeira e passeios)
e emocional (satisfação de um companheirismo amigável).
Ao longo dos séculos da vida humana na terra a companhia canina foi uma
constante, e, até à atualidade, a atitude do homem relativamente ao cão e aos outros
animais é especista, não lhes sendo reconhecido, como um dever moral dos seres
humanos, o direito à vida.
Sepultura de cão nas margens do Sado (Portugal). Antigo mosaico romano,
A mais antiga do sul da Europa, 7600 orbiscatholicussecundus.blogspot.com,2010-8-8
“A datação confirma que os caçadores-recolectores mesolíticos da Península Ibérica
praticavam a inumação de cães em necrópoles, uma prática conhecida no Norte da
Europa, mas que até agora não estava documentada, durante trabalhos de
escavação, no Sul do continente.
(…) não só as datações feitas com amostras das costelas, na Universidade de
Oxford, no Reino Unido, determinaram a idade do esqueleto do cão, como as
análises realizadas permitiram concluir que a dieta do animal incluía 25% de
proteínas de origem marinha — o que provavelmente reflecte a alimentação dos
seus donos, refere um comunicado da Universidade de Lisboa.” 97
O homem também utiliza os animais para se divertir, e existem registos, desde o
tempo dos romanos, da participação dos cães em jogos, no Coliseu de Roma, de
grande crueldade.
97 http://sergivs.blogs.sapo.pt/242695.html Quarta-feira, 20 de junho de 2010, publicado por
Sérgio às 22:05
A Expressão da Alegria no Homem e no Cão Emoção animal
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A domesticação revela aspetos notáveis: na Europa, durante a Idade Média, as
congregações religiosas procuravam o calor do cão para que as pessoas pudessem
aquecer os pés ao se deitarem; já em outras regiões do mundo tem servido de
alimento ao ser humano. Existem registos da cultura Colima no México (300-900
d.C.) em que um cão “techichi” era engordado, como um suíno (as mais recentes
descobertas científicas revelam que a inteligência do porco pode ser superior à do
cão), para ser servido como alimento aos seres humanos.
O companheirismo do cão, relativamente ao homem, remonta a mais de 100 000
anos, tendo evoluído diferentemente nas diversas culturas. Sobretudo na Europa os
indivíduos desta espécie Canis familiaris são considerados “o melhor amigo do
homem” e chega a ser aceite como um membro da família, mas, também,
atualmente, em muitas partes do mundo existem populações de cães que, depois de
terem sido domesticados, abandonaram a sociedade humana e vivem e reproduzem-
se fora dela, alguns partilham o lixo produzido pelos humanos (em toda a África). Ali,
é-lhes permitido entrar nas casas das pessoas, mas como o alimento é escasso para
as populações humanas não são alimentados por elas. Estes cães ferais também se
encontram na Índia (os “pariah”, palavra tamil que significa excluído) e na Austrália o
“dingo”, aquele que, com mais sucesso, tem conseguido sobreviver sozinho.
A Anatomia Comparada relaciona a espécie humana com outras espécies animais.
Na obra de Baltrusaitis (1903-1988), pode ler-se: Todos os tratados, do latim ao
grego, dedicaram um capítulo inteiro à fisionomia98 zoológica onde cada parte do
corpo humano é identificada com um animal que revela as suas qualidades ocultas.
O sistema é apresentado com propostas rápidas, curtas, sem comentários e sem
explicações, mas, até mesmo devido à sua brevidade, dá origem a visões repentinas.
Se o método da fisiognomia direta se constitui e expande em relação às proporções
e aos direitos das conexões do cânone do homem, o método zoomórfico cria um
bestiário e uma humanidade fantásticos.99
Como vimos na página 131 do presente trabalho (expressões faciais de um Pastor
Belga), é possível perceber diferenças emocionais no rosto de um cão. Na história da
fisiognomia100, que remonta a Aristóteles, há, no século XVI, um renovado interesse
pela relação das formas e das expressões do rosto com as virtudes, os vícios e o
caráter do individuo; a analogia é feita entre as formas humanas e as formas
animais, traços morfológicos ou expresivos, sobretudo do rosto. G. B. della Porta, na
Physionomie Humaine, utiliza comparações zoomórficas e defende que o homem é
ousado como o leão, medroso como a lebre, ou que se pode comparar ao galo pela
liberdade e ao cão pela avareza, estabelecendo, através de ilustração iconográfica
um diálogo entre as semelhanças do rosto humano e as faces dos outros animais.
98
Conjunto de traços do rosto humano; feição, semblante. Dicionário do Português atual Houaiss, p 1120. 99
BALTRUSAITIS, Jurgis, Aberrations, Essay sur la legènd dès formes, les perspectives depravées-I, p. 16. 100
Arte de conhecer o caráter do individuo a partir das suas feições*ETM fr. Physiognomonie, arte de determinar o caráter de uma pessoa pelos traços do rosto. Dicionário do Português atual Houaiss, p. 1120.
A Expressão da Alegria no Homem e no Cão Emoção animal
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Deste universo de semelhanças extrai o método que estabelece a semiologia da
relação entre o homem exterior e o homem interior.101
Porta considera que é no olhar onde verdadeiramente se encontra a expressão; os
olhos são as portas da alma, pois é pelos olhos que ela se deixa ver de fora102;mas
quando o pensamento é profundo e a alma se retira para dentro, os olhos tornam -se
como se fossem cegos.103
As representações zoomórficas de Le Brun, apoiadas num conceito cartesiano, não
explicam o homem interior e defendem a autonomia das formas humanas em relação
às formas dos outros animais. A figura humana de Le Brun inscreve-se numa
morfologia geométrica na qual faz ligações psicológicas, colocando, com os seus
desenhos rigorosos, os olhos e os olhares de várias espécies animais em rostos
humanos e vice-versa, além de diversas manipulações, em desenho anatómico, de
outras partes de corpos de animais, baseado no rigor do desenho.
Na história do estudo e compreensão das expressões faciais encontramos na
fisiognomonia árabe (século X) a influência naturalista e médica da anterior
fisiognomonia grega que revela um caráter eminentemente prático; o fisiognomonista
árabe aconselha nas escolhas importantes e determina culpas em tribunal. Os
tratados árabes designam pelo nome de firãsa a capacidade de julgar as pessoas; é
uma prática do golpe de vista e da arte do pormenor: o uso da intuição perceptiva
infere em detalhes do rosto e do corpo – um movimento furtivo do olhar, um traço
apenas percetível da morfologia do nariz, certo espaçamento ínfimo dos dentes , (…)
- a verdade de uma alma ou os segredos de um coração.104
Em situações onde as pessoas têm algo a perder ou a ganhar surgem
inevitavelmente micro–expressões; manifestam-se, mais ou menos, pelo período de
um quinto de segundo. Estas expressões faciais, que são involuntárias, aparecem
quando o indivíduo tenta esconder uma emoção de tipo positivo ou negativo.
Paul Ekman refere que emoções básicas como a culpa, o orgulho, o desprezo, a
vergonha, o alívio, a satisfação, o prazer, a diversão ou a excitação, mesmo quando
são reprimidas, se podem entender pela observação treinada das micro-expressões,
não sendo, no entanto, todas codificadas nos músculos faciais.
Descobre-se que é possível avaliar a natureza de um homem ou de um animal com
base na sua estrutura corpórea. Dado que todas as afeções naturais transformam
simultaneamente o corpo e o espírito: e, assim, os traços do rosto ou as dimensões
dos outros órgãos, são signos que remetem para um caráter interno.105
O estudo das expressões faciais em espécies diferentes da do Homo sapiens, está
pouco avançado, talvez se deva ao condicionamento que resulta do tipo de relação
que o ser humano mantém com os outros animais. Na nossa opinião é provável que
muitos animais tenham expressões que nunca tenham sido observadas pelo homem
101
COURTINE, Jean-Jacques & HAROCHE, Claudine, História do Rosto, p. 54. 102
COURTINE, Jean-Jacques & HAROCHE, Claudine, História do Rosto, p. 57. 103
PORTA,G. B. della, La Physionomie Humaine, p. 403. 104
COURTINE, Jean-Jacques & HAROCHE, Claudine, História do Rosto,pp. 36 e 37. 105
ECO, Umberto, Sobre os Espelhos e outros Ensaios, p. 53.
A Expressão da Alegria no Homem e no Cão Emoção animal
141
(investigadores e outros), por exemplo, pelos cientistas em experiências
laboratoriais, onde os animais são considerados apenas instrumentos de pesquisa
ou nas unidades de criação intensiva que apenas relevam a sua biomassa e
capacidade produtiva. Para se perceberem expressões subtis, como as micro-
expressões, entre os humanos é necessário treinar e desenvolver a capacidade de
observação, portanto, é possível, se não estiverem reunidos os meios e as condições
próprias, não termos acesso à subtileza de certas expressões em outras espécies
diferentes da nossa.
Na maioria das espécies existe vocalização, embora em muitos casos, esta não nos
seja audível. Um exemplo que não ilustra diretamente expressões faciais mas pode,
por analogia, ajudar a perceber a dimensão das nossas limitações na compreensão
da capacidade de expressão de outras espécies: (…) os peixes emitem sons
vibratórios, tendo sido já identificados diferentes “chamamentos”(…) incluindo sinais
que exprimem “alarme” e “irritação”, estes animais evidenciam também sinais de
angústia quando são retirados da água e são deixados a saltar na rede ou sobre a
terra, até morrerem. Percebe-se que os peixes estão em sofrimento devido aos
movimentos de contorção do corpo ou do abrir e fechar da boca assim como no seu
olhar, mas as vocalizações que acompanham esse agonizar não são audíveis pelos
seres humanos.106
Segundo Darwin, depois de um profundo sofrimento mental, se a sua causa não foi
debelada, caímos num estado de desânimo, ou podemos ficar deprimidos e
totalmente prostados (…) o rosto empalidece; os músculos amolecem; as pálpebras
descem; a cabeça pende sobre o peito encolhido; os lábios, as bochechas e a
mandíbula cedem ao seu próprio peso e descaem. Assim sendo, todos os traços
fisionómicos tendem a alongar-se, e de uma pessoa que ouve uma má notícia diz-se
por vezes que ficou de rosto caído; 107 as emoções verdadeiramente profundas
tendem a inibir a ação dos músculos do corpo e da face.
Entrevistado pela revista VEJA aquando da sua visita ao Brasil para participar na
série de palestras Fronteiras do Pensamento (2012), o neurocientista António
Damásio afirmou, baseado nas mais recentes descobertas da neurociência, que a
evolução do homem vai no sentido de conciliar a emoção e a razão. Ter consciência
básica é indissociável de ter sentimentos e as emoções têm um papel central no
armazenamento de informações, na construção do raciocínio e no processo de
escolha de decisões. A mente, na opinião de Damásio, é uma sucessão de
representações criadas através de sistemas visuais, auditivos, táteis e também pelas
informações vindas do próprio corpo sobre o que está a acontecer nele: o ritmo do
coração, a descontração ou o relaxamento dos músculos e tudo o resto ; resume-se
num filme sobre o que se passa no corpo e no mundo à sua volta; quer as emoções,
quer os sentimentos estão relacionados com o que se passa no corpo.
Especificamente, as emoções são programas de movimentos que contemplam a
raiva, o medo ou a compaixão; a interpretação destes movimentos é feita pelos
sentimentos. As emoções têm tido um papel de extrema importância ao longo da
evolução; o medo, a alegria e a compaixão contribuem para a preservação, para a
106 SINGER, Peter, Libertação Animal, p. 161. 107 Darwin, Charles, A Expressão das Emoções no homem e nos outros Animais, p. 165.
A Expressão da Alegria no Homem e no Cão Emoção animal
142
sobrevivência e para as atitudes morais, que regulam a vida em sociedade. As
emoções são em grande parte inatas; são condicionadas pela vivência nos diversos
grupos sociais; alguns mamíferos têm emoções como a compaixão, especialmente
na relação entre mães e filhos; as mães de cães e lobos tratam os seus filhotes com
um carinho que é emocional e totalmente inato, ninguém as ensinou. Há elefantes
que quando perdem um companheiro ficam não só tristes como deixam de brincar e
são capazes até de fazer uma espécie de luto; nada disso foi ensinado, é tudo
inato.108
O amor é talvez a mais complexa de todas as emoções(…) No seu domínio, onde a
ciência e a poesia se encontram, está o amor que é romântico, paternal, filial e
erótico, e vemos amor exprimir-se como amizade, lealdade, afeto, ternura, devoção,
compromisso e compaixão.109
Amor, sentimentos ternos, etc. Apesar de o amor, por exemplo, o de uma mãe
pelo seu filho, ser uma das mais fortes emoções que a mente humana é capaz de
sentir, dificilmente poderemos considerar que possui formas de expressão que lhe
sejam peculiares; e isso compreende-se, já que o amor nunca conduziu a qualquer
linha de atuação especial, capaz de se converter num hábito. Sendo uma sensação
agradável, o afeto gera normalmente um sorriso suave e aviva o brilho do olhar.
Suscita em geral um intenso desejo de tocar o indivíduo amado; e o amor exprime-
se mais claramente por este desejo do que por outra coisa qualquer.110
Se considerarmos que amar é um sentimento complexo de difícil ou mesmo de
impossível explicação entre os seres humanos, então, no que respeita a espécies
diferentes de nós será mais inacessível a sua explicação. Sabemos que quando
sentimos amor preferimos, entre os outros, a proximidade do indivíduo ou indivíduos
pelos quais nos sentimos atraídos, gostamos de o ou de os proteger e cuidar, de
comunicar os nossos sentimentos e desenvolver laços sociais fortes com os entes
queridos. Segundo provas da mais recente pesquisa científica existe amor entre
espécies diferentes. A maquinaria cerebral do amor – a neuroanatomia e a
neuroquímica que nos permitem sentir amor são semelhantes ou idênticas às de
muitos animais. Escolher um companheiro e fazer tudo para se manter a seu lado, é
um amor romântico, um amor de compromisso de que os gansos ou cisnes são um
exemplo, como espécie, mais ilustrativo do que os seres humanos. O amor maternal
que desenvolve laços afetivos entre mães e filhos e o amor fraterno entre irmãos e
amigos. O debate centra-se na qualidade química ou puramente “emocional” do
amor que os animais ou os humanos manifestam. Mas qualquer pessoa que tenha
vivido com um gato ou um cão – ou tenha observado vacas, ovelhas ou porcos –
sabe que os animais se apaixonam.(…) em muitos canídeos, ou seja, membros da
família dos cães(…) machos e fêmeas que acasalaram durante anos ainda se
cumprimentam como amigos que não se viam há muito tempo e cortejam-se
entusiasticamente.111
108
Julia Carvalho, António Damásio entrevistado para a VEJA, 2012. 109 BEKOFF, Marc, A Vida Emocional dos Animais, p. 105. 110 Darwin, Charles, A Expressão das Emoções no Homem e nos Animais, p. 195. 111 BEKOFF, Marc, A Vida Emocional dos Animais, pp. 106 e 107.
A Expressão da Alegria no Homem e no Cão Emoção animal
143
Retirámos dos capítulos II e VI as imagens de expressões faciais e corporais de
sentimentos ternos [porque não de amor?] exibidos por mamíferos de diferentes
espécies:
-
ão
A Expressão da Alegria no Homem e no Cão Emoção animal
144
Conclusão
Ao longo deste trabalho procurámos, na observação das expressões corporais e
faciais do homem e de outros animais, elegendo a expressão da alegria, salientar o
sorriso e o riso que são universalmente aceites como expressão da alegria. Estas
expressões têm origem nas emoções e estão, quando são genuínas, intrinsecamente
ligadas à auto-realização dos indivíduos. A expressão do sentimento da alegria, que
no homem se manifesta essencialmente através do sorriso, do riso ou da
gargalhada, pode, também, ser reconhecida no cão através da expressão do riso. O
riso e o sorriso diferem no que respeita ao movimento muscular, e, enquanto o
sorriso não produz qualquer som, o riso está sempre associado a sons próprios.
Quer o sorriso quer o riso são manifestações de interações sociais.
As emoções podem ser depressoras ou excitantes. A alegria tem origem em
emoções excitantes; o homem, quando atinge o júbilo na alegria tende a manifestar-
se através de movimentos musculares de todo o corpo, com gestos arrebatados ou
aleatórios.
As expressões corporais do cão, como o abanar da cauda, a língua de fora ou outras
que promovem brincadeiras entre os seus congéneres, são também expressões de
alegria.
Os mecanismos do sorriso e do riso, quando a contração dos músculos
intervenientes da face é involuntária, apoiam-se diretamente no zigomático maior e
no orbicular dos olhos, caraterizando estas expressões como verdadeiras.
A alegria do homem, a alegria do cão, e as de outros animais, com os seus aspetos
distintos, assim como as respetivas expressões de bem-estar ou felicidade, segundo
o pensamento evolutivo, assentam em pilares (morfológicos, anatómicos, neurais, e,
em alguns casos, morais) similares.
Reunimos um conjunto especifico de expressões do homem, do cão e de outros
animais, mencionando aspetos anatómicos (anatomia humana e anatomia
comparada) e neurobiológicos para ilustrar a alegria e a emoção animal no sentido
lato, não sendo do âmbito deste projeto analisar as diferenças das manifestações
expressivas do homem e dos outros animais.
Na anatomia e fisiologia comparadas, na Etologia Cognitiva112, encontrámos os
fundamentos científicos que nos permitem entender que os animais sentem dor e
prazer e que o facto de terem a capacidade de experimentarem essas emoções lhes
dá a possibilidade de viver sentimentos, como, por exemplo, a alegria. Nesse
sentido, e com base nas mais recentes descobertas da ciência sobre o
comportamento animal, chegámos à compreensão de como é importante ter uma
atitude moral em relação aos animais que povoam o planeta e considerar seriamente
112
A Etologia Cognitiva é o estudo comparativo, evolutivo e ecológico da mente dos animais. Concentra-se em como os animais pensam e o que sentem, e isto inclui as suas emoções, crenças, raciocínio, processamento da informação, consciência e consciência de si mesmos.( BEKOFF, Marc, A Vida Emocional dos Animais, p. 58)
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aqueles que, de forma semelhante a nós, sentem dor, prazer e tendem a evoluir e a
aperfeiçoar-se, facto que é indissociável da alegria.
Estas ideias fundamentam-se na pesquisa apresentada por cientistas
especializados, muitos dos quais se afirmam na atualidade, como Peter Singer,
António Damásio, Patricia Simonet, Jane Goodall, Franz de Waal, Marc Bekoff ou
Tony Shelbourn, investigadores que, através das suas notáveis contribuições no
campo do comportamento animal (humano e de outras espécies), mostram que o
nível evolutivo biológico, emocional ou moral da espécie humana assenta nas bases
do reino animal (darwinismo) e é anterior à filosofia ou religião pois estas disciplinas
nascem da necessidade que o homem tem de estruturar o seu conhecimento.
Existem outras espécies, que partilham o planeta connosco, com capacidade de se
emocionarem, de terem sentimentos ou atitudes morais, e de expressarem, através
das suas estruturas anatómicas, atitudes e comportamentos, na sua maioria
passíveis de serem compreendidos por nós. Os seres humanos e os outros animais,
diferentes entre si, têm, contudo, suficientes aspetos em comum, quer anatómicos
quer fisiológicos, mentais ou emocionais, que os coloca numa ligação empática.
O evolucionismo científico baseia-se nos conceitos de seleção, adaptação e
evolução, está condicionado pelos contextos filosófico, político, religioso, socio-
económico, etc., que resulta numa falta de consensualidade, mas o seu aspeto mais
importante é, sem dúvida, o de pôr em destaque a necessidade de ascensão e de
libertação dos seres.
A representação das expressões dos animais na arte, transportam-nos às pinturas
rupestres das cavernas, à mitologia grega, romana e nórdica, aos ambientes de caça
na Idade Média, às gárgulas e às figuras grotescas das grandes catedrais, aos livros
de horas e outras iluminuras. Na Renascença, cenas familiares e naturais, quando a
arte se torna mais próxima da Natureza e também reabilita as formas da Antiguidade,
onde os animais aparecem na representação mitológica. No século XVI, sobretudo o
cão, foi representado abundantemente; no século XVII, surgiram artistas
especializados em representar animais, destacando-se François Déportes (1661-
1743). Nesta época, o cão assumiu papel principal nas representações artísticas; no
século XX atigiu o auge como animal de companhia, representado em pinturas
sobre almofadas de seda, ao colo ou a ser acariciado pelos seus companheiros
humanos (donos).
O cão, visto como o melhor amigo do homem, numa relação que ronda os 100 000
anos, muito provavelmente iniciada através dos hábitos alimentares do homem, é um
companheiro que chega a ser considerado um membro da família humana,
proporcionando companhia e indispensáveis auxílios (ex: cães de caça, cães guia,
cães de salvamento, cães de transporte, cães polícia, cães de companhia, etc). Por
exemplo, os animais de estimação têm sido reconhecidos em estudos realizados113
como os melhores a demonstrar amor incondicional junto de pessoas vítimas de
abuso.
Os animais mostram claramente que sabem fazer as suas escolhas para viverem as
suas vidas, os seus sentimentos ou as suas paixões, ao manifestarem-se através de
expressões da fácies, corporais e comportamentais, que têm sido objeto de estudo e
113
BEKOFF, Marc , A Vida Emocional dos Animais, p. 46.
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curiosidade humanas por parte de investigadores como Darwin, Jane Goodall ou
Franz Waal, entre muitos cientistas que nos motivos das suas pesquisas se incluem
os direitos dos animais e o valor da sensibilidade humana, que têm vindo a ser
advogados desde o século VI a. C., com o filósofo e matemático grego Pitágoras;
Ramon Bógea, filósofo do séc. XV; Jean-Jacques Rousseau (Discursos Sobre a
Origem e Fundamentos da Desigualdade entre homens e Animais, 1754); Voltaire
(1694 - 1778) Dictionaire Philosophique; Jeremy Bentham (1748- 1832), fundador do
utilitarismo moderno, que formulou a célebre frase: A questão não é: eles pensam ou
eles falam? A questão é: eles sofrem?
No século XIX a Inglaterra destacou-se na proteção animal; The Society for the
Prevention of Cruelty to Animals-SPCA, criada por membros do Parlamento inglês
que consideraram os não humanos detentores de direitos naturais e também legais.
Schopenhauer (1788-1860) em Fundamento da Moral defende que os animais
diferentes do homem têm direitos e que o reino animal não existe para o benefício do
homem; pronunciou-se contra a vivessecção.114 Henry Sault, Animals Rights:
Considered in Relation To Social Progress, 1892, considerou imoral a caça como
desporto. Richard Ryder, 1970 (psicólogo) cunhou o termo especifismo ou
discriminação que envolve a atribuição a animais, que percebem através dos
sentidos, diferentes valores e direitos baseados na sua espécie, por exemplo, quanto
ao direito de propriedade ou posse.
Nos anos 60 (1960) o “Grupo Oxford”, da Universidade de Oxford, manifestou-se,
considerando a exploração animal como inaceitável. Ruth Harrison (membro do
Grupo Oxford) publicou “Animal Machines” (1964), uma crítica às explorações
industriais.
Em 1975, Peter Singer, filósofo australiano, publica “Animal Liberation”, considerada
a “bíblia” do movimento moderno dos direitos dos animais; em 2010, Marc Bekoff,
visto como o maior especialista do mundo em emoções animais, publicou o
“Manifesto dos Animais” onde afirma que o paradigma atual não funciona e faz um
apelo a outra maneira de olhar que permita mudar a vida dos animais e dos humanos
para melhor. Esta é apenas uma diminuta amostra das personalidades e entidades
que procuraram e procuram melhorar a vida dos animais e engrandecer a
sensibilidade do ser humano.
A etologia, entendida sob o pinto de vista estético, o que o olhar artístico nos traz
como entendimento novo, é uma matéria que pensamos desenvolver em trabalhos
futuros de Etologia Visual Artística; um projeto desenvolvido em pesquisas e
estudos de maior complexidade e aprofundamento do tema.
Observar e realizar registos das expressões das emoções e sentimentos dos seres
humanos e dos animais, efetuar o exercício da Anatomia Artística na riqueza da
biodiversidade que se afirma pelo fascínio da presença, concretizam-se como as
constantes deste trabalho final de Mestrado.
114 Vivessecção: qualquer operação feita em animal vivo com o objetivo de realizar estudo ou
experimentação, Dicionário Houasis de Português Atual, p. 2398.
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