Faculdade de Ciências do Desporto e de Educação Física ... · Monografia elaborada no âmbito...
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Universidade do Porto
Faculdade de Ciências do Desporto e de Educação Física
Monografia
CUSTO ENERGÉTICO E VARIAÇÃO INTRACICLICA DA
VELOCIDADE DE DESLOCAMENTO DO CENTRO DE MASSA NA
TÉCNICA DE CROL
Daniel Queirós Novais
Dezembro, 2005
Universidade do Porto
Faculdade de Ciências do Desporto e de Educação Física
Monografia
CUSTO ENERGÉTICO E VARIAÇÃO INTRACICLICA DA
VELOCIDADE DE DESLOCAMENTO DO CENTRO DE MASSA NA
TÉCNICA DE CROL
Monografia elaborada no âmbito da disciplina de seminário, na área de
Natação, da Opção complementar de desporto de rendimento, do 5º ano da
Licenciatura em Desporto e Educação Física da FCDEF-UP
Orientador: Prof. Doutor João Paulo Vilas-Boas
Co-Orientador: Mestre Ricardo Fernandes
Autor: Daniel Queirós Novais
Dezembro, 2005
I
Agradecimentos
Um estudo desta natureza nunca é fruto do trabalho de uma só pessoa.
É antes um produto resultante da confluência de vontades, empenho,
dedicação, abnegação mas sobretudo o triunfo da vontade de conhecer,
crescer, progredir pessoal e colectivamente. O conhecimento é próprio de
mentes inquietas que não se contentam com aquilo que já sabem, mas que
antes desafiam aquilo que poderão vir a saber. Cabe-me portanto prestar aqui
o mais profundo dos agradecimentos a todos aqueles que, de forma explícita
ou não, tornaram este trabalho possível.
Gostaria de começar por agradecer ao Professor Doutor João Paulo
Vilas-Boas, orientador deste trabalho monográfico, pelo seu tacto peculiar no
referente ao modo como nos faz mover pelo caminho da sapiência. Fico grato
por todas as sugestões, esclarecimentos, criticas e ajudas, mas nunca
facilidades, por ele apresentadas.
Ao co-orientador da monografia, Mestre Ricardo Fernandes, que de uma
forma mais próxima, procurou sempre mostrar o caminho a seguir,
predispondo-nos e incutindo-nos, logo desde o início, uma ambição pela
qualidade.
Agradeço ao Engenheiro Pedro Gonçalves por todos os esclarecimentos,
ideias, sugestões e horas dispensadas. O bom humor e a forma inigualável de
tratar as questões de ordem informática e matemática tornaram as horas
bastante mais agradáveis.
Ao Dr. Lima pela palavra sempre encorajadora e pela ajuda sempre
sentida. A minha familiarização com os procedimentos de tratamento dos
dados biomecânicos ficou a ele devida.
Os colegas de curso desempenharam todos um papel essencial. O meu
sincero obrigado ao Paços, ao Capitão, à Vera, ao Gilo, à Inês, à Ana e ao
Chico. A estes dois últimos, encarecidamente por terem sido os meus colegas
de tema, tendo muitas das questões sido discutidas e resolvidas conjuntamente.
Ainda à Ana Querido e à Ana Balonas por toda a ajuda e incentivo.
II
Aos matemáticos cá de casa, os meus irmãos Anthony e David, por me
elucidarem em alguns conceitos matemáticos e físicos menos dominados e,
fundamentalmente, por serem aquilo que são.
Por fim, o meu muito obrigado aos meus pais.
III
Índice Geral
Agradecimentos................................................................................................... I
Índice Geral ....................................................................................................... III
Índice de Figuras ...............................................................................................IV
Índice de Quadros ..............................................................................................V
Resumo .............................................................................................................VI
Abstract.............................................................................................................VII
Resumé ...........................................................................................................VIII
Abreviaturas e símbolos ....................................................................................IX
1. Introdução.......................................................................................................1
2. Revisão de Literatura......................................................................................3
2.1. Enquadramento Teórico...........................................................................3
2.2. Economia de Nado...................................................................................5
2.2.1. Custo Energético ...............................................................................6
2.2.2. Factores Condicionantes ...................................................................7
2.3. Variação Intracíclica da velocidade de deslocamento..............................8
2.4. A técnica de Crol: custo energético e flutuações intracíclicas da
velocidade de deslocamento...........................................................................9
2.5. Relação entre custo energético e variação intracíclica da velocidade de
deslocamento do centro de massa ...............................................................10
3. Objectivos e Hipóteses .................................................................................13
4. Metodologia ..................................................................................................14
4.1. Caracterização da amostra ....................................................................14
4.2. Material e Métodos.................................................................................14
4.2.1. Recolha de dados............................................................................15
4.2.1.1. Dados Bioenergéticos ...............................................................16
4.2.1.2. Dados Biomecânicos ................................................................17
5. Apresentação dos Resultados......................................................................20
6. Discussão dos resultados.............................................................................30
7. Conclusão.....................................................................................................37
8. Referências Bibliográficas ............................................................................38
IV
Índice de Figuras
Figura 1 – Oxímetro (K4 b2) .............................................................................17
Figura 2 – Válvula respiratória..........................................................................17
Figura 3 – Recolha de sangue capilar ..............................................................17
Figura 4 – Analisador de lactatemia [La-] Yellow Springs Incorporated ............17
Figura 5 – Câmaras em plano sagital ...............................................................18
Figura 6 – Mesa de mistura Panasonic Digital Mixer........................................18
Figura 7 – Imagem de duplo meio ....................................................................18
Figura 8 – Regressão linear entre dv e a v para a média amostral ..................22
Figura 9 – Regressão linear entre dv e a v para os sujeitos da amostra ..........22
Figura 10 - Regressão linear entre E e a v para a média amostral...................23
Figura 11 – Regressão linear entre E e a v (1 e 3) e E e v3 (2 e 4), para os
sujeitos da amostra...........................................................................................24
Figura 12 – Regressão linear entre C e v (1 e 3) e C e v2 (2 e 4), para todos os
sujeitos .............................................................................................................25
Figura 13 - Regressão linear entre C e v, para a amostra total ........................26
Figura 14 - Regressão linear entre C e dv, para todos os sujeitos ...................27
Figura 15 – Regressão linear entre C e dv para a média amostral...................27
V
Índice de Quadros
Quadro 1 – Caracterização da amostra............................................................14
Quadro 2 – Pontos anatómicos e segmentos corporais do modelo
antropométrico adoptado (de Leva, 1996)........................................................18
Quadro 3 - Estatísticas descritivas (médias e desvios-padrão) relativas à v, dv,
E e C, por patamar, em termos individuais e amostrais ...................................20
Quadro 4 - Valores do coeficiente de correlação (r) e de determinação (r2) entre
dv e a v, individuais e médios...........................................................................21
Quadro 5 – Valores do coeficiente de correlação (r) e de determinação (r2)
entre E e a v, individuais e amostrais ...............................................................23
Quadro 6 – Valores do coeficiente de correlação (r) e de determinação (r2)
entre o E e a v3, individuais e amostrais...........................................................23
Quadro 7 - Valores do coeficiente de correlação (r) e de determinação (r2) entre
o C e a v, individuais e amostrais .....................................................................24
Quadro 8 - Valores do coeficiente de correlação (r) e de determinação (r2) entre
o C e a v2, individuais e amostrais....................................................................25
Quadro 9 - Valores do coeficiente de correlação (r) e de determinação (r2) entre
o C e a dv, individuais e amostrais ...................................................................26
Quadro 10 – Regressão linear de C com v e dv, por nadador e para a média
amostral ............................................................................................................28
Quadro 11 – Correlação parcial de C e dv, controlando v, para todos os
nadadores e para a média amostral .................................................................28
Quadro 12 – Correlação parcial de C e v, controlando dv, para todos os
nadadores e para a média amostral .................................................................29
Quadro 13 - Custo energético na técnica de crol, segundo vários estudos......32
VI
Resumo
O objectivo do presente estudo foi analisar a relação entre o custo
energético (C) e a variação intracíclica da velocidade de nado (dv), na técnica
de crol. A amostra foi constituída por 4 sujeitos, 2 de cada género, sendo 2
deles de nível selecção nacional e os restantes de nível nacional. Os
nadadores realizaram um protocolo incremental e intermitente, no qual foram
mensuradas as variáveis biomecânicas e bioenergéticas. A realização do teste
foi filmada, em plano sagital, por duas câmaras, uma acima e outra abaixo da
superfície da água, produzindo após edição, imagens de duplo meio. Utilizando
o programa de análise de vídeo APAS System (Ariel Dynamics Inc, USA), foi
calculada a dv do centro de massa (CM), de ciclos gestuais intermédios, em
cada patamar. O consumo de oxigénio (VO2) foi medido respiração a
respiração, utilizando um analisador de gases portátil (K4 b2, Cosmed, Itália),
que se encontrava ligado aos nadadores através de uma máscara e uma
válvula respiratória de baixa resistência hidrodinâmica. Foram ainda recolhidas
amostras de sangue capilar do lóbulo da orelha, antes e após cada patamar do
protocolo, para serem analisadas as concentrações sanguíneas de lactato (YSI
1500L Sport, Ohio, USA). Foram calculados o dispêndio energético (E) e o C
para cada estádio de intensidade. Como principais resultados verificamos: i) a
existência de relação positiva significativa entre as dv e a velocidade (v) a nível
amostral (r2=0.403, p=0.01); ii) um aumento linear do E com v em termos
médios (r2=0.713, p=0.01) e para 2 sujeitos (0.878=r2=0.938, p=0.01), e cúbico
para 2 sujeitos (0.906=r2=0.943, p=0.01); iii) um aumento linear de C com v em
termos médios (r2=0.498, p=0.01), e para 2 sujeitos (0.618=r2=0.860, p=0.05 ),
e quadrático para restantes 2 (0,812=r2=0.871, 0.01=p=0.05); iv) um aumento
de C significativamente associado a maiores dv, para a média amostral
(r2=0.619, p=0.01). Conclui-se que a nível individual v parece influenciar mais C
do que as dv, verificando-se o contrário ao nível da amostra total.
Palavras-chave: Natação pura desportiva, crol, variação intracíclica da
velocidade de nado, custo energético, cento de massa.
VII
Abstract
The purpose of the present study was to examine the relation between
de intracyclic variation of the swimming velocity (dv) and the energetic cost (C),
in front crawl. The sample was composed by 4 subjects, 2 of each gender,
participating 2 of them in the national portuguese team, and the other 2 at
national level. The swimmers performed an incremental and intermittent
protocol, where it was measured the biomechanic and bioenergetic variables.
The test was videotaped, in the sagital plane, with two cameras, one above and
other under de water surface, providing, after edition, a dual projection of the
swimmer. The APAS System (Ariel Dynamics Inc, USA) was used to calculate
the dv of the centre of mass (CM), of middle stroke cicles, at each set. The
oxygen consumption (VO2) was measured breath by breath, by a portable gas
analyser (K4 b2, Cosmed, Italy), thar was connected to the swimmer by a
respiratory snorkel and valve system with low hydrodinamic resistance.
Capillary blood samples were collected from the ear lobe, before and after each
set, to analyse the blood lactate concentretion (YSI 1500L Sport, Ohio, USA).
The energy expenditure (E) and C were calculated for each set. Results
showed: existence of a significant statistic positive relationship between dv and
velocity (v) for the sample mean values (r2=0.403, p=0.01); ii) a linear increase
of E with v for the sample mean values (r2=0.713, p=0.01) and for 2 subjects
(0.878=r2=0.938, p=0.01), and a cubic relation for the 2 other subjects
(0.906=r2=0.943, p=0.01); iii) a linear increase of C with v for mean sample
values (r2=0.498, p=0.01), and for 2 subjects (0.618=r2=0.860, p=0.05), and a
quadratic relation for the 2 other subjects (0,812=r2=0.871, 0.01=p=0.05); iv) a
significant increase o C associated to greater dv, for mean sample values
(r2=0.619, p=0.01). It is concluded that, at an individual level, v seems to
influence more C then dv, contrarily to what’s verified at sample mean values.
Keywords: Swimming, front crawl, intracyclic variation of the velocity, energetic
cost, centre of mass.
VIII
Resumé
L’objectif de ce travail c’est analyser le rapport entre le coût énergétique
(C) et la variation d’intracycle de vitesse de nage (dv), dans la technique de
crawl. L’échantillon s’est composé par 4 sujets, 2 de chaque genre, parmi
lesquels 2 étaient de niveau de sélection nationale et les autres de niveau
national. Les nageurs ont réalisé un protocole progressif et intermittent, dans
lequel ont été contemplé les variables biomécaniques et bioénergétiques. La
réalisation du test a été filmée, dans un plan sagittal, par deux caméras, une
au-dessus et l’autre au-dessous de la superficie de l’eau, produisant ainsi,
après édition, une projection duelle. Utilisant le programme d’analyse de vidéo
APAS (Ariel Dynamics Inc, USA), on a calculé la dv du centre de mass (CM),
de cycles gestuels intermédiaires, dans chaque phase. La consommation
d’oxygène (VO2) a été prise de respiration en respiration, en utilisant un
analyseur portatif de gaz (K4 b2, Cosmed, Itálie), qui se trouvait branché aux
nageurs à travers d’un masque et valve respiratoire de basse résistance
hydrodynamique. Des échantillons de sang capillaire du lobule de l’oreille avant
et après chaque phase du protocole, pou analyser les concentrations sanguines
de lactate (YSI 1500L Sport, Ohio, USA). La dépense énergique (E) et le C ont
été calculés pour chaque étape d’intensité. Comme principaux résultats on a
vérifié: i) l’existence de relation positive significative entre les dv et la vitesse (v)
au niveau de l’exemple (r2=0.403, p=0.01); ii) un accroissement linéaire de E
avec v en moyenne (r2=0.713, p=0.01) et pour deux sujets (0.878=r2=0.938,
p=0.01), et cubique pour deux sujets (0.906=r2=0.943, p=0.01); iii) un
accroissement linéaire de C avec v en moyenne (r2=0.498, p=0.01), et pour
deux sujets (0.618=r2=0.860, p=0.05) et quadratique pour les deux autres
(0,812=r2=0.871, 0.01=p=0.05); iv) un accroissement de C significativement
associé à de plus grands dv, pour la moyenne exemplaire (r2=0.619, p=0.01).
On conclu que á niveau individuel v semble influencer davantage C par rapport
aux dv, constatant l’inverse au niveau de l’exemple total.
Mots-clés: Natation pure sportive, crawl, variation intracyclic de la vitesse,
dépense énergique, centre de mass.
IX
Abreviaturas e símbolos
NPD – natação pura desportiva
v – velocidade
P – força propulsiva
D – força de arrasto hidrodinâmico
dv – variações intracíclicas de velocidade
w – trabalho
C – custo energético
E – dispêndio energético
ept – eficiência mecânica propulsiva total
i.e. – isto é
E – economia de nado
VO2 – consumo de oxigénio
[La-] – lactatemia
r – coeficiente de correlação
r2 – coeficiente de determinação
CM – centro de massa corporal
ep – eficiência propulsiva
1
1. Introdução
O sucesso em natação pura desportiva (NPD) é determinado pela
velocidade (v) média alcançada durante uma prova. Assim, o objectivo será
atingir a v média mais elevada na realização de uma determinada distância
(Nigg, 1983; Termin e Pendergast, 2000).
Por sua vez, a v de nado é determinada pelas forças propulsivas (P) e
de arrasto hidrodinâmico (D) a que o nadador está sujeito (Nigg, 1983).
Pelo facto de o nadador estar sujeito inevitavelmente a D, a qual é,
segundo D’Acquisto e Costill (1998), determinada pelas alterações nas
posições da cabeça, tronco e membros superiores e inferiores, e este não ser
capaz de, em cada momento, produzir P de intensidade e direcção igual a D, a
força resultante nunca será igual a zero, indiciando um movimento do nadador
em constantes acelerações (Vilas-Boas, 2000).
Consequentemente, a v de deslocamento horizontal varia durante cada
ciclo gestual (Nigg, 1983; Fujishima e Miyashita., 1999; Buckwitz et al., 2003).
A variação intracíclica da v (dv) durante o nado quando comparado com,
em termos teóricos, o nado a uma v constante, reflecte um acréscimo no
trabalho (w) total realizado pelo nadador. Este aumento está relacionado com a
necessidade de ultrapassar a inércia, assim como, D (D’Acquisto e Costill,
1998; Nigg, 1983).
Se uma menor quantidade de energia é consumida com uma menor dv,
esta deverá ser considerada como um indicador da eficiência do nado (Barthels
e Adrian, 1975; Kornecki e Bober, 1978), transparecendo então o nível técnico
do nadador.
Contudo, esta não é, única e exclusivamente, dependente do nível
técnico, mas também expressão distinta das várias técnicas de nado. Ela é
inferior para as técnicas alternadas, pois existe uma maior continuidade das
acções propulsivas. De entre estas, parece ser a técnica de crol sujeita a
menores dv.
2
Apesar de existirem muitos trabalhos dedicados a variáveis
biomecânicas e bioenergéticas para as diferentes técnicas de nado, apenas
alguns combinam estas duas áreas (Barbosa, 2005).
Menos ainda são aqueles que procuram conhecer a relação entre o
custo energético (C) e dv. Mesmo nestes, os resultados encontrados
demonstram ser pouco claros e conclusivos e as suas metodologias nem
sempre foram as mais actuais
Assim, propomo-nos a realizar uma análise da relação entre as dv e o C,
na técnica de crol.
Iniciaremos por realizar uma breve revisão da literatura, onde iremos
procurar conhecer o estado de conhecimento actual acerca dos conceitos em
questão. Sistematizaremos, depois, o problema do nosso estudo, bem como a
definição dos seus objectivos. Após a descrição do material e métodos
utilizados, passaremos a apresentar e a discutir os resultados obtidos,
confrontando-os entre si e com a literatura consultada. Terminaremos,
sistematizando as principais conclusões do estudo.
3
2. Revisão de Literatura
2.1. Enquadramento Teórico
A NPD poderá ser definida como uma modalidade individual, cíclica,
fechada e mista. Mista porque a NPD não deverá ser entendida como uma
modalidade eminentemente condicional (Vilas-Boas, 2000). Muito pelo
contrário. Apesar do seu sucesso ser dado pelo tempo dispendido por um
nadador para completar uma distância, no meio aquático, utilizando para tal
uma técnica ou uma combinação delas (Termin e Pendergast, 2000), vários
factores não apenas de ordem bioenergética, mas também de ordem
biomecânica, são para ele intervenientes.
Para uma analise mais detalhada destes factores, remetamos para a
“equação geral da performance do nadador”, a qual o seu desenvolvimento
teórico se ficou a dever, principalmente, aos trabalhos de di Prampero,
Pendergast, Wilson e Rennie (1974), Rennie, Prendergast e di Prampero
(1975), Pendergast, di Prampero, Craig Júnior, Wilson e Rennie (1977),
Pendergast, di Prampero, Craig Júnior e Rennie (1978) e Holmér (1983):
v = E (ept x D-1) (1)
Tal como referimos, de acordo com a expressão (1) conclui-se que a
performance em NPD é determinada por dois factores: (i) o dispêndio
energético (E), proveniente das três fontes fundamentais de energia:
fosforilação oxidativa, glicolíse anaeróbia e reserva de fosfatos de alta energia;
e (ii) a razão entre a eficiência mecânica propulsiva total (ept), definida como
percentagem da potencia total produzida pelo nadador que é efectivamente
utilizada para a propulsão, e a intensidade de D, i.e., força resultante oposta ao
deslocamento do nadador, a qual reflecte a habilidade técnica deste último
(Vilas-Boas, 2000). Poderemos assim afirmar que a técnica de um nadador,
enquanto conjunto de processos desenvolvidos para resolver racional e
economicamente um determinado problema que corresponde a um padrão
4
motor ideal (Weineck, 1983), deverá permitir uma maximização da ept e uma
minimização de D.
A importância do ratio ept/D pode ser enfatizado ao examinar o potencial
de melhoria de performance que resulta das melhorias no E e/ou em ept/D
(Pendergast et al., 1978). Um indivíduo, na corrida, pode aumentar o seu VO2
máximo apenas em cerca de 10%. O VO2 durante o nado foi reportado em ser
cerca de 20% mais baixo do que na corrida (Holmer, 1974a), uma diferença
que poderá ser eliminada pelo treino em natação que estabeleça uma máxima
melhoria no VO2max em 30% (Pendergast et al., 1978).
A reduzida treinabilidade dos recursos bioenergéticos, principalemente
os anaérobios, torna evidente a grande prioridade a atribuir aos factores de
rendimento dos nadadores que se encontra ao nível da técnica e da
biomecânica do nadador (Vilas-Boas, 1997).
Vários autores têm encontrado uma ept de nado, para várias técnicas,
em torno dos 3 e os 10% (Holmér, 1974b; Rennie et al., 1975; Pendergast, et
al., 1977; Toussaint, 1988). O que significa que apenas 3 a 10% da energia
dispendida pelo nadador é utilizada para fins propulsivos (Vilas-Boas, 1997).
Num quadro de tamanha ineficiência mecânica, qualquer progresso
operado na técnica de nado, seja no domínio da maximização de P, seja no da
minimização de D ou das dv, contribuirá decididamente para uma evolução da
performance de nado (Vilas-Boas, 2000).
Apesar de se assistir a uma melhoria significativa da performance
através do aumento da capacidade e potência dos recursos bioenergéticos, um
exame dos dados para o ratio ept/D revela uma melhoria potencial na ordem
dos 100% (Pendergast et al., 1978).
Corroborando esta linha de ideias, Costill (1988) postulou que as
diferenças existentes entre nadadores de nível internacional e regional se
situam ao nível da habilidade técnica, em detrimento dos aspectos fisiológicos.
Esta análise não deverá sugerir que o treino metabólico deverá ser
negligenciado, mas sim a importância da melhoria na habilidade técnica
(Pendergast et al., 1978). Assim, uma diminuição no custo energético de nado
pela melhoria técnica (biomecânica) e/ou um aumento na potência metabólica
5
através do treino efectivo, deverá actuar no sentido de promover a melhoria na
performance em NPD (Termin e Pendergast, 2000).
A razão ept/D define o conceito de economia motora (E). Esta poderá ser
considerada, como vimos anteriormente, uma medida da qualidade mecânica
da técnica e da morfologia (E = ept x D-1) do nadador e o custo energético o seu
inverso (C = D x ept-1), ou seja, quanto maior a economia de nado, menor será
o custo energético (Pendergast et al., 1977). Passamos de seguida a
esclarecer melhor estes conceitos.
2.2. Economia de Nado
Segundo Vilas-Boas (2000), a E constitui um indicador global para a
avaliação do nível de adequação mecânica da técnica de nado, nomeadamente
no que concerne à minimização da D e à maximização da eficiência com que
se produz e aplica P.
A partir do rearranjo da equação (1) podemos melhor esclarecer este
conceito:
E / v = D / ept (2)
A igualdade apresentada em (2) foi verificada experimentalmente por
Pendergast et al. (1977) e evidencia uma relação fundamental para o
entendimento da natação: o custo energético de nado a uma v constante,
crescendo este com D e diminuindo com ept.
Segundo o mesmo autor, verificamos com a equação (2) que a E é uma
medida da qualidade mecânica da técnica e da morfologia. Assim, é um
parâmetro que se revê tanto no domínio da fisiologia, porque é um parâmetro
fisiológico em substância, como no da biomecânica, mostrando-se
particularmente sensível às flutuações das variáveis desse carácter (Vilas-Boas,
1997).
Neste sentido, Cavanagh e Kram (1985) afirmaram que a E é
universalmente aceite como critério fisiológico da performance eficiente. É
6
assim considerada como um dos principais factores determinantes da
performance em NPD (van Handel et al., 1988; Chatard et al., 1990; Smith et
al., 2002; Fernandes et al., 2005).
Para a quantificação da E tem vindo a ser utilizado, desde a década de
70, o custo energético (Fernandes et al., 2005).
2.2.1. Custo Energético
O custo energético poderá ser definido como a quantidade de energia
metabólica gasta, acima do valor de repouso, por unidade de distância (di
Prampero, 1986). Toussaint e Hollander (1994) completam dizendo que essa
energia gasta resulta do arrasto hidrodinâmico a ser vencido, da água movida
durante os movimentos propulsivos, das acelerações induzidas no corpo e da
eficiência mecânica. Lavoie e Montpetit (1986) consideram ainda que alguma
energia é ainda dispendida ao vencer a força gravítica, fundamentalmente a
baixas velocidades de nado.
Para quantificar esta “energia”, apesar de alguns autores continuarem a
definir o C como o consumo de oxigénio (VO2) necessário para uma
intensidade absoluta de nado (Wakayoshi et al., 1995; Poujade et al., 2002;
Kjendlie et al., 2004), outros consideram vital quantificar o contributo das duas
fontes fundamentais de energia em NPD (di Prampero et al.; 1978; Capelli et al.,
1998): a fosforilação oxidativa e a glicólise anaeróbia.
Através da igualdade em (2) temos:
C = E/v (3)
Define-se então o C como o inverso da E, ou seja, quanto maior a E,
menor será o C (Pendergast et al., 1977).
Na expressão (3) temos o C como directamente proporcional ao E e
inversamente proporcional à v de nado. No entanto, o tipo de relação existente
entre o C e v parece na ser unanimemente aceite pelos autores.
7
Na verdade, vários factores parecem influenciar, em maior ou menor
medida, o C em NPD. Se parte da energia química é convertida pelo nadador,
com a contracção muscular, em energia mecânica (Cavanagh e Kram, 1985), e
outra na variação da energia cinética da água a ele adjacente (Toussaint et al.,
1988; Toussaint, 1992), é então fácil deduzir que o C está intimamente ligado a
aspectos como peso, a massa magra, as dimensões corporais, a densidade
corporal, entre outros (Vilas-Boas, 1996).
2.2.2. Factores Condicionantes
Vários têm sido os estudos realizados em torno de C e diversos
aspectos têm sido apontados como seu condicionante.
A variação inter-individual de C é enorme e depende maioritariamente da
habilidade técnica do nadador e da técnica de nado (Toussaint, 1992; Costill et
al., 1992). Relativamente às técnicas, vários estudos têm sido realizados,
mostrando ser o crol a técnica mais económica, seguindo-se a técnica de
costas, com diferenças que se situam entre os 11% e os 32% (Holmér, 1974b;
Holmér, 1983; Smith et al., 1988; Klentrou e Montpetit, 1992; Alves et al., 1996;
Capelli et al., 1998).
Outros factores, i.e., variáveis individuais de ordem biomecânica, como
as dimensões corporais, a massa corporal, e a densidade são também
apresentados como influenciadores do C de nado. Portanto, o género e a idade
do nadador apresentam-se também como condicionantes, visto fazer variar
cada uma das características biomecânicas mencionadas.
Diversos autores têm vindo a verificar um maior C apresentado pelos
nadadores do género masculino (Pendergast et al., 1978; Montpetit et al., 1983,
1988; di Prampero, 1986; Fernandes et al., 2005). Complementarmente, os
nadadores, na maior parte dos casos, possuem dimensões corporais, tal como
a área de secção transversal ou a massa corporal, superiores aos das
nadadoras, justificando até certa medida o acréscimo em C (Toussaint et al.,
1988). Os nadadores apresentam também um maior binário hidrostático, que
tende a promover a rotação do corpo para uma posição mais verticalizada,
8
devida sobretudo à maior densidade dos membros inferiores relativamente às
nadadoras (Capelli et al. 1992; Pendergast et al., 1977; Zamparo et al., 1996).
O incremento de C com a v é óbvio, uma vez que D, o principal factor
determinante de C de nado, tem uma relação quadrática com a v (Toussaint e
Hollander, 1994).
As primeiras investigações em torno desta temática indicam que v e C
se relacionam exponencialmente. Contudo, mais recentemente, Lavoie e
Montpetit (1986) concluíram que a relação exponencial encontrada nestes
estudos se poderá dever a falhas metodológicas da investigação, tais como: (i)
nem todos os sujeitos da amostra realizarem toda a amplitude de velocidades
requeridas (Pendergast et al., 1978); (ii) o cálculo de E, apenas com base na
contribuição metabólica aeróbia para a energia consumida durante o nado (di
Prampero et al.,1974; Pendergast et al., 1977; Costill et al., 1985; Montpetit et
al.; 1988; van Handel et al., 1988; Chatard et al., 1990; Wakayoshi et al., 1995;
Poujade et al.; 2002; Kjendlie, et al., 2004); e (iii) utilização de velocidades de
nado a intensidades submáximas (Toussaint e Hollander, 1994; Wakayoshi et
al., 1995; Kjendlie et al., 2004).
Assim, vários têm sido os autores a demonstrar uma relação linear entre
a relação E/v, nomeadamente Montpetit et al. (1998), Toussaint et al. (1988),
Chatard et al. (1990) e Vilas-Boas (1996). A linearidade desta relação poderá
ser explicada de acordo com a possibilidade de, a velocidades mais elevadas,
a eficiência de nado crescer, devido à possível redução das flutuações
intracíclicas da velocidade de deslocamento do nadador (di Prampero et al.,
1974; Kornecki e Bober, 1978; Vilas-Boas, 1996).
De facto, alguns autores têm vindo a comprovar a relação inversa
existente entre as dv de deslocamento horizontal e o C em NPD.
2.3. Variação Intracíclica da velocidade de deslocamento
Nigg (1983) provou teoricamente que qualquer alteração na v de
deslocamento resulta num incremento na quantidade de w realizado pelo
9
nadador, sugerindo então que, para uma dada capacidade de w, a solução
óptima será nadar a uma v constante.
Segundo o mesmo autor, quando a v de nado não é constante, o
nadador terá de efectuar um esforço extra para superar a força inércial a que
está sujeito, o que se irá reflectir no output energético e no seu potencial
individual de performance.
Contudo, nadar a uma v constante torna-se impossível. O fundamento
do sucesso em NPD, como vimos, reside na minimização do D total e na
potenciação dos impulsos propulsivos levados a cabo pelos membros
superiores e inferiores. Consequentemente, a inter-relação entre P e D torna-se
crucial quando consideramos o nível técnico de um nadador. Os movimentos
da cabeça, tronco, membros superiores e inferiores, bem como a aplicação
intermitente de impulsos propulsivos, ditam variações intracíclicas
incontornáveis na v de nado. Desde que um impulso propulsivo termina até que
outro se inicie, o corpo é desacelerado, como efeito do impulso negativo
decorrente da sujeição do corpo a D (Vilas-Boas, 1997)
Portanto, a dv de nado deverá ser um indicador da eficiência do nado
(Barthels e Adrian, 1975; Kornecki e Bober, 1978)
Partindo da assumpção de Kornecki e Bober (1978), a qual nos diz que
as técnicas de nado são mais efectivas, e mais económicas, se a diferença
entre as velocidades intracíclicas instantânea e a média for mínima,
constatamos que são as técnicas alternadas as mais económicas,
nomeadamente a técnica de crol.
2.4. A técnica de Crol: custo energético e flutuações
intracíclicas da velocidade de deslocamento
Crol é uma técnica de nado ventral, alternada e simétrica, no decurso da
qual as acções motoras realizadas pelos membros superiores e inferiores
tendem a assegurar uma propulsão continua (Alves, 1996).
Como já vimos, a técnica de crol parece ser a mais económica das
quatro técnicas de nado (Holmér, 1974b; Holmér, 1983; Smith et al., 1988;
10
Klentrou e Montpetit, 1992; Alves et al., 1996; Capelli et al., 1998). De acordo
com Hólmer (1974b), esta é a técnica mais eficiente do ponto de vista
mecânico. A sua supremacia deve-se, em primeiro lugar, ao facto de ser
alternada, evitando-se assim grandes oscilações intracíclicas da velocidade de
deslocamento. Depois, porque a posição corporal que lhe é inerente permite
trajectos subaquáticos bem orientados, com resultantes propulsivas muito
próximas da direcção de deslocamento do corpo, minimizando também a sua
área de secção transversal.
Assim, as dv parecem ser bastante reduzidas nesta técnica de nado. De
facto, para Toussaint et al. (1988) e Holmér (1983) as dv na técnica de crol
poderão ser consideradas negligenciáveis.
2.5. Relação entre custo energético e variação intracíclica da
velocidade de deslocamento do centro de massa
Apesar de serem as áreas mais condicionantes da prestação em NPD,
os estudos que analisam a conjugação de aspectos bioenergéticos e
biomecânicos parecem ser limitados (Barbosa et al., 2005). Da mesma forma,
mesmo com a influência evidente das dv sobre C, poucos têm sido os autores
que se têm dedicado ao estudo comparativo destas duas variáveis. Para o
nosso conhecimento, apenas existem 5 estudos na literatura dedicados à
comparação entre estes dois aspectos.
Vilas-Boas (1996) procedeu à comparação das dv da anca com a E na
técnica de bruços. A amostra era constituída por 13 nadadores de elevado
nível competitivo. Para a determinação das dv recorreu ao método foto-
opticométrico das luzes tracejantes intermitentes e o C foi calculado utilizando
a metodologia descrita por di Prampero et al. (1978). O protocolo utilizado
consistiu num teste triangular de 3x200m, com 30 minutos de intervalo entre
repetições, em que os dois primeiros patamares foram realizados a
intensidades submáximas e o terceiro à v máxima.
Os resultados deste estudo revelaram correlações significativas entre C
e dv da anca a nível individual, mas não ao nível de médias amostrais.
11
No mesmo ano, Alves et al. (1996) realizaram um estudo idêntico, mas
desta vez para as técnicas alternadas crol e costas. A amostra era constituída
por 12 nadadores de bom nível.
O protocolo utilizado era constituído por 3x300m realizados a
intensidades submáximas (65%, 75% e 85%) e 1x400m à intensidade máxima.
Os resultados obtidos revelaram correlações significativas entre dv da
anca e o C para a técnica de costas e a baixas velocidades (1.1ms-1 e 1.2ms-1).
Na técnica de crol não foram encontradas relações estatisticamente
significativas.
Mais recentemente, Barbosa et al. (2005) realizou um estudo à imagem
dos anteriores, na técnica de mariposa, utilizando contudo o CM como
referência para a v de deslocamento do nadador. A amostra deste estudo foi
constituída por 5 nadadores de nível nacional. Para a determinação de C foi
utilizada a metodologia descrita por di Prampero et al. (1978), tendo os valores
de VO2 sido medidos a partir de uma oxímetro portátil (K4 b2) e utilizados
também os valores de lactatemia ([La-]).
Os resultados apontaram para uma correlação positiva entre as dv e o C
na técnica de mariposa.
Portela (2005) procurou também conhecer a relação entre C e as dv do
CM, na técnica de costas. Utilizou para tal uma amostra de 5 nadadores, de
nível nacional e de selecção nacional. O protocolo aplicado constituiu na
realização de 5 a 6 repetições de 200m de intensidade progressiva, com 30
segundos de intervalo entre patamares. O C foi determinado segundo a
metodologia proposta por di Prampero et al. (1978). Para tal, o VO2 foi medido
respiração a respiração por um oxímetro portátil (K4 b2) e foram obtidas
amostras de sangue capilar para a medição da [La-].
Os resultados obtidos permitiram verificar que o aumento de C estava
associado significativamente a maiores dv e concluir que a v parece influenciar
mais o C do que as dv e que estes dois aspectos não explicam toda a variação
em C.
Por fim, Lima (2005) procurou conhecer a relação entre estas duas
variáveis na técnica de bruços. A amostra foi constituída por 4 nadadores,
12
sendo 3 de nível de selecção nacional e 1 de nível nacional. Num estudo
metodologicamente igual ao de Portela (2005), este autor concluiu que a dv
tem uma influência reduzida no C de nado, sendo a v o principal factor
condicionador deste.
13
3. Objectivos e Hipóteses
O objectivo deste trabalho consiste em verificar a relação existente entre
o C e dv, na técnica de crol, ao nível individual e amostral. A um nível mais
específico determinamos os seguintes objectivos:
- determinar a relação entre dv e v de nado, em termos individuais;
- determinar a relação entre dv e v de nado, em termos médios amostrais;
- determinar a relação entre E e v de nado, em termos individuais;
- determinar a relação entre E e v de ando, em termos médios amostrais;
- determinar a relação entre C e v de nado, em termos individuais;
- determinar a relação entre C e v de nado, em termos médios amostrais.
Tendo em conta a revisão de literatura efectuada e os objectivos
formulados colocamos as seguintes hipóteses:
- verifica-se uma relação positiva entre C e dv;
- verifica-se uma relação inversa entre dv e v de nado;
- verifica-se uma relação linear entre E e v de nado.
14
4. Metodologia
4.1. Caracterização da amostra
A amostra utilizada no nosso estudo é constituída por 4 nadadores,
sendo 2 do sexo feminino e 2 do sexo masculino. No referente ao nível de
desempenho, 2 pertencem à selecção nacional, sendo os restantes de nível
nacional. No Quadro 1, que se segue, podemos verificar a idade, massa
corporal e altura, para cada um dos sujeitos e para a média amostral.
Quadro 1 – Caracterização da amostra
Sujeito Nível competitivo Sexo Idade
(anos) Altura (cm) Massa Corporal (Kg)
1 Nacional Feminino 17 170 63.2 2 Sel. nacional Feminino 16 172 58.2 3 Sel. nacional Masculino 19 168 62.6 4 Nacional Masculino 18 184 80.6 méd±dp 17.50±1.29 173.50±7.19 66.15±9.89
4.2. Material e Métodos
Todos os nadadores constituintes da amostra, assim como os
respectivos treinadores, foram informados de todos os procedimentos inerentes
ao teste em questão, pelo que a sua participação foi voluntária.
A experimentação foi realizada numa piscina interior aquecida (27ºC)
com 25m de comprimento e 12,5m de largura (6 pistas).
Antes de levar a cabo o teste propriamente dito, foram realizadas
algumas tarefas. Foi medida a altura, a massa e a composição corporal,
através da utilização do antropometro e da balança de bioimpedância (Tanita).
Todos os nadadores da amostra foram marcados com fita adesiva ou
marcador para facilitar a leitura dos pontos anatómicos a serem digitalizados.
Fita adesiva de cor contrastante foi utilizada nas regiões cárpicas, olecrâneos,
côndilos fémurais e regiões tíbio-társicas. A marcador foram assinaladas as
articulações escapulo-humerais e os grandes trocanteres femurais.
15
Foi ainda colocado um cardio-frequencimetro (Polar Vantage NV, Polar
Electro Oy, Kample, Finland) para a monitorização da frequência cardiaca
durante a realização do teste.
O protocolo propriamente dito consistiu na realização de um teste
incremental intermitente de nx200m (n=8) com intervalos de 30 segundos entre
os patamares. O incremento na v de nado de patamar para patamar foi de 0,05
ms-1 (Montpetit et al., 1988; Cardoso et al., 2003).
A v do primeiro patamar foi estabelecida de acordo com o nível individual
de performance de cada indivíduo. Ao melhor tempo de cada um aos 200m, i.e.,
à melhor velocidade média aos 200m, foram subtraídos 7 incrementos de v
(7x0,05ms-1) (Fernandes et al., 2003).
A v de nado foi controlada por pacer visual com luzes intermitentes (TAR.
1.1, GBK Electronics, Aveiro, Portugal), colocadas no fundo da piscina, no
centro da pista onde se realizaria o protocolo. Todos os nadadores foram
encorajados para nadar ao ritmo pré-determinado.
A aparelhagem ligada ao nadador condiciona alguns dos seus
movimentos, pelo que o protocolo se iniciou com os nadadores já dentro de
água e a viragem aberta sempre realizada para o mesmo lado da piscina, sem
deslize subaquático.
Os testes davam-se por terminados quando fossem alcançados os
critérios fisiológicos tradicionais, primários e secundários, de determinação do
VO2 máximo (Holey et al., 1995): (i) plateau de VO2 mesmo que ocorra ainda
um aumento da v; e (ii) ([La-]) igual ou superior a 8mmol-1; quociente
respiratório superior ou igual a 1; frequência cardiaca superior a 90% da
máxima, a qual foi determinada pela equação 220bpm – idade; e através da
exaustão aparente, controlada visualmente e caso a caso.
4.2.1. Recolha de dados
A recolha dos dados bioenergéticos e biomecânicos foi realizada
simultaneamente. Uma vez que os materiais e os métodos utilizados são
16
específicos para cada tipo de dados recolhidos, iremos apresentá-los
separadamente.
4.2.1.1. Dados Bioenergéticos
Para determinar o VO2 de cada indivíduo recorreu-se a um oximetro
protátil (K4 b2, Cosmed, Italy) (Figura 1), o qual analisa os gases respiratórios
respiração a respiração, ligado a uma válvula respiratória desenvolvida por
Toussaint et al. (1987), adaptada e validada posteriormente por Keskinen et al.
(2003) para o K4 b2 (Figura 2).
Este analisador de gases respiratórios envia os dados analisados por
telemetria para um computador, possibilitando a visualização dos dados em
tempo real e seu posterior armazenamento.
Para determinar a [La-] procedeu-se à recolha de amostras de sangue
capilar do lóbulo da orelha (25µl) em repouso, entre patamares e no final do
protocolo, aos minutos 1, 3, 5 e 7 (Figura 3).
A análise destas amostras foi efectuada pelo auto-analisador de
concentrações sanguíneas de acido de láctico YSi 1500L Sport (Yellow Springs
Incorporated, Yellow Springs, Ohio, USA) (Figura 4).
O E foi calculado, para cada patamar, utilizando-se o VO2 net (valor
resultante da subtracção do valor de VO2 de repouso ao valor do VO2 de cada
patamar) e [La-] net (valor de [La-] de cada patamar subtraído do valor de [La-]
do patamar anterior ou do valor de repouso no caso do 1º patamar).
Os dados relativos à componente anaeróbia da produção de energia
foram transformados em equivalentes de O2 através da utilização da constante
2,7mlO2.Kg-1.mmol-1 e dos procedimentos descritos por di Prampero et al.
(1978).
E = VO2max + 2,7 [La-]
A contribuição dos fosfatos de alta energia não foi considerada. A
contribuição desta fonte de produção de energia foi considerada negligenciável
(Vilas-Boas, 1996; Termin e Pendergast; 2000).
17
O C para cada patamar foi obtido posteriormente pela divisão de E pela
v de nado.
Figura 1 – Oxímetro (K4 b2)
Figura 2 – Válvula respiratória
Figura 3 – Recolha de sangue capilar
Figura 4 – Analisador de lactatemia [La-] Yellow Springs Incorporated
4.2.1.2. Dados Biomecânicos
Para a recolha dos dados biomecânicos foram captados os ciclos aos
100m, 125m e 150m, como forma de representar cada um dos patamares do
protocolo. De facto, estes ciclos gestuais intermédios foram escolhidos partindo
da assumpção que a estas distâncias corresponderiam os momentos em que a
actividade bioenergética dos indivíduos estaria mais estabilizada.
As imagens foram captadas no plano sagital por duas cameras (JVC
GR-SX1 SVHS e JVC GR-SXM 25 SVHS) colocadas perpendicularmente ao
movimento do nadador. Ambas cameras foram fixas ao bordo da piscina e
afastadas 10m do trajecto do nadador, tendo uma ficado acima e outra abaixo
da superfície da água (Figura 5).
Esta dupla projecção do nadador sofreu uma sincronização em tempo
real. As imagens foram gravadas em vídeo (Panasonic AG 7355) e editadas
numa mesa de mistura (Panasonic Digital Mixer WJ-AVE55 VHS) (Figura 6),
para criar imagens de duplo meio, como descrito por Vilas-Boas et al. (2004)
(Figura 7).
18
Figura 5 – Câmaras em plano sagital
Figura 6 – Mesa de mistura Panasonic Digital Mixer
Figura 7 – Imagem de duplo meio
A digitalização das imagens captadas foi realizada com o programa
APAS System (Ariel Dynamics Inc, USA). A digitalização dos pontos
anatómicos foi efectuada de acordo com o modelo antropométrico biomecânico
de Zatsiorsky, adaptado posteriormente por de Leva (1996). O modelo é
constituído por 20 pontos anatómicos, os quais formam 14 segmentos
corporais. A descrição do modelo encontra-se patente no Quadro 2.
Quadro 2 – Pontos anatómicos e segmentos corporais do modelo antropométrico adoptado (de Leva, 1996)
Pontos anatómicos Segmentos corporais 1. vértex a. Cabeça (1 e 2) 2. meato acústico da orelha b. Braço esquerdo (3 e 4) 3. ombro esquerdo c. Antebraço esquerdo (4 e 5) 4. cotovelo esquerdo d. Mão esquerda (5 e 6) 5. pulso esquerdo e. Braço direito (7 e 8) 6. dactílio esquerdo f. Antebraço direito (8 e 9) 7. ombro direito g. Mão direita (9 e 10) 8. cotovelo direito h. Tronco (3, 7, 11 e 16) 9. pulso direito i. Coxa esquerda (11 e 12) 10. dactílio direito j. Perna esquerda (12 e 13) 11. cabeça do fémur esquerdo l. Pé esquerdo (13, 14 e 15) 12. joelho esquerdo m. Coxa direita (16 e 17) 13. tornozelo esquerdo n. Perna direita (17 e 18) 14. calcâneo esquerdo o. Pé direito (18, 19 e 20) 15. hálux esquerdo 16. cabeça do fémur direito 17. joelho direito 18. tornozelo direito 19. calcâneo direito 20. hálux direito
19
4.2.2. Procedimentos Estatísticos
O tratamento estatístico dos dados obtidos foi realizado através da
utilização do software Microsoft EXCEL versão 2003, para o sistema operativo
Windows XP e do software SPSS versão 13.0, para Windows.
Foi verificada a normalidade da distribuição da amostra através da
realização do teste de normalidade de Shapiro-Wilk.
Ao nível da estatística descritiva foram calculadas as médias e
respectivo desvio padrão das principais variáveis do nosso estudo. Foi ainda
calculado o coeficiente de variação para a v de deslocamento horizontal do CM,
para cada ciclo gestual considerado.
Ao nível da estatística inferencial foram efectuadas regressões lineares
entre dv e a v, o E e a v, o E e a v3, o C e v, o C e v2, C e dv e, finalmente, de C
com dv e v. Foram obtidos coeficientes de correlação (r) e de determinação (r2)
para todas as regressões referidas. Calculou-se ainda o valor de correlação
parcial entre C e as dv, controlando-se a v, e entre C e v, controlando-se dv.
O nível de significância foi estabelecido num valor de p=0.05.
20
5. Apresentação dos Resultados
Os dados referentes à v média, dv, E e C, obtidos durante a realização
do protocolo incremental, estão descritos no Quadro 3. Os valores encontram-
se descriminados por patamar, em termos individuais e médios.
Quadro 3 - Estatísticas descritivas (médias e desvios-padrão) relativas à v, dv, E e C, por patamar, em termos individuais e amostrais Sujeito Patamar v (ms-1) dv (%) E (mlO2kg-1min-1) C (JKg-1m-1)
1 1.15 15.59±1.45 38.06 11.53 2 1.22 19.02±3.87 41.03 11.71 3 1.27 32.23±23.1 49.80 13.66 4 1.32 28.20±12.52 57.73 15.23
1
5 1.38 31.59±7.57 59.54 15.03 1 1.15 15.79±5.76 23.07 6.99 2 1.2 16.36±9.53 23.66 6.87 3 1.24 13.25±3.68 27.69 7.78 4 1.31 12.33±1.51 33.38 8.88
2
5 1.33 13.49±1.53 32.53 8.52 1 1.29 31.73±10.62 43.07 11.63 2 1.32 28.63±6.70 40.94 10.80 3 1.37 28.91±13.14 51.46 13.08 4 1.42 27.68±14.23 54.21 13.30 5 1.5 23.66±9.08 58.66 13.62
3
6 1.54 26.90±11.60 58.42 13.21 1 1.32 33.11±22.89 43.83 11.57 2 1.36 30.29±3.81 48.16 12.34 3 1.4 37.86±16.85 59.63 14.84 4 1.44 29.83±6.84 54.30 13.14 5 1.47 46.58±15.96 61.97 14.68 6 1.49 47.10±4.89 64.54 15.09
4
7 1.54 35.44±9.22 73.34 16.59 1 1.23±0.09 24.06±9.68 37.01±9.64 10.43±2.29 2 1.28±0.08 23.57±6.91 38.45±10.43 10.43±2.46 3 1.34±0.09 26.67±12.45 46.26±16.59 11.90±3.67 4 1.36±0.08 25.52±8.98 47.93±9.92 12.24±2.26 5 1.37±0.08 29.42±16.58 50.74±15.91 12.81±3.73 6 1.46±0.07 34.11±11.92 60.91±3.17 14.58±0.83
Méd
ia a
mos
tral
7 1.54±0.00 31.17±6.03 65.88±10.55 14.9±2.39
De acordo com o Quadro 3, verificamos que os valores médios da v e do
E aumentam do primeiro ao último patamar. Quanto C, o seu crescimento
também se verifica ao longo dos patamares, embora haja uma estagnação do
primeiro para o segundo. Tal parece estar justificado pela diminuição do C de
21
nado evidenciado no segundo patamar, pelos sujeitos 2 e 3, relativamente ao
primeiro.
No referente aos valores médios de dv, verificamos que os valores não
espelham o mesmo comportamento das variáveis anteriores. Apesar de se
perceber um crescimento, espelhado pelo comportamento desta variável para a
média amostral, este não é linear de patamar para patamar, apresentando uam
natureza bastante individual.
Passamos de seguida a analisar as relações existentes entre as
diferentes variáveis. Começaremos pela relação entre as dv e a v, expressa no
Quadro 4.
Quadro 4 - Valores do coeficiente de correlação (r) e de determinação (r2) entre dv e a v, individuais e médios
Sujeitos 1 2 3 4
Média amostral
r 0.861 -0.816 -0.820 0.490 0.634 r2 0.742 0.667 0.672* 0.240 0.403**
Legenda: * significativo para p=0.05; ** significativo para p=0.01
Da análise deste quadro verificamos uma grande heterogeneidade no
tipo de relações encontradas. Nos nadadores 2 e 3 encontramos uma
tendência para uma diminuição das dv com o aumento de v (Figura 9), com um
coeficiente de determinação (r2) de 0.667 e 0.672, respectivamente, sendo a
relação significativa apenas para o último (p=0.05). Para os restantes dois (1 e
4), o tipo de relação encontrada foi positiva, embora não significativa para
ambos (Figura 9). O sujeito 4 apresenta a relação mais fraca entre estas duas
variáveis (r=0.490), o que é notório pela dispersão dos valores relativamente à
recta de regressão, como vemos na Figura 9.
Em termos médios esta relação entre dv e v também se verifica,
apresentando significado estatístico, e traduz-se pela equação de regressão
linear dv=54.346v-46.123, onde a associação entre as variáveis é de 40.3%
(Figura 8).
22
dv = 54.346v - 46.123; r2 = 0.4026
10
15
20
25
30
35
40
45
50
1.1 1.2 1.3 1.4 1.5 1.6
v (m.s-1)
dv (%
)
Figura 8 – Regressão linear entre dv e a v para a média amostral
1
dv = 73.567v - 67.956; r2 = 0.741810
15
20
25
30
35
1.1 1.2 1.3 1.4
v (m.s-1)
dv (%
)
2
dv = -18.915v + 37.812; r2 = 0.666711
12
13
14
15
16
17
1.1 1.2 1.3 1.4
v (ms-1)
dv (%
)
3
dv = -21.96v + 58.809; r2 = 0.671920
22
24
26
28
30
32
34
1.2 1.3 1.4 1.5 1.6
v (m.s-1)
dv (%
)
4
dv = 45.758v - 28.33; r2 = 0.239725
30
35
40
45
50
1.3 1.4 1.5 1.6
v (m.s-1)
dv (%
)
Figura 9 – Regressão linear entre dv e a v para os sujeitos da amostra
Passamos agora a analisar a relação entre o E e a v. Note-se que, nos
Quadro 5 e Quadro 6, quer em termos individuais, quer em termos médios,
encontramos uma relação estatisticamente significativa entre estas duas
variáveis, para p=0.01.
23
Quadro 5 – Valores do coeficiente de correlação (r) e de determinação (r2) entre E e a v, individuais e amostrais
Sujeito 1 2 3 4
Média Amostral
r 0.969 0.969 0.937 0.950 0.845 r2 0.938** 0.938** 0.878** 0.903** 0.713**
Legenda: **significativo para p=0.01
Quadro 6 – Valores do coeficiente de correlação (r) e de determinação (r2) entre o E e a v3, individuais e amostrais
Sujeito 1 2 3 4
Média Amostral
r 0.967 0.971 0.926 0.952 0.840 r2 0.934** 0.943** 0.858** 0.906** 0.710**
Legenda: **significativo para p=0.01
A equação de regressão média é E=100.2v-87.399, com r2=0.713, isto é,
71.3% do aumento de E é explicado pelo aumento linear da v (Figura 10).
E = 100.2v - 87.399; r2 = 0.7133
10
20
30
40
50
60
70
80
1.1 1.2 1.3 1.4 1.5 1.6
v (m.s-1)
E (m
lO2K
g-1m
in-1
)
Figura 10 - Regressão linear entre E e a v para a média amostral
Uma relação linear entre estas duas variáveis é também encontrada
para os sujeitos 1 e 3, com uma associação entre elas de 93.8% e 87.8%,
respectivamente. Para os restantes dois sujeitos (2 e 4), parece ser a relação
exponencial, neste caso cúbica, a que mais se adequa à dinâmica expressa
pela relação do E com v, com uma variância comum superior a 90% (Quadro 5
e Quadro 6).
Na Figura 11 podemos observar as rectas de regressão individuais.
24
1
E = 105.1v - 84.033; r2 = 0.9381
30
35
40
45
50
55
60
65
1.1 1.2 1.3 1.4
v (m.s-1)
E (m
lO2.
Kg-
1.m
in-1
)
2
E = 13.411v + 1.8984; r2 = 0.943
202224262830323436
1.2 1.6 2 2.4 2.8
v^3 (m^3.s-3)
E (m
lO2.
Kg-
1.m
in-1
)
3
E = 71.775v - 49.835; r2 = 0.8785
30
35
40
45
50
55
60
65
1.2 1.3 1.4 1.5 1.6
v (m.s-1)
E (m
lO2.
Kg-
1.m
in-1
)
4
E = 20.362v - 2.193; R2 = 0.9056
30
40
50
60
70
80
2 2.5 3 3.5 4
v^3 (m^3.s-3)
E (m
lO2.
Kg-
1.m
in-1
)
Figura 11 – Regressão linear entre E e a v (1 e 3) e E e v3 (2 e 4), para os sujeitos da amostra
Analisaremos agora a relação entre o C e a v, e entre o C e o quadrado
da velocidade.
Observando os Quadro 7 e Quadro 8, verificamos melhores resultados
para os sujeitos 1 e 3 da amostra numa relação linear entre C e v e, para os
sujeitos 2 e 4, um valor de r2 mais elevado na regressão entre C e o quadrado
da v. Será ainda de referir que apenas não foram encontrados resultados
estatisticamente significativos para o sujeito 3.
Na Figura 12 podemos observar as rectas de regressão individuais entre
C e v.
Quadro 7 - Valores do coeficiente de correlação (r) e de determinação (r2) entre o C e a v, individuais e amostrais
Sujeito 1 2 3 4
Média amostral
r 0.928 0.932 0.786 0.901 0.706 r2 0.860* 0.868* 0.618 0.811** 0.498**
Legenda: * significativo para p=0.05: **significativo para p=0.01
25
Quadro 8 - Valores do coeficiente de correlação (r) e de determinação (r2) entre o C e a v2, individuais e amostrais
Sujeito 1 2 3 4
Média amostral
r 0.926 0.933 0.777 0.901 0.702 r2 0.857* 0.871* 0.603 0.812** 0.493**
Legenda: * significativo para p=0.05: **significativo para p=0.01
1
C = 18.418v - 9.9206; r2 = 0.8603
10
11
12
13
14
15
16
1.1 1.2 1.3 1.4
v (m.s-1)
C (J
Kg-
1m-1
)
2
C = 4.4795v 2 + 0.8316; r2 = 0.8712
6
7
8
9
10
1.1 1.3 1.5 1.7 1.9
v^2 (m^2.s-2)
C (J
Kg-
1m-1
)
3
C = 8.9044v + 0.0837; r2 = 0.617710
11
12
13
14
1.2 1.3 1.4 1.5 1.6
v (m.s-1)
C (J
Kg-
1m-1
)
4
C = 7.2198v 2 - 0.7959; r2 = 0.8119
10
11
12
13
14
15
16
17
1.5 1.7 1.9 2.1 2.3 2.5
v^2 (m^2.s-2)
C (J
Kg-
1m-1
)
Figura 12 – Regressão linear entre C e v (1 e 3) e C e v2 (2 e 4), para todos os sujeitos
A partir da observação dos gráficos individuais, verificamos um aumento
do C com o aumento da velocidade (1 e 3) e com o aumento do quadrado da
velocidade (2 e 4), sendo ainda apresentadas as respectivas equações de
regressão, demonstrativas desse aumento.
Relativamente à média amostral, apesar da baixa diferença, encontra-se
uma melhor relação entre o C e a v, comparativamente com a relação entre o
primeiro e o quadrado da v, embora ambas estatisticamente significativas para
p=0.01, sendo 49.8% da variância no C explicada pela variância da v (Figura
13).
26
C = 16.993v - 10.748; r2 = 0.4983
6
8
10
12
14
16
18
1.1 1.2 1.3 1.4 1.5 1.6
v (m.s-1)
C (J
Kg-
1m-1
)
Figura 13 - Regressão linear entre C e v, para a amostra total
Por fim, analisaremos a relação entre o C e dv, objectivo central deste
estudo.
No Quadro 9 são apresentados os valores de r e r2 da regressão linear
efectuada entre C e dv. Encontramos relação entre a diminuição da dv e o
aumento de C para os nadadores 2 e 3, estatisticamente significativa só para o
primeiro (p=0.05). Para os restantes, foi encontrada uma relação positiva forte
entre as variáveis, embora não significativa para ambos. Podemos observar as
rectas de regressão individuais na Figura 14.
Relativamente à média amostral, foi encontrada uma relação positiva e
estatisticamente significativa entre C e dv, para p=0.01. A recta de regressão
linear C=0.2108dv+6.3216 explica esta relação, resultado que sugere uma
influência de 61.9% das dv sobre o C, como se observa na Figura 15.
Quadro 9 - Valores do coeficiente de correlação (r) e de determinação (r2) entre o C e a dv, individuais e amostrais
Sujeito 1 2 3 4
Média amostral
r 0.863 -0.934 -0.646 0.802 0.787 r2 0.745 0.872* 0.417 0.643 0.619**
Legenda: * significativo para p=0.05; ** significativo para p=0.01
27
1
C = 0.2007dv + 8.351 r2 = 0.745110
11
12
13
14
15
16
10 20 30 40
dv (%)
C (J
Kg-
1m-1
)
2
C = -0.4812dv + 14.66; r2 = 0.8723
6
7
8
9
10
12 13 14 15 16 17
dv (%)
C (J
Kg-
1m-1
)
3
C = -0.2731dv + 20.234; r2 = 0.41710
11
12
13
14
20 25 30 35
dv (%)
C (J
Kg-
1m-1
)
4
C = 0.1515dv + 7.9338; r2 = 0.643210
11
12
13
14
15
16
25 30 35 40 45 50
dv (%)
C (J
Kg-
1m-1
)
Figura 14 - Regressão linear entre C e dv, para todos os sujeitos
C = 0.2108dv + 6.3216; r2 = 0.61876
8
10
12
14
16
18
10 20 30 40 50
dv (%)
C (J
Kg-
1m-1
)
Figura 15 – Regressão linear entre C e dv para a média amostral
No intuito de se clarificar a relação entre C e as dv, realizou-se uma
regressão linear, sendo a variável dependente o C e as independentes a v e as
dv. Os valores de r e r2 obtidos encontram-se apresentados no Quadro 10.
28
Quadro 10 – Regressão linear de C com v e dv, por nadador e para a média amostral
Sujeito 1 2 3 4
Média amostral
r 0.936 0.979 0.786 0.908 0.832 r2 0.876 0.958* 0.618 0.825* 0.693**
Legenda: * significativo para p=0.05; ** significativo para p=0.01
Verificamos, a partir da observação do quadro, que os valores de r2 são
na generalidade elevados, mas apenas estatisticamente significativos para dois
deles (2 e 4), para p=0.05. Relativamente à média amostral, também se
encontraram dados significativos (p=0.01), sendo 69.3% da variância do C
explicada pela variância na v e dv.
No Quadro 11, podemos observar os valores de r e r2, obtidos através
da correlação parcial entre C e dv, utilizando como factor de controlo a v de
nado.
Quadro 11 – Correlação parcial de C e dv, controlando v, para todos os nadadores e para a média amostral
Sujeito 1 2 3 4
Média amostral
r 0.339 -0.826 -0.040 0.269 0.622 r2 0.115 0.682 0.002 0.072 0.387**
Legenda: ** significativo para p=0.01
Em termos médios amostrais, verifica-se uma relação positiva e com
significado estatístico, entre o aumento de C e o aumento da dv. O r2 é de
0.387 para um p=0.01, o que significa que, controlando a variável v, 38.7% do
aumento do C é explicado pelo aumento da dv.
Uma relação similar é ainda encontrada em dois sujeitos (1 e 4), embora
sem qualquer significado estatístico. Para o sujeito 2, apesar da inexistência de
relevância estatística, é encontrada uma relação inversa, isto é, com o aumento
das dv verifica-se uma diminuição no C de nado. Para o sujeito 3 parece não
haver qualquer tipo de relação entre ambas variáveis.
No sentido de se perceber ainda melhor a influencia das dv sobre C,
realizamos também a correlação parcial entre C e v, controlando-se as dv
expressa no Quadro 12.
29
Quadro 12 – Correlação parcial de C e v, controlando dv, para todos os nadadores e para a média amostral
Sujeito 1 2 3 4
Média amostral
r 0.717 0.819 0.587 0.867 0.433 r2 0.514 0.671 0.345 0.752* 0.187*
Legenda: * significativo para p=0.05
A relação entre C e v é positiva para todos os sujeitos e, inevitavelmente,
para a média amostral. Contudo, apenas surgem resultados estatisticamente
significativos para o sujeito 4 e para a amostra total (p=0.05), embora o valor de
r2 deste ultimo seja bastante reduzido.
30
6. Discussão dos resultados
Tal como temos vindo a referir, o objectivo primordial do nosso estudo
centra-se na análise da relação entre C e as dv do CM, na técnica de crol. De
forma a sustentar esta relação, foram relacionadas as dv e a v, o E e a v e o C
e a v.
Uma vez que o C não é função exclusiva de dv, para compreendermos
melhor a relação entre estas variáveis procedemos à regressão linear entre C
com v e dv, correlacionamos parcialmente C e dv, controlando a v, e C e v,
controlando as dv. Os dados obtidos e o seu cruzamento, permitiram perceber
a dinâmica de relações entre C e dv.
Das variáveis utilizadas no presente estudo, apercebemo-nos desde
logo do carácter individual das dv, relativamente às restantes. Nesta, não
conseguimos distinguir um padrão de comportamento, pois este é distinto de
nadador para nadador. Tal é constatado ao atentarmos dados individuais
obtidos na relação das dv com a v.
Para a objectivação das dv foi utilizado como ponto de referência o CM,
que apesar de ser uma técnica mais morosa, descreve melhor a dv das
variáveis cinemáticas, fornecendo-nos informações mais precisas, quando
comparado com a utilização da anca (Barbosa et al., 2003).
Da correlação entre v e dv foi encontrada uma relação positiva para dois
sujeitos (1 e 4) e inversa para outros dois (2 e 3). Também a magnitude das
relações parece ter uma forte conotação individual, tendo sido apenas
estatisticamente significativa para o sujeito 3. O r2 foi ainda elevado para o
sujeito 1 e 2, com 74.2% e 67.2% da variância comum entre dv e v,
respectivamente.
A existência de poucos resultados significativos poderá dever-se aos
reduzidos incrementos na v, verificados de patamar para patamar, e ás
características inerentes à técnica em estudo. Por ser alternada e ventral, o crol
é a técnica mais continua, implicando reduzidas dv de nado, até
negligenciáveis para alguns autores (Toussaint et al., 1988; Holmér, 1983),
31
podendo a sua variação não ser estatisticamente percebida à amplitude de
velocidades estudada.
Nos indivíduos em que se verificou uma relação inversa, isto é, uma
diminuição das dv com o incremento na v de nado, parece ter havido uma
melhoria na adequação mecânica de nado (Vilas-Boas, 1996). Á medida que a
v aumentou, de patamar para patamar, os indivíduos conseguiram equilibrar as
P e as D, traduzindo-se numa diminuição das dv.
Pelo contrário, quando se verificou uma relação positiva, constatamos
que este equilíbrio entre P e D poderá não estar a acontecer, reflectindo a
maior descontinuidade das acções propulsivas, severamente agravadas pelo
incremento de D com o aumento da v de nado.
Uma relação positiva e estatisticamente significativa (p=0.01) foi também
encontrada ao nível da amostra total, com uma variância de dv explicada em
40.3% pela variância na velocidade.
Contudo, a dv não depende exclusivamente da v de nado. Com o
incremente da v verifica-se um incremento da fadiga. Esta poderá também
influenciar as dv, visto que a fadiga é um factor determinante da qualidade
técnica, estando ambas relacionadas inversamente (Keskinen e Komi, 1987;
Wakayoshi et al., 1996; di Prampero et al., 1974; Pendergast et al.; 1978). Esta
ideia poderá justificar, até certo ponto, as relações positivas encontradas entre
dv e v.
Os valores de C por nós encontrados, embora ligeiramente inferiores,
parecem ir de encontro aos apresentados por outros autores, para a técnica de
crol. Estes dados são apresentados no Quadro 13.
Para a determinação do C foi tido em conta o contributo aeróbio e
anaeróbio láctico para a produção de energia. Este aspecto é defendido por di
Prampero et al. (1978) e Capelli et al. (1998), sendo fundamental para a
correcta determinação de C em NPD. Desta forma, depositamos toda a
confiança nos valores encontrados, pois para além de nos termos servido dos
valores de VO2 e da [La-] para a determinação de C, os primeiros foram
recolhidos respiração a respiração e durante o nado em piscina convencional.
32
Quadro 13 - Custo energético na técnica de crol, segundo vários estudos
Autor v (m.s-1) Sexo C (J.Kg-1.m-1) M 15 di Prampero et al. (1974) 1.0 F 12.3 M 17.4 Pendergast et al. (1977) 1.0 F 16.7 M 11.9 Montpetit et al. (1983) 1.2 F 11.8 M 13.56 Lavoie e Montpetit (1986) 1.2 F 13.17 M 13.79 Fernandes et al. (2005) 1.3 F 13.28 M 11.3 Presente estudo 1.3 F 11.57
A relação entre E e v foi estatisticamente significativa (p=0.01) para
todos os sujeitos e para a média amostral. A variância comum entre as
variáveis situou-se acima dos 87% para todos os indivíduos e em 74.1% para a
amostra total. Assim, tal como tem vindo a ser referido, o E aumenta com a
velocidade de nado (Holmer, 1974; Holmer, 1983; Montpetit et al., 1983; Smith
et al., 1988; Klentrou e Montpetit, 1992; Capelli et al., 1998; Vilas-Boas e
Santos, 1994). Uma vez que D se relaciona com v (D=k.v2), parece-nos obvio
que o incremento no E tenha ocorrido, parecendo ser devido à necessidade de
superar forças de atrito superiores (Hólmer, 1974; Chatard et al., 1990; Vilas-
Boas e Santos, 1994; Alves et al., 1996; Vilas-Boas, 1996; Barbosa et al.,
2005).
Contudo, verificaram-se diferenças, embora não pronunciadas, para o
tipo de relação mais ajustada. Se para uns a relação linear foi a mais adequada
(1 e 3), para outros o E relacionou-se melhor com o valor cúbico da velocidade,
embora apenas para o sujeito 3 pareça haver uma definição clara quanto ao
tipo de relação apresentada entre E e v. Para este, existe uma diferença de 2%
no r2 em favor da relação linear. Para os restantes e para a média amostral, as
diferenças não parecem ter qualquer significado estatístico.
Mais uma vez, julgamos existirem justificações bastante pláusiveis para
os resultados encontrados. De facto, o ajustamento linear e o cúbico desta
relação tem vindo a ser estudado por diversos autores.
33
A relação linear entre ambas variáveis foi já encontrada por Montpetit et
al. (1983), Toussaint et al. (1988), Smith et al. (1988); Chatard, et al. (1990),
Vilas-Boas e Santos (1994), Alves (1996), Vilas-Boas (1996), Barbosa et al.
(2005), Fernandes et al. (2005) e Portela (2005). Neste tipo de relação supõe-
se que com o aumento da v de nado ocorra também um aumento da ep, em
parte, fruto da diminuição das dv (di Prampero et al., 1974; Kornecki e Bober,
1978; Vilas-Boas, 1996). Será portanto de esperar que, para os sujeitos onde
se verificou uma relação linear entre estas variáveis, a dv tivesse uma relação
inversa com a v. No entanto, isto só acontece para o sujeito 3. É contudo neste
que, tal como referimos, existe uma maior evidencia da preferência pela
relação linear entre E e v. Para o sujeito 1 não existem diferenças relevantes
de uma relação para a outra. Podemos então inferir que, para o sujeito 3, a
diminuição das dv com a v parece ser a razão para uma relação linear entre E
e v.
Por outro lado, quando se verifica uma relação mais forte entre E e o
valor cúbico da v, tal parece ficar a dever-se, sobretudo, à relação intima
existente entre a D e v. Como vimos, D é função quadrática de v, ou seja,
ocorre um incremento em D por cada aumento quadrado da v de nado (Holmer,
1974; Chatard, 1990; Alves, 1996; Vilas-Boas, 1996; Barbosa et al., 2005).
Como E equivale à potência, a relação cúbica entre este e a v poderá ser
establecida (Klentrou e Montpetit, 1992; Toussaint, e Hollander, 1994; Kjendlie
et al., 2004).
Segundo Lavoie e Montpetit (1986), a relação exponencial verificada
entre E e v resulta de certas imprecisões ou incorrecções metodológicas. No
entanto, apesar de termos encontrado esta relação, não foram cometidas as
falhas mencionadas pelos autores.
Passamos agora para a análise da relação entre C e v. Aqui verificamos
que, tal com aconteceu na relação anterior, o C aumenta incondicionalmente
com a velocidade, para todos os sujeitos e para a média amostral. Contudo, já
não se percebe a significância estatística anterior. Agora verifica-se apenas
relevância estatística para os sujeitos 1, 2 e 4, e para a média amostral, tendo
34
a variância comum diminuído da relação anterior para a actual, em todos os
indivíduos e para a média amostral.
Apesar da relação positiva entre as variáveis, volta a verificar-se dois
tipos de ajustamento das rectas de regressão. A regressão linear continua a
ser mais ajustada para os sujeitos 1 e 3, e para a amostra total, e a relação
quadrática para os sujeitos 2 e 4, embora as diferenças de um ajustamento
linear ou quadrático sejam mínimas para todos os sujeitos (continua-se a
observar um diferença maior entre os dois tipos de ajustamento para o
individuo 3, em favor da relação linear).
Para tal, podemos utilizar as justificações apresentadas para a relação
do E e v de nado. A relação quadrática observada surge porque se o E eleva a
v à potência e C é igual à razão entre o E e a v, C passa a relaciona-se com a
v2.
Até ao momento, parece ainda não haver qualquer relação entre C e dv.
Isto porque não existem diferenças notórias entre o C apresentado pelos
nadadores nos quais se aferiu uma relação positiva entre dv e v,
comparativamente com aqueles em que se verificou uma relação contrária.
Parece assim, que o aumento das dv não acarreta uma aumento de w como
defende Nigg (1983), Fujishima e Myashita (1999) e Toussaint (1988) com
reflexos óbvios no C de nado (Vilas-Boas, 1996).
Desta forma, a pertinência das dv sobre o C parece ainda não ter sido
esclarecida. Torna-se necessária uma análise mais directa entre C e dv.
Nesta relação voltamos a constatar diferenças individuais quanto ao tipo
e à magnitude da relação traçada. De facto, quando a variável dv entra em jogo,
as diferenças inter-individuais parecem acentuar-se. Tal como referimos, as dv
resultam da melhor ou menor adequação entre P e D. Embora ambas forças
resultantes sejam dependentes das característica técnicas e morfológicas
(Chatard, 1990), podemos dizer que é na D que estas tomam um lugar de
cimeira, fomentando, a nosso ver, o comportamento bastante individualizado
das dv.
De uma forma geral, as relações encontradas são fortes. Apenas o
sujeito 3 apresenta uma relação mais débil, relativamente aos restantes.
35
Relações significativas foram encontradas apenas para um sujeito (p=0.05) e
para a amostra total (p=0.01).
Notamos que o comportamento desta relação se assemelha ao da
relação entre dv e v, isto é, os casos em que a relação dv e v foi positiva, a
relação C com dv é igualmente positiva, nos casos em que a relação dv e v foi
negativa, a relação de C com dv manteve-se inversa.
Constatamos assim, tal como Lima (2005) e Portela (2005), que C
parece estar mais dependente de v do que das dv.
Apesar disso, dv e v parecem ser ambas os principais responsáveis pelo
C em NPD. Através da observação dos valores obtidos pela regressão linear
de C com v e dv percebemos que o r2 aumenta para todos os nadadores
(relação significativa para os sujeitos 2 e 4, para p=0.05) e para a média
amostral (relação significativa para p=0.05), quando comparado com a relação
exclusiva de C com v ou C com dv. Excepção aberta para o sujeito 3. Neste, r2
não sofreu qualquer alteração da relação entre C e v para a relação de C com v
e dv, indiciando uma ausência de peso desta ultima variável na determinação
dos valores de C de nado.
Tal é evidenciado pela correlação parcial entre C e dv, com a variável v
controlada. Para o sujeito 3, as dv parecem não ter qualquer tipo de relação
com C, contrariando assim a posição defendida por Nigg (1983), Fujishima e
Myashita (1999) e Toussaint (1988) e (Vilas-Boas, 1996).
De facto, para todos os indivíduos, dv parece exercer uma influência
ténue sobre C, não se verificando contudo o mesmo para os valores amostrais.
Aqui, apesar de r2 ser significativo para a relação C e v, com factor de controlo
as dv, este é superior e significativo para um nível de significância inferior
(p=0.01) na correlação parcial entre C e dv, com factor de controlo a v.
Assim, para a amostra total, as dv parecem ser os responsáveis
principais pelo C de nado. A nível individual constatamos o inverso, apontando
os dados para um maior contributo da v para o C de nado, relativamente às dv.
Contudo, dv e v não explicam todo o aumento em C de nado. Outros
factores terão de ser responsáveis pelo C em NPD. Os factores
36
antropométricos poderão tomar o lugar da variância comum não explicada de C
com dv e v (Kjendlie et al., 2004).
37
7. Conclusão
Através dos dados obtidos e da sua análise, concluímos que, para a
técnica de crol:
i. a relação entre as dv e a v parece ter uma forte conotação individual;
ii. apesar de se terem verificado diferenças individuais no tipo de relação,
em termos médios, as dv e a v parecem relacionar-se positivamente;
iii. existe um relação cúbica entre E e v e quadrática entre C e v para dois
sujeitos, e linear para os outros dois e para a média amostral. No
entanto, as diferenças quanto ao tipo de ajustamento preferido não
parecem ser significativas;
iv. o C e as dv mostraram-se relacionados positivamente e de uma forma
significativa em termos amostrais;
v. a relação entre C e as dv é muito variável em termos individuais,
mostrando-se bastante relacionada com a relação entre as dv e a v;
vi. a nível individual, o C parece estar mais dependente da v do que das dv,
verificando-se o contrário para a média amostral;
vii. v e dv parecem explicar 70% da variação em C.
Uma vez que os dados obtidos no nosso estudo foram comprometidos,
em parte, pelo reduzido numero de sujeitos constituintes da amostra e pela
amplitude de velocidades por estes nadadas, seria importante fazer crescer
ambas em estudos futuros.
Por fim, será importante referir que as dv, enquanto potenciadoras de
um acréscimo no C de nado, deverão ser minimizadas. Tal poderá apenas ser
alcançado pelo treino efectivo, intencionalmente dirigido.
38
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