Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra ... · Nº 30/31 - 2011/12 ISSN: 0871-1623 Cadernos...

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A navegação consulta e descarregamento dos títulos inseridos nas Bibliotecas Digitais UC Digitalis, UC Pombalina e UC Impactum, pressupõem a aceitação plena e sem reservas dos Termos e Condições de Uso destas Bibliotecas Digitais, disponíveis em https://digitalis.uc.pt/pt-pt/termos. Conforme exposto nos referidos Termos e Condições de Uso, o descarregamento de títulos de acesso restrito requer uma licença válida de autorização devendo o utilizador aceder ao(s) documento(s) a partir de um endereço de IP da instituição detentora da supramencionada licença. Ao utilizador é apenas permitido o descarregamento para uso pessoal, pelo que o emprego do(s) título(s) descarregado(s) para outro fim, designadamente comercial, carece de autorização do respetivo autor ou editor da obra. Na medida em que todas as obras da UC Digitalis se encontram protegidas pelo Código do Direito de Autor e Direitos Conexos e demais legislação aplicável, toda a cópia, parcial ou total, deste documento, nos casos em que é legalmente admitida, deverá conter ou fazer-se acompanhar por este aviso. Risco ambiental decorrente de desmatamentos e potencialidades para um desenvolvimento sustentável em espaços de micro zoneamento ecológico amazônico: o caso da Reserva de Alcobaça na região do Lago de Tucuruí – Pará Autor(es): Barata, Adriana Simone do N. Publicado por: Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, Departamento de Geografia URL persistente: URI:http://hdl.handle.net/10316.2/30188 DOI: DOI:http://dx.doi.org/10.14195/0871-1623_31_2 Accessed : 20-Jun-2021 21:43:17 digitalis.uc.pt impactum.uc.pt

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    Risco ambiental decorrente de desmatamentos e potencialidades para umdesenvolvimento sustentável em espaços de micro zoneamento ecológicoamazônico: o caso da Reserva de Alcobaça na região do Lago de Tucuruí – Pará

    Autor(es): Barata, Adriana Simone do N.

    Publicado por: Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, Departamento deGeografia

    URLpersistente: URI:http://hdl.handle.net/10316.2/30188

    DOI: DOI:http://dx.doi.org/10.14195/0871-1623_31_2

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    ArtigosPaulo CarvalhoPatrimónio e desenvolvimento em ambiente rural: lugares, rotas e redesadriana Simone do naSCimento BarataRisco ambiental decorrente de desmatamentos e potencialidades para um desenvolvimento sustentável em espaços de micro zoneamento ecológico amazônico. O caso da Reserva Sustentável Alcobaça, na região do lago de Tucuruí - Pará

    NotasPaulo de CarvalhoA geografia da Lousã no período das Invasões Francesas

    VII Colóquio de Geografia de CoimbraluCiano lourençoVII Colóquio de Geografia de Coimbra – Territórios contemporâneos em contexto de mudançadavid marqueS, nuno Ganho e a. m. roChette CordeiroPadrões termohigrométricos no espaço urbano e peri-urbano da Figueira da Foz (Portugal). A influência determinante dos tipos de tempoadélia nuneS, João Pinho e nuno GanhoO “Ciclone” de Fevereiro de 1941: análise histórico-geográfica dos seus efeitos no município de CoimbraluCiano lourenço, Sofia fernandeS, antónio Bento GonçalveS, ana CaStro, adélia nuneS eantónio vieiraCausas de incêndios florestais em Portugal continental. Análise estatística da investigação efetuada no último quindénio (1996 a 2010)flora ferreira-leite, antónio Bento-GonçalveS e luCiano lourençoGrandes incêndios florestais em Portugal Continental. Da história recente à atualidadeemanuel Sardo fidalGoTerritórios em mudança e os incêndios na interface urbano-florestal. Estudo de caso em Baiãoadélia nuneS, luCiano lourenço, antónio vieira e antónio Bento-GonçalveS“Self-prevention”: uma estratégia de prevenção de incêndios florestais na Raia Central IbéricaWendSon medeiroS, lúCio Cunha e antónio CamPar de almeidaRiscos ambientais no litoral: estudo comparativo Brasil-PortugalSílvia monteiro, élSio veiGa, éder fernandeS, hermelindo fernandeS, Jair rodriGueS elúCio CunhaCrescimento urbano espontâneo e riscos naturais na cidade da Praia (Cabo Verde)anSelmo CaSimiro ramoS GonçalveSRiscos associados à exploração mineira. O caso das minas da PanasqueiraviCtor Clamote e telmo SalGadoA evolução da Serra da Malcata – Estudo de Geomorfologiarui Gama e riCardo fernandeSIndústria e inovação em Portugal: análise do Community Innovation Survey 2008João luíS J. fernandeSTecnologia, georreferenciação e novas territorialidades – o caso do geocachingana maria Cortez vaz, CriStina faria BarroS e João luíS JeSuS fernandeSA percepção da insegurança na cidade de CoimbraaleJandro Gómez GonçalveSLa utilización de los espacios verdes. Estudio de caso en tres ciudades españolas.fátima velez de CaStroImigração e territórios em mudança. Teoria e prática(s) do modelo de atração-repulsão numa região de baixas densidadesJoão lima Sant´anna netoO clima como risco, as cidades como sistemas vulneráveis, a saúde como promoção da vidaana lourenço, auGuSta Gama, helena noGueira, iSaBel mourão-Carvalhal, maria ferrão, viCtor roSado e CriStina PadezAmbiente residencial e obesidade infantil: análise exploratória no distrito de Aveiroh. noGueira, m. m. ferrão, a. Gama, f. GreSPanB, i. mourão, v. roSado marqueS e C. PadezO impacto do ambiente nos níveis de obesidade infantil: quando o território emerge como um fator de diferenciação e riscomóniCa BelChior moraiS de BritoMonitorização dos impactos turísticos: uma proposta de modelo aplicável a territórios em mudançaana marina riBeiro Silva e Paulo CarvalhoPolítica de cidades, requalificação urbana e património – o caso do Polis de LeiriaanaBela ramoS, lúCio Cunha, Pedro P. Cunha e m. iSaBel CaStreGhini freitaSCartografia de suscetibilidade a deslizamentos e unidades territoriais de risco à escala regional: o caso da região Figueira da Foz – Nazaréa. m. roChette Cordeiro, david marqueS e nuno GanhoImplementação do Laboratório Ambiental Urbano da Figueira da Foz (Portugal)a. m. roChette Cordeiro e CriStina BarroSO papel do Geógrafo no processo diferenciador de implementação de uma Agenda 21 Local: o caso da Figueira da Foza. m. roChette Cordeiro, luíS alCoforado e antónio GomeS ferreiraProjeto Educativo Local. Um Processo Associado a Estratégias de Desenvolvimento Integrado e SustentávelluCiano lourenço, Sofia Bernardino, Sofia fernandeS e fernando félixProsepe – altos e baixos de um projeto que resistiu à viragem de milénio

    Apoio:

    Departamento de GeografiaCentro de Estudos em Geografia e Ordenamento do Território

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    Cadernos de Geografia nº 30/31 - 2011/12Coimbra, FLUC - pp. 17-23

    Risco ambiental decorrente de desmatamentos e potencialidades para um desenvolvimento sustentável em espaços de micro zoneamento ecológico amazônico. O caso da Reserva de Alcobaça na região do Lago de Tucuruí – Pará.

    Adriana Simone do N. BarataMestre em Geografia Física, Ambiente e Ordenamento do Território, pela Faculdade de Letras da Universidade de [email protected]

    Resumo:

    O presente texto refere-se ao resultado de um estudo de caso realizado na Reserva de Desenvolvimento Susten‑tável – Alcobaça, que se localiza no Estado do Pará – Brasil. Esta reserva foi constituída na sequência da construção da barragem de Tucuruí, cuja albufeira criou numerosas ilhas e zonas marginais ocupadas por populações de pescadores artesanais, coletores, caçadores, caboclos, em área de floresta densa.

    O foco do estudo voltou-se para a questão dos processos de degradação ambiental de interferência antrópica, no caso os desmatamentos indiscriminados e as suas consequências ambientais. Estes desmatamentos são feitos pela popu‑lação local para limpeza do solo e ocupação dessas áreas para a agricultura e para habitação, mas também para venda da madeira a madeireiros. Para além do recuo da floresta, esta sofre, também, uma degradação do solo pela diminuição da proteção das árvores. Como os solos são espessos, favorecem o desenvolvimento de voçorocas e rachaduras nos ter‑renos inclinados.

    Palavas-chave: Desmatamento. Erosão. Pará, Reserva de Desenvolvimento Sustentável.

    Résumé:

    Risques environnementaux résultant de la déforestation et potentialités pour un développement durable dans des espa-ces de micro-zonage écologique en Amazonie. Le cas de la réserve d’Alcobaça dans la région du lac de Tucuruí — Pará.

    Ce texte fait référence aux conclusions d’une étude de cas réalisée dans la Réserve de Développement Durable – Alcobaça, située dans l’État du Pará – Brésil. Cette réserve a été constituée suite à la construction du barrage de Tu‑curuí, dont le lac de retenue a créé de nombreuses îles et des zones marginales habitées par des artisans-pêcheurs, des chasseurs-cueilleurs et des cultivateurs itinérants dans une zone de forêt dense.

    L’étude s’est centrée sur la question des processus de dégradation de l’environnement, due à une interférence anthropique, telle que la déforestation aveugle, et ses conséquences environnementales. Ce déboisement est fait par les habitants locaux, non seulement pour le nettoyage des sols et l’occupation de ces zones pour l’agriculture et pour le logement, mais aussi pour la vente de bois à des bûcherons. Outre le retrait de la forêt, on constate également une dégradation des sols en raison de la réduction de la protection des arbres. Comme les sols sont épais, ils favorisent le développement de ravines et de fissures dans les terrains en pente.

    Mots-clés: Déforestation. Erosion. Pará. Réserve de Développement Durable.

    Abstract:

    Environmental risk resulting from deforestation, and the potential for sustainable development in areas of Amazonian ecological micro-zoning. The case of the Alcobaça Reserve in the Tucuruí Lake region — Pará

    The present paper revolves around the results of a case study carried out in Alcobaça, a Sustainable Develop‑ment Reserve located in the Brazilian state of Pará. The reserve in question was established following the construc‑tion of the Tucuruí dam, whose reservoir generated numerous islands and marginal areas occupied by local fishermen, collectors, hunters and caboclos, in a densely forested area.The study is focused on the issue of environmental deg‑radation processes resulting from anthropogenic interference — in the case at hand, indiscriminate deforestation and its environmental consequences. Such clearings are the work of local people in order to clean the soil and occupy these areas for farming and housing purposes, but also to sell the timber to loggers. As a result, the forest is forced

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    to recede while soil degradation increases on account of diminished tree protection. As soils are thick, they favor the development of gullies and cracks in sloping terrain.Key-words: deforestation, erosion, Pará, Sustainable Develop‑ment Reserve.

    Keywords: Deforestation. Erosion. Pará. Sustainable Development Reserve.

    1. Introdução

    É consenso geral que a instituição de áreas prote‑gidas se tem constituído em importantes instrumentos de Ordenamento do Território da parte dos governos nas diversas instâncias, no sentido de melhor gerir os recur‑sos naturais e a biodiversidade de áreas prioritárias do ponto de vista científico, ecológico e socioambiental, como da Amazônia brasileira. Logo, as Unidades de Con‑servação legalmente instituídas por lei, por norma, ten‑dem a funcionar como áreas geográficas inibidoras de práticas antiecológicas e predatórias, uma vez que des‑frutam do status de usos diretos e/ou indiretos, de acor‑do com suas peculiaridades e características.

    Essas áreas estão a difundir um modelo diferen‑ciado de recortes territoriais em maior escala de análi‑se no contexto amazônico, ou seja, relativamente1 a recortes em micro áreas, onde em tese a política am‑biental vislumbra priorizar a conservação e a preserva‑ção da biodiversidade, o desenvolvimento e a valoriza‑ção de populações tradicionais que vivem nas áreas e a contenção de processos de degradação ambiental (des‑matamentos), dando ênfase para aspectos da ecologia ambiental.

    Essa nova realidade2 da política ambiental brasilei‑ra para o contexto amazônico e paraense torna-se tam‑bém um fator de imensos desafios para os órgãos ambien‑tais, responsáveis pela criação e gestão das Unidades de Conservação. Sobretudo, pelos problemas de ordem das más infra-estruturas institucionais ainda em adaptação a essa proposta e das distâncias físicas e geográficas destas (instituições) em relação às áreas, que em geral se loca‑lizam a longos quilómetros das grandes cidades.

    Desse modo, os processos de degradação ambien‑tal em curso na região, decorrentes de desmatamentos indiscriminados, evidenciam que muito há ao que fazer em termos de práticas institucionais mais eficazes, efeti‑vas em relação aos condicionantes facilitadores dessa problemática que colocam em risco grande parte do pa‑

    1 Ver em Monteiro, Marcílio de Abreu (0rg.). ZEE-Zoneamento Econômico e Ecológico da zona Leste e Calha Norte do Estado do Pará. Vols. I, II e III. Belém, Pará Rural, 2010.

    2 A primeira área protegida instituída no Estado do Pará no ano de 1989, foi caracterizada com uma área de proteção ambiental – APA, localizada no arquipélago do Marajó, abrangendo áreas de 12 municípios da região.

    trimónio existente na floresta, Sobretudo, de Reservas Sustentáveis onde a biodiversidade se encontra relativa‑mente conservada. Assim como, são os causadores de conflitos sócio-econômicos e culturais entre as popula‑ções tradicionais locais e os empreendedores (madeirei‑ros, pecuaristas, etc.) das localidades próximas às áreas.

    O presente texto refere ao resultado de um Estu‑do de Caso realizado na Reserva de Desenvolvimento Sustentável – Alcobaça, que se localiza na macro região Sudeste Paraense e micro região de Tucuruí a 400 km da capital Belém, no Estado do Pará – Brasil.

    A Reserva foi criada no ano 2002 por lei Estadual nº 6.451, como estratégia da parte do governo em ter um maior controle das áreas atingidas pela barragem construída no trecho do baixo rio Tocantins para produ‑ção da hidroeletricidade, assim como, melhor gerir os conflitos socioambientais que foram surgindo ao longo dos anos após a instalação da Usina Hidrelétrica de Tu‑curuí (UHT), onde a população atingida passou a se or‑ganizar politicamente em sindicatos e associações, para garantir acessos aos Royalties e a investimentos gover‑namentais em prol de melhorias na qualidade de vida das comunidades afetadas, como forma de compensa‑ção e mitigação dos impactos ambientais enfrentados na região do lago Tucuruí.

    O foco do estudo se voltou para a questão dos processos de degradação ambiental de interferência antrópica, no caso os desmatamentos indiscriminados que ocorrem na Reserva de Desenvolvimento Sustentá‑vel Alcobaça.

    Considera-se que a problemática dos desmatamen‑tos na Amazônia é o tema da ordem do dia, amplamente discutido na sociedade paraense e brasileira, da parte de núcleos de pesquisas, no meio acadêmico privado e públi‑co, assim como, pelos Institutos de pesquisa especializa‑dos no assunto que fazem levantamento de dados e mo‑nitorização desses processos em curso na região. Isso sucede em função de sua importância e papel estratégi‑co, pois para além dos serviços ambientais que a floresta oferece e dos recursos naturais hídricos e minerais, a re‑gião detém uma inestimável biodiversidade conhecida e ainda desconhecida pela ciência, oculta em meio às for‑mações florestais em seus diversos ecossistemas, e que vem sendo extinta por conta dos usos predatórios da flo‑resta da parte de segmentos sociais que não se preocu‑

    Adriana Simone do N. Barata

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    pam com os meios ecológicos de exploração. Esse proces‑so predatório também atinge diretamente as populações tradicionais que dependem e vivem em função dos recur‑sos naturais da região, como no caso dos pescadores arte‑sanais, coletores e caçadores, ou seja, ribeirinhos e cabo‑clos que vivem nas áreas de Reservas Sustentáveis em solo Amazônico. Daí a preocupação dos mais diversos se‑tores em difundir e direcionar seus estudos para a reali‑dade dos desmatamentos nas Unidades de Conservação.

    2. Recursos e métodos.

    No caso da RDS Alcobaça, o levantamento de da‑dos foi feito com visitas a Institutos de Pesquisa e con‑versas dirigidas aos técnicos destes Institutos (como o IMAZON e IBGE), conversas dirigidas aos técnicos da Se‑cretaria Estadual de Meio Ambiente responsáveis pelo trabalho de gestão das unidades, levantamento carto‑

    gráfico da área com uso e tratamento de imagens Land‑sat em laboratório informático e trabalho de campo: com registro fotográfico aéreo e terrestre, participação no conselho gestor, conversas dirigidas à população lo‑cal e a técnicos da fiscalização da SEMA/Estadual. A área foi visitada por embarcação a motor, uma vez que se trata de uma albufeira de represa hidráulica que inundou parte de terrenos de colinas e morros, forman‑do um cenário de feições de “ilhas”

    3. Breve caracterização da área.

    Aspectos humanos.

    Alcobaça3 foi o primeiro nome dado à localidade do baixo rio Tocantins no final do século XVIII pelo então

    3 Alcobaça em Portugal é uma cidade que faz parte do Distrito de Leiria, região Centro a 92 km a Norte de Lisboa. É banhada pelos rios Alcoa e Baça.

    Figura 1Localização da RDS AlcobaçaFonte: Rodney Salomão Reis, CGI – Centro de Geotecnologia IMAZON e Adriana Barata (autora), abril, 2011

    Risco ambiental decorrente de desmatamentos e potencialidades para um desenvolvimento sustentável em espaços de micro zoneamento ecológico amazônico. O caso da Reserva de Alcobaça na região do Lago de Tucuruí – Pará.

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    governador português José de Nápoles Telles de Mene‑zes, que lhe serviu como ponto de colonização militar, captura de escravos e domesticação de indígenas. Pos‑teriormente a hidrovia desse trecho do rio Tocantins foi útil como meio de comunicação, ligação e transporte de mercadorias entre a região Central e o Norte do Bra‑sil. Apesar dos vários graus de dificuldades para a trans‑posição da cachoeira de Itaboca, no século XIX e no XX, essa localidade serviu de entreposto comercial para o comércio da borracha e em seguida da Castanha-do-Pará, atividades que muito dinamizaram a economia de cidades como Belém e Marabá.

    A consolidação do processo de ocupação da re‑gião do baixo Tocantins no século XX foi acompanhada pela divisão territorial com o surgimento de várias uni‑dades municipais de contigüidade espacial, foi então que Tucuruí substituiu o nome Alcobaça, depois de ou‑tras denominações temporárias.

    Na segunda metade do século XX, Tucuruí passa a ser considerada área de intervenção nacional para a construção da Usina Hidrelétrica, como estratégia de desenvolvimento regional e subsídio aos projetos de ex‑ploração mineral que viriam a se instalar no Estado do Pará e Maranhão.

    O Programa POLAMAZÔNIA do Governo Federal incluiu a Usina na pauta de projetos em larga escala a serem executados com recursos públicos, sobretudo no período pós crise energética mundial do Petróleo dos anos que seguiram a 1970. A Usina foi construída em duas fases: de 1974 a 1985 e de 1985 a 2005. Correspon‑de à quarta maior hidrelétrica mundial e a maior Usina hidráulica totalmente brasileira. Possui para contenção da represa uma barragem com 24 comportas (sendo uma reserva).

    Após a formação do lago (albufeira), inúmeros problemas de ordem socioambiental surgiram ao longo dos anos. Sobretudo no respeito ao considerável au‑

    mento populacional migratório, para onde pessoas de várias localidades da região amazônica e fora desta, vieram a se deslocar em busca de melhores condições de vida.

    O inchaço populacional da cidade de Tucuruí fez diversos grupos de pessoas se deslocarem para áreas impróprias de habitação, como as pontas de terrenos irregulares localizados a 7 km da barragem hidráulica, atualmente correspondente à Reserva de Desenvolvi‑mento Sustentável RDS Alcobaça, que começou a ser ocupada a partir de 1995.

    A área da Reserva foi criada no âmbito de uma Comissão paritária instituída pelo MMA - Ministério do Meio Ambiente, onde se decidiu dar um melhor destino às áreas atingidas pelo lago. O Mosaico4 criado como estratégia de Gestão e Ordenamento foi o primeiro mo‑delo instituído em território brasileiro.

    Aspetos Biofísicos da área e potencialidades.

    A área da Reserva de Alcobaça se integra na de‑pressão periférica do sul do Pará, a qual abrange toda a extensão da bacia Tocantins-Araguaia na direção sul e oeste, limitando-se ao norte pelo planalto rebaixado da Amazônia, a leste pelo planalto setentrional Pará-Mara‑nhão (Projeto Radam).

    A Reserva antes da construção da Usina Hidrelé‑trica de Tucuruí (UHT), em 1975, se caracterizava por apresentar terrenos irregulares de várias cotas altimé‑tricas formados por Morros isolados (inselbergs), mais altos ao sul e que foram elaborados em rochas precam‑brianas, as Colinas aplainadas de vales úmidos que são

    4 O Mosaico do Lago Tucuruí corresponde a uma APA (área de pro‑teção ambiental), duas RDS (Reservas de Desenvolvimento Sustentável) e duas ZPVS (Zonas de Proteção da Vida silvestre).

    Figura 2Vista aérea do município de Tucuruí, Baixo Tocantins, Pará – BrasilFotografia: Adriana Barata. Dez. 2010.

    Figura 3Aspecto da região das “ilhas”. RDS AlcobaçaFotografia: Adriana Barata, Dez./2011

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    resultantes da dissecação fluvial pleistocênica (Projeto Radam).

    Após a formação do lago, essa área que era cor‑tada pelo rio Caripé e afluentes, passou a apresentar um novo cenário, uma vez que foi atingida pelas águas do lago dimensionado a aproximadamente 1783 km². A configuração do rio Caripé e parte dos terrenos irregu‑lares foram submersos, deixando em exposição uma região configurada em inúmeras “ilhas”, ou seja, pon‑tas de morros e colinas revestidos pela floresta Ombró‑fila densa.

    Os tipos de solos de predominância na área são os Podzólicos vermelhos e amarelos e os Latossolos verme‑lhos e amarelos, vulneráveis à lixiviação e erosão, por causa de sua elevada espessura.

    O clima está classificado como clima tropical de altitude Af equatorial em toda a faixa de extensão da bacia Tocantins-Araguaia, com variações médias entre 24° e 28°C predominante no sentido sul/norte da bacia até imediações do baixo Tocantins. Não foi possível ve‑rificar estudos sobre a composição do micro-clima da área em específico. Quanto ao regime pluviométrico de modo geral as precipitações aumentam no sentido sul-norte da bacia Tocantins-Araguaia até a faixa de locali‑zação da Reserva Alcobaça, com médias que variam entre 1.500mm a 2.400mm. (CMB - Comissão Mundial de Barragens, 1999).

    A floresta de Alcobaça apresenta uma rica biodi‑versidade, composta por espécies de animais de médio e pequeno porte como mamíferos, répteis e aves. Essa condição pode ser considerada fator de potencialidade para a exploração sustentável, uma vez que a popula‑ção local depende dos recursos da floresta para sua sobrevivência.

    Sua flora é formada pela floresta densa, alta e fechada, com árvores que chegam aos 50m de altura, como as Samaúmeiras (Ceiba pentandra (L) Gaerth.). Outras são de importante valor para a indústria quími‑ca, farmacêutica e de cosméticos, como: O Cumaru (Dipterex odorata (Aubl.) Willd, a Copaíba (Copaifera reticulata Ducke) amplamente utilizada na medicina popular e indústria farmacêutica pelas propriedades medicinais inerentes ao óleo (bálsamo), o Cedro (Ce-drela odorata L.) cuja casca e o óleo retirado das se‑mentes tem aplicações medicinais. Inúmeras espécies de grande porte consideradas nobres e amplamente utilizadas na construção civil como o Acapú (Vouaca-poua americana. Aubl), o Ipê Amarelo (Tabebuia serra-tifolia (Vahl) G.Nicholson), o Angelim Pedra (Hymeno-lobium spp.), o Angelim Vermelho (Dinizia excelsa), etc..

    As espécies de frutíferas são de extrema impor‑tância para a população que faz a coleta dos frutos para compor sua dieta alimentar. Alguns exemplos se pode citar : o Bacuri (Platonia insignis Mart.), a Bacaba (Oe-nocarpus bacaba Mart.), o Cacau do mato (Theobroma cacao L.), a Castanha-do-Pará (Bertholletia excelsa Bonpl.), etc.

    Os recursos pesqueiros existente no lago, tam‑bém representam grande importância para a população local, que se alimenta dos Curimatãs, da Pescada Bran‑ca, dos Jaús, dos Acaris, dos Tambaquis, do Surubim, do Barbado, dos Tucunarés, dos Maparás, etc..

    4. Desmatamentos na RDS Alcobaça e o risco ambiental.

    O problema de maior pressão antrópica e risco para a Reserva na atualidade, se traduz nos processos de Desmatamentos indiscriminados que ocorrem na área, promovidos pela população local para fins de lim‑peza do solo e ocupação de áreas. Apesar do difícil acesso5 a degradação dos remanescentes de floresta na‑tiva se processa nas margens do lago e nas áreas mais altas dos topos de colinas emersas. A derrubada de ár‑vores, também é feita de forma primitiva para venda ilegal em madeireiras da cidade ou mesmo para limpe‑za do terreno. Contudo, a foz do antigo rio Caripé loca‑lizada de frente para a cidade de Tucuruí, onde se en‑tende como a porta de saída e entrada da Reserva, se configura como uma área geográfica de segurança em relação ao aumento predatório dos Desmatamentos.

    5 A Reserva de Alcobaça só pode ser acessada por embarcação a motor.

    Figura 4Aspecto da flora da RDS AlcobaçaFotografia: Adriana Barata, maio/2011

    Risco ambiental decorrente de desmatamentos e potencialidades para um desenvolvimento sustentável em espaços de micro zoneamento ecológico amazônico. O caso da Reserva de Alcobaça na região do Lago de Tucuruí – Pará.

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    Por outro lado, a instituição da área como protegida, trouxe mudanças no imaginário popular quanto a con‑servação dos recursos e legalidade em relação a explo‑ração destes. A presença dos moradores da área é uma constante nas reuniões comunitárias e do Conselho Ges‑tor. Embora o processo participativo na gestão das áre‑as da parte da população para com o trabalho do órgão ambiental, venha ocorrendo a lentos passos.

    5. Problemas ambientais detectados na área decorrentes de desmatamentos.

    Para além dos problemas ambientais mostrados acima, a Reserva de Alcobaça também sofre em função da diminuição da proteção oferecida pelas árvores, um processo de degradação do solo frágil que é lixiviado pela incidência das chuvas, de modo a descarregar se‑dimentos com maior facilidade e em maior quantidade para o ambiente aquático, apresentando na paisagem voçorocas e rachaduras em terrenos inclinados.

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    Figura 5 Resultados em números, dos desmatamentos na RDS Alcobaça Fonte: INPE, 2009

    Quadro I Evolução dos desmatamentos na RDS Alcobaça

    Desmatmat. na RDS

    Alcobaça em km² Anos

    3,08 1998 3,08 1999 3,08 2000 2,23 2001 0,35 2002

    0 2003 3,5 2004 0,86 2005 1,11 2006 0,22 2007 2,97 2008 0,39 2009

    Fonte: INPE, 2009

    5. Problemas ambientais detectados na área decorrentes de desmatamentos.

    Para além dos problemas ambientais mostrados acima, a Reserva de Alcobaça também

    sofre em função da diminuição da proteção oferecida pelas árvores, um processo de

    degradação do solo frágil que é lixiviado pela incidência das chuvas, de modo a descarregar

    sedimentos com maior facilidade e em maior quantidade para o ambiente aquático,

    apresentando na paisagem voçorocas e rachaduras em terrenos inclinados.

    Figura 5Resultados em números, dos desmatamentos na RDS AlcobaçaFonte: INPE, 2009

    Quadro IEvolução dos desmatamentos na RDS Alcobaça

    Desmatmat. na RDS Alcobaça em km² Anos3,08 19983,08 19993,08 20002,23 20010,35 2002

    0 20033,5 20040,86 20051,11 20060,22 20072,97 20080,39 2009

    Fonte: INPE, 2009

    Figura 6Aspecto da precariedade e insalubridade do processo de ocupação recente da área.Fotografia: Adriana Barata. Maio/2011

    Figura 7Surgimento na paisagem de espécies secundárias (Secrópias) como primei‑ra forma de regeneração da floresta. Fotografia: Adriana Barata. Maio/2011

    Adriana Simone do N. Barata

  • nº 30/31 - 2011/12

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    O uso do solo é feito pela população local que desmata o terreno preparando-o para efeitos de ocupa‑ção, construindo suas habitações e utilizando áreas para plantação de hortas e pequenos roçados de milho, mandioca, etc., nesse processo são introduzidas na área espécies exóticas, e por vezes o surgimento de in‑vasoras. Segundo dados recentes da SEMA (Secretaria Estadual de Meio Ambiente), em levantamento demo‑gráfico feito nos anos 2009/2010, essas ocupações de‑sordenadas têm sofrido um aumento nas últimas déca‑das a níveis alarmantes6.

    6. Conclusão.

    Enfim, foi aqui demonstrado que, apesar dos des‑matamentos apresentarem uma tendência à diminuição no tempo e no espaço pós institucionalização da área protegida, esse processo predatório tem significado o fator de risco mais importante para a integridade da Reserva e toda a biodiversidade existente na área. As‑sim como, representa fator de risco socioambiental, onde a população ocupante se submete às precárias

    6 Segundo Ferreira Filho (2010) apud Barata (2011), os primeiros estudos realizados em 1995 pelo CNPT-IBAMA para se detectar potencial e como proposta para se criar uma RESEX, contou-se à época uma população de 2.435 ha para a área Taipava, atualmente RDS Alcobaça. Posteriomente em levantamento da SECTAM (Secretaria de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente) antes do ano 2002 levantou-se uma população de 2.677 e forte potencial para a exploração sustentável dos recursos da floresta. Novo censo demográfico foi feito já pela SEMA em 2009/2010 em que se detetou uma população de 7.000, ou seja, um aumento considerável na população da área nos últimos 15 anos, da ordem dos 287,5%.

    condições de vida impostas pelas insalubridades e pelo isolamento geográfico do ambiente. Um processo pre‑datório que deve ser considerado pela política ambien‑tal Estadual representado pelo órgão Gestor da Reser‑va, no sentido de vir a priorizar a melhor fiscalização, recuperação de áreas degradadas (reflorestamentos) e programas de valorização e assistências à população re‑sidente, com vislumbre para a melhor Conservação e Uso Sustentável da área dotada de grande beleza cêni‑ca e potencial biogeográficos.

    Referências Bibliográficas

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    do Território: A questão Ambiental dos Desmatamentos

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    Filho, António Augusto Ferreira - A elevação da cota do

    reservatório Hidráulico da UHT Tucuruí e seus efeitos

    sobre a população da RDS Alcobaça (PA). Dissertação

    Mestrado. NUMA/UFPa. 2010.

    MontEiro, Marcílio de Abreu. (Org.) - ZEE- Zoneamento Econômico

    Ecológico da zona leste e calha norte do Estado do Pará.

    Vols. I. II. III. Belém, Pará Rural, 2010.

    Figura 8Castanheira sem função biológica em virtude de desmatamento em pro‑cesso de extinção da espécie na área. Fotografia: Adriana Barata. Maio/2011

    Figura 9Voçoroca numa vertente.Fotografia: Adriana Barata, maio/2011

    Risco ambiental decorrente de desmatamentos e potencialidades para um desenvolvimento sustentável em espaços de micro zoneamento ecológico amazônico. O caso da Reserva de Alcobaça na região do Lago de Tucuruí – Pará.