FACULDADE DE LETRAS UNIVERSIDADE DO PORTO · Maria Luísa Ribeiro de Carvalho e Sá Monteiro 2º...
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FACULDADE DE LETRAS UNIVERSIDADE DO PORTO
Maria Luísa Ribeiro de Carvalho e Sá Monteiro
2º Ciclo de Estudos em Ensino de Inglês e Espanhol no 3º CEB e Ensino Secundário
Educação diferenciada por sexo na aprendizagem de línguas estrangeiras
2014
Orientador: Nicolas Robert Hurst
Coorientador: Rogelio Ponce de León Romeo
Classificação: Ciclo de estudos:
Dissertação/relatório/Projeto/IPP:
Versão definitiva
i
ii
iii
RESUMO
Estudos científicos recentes têm demonstrado a existência clara do
dimorfismo sexual a nível neurológico, com diferenças cerebrais evidentes do
ponto de vista estrutural, químico, genético, hormonal e funcional entre ambos
os sexos. Apesar da complexidade do tema e da ciência reconhecer que muitas
questões ainda não têm resposta, hoje é já dado como um facto que o cérebro
é um órgão sexuado. As diferenças entre raparigas e rapazes ao nível do
processamento cognitivo e emocional têm naturalmente consequências nas
situações de ensino-aprendizagem. No entanto, a grande maioria dos
professores não tem consciência destas diferenças e das suas implicações. O
projeto de investigação-ação descrito neste relatório pretendeu identificar as
principais fragilidades dos aprendentes envolvidos ao nível das competências
linguísticas e, seguidamente, potenciar o seu envolvimento e participação
nessas áreas através de estratégias de educação diferenciada por sexo. Apesar
da variação intrassexual ser significativa, os resultados obtidos demonstraram a
importância do reconhecimento das diferenças intersexuais na otimização de
situações de ensino-aprendizagem. Além disso, foi também possível definir
estratégias que potenciam a aprendizagem com cada um dos sexos.
Palavras-chave: dimorfismo sexual, educação diferenciada,
envolvimento, participação, aprendizagem de línguas estrangeiras.
iv
ABSTRACT
Recent scientific studies have demonstrated the clear existence of brain
sexual dimorphism, with distinct structural, chemical, genetic, hormonal and
functional differences between the two sexes. In spite of the complexity of this
theme and even though science acknowledges that many questions are still not
answered, it is a fact today that the brain has a sex. The differences between girls
and boys regarding cognitive and emotional processing naturally have
consequences in teaching-learning situations. Nevertheless, most teachers are
not aware of these differences and their effects. The action-research project
described in this report aimed at identifying the main weaknesses of the learners
regarding their language skills. The objective was then to increase their
engagement and participation in those areas through differentiated strategies
according to sex. Although intrasexual variation was significant, the results
demonstrated the importance of acknowledging intersexual differences in the
optimisation of teaching-learning situations. Furthermore, it was also possible to
determine strategies that improve learning contexts for each sex.
Keywords: sexual dimorphism, differentiated education, engagement,
participation, foreign language learning.
v
RESUMEN
Estudios científicos recientes han demostrado la existencia clara del
dimorfismo sexual a nivel neurológico, con diferencias cerebrales evidentes del
punto de vista estructural, químico, genético, hormonal y funcional entre los dos
sexos. A pesar de la complejidad del tema, y aunque la ciencia reconozca que
muchas cuestiones todavía no tienen respuesta, hoy se considera un hecho que
el cerebro es un órgano sexuado. Las diferencias entre chicas y chicos tienen
naturalmente consecuencias en las situaciones de enseñanza-aprendizaje. Sin
embargo, la gran mayoría de los profesores no tiene conciencia de estas
diferencias y de sus implicaciones. El proyecto de investigación-acción descrito
en este trabajo intentó identificar los principales puntos débiles de los
aprendientes con relación a las destrezas lingüísticas y, a continuación,
potenciar su compromiso y participación en esas destrezas a través de
estrategias de educación diferenciada por sexo. A pesar de que la variación
intrassexual es significativa, los resultados demostraron la importancia del
reconocimiento de las diferencias intersexuales en la optimización de situaciones
de enseñanza-aprendizaje. Más aún, fue también posible definir estrategias que
potencian el aprendizaje con cada uno de los sexos.
Palabras clave: dimorfismo sexual, educación diferenciada,
compromiso, participación, aprendizaje de lenguas extranjeras.
vi
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO…………………………………………………………………………1
CAPÍTULO I…………………………………………………………………………….4
1.1 O contexto da investigação-ação……………………………………..4
1.1.1 A Escola…………………………………………………………4
1.1.2 As turmas………………………………………………………..6
1.1.2.1 A turma de Espanhol: 8ºA……………………………………..6
1.1.2.2 A turma de Inglês: 10ºF………………………………………..7
1.2 Identificação e delimitação da área de investigação………………..8
CAPÍTULO II…………………………………………………………………………..13
2.1 Enquadramento teórico e científico…………………………………….13
2.1.1 Cérebro e sexo………………………………………………………15
2.1.2 Ensino-aprendizagem diferenciado por sexo…………………….28
CAPÍTULO III………………………………………………………………………….31
3.1 Metodologia da Investigação-Ação……………………………………..31
3.2 A turma de Espanhol……………………………………………………..32
3.3 Primeiro Ciclo……………………………………………………………..33
3.4 Segundo Ciclo…………………………………………………………….36
3.5 Análise e reflexão sobre os resultados obtidos………………………..42
CAPÍTULO IV…………………………………………………………………………49
4.1 A turma de Inglês…………………………………………………………49
4.2 Primeiro Ciclo……………………………………………………………..49
4.3 Segundo Ciclo…………………………………………………………….54
4.4 Análise e reflexão sobre os resultados obtidos………………………..58
CONCLUSÃO………………………………………………………………….……..63
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS………………………………………………..67
ANEXOS………………………………………………………………………………69
vii
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Fig.1: «Competición de escritura»…………………………………………………34
Fig.2: «Competición de escritura»…………………………………………………34
Fig.3: Cartas enviadas a Paula……………………………………………………..36
Fig.4: Fotografia enviada a Paula………………………………………………..…36
Fig.5: «Estaciones de escritura»…………………………………………………...40
Fig.6: «Estaciones de escritura»……………………………………………………40
Fig.7: «Estaciones de escritura»……………………………………………………40
Fig.8: «Publicación personal en un blog»…………………………………………..41
Fig.9: «Reading and Writing Stations»……………………………………………..51
Fig.10: «Reading and Writing Stations»…………………………………………....51
Fig.11: «Reading and Writing Stations»……………………………………...…….51
Fig.12: «Reading and Writing Stations»………………………………….………...51
Fig.13: Mural «People who inspire us»……………………………………………..53
Fig.14: Histórias «Think-Pair-Share»……………………………………………….55
Fig.15: «Writing Competition»……………………………………………………….57
Fig.16: «Writing Competition»……………………………………………………….57
Fig.17: Lista de passos de um rapaz («Writing Competition»)……………….…57
viii
LISTA DE TABELAS
Tabela 1: Dados relativos ao ciclo zero com a turma de espanhol………………10
Tabela 2: Dados relativos ao ciclo zero com a turma de inglês…………………..11
Tabela 3: Dados relativos à atividade «Competición de escritura» (Primeiro Ciclo
– Espanhol)…………………………………………………………………………..43
Tabela 4: Dados relativos à atividade «Escribir una carta a Paula» (Primeiro Ciclo
– Espanhol)……………………………………………………………………………44
Tabela 5: Dados relativos à atividade «Estaciones de escritura» (Segundo Ciclo
– Espanhol)…………………………………………………………………………..45
Tabela 6: Dados relativos à atividade «Publicación personal en un blog»
(Segundo Ciclo – Espanhol)…………………………………………………………46
Tabela 7: Dados relativos à atividade de que mais gostaram (Primeiro e Segundo
Ciclos – Espanhol)……………………………………………………………………48
Tabela 8: Dados relativos à atividade «Reading and writing stations» (Primeiro
Ciclo – Inglês)………………………………………………………………………...59
Tabela 9: Dados relativos à atividade «People who inspire us» (Primeiro Ciclo –
Inglês)………………………………………………………………………………….60
Tabela 10: Dados relativos à atividade «Think-Pair-Share» (Segundo Ciclo –
Inglês)………………………………………………………………………………….61
Tabela 11: Dados relativos à atividade «Writing competition» (Segundo Ciclo –
Inglês)………………………………………………………………………………….61
ix
LISTA DE ANEXOS
Anexo 1: “Competición de escritura – Lista de pasos a seguir”…………...……70
Anexo 2: “Estaciones de escritura”…………………………………………………71
Anexo 3: “Reading and writing stations - texts”…………………………………...75
Anexo 4: “Reading and writing stations – exercises”…………………………….79
Anexo 5: “Think – Pair – Share: real stories”……………………………………...83
Anexo 6: “Writing competition: checklist”………………………………………….87
1
INTRODUÇÃO
O presente relatório tem como tema a utilização de estratégias de
educação diferenciada por sexo na aprendizagem de línguas estrangeiras, como
forma de potenciar o envolvimento e a participação dos alunos nas aulas de
espanhol e inglês.
Nos últimos três anos trabalhei diretamente com David Chadwell, o
professor responsável pela implementação e coordenação dos projetos de
educação diferenciada por sexo nas escolas públicas da Carolina do Sul
(E.U.A.). A partir deste contacto, tive a possibilidade de conhecer o trabalho que
está a ser desenvolvido naquele país depois da promulgação da lei No Child Left
Behind Act (2001), em particular o trabalho relativo à diferenciação por sexo. A
inclusão desta modalidade de ensino na referida lei de 2001 partiu de uma
proposta conjunta da senadora democrata Hillary Clinton e da senadora
republicana Kay Bailey Hutchison. Estas senadoras defenderam a promoção de
projetos de educação diferenciada por sexo nas escolas públicas norte-
americanas devido ao sucesso de projetos como The Young Women’s
Leadership School of East Harlem, que, desde 1996, procurava recuperar
academicamente raparigas socialmente marginalizadas, e que hoje se encontra
entre as dez melhores escolas públicas de Nova Iorque. Desde então, projetos
como este têm-se multiplicado naquele país e o debate sobre as vantagens da
diferenciação por sexo foi ganhando força, tanto nos E.U.A., como nos países
europeus, que começaram a olhar com curiosidade para o que está a acontecer
do outro lado do Atlântico.
Além disso, em abril de 2013, tive, ainda, a oportunidade de estar
presente no IV Congresso Internacional de Educação Diferenciada, em Lisboa,
onde este tema foi abordado de várias perspetivas por especialistas de
diferentes países. Este evento foi promovido pela European Association of
Single-Sex Education, uma associação sem fins lucrativos, sediada em Londres,
que trabalha diretamente com entidades educativas de dezasseis países
europeus interessadas no desenvolvimento e na promoção de estratégias
pedagógicas diferenciadas por sexo.
Deste modo, quando iniciei a fase de observação das turmas onde viria
a implementar as intervenções descritas neste relatório, a minha visão estava já
2
particularmente sensível às diferenças cognitivas e emocionais entre os sexos e
às implicações destas diferenças em situações de ensino-aprendizagem. Tal
como será descrito no primeiro capítulo, pude, assim, detetar as áreas em que
uma intervenção baseada neste tema seria mais pertinente e potenciaria
maiores benefícios.
O projeto baseou-se na metodologia da investigação-ação. Depois de
analisado o contexto da intervenção, pretendeu-se dar resposta à seguinte
questão de partida: «Que estratégias de educação diferenciada por sexo podem
aumentar a participação e o envolvimento dos alunos nas aulas de inglês e
espanhol em contexto misto?» Seguiu-se uma fase de investigação, com as
leituras que sustentaram cientificamente toda a criatividade e inovação da fase
de ação propriamente dita.
A estrutura deste relatório reflete, de alguma forma, a ordem cronológica
de todo o processo, dividindo-se em quatro grandes partes. No primeiro capítulo,
encontra-se a descrição do contexto da investigação, com a análise dos
problemas específicos encontrados que motivaram esta intervenção. O segundo
capítulo é dedicado à fase de «investigação», tendo optado por aí incluir uma
síntese dos principais aspetos científicos e teóricos ao nível das diferenças entre
os sexos e suas implicações em situações de ensino-aprendizagem. Dada a
complexidade e a profundidade deste tema, serão referidos apenas os aspetos
mais relacionados com este projeto em concreto. Terminada esta parte relativa
à «investigação» que fundamentou a intervenção levada a cabo, passamos à
fase da «ação», com a descrição pormenorizada da implementação do projeto e
com a apresentação e reflexão sobre os resultados obtidos. Assim, o terceiro
capítulo é dedicado a todo o processo com a turma de espanhol e o quarto
capítulo à intervenção com a turma de inglês. Por último, é feita uma reflexão
final na conclusão que encerra este relatório.
A título de preâmbulo parece-me pertinente salvaguardar alguns pontos.
O primeiro prende-se com questões terminológicas, já que optei por utilizar o
termo “sexo” e não “género”, relativamente ao tipo de diferenciação utilizada. Fi-
lo partindo do princípio de que o género é uma categoria gramatical e o sexo
uma categoria biológica e, como ficará claro no segundo capítulo, as diferenças
em que me baseio para diferenciar estratégias são diferenças de natureza
biológica. Outro ponto que gostaria de esclarecer à partida prende-se com a
3
constatação de que, no século XXI, a diferenciação por sexo em situações de
ensino-aprendizagem é uma estratégia estritamente pedagógica, não ideológica.
Quando iniciei este debate junto de outros professores e de encarregados de
educação, pude constatar uma enorme resistência a este formato educativo
devido à ligação histórica da diferenciação por sexo ao salazarismo. Veja-se,
porém, que a diferenciação em Portugal durante a ditadura está muito longe dos
modelos propostos no século XXI, desde logo porque era segregadora em
termos de objetivos e conteúdos, todavia utilizando para os dois sexos o mesmo
formato no que toca a estratégias pedagógicas. A educação diferenciada por
sexo que abracei neste projeto, fundamentada pela investigação científica e
educacional atuais, potencia precisamente o oposto. Ou seja, para que tanto
raparigas como rapazes atinjam os mesmos objetivos, trabalhando os mesmos
conteúdos, há que diferenciar percursos e estratégias. Para compreendermos
como esta nova abordagem da diferenciação por sexo é pedagógica e não
ideológica, basta alargarmos o campo de visão à realidade de outros países,
ficando claro como autores com posições políticas tão distintas partilham a
defesa da diferenciação por sexo na área da educação.
A primeira reação daqueles que observaram de perto a implementação
deste projeto foi de surpresa e até perplexidade, como se a constatação das
diferenças entre os sexos e suas implicações na aprendizagem fosse um tema
intocável. Superado o tabu, surgiram os desafios, no cruzamento de informação
de diferentes áreas científicas como suporte à criação do que nunca foi testado.
Este projeto assumiu-se, portanto, como ambicioso, desde o início. No entanto,
a par da ambição, segue o reconhecimento humilde de que este é o primeiro
passo de um percurso que será seguramente longo e atribulado na tentativa de
oferecer novas perspetivas na abordagem aos desafios educativos em Portugal.
4
CAPÍTULO I
1.1 O contexto da investigação-ação
O projeto descrito no presente relatório insere-se no âmbito da
Introdução à Prática Profissional nas áreas disciplinares de Inglês e Espanhol. O
contexto de realização do estágio pedagógico determinou naturalmente todo o
processo. Deste modo, nesta secção serão destacados os aspetos mais
pertinentes relativamente à escola e às turmas envolvidas no projeto e será
descrita a fase inicial de identificação e delimitação da área de investigação.
1.1.1 A Escola
O palco deste projeto foi a Escola Secundária/3 Aurélia de Sousa, no
centro do Porto. Com cerca de 1200 alunos, este estabelecimento de ensino
público é conhecido pelo seu prestígio, dados os seus bons resultados nos
rankings nacionais. Além disso, pertence à rede de escolas associadas da
UNESCO, cujos principais objetivos são a construção da paz, a erradicação da
pobreza, o desenvolvimento sustentável e o diálogo intercultural.
Do ponto de vista socioeconómico, a população escolar apresenta
alguma diversidade. Num inquérito aos alunos realizado no ano letivo de
2008/2009, aferiu-se que a grande maioria provém de agregados familiares
tradicionais. No entanto, registou-se igualmente um aumento no número de
famílias monoparentais relativamente ao inquérito anterior, que se realizara em
2006/2007. Relativamente às habilitações académicas dos pais, a grande
maioria concluiu o ensino secundário, sendo de registar que 18% apresenta um
diploma universitário. No que toca às expectativas académicas da população
escolar, é de destacar que 94% dos alunos pretende ingressar na universidade,
apresentando, em geral, altas ambições profissionais.
O projeto educativo (Educação para a cidadania) inspira-se em valores
humanistas e no conceito de escola integradora.
Nesta linha conceptual, a ESAS destaca o Conhecimento como ponto
axial da sua missão e entende a Qualidade, a Exigência e o Rigor que coloca
5
nas aprendizagens e experiências educativas que proporciona aos seus
alunos como vectores estruturantes do desenvolvimento de uma
Consciência Cívica, indispensável ao exercício de uma Cultura de Cidadania
Democrática, que postula: a promoção da LIBERDADE no espaço escolar
aliada ao conceito de responsabilidade; o fomento da
RESPONSABILIDADE perante os deveres escolares, entendidos como
veículos conducentes ao conhecimento e à formação integral; o fomento da
RESPONSABILIDADE CÍVICA ao serviço de uma cultura de disciplina e zelo
pelo património comum; a interiorização dos conceitos de SOLIDARIEDADE
e de TOLERÂNCIA (respeito pelo outro), que reforçam a cultura cívica e a
natureza integradora da Escola; a construção da AUTONOMIA conducente
ao sucesso e às boas práticas; o desenvolvimento de uma CULTURA DE
AVALIAÇÃO transversal a todos os planos da vida escolar.1
Em suma, trata-se de uma escola que reclama para si própria uma
cultura de exigência e rigor, definindo a priori objetivos ambiciosos, apoiados por
um corpo docente estável e experiente. A escola promove a formação contínua
dos seus professores, definindo prioridades de acordo com os seus objetivos
específicos. Neste contexto, celebrou protocolos com alguns parceiros
institucionais, entre os quais se encontra o Centro de Formação Guilhermina
Suggia.
O trabalho estritamente académico é complementado por um Plano
Anual de Atividades que engloba todas as disciplinas e que inclui todas as
turmas. Relativamente aos tempos livres, existem três clubes: o Clube de
Desporto Escolar, o Clube de Fotografia e o Clube Europeu, o qual tem
organizado várias iniciativas no contexto do projeto Comenius. A escola promove
ainda a iniciativa Lugar da Ciência, bem como o jornal escolar JornalEsas. Um
ótimo exemplo do impacto desta escola na comunidade escolar é a Associação
Mais Aurélia (AMA), através da qual muitos antigos alunos continuam a promover
as iniciativas deste projeto educativo.
Refira-se, ainda, que existem várias formas de apoio para alunos com
dificuldades, desde a orientação tutorial a sessões de trabalho com pequenos
1 Projeto Educativo E.S.A.S., 2009/2014:13
6
grupos. Neste contexto, a escola tem também um gabinete de psicologia e
orientação com uma psicóloga residente.
Por fim, refira-se que as infraestruturas foram remodeladas em 2008 e
que atualmente os alunos disfrutam de espaços altamente apelativos. Apesar de
relativamente pequenas para o número de alunos, as salas de aula estão
equipadas com quadros interativos ou com um computador ligado a um projetor.
A biblioteca é um espaço muito procurado, oferecendo com frequência
exposições temporárias. É de destacar também que todos os espaços
apresentam um tratamento acústico que favorece a redução do ruido. Os
recursos desta escola foram, sem dúvida, uma mais-valia no projeto aqui
descrito, pois permitiram a inclusão das novas tecnologias e a requisição de
dicionários sempre que necessário.
Por todos os aspetos mencionados, creio poder afirmar que, na
globalidade, a Escola Secundária/3 Aurélia de Sousa oferece condições
privilegiadas no contexto de um projeto de investigação-ação. No entanto, como
poderemos analisar ao longo deste relatório, o patamar inicial de rigor e
excelência foi também um grande desafio à criatividade e à inovação.
1.1.2 As turmas
1.1.2.1 A turma de Espanhol: 8ºA
Na disciplina de Espanhol foi-me atribuída a turma 8ºA. Era uma turma
constituída por dezanove alunos (nove raparigas e dez rapazes), sendo de referir
que havia um aluno com necessidades motoras especiais e dois alunos
repetentes.
Este era o segundo ano de aprendizagem da língua, tendo sido o nível
médio de aproveitamento da turma 3,4 no primeiro período. Neste contexto,
refira-se que o rendimento académico era largamente afetado por questões de
comportamento. Os alunos eram, em geral, imaturos, indisciplinados e pouco
empenhados. No entanto, na interação em aula, eram bastante participativos e
habitualmente colaboravam com a professora.
7
Em suma, tratou-se de uma turma que se afastava um pouco dos
padrões médios da escola, quer ao nível da aprendizagem, quer ao nível das
atitudes.
1.1.2.2 A turma de Inglês: 10ºF
Na disciplina de Inglês foram-me atribuídas duas turmas, tendo optado
por desenvolver a minha investigação com a turma 10ºF, pois durante o período
de observação pude registar, tal como descrevo seguidamente, a necessidade
de uma intervenção que potenciasse a expressão oral com as alunas deste
grupo.
O 10ºF era uma turma do curso de ciências socioeconómicas, que foi
sofrendo algumas alterações na sua constituição ao longo do ano, com a entrada
e saída de alunos. Na fase de implementação do projeto contava com vinte e
seis alunos (onze raparigas e quinze rapazes). No primeiro período, o nível
médio de aproveitamento desta turma em momentos de avaliação escrita foi de
13 valores.
Apesar de alguns problemas disciplinares no início do ano letivo, estes
alunos melhoraram em termos de atitude ao longo do ano. Em geral, eram
disciplinados, interessados e participativos, colaborando corretamente nas
atividades propostas. No entanto, na fase de observação inicial pude registar
uma enorme disparidade entre rapazes e raparigas ao nível da participação oral,
predominando as intervenções dos alunos do sexo masculino. A título
meramente ilustrativo, veja-se o padrão de respostas por sexo numa das aulas
observadas em novembro de 2013. A minha orientadora de estágio iniciou a aula
com uma breve discussão em grande grupo, solicitando a opinião dos alunos
sobre o tema que propunha (a aprendizagem de línguas estrangeiras). Durante
esta discussão, obteve dezassete respostas de alunos do sexo masculino e
apenas três do sexo feminino. Nessa mesma aula, solicitou a colaboração de
voluntários para lerem em voz alta e apenas se ofereceram alguns rapazes. Este
padrão manteve-se ao longo desta e das restantes aulas observadas, tendo sido
confirmado pela minha orientadora numa breve discussão sobre o assunto no
nosso seminário semanal. Assim sendo, pude concluir através da observação
simples e do testemunho direto da professora de inglês da turma, que existia
8
uma evidente disparidade entre os dois sexos, sobretudo ao nível da expressão
oral.
1.2 Identificação e delimitação da área de investigação
É muito remota a probabilidade de que a necessidade de investigação
seja suscitada pelo mesmo problema em duas turmas distintas, em disciplinas e
níveis diferentes. Este é seguramente um dos principais desafios dos projetos
de investigação-ação em estágios bidisciplinares, nos quais se torna necessário
conciliar a realidade de dois grupos distintos de alunos com a investigação de
um tema comum.
As evidentes diferenças entre rapazes e raparigas ao nível da expressão
oral na turma de inglês desencadearam a reflexão sobre a pertinência de
importar estratégias de educação diferenciada por sexo e aplicá-las em contexto
misto como forma de otimizar as aprendizagens e preencher as lacunas criadas
pelas diferenças comportamentais entre os dois sexos. A título experimental, na
tentativa de perceber se esta área de investigação poderia dar frutos, em
dezembro de 2013 comecei a utilizar nas aulas que lecionava algumas
estratégias habitualmente eficazes com turmas masculinas, entre as quais a
realização de atividades em pé. Trata-se de uma técnica que aprendi
diretamente num workshop com David Chadwell, que, como referi na introdução
deste relatório, era na altura o coordenador dos projetos de educação
diferenciada nas escolas públicas do estado da Carolina do Sul (E.U.A.). Nesse
contexto, pedi aos alunos que se levantassem no final de cada tarefa, permitindo-
lhes que se movimentassem e relaxassem antes de uma nova atividade. Foi
determinante no processo de delimitação da área de investigação ter registado
que, na primeira aula em que deixei de solicitar aos alunos que se levantassem,
alguns dos rapazes fizeram-no espontaneamente, tendo as raparigas continuado
sentadas. A conjugação destas experiências foi tornando mais evidente a
pertinência de um projeto de investigação-ação que explorasse as diferenças de
aprendizagem entre os dois sexos e a consequente diferenciação de estratégias
por parte dos professores. Para esta decisão contribuiu também o facto de este
tema estar atualmente em destaque na investigação científica, o que reveste o
9
projeto de alguma criatividade e inovação, trazendo para o contexto educativo
português um debate atual em vários países do ocidente.
Deste modo, comecei por definir a seguinte questão de partida: «Que
estratégias de educação diferenciada por sexo podem aumentar a participação
e o envolvimento dos alunos nas aulas de inglês e espanhol em contexto
misto?». Como se pode compreender através desta questão inicial, o objetivo da
minha investigação não foi demonstrar se existem ou não diferenças ao nível da
aprendizagem entre os dois sexos. Como se explicará no capítulo seguinte, e
apesar da existência de algumas áreas mais controversas, os avanços mais
recentes da neurociência demonstraram já a existência de comportamentos
distintos que vários autores têm procurado aplicar no campo da educação.
Assim, é importante sublinhar que este projeto partiu do reconhecimento das
diferenças como um facto com suporte científico, inserindo-se na busca de
aplicações dessas recentes descobertas a um contexto muito específico de
ensino-aprendizagem, ou seja, a procura de estratégias de educação
diferenciada por sexo que permitam potenciar a aprendizagem de línguas
estrangeiras (inglês e espanhol) em contexto misto.
Outro aspeto que será pertinente clarificar no que toca à questão de
partida é a opção por analisar a participação e o empenho dos alunos em vez
de, por exemplo, resultados em momentos de avaliação. Esta decisão ficou a
dever-se às limitações temporais de implementação do projeto, que eliminaram
à partida todas as opções que implicassem um trabalho de médio e longo prazo,
como é o caso da progressão em termos de resultados académicos. No entanto,
a valorização da participação e do empenho nas atividades propostas parte do
princípio de que estes são aspetos determinantes precisamente na progressão
e no desempenho dos alunos. São, em suma, o ponto de partida de qualquer
situação de ensino-aprendizagem.
Definida e clarificada a questão de partida, tornou-se, desde logo,
necessária a delineação de um ciclo zero que permitisse reunir alguma
informação inicial. O objetivo principal deste ciclo seria delimitar e especificar as
áreas de participação e envolvimento dos alunos a explorar ao longo do projeto.
Neste contexto, em dezembro de 2013, elaborei um questionário para aplicar em
ambas as turmas, cuja principal função era descobrir as destrezas linguísticas
de que os alunos gostavam mais e menos (ler, escrever, ouvir ou falar). A
10
investigação-ação a desenvolver iria precisamente potenciar a participação e o
empenho dos aprendentes nas áreas de que menos gostassem, partindo da
constatação através de observação direta de que os alunos habitualmente
apresentam índices mais reduzidos de envolvimento direto nas áreas que se
encontram fora das suas preferências.
Na turma de espanhol (8ºA), de acordo com o inquérito do ciclo zero,
quando interrogados relativamente à competência linguística que menos
gostavam de exercitar em aula, reuni os dados apresentados na seguinte tabela.
Competência linguística que menos gostam de
exercitar em aula
RAPARIGAS
RAPAZES
LER 44,4% 10%
ESCREVER 44,4% 60%
OUVIR 11,2% 10%
FALAR
20%
Tabela 1: Dados relativos ao ciclo zero com a turma de espanhol
Como se pode ver, 60% dos alunos do sexo masculino escolheram a
opção «escrever», 20% «falar», 10% «ler» e 10% «ouvir». No que toca às alunas
desta turma, 44,4% consideraram que a competência linguística de que menos
gostavam era «escrever», 44,4% «ler» e 11,2% «ouvir». Em suma, concluí que
as áreas em que seria pertinente uma intervenção que potenciasse a
participação e o empenho dos alunos eram, no caso dos rapazes, a expressão
escrita e, no caso das raparigas, a compreensão e a expressão escritas. Com o
objetivo de reduzir variáveis, optei por limitar a área de investigação com este
grupo à destreza que ambos os sexos tinham em comum (expressão escrita).
Assim sendo, delineei dois ciclos de implementação do projeto com este grupo,
tendo cada um dos ciclos uma atividade de expressão escrita direcionada para
os rapazes e outra direcionada para as raparigas. O facto de se tratar da mesma
11
destreza para ambos os sexos foi um aspeto interessante, pois, como se
explicará em seguida, com a outra turma envolvida ocorreu o oposto.
Relativamente à turma de inglês (10ºF), o inquérito do ciclo zero permitiu
reunir a informação apresentada na seguinte tabela.
Competência linguística que menos gostam de
exercitar em aula
RAPARIGAS
RAPAZES
LER 36,3% 37,5%
ESCREVER 27,3% 50%
OUVIR 18,2% 6,25%
FALAR 18,2% 6,25%
Tabela 2: Dados relativos ao ciclo zero com a turma de inglês
No que toca à competência linguística que menos gostam de praticar em
aula, 50% dos alunos do sexo masculino selecionaram a opção «escrever»,
37,5% a opção «ler», 6,25% a opção «ouvir» e 6,25% a opção «falar». Refira-se
desde já que, de acordo com a bibliografia consultada, a resistência à leitura e à
escrita é uma característica habitual dos rapazes, ao contrário do que acontece
com as raparigas. No mesmo inquérito, a informação recolhida referente às
preferências das alunas é bastante mais dispersa, uma vez que 36,3% elegeram
como competência de que menos gostavam a opção «ler», 27,3% a opção
«escrever», 18,2% a opção «ouvir» e 18,2% a opção «falar». No entanto, o
comportamento das alunas desta turma foi o que melhor pude descrever na fase
de observação, tendo registado, tal como anteriormente referido, uma quase
total ausência de participação ao nível da expressão oral. Deste modo, cruzando
a informação reunida através do questionário inicial com a informação recolhida
na fase de observação direta, pude concluir que os rapazes do 10ºF
necessitavam de um projeto que potenciasse o seu envolvimento em atividades
de compreensão e expressão escritas, enquanto as raparigas precisavam de
uma intervenção que incidisse na expressão oral.
Definidos estes pontos de partida, avancei para a fase de investigação,
a qual será descrita de forma mais detalhada no capítulo seguinte. As leituras
12
que realizei tiveram como principal objetivo fundamentar teoricamente a criação
de atividades baseadas em estratégias diferenciadas por sexo. No entanto, é
importante sublinhar desde já dois aspetos que percorreram todo este estudo.
Por um lado, como referi anteriormente, o meu objetivo de partida não foi
demonstrar a existência de diferenças entre os sexos em momentos de
aprendizagem. Aliás, uma investigação desta dimensão nunca o poderia fazer.
Assim sendo, reafirmo que, apesar da existência de temas mais controversos,
este projeto partiu de um patamar inicial que reconhece a credibilidade de
investigações prévias, as quais descrevem com profundidade ditas diferenças.
Ainda na fase anterior à aplicação do projeto, era para mim bem claro que o êxito
ou fracasso das estratégias que viria a implementar não dependeriam da
existência ou ausência de diferenças, mas antes da minha capacidade enquanto
profissional de aplicar corretamente a informação reunida, concretizando as
conclusões de investigações anteriores em estratégias relevantes no meu
contexto de investigação-ação. O segundo aspeto transversal a todo este
estudo, e que é fundamental referir desde já, é que a estratégia pedagógica de
partir das diferenças entre os sexos tem como objetivo último minimizá-las em
lugar de as aprofundar. A título de exemplo, e tal como já foi sendo adiantado
neste primeiro capítulo, o meu propósito em relação ao 10ºF foi nivelar o fosso
entre rapazes e raparigas ao nível da expressão oral. Em suma, decidi partir das
diferenças e aproveitar as potencialidades próprias de cada sexo tendo como
meta um perfil de saída igual para ambos os sexos, oferecendo a alunas e alunos
a possibilidade de sucesso académico em todas as áreas.
13
CAPÍTULO II
2.1 Enquadramento teórico e científico
Para que as opções tomadas ao longo do projeto de investigação-ação
descrito neste relatório sejam totalmente claras, torna-se fundamental uma breve
exposição do enquadramento teórico e científico que fundamenta a opção pela
diferenciação de estratégias por sexo.
Na década de 70 do século XX, defendeu-se que o sexo era uma
construção social, ou seja, que os indivíduos não nasciam homens ou mulheres,
antes se faziam homens ou mulheres por influência do meio, com todas as
implicações e discriminações que tal situação comportava. Em suma, afirmou-
se que a identidade sexual é mais cultural do que biológica, uma afirmação que
continua a ter um profundo impacto em muitas das abordagens educativas em
vigor nos dias de hoje (Calvo, 2007:11).
No entanto, chegados ao século XXI, vários avanços em diferentes áreas
científicas têm posto em causa as teorias tão em voga no final do século XX. Por
um lado, as novas técnicas imagiológicas (sobretudo PET scan e ressonância
magnética) têm permitido o estudo do cérebro humano em funcionamento,
pondo em evidência algumas diferenças estruturais entre os sexos. (Calvo,
2007:19-21). Por outro lado, investigações recentes têm encontrado a presença
dos mesmos traços distintivos a nível comportamental noutras espécies animais,
sobretudo em primatas, o que levanta sérias dúvidas quanto à teoria de que tais
diferenças em humanos se devem apenas a construções culturais. Além disso,
como se explicam diferenças sistemáticas entre homens e mulheres em culturas
totalmente distintas? A este propósito, Blum (1997) cita o comentário do
neuropsiquiatra Ruben Gur neste contexto.
(…) it doesn’t make sense to us that at some unknown point in time,
all cultures on this planet decided that one set of behaviors is appropriate for
males and another for females. And that since then we have all followed
these classifications blindly – even if they go against our nature. (Blum,
1997:62)
14
Trata-se de um tema controverso e até politicamente incorreto. No
entanto, ao longo da história humana, como demonstra a biografia de Galileo
Galilei, a ciência foi várias vezes politicamente incorreta, sempre que as suas
conclusões entraram em conflito com a visão dominante. No entanto, no meio da
controvérsia, está possivelmente a confusão entre o princípio de que todos os
seres humanos são iguais perante a lei e a ideia de que os seres humanos são
todos iguais. Rubia (2007), médico e neurocientista, esclarece este ponto.
Una cosa es el papel social que cada uno debe jugar y su igualdad
ante la ley, y otra, sacar de ello la conclusión de que deberíamos ser
completamente iguales desde el punto de vista biológico. A medida que los
conocimientos se van acumulando, parece que esa igualación no sería
posible sin una manipulación genética; eso en el caso de que todos
estuvieran de acuerdo en esa medida, lo que es más que dudoso. (Rubia,
2007:193)
Salvaguardando o facto de que muitas das diferenças descritas são
diferenças ligeiras, em muitas áreas mesmo subtis, e salvaguardando o facto de
que o cérebro humano continua a ser profundamente investigado, dadas as
muitas questões sem resposta, parece haver já algum consenso entre a
comunidade científica de que as diferenças descritas são reais. Tudo parece
indicar que raparigas e rapazes, mulheres e homens atingem os mesmos
objetivos e realizam as mesmas tarefas utilizando circuitos neurológicos
distintos, o que tem necessariamente implicações profundas ao nível das
situações de ensino-aprendizagem (Calvo, 2007:24). Por esta razão, começam
hoje a ouvir-se algumas vozes na área da educação reclamando a necessidade
de reconhecimento das diferenças entre os sexos e afirmando que muitos dos
problemas de aprendizagem atuais têm a sua origem na androginia que a grande
maioria dos professores vê nos seus alunos.
No presente capítulo serão, então, descritas as principais diferenças
sexuais a nível neurológico, seguindo-se uma breve análise do seu impacto em
situações de ensino-aprendizagem.
15
2.1.1 Cérebro e sexo
Está hoje comprovado o dimorfismo sexual a nível neurológico, com a
demonstração de diferenças cerebrais a nível estrutural, químico, genético,
hormonal e funcional entre ambos os sexos. Vários neurocientistas afirmam hoje
não ter dúvidas relativamente ao facto de que o cérebro é um órgão sexual.
Rubia resume o que hoje está demonstrado, citando Cameron, neurocientista
norte-americana.
Cuando se han buscado diferencias en los cerebros de varones y
hembras, se han demostrado claramente en casi todas las especies, tanto
por lo que respecta a la organización estructural de muchos núcleos
cerebrales y circuitos neurales, como al funcionamiento y respuesta de los
sistemas neurales a estímulos internos y externos. Además, muchas de las
diferencias de sexo en la estructura y función cerebrales resultan de la
exposición distinta de varones y hembras a las hormonas esteroides
sexuales (testosterona en varones, estradiol y progesterona en hembras).
Las hormonas esteroides sexuales juegan un papel muy pronto en el
desarrollo cerebral en la organización de los circuitos neurales y tienen una
función crítica durante la edad adulta en la activación de conductas
específicas. (Rubia, 2007:75-6)
Nesta secção iremos, então, analisar as principais diferenças cerebrais
entre ambos os sexos, começando pelos aspetos estruturais.
Vejamos em primeiro lugar aquela que é provavelmente a mais evidente
(e mais citada) diferença ao nível da estrutura, a saber a lateralização de funções
entre os dois hemisférios (ou a sua ausência). Parece estar comprovado o facto
da lateralização de funções ser bastante mais evidente em indivíduos do sexo
masculino. Por exemplo, analisando episódios de lesões cerebrais, as mulheres
afetadas conseguiram em várias situações recuperar as funções da zona
lesionada, o que não aconteceu no caso dos homens. Esta constatação parece
sugerir que as mulheres conseguem ativar diferentes zonas do cérebro para a
mesma função.
16
Los primeros hallazgos de dimorfismo sexual en la lateralización de
funciones cerebrales se hicieron en pacientes con lesiones de uno u otro
hemisferio. Los hombres que sufrían lobectomía del área temporal del
hemisferio izquierdo tenían dificultades en realizar test verbales, mientras
que defectos similares en el hemisferio derecho generaban dificultades en
la realización de test no verbales. Estas diferencias no se observaron en
mujeres. (…) Hoy se da por sentado que el dimorfismo sexual en funciones
verbales se puede considerar un hecho. (Rubia, 2007: 96-7)
Mais recentemente ficou, aliás, demonstrado que o corpo caloso,
estrutura responsável pela conexão entre os dois hemisférios, tende a ser mais
denso e contendo mais ligações neuronais em indivíduos do sexo feminino, o
que explica a facilidade deste sexo em situações de multitarefas e o que
comprova a maior lateralização de funções em indivíduos do sexo oposto. Além
desta diferença no corpo caloso, investigações sobre o tálamo demonstraram
que a chamada massa intermédia (estrutura que une os núcleos do lado
esquerdo com os núcleos do lado direito) está mais desenvolvida na mulher do
que no homem, o que vem, de novo, explicar a maior ligação entre hemisférios
no cérebro feminino (Rubia, 2007:80-82).
No entanto, refira-se que, apesar do que acabou de ser descrito, estudos
imagiológicos demonstram que o cérebro feminino é bastante mais ativo do que
o cérebro masculino no que toca ao hemisfério esquerdo, sobretudo nas áreas
ligadas à competência verbal, a saber na Área de Broca e na Área de Wernicke
(Gurian, 2011:20-25).
Por outro lado, há também zonas mais desenvolvidas nos indivíduos do
sexo masculino, entre as quais o cerebelo, zona responsável pela coordenação
geral da motricidade, manutenção do equilíbrio e postura corporal (Rubia,
2007:82-83).
São também centrais as diferenças no sistema límbico, do qual fazem
parte estruturas-chave em termos do dimorfismo sexual, como a amígdala e o
hipocampo. Hoje sabemos que a amígdala cerebelosa tende a ser maior em
indivíduos do sexo masculino. Este facto tem sido utilizado para explicar os
maiores níveis de agressividade em rapazes e homens. Por outro lado, o
hipocampo, estrutura fundamental na inclusão de informação na memória a
17
longo prazo, tende a ser maior em indivíduos do sexo feminino, com maiores e
mais rápidas transmissões neuronais, o que parece explicar a maior facilidade
das mulheres na memorização, apesar de, no que toca especificamente à
memória, existirem também distinções entre os sexos (Gurian, 2011:20-25).
Refira-se, ainda, que as diferenças no sistema límbico, uma estrutura dedicada
igualmente ao processamento emocional, parecem explicar o facto de as
mulheres mais facilmente responderem de forma verbal a situações de maior
stress.
Within this system [the limbic system], men’s brains glowed most
brightly in a region linked to a quick physical response. Women’s didn’t; their
limbic system was more active in another region, linked to a quick verbal
response. (Blum, 1997:61)
Para além destas diferenças estruturais, descritas em adultos, veja-se
também que a sequência de maturação neurológica é igualmente diferente entre
os dois sexos. Sax (2005) refere a investigação levada a cabo pelo Instituto
Virginia Tech, uma investigação que examinou a atividade cerebral de 508
crianças (224 raparigas e 284 rapazes) com idades compreendidas entre os dois
meses e os dezasseis anos de idade.
This study, the largest and most carefully executed of its type,
demonstrated that various regions of the brain develop in a different
sequence in girls compared with boys. It’s not correct to say, “Boys develop
along the same lines as girls, only slower.” The truth is more nuanced. These
researchers found that while the areas of the brain involved in language and
fine motor skills mature about six years earlier in girls than in boys, the areas
of the brain involved in targeting and spatial memory mature about four years
earlier in boys than in girls. These researchers concluded that the areas of
the brain involved in language, in spatial memory, in motor coordination, and
in getting along with other people develop in a “different order, time, and rate”
in girls compared with boys. (Sax, 2005: 93)
Esta diferenciação na sequência de maturação explica, por exemplo,
que o lobo frontal se desenvolva primeiro em indivíduos do sexo feminino e tenda
18
a apresentar uma irrigação sanguínea maior, o que parece explicar a capacidade
de comunicação feminina em paralelo com a sua incapacidade de correr riscos
(Gurian, 2011:20-25).
Às diferenças estruturais associam-se diferenças hormonais que, como
veremos, têm uma forte influência no funcionamento do cérebro. Veja-se, desde
logo, o impacto das variações hormonais no caso dos indivíduos do sexo
feminino. Em testes de rotação mental de figuras geométricas, os homens
pontuam sempre acima das mulheres. No entanto, o desempenho feminino
depende da fase do ciclo menstrual. Durante a menstruação, quando os níveis
hormonais estão no nível mais baixo, os resultados são semelhantes aos obtidos
pelo sexo oposto. Porém, quando os estrogénios aumentam no final do ciclo,
estes resultados são piores, melhorando, por sua vez, o desempenho em testes
verbais. Está, aliás, demonstrada a influência dos estrogénios na aprendizagem
e na memória, já que facilitam a formação de novas conexões ao nível do
hipocampo. No seguimento do que acabamos de descrever, refira-se que as
competências superiores de indivíduos do sexo masculino em tarefas
matemáticas e espaciais parecem estar relacionados com os níveis de
testosterona. Em laboratório, experiências com ratos demonstraram que os
machos eram superiores às fêmeas em testes de labirinto. No entanto, as
fêmeas a quem eram injetadas altas doses de testosterona passavam a dominar
igualmente este tipo de teste. Como óbvio, por razões éticas, experiências desta
natureza não podem ser replicadas em humanos. No entanto, sabe-se que os
homens que não têm recetores para a testosterona conseguem pontuações
piores em testes matemático-espaciais (Rubia, 2007:98-102).
Ainda no que se refere às diferenças hormonais, refira-se, pela sua
importância no projeto de investigação-ação que aqui descrevemos, que os
níveis de ocitocina são habitualmente mais elevados em indivíduos do sexo
feminino, o que explica a natural tendência feminina para estabelecer ligações
emocionais e sentir empatia. Esta é, também, uma causa provável da sua
necessidade de agradar aos outros e de manter relações estáveis (Gurian,
2011:20-25).
As diferenças estruturais e hormonais, das quais destacámos até agora
as mais pertinentes para este projeto, têm naturalmente implicações profundas
em termos funcionais, algumas das quais fomos já antevendo. Assim, por tudo
19
o que foi descrito, podemos hoje afirmar com alguma segurança que os
indivíduos do sexo feminino demonstram uma maior capacidade verbal. A partir
dos seis meses de idade, as raparigas apresentam maior atividade elétrica no
hemisfério esquerdo, apesar de, como foi anteriormente explicado, terem as
funções linguísticas mais bilateralizadas. A maior lateralização da linguagem no
hemisfério esquerdo por parte dos indivíduos do sexo masculino permite, por
outro lado, que o lobo parietal direito se dedique plenamente às tarefas
visuoespaciais. Assim, a bilateralização da linguagem nas mulheres ocupa
necessariamente zonas do hemisfério direito responsáveis por ditas tarefas, o
que explica algumas das limitações femininas nesta área. Este facto esclarece a
constatação de diferenças ao nível da navegação espacial. As mulheres
tendencialmente orientam-se usando pontos de referência baseados na visão,
na audição ou no olfato (por exemplo, “o ponto X encontra-se depois do
supermercado com um grande letreiro verde”). Os homens, por sua vez, mais
frequentemente utilizam direções absolutas, como os pontos cardeais, ou
distâncias absolutas, como metros ou quilómetros. Aliás, em projetos de
investigação, quando a ambos os sexos são dadas direções com bússola, os
indivíduos do sexo feminino cometem mais erros e demoram mais tempo a
chegar à meta do que o sexo oposto. No entanto, quando as indicações dadas
são pontos de referência no terreno, os resultados invertem-se e as mulheres
pontuam acima dos homens (Sax, 2005:25-26).
Em termos funcionais, estão também descritas diferenças consistentes
ao nível da visão e da audição desde o nascimento. Investigadores da
Universidade de Cambridge filmaram cento e dois bebés no dia em que
nasceram. A estes bebés era dada a hipótese de olhar para um rosto humano
sorrindo ou para um objeto em movimento. Em ambos os casos não era emitido
qualquer som. Ao analisar as preferências destes recém-nascidos, os
investigadores não foram informados relativamente ao sexo dos bebés para que
não houvesse qualquer tipo de influência. As conclusões deste estudo foram
claras. Os bebés do sexo masculino interessaram-se sobretudo pelo objeto em
movimento e os bebés do sexo feminino pelo rosto humano sorridente. Esta
investigação é consistente com descobertas mais recentes relativamente a
diferenças na anatomia do olho. Sabe-se hoje que a retina masculina é mais
espessa e mais rica em células do tipo M, enquanto na retina feminina
20
predominam as células de tipo P. As células de tipo M recolhem informação
relativa a movimento e direção e as células de tipo P informação acerca da
textura e da cor. É provavelmente por esta razão que tendencialmente as
raparigas acham mais apelativo brincar com bonecas coloridas e de texturas
variadas e os rapazes com carros e camiões em movimento. Além disso, as
células de tipo P são mais sensíveis às cores quentes do espectro ótico,
enquanto as células de tipo M são sensíveis ao extremo das cores frias. Não é
de estranhar portanto que, tendencialmente, as raparigas prefiram o vermelho,
o rosa e o laranja e que os rapazes escolham o preto, o cinzento e o azul (Sax,
2005:18-22).
Estão também descritas algumas diferenças ao nível da audição.
Estudos em recém-nascidos concluíram que os indivíduos do sexo feminino
ouvem melhor do que os do sexo oposto. Perante a exposição a sons com uma
frequência de 1500 Hz, os bebés do sexo feminino apresentaram respostas
cerebrais cerca de 80% superiores às do sexo oposto. Refira-se que a gama de
sons que se encontra nesta frequência é especialmente importante pelo facto de
ser determinante na compreensão da linguagem falada. Estas diferenças ao
nível da audição mantém-se (ou até aumentam) noutras faixas etárias (Sax,
2005:15-18). Sax (2005) explica o impacto de tais diferenças em situações de
ensino-aprendizagem e em situações familiares. Denuncia, por exemplo, os
casos de rapazes saudáveis a quem diagnosticam défices de atenção
simplesmente porque não conseguem ouvir o tom de voz suave da professora
primária (quase sempre mulher), ou os casos de conflito entre qualquer filha e o
seu pai.
I can’t count the number of times a father has told me, “My daughter
says I yell at her. I’ve never yelled at her. I just speak to her in a normal tone
of voice, and she says I’m yelling.” If a forty-three-year-old man speaks in
what he thinks is a “normal tone of voice” to a seventeen-year-old girl, that
girl is going to experience his voice as being about ten times louder than
what the man is hearing. He is yelling at her, but he doesn’t realize it. The
father and his daughter are experiencing the same sound in two different
ways. (Sax, 2005: 18)
21
Quando se analisaram as células dos pelos do ouvido interno, que
vibram para transmitir o som, os investigadores concluíram que o ouvido
feminino é muito mais sensível do que o ouvido masculino. A quantidade de
pelos é mais ou menos semelhante, no entanto, no caso dos indivíduos do sexo
feminino, a vibração é muito mais intensa, logo a audição é melhor.
Curiosamente, as únicas exceções são os casos das mulheres que têm ou
tiveram um irmão gémeo, possivelmente porque estiveram expostas a níveis
superiores de testosterona no líquido amniótico. Veja-se que estas diferenças ao
nível da audição explicam também o facto de tendencialmente as raparigas
acharem o ruído de fundo perturbador em situações de aprendizagem. Os
rapazes que tamborilam sobre a mesa enquanto trabalham normalmente não
incomodam (nem prejudicam) os restantes rapazes presentes. Incomodam, sim,
as raparigas e muito frequentemente a professora (quando se trata de uma
mulher) (Sax, 2005:15-18).
Também o processamento emocional apresenta diferenças evidentes e
com implicações profundas em situações de ensino-aprendizagem. Nos
indivíduos do sexo feminino, com o desenvolvimento e a maturação cerebral, o
processamento emocional passa da amígdala para o córtex cerebral (estrutura
utilizada em importantes funções cognitivas e linguísticas), enquanto nos
indivíduos do sexo masculino este processamento permanece na amígdala. As
ligações neurológicas presentes no cérebro feminino entre emoção e linguagem
estão na base das explicações sobre as diferenças entre os sexos ao nível da
literacia emocional.
Both females and males must be equally understood and protected
emotionally. (…) Males are simply not as tough as we think; often females
are emotionally tougher (though it doesn’t appear so when they overtly show
distress in tears and in talk more than do boys).
Simultaneously, we have all intuited how girls often take things
personally; this is a way in which they are fragile. Girls process more emotive
information than boys; whereas male emotional fragility comes from having
fewer cortical areas available to process emotional information, girls’
emotional fragility often comes from having so many emotive functions that
they become overwhelmed by the emotional input. (Gurian, 2011: 31-2)
22
Estas diferenças ao nível do processamento emocional têm
naturalmente profundas implicações noutras áreas comportamentais,
nomeadamente no que toca às decisões perante situações de risco, às relações
interpessoais e às reações perante situações de stress.
Relativamente a situações de risco, refiram-se, pela sua pertinência
neste projeto de investigação-ação, os seguintes aspetos. Vários estudos têm
demonstrado que, desde idades precoces, os indivíduos do sexo masculino
sobrestimam as suas capacidades e arriscam com mais facilidade do que os
indivíduos do sexo feminino, que habitualmente subestimam aquilo de que são
capazes e raramente correm riscos. Alguns autores questionam se esta não será
uma questão cultural; no entanto a mesma tendência está descrita em primatas.
These differences appear to be inborn. It’s hard to claim that male
monkeys overestimate their abilities because they’ve been watching too
many James Bond films. We have to consider the possibility that the
tendency for male primates (including humans) to do insanely dangerous
things may be innate rather than culturally programmed. (Sax, 2005:45)
Alguns autores sublinham que a tendência feminina para subestimar as
suas capacidades tem contribuído de forma efetiva para a discriminação real de
mulheres que ainda hoje encontramos em algumas situações e que muitos
associam à teoria da incapacidade aprendida de Martin Seligman (Sax,
2005:47). Como veremos no capítulo seguinte, este é um aspeto central no
projeto descrito neste relatório, em particular no que toca ao grupo de raparigas
do 10ºF.
Ao nível das relações interpessoais estão também descritas diferenças
entre os sexos que, de novo, de alguma forma replicam o que se constatou em
primatas. Frans de Waal, reconhecido primatólogo e etnólogo, descreveu os
diferentes tipos de relação entre chimpanzés macho e entre chimpanzés fêmea.
Enquanto as coligações entre machos se baseiam em questões de hierarquia e
poder, com negociações constantes para determinar quem é o macho alfa e com
alterações frequentes nas ligações e na hierarquia, as coligações entre as
fêmeas passam sobretudo pela construção de um sistema de suporte que
valoriza a proteção da família e o cuidado das crias (Blum, 1997:71). Os estudos
23
de primatólogos como de Waal têm abalado as teorias de que a competitividade
masculina e a ligação emocional feminina em humanos são meras construções
culturais. Sabe-se, por exemplo, que os chimpanzés macho lutam entre eles com
muita frequência. No entanto, terminada a luta mantêm relações amistosas com
os adversários. Por outro lado, as fêmeas raramente se envolvem em situações
desta natureza. Porém, quando o fazem, tornam-se inimigas eternas das suas
adversárias. Alguns investigadores têm observado e descrito as relações entre
rapazes e as relações entre raparigas no recreio das escolas e, curiosamente,
têm encontrado situações semelhantes às que estão descritas nos chimpanzés
(Blum, 1997:71-77).
Outro aspeto fundamental ao nível das relações interpessoais é a
necessidade feminina de agradar e ser aceite.
Educational researchers have consistently found that girls are more
concerned than boys are with pleasing the teacher and more likely than boys
to follow the teacher’s example. Remarkably, a similar finding has recently
been described in our closest genetic relative, the chimpanzee. (…) Girl
chimps follow their teacher’s example (…) while boy chimps completely
disregard the teacher, preferring to do it their own way (…). The boy chimps
are consequently much slower to master the task than the girls are. (Sax,
2005:80-1)
Como é óbvio, esta característica feminina, apesar das evidentes
vantagens, também comporta alguns riscos, nomeadamente a nível emocional.
Pomerantz e a sua equipa (2002) explicam o modo como a necessidade das
raparigas em agradar aos adultos (pais e professores) as afeta negativamente
do ponto de vista emocional. Essa necessidade é acompanhada pelo medo do
fracasso, sendo evidente a vulnerabilidade feminina não só em situações de
insucesso real como também nos casos das raparigas com bons níveis de
aproveitamento académico.
Notably, although girls were the most vulnerable to internal distress
when they were doing poorly in school, even girls who were doing well were
more vulnerable than were boys. It is quite possible that the gender
difference in concern with pleasing adults and in how achievement situations
24
are approached may also account for this finding in that they cause even the
potential of failure to be more distressing to girls than to boys. (Altermatt,
Pomerantz & Saxon, 2002: 402)
Como se verá no capítulo seguinte, a constatação desta tendência
feminina para subestimar as suas próprias capacidades, e consequentemente
não arriscar por medo de falhar, foi fundamental na definição de estratégias a
implementar ao longo do projeto de investigação-ação que aqui descrevemos.
O aspeto que acabamos de analisar está diretamente relacionado com
outra área em que estão descritas diferenças cruciais entre ambos os sexos: a
reação perante situações de stress.
We now know that females are wired to respond to stress in a different
way than males are. Dozens of studies over the past twenty years have
consistently shown dramatic sex differences in the biobehavioral response
to stress. The female autonomic nervous system has been shown to be
influenced more by the parasympathetic nervous system, which is energized
by acetylcholine rather than adrenaline and which causes an unpleasant,
nauseated feeling rather than the “thrill” of the sympathetic nervous system.
(…)
When most young boys are exposed to threat and confrontation, their
senses sharpen and they feel an exciting tingle. (…) When most young girls
are exposed to threat and confrontation, they feel dizzy and “yucky”. (Sax,
2005: 69)
A nível comportamental esta diferença acarreta evidentes implicações.
As reações humanas a situações de stress foram durante muito tempo descritas
como reações de luta ou fuga. No entanto, uma equipa de investigadores da
Universidade da Califórnia demonstrou que este comportamento (“fight-or-flight”)
em muitos casos não se aplica aos indivíduos do sexo feminino. De acordo com
esta investigação, nestes casos o padrão comportamental perante situações de
stress caracteriza-se com frequência pela procura de proteção e afiliação (“tend-
and-befriend”).
25
We propose a theory of female responses to stress characterized by a
pattern termed “tend-and-befriend.” Specifically, we propose that women’s
responses to stress are characterized by patterns that involve caring for
offspring under stressful circumstances, joining social groups to reduce
vulnerability, and contributing to the development of social groupings,
especially those involving female networks, for the exchange of resources
and responsibilities. We maintain that aspects of these responses, both
maternal and affiliative, may have built on the biobehavioral attachment –
caregiving system that depends, in part, on oxytocin, estrogen, and
endogenous opioid mechanisms, among other neuroendocrine
underpinnings. (…) We propose this theory as a biobehavioral alternative to
the fight-or-flight response (Canon, 1932), which has dominated stress
research of the past 5 decades and has been disproportionately based on
studies of males. (Taylor, Klein, Lewis, Gruenewald, Gurung & Updegraff,
2000: 421-2)
Ainda em relação às diferentes reações entre os sexos perante situações
de stress, alguns autores sublinham a influência hormonal, como, aliás, é bem
evidente no estudo acima citado. Tendencialmente, os indivíduos do sexo
masculino não sentem a necessidade de proteção e afiliação descrita no caso
do sexo oposto. A testosterona elimina o efeito da ocitocina, o que, por sua vez,
reduz o desejo de diálogo e de socialização. A elevados níveis de testosterona
correspondem uma maior competitividade, uma maior independência e uma
maior tendência para a introspeção perante um problema (Calvo, 2007:51).
Para além da descrição e da análise das diferenças entre os dois sexos,
a comunidade científica tem procurado explicações que as justifiquem de forma
lógica e fundamentada. No que toca a vários aspetos, encontramo-nos ainda no
domínio das hipóteses.
Em primeiro lugar, é fundamental fazer aqui um breve esclarecimento
relativamente à dicotomia natureza/meio. Vários autores têm defendido que as
diferenças que encontramos entre os sexos se explicam pelas influências
socioculturais. Alguns chegam mesmo a sugerir que até as diferenças
neurológicas estruturais descritas em exames imagiológicos têm aí a sua origem
dada a plasticidade do cérebro e a sua capacidade de adaptação às situações
que enfrenta. No entanto, é importante sublinhar que há já algum consenso
26
relativamente ao facto de que natureza e meio não se excluem mutuamente. Por
exemplo, ao nível da estatura física, cada ser humano nasce com uma carga
genética que determina a sua curva de desenvolvimento. Apesar de fatores
adversos no meio (como a má nutrição) poderem limitar esse desenvolvimento,
uma dieta perfeita nunca fará com que o indivíduo se desvie drasticamente da
sua linha genética ao nível da estatura. O mesmo se passa com as diferenças
entre os sexos.
La dicotomía “o genes o medio ambiente” está mal planteada, ya que
es imposible separar ambos factores. Los genes necesitan del entorno
apropiado para expresarse – como se sabe del lenguaje -, pero además ellos
mismos son fruto de la interacción del organismo con su entorno a lo largo
de la evolución. No vamos, pues, a negar en absoluto la influencia que haya
podido tener en los distintos comportamientos de hombre y mujer el entorno
en el que han vivido desde que estamos en el planeta, pero eso no impide
hacer referencia a las diferencias que hoy existen en esos comportamientos
y en las estructuras cerebrales que los soportan. (Rubia, 2007:259)
Este aspeto está diretamente relacionado com a teoria acerca da
explicação das diferenças que mais acolhimento tem tido na comunidade
científica. Trata-se de uma justificação antropológica que remonta às
comunidades primitivas de caçadores-recoletores. Esta teoria defende que as
diferenças neurológicas que hoje constatamos entre os sexos tiveram origem na
divisão de tarefas entre homens e mulheres nessa fase primitiva da história da
humanidade. Isso significa que, se a conduta de ambos tivesse sido igual
possivelmente as diferenças não existiriam. No entanto, especula-se que, na luta
pela sobrevivência, muito provavelmente as escolhas das comunidades de
caçadores-recoletores na separação de encargos tiveram já origem em algumas
diferenças evidentes quanto mais não seja ao nível da força física. Veja-se,
assim, que os homens primitivos necessitaram sobretudo de competências
visuoespaciais para realizar as tarefas de caça, enquanto as mulheres
desenvolveram as suas competências comunicativas ao assumirem o cuidado e
a educação dos mais novos.
27
Over millions of years, the brain both created and accommodated
these circumstances. Females had to be better at verbal skills than males;
males had to be better at spatials and more physically aggressive. Females
had to care more about small-group consensus; males had to rely more on
pecking-order hierarchies with dominant leadership. Females had to hear,
see, and use all the senses and remember variety among things in order to
provide the subtle brain development and care a child needs; males had to
focus on the single task of providing for and protecting communities of
children.
Both the brain and its hormones – which are catalysts for brain activity
– came to differ with gender. (…)
It is interesting to note that male and female hormones were not as far
apart in their constitution a million years ago as they are now. We know this
because testosterone level is directly related to bulking, or muscle mass, and
fossil records show us that male and female bodies used to be closer in size
than they are now. (Gurian, 2011:38-9)
De facto, à luz desta teoria, muitas das diferenças descritas
anteriormente tornam-se mais lógicas e compreensíveis. No entanto,
reconhecidas as diferenças, torna-se fundamental salvaguardar alguns pontos.
Em primeiro lugar, refira-se que a constatação de diferenças consistentes a nível
intersexual não é incompatível com as variações intrassexuais. Ou seja, apesar
de, em muitos casos, as diferenças individuais dentro do mesmo sexo serem
maiores do que as diferenças entre os dois sexos, este não é um argumento que
invalide o dimorfismo sexual a nível neurológico. Veja-se, aliás, que a mesma
questão se coloca relativamente a outras características. A variação intrassexual
em altura é mais expressiva do que a constatação de que os indivíduos do sexo
masculino são tendencialmente mais altos do que os indivíduos do sexo
feminino. No entanto, tal não impede o reconhecimento da distinção intersexual
a este nível, que, aliás, se traduz atualmente em dois gráficos diferentes de
percentis de desenvolvimento, um feminino e outro masculino.
Torna-se também importante clarificar que o reconhecimento pela
comunidade científica de diferenças consistentes entre ambos os sexos não
permite a previsão de comportamentos individuais. O mesmo podemos afirmar
em relação à idade de cada indivíduo. Não temos hoje qualquer dúvida
28
relativamente às fases de desenvolvimento cognitivo descritas por Piaget. No
entanto, esta teoria não garante que o individuo x, porque tem 13 anos de idade,
se encontra do estádio operatório-formal. Veja-se, porém, que esta
impossibilidade de previsão de comportamentos individuais não invalida a
constatação de tendências. Na verdade, tal como acontece com o
desenvolvimento etário, tudo o que até aqui foi descrito em termos de dimorfismo
sexual refere-se precisamente a tendências. Podemos, assim, sintetizar este
ponto com a conceção de um espectro do dito dimorfismo sexual, considerando
um dos extremos o polo feminino e o outro extremo o polo masculino.
Tendencialmente grande parte da população feminina encontra-se no polo que
lhe corresponde, enquanto grande parte da população masculina está no polo
oposto. Tal não impede que muitos indivíduos se encontrem distribuídos noutros
pontos ao longo deste espectro (Gurian, 2011:16).
Por último, e para concluir esta secção sobre sexo e cérebro, refira-se
que estas diferenças não são vantagens nem desvantagens genericamente
falando e não tornam um sexo superior ao outro. Uma determinada característica
pode ser útil numa situação específica e simultaneamente prejudicial numa
situação diferente.
2.1.2 Ensino-aprendizagem diferenciado por sexo
Se parece não haver dúvidas quanto ao dimorfismo sexual neurológico,
a controvérsia surge quando se discutem as implicações das diferenças em
situações de ensino-aprendizagem. As opiniões dividem-se quanto ao facto da
constatação de ditas diferenças se dever traduzir (ou não) na diferenciação de
estratégias pedagógico-didáticas.
O projeto de investigação-ação descrito no presente relatório assenta na
ideia de que, estando demonstradas diferenças entre os dois sexos, tal situação
comporta necessariamente implicações profundas na área da educação, que, na
grande maioria dos casos, continua a ver o corpo discente como um conjunto de
seres assexuados. Refira-se, porém, que este projeto abraçou as recentes
propostas da educação diferenciada por sexo, com o objetivo claro de conseguir
a igualdade académica entre raparigas e rapazes. Nesse sentido, não se trata
29
de uma corrente retrógrada, como dirão alguns, mas antes de propostas
educativas de vanguarda. Tais propostas reconhecem a legitimidade das teorias
do final do século XX, que defenderam um tratamento igualitário entre sexos em
nome da igualdade social entre homens e mulheres. E reconhecem também que
essas teorias falharam, pois o fosso entre rapazes e raparigas, e entre homens
e mulheres continua a ser evidente em muitas áreas tradicionalmente
estereotipadas, como mostram, aliás, as estatísticas nacionais e internacionais.
Calvo (2007) resume desta forma o que é a educação diferenciada por sexo no
século XXI:
Los objetivos, las metas académicas y de formación, deben ser las
mismas para ambos. Se trata de conseguir una igualdad de posibilidades
real entre hombres y mujeres. Lo que presupone ser plenamente
conscientes de las diferencias y darles el tratamiento adecuado. Ignorar o
despreciar las diferencias naturales de los sexos o intentar aniquilarlas las
convierte en limitaciones, en obstáculos que nos impiden conseguir una
igualdad material. Conocerlas, aceptarlas y darles el tratamiento adecuado
nos ayuda a acabar con los estereotipos y, en definitiva, nos conduce a la
igualdad. (Calvo, 2007:66-7)
Em suma, não há diferenças naquilo que rapazes e raparigas podem
aprender. Não há diferenças naquelas que podem ser as suas metas
académicas. No entanto, a diferenciação de estratégias que tirem partido das
suas diferentes potencialidades e reduzam as suas diferentes limitações poderá
ser uma mais-valia. O objetivo é precisamente encurtar as diferenças, garantindo
a todos os indivíduos de ambos os sexos todas as possibilidades de escolha.
Em suma, reconhece-se que os perfis de entrada no sistema educativo são
diferentes e, por essa razão, com o intuito de garantir que os perfis de saída seja
idênticos ao nível das várias competências, diferenciam-se os percursos rumo a
esse objetivo comum.
Recordemos, então, a questão de partida: «Que estratégias de
educação diferenciada por sexo podem aumentar a participação e o
envolvimento dos alunos nas aulas de inglês e espanhol em contexto misto?»
30
Seguidamente, será descrito todo o projeto de investigação-ação,
tornando-se evidente a forma como o enquadramento teórico e científico
apresentado neste capítulo contribuiu para a definição de estratégias
pedagógico-didáticas.
31
CAPÍTULO III
3.1 Metodologia da Investigação-Ação
Como já foi referido no primeiro capítulo deste relatório, as
circunstâncias da minha investigação foram, por um lado, bastante heterogéneas
(duas turmas de disciplinas e níveis diferentes) e, por outro lado, um desafio à
criatividade docente pelo facto de resultarem de uma realidade privilegiada em
termos de qualidade académica no contexto educativo português.
Como explicado inicialmente, partindo dos registos de observação direta
da participação oral em aula na turma do 10ºF, através dos quais ficou clara a
enorme discrepância entre os dois sexos, e com base nos avanços teóricos e
científicos descritos no capítulo II, o projeto de investigação-ação descrito neste
relatório teve um objetivo muito específico: otimizar as áreas em que os alunos
apresentavam maiores fragilidades através da implementação de estratégias de
educação diferenciada por sexo.
Recordando o que foi descrito relativamente ao ciclo zero, ficou definido,
depois da fase de observação e do questionário inicial, que na turma de espanhol
(8ºA) o projeto incidiria sobre os níveis de envolvimento e participação dos
alunos de ambos os sexos em atividades de expressão escrita. Relativamente à
turma de inglês (10ºF), o objetivo da investigação-ação foi, por um lado, otimizar
o envolvimento e a participação dos rapazes em atividades de compreensão e
expressão escritas e, por outro lado, o envolvimento e a participação das
raparigas em atividades de expressão oral.
A fase inicial de investigação e as leituras realizadas serviram de suporte
à conceção das atividades que serão descritas nos próximos capítulos. Refira-
se ainda que, à medida que investigava, todo o projeto ganhava mais sentido e
coerência. Os alunos de ambas as turmas encontravam-se numa fase crítica de
desenvolvimento: o oitavo ano no início da adolescência e o décimo ano em
plena adolescência. Do ponto de vista hormonal, trata-se de uma fase de
grandes mudanças e agitação para ambos os sexos. Os rapazes iniciam a
puberdade com altas doses de testosterona, tendo que aprender a gerir
internamente uma dose desta hormona cerca de vinte vezes superior à que se
encontra no sexo oposto. Por sua vez, as raparigas iniciam este momento da
32
sua vida com doses elevadas de progesterona, estrogénio e prolactina, sofrendo
mudanças de humor e períodos de vacilação ao nível da autoestima.
Assim, com base na fundamentação teórica e científica descrita no
capítulo anterior, propus-me, enquanto professora-investigadora, cruzar três
áreas distintas: o conhecimento científico sobre dimorfismo sexual, a didática de
línguas estrangeiras e o contexto específico da investigação-ação (turmas e
programa oficial em vigor). Do cruzamento destes três campos, surgiram os
vários ciclos de investigação-ação que seguidamente descrevo. Com cada turma
foram desenvolvidos dois ciclos, apresentando cada um deles uma atividade
baseada nas características de ensino-aprendizagem mais femininas e outra
atividade baseada nas características de ensino-aprendizagem mais
masculinas. Seguindo as propostas de Richards & Lockhart (1994), cada uma
destas atividades foi analisada de duas formas: por um lado, através da
observação direta concretizada em registos no meu diário profissional e, por
outro lado, através de questionários realizados aos alunos. Tal como explicam
os autores acima mencionados, os questionários são uma forma útil de reunir
informação acerca das dimensões mais afetivas das situações de ensino-
aprendizagem (a motivação, o empenho, as atitudes, as preferências) e, tal como
foi explicado no capítulo I, são precisamente essas dimensões que aqui
avaliamos, partindo do princípio de que maiores níveis de participação e
empenho conduzirão a médio e longo prazo a melhores resultados académicos.
3.2 A turma de Espanhol
Como anteriormente explicado com mais detalhe, ficou definido após o
ciclo zero que, nesta turma, o projeto procuraria potenciar o envolvimento e a
participação dos alunos de ambos os sexos relativamente à mesma competência
linguística, a saber, a expressão escrita. Este é um aspeto particularmente
interessante, pois, como veremos, pelo facto da intervenção nesta turma ter
incidido sobre a mesma competência quer para rapazes, quer para raparigas, a
leitura de resultados foi bastante mais óbvia e transparente.
33
3.3 Primeiro Ciclo
Na calendarização do projeto, o primeiro ciclo de investigação-ação com
a turma de espanhol coincidiu, em termos da programação oficial, com o tema
«La Salud». Haveria, pois, que conciliar esta programação com a didática do
desenvolvimento da escrita em língua estrangeira e com a utilização de
estratégias diferenciadas por sexo. Daqui resultaram duas atividades:
«Competición de escritura» (realizada a 13/01/2014) e «Escribir una carta a
Paula» (realizada a 15/01/2014).
A «Competición de escritura» foi uma atividade desenhada tendo em
conta as características de aprendizagem tipicamente masculinas. A turma foi
organizada em grupos e o objetivo era a construção de um folheto desdobrável
intitulado «Para llevar una vida sana». Como o nome da atividade indica, tratava-
se de uma competição e os alunos foram informados de que no final, sem saber
o nome dos autores de cada folheto, a minha orientadora de espanhol, e
professora da turma, iria escolher a equipa vencedora, à qual seria entregue um
prémio-surpresa. O recurso a competições é uma das estratégias mais utlizadas
em educação diferenciada por sexo com rapazes (James, 2007). Tirando partido
dos altos níveis de testosterona, este tipo de estratégia consegue ser com
frequência um alto fator de motivação entre os indivíduos do sexo masculino.
Veja-se, aliás, que este aspeto se torna bem mais claro se recordarmos as
diferenças relativamente à gestão da pressão e do stress explicadas no capítulo
anterior.
Muchos pedagogos piensan que el aula moderna está haciendo
fracasar a los chicos porque es poco estructurada, demasiado permisiva y
rechaza cualquier manifestación del espíritu de competición que, sin
embargo, proporciona a los muchachos ganas de aprender y sobresalir. (…)
Las clases estructuradas en torno al sistema de la exigencia y de la
competencia personal son un éxito para los varones que se sienten
estimulados por la existencia de tensión y confrontación. (Calvo, 2007:81-2)
Para além da competição, veja-se outro aspeto, também subentendido
na citação de Calvo acima transcrita: esta atividade foi totalmente estruturada.
34
Aos alunos foi dada uma lista de passos a seguir com orientações muito
específicas, nomeadamente o número exato de conselhos a escrever, quantos
em cada página e que estruturas linguísticas deveriam ser utilizadas.
Foi dito aos alunos que poderiam utilizar os dicionários requisitados
nesse dia na biblioteca, mas que não poderiam solicitar ajuda durante a
competição em si. Procurei, ainda, aumentar a tensão competitiva impondo
limites de tempo, com um cronómetro-bomba digital projetado no quadro
interativo. Tal como afirma Sax (2005:90), “many young boys are energized by
confrontation and by time-constrained tasks. Few young girls will flourish in high-
pressure, do-it-in-five-seconds-or-you-lose formats.”
Outro aspeto muito referido por vários autores como estratégia de
sucesso com indivíduos do sexo masculino é a manipulação de materiais (Sax,
2005; James, 2007; Gurian, 2011). Também este ponto foi contemplado na
conceção da atividade que agora descrevemos. Foi entregue aos alunos o
folheto desdobrável em branco para que o preenchessem com o texto final
produzido em grupo durante a aula. Porém, a própria manipulação do folheto
resultou bastante apelativa, pois tratava-se de uma construção em
«scrapbooking» com quatro páginas que se desdobravam continuamente até
voltarem à página inicial como por magia. Para além deste folheto manipulável,
os alunos puderam também utilizar imagens recortadas, cola, tesouras e
marcadores.
Fig.1: «Competición de escritura» Fig.2: «Competición de escritura»
35
A segunda atividade do primeiro ciclo de investigação-ação com a turma
de espanhol foi «Escribir una carta a Paula», uma atividade desenhada a partir
das características de aprendizagem tendencialmente mais femininas.
Ainda dentro da unidade temática «La Salud», a turma realizou duas
atividades de compreensão auditiva com materiais autênticos. Tratou-se do
visionamento de dois vídeos. Em primeiro lugar, os alunos viram a gravação da
canção «Seguiremos» de Macaco, na versão em que o cantor catalão surge com
as crianças da unidade de oncologia do Hospital Sant Joan de Déu em
Barcelona. Em seguida, a turma realizou uma atividade de compreensão auditiva
baseada numa entrevista televisiva a Paula, a paciente de cancro com a idade
dos alunos desta turma que teve a ideia de fazer o vídeo e mobilizou todo o
hospital e o cantor em questão. Partindo destas duas atividades de compreensão
auditiva, a atividade de expressão escrita proposta foi precisamente escrever e
enviar uma carta a esta rapariga real. É, desde logo, evidente o modo como dita
atividade de escrita se baseia em características tendencialmente mais
femininas. Como afirma Blum (1997:66), “of all the differences between men and
women, the one that seems currently to grab the most attention is that of
emotional connection.”
Por tudo o que foi explicado no capítulo anterior relativamente às
ligações femininas entre emoções e linguagem, bem como às questões
hormonais (em particular a oxitocina, ou «hormona da empatia»), fica claro que
se pretende tirar partido da tendência natural feminina para estabelecer ligações
emocionais como forma de potenciar uma área de desenvolvimento mais
fragilizada, neste caso a expressão escrita. Os alunos escreveram as cartas em
pares, num ambiente muito mais descontraído do que no caso da competição
anterior. Não havia qualquer tipo de pressão ou de limites de tempo e, para além
dos dicionários, os alunos podiam solicitar a ajuda e a orientação da professora
sempre que o desejassem. Para além destes aspetos, puderam utilizar papel de
carta e envelopes coloridos e, no final da aula, tiraram uma fotografia de grupo,
que foi enviada, juntamente com as cartas, para o hospital de Paula, em
Barcelona.
36
Fig.3: Cartas enviadas a Paula Fig.4: Fotografia enviada a Paula
Com base na observação direta, registada no meu diário profissional, e
com base nos comentários realizados pela minha orientadora de espanhol nos
seminários semanais na escola, o primeiro balanço relativamente a este ciclo foi
muito positivo. No entanto, era evidente a necessidade de, por um lado, repetir
algumas das estratégias utilizadas para comprovar a sua eficácia e, por outro
lado, alargar o leque de estratégias de educação diferenciada por sexo, como
forma de mais facilmente responder à questão inicial do projeto. Assim sendo,
optei por delinear um segundo ciclo, como forma de otimizar e aprofundar o
trabalho iniciado na primeira fase.
3.4 Segundo Ciclo
Este segundo ciclo com a turma de espanhol coincidiu, em termos da
programação oficial, com a exercitação do «pretérito perfecto» e com o
desenvolvimento do tema «La ciudad». Assim, propus-me aprofundar e expandir
as estratégias de educação diferenciada por sexo testadas no primeiro ciclo,
cruzando, de novo, essa informação com a didática do espanhol e com o
contexto específico da intervenção. Daqui resultaram duas atividades:
«Estaciones de escritura» (realizada a 22/01/2014) e «Publicación personal en
un blog» (realizada a 29/01/2014).
«Estaciones de escritura» foi uma atividade desenhada a partir das
características de aprendizagem tendencialmente masculinas. Tratou-se de uma
adaptação da estratégia «learning centers», uma proposta pedagógica de James
(2007).
37
This is one of the techniques of differentiated instruction; students
move among stations as they complete each activity. In a class on earth
science, there can be centers for each type of rock. Students go to each
center, examine the rocks there, read the materials, and answer questions
about that type of rock. (James, 2007:70)
Haveria, pois, que adaptar esta estratégia a uma atividade de expressão
escrita que incidisse sobre a exercitação do «pretérito perfecto». Assim, quando
chegaram para a aula, os alunos encontraram a sala organizada em quatro
estações, sendo convidados a escolherem o lugar que quisessem para começar.
Em cada grupo, encontravam-se cópias do início de uma história hilariante ou de
aventura. Cada estação tinha uma história diferente, sendo dado à partida o
título, uma imagem e a primeira frase, a qual impunha a necessidade de
exercitação do tempo verbal em questão. Seguidamente apresento o início das
quatro histórias.
¡Qué susto!
Hoy, por la mañana, cuando salía de casa, Paco se ha dado cuenta de que alguien lo seguía
y ha empezado a correr.
¡Un día escalofriante!
Juan ha terminado el día de una forma aterradora, colgado de un rascacielos. Todo ha
empezado así: a las nueve de la mañana…
38
«Estaciones de escritura» consistiu no seguinte: em cada estação
existiam várias cópias da mesma história. Os alunos tinham três minutos para,
individualmente, ler o que já estava escrito e acrescentar duas frases à história.
Quando terminavam, tocavam o sino que se encontrava nessa estação e,
terminados os três minutos, passavam à estação seguinte, onde todo o processo
recomeçava com uma nova história. Note-se que, nas últimas estações, a tarefa
era mais difícil pelo facto de o texto a ler e a completar ser já mais longo, dados
os contributos dos alunos que anteriormente tinham passado por esses textos.
O enquadramento desta atividade de escrita no contexto daquilo que
hoje sabemos de educação diferenciada por sexo com rapazes é, desde logo,
evidente pela inclusão de movimento numa tarefa habitualmente estática (a
expressão escrita). Se recordamos tudo o que foi explicado no capítulo anterior,
em particular as diferenças estruturais ao nível do cerebelo e do sistema límbico
e as diferenças hormonais, compreendemos facilmente o que Gurian (2011)
define como «the likelihood of boredom» em indivíduos do sexo masculino.
Given the reality of what is happening to middle school students’ bodies
and brains, it is essential that we consider increasing physical movement
¡Una aventura con Cristiano Ronaldo!
Hoy, al final del día, Clara ha conseguido finalmente conocer a Cristiano Ronaldo. ¡Pero ha
sido muy difícil! Por la mañana…
¡Peligro en el mar!
Pedro está de vacaciones en Brasil. Hoy, por la mañana ha ido a la playa y ha decidido nadar
un poco, pero no se ha dado cuenta de que muy cerca había un tiburón.
39
during the school day. Movement helps release pent-up energy, cut down on
discipline problems, and stimulate the bored or zoning-out brain. (Gurian,
2011:245)
Esta foi, portanto, uma atividade em movimento e, de novo, bastante
estruturada. Os alunos sabiam que tinham exatamente três minutos (projetados
com o cronómetro-bomba) para escrever precisamente duas frases, utilizando
um tempo verbal específico. Estas instruções claras e precisas incluíam também
um alerta relativamente ao cuidado com a caligrafia e um sistema de pontuação,
já que a cada aluno era atribuído um ponto em cada estação sempre que
conseguia atingir o objetivo de escrever duas frases em três minutos. A utilização
deste sistema de pontuação, bem como das campainhas para sinalizar o final da
tarefa em cada estação, funcionaram como uma estratégia de controlo da minha
parte, para garantir um trabalho efetivo e não apenas a diversão de circular pela
sala de três em três minutos.
Refira-se, ainda, que, do ponto de vista auditivo, uma atividade desta
natureza exigiu a utilização de um tom de voz firme e claramente projetado nas
instruções ao longo de toda a aula. Este é também um aspeto particularmente
pertinente se recordarmos as diferenças descritas ao nível da audição.
Um outro ponto interessante no que toca a esta atividade foi o facto de
ter sido dada aos alunos a possibilidade de escolherem livremente a estação de
partida. Sem conhecerem o objetivo desta investigação-ação, a turma sentou-se
espontaneamente em grupos diferenciados por sexo (dois grupos de rapazes e
dois grupos de raparigas). Neste contexto, refira-se que todos os que estão no
terreno já observaram como, muito naturalmente, os alunos se agrupam
inconscientemente por sexo nos intervalos e frequentemente em atividades
letivas. Gurian (2011:206) comenta, aliás, este ponto. “This continues throughout
K-12 education and indeed throughout adulthood. Men and women enjoy each
other’s company, but they often find it much easier to do things only with their
own sex.”
Veja-se, no entanto, que neste agrupamento inconsciente por parte dos
alunos do 8ºA houve uma exceção. Tal como foi descrito no primeiro capítulo,
esta turma tem um aluno com necessidades educativas especiais a nível motor,
movimentando-se numa cadeira de rodas. Este aluno sentou-se num grupo
40
feminino. Como tive a oportunidade de observar, o mesmo aconteceu ao longo
do ano durante os tempos não letivos. Este rapaz passava o tempo com as
raparigas da turma, que assumiram o papel de suas cuidadoras. Os rapazes nem
sequer precisaram de se esforçar por melhorar as suas competências a este
nível, pois as raparigas estavam lá e resolviam o problema. À luz deste episódio,
pude compreender porque autores como Sax (2005) e Calvo (2007) insistem que
um sistema educativo insensível às questões do sexo reforça os estereótipos
socioculturais. Se esta fosse uma turma exclusivamente masculina, os rapazes
seriam obrigados a desenvolver alguma empatia pelo seu colega de cadeira de
rodas. Quanto mais não seja, seriam encorajados pelos professores da turma, o
que não aconteceu porque o problema já estava resolvido (pelas raparigas).
Fig.5: «Estaciones de escritura» Fig.6: «Estaciones de escritura»
Fig.7: «Estaciones de escritura»
A segunda atividade do segundo ciclo de investigação-ação com a turma
de espanhol («Publicación personal en un blog») foi uma atividade desenhada
com base nas características de aprendizagem tendencialmente mais femininas.
41
De novo, procurei alargar e aprofundar as estratégias utilizadas no primeiro ciclo,
desta vez desviando as ligações emocionais da atenção dirigida ao outro (no
primeiro ciclo a paciente oncológica Paula) para desenvolver o tema das
preferências pessoais dos alunos.
Ao blog criado demos o título «5 sitios que tienes que ver en mi ciudad».
Como foi acima referido, estávamos a trabalhar o tema «La ciudad». Assim, foi
pedido aos alunos que escolhessem os seus lugares preferidos na sua própria
cidade. Em seguida, deveriam escrever uma publicação para o blog,
descrevendo cinco desses locais e explicando as razões da sua escolha.
A esta personalização da atividade aliou-se um ambiente de trabalho
mais descontraído, sem a necessidade das instruções rápidas e firmes e do tom
de voz projetado da atividade anterior. Para além disso, não houve limites de
tempo e todos os alunos puderam solicitar a ajuda e a orientação por parte da
professora sempre que o desejaram. Terminada a atividade de escrita em si, foi
sugerido aos alunos que visitassem os locais escolhidos e que tirassem algumas
fotografias para ilustrar os seus textos.
Fig.8: «Publicación personal en un blog»
42
3.5 Análise e reflexão sobre os resultados obtidos
Tal como explicado no início deste capítulo, os dados para análise foram
recolhidos de duas formas: observação direta com registo no diário da professora
e questionários aos alunos no final de cada uma das intervenções.
Relativamente aos dois ciclos de investigação-ação desenvolvidos com
a turma de espanhol, pude constatar que todos os alunos (raparigas e rapazes)
aderiram muito bem a todas as atividades propostas, provavelmente devido aos
fatores “surpresa” e “novidade”, o que, desde logo, me fez refletir sobre dois
aspetos. Por um lado, uma investigação desta natureza teria seguramente
beneficiado de uma intervenção mais dilatada no tempo e com a recolha de
dados relativos a resultados académicos, o que, por várias razões já
mencionadas, não foi possível.
Por outro lado, terminada a intervenção com a turma de espanhol e ainda
antes da análise dos questionários, constatei no terreno a enorme complexidade
do tema escolhido, desde logo pelo facto das variações intrassexuais se
cruzarem com as diferenças intersexuais. Através da observação direta, pude
concluir que, com maior ou menor intensidade, ambos os sexos necessitam da
implementação de estratégias que incluam, por exemplo, movimento ou ligações
emocionais. Como já foi mencionado, na diferenciação de estratégias por sexo,
baseamo-nos em tendências que podem (ou não) estar próximas das
características individuais de cada aluno.
No entanto, ainda no que toca a recolha de dados por observação direta,
houve um episódio digno de registo tanto da minha parte, como da parte da
minha orientadora. Durante a realização das «Estaciones de escritura»
(atividade direcionada para o estilo de aprendizagem tendencialmente mais
masculino), fomos ambas surpreendidas pelo fantástico desempenho de um
aluno habitualmente problemático. O seu empenho foi extraordinário, tendo
cumprido corretamente todas as tarefas em todas as estações e chegando
mesmo a utilizar o dicionário, muito focado na atividade pela pressão de tempo
imposta.
Os questionários permitiram também a recolha de dados muito
interessantes. No que toca à primeira atividade do primeiro ciclo («Competición
43
de escritura», atividade direcionada para os rapazes), vejam-se os dados da
seguinte tabela.
«Competición de escritura»
RAPARIGAS
RAPAZES
Gostaram de realizar a atividade
62,5% 70%
Consideraram a atividade mais fácil do que
habitualmente
62,5% 80%
Consideraram terem trabalhado com mais
empenho do que habitualmente
87,5% 60%
Tabela 3: Dados relativos à atividade «Competición de escritura» (Primeiro Ciclo – Espanhol)
Quando interrogados sobre se tinham gostado de realizar esta atividade,
responderam afirmativamente 62,5% das raparigas e 70% dos rapazes. Além
disso, 80% dos indivíduos do sexo masculino consideraram que esta atividade
de expressão escrita foi mais fácil de realizar do que habitualmente, frente a
62,5% dos indivíduos do sexo feminino. No entanto, quando interrogados sobre
o seu empenho comparativamente a outras atividades de expressão escrita,
87,5% das raparigas afirmaram terem-se empenhado mais, frente a 60% dos
rapazes. Analisando estes dados, parece-me pertinente destacar os seguintes
aspetos. O ponto em que os rapazes mais se distanciam das raparigas é o que
se refere ao grau de dificuldade da tarefa. Para eles, uma situação de pressão
não foi avaliada como uma situação difícil, bem pelo contrário. Veja-se, além
disso, que o facto de estarem centrados num objetivo muito específico poderá
também ter contribuído para esta situação. O segundo ponto que constatei ao
analisar estes dados foi o seguinte: apesar de a percentagem de raparigas que
gostaram da atividade e a acharam mais fácil de realizar ser menor do que a
percentagem masculina, os dados invertem-se relativamente ao empenho. Estes
dados reenviaram-me imediatamente para o estudo de Pomerantz et al. (2002),
citado no capítulo anterior. Sobrepondo as percentagens das diferentes
44
respostas, estes questionários dizem-nos que uma percentagem das raparigas
não gostou da atividade, não a achou mais fácil do que outras atividades de
expressão escrita, mas ainda assim trabalhou com mais empenho.
Simultaneamente uma percentagem de rapazes gostou da atividade,
considerou-a mais fácil mas, contudo, isso não se traduziu em maiores níveis de
empenho. Estes dados vêm reforçar as conclusões do referido estudo. Mesmo
em situações de tensão emocional, regista-se uma tendência feminina para
suportar o sofrimento e cumprir com o que é solicitado, numa tentativa de
corresponder às expectativas de terceiros, neste caso, os pais e os professores.
Ainda no primeiro ciclo, relativamente à «Carta a Paula» (atividade
direcionada para as raparigas), os questionários permitiram obter os seguintes
dados.
«Escribir una carta a Paula»
RAPARIGAS
RAPAZES
Gostaram de realizar a atividade
100% 100%
Consideraram a atividade mais fácil do que
habitualmente
88,8% 70%
Consideraram terem trabalhado com mais
empenho do que habitualmente
88,8% 90%
Valorizaram o facto de se tratar de uma carta real para
uma pessoa real
77,7% 40%
Tabela 4: Dados relativos à atividade «Escribir una carta a Paula» (Primeiro Ciclo – Espanhol)
De acordo com a informação recolhida, toda a turma gostou de realizar
esta atividade (100% dos indivíduos de ambos os sexos). Quando interrogados
sobre se esta atividade foi mais fácil de realizar do que outras atividades de
expressão escrita, 88,8% das raparigas responderam afirmativamente, frente a
45
70% dos rapazes. Relativamente ao facto de se terem empenhado mais do que
habitualmente, as percentagens de ambos os sexos estão muito próximas, tendo
respondido afirmativamente 88,8% dos indivíduos do sexo feminino e 90% dos
indivíduos do sexo masculino. Em termos de avaliação geral da atividade, parece
não haver grande distinção entre os dois sexos. Há, no entanto, um ponto
específico em que a variação surge de forma expressiva. Quando interrogados
sobre as características específicas desta atividade, 77,7% das raparigas
afirmaram terem gostado sobretudo do facto de se tratar de uma carta real para
uma pessoa real, um aspeto referido por apenas 40% dos rapazes. Recorde-se
que este era o principal objetivo da atividade em questão: potenciar o
envolvimento numa atividade de expressão escrita, partindo da ligação
emocional a uma pessoa real.
Relativamente ao segundo ciclo, no que se refere às «Estaciones de
escritura» (atividade direcionada para os rapazes), vejam-se os seguintes dados.
«Estaciones de escritura»
RAPARIGAS
RAPAZES
Gostaram de realizar a atividade
100% 100%
Consideraram a atividade mais fácil do que
habitualmente
44,5% 90%
Consideraram terem trabalhado com mais
empenho do que habitualmente
66,7% 80%
Tabela 5: Dados relativos à atividade «Estaciones de escritura» (Segundo Ciclo – Espanhol)
A informação recolhida reflete uma maior variação entre os sexos,
possivelmente pela introdução do fator “movimento”. Apesar de toda a turma ter
gostado de realizar esta atividade (100% dos indivíduos de ambos os sexos),
quando interrogados sobre se atividade tinha sido mais fácil de realizar do que
habitualmente, 90% dos rapazes respondeu afirmativamente, frente a 44,5% das
46
raparigas. Relativamente a um maior empenho quando comparando esta
atividade com outras atividades de expressão escrita, 80% dos indivíduos do
sexo masculino afirmaram terem-se empenhado mais (tal como ficou registado
inicialmente através da observação direta), frente a 66,7% dos indivíduos do
sexo feminino. A reflexão sobre estes dados permite-me destacar dois pontos.
Comparativamente ao primeiro ciclo, a introdução de movimento fez disparar as
respostas masculinas afirmativas quanto à facilidade na realização da tarefa e
ao maior empenho. Como qualquer professor saberá a partir da sua experiência
docente, tal não teria seguramente acontecido se a atividade fosse apenas
escrever oito frases com o «pretérito perfecto». Por outro lado, note-se que, à
semelhança do que aconteceu na atividade dirigida a rapazes no primeiro ciclo,
sobrepondo as percentagens das diferentes respostas, podemos afirmar que
uma percentagem das raparigas não considerou a atividade mais fácil do que
outras atividades de expressão escrita, mas ainda assim trabalhou com mais
empenho. Inversamente, e tal como anteriormente, uma percentagem de
rapazes gostou da atividade, considerou-a mais fácil mas, contudo, isso não se
traduziu em maiores níveis de empenho.
Na segunda atividade do segundo ciclo («Publicación personal en un
blog» dirigida às raparigas), recolheram-se os seguintes dados.
«Publicación personal en un blog»
RAPARIGAS
RAPAZES
Gostaram de realizar a atividade
100% 90%
Consideraram a atividade mais fácil do que
habitualmente
88,8% 80%
Consideraram terem trabalho com mais empenho do que
habitualmente
88,8% 60%
Tabela 6: Dados relativos à atividade «Publicación personal en un blog» (Segundo Ciclo –
Espanhol)
47
De acordo com a informação recolhida, 100% dos indivíduos do sexo
feminino afirmaram terem gostado de realizar esta atividade, frente a 90% dos
indivíduos do sexo masculino. Quando interrogados sobre se esta atividade de
expressão escrita tinha sido mais fácil de realizar do que habitualmente, 88,8%
das raparigas responderam afirmativamente, frente a 80% dos rapazes.
Relativamente ao facto de terem trabalhado com um maior empenho,
registaram-se 88,8% de respostas femininas afirmativas, frente a 60% de
respostas masculinas afirmativas. De novo, o reconhecimento de um maior
empenho é menor no caso dos rapazes, apesar de uma alta percentagem de
indivíduos do sexo masculino ter considerado esta atividade fácil. No entanto, é
curioso notar que nesta atividade, bem como na atividade baseada nas
características femininas do primeiro ciclo («carta a Paula») já não se regista no
caso das raparigas a relação inversa observada nas atividades dirigidas aos
rapazes. Nas atividades desenhadas especificamente para os indivíduos do
sexo feminino, as altas percentagens de empenho ocorrem em paralelo com
altas percentagens no interesse pela atividade e na avaliação da tarefa como de
fácil execução. Em suma, este projeto de investigação-ação permitiu-me tomar
consciência de que, tendencialmente, as raparigas procuram empenhar-se em
qualquer situação. Por essa razão, a utilização de estratégias diferenciadas por
sexo dirigidas aos indivíduos do sexo feminino visam, não tanto potenciar o
empenho, mas sobretudo reduzir a tensão emocional, tornando as atividades
mais apelativas aos olhos das alunas.
Como foi afirmado anteriormente, o facto de a intervenção na turma de
espanhol incidir sobre a mesma competência linguística (expressão escrita)
permitiu uma análise de dados mais fácil e transparente. Assim, pelo facto de,
em linhas gerais, praticamente todos os alunos de ambos os sexos terem
mostrado interesse por todas as tarefas, num último questionário, pedi-lhes que
recordassem as quatro atividades de expressão escrita realizadas ao longo do
projeto e que as numerassem de acordo com as suas preferências. Na tabela
seguinte encontram-se os dados relativos à atividade de que mais gostaram.
48
Atividade de que mais gostaram
RAPARIGAS
RAPAZES
«Competición de escritura»
22,3%
«Escribir una carta a Paula»
77,7% 10%
«Estaciones de escritura»
80%
«Publicación personal en un blog»
10%
Tabela 7: Dados relativos à atividade de que mais gostaram (Primeiro e Segundo Ciclos –
Espanhol)
Como se pode ver, 77,7% das raparigas elegeram em primeiro lugar
«Carta a Paula», atividade baseada nas características de aprendizagem
tendencialmente femininas, e 80% dos rapazes escolheram «Estaciones de
escritura», atividade baseada nas características de aprendizagem
tendencialmente masculinas. Assim, apesar da complexa variação intrassexual,
que explica o facto de, com maior ou menor profundidade, ambos os sexos
poderem tirar partido de todo o tipo de estratégias, as escolhas dos alunos desta
turma foram claras. Tendo que priorizar uma abordagem em concreto, os
indivíduos do sexo masculino elegeram de forma expressiva a atividade que
incluía movimento e tensão emocional, enquanto os indivíduos do sexo feminino
deram prioridade à atividade baseada na sua tendência natural para sentir
empatia e criar ligações emocionais.
49
CAPÍTULO IV
4.1 A turma de Inglês
Em termos cronológicos, a intervenção com o grupo de inglês (10ºF)
seguiu-se à implementação do projeto com a turma de espanhol, o que permitiu
a adaptação de estratégias utilizadas anteriormente sempre que estas se
traduziram em resultados positivos. Tal como foi descrito com detalhe no
primeiro capítulo, ao contrário do que aconteceu com o grupo de alunos anterior,
com esta turma a investigação-ação incidiu sobre competências linguísticas
distintas consoante o sexo dos alunos. Pelas razões explicadas anteriormente,
o meu objetivo era, por um lado, otimizar o envolvimento e a participação dos
rapazes em atividades de compreensão e expressão escritas e, por outro,
potenciar o envolvimento e a participação das raparigas em atividades de
expressão oral. À semelhança do que aconteceu com o grupo de espanhol,
foram delineados dois ciclos de intervenção, cada um dos quais com uma
atividade dirigida aos indivíduos do sexo feminino e outra dirigida aos indivíduos
do sexo masculino.
4.2 Primeiro Ciclo
Na calendarização do projeto com a turma de inglês, ambos os ciclos
coincidiram, em termos da programação oficial, com o tema macro «Teenagers»,
dividido, como veremos, em vários subtemas. Mais uma vez, haveria, pois, que
conciliar esta programação com a didática do inglês (língua estrangeira) e com
a utilização de estratégias diferenciadas por sexo. Deste cruzamento resultaram,
no primeiro ciclo, duas atividades: «Reading and Writing Stations» (realizada a
11/03/2014) e «People who inspire us» (realizada a 13/03/2014).
«Reading and Writing Stations» foi uma atividade desenhada tendo em
conta as características de aprendizagem tipicamente masculinas. Apesar de a
expressão escrita estar também incorporada nesta atividade, este ciclo incidiu
sobretudo sobre compreensão escrita, tendo sido adiada a intervenção com a
outra competência linguística para o segundo ciclo.
50
Esta atividade retomou algumas das estratégias utilizadas em
«Estaciones de escritura», com adaptações à faixa etária deste grupo de alunos.
De novo, o principal objetivo foi, pelas razões explicadas no capítulo II, introduzir
movimento numa atividade habitualmente estática (neste caso, a leitura).
The educational system and the individual classroom are not as well
designed for male brain development as for female. The system comprises
mainly female teachers who have not received training in male brain
development and performance; it relies on less kinaesthetic, relatively
unmentored, and less disciplined educational strategies than many boys
need. (Gurian, 2011:57)
A esta estratégia principal associaram-se a realização de tarefas
subdivididas em vários passos bem estruturados e a pressão imposta por limites
de tempo. Em termos da programação oficial, «Reading and Writing Stations»
coincidiram com o tema macro «Teenagers» e com o subtema «Young
wonders». Quando chegaram para a aula, os alunos encontraram a sala
organizada em quatro estações. Em cada estação estavam várias cópias do
mesmo texto, porém cada grupo tinha um texto diferente. Tratavam-se de quatro
textos adaptados de http://mag.amazing-kids.org, com quatro histórias de
rapazes fantásticos: Sarthak Sinha, cientista e investigador; Sam Holman,
ativista pela cura da diabetes tipo 1; Samuel Lam, fundador de uma organização
de combate ao bullying digital; Perry Chen, crítico cinematográfico. À chegada
os alunos receberam um conjunto de perguntas sobre estes quatro rapazes, às
quais só conseguiriam responder circulando pelas várias estações e lendo os
diferentes textos. Tinham oito minutos em cada estação para ler um novo texto
e realizar três exercícios de compreensão. Quando terminavam, sinalizavam o
cumprimento da tarefa tocando a campainha da estação em que se
encontravam. Terminado o tempo, todos os alunos se levantavam e passavam
à estação seguinte, onde o processo recomeçava.
Para além de potenciar um maior processamento cognitivo (sobretudo
nos rapazes) pela inclusão de movimento, veja-se que, com este formato de
atividade, comparando-o com uma aula tradicional, os alunos trabalharam quatro
vezes mais praticamente no mesmo período de tempo. Como foi descrito no
51
primeiro capítulo, de acordo com o questionário do ciclo zero, sabemos que as
competências linguísticas de que os rapazes desta turma menos gostam são a
compreensão e a expressão escritas. No entanto, para além de potenciar o
envolvimento dos alunos, esta atividade oferece a possibilidade de ler não um
texto, mas quatro (um texto diferente em cada estação).
Fig.9: «Reading and Writing Stations» Fig.10: «Reading and Writing Stations»
Fig.11: «Reading and Writing Stations» Fig.12: «Reading and Writing Stations»
A segunda atividade do primeiro ciclo de investigação-ação com a turma
de inglês foi «People who inspire us», uma atividade desenhada a partir das
características de aprendizagem tendencialmente mais femininas. Como
explicado no primeiro capítulo, a fase inicial de observação permitiu o registo da
enorme diferença em termos de participação oral entre os dois sexos, sendo as
intervenções dos rapazes bastante mais expressivas do que as das raparigas.
Foi, aliás, muito interessante encontrar referências precisas a este aspeto na
bibliografia consultada.
Boys tend to be louder, more physically aggressive, and more prone to
attention-getting devices in classrooms than are girls, resulting in more
teacher attention going to boys. (…) In some classrooms, boys dominate
discussions and girls’ voices are lost. (Gurian, 2011:55)
52
Como expliquei no capítulo anterior, o objetivo da educação diferenciada
por sexo é justamente a diferenciação de estratégias que tirem partido das
diferentes potencialidades de rapazes e raparigas e reduzam as suas diferentes
limitações. Assim, no que toca a esta atividade, procurei reduzir a tensão e
minimizar a tendência feminina para subestimar as suas capacidades. Tal como
foi explicado no capítulo anterior, ao contrário do que acontece com os indivíduos
do sexo masculino, devido à influência do sistema nervoso parassimpático, o
aumento da pressão tende a ter um efeito prejudicial nos indivíduos do sexo
feminino, o que está diretamente relacionado com a autoestima e a autoimagem,
como demonstra o estudo de Altermatt, Pomerantz & Saxon (2002),
detalhadamente explicado no capítulo II.
Girls on average outperform boys in school (…), in most subjects and
in all age groups. (…) Paradoxically, girls are more likely to be excessively
critical in evaluating their own academic performance. (…) You need to
encourage girls and build them up. Boys on the other hand more often need
a reality check. (Sax, 2005:113)
A consciência relativamente a estes pontos traduziu-se na prática nos
seguintes aspetos. A atividade de expressão oral proposta realizou-se em
pequenos grupos, como forma de reduzir a pressão e a maior exposição a que
estão sujeitos os alunos em atividades com toda a turma. Além disso, à chegada,
foi-lhes pedido que se organizassem segundo as suas preferências, escolhendo
um grupo em que se sentissem à vontade. Tal como aconteceu com a turma de
espanhol, esta turma organizou-se espontaneamente em grupos diferenciados
por sexo, à exceção de um rapaz que se juntou a um grupo feminino. Mais tarde
soube que esse aluno era primo de uma das raparigas do grupo e que tinha uma
relação muito próxima com ela e com as suas amigas; em suma, uma relação
diferente da habitual entre colegas de turma. Para além de reduzir a tensão
emocional, a organização em pequenos grupos escolhidos pelos alunos
comporta ainda outra vantagem para as raparigas ao nível do processamento
cognitivo. Exames imagiológicos atuais revelaram que, na comunicação cara a
cara, os indivíduos do sexo feminino ativam em média entre catorze e dezasseis
53
pontos distintos em ambos os hemisférios, enquanto os indivíduos do sexo
masculino ativam apenas quatro a sete desses pontos (Calvo, 2007:43).
Para além de minimizar as limitações das raparigas, havia que tirar
partido dos seus pontos fortes, neste caso a vantagem emocional. Como
explicado no capítulo anterior, ao contrário do que acontece com os rapazes,
emoções e linguagem vão de mão dada no caso das raparigas. Sendo o meu
principal objetivo nesta atividade desenvolver a linguagem, mais concretamente
a expressão oral, haveria que tirar partido das ligações emocionais. Em termos
da programação oficial continuávamos com o tema «Teenagers», mas desta vez
o subtema a trabalhar era «People who inspire us». Assim, os alunos foram
desafiados a construir um mural na parede da sala de aula com as pessoas que
mais admiravam, explicando as razões da escolha e a importância dessas
pessoas na sua vida. Apesar do resultado final ter tido um grande impacto visual,
este mural foi, na realidade, o pretexto para a atividade de expressão oral. Nos
grupos acima referidos, cada aluno deveria apresentar a pessoa que
considerava a sua fonte de inspiração, justificando as razões da sua escolha e a
importância dessa pessoa na sua vida pessoal. No entanto, foi explicado
previamente que cada aluno iria construir a parte do mural de um colega do
mesmo grupo, pelo que a comunicação através da competência linguística em
questão era fundamental para o sucesso da atividade.
Fig.13: Mural «People who inspire us»
Chegados a este ponto, e à semelhança do que acontecera com a
intervenção com o grupo de espanhol, era evidente a necessidade de aprofundar
e alargar as estratégias utilizadas, dada a questão inicial deste projeto de
54
investigação-ação. Assim, foi calendarizado um segundo ciclo, como forma de
otimizar o trabalho iniciado na primeira fase.
4.3 Segundo Ciclo
O segundo ciclo da intervenção com o grupo de inglês teve início a
dezoito de Março, com uma atividade desenhada a partir das características de
aprendizagem tendencialmente mais femininas: «Group discussion: Think - Pair
– Share». Refira-se, desde já, que esta estratégia é importada das teorias do
ensino cooperativo, em concreto das propostas dos investigadores da
Universidade de Maryland. Recordando o trabalho de Taylor et al. (2000),
detalhadamente explicado no capítulo anterior, o padrão comportamental dos
indivíduos do sexo feminino perante situações de stress caracteriza-se com
frequência pela procura de proteção e afiliação (“tend-and-befriend”). Este
padrão comportamental enquadra-se num formato altamente cooperativo, daí
que as teorias do ensino cooperativo funcionem como uma mais-valia ao nível
da definição de estratégias diferenciadas por sexo com raparigas.
No que se refere à programação oficial, esta atividade coincidiu com o
tema «Teenagers» e com o subtema «Teens helpline». Dado que na atividade
«Carta a Paula» as alunas da turma de espanhol valorizaram de forma muito
expressiva o facto de Paula ser uma pessoa real com um problema real,
privilegiei este aspeto no desenho desta atividade. Assim, a partir do website
www.reachout.com, reuni quatro histórias reais de adolescentes com os
problemas mencionados na programação de inglês e preparei envelopes
coloridos, com uma cor para cada história. Refira-se que todos os pormenores
relacionados com a utilização de cores pretenderam tirar partido das diferenças
ao nível da visão descritas no capítulo anterior, em particular do predomínio de
células de tipo P na retina feminina (Sax, 2005). Mantendo os grupos
previamente escolhidos pelos alunos, cada elemento do grupo ficou com um
envelope de cor diferente, logo com uma história diferente.
55
Fig.14: Histórias «Think-Pair-Share»
Na primeira fase («think»), foi pedido aos alunos que lessem a história,
detetassem o problema do adolescente envolvido e refletissem sobre a sua
opinião pessoal acerca do problema em questão e acerca das decisões do
adolescente envolvido nessa história. Se assim o desejassem, tinham também
a possibilidade de, nesta fase inicial, tomar algumas notas. Tanto eu como a
minha orientadora registámos que as raparigas se detiveram mais tempo nesta
primeira fase, tendo os rapazes partido quase imediatamente para a troca de
ideias. As fases seguintes («pair-share») concretizaram a discussão
propriamente dita. Neste momento de interação oral, cada aluno partilhou com
os restantes elementos do grupo a história com que ficou e a sua visão sobre o
problema em questão. O primeiro momento da discussão realizou-se em pares
(«pair»), funcionando como um ensaio para a discussão em grupo («share»). O
objetivo desta estratégia é precisamente que haja um avanço gradual na
autoconfiança ao nível da expressão oral perante um público progressivamente
mais alargado. Não se pretende de todo, proteger continuamente a exposição
das raparigas das situações que elas próprias avaliam como situações de risco,
nomeadamente a expressão oral perante toda a turma. Pretende-se, pelo
contrário, desconstruir esses receios e gradualmente introduzir o risco e a tensão
até ao ponto em que raparigas e rapazes participam da mesma forma em grande
grupo. Como veremos mais à frente, uma das limitações deste projeto foi o curto
período de intervenção, o que não permitiu a conquista destes objetivos de
médio e longo prazo.
A segunda atividade do segundo ciclo da intervenção com a turma de
inglês foi uma atividade desenhada tendo em consideração as características de
aprendizagem tendencialmente mais masculinas. Como anteriormente
explicado, pelo facto desta intervenção procurar potenciar o envolvimento e a
56
participação dos rapazes em duas competências linguísticas, dei prioridade, no
primeiro ciclo, à compreensão escrita, para trabalhar agora, com a atividade
«Writing Competition», a expressão escrita. Tratou-se de uma atividade
semelhante à «Competición de escritura» realizada com o grupo de espanhol,
no entanto, mais demorada e com menos especificações ao nível das estruturas
linguísticas utilizadas, pelo facto de se tratar de um grupo de alunos mais velhos
e com um nível de língua mais avançado.
Pelas razões apresentadas anteriormente, mantive o mesmo formato de
competição descrito com a turma de espanhol, impondo bastante pressão à
atividade, quer pelas instruções verbais num tom de voz firme e muito projetado,
quer pela utilização de limites de tempo com o cronómetro-bomba. No que toca
à programação oficial, «Writing Competition» coincidiu com o tema «Teenagers»
e o subtema «Young Business». Tratando-se este grupo de alunos de uma turma
do curso de ciências socioeconómicas, o desafio foi a construção de um folheto
publicitário da sua própria empresa. Outro aspeto recuperado da intervenção
com o grupo de espanhol foi o folheto em si. Tratou-se novamente de uma
construção em «scrapbooking» com quatro páginas que se desdobravam
continuamente até voltarem à página inicial; em suma, um folheto altamente
apelativo ao nível da manipulação de materiais. Outro aspeto também
recuperado foi a utilização de uma lista de passos a seguir, com a especificação
de tempo máximo e número mínimo de palavras para cada um dos passos.
Neste contexto, recorde-se que os indivíduos do sexo feminino ativam
simultaneamente várias áreas cerebrais, movimentando a informação por
diferentes zonas durante o seu processamento, sendo, por isso,
tendencialmente capazes da realização de múltiplas tarefas em simultâneo. Por
outro lado, os indivíduos do sexo masculino, desde logo pela maior lateralização
de funções explicada no capítulo anterior, tendem a ser altamente focados na
tarefa que realizam. A utilização de uma lista de passos a seguir bem estruturada
foi uma forma de tirar proveito desta característica tendencialmente masculina.
Quite often a girl’s response to a situation is more complex than a
boy’s. Males tend to manage stimulants with more of what is called “task
focus”. Because the male brain is not as activated in as many places, it
becomes overwhelmed by stimulation more quickly than the female, causing
57
it to decide on the importance of stimulants for their necessity to a task at
hand. A lot goes untouched by the male brain because it does not attend to
those things, preferring to manage stimulation by “sticking to a plan”. The
advantage in this is a quick, direct route to a goal. (Gurian, 2011:29)
Este aspeto esteve diretamente relacionado com outra estratégia
implementada nesta atividade: a utilização de equipas (os mesmos grupos
definidos anteriormente pelos alunos). Registe-se que, desconhecendo esta
referência bibliográfica, a minha orientadora, enquanto observava o decorrer da
atividade comentou com total exatidão o que está descrito em termos das
diferentes dinâmicas entre raparigas e rapazes ao nível do trabalho de grupo,
congratulando-se com o excelente desempenho das equipas masculinas.
Both girls and boys benefit from learning teams and group work, with
boys tending to create structured teams and girls forming looser
organizations. Boys spend less time than girls managing team process,
picking leaders quickly and focusing right away on goal orientation. (Gurian,
2011:49)
Fig.15: «Writing Competition» Fig.16: «Writing Competition»
Fig.17: Lista de passos de um rapaz («Writing Competition»)
58
4.4 Análise e reflexão sobre os resultados obtidos
De novo, os dados para análise foram recolhidos de duas formas:
observação direta com registo no diário da professora e questionários aos alunos
no final de cada uma das intervenções.
Relativamente ao que pôde ser observado durante a realização das
tarefas propostas, tanto eu como a minha orientadora pudemos registar que,
nesta turma, os grupos masculinos foram sempre mais rápidos nas diferentes
atividades. Este aspeto vai ao encontro da bibliografia consultada, que destaca
as vantagens e as desvantagens desta característica. Por um lado, veja-se que,
sendo o cérebro masculino mais focalizado, os indivíduos deste sexo
habitualmente são mais rápidos na conquista de objetivos específicos. Por outro
lado, esta particularidade pode ser uma desvantagem quando a atividade é
pouco estruturada. A necessidade de rapidamente entrar em ação e atingir o
objetivo proposto é frequentemente acompanhada por alguma negligência
relativamente às fases de reflexão e planificação, tal como pôde ser observado
na atividade «Think-Pair-Share», em que os grupos masculinos avançaram
imediatamente para a discussão sem tirar partido da fase inicial. Como se viu,
foi por esta razão que as atividades baseadas nas características de
aprendizagem tendencialmente masculinas foram altamente estruturadas.
Refira-se, porém que o objetivo não é evitar que os rapazes participem em
atividades mais livres. Tal como foi explicado relativamente à gradual exposição
das raparigas a situações de maior risco, também, neste caso a intenção
pedagógica é começar com atividades altamente estruturadas e gradualmente ir
retirando os apoios estruturantes, desenvolvendo nos rapazes a médio e longo
prazo a capacidade de ponderação e planificação antes de partir para a ação.
Relativamente aos dados recolhidos através de questionários aos alunos
no final de cada atividade, refira-se que com o grupo de espanhol foram
consideradas todas as respostas (femininas e masculinas) para as quatro
atividades desenvolvidas ao longo dos dois ciclos. Este procedimento foi lógico
pois o objetivo era potenciar o envolvimento e a participação dos alunos
relativamente à mesma competência linguística (expressão escrita). No caso da
turma de inglês, esta questão não pôde ser tratada nos mesmos moldes. A
competência linguística em que se pretendeu otimizar os níveis de envolvimento
59
e participação das raparigas tratava-se de uma competência em que os rapazes
apresentavam já bons níveis de desempenho e vice-versa. Por essa razão, na
análise e reflexão de resultados, considerarei, por um lado, as respostas
masculinas nas atividades dirigidas aos rapazes e, por outro lado, as respostas
femininas nas atividades dirigidas às raparigas.
No primeiro ciclo, relativamente à atividade baseada nas características
de aprendizagem tendencialmente masculinas («Reading and Writing Stations»),
recolheram-se os dados apresentados na seguinte tabela.
«Reading and writing stations»
RAPAZES
Gostaram de realizar a atividade
93,3%
Consideraram a atividade mais fácil do que habitualmente
86,6%
Consideraram terem trabalhado com mais empenho do que habitualmente
73,3%
Tabela 8: Dados relativos à atividade «Reading and writing stations» (Primeiro Ciclo – Inglês)
De acordo com a informação recolhida, 93,3% dos indivíduos do sexo
masculino gostaram de realizar a atividade, 86,6% consideraram que esta foi
mais fácil de realizar do que outras atividades da mesma competência linguística
e 73,3% consideraram que se empenharam mais do que habitualmente. Estes
dados são ainda mais interessantes se recordarmos que, em vez de um texto,
os alunos trabalharam quatro. O fator potenciador destes resultados foi muito
provavelmente a inclusão de movimento, já que o aspeto mais valorizado pelos
rapazes relativamente a «Reading and Writing Stations» foi a circulação pelas
diferentes estações. Outro ponto desta atividade de que gostaram também foi a
sinalização do final de cada série com uma campainha; em suma, atingir
rapidamente o objetivo. Curiosamente, o aspeto mais valorizado pelas raparigas
foi o facto de os textos utilizados relatarem histórias reais de adolescentes
fantásticos, um aspeto que se enquadra totalmente no que anteriormente foi
60
descrito relativamente às estratégias que mais potenciam a aprendizagem em
indivíduos do sexo feminino.
A segunda atividade do primeiro ciclo («People who inspire us») foi uma
atividade baseada nas características de aprendizagem tendencialmente mais
femininas, com o objetivo de potenciar o envolvimento e a participação das
alunas desta turma em atividades de expressão oral. Através do questionário
realizado, recolheram-se os dados apresentados na seguinte tabela.
«People who inspire us»
RAPARIGAS
Gostaram de realizar a atividade
100%
Consideraram a atividade mais fácil do que habitualmente
82%
Consideraram terem trabalhado com mais empenho do que habitualmente
82%
Tabela 9: Dados relativos à atividade «People who inspire us» (Primeiro Ciclo – Inglês)
Os dados recolhidos revelaram que 100% das raparigas gostaram de
realizar esta atividade, 82% consideraram-na mais fácil de realizar do que outras
atividades de expressão oral e 82% consideraram que se empenharam mais do
que habitualmente. O aspeto mais valorizado pelas raparigas (selecionado por
72,7%) foi o tema da atividade, ou seja, “as pessoas que mais admiramos”.
Curiosamente este ponto foi referido por apenas 28,5% dos rapazes.
O segundo ciclo arrancou com outra atividade baseada nas
características de aprendizagem tendencialmente mais femininas, desta vez
«Group discussion: Think - Pair – Share». No final, recolheu-se a informação
apresentada na seguinte tabela.
61
«Think-Pair-Share»
RAPARIGAS
Gostaram de realizar a atividade
100%
Consideraram a atividade mais fácil do que habitualmente
70%
Consideraram terem trabalhado com mais empenho do que habitualmente
60%
Tabela 10: Dados relativos à atividade «Think-Pair-Share» (Segundo Ciclo – Inglês)
De acordo com este questionário, 100% das raparigas gostaram de
realizar esta atividade e 60% consideraram que se empenharam mais do que
habitualmente. Para além disso, 70% consideraram que a atividade foi mais fácil
de realizar do que outras atividades de expressão oral. Curiosamente apenas
33,3% dos rapazes responderam afirmativamente a esta questão. Este é um
dado interessante se recordarmos a alta participação dos indivíduos do sexo
masculino em atividades de expressão oral, registada na fase de observação
inicial. Perante uma atividade desenhada a partir das características
tendencialmente femininas, a perceção masculina da competência linguística de
que mais gostam e que habitualmente acham fácil mudou.
A segunda atividade do segundo ciclo («Writing Competition») foi uma
atividade dirigida aos indivíduos do sexo masculino, relativamente à qual se
apurou a seguinte informação.
«Writing Competition»
RAPAZES
Gostaram de realizar a atividade
100%
Consideraram a atividade mais fácil do que habitualmente
66,6%
Consideraram terem trabalhado com mais empenho do que habitualmente
73,3%
Tabela 11: Dados relativos à atividade «Writing competition» (Segundo Ciclo – Inglês)
62
No questionário realizado, todos os rapazes (100%) afirmaram terem
gostado de realizar esta competição de escrita, 66,6% consideraram que a
atividade foi mais fácil de realizar do que outras atividades de expressão escrita
e 73,3% consideraram que se empenharam mais do que habitualmente.
Os resultados apresentados parecem sugerir que a importação para
situações pedagógicas das investigações mais recentes sobre as diferenças
entre os sexos a nível cognitivo e emocional poderá ser uma mais-valia. Quer na
turma de espanhol, quer na turma de inglês registou-se um aumento do
envolvimento e da participação dos alunos nas competências linguísticas que
pretendi potenciar através da implementação de estratégias diferenciadas por
sexo. No entanto, ficou também claro que esta é uma situação altamente
complexa sobretudo devido à variação pessoal a nível intrassexual.
Como foi sendo explicado ao longo deste capítulo, uma das principais
limitações deste projeto de investigação-ação foi o facto da intervenção com
ambos os grupos ter sido bastante curta em termos cronológicos. Assim, um dos
aspetos que seria interessante implementar em investigações futuras é, sem
dúvida, a definição de intervenções ao longo de períodos mais dilatados de
tempo. Este ponto está diretamente relacionado com aquela que considero a
segunda maior limitação deste projeto, ou seja, o facto de nos termos limitado a
analisar o envolvimento e a participação dos alunos, sem nunca chegar à
avaliação de resultados em termos académicos. Uma intervenção futura mais
prolongada permitirá seguramente a inclusão deste aspeto. Por exemplo, será
possível a gradual inclusão de situações de risco para as raparigas em grande
grupo, em paralelo com a avaliação do seu desempenho, e a retirada gradual
dos aspetos estruturantes nas atividades dirigidas aos rapazes com uma análise
paralela dos resultados.
63
CONCLUSÃO
Chegados ao final deste projeto de investigação-ação, retomo a questão
de partida: «Que estratégias de educação diferenciada por sexo podem
aumentar a participação e o envolvimento dos alunos nas aulas de inglês e
espanhol em contexto misto?»
Com base na investigação levada a cabo e depois desta intervenção,
podemos afirmar que tendencialmente é possível aumentar a participação e o
envolvimento dos rapazes se tirarmos partido da competição em equipas, uma
estratégia testada no primeiro ciclo da intervenção com o grupo de espanhol
(«Competición de escritura») e no segundo ciclo com a turma de inglês («Writing
competición»). Outra estratégia potenciadora do envolvimento e da participação
dos indivíduos do sexo masculino trata-se da inclusão de movimento em
atividades tradicionalmente estáticas, tal como foi possível verificar no segundo
ciclo com o grupo de espanhol, concretamente com a atividade «Estaciones de
escritura» e no primeiro ciclo com a turma de inglês, com «Reading and writing
stations». Para além das estratégias de competição e movimento, parece ser
também altamente estimulante para os indivíduos do sexo masculino a
manipulação de materiais, como tocar uma campainha, construir um produto
final ou encestar uma bola, aspetos que se prendem com outra estratégia, a
focalização clara numa meta. Note-se, aliás, que, nos últimos anos, a educação
em Portugal tem tentado especificar e tornar claros aos olhos dos alunos os
objetivos da aprendizagem, precisamente como forma de potenciar o seu
compromisso e empenho. O exemplo mais evidente desta tendência é
provavelmente a definição de «metas curriculares». A estratégia de focalização
clara num objetivo específico dentro de uma tarefa, como por exemplo tocar uma
campainha, pode ser vista como uma micro-concretização da macro-tendência
atual na explicitação dos objetivos curriculares. Como pudemos constatar
através deste projeto de investigação-ação, os rapazes responderam muito bem
à focalização numa meta no que toca a tarefas específicas, logo, é bem possível
que a explicitação clara de objetivos em termos globais seja também
potenciadora do compromisso e envolvimento dos alunos na aprendizagem em
geral. Para além dos aspetos já mencionados (competição, movimento,
manipulação de materiais e focalização numa meta), veja-se, ainda, que em
64
geral os rapazes responderam muito bem a atividades muito estruturadas em
fases iniciais (nomeadamente com a utilização de listas de passos a seguir que
vão sendo gradualmente riscados), a orientações claras num tom de voz firme e
bem projetado e à inclusão de situações de pressão (por exemplo com a
contagem decrescente de limites de tempo). Destaque-se, porém, este último
ponto pelas diferentes implicações que comporta para cada sexo. Com a grande
maioria das estratégias utilizadas de forma diferenciada, pudemos afirmar que
estas potenciam o envolvimento e a participação de um dos sexos, não tendo
esse efeito potenciador de forma tão expressiva no sexo oposto. No entanto, a
situação é distinta quando se trata da inclusão de pressão, pois, como ficou
demonstrado ao longo deste relatório, esta estratégia é por um lado
tendencialmente benéfica para os indivíduos do sexo masculino mas prejudicial
para os indivíduos do sexo feminino. Em suma, a pressão emocional deve ser
abordada, não como um fator extra na otimização de aprendizagens, mas como
um aspeto em que a diferenciação por sexo é crucial.
No que toca às estratégias dirigidas às raparigas, refira-se que a sua
participação e o seu empenho aumentaram sempre que se registou uma maior
personalização das atividades, como pudemos observar no segundo ciclo da
intervenção com a turma de espanhol («Publicación personal en un blog») e no
primeiro ciclo com o grupo de inglês («People who inspire us»). Outra estratégia
potenciadora da participação e do empenho dos indivíduos do sexo feminino foi
a inclusão e exploração das relações interpessoais e do sentimento de empatia
para com o outro, tal como se registou na atividade «Escribir una carta a Paula»
(primeiro ciclo com a turma de espanhol) e na atividade «Think-pair-share»
(segundo ciclo com o grupo de inglês). Foram também relevantes os detalhes
motivacionais, sobretudo ao nível da cor e da textura, como a utilização de
diferentes tipos de papel colorido na construção do mural «People who inspire
us» ou a apresentação dos textos dentro de envelopes na atividade «Think-pair-
share». Para além destes aspetos, parece ter sido determinante, tal como foi
referido anteriormente, a redução da pressão, por exemplo através da ausência
de limites de tempo, ou do formato da atividade, como a utilização de pequenos
grupos escolhidos pelos alunos. Por último, parece ser também uma estratégia
potenciadora do envolvimento e da participação das raparigas o reforço da
autoestima e da autoconfiança, desde logo através da criação de um ambiente
65
descontraído e de uma relação mais cuidada com o professor, numa interação
cara a cara e utilizando um tom de voz sereno.
Para além das conclusões mais óbvias, que surgem como resposta à
questão de partida deste projeto de investigação-ação, outras questões são
também merecedoras de uma reflexão final. Ficou claro para mim que, apesar
da complexidade que envolve este tema, o sexo tem implicações na forma como
percecionamos a realidade e processamos a informação; logo, tem também
implicações na aprendizagem. No entanto, ao nível da formação de professores,
apesar de haver alguma preparação quanto às diferenças cognitivas a nível
etário, esta informação não é cruzada com o fator “sexo”. Em Portugal, no século
XXI, os professores criam materiais, elaboram planificações, definem estratégias
e entram na sala de aula tendo em mente um público andrógino ou assexuado.
No entanto, à luz dos avanços atuais na investigação científica e educacional
descritos no segundo capítulo, há muito trabalho a fazer neste domínio. Por um
lado, há que explorar as características específicas de cada sexo como forma de
otimizar as situações de ensino-aprendizagem e, por outro lado, há que
reconhecer que o tratamento assexuado dos aprendentes tem reforçado os
estereótipos sexuais. O primeiro passo para uma verdadeira igualdade entre
raparigas e rapazes é o reconhecimento das diferenças. Neste contexto, parece-
me fundamental sensibilizar o corpo docente das universidades e institutos
superiores que oferecem licenciaturas e mestrados na área do ensino para a
necessidade de incluírem nos seus currículos, quer ao nível da psicologia da
educação, quer ao nível das didáticas, o que hoje sabemos sobre dimorfismo
sexual e aprendizagem. Por outro lado, é também necessário desconstruir os
tabus que envolvem a diferenciação por sexo, uma desconstrução que só será
possível através da discussão, quer em debates académicos, quer em contextos
alargados à sociedade em geral. Em Portugal, sucedem-se os relatórios que dão
conta de inúmeras situações de insucesso escolar. Olhando para o fantástico
exemplo de The Young Women’s Leadership School of East Harlem, é
lamentável que continuemos a resistir ao sucesso da implementação de projetos
de educação diferenciada por sexo com base em preconceitos ideológicos.
Assim, dadas as limitações deste projeto de investigação-ação, torna-se
necessário definir novas intervenções, com amostras populacionais mais
alargadas, com objetivos de médio e longo prazo e com a avaliação de
66
resultados académicos e não apenas motivacionais. Em suma, deste projeto
nasceu a vontade de continuar a investigação e passar à ação de uma forma
mais estruturada e continuada, contribuindo para uma melhoria efetiva do ensino
em Portugal.
67
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BLUM, D. (1997). Sex on the Brain: The Biological Differences Between Men and
Women. New York: Viking.
CALVO CHARRO, M. (2007). Iguales pero diferentes: cerebro, hormonas y
aprendizaje. España: Almuzara.
GURIAN, M. (2011). Boys and girls learn differently: a guide for teachers and
parents. San Francisco: Jossey-Bass.
JAMES, A. N. (2007). Teaching the male brain: How boys think, feel, and learn
in school. Thousand Oaks: Corwin Press.
JAMES, A. N. (2009). Teaching the female brain: How girls learn math and
science. Thousand Oaks: Corwin Press.
POMERANTZ, E. M., ALTERMATT, E. R., & SAXON, J. L. (2002). Making the
Grade but Feeling Distressed: Gender Differences in Academic Performance
and Internal Distress. Journal of Educational Psychology, 94/2, 396-404.
RICHARDS, J. C., & LOCKHART, C. (1994). Reflective Teaching in Second
Language Classrooms. New York: Cambridge University Press.
RUBIA, F. J. (2007). El sexo del cerebro: la diferencia fundamental entre
hombres y mujeres. Madrid: Temas de Hoy.
SAX, L. (2005). Why gender matters. New York: Three Rivers Press.
68
TAYLOR, S. E., KLEIN, L.C., LEWIS, B. P., GRUENEWALD, T. L., GURUNG, R.
A. R., & UPDEGRAFF, J. A. (2000). Biobehavioral Responses to Stress in
Females: Tend-and-Befriend, Not Fight-or-Flight. Psychological Review, 107/3,
411-429.
69
ANEXOS
70
Anexo 1: “Competición de escritura – Lista de pasos a seguir”
Pasos a seguir
1. Elegir 6 consejos para llevar una vida sana.
2. Empezar a escribir el texto en un
borrador. (Todos los alumnos escriben un borrador con el texto de su equipo.)
3. Utilizar… el imperativo tener que + infinitivo hay que + infinitivo deber + infinitivo 4. Escribir la versión final en el folleto. (2 consejos en cada página) 5. Utilizar imágenes y recortes.
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Anexo 2: “Estaciones de escritura”
¡Qué susto!
Hoy, por la mañana, cuando salía de casa, Paco se ha dado
cuenta de que alguien lo seguía y ha empezado a correr. _______
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¡Un día escalofriante!
Juan ha terminado el día de una forma aterradora, colgado
de un rascacielos. Todo ha empezado así: a las nueve de la
mañana _____________________________________________
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¡Una aventura con Cristiano Ronaldo!
Hoy, al final del día, Clara ha conseguido finalmente
conocer a Cristiano Ronaldo. ¡Pero ha sido muy difícil! Por la
mañana, ____________________________________________
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¡Peligro en el mar!
Pedro está de vacaciones en Brasil. Hoy, por la mañana ha
ido a la playa y ha decidido nadar un poco, pero no se ha dado
cuenta de que muy cerca había un tiburón. __________________
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Anexo 3: “Reading and writing stations - texts”
Sarthak Sinha
16-year-old Sarthak Sinha has been working in a professional laboratory for the past two
years! Sarthak has been working on regenerative medicine relating to skin traumas. In addition,
Sarthak has written abstracts, participated in the International Science and Engineering Fair, and
is an ambassador for the Multiple Sclerosis Society in Canada! (…)
Before Sarthak studied and researched at the University of Calgary, he had to overcome
many academic hurdles. After emigrating from India to Canada, Sarthak applied for a gifted
school in his community. At the time, Sarthak failed to qualify for acceptance. (…) He started
looking up the best institutions in the world and came across the University of Calgary. (…)
Sarthak never gave up, and now he is working in one of the best laboratories under the guidance
of Dr. Jeff Biernaskie and Mr. Ranjan Kumar. (…)
In addition to his innovative stem cell research, Sarthak has an impressive scientific
résumé. He has authored five scientific abstracts that have been presented at international
conferences, won a third place medal at the Intel Science and Engineering Fair, has taken
summer courses at an Ivy League school, and served as a national ambassador for the Multiple
Sclerosis Society of Canada.
One of Sarthak’s favourite accomplishments was being awarded the Neuroscience
Research Prize by the American Academy of Neurology. “It has provided me with the
opportunity to present my work at an international conference in Neuroscience”, he said.
While Sarthak views all of these as major accomplishments, his main vision is to be able
to translate sciences back to society. “In the years working for a state of the art laboratory I
missed the people’s side of the diseases,” Sarthak said. “I have recently joined Multiple Sclerosis
Friendly Visiting Program to dedicate hours to patients suffering from such devastating
disorders.”
Adapted from http://mag.amazing-kids.org/amazing-kids-of-the-month1/amazing-kids-of-the-month-june-2013-sarthak-sinha/
76
Sam Holman
Sam’s whole life changed when he was five years old. After his parents noticed odd
symptoms, like his excessive thirst, Sam was diagnosed with Type 1 diabetes, a chronic condition
in which the pancreas produces little to no insulin. However, Sam hasn’t let his illness take over
his life. In fact, he is an amazing young activist, raising awareness and money for the Juvenile
Diabetes Research Foundation (JDRF). (…)
Sam and his family first started participating in the Nordstrom Beat the Bridge to Beat
Diabetes five years ago. The event raises money for JDRF, which in turn helps fund researchers
like those in the Benaroya Research Institute. For Sam, participating in this race means that he
is one step closer to curing his disease. For his family, it means that others will understand the
illness instead of rushing to misconceived conclusions. The event “energizes us to keep fighting
and never lose hope that someday there will be a cure for Type 1 diabetes,” said Rena Holman,
Sam’s mother.
This year, Sam’s put together a team of 115 members, and they raised almost $11,000.
Combining all his years of fundraising for the event, Sam has raised over $44,000 (…) The name
of his team, called Free Sisyphus, comes from Greek mythology in which a man named Sisyphus
is cursed to roll the same boulder up a hill, push it down, and then roll it up again for eternity.
As a metaphor, Sam’s family is Sisyphus, and the rock is his diabetes management. “The rock
represents the many tasks we do each day to keep Sam healthy,” his mom said. “One day we
would like to free Sisyphus.” (…)
As with any chronic illness, it is easy to become sad or angry at the pain. However, Sam
shows us that by taking a proactive approach we can do wonders! For our readers who may be
suffering from an illness, Sam has the perfect advice to you. “Even if your future doesn’t look
bright, stay happy and energetic.”
Adapted from http://mag.amazing-kids.org/amazing-kids-of-the-month1/amazing-kids-of-the-month-
february-2014-sam-holman/
77
Samuel Lam
Over 85% of teenagers report that they have been cyber bullied, and most of these teens
don’t tell a trusted adult. Samuel Lam, age 17, knows that cyber bullying is a growing problem.
Just last year he launched The End to Cyber Bullying, an organization to raise awareness and put
an end to cyber bullying! (…)
Before Samuel became the president and co-founder of a successful anti cyber bullying
organization, he was a victim of this new trend of bullying. Sam recalled how his Facebook page
was spammed with racial put-downs while he was in eighth grade.
(…) In Samuel’s sophomore year of high school, he and his friend David Zhao started
working on ETCB for a school project. (…) Over the summer both Samuel and David took on more
help from peers and turned ETCB into a not-for-profit organization. (…) In starting a not-for-
profit, Samuel had to overcome the belief that young people can’t make a difference in the
world. (…) Kids and teens dream of the day they grow up and can start living their lives. Now
Samuel believes that they don’t have to wait to take action. “Why can’t we do something right
now?”, he says.
It’s hard to imagine that just a year ago Sam was putting together a website on cyber
bullying for a school project. Since then, ETCB has been gaining notable recognition. The
organization has done it all — from Party Shuffling with Miss New York, meeting Senator Klein,
and to appearing on national TV. (…)
Samuel’s good deeds don’t just end with ETCB! He also is a volunteer for the American
Cancer Society. After his grandfather was diagnosed with prostate cancer and a volunteer
helped transport him to the hospital everyday to receive his treatment, Samuel was inspired to
get involved. (…) Samuel is also quite valuable to the fundraising aspect. He has raised over
$50,000 for cancer research (…). Apart from his philanthropic endeavours, Samuel also excels in
tennis. For his age group he is ranked #1 in the east and top 50 in the nation.
Adapted from http://mag.amazing-kids.org/amazing-kids-of-the-month1/amazing-kids-of-the-month-
august-2012-samuel-lam/
78
Perry Chen
Perry Chen has accomplishments that seem to take centuries to complete. He’s a
credentialed film critic, an entertainment personality, speaker, artist, and the list goes on. (...)
Perry started critiquing films when he was in the 3rd grade. (…)Now he is a credentialed
film critic. This means he doesn’t have to wait in line to see movies, doesn’t have to pay, he gets
invited to press screenings and gets to sit in the “Press Only” seats! “The most exciting part is to
interview some of the most talented filmmakers and stars face-to-face at film festivals, press
junkets, and red carpet premiers and awards,” Perry says. (…)Perry reviews movies using the
starfish system on a scale of 1 to 5, with 5 being the best. “Great or ‘Perrific!’ films have four
characteristics that I look for: Interesting storyline, rich & colourful characters, great visuals, and
a powerful moral,” Perry says. (…)Perry’s film critics have taken him very far! To date he has
been featured on CBS Evening News with Katie Couric, NPR with Liane Hansen, Variety, The
Young Icons TV show, The China Press, and many others! (…)Perry also gave a speech at the TEDx
Redmond event last year, an event that hosts live speakers. “As I mentioned at my TEDx
Redmond speech last year, you are never too young to start pursuing our dreams,” Perry says.
(…)
In addition to being an amazing film critic, Perry has many other interests. One of them is
art. (…) In past art pieces he has used lunch foil to make animal sculptures, cheese wax and
grocery store twist-ties to make tiny animals, colourful papers for folding origami, and leaves
and twigs to make installation art. (…)Perry is also a speaker and an entertainment personality.
As a speaker he speaks at universities, fund-raisers and film festivals.
Adapted from http://mag.amazing-kids.org/amazing-kids-of-the-month1/amazing-kid-of-the-month-perry-
chen/
79
Anexo 4: “Reading and writing stations - exercises”
READING AND WRITING STATIONS
A. Read the text about Sarthak Sinha and choose the right option for
each question.
1. Sarthak Sinha is a young wonder because...
a) he is a famous human rights activist.
b) he is a professional scientist.
c) he is a successful business man.
2. Sarthak lives in Canada but he comes from...
a) India.
b) Saudi Arabia.
c) Pakistan.
3. At the Intel Science and Engineering Fair, Sarthak got...
a) a first place medal
b) his first participation certificate.
c) a third place medal.
4. He is an ambassador for the Multiple Sclerosis Society because...
a) he wants to help people.
b) it is a way of promoting his projects.
c) his mother died of this disease.
B. Find synonyms for the following words in the text. Don’t forget to
mention the lines.
1. difficulties: ________________________ l. ______
2. curriculum vitae: ________________________ l. ______
3. damaging: ________________________ l. ______
80
READING AND WRITING STATIONS
A. Read the text about Sam Holman and say if the following statements
are true or false.
1) Sam Holman is a young activist. TRUE FALSE
2) Sam suffers from cancer. TRUE FALSE
3) Sam has raised money to find a cure for his illness. TRUE FALSE
4) A Greek myth was used in the name of his team. TRUE FALSE
5) Sometimes Sam gets sad and pessimistic. TRUE FALSE
B. Answer the following questions, according to the text.
1) What is Type 1 Diabetes?
________________________________________________________
________________________________________________________
2) Why is Sam’s team called «Free Sisyphus»?
________________________________________________________
________________________________________________________
81
READING AND WRITING STATIONS
A. Read the text about Samuel Lam and choose the right option for
each question.
1. Samuel Lam is a famous teenager because...
a) he is a very dynamic environmental activist.
b) he wrote his first book at the age of 14.
c) he founded an organization to end cyber bullying.
2. Samuel started this project with...
a) his friends from school.
b) his parents.
c) his Maths teacher.
3. «The End to Cyber Bullying» (ETCB) is...
a) a game.
b) a nonprofit organization.
c) a book.
4. Samuel is a volunteer for the American Cancer Society because...
a) he had leukaemia when he was a child.
b) his mother died of breast cancer.
c) his grandfather had prostate cancer.
5. Regarding sports, Samuel...
a) is a great tennis player.
b) hates playing.
c) plays golf every week.
B. Answer the following questions, according to the text.
1) Why did Samuel start this project?
________________________________________________________
2) How has ETCB gained public recognition?
________________________________________________________
82
READING AND WRITING STATIONS
A. Read the text about PERRY CHEN and say if the following statements
are true or false.
1) Perry is a film critic since primary school. TRUE FALSE
2) Perry is officially an accredited critic. TRUE FALSE
3) In Perry’s scale, great movies get one star. TRUE FALSE
4) Perry has never been on television. TRUE FALSE
5) Perry is also a plastic artist and a speaker. TRUE FALSE
B. Find synonyms for the following words in the text. Don’t forget to
mention the lines.
1. achievements: ________________________ l. ______
2. going after: ________________________ l. ______
3. very small: ________________________ l. ______
83
Anexo 5: “Think – Pair – Share: real stories”
My name is Anna. When I was 13 years-old, I struggled with anorexia and
depression, both went unnoticed and undiagnosed. I was a normal eighth grader. In fact,
I was pretty popular. I had lots of friends and three best friends. No one noticed me
changing. No one noticed me suffering.
I fought with anorexia and depression for about a year. I started comparing
myself to other girls in my grade, convincing myself that they were all so much prettier
and skinnier than me. I slowly stopped eating. First breakfast, then lunch, and then I got
mad at myself when I ate more than 100 calories daily. Skinnier. I just wanted to be
skinnier. What’s worse, I also started thinking terrible things, sad lonely things. I forced
myself to smile even when I felt like crying. No one noticed what I was doing to myself. I
hid it from them, my ED became my best friend. I knew if people found out, they’d make
me stop. I told lies whenever possible, no one could know.
What I regret most is not having the ED in the first place, that has taught me
valuable lessons, but that my anorexia rubbed off on my friend. I noticed what she was
doing right away. Chugging water instead of eating at lunch, going to the bathroom after
eating a few chips. Lying. She was becoming someone like me, and I let her.
I made a blog on tumblr, a different one from the one I already had. I posted
things about my eating habits and how they made me feel. Everything. My parents found
it. I still remember that day they talked to me. It makes me want to cry thinking about it.
About how I disappointed them. I hate thinking about that day. But it was because of it
that I started eating again. I decided to screw what other people thought and become a
free spirit. I have, and I feel better now because no matter how much the eating disorder
may feel like your friend, it’s not. Trust me.
I’m in high school now, and I know I’m beautiful because people remind me
of it every day. Living life is what it’s really about, don’t let your ED take over. Get help.
Don’t hide it, you’ll regret it.
Source: http://us.reachout.com/real-stories/story/once-upon-an-eating-disorder, 12.03.2014
ED: eating disorder
84
My name is Crystal. I am an 18 year-old single teen mother, and
I have a two year-old daughter. I told my parents I was pregnant two weeks
before my sweet 16.
I had a rough pregnancy. Being only 16, my body was not mature
enough to properly support a healthy pregnancy.
My daughter’s father was not around throughout my entire
pregnancy. And he barely came around for the first few weeks after she was
born.
I have had an extremely tough time, trying to take care of my
daughter, and stay in school. I dropped out of high school to get my GED,
but I am now in my second year of college, aiming for a Nursing degree.
I was one of the few lucky girls to have amazing family support.
Sure, they were angry… They were livid!! But they helped me explore my
options (abortion, adoption, and parenting). Obviously I chose parenting…
It has definitely been hard, but thanks to my family, I have
wonderful opportunities to better myself to provide a great life for my baby
girl.
I was one of the few lucky girls to have amazing family support.
Sure, they were angry… They were livid!! But they helped me explore my
options (abortion, adoption, and parenting). Obviously I chose parenting…
Source: http://us.reachout.com/real-stories/story/16-pregnant, 12.03.2014
GED: «General Educational Development», a test that certificates high school in the U.S.A.
85
As a general thing I don’t drink very much at all…I have a glass of champagne
when it seems rude not to (weddings and other celebrations). I love board games and
movies and stuff and I have so much fun, it’s not funny. My friends and I organize dinners,
Christmas in July, pamper evenings (for the girls of course), board game nights, etc…and
I absolutely love it and always have.
I think people look at board games and things like that as kids stuff…but with
the right people you can have a great night of fun.
Friends of mine had their birthday this month, so we organized party food like
fairy bread, sausage rolls and party pies etc, we played the flour game and pass the
parcel and each layer contained a “would you rather” question (for example: would you
rather be attached to the behind of an elephant or on a rock in the middle of croc-infested
waters), which you had to answer out loud… The second birthday party that week was a
Lord the Rings weekend where we all dressed up and watched the extended versions of
the three movies.
We also had a themed Christmas party last year…“Dress as anything that
starts with C” we had cavemen, catwalk models, clowns, cows and celebrities and we
had some great food…not to mention Secret Santa one of the greatest present giving
games ever invented!
Some of the best times I’ve had involve me doing silly things or watching my
friends do stupid things without the influence of alcohol. What’s the point of having this
great night out which you have hardly any memory of? Without all the alcohol you can
make jokes and do silly things that you remember the next day and can laugh about in
the future.
Source: http://us.reachout.com/real-stories/story/having-fun-without-drinking, 12.03.2014
86
My name Bethany. I’m 16 years-old. I’m not going to use the same overused
cliché line ‘I’m just a regular teenage girl’ to describe myself because I’m not. I’m different,
and I’m proud. I used to be fearful of people; afraid they were going to bully me, or say
something to me. I was mostly self-conscious about my weight, since that’s what I was
continuously teased over when I was younger. But I’ve grown into a new person. I now stand
tall when I talk to people, and I’m not afraid of what anyone will say. I’m proud to be me.
I was home-schooled my fourth grade year, and I decided I wanted to go back to
public schools. When I came back my fifth grade year, I was repeatedly bullied. It wasn’t
physical, but mental, which is just as bad as physical bullying. I was called everything in the
book, from ‘fat’ to getting called ‘King Kong’. I’d go home and cry because I didn’t understand
what I did wrong and why these people were so mean to me. This happened all year until
sixth grade. Up until this summer, I have walked with my shoulders hunched, I have been
afraid to meet new people, and I was never able to look in the mirror and like what I saw. I
had gotten to the point where I was depressed, and I wanted to kill myself. Just because of
an image. Just because of what they thought of me. Just because of what I thought of myself.
I was ready to die for an image.
This summer, I worked as a lifeguard at my community pool. I would wear shorts
and a shirt all the time, even if was burning hot out. Towards the end of the summer, I was
walking around with my bathing suit on and nothing else. I didn’t care what people thought of
me. I had finally come to realize that my weight does not define me. This school year has
been amazing now that I have confidence, and I love myself. I’m more outgoing and people
respect me more than ever. Now that I look back on those tough times, I realize how much
time I wasted trying to be pretty, and I wish I would have learned the key to confidence earlier.
People have struggles every single day of their lives and many problems are
image issues. Trust me, you’ll survive! Think positive! You are beautiful or handsome no
matter what people say. Beauty is held within personality and what you do with it…so be
confident, and your inner beauty will shine.
Source: http://us.reachout.com/real-stories/story/learning-to-love-me, 12.03.2014
87
Anexo 6: “Writing competition: checklist”
Checklist: 6. Start writing a draft. 7. Page 1: name of the company and an
advertising slogan (2 minutes)
8. Page 2: explain your services/ products (minimum 40 words - 8 minutes)
9. Page 3: explain why you are the best
company/ team ever (minimum 40 words - 8 minutes)
10. Page 4: reasons for people to buy your
services/ products (minimum 40 words - 8 minutes)
11. Copy your final text onto the leaflet. You may add some pictures! (4 minutes)