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FACULDADE DE MEDICINA DA UNIVERSIDADE DO PORTO
INFLUÊNCIA DE POLIMORFISMOS NA FAMÍLIA CYP3A
NO DESENVOLVIMENTO DE TUMORES SÓLIDOS
Orientador:
Professor Doutor Rui Manuel de Medeiros Melo Silva
ANA BARBOSA DE SOUSA NOGAL
PORTO 2008
DISSERTAÇÃO DE CANDIDATURA AO GRAU DE MESTRE APRESENTADA
À FACULDADE DE MEDICINA DA UNIVERSIDADE DO PORTO
AGRADECIMENTOS
Ao Professor Doutor Rui Medeiros, orientador deste trabalho, pela confiança
depositada em mim há já três anos, pelo apoio, muita paciência e simpatia. Obrigada
pela liberdade e motivação que me permitiram crescer como investigadora e como
pessoa.
Ao Núcleo Regional do Norte da Liga Portuguesa Contra o Cancro, em
particular ao Dr. Vítor Veloso, por me conceder a bolsa que permitiu a realização
deste trabalho.
Ao Dr. António Araújo, pelo apoio fundamental na parte clínica e por ter
auxiliado a divulgação deste trabalho além fronteiras.
Ao Dr. Francisco Lobo e Dr. António Morais, pela colaboração na parte
clínica deste estudo.
À juventude que compõe o Grupo de Oncologia Molecular, por criar um
ambiente de trabalho fenomenal, onde se ri e trabalha muito. Um agradecimento
especial ao Ricardo e à Dani pelas observações, sugestões e críticas construtivas a
este trabalho.
À minha “Patroa” e “Mini patroa” por serem as minhas referências, pela
motivação constante, pela ajuda, pelas gargalhadas e pela amizade. Serei sempre a
vossa “Isaurinha”.
À Carina, Tiago e Luís, por serem excelentes companheiros de trabalho e
porque a sua amizade se tornou essencial.
Ao Arquitecto Mendes Pinheiro, meu talentoso cunhadito, que perdeu o seu
precioso tempo com o desenvolvimento da parte gráfica deste trabalho.
V
Um agradecimento final…
À minha família, amigos e namorado, pelo apoio, amor, dedicação e
paciência sem limites. Sou o que sou por vossa causa. Desejo ser melhor por vossa
causa. Sou feliz por vossa causa… Espero que se orgulhem de mim…
VI
Abreviaturas
A – Adenina
AJCC – American Joint Committee on Cancer
CAR – Constitutive Androstane Receptor
CI – Confidence Interval
CPNPC – Cancro do Pulmão de Não Pequenas Células
Da – Dalton
DNA – Ácido desoxirribonucleico
dNTP’s – Desoxinucleotídeos-trifosfato
DR3 ou dNR1 – Distal Nuclear Receptor-binding element 1
DRE – Toque rectal (Digital Rectal Examination)
EDTA – Ácido etilenodiaminotetracético
ER6 – Everted Repeat separated by six nucleotides
G – Guanina
GR – Glucocorticoid Receptor
HNF4α – Hepatocyte Nuclear Factor-4 alpha
IC – Intervalo de Confiança
MgCl2 – Cloreto de magnésio
mRNA - Ácido ribonucleico mensageiro
NaCl – Cloreto de sódio
NNK – 4-(metilnitrosanina)-1-(3-piridil)-1-butanona
NNN – N’-nitrosonornicotina
NSCLC – Non Small Cell Lung Cancer
OR – Odds Ratio
PAH - Hidrocarbonetos Aromáticos Policíclicos
pb – Pares de bases
Influência de polimorfismos na família CYP3A no desenvolvimento de tumores sólidos VII
Abreviaturas
PSA – Antigénio específico da próstata (Prostate Specific Antigen)
PXR – Pregnane X Receptor
PCR – Polymerase Chain Reaction
RE – Retículo Endoplasmático
RFLP – Restriction Fragment Lenght Polymorphism
RNA – Ácido ribonucleico
RXR – Retinoid X Receptor
SDS – Dodecilsulfato de sódio
SNP – Single Nucleotide Polymorphism
SRD5A2 – 5α-redutase dos esteróides
TAH – Terapia de Ablação Hormonal
TRUS – Ecografia transrectal (Trans Rectal Ultrasonography)
VDR – Vitamin D Receptor
XREM – Xenobiotic-Responsive Enhancer Module
χ2 – Qui-Quadrado
Influência de polimorfismos na família CYP3A no desenvolvimento de tumores sólidos VIII
Índice
Resumo XI
Abstract XVII
1. Introdução 1
1.1. Epidemiologia e mecanismos moleculares do cancro 3
1.2. Cancro do pulmão: epidemiologia e mecanismos moleculares 5
1.3. Cancro da próstata: epidemiologia e mecanismos moleculares 8
1.4. Metabolismo: Citocromos P450 10
1.4.1. Metabolismo: genética molecular de CYP3A4 15
1.4.2. Metabolismo: genética molecular de CYP3A5 20
2. Objectivos 23
3. Material e Métodos 27
3.1. População 29
3.1.1. Doentes com cancro do pulmão e grupo controlo 29
3.1.2. Doentes com cancro da próstata e grupo controlo 30
3.2. Processamento das amostras 32
3.3. Amplificação do DNA 33
3.3.1. Amplificação do fragmento do gene CYP3A4 33
3.3.2. Amplificação do fragmento do gene CYP3A5 34
3.3.3. Identificação dos fragmentos por electroforese 35
3.4. Análise dos polimorfismos em CYP3A4 e CYP3A5 36
3.4.1. Digestão do fragmento do gene CYP3A4 36
3.4.2. Digestão do fragmento do gene CYP3A5 36
3.4.3. Separação dos fragmentos de DNA por electroforese 36
Influência de polimorfismos na família CYP3A no desenvolvimento de tumores sólidos IX
Índice
3.5. Análise estatística 39
4. Resultados 41
4.1. Cancro do pulmão 43
4.1.1. Frequências dos polimorfismos em CYP3A4 e CYP3A5 43
4.1.2. Polimorfismos em CYP3A4 e CYP3A5 e parâmetros
clínico-patológicos
46
4.2. Cancro da próstata 49
4.2.1. Frequências dos polimorfismos em CYP3A4 e CYP3A5 49
4.2.2. Polimorfismos em CYP3A4 e CYP3A5 e parâmetros
clínico-patológicos
51
5. Discussão 57
5.1. Susceptibilidade para cancro do pulmão 60
5.2. Susceptibilidade para cancro da próstata 64
6. Conclusões e Perspectivas futuras 69
7. Referências bibliográficas 73
8. Anexos 89
Influência de polimorfismos na família CYP3A no desenvolvimento de tumores sólidos X
Resumo
Influência de polimorfismos na família CYP3A no desenvolvimento de tumores sólidos
Resumo
A carcinogénese é um processo que envolve várias etapas e reflecte alterações
genéticas que promovem a transformação progressiva de células normais em células
com comportamento maligno. Nos últimos anos tem vindo a tornar-se clara a
importância do estudo de genes de baixa penetrância, como os genes envolvidos na
reparação do DNA e no metabolismo de carcinogéneos.
O cancro do pulmão e da próstata são das neoplasias mais frequentes em todo
mundo. Em 2002, cerca de 2 milhões de novos casos foram diagnosticados, sendo
que mais de 20% de todas as mortes por cancro foram atribuídas a estas duas
neoplasias.
Os factores associados ao desenvolvimento tumoral são diversos. O fumo do
tabaco é a principal causa de cancro do pulmão: contém numerosos agentes
procarcinogéneos que, após activação, são altamente nocivos para o epitélio
respiratório. A etiologia do cancro da próstata ainda não está esclarecida, no entanto,
a exposição a elevados níveis de androgénios tem sido considerada um factor de
risco para o desenvolvimento desta neoplasia.
A família CYP3A codifica o sistema de enzimas mais importante, e um dos
mais versáteis, no metabolismo e eliminação de xenobióticos e compostos
endógenos. As enzimas CYP3A4 e CYP3A5 são as mais representativas desta
família e participam no metabolismo de vários compostos como fármacos, hormonas
e carcinogéneos. Durante este processo ocorre a activação ou desactivação destes
compostos, que se tornam mais ou menos carcinogénicos, respectivamente.
Variações na expressão destas enzimas, provocadas por polimorfismos genéticos,
podem modificar o padrão de metabolismo destas substâncias, alterando a
susceptibilidade individual para o desenvolvimento de algumas doenças como o
cancro.
Influência de polimorfismos na família CYP3A no desenvolvimento de tumores sólidos XIII
Resumo
Neste trabalho foi desenvolvido um estudo do tipo caso-controlo com os
objectivos de analisar as frequências dos polimorfismos em CYP3A4 e CYP3A5
(ambos caracterizados por transições de A para G) num grupo de indivíduos sem
doença oncológica conhecida, num grupo de doentes com cancro de pulmão e num
grupo de doentes com cancro da próstata, avaliar a existência de associações entre os
polimorfismos estudados e a susceptibilidade ou características clínico-patológicas
do cancro do pulmão e da próstata.
Foram analisadas amostras de DNA de mil, seiscentos e noventa e cinco
(1695) indivíduos. O grupo controlo era constituído por setecentos e vinte e oito
(728) indivíduos. O grupo de doentes com cancro do pulmão incluiu duzentos e
sessenta e nove (269) indivíduos. O grupo de doentes com cancro da próstata era
constituído por seiscentos e noventa e oito (698) homens. A análise dos
polimorfismos e avaliação dos genótipos correspondentes foi realizada recorrendo à
técnica de PCR-RFLP.
A análise dos resultados referentes à neoplasia do pulmão permitiu observar
que indivíduos com genótipos portadores do alelo A de CYP3A5 apresentam um
maior risco de desenvolver CPNPC (OR=1,46; IC95%: 1,02-2,09; P=0,037) e que a
presença de genótipos de elevada expressão foi igualmente associada a um maior
risco para esta neoplasia (OR=1,42; IC95%: 1,00-2,00; P=0,049). A análise dos
resultados indicou ainda que indivíduos com genótipos portadores do alelo G de
CYP3A4 apresentam um maior risco para doença avançada (OR=1,82; IC95%: 1,08-
3,07; P=0,023). O mesmo foi observado em indivíduos com genótipos de elevada
expressão (OR=1,53; IC95%: 1,01-2,31; P=0,044). Os resultados relativos à
neoplasia da próstata permitiram verificar que o alelo G de CYP3A4 está associado a
cancro da próstata mais agressivo (grau de Gleason ≥7) (OR=1,83; IC95%: 1,07-
Influência de polimorfismos na família CYP3A no desenvolvimento de tumores sólidos XIV
Resumo
3,13; P=0,017) e que os genótipos de elevada expressão apresentam um maior risco
para o desenvolvimento de cancro da próstata mais agressivo (OR=1,61; IC95%:
1,06-2,43;P=0,019) e para a metastização à distância (OR=1,80; IC95%: 0,99-
3,28;P=0,038).
Estes resultados podem contribuir para a melhor compreensão do papel e da
influência de polimorfismos em CYP3A4 e CYP3A5 no desenvolvimento das
neoplasias do pulmão e da próstata.
Influência de polimorfismos na família CYP3A no desenvolvimento de tumores sólidos XV
Abstract
Influência de polimorfismos na família CYP3A no desenvolvimento de tumores sólidos
Abstract
Carcinogenesis is a multistep process which reflects genetic alterations that
promote the progressive transformation of normal cells into malignant cells. In the
last few years, the study of low penetrance genes, such as those involved in DNA
repair and the metabolism of carcinogens, has gain a great deal of importance.
Lung cancer and prostate cancer are two of the most common malignancies in
the world. In 2002, almost 2 million people were diagnosed with these diseases. They
were also responsible for more than 20% of all cancer related deaths.
Several factors contribute to the development of cancer. Tobacco smoke is the
main cause of lung cancer: it contains numerous procarcinogens which, upon
activation, are extremely harmful to the respiratory epithelium. Prostate cancer
etiology has not been completely revealed yet, but exposure to high levels of
testosterone has been considered a risk factor for the development of this disease.
The CYP3A gene family encodes one of the most important and versatile
enzyme systems involved in the metabolism of xenobiotics and endogenous
molecules. The CYP3A4 and CYP3A5 enzymes are the most representative of this
family and they participate in the metabolism of several compounds like drugs,
hormones and carcinogens. During this process, activation and inactivation of these
molecules occurs, making them more or less carcinogenic, respectively. Differences
in the expression of these enzymes, caused by genetic polymorphisms, could alter the
metabolism pattern of theses substances, modifying the individual susceptibility to
develop some diseases like cancer.
In this research a case-control study was performed in order to analyze the
frequencies of polymorphisms in CYP3A4 and CYP3A5 (both characterized by an A
to G transition) in a group of healthy individuals, a group of patients diagnosed with
lung cancer and a group of patients diagnosed with prostate cancer. The possible
Influência de polimorfismos na família CYP3A no desenvolvimento de tumores sólidos XIX
Abstract
associations between the studied polymorphisms and the susceptibility or clinical and
pathological characteristics of lung and prostate cancer were also evaluated.
DNA samples from 1695 individuals were analyzed. The control group
consisted of 728 individuals. Lung cancer patients included a total of 269 individuals
and 698 men made up the prostate cancer patients group. The analysis of the
polymorphisms and the evaluation of the corresponding genotypes were performed
with the PCR-RFLP methodology.
Regarding lung cancer results, our analysis suggests that individuals with
genotypes carrying the A allele of CYP3A5 present a higher risk of developing non
small cell lung cancer (NSCLC) (OR=1.46; CI95%: 1.02-2.09; P=0.037) and that
individuals with high expression genotypes are also at higher risk for this neoplasia
(OR=1.42; CI95%: 1.00-2.00; P=0.049). Individuals carrying genotypes with the G
allele of CYP3A4 are at higher risk of developing advanced NSCLC (OR=1.82;
CI95%: 1.08-3.07; P=0.023) as are individuals with high expression genotypes
(OR=1.53; CI95%: 1.01-2.31; P=0.044). The prostate cancer results allowed us to
observe that the G allele of CYP3A4 is associated with prostate cancer aggressiveness
(Gleason grade ≥7) (OR=1.83; CI95%: 1.07-3.13; P=0.017) and that individuals with
high expression genotypes are at higher risk for aggressive (OR=1.61; CI95%: 1.06-
2.43;P=0.019) and metastatic disease (OR=1.80; CI95%: 0.99-3.28;P=0.038).
These results may contribute to a better understanding regarding the role and
influence of CYP3A4 and CYP3A5 polymorphisms in the development of lung and
prostate cancer.
Influência de polimorfismos na família CYP3A no desenvolvimento de tumores sólidos XX
1. Introdução
Influência de polimorfismos na família CYP3A no desenvolvimento de tumores sólidos
1. Introdução
1.1. Epidemiologia e mecanismos moleculares do cancro
O cancro é actualmente a segunda causa de morte por doença em todo o
mundo, tendo sido diagnosticados 10,9 milhões de novos casos e registadas cerca de
6,7 milhões de mortes por cancro em 2002 (Parkin DM, 2005). De acordo com as
estimativas da Organização Mundial de Saúde, o cancro será a primeira causa de
morte no mundo em 2020 (World Health Organization, 2007).
O cancro é uma doença complexa. O processo de carcinogénese decorre
durante um longo período de tempo e consiste num progressivo acumular de
alterações genéticas que resultam na transformação de uma célula normal numa
célula cancerígena (Hanahan D, 2000). Estas alterações podem ser transmitidas
hereditariamente ou adquiridas ao longo da vida de um indivíduo por acção de
compostos químicos, agentes infecciosos e radiações (Kumar V, 2003). Assim, a
neoplasia maligna é o resultado de alterações no DNA de uma célula que implicam
perda da função normal, crescimento celular descontrolado e capacidade de
metastização. Alguns dos genes mais frequentemente alterados no cancro são proto-
oncogenes, cujo ganho de função promove a proliferação e a carcinogénese, genes
supressores tumorais, que por perda de função promovem a proliferação e a
carcinogénese, genes envolvidos na reparação do DNA, controlo do ciclo celular e
angiogénese (Brennan P, 2002).
As células tumorais apresentam características distintas das células normais,
sabendo-se que, durante a carcinogénese, adquirem fenótipos essenciais e
discriminativos como: potencial proliferativo ilimitado, capacidade de evasão à
apoptose, auto-suficiência em factores de crescimento, insensibilidade a sinais
inibidores do crescimento, angiogénese, capacidade de invasão tecidular e
Influência de polimorfismos na família CYP3A no desenvolvimento de tumores sólidos 3
1. Introdução
metastização à distância (Figura 1) (Hanahan D, 2000). Contudo, o número de
alterações necessárias para adquirir estas capacidades e a ordem pela qual elas
surgem, variam de acordo com as características da neoplasia (Weber BL, 2002).
Figura 1: Alterações adquiridas pelas células malignas (adaptado de Hanahan D, 2000).
Com a excepção dos cancros hereditários, que são raros (entre 5 a 10%) e
produto de uma ou várias mutações específicas, o desenvolvimento de uma neoplasia
resulta da exposição a agentes genotóxicos exógenos ou endógenos (como poluentes,
hormonas, agentes infecciosos) e consequente formação de aductos no DNA. O
metabolismo de compostos carcinogénicos, que permite a sua eliminação do
organismo, e a capacidade de correcção de erros durante a replicação genética, são
processos determinantes na inibição da carcinogénese. Genes que codificam
Influência de polimorfismos na família CYP3A no desenvolvimento de tumores sólidos 4
1. Introdução
moléculas com função central nestes processos são alvos de estudo importantes,
nomeadamente no que concerne ao esclarecimento do papel desempenhado por
polimorfismos genéticos funcionais nestes genes no desenvolvimento de cancro. O
estudo de genes que codificam enzimas do metabolismo pode deste modo contribuir
para a formação de sub-grupos em risco para desenvolver cancro numa dada
população (Brennan P, 2002).
1.2. Cancro do pulmão: epidemiologia e mecanismos moleculares
O cancro do pulmão é a neoplasia mais comum no mundo desde 1985, sendo
que em 2002 foram registados cerca de 1,35 milhões de novos casos (Figura 2)
(Parkin DM, 2005). É a primeira causa de morte por cancro em todo o mundo
devido, sobretudo, ao facto de o diagnóstico ocorrer frequentemente em fases
avançadas da doença (Parkin DM, 2005; Wistuba II, 2007). A incidência do cancro
do pulmão é maior nos homens e nos indivíduos mais velhos. No entanto, durante a
última década, a incidência desta doença no género feminino tem vindo a aumentar,
devido à alteração dos hábitos tabágicos das mulheres (Alberg AJ, 2003; Parkin DM,
2005; Jemal A, et al., 2007).
Influência de polimorfismos na família CYP3A no desenvolvimento de tumores sólidos 5
1. Introdução
Figura 2: Taxas de incidência anuais do cancro do pulmão/100.000 homens (Globocan 2002,
IARC).
O cancro do pulmão apresenta diferentes tipos histológicos, sendo que o
cancro do pulmão de não pequenas células (CPNPC) representa cerca de 75% da
totalidade dos casos de cancro do pulmão. Dependendo do tipo de célula que lhe dá
origem, o carcinoma do pulmão pode ser classificado em epidermóide,
adenocarcinoma, carcinoma de grandes células, CPNPC misto ou indiferenciado
(Edwards SL et al., 2000; Alberg AJ, 2003). A avaliação do tipo histológico do
tumor, juntamente com o estadio, aquando do diagnóstico do cancro do pulmão, é
determinante na escolha do tratamento e no prognóstico do doente (Mountain CF,
1997). O estadiamento do tumor é feito com base no sistema TNM, proposto pelo
American Joint Committee on Cancer (AJCC) em 1973, que classifica o tumor de
acordo com o seu tamanho e potencial invasivo (T), com o envolvimento de gânglios
Influência de polimorfismos na família CYP3A no desenvolvimento de tumores sólidos 6
1. Introdução
linfáticos na região (N) e com a presença ou não de metástases à distância (M)
(Mountain CF, 1986; Mountain CF, 1997; Brambilla E, 2001; Serke M, 2007).
O tratamento do cancro do pulmão é bastante individualizado, variando com o
tipo histológico, localização e extensão do tumor e também com a idade e estado
geral do doente. As opções terapêuticas utilizadas são a cirurgia, a radioterapia e a
quimioterapia, podendo ser aplicadas isoladamente ou como terapia combinada,
visando controlar o desenvolvimento tumoral e a metastização (DeVita VTJ, 2005;
Serke M, 2007).
O fumo do tabaco está directamente relacionado com o desenvolvimento
tumoral, estando esta associação descrita desde a década de 50 (Alberg AJ, 2003;
Ezzati M, 2003; Doll R, 2004; Kamangar F, 2006). Os indivíduos fumadores
apresentam um risco 20 vezes superior de desenvolver esta neoplasia do que
indivíduos não fumadores. O fumo do tabaco contém numerosos agentes
procarcinogéneos, como hidrocarbonetos aromáticos policíclicos (PAH) e benzeno,
que, após a sua activação, são altamente nocivos para o epitélio respiratório. Outros
factores que poderão contribuir para o aparecimento desta neoplasia incluem doenças
pulmonares anteriores e exposição a agentes carcinogéneos ambientais. (Klaassen
CD, 2001; Alberg AJ, 2003; Stavrides JC, 2006). Porém, nem todos os fumadores
desenvolvem cancro do pulmão, o que indica que outras condicionantes podem estar
envolvidas no desenvolvimento tumoral. Diferenças genéticas na capacidade de
reparação do DNA e no metabolismo de carcinogéneos, têm sido apontadas como
factores importantes na definição de subgrupos com maior ou menor risco de
desenvolver cancro do pulmão (Alberg AJ, 2003; Stavrides JC, 2006; Araújo A,
2007; Mitsudomi T, 2007).
Influência de polimorfismos na família CYP3A no desenvolvimento de tumores sólidos 7
1. Introdução
1.3. Cancro da próstata: epidemiologia e mecanismos moleculares
No ano de 2002 foram diagnosticados 679 mil novos casos de cancro da
próstata em todo o mundo (Parkin DM, 2005), constituindo uma das doenças mais
preocupantes a atingir a população masculina (Heidenreich A, 2007), sendo que
5,8% de todas as mortes por cancro são atribuídas a esta neoplasia (Parkin DM,
2005). A maioria dos casos de cancro da próstata ocorre na população idosa (idade
superior a 65 anos), tornando-o, deste modo, um maior problema de saúde pública
nos países desenvolvidos (Figura 3) (Parkin DM, 2005; Heidenreich A, 2007).
Figura 3: Taxas de incidência anuais do cancro da próstata/100.000 homens (Globocan 2002,
IARC).
Influência de polimorfismos na família CYP3A no desenvolvimento de tumores sólidos 8
1. Introdução
A próstata é uma glândula envolvida por uma cápsula que rodeia a uretra e
apresenta três zonas distintas: a zona periférica, a zona central e a de transição.
Atendendo ao carácter glandular deste órgão, a maioria dos cancros é classificada
como adenocarcinoma e tem origem na zona periférica (Parkin DM, 2005; Hsing
AW, 2006). Os principais métodos de rastreio desta neoplasia são o toque rectal
(DRE: digital rectal examination), a ecografia transrectal da próstata (TRUS: trans
rectal ultrasonography) e o doseamento sérico do antigénio específico da próstata
(PSA: prostate specific antigen). A biópsia em sextante, associada ao doseamento
sérico do PSA, constitui um bom meio de diagnóstico desta neoplasia, especialmente
em fases assintomáticas da mesma (Lopes C, 2000).
A classificação deste tipo de tumor é feita avaliando dois parâmetros: o
estadio e o grau histológico. O estadiamento é efectuado recorrendo ao sistema TNM
(Wittekind C, 2002). A avaliação do grau do tumor é feita, após biópsia, com base no
grau histológico de diferenciação de Gleason (Gleason DF, 1974); o grau histológico
varia entre 2 e 10, sendo que quanto maior o grau, maior a agressividade do tumor e
a probabilidade de metastização (Gleason DF, 1992; Humphrey PA, 2004;
Heidenreich A, 2007).
O tratamento do cancro da próstata é bastante variável. A escolha da
correcta opção terapêutica depende do estadio e grau histológico do tumor, sendo que
a cirurgia (prostatectomia radical), radioterapia, criocirurgia e terapia hormonal são
as técnicas mais utilizadas actualmente (Heidenreich A, 2007).
A etiologia do cancro da próstata ainda não está totalmente esclarecida, no
entanto, a idade e a etnia têm sido consistentemente apontadas como factores de risco
demográficos (Hsing AW, 2006). Outros possíveis factores de risco incluem a
exposição a elevados níveis de androgénios, os hábitos alimentares, a obesidade, a
Influência de polimorfismos na família CYP3A no desenvolvimento de tumores sólidos 9
1. Introdução
actividade física, a inflamação crónica, entre outros (Hsing AW, 2006). Igualmente
associada a esta neoplasia, surge a história familiar de cancro da próstata e alguns
genes de elevada penetrância. O estudo de polimorfismos, especialmente em genes
envolvidos em vias de biossíntese e metabolismo de androgénios, metabolismo de
carcinogéneos, reparação do DNA, inflamação e angiogénese, pode revelar-se
importante na definição de subgrupos em maior risco para o desenvolvimento desta
neoplasia (Ferreira PM, et al., 2003; Medeiros R, et al., 2004; Hsing AW, 2006).
1.4. Metabolismo: Citocromos P450
Fármacos, drogas, poluentes ou pesticidas ingeridos, podem ser denominados
xenobióticos. Parte destes compostos, em especial os fármacos, são de natureza
lipofílica, o que facilita a sua passagem através das membranas celulares e o acesso
ao local de acção. Os xenobióticos não devem permanecer no organismo durante
muito tempo, uma vez que, por acumulação, podem ter efeitos tóxicos e
eventualmente carcinogénicos. A sua lipofilicidade é, no entanto, um entrave à sua
necessária excreção: apenas substâncias polares e hidrofílicas podem ser facilmente
excretadas pela urina. Assim, as substâncias lipofílicas necessitam de ser
metabolizadas em compostos mais hidrofílicos para poderem ser eliminadas; este
tipo de metabolismo é conhecido por biotransformação (Rang H, 1999; Brunton LL,
2001).
A biotransformação ocorre em duas fases distintas, geralmente sequenciais,
designadas por: Metabolismo Fase I e Metabolismo Fase II.
Influência de polimorfismos na família CYP3A no desenvolvimento de tumores sólidos 10
1. Introdução
O Metabolismo Fase I consiste na oxidação, redução ou hidrólise do
xenobiótico, que por vezes pode ficar mais tóxico ou carcinogénico que o composto
inicial. As reacções de Fase I envolvem normalmente a introdução de um grupo
funcional, por exemplo um grupo hidroxilo, no composto a ser metabolizado. Este
grupo irá funcionar como um ponto de partida para as reacções de Fase II (reacções
de conjugação, isto é, substituição do grupo funcional colocado na Fase I por outro,
como por exemplo, o ácido glucorónico, a glutationa, aminoácidos, entre outros); a
molécula resultante é quase sempre inactiva e menos lipofílica que o seu precursor,
sendo mais fácil a sua excreção pelos rins (Rang H, 1999; Brunton LL, 2001).
As reacções de Fase I e de Fase II ocorrem maioritariamente nos hepatócitos,
podendo também ter lugar no aparelho digestivo, rins e pulmões. Muitas das enzimas
que intervêm nestas reacções, especialmente as pertencentes à família Citocromo
P450, localizam-se no Retículo Endoplasmático (RE) das células (Rang H, 1999;
Brunton LL, 2001).
As P450 são uma superfamília de enzimas com um grupo heme. A sua
designação advém das suas propriedades espectrais: as formas reduzidas das enzimas
P450, quando combinadas com monóxido de carbono, formam um composto cor-de-
rosa que apresenta um pico de absorção a 450nm (Rang H, 1999).
Os Citocromos P450 ou CYP’s são um conjunto de isoenzimas que diferem
umas das outras nas sequências aminoacídicas, na resposta a inibidores e no tipo de
reacções que catalisam; actuam muitas vezes sobre o mesmo substrato, mas a
diferentes velocidades, formando diferentes metabolitos secundários (Rang H, 1999).
Estas proteínas são agrupadas em diversas famílias e sub-famílias de acordo com a
percentagem de homologia na sequência aminoacídica: enzimas que são iguais em
mais de 40%, constituem uma família, identificada por numeração árabe (CYP1 e
Influência de polimorfismos na família CYP3A no desenvolvimento de tumores sólidos 11
1. Introdução
CYP2 constituem duas famílias diferentes); semelhança em mais de 55% da
sequência aminoacídica permite agrupar várias enzimas na mesma sub-família,
identificada por uma letra (CYP1A e CYP1B representam duas sub-famílias
diferentes) (Nebert DW, 2002). Dentro de cada sub-família, um número identifica
uma enzima em particular e as variantes genéticas de cada uma são identificadas por
números e letras após um asterisco (Wilkinson GR, 2005).
Até à data foram identificados cinquenta e sete genes que codificam esta
superfamília de enzimas em humanos; entre estes, existem três famílias de elevada
importância (CYP1, CYP2, CYP3) que codificam enzimas que efectuam o
metabolismo de xenobióticos, hormonas sexuais e vitaminas (Wilkinson GR, 2005).
A sub-família CYP3A constitui o sistema mais importante e um dos mais
versáteis de biotransformação e eliminação de xenobióticos, fármacos e compostos
endógenos (Lamba JK, 2002). Este agrupamento de genes está localizado no
cromossoma 7 e contém, como esquematizado na Figura 4, quatro genes funcionais:
CYP3A4, CYP3A5, CYP3A7 e CYP3A43. Estes genes expressam isoenzimas que
actuam sobre uma vasta gama de substratos, como poluentes, carcinogéneos
exógenos (fumo do tabaco), fármacos (cerca de 60% de todos os fármacos usados
correntemente, como antidepressivos e imunossupressores) (Burk O, 2004). São
igualmente importantes na biossíntese e degradação de compostos endógenos, como
hormonas esteróides, lípidos e vitaminas (Wilkinson GR, 2005).
Figura 4: Esquema da organização do locus CYP3A (Burk O, 2004).
Influência de polimorfismos na família CYP3A no desenvolvimento de tumores sólidos 12
1. Introdução
A regulação da expressão de CYP3A é mediada, de modo geral, por um
processo de feedback em que as substâncias que induzem a sua expressão são muitas
vezes o próprio substrato da enzima. Estas substâncias indutoras podem ser
compostos endógenos, como hormonas esteróides e seus metabolitos ou xenobióticos
(fármacos, poluentes ambientais) (Burk O, 2004).
Quer a expressão basal, quer a indução da expressão de CYP3A são
controladas por um conjunto de receptores nucleares activados por ligandos
(indutores). Estes receptores nucleares, que incluem Pregnane X Receptor (PXR),
Constitutive Androstane Receptor (CAR), Retinoid X Receptor (RXR), Vitamin D
Receptor (VDR) e Glucocorticoid Receptor (GR), interagem com elementos
específicos da região reguladora 5’ do DNA de cada um dos genes da família CYP3A
(Burk O, 2004; Raunio H, 2005).
As enzimas mais importantes e mais expressas desta família são a CYP3A4 e
CYP3A5. São responsáveis pelo metabolismo de cerca de 50% dos fármacos usados
correntemente (Figura 5) de entre os quais se podem destacar a ciclofosfamida,
ciclosporina, midazolam, nifedipina, lidocaína, docetaxel, paclitaxel, tamoxifeno,
vinca-alcalóides, gefinitib, imatinib (Brunton LL, 2001; Michael M, 2005; van
Schaik RHN, 2005; Wilkinson GR, 2005).
Influência de polimorfismos na família CYP3A no desenvolvimento de tumores sólidos 13
1. Introdução
Figura 5: Enzimas CYP e a sua importância relativa no Metabolismo Fase I (adaptado de
Brunton LL, 2001).
A actividade das enzimas CYP3A é bastante variável dentro de uma
população, podendo ser condicionada por vários factores:
- Controlo da expressão genética por moléculas endógenas (hormonas,
citoquinas, vitaminas) e exógenas (alimentos, ambiente);
- Polimorfismos genéticos nos próprios genes da família CYP3A (regiões não
traduzidas, intrões, exões) ou nos genes que controlam a sua expressão (PXR, VDR,
CAR) (Lamba JK, 2002).
Alterações de sequências de bases ou repetições de sequências de bases no
DNA são muito frequentes na espécie humana e podem ser utilizadas como
marcadores moleculares. Por definição, um polimorfismo genético é uma variação
genética que ocorre em mais de 1% da população. Um locus diz-se polimórfico
quando apresenta dois ou mais alelos que diferem entre si, por exemplo, num
nucleótido (Single nucleotide polymorphism - SNP) ou no número de unidades de
nucleótidos repetidos (Tandem repeats) (Vieira A, 2001; Keshava C, 2004).
Influência de polimorfismos na família CYP3A no desenvolvimento de tumores sólidos 14
1. Introdução
1.4.1. Metabolismo: genética molecular de CYP3A4
A enzima CYP3A4 é uma proteína membranar, composta por 502
aminoácidos e com um peso molecular de 57,29 kDa. O gene CYP3A4, localizado no
cromossoma 7q21.3-q22.1 (Figura 6), é constituído por 27592 pares de bases (pb) e
13 exões (Keshava C, 2004). Embora a expressão deste gene tenha sido detectada na
grande maioria dos órgãos, esta é mais abundante no fígado e intestino delgado
(Guengerich FP, 1999).
CYP3A4
Figura 6: Localização do gene CYP3A4 no cromossoma 7 (www.ncbi.nlm.nih.gov).
A transcrição do gene CYP3A4 é efectuada mediante a ligação de receptores
nucleares a locais chave presentes no gene. Na região reguladora 5’ de CYP3A4
existem elementos necessários à indução do gene (Figura 7): uma sequência de 18
nucleótidos localizada na região promotora proximal (-153 a -170 pb) denominada
ER6 (Everted repeat separated by six nucleotides) e o XREM (Xenobiotic-responsive
enhancer module) que se localiza de -7800 a -7600 pb e contém vários locais de
ligação a receptores nucleares, incluindo uma sequência ER6 (denominada ER6
distal), uma sequência DR3 ou dNR1 (Distal nuclear receptor-binding element 1) e
uma HNF4α (Hepatocyte nuclear factor-4alpha). A estas zonas no DNA ligam-se os
receptores nucleares PXR, CAR e VDR (Goodwin B, 1999; Burk O, 2004).
Influência de polimorfismos na família CYP3A no desenvolvimento de tumores sólidos 15
1. Introdução
Figura 7: Representação dos locais de ligação dos receptores nucleares no gene CYP3A4
(adaptado de Burk O, 2004).
O esquema básico da transcrição de CYP3A4 está representado na Figura 8.
Para que ocorra a transcrição do gene, os compostos indutores, como xenobióticos e
compostos endógenos, ligam-se ao receptor PXR ou CAR. Estes formam dímeros
com o receptor RXR, que por sua vez se irão ligar a elementos específicos do DNA,
activando a transcrição do gene (Raunio H, 2005; Wilkinson GR, 2005).
Influência de polimorfismos na família CYP3A no desenvolvimento de tumores sólidos 16
1. Introdução
Figura 8: Esquema dos eventos básicos da transcrição dos genes CYP3A (adaptado de
Raunio H, 2005).
A enzima CYP3A4 foi inicialmente denominada Nifedipina Oxidase pela sua
capacidade de metabolização deste fármaco (Keshava C, 2004). A sua acção sobre
hormonas (testosterona), ácidos gordos e xenobióticos (fármacos, poluentes,
compostos carcinogénicos do tabaco) é de extrema importância no metabolismo. Esta
enzima oxida a testosterona a formas biologicamente menos activas como a 2β-
hidroxitestosterona, a 6β-hidroxitestosterona ou a 15β-hidroxitestosterona,
impedindo a sua transformação em di-hidroxitestosterona pela 5α-redutase dos
esteróides (SRD5A2): este metabolito da testosterona liga-se ao DNA, promovendo a
proliferação celular e diferenciação da próstata (Figura 9) (Keshava C, 2004).
Influência de polimorfismos na família CYP3A no desenvolvimento de tumores sólidos 17
1. Introdução
Figura 9: Metabolismo da testosterona (adaptado de Keshava C, 2004).
O metabolismo e activação de compostos procarcinogénicos como a N’-
nitrosonornicotina (NNN) e hidrocarbonetos aromáticos policíclicos (como o
Benzo[a]pireno) presentes no fumo do tabaco é efectuado pela CYP3A4 (Bartsch H,
et al., 2000; Dally H, et al., 2003). Variações na expressão desta enzima podem
modificar o padrão de metabolismo destas substâncias, alterando a susceptibilidade
individual para o desenvolvimento de algumas doenças como o cancro (Keshava C,
2004).
Polimorfismos genéticos em CYP3A4 eram desconhecidos até 1996 (Kinirons
MT, et al., 1996). Desde então, setenta e oito variações na sequência nucleotídica de
CYP3A4 foram identificadas (Keshava C, 2004). Em 1998, Rebbeck e colaboradores
identificaram um novo SNP neste gene e designaram o alelo variante CYP3A4-V
(Rebbeck TR, 1998).
O alelo CYP3A4-V, ou CYP3A4*1B como é actualmente designado, resulta da
substituição de A por G (A>G) no elemento de resposta à Nifedipina
(AGGGCAAGAG → AGGGCAGGAG), localizado na região promotora 5’ do gene
Influência de polimorfismos na família CYP3A no desenvolvimento de tumores sólidos 18
1. Introdução
CYP3A4 (-287 a -296 pb do local de início de transcrição do gene) (Rebbeck TR,
1998).
As frequências do alelo CYP3A4*1B em diferentes populações humanas são
distintas: asiáticos 0,0% (Paris PL, et al., 1999), caucasianos 3,8-9,6% (Keshava C,
2004), hispânicos 9,3-10,7% (Paris PL, et al., 1999; Keshava C, 2004), afro-
americanos 48-67,2% (Paris PL, et al., 1999; Keshava C, 2004) e africanos 69-81%
(Tayeb MT, 2002; Keshava C, 2004). Na população portuguesa, a frequência descrita
para a variante CYP3A4*1B é de 4-4,9% (Cavaco I, 2003; Nogal A, et al., 2007).
Foram já descritas associações entre o alelo CYP3A4*1B e o desenvolvimento
de neoplasias. A presença desta variante foi associada a formas mais agressivas de
cancro da próstata (Rebbeck TR, 1998; Paris PL, et al., 1999; Tayeb MT, et al.,
2002; Plummer SJ, et al., 2003; Zeigler-Johnson C, et al., 2004; Loukola A, et al.,
2004; Bangsi D, et al., 2006), a uma maior susceptibilidade para desenvolver cancro
de pulmão de pequenas células (Dally H, et al., 2003), à ocorrência de menarca
precoce, que se suspeita ser um factor de risco para o desenvolvimento de cancro da
mama (Kadlubar FF, et al., 2003) e a um menor risco de desenvolvimento de
leucemias secundárias associadas à quimioterapia (Felix CA, et al., 1998). Apesar
das associações encontradas, o carácter funcional deste alelo na expressão desta
enzima é ainda controverso: dois estudos in vitro demonstraram existir uma maior
expressão da enzima associada ao alelo CYP3A4*1B (G) (Ando Y, et al., 1999;
Amirimani B, et al., 2003), enquanto num outro estudo in vitro se verificou que a
expressão da enzima não era condicionada pelos genótipos (Spurdle AB, et al.,
2002). Estudos in vivo não evidenciaram qualquer alteração da expressão proteica na
presença deste alelo (Ball SE, et al., 1999; Westlind A, 1999; Wandel C, et al., 2000;
von Ahsen N, et al., 2001; Garcia-Martin E, et al., 2002; Lin YS, et al., 2002).
Influência de polimorfismos na família CYP3A no desenvolvimento de tumores sólidos 19
1. Introdução
1.4.2. Metabolismo: genética molecular de CYP3A5
A enzima CYP3A5 é uma proteína membranar do retículo endoplasmático,
com um peso molecular de 52,5 kDa e composta por 502 aminoácidos (Aoyama T, et
al., 1989). A sequência aminoacídica apresenta 85% de homologia com a de
CYP3A4. O gene CYP3A5 está localizado no cromossoma 7q22.1 e apresenta 13
exões (Lamba JK, 2002; ONIM NCBI). É a enzima CYP3A mais expressa em órgãos
como o pulmão, próstata, mama e rins (Lamba JK, 2002; Schuetz EG, et al., 2004).
A regulação da transcrição de CYP3A5 é semelhante à de CYP3A4. No
entanto, a região reguladora 5’ de CYP3A5 não apresenta o elemento XREM, estando
apenas presente o motivo ER6 proximal (Burk O, 2004). Em 2003, Hukkanen e
colaboradores, demonstraram a indução de CYP3A5 por glucocorticóides, não tendo
sido ainda identificados os locais de ligação de GR ao promotor do gene (Hukkanen
J, et al., 2003; Burk O, 2004).
Os substratos da enzima CYP3A5 são, na sua maioria, os mesmos de
CYP3A4: excepto a eritromicina e a quinidina que são exclusivamente metabolizadas
pela CYP3A4. Existem algumas diferenças também no metabolismo de esteróides e
da ciclosporina: estudos indicam que estes compostos se possam ligar a CYP3A4 em
mais do que um local (Wrighton SA, et al., 1990; ONIM NCBI).
A expressão de CYP3A5 é marcadamente bimodal, isto é, os indivíduos
apresentam níveis elevados ou níveis baixos da proteína (Wrighton SA, et al., 1990;
Paine MF, et al., 1997). O polimorfismo mais frequente e funcionalmente importante
no gene CYP3A5 caracteriza-se por uma transição de A para G (+6986 A>G) no
intrão 3 do gene. Esta alteração cria um local alternativo de splicing no pré RNA
mensageiro, originando um RNA mensageiro aberrante (SV1-mRNA) que contém
Influência de polimorfismos na família CYP3A no desenvolvimento de tumores sólidos 20
1. Introdução
parte do intrão 3, denominado exão 3B, entre os exões 3 e 4. Este novo exão dá
origem a uma proteína truncada não funcional (Figura 10). Os indivíduos com
genótipos portadores do alelo A (CYP3A5*1) expressam níveis elevados da enzima
(Hustert E, et al., 2001; Kuehl P, et al., 2001; Lamba JK, 2002).
Figura 10: Esquema do splicing alternativo e sua acção na expressão de CYP3A5 (adaptado
de Lamba JK, 2002).
A variante CYP3A5*3 (G) é a mais comum na maioria das populações. A
frequência do alelo funcional CYP3A5*1 (A) é de 5-15% em caucasianos, 45-73%
em afro-americanos e de 27-30% em asiáticos (Hustert E, et al., 2001; Kuehl P, et
al., 2001). Dois estudos associaram a presença do alelo CYP3A5*1 a cancro da
próstata menos agressivo (Plummer SJ, et al., 2003; Zhenhua L, et al., 2005). Este
alelo foi associado a um menor risco para cancro de pulmão (Yeh KT, et al., 2003).
Dandara e colaboradores associaram o genótipo homozigótico CYP3A5*3 a um
menor risco de desenvolver cancro do esófago (Dandara C, 2005).
Influência de polimorfismos na família CYP3A no desenvolvimento de tumores sólidos 21
1. Introdução
O estudo de polimorfismos funcionais nos genes que codificam CYP3A4 e
CYP3A5 reveste-se de importância acrescida em processos de carcinogénese
química ou hormonal (como o cancro do pulmão e da próstata), devido à acção
destas enzimas no metabolismo de procarcinogéneos, poluentes, fármacos e
hormonas (Goodwin B, 1999; Brennan P, 2002).
Influência de polimorfismos na família CYP3A no desenvolvimento de tumores sólidos 22
2. Objectivos
Influência de polimorfismos na família CYP3A no desenvolvimento de tumores sólidos
2. Objectivos
Este trabalho, onde foi desenvolvido um estudo do tipo caso-controlo, teve os
seguintes objectivos:
- Analisar a frequência dos polimorfismos genéticos em CYP3A4 e CYP3A5
em indivíduos com cancro do pulmão e indivíduos sem doença oncológica
conhecida;
- Avaliar a existência de associações entre a frequência dos polimorfismos
estudados em CYP3A4, CYP3A5 e suas combinações e a susceptibilidade para cancro
do pulmão;
- Avaliar a associação dos polimorfismos estudados com características
clínico-patológicas dos doentes com cancro do pulmão;
- Analisar a frequência dos polimorfismos genéticos em CYP3A4 e CYP3A5
em indivíduos com cancro da próstata e indivíduos sem doença oncológica
conhecida;
- Avaliar a existência de associações entre a frequência dos polimorfismos
estudados em CYP3A4, CYP3A5 e suas combinações e a susceptibilidade para cancro
da próstata;
- Avaliar a associação dos polimorfismos estudados com características
clínico-patológicas dos doentes com cancro da próstata.
Influência de polimorfismos na família CYP3A no desenvolvimento de tumores sólidos 25
3. Material e Métodos
Influência de polimorfismos na família CYP3A no desenvolvimento de tumores sólidos
3. Material e Métodos
3.1. População
Neste trabalho do tipo caso-controlo participaram mil, seiscentos e noventa e
cinco (1695) indivíduos: mil, trezentos e vinte e quatro (1324) homens e trezentas e
setenta (370) mulheres. Todas as amostras estudadas são provenientes de indivíduos
da região norte de Portugal e foram utilizadas com o seu conhecimento e
consentimento prévios, de acordo com o protocolo de Helsínquia.
3.1.1. Doentes com cancro do pulmão e grupo controlo
Foram incluídos no estudo duzentos e sessenta e nove (269) indivíduos, dos
quais duzentos e quinze (215) homens e cinquenta e três (53) mulheres, com
diagnóstico histopatológico de CPNPC, tratados no Instituto Português de Oncologia
Francisco Gentil - Entidade Pública Empresarial. A idade média de diagnóstico foi
de 62,7 ± 9,9 anos e a mediana de 64,0 anos. Aquando do diagnóstico foram
avaliadas diversas características clínico-patológicas importantes, tais como o tipo
histológico e estadio do tumor e hábitos tabágicos, embora não tenha sido possível
obter informação relativa a estes parâmetros em todos os doentes. Estes dados estão
descritos no Quadro I.
No grupo controlo foram incluídos setecentos e vinte e oito (728) indivíduos,
recrutados no Banco de Dadores de Sangue do Instituto Português de Oncologia, sem
doença oncológica conhecida, dos quais quatrocentos e onze (411) eram homens e
trezentas e dezassete (317) mulheres. A média de idades foi de 43,6 ± 12,7 anos e
mediana de 46,0 anos. Foi obtida informação sobre os hábitos tabágicos de 184
indivíduos e verificou-se que 65,2% eram não fumadores e que 34,8% eram
fumadores activos ou ex-fumadores.
Influência de polimorfismos na família CYP3A no desenvolvimento de tumores sólidos 29
3. Material e Métodos
Quadro I: Características clínico-patológicas dos casos de cancro do pulmão
Frequência Percentagem Histologia
Epidermóide 100 37,2 Adenocarcinoma 121 45,0 CPNPC indiferenciado 29 10,8 Grandes Células 9 3,3 Outros 2 0,7 Sem informação 8 3,0 Total 269 100,0 Estadio
I 35 13,0 II 22 8,2 III 119 44,2 IV 85 31,6 Sem informação 8 3,0 Total 269 100,0 Tabaco
Não fumador 59 21,9 Fumador* 197 73,3 Sem informação 13 4,8 Total 269 100 * Fumadores activos e ex-fumadores
3.1.2. Doentes com cancro da próstata e grupo controlo
Participaram no estudo seiscentos e noventa e oito (698) homens com
diagnóstico histopatológico de cancro da próstata, tratados no Instituto Português de
Oncologia Francisco Gentil - Entidade Pública Empresarial. A idade média de
diagnóstico foi de 67,3 anos ± 7,6 e a mediana de 67,0 anos. Foram considerados
relevantes para o estudo as informações clínico-patológicas de grau histológico de
Gleason, estadio e metastização à distância, no entanto, não foi possível obter esta
informação para todos os casos estudados. Estes dados estão descritos no Quadro II.
O grupo controlo era constituído por quatrocentos e um (401) indivíduos,
recrutados no Banco de Dadores de Sangue do Instituto Português de Oncologia, sem
Influência de polimorfismos na família CYP3A no desenvolvimento de tumores sólidos 30
3. Material e Métodos
doença oncológica conhecida, cuja média de idades foi de 44,9 ± 12,4 anos e
mediana de 47,0 anos.
Quadro II: Características clínico-patológicas dos casos de cancro da próstata
Frequência Percentagem Grau de Gleason
<7 232 33,2 ≥7 234 33,6 Sem informação 232 33,2 Total 698 100,0 Estadio
I 91 13,0 II 218 31,2 III 119 17,1 IV 79 11,3 Sem informação 191 27,4 Total 698 100,0 Metástases à distância
Ausentes 417 59,8 Presentes 79 11,3 Sem informação 202 28,9 Total 698 100,0
Influência de polimorfismos na família CYP3A no desenvolvimento de tumores sólidos 31
3. Material e Métodos
3.2. Processamento das amostras
Foram recolhidos cerca de 8 mL de sangue periférico dos indivíduos acima
referidos, através de uma técnica padronizada de colheita intravenosa, para tubos que
continham uma solução de EDTA.
O isolamento de DNA genómico foi efectuado pela técnica de Salting-out
clorofórmio (Mullenbach R, 1989) a partir de células nucleadas do sangue periférico.
Às amostras de sangue periférico adicionou-se uma solução hipotónica, AKE (Anexo
I), de modo a provocar a lise dos eritrócitos, e incubou-se a 4ºC durante 30 minutos.
Centrifugou-se a 2000 rpm, durante 10 minutos a 4ºC, rejeitando o sobrenadante;
ressuspendeu-se o sedimento na solução hipotónica, seguindo-se uma nova
centrifugação nas mesmas condições. Ressuspendeu-se o sedimento obtido em PBS
(Anexo I) e procedeu-se a uma última centrifugação, igualmente a 2000 rpm, durante
10 minutos a 4ºC, para obtenção de um sedimento de células nucleadas.
O sedimento obtido foi ressuspenso em 4 mL de tampão SE (Anexo I),
provocando a lise das células nucleadas; adicionou-se SDS (dodecilsulfato de sódio,
Gibco BRL 5525UA) para promover a dissociação do DNA das proteínas.
Adicionou-se proteinase K (Boehringer Mannheim 745723) (concentração final de
200 µg/mL) e incubou-se a 55ºC durante 12 horas para completa degradação
proteica.
Adicionou-se 1 mL de NaCl 6 M previamente aquecido, para uma
concentração final de 1.5 M, com o objectivo de precipitar as proteínas (“salting-
out”). A separação das proteínas foi efectuada pela adição de igual volume de
clorofórmio (Merck 1124451000) e agitação suave durante 30 a 60 minutos. Seguiu-
se uma centrifugação a 2500 rpm, durante 10 minutos a 4ºC de modo a separar a fase
Influência de polimorfismos na família CYP3A no desenvolvimento de tumores sólidos 32
3. Material e Métodos
aquosa, que contêm o DNA, da fase orgânica, onde se encontram as proteínas
degradadas. A fase aquosa foi recolhida e adicionou-se igual volume de isopropanol
(Panreac cod 131090), promovendo assim a precipitação do DNA. Posteriormente, o
DNA foi lavado com etanol (Merck 1009831000) a 70% (v/v). Após completa
evaporação do etanol, o DNA foi ressuspenso em água bidestilada.
As amostras foram armazenadas a 4ºC ou a -20ºC conforme o tempo de
armazenamento previsto.
3.3. Amplificação do DNA
A amplificação do DNA que contém as regiões a avaliar neste estudo foi
realizada recorrendo à técnica de Polymerase Chain Reaction (PCR).
3.3.1. Amplificação do fragmento do gene CYP3A4
O fragmento de DNA pretendido, que pertence à região promotora 5’ do gene
CYP3A4, foi amplificado por PCR segundo o protocolo descrito por Cavalli e
colaboradores (Cavalli SA, 2001).
Submeteu-se a PCR cerca de 20 ng de DNA de cada caso, o que corresponde
a aproximadamente 2 µL de cada amostra. O volume de reacção foi de 50 µL, e a
mistura de reacção incluiu: 5µL de tampão de reacção de PCR, uma unidade de Taq
DNA Polimerase, 2,0 mM de MgCl2 [Fermentas Taq DNA Polymerase
(recombinant), #EP0402], 200 µM de dNTPs (Fermentas, #R0192) e 10 ρmol de
cada um dos primers P3A4*1B-F (5’-
GGAATGAGGACAGCCATAGAGACAAGGGGA-3’) e P3A4*1B-R (5’-
CCTTTCAGCTCTGTGTTGCTCTTTGCTG-3’) (Invitrogen 575480).
Influência de polimorfismos na família CYP3A no desenvolvimento de tumores sólidos 33
3. Material e Métodos
As condições de amplificação utilizadas foram as seguintes: pré-desnaturação
a 98ºC durante 5 minutos, seguida de 30 ciclos de 1 minuto a 95ºC (desnaturação),
90 segundos a 60ºC (emparelhamento) e 2 minutos a 72ºC (extensão) aos quais se
seguiu um passo final de extensão a 72ºC durante 10 minutos. A reacção foi
efectuada num termociclador programável Biometra.
No final da reacção foi amplificado um fragmento de 385 pb da região
promotora 5’ do gene CYP3A4.
3.3.2. Amplificação do fragmento do gene CYP3A5
A amplificação do fragmento de DNA da região codificante do gene CYP3A5
foi efectuada por PCR, segundo o protocolo descrito por van Schaik e colaboradores
(van Schaik RHN, 2002).
A reacção foi efectuada num termociclador programável Biometra, com um
volume final de 50 μL. A mistura de reacção incluiu: 5 µL de tampão de PCR, uma
unidade de Taq DNA Polimerase, 1,5 mM de MgCl2 [Fermentas Taq DNA
Polymerase (recombinant), #EP0402], 0,2 mM de dNTPs (Fermentas, #R0192) e 40
ρmol de cada um dos primers CYP3A5F (5'-CATGACTTAGTAGACAGATGAC-
3') e CYP3A5R (5’-GGTCCAAACAGGGAAGAAATA-3’) (Metabion 70510B3).
As condições de amplificação incluíram 7 minutos de pré-desnaturação a 94ºC,
seguida de 35 ciclos de 1 minuto a 94ºC (desnaturação), 1 minuto a 55ºC
(emparelhamento) e 1 minuto a 72ºC (extensão), aos quais se seguiu um passo final
de extensão a 72ºC durante 7 minutos.
No final da reacção foi amplificado um fragmento de 293 pb da região
codificante do gene CYP3A5.
Influência de polimorfismos na família CYP3A no desenvolvimento de tumores sólidos 34
3. Material e Métodos
3.3.3. Identificação dos fragmentos por electroforese
Para confirmação da amplificação dos fragmentos de DNA obtidos foram
analisados 15 µL do produto de PCR por electroforese em gel de agarose a 1.5%
(p/v) corado com brometo de etídeo (10 µg/mL). Os géis foram preparados em
tampão TBE (Anexo I), sendo este também utilizado como tampão de electroforese.
As amostras foram aplicadas no gel após mistura com tampão de aplicação
(Fermentas #R0611) e foi utilizado um marcador molecular de 100 pb (Fermentas
#SM0243). A visualização dos géis foi efectuada recorrendo a uma lâmpada de luz
ultra-violeta, num aparelho Image Master® VDS (Pharmacia Biotech) (Figuras 11 e
12).
385 pb
M
Figura 11: Gel de agarose a 1,5% (p/v), mostrando a banda de 385 pb que corresponde à
região de CYP3A4 amplificada por PCR (M- marcador 100 pb).
293 pb
M
Figura 12: Gel de agarose a 1,5% (p/v), mostrando a banda de 293 pb que corresponde à
região de CYP3A5 amplificada por PCR (M- marcador 100 pb).
Influência de polimorfismos na família CYP3A no desenvolvimento de tumores sólidos 35
3. Material e Métodos
3.4. Análise dos polimorfismos em CYP3A4 e CYP3A5
Os polimorfismos estudados foram analisados recorrendo à técnica de
Restriction Fragment Lenght Polymorphism (RFLP).
3.4.1. Digestão do fragmento do gene CYP3A4
Para a análise do polimorfismo no gene CYP3A4 foram utilizados 13 µL de
produto de PCR de cada amostra para digestão com a enzima de restrição MboII e
respectivo tampão (Fermentas #ER0822), segundo as instruções fornecidas pelo
fabricante, num volume final de reacção de 30 µL. A incubação ocorreu a 37ºC
durante 3 horas.
3.4.2. Digestão do fragmento do gene CYP3A5
Na análise do polimorfismo em CYP3A5 foram utilizados 10 µL de produto
de PCR de cada amostra para digerir com a enzima de restrição SspI e respectivo
tampão (Fermentas #ER0772), segundo as instruções do fabricante, num volume
final de reacção de 30 µL. A incubação decorreu por um período de 5 horas a 37ºC.
3.4.3. Separação dos fragmentos de DNA por electroforese
O resultado das digestões dos fragmentos dos genes CYP3A4 e CYP3A5 com
as respectivas enzimas de restrição foram observados recorrendo a electroforeses em
géis de agarose a 3% (p/v), corados com brometo de etídeo (10 µg/mL).
Relativamente à digestão do fragmento do gene CYP3A4, observaram-se três
padrões diferentes de bandas que nos permitiram identificar os respectivos genótipos:
duas bandas com 169 pb e 175 pb correspondentes ao genótipo homozigótico
Influência de polimorfismos na família CYP3A no desenvolvimento de tumores sólidos 36
3. Material e Métodos
CYP3A4*1A (A/A), três bandas com 169 pb, 175 pb e 210 pb correspondentes ao
genótipo heterozigótico CYP3A4*1A/CYP3A4*1B (A/G) e duas bandas com 175 pb e
210 pb correspondentes ao genótipo homozigótico CYP3A4*1B (G/G). A banda de
41 pb, que apresenta um peso molecular relativamente baixo, não é visível nos géis
de agarose (Figura 13).
210 pb 175 pb 169 pb
M A/G A/A G/G A/A A/A
Figura 13: Gel de agarose a 3% (p/v), representando os três padrões de RFLP, e respectivos
genótipos, obtidos para CYP3A4 (M- marcador 50 pb).
Influência de polimorfismos na família CYP3A no desenvolvimento de tumores sólidos 37
3. Material e Métodos
Após electroforese da digestão do fragmento do gene CYP3A5, foi possível
identificar os diferentes padrões de bandas correspondentes aos genótipos existentes:
ao genótipo homozigótico CYP3A5*1 (A/A) correspondem duas bandas com 125 pb
e 148 pb, ao genótipo heterozigótico CYP3A5*1/CYP3A5*3 (A/G) correspondem três
bandas com 125 pb, 148 pb e 168 pb e, por fim, ao genótipo homozigótico
CYP3A5*3 (G/G) correspondem duas bandas com 125 pb e 168 pb (Figura 14).
168 pb 148 pb 125 pb
MA/A G/G A/G
Figura 14: Gel de agarose a 3% (p/v), representando os três padrões de RFLP, e respectivos
genótipos, obtidos para CYP3A5 (M- marcador 50 pb).
Influência de polimorfismos na família CYP3A no desenvolvimento de tumores sólidos 38
3. Material e Métodos
3.5. Análise estatística
A análise estatística dos resultados foi realizada com o auxílio do software
estatístico SPSS (versão 15.0, SPSS Inc, 2006).
A análise pelo teste Qui-Quadrado (χ2) foi utilizada para comparação das
diferentes variáveis categóricas. O valor de P foi obtido pelo teste de χ2 e
considerado estatisticamente significativo quando inferior a 0.05. O valor de Odds
Ratio (OR) indica o risco relativo para determinado acontecimento num estudo do
tipo caso-controlo, e foi calculado juntamente com o intervalo de confiança de 95%
(IC 95%) para medir a associação entre os genótipos de CYP3A4 e CYP3A5 e o risco
para cancro do pulmão e cancro da próstata.
Influência de polimorfismos na família CYP3A no desenvolvimento de tumores sólidos 39
4. Resultados
Influência de polimorfismos na família CYP3A no desenvolvimento de tumores sólidos
4. Resultados
4.1. Cancro do pulmão
4.1.1. Frequências dos polimorfismos em CYP3A4 e CYP3A5
A distribuição dos genótipos de CYP3A4 nos grupos controlo e de casos de
CPNPC está descrita no Quadro III.
A frequência do genótipo AA foi de 89,4% e 91,6% em casos e controlos,
respectivamente. A frequência observada do genótipo AG foi de 10,3% nos casos de
cancro do pulmão e 8,2% nos controlos. A frequência do genótipo raro GG, no grupo
de casos e no grupo de controlos, foi de 0,4% e 0,1% respectivamente.
Não foram observadas diferenças estatisticamente significativas na
distribuição dos genótipos entre o grupo de casos de CPNPC e o grupo controlo
(OR=1,30; IC95%: 0,81-2,09; P=0,272), após a conjugação dos genótipos AG e GG
no grupo de portadores do alelo G (PortG).
Quadro III: Frequências genotípicas de CYP3A4 no grupo controlo e grupo de casos
de CPNPC
Casos (n=263)
Controlos (n=716)
n % n % OR IC 95% P Genótipos CYP3A4 AA 235 89,4 656 91,6 AG 27 10,3 59 8,3 GG 1 0,4 1 0,1 AA 235 89,4 656 91,6 1,00 Referência - PortG* 28 10,6 60 8,4 1,30 0,81-2,09 0,272* Inclui os genótipos AG e GG
Influência de polimorfismos na família CYP3A no desenvolvimento de tumores sólidos 43
4. Resultados
No Quadro IV estão descritas as frequências dos genótipos de CYP3A5 no
grupo controlo e no grupo de casos de CPNPC. A frequência do genótipo AA foi de
0,8% em ambos os grupos analisados. A frequência de heterozigóticos AG foi de
20,3% no grupo de casos e de 14,6% no grupo controlo. Os homozigóticos GG foram
os mais frequentes em ambos os grupos: 78,9% dos casos e 84,6% dos controlos
apresentavam este genótipo.
Verificou-se que os indivíduos com genótipos portadores do alelo A (PortA)
apresentam um risco quase 1,5 vezes superior de desenvolver CPNPC (OR=1,46;
IC95%: 1,02-2,09; P=0,037).
Quadro IV: Frequências genotípicas de CYP3A5 no grupo controlo e no grupo de
casos de CPNPC
Casos (n=266)
Controlos (n=713)
n % n % OR IC 95% P Genótipos CYP3A5 AA 2 0,8 6 0,8 AG 54 20,3 104 14,6 GG 210 78,9 603 84,6 GG 210 78,9 603 84,6 1,00 Referência - PortA* 56 21,1 110 15,4 1,46 1,02-2,09 0,037* Inclui os genótipos AA e AG
Para analisar o efeito dos dois polimorfismos em conjunto foram reunidas
todas as combinações de genótipos possíveis entre CYP3A4 e CYP3A5 (Quadro V).
Apesar de ainda ser controverso o efeito do alelo CYP3A4*1B na actividade de
CYP3A4, a combinação AA/GG apresentaria, de acordo com a literatura, em
comparação com as outras oito descritas, uma menor expressão das duas enzimas
(Amirimani B, et al., 2003; Ando Y, et al., 1999; Kuehl P, et al., 2001; Hustert E, et
al., 2001; Lamba JK, 2002). Todas as outras combinações, que contêm uma ou as
Influência de polimorfismos na família CYP3A no desenvolvimento de tumores sólidos 44
4. Resultados
duas variantes menos frequentes (alelo G em CYP3A4 e alelo A em CYP3A5),
apresentariam maior expressão das enzimas CYP3A. Para efeito de análise dos
nossos resultados, designamos a combinação AA/GG de “Baixa expressão” e todas
as outras combinações foram incluídas no grupo de “Elevada expressão”.
Quadro V: Combinações possíveis de genótipos de CYP3A4 e CYP3A5
Combinações Genótipo CYP3A4 Genótipo CYP3A5 Expressão AA/AA AA AA Elevada AA/AG AA AG Elevada AA/GG AA GG Baixa AG/AA AG AA Elevada AG/AG AG AG Elevada AG/GG AG GG Elevada GG/AA GG AA Elevada GG/AG GG AG Elevada GG/GG GG GG Elevada
As frequências das combinações de genótipos de CYP3A4 e CYP3A5 no
grupo de casos de CPNPC e no grupo controlo estão descritas no Quadro VI.
Observou-se que indivíduos com genótipos de elevada expressão apresentam um
maior risco de desenvolver CPNPC (OR=1,42; IC95%: 1,00-2,00; P=0,049).
Quadro VI: Frequências das combinações de genótipos de CYP3A4 e CYP3A5 no
grupo controlo e grupo de casos de CPNPC
Casos (n=262)
Controlos (n=702)
n % n %
OR
IC 95%
P Combinações Baixa expressão 201 76,7 578 82,3 1,00 Referência - Elevada expressão 61 23,3 124 17,7 1,42 1,00-2,00 0,049
Influência de polimorfismos na família CYP3A no desenvolvimento de tumores sólidos 45
4. Resultados
4.1.2. Polimorfismos em CYP3A4 e CYP3A5 e parâmetros clínico-patológicos
Foi analisada a distribuição dos genótipos de CYP3A4 e CYP3A5, em
separado e em conjunto, em diferentes tipos histológicos de CPNPC. Não se
observaram diferenças estatisticamente significativas na distribuição dos genótipos
de CYP3A4 entre controlos e casos de CPNPC do tipo adenocarcinoma (OR=1,35;
IC95%: 0,72-2,55; P=0,348), epidermóide (OR=1,22; IC95%: 0,60-2,46; P=0,588)
ou CPNPC indiferenciado (OR=1,82; IC95%: 0,61-5,43; P=0,274). Considerando os
genótipos de CYP3A5, não foram igualmente observadas diferenças estatisticamente
significativas entre controlos e adenocarcinomas do pulmão (OR=1,50; IC95%: 0,93-
2,42; P=0,095), casos do tipo histológico epidermóide (OR=1,20; IC95%: 0,70-2,08;
P=0,508) ou CPNPC indiferenciado (OR=1,83; IC95%: 0,76-4,40; P=0,173). Não
foram também observadas diferenças estatisticamente significativas na distribuição
das combinações de genótipos de CYP3A4 e CYP3A5 entre controlos e
adenocarcinomas do pulmão (OR=1,45; IC95%: 0,91-2,31; P=0,117), casos de
CPNPC epidermóide (OR=1,24; IC95%: 0,74-2,08; P=0,417) ou CPNPC
indiferenciado (OR=1,63; IC95%: 0,68-3,94; P=0,273).
A distribuição dos genótipos de CYP3A4 e CYP3A5 em separado e em
conjunto, quer em controlos, quer em casos de CPNPC em estadios precoces (I e II),
está representada no Quadro VII. O Quadro VIII apresenta a distribuição dos
genótipos de CYP3A4, CYP3A5 e suas combinações nos controlos e casos de CPNPC
em estadios avançados (III e IV).
Influência de polimorfismos na família CYP3A no desenvolvimento de tumores sólidos 46
4. Resultados
Relativamente aos estadios precoces de CPNPC, não se observaram
diferenças estatisticamente significativas entre o grupo controlo e o grupo de casos
de CPNPC, quer para os genótipos de CYP3A4 (OR=0,86; IC95%: 0,30-2,45;
P=0,774) ou CYP3A5 (OR=1,22; IC95%: 0,60-2,49; P=0,588), quer para as
combinações de ambos (OR=1,19; IC95%: 0,60-2,38; P=0,617).
Quadro VII: Distribuição dos genótipos de CYP3A4, CYP3A5 e suas combinações
no grupo controlo e nos casos de CPNPC nos estadios I e II
Casos
Controlos
n % n % OR IC 95% P CYP3A4 AA 51 92,7 656 91,6 1,00 Referência - PortG* 4 7,3 60 8,4 0,86 0,30-2,45 0,774 CYP3A5 GG 45 81,8 603 84,6 1,00 Referência - PortA** 10 18,2 110 15,4 1,22 0,60-2,49 0,588 Combinações Baixa expressão 43 79,6 578 82,3 1,00 Referência - Elevada expressão 11 20,4 124 17,7 1,19 0,60-2,38 0,617* Inclui os genótipos AG e GG ** Inclui os genótipos AA e AG
Influência de polimorfismos na família CYP3A no desenvolvimento de tumores sólidos 47
4. Resultados
No que diz respeito à análise comparativa entre o grupo controlo e o grupo de
casos de CPNPC em estadios avançados, verificou-se que os indivíduos com
genótipos portadores do alelo G de CYP3A4 apresentam um risco 1,8 vezes maior de
desenvolver cancro de pulmão avançado (OR=1,82; IC95%: 1,08-3,07; P=0,023).
Foi observada uma tendência para um maior risco de desenvolver CPNPC avançado
nos indivíduos com genótipos portadores do alelo A de CYP3A5 (OR=1,53; IC95%:
0,99-2,31; P=0,053). Após a análise da combinação dos dois genótipos foi possível
observar diferenças estatisticamente significativas: os indivíduos com genótipos de
elevada expressão apresentam um risco 1,5 vezes maior para o desenvolvimento de
CPNPC avançado (OR=1,53; IC95%: 1,01-2,31; P=0,044).
Quadro VIII: Distribuição dos genótipos de CYP3A4, CYP3A5 e suas combinações
no grupo controlo e nos casos de CPNPC nos estadios III e IV
Casos
Controlos
n % n % OR IC 95% P CYP3A4 AA 132 85,7 656 91,6 1,00 Referência - PortG* 22 14,3 60 8,4 1,82 1,08-3,07 0,023 CYP3A5 GG 122 78,2 603 84,6 1,00 Referência - PortA** 34 21,8 110 15,4 1,53 0,99-2,35 0,053 Combinações Baixa expressão 116 75,3 578 82,3 1,00 Referência - Elevada expressão 38 24,7 124 17,7 1,53 1,01-2,31 0,044* Inclui os genótipos AG e GG ** Inclui os genótipos AA e AG
Influência de polimorfismos na família CYP3A no desenvolvimento de tumores sólidos 48
4. Resultados
4.2. Cancro da próstata
4.2.1. Frequências dos polimorfismos em CYP3A4 e CYP3A5
A distribuição dos genótipos de CYP3A4, CYP3A5 e das suas combinações no
grupo controlo e grupo de casos de cancro da próstata está descrita no Quadro IX.
Relativamente ao polimorfismo em CYP3A4, o genótipo AA foi o mais
frequente, quer em casos, quer em controlos, representando, respectivamente, 89,4%
e 91,5% dos genótipos encontrados. A frequência de heterozigóticos foi de 10,0%
nos casos de cancro da próstata e de 8,2% nos controlos. O genótipo raro GG
apresentou uma baixa frequência em casos e controlos: 0,6% e 0,2%,
respectivamente. Não se observaram diferenças estatisticamente significativas entre o
grupo de casos de cancro da próstata e o grupo controlo (OR=1,28; IC95%: 0,84-
1,96; P=0,255), após a conjugação dos genótipos AG e GG no grupo de portadores
do alelo G (PortG).
Quanto ao polimorfismo em CYP3A5, o genótipo AA surgiu com uma
frequência baixa, quer em casos (1,4%), quer em controlos (0,7%). A frequência de
heterozigóticos foi semelhante nos dois grupos analisados, sendo de 14,5% nos casos
de cancro da próstata e de 14,0% nos controlos. O genótipo GG apresentou uma
frequência de 84,1% e 85,3% em casos e controlos respectivamente. Não se
observaram diferenças estatisticamente significativas entre o grupo controlo e o
grupo de casos de cancro da próstata (OR=1,10; IC95%: 0,78-1,54; P=0,600) para os
indivíduos com genótipos portadores do alelo A (PortA) quando comparados com
indivíduos com o genótipo GG.
Influência de polimorfismos na família CYP3A no desenvolvimento de tumores sólidos 49
4. Resultados
Não se observaram diferenças estatisticamente significativas na distribuição
das combinações de genótipos entre casos e controlos (OR=1,21; IC95%: 0,87-1,67;
P=0,254).
Quadro IX: Frequências genotípicas de CYP3A4, CYP3A5 e das suas combinações
no grupo controlo e grupo de casos de cancro da próstata
Casos (n=698)
Controlos (n=401)
n % N % OR IC 95% P Genótipos CYP3A4 AA 624 89,4 367 91,5 AG 70 10,0 33 8,3 GG 4 0,6 1 0,2 AA 624 89,4 367 91,5 1,00 Referência - PortG* 74 10,6 34 8,5 1,28 0,84-1,96 0,255 Genótipos CYP3A5 AA 10 1,4 3 0,7 AG 101 14,5 56 14,0 GG 587 84,1 342 85,3 GG 587 84,1 342 85,3 1,00 Referência - PortA** 111 15,9 59 14,7 1,10 0,78-1,54 0,600 Combinações Baixa expressão 562 80,5 334 83,3 1,00 Referência - Elevada expressão 136 19,5 67 16,7 1,21 0,87-1,67 0,254* Inclui os genótipos AG e GG ** Inclui os genótipos AA e AG
Influência de polimorfismos na família CYP3A no desenvolvimento de tumores sólidos 50
4. Resultados
4.2.2. Polimorfismos em CYP3A4 e CYP3A5 e parâmetros clínico-patológicos
A distribuição dos genótipos de CYP3A4 no grupo de casos, tendo em conta
importantes parâmetros clínico-patológicos do cancro da próstata, está descrita no
Quadro X.
Atendendo ao grau histológico de Gleason, verificou-se que os indivíduos
com genótipos portadores do alelo G apresentam um risco 1,8 vezes superior de
desenvolver cancro da próstata com grau de Gleason igual ou superior a 7 (OR=1,80;
IC95%: 1,00-3,24; P=0,046).
Não se observaram diferenças estatisticamente significativas na distribuição
dos genótipos quando considerados os estadios (OR=0,88; IC95%: 0,49-1,57;
P=0,665) ou a metastização à distância (OR=1,20; IC95%: 0,58-2,49; P=0,628).
Quadro X: Distribuição dos genótipos de CYP3A4 no grupo de pacientes com
cancro da próstata, considerando o grau histológico de Gleason, o estadio e a
metastização
Casos n (%)
PortG* AA OR IC 95% P Grau de Gleason <7 20 (8,7) 212(91,3) 1,00 Referência - ≥7
34 (14,5) 200(85,5) 1,80 1,00-3,24 0,046
Estadio I e II 35(11,3) 274(88,7) 1,00 Referência - III e IV
20(10,1) 178(89,9) 0,88 0,49-1,57 0,665
Metástases à distância Ausentes 45(10,8) 372(89,2) 1,00 Referência - Presentes 10(12,7) 69(87,3) 1,20 0,58-2,49 0,628 * Inclui os genótipos AG e GG
Influência de polimorfismos na família CYP3A no desenvolvimento de tumores sólidos 51
4. Resultados
A frequência dos genótipos de CYP3A5 no grupo de casos, considerando
importantes parâmetros clínico-patológicos do cancro da próstata, está descrita no
Quadro XI.
Não se observaram diferenças estatisticamente significativas na distribuição
dos genótipos de CYP3A5 entre os dois grupos considerando o grau histológico de
Gleason (OR=1,26; IC95%: 0,78-2,05; P=0,347), os estadios (OR=1,15; IC95%:
0,72-1,84; P=0,558) ou a metastização à distância (OR=1,60; IC95%: 0,89-2,88;
P=0,116).
Quadro XI: Distribuição dos genótipos de CYP3A5 no grupo de pacientes com
cancro da próstata, considerando o grau histológico de Gleason, o estadio e a
metastização
Casos n (%)
PortA* GG OR IC 95% P Grau de Gleason <7 36(15,5) 196(84,5) 1,00 Referência - ≥7
44(18,8) 190(81,2) 1,26 0,78-2,05 0,347
Estadio I e II 50(16,2) 259(83,8) 1,00 Referência - III e IV
36(18,2) 162(81,8) 1,15 0,72-1,84 0,558
Metástases à distância Ausentes 65(15,6) 352(84,4) 1,00 Referência - Presentes 18(22,8) 61(77,2) 1,60 0,89-2,88 0,116 * Inclui os genótipos AA e AG
As frequências dos genótipos combinados de CYP3A4 e CYP3A5 no grupo de
casos de cancro da próstata, tendo em conta o grau histológico de Gleason, o estadio
e a metastização à distância, encontram-se no Quadro XII.
Influência de polimorfismos na família CYP3A no desenvolvimento de tumores sólidos 52
4. Resultados
Não se observaram diferenças estatisticamente significativas na distribuição
dos genótipos combinados no grupo de pacientes com cancro da próstata em nenhum
dos parâmetros analisados: grau histológico de Gleason (OR=1,55; IC95%: 0,98-
2,43; P=0,058), estadios (OR=1,18; IC95%: 0,76-1,83; P=0,472) ou metastização à
distância (OR=1,57; IC95%: 0,90-2,75; P=0,108).
Quadro XII: Distribuição das combinações de genótipos de CYP3A4 e CYP3A5 no
grupo de casos de cancro da próstata considerando o grau histológico de Gleason, o
estadio e a metastização
Combinações n (%)
E. Exp.* B. Exp.** OR IC 95% P Grau de Gleason <7 40(17,2) 192(82,8) 1,00 Referência - ≥7
57(24,4) 177(75,6) 1,55 0,98-2,43 0,058
Estadio I e II 59(19,1) 250(80,9) 1,00 Referência - III e IV
43(21,7) 155(78,3) 1,18 0,76-1,83 0,472
Metástases à distância Ausentes 78(18,7) 339(81,3) 1,00 Referência - Presentes 21(26,6) 58(73,4) 1,57 0,90-2,75 0,108 *Elevada expressão **Baixa expressão
Numa segunda etapa desta análise foi avaliada a relação entre os genótipos de
CYP3A4, CYP3A5 e suas combinações, e o risco para cancro da próstata com
características fenotípicas de agressividade ou mau prognóstico, como o grau
histológico de Gleason igual ou superior a 7, estadios avançados (III e IV) e a
presença de metastização à distância.
Influência de polimorfismos na família CYP3A no desenvolvimento de tumores sólidos 53
4. Resultados
No quadro XIII são apresentadas as frequências dos genótipos de CYP3A4 no
grupo controlo e nos casos de cancro da próstata com grau histológico de Gleason
igual ou superior a 7, estadios III e IV e metastização à distância.
Verificou-se que os indivíduos com genótipos portadores do alelo G (PortG)
de CYP3A4 apresentam um risco de 1,83 para desenvolver cancro da próstata com
grau histológico de Gleason igual ou superior a 7 (OR=1,83; IC95%: 1,07-3,13;
P=0,017). No que diz respeito aos estadios avançados (OR=1,21; IC95%: 0,65-2,25;
P=0,514) e metastização à distância (OR=1,56; IC95%: 0,69-3,48; P=0,239), não se
observaram diferenças estatisticamente significativas entre o grupo controlo e o
grupo de pacientes com cancro da próstata.
Quadro XIII: Frequências genotípicas de CYP3A4 no grupo controlo e no grupo de
casos de cancro da próstata com grau histológico de Gleason igual ou superior a 7,
com estadios III e IV e com metastização à distância
Casos n (%)
PortG* AA OR IC 95% P Grau de Gleason Grupo Controlo 34(8,5) 367(91,5) 1,00 Referência - ≥7
34 (14,5) 200(85,5) 1,83 1,07-3,13 0,017
Estadio Grupo Controlo 34(8,5) 367(91,5) 1,00 Referência - III e IV
20(10,1) 178(89,9) 1,21 0,65-2,25 0,514
Metástases à distância Grupo Controlo 34(8,5) 367(91,5) 1,00 Referência - Presentes 10(12,7) 69(87,3) 1,56 0,69-3,48 0,239 * Inclui os genótipos AG e GG
A frequência dos genótipos de CYP3A5 no grupo controlo e no grupo de
casos de cancro da próstata com grau histológico de Gleason igual ou superior a 7,
estadios III e IV ou metastização à distância, está descrita no Quadro XIV.
Influência de polimorfismos na família CYP3A no desenvolvimento de tumores sólidos 54
4. Resultados
Não se observaram diferenças estatisticamente significativas na distribuição
dos genótipos de CYP3A5 entre os grupos estudados considerando o grau histológico
de Gleason (OR=1,34; IC95%: 0,85-2,11; P=0,177), os estadios avançados
(OR=1,29; IC95%: 0,80-2,08;P=0,274) ou a metastização à distância (OR=1,71;
IC95%: 0,90-3,21;P=0,074), apesar de neste último parâmetro se verificar uma
tendência para a metastização nos indivíduos com genótipos portadores do alelo A.
Quadro XIV: Frequências genotípicas de CYP3A5 no grupo controlo e no grupo de
casos de cancro da próstata com grau histológico de Gleason igual ou superior a 7,
com estadios III e IV e com metastização à distância
Casos n (%)
PortA* GG OR IC 95% P Grau de Gleason Grupo Controlo 59(14,7) 342(85,3) 1,00 Referência - ≥7
44(18,8) 190(81,2) 1,34 0,85-2,11 0,177
Estadio Grupo Controlo 59(14,7) 342(85,3) 1,00 Referência - III e IV
36(18,2) 162(81,8) 1,29 0,80-2,08 0,274
Metástases à distância Grupo Controlo 59(14,7) 342(85,3) 1,00 Referência - Presentes 18(22,8) 61(77,2) 1,71 0,90-3,21 0,074 * Inclui os genótipos AA e AG
As frequências dos genótipos combinados de CYP3A4 e CYP3A5 no grupo
controlo e no grupo de casos de cancro da próstata de pior prognóstico, encontram-se
no Quadro XV.
Influência de polimorfismos na família CYP3A no desenvolvimento de tumores sólidos 55
4. Resultados
Observou-se que os indivíduos com genótipos de elevada expressão
apresentam um maior risco de desenvolver cancro da próstata com grau histológico
de Gleason igual ou superior a 7 (OR=1,61; IC95%: 1,06-2,43;P=0,019) e com
metastização à distância (OR=1,80; IC95%: 0,99-3,28;P=0,038). Não se observaram
diferenças estatisticamente significativas na distribuição dos genótipos combinados
tendo em conta os estadios avançados (OR=1,38; IC95%: 0,88-2,17;P=0,136).
Quadro XV: Distribuição das combinações de genótipos de CYP3A4 e CYP3A5 no
grupo controlo e de pacientes com cancro da próstata com grau histológico de
Gleason igual ou superior a 7, com estadios III e IV e com metastização à distância
Combinações n (%)
E. Exp.* B. Exp.** OR IC 95% P Grau de Gleason Grupo Controlo 67(16,7) 334(83,3) 1,00 Referência - ≥7
57(24,4) 177(75,6) 1,61 1,06-2,43 0,019
Estadio Grupo Controlo 67(16,7) 334(83,3) 1,00 Referência - III e IV
43(21,7) 155(78,3) 1,38 0,88-2,17 0,136
Metástases à distância Grupo Controlo 67(16,7) 334(83,3) 1,00 Referência - Presentes 21(26,6) 58(73,4) 1,80 0,99-3,28 0,038 *Elevada expressão **Baixa expressão
Influência de polimorfismos na família CYP3A no desenvolvimento de tumores sólidos 56
5. Discussão
Influência de polimorfismos na família CYP3A no desenvolvimento de tumores sólidos
5. Discussão No decorrer dos últimos anos, os avanços alcançados pela investigação
oncológica permitiram definir o cancro como uma doença complexa, que envolve
alterações dinâmicas do genoma, destacando a importância da componente genética
na sua etiologia. Por outro lado, tem sido atribuída uma maior importância ao papel
desempenhado por várias moléculas (exógenas ou endógenas) com potencial
carcinogénico no estabelecimento de um tumor. O balanço entre a taxa de danos no
DNA e a capacidade de resposta do organismo é determinante na ocorrência desta
doença (Belpomme D, et al., 2007; Bicho MP, 1988; Brennan P, 2002; Dasgupta P,
2006 ;Irigaray P, et al., 2007).
As enzimas CYP3A4 e CYP3A5 intervêm na fase I do metabolismo, actuam
sobre um vasto leque de compostos exógenos e endógenos, promovendo a sua
eliminação. Durante este processo ocorre a activação ou desactivação destes
compostos, que se tornam mais ou menos carcinogénicos, respectivamente. A
desregulação do metabolismo pode contribuir para a geração de danos no DNA,
promovendo o processo de carcinogénese. Polimorfismos nos genes CYP3A4 e
CYP3A5 têm sido apontados como potenciais responsáveis por variações individuais
no metabolismo de inúmeros compostos e associados a uma maior susceptibilidade
para diversas neoplasias. A acção destas enzimas sobre procarcinogéneos, poluentes,
fármacos e hormonas faz delas um bom alvo de estudo em modelos de carcinogénese
química e hormonal (Dally H, et al., 2003; Keshava C, 2004).
Os objectivos deste estudo consistiram na análise da frequência dos
polimorfismos em CYP3A4 e CYP3A5 em indivíduos sem doença oncológica
conhecida e em grupos de doentes com cancro do pulmão ou cancro da próstata, e na
avaliação da existência de associações entre a frequência dos polimorfismos em
Influência de polimorfismos na família CYP3A no desenvolvimento de tumores sólidos 59
5. Discussão questão e a susceptibilidade para cancro do pulmão e cancro da próstata e suas
características clínico-patológicas.
5.1. Susceptibilidade para cancro do pulmão
Desde o final do século XX que o cancro do pulmão se estabeleceu como um
dos principais problemas de saúde pública em todo o mundo. Em países onde o
consumo de tabaco é comum, cerca de 90% dos casos de cancro do pulmão são
atribuíveis a este factor (Alberg AJ, 2003).
O fumo do tabaco contém mais de 4000 substâncias, entre as quais
hidrocarbonetos aromáticos policíclicos, nitrosaminas e aminas aromáticas (Bartsch
H, et al., 2000). Durante o metabolismo destes compostos para posterior eliminação,
surgem intermediários altamente reactivos que, ao interagir com o DNA, podem dar
início ao processo de carcinogénese. O processo de transformação destas moléculas é
mediado, numa primeira fase, pelas enzimas CYP. Muitas das enzimas pertencentes a
esta superfamília apresentam polimorfismos que podem condicionar o processo de
activação ou inactivação dos constituintes do fumo do tabaco e, deste modo, alterar a
susceptibilidade individual para o desenvolvimento de cancro do pulmão (Figura 15).
A associação entre polimorfismos nos genes que codificam as enzimas CYP e o risco
para desenvolver cancro do pulmão tem sido o alvo de vários estudos (Dally H, et al.,
2003; Yeh KT, et al., 2003). Variações nos genes CYP1A1 e CYP2D6 foram as mais
estudadas não se observando, no entanto, resultados consistentes em diferentes
populações (Alberg AJ, 2003).
Influência de polimorfismos na família CYP3A no desenvolvimento de tumores sólidos 60
5. Discussão
Figura 15: Esquema da carcinogénese do pulmão mediada pelo fumo do tabaco (adaptado de
Alberg AJ, 2003).
As enzimas CYP3A são as mais importantes no metabolismo de xenobióticos
e estão presentes em órgãos considerados pontos de entrada para o organismo, como
o fígado, intestino e pulmões (Raunio H, 2005). Participam no metabolismo e
activação de compostos procarcinogénicos como a N’-nitrosonornicotina (NNN) e
hidrocarbonetos aromáticos policíclicos (como o Benzo[a]pireno) presentes no fumo
do tabaco. Porém, apenas dois estudos demonstraram associações entre
polimorfismos nos genes CYP3A4 e CYP3A5 e susceptibilidade para cancro do
pulmão, cujos resultados sugerem que o alelo CYP3A4*1B está associado a uma
susceptibilidade acrescida para desenvolver cancro do pulmão de pequenas células
Influência de polimorfismos na família CYP3A no desenvolvimento de tumores sólidos 61
5. Discussão (Dally H, et al., 2003) e CYP3A5*1 a um menor risco para o desenvolvimento cancro
de pulmão (Yeh KT, et al., 2003).
No decorrer deste trabalho verificou-se que os indivíduos com genótipos
portadores do alelo A de CYP3A5 apresentam um maior risco de desenvolver
CPNPC (OR=1,46; IC95%: 1,02-2,09; P=0,037), quando comparados com
indivíduos com genótipos GG. A presença de uma ou ambas as variantes menos
comuns de CYP3A4 e CYP3A5 (genótipos de elevada expressão), foi igualmente
associada a um maior risco para esta neoplasia (OR=1,42; IC95%: 1,00-2,00;
P=0,049).
Apesar de ser ainda controversa a importância do metabolismo de
carcinogéneos a nível do pulmão, especialmente quando comparada com a do fígado,
sabe-se que todo o tecido pulmonar actua sobre os carcinogéneos, metabolizando-os
principalmente por via das CYP (Hecht SS, 1999). Este metabolismo gera
intermediários reactivos dentro ou próximo das próprias células alvo (por exemplo as
células epiteliais do pulmão), facilitando o acesso destas ao DNA e o processo de
carcinogénese (Raunio H, et al., 1999). Os resultados apresentados neste trabalho
sugerem um papel mais importante da CYP3A5 na carcinogénese do pulmão. Esta
enzima é mais expressa no pulmão do que CYP3A4, que é a forma predominante no
fígado (Hukkanen J, 2001). Os indivíduos com genótipos portadores do alelo
CYP3A5*1, que expressam níveis elevados de CYP3A5, apresentam maior
metabolização dos carcinogéneos quando comparados com os indivíduos com
genótipos homozigóticos CYP3A5*3, podendo torná-los mais susceptíveis ao efeito
dos intermediários reactivos formados, que contribuem para o desenvolvimento da
neoplasia. Quando se consideraram as combinações das variantes menos comuns de
CYP3A4 e CYP3A5, foi igualmente observado risco para o desenvolvimento de
Influência de polimorfismos na família CYP3A no desenvolvimento de tumores sólidos 62
5. Discussão cancro do pulmão. No entanto, este resultado pode dever-se à influência do
polimorfismo em CYP3A5 já que esta é a enzima mais expressa no pulmão e a
análise dos genótipos de CYP3A4 isoladamente não revelou diferenças
estatisticamente significativas (OR=1,30; IC95%: 0,81-2,09; P=0,272).
Com o objectivo de estudar a influência dos polimorfismos na agressividade
tumoral, os casos de cancro do pulmão foram estratificados em dois grupos: estadios
precoces (I e II) e estadios avançados (III e IV). A análise dos resultados indicou que
indivíduos com genótipos portadores do alelo G de CYP3A4 apresentam um maior
risco para doença avançada (OR=1,82; IC95%: 1,08-3,07; P=0,023). O mesmo foi
observado em indivíduos com genótipos de elevada expressão (OR=1,53; IC95%:
1,01-2,31; P=0,044). Uma tendência para doença avançada foi encontrada nos
indivíduos com genótipos portadores do alelo A de CYP3A5 (OR=1,53; IC95%:
0,99-2,31; P=0,053).
A observação de uma maior susceptibilidade genética para doença avançada
em portadores de CYP3A4*1B, CYP3A5*1 ou ambos, sugere que uma maior
expressão das enzimas CYP3A pode contribuir para o comportamento agressivo do
cancro do pulmão. Apesar da controvérsia de resultados e conclusões publicados com
o alelo CYP3A4*1B, ambas as variantes aumentam a expressão das enzimas que
codificam e, consequentemente, aumentam a metabolização de carcinogéneos
presentes no fumo do tabaco nos órgãos onde são expressas. Este aumento pode
potenciar o efeito dos carcinogéneos, resultando numa neoplasia mais agressiva. A
frequência observada de indivíduos com genótipos portadores de CYP3A4*1B e
CYP3A5*1 em homozigotia foi baixa, razão pela qual não foi possível avaliar a acção
combinada de ambas as variantes no desenvolvimento da neoplasia.
Influência de polimorfismos na família CYP3A no desenvolvimento de tumores sólidos 63
5. Discussão 5.2. Susceptibilidade para cancro da próstata
O cancro da próstata é a segunda neoplasia que mais afecta os homens em
todo mundo, sendo que factores genéticos e ambientais se revestem de grande
importância para o seu desenvolvimento (Novelli G, et al., 2004; Parkin DM, 2005).
A testosterona é essencial para o crescimento e diferenciação da próstata
(Keshava C, 2004). Por outro lado, é um factor importante no desenvolvimento do
cancro da próstata (Feldman BJ, 2001). Factores genéticos que interfiram com a
expressão e actividade de enzimas que metabolizam os androgénios, podem
influenciar o processo de carcinogénese deste órgão (Makridakis NM, et al., 1999;
Park SY, et al., 2006).
As enzimas CYP3A4 e CYP3A5 têm um papel importante no metabolismo da
testosterona. A oxidação desta hormona a formas biologicamente menos activas,
como a 2β, 6β ou 15β-hidroxitestosterona, é efectuada por estas enzimas (Keshava
C, 2004; Moilanen AM, et al., 2007). Alterações na actividade das CYP3A, quer a
nível da próstata, quer a nível do fígado, podem modificar os níveis de testosterona e,
consequentemente, a sua acção nos órgãos alvo, como a próstata. Por este motivo,
vários estudos têm explorado a influência de polimorfismos em CYP3A4 e CYP3A5
na susceptibilidade para cancro da próstata: o alelo CYP3A4*1B tem sido associado a
um maior risco para o desenvolvimento de cancro da próstata mais agressivo, embora
permaneça por elucidar o mecanismo subjacente a este efeito (Rebbeck TR, 1998;
Paris PL, et al., 1999; Tayeb MT, et al., 2002; Plummer SJ, et al., 2003; Zeigler-
Johnson C, et al., 2004; Loukola A, et al., 2004; Bangsi D, et al., 2006); o alelo
CYP3A5*1, que expressa a enzima funcional CYP3A5, foi associado a um menor
Influência de polimorfismos na família CYP3A no desenvolvimento de tumores sólidos 64
5. Discussão risco para desenvolvimento de cancro da próstata menos agressivo (Plummer SJ, et
al., 2003; Zhenhua L, et al., 2005).
O presente estudo permitiu verificar que, tal como em estudos anteriores
acima referenciados, o alelo CYP3A4*1B está associado a cancro da próstata mais
agressivo (grau de Gleason ≥7) (OR=1,83; IC95%: 1,07-3,13; P=0,017). Apesar de
não se terem observado resultados estatisticamente significativos para o alelo A de
CYP3A5 isoladamente, os indivíduos com genótipos de elevada expressão
apresentam um maior risco para o desenvolvimento de cancro da próstata mais
agressivo (OR=1,61; IC95%: 1,06-2,43;P=0,019) e para a metastização à distância
(OR=1,80; IC95%: 0,99-3,28;P=0,038).
A testosterona é essencial no desenvolvimento e na carcinogénese da próstata.
Os tumores da próstata classificam-se muitas vezes de acordo com a sua dependência
ou independência desta hormona para o seu crescimento: existem tumores
androgeno-dependentes (de baixo grau) e tumores androgeno-independentes (de alto
grau) (Long RM, 2005; Zhenhua L, et al., 2005). A maioria dos tumores da próstata
tem um comportamento inicial androgeno-dependente. No entanto, nem todas as
células tumorais necessitam de testosterona para o seu desenvolvimento, sendo este o
motivo pelo qual, após terapias de ablação hormonal (TAH), muitos tumores passam
a exibir um comportamento androgeno-independente: as células dependentes da
testosterona entram em apoptose e as androgeno-independentes proliferam (Figura
16). O uso de fármacos que reduzem os níveis de testosterona da próstata cria, do um
modo similar às TAH, um meio onde as células androgeno-independentes
apresentam uma vantagem competitiva sobre as androgeno-dependentes (Thompson
IM, et al., 2003).
Influência de polimorfismos na família CYP3A no desenvolvimento de tumores sólidos 65
5. Discussão
Figura 16: Esquema da progressão de um tumor da próstata androgeno-dependente para um
androgeno-independente (adaptado de Long RM, 2005).
Os alelos CYP3A4*1B e CYP3A5*1, que estão associados a uma maior
expressão das enzimas que codificam e, consequente, maior oxidação de testosterona
a formas biologicamente menos activas, podem modular os níveis de testosterona
presentes. Esta alteração dos níveis de testosterona pode influenciar o processo de
carcinogénese, diminuindo o risco para o desenvolvimento de cancro da próstata de
baixo grau (androgeno-dependente), ao mesmo tempo que aumenta o risco para
desenvolver cancro da próstata de alto grau (androgeno-independente) (Zhenhua L,
et al., 2005).
Influência de polimorfismos na família CYP3A no desenvolvimento de tumores sólidos 66
5. Discussão Tem sido sugerido que a contribuição dos polimorfismos genéticos no risco
para cancro é dependente da população estudada. As frequências dos alelos
CYP3A4*1B e CYP3A5*1 encontradas na população controlo incluída neste estudo
são semelhantes às descritas noutras populações caucasianas (Keshava C, 2004;
Hustert E, et al., 2001; Kuehl P, et al., 2001). No entanto, não só factores genéticos
contribuem para o risco de cancro: factores ambientais e outros factores influenciam
a susceptibilidade individual para cancro (Belpomme D, et al., 2007; Brennan P,
2002; Dasgupta P, 2006; Irigaray P, et al., 2007).
Os resultados apresentados neste estudo podem contribuir para a
compreensão do papel dos polimorfismos nos genes CYP3A4 e CYP3A5 no
desenvolvimento do cancro do pulmão e da próstata.
Influência de polimorfismos na família CYP3A no desenvolvimento de tumores sólidos 67
6. Conclusões e Perspectivas futuras
Influência de polimorfismos na família CYP3A no desenvolvimento de tumores sólidos
6. Conclusões e Perspectivas futuras
As enzimas CYP constituem um sistema de biotransformação e eliminação de
xenobióticos, drogas e compostos endógenos. A acção das enzimas CYP3A4 e
CYP3A5 sobre procarcinogéneos presentes no fumo do tabaco e testosterona torna-as
um importante alvo de estudo em neoplasias associadas a estes compostos,
nomeadamente cancro do pulmão e da próstata.
A análise de variações genéticas, como os polimorfismos, pode contribuir
para uma melhor caracterização da susceptibilidade para cancro. A definição, através
da análise do genoma, de sub-grupos de indivíduos mais susceptíveis para
determinadas neoplasias, pode ser determinante na elaboração de estratégias de
prevenção para estas doenças. Polimorfismos em CYP3A4 e CYP3A5 surgem na
literatura associados a prognóstico clínico e risco alterado para diversas neoplasias,
sendo que os alelos CYP3A4*1B e CYP3A5*1, associados a uma maior expressão das
enzimas que codificam, têm sido os mais estudados.
Os resultados apresentados neste estudo indicam que os polimorfismos em
CYP3A4 e CYP3A5 influenciam a susceptibilidade genética para cancro do pulmão,
conferindo um risco acrescido para o desenvolvimento desta neoplasia. Este estudo
sugere também um papel dos polimorfismos estudados na progressão da neoplasia do
pulmão e na agressividade do cancro da próstata, podendo ser considerados, em
conjunto com outros marcadores tumorais, indicadores de pior prognóstico.
Estudos posteriores poderão incluir a análise de outros modelos tumorais,
como a neoplasia da mama, assim como o aumento da amostragem em estudo e a
análise combinada com outros polimorfismos em genes que codificam enzimas do
metabolismo fase I ou fase II já publicados, incluindo CYP2E1 ou GST (Ferreira PM,
Influência de polimorfismos na família CYP3A no desenvolvimento de tumores sólidos 71
6. Conclusões e Perspectivas futuras
et al., 2003; Medeiros R, et al., 2004). A acção das enzimas CYP3A4 e CYP3A5 em
medicamentos correntemente utilizados no tratamento de neoplasias, como
tamoxifeno, taxanos, gefinitib ou imatinib, faz delas um bom alvo de estudos
farmacogenómicos, sendo que estudos futuros terão o intuito de avaliar o papel de
polimorfismos nos genes que codificam estas enzimas na resposta à terapia.
A continuação deste estudo é fundamental para a melhor compreensão do
papel das CYP e a influência dos seus polimorfismos no desenvolvimento tumoral.
Influência de polimorfismos na família CYP3A no desenvolvimento de tumores sólidos 72
7. Referências bibliográficas
Influência de polimorfismos na família CYP3A no desenvolvimento de tumores sólidos
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8. Anexos
Influência de polimorfismos na família CYP3A no desenvolvimento de tumores sólidos
8. Anexos
Anexo I
Soluções
- AKE
H4CL 82,9 g/l (Merck 101146)
HCO2 10 g/l (Merck 48540500)
EDTA 0,37 g/l (SIGMA E-1644)
- PBS (“Phosphate buffered saline”)
Na2HPO4 1,48 g/l (Merck 1065860500)
NaH2PO4 0,495 g/l (Merck 63460500)
NaCl 7,2 g/l ( Panreac cod131659)
- SE
NaCl 75mM (Panreac cod131659)
EDTA 25mM (SIGMA E-1644)
- TBE 10x
Tris Base 108 g/l (Merck 1083821000)
Ácido Bórico 55 g/l (Merck 1001651000)
EDTA 6,72 g/l (SIGMA E-1644)
Influência de polimorfismos na família CYP3A no desenvolvimento de tumores sólidos
8. Anexos
Anexo II
Artigo intitulado “The CYP3A4 *1 polymorphism and prostate cancer susceptibility
in a Portuguese population”, publicado na revista Cancer Genetics and Cytogenetics
(Setembro 2007).
Influência de polimorfismos na família CYP3A no desenvolvimento de tumores sólidos
Short communication
Cancer Genetics and Cytogenetics 177 (2007) 149e152
The CYP3A4*1B polymorphism and prostate cancersusceptibility in a Portuguese population
Ana Nogala, Ana Coelhoa, Raquel Catarinoa, Antonio Moraisb,Francisco Lobob, Rui Medeirosa,c,*
aMolecular Oncology Department,bUrology Department, Portuguese Institute of Oncology, Rua Dr. Antonio Bernardino Almeida, 4200-072 Porto, Portugal
cICBAS, Abel Salazar Institute for the Biomedical Sciences, Largo Prof. Abel Salazar, 2, 4099-003 Porto, Portugal
Received 20 April 2007; received in revised form 13 June 2007; accepted 22 June 2007
Abstract Testosterone exposure has been implicated in prostate carcinogenesis, and genes that alter itsmetabolism, such as CYP3A4, have been associated with prostate cancer susceptibility. The aimof our study was to assess the relationship between the CYP3A4*1B polymorphism and its possiblerole in the development of prostate cancer. DNA samples obtained from the peripheral blood cellsof 414 individuals diagnosed with prostate cancer and 337 healthy male donors were used in thiscaseecontrol study. The CYP3A4*1B polymorphism was analyzed by polymerase chain reactionerestriction fragment length polymorphism methodology. We found no statistically significant differ-ences in the distribution of the CYP3A4*1B genotypes between cases and controls (P 5 0.470; oddsratio 5 1.191; 95% confidence interval50.740e1.918), as well as after the stratification of ouranalysis, according to important clinicopathologic parameters of prostate cancer. Our resultssuggest that the CYP3A4*1B polymorphism is not associated with prostate cancer risk within thePortuguese population. � 2007 Elsevier Inc. All rights reserved.
1. Introduction
Prostate cancer is the second most common malignantdisease among men. In 2002, 679,000 new cases were diag-nosed, comprising 11.3% of all new cancer cases aroundthe world [1]. Several factors, including age and ethnicity,have been associated with an increased risk for developingthis disease. Seventy-five percent of all prostate cancers oc-cur in men over 65 years old. The African-American pop-ulation is the most affected by this disease, and the Asianpopulation is the least affected. It has been suggested thatthe ethnic differences in incidence and mortality of prostatecancer are related to genetic variation in the genes thatcontrol the androgen metabolism [1].
Testosterone, like androgens, has been implicated inprostate carcinogenesis. Testosterone is a major determinantof prostate growth and differentiation. Several genes thatregulate testosterone metabolism have been associated withprostate cancer susceptibility [2]. Among these are genesthat codify proteins belonging to the CYP superfamily.
* Corresponding author. Tel.: þ351-22-508-4000, ext. 5414; fax:
þ351-22-508-4001.
E-mail address: [email protected] (R. Medeiros).
0165-4608/07/$ e see front matter � 2007 Elsevier Inc. All rights reserved.
doi:10.1016/j.cancergencyto.2007.06.011
The cytochrome P450 (CYP) superfamily representsa group of enzymes involved in the metabolism of severalcompounds such as xenobiotics, steroids, vitamins, andsex hormones. There are three major CYP families that en-code enzymes that operate phase I metabolism: CYP1,CYP2, and CYP3. The CYP3A gene cluster is the most im-portant in xenobiotic metabolism (60% of all xenobioticsare metabolized by its enzymes) and has four functionalgenes: CYP3A7, CYP3A5, CYP3A43, and CYP3A4 [3].
The CYP3A4 gene is located at chromosome7q21.3~q22.1, is 27,592 base pairs (bp) long, and has 13exons [4]. CYP3A4 is the most abundant P450 enzyme inthe human liver and metabolizes more than 50% of pre-scription drugs and other xenobiotics; it is also responsiblefor the oxidation of endogenous compounds such as ste-roids, fatty acids, and sex hormones. CYP3A4 is responsi-ble for the oxidation of testosterone to less biologicallyactive forms of this hormone, such as 2b-, 6b-, and 15b-hydroxytestosterone [4].
Several DNA sequence variants of CYP3A4 have beenfound. One of them, the CYP3A4*1B variant, is a single nu-cleotide polymorphism (SNP) characterized by an A/Gsubstitution in the nifedipine response element located onthe 50 promoter region of CYP3A4, and it was first identified
150 A. Nogal et al. / Cancer Genetics and Cytogenetics 177 (2007) 149e152
in 1998 by Rebbeck et al. [5]. This polymorphism presentsdifferent frequencies among different human populationsand has been associated with more aggressive forms andadvanced clinical stages of prostate cancer, mostly inAfrican-American populations [4e10]. The functional sig-nificance of the CYP3A4*1B polymorphism is still sur-rounded by controversy: while some link it to increasedtranscriptional activity [11e13], most studies attribute nofunctional significance to it [14e17].
The aim of the present study was to analyze the relation-ship between the CYP3A4*1B polymorphism and prostatecancer in the Portuguese population.
2. Materials and methods
We conducted a caseecontrol study analyzing 751 Cau-casian individuals, including 414 patients diagnosed withprostate cancer in the Portuguese Institute of Oncology(Porto, Portugal) and a control group consisting of 337healthy male donors with no history of malignant disease.The mean age for cases was 66 years (SD 5 6.9), with a me-dian age of 66 years. For controls, the mean age was 51years (SD 5 18.7) and the median age was 53 years. Allsamples were obtained with the informed consent of theparticipants before their inclusion in the study, accordingto the Helsinki Declaration.
Blood samples were obtained with a standard venipunc-ture technique using EDTA-containing tubes. DNA was ex-tracted from the white blood cell fraction of each studysubject by a salting out procedure [18]. The CYP3A4*1Bpolymorphism was analyzed through polymerase chain re-action (PCR) followed by restriction fragment length poly-morphism (RFLP), as described previously by Cavalli et al.[19]. The PCR products with 385 bp were then digested for3 hours with 5 units of MboII. The restriction fragmentswere then analyzed in a 4% agarose gel stained with ethid-ium bromide. The two fragments at 169 and 175 bp corre-spond to the homozygous wild-type genotype (A/A), andthe homozygous polymorphic genotype (G/G) is repre-sented by two fragments at 175 and 210 bp. In addition,three fragments at 169, 175, and 210 bp represent theheterozygous genotype (A/G).
Analysis of data was performed using the computer soft-ware SPSS for Windows (version 13.0, 2004; SPSS Inc.,Chicago, IL). Chi-square analysis was used to compare cat-egorical variables. A 5% level of significance was used inthe analysis.
The odds ratio (OR) and its 95% confidence interval (CI)were calculated as a measure of the association betweenCYP3A4*1B genotypes and prostate cancer risk.
3. Results
The distribution of the CYP3A4*1B genotypes amongcases and controls and its association with prostate cancerrisk are shown in Table 1. We found no statistically
significant differences in the distribution of the CY-P3A4*1B polymorphism genotypes between cases and con-trols (P 5 0.470; OR51.191; 95%CI50.740e1.918). Thefrequency of the polymorphic allele in prostate cancer pa-tients was 6.4 and 4.9% in controls. The carriers of thepolymorphic G allele constituted 11.1% of the prostatecancer patients and 9.5% of the controls.
The CYP3A4*1B genotypes in important clinicopatho-logic parameters of prostate cancer are represented in Table2. No statistically significant differences were found in thedistribution of the polymorphism genotypes within each pa-rameter: (1) the frequency of the G carriers was 9.9% in ad-vanced disease and 11.3% in localized prostate cancer (P 5
0.642); (2) 10.7% of the patients without metastasis and10.9% with metastasis were G carriers (P 5 0.960); (3)within the Gleason grade parameter, 13.8% of the patientswith a high Gleason grade and 8.9% with a low Gleasongrade were G carriers (P 5 0.148).
In Table 3, a comparative review was carried outfor the CYP3A4*1B polymorphism in several populations,including our own, according to previously publishedreports.
Table 1
Allelic and genotypic frequencies of CYP3A4*1B in prostate cancer
and control groups
Cases
(n 5 414)
Controls
(n 5 337)
n % N % P OR 95% IC
Alleles
A 720 93.6 641 95.1
G 49 6.4 33 4.9
Genotypes
A/A 358 88.9 305 90.5
A/G 43 10.4 31 9.2
G/G 3 0.7 1 0.3
Recessive model
A/A 358 88.9 305 90.5 e 1.00 Reference
G carrier 46 11.1 32 9.5 0.470 1.191 0.740e1.918
Table 2
Association of the CYP3A4*1B polymorphism with clinicopathologic
parameters in prostate cancer patients
Cases [n (%)]
G carrier A/A P
Disease status
Localized 22 (11.3%) 172 (88.7%) e
Advanced 20 (9.9%) 182 (90.1%) 0.642
Metastasis
Absent 34 (10.7%) 283 (89.3%) ePresent 7 (10.9%) 57 (89.1%) 0.960
Gleason grade
Low (!7) 15 (8.9%) 153 (91.1%) eHigh (>7) 26 (13.8%) 162 (86.2%) 0.148
151A. Nogal et al. / Cancer Genetics and Cytogenetics 177 (2007) 149e152
4. Discussion
Prostate cancer is one of the world’s most commonly di-agnosed cancers. Although the mechanisms involved in itscarcinogenesis are not well understood, there is evidencethat family history, age, ethnicity, environmental, and hor-monal factors are possible risk factors in prostate cancer.It has been suggested that the genetic background of an in-dividual may influence prostate cancer susceptibility andthat genetic polymorphisms are important in the definitionof individual susceptibility to this neoplasia [4,20e31].
The bioavailability of androgens such as testosterone iscontrolled by several genes. Some of these belong to theCYP superfamily, which metabolizes numerous xenobioticsand commonly used drugs. The CYP3A4 enzyme is respon-sible for the oxidative deactivation of testosterone to its lessbiologically active forms and it is expressed in the liver,prostate, breast, gut, colon, and small intestine [4]. OneSNP in the CYP3A4 gene, the CYP3A4*1B polymorphismidentified in 1998 by Rebbeck et al. [5], presents differentfrequencies among various human populations (Table 3),and our results show that the frequency of the CYP3A4*1Bpolymorphism in the Portuguese population is similar toother Caucasian populations [5e9, 32, 33].
A number of authors have investigated the effects of CY-P3A4*1B in protein expression [11e17] and the majority ofthe studies reported consistent elevation of CYP3A4 levelsin the presence of G carrier genotypes. However, most ofthem concluded that no significant biologic alterations existgiven the small magnitude of effects generated by the
Table 3
CYP3A4*1B distribution among different human populations
Study group n
Variant
allele
frequency
Reference
no.
Caucasian
American (Pennsylvania, USA) 94 9.6% [5]
American (Southern California, USA) 117 3.8% [6]
American (Pennsylvania, USA) 340 7.9% [8]
American (Cleveland, Detroit, USA) 426 4.2% [9]
European (Northeast Scotland, UK) 56 19.6% [7]
European (Rotterdam, The
Netherlands)
199 5.3% [32]
European (Faro, Portugal) 100 4.0% [33]
European (Porto, Portugal) 337 4.9% Present study
Non-Caucasian
Asian (Southern California, USA) 80 0.0% [6]
Hispanic (Southern California, USA) 121 10.7% [6]
African American (Southern
California, USA)
116 54.3% [6]
African American (Pennsylvania,
USA)
130 59.2% [8]
African American (Cleveland,
Detroit, USA)
38 57.9% [9]
Ghanians (Accra, Ghana) 118 80.5% [8]
Senegalese (Dakar, Senegal) 173 78.3% [8]
polymorphism [2]. It is so far unclear whether this pheno-typic perturbation is sufficient to alter the metabolism andconsequent exposure to steroid hormones that may conferdisease risk over the lifetime of an individual [2].
Our results demonstrate no statistically significant dif-ferences in the distribution of the CYP3A4*1B polymor-phism between the prostate cancer patients group andcontrol group. The fact that this polymorphism is not asso-ciated with prostate cancer is not in agreement with somepreviously reported studies. This could be due to samplesize, the rarity of the variant allele in the Caucasian popu-lation when compared with African or African-Americanpopulations or the difference in the mean ages betweenboth groups (the controls were, on average, 15 yearsyounger).
In conclusion, the CYP3A4*1B polymorphism is not as-sociated with prostate cancer in the Portuguese population.Our results indicate that the modified expression of CY-P3A4 in the presence of the polymorphism, if it exists,could be insufficient to alter the susceptibility of an individ-ual to develop prostate cancer.
Acknowledgments
We thank the Liga Portuguesa Contra o Cancro e CentroRegional do Norte (Portuguese League Against Cancer),Astrazeneca Foundation and Yamanouchi-Astellas Euro-pean Foundation for their support. We also gratefullyacknowledge the support from the Ministry of Science,Technology and Superior Education e FCT (Fundacao paraa Ciencia e Tecnologia PTDC/SAU-FCF/71552/2006).
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8. Anexos
Anexo III
Resumo apresentado sob a forma de poster nas XII Jornadas de Oncologia Médica
(Maio 2007)
INFLUÊNCIA DO POLIMORFISMO CYP3A4*1B NO
DESENVOLVIMENTO DE CANCRO DE PULMÃO DE NÃO PEQUENAS
CÉLULAS
Ana Nogal, Ana Coelho, Raquel Catarino, António Araújo, Rui Medeiros
Introdução: O cancro do pulmão é a neoplasia mais comum em todo o mundo. Um
dos principais factores de risco para cancro do pulmão (CP) é o tabagismo: o fumo
do cigarro contém dezenas de compostos procarcinogénicos que, quando activados,
contribuem para o desenvolvimento desta doença. Substâncias como o Benzo [a]
pireno e outros compostos policíclicos aromáticos estão presentes no tabaco e,
quando activados, podem ligar-se ao DNA e activar oncogenes, promovendo o
desenvolvimento da neoplasia. O metabolismo destes compostos é da
responsabilidade das enzimas que compõe a família CYP3A, sendo a mais
representativa a CYP3A4. O gene que a codifica apresenta polimorfismos, como o
CYP3A4*1B, que poderão modificar a susceptibilidade individual para desenvolver
cancro do pulmão. Este trabalho teve como objectivo avaliar o papel do
polimorfismo CYP3A4*1B no desenvolvimento de cancro do pulmão de não
pequenas células (CPNPC).
Influência de polimorfismos na família CYP3A no desenvolvimento de tumores sólidos
8. Anexos
Material e Métodos: Amostras de DNA de 234 indivíduos diagnosticados com
CPNPC e de 479 dadores saudáveis foram utilizadas neste estudo caso-controlo. Os
genótipos de CYP3A4*1B foram analisados através da metodologia de PCR-RFLP.
Resultados: Os nossos dados sugerem que indivíduos portadores do alelo
CYP3A4*1B têm um risco cerca de 3 vezes superior de desenvolver estadios
avançados de CPNPC (p=0.019; OR=3.203; 95%CI=1.163-8.823). Não foram
encontradas diferenças estatisticamente significativas na distribuição dos genótipos
entre casos e controlos (p=0.109; OR=1.529; 95%CI=0.907-2.578).
Discussão e Conclusões: De acordo com os nossos resultados, o polimorfismo
CYP3A4*1B parece estar associado a risco para o desenvolvimento de estadios mais
avançados de CPNPC (IIIB/IV). Esta associação poderá dever-se a uma maior
exposição aos compostos procarcinogénicos activados pela CYP3A4, até ao
diagnóstico, nos doentes portadores do alelo CYP3A4*1B, cuja presença, segundo
alguns estudos, aumenta a actividade transcripcional do gene. Este polimorfismo
surge na literatura associado a pior prognóstico em cancro da próstata e risco para
desenvolvimento de CP de pequenas células.
Influência de polimorfismos na família CYP3A no desenvolvimento de tumores sólidos
8. Anexos
Anexo IV
Abstract publicado no ASCO Proceedings do 2007 Annual Meeting of the American
Society of Clinical Oncology (Junho 2007)
CYP3A5*3 genotypes and development of advanced non-small cell lung cancer
ANA NOGAL, ANA COELHO, ANTÓNIO ARAÚJO, RAQUEL CATARINO,
RUI MEDEIROS
Background: Lung cancer is the most common cancer in Europe (381.500
new cases in 2004) and the third in the U.S.A (172.570 new cases in 2005). Smoking
is one of the major causes of lung cancer: there are many procarcinogens present in
tobacco smoke that, when activated, contribute to the development of this disease.
The CYP3A subfamily represents a group of enzymes responsible for the metabolism
of many currently used drugs, exogenous carcinogens and endogenous molecules
such as steroids. Two of the major enzymes in this family, CYP3A4 and CYP3A5,
activate polycyclic aromatic hydrocarbons such as benzo[a]pyrene and other
procarcinogens present in tobacco smoke. Functional polymorphisms, such as
CYP3A5*3 (associated with the lack of the CYP3A5 protein), could alter individual
susceptibility to lung cancer. The aim of our study was to evaluate the influence of
this polymorphism in the development of lung cancer.
Influência de polimorfismos na família CYP3A no desenvolvimento de tumores sólidos
8. Anexos
Methods: DNA samples were extracted from peripheral blood cells of 203
patients with non small cell lung cancer, including 42 non-smokers and 156 smokers
or former smokers (no data available for the other 5 patients) and 162 blood donors.
The CYP3A5*3 polymorphism was analysed through PCR-RFLP (SspI). Analysis of
data was performed using the computer software SPSS for windows. The odds ratio
(OR) and its 95% confidence interval (CI) were calculated as a measure of the
association between CYP3A5*3 genotypes and NSCLC progression.
Results: We found significant statistical differences between the control
group and the patients with advanced stages (III and IV) of epidermoid and
undifferentiated NSCLC (p=0,04 ; OR = 0,48; 95%CI = 0,232-0,977).
Conclusions: Individual differences in the metabolism of carcinogens may
influence the susceptibility to cancer development and behaviour. Our preliminary
results suggest that the carriers CYP3A5*3 polymorphism are at lower risk of
developing advanced lung cancer. This is probably due to a decreased activation of
procarcinogens present in tobacco smoke in result of the lack of CYP3A5 caused by
the CYP3A5*3 polymorphism. This is consistent with the hypothesis of a cumulative
effect of carcinogens on the aggressive behaviour of the disease.
Influência de polimorfismos na família CYP3A no desenvolvimento de tumores sólidos
8. Anexos
Anexo V
Abstract apresentado sob a forma de poster na 14th European Cancer Conference em
Barcelona (Setembro 2007)
CYP3A5 polymorphism and NSCLC – a role for genetic variation as a
protective factor in lung cancer susceptibility
ANA NOGAL, ANA COELHO, ANTÓNIO ARAÚJO, RAQUEL CATARINO,
RUI MEDEIROS
Background: Lung cancer (LC) is the most common cancer in Europe
(381.500 new cases in 2004) and the third in the U.S.A (172.570 new cases in 2005).
Smoking is one of the major causes of LC: there are many procarcinogens present in
tobacco smoke that, when activated, contribute to the development of this disease.
The CYP3A subfamily represents a group of enzymes responsible for the metabolism
of many currently used drugs, exogenous carcinogens and endogenous molecules,
such as steroids. Two of the major enzymes in this family, CYP3A4 and CYP3A5,
activate polycyclic aromatic hydrocarbons, such as benzo[a]pyrene and other
procarcinogens present in tobacco smoke. Functional polymorphisms, such as
CYP3A5*3 (characterized by an A to G transition and associated with the lack of the
CYP3A5 protein), could alter individual susceptibility to LC. The aim of our study
was to evaluate the influence of this polymorphism in the development of LC.
Influência de polimorfismos na família CYP3A no desenvolvimento de tumores sólidos
8. Anexos
Material and Methods: DNA samples were extracted from peripheral blood
cells of 711 individuals: 246 patients with non-small cell lung cancer (NSCLC),
which included 137 smokers, 49 ex-smokers and 51 non smokers (data was not
available for 9 patients) and 465 blood donors. The CYP3A5*3 polymorphism was
analysed through PCR-RFLP (SspI). Analysis of data was performed using the
computer software SPSS for windows. The odds ratio (OR) and its 95% confidence
interval (CI) were calculated as a measure of the association between CYP3A5*3
genotypes and NSCLC progression.
Results: The frequency of the GG genotype was 79.3% in LC patients and
86% in controls. The frequency of the heterozygous genotype A/G was of 20.3% in
patients and 13.3% in controls. Homozygous individuals for the A allele where rare:
0.1% in LC patients and 0.6% in controls. The analysis of the genotypic frequencies
of the CYP3A5*3 polymorphism indicates that individuals with GG genotype present
a 38% protection for the development NSCLC (P=0.020; OR = 0.621; 95%CI =
0.415-0.931).
Conclusions: Individual differences in the metabolism of carcinogens may
influence the susceptibility to cancer development and behaviour. Our results suggest
that that individuals with GG genotype present a lower risk of developing NSCLC
than individuals with genotypes carrying the A allele (OR = 0,621). This is probably
due to a decreased activation of procarcinogens present in tobacco smoke in result of
the lack of CYP3A5 in individuals with genotypes carrying the CYP3A5*3 allele.
Influência de polimorfismos na família CYP3A no desenvolvimento de tumores sólidos
8. Anexos
Anexo VI
Abstract aceite para apresentação sob a forma de poster no ISCO Congress 2008
(Março 2008)
CYP3A4 and CYP3A5 genotypes: molecular markers for prostate cancer
aggressiveness?
ANA NOGAL, MÓNICA GOMES, RICARDO RIBEIRO, ANA COELHO,
RAQUEL CATARINO, RUI MEDEIROS
Background:
Prostate cancer is the second most common malignant disease among men. A
number of factors like age, ethnicity, diet and exposure to androgens, have been
associated with an increased risk for this disease. It has been suggested that the
ethnic differences in incidence and mortality of prostate cancer are related to genetic
variation in genes that control the androgen metabolism. Testosterone is an important
hormone implicated in prostate growth and differentiation, and genes that control its
metabolism, may have a key role in prostate cancer susceptibility. The enzymes
CYP3A4 and CYP3A5 are responsible for the oxidation of testosterone to less
biologically active forms of this hormone. Polymorphisms in CYP3A4 and CYP3A5,
such as CYP3A4*1B and CYP3A5*3 (both A to G transitions), could alter individual
susceptibility to prostate cancer. The aim of our study was to evaluate the influence
of these polymorphisms in the development of prostate cancer.
Influência de polimorfismos na família CYP3A no desenvolvimento de tumores sólidos
8. Anexos
Methods: DNA samples were extracted from peripheral blood cells of 698
patients with prostate cancer and 401 healthy blood donors. The polymorphisms were
analysed through PCR-RFLP. Analysis of data was performed using the computer
software SPSS for windows. The odds ratio (OR) and its 95% confidence interval
(CI) were calculated as a measure of the association between CYP3A4 and CYP3A5
and prostate cancer.
Results: We found significant statistical differences between the control
group and the patients with a Gleason grade equal or superior to 7 (OR=1.61;
CI95%: 1.06-2.43; P=0.019) and the patients with metastasis (OR=1.80; CI95%:
0.99-3.28; P=0.038). Individuals carrying one or both less common variants of
CYP3A4 and CYP3A5 (G and A respectively) have an increased risk for more
aggressive prostate cancer.
Conclusions: Our preliminary results suggest that carriers of the less
common variants of CYP3A4 and CYP3A5, which appear to decrease the availability
of testosterone, are at higher risk of developing aggressive prostate cancer. Some
prostate cancer cells are androgen dependent and some are androgen independent. A
lower concentration of testosterone could allow the androgen independent cells to
proliferate more than the dependent ones, resulting in the development of a more
aggressive prostate cancer.
Influência de polimorfismos na família CYP3A no desenvolvimento de tumores sólidos