FACULDADE ESTÁCIO DO PARÁ CURSO DE GRADUAÇÃO … · jornalismo, de Nelson Traquina....

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FACULDADE ESTÁCIO DO PARÁ CURSO DE GRADUAÇÃO EM COMUNICAÇÃO SOCIAL COM HABILITAÇÃO EM JORNALISMO TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO Camila Costa de Andrade REPRESENTAÇÕES DA AMAZÔNIA PARAENSE EM REPORTAGENS IMPRESSAS DE O GLOBO E O LIBERAL BELÉM – PARÁ 2015

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FACULDADE ESTÁCIO DO PARÁ

CURSO DE GRADUAÇÃO EM COMUNICAÇÃO SOCIAL COM HABILITAÇÃO EM JORNALISMO

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

Camila Costa de Andrade

REPRESENTAÇÕES DA AMAZÔNIA PARAENSE EM REPORTAGENS IMPRESSAS DE O GLOBO E O LIBERAL

BELÉM – PARÁ

2015

1

Camila Costa de Andrade

REPRESENTAÇÕES DA AMAZÔNIA PARAENSE EM REPORTAGENS IMPRESSAS DE O GLOBO E O LIBERAL

Monografia apresentada como pré-requisito de conclusão do curso Comunicação Social com habilitação em Jornalismo da Faculdade Estácio do Pará orientada pela Professora Msc. Arcângela Sena.

FACULDADE ESTÁCIO DO PARÁ BELÉM – PARÁ

2015

2

Camila Costa de Andrade

REPRESENTAÇÕES DA AMAZÔNIA PARAENSE EM REPORTAGENS IMPRESSAS DE O GLOBO E O LIBERAL

Monografia apresentada como pré-requisito de conclusão do curso Comunicação Social com habilitação em Jornalismo da Faculdade Estácio do Pará orientada pela Professora Msc. Arcângela Sena.

Belém, de dezembro de 2015

RESULTADO: ( ) APROVADO ( ) REPROVADO

_________________________________________________

Professora Msc. Arcângela Sena1

_________________________________________________

Professora Dr (a) Vânia Torres2

_________________________________________________

Professor especialista Marcus Dickson3

BELÉM-PARÁ

2015

1 Mestre em Ciências da Comunicação pela UFPA, coordenadora do curso de Comunicação Social da Faculdade Estácio do Pará. 2 Doutora em Comunicação pela Universidade Federal Fluminense, professora atuante na graduação e Mestrado.3 Mestrando em Ciências da Comunicação pelo PPGCOM da Universidade Federal do Pará (UFPA), coordenador-adjunto e professor do curso de Comunicação Social da Faculdade Estácio do Pará.

3

Dedico esta conquista à minha família, à todos os que apoiaram este caminho indireta e diretamente, à minha orientadora Arcângela Sena e aos queridos professores.

4

O discurso não é simplesmente aquilo que traduz as lutas ou os sistemas de dominação, mas aquilo porque, pelo que se luta, o poder do qual nos queremos apoderar.

Michel Foucault

5

Resumo

Os discursos que envolvem a Amazônia apresentam diversos sentidos produzidos, ao longo de condições de possibilidades históricas, que atualizam, refutam ou silenciam subjetividades da região, que desde a descoberta do Brasil foi “inaugurada” com a intenção de conquista. Tais enunciados dão conta de um paraíso a ser explorado por seus recursos naturais e humanos. O presente trabalho se propõe, então, a discutir as representações da Amazônia paraense, presentes nos Jornais “O Globo” e “O Liberal” pautadas no Plebiscito sobre a divisão do Estado em 2011. A intenção é, a partir da análise do discurso, entender em que condições os enunciados sobre a região foram apresentados, as posições dos sujeitos históricos produtores de mídia e as relações de poder que envolvem essa produção. A mídia enquadrada pela memória discursiva nos diferentes dispositivos presentes nas relações de saber e de poder da sociedade, cria, alimenta ou refuta as diversas representações sociais. Nos discursos da ciência, da política e midiáticos residem vontades de verdade que se complementam, ou mesmo, se opõem, se afirmam, se anulam. Dependendo do lugar de fala e das posições dos sujeitos, as atualizações sobre uma memória colonial da Amazônia são reforçadas ou interditadas, produzindo, assim sentidos, que influenciam, mantém ou anulam as subjetividades presentes na cultura dos povos da região. As pautas recorrentes nos meios de comunicação frequentemente referem-se aos enunciados de desmatamento, conflitos de terra, queimadas, de um lugar quase inóspito, hostil, imbricado por um vazio demográfico que precisa ser habitado por uma sociedade civilizada. Para tal discussão, o método arquegenealógico de Michel Foucault norteará a análise do objeto levando em consideração os pressupostos sobre relações de saber e poder, a ordem tomada pelo discurso e as ligações ao ritual. Também são utilizados no desenvolvimento do trabalho, os estudos de memória, esquecimento e silenciamento de Michael Pollak e as indicações sobre as teorias do jornalismo, de Nelson Traquina. Palavras-chave: Discurso, Jornalismo Impresso, Amazônia paraense, Memória.

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Abstract

The discourses about Amazon region are presented in a multiple way, in a matter of historical possibility conditions responsable for update, refute or make silent the region subjectivities. Since Brazil discovering, was "inaugurated" a discourse of conquer. These enunciations talk about a paradise to explore for its human and natural resources. This final paper proposes to discuss Amazon of Pará representations presented on the journals "O Liberal" and "O Globo", guided for the 2011 plebiscite about the State split. The intention is, through discourse analysis, understand on what conditions enunciations about the region were presented, in which positions the subjects of media are and the power relation that involves the content production. The media framed by a discursive memory on many different devices presented on the relations of knowledge and of power in a society, creates, feeds or refutes the various social representations. On the science, the politics and the media discourses lives the will of truth that complete each other, although could opposite each other too, affirming or canceling each other. Depending on the speaking place the subject, updates about a Amazonian colonial memory are reinforced or deleted, producing senses that influences, keeps or cancels the subjectivities of the region. The guidelines on media frequently refers to deforestation, land conflicts, forest fire, an inhospitable place, hostile, a big demographic void that must to be inhabited for a civilized society. For the discussion, archaeology and genealogy methods proposed by Michel Foucault will guide the arguments, so do the memory studies of Michael Pollak and the journalism theories exposed for Nelson Traquina. Keywords: Amazon of Pará, Discourse, Memory, Printed journalism.

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Sumário

INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................... 8

CAPÍTULO 1: Amazônia paraense, memórias e discursos .................................................................. 13

1.1 Discurso midiático e memória .................................................................................................... 13

1.2 Dizem sobre a Amazônia ............................................................................................................ 15

1.3 De que Amazônia estamos falando? ........................................................................................... 19

CAPÍTULO 2: Circulação de saber e de poder..................................................................................... 22

2.1 Mídia como dispositivo de poder ................................................................................................ 23

2.2 Mídia impressa e o fazer jornalístico .......................................................................................... 25

2.3 Breve histórico dos jornais O Globo e O Liberal ........................................................................ 31

O Globo ........................................................................................................................................ 31

O Liberal....................................................................................................................................... 32

CAPÍTULO 3: O Pará nas páginas ....................................................................................................... 34

3.1 Análise das reportagens .............................................................................................................. 35

Quadro 1 - ACERVO ONLINE DE “O GLOBO” De 5 a 13 de dezembro de 2011 Disponível em: http://acervo.oglobo.globo.com/ ................................................................................................... 36

Quadro 2 - ACERVO ONLINE DE “O LIBERAL” De 4 a 16 de dezembro de 2011 Disponível em: http://oliberaldigital.orm.com.br/ ........................................................................................... 36

3.1-1 Reportagem de O Globo: Pará: estado rico em recursos e em carências ........................... 38

3.1-1.1 De onde fala? .................................................................................................................... 39

3.1-1.2 Entre dizeres e memórias .................................................................................................. 40

3.1-2 Reportagem de O Globo: Arquipélago de privações ........................................................... 43

3.1-2.1 Entre dizeres e identidades ............................................................................................... 44

3.1-3 Reportagem de O Liberal: Eleitor deve avaliar “custo-benefício” ..................................... 47

3.1-3.1 Uma voz............................................................................................................................ 47

3.1-4 Reportagens de O Liberal: Plebiscito exige reflexão do País inteiro e Prefeito de Belém gostaria que o interior não dependesse tanto da capital .............................................................. 49

3.1-4.1 Atualizando memórias ...................................................................................................... 49

CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................................................ 53

REFERÊNCIAS ................................................................................................................................... 55

8

INTRODUÇÃO

A materialidade do discurso sobre a Amazônia na mídia apresenta sentidos de acordo

com suas condições de possibilidades históricas e, essas produções são responsáveis por

atualizar enunciados, o que pode conferir-lhes ou não um novo significado, dependendo da

posição de quem fala, de onde fala, por qual motivo e como fala. Para Foucault (2008), são

nas descontinuidades históricas que encontram-se os conflitos silenciados, o que não é

contado, o que é interditado para que a continuidade apareça; como as grandes unidades, por

exemplo (séculos, décadas, anos, etc.). Afirma ele, que as descontinuidades são encontradas

na desconstrução da história retilínea, identificada como contínua – aquela que inibe

elementos não padronizados para que se perpetue.

Em um levantamento prévio, notou-se pesquisas sobre o assunto e diversas abordagens

como análises linguísticas, estruturais no que tange a construção de material jornalístico, além

de estudos de casos de veículos específicos. Este trabalho tem o interesse em pesquisar sobre

as representações da Amazônia paraense através do discurso midiático presente nos jornais

“O Globo” e “O Liberal” no momento do Plebiscito que questionou o povo paraense sobre a

divisão do Estado em 2011, o que não aconteceu. Considera-se o acontecimento citado, pela

visibilidade que teve e, os vários tratamentos (enquadramento, enfoque, direcionamento) que

sofreu no momento de sua irrupção na mídia impressa nacional e local.

Este trabalho delimita o discurso que cria as representações sobre a Amazônia nos

enunciados relacionados ao Pará, através do objeto escolhido analisando-o a partir das

premissas do filósofo Michel Foucault em seu método arquegenealógico. As formulações

arqueológicas de Foucault pretendem elucidar as relações de poder, partindo do que ele

chama de descontinuidades históricas, enquanto cabe a genealogia a tentativa de compreender

a circulação dos saberes.

Esta pesquisa se dá levando em consideração o quadro histórico amazônico (ver

capítulo 1 deste trabalho) e o valor da mídia, como construtora de sentidos e influenciadora de

comportamentos e ideias. Desta forma, como objetivo principal, propõe-se analisar o discurso

sobre a Amazônia paraense em reportagens dos jornais impressos “O Globo” e “O Liberal”

durante o Plebiscito sobre a divisão do Pará, em dezembro de 2011. A escolha pelo meio

impresso está baseada na confiabilidade que esta mídia ainda representa para o leitor

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brasileiro. Segundo a Pesquisa de Mídia Brasileira de 20154, dos que disseram ler jornais

impressos 84% afirmam que o fazem para se informar e saber as notícias mais recentes. Os

cadernos mais procurados são o de notícias da cidade e cotidiano (1° e 2° lugares,

respectivamente). No capítulo da pesquisa que trata da confiança na mídia, o jornal impresso

tem 58% de confiança geral, já a TV fica em segundo lugar com 54% no índice de confiança

geral.

Para a realização do trabalho, partiu-se de levantamento teórico e bibliográfico para a

fundamentação científica da pesquisa, desde janeiro deste ano. No mês de agosto, o material

jornalístico foi levantado a partir do acervo online das empresas de comunicação escolhidas,

considerando o período de 4 a 16 de dezembro de 2011. Todas as matérias sobre o Pará

veiculadas no período escolhido, relacionadas ao Plebiscito, foram catalogadas em ambos

veículos citados. São 46 matérias jornalísticas, entre notícias, reportagens e notas (incluindo

as de capas). Dessas, foram escolhidas para a análise 5 (cinco) reportagens que atualizam os

sentidos sobre a Amazônia paraense, 2 (duas) de O Globo e 3 (três) de O Liberal. Pretende-se

identificar os sujeitos que falam e os que são silenciados nas reportagens jornalísticas

escolhidas, os processos pelos quais passam os sujeitos que falam no momento da construção

de sentidos, assim como identificar e analisar as representações resultantes desse processo

relacionando o fazer jornalístico às relações de forças e de poder dentro da organização de

comunicação.

As formulações que falam de descontinuidade histórica como possibilidade de

irrupção, repetição ou interdição de discursos, formação e regularidade discursiva de Michel

Foucault nortearão a pesquisa. Assim como, as noções de silenciamento e memória de

Michael Pollak e das teorias do jornalismo indicadas por Nelson Traquina.

Para Foucault, revisitar a história, descrever, reinterpreta-la é o que possibilita o

encontro de novos elementos, tímidos ou mesmo “escondidos”. A busca pelas

descontinuidades é fazer viver “a irrupção dos acontecimentos”, para isso há um método que é

resumido na “crítica do documento”. Desde que a história existe, enquanto disciplina, temos

acesso a documentos questionados por nós. As indagações vão desde a veracidade das

informações no documento ao significado destas (FOUCAULT, 2008, p. 7). Não apenas

documentos como registros históricos, mas todo o tipo de materialidade produzida e posta em

4 A pesquisa foi promovida e publicada pela Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República.

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circulação pelo homem. Uma inquietude que aponta para um fim semelhante “reconstituir,

a partir do que dizem estes documentos - às vezes com meias-palavras -, o passado de onde

emanam e que se dilui, agora, bem distante deles” (FOUCAULT, 2008, p. 7).

Sobre continuidade o autor diz ser constituída por sínteses com significado acabado,

recortes que nos são familiares (“ciência, literatura, filosofia, religião, história, ficção, etc.”),

das quais devemos nos livrar para que a descontinuidade seja encontrada, possibilitando achar

“uma população de acontecimentos dispersos”, estaríamos neste momento suscetíveis frente a

"ingenuidade das cronologias", um esplêndido vazio, recomeço. Para ele, o discurso vive em

uma “dispersão temporal que lhe permite ser repetido, sabido, esquecido, transformado,

apagado até nos menores traços, escondido bem longe de todos os olhares, na poeira dos

livros” (FOUCAULT, 2008, p. 24-27).

Desta forma, não há uma distinção entre pequenos ou grandes acontecimentos,

teríamos então acontecimentos de diferentes níveis “alguns breves, outros de duração média,

como a expansão de uma técnica, ou uma rarefação da moeda; outros, finalmente, de ritmo

lento, como um equilíbrio demográfico ou o ajustamento progressivo de uma economia a uma

modificação do clima” (FOUCAULT, 2008, p. 9). Como consequência, há a possibilidade de

identificar, fazendo aparecer, séries com limites amplificados, sendo entendidas como

"acontecimentos raros" ou mesmo "repetitivos". Isso significa dizer que observando as

limitações destas séries e organizando-as em quadros, consegue-se visualizar o que o objeto

tem de mais amplo identificando a pontualidade ou repetição daquele evento.

Falar das condições de existência e dos limites do enunciado é compreendê-lo através

de sua singularidade, seguindo para correlações com outros enunciados com os quais pode

estar ligado. No já dito não tenta-se buscar a voz “semi-silenciosa de um outro discurso: deve-

se mostrar por que não poderia ser outro, como exclui qualquer outro, como ocupa, no meio

dos outros e relacionado a eles, um lugar que nenhum outro poderia ocupar” (FOUCAULT,

2008, p 31).

Os escritos sobre memória e silenciamento, de Michael Pollak, também contribuem

para a discussão quando fala de uma memória nacional, ou coletiva, aquela produzida pelos

que têm o direito da fala, assim cristalizando e distribuindo através dos diversos dispositivos

uma verdade padronizada. Inibindo assim as subjetividades de regiões e povos, silenciando

vozes. Pollak (1989) diz ainda que esses discursos silenciados não representam, em nenhum

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momento, o esquecimento e sim resistência enquanto silenciados. É como se aguardassem,

nem sempre passivamente, pelo direito a fala.

Como mulher, negra, amazônida e paraense, sinto a responsabilidade em entender

melhor a região amazônica em seus diversos aspectos. Uma forma encontrada é desenvolver

estudos que questionam a produção de sentidos e representações que são construídos pelos

sujeitos produtores de mídia, buscando entender suas posições (éticas, políticas e culturais) e

como isso pode influenciar esse processo. Acredito que, refletir sobre as produções de

informação jornalística no contexto em que emergem, ou se repetem, tem grande valor para a

reavaliação dos lugares dos sujeitos históricos, e validação ou mesmo revalidação de suas

falas.

Parte da motivação para o desenvolvimento desta pesquisa surge do incentivo

acadêmico em torno da reflexão sobre a região amazônica e o papel do jornalismo. Este olhar,

que nos faz perceber uma nova ordem do discurso, é explorado, incentivado, conduzido em

disciplinas como Comunicação Comunitária, Comunicação e Política, Culturas Brasileiras,

Produção e Redação de texto para o Rádio, TV e Internet, além de Sustentabilidade, Ética e

Legislação Jornalística, Jornalismo Especializado e Jornalismo Multimídia. É ampliado em

atividades de extensão como a I Semana dos Povos Indígenas da Estácio Fap; em que tive a

oportunidade de produzir reportagens sobre a interação entre a comunidade acadêmica e

alunos indígenas da UFPA (Universidade Federal do Pará); e a participação em congressos de

Comunicação como a Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da

Comunicação – em edições regionais norte por três vezes; inscrevendo papers que propõem

discussões sobre as mudanças no mercado de trabalho frente ao avanço das tecnologias

informacionais, a chegada da radionovela no Pará e, a construção de informação jornalística

em profundidade tendo como exemplo a reportagem “Cinema Olympia Completa 100 anos”,

produzida e escrita por mim para o Portal Pai D’Égua – mantido por alunos do curso de

Comunicação da Estácio Fap até 2013.

Uma preocupação é o grande questionamento no que se refere à cobertura jornalística

- em relação ao aprofundamento em temáticas específicas e seus critérios de noticiabilidade -

destacando o fragmento enquanto a análise amplificada é deixada de lado. Quando o

jornalismo noticioso, aquele que responde às seis questões do lead (O que? Quem? Quando?

Onde? Como? Por quê?), toma o maior espaço dos espaços midiáticos enquanto a reportagem,

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construída em bases da reflexão e aprofundamento, é deixada de lado. Os caminhos que

podem levar à produção da informação jornalística mais profundada, reflexiva, que utiliza a

inter-relação histórica para formar um contexto e se fazer compreender uma situação de forma

mais ampla não cabe no espaço da mídia que trabalha em uma lógica industrial de produção

de notícias – grande parte dela trabalha dessa forma – o que leva a uma repetição de padrões,

modelos, costumes, que são atualizados de acordo com o direcionamento vigente da empresa

de comunicação no momento da construção de sentidos.

Esta pesquisa se propõe a contribuir em acrescer bibliografia e buscar uma reflexão

sobre os lugares dos sujeitos, sobre como, por vezes, o jogo de poder pode silenciar uns e dar

a fala a outros e, também, sobre como pode-se levar tais reflexões à profissões em

comunicação objetivando a ampliação dos olhares, da cobertura jornalística e da produção de

sentidos.

O trabalho está dividido em três capítulos, no primeiro as condições de possibilidades

históricas na construção de sentidos sobre a Amazônia paraense são levantadas. O segundo

capítulo discute as circulações de saberes e de poder, tendo como foco principal a mídia

impressa, identificando, a partir de suas nuances, a influência que exerce nos mais diferentes

ambientes da sociedade. O terceiro capítulo discute sobre as representações da Amazônia

paraense a partir da análise do material jornalístico encontrado nos jornais impressos, no

período observado.

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CAPÍTULO 1: Amazônia paraense, memórias e discursos

1.1 Discurso midiático e memória

A mídia, aquela entendida como massiva ou mesmo tradicional, se mostra como

difusora de imagens sociais, produzidas ou construídas a partir de condições de possibilidades

históricas levando em consideração as implicações do “fazer jornalístico”. Assim acontece

com os sentidos produzidos sobre a Amazônia. Ainda hoje, é possível identificar uma

regularidade de discursos sobre a região que pressupõem um ambiente hostil, rico em recursos

naturais, um paraíso a ser explorado.

Sobre regularidade discursiva, Michel Foucault (2008, p. 28) diz É preciso estar pronto para acolher cada momento do discurso em sua irrupção de acontecimentos, nessa pontualidade em que aparece e nessa dispersão temporal que lhe permite ser repetido, sabido, esquecido, transformado, apagado até nos menores traços, escondido bem longe de todos os olhares, na poeira dos livros. Não é preciso remeter o discurso à longínqua presença da origem; é preciso tratá-lo no jogo de sua instância.

A Amazônia, como uma região colonizada de forma violenta e arbitrária, tem na

história contada pelo europeu a base para a construção da imagem que tem hoje. Os primeiros

relatos sobre o Brasil constroem diversas imagens que retratam a fauna e a flora do país, e

foram feitos por pesquisadores como antropólogos e botânicos em viagens à época do

segundo império brasileiro principalmente, muitas vezes com apoio direto da coroa

portuguesa. Algumas dessas viagens foram feitas pelo baiano Alexandre Rodrigues, no século

XVIII, que tinha grande interesse na descrição das populações da região (“as línguas, a

interação, as formas de comer, os modos de viver, como eram as habitações”), “ele estabelece

a ideia da Amazônia como um enorme vazio demográfico” (SIMÕES, 2014, p. 427). O mundo de uma natureza imensa, esmagadora, sufocante – adjetivos comuns desses relatos: essas descrições todas acabam compondo um forte imaginário que une tais narrações. Nelas, viaja-se dias ou semanas sem encontrar “viva alma”, sem encontrar absolutamente alguém na beira dos rios (SIMÕES, 2014, p. 427).

Tomando por referência a colonização europeia, Belém, capital do Estado do Pará

completa 400 anos em 12 de janeiro de 2016. Como parte da região amazônica brasileira,

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também passou a ser retratada pelos sujeitos que detém o direito da fala; são letrados,

considerados por eles mesmo como os únicos que detém cultura, donos da verdade política e

religiosa e o outro deve se curvar; é o colonizador. Ao longo deste percurso (400 anos), há um

processo de silenciamento das vozes marginais – entre elas, as vozes indígenas – que são

sobrepostas por uma espécie de memória oficial (POLLAK, 1989, p. 3); aquela que fica, se

perpetua e que, por meio dos diversos dispositivos, entre eles a mídia contemporânea, se

atualiza fazendo flutuar significados, o que pode anular, afirmar, reafirmar ou mesmo

interditar discursos. A mídia, entendida como dispositivo eletrônico de manutenção de poder

que faz circular saberes nos espaços da sociedade, é aquela que cria representações, além de

participar ativamente na manutenção delas.

No início da década de 1970, por exemplo, é clara a permanência de uma construção

imagética selvagem do Pará, como na figura a seguir (Figura 1). Mas já existe um

deslocamento em relação à Belém, não aparece mais como um lugar tão distante, porém é

ponto de acesso aos “lugares mais distantes”. Isso se deve a construção e inauguração da

Belém-Brasília em 1960 (complexo de 11 rodovias que ligam a capital do Pará à então recém

inaugurada cidade de Brasília), durante o governo de Juscelino Kubistchek (1956 – 1960)

época em que expressões como desbravar o interior do Brasil são cunhadas.

Destaque para o trecho: “Daí é só escolher: praias, passeios na selva, o gado na Ilha do Marajó e uma grande cidade na foz do Amazonas.”

Fonte: O Globo de 14/03/1974

A cidade a qual o texto se refere é Soure, na Ilha do Marajó, que à época era o único

município a dispor de hotel. As referências que se tinha da região, em especial do Pará, é

Figura 1: Caderno de Turismo Pág 1

15

aquela repleta de recursos naturais – passíveis de exploração e também de admiração. Devido

às transformações que trouxeram mudanças ao enquadramento da cobertura jornalística sobre

a região, sentidos produzidos flutuam contudo as raízes de uma memória cristalizada

perduram.

Destaque para a

manchete:

“Na floresta, com

renda e cidadania”.

Fonte: O Globo 03/01/2010

Hoje, o que chama a atenção da imprensa com alguma intensidade são as catástrofes

(naturais ou não), conflitos de terras, mudanças climáticas ou mesmo o desmatamento no que

se refere a região, porém as noções de maravilha edênica, exotismo ou mesmo hostilidade e

falta de civilidade ainda estão lá (Figura 2).

1.2 Dizem sobre a Amazônia

Os discursos sobre a natureza amazônica, os sentidos construídos e as representações

que surgem daí, estão ligados a como a natureza é vista nas perspectivas do saber da História,

da Ciência, do Direito e do fazer jornalístico, por exemplo. Todos esses são condicionantes

históricos, que possibilitam a visualização do surgimento e das possíveis regularidades que tal

discurso toma dentro de um quadro específico, e também relacionado a outros.

O discurso ambiental já foi visto como periférico, tendo a sua origem no saber

científico5. Com o surgimento dos estudos ecológicos, na segunda metade do século XIX;

saber que tem alicerce “na evidência de fatos científicos e na aplicação da estatística”, que

procura explicar, compreender, descrever e prever (BEGON; HARPER; TOWNSEND, 2003,

p. 23 e 27); é “inaugurada” uma visão mais holística no que diz respeito ao ambiente natural. 5 Fala do jornalista Alberto Dines no programa de Tv Observatório da Imprensa em 18/11/2014.

Figura 2: Caderno O País Pág 10

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É Ernst Haeckel (apud BEGON; HARPER; TOWNSEND, 2003), em 1866, que propõe o

vocábulo “ecologia” para os estudos que envolvem as espécies em seu ambiente natural,

estudos que ficam silenciados por longo período de forma descontínua e, nas décadas de 1970

e 1980, manifestações mundiais começam a se tornar visíveis com o apoio da ONU

(Organização das Nações Unidas), a partir das conferências sobre meio ambiente.

A pesquisa científica ambientalista mostra os perigos que o ritmo da industrialização

já trazia ao meio ambiente, desde início do século XX. Em contraponto, na mídia (impressa,

radiofônica e cinematográfica-documental), a natureza é mostrada até recentemente (final da

década de 1980) como fonte inesgotável de recursos à disposição do homem; construção

imagética provocada também, e mantida por muitos anos, pela Carta de Caminha ao Rei de

Portugal na ocasião do descobrimento do Brasil. As descrições maravilhosas e maravilhadas

contribuíram historicamente para a construção de uma imagem disseminada em várias

instâncias discursivas.

Até agora não pudemos saber se há ouro ou prata nela, ou outra coisa de metal, ou ferro; nem lha vimos. Contudo a terra em si é de muito bons ares frescos e temperados como os de Entre-Douro-e-Minho, porque neste tempo d’agora assim os achávamos como os de lá. Águas são muitas; infinitas. Em tal maneira é graciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo; por causa das águas que tem! (CAMINHA, 1° de maio de 1500)

Também, viagens feitas por pesquisadores, como botânicos e antropólogos, geraram

relatos sobre a fauna e a flora do país, ajudando a compor este imaginário considerado forte

até hoje. Na região amazônica do século XVII, o missionário do Maranhão e do, então, Grão-

Pará, Padre Antônio Vieira é um personagem histórico que acrescenta elementos a esse

imaginário através de sermões e cartas, principalmente, como a submissão ao clima e à

natureza. Para ele, esses são motivos determinantes para o “problema” civilizatório, a força

titânica da natureza faz ir em outra direção os habitantes.

O clima quente, as enormes distâncias e a sensação de abandono e de impotência diante dessas forças titânicas da natureza fazem com que tenhamos mais suscetibilidade a elementos instintivos. Acabamos dominados pelos instintos – instintos estes da natureza, a qual acaba soterrando todos. Então, a desordem dos instintos, a lassidão, o abandono sensorial que atingem os indígenas, mas que são mais graves nos colonos que aqui se estabeleceram, são recorrentes acusações nos sermões de Vieira. (SIMÕES, 2014, p. 429)

17

No final da década de 1950 e início dos anos 1960, o Brasil passa por um governo

federal que pregou a “integração” do Brasil, a via Belém-Brasília foi inaugurada (1960) por

Juscelino Kubitschek, com o objetivo de aproximar a região amazônica do país como um todo

– uma aproximação econômica e política.

As ocorrências de material jornalístico sobre o Pará tem crescimento evidente na

década seguinte, são reportagens e notícias sobre a gastronomia local e as exoticidades a se

conhecer, predominantemente no caderno de Turismo. A administração pública também

contribui na construção de representações sobre s região, sobre o Pará. Nota-se a repetição de

um discurso maravilhado, apenas atualizado no que diz respeito ao que encontrar no Pará,

então, somando as significações de uma região com recursos naturais abundantes a serem

explorados a possibilidade turística, uma memória “inaugurada” aí.

No Brasil, as décadas de 1970 e 1980 foram marcadas pela criação da Secretaria

Especial do Meio Ambiente e a promulgação da lei de proteção ao Meio Ambiente como

resposta às pressões internacionais em prol de uma administração global da natureza o que

afeta diretamente na cobertura jornalística de regiões como a amazônica. Na mídia impressa,

começam a aparecer com mais intensidade informações mais desdobradas sobre o assunto.

Surge também termos como “sustentabilidade” e “consumo sustentado” a partir da expressão

“desenvolvimento sustentável” apresentada no documento Agenda 21 produzido durante a

ECO-92, no Rio de Janeiro em 1992.

Citando Hannigan (2009), a jornalista e pesquisadora em temas socioambientais

Elizabeth Oliveira, em seu artigo sobre Comunicação e Sustentabilidade publicado na revista

Sinais Sociais em dezembro de 2014, diz que “...o final da década de 1960 e o início da

década de 1970 representaram períodos significativos para a ampliação na mídia dos espaços

dedicados à cobertura ambiental” devido a desastres ambientais provocados por poluição,

contaminação de ecossistemas, entre outras questões que poderiam comprometer a qualidade

de vida humana (OLIVEIRA, 2014, p. 135). Para a autora, esta movimentação acontece em

uma relação de simultaneidade “com a realização de grandes eventos considerados marcos no

debate da temática ambiental, como a Conferência da Biosfera e a Conferência de Estocolmo”

(OLIVEIRA, 2014, p. 135).

Ainda citando Hannigan (2009), a autora fala do aumento da percepção mundial sobre

o assunto – principalmente nos Estados Unidos e Europa –, o que só vai atingir o Brasil a

partir da década de 1980 com a divulgação de notícias de cunho ambiental porém

18

contextualizadas localmente, pontualmente. Para ela, “foi a partir da década de 1990,

impulsionada, sobretudo, pela realização da Rio-92, que a pauta ambiental passou a ter caráter

mais global” (OLIVEIRA, 2014, p. 135).

Um outro saber, o do Direito, mostra ainda hoje uma visão com tendência

antropocêntrica no que diz respeito a natureza e ao uso dos recursos naturais – ou bens

ambientais, construção histórica que reflete o momento em que a sociedade vive e as formas

específicas de relacionamento dela com a natureza (tempo e espaço). Na história do Direito

pode-se observar a tentativa de regulação dos usos desses bens (água, terra, minerais, floresta,

fauna, etc.) desde a Roma antiga, quando e onde o privado e público foram instituídos pela

primeira vez. Este saber considera, contudo, duas correntes de análise da relação homem-

natureza. Uma delas é a “antropocêntrica”, é uma concepção que diz que a natureza não tem

valor em si sendo, e apenas, uma reserva de recursos para a livre utilização do homem. Outra

corrente, a chamada “biocêntrica” ou “ecocêntrica”, considera o homem um ser vivo assim

como seres de outras espécies e pensa o mundo de uma perspectiva holística – total, mais

ampla, para Benatti (2014, p. 257) “o holismo substitui o individualismo” desta forma

“desaparecendo a ideia de hierarquia e supremacia, todos têm a mesma importância”

(BENATTI, 2014, p. 256 e 257).

A visão conservadora do Direito aceita como relação, preferencialmente, a que existe entre pessoas e coisas. Contudo, com o desenvolvimento do Direito Ambiental e a ampliação da importância dos seres vivos e não vivos para a sobrevivência da humanidade, aprofunda-se o questionamento sobre o método clássico do Direito no tratamento das relações sociais. De fato, estamos diante de novas indagações: o Direito deve proteger o ser humano, a natureza ou ambos? Qual é a melhor maneira para assegurar um “meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida”, fazer ou não a distinção entre homem e natureza? Devemos continuar negando ao ecológico um valor absoluto, na medida em que a natureza é apenas subsidiária da vida humana? (BENATTI, 2014, p. 258)

Para que um enunciado seja validado ou não, para que a ele um significado seja

atribuído deve ser colocado em jogo as relações que tem com o contexto em que está inserido,

sendo estas as condições históricas que possibilitam a sua existência.O referencial do enunciado forma o lugar, a condição, o campo de emergência, a instância de diferenciação dos indivíduos ou dos objetos, dos estados de coisas e das relações que são postas em jogo pelo próprio enunciado; define as possibilidades de aparecimento e de delimitação do que dá à frase seu sentido, à proposição seu valor de verdade. É esse conjunto

19

que caracteriza o nível enunciativo da formulação, por oposição a seu nível gramatical e a seu nível lógico: através da relação com esses diversos domínios de possibilidade, o enunciado faz de um sintagma, ou de uma série de símbolos, uma frase a que se pode, ou não, atribuir um sentido, uma proposição que pode receber ou não um valor de verdade. (FOUCAULT, 2008, p. 103)

O discurso sobre a Amazônia tem nos saberes científicos da ecologia e evolucionismo

as bases da comoção mundial; possível devido às revoluções tecnoinformacionais e ao

movimento de globalização econômica e cultural. Entra aí, o dispositivo eletrônico midiático

como sendo aquele que se apropria de discursos sociais de acordo com os critérios de

proximidade e angulação do veículo de comunicação, regras que podem ser a causa do

aparecimento de séries de enunciados específicos, assim como motivo da sua interdição ou

invalidação.

1.3 De que Amazônia estamos falando?

Fala-se de uma Amazônia colonizada de forma violenta e arbitrária, da Amazônia

paraense. História coincidente com a do Brasil, das Américas. Foi o navegador genovês

Cristóvão Colombo (1451-1506) quem provou que o planeta Terra não é plano ao chegar à

América Central, onde hoje é a República Dominicana, completando a volta ao globo meses

depois. Somente em princípio não escravizou o indígena. O plano do italiano, foi aceito pela

Rainha Isabel I de Castela, da Espanha – depois de recusado por Portugal e a própria Itália.

Esta nova rota abre caminhos para o mundo, o “Novo mundo”, também conhecido como

“Índias ocidentais” por longo tempo, era então o mais recente espaço de oportunidades.

Onde hoje é o Pará, foi uma das primeiras rotas de acesso à região pelo explorador.

Quando o colonizador português chega onde hoje é Belém, se fixa e funda a cidade em 12 de

janeiro de 1616 – chamava-se Santa Maria de Belém do Grão-Pará –, durante esse processo

expulsou os holandeses e ingleses, dizimando e objetificando o indígena. As drogas do sertão

eram os produtos extraídos à época, como café, canela, castanha, cravo e pimenta.

No livro “Formação Histórica do Pará” (1973), do historiador e político Manoel

Barata, são diversos os registros que comprovam o caráter exploratório da incursão

portuguesa na região quando cita, as parcerias portuárias do Brasil do início do século XIX

20

com Portugal somando às “nações amigas e aliadas da coroa” (BARATA, 1973, p. 34). Esse

tipo de parceria foi ela de grande utilidade para todas as províncias, e de exclusivas vantagens para a do Pará, pela maior exportação de seus imensos, ricos e privativos produtos, alguns dos quais nem eram bem conhecidos nos diversos mercados da Europa. (BARATA, 1973, p. 34)

A Amazônia de que se fala é aquela vista a partir do discurso dos que têm, ou tiveram

um dia, o poder de registrar e falar em nome da região. Os escritos de Manoel Barata mostram

pesquisas em documentos (atas de reuniões, diários e jornais) as palavras do colonizador e a

organização espacial e temporal que realiza na região. Os comentários subsequentes aos

registros feitos por ele mostram também o homem de uma época, a crença na expansão da

região na direção de uma civilização. A livre comunicação com os estrangeiros não produziu somente o aumento do comércio e da agricultura; influindo ela nos costumes dos povos, concorreu também para a sua mais pronta civilização, espalhando a abundância por todas as classes dos habitantes da província, pelo menos conhecimento e apreço das suas riquezas, e fazendo nascer nestes o gosto do seu bem estar, pelo gozo de muitas comodidades de que estavam privados. (BARATA, 1973, p. 34)

Vale ressaltar que essa Amazônia é aquela que tem por parâmetro o próprio português,

que chega na região tentando se olhar no espelho, ver o que há de diferente no outro em

relação a si. “Ele consegue ver aquilo que ele não é”, baseado nisso, tudo deve vir a ser o que

ele é (SIMÕES, 2014, p. 439). Desta forma, as populações indígenas, mais tarde as escravas,

não têm valor como humanos, são moeda de troca ou mesmo “peças”. Expressão utilizada por

Francisco do Amaral Soares, em carta6 - de 1693 - ao Conselho Ultramarino, ao citar a

necessidade de indígenas na produção de tinta de ucurum7 em sua fazenda no Grão-Pará. A

resposta veio no dia 7 de março do mesmo ano: “ao Francez que anda ocupado na manufatura

da tinta do Ucurú se lhe dem seis cazaes de gentio de resgate”. Também pelo plantio de anil –

em janeiro de 1696 – “mandaram-se dar ao mesmo Francisco do Amaral Soares vinte e quatro

índios, homens e mulheres, “da terra a que chamão cafuzes e cafuzas, para a fábrica do anil

que por ordem minha (d’Elrei) faz em a sua fazenda do districto dessa Cidade” (BARATA,

1973, p. 42). 6 Carta data de 18 de fevereiro de 1693. 7 Planta nativa da América tropical, atinge até seis metros, das sementes é possível extrair uma tinta avermelhada utilizada em pinturas corporais pelos indígenas e também para dar cor a alimentos.

21

É dessa Amazônia paraense da qual se fala, formada a partir dessas memórias. Hora

aderidas espontaneamente por um grupo, hora impostas através de instituições. É nesse jogo

de negociações que uma memória coletiva se constitui, deixando de lado, apagando as falas e

subjetividades dos mais diversos grupos. O que vem sendo modificado em estudos das vozes

marginais, assim como a popularização dos espaços de produção de difusão de informações.

Ao privilegiar a análise dos excluídos, dos marginalizados e das minorias, a história oral ressaltou a importância de memórias subterrâneas que, como parte integrante das culturas minoritárias e dominadas, se opõem à “memória oficial”, no caso a memória nacional. (POLLAK, 1989, p. 4)

Com a análise proposta neste trabalho desvendam-se as nuances da memória

discursiva que circula na mídia impressa, sendo esta última uma instituição que distribui,

valida, invalida, faz aparecer ou exclui representações sociais.

22

CAPÍTULO 2: Circulação de saber e de poder

Para Foucault (1999), ser parte de uma sociedade como a nossa é conhecer desde o

nascimento os sistemas de exclusão que influenciam diretamente a construção dos discursos,

como a oposição entre verdadeiro e falso, a rejeição ou separação, a interdição. O primeiro

tem grande risco segundo o autor, afirma que as verdades se organizam em torno de

contingências históricas que se deslocam a todo momento, se sustentam por meio de um

sistema de instituições que as impõem e as reconduzem.

O próprio sistema histórico desenhado por séculos é um sistema de exclusão, é o

retrato de um levantamento enquadrado a partir das vontades de verdades dos que registraram

a história. Embora existam sociedades em que narrativas que são contadas, repetidas, ditas

uma vez se conservam como se algo de muito precioso estivesse ali representado o autor

considera também certo desnivelamento entre discursos, como algo regular nas sociedades.

Este deslocamento é instável, inconstante e não absoluto. Em seu pronunciamento “A ordem

do discurso” (1970), Foucault diz que em uma sociedade o discurso é produzido de forma

“controlada, selecionada, organizada e redistribuída por certo número de procedimentos que

têm função conjurar seus poderes e perigos, dominar seu acontecimento aleatório, esquivar

sua pesada e temível materialidade” (FOUCAULT, 1999).

Assim, pode-se pensar em uma unidade discursiva como sendo o jogo da formação do

discurso, observando as rupturas dos acontecimentos, emergência de objetos combinada a

momentos históricos ou mesmo a repetição desta aparição (identificando afastamentos e

incompatibilidades). Para Foucault,

no caso em que se puder descrever, entre um certo número de enunciados, semelhante sistema de dispersão, e no caso em que entre os objetos, os tipos de enunciação, os conceitos, as escolhas temáticas, se puder definir uma regularidade (uma ordem, correlações, posições e funcionamentos, transformações), diremos, por convenção, que se trata de uma formação discursiva. (FOUCAULT, 2008, p. 43)

Tal formação está subordinada às vontades presentes nos espaços das práticas não

discursivas, é esse o lugar de disputa de forças, de decisões, direcionamentos e, como

resultado, o direito a fala é concedido ou não aos sujeitos. Esses processos de apropriação se

dão nos diversos espaços de uma sociedade, um sujeito passa a fazer parte de um grupo

23

específico, e pode até representa-lo, quando seus ideais são mais ou menos parecidos aos já

validados.Essa instância compreende também o regime e os processos de apropriação do discurso: pois, em nossas sociedades (e em muitas outras, sem dúvida), a propriedade do discurso - entendida ao mesmo tempo como direito de falar, competência para compreender, acesso lícito e imediato ao corpus dos enunciados já formulados, capacidade, enfim, de investir esse discurso em decisões, instituições ou práticas - está reservada de fato (às vezes mesmo, de modo regulamentar) a um grupo determinado de indivíduos. (FOUCAULT, 2008, p. 75)

O autor fala também dos dispositivos em uma sociedade, é qualquer espaço

heterogêneo que engloba vários elementos e produz sentidos. Mais do que isso, um conjunto

de significados colocados em ordem específica com finalidade de exercício de poder.

Conjunto decididamente heterogêneo que engloba discursos, instituições, organizações arquitetônicas, decisões regulamentares, leis, medidas administrativas, enunciados científicos, proposições filosóficas, morais, filantrópicas. Em suma, o dito e o não dito são os elementos do dispositivo. O dispositivo é a rede que se pode estabelecer entre estes elementos. (FOUCAULT apud SENA, 2015, p. 27)

Nesta pesquisa trabalha-se o dispositivo mídia impressa, por ser um espaço de tensão

entre esses valores, saberes e interesses que materializam reportagens escritas, somadas à

enunciados fotográficos que também compõem o discurso. É lugar de circulação e suporte de

distribuição de discursos.

2.1 Mídia como dispositivo de poder

Entre os vários dispositivos de poder institucionalizados, e que por vezes nem

percebe-se o processo de instauração e exercício deles, está a mídia jornalística – os vários

meios de comunicação como a TV, Rádio, Impresso, Internet. O dispositivo de circulação de

saberes que tem enfoque nesta pesquisa é a mídia impressa, a partir de um direcionamento do

jornalismo visto como instrumento de mediação de informações e também administrador das

relações sociais. Esta última corrente pensa no jornalismo mais como um interventor do que

mediador, o que dá a ele o status de mantenedor do poder. Lopez e Dittrich (2015) falam da

interferência da mídia na sociedade comprovada pelo agendamento temático. “O que pensar”

é o que a mídia determina, assim, passa a ser (re) condutora de valores, verdades e costumes

24

que flutuam de acordo com o contexto histórico em que emergem os discursos. A mídia dá

visibilidade, valor de real e evidencia as diversas realidades.

Muniz Sodré, em seu livro “A narração do fato” (2012), afirma que mesmo

produzindo tipos diferentes de discursos e gêneros o jornalismo tem um significado principal

“aquele voltado para a construção e comunicação de acontecimentos, relativos a um estado de

coisas no ordenamento social. Ele pode coexistir no espaço do jornal com outras formações

(didática, política, publicitária, literária), mas guarda sua especificidade” (SODRÉ, 2012, p.

141). A informação jornalística é da ordem da comprovação dos fatos baseados na realidade

histórica (casus facti), “embora o relato jornalístico seja realmente uma "construção", feita

por uma subjetividade a partir de outros relatos (provindos das fontes), existe uma presunção

de imparcialidade, garantida pelo estatuto profissional do jornalista" (SODRÉ, 2012, p. 41). O poder do jornalismo, por mais frágil que possa parecer frente ao Estado e por menos que esconda a subjetividade do jornalista no embate hegemônico, consiste em sua exposição do fato social, ou seja, de uma unidade onde se entrecruzam outras táticas de poder típicas da sociedade civil em sua luta pela hegemonia das representações. (SODRÉ, 2012, p. 41)

É nesse entrecruzamento de poderes que a política, intrínseca à sociedade humana,

aparece. João Ubaldo em seu livro “Política” (2010), fala dela como algo que interessa a todos

em uma sociedade, política entendida como qualquer relação de poder que venha a afetar

diretamente a coletividade. Pode-se então, comparar a disputa pelo espaço midiático como um

jogo de poderes, quando na produção da notícia ou informação jornalística fatores como

quem, como, quando e onde fulano pode falar são decididos por um outro alguém que naquele

momento tem poder para tal. Este último tem o direito de selecionar enunciados que formam

um discurso resultado de interesses políticos, próprios ou somados aos da organização em que

trabalha, pois vão afetar a coletividade; os públicos que acompanham a informação através de

qualquer meio; criando costumes ou ideias, reforçando uns, anulando outros. Quando nos dizem que não nos é permitido (no caso dos brasileiros do sexo masculino) passar dos 18 anos sem nos alistarmos nas Forças Armadas, é evidente que um poder se exerce sobre nós de forma bastante palpável. Entretanto, ao pensarmos ou agirmos de determinadas maneiras que não raro julgamos naturais ou espontâneas, esse poder é menos fácil de visualizar. É o que se dá, por exemplo, quando mantemos preconceitos contra o nosso semelhante, por ser ele preto, ou branco, ou protestante, ou católico, ou por falar com um sotaque diferente do nosso. A existência de preconceitos não é natural. O homem não nasce com preconceitos, ele os aprende socialmente. Ao aprendê-los, é claro que seu comportamento está sendo influenciado. É

25

igualmente claro, por via de consequência, que ele está sendo submetido a algum poder. (UBALDO, 2010, p. 11)

Para Ubaldo (2012), existem vários tipos de poder que só podem ser identificados no

momento em que são exercidos, que é propagado por cada indivíduo por vezes sem que

perceba. O autor reforça que a política serve a todos, não deve ser negligenciada ou ser vista

como algo distante e está presente nas diversas relações do homem dentro de uma

comunidade. Em analogia à prática jornalística, pode-se dizer que com o constante avanço das

tecnologias da informação, o caráter ativo de grupos que ficaram, ou ficam, à margem de um

discurso majoritário começam a mostrar e impor suas heterogeneidades.

A materialização jornalística – através de reportagens ou notícias em um jornal

impresso, rádio, tv ou internet – é uma soma dos processos de apropriação dos discursos,

rituais por meio dos quais são produzidos ou construídos e da recepção dos sujeitos. A

constante influência no comportamento dos indivíduos a partir de então representa o exercício

de um poder, quando aceita e propagada por eles. Ações exercidas pelo mecanismo midiático,

dispositivo de poder.

2.2 Mídia impressa e o fazer jornalístico

A mídia impressa, desde o surgimento da escrita, já vem sendo utilizada pelo homem

com as diversas finalidades e através dos vários suportes - pedra, papel, ou mesmo em

ambientes simulados. Algumas das condições de possibilidades históricas que fazem surgir a

imprensa são: a invenção da prensa de tipos móveis por Gutenberg (século XV); a impressão

é otimizada; a estruturação de alguns jornais no século XVII; a exemplo do Gazette de

Théophraste Renaudot; e a Revolução Francesa (século XVIII); época em que o mito da

transparência é associado à prática de “procurar, explorar, escavar, vasculhar, virar tudo de

pernas para o ar, até mesmo profanar, no interesse da notícia” (MARCONDES FILHO, 2009,

p. 18).

Marcondes Filho (2009), fala que a Revolução Francesa marca o início de uma espécie

de primeiro jornalismo (1789 à metade do século XIX), é o momento de trazer à luz o

segredo, da profissionalização do jornal, os interesses econômicos estão em segundo plano e

“surge a redação como setor específico, o diretor torna-se uma instância diferente da do

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editor, impõe-se o artigo de fundo e a autonomia redacional” (MARCONDES FILHO, 2009,

p. 18). As monarquias e a aristocracia começam a ruir, o poder concedido por indicação

divina começa a ser questionado. O segundo jornalismo é marcado pela inovação tecnológica

na produção dos jornais (metade do século XIX), agora a notícia é produto e gera lucro, é a

época dos jornais populares e sensacionalistas em que a empresa jornalística necessita da

autossustentação e se alinha às exigências do capital (MARCONDES FILHO, 2009, p. 20).

Para o autor, é o século XX que representa o terceiro jornalismo, fase em que o

crescimento das empresas jornalísticas está ligado ao envolvimento direto delas com a

indústria publicitária e as relações públicas, em que a descaracterização dos jornais acontece

(MARCONDES FILHO, 2009, p. 22). O quarto jornalismo é aquele que considera as

revoluções tecnológicas e suas implicações no fazer jornalístico, são dois os processos

visíveis aí: a expansão da indústria da consciência através das estratégias e técnicas de

persuasão no fazer noticioso, e pela parcial substituição do jornalista pelos sistemas de

comunicação eletrônicos.

As categorias acima apresentadas constituem um breve histórico que reflete no fazer

jornalístico atual. A lógica de produção de notícias que têm valor de mercado e os fatores

tecnológicos claramente influenciam essa atividade profissional. Aqui atem-se às teorias sobre

jornalismo organizadas por Nelson Traquina, em que mostra como as notícias são produzidas

levando em consideração algumas das correntes de pesquisa validadas nessa área de

conhecimento entrecruzando-as aos princípios editoriais do Grupo Globo.

O teórico do jornalismo Nelson Traquina (2012), fala que “não podemos compreender

porque as notícias são como são sem compreender a cultura profissional da comunidade

jornalística” (TRAQUINA, 2012, p. 26). Ou seja, pode-se compreender melhor a produção

jornalística a partir de fatores internos que não apenas as notícias, ou informação jornalística,

em sua exterioridade ou materialidade. Vários estudos sobre o jornalismo foram

desenvolvidos fazendo surgir teorias que tentam demonstrar como o fazer jornalístico

influencia na construção de uma narrativa. O autor lembra, ainda, que essas teorias não são

totalmente independentes umas das outras, ou mesmo se anulam.

Traquina (2012) cita a teoria do espelho como a mais antiga a tentar explicar a

construção da narrativa jornalística. Nela, a lógica dessa produção tem na figura

desinteressada do comunicador a chave para existir, é um espelho da realidade em que ele é

“observador que relata com honestidade e equilíbrio o que acontece, cauteloso em não emitir

27

opiniões pessoais” (MARCONDES FILHO, 2009, p. 149). Essa teoria é desenvolvida sob

influência do surgimento da objetividade e o ideal de imparcialidade, pressupostos muito

utilizados pelo jornalismo atual, decorrentes do positivismo norte americano.

O autor segue, cita a teoria da ação pessoal ou gatekeeper, popularizada em meados

dos anos 1950 quando o último termo é aplicado ao jornalismo pela primeira vez por David

Manning White, “refere-se à pessoa que toma uma decisão numa sequência de decisões”

(MARCONDES FILHO, 2009, p. 151). Nesta perspectiva, a produção jornalística passa por

vários processos subjetivos, é “produto das pessoas e das suas intenções” (MARCONDES

FILHO, 2009, p. 152). Nelson Traquina (2012) observa que nessa teoria apenas o indivíduo

produtor, ou mesmo selecionador, de notícia é levado em consideração. É da posição dele que

se fala. Mais à frente, nos estudos de McCombs e Shaw (apud TRAQUINA, 2012), ao

reanalisarem os dados de White, apontam que as decisões tomaras pelo gatekeeper (se

referindo ao selecionador de notícias) estavam sendo pesadas em relação às normas da

empresa em que trabalhava, deixando quase todo o fator subjetivo de lado.

O funcionamento da redação jornalística de um meio impresso como O Globo, desde o

início de sua história – julho de1925, tem na figura do editor-chefe (à época Irineu Marinho,

fundador e então director proprietário da empresa de comunicação – Figura 3) a

responsabilidade de escolha das informações que serão veiculadas e já nasce na lógica de

produção industrial de notícias. Além de ter valor enquanto acontecimento, a notícia também

tem valor de mercado, o que só se intensifica com a revolução tecnológica informacional, é a

“ditadura do tempo” citada por Traquina (2012). O que pode ser explicado a partir da teoria

organizacional, de Warren Breed. Figura 3: Irineu Marinho na redação de O Globo em 1925 - Máquina de escrever

Fonte: Linha do Tempo de O Globo8

8 Disponível em http://memoria.oglobo.globo.com/linha-do-tempo/

28

Figura 4: Década de 1920 Vista da primeira sede da redação de O Globo (Rua Bettencourt da Silva, RJ)

Fonte: Linha do Tempo de O Globo

Figura 5: 26/07/1985 Chegada dos computadores de mesa à redação de O Globo

Fonte: Linha do Tempo de O Globo

Traquina (2012) diz que em 1955, a publicação de Warren Breed na revista “Forças

Sociais” foi ponto de partida para uma teoria mais ampla do que a do espelho ou gatekeeper, a

teoria organizacional. Agora, o procedimento, as categorias de ação do fazer jornalístico são

observadas levando-se em consideração o ambiente organizacional no qual trabalha o

comunicador. Suas crenças são deixadas de lado para dar lugar à política editorial da

organização.

As políticas editoriais9 do Grupo Globo, administrador de vários meios de

comunicação como o impresso O Globo, atribui os princípios de isenção, correção e

agilidade ao regimento do fazer informativo de qualidade. Contudo, admite-se que total

isenção não existe, “é impossível que alguém possa se despir totalmente do seu subjetivismo”

(Seção I, 1), mas garante que é possível atingir graus elevados de isenção. Para que isso 9 Disponível em http://g1.globo.com/principios-editoriais-do-grupo-globo.html

29

aconteça, o documento explicita alguns fatores como ter a isenção como objetivo consciente,

diversos ângulos devem ser abordados durante a construção jornalística, e que os profissionais

da comunicação devem se esforçar para “deixar claro o que realmente aconteceu, quando isso

por possível” (GRUPO GLOBO, PRINCÍPIOS EDITORIAIS, 2015, Seção I, 1). Ainda sobre

isenção, através do texto a empresa de comunicação se diz laica e, que “todos os jornalistas

envolvidos na apuração, edição e publicação de uma reportagem, em qualquer nível

hierárquico, devem se esforçar ao máximo para deixar de lado suas idiossincrasias e gostos

pessoais” (GRUPO GLOBO, PRINCÍPIOS EDITORIAIS, 2015, Seção I, 1).

Nas décadas de 1960 e 1970, as teorias de ação política e construcionista, pensam o

fazer jornalístico de formas diferentes e complementares. A primeira estuda a parcialidade, e

vê o jornalista como instrumento, por ser servo de certos interesses políticos. Essa teoria

defende que “as notícias são distorções sistemáticas que servem os interesses políticos de

certos agentes sociais bem específicos que utilizam as notícias na projeção da sua visão de

mundo” (TRAQUINA, 2012, p. 165). Já a teoria construcionista, propõe um jornalismo

construtor da realidade, por convenção, é evidenciado aqui o fator cultural no fazer noticioso.

Os acontecimentos saem da escuridão aos holofotes jornalísticos, não por uma escolha

aleatória mas por se aproximarem de alguma forma da base de conhecimentos do profissional

da comunicação. Devido ao espaço físico disponível do jornal em papel e a infinitas

possibilidades de acontecimentos, é quase impossível dizer que a cobertura abrange todos os

fatos. Mesmo que as empresas de comunicação clamem pela pluralidade nas coberturas

jornalísticas, para Herman (apud TRAQUINA, 2012), não há alto grau de diversidade

noticiosa pois,

apenas um conjunto de assuntos ou fatos é posto à disposição da população em geral, quer por censura tácita ou oficial, a condição de diversidade significativa não é satisfeita. Ou se os temas, fatos e perspectivas que se desviam da perspectiva geral estão confinados aos limites dos media e não chegam ao grosso da população, o resultado é o que pode ser chamado de diversidade sem sentido ou “marginalizada”. (HERMAN apud TRAQUINA, 2012, p. 166)

A teoria interacionista complementa esse pensar. Mario Wolf (apud TRAQUINA,

2012) diz que o processo de produção jornalístico transforma a matéria-prima (o

acontecimento) em produto (a notícia). Mas a seleção entre a grande gama de acontecimentos

é feita a partir de critérios de noticiabilidade, ou seja, os acontecimentos têm julgamento

baseado em fatores como proximidade geográfica, cultural, ineditismo do fato ou mesmo

30

temática – quando considera temas mais comentados no cotidiano na sociedade (WOLF apud

TRAQUINA, 2012).

O direcionamento do Grupo Globo, se diz aquele que adota uma cobertura sobre

“qualquer fato e qualquer pessoa”, mas logo em seguida delimita algumas preferências e

completa dizendo ser o jornalismo uma forma de apreensão da realidade.

uma crise política grave, decisões governamentais com grande impacto na sociedade, uma guerra, uma descoberta científica, um desastre ambiental, mas também a narrativa de um atropelamento numa esquina movimentada, o surgimento de um buraco na rua, a descrição de um assalto à loja da esquina, um casamento real na Europa, as novas regras para a declaração do Imposto de Renda ou mesmo a biografia das celebridades instantâneas. O jornalismo é aquela atividade que permite um primeiro conhecimento de todos esses fenômenos, os complexos e os simples, com um grau aceitável de fidedignidade e correção, levando-se em conta o momento e as circunstâncias em que ocorrem. É, portanto, uma forma de apreensão da realidade. (GRUPO GLOBO, PRINCÍPIOS EDITORIAIS, Introdução)

O documento que registra os princípios políticos do Grupo explicita a busca por

informações válidas tendo em mente o como obtê-las. Mesmo com a afirmação ao final do

capítulo III (grifos abaixo), sabe-se que a construção da narrativa jornalística é influenciada

diretamente pela política editorial da empresa de comunicação somada à outros fatores

organizacionais (ver item 2.3). Os veículos do Grupo Globo expressam, em seus editoriais, uma opinião comum sobre os temas em voga. Os textos podem e devem divergir no estilo, no enfoque, na ênfase nesse ou naquele argumento, mas a essência é a mesma. Essa opinião deve refletir a visão do seu conselho editorial, composto por membros da família Marinho e jornalistas que dirigem as redações. Nenhum outro jornalista do grupo precisa, porém, concordar com tais opiniões, que, em nenhuma hipótese, influenciarão as coberturas dos fatos. Estas, como exposto aqui extensivamente, devem se pautar por critérios de isenção. (GRUPO GLOBO, PRINCÍPIOS EDITORIAIS, 2015, Seção II, 4)

Para Breed (apud TRAQUINA, 2012), jornalista entra em conformidade com os

princípios editoriais da empresa em que trabalha através de um processo que envolve uma

relação de recompensa e punição (teoria organizacional) por, entre alguns motivos, ter receio

de represálias, ter desenvolvido sentimentos de estima para com os superiores e por acreditar

no crescimento profissional.

Os princípios editoriais ditados pelos próprios meios de comunicação podem até tecer

os melhores posicionamentos no que diz respeito ao fazer jornalístico de qualidade, é

interessante a admissão no texto de que as circunstâncias podem influenciar de alguma forma

31

na qualidade da apuração, é a lógica do “faremos o possível”. Este trabalho parte da hipótese

de que as duas empresas escolhidas (O Globo e O Liberal) têm suas parcialidades, interesses

políticos, direcionamento, enquadramento e condições específicas em que trabalham para

produzir a notícia ou a informação jornalística, o que influencia diretamente na materialidade

conferida pelos leitores. Fatores a serem buscados e elucidados durante a análise

2.3 Breve histórico dos jornais O Globo e O Liberal

O Globo

O nome "O Globo" foi escolhido através de um concurso promovido pelo jornalista e

dono do novo jornal Irineu Marinho, o título hoje conhecido foi o segundo mais votado pois o

nome ganhador da maioria dos votos, "Correio da Noite", já era patenteado por outra pessoa.

Assim, o jornal impresso O Globo tem a sua primeira edição no dia 29 de julho de 1925. No

mesmo dia foram lançadas duas edições do jornal, totalizando 33.435 exemplares, a princípio

distribuídos pelos "gazeteiros"10 e em seguida passou a ser vendido em bancas. Menos de um

mês após a inauguração do jornal, no dia 21 de agosto do mesmo ano, Irineu Marinho morre

aos 49 anos. Ao se considerar muito jovem para assumir o empreendimento o primogênito de

Irineu, Roberto Marinho, entrega o comando ao jornalista Eurycles de Matos. Somente a após

a morte de Eurycles, em 1931, Roberto Marinho assume o controle do impresso e assim

permanece até a própria morte em 6 de agosto de 2003.

Em 1936, o jornal publica a primeira telefotografia (telephotographia à época),

inaugurando a atividade no país, destacando o feito da brasileira Piedade Coutinho e a

classificação dela para a prova final dos 400 metros nado livre na Olimpíada de Berlim. Já em

1959, a primeira radiofoto em cores foi publicada durante e sobre a Segunda Guerra

Mundial, "era o registro de uma solenidade no Canadá, em que a rainha Elizabeth, da

Inglaterra, e o presidente Eisenhower, dos EUA, inauguraram um canal para a navegação

direta entre os Grandes Lagos e o Oceano Atlântico" (MEMÓRIA, O Globo). O suplemento

10 Vendedor de jornais, distribuidor das gazetas - jornal em formato tablóide, geralmente especializado em determinadas áreas como o início do jornal O Globo por ser regional carioca.

32

esportivo do jornal passa a ser colorido em 1979, além de outras inovações que foram

incorporadas ao perfil gráfico do jornal de acordo com o desenvolvimento tecnológico e o

aperfeiçoamento de máquinas e equipamentos. Em julho de 1996 o jornal inaugura seu site na

web e, quando completa 87 anos (em 29 de julho de 2012) promove uma mudança visual

abrangendo todo o projeto gráfico do impresso, a partir de então totalmente em cores.

Hoje, a editoria do jornal está dividida da seguinte forma, em ordem hierárquica:

Diretor de Redação e Editor Responsável (Ascândio Seleme), Editores Executivos (Chico

Amaral, Paulo Motta e Silvia Fonseca) e Editores (Sergio Fadul da sucursal de Brasília, Luiz

Antônio Novaes da sucursal de São Paulo, Eduardo Diniz do Site, Sérgio Maggi das Mídias

Sociais, Roberto Maltchik do videojornalismo, Antônio Ribeiro de fotografia, Rubens Angelo

Paiva de arte, Aluizio Maranhão de opinião, Alan Gripp do País, Rolland Gianotti do Rio,

Flávia Barbosa de economia, Sandra Cohen de mundo, William Hela Filho de sociedade,

Fátima Sá do segundo caderno, Márvio dos Anjos de esportes, Léa Cristina do Boa Viagem,

Boa Chance e Morar Bem, Inês Amorim do Rio Show, Ana Cristina Reis do Ela, Gabriela

Goulart da Revista O Globo e Mailton Calmon do Bairros).

A empresa trabalha, desde o seu nascimento, dentro de uma lógica de produção

mercadológica de notícias. É um tipo de estrutura que é organizada hierarquicamente, o

Editor Executivo é aquele que supervisiona o trabalho dos editores de cadernos e outras

seções, participa e se interessa por questões mais administrativas. É ele que verifica e tenta

viabilizar aparatos tecnológicos e de organização no espaço e tempo que dinamize o trabalho

nas redações. Esse jogo de forças tem no jornalista a figura da sujeição, Traquina (2012) fala

de algumas teorias do jornalismo em que admite-se certa independência dos media – nas

escolhas de investigações, por exemplo – mas, os princípios editoriais da empresa estão ali

articulados por motivações específicas. A partir de uma espécie de relação de punição e

recompensa vivida pelos media dentro da organização em que trabalham.

O Liberal

O jornal “O Liberal” foi criado em 1946, entre os fundadores o ex-militar do Exército

Joaquim de Magalhães Cardoso Barata interventor governista no Pará de 1930 a 1950. Foi ele

precursor de um movimento populista que ficou conhecido como Baratismo. Visitou todas as

33

cidades do estado e era querido pela população. O jornal nasceu para dar apoio à candidatura

de Moura Carvalho ao governo do estado e ao – conhecido como Partido Liberal – PSD

(Partido Social Democrático) – (LUFT, 2005, p. 24).

O empreendimento logo se tornou alvo de perseguições políticas, o editor do jornal,

Paulo Eleutério Filho foi assassinado na redação por Humberto de Vasconcelos (capitão do

Exército) devido a uma campanha acirrada entre Magalhães Barata e Zacarias de Assunção.

Também sofreu um incêndio, em meados da década de 1950, que destruiu grande parte dos

equipamentos de impressão. Mesmo assim, continuou em circulação pois passou a ser

impresso na gráfica de O Estado do Pará (LUFT, 2005, p. 25).

Foi o pernambucano, antigo colaborador do jornal, Rômulo Maiorana quem se tornou

dono do impresso, em 1966. Seis anos mais tarde, O Liberal foi o segundo jornal da região

Norte a adquirir uma máquina off-set, responsável por dar mais agilidade à produção, quando

passou a ser distribuído diariamente e em todos os municípios do estado, além de Rio de

Janeiro e São Paulo (MOTTA apud LUFT, p. 26).

Após o falecimento de Rômulo, em 1986 aos 64 anos, é Rômulo Maiorana Júnior

quem assume a vice-presidência da empresa jornalística junto a mãe Lucidéa Maiorana

(presidente). Diferente do pai, que não teve envolvimento direto em questões políticas,

Rômulo Júnior se vinculou de forma pública ao PMDB, em seguida ao PL, por último ao PPB

(em 1999). A empresa reduziu o número de correspondentes no interior do Pará (LUFT, p.

28), assim como “enxugou” a redação11 na segunda metade de 2015.

A empresa de comunicação é organizada de forma hierárquica, em que editores

respondem a um editor-chefe: Lázaro Ramos. O trabalho jornalístico de todo o jornal vem

sendo produzido e alimentado por editores de seções, assim como pela reprodução de

materiais de portais como o G1 (Portal de Notícias da Globo) e de outras sucursais.

11 Recente demissão em massa que o jornal sofreu, noticiado e acompanhado pelo Sinjor – Sindicato dos Jornalistas no Estado do Pará.

34

CAPÍTULO 3: O Pará nas páginas

"Estuda os acontecimentos à luz dos documentos,

analisa-os, compara-os e depois de muito meditar

dá a sua opinião" Vieira Fazenda sobre Manoel Barata

Neste capítulo a análise será desenvolvida, articulando as formulações sobre

descontinuidade, condições de possibilidades históricas, formação e regularidade discursivas

propostas por Michel Foucault na obra “A Arqueologia do Saber” (2008). Também compõem

o corpo teórico metodológico Michael Pollak, a partir dos escritos sobre memória,

silenciamento e conceitos de memória nacional e periférica, e Nelson Traquina a partir do

livro “Teorias do Jornalismo” (2012) onde fala sobre como os mecanismos do fazer

jornalístico produzem notícias ou informação midiatizada.

A mídia, como um dispositivo eletrônico de manutenção de poderes, é criadora e

mantenedora de representações ou mesmo as exclui quando há condições favoráveis para tal

ato, pode-se dizer também, é condutora de uma memória nacional. Para Pollak (1989), a

memória é o conjunto de discursos produzidos por aqueles no poder, que por terem o direito a

fala (e uma credibilidade construída historicamente) solidificam uma espécie de memória

oficial.

Além destes pressupostos relacionados à memória, a análise se apoia no método

arquegenealógico proposto por Michel Foucault em “Arqueologia do Saber” (2008). Ele diz

que a partir de materialidades, as condições em que aparecem e as motivações que as levaram

à circulação pode-se verificar as relações de poder que residem ali. Para ele, é o momento de

identificar os sujeitos que falam, os que estão calados ou foram calados, e como esse processo

de apropriação se dá. É necessário responder às perguntas que podem ajudar a encontrar a lei

dessas enunciações, como:quem fala? Quem, no conjunto de todos os sujeitos falantes, tem boas razões para ter esta espécie de linguagem? Quem é seu titular? Quem recebe dela sua singularidade, seus encantos, e de quem, em troca, recebe, se não sua garantia, pelo menos a presunção de que é verdadeira? Qual é o status dos indivíduos que têm - e apenas eles - o direito regulamentar ou tradicional, juridicamente definido ou espontaneamente aceito, de proferir semelhante discurso? (FOUCAULT, 2008, p. 56)

35

E é a experiência, a materialização dos enunciados, a interface de conflito dos

domínios do saber, do poder e da ética, é o próprio discurso (FOUCAULT, 2003, p. 10). Na

correlação desses três eixos existe o sujeito, aquele que adquire o conhecimento é

empoderado e o profere por meio de rituais específicos.

Este trabalho também se apoia nos apontamentos teóricos de Nelson Traquina, em

“Teorias do Jornalismo” (2012), no momento em que articula o fazer jornalístico com a

construção da narrativa informacional. Para o autor, as condições às quais o ritual jornalístico

é submetido dão forma ao discurso midiático. Durante a construção da informação jornalística

o fato perpassa por procedimentos específicos, sendo considerado notícia quando a ele é

atribuído um valor, uma importância. Esses valores são determinados a partir de variáveis

como a escala de proximidade com os públicos de interesse e linha editorial da empresa de

comunicação que o pretende distribuir - ai já estão incluídos os interesses econômicos e

políticos da organização, institucionalizados em sua linha editorial.

Para Sena (2015), essas práticas são vistas como um processo disciplinar e constituem, portanto, o sujeito produtor de mídia e se estabelecem para além do domínio do Estado e da Instituição. Uma relação de poder, saber e ética que o estabelece dentro de um conjunto arquitetônico e o transforma num corpo útil para as condições de possibilidades históricas, determinantes na manutenção do poder. (SENA, 2015, p. 69)

É na articulação destes saberes que a análise se dá, buscando entender o que reside nas

representações da Amazônia paraense presentes nos jornais impressos O Globo e O Liberal, o

que no jogo de poderes e de saberes prevaleceu, circulou, se disse verdade.

3.1 Análise das reportagens

O material levantado, a partir dos acervos online dos jornais O Globo e O Liberal, está

disposto em uma organização por data, gênero, título, editoria e páginas localizados. A

pesquisa considera o período de 4 a 16 de dezembro de 2011, são os 13 dias em que o Pará

tem considerável evidência devido a consulta popular (Plebiscito) pela divisão do Estado.

Foram encontrados 7 resultados no jornal O Globo (Quadro 1) e 39 resultados no jornal O

Liberal (Quadro 2), somando 46 ocorrências entre notas, matérias noticiosas e reportagens

36

jornalísticas que expõem questões referentes ao Pará no momento e nos desdobramentos

causados pelo Plebiscito.

Quadro 1 - ACERVO ONLINE DE “O GLOBO” De 5 a 13 de dezembro de 2011 Disponível em: http://acervo.oglobo.globo.com/

DATA GÊNERO TÍTULO EDITORIA PÁGINAS

06/12/2011 Reportagem Arquipélago de privações Suplemento

“Razão Social”

10, 11, 12 e

13

07/12/2011 Reportagem Duda abandona plebiscito do Pará na

reta final

O País 16

09/12/2011 Reportagem No Pará, desânimo na reta final do

plebiscito

O País 14

10/12/2011 Reportagem Maioria é contra a divisão do Pará O País 16

11/12/2011 Reportagem Pará: estado rico em recursos e em

carências

O País 16

12/12/2011 Reportagem E o Pará disse não O País 3

13/12/2011 Reportagem Plebiscito expõe divisão da população

do Pará

O País 9

Quadro 2 - ACERVO ONLINE DE “O LIBERAL” De 4 a 16 de dezembro de 2011 Disponível em: http://oliberaldigital.orm.com.br/

DATA GÊNERO TÍTULO EDITORIA PÁGINA

04/12/2011 Notícia Plebiscito terá tropas federais Poder – Política 8

06/12/2011 Notícia - Nota Cadê o Duda? Atualidades –

Capa

1

06/12/2011 Notícia TRE monta esquema para o plebiscito Poder - Política 5

06/12/2011 Notícia Duda Mendonça teria abandonado

coordenação de campanha do “sim”

Poder - Política 5

06/12/2011 Notícia Frentes divisionistas perdem espaço da

TV após ataque a governador

Poder – Política 5

06/12/2011 Notícia Encontro promovido pela OAB discute a

divisão do Pará em três estados

Poder - Política 5

07/12/2011 Notícia Disque-Eleitor recebe 30 ligações por

dia

Poder - Política 8

07/12/2011 Notícia TRE fará sessões extraordinárias todos Poder - Política 8

37

os dias até a data da votação

08/12/2011 Notícia - Nota Frentes usam trunfos finais para fechar

os programas

Atualidades –

Capa

1

09/12/2011 Notícia Ministra comemora o “Não” Poder 1

09/12/2011 Reportagem Consulta pelo voto agrada eleitores Poder 1

09/12/2011 Notícia Polícia Civil terá reforço de mais de cem

homens

Poder - Política 2

09/12/2011 Notícia Quem não votar estará em débito com a

Justiça

Poder - Política 2

10/12/2011 Notícia –

Nota

“Não” amplia vantagem na véspera do

plebiscito

Atualidades –

Capa

1

10/12/2011 Notícia Pesquisa dá vitória ao “Não” Poder 1

10/12/2011 Notícia Exército desloca três mil homens para o

plebiscito

Poder - Política 2

10/12/2011 Notícia TRE rejeita recursos das frentes pró-

divisão

Poder - Política 2

10/12/2011 Notícia TRE distribui 17,3 mil urnas eletrônicas Poder – Política 4

10/12/2011 Notícia Campanha plebiscitária termina hoje às

22h

Poder - Política 4

11/12/2011 Notícia Hoje, 4,8 milhões decidem sobre a

divisão do Estado

Atualidades –

Capa

1

11/12/2011 Reportagem Eleitor deve avaliar “custo-benefício” Atualidades –

Cidades

14

11/12/2011 Notícia Futuro nas mãos dos paraenses Poder 1

11/12/2011 Notícia MP lidera força-tarefa para reprimir

crimes eleitorais

Poder - Política 2

11/12/2011 Notícia Aprovação não assegura divisão

imediata

Poder - Política 5

11/12/2011 Entrevista

Ping Pong

Embates entre regiões pode gerar

xenofobia

Poder - Política 6

11/12/2011 Notícia Divisão deverá acirrar contrastes entre

regiões

Poder - Política 8

12/12/2011 Notícia –

Nota

As urnas decidem: o Pará se mantém

grande e indivisível

Atualidades –

Capa

1

12/12/2011 Notícia Pará diz não à divisão Poder 1

12/12/2011 Notícia Abstenção alta fica dentro da média Poder - Política 2

12/12/2011 Notícia Visconde de Souza Franco recebe dez Poder - Política 2

38

mil pessoas para a festa da vitória

12/12/2011 Reportagem Plebiscito exige reflexão do País inteiro Poder - Política 4

12/12/2011 Reportagem Prefeito de Belém gostaria que o interior

não dependesse tanto da capital

Poder - Política 4

12/12/2011 Notícia Ananindeua teve espera de 30 minutos Poder – Política 8

12/12/2011 Notícia “Não” teve apoio maciço nas seções em

Castanhal

Poder - Política 9

12/12/2011 Notícia Policiais não tiveram muito trabalho Poder - Política 10

13/12/2011 Notícia Mais de 1,2 milhão terão que justificar

ausência

Poder - Política 2

13/12/2011 Notícia Pará remanescente decidiu o plebiscito Poder - Política 4

14/12/2011 Notícia ACP celebra resultado do plebiscito e

propõe união do Estado pela cultura

Poder – Política 7

16/12/2011 Notícia Plebiscito será homologado na sessão de

quinta

Poder - Política 8

Para a análise foram selecionadas cinco reportagens, 2 (duas) de O Globo e 3 (três) de

O Liberal, dentro do período observado.

Em O Globo, as reportagens selecionadas foram Pará: estado rico em recursos e em

carências e Arquipélago de privações (ver itens 3.1-1 e 3.1-2, respectivamente). Em O

Liberal, as reportagens selecionadas foram: Eleitor deve avaliar “custo-benefício” (ver item

3.1-3), Plebiscito exige reflexão do País inteiro e Prefeito de Belém gostaria que o interior

não dependesse tanto da capital (juntas no item 3.1-4).

3.1-1 Reportagem de O Globo: Pará: estado rico em recursos e em carências

A reportagem selecionada de O Globo tem por título “Pará: estado rico em recursos e

em carências” e foi veiculada no dia 11 de dezembro de 2011, dia em que os eleitores

paraenses votaram pela não divisão do Estado. A escolha por esta reportagem se deu por

verificar desdobramentos mais amplos no texto em relação a outros e a presença de elementos

que caracterizam a região, tentam descrevê-la, representa-la.

39

Vamos nos ater aqui ao acontecimento midiático provocado por um acontecimento

político, o Plebiscito no Pará em dezembro de 2011, seus entraves e imbricações no momento

da construção da informação e na sua materialidade.

3.1-1.1 De onde fala?

Cleide Carvalho é a jornalista que escreve a reportagem escolhida para a análise.

Formada pela Faculdade Cásper Líbero, em São Paulo, Cleide se torna repórter de economia

de O Globo em 1993, passando pela coordenadoria de economia da sucursal da empresa em

São Paulo, editoria executiva do site, editoria de cidades do formato online do jornal e, desde

setembro de 2011, é repórter especial. Desde lá, Cleide Carvalho vem escrevendo reportagens

para editorias como O País, Economia, Brasil, com certa mobilidade pela posição que tem.

À época do Plebiscito no Pará, em 2011, a jornalista veio cobrir o acontecimento e,

escreveu 5 (cinco) produções jornalísticas sobre o assunto no período visto. Entre elas, a

reportagem exposta em trechos neste tópico. O repórter especial tem certa liberdade ao propor

pautas, a partir da capacidade de observar o que pode ser notícia para a empresa em que

trabalha, como explicam as teorias organizacional e estruturalista (ver item 2.2). O Plebiscito

teve grande visibilidade regional por ser assunto de interesse da população de um Estado (o

Pará), de forma abrangente, por esse motivo tem atenção dos media também, tem

noticiabilidade.

Os acontecimentos constituem um imenso universo de matéria-prima; a estratificação desse recurso consiste na seleção do que irá ser tratado, ou seja, na escolha do que se julga ser matéria-prima digna de adquirir a existência pública de notícia, numa palavra – ter noticiabilidade (newsworthiness). (TRAQUINA, 2012, p. 182)

Foucault diz, em “A Arqueologia do Saber” (2008), que o discurso é “um conjunto em

que podem ser determinadas a dispersão do sujeito e sua descontinuidade em relação a si

mesmo”, é “um espaço de exterioridade em que se desenvolve uma rede de lugares distintos”.

A exterioridade do discurso midiático é a própria materialização dele, neste caso, em um

suporte de circulação impresso. O jornalista é o elo de ligação entre o fato em estado bruto e a

40

feitura do acontecimento midiatizado. Ter a repórter na capital paraense é pensar em uma

cobertura possivelmente mais verídica e abrangente, o que não se sabe é se o profissional de

mídia está no lugar culturalmente falando – para isso seria necessário se despir das unidades

conhecidas, dos preceitos, de valores prontos, completos, fechados. A repórter tem no saber

da economia seu guia, assim sendo, a natureza é representada a partir de um viés que dá valor

a ela enquanto produto, aquilo vendável, aquilo sujeitado pelo homem.

No próximo tópico a noção de que o lugar de fala influencia na construção do discurso

jornalístico em questão é mostrado a partir da exposição de trechos da reportagem produzida.

3.1-1.2 Entre dizeres e memórias

O texto já começa expondo números e a ideia de que dividir o estado não é repartir

riquezas e sim, pobreza. Novo Pará, Tapajós e Carajás, juntos ou separados, reúnem indicadores sociais inferiores à média brasileira. Segundo maior estado em área, atrás do Amazonas, o Pará abriga 80% das reservas de bauxita, 77% das de cobre, 43% das de caulim, 36% de manganês, 14,8% das de ouro e é o segundo maior produtor de minério de ferro do país. Mas a história de quem mora ali é de carências.12

Vê-se, ao longo da matéria, grande importância na exposição dos números, como

forma de dimensionar e afirmar a grandiosidade de uma região como a amazônica. Para Rose

(apud SAMPAIO; WORTMANN, 2014), números têm considerável poder na cultura política

moderna “na medida em que eles adquirem um estatuto privilegiado nas decisões políticas, ao

mesmo tempo em que prometem uma “despolitização” ligada ao seu caráter supostamente

técnico para orientar a priorização dos problemas e a alocação dos recursos”, assim sendo, é

um tipo de exposição que faz pensar na região e participam (os números) “intensamente da

constituição da Amazônia na contemporaneidade” (ROSE apud SAMPAIO; WORTMANN,

2014, p. 78).

Em um outro momento, na mesma reportagem, o texto destaca o fator distância como

aquele intrinsicamente ligado à fisiologia da região, acionando mecanismos de memórias

coletivas.

12 O Globo, 11/12/2015, caderno O País, página 16.

41

Em Santarém, segunda maior cidade do Pará e candidata natural à capital do Tapajós, as distâncias não são medidas em quilômetros, mas em dias a bordo de barcos. Dali a Belém são quatro dias de viagem. Pelos rios, estradas naturais da Amazônia, a distância é de 876 quilômetros. – Pessoas carentes torcem, pedem à Deus para não adoecer. Se ficaram doentes, é preciso pegar um barco, gastar cinco, seis dias para chegar à capital – [...] diz o deputado federal Lira Maria (DEM-PA).13

É possível identificar, também, quem são as vozes ativas no processo de construção

dessa reportagem. Quem é colocado na posição da fala em nome das regiões no Pará, são: um

economista, um deputado federal, um empresário do ramo de bebidas e a Secretaria de

Segurança Pública do Pará por meio de nota oficial. Quem dá vez a essas vozes é o jornalista

construtor da reportagem. Para compreensão de tal ação, Foucault (2008) diz que é preciso

descrever os lugares institucionais de onde o sujeito - aí o produtor de mídia - obtém seu

discurso, “é preciso somar as posições que o sujeito pode ocupar na rede de informações” (p.

58).

Na reportagem, a região é trabalhada a partir de algumas perspectivas diferentes.

Coloca em pauta algumas questões como a distância para chegar até Belém à procura de

atendimento médico, em contraponto às dificuldades da capital do Pará em receber pacientes

de fora ressaltando a dificuldade de cuidar dos que estão mais próximos. O texto também fala

dos recursos naturais da região como o que de mais valioso se tem, e afirma uma posição: “a

divisão do Pará em três coloca em risco a preservação da Amazônia”.

A reportagem mostra prós e contras de cada lado, dedica um quarto de página para

falar dos malefícios que seriam acarretados caso a divisão acontecesse. Quem fala é mais uma

fonte oficial chamada Paulo Amaral, do Imazon (Instituto de Pesquisa Imazon): “a divisão é

mal feita e desconsidera áreas de preservação e indígenas, a divisão geraria fluxos migratórios

aumentando a pressão por desmatamento e o risco de ocupações irregulares, entre outras”.

Sobre essa relação com as fontes oficiais, Nelson Traquina diz ser uma “preferência

estruturada dada pelos media às opiniões dos poderosos é que estes “porta-vozes” se

transformam no que se apelida de ‘definidores primários’” (p. 180).

A credibilidade é historicamente associada à voz dos que estão, de alguma forma,

associados a uma posição de poder. As fontes oficiais são aquelas que têm “posições

institucionalizadas privilegiadas” (TRAQUINA, 2012, p. 180) - órgãos, entidades ligadas a

13 O Globo, 11/12/2015, caderno O País, página 16.

42

algum governo, pessoas que representam os saberes do Direito, da Ciência, da História, etc.

Para o jornalismo, são as vozes que dão o “peso” da veracidade, da confirmação à

reportagem, ou matéria noticiosa, por serem as condutoras do raciocínio da opinião pública. É

como diz Nelson Traquina (2012) ao citar Tuchman, a “formação da rede noticiosa e a forma

como os jornalistas nela estão distribuídos têm importância, dado que são a chave da

construção da notícia”. Com 294 mil habitantes, Santarém seria beneficiada se fosse transformada em capital. Hoje, suas belezas naturais, que incluem a praia de Alter do Chão, eleita pelo jornal britânico “The Guardian” uma das mais belas do mundo, contrastam com o que se vê nas ruas: asfalto e terra se misturam nas vias, semáforos são pendurados em fios sobre cruzamentos movimentados, e o comercio local se assemelha ao das periferias das grandes cidades do Sudeste.14

No trecho acima, retornamos à evidências discursivas que dão conta de uma Amazônia

conhecida pelas belezas naturais, firmada pela palavra do jornal “The Guardian”15 mas que

contrasta com as imagens de pobreza. Ao comparar o comercio local (de Santarém) ao das

periferias de cidades do Sudeste, percebe-se uma comparação que engrandece certa região e

consequentemente diminui outra. Mostra, com ênfase, que mesmo sendo uma região “rica”

em recursos naturais é negligenciada pela administração pública. Pode-se perceber aí a (re)

ativação de uma memória coletiva, é Michael Pollak (1989) quem fala que é essa a memória

construída pelos que têm direito a fala, pelos que podem, devido a posição em que ocupam,

registrar, divulgar e manter tal memória. É aquela que, no caso da Amazônia, não se conciliou

com a memória individual da região. As subjetividades são trocadas por algumas expressões

fechadas: belezas naturais, riqueza e pobreza.

A ilustração da reportagem é uma foto de Belém (ver Figura 6), trata-se do enunciado

do contraste construído em uma ordem específica para causar reação também específica. A

imagem tem em primeiro plano a visão de uma rua bem próxima do rio, aparecem palafitas

(casas construídas no mesmo nível ou pouco acima da água) e sujeira caracterizando a

desorganização urbana. Em um segundo momento notam-se edifícios, como um retrato do

que seria uma moradia correta para o cidadão do Pará. Existe somente uma ordem possível de

interpretação dessa relação: o pobre que mora em palafitas quer, um dia, morar em

apartamentos ou em qualquer lugar que seja considerado “cidade” que não ali. 14 O Globo, 11/12/2015, caderno O País, página 16. 15 Edição eletrônica de 15 de abril de 2009.

43

Figura 6: Foto de Belém feita por Cleide Carvalho

Fonte: O Globo 11/12/2011

A relação discursiva é encontrada em ambas situações, na comparação do comercio

entre a cidade de Santarém e qualquer outra “grande” cidade do Sudeste do país e, na foto que

ilustra a reportagem, que relaciona duas formas de viver em uma região de contrastes.

Segundo Foucault (2014), são essas relações que formam o próprio discurso enquanto prática,

como um processo de inter-relações históricas e éticas.

Foucault (2008) diz, que é possível encontrarmos "uma unidade discursiva se a

buscássemos não na coerência dos conceitos, mas em sua emergência simultânea ou

sucessiva, em seu afastamento, na distância que os separa e, eventualmente, em sua

incompatibilidade". Para ele encontrar a unidade discursiva é observar as rupturas dos

acontecimentos, sua emergência combinada a outros momentos históricos ou mesmo a

repetição desta aparição (identificando afastamentos e incompatibilidades): "tentaríamos

analisar o jogo de seus aparecimentos e de sua dispersão" (FOUCAULT, 2008, p 40).

3.1-2 Reportagem de O Globo: Arquipélago de privações

A reportagem foi veiculada no dia 6 de dezembro de 2011 em um suplemento do

jornal O Globo chamado “Razão Social”. O texto é extenso, são 4 páginas dedicadas ao

arquipélago do Marajó, escrito pela correspondente do jornal Camila Nobrega que viajou até a

44

região a convite do Fundo Vale e Instituto Peabiru. A reportagem aborda a vontade de

independência do Marajó às vésperas do plebiscito, a possível divisão do Pará fez com que a

proposta da Associação dos Municípios do Arquipélago do Marajó (Amam) tomasse

destaque.

3.1-2.1 Entre dizeres e identidades

A reportagem tem uma construção discursiva que traz principalmente a voz dos

moradores e afetados pela, segundo eles, negligência na administração pública. Sobre a

memória discursiva ativada aí, o que chama a atenção é a figura caricata do paraense (grifos

na citação direta abaixo) muito presente na construção da informação jornalística quando dá

ênfase aos costumes da líder da Amam, Marília Tavares, ao falar sobre a vontade da

população local. – Se dividir o estado, não quero ser paraense. Quero ser território federal, marajoara – disse, ressaltando as reivindicações do movimento, enquanto saboreava um prato de açaí com farinha, acompanhando espetos de camarão assado, típicos da região. [...] Não querem mais (os moradores) ver suas crianças se prostituindo, ou morrendo logo após ao nascer. É pela ausência de investimentos estaduais no extenso território de mais de 100 Hm2 que a associação local defende a emancipação.16

Vê-se construir aí um conflito – entre belezas naturais e problemas sociais – que tem

origem em um registro de memória que exalta as belas paisagens da região, aqui as belezas do

Marajó se resumem a dois municípios mais famosos Soure e Salvaterra, aos outros municípios

é ressaltada a imagem mais interiorana onde o acesso à educação e saúde é difícil. A

descontinuidade histórica e discursiva aparecem aí, a repórter diz que ao fazer uma pesquisa

na internet, a buscar pela palavra “Marajó”, belas imagens virão como resultado. Mas ressalta

não ter encontrado apenas essas imagens ao chegar lá, as subjetividades da região são

constatadas com mais intensidade, inclusive, do que beleza e fartura – memória que muitas

vezes caracteriza a região amazônica.

A parte turística restringe a dois municípios, Soure e Salvaterra, que recebem quase todos os visitantes da região. Nos outros 14 municípios, as atividades econômicas são, basicamente, a pesca, o açaí e a farinha, além da madeira. São cidades onde comuns são cenas de esgoto sendo lançado diretamente na

16 O Globo, 06/12/2011, suplemento Razões Sociais, página 10.

45

água do rio onde crianças e adultos se banham ao pôr do sol e a ausência de tratamento da água antes de beber.17

A estrutura das cidades é questão central na reportagem, é por esse motivo que os

moradores do Marajó necessitam ir à Belém, capital do estado. A relação discursiva aparece

aí, quando a estrutura da cidade é mostrada em posição comparativa a um outro elemento

discursivo, nesse caso cidades com estruturas “melhores” – julgadas do ponto de vista da

inclusão social, a exemplo dos serviços médicos e de educação.

Eles viajam até 30 horas em busca de atendimento médico adequado, de produtos de supermercado da capital, e de educação. Em média, para frequentar uma escola local, uma criança leva cerca de quatro horas de barco para ir, oito no total de um dia. Mas, para frequentar uma universidade, a maioria precisa ir a Belém.18

Figura 7: Viagem de barco, redes acomodam as pessoas

Fonte: O Globo 06/12/2011

As vozes que falam na reportagem são: a líder da Amam Marília Tavares, o presidente

o Instituto de Terras do Pará (Iterpa) Carlos Lamarão, a Secretaria de Patrimônio da União

por meio de nota, o feirante do Ver-o-Peso Geraldo Santos, o morador de Curralinho Marco

Baratinha, o coordenador do Projeto Viva Marajó Carlos Augusto Ramos, o coordenador de

projetos da Childhood Brasil Itamar Gonçalves e uma moradora de Curralinho que não quis

ser identificada (fala sobre prostituição infantil).

A identidade que se tem da Amazônia paraense, coincidente com a da região como um

todo, é aquela grande unidade bela e rica, que sofre com os contrastes sociais. Identidade

17 O Globo, 06/12/2011, suplemento Razões Sociais, página 10.18 O Globo, 06/12/2011, suplemento Razões Sociais, página 10.

46

construída a partir do olhar europeu, é essa memória que quando imposta se materializa e se

atualiza através dos dispositivos midiáticos.

É Michael Pollak (1989) quem fala do “caráter destruidor, uniformizador e opressor da

memória coletiva nacional” (POLLAK, 1989, p. 4). Ele diz ser aquela que impõe, e faz a

manutenção, de uma memória que guia a grande massa, oriente o pensar de uma nação ou

grupo de forma homogênea, o que vem sendo quebrado desde a introdução do uso da web

como instrumento de produção mais barata de informações e propagação delas por grupos ou

indivíduos quaisquer formando o ambiente heterogêneo que é o ciberespaço. Esse movimento

vem influenciando fortemente a mídia tradicional, como a mídia impressa. É percebido um

movimento descontínuo do uso dessas vozes periféricas, hora caladas, hora ativadas.

No caso da Amazônia paraense que aparece na reportagem o emergir das vozes é

tímido, bem diferente dos ambientes virtuais sociais na internet. Discussão que não será

aprofundada neste trabalho mas que deve ser refletida, pois o ambiente virtual se mostra como

uma esfera conversacional em potencial em que essas vozes que resistiram ao silenciamento

podem tomar lugar ao sol. É neste contexto, da comunicação em escala global, que Stuart Hall

(2006) fala do sujeito pós-moderno como aquele contraditório em relação a identidades com

as quais possa se identificar. Essas identidades se estabelecem a partir dos vários dispositivos

de manutenção de poder, se movem por meio das condições de possibilidades históricas e

conduz as identidades dependendo da posição em que está o sujeito. De banho tomado e cabelos penteados, as crianças foram as primeiras a ocupar a arquibancada de cimento colorida da praça de Curralinho. A maioria nunca foi ao cinema, como Janessa dos Santos, de 12 anos: -Somos nós que vamos passar no filme, me disseram. Quero ver. A ansiedade era compartilhada pelos outros moradores, que lotaram a praça, curiosos, mas sem entender muito bem o que se passava.19

Figura 8: Moradores de Curralinho, no Marajó, assistem a um documentário sobre a vida na própria cidade

Fonte: O Globo, 06/12/2011, suplemento Razões Sociais, pág 12

19 O Globo, 06/12/2011, suplemento Razões Sociais, página 12.

47

Neste momento, em que o plebiscito é pauta local e nacional, a reportagem produzida

por Camila Nobrega atinge certo deslocamento de olhares, do contínuo – o Marajó é pura

beleza – para o descontínuo – as subjetividades da região. Isso acontece por considerar que

são várias atividades econômicas da região, que as estruturas de uma cidade do Marajó, por

exemplo, tem suas particularidades e não precisa ser comparada a uma “grande cidade” de

outras regiões do país; como exemplo fala da pesca, do cultivo e venda do açaí no lugar da

atividade madeireira. Contudo, a mídia impressa ainda reflete uma imagem estereotipada,

mesmo quando fala com uma líder comunitária do Marajó e o que chama a atenção é o que

está comendo, como uma “típica” moradora paraense. O mesmo acontece quando mostra a

reunião dos moradores do município de Curralinho, no Marajó, para uma sessão de cinema na

praça principal (Figura 8).

3.1-3 Reportagem de O Liberal: Eleitor deve avaliar “custo-benefício”

Esta reportagem foi veiculada no jornal impresso paraense O Liberal no dia 11 de

dezembro de 2011, dia do Plebiscito sobre a divisão ou não do Estado, no caderno

Atualidades, Seção Cidades. Por ter-se grande dificuldade de encontrar reportagens

propriamente ditas esta é uma das quatro opções no período explorado que pode ser

considerada uma reportagem.

3.1-3.1 Uma voz

Na reportagem, o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) Ricardo

Lewandowski tem o direito à fala, e somente ele. É uma matéria reproduzida do G1 Brasília

(portal de notícia do Grupo Globo), em que Lewandowski fala da experiência bem-sucedida

(termo cunhado por ele) do Tocantins, desmembrado de Goiás em 1988, mas diz que o

momento econômico mundial desfavorável não permite o mesmo sucesso ao Pará, ressaltando

os altos gastos que a União teria ao ter mais estados para administrar financeiramente.

Além de texto, também são usados alguns recursos visuais que chamam a atenção do

leitor, no “olho” (trechos destacados de texto) recursos de formatação são usados para

48

direcionar o assunto ao que se quer. O trecho é constituído da frase; destacando a palavra

oportuna em vermelho: “A pergunta que se coloca é se é oportuna a divisão nesse momento”

(Figura 9). Figura 9: Presidente do TSE Ricardo Lewandowski

Fonte: O Liberal 11/12/2011

A construção da matéria jornalística perpassa por critérios discutidos anteriormente

neste trabalho como a estrutura da organização em que o media está inserido e a ideologia da

empresa que dirige as políticas editoriais dela. O recorte na fala da fonte é resultado da

disputa de forças no espaço de produção de informação.

Mais uma vez nota-se o uso da relação discursiva para embasar a argumentação do

texto, “o presidente do TSE destacou que o Tocantins, desmembrado de Goiás em 1988, é

uma experiência “bem-sucedida” de fracionamento territorial” o texto segue acrescentando

que pode não ser o melhor momento no caso do Pará, “a população paraense tem que “sopesar

a relação custo-benefício” em razão da crise financeira internacional”. É o momento em que o

discurso produzido pelos media se apoia e se inscreve em um “domínio de parentesco com

outros objetos, para que possa estabelecer com eles relações de semelhança, de vizinhança”

(FOUCAULT, 2008, p. 50). Relacionar objetos é um recurso usado no jornalismo para situar

o leitor, localizando objetos dentro de um referencial, de um contexto.

Durante a reportagem apenas o presidente do TSE Ricardo Lewandowski falou, isto é

resultado histórico que vê-se repetir quando o direito à fala é dado àqueles que de alguma

forma estão em posição de poder. Ao procurar “muito provavelmente vamos parar os olhos

diante das invenções daqueles que estiveram em condições privilegiadas de poder. Vamos,

49

naturalmente, ver os discursos dominantes e silenciar os dos “vencidos” e das “vencidas”

(NEVES apud SENA, 2015, p. 54).

3.1-4 Reportagens de O Liberal: Plebiscito exige reflexão do País inteiro e Prefeito de Belém gostaria que o interior não dependesse tanto da capital

Estas duas reportagens foram veiculadas um dia após o Plebiscito sobre a divisão do

Pará, 12 de dezembro de 2011. Estão localizadas na página 4 do caderno Poder, seção em que

assuntos políticos são abordados. A junção das duas reportagens em um ponto específico

deste trabalho se deu devido a aproximações discursivas encontradas entre elas,

principalmente no que diz respeito à memórias (re) ativadas sobre a região e reflexões que

podem se inter-relacionar a partir do método comparativo.

3.1-4.1 Atualizando memórias

A primeira tem como fonte única o Governador do Pará Simão Jatene, além de haver

discussões sobre como ficaria o clima entre as bases aliadas ou não do governo as falas

ativam um tipo de memória coletiva da região no trecho a seguir. Jatene disse, ainda, que o governo deve lutar para que o plebiscito não deixe “sequelas” no Pará. “Eu sempre dizia que estava preocupado com o dia seguinte. Porque eu não podia deixar que a luta pela divisão territorial levasse à divisão do povo. Mas é claro que isso é uma responsabilidade coletiva, [...]”, disse o governador.20

Antes mesmo do Plebiscito já existia um sentimento de divisão entre regiões dentro

próprio Pará; constatado através das diversas declarações em reportagens que circularam

durante o mesmo período; as motivações têm viés histórico-político devido a forma com que

o estado foi constituído. Foucault (2008, p. 46) diz ser interessante neste momento delimitar

das superfícies primeiras de emergência do discurso, como uma forma de elucidar as origens

dessa memória que se tornou visível, e se atualiza, a partir de um acontecimento político

como esse.

20 O Liberal, 12/12/2011, caderno Poder, Seção Política, página 4.

50

Segundo Michael Pollak (1989), aqueles que constroem a memória mais completa de

um grupo – a nacional – são os que têm o direito a fala, os que estão em posição de poder,

sujeitos ativos no processo histórico (registram, fazem circular informações, as interditam,

etc.). A história do Brasil tem na figura do colonizador português o símbolo dessa construção,

no século XVII duas eram as colônias de Portugal na América: o Brasil (Nordeste somado à

parte meridional da colônia) e o Grão-Pará e Maranhão (Amazônia, Maranhão junto ao Piauí

e uma parte do Ceará). A diferença entre as duas colônias era basicamente: na primeira

predominava a monocultura e na segunda o extrativismo.

Em 7 de setembro de 1822, Don Pedro II – filho de Don João VI, obrigado a voltar à

Portugal dois anos antes – é o Príncipe Regente do Brasil e declara a independência do

território, concedendo-o o status de Império. O Grão-Pará adere ao Brasil quase um ano

depois, em 15 de agosto de 1823, forçado pois o desejo de manter contato direto com Portugal

vigorava. Desde então, um discurso de integração das regiões vem se atualizando. Mais tarde,

à época de Juscelino Kubitschek (Presidente do Brasil de 1956 a 1961) o discurso de

integração do Brasil é retomado, transferir a capital do país para o centro do território é

estratégico (onde hoje é Brasília), aproximar o norte do todo.

A colonização do sudeste paraense ocorre, com intensidade, durante os governos

militares. Através de planos de colonização, que visavam atrair os “homens sem terras” às

margens das novas rodovias. Os colonos acabaram por se concentrar onde hoje estão as

maiores cidades da região, como Marabá, de forma desordenada. O estado, antes dos planos

de colonização, tinha cerca de 80 municípios, hoje 143; a maioria localizada no sudeste do

Pará.

Essa memória de pertencimento à região se atualiza nos enunciados revisitados

durante o desenvolvimento desta pesquisa, está enraizada nas circulações midiáticas, como

mostrado no trecho a seguir (Figura 10).

51

Figura 10: Infográfico mostra contras da divisão

Fonte: O Liberal 11/12/2011

Expressões como “Pará remanescente”, “esquartejamento do Pará”, além das

afirmações de que os maiores interessados nesse processo de divisão são empresários,

políticos e “pessoas que vieram de outros estados” confirmam a memória que exclui ou não

considera paraenses aqueles que vieram atraídos pela expansão do sudeste do estado

(nordestinos e sulistas). O lugar de onde o produtor de mídia fala, é aquele que a organização

onde trabalha fala. As Organizações Rômulo Maiorana (ORM) sempre estiveram alocadas na

capital paraense, a extensão territorial do estado diminuiria se a divisão se consolidasse,

também a abrangência das atividades das ORM. Existe também um histórico de coleguismo

com governos do estado, quando tratam com certa cordialidade a administração estadual atual

e, cedeu grande espaço para que essa instância se manifestasse. É, de forma evidente a favor

da não divisão do estado, quando usa enunciados que constroem o discurso do Pará grande e

unido.

Como visto, não é o único momento na história em que o sentimento de divisão aflora

e se torna nacionalmente visível no que se refere ao discurso sobre a Amazônia paraense. Na

segunda reportagem, que tem como fonte única Duciomar Costa (Prefeito de Belém de 2005 à

2012), verifica-se também a firmação de que essa memória existe na fala do político:

“acredito que a união volte a reinar e o sentimento de separatismo possa desaparecer sem

deixar sequelas”.

O “sentimento separatista” de que fala é aquele que tem base na história da

colonização e organização espacial do Pará, são várias as identidades entrando em conflito

52

direto, a algumas é dado o poder da fala (homens políticos, empresários, especialistas) a

outras é concedido o lugar o silencio – a exemplo dos indígenas e outras comunidades.

A independência do Brasil, em 1822, trouxe sequelas à Amazônia paraense no que diz

respeito a este sentimento. O movimento popular da Cabanagem, de 1835 à 1840, resistia

quanto a hegemonia portuguesa na Província. Figura 11: Capa do Dossiê n° 9 do Jornal Pessoal

Disponível em:

https://cabanagem180.wordpress.com/cabanagem-

180-anos/

A Cabanagem foi tratada como movimento rebelde a partir de um forte olhar de

preconceitos raciais e sociais, só foi considerada revolucionária a partir de alguns estudos da

década de 1930, visão consolidada por volta de 1980. Esta revolução popular da Amazônia, a

Cabanagem, tem esse nome pois os participantes dela moravam, principalmente, em cabanas,

eram os pobres, negros que tomam o poder por cinco anos, resistindo de forma descontínua

pelo baixo e alto Amazonas, “até a cidade de Maués, antiga Luzia, onde o último grupo

rendeu-se em março de 1940” (TAVARES, 2008, p. 6). Movimento que teve interesse e

movimentação das elites em princípio, é continuado pelos líderes populares que emergiam

entre a população, o mais conhecido deles foi Eduardo Angelim.

53

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como objetivo mais amplo esta pesquisa propôs uma análise das representações da

Amazônia paraense presentes nos jornais impressos O Globo e O Liberal, no período do

plebiscito sobre a divisão do Estado em 2011. Representações essas que nascem no ambiente

das práticas não discursivas (FOUCAULT, 2008); espaço de disputa de poderes, interesses,

onde os saberes se articulam dando forma ao discurso materializado posteriormente.

As materializações analisadas neste trabalho foram reportagens impressas que

envolvem valores éticos, morais e o próprio sujeito – aqui, o produtor de mídia – que

atualizam a identidade amazônica; sim, no singular. O jornalista é o elo de ligação e filtro do

que será noticiado, ao longo da escrita desta pesquisa este sujeito foi analisado a partir de suas

posições no ambiente organizacional e a partir da sujeição a que é submetido dentro da lógica

do trabalho jornalístico industrial.

É percebido também, a rasa relativização das questões abordadas sobre a Amazônia

paraense nas reportagens, as subjetividades são deixadas de lado e o discurso econômico

comanda os enunciados. A Amazônia paraense é traduzida em números, é produto vendável,

fonte de uma riqueza que a história mostra ser segregadora, por esse motivo as estórias se

repetem.

As posições que assumem os sujeitos produtores de mídia tornam visível uma

Amazônia paraense representada por algumas expressões cristalizadas, como: lugar turístico,

exótico, paradoxalmente rico e pobre. Os deslocamentos de olhares são raros, a exemplo da

reportagem sobre uma comunidade no arquipélago do Marajó em que a repórter exercita

outras perspectivas, diz que nem tudo é traduzido em belezas naturais mas acaba por caminhar

para o discurso da pobreza. Nas reportagens, é a dualidade entre riqueza e pobreza que

representa a região. Mesmo quando fontes entendidas como não oficiais falam (TRAQUINA,

2012), mostrando certo e breve deslocamento, o que se torna visível são as características

arquetípicas que estão no imaginário nacional sobre a região (ver item 3.1-2).

Durante a análise percebe-se também o sentimento de não pertencimento à região

amazônica por parte dos moradores do sudeste paraense. São aqueles vindos de outras partes

do país a partir dos planos de colonização da região à época da forte extração de castanha no

Pará - meados do século XX (SIMÕES, 2014).

54

Assim pôs-se em discussão as expectativas mais específicas deste trabalho, quando

identificou-se os sujeitos que falam nas materialidades analisadas, assim como houve a

identificação e relação entre os processos pelos quais passam os sujeitos que falam e a

constituição das representações sobre a Amazônia paraense, além das disputas de interesses

que envolvem esta produção assim como as circulações resultantes disso.

No primeiro capítulo, mostrou-se as principais condições de possibilidades históricas

que fazem surgir o discurso da riqueza e exoticidade da região que se atualizam e se repetem

nas reportagens vistas.

No segundo capítulo, as circulações de saberes e de poderes são mostradas a partir dos

pressupostos foucaultianos em “A Arqueologia do Saber” (2008), em que propõe uma

desconstrução dos discursos, uma investigação em que as descontinuidades do discurso

apareçam para que uma variedade de sentidos e não-ditos possam se mostrar. Neste ponto do

trabalho, também articula-se a política editorial do Grupo Globo com a materialização do

fazer jornalístico em uma redação.

No terceiro capítulo, a análise é desenvolvida mostrando os que falam, por qual

motivo falam ou mesmo o lugar de onde falam articulando os porquês da construção e

circulação de tal discurso, porquê este e não outro (FOUCAULT, 1999).

Este trabalho não pretende resolver o problema da cobertura jornalística sobre a

Amazônia paraense, o que fizemos aqui foi uma reflexão sobre ela partindo da análise do

discurso midiático e o que é posto em circulação. Acredito que os deslocamentos e

transformações nos discursos sobre a Amazônia paraense pouco ocorreu, o olhar do

colonizador ainda povoa a identidade da região assim como o discurso econômico trazido

pelo ele.

Nesta conclusão que não é fim, digo que são diversas as possibilidades econômicas da

Amazônia paraense que não apenas a extração, são diversos os costumes gastronômicos e

culturais como um todo. A mídia como dispositivo de circulação de saberes e por esse motivo

de poder, tem no papel social sua essência que vem sofrendo curvas acentuadas em direção ao

alinhamento ao capital e interesses político-familiares. Motivos que podem comprometer a

pluralidade das vozes, das identidades e das representações.

Acredito que o deslocamento de olhares por parte do jornalismo, observando as

subjetividades da região e as diversas possibilidades de enquadramentos, pode fazer com que

haja transformações consistentes nos discursos que coloca em circulação.

55

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