FACULDADE REDENTOR Camila Ferreira...
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FACULDADE REDENTOR
Camila Ferreira Pimentel
RETRATAMENTO RADICULAR
ITAPERUNA
2012
FACULDADE REDENTOR
Camila Ferreira Pimentel
RETRATAMENTO RADICULAR
Monografia apresentada à Faculdade
Redentor, como requisito de Trabalho de
Conclusão do Curso de Especialização
em Endodontia.
Orientador: Prof. Dr. Milton Carlos Kuga
RESUMO
Apesar dos avanços na área de endodontia há casos que resultam em fracasso. Perante o
insucesso o retratamento endodôntico é a primeira escolha. O estabelecimento da
etiologia de insucesso é fundamental para programar o retratamento e para escolha da
melhor técnica e melhor conduta operatória.
Palavra-chave: Retratamento endodôntico. Etiologia dos fracassos endodônticos.
Técnicas do retratamento.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO...................................................................................................01
INDICE DE SUCESSO DOS RETRATAMENTOS ENDODÔNTICOS.............02
PROPOSIÇÃO...................................................................................................03
ETIOLOGIA DOS FRACASSOS ENDODÔNTICOS………………...................04
1. Infecção intraradicular…………………………………………....04
2. Infecção extraradicular…………………………………………...05
3. Reação tipo corpo estranho………………………………..…..05
4. Cistos odontogênicos perirradiculares…………………………05
5. Erros técnicos……………………………………………...……..06
6. Restauração coronária pós-tratamento………………….……06
SELEÇÃO DE CASOS.....................................................................................07
1. História do caso…………………...............................................07
2. Situação clínica atual……………………………………………...07
3. Condições anatômicas…………………………………………...08
4. Obturação dos canais radiculares……………………………….08
5. Fatores redutores do sucesso do retratamento…………….….08
6. Cooperação do paciente…………………………………….…...08
7. Predicados técnicos do operador……………………………….08
TÉCNICAS DE RETRATAMENTO…………………………………………..….…09
CONCLUSÕES..................................................................................................11
INTRODUÇÃO
O retratamento dos canais consiste em alternativa não cirúrgica de
resolução de tratamento endodôntico mal sucedido, mantendo o elemento dental em
suas funções normais, evitando a intervenção cirúrgica invasiva.
A definição descrita pelo glossário de terminologia contemporânea para
Endodontia da Associação Americana (American Association of Endodontits, 1994)
define retratamento como sendo um procedimento para remover os materiais
obturadores da cavidade pulpar e, novamente, instrumentar (“cleaning and shaping”) e
obturar os canais radiculares.
Em contrapartida, Carr (2000) contrapõe a esta definição, pois se refere
apenas a casos onde requer a remoção de materiais obturadores do interior da cavidade
pulpar, ignorando situações aonde a obturação inexiste ou é insatisfatória. Define,
portanto, retratamento endodôntico como procedimento realizado em um dente que
recebeu uma tentativa anterior de tratamento definitivo que resultou em uma condição
que requer um novo tratamento endodôntico adicional para a obtenção de um resultado
bem sucedido.
INDICE DE SUCESSO DOS RETRATAMENTOS ENDODÔNTICOS
A taxa de sucesso dos retratamentos em casos aonde não há periodontite
apical varia de 89 a 100% e, em contrapartida, quando está presente a lesão periapical o
índice decresce acentuadamente, para 56 a 84% dos casos (Friedman, 2004).
Aparentemente, a presença de infecção intrarradicular desempenha papel
fundamental no prognóstico do tratamento. O percentual de fracasso absoluto nos
retratamentos é questionável, pois os dados são conflitantes e muito entrelaçados com
outros fatores de difícil controle clínico e radiográfico, além do que há situações aonde
há dúvidas se o caso é realmente um fracasso ou considerado, na totalidade ou
parcialmente, duvidoso.
PROPOSIÇÃO
Diante da possibilidade de fracasso endodôntico e da viabilidade de
retratamento dos canais radiculares, com grande possibilidade de obtenção de sucesso,
achamos pertinente descrever:
1. a etiologia dos fracassos endodônticos;
2. a seleção dos casos clínicos para retratamento endodôntico;
3. as principais técnicas e condutas operatórias passíveis de uso
4. as inovações tecnológicas de aplicabilidade clínica.
ETIOLOGIA DOS FRACASSOS ENDODÔNTICOS
Alguns fatores podem ocasionar a instalação e/ou perpetuação da
periodontite apical, estando diretamente relacionados aos fracassos endodônticos.
Aparentemente, os itens que se destacam na etiopatogenia destas patologias são:
1. infecção intrarradicular
2. infecção extrarradicular
3. reação tipo corpo estranho
4. cistos odontogênicos perirradiculares
5. erros técnicos
6. restauração coronária pós-tratamento
1. Infecção intraradicular
A presença de microorganismos no interior dos canais radiculares
desempenha papel fundamental na instalação e patogenia das lesões perirradiculares.
Basicamente existem dois tipos de infecção intrarradicular: a) infecção primária:
caracterizada por microorganismos anaeróbios estritos Gram negativos, tais como os
gêneros Porfiromonas e Prevotellas; b) infecção secundária: caracterizada por
microorganismos superinfectantes, tais como Enterococos faecalis e fungos, tais como a
Candida albicans.
Em situações de retratamentos endodônticos, tem-se observado tanto a
presença de infecção primária como a secundária, porém em situações peculiares.
Quando o tratamento ora realizado encontra-se mal conduzido, com deficiência de
condensação e/ou com vários espaços perceptíveis isentos de preenchimento, a
microbiota presente assemelha à das necroses pulpares, com lesão perirradicular.
Entretanto, em condições aonde a obturação do canal radicular
aparentemente encontra bem conduzida, há grande probabilidade de presença de
microorganismos oportunistas, dito de infecção secundária. Há principalmente a
presença de Gram positivos anaeróbios facultativos (Roças, Siqueira, Santos, 2004)
2. Infecção extraradicular
Microorganismos podem ocasionalmente invadir os tecidos
perirradiculares por difusão da luz do canal radicular (Holland, Souza, Nery, Mello,
Bernabe, Otoboni Filho, 1980) ou através de resíduos da sobreinstrumentação
empregando instrumentos contaminados (Weiger, Manncke, Werner, Lost, 1995). Outra
via de acesso são as bolsas periodontais contaminadas que comunicam com a área
periapical (Simon, Glick, Frank, 1972).
Grande parte das vezes os microorganismos são afetados e seus
subprodutos inativados através do sistema imunológico do hospedeiro. Entretanto, em
algumas circunstâncias, podem se organizar em um consórcio microbiano, mantendo
sésseis, envoltos por uma matriz extracelular formando um biofilme nas áreas de erosão
apical (Tronstad, Barnett, Cervone, 1990).
Há também a presença de Actinomyces israelli e Propionibacterium
propionicum (Nair, Schroeder, 1984) e alguns tipos de vírus, principalmente o
Herpervírus (Sabeti, Slots, 2004).
3. Reação tipo corpo estranho
Em algumas circunstâncias, a patologia perirradicular pode ocorrer na
ausência de microorganismos podendo ser atribuída à presença de material estranho na
região. Vários materiais já foram identificados, desde leguminosas (Simon, Chimenti,
Mintz, 1982) a resíduos de material endodôntico, tais como cones de papel absorvente
(Koppang, Koppang, Solheim, Aarnes, Stolen, 1989).
4. Cistos odontogênicos perirradiculares
Os dois tipos de cistos periapicais são o cisto odontogênico periapical
verdadeiro e o cisto “baia”. Neste último, a membrana epitelial está em íntimo contato
com o ápice radicular, recebendo influência do conteúdo tóxico e microbiano do canal
radicular.
Os cistos verdadeiros não sofrem regressão através do tratamento dos
canais radiculares, carecendo de intervenção cirúrgica. Opostamente, os cistos “baia”
podem ter sua regressão constituída através de trocas sucessivas de medicação
intracanal à base de hidróxido de cálcio.
5. Erros técnicos
Condutas iatrogênicas associadas aos procedimentos odontológicos, tais
como trepanação radicular e/ou de soalho de câmara pulpar, rasgo radicular ou
sobrextensão da obturação dos canais radiculares podem comprometer o tratamento dos
canais radiculars.
6. Restauração coronária pós-tratamento
Tem se tornado crescente nos últimos anos que a infecção do canal
radicular pode ocorrer subsequentemente ao tratamento endodôntico devido à
microinfiltração coronária através de materiais restauradores provisórios (Allen,
Newton, Brown, 1989). Até mesmo, há citação de que uma má restauração compromete
mais o tratamento endodôntico do que uma obturação endodôntica mal compactada
(Ray, Trope, 1995).
SELEÇÃO DE CASOS
No momento de decisão se devemos ou não retratar os canais radiculares
ou apenas proservar ou até mesmo tomar uma decisão mais invasiva, tais como a
cirurgia perirradicular ou o implante dentário, é importante averiguar os seguintes itens:
1. História do caso
Inicialmente deve ser questionado ao paciente como foi a história
pregressa do caso, fazendo a observação se havia dor, edema ou qualquer sinal e
sintoma digno de nota antes, durante e após o tratamento endodôntico. A averiguação de
normas de biossegurança também deve ser tomada, tais como uso de isolamento
absoluto do campo operatório, esterilização dos materiais endodônticos e uso de
equipamentos de proteção individual por parte do profissional, pois destas conotações
há presunção do quão efetivo ou não foi o tratamento.
Um fator, dentro dos parâmetros da ética profissional, a ser conhecido é
também ter ciência do profissional que anteriormente executou o tratamento. Mesmo
porque é uma via de contato para se saber as eventuais causas que o caso clinico
apresentou.
O fator tempo de tratamento deve também ser notado, pois a presença de
uma imagem radiolúcida perirradicular não implica dizer que necessariamente seja uma
lesão endodôntica, podendo ser simplesmente uma fibrose cicatricial (caso o dente seja
ssintomático, em função por longo tempo) ou até mesmo não ter tido tempo hábil à sua
reparação total.
2. Situação clínica atual
Neste momento, devem ser observadas as condições atuais do elemento
dentário, a fim de averiguar se há condições clínicas reais de mantê-lo em função e em
harmonia no arco dental.
Deve ser sondado e inspecionado o dente em questão, objetivando
averiguar presença de bolsa periodontal ou eventuais comprometimentos radiculares.
3. Condições anatômicas
Certas condições anatômicas predizem uma complexidade técnica
cirúrgica em que, dificilmente um novo tratamento endodôntico poderia vir a solucionar
o fracasso então obtido, sendo mais racional outras alternativas invasivas, tais como a
cirurgia perirradicular ou o implante dentário.
Condições como dilacerações radiculares, alterações anatômicas da
cavidade pulpar e obstruções do conduto devem ser consideradas de difícil acesso e
resolução convencional.
4. Obturação dos canais radiculares
O tipo de material obturador deve ser levado em conta, pois canais
radiculares obturados somente por cimento obturador são difíceis de serem removidos
do canal radicular.
5. Fatores redutores do sucesso do retratamento
Acidentes e iatrogenias que comprometem o dente devem ser observadas,
sendo racionalizado se vale a pena lançar mão de um novo tratamento com um diminuto
índice de sucesso. Situações como perfuração de soalho de câmara pulpar e/ou de raiz
dentária, rasgo radicular, instrumentos fraturados intracanal, dentre outros, devem ser
muito bem avaliados sob a condição estratégica de um retratamento.
6. Cooperação do paciente
Se o paciente não contribuir, seja pela abertura de boca e/ou condições
psicológicas e ambientais, resume-se a não partir para o retratamento endodôntico.
A idade é um fator que deve ser estrategicamente racionalizada, a fim de
evitar sobrecargas emocionais a uma situação inviável de tratamento.
7. Predicados técnicos do operador
A habilidade profissional de quem irá intervir em um caso já
anteriormente fracassado deve ser bem racionalizada.
TÉCNICAS DE RETRATAMENTO
Há diversas técnicas de retratamento endodôntico, algumas que lançam
mão de recursos rotatórios, tais como o Sistema Protaper® retratamento (Dentsply) ou
GPX (Brasseler). Entretanto o recurso mais usual são métodos manuais e mecânicos:
Fase 1. Abertura coronária: procede-se o acesso coronário de maneira
idêntica ao de um caso normal, promovendo uma ampla visualização do canal radicular
Fase 2. Localização das embocaduras do canal radicular
Fase 3. Remoção do material obturador (até 1/3 médio radicular): neste
momento três situações poderão ocorrer:
a. obturação pouca compactada
- usar Gates Glidden 2,3 e 4
- remoção da obturação com lima tipo H
b. obturação com aparente boa compactação
- usar limas tipo K #15,#20 e #25, com movimento de alargamento ou
então as C+
- usar Gates Glidden
- usar lima tipo H
c. obturação com boa compactação
- solventes (pode ser empregado o eucaliptol, óleo de laranja, xilol ou
clorofórmio), introduzidos no interior da câmara pulpar;
- movimentos de alargamento com limas tipo K
- remoção da obturação com limas tipo H
Fase 4. Odontometria
Fase 5. Preparo biomecânico propriamente dito: de maneira igual a uma
necropulpectomia, empregando solução de hipoclorito de sódio a 2,5%;
Fase 6. Remoção de smear layer: emprega-se a toalete final com EDTA a
17% por 3 minitos e utilizar clorexidina a 2% também por 3 mintuos.
Fase 7. Secagem do conduto
Fase 8. Medicação intracanal: recomenda-se a medicação intracanal, por
21 dias, de pasta de hidróxido de cálcio associada à clorexidina a 0,4%. Colocas-se o
material restaurador provisório.
Fase 9. Obturação propriamente dita.
CONCLUSÕES
Diante do exposto no presente estudo achamos pertinente concluir que:
1. O retratamento dos canais radiculares é uma opção às atitudes
invasivas cirúrgicas e implante dentário;
2. Há causas específicas para o insucesso endodôntico;
3. Para que o retratamento dos canais radiculares apresente sucesso, o
caso deve ser adequadamente selecionado;
4. Descreve-se uma técnica racional de uso em retratamentos dos canais
radiculares.
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