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1 FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS - UniFMU MEDICINA VETERINÁRIA AMANDA OLIVOTTI FERREIRA ESTUDO DAS MEMBRANAS FETAIS E DA MORFOLOGIA DO SISTEMA REPRODUTOR FEMININO DO VEADO-CATINGUEIRO (MAZAMA GOUAZOUBIRA) – RELATO DE CASO SÃO PAULO 2009

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FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS -

UniFMU

MEDICINA VETERINÁRIA

AMANDA OLIVOTTI FERREIRA

ESTUDO DAS MEMBRANAS FETAIS E DA

MORFOLOGIA DO SISTEMA REPRODUTOR

FEMININO DO VEADO-CATINGUEIRO ( MAZAMA

GOUAZOUBIRA) – RELATO DE CASO

SÃO PAULO

2009

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FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS - UniFMU

MEDICINA VETERINÁRIA

AMANDA OLIVOTTI FERREIRA

Trabalho de Conclusão de Curso

apresentado como exigência parcial para obtenção do título de Médica Veterinária à

Banca Examinadora, sob a orientação do Prof. Dr. João Carlos Borges e supervisor

do Dr. Ricardo Romão Guerra.

São Paulo, 2009

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AMANDA OLIVOTTI FERREIRA

ESTUDO DAS MEMBRANAS FETAIS E DA MORFOLOGIA DO SISTEMA

REPRODUTOR FEMININO DO VEADO-CATINGUEIRO (MAZAMA

GOUAZOUBIRA) – RELATO DE CASO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como exigência parcial para obtenção do título de Bacharel junto à Comissão Julgadora da Faculdade Metropolitanas Unidas -UniFMU . Data da aprovação: ___/____/____. Orientador: Prof. Dr. João Carlos Borges ____________________________ Supervisor : Dr. Ricardo Romão Guerra ____________________________ Prof. Dr. Rodolfo Nurmberger Júnior ____________________________

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RESUMO

O Mazama gouazoubira é uma espécie de cervídeo de porte pequeno, que pode ser

encontrado abundantemente na América do Sul, desde o sul do Uruguai até o norte de

Mato Grosso, no Brasil. Este estudo teve como objetivo descrever as membranas fetais

e o sistema reprodutor feminino dos veados no terço inicial de gestação. Foram

analisadas macroscopicamente e microscopicamente as amostras coletadas. O animal

estudado apresentou uma gestação univitelínea com um embrião medindo 1,3 cm de

CR. No embrião pode ser observado pulmão, coração, fígado, e já apresentava o

crescimento de membros. A placenta apresentou-se oligocotiledonária e o saco

gestacional de uma extremidade a outra media 15 cm, ao abri-lo verificamos a ausência

de placentônios, bem como área de implantação do embrião. A membrana

corioalantoidiana ao microscópio possuía o alantóide bem vascularizado com uma fina

camada de células de núcleo e citoplasma alongados. Na outra face da membrana

visualizamos a tentativa de arranjo de células redondas, de citoplasma escasso e núcleo

grande e arredondado, características de células trofoblásticas. A ausência de

cotilédones foi confirmada na microscopia, sendo a carúncula desprovida de tecido fetal

por entre seus vilos. Envolvendo o embrião visualizou-se o saco amniótico constituído

de duas camadas passíves de separação mecânica, mas que apresentaram a mesma

morfologia macro e microscopicamente, sendo constituídas de células fusiformes, sendo

avascularizada. Não foi observado saco vitelino nesse espécime. O sistema reprodutor

feminino apresentou duas tubas uterinas com 4 cm. O corno úterino era bicornual como

em outros ruminantes. Dentro do útero foi achado 9 carúnculas, este número era

pequeno quando comparado com bovino. A cérvix apresentou-se formada por tecido

conjuntivo frouxo a tecido conjuntivo denso com vilosidades longitudinais como as dos

ruminantes. Concluí-se que o sistema de reprodutor do veado-catingueiro é similar ao

dos outros ruminantes, apresentando algumas diferenças nas membranas fetais, tais

como a falta de saco vitelino, sendo sua placenta classificada como oligocotiledonária

diferentemente dos outros animais ruminantes que possuem placenta cotiledonaria.

Palavras-chave: veado-catingueiro, sistema reprodutor feminino, Mazama

gouazoubira.

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ABSTRACT

The Mazama gouazoubira is a species of deer from small size, which can be found

abundantly in South America, from the south of Uruguay to the north of Mato Grosso,

Brazil. This study aimed to describe the fetal membranes and reproductive system of

female deer in the initial third of gestation. Were analyzed macroscopically and

microscopically the samples collected. The animal study showed a univitelínea

pregnancy with an embryo measuring 1.3 cm in CR. Embryo can be observed in lung,

heart, liver, and already had the growth of members. The placenta came

oligocotiledonária and the gestational sac from one end to another media 15 cm, open it

to verify the absence of placentônios and area of implantation of the embryo. The

membrane corioalantoidiana the microscope had the allantoic well vascularized with a

thin layer of cells elongated nucleus and cytoplasm. On the other side of the membrane

visualize the attempt to get round cells, scanty cytoplasm and nucleus of large and

round, characteristic of trophoblastic cells. The absence of cotyledons was confirmed on

microscopy, and the caruncle devoid of fetal tissue through its villi. Surrounding the

embryo is viewed the amniotic sac that consists of two layers of mechanical separation,

but had the same macro and microscopic morphology, being composed of spindle cells,

and avascularized. Yolk sac was not observed in specimen. The female reproductive

system showed two oviducts with 4 cm. The uterine horn was bicornual as in other

ruminants. Within the uterus was found caruncle 9, this number was small compared to

beef. The cervix is presented composed of dense connective tissue with villous

longitudinal as ruminants. In conclusion, the reproductive system of the deer Mazama

gouazoubira is similar to other domestic ruminants showing some differences in fetal

membranes such as the lack of yolk sac, being it is placenta classified as

oligocotiledonária, differently of other ruminants which have cotiledonary placenta.

Key words: deer, feminine reproductive system, Mazama gouazoubira

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INTRODUÇÃO

Os cervídeos (família Cervidae) pertencem à ordem Artiodactyla, que se

caracteriza pela presença de cascos que recobrem totalmente os quatro dedos, sendo que

somente dois deles se apóiam no solo. São ruminantes (subordem Ruminantia),

possuindo quatro compartimentos estomacais (rúmen, retículo, omaso e abomaso),

regurgitando e remastigando várias vezes o seu alimento. Como todos os ruminantes,

apresentam ausência de incisivos superiores, com molares constituídos por quatro

cúspides em forma de meia-lua (selenodontes) (CUBAS et al. 2007).

No Brasil existem oito espécies de cervídeos reconhecidas: Blastocerus

dichotomus, Odocoileus virginiarus, Ozotoceros bezoarticus, Mazama americana,

Mazama bororo, Mazama gouazoubira, Mazama nana e Mazama nemorivaga.

(CUBAS et al. 2007).

Em especial, o veado-catingueiro (Mazama gouazoubira) é uma espécie de porte

pequeno, pesando em média 18kg, raramente excedendo 20kg e altura média de 50cm

na cernelha. A coloração geral dos indivíduos é muito variável, podendo ir do cinza

escuro ao marrom avermelhado, ou até baio. A região ventral é baia, com áreas brancas

na parte inferior da cauda e face interna da orelha. As regiões submandibular e

perioftálmica são mais claras, mas dificilmente chegam a ser brancas. A maioria dos

indivíduos tem uma pinta branca acima dos olhos, que é inexistente em outras espécies.

A orelha é grande e arredondada e os chifres não ramificados, que é uma característica

de todas as espécies pertencentes aos gêneros Mazama e Pudu. Essa é a espécie mais

abundante da América do Sul, ocupando vários tipos de habitat, desde cerrado fechado

até áreas ocupadas pela agricultura. Tem grande poder de adaptação a áreas

modificadas. Ocupa desde o Sul do Uruguai até o Norte do estado do Mato Grosso no

Brasil e desde a cordilheira dos Andes até o Atlântico (CUBAS et al. 2007).

A maioria das espécies brasileiras dá origem a somente um filhote por cria,

sendo raros os casos de gêmeos, com exceção da espécie veado-de-cauda-branca

(Odocoileus virginianus), em que partos gemelares são mais freqüentes que simples. Ao

nascer, eles possuem pintas brancas distribuídas pelo corpo, com, exceção do cervo-do-

pantanal (Blastocerus dichotomus), que nasce com pelagem uniforme, semelhante à do

adulto. As pintas são perdidas na primeira muda de pêlos, entre 2 e 4 meses. (CUBAS et

al. 2007).

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Os cervídeos neotropicais ainda são pouco estudados quanto a sua taxonomia,

especialmente o gênero Mazama, no qual foram descritas espécies novas nos últimos

anos, como Mazama pandora no México e M. bororo no Brasil. Essa falta de estudo é

gerada pela dificuldade de acesso aos animais, que vivem em sua maioria em florestas.

(CUBAS et al. 2007).

Os cervídeos são poliéstricos estacionais, pelo menos nas espécies de clima

temperado. Sabe-se, que em clima tropical a sazonalidade não é bem definida,

especialmente no gênero Mazama, no qual é citada a ocorrência de cio pós-parto em

veado-mateiro, demonstrando que nessas espécies a reprodução não é sazonal. Em

veado-campeiro é indicada uma certa sazonalidade, pela concentração de nascimentos

na primavera (setembro a novembro) no Brasil e na Argentina, indo até dezembro no

Uruguai. Deve ser enfatizado que há nascimentos por todo o ano, indicando que alguns

machos e fêmeas podem ser férteis por todo esse período. Em cativeiro, cervos-do-

pantanal não apresentam sazonalidade aproximadamente, coincidindo com a gestação

que também é de 8.5 a 9 meses. Nas demais espécies de cervídeos, a duração da

gestação é de aproximadamente sete meses. O ciclo estral em veado-catingueiro é de

aproximadamente 21 dias e, em cervos-do-pantanal, por volta de 24 dias. (CUBAS et

al. 2007).

É sabido que o sistema reprodutor feminino consiste nos ovários, tubas uterinas

(ovidutos) bilaterais, um útero normalmente bicórneo, cérvix, vagina, vestíbulo, vulva e

glândulas associadas. Este é vinculado à produção e transporte de óvulos, ao transporte

dos espermatozóides à fertilização e à acomodação do concepto até o

nascimento (DYCE et al.1997).

As membranas extra-embrionárias são o elo de comunicação entre o feto e a

mãe, que posteriormente irão formar a placenta. Existem quatro tipos de membranas

fetais, o saco coriônico, o alantóide, o âmnio e o saco vitelínico (WOLF et al. 2003).

O constante aumento do número de estradas que fragmenta seu habitat têm sido,

além da caça predatória, uma das principais causas de impacto sobre as populações

naturais. Atropelamentos em estradas têm vitimado muitos veados. Desta forma, a

maioria dos atendimentos à estes animais em centros de atendimentos compreendem

casos de atropelamentos, estando em segundo lugar após os casos de ataques de cães

domésticos (NOWAK, 1991).

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O objetivo principal deste trabalho é caracterizar a morfologia do sistema

reprodutor do veado-catingueiro, comparando-o com os demais ruminantes devido a

ausência de estudos morfológicos a respeito do trato reprodutor destes nesta espécie. Os

resultados poderão contribuir como fonte de estudo para possíveis intervenções

cirúrgicas e em projetos de reprodução desses animais.

MATERIAIS E MÉTODOS

Animais

Para este estudo, foram coletadas amostras do sistema reprodutor de uma fêmea

adulta de veado-catingueiro (Mazama gouazoubira), que veio a óbito após

atropelamento em rodovia. Devido à gravidade dos traumas por ela sofrido, o mesmo

veio a óbito e foi doado para que estudos morfológicos pudessem ser realizados. Este

animal foi oriundo do SAAS (Serviço de atendimento à Animais Selvagens) da

Universidade Estadual do Centro-Oeste, Guarapuava, Paraná (UNICENTRO). A fêmea

pesava 19.20kg, com 0.92cm de comprimento e 0.60cm de altura de cernelha foi

utilizada. Devido à gravidade dos traumas por ele sofrido, o mesmo veio a óbito e foi

doado para que estudos morfológicos pudessem ser realizados.

Realizou-se uma incisão na linha alba do animal, retirando os órgãos para a

avaliação macroscópica e microscópica do sistema reprodutor feminino. Foram tiradas

fotos com câmera digital Olympus C-315 5.1MP para catalogação e estudo.

Preparações Histológicas e Colorações

Os fragmentos do sistema reprodutor feminino do Mazama gouazoubira foram

tratados em série crescente de etanol (70 a 100%) para desidratação e xilois para

diafanização, utilizando-se procedimento convencional, para posterior inclusão em

Paraplast® (Leica/Germany), confeccionando-se blocos retangulares com base de 2x1

cm.

Foram realizados cortes de 5 µm em micrótomo semi automático para obtenção

das lâminas, as quais foram préviamente silanizadas com 3-aminopropiltrietoxi-silano

(APES) e então desparafinizadas, coradas, analisadas e fotomicrografadas (Microscópio

Olympus BX4160 acoplado a câmera Axio CAM HRc) com o software Zeiss KS 400.

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Utilizou-se as seguintes colorações: Hematoxilina/Eosina, para caracterização

histológica; tricrômico de Masson, para se diferenciar fibras musculares lisas de

colágeno; picrossírius para corar colágeno e periodic acid Schiff (PAS) para diferenciar

áreas ricas em glicoproteínas.(JUNQUEIRA et al. 2008)

RESULTADOS

Histologia das Membranas Fetais do Mazama gouazoubira

O Mazama gouazoubira apresentou uma gestação univitelínea com um embrião

medindo 1,3 cm de CR (Figura1). No embrião pode ser observado pulmão, coração,

fígado, e já apresentava o crescimento de membros, com separação evidente dos

membros (Figura 2).

FIGURA 1 (e) embrião de Mazama gouazouabira apresentando 1,3cm de CR (Crow-

hump);

FIGURA 2 Fotomicrografia de embrião de Mazama gouazouabira corado com

hematoxilina-eosina (200µm) já evidenciando (f) fígado, (c) coração e (p) pulmão.

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A placenta apresentou-se oligocotiledonária e o saco gestacional de uma

extremidade a outra media 15 cm, ao abri-lo verificamos a ausência de cotilédones, bem

como área de implantação do embrião. (Figura 3).

sgsg

FIGURA 3 – saco gestacional de Mazama gouazoubira medindo 15cm (sg).

Barra de 15cm.

A membrana corioalantoidiana ao microscópio óptico possuía o alantóide bem

vascularizado com uma fina camada de células de núcleo e citoplasma alongados. Na

outra face da membrana visualizamos a tentativa de arranjo de células redondas, de

citoplasma escasso e núcleo grande e arredondado, características de células

trofoblásticas presentes no cório (Figura 4).

FIGURA 4 – Fotomicrografia da membrana corioalantóidea de Mazama

gouazouabira. (a) alantóide; (C) cório; (ct) células trofoblásticas corado com Tricômio

de Masson (50 um)

A ausência de cotilédones foi confirmada na microscopia, sendo a carúncula

desprovida de tecido fetal por entre seus vilos. Envolvendo o embrião visualizou-se o

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saco amniótico constituído de duas camadas passíves de separação mecânica, mas que

apresentaram a mesma morfologia macro e microscopicamente, sendo constituídas de

células fusiformes, sendo avascularizada (Figura 5). Não foi observado saco vitelino

nesse espécime.

FIGURA 5 – Fotomicrografia de âmnio de Mazama gouazoubira corado com PAS (50µm); (a) âmnio

Anatomia e Histologia do Sistema Reprodutor Feminino do Mazama gouazoubira

O sistema reprodutor feminino apresentou-se com duas tubas uterinas medindo 4

cm cada. O corno úterino era bicornual (direito e esquerdo) como em outros ruminantes

(Figura 6A). Dentro do útero foi encontrado 9 carúnculas, este número era pequeno

quando comparado com o de bovino (Figura 6B). A cérvix era formada por tecido

conjuntivo com vilosidades longitudinais à semelhança dos ruminantes (Figura 7).

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FIGURA 6- Útero de veado-catingueiro A) carúnculas de Mazama gouazoubira (ca)

B) corno uterino esquerdo (ce); corno uterino esquerdo (cd); ovário esquerdo(oe);

ovário direito (od).

cvx

tc

cvx

tc

FIGURA 7- Fotomicrografia de cérvix de Mazama gouazoubira (cvx) cérvix; (tc)

tecido conjuntivo (200µm).

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DISCUSSÃO

Segundo Banks (1982), a placenta dos ruminantes é classificada como

cotiledonária. Neste trabalho podemos observar que a placenta do veado-catingueiro é

do tipo oligocotiledonária, onde o número de cotilédones é menor que em outros

animais, divergindo dos demais ruminantes. Tal fato também foi observado por

Bernirschke (2007), que considera a placenta das diversas espécies de veado

oligocotiledonária, com no máximo 10 cotilédones. A maioria das placentas possuem

entre de 4 a 6 cotilédones. Em contraste com as vacas, carneiros, e outros ruminantes,

que possuem dez vezes mais cotilédones.

As carúnculas compõem a parte materna da placenta, sendo recobertas pelas

membranas fetais que crescem e se expandem para dentro do lúmen uterino, formando

estruturas fetais irregulares, que são conhecidas como cotilédones (SHAFLER et al.

2000). Em contraste com outras espécies Artiodáctilas policotiledonárias (ex. vaca,

carneiros), constatou-se que os cervídeos apresentam poucos cotilédones, possuindo

apenas três carúnculas em cada corno úterino (totalizando seis carúnculas). Bernirschke

(2007).

No presente trabalho o espécime apresentou poucas carúnculas, sendo 9 em sua

totalidade, diferentemente dos bovinos que apresentam cerca de 60 a 90 carúnculas. Não

houve visualização dos cotilédones, apenas das carúnculas, não havendo a formação do

placentoma (PINTO et al. 2008).

De acordo com Banks (1982), o veado-catingueiro apresenta as mesmas

características quanto comparado a outros ruminantes em relação ao grau de

implantação, tendo esta espécie placenta não-decídua (onde os tecidos maternos e fetais

podem estar interdigitados, estando fundidos ou em aposição uns aos outros). Há,

portanto, uma erosão mínima dos tecidos contribuintes. Não havendo perda dos

elementos da mucosa uterina durante o parto.

Percebeu-se que, no caso do veado-catingueiro não havia presença de saco

vitelino, como já descrito por Benirschke (2007), o qual descreve que os veados não

apresentam saco vitelino, diferentemente de outros ruminantes como os bovinos e

bubalinos.

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Este trabalho vem a confirmar dados encontrados por Banks (1982) e Morini et

al. (2008), os quais observaram que na evolução da gestação a membrana alantoideana

une-se ao cório ficando difícil a percepção das duas separadamente. A extensão do cório

e do alantóide partindo do embrião, também ocorre de maneira concomitante aos outros

ruminantes.

Ao realizarmos dissecações das partes das membranas fetais do veado-

catingueiro podemos visualizar assim como Morini et al. (2008), que o cório formou-se

ao redor do alantóide, envolvendo-o completamente e conseqüentemente envolvendo as

demais membranas. O mesmo fato ocorre com o observado no âmnio, o qual se

apresenta intimamente ligado ao embrião sendo a primeira das membranas fetais, se

considerarmos a ordem embrião-útero.

Tanto em nosso trabalho com o veado-catingueiro, como o realizado por Morini

et al.(2008) em búfalos, não foi possível visualizar vasos macroscopicamente na

membrana. Em ambos estudos observou-se que, o líquido amniótico que é responsável

pela proteção mecânica, sendo este mais denso e viscoso que os demais fluidos

encontrados entre as membranas.

Outra similaridade do veado-catingueiro com outros ruminantes refere-se ao

cório, sendo este constituído por uma camada de células arredondadas, dispostas em

formato linear, igualmente descrito por Banks (1982) e Morini et al. (2008).

Geralmente o cório apresenta uma camada simples de células, mas em algumas

vezes essa membrana pode apresentar mais de uma camada. (BANKS, 1982; MORINI

et al. 2008). Notamos, na maioria de nossas amostras a fusão do cório com a membrana

seguinte, o alantóide, denominado lâmina corioalantóidea, fato também citado em

outras espécies de ruminantes pelos autores supracitados.

Constatamos que, durante a idade gestacional pesquisada não foram observados

placentomas, nem qualquer tipo de conexão entre o endométrio e o cório, porém foram

encontrados pequenos botões que darão origem as vilosidades com o decorrer da

gestação, o que difere do experimento realizado por Hafez (1954) com outros

ruminantes, o qual através de seu estudo histológico, descreveu delicados vilos

aparecendo na superfície da membrana coriônica em oposição às carúnculas maternas.

Acredita-se que provavelmente, essas diferenças entre nossos estudos, ocorreram

devido ao fato dos estudos terem sido realizados em fases gestacionais diferentes. No

período gestacional estudado, não é nítida a presença de vasos provenientes do alantóide

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na membrana coriônica, porém, percebe-se um contato íntimo entre essas membranas

em diversos locais.

Autores como Kaufmann & Burton (1994) e Morini et al.(2008), relataram em

seus trabalhos sobre a morfologia geral da placenta em diversos mamíferos, que o cório

é um tecido intrinsicamente avascular, sendo vascularizado por vasos do alantóide.

Esses resultados indicam uma semelhança entre búfalos, veados e as demais espécies de

mamíferos.

Foi possível identificar em nosso estudo com o veado-catingueiro, assim como

no estudo realizado por Morini et al. (2008) com búfalos, que a membrana coriônica é

constituída por uma camada simples de células dispostas em formato linear. Fato

também corroborado por Hafez (1954), já descrito anteriormente.

Neste estudo, observou-se que as paredes do alantóide do veado-catingueiro

assemelham-se também com a dos embriões bubalinos relatados por Morini et al.

(2008) onde em ambos estudos constataram aparência fina e translúcida, com um leve

tom esbranquiçado. O que difere do observado por Marshall (1952) e Barone (1986),

que descreveram em outras espécies de ruminantes, essa estrutura apresenta paredes

delgadas e transparentes. Esses resultados indicam que o alantóide do veado-catingueiro

é similar ao de outros ruminantes.

Assis Neto (2005), observou que o alantóide bovino é constituído por uma

delgada camada de células pavimentosas que compõem a parte externa da membrana.

Essas células são sustentadas por uma fina membrana basal e o mesênquima extra-

embrionário. Analisando os resultados deste autor com o nosso, pode-se afirmar que

essa membrana fetal apresenta semelhanças entre essas duas espécies. Assis Neto

(2005), observou no mesênquima dessa membrana em embriões bovinos, vasos e ilhas

eritroblásticas primárias. A similaridade dos resultados indica, mais uma vez, a grande

semelhança entre as membranas fetais dessas duas espécies.

Como descrito por Banks (1982), a cérvix uterina atua como uma válvula para

separar a luz uterina da vagina. Apresenta um epitélio colunar simples com células

caliciformes. A lâmina própria submucosa varia de tecido conjuntivo frouxo a tecido

conjuntivo denso. A camada muscular é bem desenvolvida e rica em fibras elásticas. O

espécime estudado apresentou as mesmas características.

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CONCLUSÃO

Conclui-se que o sistema reprodutor feminino do Mazama gouazoubira durante

o terço inicial de gestação é similar ao dos outros ruminantes domésticos. Com relação

aos anexos fetais, o presente trabalho demonstrou diferenças em relação a outros

ruminantes como a ausência do saco vitelino, sendo sua placenta classificada como

oligocotiledonária.

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