Falar Com Seu Sintoma, Falar Com Seu Corpo - Eric Laurent
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7/24/2019 Falar Com Seu Sintoma, Falar Com Seu Corpo - Eric Laurent
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Argumento
Falar com seu sintoma, falar com seu corpo
Eric Laurent
A escolha do ttulo do VI ENAPOL[1! "Falar com seu corpo" indica uma in#uieta$%o e corresponde a um fato& Aspala'ras e os corpos se separam na disposi$%o atual do Outro da ci'ili(a$%o& O su)ttulo "a crise das normas e a
agita$%o do real" remete*nos a uma dupla s+rie causal& Por um lado, as normas nem sempre conseguem fa(er com #ue
os corpos, por sua inscri$%o for$ada, se insiram em usos padroni(ados, nessa m#uina infernal na #ual o significante*
mestre instala suas disciplinas de fa(er marcas identificat-rias .marquage/e de educa$%o& Os corpos s%o muito mais
dei0ados por sua pr-pria conta, marcando*se fe)rilmente com signos #ue n%o chegam a lhes dar consistncia& Por
outro lado, a agita$%o do real pode ser lida como uma das conse#uncias da "ascens%o ao (nite" do o)2eto a& A
apresenta$%o da e0igncia de go(o em primeiro plano su)mete os corpos a uma "lei de ferro"[3 cu2as conse#uncias +
preciso acompanhar&
Os corpos parecem ocupar*se deles mesmos& 4e alguma coisa parece se apoderar deles, + a linguagem da )iologia&
Ela opera so)re o corpo, recortando*o em suas pr-prias mensagens, suas mensagens sem e#u'oco, di'ersasda#uelas da lngua& Produ( corpos operados, terapeuti(ados, geneticamente terapeuti(ados ou geneticamente
modificados .em pouco tempo, todos seremos organismos geneticamente modificados/, al'os de uma opera$%o
cosm+tica #ue segue a mesma 'ia desses recortes 5 real cu2a efeti'idade foi su)linhada por 6ac#ues*Alain 7iller em
seu pe#ueno tratado so)re a ")iologia lacaniana"&
A psicanlise apreendeu a 2un$%o das pala'ras com os corpos por um 'i+s preciso, o do sintoma& Freud, )aseado no
espetculo clnico de 8harcot, e0trai o r+)us da forma$%o do sintoma hist+rico& Lacan pode di(er! "Freud chegou em
uma +poca na #ual apreendeu #ue n%o ha'ia nada mais #ue o sintoma pelo #ual cada um se interessa'a", #ue tudo
a#uilo #ue ha'ia sido sa)edoria, modo de fa(er, e mesmo, 2ustamente, representa$%o so) um olhar di'ino, tudo isso se
distancia'a9 resta'a o sintoma na medida em #ue ele interroga cada um so)re o #ue 'em incomodar*lhe o corpo& Esse
sintoma, por ser presen$a do significante do Outro em si, + marca identificat-ria .marquage/, corte& Nesse lugar, osurgimento traumtico do go(o se d& :aseado no sintoma hist+rico, Freud reconhece a 'ia na #ual se imp;e o
inc
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mais longe #ue o inconsciente"[D& N%o se trata do Lacan do retorno a Freud, mas do Lacan do adeus a Freud& 6 era
tempo, Lacan ha'ia esperado muito tempo, ele pr-prio esta'a muito pressionado pelo tempo! disse isso em 1,
#uando tinha mais #uatro anos de 'ida& Prop;e alguma coisa #ue 'ai "mais longe #ue o inconsciente"& >, de incio, uma
metfora espacial, e ela imediatamente se completa com uma #uest%o so)re o tempo! "Por #ue o)rigar*se, na anlise
dos sonhos, a se restringir ao #ue ocorreu na '+spera@"& Para e0plicar o sonho, + necessrio sem dG'ida apelar para as
coisas #ue remontam ao "pr-prio tecido do inconsciente"& 4ituar o inconsciente como tecido + tam)+m introdu(ir o #ue
fa( furo, ou se2a, precisamente, a #uest%o do trauma& Na#ueles anos, Lacan enuncia uma s+rie de proposi$;es no'asem psicanlise, dentre as #uais a reformula$%o da #uest%o da histeria + crucial& Ap-s o 4eminrio so)re 6oHce, Lacan
prop;e uma s+rie de releitura dos Estudos sobre a histeria,mas pelo a'esso& Pode*se seguir esse percurso por um ano,
um ano de pontua$;es entre o dia de mar$o de 1 e o dia 3 de fe'ereiro de 1 .data, 2ustamente, de uma
conferncia, em :ru0elas, so)re a histeria/& Vamos come$ar este ano, com Lacan, pela decifra$%o do #ue ele nos
prop;e so)re a histeria no 4eminrio 3C& Pelo #ue sei, no 4eminrio 3C, h apenas uma referncia direta histeria, e +
a prop-sito de uma e'oca$%o amig'el, de uma m%o(inha dada a uma de suas amigas, J+lKne 8i0ous& Vocs a
encontram na terceira parte do Seminrio 23, cu2o ttulo + surpreendente! "A In'en$%o do eal"[M, e no captulo #ue
tem tam)+m um ttulo pro'ocante! "?e uma falcia #ue testemunha do real["& "Falcia" + uma pala'ra antiga como
"sinthoma", pouca utili(ada na lngua moderna& O #ue permaneceu na lngua contempornea + o ad2eti'o "falacioso"&
Este termo feminino antigo, falcia, corresponde ao no'o lugar #ue Lacan d ao falo! o falo + um sem)lante e o #ue d
testemunho do real& > muito diferente da maneira como o falo + representado nos Escritos& No te0to #ue e0p;e aposi$%o clssica, Die Bedeutung des Phallus ."A significa$%o do falo"/, o falo esta'a ali para testemunhar da
significa$%o, e mesmo para demonstrar todos os efeitos de significa$%o& Agora, ele + reencontrado como uma falcia
#ue d testemunho do real& Essa no'a posi$%o do falo, fora da metfora paterna, permite a Lacan retomar a #uest%o da
histeria& A pe$a "etrato de ?ora"[, escrita por J+lKne 8i0ous, #ue esta'a sendo encenada num pe#ueno teatro,
permite a Lacan di(er! "algumas pessoas podem se interessar em 'er como a pe$a + reali(ada", "+ reali(ada de um
modo real"& A #uest%o de ser "reali(ada de um modo real" + estranha e Lacan a e0plica! "#uero di(er #ue a realidade,
por e0emplo a dos ensaios, no final das contas, foi o #ue dominou os atores"& Portanto, foi reali(ada de tal maneira #ue
n%o + o te0to #ue dominou os atores, mas a pragmtica mesma do di(er& Isso a2uda a se desfa(er da ideia de #ue o
significante organi(a um te0to organi(ando os atores& Agora, s%o antes os atores #ue reali(am o te0to& Nesse
espetculo, "trata*se da histeria", su)linha Lacan& Ele nota #ue, entre os atores, a #ue interpreta ?ora est )em
em)ara$ada& Ela "n%o mostra suas manias de hist+rica"& O termo "manias" de'e ser destacado& O ator #ue representaFreud est ainda mais em)ara$ado, "ele d a impress%o de estar chateado, e isso se ' por sua entona$%o"& Lacan di(!
"=emos ali a histeria&&& #ue eu poderia di(er incompleta& uero di(er #ue, com a histeria, + sempre dois, pelo menos
desde Freud& Ela aparece ali redu(ida a um estado #ue eu poderia chamar de material"& Essa estranha #ualifica$%o
"estado material da histeria" + e0plicitada assim! "E + por isso #ue aca)a com)inando com o #ue 'ou lhes e0plicar& Falta
ali esse elemento #ue foi acrescentado h algum tempo 5 no final das contas, desde antes de Freud 5, a sa)er, como +
#ue ela de'e ser compreendida"& 8om a compreens%o, reencontramos nossas )ali(as clssicas so)re a histeria& O
sintoma hist+rico + por e0celncia um sintoma #ue fala, #ue + endere$ado& Ele + portador de um sentido& O material, no
fundo, + o sintoma como tal, separado do sentido& E Lacan acha #ue o interessante na ?ora de 8i0ous + #ue ela
apresenta a histeria sem o sentido& O #ue fa( com #ue n%o se a compreenda mais& > isso #ue ele considera importante&
Lacan o di( de um modo muito surpreendente! "Isso constitui alguma coisa muito impressionante e muito instruti'a! +
uma esp+cie de histeria rgida"& A histeria de 8i0ous apresenta ?ora sem nenhuma aparelhagem de sentido, umahisteria sem seu parceiro& uando Lacan di( "A histeria, desde antes de Freud, + sempre dois", ele designa desse modo
#ue a hist+rica + acompanhada de seu interpretante, e isso come$a com 6osef :reuer, e mesmo antes, com as terapias
de hipnose& Em !ist"ria do inconsciente, de Ellen)erger[, pode*se 'er o catlogo de tudo o #ue, no final dos anos
1Q, ha'ia come$ado a animar o interpretante&
Para compreender o #ue Lacan #uer di(er #uando ele di( "histeria rgida", + preciso nos reportarmos ao 4eminrio& Ele
apresenta ali uma cadeia )orromeana "rgida"[& 8om e0ce$%o do fato de #ue + representada por elos retangulares no
lugar de redondos, por #ue ela + chamada de rgida@ Nada + "rgido", a n%o ser pelo fato de se manter so(inho, unido,
ou se2a, de ser um modo do su2eito em #ue n%o h necessidade de uma rodinha suplementar, o Nome*do*Pai, e esta +
toda a #uest%o& A histeria apresentada por 8i0ous + uma histeria sem este interpretante #ue + o Nome*do*Pai, + uma
histeria #ue se mant+m inteiramente so(inha& Lacan n%o representa esse estatuto "rgido" da cadeia apenas so) aforma retangular, mas tam)+m na forma da chamada esfera armilar& 8omo reescrita dos Estudos sobre a
histeria)aseada em 6oHce, + o mnimo, mas essencial& Passa*se do sistema falante ao sintoma como escrita&
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No fim do 4eminrio, na "Nota passo a passo" redigida por 6ac#ues*Alain 7iller, encontramos o seguinte! "4e o n-
como suporte do su2eito segura, n%o h necessidade alguma do Nome*do*Pai! ele + redundante& 4e o n- n%o segura, o
Nome e0erce a fun$%o de sinthoma& Na psicanlise, ele + o instrumento para resol'er o go(o pelo sentido[1Q"& Era o
#ue Lacan ha'ia de incio escrito com a metfora paterna& O Nome*do*Pai permitia dar 'alor flico ao ?ese2o da 7%e& O
instrumento, o Nome, permitia dar a tudo o #ue se di( um 'alor flico& Essa metfora ser generali(ada por Lacan, com
o go(o .6/, #ue + o #ue 'em se inscre'er so) a )arra, na linguagem, no lugar do Outro .A/, para ser metafori(ado 5 AR6&
O Nome + o instrumento para resol'er o go(o pelo sentido, da mesma maneira #ue, na metfora paterna, o Nomeresol'e o significado do dese2o materno dando*lhe a significa$%o do falo&
> isso #ue + reformulado nas escritas da chamada cadeia rgida, a#uela #ue se mant+m inteiramente so(inha& =rata*se
de uma cadeia tal #ue nela h uma apreens%o do go(o e do sentido sem necessidade de passar pelo Nome*do*Pai,
pelo amor ao pai, pela identifica$%o ao pai&
Na primeira li$%o de #$insu que sait de l$une%b&'ue s$aile ( mourre, o 4eminrio posterior ao 3C, Lacan prossegue sua
)usca por um "para al+m do inconsciente"[11& Ele ousa tradu(ir l$)nbe*usstefreudiano, o inconsciente, por l$)ne%
b&'ue."Sm*desli(e"/ #ue, em francs, + uma homofonia do termo alem%o, e n%o uma tradu$%o& 7as isso +
e0tremamente fundamentado, pois o ttulo, #$insu que sait, + um 2ogo de pala'ras formid'el so)re o inconsciente como
insa)ido .insu/, um insa)ido #ue se sa)e, #ue se sa)e em alguma parte& ?entre as no'as e0press;es da lnguafrancesa, tornou*se famosa esta e0press%o usada por um ciclista surpreendido na prtica de doping! "ao insa)ido da
minha plena 'ontade" .( l$insu de mon plein gr&/& Ela + muito instruti'a #uanto #uest%o do sa)er& ue sa)er + esse
#ue se sa)e@ #$insu que sait de l$une%b&'ue s$aile ( mourre se in#uieta com isso&
4intoma e identifica$%o
Na primeira li$%o desse 4eminrio, Lacan le'anta #uest;es #ue se encadeiam diretamente ao captulo do 4eminrio
3C& Ele di( o seguinte na transcri$%o pu)licada em +rnicar! "A identifica$%o + o #ue se cristali(a em uma identidade"B
"em)ora tenha me dado conta de ter es#uecido meu seminrio so)re a -dentifi.ierung de Freud, lem)ro*me muito )em
de #ue, para Freud, h trs modos de identifica$%o, ou se2a, uma identifica$%o para a #ual ele reser'a, n%o se sa)e )em
por #ue, a #ualifica$%o de amor, + identifica$%o ao pai"& Ap-s ter*lhe dado sua 'ers%o l-gica com a metfora paterna,
Lacan di( agora #ue n%o se sa)e )em por #ue essa identifica$%o + assim& uanto ao #ue Freud chama o pai, h uma
s+rie de fantasias, /otem e tabu, as hist-rias darTinianas, a pr+*hist-ria de tudo o se #ueira, e a cren$a fundamental de
Freud no pai& Lacan apresenta o seguinte! "uma identifica$%o #ual ele [Freud reser'a, n%o se sa)e )em por #ue, a
#ualifica$%o de amor, + a identifica$%o ao pai9 uma identifica$%o constituda de participa$%o #ue ele pin$a como a
identifica$%o hist+rica9 e depois a#uela #ue ele fa)rica a partir de um tra$o #ue tradu(i outrora como tra$o unrio"& A
identifica$%o participati'a implica um parceiro, tem a 'er com o dois& Ele o di(! a histeria tem a 'er com o dois& Este dois
n%o + apenas a liga$%o da hist+rica com seu interpretante, mas designa tam)+m o fato de #ue a hist+rica e0trai um
sintoma do outro do #ual est enamorada& O e0emplo dado por Freud no captulo de 0assenps1chologie+ a#uele de
?ora #ue est af
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inconsciente@ N%o acredito nisso"[13& ?i( #ue o inconsciente permanece o Outro& E di(! "N%o creio #ue se possa dar
um sentido ao inconsciente"& Perce)e*se #ue "identifica$%o" e "dar sentido a" se apro0imam& O fim da anlise produ(
uma impossi)ilidade de se identificar a seu inconsciente& Nesse sentido, a identifica$%o ao sintoma + o a'esso da
identifica$%o hist+rica& A identifica$%o hist+rica + identificar*se ao sintoma do outro, por participa$%o& A essa
identifica$%o, Lacan op;e a identifica$%o conce)ida a partir dos fen a partir do "identificar*se a seu sintoma" #ue Lacan 'ai interrogar a tens%o entre o sintoma hist+rico e o sintoma
analtico& Ele complica a oposi$%o entre identifica$%o hist+rica e identifica$%o a "seu sintoma", pois di(! "propus #ue o
sintoma pode ser o parceiro se0ual"& =rata*se do segundo tempo em rela$%o crtica da identifica$%o hist+rica& N%o se
trata de uma participa$%o no sintoma do outro, + o seu, mas o seu pode ser o outro& 4eu sintoma, o #ue h mais de "si",
+ efeti'amente o parceiro se0ual& Le'anta ent%o esta #uest%o! o #ue + conhecer seu sintoma@ E #ual + a diferen$a
entre conhecer e sa)er& ?i(er "O parceiro se0ual + um sintoma" #uer di(er tam)+m #ue o parceiro se0ual + a#uele #ue
n%o se conhece, #ue n%o h nenhum conhecimento poss'el do parceiro se0ual& > preciso certamente se lem)rar )em
da oposi$%o conhecerRsa)er, e n%o se es#uecer de #ue o sintoma est do lado do sa)er, o #ue implica 2ustamente n%o
conhecer& "Propus #ue o sintoma pode ser o parceiro se0ual&&& o sintoma tomado nesse sentido + o #ue&&& se conhece
melhor& Esse conhecimento n%o 'ai muito longe, de'e ser tomado no sentido #ue foi proposto de #ue )astaria um
homem dormir com uma mulher para #ue ele a conhe$a[1C"& =rata*se da imagem ))lica! na ))lia, conhecer uma
mulher significa ter uma rela$%o se0ual com ela& "8omo, apesar de eu me esfor$ar para isso, + fato #ue n%o sou mulher,
n%o sei o #ue uma mulher conhece de um homem, + mesmo )em poss'el #ue isso ' muito longe, mas n%o pode,
contudo, chegar se#uer perspecti'a de #ue a mulher criou o homem"& =emos, a, desen'ol'imentos comple0os de um
a'esso da metfora da cria$%o di'ina& "E mesmo #uando se trata de seus filhos, os filhos para uma mulher permanecem
como parasitas& =rata*se ali de um parasita, de um parasitismo& No Gtero da mulher, a crian$a + parasita, e tudo o
indica, inclusi'e o fato de #ue as coisas podem ir muito mal entre o parasita e o 'entre"& Essa nota$%o + muito Gtil para
os psi#uiatras de crian$as e para os psi#uiatras em geral #uanto ao fato de #ue toda gra'ide( tem um pe#ueno lado de
denega$%o da gra'ide(& N%o h conhecimento da gra'ide(& J sempre um ponto em #ue uma mulher n%o sa)e #ue
est gr'ida& N%o h apenas os casos gra'es #ue pro'ocaram alarde na cr o #ue Lacan di(
nesse te0to& ?esde ent%o, o #ue #uer di(er conhecer@ "8onhecer seu sintoma #uer di(er sa'oir fairecom ele, sa)er se
'irar com ele, mane2*lo"[1D& > o #ue se fa( com o parceiro se0ual9 consegue*se, pouco a pouco, se 'irar com ele,
manipul*lo& "O #ue o homem sa)e fa(er com sua imagem corresponde de alguma forma a isso, e permite imaginar a
maneira de como se 'irar com o sintoma"[1M&
Lacan enuncia portanto #ue n%o se trata, assim, de sa)er como isso se d em uma escrita sim)-lica& A gente se 'ira
com o parceiro se0ual como se 'ira com a pr-pria imagem& J sempre um narcisismo na escolha do parceiro se0ual,
n%o no n'el da imagem, mas no n'el da manipula$%o #ue se pode fa(er dele& O papel do imaginrio como tal toma um
'alor efeti'amente importante& N%o estamos mais na +poca do imaginrio depreciado em rela$%o ao sim)-lico, + o
imaginrio na medida em #ue ele nos d as coordenadas fundamentais para 'i'er nesse mundo& A gente se 'irar com a
imagem + o #ue permite pouco a pouco se 'irar com o parceiro se0ual& Imaginrio e real s%o, a#ui, colocados em
continuidade& > como na cincia #ue, tam)+m, tem necessidade da dimens%o do imaginrio& A pro'a disso, nos di(
Lacan, + seu des'io pela teoria dos modelos! "Lord Uel'in por e0emplo considera'a #ue a cincia era alguma coisa na
#ual funciona'a um modelo #ue permitia pre'er #uais seriam os resultados do funcionamento do realWW& Na cincia,
recorre*se ent%o ao imaginrio para se ter uma ideia do real&
Lacan a'an$a em seu raciocnio dando ao imaginrio uma consistncia e#ui'alente ao sim)-lico& Ele se coloca ent%o a
#uest%o so)re o #ue seria a consistncia do real& "Eu me dei conta de #ue consistir #ueria di(er #ue era necessrio falar
de corpo! h um corpo imaginrio, um corpo sim)-lico 5 + a linguagem 5 e um corpo real, do #ual n%o se sa)e como ele
aparece[1"& O corpo sim)-lico + a linguagem, o con2unto dos e#u'ocos da lngua& O imaginrio + o #ue permite nos
'irarmos, o modelo& 7as o #ue pode ser o corpo real@ Para Lord Uel'in + isso #ue a cincia se recusa a admitir9 tem*se
um modelo, mas n%o se sa)e o #ue + o corpo real& A esse respeito, n%o h hip-teses&
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O mesmo e o corpo real
:aseado na psicanlise, Lacan #uer definir o corpo real& Introdu( seu desen'ol'imento a partir do mesmo! "como
designar de modo anlogo as trs identifica$;es distinguidas por Freud, a identifica$%o hist+rica, a identifica$%o
amorosa chamada de identifica$%o ao pai e a identifica$%o #ue nomearei neutra, a#uela #ue n%o + nem uma nem outra,
a identifica$%o um tra$o #ue chamei de #ual#uer um, a um tra$o #ue se2a apenas o mesmo"[1& No #ue concerne ao
real, o importante + #ue o mesmo se2a o mesmo materialmente, XXa no$%o de mat+ria + fundamental, 2 #ue ela funda omesmo"[1& Entende*se por#ue ele esta'a muito contente de di(er #ue J+lKne 8i0ous apresenta'a uma histeria
XXmaterialWW& Ela apresenta'a alguma coisa na 'ertente de um mesmo #ue se refere ao fora*do*sentido, #ue n%o tem
necessidade do sentido, lhe + dis2unto& Em compensa$%o, di( ele, o significante fa( s+rie, est sempre na oposi$%o
entre o mesmo e um outro, o 41 e o 43& ?o lado do assinalamento .signalement/, h uma s+rie de outros, unidades
dentre as #uais sempre + poss'el um desli(e .b&'ue/& O real, em compensa$%o, + a repeti$%o material do mesmo na
medida em #ue + o go(o #ue se repete& No n'el do sim)-lico, h os "um" #ue fa(em s+rie, e na #ual + poss'el se
enganar& ?i(er #ue h "desli(es" + igualmente di(er #ue h e#u'ocos& O inconsciente de Lacan + feito de "um*desli(e"
.une%b&'ue/ #ue s%o significantes*um #ue sempre geram e#u'ocos& EmDie Bedeutung des Phallus,Lacan situa'a o
e#u'oco a partir da diferen$a entre sentido e referncia segundo Frege& Vocs podem di(er #ue Vnus + a "estrela da
manh%" ou a "estrela '+sper", trata*se da mesma Vnus& Essas duas descri$;es, essas duas significa$;es, s%o am)as
signo de Vnus& Vnus + o planeta #ue est ali #uando, na lngua, pode*se di(er "a estrela da manh%" ou "a estrela'+sper"& No 4eminrio 3C, "a falcia testemunha do real" est )em mais do lado do signo& O falo n%o se situa mais nos
efeitos de desli(amento .glissement/da significa$%o& =al desli(amento .glissement/'em marcar um modo de go(o #ue
permanece sempre o mesmo e #ue pode ser nomeado na lngua atra'+s dos "um" significantes pelos #uais a gente
sempre pode se enganar&
A conse#uncia disso + a apresenta$%o do corpo do falasser, do 'i'o, sem passar pela identifica$%o hist+rica #ue
mistura sintoma e sentido& O corpo do su2eito hist+rico + retalhado pelo significante, 2 #ue os sintomas hist+ricos se
apresentam so) o modo da perda& O corpo retalhado + a#uele #ue perde seu )ra$o pela paralisia hist+rica, o corpo #ue
perde sua perna, #ue perde sua 'o(& A esse corpo retalhado se op;e o corpo t-rico furado& O corpo como agenciamento
do real, do sim)-lico e do imaginrio se apresenta em torno de um ou dois furos, e se mant+m so(inho& O corpo t-rico +
uma representa$%o do corpo do 'i'o para al+m do corpo hist+rico& Nessa perspecti'a, pode*se distinguir o sintoma
como acontecimento de corpo e o sintoma hist+rico& Lacan o di( da seguinte maneira! "A diferen$a entre a hist+rica e eu
+ #ue a hist+rica + sustentada em sua forma de )ast%o . trique/ por uma armadura distinta de seu consciente, #ue + seu
amor por seu pai[1"& Para se manter unido o su2eito hist+rico, + preciso acrescentar um Nome*do*Pai& Isso n%o + mais
necessrio na 'ers%o da hist+rica chamada rgida, ( la8i0ous& "Freud tinha apenas algumas poucas ideias do #ue era o
inconsciente, mas parece #ue se pode dedu(ir #ue pensa'a #ue se trata'a de efeitos de significante& N%o lhe era fcil
isso, ele n%o sa)ia lidar .il ne sait pas faire/ com o sa)er& > sua de)ilidade mental, da #ual n%o sou uma e0ce$%o,
por#ue tenho a 'er com o mesmo material #ue todo o mundo, com esse material #ue nos ha)ita"[3Q& Nesse conte0to,
"material" + ainda apreendido do real do go(o& Lacan prop;e assim um inconsciente #ue n%o + mais constitudo de
efeitos dos significantes& Prop;e outra 'ers%o de um inconsciente #ue n%o + constitudo pelos efeitos do significante em
um corpo imaginrio, mas, sim, um inconsciente constitudo desse n- entre o imaginrio, o sim)-lico e o real& Inclui a
instncia do real #ue + a pura repeti$%o do mesmo, o #ue 6ac#ues*Alain 7iller, em seu Gltimo curso, isolou na dimens%o
do Sm*so(inho #ue se repete&
As trs consistncias e o acontecimento de corpo
Por isso, Lacan pode di(er, em "6oHce, o 4intoma"! "?ei0emos o sintoma ao #ue ele +, um acontecimento de corpo
ligado a #ue se o tem, se tem ares de [B Assim, indi'duos #ue Arist-teles toma como corpos podem n%o ser nada
al+m de sintomas, eles pr-prios, em rela$%o a outros corpos& Sma mulher, por e0emplo, + um sintoma de um outro
corpo"[31& Essa frase define a posi$%o feminina como o anti*Xsintoma hist+ricoW& =al defini$%o da posi$%o feminina
permite diferenci*la da histeria& uando isso n%o acontece, "ela permanece sintoma como o chamado sintoma
hist+rico, ou se2a, parado0almente, s- lhe interessa um outro sintoma"[33& Este era de fato o caso de ?ora #ue s- seinteressa'a por um outro sintoma, o do seu pai& Ela se identifica'a a seu pai, identifica'a*se impotncia de seu pai
sendo af
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o sintoma 'em se inscre'er no corpo ainda #ue se2a, nessa ocasi%o, tam)+m e0terior ao corpo& O sintoma est no
corpo& Ele n%o + endops#uico, est fora&
Em :ru0elas, Lacan come$a assim! "O #ue aconteceu com as hist+ricas de outrora, essas mulheres mara'ilhosas, as
Anna O&, as EmmH 'on N&@ Elas desempenha'am n%o apenas determinado papel, mas um papel social determinado& O
#ue su)stitui ho2e esses sintomas hist+ricos de antigamente@ A hist+rica n%o foi deslocada no campo social@"[3C! "A
malu#uicepsicanaltica a n%o teria su)stitudo@"& Ao colocar em primeiro plano o sim)-lico, a psicanlise n%o s-desmontou os artifcios do sintoma hist+rico, como tam)+m ocupa seu la$o& E ele nota o seguinte! "O inconsciente se
origina do fato de #ue a hist+rica n%o sa)e o #ue di( ao di(er 'erdadeiramente alguma coisa pelas pala'ras #ue lhe
faltam& O inconsciente + um sedimento de linguagem"& Lacan prop;e ent%o um hori(onte da psicanlise #ue n%o +
hist+rico 5 + o real como "ideia limite", a ideia do #ue n%o tem sentido& > isso #ue fe( com #ue 6ac#ues*Alain 7iller
pudesse #ualificar o real como um sonho de Lacan, alguma coisa como uma ideia limite, mas uma ideia limite
necessria para contra)alan$ar uma tendncia da psicanlise #ue + sua tendncia delirante 5 "a tendncia de uma
preferncia dada acima de tudo ao inconsciente"[3D& Por isso, nessa +poca, Lacan toca em alguma coisa de um real
#ue, para ele, n%o + o real cientfico, mas o real da su)stncia go(ante e considera ainda mais urgente proteger a
psicanlise de sua tendncia delirante #ue ele chama de "preferir o inconsciente acima de tudo"& Nesse 4eminrio, ele
d um e0emplo disso! #e erbier de l$!omme au loups, te0to pu)licado por Nicolas A)raham e 7aria =oro,
psicanalistas franceses ou, se #uiserem, neo*ferenc(ianos, #ue se propuseram a delirar com o homem dos lo)os indoatrs de todos os ecos dos significantes #ue o atra'essam, pelas homofonias e pelos e#u'ocos em todas as lnguas
por ele conhecidas! o russo, o alem%o, o dialeto 'ienense, etcB& 4%o todas essas ressonncias #ue eles chamam
de erbier."Ver)rio"/, termo #ue mescla 'erbiage."'er)orreia"/ e herbier."her)rio"/& > esse o)2eto #ue Lacan
considera propriamente delirante& Ele di(! "N%o considero, apesar de ter enga2ado as coisas nessa 'ia, #ue este li'ro,
nem seu prefcio, se2am de muito )om*tom& No gnero delrio + um e0tremo, e me assustei ao sentir*me mais ou menos
respons'el por ter a)erto as comportas"[3M& ?iante da a)ertura das comportas do significante, Lacan considera #ue a
Gnica coisa #ue poderia impedir a psicanlise de delirar era ter, sen%o uma cincia nela, ao menos a ideia de um real&
Ele constata #ue ela pode tocar um tipo de real& Ele delimita um fora*do*sentido #ue garante uma deten$%o da cadeia,
#ue permite n%o se dei0ar aspirar pelo inconsciente& O XXmaterialWW n%o + uma representa$%o, nem uma representa$;es
de pala'ras, mas pala'ras em sua materialidade& 4%o pala'ras em seus e#u'ocos fundamentais, o e#u'oco dos Sm*
desli(e .)ne%b&'ue/ e #ue s%o somente uma apro0ima$%o do real& Acompanhando Lacan, teramos uma chance deimpedir a psicanlise de delirar, com a condi$%o de n%o preferir uma das trs consistncias em detrimento das outras&
=rata*se de manter as trs 2untas, de n%o preferir uma em detrimento das outras, de n%o fa(er de uma um todo&
O VI ENAPOL ser a ocasi%o para desen'ol'er as conse#uncias do no'o status do sintoma e da identifica$%o atra'+s
de todo o campopsi& Sma lista desses aspectos 2 foi dada por Leonardo Yorosti(a! "al+m da dimens%o da psicanlise
pura, os temas mais presentes na Am+rica 5 a 'iolncia ou agressi'idade, o consumo generali(ado de drogas, os
chamados transtornos da alimenta$%o, as mudan$as de se0o nos corpos e da procria$%o, e seus efeitos nas normas, a
crise das normas familiares e dos c-digos ci'is para dar conta disso, a polmica so)re a pertinncia de psicanlise no
campo do autismo"& A comiss%o de organi(a$%o, com icardo 4eldes, 2 est tra)alhando para destacar as respostas
#ue damos a essas diferentes #uest;es atra'+s dos tra)alhos dos participantes&
3 de setem)ro de 3Q13
=radu$%o! Elisa 7onteiro
e'is%o! 4+rgio Laia
1& N&&=&! ENAPOL + a sigla paraEncontro mericano de Psicanlise de +rienta45o #acaniana&
3& N&&=&! No original, loi d$airain+ uma e0press%o utili(ada por Lassale, contemporneo de 7ar0, para se referir lei #ue, no capitalismo, redu( o salrio do operrio ao mnimo necessrio so)re'i'ncia&
C& N&&=&! no original, le manche, termo #ue, de modo mais fre#uente, designa o "ca)o", ou se2a, a parte onde sepega em um instrumento& Entretanto, a)elais, #ue + uma referncia importante para o Lacan do 4eminrio3C, utili(a tal termo para se referir ao "mem)ro 'iril"& Por isso, nossa op$%o de tradu(i*lo por "ferramenta"&
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7/24/2019 Falar Com Seu Sintoma, Falar Com Seu Corpo - Eric Laurent
7/7
D& LA8AN, 6&, #e seminaire6 #$insu que sait de l$une%b&'ue s$aile ( mourre .1*/, aula de 1 de no'em)ro de1, pu)licada em+rnicarnZ13, p& M&
M& LA8AN, 6& + Seminrio7 #i'ro 236 o sinthoma .1M*1/7 io de 6aneiro! 6orge ahar Editor, 3QQ, p& 1Q1&
& LA8AN, 6& + Seminrio7 #i'ro 236 o sinthoma .1M*1/, op7cit&, p& 1Q3&
& No dia 3 de fe'ereiro de 1, no =eatro dWOrsaH .8ompanhia enaud*:arrault/, aconteceu a primeira
apresenta$%o mundial de Portrait de ?ora, pe$a escrita por J+lKne 8i0ous&& ELLEN:EYE, J& la d&cou'erte de l8inconscient, 4I7EP, 1D .reeditado com o ttulo !istoire de
l8inconscient, FaHard, 3QQ1/&
& LA8AN, 6& + Seminrio7 #i'ro 236 o sinthoma .1M*1/, p& 1QC*1QM&
1Q& LA8AN, 6& + Seminrio7 #i'ro 236 o sinthoma .1M*1/, p& 3C&
11& LA8AN, 6& #e s&minaire 9:;