Falha Por Fadiga Torsional

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Capítulo 2 2.1 – Falhas por fadiga torsional. Histórico No início das construções das ferrovias os eixos de vagões ferroviários começaram a falhar após um pequeno período em serviço. Apesar de serem feitos de ferro fundido estes eixos exibiam características de fraturas frágeis nos pontos de falha. Em 1843 Rankine publicou um artigo sobre este assunto onde afirmou: “On the causes of the accidental breaking of the journals of originally sound railway axles and on the means of preventing it by observing the law of continuity in their construction” .Neste artigo ele afirmou também que o material havia “cristalizado” e se tornado frágil devido as tensões flutuantes. Os eixos haviam sido projetados com toda a perícia da engenharia disponível na época, porém os cálculos eram baseados em experiências decorrentes de estudos com estruturas carregadas estaticamente. Cargas dinâmicas eram, portanto, um fenômeno novo, resultantes da introdução das máquinas movidas a vapor. Esses eixos eram fixos às rodas e também giravam. Desse modo, a tensão de flexão em qualquer ponto da superfície do eixo variava ciclicamente entre valores positivos e negativos. Esse carregamento é denominado alternado. August Wöhler, engenheiro alemão, realizou a primeira investigação científica sobre o que estava sendo chamado de falha por fadiga, testando eixos até a falha, sob carregamento alternado. Ele publicou suas descobertas em 1870, as quais identificavam o número de ciclos de tensão como os causadores do colapso destes eixos e a descoberta da existência de um nível limite da tensão de flexão alternada (chamada de limite de fadiga). Abaixo deste valor limite os eixos toleravam infinitos ciclos de carga sem ruptura. O diagrama S-N ou Curva de Wöhler passou a ser a forma padrão para caracterizar o comportamento dos materiais submetidos a solicitações alternadas e continua sendo utilizado até os dias de hoje. O termo “fadiga” foi aplicado à situação recém descrita pela primeira vez por Poncelet em 1839. O mecanismo de falha até então incompreendido, e a aparência de uma fratura frágil na superfície de um material dúctil gerou especulações, que o

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falha

Transcript of Falha Por Fadiga Torsional

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    Captulo 2

    2.1 Falhas por fadiga torsional.

    Histrico No incio das construes das ferrovias os eixos de vages ferrovirios

    comearam a falhar aps um pequeno perodo em servio. Apesar de serem feitos

    de ferro fundido estes eixos exibiam caractersticas de fraturas frgeis nos pontos

    de falha. Em 1843 Rankine publicou um artigo sobre este assunto onde afirmou:

    On the causes of the accidental breaking of the journals of originally sound railway

    axles and on the means of preventing it by observing the law of continuity in their

    construction .Neste artigo ele afirmou tambm que o material havia cristalizado

    e se tornado frgil devido as tenses flutuantes. Os eixos haviam sido projetados

    com toda a percia da engenharia disponvel na poca, porm os clculos eram

    baseados em experincias decorrentes de estudos com estruturas carregadas

    estaticamente.

    Cargas dinmicas eram, portanto, um fenmeno novo, resultantes da

    introduo das mquinas movidas a vapor. Esses eixos eram fixos s rodas e

    tambm giravam. Desse modo, a tenso de flexo em qualquer ponto da

    superfcie do eixo variava ciclicamente entre valores positivos e negativos. Esse

    carregamento denominado alternado.

    August Whler, engenheiro alemo, realizou a primeira investigao

    cientfica sobre o que estava sendo chamado de falha por fadiga, testando eixos

    at a falha, sob carregamento alternado. Ele publicou suas descobertas em 1870,

    as quais identificavam o nmero de ciclos de tenso como os causadores do

    colapso destes eixos e a descoberta da existncia de um nvel limite da tenso de

    flexo alternada (chamada de limite de fadiga). Abaixo deste valor limite os eixos

    toleravam infinitos ciclos de carga sem ruptura. O diagrama S-N ou Curva de

    Whler passou a ser a forma padro para caracterizar o comportamento dos

    materiais submetidos a solicitaes alternadas e continua sendo utilizado at os

    dias de hoje. O termo fadiga foi aplicado situao recm descrita pela primeira

    vez por Poncelet em 1839.

    O mecanismo de falha at ento incompreendido, e a aparncia de uma

    fratura frgil na superfcie de um material dctil gerou especulaes, que o

  • 21

    material, de alguma maneira, apresentou cansao e fragilizou-se devido s

    oscilaes da carga aplicada. Whler, mais tarde, mostrou com ensaios de trao

    que cada uma das metades dos eixos quebrados ainda continuava to resistente e

    dctil como os originais.

    De qualquer maneira, o termo falha por fadiga permaneceu e ainda usado

    para descrever qualquer falha devido a cargas variveis no tempo. As falhas por

    fadiga constituem um custo significativo para a economia. O custo pode envolver

    tambm vidas humanas, como por exemplo, o primeiro avio a jato comercial de

    passageiros, o ingls Comet, que se despedaou em 1954 por causa de falhas por

    fadiga em sua fuselagem, conseqncia dos ciclos de pressurizao e

    despressurizao.

    Suponha que o material um metal dctil e, sendo manufaturado, no

    apresenta trincas, mas possui partculas, incluses, etc. E em seguida, que

    existam algumas regies de concentrao geomtrica de tenso (entalhes) em

    locais com tenses variantes no tempo. Conforme as tenses no entalhe oscilam,

    pode ocorrer escoamento local devido concentrao de tenso, mesmo que a

    tenso nominal na seo esteja bem abaixo do valor de tenso de escoamento do

    material. A deformao plstica localizada provoca distores e cria bandas de

    deslizamento (regio de intensa deformao causada por tenses cisalhantes nos

    cristais do material). medida que os ciclos de tenso ocorrem, novas bandas de

    deslizamento aparecem, formando-se as trincas. Mesmo na ausncia de um

    entalhe, este mecanismo ainda ocorre desde que se exceda o limite de

    escoamento em alguma regio do material. Vazios ou incluses servem como

    intensificadores de tenso para iniciar a trinca. Materiais menos dcteis no

    apresentam a mesma habilidade para escoar, e tendem a desenvolver trincas

    mais rapidamente sendo mais sensveis ao entalhe. Materiais frgeis

    (especialmente os fundidos), que no escoam podem anular esse estgio inicial,

    indo diretamente para a propagao da trinca em locais de existncia de vazios ou

    incluses, que atuam como trincas microscpicas.

    Cargas de Fadiga A forma da onda da carga em funo do tempo parece no ter nenhum

    efeito significativo na falha por fadiga na ausncia de corroso FILHO (2004).

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    Assim, geralmente descreve-se a funo do carregamento, esquematicamente,

    como uma onda senoidal ou em forma de dente de serra. Os fatores significativos

    so a amplitude e o valor mdio da onda de tenso-tempo (ou deformao-tempo)

    e o nmero total de ciclos a que a pea submetida.

    As funes tpicas da curva da tenso no tempo, experimentadas por

    mquinas rotativas, podem ser modeladas conforme a Figura 1. A Figura 1a

    representa o caso da tenso alternada, em que o valor mdio zero. A Figura 1b

    representa o caso da tenso pulsante, como a forma da onda varia de zero a um

    mximo o valor mdio igual componente alternada. A Figura 1c ilustra uma

    verso do caso mais geral, chamado de tenso variada, em que todas as

    componentes tm valor diferente de zero.

    0Tempo

    Tens

    o

    max

    min

    0

    (a)

    1

    0Tempo

    Tens

    o

    max

    min

    (b)

    0

    0Tempo

    Tens

    o

    max

    min

    (c)

    0

    Figura 1: Cargas de fadiga

    Estgio de Propagao de Trinca Quando uma trinca microscpica surge, o mecanismo da fratura entra em

    ao, criando concentrao de tenses, desenvolvendo, uma zona plstica na

    ponta da trinca. Cada vez que uma tenso de trao alonga a mesma, a trinca

    cresce um pouco. Quando a tenso de fadiga (ciclo de tenso) passa para um

    regime de tenso de compresso ou para uma tenso de trao suficientemente

    baixa, a trinca se fecha. O escoamento momentaneamente cessa e a trinca torna-

    se novamente pontiaguda, agora com um comprimento maior. Este processo

  • 23

    continua enquanto a tenso local estiver mudando de valores abaixo da tenso de

    escoamento para outros acima desta, na ponta da trinca [CHAWLA e MEYERS

    1999].

    Ento, o crescimento de trinca se deve a tenses de trao e se propaga ao

    longo de planos normais aos de tenso mxima de trao. Tenses cclicas

    quando so sempre de compresso, no iro contribuir para o crescimento da

    trinca, visto que as mesmas tendem a fechar a trinca, conforme Figura 2

    Figura 2: Evoluo da trinca devido fadiga. Fonte: NCODE (2010).

    A propagao subcrtica na fadiga ocorre sob tenses nominais inferiores

    aos limites de escoamento, porm, em pontos onde as tenses so extremamente

    localizadas superiores a este limite. Duas etapas se distinguem: nucleao e

    propagao da trinca. Entretanto, possvel ainda distinguir trs diferentes fases,

    que so funes da velocidade de propagao, conforme ilustrado na Figura 3.

    1) Fase inicial, que representa o comportamento no contnuo, considerando uma

    estabilizao da velocidade de propagao em funo do mecanismo de

    encruamento. Esta fase mostra um ponto inicial mnimo de fator de intensidade de

    tenso, K0 , abaixo do qual no ocorrer a propagao da trinca;

    2) Fase intermediria, que representa a velocidade de propagao constante;

    3) Fase final de propagao, que representa a acelerao final e ruptura.

    Cada uma destas fases influenciada principalmente por fatores como

    microestrutura, tenso mdia, corroso, freqncia, EWALDS (1985).

  • 24

    Figura 3: Estgios de crescimento da trinca. Fonte [MEYERS e CHAWLA, 1999]

    Falhas em navios construdos durante a 2 Guerra Mundial chamou a

    ateno de pesquisadores que aprimoraram os trabalhos j existentes. No final

    dos anos 50, os fundamentos da Mecnica da Fratura Elstica Linear foram

    consolidados, quando tambm o Engenheiro Paris lanou os conceitos da

    Mecnica da Fratura fadiga. Entretanto, a plastificao na ponta da trinca e a

    no aplicabilidade da Mecnica da Fratura Elstica Linear neste caso, levaram os

    pesquisadores a buscar alternativas de anlise [FILHO (2004].

    Irwin props uma extenso da Mecnica da Fratura Elstica Linear,

    enquanto Dugdale e outros propuseram modelos baseados na plastificao na

    extremidade da trinca. Rice desenvolveu o parmetro que caracteriza o

    comportamento no linear na ponta da trinca: a integral J, fundando a partir da a

    Mecnica da Fratura Elastoplstica. Ainda nos anos 60, no Reino Unido, Wells

    desenvolveu o parmetro CTOD (Crack Tip Opening Displacement), que comeou

    a ser utilizado na anlise de fraturas em estruturas soldadas. O desenvolvimento

    da Mecnica da Fratura avanou rapidamente nos EUA por fora das demandas

    da rea nuclear, enquanto no Reino Unido, por demandas da rea offshore. SHIN

    (1996) demonstrou a relao entre a integral J, utilizada nos EUA, com o CTOD,

    mais utilizado no Reino Unido, unindo os conceitos existentes e fundando a

    Mecnica da Fratura nos moldes de hoje [FILHO (2004].

  • 25

    Concentrao de Tenso INGLIS (1913) foi o primeiro a quantificar os efeitos da concentrao de

    tenso ao analisar os entalhes elpticos em placas planas. Nesta anlise obteve

    uma expresso que determina a tenso na extremidade do maior eixo da elipse,

    Figura 4. Considerou que as tenses no entalhe no eram influenciadas pelo

    contorno da placa, ou seja, a largura muito maior que 2a e o comprimento muito

    maior que 2b. A equao de tenso no ponto A dada por:

    1 2

    Que

    ao (1)

    sendo, / o raio de curvatura da ponta da elipse, a tenso, a tenso no vrtice da elipse, ilustrado na figura 4.

    Figura 4: Elipse representando a trinca no corpo de prova. [FILHO (2004].

  • 26

    De acordo com a Equao 1, o efeito de concentrao de tenses maior

    quanto mais aguda for a ponta do entalhe, ou seja, quanto menor for o raio de

    curvatura da elipse. [FILHO (2004].

    Fator de Intensidade de Tenso

    Na Figura 5 define-se os trs tipos de movimentos relativos das duas

    superfcies das trincas. Cada um desses modos est associado a um tipo bsico

    de campo de tenses na vizinhana da ponta da trinca, e qualquer problema de

    deformao na ponta desta, pode ser tratado como uma combinao desses

    modos de deslocamento. Dessa forma, o campo de tenses pode ser tambm

    tratado como a combinao dos trs tipos bsicos de campo de tenso. Em

    projeto, o modo I o mais importante, pois corresponde ao modo de falha por

    ruptura da maioria das peas trincadas, [DA ROSA, 2002].

    Modo I - Abertura Modo II - Cisalhamento Modo III - Rasgamento

    Figura 5: Modos de falha Fonte DA ROSA (2002).

    Na Mecnica da Fratura Elstica Linear, a trinca pode ser caracterizada em

    termos de um parmetro simples K, chamado fator de intensidade de tenso, para

    quantificar o campo de tenses em torno de uma trinca numa pea predominante

    elstica, [IRWIN, apud SOCIE, 2000].

    Cada modo est associado a um fator de intensidade de tenses: KI para o

    modo I; KII para o modo II e KIII para o modo III. O valor crtico de K I, chamado de

    KIC , uma propriedade do material e chamado de tenacidade fratura. Num

    certo ponto, o tamanho da trinca torna-se grande o bastante para aumentar o fator

  • 27

    de intensidade de tenso KI na extremidade da trinca, at o nvel da tenacidade

    fratura do material K IC, quando ocorre uma falha repentina.

    A separao, ou fragmentao de um corpo slido em duas ou mais partes,

    sob ao de tenses chamada fratura. O campo de fratura vasto e envolve

    diversas disciplinas como fsica de estado-slido, cincia dos materiais e

    mecnica do contnuo. A fratura de materiais com trinca pode ocorrer de vrias

    maneiras, principalmente por:

    - Aplicao lenta de foras externas;

    - Aplicaes rpidas de foras externas, como impactos;

    - Cargas cclicas, como fadiga;

    - Tenses internas, como tenses trmicas causada por anisotropia;

    - Efeitos de intempries, como corroso sob tenso [MEYERS e CHAWLA,

    1999].

    O processo de fratura pode, em muitos casos, ser dividido em categorias

    [MEYERS e CHAWLA, 1999]:

    - Acmulo de dano;

    - Nucleao de trincas e crescimento de trinca, este pode envolver

    coalescncia de trincas.

    Um tipo de fratura comumente encontrada a esttica, provocada por uma

    fora estacionria que no varia de magnitude e de ponto de aplicao e direo.

    A fora pode produzir tenso axial, compresso, cisalhamento, flexo ou toro,

    ou uma combinao dessas. Para ser considerada carga esttica ela no pode

    sofrer variao de nenhuma ao longo do tempo [SHIGLEY, 1984].

    Na prtica, considera-se falha esttica quando ela ocorre abaixo de

    ciclos. O que facilmente alcanado considerando por exemplo, o caso de um

    motor eltrico que gira a 3600 rotaes por minuto.

    O mecanismo de incio da trinca explicado pelas bandas de deslizamento

    que normalmente iniciam na superfcie de uma amostra ou componente atravs de

    pequenas fissuras microscpicas que servem como concentradores de tenso. A

    inverso da tenso causa, a cada ciclo, um aumento na trinca conforme ilustrao

    esquemtica nas Figura 6 e Figura 7. Na Figura 8 temos uma fotografia de uma

    superfcie com incio de trinca por fadiga no cobre.

  • 28

    Figura 6: Bandas de deslizamento. Fonte [BARBIERI, 2009]

    Figura 7: Ilustrao esquemtica das bandas de deslizamento. Fonte [Meyers,M.A. & Chawla apud

    BARBIERI, 2009]

    Figura 8: Micrografia das bandas de deslizamento. Fonte [Meyers,M.A. & Chawla apud BARBIERI,

    2009]

  • 29

    Maligno [MALIGNO, 2009] estudou o crescimento de trinca usando

    Elementos Finitos em trs dimenses e aplicou tcnica de malha adaptativa,

    remesh, para melhorar a preciso do modelo utilizado. Utilizou o Mtodo da

    Fratura Linear Elstica (LEFM) com fator de intensidade de tenso equivalente

    para o caso tridimensional , conforme Equao 2:

    1 Que ao(2)

    Onde o coeficiente de Poisson do material e KI, KII e KIII so coeficientes de intensidade de tenso para os Modos I, II e III, respectivamente. possvel ento

    expressar a equao de Paris atravs da Equao 3:

    ((3)

    Com a indicando o acrscimo da trinca em N ciclos com . As constantes C e m so parmetros obtidos experimentalmente para cada material.

    Maligno obteve os resultados mostrados na Figura 26 para o crescimento

    da trinca em aos aeroespaciais com alta tenso de ruptura:

    Figura 9: Flexo rotativa com toro constante: (a) tamanho da trinca versus nmero de ciclos

    calculado e medido, (b) aspecto do crescimento da trinca terico. Fonte [MALIGNO, 2009]

  • 30

    O autor tambm verificou que o seu modelo implementado concorda muito

    bem com o crescimento da trinca experimental aps incio da trinca macroscpica.

    Verificou ainda que no modelo em MEF a trinca inicia no Modo III e termina com

    ramificao no Modo I at a ruptura final.

    HARADA (1991) verificou em seus estudos que, embora muito utilizada, a

    regra de Miner para estimar o dano acumulado no traz bons resultados quando

    os modos de carregamento so modificados, por exemplo, do modo I, de trao,

    para o modo II, de cisalhamento.

    TSCHEGG (1983) mostrou que o padro do aspecto de falha muda

    dependendo do fator de intensidade de tenso KIII para o carregamento torsional

    de corpo de prova circular com entalhe para aos aeroespaciais.

    STANZL e TSCHEGG (1988) verificaram que com KIII constante a taxa de

    crescimento da trinca maior do que com KI constante se no h efeitos de

    contato entre as superfcies trincadas. Este resultado sugere que a frico entre as

    superfcies trincadas um importante fator na obteno da trinca por fadiga no

    modo III de carga para ao aeroespacial de alta resistncia.

    MAKABE, apud SOCIE (2000) estudou os mecanismos de crescimento de

    trinca de materiais pr-trincados sob fadiga torsional com e sem tenso esttica de

    trao usando ao 4340. Observou que todas as trincas iniciam paralelas ou

    perpendiculares a direo axial. Para o caso de toro pura os planos de novas

    trincas so os de mxima tenso cisalhante. A Figura 10 mostra o crescimento de

    trinca com toro pura a1, a2 e a3 respectivamente aps 350, 500 e 1000 ciclos. E

    toro com tenso de trao para as figuras b1 a b3 entre 500e 2000 ciclos.

    Segundo Makabe, h trs tpicos padres de crescimento de trinca

    observado aps a ramificao da trinca, exemplos disso so mostrados na Figura

    10 (a) o incio da trinca no cilindro, a trinca do lado direito da figura foi parada

    porque uma trinca surgiu na direo longitudinal. Para o caso de toro pura,

    Figura 10 (b), e de toro com trao a trinca se estende at o tamanho de alguns

    gros antes de ramificar.

    Na Figura 11 a1, a2 e a3 mostram a situao da trinca para 350, 500 e

    1000 ciclos respectivamente similarmente para as figuras b1, b2 e b3 que indicam

    estgios de trinca para toro pura e os pontos indicados como o indicam o incio

    da trinca, b o ponto onde ocorre a ramificao e o ponto c indica os planos de

  • 31

    mxima tenso cisalhante. Pode-se ver o aspecto da trinca com tenso de

    compresso (a), sem compresso (b) e com trao (c).

    Figura 10: Observao contnua do crescimento da trinca para ao 4340. Fonte: MAKABE,

    apud SOCIE, 2000.

    Figura 11 : Padres tpicos observados no crescimento da trinca para ao 4340. Fonte:

    MAKABE, 2001.

  • 32

    Ainda, segundo MAKABE (2001) o desenvolvimento microscpico da trinca

    influenciado e est diretamente ligada a estrutura cristalina e as bandas de

    deslizamento. Enquanto a trinca cresce, bandas de deslizamento so formadas

    nas direes verticais e horizontal na vizinhana da trinca. As linhas em 45 na

    Figura 11 b mostram a direo perpendicular mxima tenso cisalhante.

    Tambm observou que a trinca no necessariamente simtrica depois da

    ramificao.

    A Figura 12 mostra uma representao esquemtica do crescimento de

    trinca para o ao 4340. No primeiro estgio do crescimento da trinca as bandas de

    cisalhamento so iniciadas e dependem das condies de tenso e deformao.

    No caso de fadiga por toro pura, o crescimento da trinca na direo da

    mxima tenso principal macroscpica, os traos na horizontal e vertical

    representam os planos de deslizamento durante a propagao da trinca.

    Figura 12: Representao esquemtica do crescimento de trinca por fadiga torsional no ao 4340.

    Fonte [CARBONEL, 1986]

    [CARBONEL, apud SOCIE, 2000] verificou que o crescimento de pequenas

    trincas sob toro, de baixo ciclo, em aos de mdio carbono similar ao

    crescimento de trincas sob fadiga em trao-compresso.

    [MURAKAMI, 1998] examinou o limite de fadiga e os modos de

    crescimento de trinca para fadiga torsional de corpos de prova com uma pr-trinca

  • 33

    feita obtidas com um furo de 40m de dimetro e 40m de profundidade para ao

    carbono com 0,47% de carbono. Murakami props que para fadiga sob trao-

    compresso com pequenas trincas obtm-se o limite de fadiga atravs da regra

    chamada pelo autor de atravs da Equao 4:

    0,65 Equao (4)

    sendo definido como raiz quadrada da rea da pr-trinca projetada no plano perpendicular a mxima tenso cisalhante, o coeficiente de tenacidade a fratura mximo, e a tenso nominal.

    Murakami verificou que o efeito de um pequeno furo no corpo de prova

    submetido a flexo rotativa, ou a fadiga por trao-compresso equivalente a

    pequena trinca tendo . O mesmo no se aplica a fadiga torsional. Murakami verificou ainda que para fadiga torsional, a trinca propaga no

    modo II depois ramificando no modo I. A Figura 13 mostra a trinca propagando

    (crescendo) no modo II (a), o valor de para o modo II diminui, ento a trinca no modo II para de propagar e a trinca continua no modo I em forma de

    ramificao (b) e (c). Em alguns casos, apenas trincas no modo I foram

    observadas. Foi observado ainda que em alguns casos o ngulo da ramificao da

    trinca no constante, provavelmente devido ao espalhamento cristalogrfico da

    orientao dos gros em frente a trinca.

    [LUKAS, 2002] estudou vida em fadiga torsional, para altos ciclos, (mais de

    10 ciclos) e mostrou as maiores diferenas entre dano por fadiga entre baixo e alto ciclo. Ele mostra que a deformao plstica em alto ciclo restrito a apenas

    alguns gros, onde os demais gros esto em puro estado elstico. A maior regio

    afetada pela plasticidade est localizada na superfcie, onde os gros so mais

    solicitados em comparao com os gros do interior do material. Tambm

    verificou que teste de fadiga ultra-snica para diversos materiais incluindo aos,

    ligas de alumnio, ligas de titnio, compsitos tem uma acentuada reduo no

    limite de fadiga entre 10 e 10 ciclos.

  • 34

    Figura 13 Incio de crescimento de trinca no modo II e ramificaes no modo I. Fonte Murakami.

    [BAYRAKTAR, 2010] estudou fadiga torsional em alto ciclo usando

    equipamento de teste de fadiga ultra-snico baseado em um sistema piezoeltrico

    com freqncia de 20KHz, em temperatura ambiente, com sistema de ventilao

    para no aumentar demasiadamente a temperatura do corpo de prova, com

    alumnio 2-AS5U3G-Y35 e ao AISI52100, largamente utilizado na indstria

    automobilstica em motores. Os ensaios foram realizados com tenso senoidal, e

    1. Os ensaios de fadiga em altos ciclos indicam que a trinca inicia em escalas

    abaixo dos tradicionais limites de fadiga previsto pela clssica Curva de Wohler S-

    N. Os resultados foram comparados com testes convencionais de fadiga por

    toro a 35Hz, e no foi notado diferenas significativas nos resultados, exceto

    pelo grande espalhamento nos resultados entre 10 e 10 ciclos.

  • 35

    A Figura 14a mostra os resultados para o alumnio 2-AS5U3G-Y35 e ao

    AISI52100 na Figura 14b. O espalhamento maior ocorreu principalmente no ao

    devido a alta resistncia e, neste caso a homogeneidade da microestrutura tem

    papel fundamental, onde foram observados incluses de tamanhos variados.

    Figura 14: Comparao entre resultados para altos ciclos e baixos ciclos com ao e alumnio.

    Fonte [BAYRAKTAR, 2010]

    O aspecto da fratura dos corpos de prova demonstram boa concordncia

    com os mecanismos de fadiga por toro descritos anteriormente conforme

    mostrado na Figura 15 (a) e (b) para o alumnio. No detalhe do crculo vemos a

    trinca no modo III e sua continuidade no Modo I

    Figura 15: Aspecto da falha no corpo de prova. Fonte [BAYRAKTAR, 2010]

    O aspecto de falha para o alumnio com mxima tenso cisalhante de

    70MPa, em toro mostrado na Figura 16 em duas fotografias (a) e (b).

  • 36

    Figura 16: Aspecto da falha no alumnio. Fonte [BAYRAKTAR, 2010]

    O aspecto de falha para o ao AISI52100 mostrado na Figura 17, e

    segundo Bayraktar, a incrustao do detalhe em (a) a principal causa da falha.

    Em (b) e (c) so mostradas aproximaes desta incrustao. A incrustao

    mostrada na Figura 17c composto principalmente de magnsio e silcio

    representado pelos dois picos da anlise de microscopia, isso resulta em

    deformao plstica em torno da incrustao, formando uma rea facetada

    Figura 17: Efeito da incrustao na falha Fonte [BAYRAKTAR, 2010].

    Nos corpos de prova de alumnio 2-AS5U3G-Y35 e ao AISI52100 quando

    submetido a fadiga tosional, o crescimento da trinca se deu sempre no modo II,

  • 37

    isso sugere que a iniciao da trinca ocorre onde a tenso principal maior. Para

    o alumnio, sob carregamento torsional, o incio da trinca sempre no modo II e o

    crescimento da trinca no modo I.

    Quando ocorre o incio da trinca, a tenso local aumenta, e diferentes

    estados de tenso se formam em torno da trinca. A tenso a 45 excede o limite

    de escoamento, assim a fratura ocorre normal ao plano de tenso, produzindo a

    tpica fratura por fadiga torsional.

    Segundo Socie [SOCIE, 2000] as maiores aplicaes para os Modos II e III

    na fadiga por toro. Socie diz que a microtrinca na superfcie carregada no

    Modo II e nas trincas mais profundas no Modo III conforme Figura 18.

    Figura 18: Fadiga por toro Modo II nas proximidades da superfcie e Modo III nas trincas mais

    profundas. Fonte [SOCIE, 2000]

    Para os demais pontos sem trinca, Socie diz que ocorrem os Modos II e III

    simultaneamente. Fadiga torsional combinada com trao, ou flexo pode produzir

    combinaes dos Modos I, Modo II e Modo III. O Modo II de trinca tambm ocorre

    em problemas de fadiga por contato, conhecido como fretting onde a trinca

    formada abaixo da superfcie.

    Tipicamente os aspectos macroscpicos da fadiga por toro revelam

    vrios Modos de falha, dependendo do material e nvel de tenso. Eles so

    ilustrados na Figura 19.

    Figura 19: Possveis modos de falha. Fonte [SOCIE, 2000]

  • 38

    Fadigas transversais, formadas ao longo da circunferncia da barra

    normalmente ocorrem em altas tenses alternadas para a maioria dos materiais.

    Normalmente so irregulares e freqentemente alternam entre planos paralelos.

    Tenses intermedirias usualmente produzem trincas longitudinais, essas podem

    ocorrer ao longo de toda a barra, mas no so muito profundas. Trincas espirais

    ocorrem usualmente a altos ciclos em planos de mxima tenso principal,

    normalmente em Modo I.

    ZHIZHONG (1992) fez vrios testes em ao a 0,4% de carbono com vrios

    tratamentos trmicos e construiu um mapa dos tipos de falha em funo da dureza

    e da tenso em fadiga torsional com 1. Estes resultados esto ilustrados na Figura 20.

    Figura 20: Mapa do tipo caracterstico de trincas em fadiga torsional para ao carbono com 0,4%

    de carbono. Fonte [ZHIZHONG, 1992].

    Na regio marcada como sem trincas representa a combinao de altas

    tenses de escoamento e baixa amplitude da tenso cisalhante e o material no

    sofre dano por fadiga, ou seja, teoricamente no falha nunca. A linha que separa a

    regio Sem trincas e Trincas espirais representa o limite de fadiga para vida

    infinita em funo da dureza (ou da tenso de escoamento do material). As

    demais regies sugerem o tipo de trinca predominante esperado em funo da

    tenso de escoamento do material e da amplitude da tenso cisalhante aplicada.

  • 39

    TSCHEGG (1983) estudou o processo de formao da trinca para ao

    carbono, com carregamento torsional e mostra o processo de crescimento da

    trinca para pea com entalhe em forma de V em torno da circunferncia da barra,

    conforme ilustrado na Figura 21

    Como a pea entalhada, ou seja, tem um sulco inicial sugerindo uma pr-

    trinca, o mecanismo de propagao da trinca sempre no Modo III. O modo misto

    de ramificaes ilustrados pela Figura 21 (a) causa uma certa aspereza na

    superfcie devido a micro trincas longitudinais. Na Figura 21 (b) mostra abraso e

    dano por fretting, formando micro trincas perpendiculares a propagao da

    mesma. A formao de detritos conforme Figura 21 (c) observada

    frequentemente devido a formao de xidos. Esses processos permitem a trinca

    transferir parte da tenso cisalhante atravs da superfcie.

    SOCIE (2000) nos traz ainda que os Modos II e III de propagao de trincas

    provocam superfcies irregulares e as foras de frico so as principais

    responsveis pela determinao da taxa de crescimento da trinca. Uma

    conseqncia disso que a taxa de crescimento no est unicamente ligada ao

    Fator de Intensidade de Tenso. No Modo I, a tenso tende a abrir a trinca,

    reduzindo o efeito de frico e fazendo com que esse modo tenha grandes taxas

    de crescimento de trinca. Para pequenas trincas, o efeito de frico pode ser

    desprezado.

  • 40

    Figura 21: Pea com entalhe e modos de crescimento de trinca, Fonte [TSCHEGG apud SOCIE,

    2000]

    TANAKA (1997) estudou a influncia da frico no modo III de crescimento

    de trinca para ao 1045, com limite de escoamento de 580MPa obteve o grfico

    da Figura 22.

    Tanaka usou corpo de prova de ao 1045 tubular para obter os modos I e II.

    Ele encontrou que a taxa de crescimento para ambos os modos o mesmo com

    carregamento 1. Tanaka estudou tambm o alumnio 7075 e comparou os resultados no Modo I, com R=0 e Modo II, com 1 e verificou que o Modo I fica defasado por um fator 2 para a direita conforme Figura 23:

  • 41

    Figura 22: Taxa de crescimento de trinca em funo do tamanho da trinca no modo III. Fonte

    [TANAKA, 1997]

    Figura 23: Crescimento de trinca para alumnio 7075 e ao 1045. Fonte [TANAKA, 1997]

  • 42

    Tanaka conclui que devido aos modos I e II ter a mesma taxa de

    crescimento possvel alguma combinao de carregamentos com um Fator de

    Intensidade de Tenso equivalente entre os modos.

    RITCHIE, apud Socie (2004) realizou experimento em relao ao efeito de

    sobrecargas durante o ensaio de fadiga torsional, este observou que a sobrecarga

    altera a zona plstica na ponta da trinca, causando efeito de diminuir a taxa de

    crescimento de trinca para o Modo I, conforme ilustrado na Figura 24.

    Figura 24: Efeito de sobrecarga na taxa de crescimento de trinca para o Modo I. Fonte RITCHIE,

    apud Socie, 2004]

    Ritchie observou ainda que para o caso do Modo III, a sobrecarga produz

    efeito contrrio, acelera o crescimento da trinca porque quebra, reduz a aspereza

    conforme mostrado na Figura 25.

  • 43

    Figura 25: Efeito de sobrecarga para fadiga sob o modo III. Fonte RITCHIE, apud Socie, 2004]

    Testes conduzidos por HURD, apud Socie (2004) mostram o efeito da

    frico na taxa de crescimento de trinca nos Modos I e III para ao 4340

    explicados pela equao de Paris, Equao 5 onde Y o fator de geometria para

    o Modo III de carregamento:

    Equao (5)

    sendo a variao da tenso, Y o fator de forma, C e m so constantes do material. A Figura 26 mostra a diferena na taxa de crescimento de trinca para os

    carregamentos nos Modos I e Modo III.

    BENTHEM e KOITER, apud SOCIE (2000) desenvolveram uma soluo

    para clculo da tenso nominal e do Fator de Intensidade de Tenso no Modo III a

    partir do torque T e da geometria do entalhe. Estes resultados esto resumidos

    nas Equaes 6 e na Figura 27.

  • 44

    Figura 26: Diferena na taxa de crescimento de trinca para Modos I e III. Fonte [HURD, apud

    Socie, 2004]

    2

    38

    ,1 12 38

    516 35128

    0,208

    Equao (6)

    KLUBBERG (2009) estudou fadiga em ferro fundido cinzento GJL-250. Os

    testes foram conduzidos com tenso axial em barras redondas polidas e brutas.

    Os ensaios foram feitos em um pulsador de alta freqncia de 100KN e obteve as

    seguintes concluses: Produzir peas leves e finas discutvel porque na prtica,

    os clculos convencionais da resistncia desse tipo de material torna o projeto

    inseguro no caso de solicitaes alternadas que provoquem fadiga.

    ,

  • 45

    Figura 27: Fator em funo do comprimento da trinca. Fonte BENTHEM E KOITER, apud

    SOCIE, 2000]

    Klubberg estudou o efeito da tenso mdia, no excedendo o limite de

    escoamento e os resultados esto no grfico da Figura 28. Vale chamar a ateno

    para o fato da tenso mdia negativa menor que zero afetar o limite de fadiga,

    aumentando-o.

    Klubberg verificou ainda que o acabamento superficial no altera

    significativamente a vida em fadiga no caso do ferro fundido, e que esse fica com

    uma vida estimada reduzida em torno de dez por cento conforme Figura 29.

  • 46

    Figura 28: Efeito da tenso mdia no ensaio de fadiga axial no Ferro Fundido. Fonte [KLUBBERG,

    2009]

  • 47

    Figura 29: Efeito do acabamento superficial para corpos de prova polidos e com superfcie bruta de

    fundio. Fonte [KLUBBERG, 2009]

    WANG (1991) estudou o efeito da tenso mdia na fadiga torsional em ao

    inoxidvel e verificou que todas as trincas iniciaram (Estgio I) no Modo II e tinham

    um padro cristalogrfico de faces lisas. Verificou que a taxa de crescimento da

    trinca cresce rapidamente com o aumento da tenso mdia.

    O padro de falha observado com tenso mdia de 84MPa (a) e sem

    tenso mdia (b) ilustrado na Figura 30.

    (a) (b)

    Figura 30: Padro de falha encontrado com tenso mdia (a) de 84Mpa e sem tenso mdia (b).

    Estgio I Estgio I

  • 48

    Wang observou que aps o trmino do estgio I, com Modo II de trinca, a

    propagao pode ocorrer conforme a Figura 30a e Figura 30b, dependendo de

    haver tenso mdia ou no respectivamente. Wang concluiu que para materiais

    isotrpicos o efeito da tenso mdia simtrico, ou seja, independe do sentido

    (polaridade) da tenso mdia aplicado. Verificou ainda que durante o Modo I,

    estgio II, a tenso mdia reduz significativamente a vida total, devido a influencia

    no tamanho da zona plstica.

    DOQUET (1997) realizou experimentos para estudar fadiga de tubos finos

    de liga Co45Ni e verificar o crescimento da trinca por fadiga torsional, e por trao-

    compresso. Concluiu que para fadiga torsional, a profundidade da trinca na

    superfcie bem menor, porm mais comprida. A ausncia de tenso abrindo a

    trinca, em toro, explica o longo estgio I, onde as micro trincas crescem no

    Modo II, comparado ao caso de trao-compresso onde elas crescem em Modo I

    e II de forma mista. Nas fotografias tiradas por Doquet, verificou que no caso de

    toro, no estgio I, a tenso transmitida atravs da rugosidade da trinca que

    esto em contato, conforme ilustrado na Figura 31.

    Figura 31: Superfcie da trinca: transmisso de tenso feita pela rugosidade da trinca. Fonte

    [DOQUET, 1996]

    Doquet concluiu ainda que o incio da trinca transgranular o principal

    mecanismo de crescimento da trinca em trao-compresso e que gros grandes

    facilitam o incio da trinca.

    Para toro a trinca transgranular ocorre, mas com um gap em relao a

    trao-compresso, explicada pela lenta propagao ao longo das ligaes dos

    gros na ausncia de foras abrindo a trinca. Assim, a ligao dos gros

    fundamental na resistncia do material em fadiga torsional.

    Direo

    axial

  • 49

    Sob fadiga torsional ocorre ainda iniciao de trinca intergranular, j que a

    transgranular dificultada por no haver abertura da trinca.

    Fadiga usualmente envolve inicializao e crescimento de trinca at um

    tamanho crtico. Em materiais como ao, ferro ou alumnio, o processo de

    iniciao ocorre por deslizamento de planos cristalinos. A maioria das anlises em

    fadiga est concentrada nos metais citados. A no linearidade mostrada por

    elastmeros e polmeros torna o estudo desses materiais mais difcil. Efeitos termo

    mecnicos tambm causam alguma dificuldade [BISHOP & SERRATT, 1990].

    Trs mtodos para estimar a vida em fadiga so mais utilizados. Os dois

    primeiros no levam em considerao o processo de fadiga inteiro, usam conceito

    de analogia para determinar o nmero de ciclos at a falha, e considera a perda

    de rigidez do componente. Neste caso considera-se que h relao direta entre o

    estudo feito no corpo de prova e a pea que est em servio, assumindo assim,

    condies idnticas entre ensaio no laboratrio e pea em servio. Os dois

    primeiros mtodos utilizam analogia para determinar o nmero de ciclos at a

    falha: Falha definida como um tamanho de trinca pr-determinado, ou perda de

    rigidez, ou separao do componente em dois ou mais fragmentos.

    O primeiro baseado na tenso, chamado Vida em Tenso, ou mtodo S-

    N. O segundo e mais recente baseado na deformao, tambm conhecido como

    Manson-Coffin. O terceiro e mais recente mtodo desenvolvido o mtodo da

    Mecnica da Fratura Linear Elstica, MFLE, este mtodo assume que o

    crescimento da trinca proporcional a intensidade de tenso aplicada, que

    funo do comprimento da trinca, geometria e nvel de tenso.

    Recentemente tem-se adotado o mtodo dos elementos finitos para prever

    a vida em fadiga. Atravs desse mtodo obtm-se uma aproximao da vida em

    fadiga antes mesmo da construo do prottipo. [BISHOP e SERRATT, 2000]

    Vida em tenso A formulao da vida em tenso (S-N) normalmente usada para estimar a

    vida total. A vida estimada para alguma parte do componente julgada

    representativa. Fatores oriundos da geometria definem o ponto relevante para

    anlise. Tradicionalmente este pode ser obtido de tabelas e grficos de Fator de

  • 50

    Concentrao de Tenso. Este mtodo aplicado apenas a problemas de alto

    ciclo, ou baixa tenso.

    Vida em deformao A formulao de vida em deformao assume que a tenso causa

    deformao elstica em todas as partes do componente, implicando em menores

    tenses locais. O mtodo mais preciso para fadiga de baixo ciclo.

    2.1.1 Mtodo de propagao de trinca

    Se a trinca j existe, esta deve ser levada em considerao e mtodos

    adequados devem ser usados. Primeiro necessrio conhecer o tamanho da

    trinca para estimar o crescimento da trinca, em, por exemplo, milmetros por ciclo.

    Segundo necessrio saber quanto a trinca pode crescer sem causar falha

    catastrfica. Ambos so tratados pela mecnica da fratura Linear elstica. O fator

    fundamental desse processo o fator de Intensidade de Tenso na ponta da

    trinca, que depende do tamanho da trinca e da tenso nominal prximo a ponta da

    trinca e o fator Y conhecido como funo de amplificao. Y depende da

    geometria do componente e obter sua expresso analtica difcil por conta da

    singularidade na ponta da trinca.

    DAVOLI (2003) estudou o efeito da tenso mdia em ensaios de fadiga

    torsional para ao 39NiCrMo3, e concluiu que para altos ciclos, a tenso mdia

    no tem efeito significativo sobre a vida do corpo de prova, desde que no se

    exceda o limite de escoamento durante o ensaio. Seus ensaios foram baseados

    nos experimentos de SMITH (1939) que realizou estudos sobre o limite de fadiga

    em toro de vrios metais, incluindo aos, ligas de alumnio e bronze. Davoli

    observou que apenas aparecem sinais de trinca macroscpicos ao final do ensaio,

    onde ento, em poucos ciclos a pequena trinca nucleada e propagada na

    direo perpendicular a mxima tenso cisalhante, propagando ento no Modo II e

    ramificando no Modo I. A trinca tpica mostrada na Figura 32 onde uma pequena

    diferena na orientao para as diferentes tenses mdias foram observadas:

  • 51

    Figura 32: Padro de falha para a) 0 , b) 45, c) 90 com 255. Fonte [DAVOLI, 2002]

    MCCLAFLIN e FATEMI (2004) estudaram o comportamento de tubos de

    paredes finas de ao carbono temperado, segundo estes autores os limites das

    tenses cisalhantes em materiais frgeis so comumente estimados a partir de

    informaes de tenses axiais como Mxima Tenso Principal ou empregando o

    Critrio de Coulomb-Mohr. McClaflin e Fatemi utilizaram como definio para o

    incio da trinca, um incremento de 10% na amplitude do torque. No entanto devido

    a fragilidade do material, alguns corpos de prova quebraram antes dos testes

    serem interrompidos. Foi observado que o tempo de crescimento da trinca

    pequeno, ficando quase que todo o tempo de ensaio para a nucleao da trinca

    devido a pequena tenacidade do material. Eles observaram que no h diferena

    significativa no grfico S-N para eixos macios e ocos, para materiais frgeis

    conforme ilustrado na Figura 33.

    McClaflin e Fatemi sugerem que este no deve ser o caso de materiais

    dcteis porque a trinca cresce na superfcie e lentamente propaga para o interior

    do corpo de prova. Observaram ainda que a tenso mdia tem efeito significativo

    na vida do corpo de prova e que quando submetidos a compresso durante o

    ensaio, a vida aumenta devido a foras de frico quando a trinca est formada. O

    aspecto de falha mostrado na Figura 34 onde se observam trincas nos Modos I e

    II. Este comportamento j era esperado devido parede fina dos tubos e o

    mecanismo de dano por fadiga o cisalhamento.

  • 52

    Figura 33: Curva S-N para tubo e para eixo macio. Fonte [MCCLAFLIN, 2004]

    Figura 34: Aspecto de falha dos tubos Adaptado de [MCCLAFLIN, 2004]

    McClaflin e Fatemi verificaram ainda que o Critrio de Von-Mises produz

    melhores resultados com relao aos critrios recomendados para materiais

    frgeis. No entanto, os Critrios de Tresca e da Mxima Tenso Principal tambm

    deram bons resultados satisfatrios. O critrio de Goodman, com Von-Mises no

    representa bem os efeitos da tenso mdia na fadiga torsional.

    Taylor [TAYLOR, 1999] estudou o efeito de falha por fadiga em virabrequins

    automotivos de ferro fundido nodular com toro e flexo, que combinados com a

    geometria do componente geram um campo de tenses complexo. Seus estudos

    foram feitos empregando o Mtodo dos Elementos Finitos donde verificou que

    este mtodo produz bons resultados e relativamente simples e rpido de ser

    Modo I

    Modo II

  • 53

    usado em geometrias e casos complicados. Porm nem todas as concentraes

    de tenses podem ser perfeitamente analisadas. MURAKAMI e ENDO apud

    Taylor (1999) em seus estudos concluram que todos os defeitos pequenos na

    superfcie podem ser tratados como trincas com profundidade equivalente. No h

    base terica para essa concluso, mas isso foi testado com muitos experimentos

    obtendo bons resultados.

    Taylor estendeu estes estudos para toro pura e verificou que esta tcnica

    prediz corretamente a vida em fadiga, o limite de fadiga e a direo do incio da

    trinca. Taylor verificou ainda que o refinamento da malha no altera

    significativamente os resultados obtidos.

    Em outro trabalho, TAYLOR (1999) verificou que no h variao

    significativa no limite de fadiga de corpos com entalhe e corpos que j contm

    trinca para ferro fundido nodular submetidos a fadiga torsional. SHEPPARD (1991)

    obteve resultados similares para este material.

    MURAKAMI (2008) estudou a origem da trinca por fadiga no Modo II e

    concluiu que esse modo de fadiga ocorre na superfcie ou logo abaixo dessa.

    Murakami investigou tambm o crescimento da trinca nos Modos II e III sob

    carregamento de toro em baixo ciclo, atravs de e e a influncia do

    vcuo nestes modos para ao a 0,47% de carbono.

    Murakami verificou em seus corpos de prova que aps o aparecimento de

    trinca no Modo II, ao longo da direo axial, a trinca ramifica para o Modo I e

    continua a propagao at a falha conforme ilustrado na Figura 35(a) para 0

    ciclos, at (d) para 1750 ciclos.

    No vcuo ou no ar, a nica diferena notada por Murakami que no ar, a

    trinca no Modo II mais espessa devido a oxidao. Na maioria dos casos, a

    ramificao se deu em 45, essa a direo perpendicular a mxima tenso principal . Porm em alguns corpos de prova, a ramificao se deu em outros ngulos, isso devido ao problema da singularidade na ponta da trinca 3D no Modo

    II. Murakami cita alguns autores que discutem este aspecto.

  • 54

    Figura 35: Crescimento da trinca observado por Murakami, inicia no Modo II, ramifica para o Modo I

    at a falha. Fonte [MURAKAMI, 2008]

    Finalmente no Handbook da ASM sobre fadiga esto catalogados os modos

    de falha em fadiga torsional mostrados na Figura 36. As falhas podem ocorrer no

    modo I (a), modo II (c) e modo III (b).

    Figura 36: Aspectos Macroscpicos da falha por fadiga em toro. Adaptado de ASM Handbook

    apud Shigley, 2006.

    a b c