Farrazine 2013 - Edição 05

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Entrevista com Felipe Cagno Entrevista com Lucas Sfair Design Gráfico nas HQ’s HQ’s vão à Universidade HQ Justiça Conto - A Galeria

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Estamos de volta, e nesta edição trouxemos o Felipe Cagno (entrevistado sobre o seu projeto bem-sucedido no Catarse, a HQ Lost Kids), o cantor Lucas Sfair da banda Namorada Belga, o personagem Justiça (criado pelo João Guilherme, da Blue Comics). E Falamos também um pouco sobre o Design em Quadrinhos e seus expoentes maiores, cobrimos a Jornada Internacional de Histórias em Quadrinhos, que ocorreu na USP, e ainda trouxemos, como de praxe, o excelente conto A Galeria. Quem quiser fazer parte do Farrazine, basta escrever para [email protected]. Manda pra gente aquele texto que você escreveu, ou aquela HQ que você desenhou e não sabe como mostrar pro mundo, pode deixar que a gente mostra pra todo mundo, e quem sabe não tem alguém tipo Stan Lee, Dan Didio ou Joe Quesada lendo a revista... hein, hein?! Baixe agora, leia online e divulgue para todos os seus amigos!

Transcript of Farrazine 2013 - Edição 05

  • Entrevista com Felipe Cagno

    Entrevista com Lucas Sfair

    Design Grfico nas HQs

    HQs vo Universidade

    HQ Justia

    Conto -A Galeria

  • NDICE

    Editorial .................................................02Entrevista - Felipe Cagno.......................03Conto - A Galeria ...................................06As Histrias em Quadrinhos Vo Uni-versidade ................................................07Design Grfico nas Histrias em Quadri-nhos - Parte II ........................................08Entrevista - Lucas Sfair ..........................12

    EDITORIALNo vou tapar o sol com a peneira, voc, amado leitor, j deve ter percebido que a Farrazine no tem aparecido com muita periodicidade em suas vidas. Mas no por descaso com vocs, nossos amados leitores, e sim porque a vida assim.

    Voc sabia que todas as revistas pelo mundo afo-ra esto em crise? No mundo inteiro h publica-es fechando, matrias interessantes rareando e leitores parando de ler (o que no ser nosso caso, n?!).

    E como no poderamos ficar de fora das tendn-cias, tambm passamos por uma fase difcil, mas isso no quer dizer que iremos fechar as portas. Ento, agora no seu monitor tem um trabalho apaixonado, e no remunerado, de uma pequena equipe de obcecados, que no se importa com a crise, pois com ou sem ela aqui tem um trabalho apaixonado.

    Ns trouxemos nesta edio o trabalho de ou-tros apaixonados como ns, o Felipe Cagno (en-trevistado pelo Baltazar sobre o seu pro-jeto bem-sucedido, a HQ Lost Kids), o Baltazar entrevistou tambm o cantor Lucas Sfair da ban-da Namorada Belga, e apresentamos o maravi-lhoso trabalho de uma editora nacional, a Blue Comics, com o persona-gem Justia (criado pelo Joo Guilherme). Falamos tambm um pouco sobre o Design em Quadrinhos e s e u s expoentes maiores, a Keliene cobriu a Jornada Internacional de Histrias em Quadrinhos, que ocorreu na USP, e ainda temos, como de praxe, um excelente con-to da Rita Maria.

    Ou seja, ainda estamos por aqui, hoje e sempre... e enquanto dure.

    Obrigado

    O Editor

    EXPEDIENTE

    Editor Geral: Cleson Cruz | Editor de Arte: Bruno Romero | Divulgao &

    Marketing: Adilson Santos

    Colaboraram nesta edio: Cleson Cruz (Texto do Editorial e do Design Grfico nas Histrias em Quadrinhos - Parte II, Diagramao da Capa, da Entrevista com Felipe Cagno, da Entrevista com Lucas Sfair e do Editorial), Artur Baltazar (Texto das Entrevistas com Felipe Cagno e Lucas Sfair), Bruno Romero (Diagramao do Conto A Gale-ria, de As Histrias em Quadrinhos Vo Univer-sidade e de Design Grfico nas Histrias em Qua-drinhos - Parte II), Rita Maria (Texto do Conto A Galeria), Keliene Christina (Texto de As Histrias em Quadrinhos Vo Universidade) e Editora Blue Comics (tudo na HQ Justia).

    Farrazine uma publicao online distribuda gratuita-mente, sem custo algum, na camaradagem, no ganha-mos niente. As matrias so de inteira responsabilidade de seus autores, se querer que algum seja demitido, que sejam eles, ou se for processar algum, processem a eles e no aos editores... Ah, e tem mais, as imagens sem crditos de autoria so retiradas do Super Google. Se quiser fazer parte da equipe do FARRAZINE, escreva para [email protected].

    [email protected] fb.com/Farrazine @Farrazine PapiroDigital.com

  • RF Como surgiu a ideia para o projeto?

    FC - Surgiu de uma vontade incrvel que eu tinha quando tinha uns 11 anos de idade e participava daquelas excurses escolares. Toda vez que eu estava no nibus com a classe fazendo aquela baguna eu me via pensando E se este nibus inteiro fosse parar em um mundo fantstico?Eu sempre joguei games da srie Final Fantasy e Zelda, assistia Caverna do Drago e um dos meus filmes favoritos Goonies. A ideia ento surgiu de juntar tudo isso em um projeto s e o resultado foi o Lost Kids.

    RF - Recentemente houve um bafaf televisivo sobre a influncia dos jogos na mente das crianas. Voc joga desde criana? Embora haja controvrsias (pela lgica ficaria rico jogando Banco Imobilirio), h aspectos da sua personalidade influenciados pelos jogos?

    FC - Jogo sim, desde os seis anos de idade e foi um dos principais fatores de eu aprender ingls to cedo e ser fluente aos treze anos de idade, esse foi um aspecto da minha personalidade influenciado pelo jogo.Alm disso, jogar games como Final Fantasy e Zelda estimulou e muito minha criatividade e imaginao. Esse bafaf televisivo uma tremenda de uma asneira e eu acredito sim que games sejam uma forma de entretenimento to vlida quanto filmes, HQs e livros. Mas claro, que como tudo na vida, preciso ser regrado. Nada em excesso saudvel, e obviamente o videogame deveria ser mais uma opo de entretenimento e no um vcio.

    RF Como foi o processo criativo?

    FC - Intenso e bastante turbuloso. Tudo comeou durante um curso de roteiro quando desenvolvi a ideia original em um roteiro cinematogrfico. Passei trs anos trabalhando apenas no roteiro sob a tu-tela de dois professores de roteiro, depois levei ele para meus chefes em duas produ-toras de Cinema e por fim fiz workshops e laboratrios em cima dele.Com o roteiro do filme Lost Kids afinadinho, fui aconselhado a adapt-lo para outro formato antes, para agregar pblico e valor diante do mer-cado.

    Hoje ns temos como entrevistado um brasileiro que est fazendo sucesso l fora. Roteirista de mo cheia ele tem o talento cativante de reunir artistas ao seu redor. Recebam Felipe Cagno. Escritor, Diretor e Produtor atualmente trabalhando no filme Bala Sem Nome e no quadrinho The Lost

    Kids: Buscando Samarkand.

  • Um filme desses custaria mais de $100 milhes de dlares e nunca seria feito por um roteirista estreante, ento, me aconselharam a primeiro lanar o Lost Kids como livro ou graphic novel. Como sou apaixonado por quadrinhos e sempre tive vontade de trabalhar neste mercado alm do Cinema, minha profisso, no tive dvidas e comecei todo o processo de produo da HQ. Estudei e li livros sobre este novo formato enquanto entrava em contato e conhecia alguns ilustradores na rede social DeviantArt. Felizmente, a comunidade de artistas me recebeu super bem e me permitiu reunir uma equipe bastante talentos a para o trabalho. A partir da foram trs intensos anos de trabalho supervisionando a arte de todos e fazendo o trabalho editorial para que o resultado final fosse uma histria coesa.

    RF - Qual a proporo do trabalho de cada artista na HQ?

    FC - O Lost Kids um roteiro fechado, um arco completo, mas para facilitar a produo e torn-la vivel, me vi obrigado separar a histria em oito edies.Cada edio tem uma equipe criativa, um ou dois artistas trabalhando nos traos e outro nas cores. Todos trabalhavam a partir do roteiro assinado por mim e eu fazia a ponte entre ilustradores e coloristas.Com as pginas todas prontas e coloridas, iniciei o trabalho dos bales e letras.

    RF - De qual parte disso tudo voc sente mais orgulho?

    FC - De ter chegado at aqui com a HQ finalizada. Desde a concepo da ideia no papel em 2005 at a ltima pgina entregue este ano foram oito anos, muito tempo, muita dedicao e muita teimosia tambm.E me enche de orgulho ver a HQ 100% finalizada e conquistando seu pblico.

    RF - Houve momentos em que pensou em desistir da histria?

    FC - Houve sim, com certeza. O processo todo foi longo e rduo, toda vez que algo no dava muito certo ou aparecia um contra-tempo, eu pensava sim em desistir da hist-ria mas felizmente foi a histria que nunca desistiu de mim, estes personagens pediam para terem esta aventura contada.

    RF Segundo minhas pesquisas, Samarkand uma cidade no Uzbequisto que fica na Rota da Seda entre a China e a Europa. O que levou a ideia Lost Kids para l?

    FC - Exatamente, Samarkand foi uma das principais cidades da Rota da Seda e foi apelidada de Encontro das Culturas pela UNESCO em 2001. E foi este apelido que me atraiu. Dentro da mitologia proposta no Lost Kids e no mundo fantstico, Samarkand o bero da Cultura, onde todo o conhecimento moderno nasceu.Ainda no explorei esta ideia na HQ mas eu quis criar uma conexo entre os dois mundos atravs de uma cidade real, uma cidade como Samarkand, uma cidade que pudesse existir nos dois mundos.

    RF - Como foi a reunio de tantos artistas para este projeto?

    FC - Ela foi acontecendo naturalmente, alis, eu nunca planejei ter tantos artistas envolvidos nesta HQ mas diante do tamanho dela, mais de 200 pginas, me vi obrigado a cada vez mais buscar ajuda para aqueles que j estavam trabalhando na minissrie.A nica maneira que encontrei de fi-nalizar a minissrie toda dentro de um cronograma foi dividindo o trabalho. O DeviantArt sempre foi a casa do Lost Kids e todos os contatos foram feitos dentro da comunidade, com exceo dos artistas bra-sileiros Rafael De Latorre e Wilton Santos, estes eu conheci pessoalmente atravs da Quanta Academia, escola de Artes especia-lizada em Quadrinhos na cidade de So Paulo.Quanto mais o projeto ia ganhando corpo dentro do DeviantArt e conquistando fs, mais fcil foi se tornando

  • para atrair artistas talentosos.RF - E o processo de troca de idias? (J que so tantas as nacionalidades desses artistas)

    FC - Em 2010 eu me juntei a trs artistas para criar toda a identidade visual dos personagens e lugares. Os ilustradores Ben & Joey Vazquez e o Designer de Concept Tony Holmsten foram os mais envolvidos no processo de ideias iniciais e de realmente cimentar todo o conceito da minissrie.Os trabalhos deles foram publicados no livro Art of Lost Kids: Seeking Samarkand, publicado nos EUA no mesmo ano.A partir deste livro, todos os artistas que iam chegando j tinham uma noo de como desenhar os personagens, como era este mundo, qual era a proposta da fantasia, etc. E sob a minha direo e superviso, eles traziam suas ideias para cada edio e interpretao dos roteiros. Era meu trabalho e responsabilidade me certificar que a histria fosse contada de forma linear sem se perder ou sem manter a continuidade.Mas eu sempre ouvi e estive aberto s novas ideias e muitas delas esto presentes na HQ, esta parte visual eu fazia questo de dar liberdade aos ilustradores porque muitos traziam aspectos interessantes da prpria cultura e da prpria arte. E essa mistura de nacionalidades, e de culturas, foi algo que trouxe uma originalidade que sozinho eu nunca conseguiria bolar.

    RF Se por um lado enriqueceu o trabalho, por outro... Eu no sei, me diga voc: Qual foi o pior contratempo que tiveram com a HQ?

    FC - O pior contratempo foi o prprio tamanho da mini-srie, duzentas pginas muita coisa e demorou muito mais do que gostaria para finalmente estarem finalizadas. Coordenar o trabalho de todos para uma linearidade tambm foi bem difcil, exigir os mnimos detalhes da histria e da continuidade dos artistas algumas vezes significava recomear uma pgina do zero o que sempre era muito desmotivador.Manter a moral e vontade de todos os envolvidos tambm foi um contratempo.

    RF - Alm de Lost Kids h algum outro projeto rolando por cima de sua mesa de trabalho?

    FC - Atualmente estou em ps-produo do meu primeiro longa-metragem, o suspense Bala Sem Nome com Paolla Oliveira, Leopoldo Pacheco, Srgio Marone e Guta Ruiz. Estou roteirizando o meu prximo filme, uma comdia romntica com um protagonista fantico por quadrinhos. At aqui tem sido um roteiro muito bacana de escrever pois tm me dado oportunidades muito legais de injetar algumas paixes em um gnero que normalmente dominado por aspectos femininos. E se por acaso o Lost Kids vier ser lanado no Brasil, se a meta do Catarse for atingida e permitir isso, eu j tenho uma prxima HQ engatilhada. Ainda preciso escrever o roteiro mas as idias j esto l, seria uma histria de espionagem no comeo do sculo XX e provavelmente em edio nica de no mais que sessenta pginas.

    RF O que dizer para as pessoas para que se sintam instigadas a conhecer o mundo de Lost Kids?

    FC - Se deixem conquistar pela HQ, invistam em um produto nacional. Mesmo que o Lost Kids seja lanado l fora e tenha tantos artistas internacionais, ainda assim foi realizada por um brasileiro, de um roteiro de um brasileiro e com artistas brasileiros tambm. Fico um pouco frustrado de saber que o Lost Kids ser lanado l nos EUA mas aqui o lanamento ainda seja incerto, eu sou brasileiro, eu quero lanar primeiro aqui no Brasil, conquistar o pblico daqui antes. Valorize as HQs nacionais, tem tanto brasileiro arrebentando nos principais quadrinhos gringos, se eles valorizam o nosso produto, porque ns mesmos no fazemos isso? O Lost Kids uma emocionante aventura com personagens cativantes, se proponha a conhec-los melhor e a visitar todo um mundo novo.

    PS: A Lost Kids chegou a mais de 80% do necessrio e teve uma segunda chance no Catarse, e a sim conseguindo extrapolar em muito a meta. Ou seja, ela ser lanada este ms no mercado nacional.

    Parabns!!

  • A GALERIAPor Rita Maria Felix da Silva

    A voz do advogado era montona, spera e deix-ava escapar um tom de falsidade. Ayla sentia-se incomodada enquanto aquele homem falava: Os termos so claros, Sra. Mitzis. No testamen-to, seu pai, o Baro de Lankera, deixa-lhe todo o patrimnio. A nica condio que mantenha esta galeria. Isso conclu meu trabalho. Passar bem.Inquieta, Ayla Mitzis tentou dormir aquela noite na manso. H dez anos, quando as diferenas entre ela e o pai tornarem-se, numa hiptese otimista, alm de qualquer conciliao, o Baro expulsou-a dali, deserdou-a e jurou querer v-la morta. No havia ningum no mundo que a odi-asse mais. Ento, por que mudar o testamento e benefi ci-la agora? noite, que parecia estra-nhamente silenciosa, no deu resposta alguma.Pensou na galeria no poro. 64 quadros. Gra-vuras pintadas pelo prprio Baro, emoldura-das e cobertas com um estranho vidro azul. Contava-se muita coisa sobre aquele nobre, di-ziam que era um mago e ajudava pessoas apri-sionando o medo delas. Bobagem supersticiosa! Ayla nunca deu importncia a essas histrias.Fechou os olhos pedindo que o sono viesse logo, mas, ento lembrou do quadro nme-ro 31... Sra. Nadiya Nikolayevna Korovin... A imagem de um monstro indizvel... O vid-ro trincado. Escutou algo se despedaar, como uma enorme vidraa atacada com fria. Para a polcia, os empregados da manso contaram sobre barulhos animalescos e gritos horrveis, mas a porta do quarto de Ayla estava trancada e nada que eles fi zeram conseguiu abri-la. Aps alguns minutos, a porta destravou-se, como por mgica, e o corpo de Ayla Mitzis, viva de Karl Mitzis (fa-moso comerciante e o maior inimigo do Baro de Lankera), foi encontrado em exatos 128 pedaos.Na galeria do poro, um quadro despencara da parede e sua moldura jazia no piso de mr-more. Vidro azul espalhado por toda a parte.

    FIM

  • As histrias em quadrinhos vo Universidade

    por Kelie

    ne Chris

    tina da S

    ilva

    Certa vez Will Eisner escreveu que as histrias em quadrinhos estavam saindo do gueto, ele no er-rou. Percebemos hoje um grande leque de produ-tos que vez por outra remetem-se a elas, como cinema, sries de TV, adaptaes literrias para quadrinhos, ou mesmo eles servindo de referncia para a criao de livros. At na onda de protestos de junho eles apareceram, e ati re a primeira pe-dra o f de Allan Moore que no senti u uma certa alegria no corao (por mais leve que tenha sido) ao perceber as mscaras do personagem V em meio multi do! Os quadrinhos deixaram de ser um material direcionado para um pblico seleto, os nerds no so mais seus nicos leitores, nem mesmo essa categoria mais to marginalizada as-sim (que o digam os personagens de The Big Bang Theory). Assim como tem ocorrido em outros es-paos, os quadrinhos vem ao longo dos anos con-quistando reconhecimento na rea da Educao, tanto no nvel bsico quanto no superior. A in-cluso de vrios t tulos na lista do PNBE (Programa Nacional Biblioteca da Escola) e o aparecimento, cada vez mais frequente, de pesquisas acadmicas sobre histrias em quadrinhos, demonstram como a ateno sobre elas vem crescendo. Eventos acadmicos especfi cos sobre o tema vem sendo realizados, como o 2 Jornadas Internacionais de Histrias em Quadrinhos, que ocorreu entre os dias 20 e 23 de agosto na USP, re-unindo pesquisadores de todas as partes do Brasil

    e de outros pases. A primeira edio do evento, re-alizada no ano de 2011 j foi um sucesso, mas esta segunda superou a primeira. Ao longo dos quatro dias de evento sete livros tericos foram lanados, assim como duas novas edies de obras j conhe-cidas, mais de 200 pesquisadores de diversas partes do Brasil e de outros pases expuseram suas pesqui-sas e trs convidados internacionais atuaram como palestrantes. Tudo isso levou a confi gur-lo como o maior congresso sobre histrias em quadrinhos da Amrica Lati na. No se tratava de uma conveno (nada contra as convenes), cheia de fs caracterizados dos seus persongens favoritos, feiras de trocas de HQs ou card games, concurso de cosplay, ou Quizz com direito a premiaes recheadas de exemplares raros e edies de luxo. Foi um encontro acadmico envolvendo pesquisas elaboradas de acordo com as exigncias de qualquer outro trabalho desen-volvido dentro da universidade. A variedade das abordagens expostas pelos pesquisadores e a pro-fundidade das palestras demonstraram o nvel de seriedade (enfi m!) com que as histrias em quad-rinhos passaram a ser encaradas pela universidade, mesmo sabendo que h um longo caminho a ser percorrido para superar os preconceitos ainda ex-istentes, a sensao que tal evento fornece de que as trilhas esto sendo abertas e que o futuro da pesquisa sobre quadrinhos amplo e produti vo. Eisner fi caria orgulhoso...

  • RF Gostaria de comear com uma pergunta das mais bsicas para todo o f. Com surgiu a Namorada Belga?

    LS - Da forma mais bsica para todas as bandas. Amigos que se conheceram na faculdade e trocaram algumas aulas por composies, acreditaram naquilo e decidiram gravar e divulgar. A formao original comea pelo trio de compositores Allan Falcone (guitarra), Eduardo Karas (guitarra) e Lucas Sfair (vocal), em seguida acompanhados por Eduardo Rosa (baixo), Veiga (bateria) e JP (trompete). Os primeiros acordes foram em 2008, mas a banda veio mesmo a se firmar com nomes e agenda de shows no incio de 2011.

    RF Como foi a escolha de um nome para a banda?

    LS - Muito difcil. Por ter um estilo bem livre de composio, o critrio bsico na escolha do nome que ele no definisse o nosso som. Foi um brainstorm que durou mais de um ms, com vrios debates e polmica entre o grupo. Por um acaso, Namorada Belga surgiu com uma sonoridade ldica e despretensiosa, mais ou menos como a gente lida com as composies. O conceito, a companhia perfeita at quando voc quer ficar sozinho veio depois, a partir da escolha. No existe histria por trs do nome, mas sim por trs das canes. A histria da Namorada Belga contada todos os dias.

    RF O clipe da msica Guaran foi filmado em Curitiba e o vdeo de mais acesso da banda no YouTube, seguido de perto por Latinoamrica. Como foi o processo de estdio?

    LS - Gravar um vdeo, para o pblico em massa, chega a ser mais importante para divulgar uma banda do que o prprio CD. Veja s: nosso disco foi lanado no comeo de 2011, j o clipe de Guaran foi no final do mesmo ano, enquanto o de Latinoamrica foi na metade de 2012. A gente j tinha o disco fazia mais de um ano, mas muitos fs apareceram dizendo Muito legal essa nova msica da Namorada Belga. Mas no era nova. Nosso disco foi produzido por Plinio Profeta e estas duas msicas no estavam na lista dos potenciais hits para ganharem um videoclipe. Mas como somos uma banda independente, as coisas vo meio que acontecendo. No que a gente no se planeje, pelo contrrio, mas as coisas so bastante flexveis e muitas vezes acabam tomando um rumo prprio.

    RF Qual dos dois deu a maior sensao de dever cumprido?

    LS - O clipe Guaran foi roteirizado aps um ensaio, bem rapidamente, pelo baixista Eduardo Rosa, e foi produzido e dirigido por Vinnicius Gennaro. Apesar dos improvisos (cmera nica), ele foi mais planejado do que o de Latinoamrica, que surgiu de forma espontnea durante uma visita minha para o Chile e a Bolvia. Tanto que o clipe foi gravado de forma amadora, com iPhone 4S e GoPro. Foram imagens soltas captadas a partir da compra da mscara do personagem principal, o El Cachengue, tambm inventado em cima da hora para ilustrar a viagem. Gosto dos dois. Guaran por ter ficado muito profissional apesar da falta de equipamento, e Latinoamrica por no ter sido planejado e mesmo assim contar uma histria bastante divertida.

    RF Vocs j tocaram no Lupaluna, um festival de msica super disputado, ao lado de Paralamas do Sucesso, Vanessa da Mata, Marcelo D2 e Marcelo Camelo, e internacionais como Sublime e The Cult. Como foi essa experincia?

    LS - Foi um festival que realmente pesa no currculo. Conhecemos uma galera nos bastidores, trocamos ideia com o B. Nego, com o pessoal do Teatro Mgico, tivemos a oportunidade de trocar ideia com quem vive disso h tempo. Serviu para dar confiana e ao mesmo tempo para divulgar nosso material para um pblico mais abrangente.

    RF Qual foi o maior frio na barriga na hora de tocar para uma plateia?

    LS - Frio na barriga sempre gerado por alguma expectativa. Ele sempre acontece pra mim antes de eu comear a cantar. Me sinto bem confortvel quando abro a boca, mas antes do show comear chega a embrulhar o estmago. No parece, duvido que o pessoal da banda note. Talvez seja tenso, imaginando que se relaxar demais as coisas vo fugir ao controle. Mas engraado e difcil de responder por todos, pois h shows em que cada um sente uma coisa. Depende da ocasio, dos retornos, do sistema de som estar regulado... J tocamos em SESCs, Teatros, bares, casas de shows e churrascos. Toda vez que subimos no palco, sabemos o que vai acontecer. Geralmente quando uma msica nova que a gente ainda no t 100%, d mais medo durante a apresentao. Alis, aqui percebo que o frio na barriga no apenas varia de um show pra outro, mas tambm de uma msica para outra no repertrio da mesma noite.

    RF As pessoas, com o advento de sons com o Funk Brasileiro e o Sertanejo Universitrio, vm sendo menos exigentes quanto ao que escutam. Como voc v o cenrio da MPB hoje?

    LS - A MPB s uma raiz que permite a gente germinar um outro tipo de som. Criolo, Tulipa, Apanhador S,

    Exclusivamente para essa edio do Farrazine, o vocalista da banda curitibana Namorada Belga, Lucas Sfair, fala sobre seu

    trabalho e o crescimento da banda que tem feito vrios fs, no s no Paran, mas pela Amrica Latina.

  • Banda Gentileza, Vanguart, Mveis Coloniais de Acaju, a Banda Mais Bonita da Cidade, entre outras dezenas de artistas encontram seu espao para tocar o que gostam e felizmente, com a internet, encontram seu nicho para divulgar e construir um pblico fiel. Sinceramente, no sei onde essa gente que consome s Sertanejo Universitrio e Funk Brasileiro se abastece de cultura, porque com a internet no tem mais desculpa. Ningum obrigado a escutar nada, se esto recebendo este tipo de informao porque esto buscando ela. Ou no esto buscando outra.

    RF E como voc v o crescimento da Namorada Belga nesse meio?

    LS - Natural. Com trabalho, esforo e algumas tacadas certas a gente vai se estabelecendo. Banda independente no tem conforto em estrada, no recebe patrocnio fcil pra bancar gravaes de discos e clipes. Ento a gente segue fazendo o que a gente gosta, porque sucesso isso. E fama consequncia. Acho que s trabalhar direito e divulgar sem medo, porque algum vai acabar gostando.

    RF Alm da Namorada Belga, voc e os outros integrantes tm empregos paralelos. Em que medida isso interfere na carreira musical?

    LS - Interfere tanto para o bem quanto para o mal. No depender do dinheiro da msica para se sustentar proporciona uma liberdade criativa e tira presso dos ombros pelo sucesso, pra no se vender. A banda acaba virando um refgio para o artista que h em cada integrante. Ou seja, tem essa realizao. Mas ao mesmo tempo que ganha em criatividade, perde em pique. Temos que respeitar horrios de ensaio e agenda de shows precisam ser sempre bem conversadas, pois h sempre uma prioridade entre os 6 da banda que fazermos o show com a formao original, sem msicos contratados.

    RF Quais os planos para o fim de 2013 e o inicio de 2014?

    LS - Estamos com o projeto Namorada Belga toca Chico & Tom, que uma releitura danante e animada, mais rock n roll dos clssicos da msica brasileira. Ah, aqui me refiro ao Buarque e ao Jobim. Reconstruir as composies deles foi muito gostoso e trabalhoso e nos ensinou a tocar em conjunto como nunca. Finalmente nos conhecemos melhor musicalmente e encontramos o ponto certo que vai guiar os arranjos do nosso prximo lbum, que j est todo praticamente composto (tem msicas de sobra), mas ainda est no comeo da produo. O objetivo agora lanar vdeos ao vivo do Chico & Tom, at o fim de 2013, e no primeiro semestre de 2014 lanar o prximo material autoral.

    Muito obrigado pelo espao, Revista Farrazine.

    Quem quiser acompanhar a banda s acessar facebook.com/namoradabelga.

    Muito obrigado,

    Lucas Sfair

    Clique na imagem abaixo, ou no link a seguir, para assistir o clipe da msica Guaran: http://www.youtube.com/watch?v=TPu_uobql3k

  • [email protected]

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