Fascículo 14 · 2016-02-18 · Unidade 39 | A poesia no Modernismo e na ... Principais grupos:...

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Fascículo 14 Unidades 38, 39 e 40 Edição revisada 2016

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Fascículo 14Unidades 38, 39 e 40Edição revisada 2016

GOVERNO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Governador

Luiz Fernando de Souza Pezão

Vice-Governador

Francisco Oswaldo Neves Dornelles

SECRETARIA DE ESTADO DE CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO

Secretário de Estado

Gustavo Reis Ferreira

SECRETARIA DE ESTADO DE EDUCAÇÃO

Secretário de Estado

Antônio José Vieira de Paiva Neto

FUNDAÇÃO CECIERJ

Presidente

Carlos Eduardo Bielschowsky

FUNDAÇÃO DO MATERIAL CEJA (CECIERJ)

Coordenação Geral de Design Instrucional

Cristine Costa Barreto

Elaboração

Julia Fernandes Lopes

Marco Antonio Casanova

Silvana dos Santos Ambrosoli

Atividade Extra

Janaina de Oliveira Augusto

Julia Fernandes Lopes

Maria da Aparecida Meireles de Pinilla

Roberta Campos de Carvalho Pace

Revisão de Língua Portuguesa

Julia Fernandes Lopes

Coordenação de Design Instrucional

Flávia Busnardo

Paulo Miranda

Design Instrucional

Flávia Busnardo

Lívia Tafuri Giusti

Coordenação de Produção

Fábio Rapello Alencar

Capa

André Guimarães de Souza

Projeto Gráfico

Andreia Villar

Imagem da Capa e da Abertura das Unidades

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phtml?f=view&id=992762 – Majoros Attila

Diagramação

Equipe Cederj

Ilustração

Bianca Giacomelli

Clara Gomes

Fernado Romeiro

Jefferson Caçador

Sami Souza

Produção Gráfica

Verônica Paranhos

Sumário

Unidade 38 | A língua portuguesa e as manifestações culturais africanas 5

Unidade 39 | A poesia no Modernismo e na Literatura Contemporânea 47

Unidade 40 | Modernismo e contemporaneidade nos textos em prosa 95

Prezado(a) Aluno(a),

Seja bem-vindo a uma nova etapa da sua formação. Estamos aqui para auxiliá-lo numa jornada rumo ao

aprendizado e conhecimento.

Você está recebendo o material didático impresso para acompanhamento de seus estudos, contendo as

informações necessárias para seu aprendizado e avaliação, exercício de desenvolvimento e fixação dos conteúdos.

Além dele, disponibilizamos também, na sala de disciplina do CEJA Virtual, outros materiais que podem

auxiliar na sua aprendizagem.

O CEJA Virtual é o Ambiente virtual de aprendizagem (AVA) do CEJA. É um espaço disponibilizado em um

site da internet onde é possível encontrar diversos tipos de materiais como vídeos, animações, textos, listas de

exercício, exercícios interativos, simuladores, etc. Além disso, também existem algumas ferramentas de comunica-

ção como chats, fóruns.

Você também pode postar as suas dúvidas nos fóruns de dúvida. Lembre-se que o fórum não é uma ferra-

menta síncrona, ou seja, seu professor pode não estar online no momento em que você postar seu questionamen-

to, mas assim que possível irá retornar com uma resposta para você.

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pondente a ele.

Bons estudos!

A poesia no Modernismo e na

Literatura Contemporânea

Fascículo 14

Unidade 39

Língua Portuguesa e Literatura 49

A poesia no Modernismo e na Literatura ContemporâneaPara início de conversa...

Enfim, chegamos ao Modernismo!!!

Rio + 20: documento final aprovado, mas há insatisfação

( DNCiência on line. in http://www.dn.pt/inicio/ciencia/interior.aspx?content_

id=2618663)

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Paquera no trabalho pode revelar profissional insatisfeito

(Veja online - Ciência . inhttp://veja.abril.com.br/noticia/ciencia/homens-que-flertam-no-trabalho-podem-estar-insatis-

feitos-com-a-profissao)

Mais de 60% dos jovens brasileiros dizem estar insatisfeitos com o corpo

(Jornal O Dia - online. in http://odia.ig.com.br/portal/cienciaesaude/mais-de-60-dos-jovens-brasileiros-dizem-estar-insa-

tisfeitos-com-o-corpo-1.452942)

Pois é! A insatisfação sempre encontra espaço no cotidiano das pessoas, não é? Mas é essa insatisfação que faz

“o mundo girar”, criar novas propostas, inventar coisas novas! E novos estilos de vida! E de arte, de poesia, como no

Modernismo, no século XX, e mais tarde, na Literatura Contemporânea. Esses são os movimentos que iremos estudar

nessa unidade. Podemos começar?

Objetivos da aprendizagem:

� Reconhecer o conceito de poesia no Modernismo e na Literatura Contemporânea a partir da análise de textos.

� Estabelecer relações entre textos de épocas diferentes, situando aspectos do contexto histórico, social e

político do Brasil.

� Relacionar as concepções poéticas das várias fases do Modernismo.

� Reconhecer as várias manifestações poéticas na Literatura Contemporânea.

Língua Portuguesa e Literatura 51

Seção 1Modernismo: da insatisfação à ruptura

O Modernismo foi um movimento que se insurgiu contra o passado, o academicismo representado, principal-

mente, pelos estilos que dominavam as últimas décadas do século XIX.

Claro que ele não aconteceu de um dia para o outro. Esse movimento se insere num processo social e histórico de

reformulações, que refletem as inquietações e surpresas do progresso e do dinamismo que caracterizavam o século XX.

A Semana de Arte Moderna é considerada o marco fundador do Modernismo brasileiro. Entretanto, houve

uma sucessão de movimentos significativos que prenunciavam o evento: exposições, publicações de livros e artigos

em jornais anunciando a nova estética e até a articulação para que a semana se realizasse no ano do Centenário da

Independência (1922). Significativo, não?

E assim aconteceu. A Semana de Arte Moderna ocorreu entre os dias 13 e 18 de fevereiro, no Teatro Municipal

de São Paulo, com a participação de artistas do Rio de Janeiro e São Paulo.

Figura 1: Capa do catálogo da Se-mana de Arte ModernaFonte: http://upload.wikimedia.org/wiki-pedia/commons/8/8a/Semana_de_arte_moderna_1922.jpg.

Figura 2: Importantes figuras do Modernis-mo em 1922: Mario de Andrade (sentado à frente), Anita Malfatti (sentada ao centro) e Zina Aita (à esquerda de Anita)Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Arte--moderna-1922.jpg

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Não sabemos definir o que queremos, mas sabemos discernir o que não queremos.”

Aníbal Machado

Estas palavras expressam, perfeitamente, o espírito da Semana de 22, marcado pela liberdade de criação, por

uma forte consciência nacional, pela destruição da velha ordem. É um momento de maturidade e novos rumos artís-

ticos. São Paulo treme!!! Manuel Bandeira propaga:

Poética (fragmentos)

Estou farto do lirismo comedido

do lirismo bem comportado

(...)

Estou farto do lirismo que para e vai averiguar no dicionário o cunho vernáculo de

um vocábulo

Abaixo os puristas

(...)

Não queremos mais saber do lirismo que não é libertação.

O ano de 1922 não é apenas a realização da Semana de Arte Moderna. Outros fatos importantes, e também

decisivos, acontecem marcando a sociedade brasileira:

� Março: fundação do Partido Comunista.

� Julho: rebelião dos tenentes do Forte de Copacabana (Os 18 do Forte).

� Setembro: comemoração do Centenário da Independência do Brasil e, na ocasião, é realizada a primeira

transmissão radiofônica em nosso país.

� Novembro: Artur Bernardes, eleito, toma possa como presidente da nossa nação, em pleno estado de sítio.

Língua Portuguesa e Literatura 53

Estado de sítio

Suspensão temporária dos direitos e garantias constitucionais de cada cidadão e a submissão dos Poderes Legislativo e Ju-

diciário ao Poder Executivo a fim de defender a ordem pública. O Poder Executivo assume todo o poder que é normalmente

distribuído em um regime democrático.

É também nessa década de 20 que assistimos à eleição do futebol como paixão nacional e à consolidação do cine-

ma como diversão. Tornam-se hábitos frequentar a praia, passeios na rua, danças em clubes. É uma década movimentada!!!

Figura 3: Fotografia da Rua Libero Badaró, em São Paulo, na década de 20, ainda com os prédios baixos e pouco movimento de carros nas ruas.Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Guilherme_Gaensly_-_Libero_Badar%C3%B3,_sentido_Pra%C3%A7a_do_Patriarca,_c._1920.jpg.

Figura 4: Cartão Postal da cidade de São Paulo na década de 20. Ao fundo, está o Teatro Municipal de São Paulo, onde ocorreu a Semana de Arte ModernaFonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Image003_Teatro.jpg.

E as ações não se limitaram à Semana, as ideias modernistas semeiam vários grupos de vanguarda que defenderam

o processo de renovação artística. Várias revistas, manifestos e grupos surgiram com a tarefa de despertar as consci-

ências adormecidas. São eles:

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� Principais manifestos: Poesia Pau-Brasil, Antropófago e Nhegaçu Verde-Amarelo;

� Principais revistas: Klaxon (1922), Revista de Antropofagia (1928) e Terra Roxa e Outras Terras (1927) em São

Paulo; Estética (1924) e Festa (1927) no Rio de Janeiro e Verde (1927) e A Revista (1925) em Minas Gerais.

� Principais grupos: Pau-Brasil, Antropófago e Verde-Amarelo – posterior Escola da Anta (São Paulo); Grupo

Modernista-Regionalista de Recife (Pernambuco) e Grupo de Porto Alegre (Rio de Grande do Sul).

Assim, podemos ver o movimento modernista dividido em três momentos:

� 1922-1930: “fase heroica“ marcada pelo radicalismo e também pela releitura e ruptura com o passado brasileiro.

� 1930-1945: apresenta a consolidação das ideias propostas após a Semana de Arte Moderna, a prosa regio-

nalista e o amadurecimento da poesia brasileira.

� 1945-... (Pós-Modernismo): caracteriza-se pela intensa pesquisa estética, pela fragmentação da narrativa e

pela experimentação.

Você deve estar se perguntando: como estudaremos esse movimento? Simples. Em duas unidades: a primeira

abordará a produção poética e a segunda, a produção em prosa. Privilegiaremos textos ligados à temática da susten-

tabilidade. Será que os autores desse período já se preocupavam com essa situação? Produziram uma literatura pan-

fletária ou abordaram questões relacionadas à Natureza, surgimento de cidades, seca, uso da terra, consequências da

modernidade?

Então? Vamos ver como isso tudo aconteceu no Modernismo?

Seção 2Primeira fase modernista: uma tropa de choque

O primeiro tempo modernista, o período entre 1922 e 1930, é de buscas e definições, de manifestos e propos-

tas. É o momento mais radical do movimento e apresenta as seguintes características:

� Liberdade de criação: adoção do verso livre, descoberta de outros esquemas rítmicos, extinção da rima ou

sua utilização com outros objetivos expressionais, abandono da pontuação.

� Linguagem coloquial: revitalização do idioma com elementos da cultura nacional; abandono do rigor gra-

matical e a retomada da ideia romântica de resgatar uma “linguagem brasileira”.

� Valorização do comum, do cotidiano, tudo pode ser transformado em poesia.

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� Incorporação do presente: o hoje, a vida moderna.

� Irreverência e humor

� Nacionalismo crítico, consciente, de denúncia da realidade brasileira;

� Nacionalismo ufanista, utópico, exagerado.

Vamos, então, aos textos?

Irreverência:

Falta de respeito, ato desrespeitoso, desacato.

Ufanista:

Otimismo nacionalista.

1. Leia o início do poema “Máquina-de-escrever”, de Mário de Andrade, publicado no livro

O losango cáqui (1924)

B D G Z, Remington.

Pra todas as cartas da gente.

Eco mecânico

de sentimentos rápidos batidos.

Pressa, muita pressa.

Duma feita surrupiaram a máquina-de-escreverdo meu mano.

Isso também entra na poesia

Porque ele não tinha dinheiro para comprar outra.

(...)

b. Explique por que o conteúdo dos três últimos versos do poema exemplifica a

proposta do modernismo de propiciar ao autor uma liberdade de criação.

c. O verso “Duma feita surrupiaram a máquina-de-escrever do meu mano” exem-

plifica o uso do registro coloquial pelos modernistas. Reescreva-o usando o pa-

drão culto da língua.

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2. No Romantismo, a natureza do Brasil foi enaltecida por Gonçalves Dias na Canção do exílio:

Minha terra tem palmeiras,

Onde canta o sabiá;

As aves que aqui gorjeiam,

Mário Raul de Moraes Andrade (1893 —1945):

poeta, romancista, musicólogo, historiador, crí-

tico de arte e fotógrafo. Um dos fundadores do

modernismo, ele praticamente criou a poesia

moderna brasileira com a publicação de seu

livro Paulicéia Desvairada em 1922. Andrade

exerceu uma influência enorme na literatura

moderna brasileira, foi a figura central do movi-

mento de vanguarda de São Paulo. Músico trei-

nado e mais conhecido como poeta e roman-

cista, Andrade esteve pessoalmente envolvido

em praticamente todas as disciplinas que estiveram relacionadas com o

modernismo em São Paulo. Suas fotografias e seus ensaios, que cobriam

uma ampla variedade de assuntos, da história à literatura e à música, fo-

ram amplamente divulgados na imprensa da época. Andrade foi a força

motriz por trás da Semana de Arte Moderna. As ideias por trás da Semana

seriam melhor delineadas no prefácio de seu livro de poesia Paulicéia Des-

vairada e nos próprios poemas. Após trabalhar como professor de música

e colunista de jornal, ele publicou seu maior romance, Macunaíma, em

1928. Andrade continuou a publicar obras sobre música popular brasilei-

ra, poesia e outros. No fim de sua vida, se tornou o diretor-fundador do

Departamento Municipal de Cultura de São Paulo formalizando o papel

que ele havia desempenhado durante muito tempo como catalisador da

modernidade artística nacidade—e no país.

Fonte: http://pt.wikipedia. org/wiki/Ficheiro:Mario_de_andrade_1928b.png.

Não gorjeiam como lá.

(...)

Agora, leia os versos de Oswald de Andrade no seu Canto de regresso à pátria:

Minha terra tem palmares

Onde gorjeia o mar

Os passarinhos daqui

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Não cantam como os de lá

(...)

Palmares

vastas regiões, localizadas no Nordeste, cobertas por palmeiras, também é o nome do famoso qui-

lombo fundado e destruído naquela região no século XVII.Fim do verbete

a. Aponte uma semelhança e uma diferença entre os dois fragmentos.

3. Oswald de Andrade foi responsável por grande parte do espírito irreverente, crítico e

demolidor da primeira fase do Modernismo. Identifique, nos fragmentos a seguir, todos

José Oswald de Sousa Andrade (1890 — 1954):

escritor, ensaísta e dramaturgo. Seu nome

pronuncia-se com acento na letra a (Oswáld).

Foi um dos promotores da Semana de Arte

Moderna, tornando-se um dos grandes nomes

do modernismo literário brasileiro. Foi consi-

derado pela crítica como o elemento mais re-

belde do grupo, sendo o mais inovador entre

estes. Foi o autor dos dois mais importantes

manifestos modernistas, o Manifesto da Poe-

sia Pau-Brasil e o Manifesto Antropófago, bem

como do primeiro livro de poemas do moder-

nismo brasileiro afastado de toda a eloquência

romântica, Pau-Brasil. Muito próximo, no princí-

pio de sua carreira literária, da pessoa de Mário

de Andrade, ambos os autores funcionaram como um dínamo na introdu-

ção e experimentação do movimento, unidos por uma profunda amizade

que durou muito tempo. Possuindo, porém, profundas distinções estéticas

em seu trabalho, Oswald de Andrade foi também mais provocador que o

seu colega modernista, podendo hoje ser classificado como um polemista.

Nesse aspecto, não só os seus escritos como as suas aparições públicas ser-

viram para moldar o ambiente modernista da década de 1920 e de 1930.

Fonte: http://pt.wikipedia.org/ wiki/Ficheiro:Oswald_de_andrade_1920.jpg.

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desse autor, os principais elementos de modernidade:

a. Para dizerem milho dizem mio

Para melhor dizem mió (Vício na fala)

b. Dê-me um cigarro

(...)

Mas o bom negro e o bom branco

(...)

Dizem todos os dias

(...)

Me dá um cigarro (Pronominais)

(1 linha)

c. Foguetes pipocam o céu quando em quando

Há uma moça magra que entrou no cinema

Vestida pela última fita (Cidade)

4. Baseando-se no fragmento do poema Trem de ferro, de Manuel Bandeira, assinale as

opções corretas relacionadas ao texto:

Café com pão

Café com pão

Café com pão

Virge Maria que foi isto maquinista?

a. ( ) A significação do trecho provém da sugestão sonora.

b. ( ) O poeta utiliza expressões da fala popular.

c. ( ) A temática e a estrutura contrariam o programa poético do Modernismo.

Língua Portuguesa e Literatura 59

5. O poema de Manuel Bandeira Evocação ao Recife integra a obra Libertinagem, na qual

o autor incorpora vários temas ligados à cultura popular e ao folclore. O poema, ao

mesmo tempo que tematiza a infância, faz uma descrição da cidade do Recife no fim do

século XIX. Observe o que se pede:

Manuel Carneiro de

Sousa Bandeira Filho (1886

—1968):poeta, crítico lite-

rário e de arte, professor

de literatura e tradutor.

Considera-se que Bandeira

faça parte da geração de

22 da literatura moderna brasileira, sendo seu poema Os Sapos

o abre-alas da Semana de Arte Moderna. Dono de um estilo sim-

ples e direto, aborda temáticas cotidianas e universais, às vezes

com uma abordagem de "poema-piada", lidando com formas e

inspiração que a tradição acadêmica considera vulgares. Mesmo

assim, conhecedor da Literatura, utilizou-se, em temas cotidianos,

de formas colhidas nas tradições clássicas e medievais. É comum

encontrar poemas (como o Poética, do livro Libertinagem) que se

transformaram em um manifesto da poesia moderna. No entanto,

suas origens estão na poesia parnasiana. Uma certa melancolia,

associada a um sentimento de angústia, permeia sua obra, em

que procura uma forma de sentir a alegria de viver. Doente dos

pulmões, Bandeira sofria de tuberculose e sabia dos riscos que

corria diariamente, e a perspectiva de deixar de existir a qualquer

momento é uma constante na sua obra.

Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Manuel_Bandeira.

a. Na primeira estrofe do poema, transcrita abaixo, o eu lírico delimita o Recife que

evoca. Não é o Recife histórico nem o Recife turístico ou cultural. A qual Recife ele

se refere? Destaque um verso que justifique sua resposta.

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Recife

Não a Veneza americana

Não a Mauritsstad dos armadores das Índias Ocidentais

Não o Recife dos Mascates

Nem mesmo o Recife que aprendi a amar depois –

Recife das revoluções libertárias

Mas o Recife sem história nem literatura

Recife sem mais nada

Recife da minha infância

(...)

b. Observe estes versos do poema.

Uma pessoa grande dizia:

Fogo em Santo Antônio!

(...)

(Tenho medo que hoje se chame Dr. Fulano de Tal)

O eu lírico, ao evocar o passado, coloca-se no texto como adulto ou como criança?

Justifique sua resposta.

6. Assim como Mário e Oswald de Andrade, Bandeira também se preocupou com a neces-

sidade de criar uma nova língua literária. É possível afirmar que Bandeira pôs em prática

nos fragmentos apresentados essa concepção de língua? Justifique.

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Seção 3Segunda fase modernista: uma poesia para transformar o mundo

Herdando as conquistas da geração de 22, a segunda fase do Modernismo brasileiro vai de 1930 a 1945.

O momento histórico é conturbado. O mundo vive a depressão econômica, o avanço do nazifascismo e a II

Guerra Mundial. No Brasil, Getúlio Vargas ascende ao poder e se consolida como ditador, é o Estado Novo. Além das

pesquisas estéticas, o universo temático se amplia e incorpora preocupações relativas ao destino do homem.

1945 marca o fim da guerra, é lembrado pelas explosões nucleares, pela criação da ONU e pela derrubada de

Getúlio Vargas no Brasil. Abre-se, assim, um novo período na história literária brasileira.

A poesia dessa geração, 30-45, apresenta as seguintes características:

� Incorporação e aprofundamento das propostas de 22: o verso livre, a liberdade temática, a ironia, o cotidia-

no e a linguagem coloquial.

� Conciliação da tradição e da modernidade: somam-se aos elementos da modernidade, elementos tradicionais

como as formas poéticas fixas (o soneto, por exemplo) e a volta dos três gêneros (lírico, épico e dramático).

� Poesia engajada: consciência da natureza política dos problemas do mundo e denúncia das desigualdades

geradas pelo capitalismo, dos mecanismos de opressão e de desumanização.

� Cosmovisão: percepção de seu tempo e da necessidade de fazer do texto poético arma de transformação.

� Universalismo: consciência social que extrapola a problemática local numa tentativa de entender as rela-

ções do homem com o universo que habita.

Carlos Drummond de Andrade, poeta dessa geração, propõe como perspectiva para enfrentar esses tempos

difíceis :a união, as soluções coletivas:

O presente é tão grande, não nos afastemos.

Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.

Vamos, então, de mãos dadas, conhecer o que se produziu nesses anos?

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1. Em 1945, com a publicação de A rosa do povo, Carlos Drummond de Andrade aborda

temas emergenciais da época: nazismo, fascismo, Segunda Guerra, ditadura de Getúlio

Vargas, alienação das elites, comunismo e a necessidade de união. Nessa fase, voltada

para o social, o poeta se interessa em abordar o presente. Vejamos um fragmento de um

dos poemas que fazem parte desse livro. Depois, reflita sobre o que se segue:

A Flor e A Náusea

Preso à minha classe e a algumas roupas,

vou de branco pela rua cinzenta.

Melancolias, mercadorias, espreitam-me.

Devo seguir até o enjoo?

Posso, sem armas, revoltar-me?

Olhos sujos no relógio da torre:

Não, o tempo não chegou de completa justiça.

O tempo é ainda de fezes, maus poemas, alucinações e espera.

O tempo pobre, o poeta pobre

fundem-se no mesmo impasse.

Em vão me tento explicar, os muros são surdos.

Sob a pele das palavras há cifras e códigos.

(...)

Língua Portuguesa e Literatura 63

a. Em A rosa do povo, Drummond se declara anticapitalista. Nos três primeiros ver-

sos desse fragmento, esse anticapitalismo se manifesta? Justifique sua resposta.

b. De acordo com os dois últimos versos do fragmento, como se manifesta, no cam-

po da linguagem, o impasse de que fala o poeta? Explique resumidamente.

Carlos Drummond de Andrade (1902—1987): poeta,

contista e cronista. O modernismo não chega a ser domi-

nante nem mesmo nos primeiros livros de Drummond,

Alguma poesia (1930) e Brejo das almas (1934), em que o

poema-piada e a descontração sintática pareceriam reve-

lar o contrário. A dominante é a individualidade do autor,

poeta da ordem e da consolidação, ainda que sempre,

e fecundamente, contraditórias. Torturado pelo passado,

assombrado com o futuro, ele se detém num presente

dilacerado por este e por aquele, testemunha lúcida de

si mesmo e do transcurso dos homens, de um ponto de

vista melancólico e cético. Mas, enquanto ironiza os cos-

tumes e a sociedade, asperamente satírico em seu amar-

gor e desencanto, entrega-se com empenho e requinte

construtivo à comunicação estética desse modo de ser e

estar. Vem daí o rigor, que beira a obsessão. O poeta tra-

balha, sobretudo, com o tempo. Sentimento do mundo (1940), em José (1942) e, enfaticamente,

em A rosa do povo (1945), Drummond lançou-se ao encontro da história contemporânea e da

experiência coletiva, participando, solidarizando-se social e politicamente, descobrindo na luta

a explicitação de sua mais íntima apreensão para com a vida como um todo. A surpreendente

sucessão de obras-primas, nesses livros, indica a plena maturidade do poeta, mantida sempre.

Drummond foi, seguramente, por muitas décadas, o poeta mais influente da literatura brasileira

em seu tempo, tendo também publicado diversos livros em prosa.

Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Fi c h e i r o : C a r l o s _ D r u m m o n d _ d e _Andrade,_kapo.jpg

2. Drummond demonstrava preocupação com o mundo no futuro. Leia o fragmento a

seguir do poema Cidade Prevista, que também pertence ao livro Rosa do povo. Depois,

responda ao que se pede:

(...)

Irmãos, cantai esse mundo

que não verei, mas virá

(...)

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Um mundo enfim ordenado,

uma pátria sem fronteiras,

sem leis e regulamentos,

uma terra sem bandeiras,

sem igrejas nem quartéis,

sem dor, sem febre, sem ouro,

um jeito só de viver,

mas nesse jeito a variedade,

a multiplicidade toda

que há dentro de cada um.

a. A quem se dirige o eu lírico e com que finalidade?

b. A que “cidade” se refere o título do poema e como ela é representada?

c. O poema termina com esses quatro versos:

Este país não é meu

nem vosso ainda, poetas.

Mas ele será um dia

país de todo homem.

Neles, você considera que Drummond demonstra sua solidariedade com o mundo?

3. Quando pensamos em Segunda Guerra Mundial,logo nos vêm à memória as bombas

atômicas que destruíram duas cidades (Hiroshima e Nagasaki), no Japão, em 1945,dei-

xando mais de 200 mil mortos e famílias japonesas, em todo o mundo, despedaçadas.

Na literatura, é claro que esse episódio também sensibilizou poetas, como Carlos Drum-

mond de Andrade e Vinícius de Moraes (que estudaremos a seguir), que traduziram em

palavras o horror que o mundo sentiu ao saber das bombas. O poema de Drummond

tem como título A Bomba e compõe o livro Lição de coisas (1962). Observe alguns frag-

mentos desse poema:

Língua Portuguesa e Literatura 65

A bomba

é uma flor de pânico apavorando os floricultores

A bomba

é o produto quintessente de um laboratório falido

(...)

A bomba

envenena as crianças antes que comecem a nascer

A bomba

continua a envenená-las no curso da vida

(...)

A bomba

mata só de pensarem que vem aí para matar

(...)

A bomba

é podre

A bomba

gostaria de ter remorso para justificar-se mas isso lhe é vedado

A bomba

pediu ao Diabo que a batizasse e a Deus que lhe validasse o batismo

A bomba

declare-se balança de justiça arca de amor arcanjo de fraternidade

(...)

A bomba

érussamenricanenglish mas agradam-lhe eflúvios de Paris

A bomba

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oferece de bandeja de urânio puro, a título de bonificação, átomos de paz

(...)

A bomba

não admite que ninguém se dê ao luxo de morrer de câncer

A bomba

é câncer

(...)

A bomba

não destruirá a vida

O homem

(tenho esperança) liquidará a bomba.

Nesse livro, o poeta experimenta a valorização dos aspectos visuais e sonoros. Como

essa experiência acontece nesses fragmentos ?

4. Murilo Mendes herdou da primeira fase modernista o espírito satírico e a ironia. Ele

também, como Gonçalves Dias (poeta do Romantismo), escreveu sua Canção do Exílio.

Leia esse fragmento do poema e responda o que se segue:

(...)

Eu morro sufocado em terra estrangeira.

Nossas flores são mais bonitas

nossas frutas mais gostosas

mas custam cem mil réis a dúzia.

Ai quem me dera chupar uma carambola de verdade

e ouvir um sabiá com certidão de idade!

Nesse poema, Murilo Mendes se coloca como exilado no próprio Brasil, por estar

o país marcado por influências estrangeiras. São “macieiras da Califórnia”, “gaturamos de

Veneza”, “Gioconda”. Entretanto, ele apresenta, nesse fragmento, uma proposta de um Brasil

brasileiro. Cite esses versos.

Língua Portuguesa e Literatura 67

1. Jorge de Lima apresenta belas composições, de coloração regional, em que ele usa sua

memória de menino branco, marcado pela infância repleta de imagens dos engenhos

e de negros trabalhando em regime de escravidão, imprimindo uma feição social a sua

poesia. Leia os fragmentos, a seguir, de poemas de Jorge de Lima e identifique a ques-

tão social que ele está abordando:

a.

Lá vem o acendedor de lampiões de rua!

(...)

Triste ironia atroz que o senso humano irrita:

Ele, que doira a noite e ilumina a cidade,

Talvez não tenha luz na choupana em que habita.

(O acendedor delampiões)

b.

A filha de Pai João tinha um peito de

Turina para os filhos de Ioiô mamar:

Quando o peito secou a filha de Pai João

Também secou agarrada num

Ferro de engomar.

A pele do Pai João ficou na ponta

Dos chicotes.

A força de Pai João ficou no cabo

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Da enxada e da foice.

A mulher de Pai João o branco

A roubou para fazer mucamas.

(Pai João)

c.

O Sinhô foi açoitar

sozinho a negra Fulô.

A negra tirou a saia

e tirou o cabeção,

de dentro dêle pulou

nuinha a negra Fulô.

Essa negra Fulô!

Essa negra Fulô!

Ó Fulô! Ó Fulô!

Cadê, cadê teu Sinhô

que Nosso Senhor me mandou?

Murilo Monteiro Mendes (1901 — 1975): poeta e prosador.

Iniciou-se na literatura escrevendo nas revistas modernistas Terra

Roxa, Outras Terras e Antropofagia. Os

primeiros livros são claramente moder-

nistas, revelando uma visão humorística

da realidade brasileira. Tempo e Eterni-

dade (1935) marca a conversão de Mu-

rilo Mendes ao catolicismo. Nesse livro,

os elementos humorísticos diminuem e

os valores visuais do texto são acentuados. Foi escrito em colabo-

ração com o poeta Jorge de Lima. Nos volumes da fase seguinte,

o poeta apresenta influência cubista, sobrepondo imagens e fa-

zendo o plástico predominar sobre o discursivo.

Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Ismael_Nery_-_Retrato_de_Murilo_Mendes,_1922.jpg.

Língua Portuguesa e Literatura 69

Ah! Foi você que roubou,

foi você, negra fulô?

Essa negra Fulô!

(Essa negra Fulô)

2 Cecília Meireles teve uma trajetória poética bem particular, marcada por um lirismo

melancólico de tradição luso-brasileira e pelos temas da fugacidade do tempo, preca-

riedade dos seres, solidão, brevidade de vida e da religiosidade. Leia esse fragmento de

Reinvenção e responda às perguntas que o seguem:

A vida só é possível

reinventada.

Anda o sol pelas campinas

e passeia a mão dourada

pelas águas, pelas folhas...

Ah! tudo bolhas

que vem de fundas piscinas

de ilusionismo... - mais nada.

(...)

a. Que traço estilístico está presente nesse fragmento com a repetição da consoan-

te p e das vogais a, e, i, o, criando um tom imaterial, evanescente?

b. Destaque o trecho que justifica o que o eu lírico afirma no início: “A vida só é

possível / reinventada”.

Jorge Mateus de Lima (1893 —1953): foi político, médico, poeta, roman-

cista, biógrafo, ensaísta, tradutor e pintor.Inicialmente, autor de belíssimos

alexandrinos, posteriormente transformou-se em um modernista.Os tex-

tos de Jorge de Lima abrigam uma colossal possibilidade de leituras (a

convivência entre a tradição e o novo, o vulgar e o sublime, o regional e o

universal) refletem um artista em constante mutação, que experimentou

estilos diversos como o parnasiano, o regional, o barroco, o religioso. Na

sua multiplicidade, Jorge de Lima pertence a todas as épocas, mesmo se

reportando a um tema ou uma situação específica.

70

3. A Segunda Guerra Mundial teve um desfecho que demonstrou o poderio bélico dos

Estados Unidos: o bombardeio nuclear nas

cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki,

no dia 06 de agosto de 1945. Esse ataque, além

de matar e mutilar milhares de pessoas, teve,

como consequência, o desenvolvimento de en-

fermidades na população (queimadura, ceguei-

ra, surdez, câncer etc.) e desastres ambientais

(devastação de vegetação, chuvas ácidas, que

causaram a contaminação de rios, lagos e plan-

tações). Vinícius de Moraes abordou esse tema

no poema Rosa de Hiroshima. Leia alguns frag-

mentos desse texto, veja algumas imagens des-

se bombardeio e escreva um texto refletindo

sobre as consequências desse ato americano.

Pensem nas crianças

Mudas telepáticas

Pensem nas meninas

Cegas inexatas

(...)

A anti-rosa atômica

Sem cor sem perfume

Sem rosa, sem nada

Foto 5: A nuvem de cogumelo resultan-te da explosão nuclear em Nagasaki, 18 km acima do solo.Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro: Nagasakibomb.jpg.

Cecília Benevides de Carvalho Meireles (1901 — 1964):poetisa, pintora,

professora, cronista, ensaísta, tradutora, dramaturga e jornalista. É consi-

derada uma das vozes líricas mais importantes das literaturas de língua

portuguesa. Cecília imprimiu a marca que a caracterizou como poeta:

a musicalidade de influência simbolista. Em Romanceiro da Inconfidên-

cia, ela fez uma incursão na história do Brasil, transformando em versos

de cunho social a Inconfidência Mineira, tema que ela estudou por dez

anos. Por meio de seu romanceiro (narrativa rimada), dividido em 85 ro-

mances, a escritora reflete não só sobre fatos e personagens históricos,

mas sobre a arbitrariedade, a tirania e a traição humanas.

Língua Portuguesa e Literatura 71

Seção 4Terceira fase modernista: poesia para reflexão

A terceira fase do movimento modernista, no Brasil, está historicamente ligada ao fim da Segunda Guerra Mundial

e à deposição de Getúlio Vargas, no poder desde 1930. Instala-se, aqui, um ambiente de democracia, ainda que frágil.

Nesse mesmo período, Estados Unidos e Rússia empenham-se numa corrida armamentista sofisticada, com

poder arrasador, são os tempos da Guerra Fria.

A fragilidade da nossa democracia evidencia-se no final do governo de Eurico Gaspar Dutra e a eleição de

Getúlio que volta ao poder sem golpes. O período é conturbado com muitas greves trabalhistas. Vargas, sem apoio e

pressionado por uma conspiração popular, suicida-se em 1954.

Juscelino Kubitschek, em 1955, é eleito e assume a presidência da República, transfere a capital do Brasil para

Brasília (1960). Seguem-no na presidência: Jânio Quadros (1961) e João Goulart (1961). Mas um duro golpe atinge o

país, instala-se a ditadura militar (1964-1987). Assiste-se ao fim das liberdades democráticas e à instalação de um novo

modelo econômico – o “milagre brasileiro”: Estado, multinacionais e capital nacional.

É nesse ambiente que floresce a literatura desse terceiro tempo modernista e que apresenta as seguin-

tes características:

� Volta ao passado (passadismo): revalorização da rima, da métrica, do vocabulário erudito e das referências

mitológicas.

Vinícius de Moraes (1913 — 1980): diplomata, dramaturgo,

jornalista, poeta e compositor. Poeta essencialmente lírico,

também conhecido como “poetinha”, apelido que lhe teria

atribuído Tom Jobim, notabilizou-se pelos seus sonetos. Ini-

cialmente, o poeta foi influenciado pela religiosidade neos-

simbolista e pela renovação católica de 1930. Dos poemas de

tradição católica, Vinícius transitou para a temática da oposi-

ção matéria e espírito, para o sensualismo e para o erotismo.

Também estão presentes, na produção do poeta, o cotidiano

(valorização do momento – traduzido em linguagem simples

e em sonetos clássicos), o engajamento político e a crítica às

consequências da guerra. Sua obra é vasta, passando pela

literatura, teatro, cinema e música. No campo musical, o poetinha teve como principais parceiros Tom

Jobim, Toquinho, Baden Powell, João Gilberto, Chico Buarque e Carlos Lyra.

Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Vinicius.jpg.

72

1. João Cabral de Melo Neto é considerado o mais importante poeta dessa geração, a Ge-

ração de 45. A realidade brasileira, sobretudo a presente na região Nordeste, é uma

marca da sua literatura. Em Morte e vida Severina, João Cabral “revisita” a história do nas-

cimento de Cristo no Recife. O protagonista do poema é Severino, lavrador nordestino

que se desloca do interior do sertão para o litoral em busca de novas perspectivas para

sua vida de miséria, fome e seca. Leia o fragmento abaixo e responda ao que se pede:

O RETIRANTE EXPLICA AO LEITOR QUEM É E A QUE VAI (fragmento)

— O meu nome é Severino,

como não tenho outro de pia.

Como há muitos Severinos,

que é santo de romaria,

deram então de me chamar

Severino de Maria

como há muitos Severinos

com mães chamadas Maria,

fiquei sendo o da Maria

do finado Zacarias.

Mas isso ainda diz pouco:

há muitos na freguesia,

por causa de um coronel

que se chamou Zacarias

e que foi o mais antigo

� Engajamento: senso de compromisso entre arte e realidade, produção literária ligada à vida social.

� Universalismo: linguagem livre e uma percepção dos vários aspectos do mundo.

Língua Portuguesa e Literatura 73

senhor desta sesmaria.

Como então dizer quem falo

ora a Vossas Senhorias?

Vejamos: é o Severino

da Maria do Zacarias,

lá da serra da Costela,

limites da Paraíba.

Mas isso ainda diz pouco:

se ao menos mais cinco havia

com nome de Severino

filhos de tantas Marias

mulheres de outros tantos,

já finados, Zacarias,

vivendo na mesma serra

magra e ossuda em que eu vivia.

Somos muitos Severinos

iguais em tudo na vida:

na mesma cabeça grande

que a custo é que se equilibra,

no mesmo ventre crescido

sobre as mesmas pernas finas

e iguais também porque o sangue,

que usamos tem pouca tinta.

74

E se somos Severinos

iguais em tudo na vida,

morremos de morte igual,

mesma morte severina:

que é a morte de que se morre

de velhice antes dos trinta,

de emboscada antes dos vinte

de fome um pouco por dia

(de fraqueza e de doença

é que a morte severina

ataca em qualquer idade,

e até gente não nascida).

Somos muitos Severinos

iguais em tudo e na sina:

a de abrandar estas pedras

suando-se muito em cima,

a de tentar despertar

terra sempre mais extinta,

a de querer arrancar

alguns roçado da cinza.

Mas, para que me conheçam

melhor Vossas Senhorias

Língua Portuguesa e Literatura 75

e melhor possam seguir

a história de minha vida,

passo a ser o Severino

que em vossa presença emigra.

a. Há, nesse fragmento e em todo o poema, um jogo entre o substantivo Severino e

o adjetivo Severina. Explique-o.

b. João Cabral levanta, nesse fragmento, alguns problemas sociais típicos do Nor-

deste. Comente dois desses problemas, retirando elementos do próprio texto.

c. Você diria que o problema fundamental do Nordeste é a seca? Justifique sua

resposta.

João Cabral de Melo Neto

(1920 — 1999): poeta e diplomata.

Sua obra poética caracterizada pelo

rigor estético inaugurou uma nova

forma de fazer poesia no Brasil.

É uma poesia que causa

algum estranhamento a quem

espera uma poesia emotiva,

pois seu trabalho é basicamente

cerebral, buscando uma poesia construtivista e comunicativa, ob-

jetiva. Ele busca uma construção elaborada e pensada da lingua-

gem e do dizer da sua poesia, transformando toda a percepção

em imagem de algo concreto e relacionado aos sentidos. Algumas

palavras são usadas sistematicamente na poesia deste autor: cana,

pedra, osso, esqueleto, dente, gume, navalha, faca, foice, lâmina,

cortar, esfolado, baía, relógio, seco, mineral, deserto, asséptico, va-

zio, fome. Coisas sólidas e sensações táteis: uma poesia do concreto.

Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:JoaoCabral.JPG.

76

Seção 5Literatura contemporânea: uma nova ruptura

Em 1964, com o Golpe Militar, o Brasil recebe um ciclo de presidentes militares, eleitos indiretamente. Até 1968,

a atividade cultural ainda se mantém dinâmica, mas com a decretação do Ato Institucional Nº 5 (AI-5) e a instituição da

censura prévia, muitos artistas e intelectuais são obrigados a deixar o país. Embora autores das fases anteriores conti-

nuassem produzindo, houve uma ruptura. Algumas das manifestações dessa ruptura foram tão radicais que nos fazem

lembrar a geração de 22. Muitas são as tendências que marcam a literatura contemporânea brasileira. Vamos conhecer,

aqui, algumas delas e seus representantes. Muitos desses nomes você conhece, estão aí produzindo poesia, música etc:

� Concretismo: Surge em 1956, com a publicação da revista Noigrandes. Esse movimento radicalizou a pro-

posta de valorização da forma na poesia, incorporando a ela os signos da sociedade moderna. Foi represen-

tado e idealizado por Haroldo de Campos, Augusto de Campos e Décio Pignatari.

� Neoconcretismo: Em consonância com as propostas dos artistas plásticos Hélio Oiticica e Lygia Clark, surge

como desdobramento do Concretismo. Esse movimento foi fundado por Ferreira Gullar que propunha a

necessária participação (interação) do leitor na construção do texto.

� Poema-processo: Coloca em segundo plano o signo verbal, em detrimento dos signos gráficos. Surgiu em

1967 e foi idealizado por Wlademir Dias-Pino.

� Poesia política: No contexto do golpe militar de 1964, surge uma poesia engajada e política, representada,

entre outros, por Ferreira Gullar, Tiago de Melo e Geir Campos.

� Poesia marginal: Surgiu na década de 1970, marcada pela “publicação alternativa” das obras e pela temática

do humor e da irreverência em relação às grandes questões da época. São seus representantes: Chacal,

Charles, Ledusha, Ronaldo Bastos, Cacaso, Francisco Alvim, Glauco matoso, Roberto Piva, entre outros.

� Prosaísmo: Manuel de Barros e Adélia Prado se diferenciaram por criar uma literatura marcada pela expres-

são lírica muito particular de seus mundos, seja pela reinvenção das palavras, pela valorização do prosaico,

pela exigência do exercício diferenciado do olhar do leitor.

� Outros poetas: Destacam-se, na denominada “poesia independente” e na produção contemporânea, Paulo

Leminski e seus haicais(forma poética de origem japonesa, que valoriza a concisão e a objetividade), Ana

Cristina César, Alice Ruiz, Antônio Cícero, José Paulo Paes, além de Eucanã Ferraz, Frederico Barbosa e Ar-

naldo Antunes.

Que tal, através de alguns exercícios, tomarmos contato com essa poesia produzida nos últimos anos?

Língua Portuguesa e Literatura 77

1. Ferreira Gullar vivenciou uma fase da sua criação poética marcada pela participação

política. Leia o fragmento do poema Não há vagas e observe o que se pede:

O preço do feijão

não cabe no poema. O preço

do arroz

não cabe no poema.

(...)

Só cabem no poema

o homem sem estômago

a mulher de nuvens

a fruta sem preço

O poema, senhores,

não fede

nem cheira

a. Repare que esse texto tem um tom de polêmica. A quem se dirige a voz que fala

no poema? Justifique sua resposta com elementos do texto.

b. Que tipo de linguagem o autor imita com o tom eloquente desse fragmento?

c. De acordo com o texto, o que cabe e o que não cabe no poema? Explique.

d. Na sua opinião, por que o eu poético afirma que o poema “não cheira nem fede”?

Ferreira Gullar (1930): poeta, crítico de arte, biógrafo, tradutor, memorialista e ensaísta. Participou do movimento da poesia concreta, sendo então um poeta extremamente ino-vador, escrevendo seus poemas, por exem-plo, em placas de madeira, gravando-os.Em 1956, participou da exposição concretista que é considerada o marco oficial do início da poesia concreta, tendo se afastado desta em 1959, criando, junto com Lígia Clark e Hélio Oiticica, o neoconcretismo, que valorizava a expressão e a subjetividade em oposição ao concretismo ortodoxo. Posteriormente, ainda no início dos anos de 1960, se afastara deste

grupo também, por concluir que o movimento levaria ao abandono do vín-

culo entre a palavra e a poesia, passando a produzir uma poesia engajada e

envolvendo-se com os Centros Populares de Cultura (CPCs).

Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Ferreira_Gullar_crop.png.

78

2. Leia esse fragmento do poema O que a musa eterna canta, de Adélia Prado.

Cesse de uma vez meu vão desejo

de que o poema sirva a todas as fomes.

(...)

letras eu quero é para pedir emprego,

agradecer favores,

escrever meu nome completo.

O mais são as mal-traçadas linhas.

a. O título desse poema retoma versos clássicos da literatura em língua portugue-

sa. Pesquise quais são esses versos e quem é seu autor.

b. Escreva um pequeno texto que procure responder à seguinte questão essencial:

Afinal, para que servem as letras?

Adélia Luzia Prado Freitas (1936): escritora. Seus textos retratam o coti-

diano com perplexidade e encanto, norteados pela fé cristã e permeados

pelo aspecto lúdico, uma das características do seu estilo. O surgimento da

escritora representou a revalorização do feminino nas letras e da mulher

como ser pensante, tendo-se em conta que Adélia incorpora os papéis de

intelectual e de mãe, esposa e dona-de-casa; por isso sendo considerada

como a que encontrou um equilíbrio entre o feminino e o feminismo, mo-

vimento cujos conflitos não aparecem nos textos.

Língua Portuguesa e Literatura 79

ResumoComo conclusão, percebemos que a primeira geração modernista, composta por jovens intelectuais brasilei-

ros, inovou quando questiona a função da arte e a compreende como a expressão de comunicação comprometida

com o homem de seu tempo, ou seja, a expressão do homem brasileiro. A segunda geração é um divisor de águas

para os autores e para a poesia brasileira. Ela traz como marcas uma pesquisa lírica em profundidade, uma multipli-

cidade de temas e uma captação da realidade cotidiana, nunca antes exercitada. João Cabral de Melo Neto, repre-

sentante da terceira geração modernista, preocupou-se em apreender a realidade aguçando a inteligência do leitor,

despindo a linguagem de artifícios, buscando a exatidão. Ele nega a poesia como fruto da inspiração e a apresenta

como fruto de uma construção da linguagem.

A poesia na Literatura Contemporânea caracteriza-se pelo aprofundamento da reflexão sobre a realidade e a

busca de novas formas de expressão. Destaca-se, ainda a permanência da poesia concreta. A exploração do espaço em

branco na folha de papel e dos recursos gráficos, a sonoridade das palavras, as relações entre significado e significante

são desafios que ainda encantam poetas consagrados e jovens talentos. Críticos e especialistas, por sua vez, continuarão

estudando a multiplicidade estética de nossos poemas. E você? Está encantado? Seduzido por essa produção?

Veja ainda:

� Eternamente Pagú (1787), de Norma Bengell. Elenco: Carla Camurati, Antônio Fagundes e Esther Góes.

Patrícia Galvão, a Pagú, foi musa dos intelectuais das décadas de 20 e 30 e escandalizou a burguesia com a

sua maneira de ser e pensar, que fugia do convencional. O filme trata da sua atuação política, da amizade com

a pintora Tarsila do Amaral e de seu romance com o escritor Oswald de Andrade, com quem teve um filho.

� Um só coração (2004). Minissérie produzida em homenagem aos

450 anos de São Paulo, Um Só Coração se passa entre 1922 e 1954, pe-

ríodo em que a cidade se torna um grande centro econômico e cultural

do país. A Semana de Arte Moderna, em 1922, a Revolução de 1924, a

crise de 1929, a Revolução de 1932, a Era Vargas, os ecos do nazismo e

do fascismo: esse é o contexto histórico da narrativa. Personagens reais

e fictícios vivem histórias de amor, amizade, luta e conquista.

� Morte e Vida Severina (1981). Teleteatro musical dirigido por

Walter Avancini, com versos de João Cabral de Melo Neto e música de Figura 6: Patrícia Galvão na década de 30Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Pagu.jpg

80

Chico Buarque. A temática está centrada na trajetória de Severino, um retirante nordestino, que abandona

o sertão rumo ao litoral em busca de sobrevivência. O autor deixa claro que não fala de um só Severino, mas

de um grande grupo: os retirantes nordestinos, que têm todos a mesma sina, a morte e a vida severina: ‘So-

mos muitos Severinos, iguais em tudo na vida’. No decorrer do poema, Severino se põe a contar as durezas

enfrentadas por essa gente: as jornadas para fugir da seca onde não nasce nem planta brava, em busca de

terra que lhe alimente.

Atividade 1

1.

a. Porque a arte, para os modernistas, deveria contemplar também elementos do

cotidiano, banais da vida.

b. Sugestão: Em uma ocasião, roubaram a máquina de escrever do meu irmão.

2.

a. Os dois fragmentos exaltam a pátria. O de Oswald de Andrade ironiza o naciona-

lismo exageradamente ufanista de Gonçalves Dias, propondo um nacionalismo

mais crítico quando faz referência a palmares.

3.

a. Linguagem coloquial.

b. Linguagem coloquial, sem o rigor da gramática.

c. Elementos do cotidiano, do presente.

Você deve observar a liberdade de criação do artista através do verso livre e do

abandono da pontuação. Atenção também para a presença do humor e da irre-

verência em todos os fragmentos.

4. a e b.

5.

a. É o Recife que habita sua história: “Recife da minha infância”.

Língua Portuguesa e Literatura 81

b. Há uma mistura de perspectivas: no primeiro e no segundo versos, o eu lírico

revive uma cena do passado, como se fosse criança outra vez; no terceiro verso,

deixa transparecer a visão crítica do adulto.

6. Sim, pois os fragmentos apresentam vocabulário e construções sintáticas simples, além

de empregar palavras do suo popular.

Atividade 2

1.

a. Sim. Esse anticapitalismo se manifesta nesse fragmento quando o eu lírico pare-

ce estar em descompasso com o mundo capitalista em que ele está inserido. No

primeiro verso, ele se reconhece pertencente a uma determinada classe social

(“minha classe”) e a “algumas roupas” (valores culturais específicos dessa classe).

O capitalismo é apresentado pejorativamente quando ele se refere à “rua cinzen-

ta” em oposição à cor branca da roupa do eu lírico.

b. O impasse de que fala o eu lírico nos dois últimos versos se manifesta na im-

possibilidade da comunicação. As “cifras” e “códigos” dificultam a comunicação e

tornam inútil a sua tentativa de ser ouvido pelos “muros” que seria a surdez das

pessoas.

2.

a. Ele se dirige aos poetas (observe também nos versos finais citados na questão c

com a finalidade de incentivá-los a cantar o mundo futuro.

b. A cidade é o mundo futuro, idealizado como espaço de igualdade entre os ho-

mens.

c. Sim, ele se apresenta esperançoso com a possibilidade de se viver num espaço

que será de todos (“o país de todo homem”).

3. Numa linguagem em que o verso e a palavra são desintegrados com o emprego de

sugestões visuais, rupturas sintáticas e ausência de pontuação.

4. Os dois últimos versos do fragmento.

82

5.

a. O funcionário responsável por iluminar a cidade não dispões desse recurso na

sua casa.

b. O papel da mulher negra na estrutura familiar tradicional dos grandes proprietá-

rios rurais, sexualmente usada pelo senhor.

c. A mesma resposta anterior.

6.

a. Musicalidade obtida por meio de repetições sonoras.

b. "Ah! tudo bolhas / que vêm de fundas piscinas / de ilusionismo ... – mais nada”.

Atividade 3

1.

a. Dessa forma, João Cabral destaca que a vida do retirante é severina. O homem

nordestino já traz incorporado no próprio nome a ideia de sofrimento, da vida

árdua, da sua luta pela sobrevivência.

b. São abordados os seguintes problemas:

� subnutrição: “de fome um pouco por dia / (de fraqueza e de doença / é que a

morte Severina / ataca em qualquer idade, / e até gente não nascida”

� anemia: “...porque o sangue / que usamos tem pouca tinta”

� velhice precoce: “de velhice antes dos trinta”

� ausência de um estado de direito: “de emboscada antes dos vinte”

� patriarcalismo: representado pelo coronel Zacarias

� questão agrária: “o mais antigo / senhor desta sesmaria”

c. Resposta pessoal.

Língua Portuguesa e Literatura 83

Atividade 4

1.

a. A voz que fala no poema aparentemente se dirige a uma plateia, como demons-

tra o vocativo “senhores” na última estrofe do fragmento.

b. Ele imita linguagem própria dos discursos de protestos políticos.

c. Só cabem no poema os seres que não pertencem à realidade como o homem

“sem estômago”, a mulher “de nuvens”, a fruta “sem preço”. A dura realidade em

que vivem a maioria das pessoas não cabe no poema, pois nele não há espaço,

“não há vaga”.

d. Resposta pessoal.

2.

a. Os versos pertencem a Os Lusíadas, de Luís de Camões: “Cesse tudo o que a Musa

antiga canta, / Que outro valor mais alto se alevanta.” (estrofe 3, Canto I)

b. Resposta pessoal do aluno.

Língua Portuguesa e Literatura 85

O que perguntam por aí?1. (PUCSP) Identifique no texto abaixo as características do movimento literário a que ele pertence. Explique

ao menos duas características identificadas, exemplificando com o texto.

Erro de português

Quando o português chegou

Debaixo duma bruta chuva

Vestiu o índio

Que pena!

Fosse uma manhã de sol

O índio tinha despido o português

Resposta: Modernismo. Apresenta linguagem coloquial, versos livres, revisão da História do Brasil, ironia.

2. (ENEM)

“Eu começaria dizendo que poesia é uma questão de linguagem. A importância do poeta é que ele torna mais

viva a linguagem.” Carlos Drummond de Andrade escreveu um dos mais belos versos da língua portuguesa com duas

palavras comuns: cão e cheirando.

Um cão cheirando o futuro.

Entrevista com Mário Carvalho. Folha de São Paulo, 24.05.1988. Adaptação.

Indique o que deu ao verso de Drummond o caráter de inovador da língua.

a. O modo raro como foi tratado o “futuro”.

b. A referência ao cão como “animal de estimação”.

c. A flexão pouco comum do verbo “cheirar” (gerúndio).

86

d. A aproximação não-usual do agente citado e a ação de “cheirar”.

e. O emprego do artigo indefinido “um” e do artigo definido “o” na mesma frase.

Resposta: letra a. A forma inusitada de apresentar o futuro como algo a ser “cheirado” por um cão.

3. (UFMG) Sobre o adjetivo Severina, da expressão Morte e vida Severina que intitula a peça de João Cabral de

Melo Neto, todas asafirmativas estão certas, exceto:

a. Refere-se aos migrantes nordestinos que, revoltados, lutam contra o sistema latifundiário que oprime

o camponês.

b. Pode ser o sinônimo de vida árida, estéril, carente de bens materiais e de afetividade.

c. Designa a vida e a morte dos retirantes que a seca escorraça do sertão e o latifúndio escorraça da terra.

d. Qualifica a existência negada, a vida daqueles seres marginalizados determinada pela morte.

e. Dá nome à vida de homens anônimos, que se repetem física e espiritualmente, sem condições concre-

tas de mudança.

Resposta: letra a. Refere-se à vida sofrida do retirante nordestino que sofre sem lutar contra a situação que o

oprime.

4. (Um-SP) A Poesia Concreta, lançada oficialmente em 1956, com a Exposição Nacional de Arte Contemporânea,

realizada no Museu de Arte Moderna de São Paulo, teve três poetas que iniciaram tal experiência. São eles:

a. Augusto dos Anjos, Haroldo de Campos e Oswald de Andrade.

b. Alberto de Campos, Décio Pignatari e Augusto de Campos.

c. Haroldo de Campos, Décio Pignatari e Augusto de Campos.

d. Oswald de Andrade, Décio Pignatari e Augusto de Campos.

e. Augusto dos Anjos, Alberto de Campos e Haroldo de Campos.

Resposta: letra c. Foram eles representantes e idealizadores do Concretismo.

Língua Portuguesa e Literatura 87

Atividade extraA poesia no Modernismo e na Literatura Contemporânea

Texto 1: Princípio

No princípio era sol solsol

O Amazonas ainda não estava pronto

As águas atrasadas

derramavam-se em desordem pelo mato

O rio bebia a floresta

Depois veio a Cobra Grande Amassou a terra elástica

e pediu para chamar sono

As árvores enfastiadas de sol combinaram silêncio

A floresta imensa chocando um ovo

Cobra Grande teve uma filha. Ficou moça

Um dia

ela disse que queria conhecer homem

Mas não encontraram rasto de homem

Então

começaram a adivinhar horizontes

e mandaram buscar de muito longe um moço

88

Ai! que houve festa na floresta!

Mas a filha da Cobra Grande não queria dormir com o noivo

porque naquele tempo não havia noite

A noite estava escondida atrás da selva

dentro de um caroço de tucunã

Ah! então vamos buscar o tucumã

pra dar de presente de casamento

Veio o Sapo Jabuti veio também

O Cameleão estava esperando sono

A Onça não pôde vir porque tinha emprestado os sapatos

Andaram Andaram

As vozes iam na frente procurando caminho

Desembarcavam árvores Raízes furavam a lama

a floresta crescia

Chô que depois de muito andar chegaram

- Esta é que é a noite?

- Será mesmo a noite?

- Ah! não acredito

Então vamos espiar o que tem dentro

Quando abriram o caroço

houve um estouro imenso

que cobriu tudo de escuro

Língua Portuguesa e Literatura 89

A floresta inchou

Árvores sairam correndo

Um pedaço da noite entrou na barriga do Sapo.

Então

a filha da Cobra Grande pôde fazer dormezinho com o noivo.

In. Cobra Norato e outros poemas. 13ª ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1984, p.93-94.

Texto 2:

Água, s.f.

Da água é uma espécie de remanescente quem já

incorreu ou incorre em concha

Pessoas que ouvem com a boca no chão seus

rumores dormidos pertencem das águas

Se diz que no início eram somente elas

Depois é que veio o murmúrio dos corgos para dar

testemunho do nome de Deus

( BARROS, Manoel de. Arranjos para assobio. Rio de Janeiro: Record, 1998.)

Corgos.m. córrego

Questão 1 (UFMT 2006)

O poema PRINCÍPIO filia-se à vertente antropofágica do Modernismo Brasileiro. Assinale a afirmativa que com-

prova essa filiação.

A. O primitivo e a floresta são apresentados como elementos da gênese da cultura brasileira, privilegian-

do-se territórios ainda inexplorados, como o amazônico.

90

B. Os versos apresentam métrica e rimas regulares, adequadas a representar um mundo pronto e ordenado.

C. O poema, de fundo dissertativo, propõe uma reflexão sobre a importância da civilização clássica.

D. O tom exclamativo e o ritmo declamatório do poema preveem uma leitura grandiloquente.

E. A diferenciação e a hierarquização entre o erudito e o popular são definitivas, o poema é uma mescla de

referências à literatura importada.

Questão 2 (UFMT 2006)

Raul Bopp construiu, mediante o uso de imagens, um poema que tematiza um processo. Cada alternativa

apresenta uma imagem retirada do texto e uma interpretação para ela. Assinale a interpretação NÃO comprovada

no texto.

A. Depois veio a Cobra Grande. (linha 6) > A antropomorfização indica o surgimento dos primeiros habi-

tantes de um universo.

B. A floresta imensa chocando um ovo! (linha 9) > A fecundação indica a fixação da vida nesse universo.

C. Ah! então vamos buscar o tucumã/pra dar de presente de casamento. (linhas 22 e 23) > O deslocamento

é sinal de busca de realização de sonhos e desejos, de transformação do universo.

D. Desembarcavam árvores. Raízes furavam a lama. (linha 29) > A imagem de pântano, de regiões alaga-

das, aponta as dificuldades, os elementos de oposição ao novo.

E. Então/a filha da Cobra Grande pôde fazer dormezinho com o noivo. (linhas 42 e 43) > A possibilidade de

unir e procriar revela a reiteração infinita do processo de criação.

Questão 3 (UFMT 2006)

A respeito da construção dos dois poemas, analise as afirmativas abaixo.

I - Os poetas ignoram as manifestações de língua oral e coloquial em sua escritura.

II - Os poemas apresentam construções linguísticas e imagéticas que quebram a lógica comum, comprovando

a influência surrealista.

Língua Portuguesa e Literatura 91

III - Nos dois poemas, a água metaforiza a origem, o elemento que possibilita o surgimento da vida.

IV - Ambos os poemas fazem referência ao divino, Manoel de Barros o faz de forma explícita e Bopp, pelo diá-

logo coma passagem bíblica: “No princípio, era o Verbo”.

São corretas as afirmativas

A. I, II, III e IV.

B. I, II e IV, apenas.

C. II e III, apenas.

D. III e IV, apenas.

E. II, III e IV, apenas.

Questão 4 ( UFMT 2006)

Quanto ao emprego de recursos expressivos no poema PRINCÍPIO, assinale a afirmativa correta.

A. Em .Ah! não acredito. (linha 34), o sentido das duas frases anteriores é retomado pelo mecanismo da

elipse.

B. Em No princípio era sol solsol. (linha 1), a repetição lexical enfatiza a presença de altas temperaturas.

C. Em Depois veio a Cobra Grande. (linha 6) e Então/começaram a adivinhar horizontes (linhas 14 e 15), os

conectores têm a função argumentativa de alternar ações.

D. Em fazer dormezinho com o noivo. (linha 43) e em buscar de muito longe um moço. (linha 16), as pala-

vras sublinhadas remetem a pessoas diferentes.

E. Na última estrofe, o conector então é vazio de significado por constituir isoladamente um verso.

Questão 5

Sobre o texto 2, de Manoel de Barros, está correta a afirmação:

A. o poeta faz uma denúncia sobre a seca na região, mostrando os dissabores da falta de água no planeta.

92

B. segundo o poema, a água é a origem de todas as coisas e necessária para a vida.

C. o emprego de construções sintáticas complexas aponta para uma oralidade no texto.

D. o título do texto apresentado como um verbete de dicionário está desconectado do tema do poema.

E. o poema apresenta uma reflexão sobre o desequilíbrio ecológico do planeta causado pelo ser humano.

Língua Portuguesa e Literatura 93

Gabarito

Questão 1

A B C D E

Comentários: Na letra B, métrica e rimas regulares não correspondem às características estéticas do Modernis-

mo, mas sim de outras estéticas, como Arcadismo, Parnasianismo e Simbolismo.

Na letra C, o texto é poético, subjetivo e narra uma história; portanto, não pode ser dissertativo, mas apresenta

um fundo narrativo.

A letra D está incorreta porque não há grandiloquência no texto.

Em E, o poema é genuinamente brasileiro, inclusive pelo cenário típico das florestas brasileiras e da presença

do povo indígeno.

Questão 2

A B C D E

Comentário: a imagem apresentada não é a de um pântano, mas a de uma floresta tipicamente brasileira.

Questão 3

A B C D E

Comentário: A afirmação 1 está incorreta, porque, nos textos, os autores privilegiam a linguagem coloquial.

94

Questão 4

A B C D E

Comentários: Em A, note que as perguntas anteriores foram omitidas da enunciação, por isso, elipse. Suben-

tende-se:Ah! Não acredito nisso - - Esta é que é a noite?/ - Será mesmo a noite?

Questão 5

A B C D E

Comentários: Os dois últimos versos reforçam o tema do poema: a água como a origem do mundo e da vida.

Nas demais opções, estão grifadas as incoerências das afirmações em relação ao poema:

a. o poeta faz uma denúncia sobre a seca na região, mostrando os dissabores da falta de água no planeta.

c. o emprego de construções sintáticas complexas aponta para uma oralidade no texto.

d. o título do texto apresentado como um verbete de dicionário está desconectado do tema do poema.

e. o poema apresenta uma reflexão sobre o desequilíbrio ecológico do planeta causado pelo ser humano.

136

Questão 5 - Discursiva (ITA-2002)

Observe o estilo do texto abaixo:

Foi até a cozinha.Tomou um gole de chá com uma bolacha água-e-sal. Ainda pensou em abandonar o pla-no. Mas, como se salvaria? Lavou as mãos e o rosto. Saiu de casa.

Trancou o minúsculo quarto-e-cozinha. Aluguel atrasado.

Despensa vazia. Contava os trocados para pegar o ônibus.

(AUGUSTO,Rogério. “Flores”. Cult. Revista Brasileira de Literatura, nº- 48, p. 34.)

a. Do ponto de vista redacional, que traços permitem considerar esse texto como contemporâneo?

b. De que forma se revela o clima existente nesse breve texto descritivo-narrativo?

Língua Portuguesa e Literatura 137

Gabarito

Questão 1

A B C D E

Comentários: o discurso indireto é aquele em que o narrador fala pelo personagem, o que não ocorre nesse

trecho.

Questão 2

A B C D E

Comentários: Apenas as afirmações 1 e 2 traduzem a preocupação do narrador frente aos seus atos de fala.

Questão 3

A B C D E

Os trechos a seguir justificam a resposta:

"Afinal se confirmou: era leucemia mesmo a doença de Matias, e a mãe dele mandou me chamar. "; "Com todo

o cuidado colocamo-lo num carrinho de bebê. Cabia bem, tão mirrado estava. "

Questão 4

A B C D E

Comentários: A presença da primeira pessoa do singular permite-nos identificar o narrador como um dos

personagens da narrativa.

138

Questão 5

a. Períodos articulados por coordenação num "estilo telegráfico"; palavras e expressões que remetem

à coloquialidade.

b. O clima de angústia e opressão fica evidente no cenário sufocante, (“Trancou o minúsculo quarto-e-

-cozinha.”), na falta de recursos da personagem (“Aluguelatrasado. Despensa vazia.") e nas dúvidas

e inquietações que marcam a personagem (“Ainda pensou em abandonar o plano. Mas, como se

salvaria?”).