Fasciculo Jucimara Rojas Jogos, Brinquedos e Brincadeiras a Linguagem Ludica Formativa Na Cultura
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JOGOS, BRINQUEDOS E BRINCADEIRAS: A LINGUAGEM
LÚDICA FORMATIVA NA CULTURA DA CRIANÇA
JUCIMARA ROJAS
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Apresentação
Jucimara Rojas
Neste momento de leitura deste fascículo, me apresento a você, caro(a) aluno(a): me chamo Jucimara Rojas, nascida em Curitiba. Resido em Campo Grande/MS. Como toda criança, fui muito inventadeira e sempre quis ser professora! Ensinar e aprender, criando instantes de grande riqueza intelectual e profissional. Perseguir este universo educativo na busca da contínua formação está presente a cada passo do nosso trabalho, na qualidade de educadora. Assim, como professora da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul do Departamento de Educação e do Programa de Pós-Graduação em Educação – Mestrado e Doutorado, alicerçamos nossas metas teóricas e formativas como: Pós-Doutora em Formação Educação e Ludicidade, pela Universidade de Aveiro–Portugal. Doutora em Educação pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Mestre em Educação, Supervisão e Currículo pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Fortalecemos nossos achados teóricos em diversas publicações, na área educacional, em autoria de livros sobre o Ser Professor: Metodologia e Aprendizagens, Interdisciplinaridade na Ação Didática, Ludicidade e Formação na Educação de Infância. Por igual, com vários artigos publicados na Ação Lúdica da Criança e o Espaço Educativo do Brincar no Desenvolvimento Infantil. Investigadora na linha de pesquisa Educação, Psicologia e Prática Docente, pesquisadora na fenomenologia, constitui-me uma artesã no tear lúdico do fazer, do pensar e do sentir na construção criativa do conhecimento. Tenho certeza que, de alguma forma, posso contribuir para seu processo de formação docente e discente. Esse fascículo contém informações e reflexões que podem modificar sua visão de mundo concernente às práticas pedagógicas infantis. Pronto (a) para caminharmos juntos (as)? Meu e-mail é [email protected] Um prazer acompanhá-lo (a) em suas mais novas descobertas atinentes à criança e auxiliá-lo (a) neste processo!
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ROJAS, Jucimara
Jogos, brinquedos e brincadeiras: a linguagem lúdica formativa na cultura da criança. Campo Grande: UFMS, 2007. Índice para Catálogo Sistemático
1. Linguagem Lúdica
2. Cultura e Formação
3. Título.
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Dedico a todos (as) educadores (as) que ensinam e aprendem com a criança na parceria lúdica do seu encantamento.
Agradecimentos à digitação e à formatação do fascículo: Graciela Mendes Nogueira – Acadêmica Curso Pedagogia - UFMS/2007
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Sumário
Introdução: uma página necessária..........................................................8
Capítulo 1 - O brincar e o reconhecimento da Infância..........................13
Capítulo 2 - O brincar em Linguagem....................................................21
Capítulo 2.1 - Brincar: um baú de metáforas..........................................31
Capítulo 3 - A Linguagem do brincar: função lúdica, cultural e
pedagógica no espaço infantil................................................................44
Capítulo 3.1 O jogo, a criança e as brincadeiras....................................51
À Guisa de considerações finais............................................................64
Referências.............................................................................................68 Referências complementares sobre o brincar........................................70 Sites sugeridos sobre a temática do brincar...........................................73 Sinopses dos Filmes sugeridos..............................................................74
Lista de figuras........................................................................................75
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Observe a imagem com atenção. Perceba o processo lúdico. Coloque-se à
disposição da aventura de brincar. Veja-se em algum momento de sua infância e se
permita descrever esse Era uma vez uma criança chamada...
"Jogos infantis" Obra de Pieter Bruegel, de 1560, evidenciando 84 atividades lúdicas com mais de 250 crianças
Figura 1
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INTRODUÇÃO: uma página necessária. . .
Pensar o processo lúdico é como pensar na construção mágica da poesia, pois
Poesia é brincar com as palavras
como se brinca com bola, papagaio, pião.
Só que
bola, papagaio, pião, de tanto brincar
se gastam.
As palavras não: quanto mais se brinca
com elas, mais novas ficam.
Como a água do rio
Que é água sempre nova.
Como cada dia que é sempre um novo dia.
Vamos brincar de poesia?
(José Paulo Paes)
Vamos brincar e construir? Construir com o lúdico? Transitando,
brincando e aprendendo? Vamos jogar com as palavras? No transitar entre o brincar
e o aprender; entre o aprender e o brincar?
Pretendemos, neste fascículo, não só brincar com as palavras, mas trazê-
las para sua reflexão e interpretação, tendo o lúdico como referência. Queremos
despertar no leitor o encanto, a magia e a alegria que pode ser o brincar. Vamos
juntos desvendar o mistério e o fascínio que seduzem qualquer criança quando
brinca. A bola que rola correndo por caminhos. A boneca que simbolicamente fala. A
pipa que voa e desenha infinitas formas no azul do céu, a música que soa e embala,
sugerindo movimentos impulsivos e ingênuos, criando rodopios de fantasias que
experimentam todas as formas de ser. Basta-me querer!
Assim, vamos brincar de poesia, de falar e de dizer, de construir e de
aprender. Permitamo-nos brincar com o movimento que as palavras vão traçando,
ao desenrolar significados e sentidos do viver, das experiências do pequeno Ser.
Esmiuçar desejos, desvelar caminhos, abrir espaços para ensinar com prazer,
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porque educar é estar com, e só tem sentido em uma ciranda que corre e que gira,
formando linhas sinuosas, coloridas, interessantes... Construções significativas,
transformando sabores em saberes. Trocas em experiências e afetos.
Generosidades em doar-se. Entrelaçamentos, parcerias e presenças,
contextualizando-os.
Brinque com linhas retas e curvas, contínuas e quebradas. Brinque com
as letras soltas, juntas e separadas. Desvele as frases, os dizeres e os pensares.
Interprete os autores e desvende as teorias. Reconstrua conceitos e pense
concepções. Vamos interagir em uma brincadeira de encanto e que magicamente
nos ensine a conhecer, a criar, a ser. Dê-me a sua mão – precisamos traçar novos
caminhos, percorrer outras estradas, passar por veredas... Entremear por entre as
árvores. Voar no arco-íris do conhecimento, mergulhar em cada uma de suas cores.
Sentir a essência viva e profunda da vibração cromática.
É preciso carregar de atenção, a intenção. Estar atento, curioso,
perceptivo às palavras e aos dizeres, para descortinar pensamentos e sentimentos.
A atenção nos permite ousar, revelar momentos que perpassam pela observação do
sentido, do vivido, do mundo que se revela e que se mostra. Assim, somos levados à
reflexão num mergulho no que já fomos e pensamos. Um momento de faz-de-conta
para lembrar, trazer à memória fatos e experiências. Vamos entrar no castelo
abandonado, cujos segredos e mistérios seduzem e sugerem novas descobertas.
A reflexão nos transporta para o mundo encantado e imaginário da
criança. É hora de brincar de aprender e, assim, conquistar espaços, abrindo a roda
com cirandas diferenciadas, entrelaçadas por criativas linguagens e imagens que
soam dos mistérios das palavras. É hora de aprender e de ensinar de mãos dadas,
Vamos correr, pular, saltar palavra por palavra, sem parar, costurando-as...
Bordando-as...
Nesta roda de contínua construção é que nos dirigimos a todos os
educadores que estão envolvidos com a criança. Todos os interessados na leitura
como momento de reflexão teórica para uma práxis, alicerçada nos
encaminhamentos da aprendizagem infantil. Procuramos permear o texto com
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pontos interessantes que nos fazem pensar, entrelaçando informações, trocando
idéias e pontos de vista de caráter dialógico no ir-e-vir interativo com o leitor.
Destarte, tal enfoque orienta a estrutura dos textos, partes do fascículo.
Dividimos em oito partes esse estudo, priorizando e destacando, em cada parte,
determinado autor no argumento da idéia. Trazemos o pensar e as construções
teóricas com base em experiências relevantes e pesquisas atuais sobre o brincar.
Porém fazemos uma complementação do referencial, com diversos outros autores
na bibliografia, com auxílio a futuras pesquisas.
Nos capítulos, referenciamos e destacamos três seções interativas:
seção 1: Era uma vez...; Seção 2: Riscos e rabiscos; seção 3: Sapeando e
contextualizando. Nessas seções chamadas interativas, evidenciamos os textos,
contextualizando situações características, explicativas, exploratórias,
argumentativas e complementares numa intermediação lúdica, dialogando com o
leitor. Os ícones _ livro, lupa, lápis _, ao lado de cada seção, destacam e
representam imagens ilustrativas de caráter atentivo e observacional.A palavra Ser
com maiúsculo, estilo próprio, como destaque do sentido ontológico no processo.
Ao construirmos essas “chamadas”, pensamo-las como uma parada
reflexiva. Forma de chamar a atenção do leitor para algumas curiosidades que
julgamos interessantes, considerada a ludicidade em criação espontânea à qual
conduz a um aprendizado. Aprendizado, certamente, interdisciplinar, no aspecto
dialógico, axiológico e interpretativo.
A chamada Era uma vez... Seção 1 pretende contar uma pequena história
sobre cada autor. Uma biografia ludicamente apresentada que aparece no início da
leitura para propiciar ao leitor importantes descobertas. Escolhemos um autor básico
para que o leitor possa, durante o período de estudo, fazer com outros autores um
exercício de pesquisa. Este exercitar é um descortinar de conhecimentos que
favorecem a formação do sujeito aprendiz.
Procuramos mostrar a relação do autor com sua obra, suas
peculiaridades em pontos objetivos e de fácil entendimento na mostra das parcerias
utilizadas para a construção do fascículo, momento de reflexão para o leitor
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conhecer o autor selecionado, entrando na ciranda lúdica das ricas elaborações
empreendidas por esses pares teóricos escolhidos, na construção textual.
Na seção 2, Riscos e rabiscos, procuramos trazer ao leitor informações,
curiosidades, alguns detalhes tendentes a propiciar desde que possível, um
aprender ocasional e/ou histórico, bem como epistemológico, compondo um todo
ordenado. Podemos metaforicamente compará-los a pequenos retalhos coloridos e
chamativos que viabilizam compreender o feito, a confecção de toda a peça e que
facilitam a construção do todo, como se fossem uma colcha de retalhos numa
composição de emoções, fundamentações e parcerias.
Quando chamamos a atenção do leitor na seção 3, Sapeando e
contextualizando, queremos convidá-lo para interagir em atividades reflexivas. Entrar
na roda e conosco formar uma grande espiral de idéias. Uma ciranda criativa e
interessante. Participar juntos na construção dos momentos ricos de brincadeiras,
jogos, músicas, poesias. Enfim, fazer parte de instantes de uma aguda observação,
em que contextualizar, criar, elaborar e re-significar a construção do conhecimento
sejam o participar e o demonstrar da praticidade de ação.
Estamos convidando você para brincar na parceria com outros sujeitos,
numa interação interdisciplinar em atitudes, idéias, pensamentos e ações. Colocar
as mãos na massa. Fazer a interação lúdica de uma ação que se faz entre pares,
quer sejam autores, leitores e/ou crianças que possam sugerir à nossa imaginação
um brincar coletivo, de magia, encantamento e fantasia.
Caro (a) aluno (a), diga sim! Faça de cada “chamada” um sentido de
interatividade! Faça a sua ciranda. Permita construir um conhecimento com base na
ludicidade. Entre na roda! Pois é no rodar da roda que se sente a importância de
elaborar algo, tendo o brincar como inter-mediador. Então vamos fazer, brincando?
Libere o lúdico que existe em você!
O fascículo sobre Jogos, Brinquedos e Brincadeiras: a linguagem lúdica
formativa na cultura da criança, apresenta os seguintes capítulos:
Capítulo 1-O brincar e o reconhecimento da infância, mostra o sentido de
infância na história e como os jogos, brinquedos e brincadeiras se constituem nessa
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história. Percebemos que a criança tem pouco período para aproveitar sua fantasia,
dado que, em sua socialização, era tratada como adulto.
Capítulo 2-O brincar em linguagem, diz do sentido mediador do brincar,
do brinquedo e da brincadeira, evidenciando o caráter imaginário e as emoções da
criança na ação espontânea, deixando evidente a importância da metáfora em cada
brincadeira, brinquedo ou jogo.
Capítulo 3 - A linguagem do brincar: função lúdica, cultural e pedagógica
no espaço infantil pontua uma cultura lúdica nos efeitos de sentido do Ser, dando
ênfase à questão do jogo e a algumas características: demonstram que, por meio do
sentido de jogar, se podem estabelecer evidentes culturas. Culturas essas
expressadas no jogo, na arte, na criatividade, na poesia. O jogo é um elemento que
favorece a aprendizagem porque encerra a busca, a descoberta; instiga, dizendo ao
sujeito aprendiz que alguma coisa está em jogo.
À guisa de considerações finais, de sua vez, apresenta pequena síntese
retrospectiva dos capítulos que perfazem o fascículo, com a intenção de sugerir a
atividade reflexiva principal: a escrita de pequeno artigo que relate a experiência
vivida, em algum momento de sua prática, com o estudo realizado.
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Capítulo 1 - O brincar e o reconhecimento da infância
Os estudos de Ariès (1960) evidenciam que o sentimento sobre a infância
começa a surgir lentamente na sociedade Ocidental entre os séculos XIII e XVII. A
infância até então era desconsiderada nas suas especificidades. A criança pequena
se transformava, imediatamente, em homem adulto, sem passar pelas etapas da
juventude, aspectos essenciais na sociedade atual.
A socialização da criança, assim como as transmissões dos valores e dos
conhecimentos, não era assegurada nem controlada pela família. A aprendizagem
infantil era advinda da convivência da criança com o adulto, que o auxiliava em seus
afazeres. A criança era logo misturada aos adultos, partilhava de seus trabalhos e
jogos, garantindo assim sua educação.
Percebemos, nesse tom, que a infância era uma espécie de anonimato e
que a presença da criança, na família e na sociedade, era muito breve e
insignificante. Suas necessidades, bem como as etapas de seu desenvolvimento,
eram ignoradas, não recebendo a devida importância.
Ariès (1960), nas suas pesquisas, mostra que muitos historiadores
reconhecem a indiferença que persistiu até muito tarde com relação às crianças.
Mais recentemente, tais relações passam a conquistar um espaço na família e na
sociedade, ao considerar a infância como etapa importante na vida do ser humano.
Logo, preocupações relacionadas com o desenvolvimento e com o futuro do
pequeno Ser são evidentes, mesmo no aspecto legal.
Por meio dos documentos consultados por Ariès (1960), pode-se imaginar
como era a vida da criança no início do século XVII. Igualmente, como eram suas
ERA UMA VEZ...Um historiador chamado Philippe Ariès que caminha pelo mundo da curiosidade, como ele mesmo diz, e que se propõe a excitar constantemente essa curiosidade, no sentido de voltar ao passado, para buscar a origem das coisas, seguindo um comportamento histórico e tendo como ponto de partida uma questão presente. Assim, após debates contemporâneos sobre a criança, a família, a juventude, Áries procura investigar a história social da criança e da família, para uma compreensão maior da questão da infância. Figura 2
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brincadeiras e a que etapas de seu desenvolvimento físico e mental cada uma delas
correspondia. Esse autor observa, no entanto, que a idade de sete anos marca uma
etapa importante: a idade, geralmente fixada pela literatura moralista e pedagógica
deste século, para a criança entrar na escola ou começar a trabalhar.
As pesquisas de Ariès evidenciam que com relação aos jogos e
brincadeiras das crianças, nesse período da história do Ser, a maior parte dos jogos
eram os mesmos destinados aos adultos: “Parece, portanto, que no início do século
XVII não existia uma separação tão rigorosa como hoje entre as brincadeiras e os
jogos, reservados às crianças, e as brincadeiras e os jogos dos adultos. Os mesmos
eram comuns a ambos”. (1960, p.88).
Ariès (1960) aponta que, por volta de ano de 1600, a especialização das
brincadeiras pertencia à primeira infância. Ele destaca que, nessa fase, não existia
muita discriminação entre meninos e meninas, que ambos os sexos usavam o
mesmo traje, uma espécie de vestido, e que a brincadeira com bonecas era comum
a meninos e meninas.
Como parte desse mundo chamado de primeira infância, Ariès (1960)
reconhece alguns brinquedos que percorreram longo caminho, porém quase
desapareceram nos dias de hoje, como o cavalo-de-pau, o cata-vento, o pião, o
pássaro-preso por um cordão e a boneca. Ainda, pássaro amarrado, que para nós é
a pipa, e a boneca que outrora era feita de palha, de louça ou pano. Algumas bem
artesanais, e com significados religiosos, atualmente vestem-se de novas
roupagens, valendo-se dos avanços tecnológicos da indústria, com inovações
constantes dentro do universo de consumo.
RISCOS E RABISCOS... Uma curiosidade... Ariès relata pequenos trechos da infância de um jovem chamado Luís XIII, um menino nobre nascido na França. Seu médico Heroard deixa um registro minucioso de todos os seus feitos e graças a que Ariès tem acesso. Uma infância diferenciada das demais crianças, visto que este jovem recebeu uma educação pautada pelos princípios da nobreza.
Figura 3
15
Ariès (1960) complementa que, na sociedade antiga, a criança já praticava
alguns jogos e brincadeiras, como o arco, cartas e xadrez. Participava dos jogos dos
adultos, como raquete e inúmeros jogos de salão. Jogos comuns aos de hoje eram
os de mímica e de salão, cabra-cega, esconde-esconde, o homem-que-não-ri, a
berlinda, brincadeiras de pegar e o jogo de peteca com raquetes.
Ariès (1973) registra o que talvez, para nós professores, possa ser uma
idéia: um jogo de papeizinhos, muito em moda no fim da Idade Média, uma espécie
de adivinha com rimas que dão origem à canção popular e às brincadeiras infantis,
como o próprio jogo das rimas. Uma brincadeira ou jogo de salão que consistia em
adivinhar as profissões e as histórias representadas por mímica. Também a música,
a dança, o canto e o brinquedo com balanços ocupavam um lugar de destaque, no
cotidiano infantil.
Mesmo os adultos e os jovens que já haviam deixado a infância não
abandonam inteiramente os jogos, entre eles a cabra-cega, o jogo do assobio, a
faca na bacia com água, o esconde-esconde, o passarinho que voa, o cavalheiro
gentil, o homem que não ri, o pote do amor, o rabugento, a berlinda, o beijo embaixo
do castiçal e o berço do amor.
RISCOS E RABISCOS... Ainda mais curioso: vamos imaginar o pequeno Luís XIII, lá no século XVII, com um ano e meio, brincando com cavalo-de-pau, cata-vento e pião. E logo ganha um violino, pondo-se a imitar os adultos, ensaiando já algumas notas. A música, naquela época, direcionava para romper com o aspecto lúdico, com a fantasia e o faz-de-conta que envolviam o Ser criança.
SAPEANDO E CONTEXTUALIZANDO... Atividades para você fazer: é interessante que o professor resgate os jogos tradicionais, as adivinhas, as trava-línguas que servem de momentos lúdicos em que a criança tanto se diverte como aprende brincando. Pesquise e apresente, por exemplo, um o-que-é-o-que-é em algum momento de sua prática.
Figura 4
16
Ariès (1973) constata a participação ativa das crianças nas cerimônias
tradicionais. A criança desempenha um dos papéis essenciais previstos pela
tradição, no meio da coletividade reunida. O costume rezava que as graças fossem
ditas por uma das crianças mais novas e que o serviço da mesa fosse feito pela
totalidade das crianças presentes.
Além da música e da dança, as representações dramáticas reúnem toda a
coletividade e misturam as idades tanto dos atores quanto dos espectadores. Existia
também a moda dos contos de fada no fim do século XVII; essas histórias, no
entanto, destinam-se tanto às crianças, quanto aos adultos.
Por volta dos sete anos, a criança deixa de lado esses brinquedos,
destinados à primeira infância, para começar uma etapa importante na sua vida,
evidenciada pela entrada na escola.
Dessa maneira, percebemos que na sociedade antiga os jogos, as
brincadeiras e os divertimentos formam um dos principais meios para estreitar laços
e manter a sociedade unida. Tanto a criança como o jovem participam, em situação
de igualdade, com todos os outros membros da sociedade, porém que há uma
ruptura na ludicidade tão significativa, neste período da existência do pequeno Ser,
considerado adulto em miniatura.
Pautamos, então, por um momento de reflexão teórica sobre o brincar. A
importância do período lúdico na formação do pequeno Ser. Como educadores,
pretendemos cada vez mais ampliar os espaços do conhecimento e do trabalho
pedagógico e, assim, propiciar um encontro significativo da criança com o lúdico,
entendido como a representação simbólica das possibilidades do viver.
RISCOS E RABISCOS... Nova curiosidade: registrar que o nosso pequeno Luís XIII também brincava com bonecas, pois a boneca não se destinava apenas às meninas. Brincava também de cortar papel com a tesoura. Brincava de bater palmas e de esconder. E aos três anos, divertia-se com o jogo de rimas, recitações orais e contos de fada.
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Neste momento, denominado de reflexão teórica, abrem-se as
oportunidades em pequenos espaços de tempo para a atividade do Ser que reflete,
examina e compara os pensamentos na busca teórica, da leitura e da compreensão,
do pensar e do refletir sobre a ludicidade.
Este é o tempo presente. Tempo de refletir, de observar, de incorporar e de
interpretar os ditos e feitos de nossos autores, para redescobrir e re-direcionar os
caminhos pedagógicos, na Educação de Infância. Na recuperação do lúdico, como
prática permanente no cotidiano de sala de aula, tendo como centro a criança, sua
vida, suas ações, seu mundo, seu Ser.
Por meio da ludicidade, como comunicação do humano, podemos
evidenciar muitos pensares e falares que alimentam, qualitativamente, a vida da
criança em novas construções.
A criança fala e interage em todas as suas ações, e o educador (a) não
pode perder isso de vista, ao estruturar as propostas que visam ao trabalho
educativo com a infância. A ludicidade é a manifestação da espontaneidade por
meio da fala e dos gestos que a criança expressa de forma prazerosa, revelando
maior significado ao aprender.
Acreditamos que o brincar é o primeiro experimentar do mundo que se
realiza na vida da criança. É uma linguagem de interação que possibilita
descobertas e conhecimentos sobre si mesma, sobre o outro, sobre o mundo que a
rodeia.
Entretanto, com o acelerado processo de mudanças em nosso mundo e
uma civilização cada vez mais técnica, a criança está perdendo sua capacidade de
brincar. A originalidade deste momento do brincar está cedendo lugar a um mundo
SAPEANDO E CONTEXTUALIZANDO... Atividade para você fazer. Que tal pedir que a criança pergunte aos avós sobre os brinquedos da antiguidade e reinventá-los,criando com a criança? Vamos tentar pensar reflexivamente sobre essa construção, praticando uma cultura lúdica?Faça essa interatividade e trabalhe toda essa parte do fascículo - criança com brinquedo-, com a história contada e os brinquedos vividos pelos avós:a presença da avó ou avô na escola.
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centrado nos caminhos mecanizados e cada vez mais informatizados que levam o
humano a se robotizar, no pensar e no agir.
O espírito lúdico da convivência prazerosa e criativa que vinha sendo praticamente desenvolvido desde o nascimento, com o próprio corpinho e com a mãe, e depois no faz-de-conta solitário, passa pouco a pouco a fazer parte do universo social, agora transversal, entre pares, com sua complicada trama de relações, suas regras e acordos, muitas vezes ainda implícitos e velados. (OLIVEIRA, 2000, p.22)
O brincar infantil não pode ser considerado apenas uma brincadeira
superficial, sem nenhum valor, pois, no verdadeiro e profundo brincar, acordam,
despertam e vivem forças de fantasias que, por sua vez, chegam a ter uma ação
direta sobre a formação e sobre a estruturação do pensamento da criança. Esse
processo natural e sadio de se processar a inteligência não é possível, quando as
crianças não realizam ou não conseguem mais o verdadeiro brincar.
É evidente que o mundo humano tem mais significados no brincar da
criança. Tal mundo é apreendido pela imitação e fixado na criança pelo brincar,
momentos em que ocorre a repetição de fatos corriqueiros da vida diária, tendo o
seu ápice na vivência, que a criança tem de si mesma. Vivência que muitas vezes,
encontra sua expressão mais profunda, “como um Eu”, no brincar com uma boneca,
por exemplo, com a qual se identifica. “Dramatizar o vivido, representando-o, ajuda a
criança a afirmar-se como pessoa e a externar sentimentos e pensamentos”.
(OLIVEIRA, 2000, p.19)
Figura 5
19
O brincar infantil constitui a forma básica mais importante e decisiva do
ser humano, por fazer desabrocharem e ativarem as forças criativas da criança.
Todo educador precisa estar consciente dos malefícios dos brinquedos industriais,
produzidos em série, de gosto pouco duvidoso, e que não atendem às necessidades
de descoberta da criança. A maioria deles se apresenta de tal forma que a força da
fantasia da criança não encontra alimento para dar vazão à imaginação, às
construções simbólicas próprias da criança, pois não há nada a completar, a
imaginar, a projetar sobre esses brinquedos.
A fantasia infantil necessita de liberdade para poder desenvolver pelo
manuseio ativo e curioso do material que a criança tem oportunidade de vivenciar no
mundo, as formas e a qualidade de tudo que existe.
Precisamos ouvir e ver o que se expressa no brincar infantil, sem
interferência, dirigindo e desencantando esses movimentos. Nós, adultos, estamos
sempre exigindo ordem e limpeza, qualidades muito valorizadas numa sociedade
progressiva, que, para as crianças, são como limites impostos a seu brincar.
A criança sente um choque quando, por meio de um comportamento
severo do adulto, é arrancada do rico mundo da fantasia e sonho e, bruscamente,
empurrada para a realidade do mundo adulto. Tais posturas desencadeiam no
prazer original do brincar a timidez, a insegurança e o medo, gerando
comportamentos distorcidos que criam as raízes das atitudes inadequadas na
criança.
Uma situação lúdica pode ser vista, assim, como um excelente meio de reconhecimento individual e grupal de características pessoais e grupais, quer sociais, morais ou intelectuais em suas múltiplas combinações. Por
Figura 6
20
outro lado, de forma complementar, aponta dificuldades e pontos mal desenvolvidos, levando a criança a buscar melhorá-los para preservar sua imagem perante os outros. (OLIVEIRA, 2000, p.23)
É nesse sentido que o educador (a) deve valorizar o brincar da criança, ao
menos nos primeiros sete anos de vida. Atualmente, é no brincar livre que a criança
vai estruturar sua capacidade de julgamento, a capacidade de fundamentar sua
personalidade em importantes valores, princípios e regras.
Não podemos transferir para o mundo
infantil nosso pensar intelectual utilitarista, pois provocaremos na criança
comportamento desumano. Basta um pequeno passo para que esse
comportamento, precocemente adulto na criança, se transforme em conseqüências
desastrosas para sua vida futura. Assim, a prática lúdica na infância num lar
harmonioso, certamente, é o que de melhor e mais precioso uma criança pode levar
consigo para sua vida futura.
Oportuno nos reportarmos à sociedade antiga para compreendermos
como era o mundo do brincar em tão longínquo passado, até mesmo para
recuperarmos semelhanças e diferenças com o mundo contemporâneo em um
entendimento, cada vez maior, do mundo infantil.
SAPEANDO E CONTEXTUALIZANDO: uma atividade reflexiva - faça uma pesquisa sobre alguns brinquedos de época, realizando uma exposição deles em sala de aula. Como sugestão: peça que a criança um brinquedo e aproveite cada brinquedo trazido para que ela conte a história deste brinquedo na roda da rotina. Assim, você faz com que o brincar seja a mediação no aprender, falando a linguagem da criança.
Figura 7
21
CAPÏTULO 2 – O brincar em linguagem...
Vygotsky (1991) nos evidencia as características infantis, ao apontar a
importância da linguagem e da percepção, que envolvem sentidos e significados o
mundo, visto pela criança. A mágica, o sonho e a fantasia eclodem no imaginário
infantil e são traduzidos pelos movimentos, pelos gestos espontaneamente
revelados em ações ingênuas e até involuntárias.
Assim, entendemos que todas as capacidades intelectuais, afetivas e
emocionais são construídas ao longo da vida do indivíduo pelo processo de
interação do Ser com o meio. Esse processo é responsável pela aquisição da
cultura, elaborada historicamente pelas gerações precedentes, desde a gênese da
espécie até nossos dias.
Acrescenta-se então a emoção como fator determinante no processo de
mediação no ensino-aprendizagem. É evidente que essa aquisição passa
necessariamente pela escola. Isto significa que o professor precisa lançar novo
“olhar” sobre suas ações e, sobretudo, sobre o mundo que está à sua volta. Esse
“olhar” pode incorporar as novas interpretações, ao analisar as ações docentes,
revelando novo educador, diante das capacidades intelectuais, afetivas e
emocionais do aprendiz.
Ao fazer isso, o educador assegura a possibilidade de garantir as
intervenções necessárias no processo de mediação. Primeiro, deve assumir uma
ERA UMA VEZ um psicólogo russo chamado Lev Semenovick Vygotsky, mais conhecido por Vygotsky. Nasceu em 1896, morou e viveu na Rússia. Foi o primeiro psicólogo moderno a sugerir os mecanismos pelos quais a cultura se torna parte da natureza de cada pessoa ao insistir que as funções psicológicas são produto de atividade cerebral. Associou psicologia experimental com neurologia e fisiologia, ao relacionar a dialética aos processos de construção do pensamento, e conseguiu explicar a transformação dos processos psicológicos elementares em processos complexos dentro da história. Vygotsky enfatiza a questão do ensino, que deve valorizar a criança como Ser que pensa, raciocina, deduz e abstrai, mas também como alguém que sente, se emociona, deseja, imagina e se sensibiliza. Insere a afetividade, também, como ponto essencial, na aprendizagem da criança.
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postura não diretiva, mas intervencionista e, sobretudo, trabalhar com a importância
do meio cultural e das relações entre indivíduos, a fim de orientar o percurso do
desenvolvimento. Portanto, o educando deve ser ativo no processo de construção e
elaboração dos conceitos e significados que são transmitidos culturalmente.
A atividade, seja ela qual for, é caracterizada pelas ações dos indivíduos,
ou melhor, a atividade de ensinar e de aprender é desencadeada pelos motivos que
podem ser compreensíveis e eficazes. São processos conscientes, porém somente
os motivos realmente eficazes se concretizam em ações.
Assim como o motivo, a emoção é um dos elementos constituintes da
atividade mediadora de ações e operações, estejam estas intrínsecas na educação
formal ou não. A ação do indivíduo se guia por sinais, vivências, marcas emocionais
de acontecimentos e símbolos.
Tais atividades funcionam como instantes que marcam emocionalmente
a criança. Constituem fatores que podem determinar uma forma de construir
conceitos, sendo eles significativos, ou não, de elaboração de abordagens,
considerando a mediação entre o indivíduo e o mundo real.
Na educação dos pequenos, é imprescindível que o educador volte o
olhar para essas “marcas emocionais” de modo a dar sentido ao aprender,
resgatando o Ser criança com toda a criatividade, sensibilidade e percepção que lhe
são próprias.
Observamos que, na criança, a linguagem e percepção estão intimamente
ligadas. E que um aspecto especial da percepção humana – que surge em idade
muito precoce – é a percepção de objetos reais. Ela é parte de um sistema dinâmico
SAPEANDO E CONTEXTUALIZANDO... Sugestão de uma atividade reflexiva. Para a criança, a casinha de bonecas é um reino encantado cheio de magias em que ela tem a oportunidade de brincar simbolicamente, realizando todas as questões emocionais, afetivas e, assim, construir sua autonomia. É importante preparar um canto especial, na sala de aula, que assegure esse brincar espontâneo e, ao mesmo tempo, social, possibilitando o expressar infantil no faz-de-conta e nas atividades livres. Faça o seu canto...
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de comportamento; por isso, a relação entre as transformações dos processos
perceptivos e as que ocorrem em outras atividades intelectuais são de fundamental
importância. Com base nesse pensamento, Vygotsky entende que “o mundo não é
visto simplesmente com cor e forma, mas também como um mundo com sentido e
significado”. (1991, p. 37)
A aprendizagem, criando o que Vygotsky (1991) denominou de "zona de
desenvolvimento proximal", desperta vários processos internos capazes de operar
somente quando a criança interage com pessoas em seu ambiente, e quando em
cooperação com seus companheiros. Para Vygotsky (1991), as experiências infantis
ganham sentido e significado nas interações sociais, em que estabelecem trocas
importantes de convívio, que auxiliam no despertar psicológico da criança.
Os mundos, plenos de sentidos e significados, além de intensamente
coloridos, com variadas formas, objetos e pessoas, influenciam diretamente a vida
da criança, instalando em seu ser desejos, fantasias sonhos. E é no início da idade
pré-escolar, quando surgem os desejos que não podem ser imediatamente
satisfeitos ou esquecidos, que o comportamento da criança muda.
Para resolver essa tensão, a criança em idade pré-escolar se envolve num
mundo ilusório e imaginário em que os desejos não realizáveis podem ser
realizados. O mundo dos brinquedos. A imaginação é um processo psicológico novo
para a criança; representa uma forma especificamente humana de atividade
consciente: ela não está presente na consciência da criança muito pequena e está
totalmente ausente em animais. Como todas as funções da consciência, ela surge
originalmente da ação. É um caminho de realização que a criança encontra para
resolver seus conflitos.
Além da realização dos seus desejos, a criança passa a internalizar
situações que a levam a comportamentos desejados pelo meio em que vive.
Vygotsky (1991) insiste que, nesse sentido, o brincar vem, em todos seus aspectos,
atender a esses apelos da consciência infantil, visto que não existe brinquedo sem
regras. A situação imaginária de qualquer forma de brinquedo já contém regras de
comportamento, embora possa não ser um jogo com regras formais estabelecidas a
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priori. A criança se imagina como mãe e a boneca como criança. Dessa forma, deve
obedecer às regras do comportamento maternal.
Pelo pensar do autor, o brinquedo tem sua estrutura baseada nas
situações imaginárias e nas regras. Sempre que há uma situação imaginária no
brinquedo, há regras – não as estabelecidas para a realização do jogo e que mudam
durante ele, mas aquelas que têm sua origem na própria situação imaginária.
Portanto, a noção de que uma criança pode se comportar em uma situação
imaginária e sem regras é simplesmente incorreta. A situação imaginária
proporciona caminhos que a criança percorre, com seqüências de situações que até,
inconscientemente, procura atender e avançar cada vez mais.
Logo, como toda situação imaginária contém regras de uma forma oculta,
também ocorre ao contrário – todo jogo, com regras, contém de forma oculta uma
situação imaginária. O desenvolvimento, a partir de jogos e brincadeiras, em que há
uma situação imaginária às claras e regras ocultas, para jogos com regras, delineia
a evolução do brinquedo da criança. Esses momentos são concomitantes na
realização do brincar e favorecem o processo de aprendizagem infantil.
Para Vygotsky (1991), é enorme a influência do brinquedo no
desenvolvimento de uma criança. Pois, com menos de três anos de idade, é
essencialmente impossível envolver-se em uma situação imaginária, uma vez que
isso implica uma forma nova de comportamento que liberta a criança das restrições
impostas pelo ambiente imediato. Mas a ação numa situação imaginária ensina à
criança dirigir seu comportamento não somente pela percepção imediata dos
objetos, ou pela situação que a afeta de imediato, mas também pelo significado
dessa situação.
SAPEANDO E CONTEXTUALIZANDO... Crie o cenário e deixe fluir a atividade. Professor, valorize o momento da dramatização na sala de aula, pois ele é de plena expressividade da criança. É quando exprime sentimentos simbolicamente imaginados. Cria e recria situações, re-significando o real, inventando um mundo próprio. As dramatizações podem se realizar a partir de brinquedos e brincadeiras, histórias, contos, músicas, poesias, textos informativos, filmes, etc. Realize uma atividade por semana, nesse sentido, em seu ambiente de ação.
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Observações do dia-a-dia e experimentos mostram, claramente, que é
impossível para uma criança, notadamente as pequeninas, separar o campo do
significado do campo da percepção visual. Mais que tudo porque há uma fusão
muito íntima entre o significado e o que é visto.
Nesse sentido, o brinquedo auxilia o desenvolvimento, fazendo com que,
pouco a pouco, a criança comece a distinguir os significados dos objetos reais; sua
percepção evolui a partir das experiências que o próprio brinquedo proporciona,
ampliando seu imaginário. (VYGOTSKY, 1991)
A estruturação do pensamento ocorre na idade pré-escolar, em que pela
primeira vez há uma divergência entre os campos do significado e da visão. No
brinquedo, o pensamento está separado dos objetos e a ação surge das idéias e
não das coisas: um pedaço de madeira torna-se um boneco e um cabo de vassoura
torna-se um cavalo.
SAPEANDO E CONTEXTUALIZANDO... Vamos fazer, pensar e construir com sucatas. O professor tem nessa fonte inúmeras possibilidades para auxiliar o desenvolvimento da criança em que surgem situações de aprendizagem. A criança dá vida às suas fantasias e sonhos, colocando à mostra seu imaginário, sua capacidade e potencial criativo.É interessante construir projetos que envolvam sucatas. Na sua finalização, pode ser feita uma exposição das peças. Ex: Construção de bonecos com garrafas pet, para evidenciar os vieses de raças e/ou gênero.
Figura 8
26
A ação regida por regras começa a ser determinada pelas idéias não
pelos objetos, e representa tamanha inversão da relação da criança com a situação
concreta, real e imediata, que é difícil subestimar seu pleno significado. A criança
não realiza esta transformação de uma só vez, porque lhe é extremamente difícil
separar o pensamento (o significado de uma palavra) dos objetos.
No brinquedo, a criança opera com significados desligados dos objetos e
ações aos quais estão habitualmente vinculados. Ao brincar, a criança utiliza os
elementos mais significativos para ela no momento, sejam afetivos, emocionais,
sejam sociais.
Se bem que assim, uma contradição muito interessante surge, uma vez
que, no brinquedo, ela inclui, também, ações e objetos reais, caracterizando a
natureza de transição da atividade do brinquedo: “é um estágio entre as restrições
puramente situacionais da primeira infância e o pensamento adulto, que pode ser
totalmente desvinculado de situações reais”. (VYGOTSKY, 1991, p.112)
O brinquedo, segundo o autor, é o mundo ilusório e imaginário em que os
desejos não realizáveis podem ser realizados. É no brinquedo que a criança
aprende a agir numa esfera cognitiva, e não numa esfera visual externa,
dependendo das motivações e tendências internas, não dos incentivos fornecidos
pelos objetos externos.
O brincar permite, de forma espontânea, que a criança use sua
capacidade de separar o significado do objeto sem saber que o está fazendo. Da
mesma forma que ela não sabe que está usando a linguagem em prosa e, no
entanto, fala, sem prestar atenção às palavras.
Dessa forma, por meio do brinquedo, a criança atinge uma definição
funcional de conceitos e objetos e, assim, as palavras passam a se tornar parte de
algo concreto. A ação da criança, no momento do brincar, é o ponto de partida para
o desenvolvimento de suas capacidades.
Na situação imaginária, a criança tem a oportunidade de se fazer
autônoma, ante às situações e restrições impostas pelo mundo que a cerca. O
brinquedo auxilia nesse processo em que a criança, de forma espontânea e até
mesmo inconsciente, aprende a seguir as regras. Por conta da satisfação e do
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prazer que encontra no brincar, tem a possibilidade de, cada vez mais descobrir-se,
ampliando seus limites:
A criação de uma situação imaginária não é algo fortuito na vida da criança; pelo contrário, é a primeira manifestação da emancipação da criança em relação às restrições situacionais. O primeiro paradoxo contido no brinquedo é que a criança opera com um significado alienado em uma situação real. O segundo é que, no brinquedo, a criança segue o caminho do menor esforço – ela faz o que mais gosta de fazer, porque o brinquedo está unido ao prazer – e, ao mesmo tempo, ela aprende a seguir os caminhos mais difíceis, subordinando-se às regras e, por conseguinte, renunciando ao que ela quer, uma vez que a sujeição a regras e a renúncia à ação impulsiva constitui o caminho para o prazer no brinquedo. (VYGOTSKY, 1991, p.113)
Sabemos que o brinquedo não é um aspecto predominante da infância,
mas é um fator muito importante no desenvolvimento. Vygotsky (1991) tenta
demonstrar o significado da mudança que ocorre no desenvolvimento do próprio
brinquedo, de uma predominância de situações imaginárias para a predominância
de regras. Esse percurso favorece mudanças que levam a novos comportamentos.
Assim, as transformações internas no desenvolvimento da criança surgem
em conseqüência do brinquedo. O comportamento espontâneo da criança não pode
levá-la à subordinação às regras de maneira natural, com iniciativa própria. No
entanto, no brincar, considerado como atividade própria da infância, a criança
internaliza comportamentos que geram as transformações necessárias a seu
desenvolvimento.
O brinquedo cria uma zona de desenvolvimento proximal na criança. No brinquedo, a criança sempre se comporta além do comportamento habitual de sua idade, além do seu comportamento diário; no brinquedo é como se ela fosse maior do que é na realidade. Como no foco de uma lente de aumento, o brinquedo contém todas as tendências do desenvolvimento. Sob forma condensada, sendo, ele mesmo, uma grande fonte de desenvolvimento (VYGOTSKY, 1991, p.117)
RISCOS E RABISCOS... Brincar é coisa séria! A construção do conhecimento com o brinquedo é uma dialógica com a própria realidade. Quando a situação mostra a novidade, o sujeito pensa criativamente e mostra a mistura integrada da ciência, da técnica, da arte, de modo sensível, afetivo, criativo e resiliente.(ROJAS,2004, p.46)
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Notamos que, apesar de a relação brinquedo-desenvolvimento poder ser
comparada à relação instrução-desenvolvimento, o brinquedo fornece ampla
estrutura básica para as mudanças das necessidades e da consciência. A criança
começa a ter domínio de suas vontades, a conhecer-se e a relacionar-se com o
mundo à sua volta. De ações involuntárias, passa a ter noção das situações reais e
dos objetos a seu redor.
O brincar intensifica a percepção infantil que, por sua vez, direciona seu
pensar de maneira cada vez mais equilibrada, favorecendo aprendizagens ao longo
do seu crescimento. Ao desenvolver suas potencialidades, a criança aprende a
interagir, vencendo suas dificuldades, tomando decisões nas situações conflituosas.
O brinquedo se torna desafio que estimula novas descobertas, levando-a a
desenvolver-se:
A ação na esfera imaginativa, numa situação imaginária, a criação das intenções voluntárias e a formação dos planos da vida real e motivações volitivas – tudo aparece no brinquedo, que se constitui assim, no m ais alto nível de desenvolvimento pré-escolar. A criança desenvolve-se, essencialmente, através da atividade brinquedo. Somente nesse sentido o brinquedo pode ser considerado uma atividade condutora que determina o desenvolvimento da criança. (VYGOTSKY, 1991, p.170)
À medida que o brinquedo se desenvolve, observamos um movimento em
direção à realização consciente de seu propósito. É necessário conceber o
brinquedo como atividade com propósitos que direciona as ações da criança. Às
vezes, no brinquedo, a criança é livre para determinar suas próprias ações; em
outra, é uma liberdade ilusória, pois suas ações são, de fato, subordinadas aos
significados dos objetos, e ela age de acordo com eles.
RISCOS E RABISCOS... Uma nova curiosidade. Boa para comentar e realizar. De um em um, em um pé só até chegar no céu... Movimento livre que permite à criança ficar absorvida do objeto brincado. A Amarelinha (ou Pular Macaca, como é visto em Portugal) é uma brincadeira muito antiga, fazendo parte do folclore. É conhecida por diversos nomes: além de Amarelinha e Pular Macaca, maré, avião, sapata, jogar ou saltar a macaca.
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A ação intencional do educador (a) deve estar voltada para os objetivos
pedagógicos do brincar, uma vez que, do ponto de vista do desenvolvimento, a
criação de uma situação imaginária pode ser considerada meio para desenvolver o
pensamento abstrato. É preciso também levar em conta cada faixa de idade, com
suas especificidades.
Para Vygotsky (1991), o ensino sistemático não é o único fator
responsável por alargar os horizontes da zona de desenvolvimento proximal. Ele
considera o brinquedo, importante fonte de promoção do desenvolvimento, pela qual
podemos reconhecer o valor do brincar nas atividades educativas da criança, pois o
brinquedo, apesar de não ser o aspecto predominante da infância, exerce enorme
influência no desenvolvimento infantil.
Vygotsky, ao empregar o termo “brinquedo”, num sentido amplo, refere-se
principalmente à atividade, ao ato de brincar. No entanto, é necessário ressaltar
também que, embora ele analise o desenvolvimento do brinquedo e mencione
outras modalidades (como os jogos esportivos), procura evidenciar o jogo de papéis
ou a brincadeira do “faz-de-conta” (por exemplo, brincar de polícia e ladrão, de
médico, de vendinha, etc). Tal fato se explica pela importância dessas brincadeiras
nas crianças que aprendem a falar e que, portanto, já são capazes de representar
simbolicamente, envolvendo-se numa situação imaginária.
A criança passa a criar uma situação ilusória imaginária, como forma de
satisfazer seus desejos não realizáveis. Esta é, aliás, a característica que
Figura 9
30
define o brinquedo de modo geral. A criança brinca pela necessidade de
agir em relação ao mundo mais amplo dos adultos, e não apenas no
universo dos objetos a que ela tem acesso. (1995, p.82)
A brincadeira passa a representar a possibilidade de solução do impasse
causado, de um lado, pela necessidade de ação da criança e, de outro, por sua
impossibilidade de executar as operações exigidas por essas ações. Assim,
mediante o brinquedo, a criança se projeta nas atividades dos adultos, procurando
ser coerente com os papéis assumidos, e encontra condições de desenvolver suas
capacidades e habilidades, ampliando o conhecimento de mundo e das pessoas que
a rodeiam.
No pensamento de Vygotsky (1991), o desenvolvimento e a
aprendizagem estão inter-relacionados, desde o nascimento da criança. Ainda muito
pequena, através das interações com o meio físico e social, a criança realiza uma
série de aprendizados. Então, as experiências, realizadas por meio das brincadeiras,
contribuem de forma elementar para a aquisição de conhecimentos que alicerçam os
saberes sistemáticos, ao entrar na escola.
No seu cotidiano, observando, experimentando, imitando e recebendo instruções das pessoas mais experientes de sua cultura, aprende a fazer perguntas e também obter respostas para uma série de questões. Como membro de um grupo sociocultural determinado, ela vivencia um conjunto de experiências e opera sobre todo o material cultural (conceitos, valores, idéias, objetos concretos, concepção de mundo, etc) a que tem acesso. Deste modo, muito antes de entrar na escola, já construiu uma série de conhecimentos do mundo que a cerca. (1991, p.76)
Vygotsky (1991), ao explicar o papel da escola no processo de
desenvolvimento do indivíduo, faz uma importante distinção entre os conhecimentos
construídos na experiência pessoal, concreta e cotidiana da criança. Chama esse
processo de conceitos cotidianos ou espontâneos, cuja vivência social, afetiva e
cultural desenvolve estruturas na personalidade da criança, alargando seus saberes
na condição de Ser humano. Na escola, a criança elabora saberes na sala de aula,
adquire meios de aprender, sistematicamente, os conceitos científicos.
Para aprender um conceito, é necessário que, além das informações
recebidas do exterior, ocorra uma intensa atividade mental por parte da criança.
Portanto, um conceito não é aprendido por meio de treinamento mecânico, nem
tampouco pode ser meramente transmitido pelo professor ao aluno. Necessita
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considerar signos e palavras na constituição da linguagem da criança, quando essa
internaliza a fala socializada.
Nesse sentido, a infância conta com a natureza própria do brincar, como
meio para adquirir a aprendizagem de maneira espontânea e prazerosa, o que
denominamos brincar social e espontâneo. Como comunicação do humano, a
ludicidade em sua metáfora propicia e facilita isso, indo do simples ao complexo.
Vejamos, na seqüência, esse efeito de sentido da metáfora.
2.1 O Brincar: um baú de metáforas...
A metáfora é uma linguagem mágica que fantasia as palavras. É a fala
transpondo o real dos objetos e das coisas para a irrealidade poética. Por meio dela,
é possível superar a linguagem meramente gramatical e se comunicar, criando
elementos da imaginação. Assim, o discurso dispõe de mais elementos para
carregar-se de novos significados poéticos, resultando em uma comunicação de
beleza e de inúmeros sentidos.
O ponto forte da metáfora é a criatividade, caminho para estratégias,
descobertas e inventividade. “A metáfora é, ao serviço da função poética, essa
estratégia de discurso pela qual a linguagem se despoja da sua função de descrição
direta para aceder ao nível mítico em que a sua função de descoberta se liberta”.
(RICOEUR, 1983, p. 368).
O mundo da infância, da criança e do brincar é certamente um baú de
metáforas, o qual se abre para o mundo imaginário, evidenciando um caminho
metodológico. É o mundo em que a criança se desloca da realidade e voa pelas
ERA UMA VEZ... Um autor francês chamado Paul Ricoeur, conhecido como o filósofo de todos os diálogos. Nasceu no dia 27 de fevereiro de 1913, numa família de tradição protestante. Humanista de vasto conhecimento, atento à literatura tanto quanto às ciências humanas, viajante aberto à cultura anglo-saxã como também à tradição alemã, O cristianismo, a fenomenologia, a hermenêutica, a psicanálise, a lingüística e a história têm, em proporções diferentes, contribuído para a formação de seu pensamento. O filósofo Paul Ricoeur, 92 anos de idade, autor de imensa obra filosófica, morreu no dia 20 de maio de 2005. É considerado o filósofo do sentido e amante da metáfora.
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asas da fantasia, encantando-se com o universo colorido e mágico das brincadeiras
e dos brinquedos, na exploração do sentido literal das coisas, de ser e de estar.
De acordo com Ricoeur (1983), metáfora é todo deslocamento do sentido
literal para o sentido figurativo. Metáfora é como a transposição do complexo para o
simples, favorecendo a compreensão da realidade. A metáfora se assemelha ao
movimento do jogo simples, instigante e enigmático. Arremessa variadas imagens,
realizando um salto metafórico que transgride formas e funcionalidade de objetos em
um faz-de-conta, infinitamente espesso de imaginação. Então o brincar é uma
metáfora viva, contínua e processual, e se expressa no simbólico.
O brincar é a metáfora evidente nas brincadeiras. Procuram evidenciar o
sentido poético nos gestos, nos sons, nos passos, nos dizeres e nos olhares
ingenuamente cúmplices que não se mostram na aparência do Ser, mas na sua
essência. Destarte, a metáfora tem sua fonte na experiência da criança, ao correr,
saltar, jogar, nas entrelinhas da dança, das histórias, nos brinquedos vivos de
imaginação e nas brincadeiras vividas.
Como sentido poético, a metáfora vem acrescentar ao mundo, aos seres
e às coisas, novos e interessantes significados. Tem o duplo sentido de ampliar o
cognitivo, viabilizando caminhos afetivos que delineiam o estreitamento e
aproximação dos seres, na perspectiva do envolvimento que sugere.
...se a metáfora nada acrescentasse à descrição do mundo, acrescentaria, pelo menos, aos nossos modos de sentir; é a função poética da metáfora; esta repousa ainda na semelhança, mas ao nível dos sentimentos: ao simbolizar uma situação por meio de outra, a metáfora ‘infunde’ no coração da situação simbolizada os sentimentos ligados à situação que a simboliza. Nesta “transferência” de sentimentos a semelhança entre sentimentos é induzida pela semelhança entre situações; na função poética, portanto, a metáfora alarga o poder do duplo sentido do cognitivo para o afetivo. (RICOEUR, 1983, p. 283)
A intencionalidade traz para a metáfora o surgimento do sentido, o mesmo
que acontece no brincar em que a criança se lança pela força imaginativa, criando
seres, coisas e mundos diferentes, carregados de fantasia e de sentidos novos. Os
sonhos, encobertos de desejos irrealizáveis, são, metaforicamente, criados pela
capacidade de transformação imaginária do pequeno Ser.
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O brincar desvela uma dimensão poética própria e supõe um espaço de
encontro e jogo entre as palavras, as coisas, o mundo e o Ser. Supõe, também, um
encontro de surpresas, que implica um reencontro de possibilidades de efeitos de
sentido, na liberdade infantil.
Na roda, na ciranda, no parque, na casinha de boneca, nos filmes e nas
historias, a metáfora vive, realiza e revela novas formas de brincar, reinventa outros
significados no jogar, no correr, no pular amarelinha, no brinquedo de casinha em
que a criança transcende o “eu”, o ser, o estar e o sentir no embalo do prazer de
brincar. Esse desvelamento do lúdico, como processo metafórico, permite-nos nova
forma de interpretação das brincadeiras infantis. Interpretar no sentido de uma
compreensão, de uma revelação de algo oculto, de um fenômeno. Da aparição e
desvelamento de intenções que permeiam o pensar infantil. Interpretar no sentido de
ler nas entrelinhas das expressões, falas, gestos, imagens, sucessões simbólicas
que nos permitem olhar o universo da infância
O brincar é como escrever, desenhar, pintar, cantar, dançar, jogar. É
brincar com movimentos, na iventividade ingênua e criativa da criança. Assim, numa
comparação de entendimentos, pensamos que a metáfora, na condição de escrita
poética, é da mesma natureza do brincar. É o entrelace do aparecer e do
desaparecer, do esconde-esconde de palavras a transformar sentidos. O brincar é o
espaço/tempo das formas, o espaço corporal da transformação, nem dentro, nem
fora. Escrever, como brincar, é criação de sentidos, de conteúdos e vivências, e de
surpresas interessantes. Sendo o brincar um encontro de surpresa, implica encontrar
a si mesmo, onde não se esperava.
SAPEANDO E CONTEXTUALIZANDO...Uma atividade de reflexão:o filme O Peixe Grande pode favorecer ao professor momentos de reflexão sobre a verdadeira amizade, a doçura, o afeto, a cumplicidade de ser e de viver. Pode sugerir um trabalho pedagógico muito interessante em sala de aula, por meio do simbólico, da história e da metáfora na construção de cenários que valorizem os momentos em que as crianças passam reunidas. O momento da rotina, as conversas e os combinados podem ficar mais enriquecidos com tal proposta, em atividades construtivas, criativas e imaginárias.Crie seu peixe grande e da barriga dele retire suas atividades.
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O aspecto simbólico do brincar trabalha na construção do pensamento.
No momento das brincadeiras, a criança se utiliza dos símbolos como caminhos
para a interpretação do mundo real, quando apela para imagens, na recriação de
situações imaginárias. O brincar possibilita uma visão perceptiva cada vez mais ativa
desses caminhos na consciência da criança, revelando-a tal qual pensa e se
manifesta em sua existência.
Para Ricoeur (1983), ocorre que o Ser se dá à consciência do homem por
meio das sequências simbólicas, de tal forma que toda visão do Ser e toda
existência com relação ao Ser já se afirmam, como interpretação. O símbolo nos
leva a pensar. Seguindo tal pensar, dentre as variações simbólicas, percebemos que
a metáfora é um modelo teórico imaginário que, ao transpor-se para um domínio da
realidade, vê as coisas de outro modo.
Nesse ponto, o brincar infantil também é uma forma de transpor-se do
real para as fantasias, mudando-lhe a linguagem habitual. Por isso, é uma espécie
de ficção que simultaneamente descobre conexões novas entre as coisas e re-
descreve a realidade, em que se encobrem de sonhos e magias o cotidiano, as
vivências, o mundo vivido.
RISCOS E RABISCOS...Uma curiosidade importante: a história do símbolo atesta que todo objeto pode revestir-se de valor simbólico seja ele natural, seja abstrato (forma geométrica, número, ritmo, idéia, etc). Podemos entender por objeto, nesse caso, não apenas um ser ou uma coisa real, mas também uma tendência, uma imagem obsedante, um sonho, um sistema de postulados privilegiados, uma terminologia habitual, etc. Tudo aquilo que fixa a energia psíquica ou a mobiliza em seu benefício exclusivo. Esse é o emprego da palavra símbolo, segundo o Dicionário de símbolos de Jean Chevallier (1990).
SAPEANDO E CONTEXTUALIZANDO... Professor (a),nova atividade reflexiva: a leitura da história - A Menina e a Pantera- de autoria de Rubem Alves é fonte muito rica para ser trabalhada a questão da identidade. A importância do nome para a criança. O sentido de sua história familiar. A criança muitas vezes ‘’viaja’’ de forma metafórica, inventando nomes simbólicos de outros seres que combinam com seu próprio nome. Entende sua história familiar. Eis uma sugestão de atividade que pode ser utilizada na rotina, no momento em que se faz a chamada dos alunos, como curiosidade e aprendizado.
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A intencionalidade que flui de toda metáfora numa simbologia desprende
a imaginação e o poder de abertura do universo, surgindo daí a capacidade de re-
significar o mundo, o Ser, as coisas. É o momento em que se revelam a criação e a
inventividade da criança para remodelar idéias, situações e experiências que se
realizam no mundo imaginário do brincar quando a criança se lança às imagens e as
devolve cheio de possibilidades. “A imagem neutraliza e suspende toda a relação ao
mundo imediato da percepção e da ação, e abre o espaço lúdico das possibilidades
de ensaio de idéias novas, valores novos ou outros modos de Ser no mundo”.
(RICOEUR, 1983, p. 24)
O brincar propicia o exercício da imaginação infantil e, ao antecipar
pela imaginação o agir, ele pode ensaiar esquemas eventuais, tendo em conta os
meios para usar a realização de desejos, de fantasias, de experiências. No entanto,
antes de decidir, a imaginação fornece a clareira luminosa em que se comparam os
mais diversos motivos da ação, aquilo que é mais significativo: Toda motivação e
estímulos presentes na criança possibilitam as variações imaginativas e a convicção
SAPEANDO E CONTEXTUALIZANDO...Uma atividade:a poesia, As Borboletas de Vinícius de Moraes, é recurso estratégico para o(a) educador (a ) trabalhar cores primárias e oferecer à criança meios para expressar sua imaginação e fantasia, dando asas à liberdade de criar, utilizando a metáfora como linguagem num aprendizado colorido, mágico, cheio de ludicidades.
As Borboletas Brancas
Azuis Amarelas E pretas Brincam Na luz.
As belas Borboletas
Borboletas brancas São alegres e francas.
Borboletas azuis Gostam muito de luz.
As amarelinhas São tão bonitinhas!
E as pretas, então . . . Oh, que escuridão!
Vinícius de Moraes (MORAES, 1995)
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do “eu posso” que direcionam o sentido das possibilidades práticas que a criança
experimenta, por meio das brincadeiras.
A capacidade de brincar e lançar-se no espaço de encontros e
acontecimentos surpreendentes possibilita à criança enriquecer a criatividade. O
brincar possibilita o rompimento das limitações e, metaforicamente, transforma e
amplia a capacidade criativa, potencialidades próprias da infância. Trata-se de
evidenciar os efeitos de sentido que a criança traz nos gestos, nos dizeres, nas
linguagens que ela manifesta pelos movimentos corporais.
Assim, a criança conta sua forma de estar no mundo e habitá-lo. Mostra
seu pensar e seu querer, torna-se presente e interpreta o mundo à sua maneira. As
brincadeiras ancoram as fantasias e permitem que se articulem presença e
ausência, simultaneamente, construindo o momento de acontecimento do sentido.
O brincar propicia e sustenta o momento ativo da transformação do
sentido. O brincar em suas metáforas sugere que redobre em seu movimento de
constituição aquilo que é real, transportando para a surpresa de novos encontros, de
diferentes construções em que residem o prazer e a alegria da liberdade que a
criança experimenta. É o momento em que se cristalizam os objetos simbolizados,
realizados por meio do jogo metafórico da transformação.
A simbologia da metáfora delineia o jogo como caminho de encontros
surpreendentes, revelados na criatividade e nas possibilidades infindas de
interpretações feitas pela criança. Os seres, as coisas, as pessoas se transformam,
alternadamente, como numa dança que insinua movimentos constantes e diferentes,
a cada rodar, a cada girar, para trazer novos contornos à realidade. O jogar é guiado
pela fantasia da criança e, metaforicamente, reveste seus desejos e sonhos de
recriar situações e vivências do mundo real.
O brincar como símbolo que a criança utiliza no seu mundo imaginário
traz na intensidade os significados e os sentidos de ser e de estar, de vivenciar o
mundo. O brincar, então, ao ser reduzido à linguagem simbólica, possibilita ao
mesmo tempo ser fundado e desvelado, ocultado e trazido à luz, explorado como
ausência e reencontrado como presença. Permite mostrar a metáfora, favorecendo
o lúdico.
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Sendo ato poético, a metáfora comporta um escutar que transcende o
compreender. A metáfora é gesto não visível e não representável na fala.
(RICOEUR, 1983). Assim sendo, o brincar se mostra um gesto da metáfora,
tornado visível, que articula a permanente alternância entre o significado e o
surgimento do sentido. O brincar não pode ser simplesmente narrado. Participa de
experiências, de vivências imaginativas e realizadas, criativamente, pela criança.
Neste sentido, aproxima-se dos sonhos, das construções mágicas, no universo
colorido que jorra todas as possibilidades das transformações que fluem do ato de
brincar e jogar.
O jogo, as brincadeiras, as invenções infantis buscam transformar o
mundo, dominar seus efeitos de sentido. Abrem a possibilidade do princípio do
prazer e da realização do criar, logo do aprender e de viver o não-real, dentro do
mundo real. A realidade recriada corresponde ao sono com sonhos, em que não se
corta o fio constituído de imagens que se transpõem, de um lado para outro. Assim,
é possível ao pensamento atravessar os limites do mundo imaginário, para acolher
qualquer cena. O brincar é o espaço com poder de transformação.
Os detalhes do cotidiano e da criatividade silenciosa se integram e se
alternam formando novo modo de ser. O brincar promove o significado de fazer
aparecer ou desaparecer, tornando-se espaço de novas possibilidades de sentido.
Realizam-se descobertas a cada novo momento e a cada novo sentido que se dá às
coisas.
O brincar, na qualidade de metáfora viva, nas palavras tomadas de
empréstimo de Ricoeur (1983), é como um espelho que sempre devolve as imagens,
re-carregando-as de intensidade, de sensibilidade imaginativa. Ao mesmo tempo,
SAPEANDO E CONTEXTUALIZANDO..Um convite à prática:você pode transformar sua sala de aula em um ambiente chamado de caça ao tesouro. Cada canto como um desafio para buscar a solução, como se joga numa gincana lúdica que envolve confeccionar o produto e criar o processo com a ajuda da criança. Criar também o canto do desenho, da história, da matemática, com construção de maquetes, painéis, etc., onde haja material diverso: sucata, massinha, papel, caixas...
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intensidades presas em um barbante, fixo no mundo real, mas que se amplia
infinitamente, sem limites, transportando-se para os espaços da inventividade e da
transformação.
O ato de criar tem sua importância à medida que contribui para manter
aberta, nessa atividade, sua dimensão primeira e criativa do brincar. No ato criativo
se aloja a natureza do encontro. “A criatividade ocorre num ato de encontro, e deve
ser compreendida como tendo por centro esse encontro.” (ROLLO MAY, 1982. p.79)
É o encontro do sujeito com o objeto criado. A partir de então, há
evidência do tripé que fortalece tal ato: coragem, auto-conhecimento e iniciativa,
contribuindo para o cenário do lúdico. Logo, falamos do objeto criado e do seu
criador por uma poesia rica em metáfora que favorece a mostra de um criar. Assim
dizemos do lúdico, comparando-o ao pano, seu sentido em cor e textura, um ato
criativo a cada estampa:
Pano, beleza simples.
Aspecto afetivo.
Permite parceria, comunicação, cumplicidade.
Cada fio, uma trama.
Cada trama, uma lista de construção articulada,
Entrecruzada.
Sucede movimento,
Forma,
Cor,
Resiliência.
Inspira o jogo estético,
Ético,
Poético.
Logo, lúdico.
( ROJAS, 2004)
Figura 10
39
Nesse o ato de criar demonstrado em poesia, dá-se a evidência de um
lúdico teoricamente construído que ganha sentido, colorido e graça quando tem o
afeto, a parceria, o diálogo como mediador da construção. Destarte, trabalhar com
ludicidade permite viver emoções e sentimentos desvelados na criatividade do
humano. O sentido de Ser e do Ser nas coisas, começa a se abrir, a se descobrir, a
se deixar ver, a se definir por meio de nossas emoções a invenção transbordante de
magia no fazer, tanto da criança quanto do educador. (ROJAS, 2004)
A ludicidade é comunicação da vida, do sentir, do fazer brotar e reviver o
velho no novo. A prática lúdica é presença na ação e direção pedagógica em que se
vai modelando e re-significando o real, na arte-magia de ser, de pensar, de sentir.
“Quando se trabalha com a ludicidade enquanto comunicação, estado do humano
sente-se que se está trabalhando em uma ecologia da ação.” (ROJAS, 2004, p.26)
A ecologia da ação pontuada significa levar em conta sua própria
complexidade, isto é, risco, acaso, iniciativa, decisão, inesperado, imprevisto,
consciência das derivas e transformações. Ao estabelecer a ação, estamos em
processo de risco. É a arte de saber conduzir a ação educativa diante das incertezas
que se apresentam.
Na ação educativa se demonstra a percepção e a criatividade pedagógica
na arte de ser mestre, envolvendo e entrelaçando sentidos que alicerçem um fazer
diferente. Conseguimos tal proeza a partir de um olhar lúdico que descobre o
mundo, o ser, as coisas e que dança pela força mágica do criar, recriando e
desvelando novas possibilidades.
É pelo olhar que o sujeito ergue-se com o realizar da sua própria história, como construtor de um “novo” mundo. Um olhar que interage, mostra, desvela, descobre, acende, envolve e transcende para outra dimensão. Expressa, exprime e reconhece forças, traduzindo-se em uma ação perceptiva, constantemente ambígua, às vezes clara e nebulosa, fixa e imóvel, direcionada e difusa. (ROJAS, 2004, p. 31)
Ao trabalhar com a criança devemos buscar o movimento do ato
pedagógico entre o “pensar e o fazer” num construir. Um construir impregnado de
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significados, pela coragem, iniciativa e ousadia em realizar. construções que
permitam o conhecimento das partes e o sentido do todo.
Entender a realidade flexível, planejando a ação com
interdisciplinaridade. Ação que parta de pequena iniciativa e de atitudes abertas,
menos mecanizadas e técnicas. Atitudes ousadas e criativas, requerendo que a
teoria seja assimilada, compreendida e interpretada por meio de uma consciência
integradora do sentido, cujo SER que ensina, seja também o SER que aprende e
vice-versa.
Tal propósito deve reafirmar a importância de práticas pedagógicas
centradas na criança. Pressupõem uma verdadeira construção do conhecimento,
direcionado para o desenvolvimento do pequeno Ser, buscando atitudes de
questionamento e compreensão do mundo em práticas que enfatizem a autonomia
e iniciativa do aprendiz.
SAPEANDO E CONTEXTUALIZANDO... Um exemplo dessa prática que você pode realizar: transforme a sala de aula num circo cujo palhaço seja você, fazendo os malabarismos do tema que quer trabalhar. Este palhaço carrega consigo a intensidade, imaginação, riso e ousadia.Com todos esses atributos, desenvolve a arte de fazer.o contexto da aula com inventividade, num projeto de atividade com a criança, tendo como recurso as brincadeiras e os jogos lúdicos na aprendizagem infantil. Como atividade, faça da figura do palhaço o símbolo de trabalho, explorando o sentimento da alegria e também a possibilidade das cores e figuras geométricas que fazem a fantasia.
Figura 11
41
A criatividade pode direcionar práticas, que têm como centro a alegria de
aprender, como se a sala de aula fosse um circo. Por isso, é importante que os
educadores se organizem em planejamentos diferentes, participativos e
interdisciplinares, com a criação de ambientes estimulantes e desafiadores. Aposta-
se, nesse sentido, o processo vivido pela criança.
Certamente exige um exercício de observação, mas, antes, impõe
sensibilidade e imaginação para entender, respeitar e viver, com a criança, a
imensa alegria que ela pode experimentar por algo que tenha apenas descoberto e
facilmente pode ser considerado por um adulto um evento sem importância. Mas
será que pode um adulto reconquistar os ritmos e os tempos necessários para viver
com a criança e seus ritmos, e seus tempos de descoberta e de experimentação?
Compreender que o conhecimento do outro implica a imaginação do outro?
A construção lúdica carrega de afeto o processo de aprendizagem. São
momentos de criação nas quais a criança tem a possibilidade de extravasar seu
imaginário na construção do saber. É o que costumamos chamar de saber com
sabor, com a liberdade de inventar, de aprender e de brincar.
O Livro de Pano como brinquedo, veículo de comunicabilidade na
construção da aprendizagem infantil (ROJAS, 2004, p.17). A ludicidade no pano
encanta e seduz a criança. É um brincar ornamentado de retalhos ,de fitas, de
cores vivas, alegres, unidas por significados, intensificando desejos e dando
sentido aos sonhos infantis.
O brinquedo livro-de-pano, como instrumento pedagógico, propicia
vivenciar e mostrar os vários momentos da elaboração cognitiva. Sua
organização/construção requer as trocas entre sujeitos, nas quais se evidenciam as
SAPEANDO E CONTEXTUALIZANDO...Faça você a roda da alegria.Vamos brincar? Primeiro a história...Você escolhe. O palhaço pode fazer parte da história. Depois a releitura e a dramatização. Em seqüência, a construção da criança habitando o contexto lúdico de cenários e personagens. E depois a arte e o arteiro na construção da história em livro. Um livro diferente: de pano. Tente você fazer o seu!
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parcerias. Fazer do pano um brinquedo possibilita diferentes olhares que são
alicerces para novas construções. É um veículo de comunicabilidade lúdica que
sugere falares e pensares como um leque de idéias, entrecruzando-se em infinitas
interpretações.
Podemos afirmar que o lúdico é a base de toda a atividade da Educação
de Infância, pois é meio de motivação para a criança, que pode dar origem a
processos de aprendizagem importantes, fonte de descoberta e prazer. Ludicidade é
a espontaneidade em trabalhar, fazendo a comunicação entre a fantasia, o brincar e
o real. A realidade jogando com falas e palavras, gestos e expressões enseja
verdadeiro prazer em aprender.
O brincar elemento importante, mediante o qual se aprende, sendo sujeito
ativo desta aprendizagem que tem, nesse lúdico, efeitos de sentido prazerosos. No
mundo lúdico, a criança encontra equilíbrio entre o real e o imaginário, alimenta sua
vida interior, descobre o sentido de Ser no mundo. “O sentido de ser se aloja nas
tramas cotidianas de viver o mundo. De habitá-lo e experimentá-lo.” (ROJAS,2004,
p.44).
O brinquedo permite o extravasamento das emoções. Damásio (2003)
afirma que as emoções são meio natural de avaliar o ambiente que nos rodeia ao
qual reagimos de forma adaptativa. Os objetos, as pessoas, o mundo, podem nos
causar emoções e respostas emocionais fortes ou fracas, boas ou más,
conscientemente ou não. A memória também pode provocar emoções à luz da
consciência. A interação entre o brincar e o mundo real produz, na memória infantil,
o desencadear e o executar de tais emoções.
SAPEANDO E CONTEXTUALIZANDO...Outra idéia. Um interessante caminho de reflexão para o(a) professor (a):assistir o filme Colcha de Retalhos. Motivado pela trama que se desenrola no contexto do filme, você pode retirar idéias e montar um projeto construtivo, pano, cujo processo de elaboração venha favorecer ricas situações de aprendizagem para a criança, em sua história de vida e criatividade. A feitura de um álbum da criança, por exemplo.
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A ludicidade permite e possibilita uma abertura às emoções, que correm
soltas no encantamento do brincar. Como uma roda que gira a espalhar fantasias,
pensamentos, sentimentos, na transparência da inocência infantil. Ao trabalhar com
a ludicidade de um brinquedo, vivem-se emoções e sentimentos. Permite-se abrir
para o mundo encantado, possibilitando entendimento, compreensão, interpretação.
Facilita-se o caminho da objetividade entrecruzada pela subjetividade, fazendo
compreender, compreendendo.
Sem o encanto do lúdico, da parceria, da reflexão e da criatividade, o
grupo não se forma, amontoando todos. A roda não se efetiva. Sem significado, sem
grupo, a rotina não faz sentido. Se todo dia é tudo sempre igual, projeta-se o vazio...
O ritmo diferenciado de cada um é que constitui o grupo, o diferente. O espaço de
vivência precisa ter sentido e buscar identidades novas.
A educação é encantadora, quando buscamos a transformação, e não a
estagnação! A criança, um sujeito particular, histórico, aprendendo e nos ensinando.
O educador, mediador, essencial, é quem reflete, observa, lê, cuida e educa todos
em ”parceria interdisciplinar”. (FAZENDA, 1991). Parceria que é reflexo no brincar
intenso e interminável da criança que desafia o mundo encantado, vivendo na
constância do inconstante, brincando...
RISCOS E RABISCOS...Interessante saber que compreender significa intelectualmente, apreender em conjunto, abraçar junto o texto e seu contexto, as partes e o todo, o múltiplo e o uno. A compreensão vai além da explicação. A compreensão é a consciência da complexidade humana. É a transcendência na reflexão, de criar, construir e conhecer, conhecendo-se. (MORIM, 2003)
Figura 12
44
Capítulo 3 - A linguagem do brincar: a função lúdica, cultural e
pedagógica no espaço infantil
Huizinga (1980) analisa a significação primária do jogo, considerando-o uma
espécie de imaginação da realidade, que abstrai o homem para a fantasia. Para este
autor, o aspecto lúdico está presente não só no jogo como também na música, na
dança, na poesia, nas artes plásticas, assim como na linguagem, apontando-a como
capacidade para brincar com as palavras. Argumenta que a linguagem, na condição
de expressão abstrata, constitui um jogo de palavras com as quais o homem dá
expressão à vida, recriando o mundo.
Huizinga (1980) evidencia a linguagem primeira da criança, como fonte de
toda expressividade inicial do desenvolvimento humano, ampliando, no entanto, o
caráter lúdico da cultura, ao atribuir significativo valor às diversas linguagens lúdicas,
próprias da civilização. É o princípio de todas as linguagens, um momento de
fantasia e significação em que o homem tem a oportunidade de interpretar o mundo,
a partir de sua fala, jogando com as palavras, para dar sentido a seu pensar.
Ressalta que tanto a poesia, a música, os contos, as histórias, enfim as
artes, quanto o próprio jogo possuem características de divertimento, adivinhação,
competição, momentos de criação, e que, portanto, apresentam uma essência lúdica
inerente ao homem, revelando-se a qualquer tempo: “Mas é sempre possível que a
qualquer momento, mesmo nas civilizações mais desenvolvidas, o “instinto” lúdico
se reafirme em sua plenitude”. (HUIZINGA, 1980, p.54).
ERA UMA VEZ...Um filósofo e historiador holandês, estudioso do jogo, chamado Johann Huisinga. Apresenta um estudo clássico, no aspecto antropológico, com dimensões filosóficas, com a intenção de compreender todo o significado do fenômeno chamado jogo. Evidencia, a princípio a linguagem como forma de um jogo. Para Huizinga (1980), a linguagem se exprime por palavras, que não deixa de ser criatividade e imaginação em forma de jogar.
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Os estudos de Huizinga (1980) demonstram a natureza e o significado do
jogo, do brincar, principalmente pela função cultural, como via de construção do
conhecimento e da cultura humana, não desconsiderando o prazer, a diversão, e o
delírio presentes nas práticas lúdicas. A intensidade e o fascínio na realização do
brincar caracterizam o lúdico como parte da vida da criança.
A intensidade do jogo e o seu poder de fascinação não podem ser explicados por análises biológicas. E, contudo, é nessa intensidade, nessa fascinação, nessa capacidade de excitar que reside a própria essência e a característica primordial do jogo. (HUIZINGA, 1980, p.5)
O autor, com seu pensar, anuncia que o jogo é mais do que fenômeno
fisiológico ou reflexo psicológico. Vai além do ser, do estar e do fazer, envolve de
significados o agir. Ultrapassa os limites da atividade puramente física ou biológica.
É uma função significante, isto é, encerra determinado sentido às coisas, às
pessoas, ao mundo. No “jogo”, existe um fascínio, que inebria o Ser, que
transcende as necessidades imediatas da vida e confere sentido à ação,
intensidade ao viver.
Mesmo em suas formas mais simples, ao nível animal, o jogo é mais do que um fenômeno fisiológico ou um reflexo psicológico. Ultrapassa os limites da atividade puramente física ou biológica. É uma função significante, Isto é, encerra um determinado sentido. No jogo existe alguma coisa “em jogo” que transcende as necessidades imediatas da vida e confere um sentido à ação. Todo jogo significa alguma coisa. Não se explica nada chamado “instinto” ao princípio ativo que constitui a essência do jogo: chamar-lhe “espírito” ou “vontade” seria dizer demasiado. Seja
RISCOS E RABISCOS...Você sabia que o faz-de-conta em roda pode se realizar nos contos de fadas, alimentando ludicamente a imaginação da criança. Uma roda encantada, mágica, que se entrelaça por caminhos lúdicos na imaginação da criança. É um jogo de construções entre fadas, seres inanimados, monstros que fascinam a criança em uma linguagem sedutora. A trama e o enredo dos contos de fadas se desenrolam num ambiente ou reino que não é concreto, e sim maravilhoso, mágico como num sonho. Entre os filósofos que deram maior impulso ao trabalho de coletas de contos de fadas, encontram-se Charles Perrault (1628-1703) na França e os irmãos Wilhelm e Jacob Grimm (1786-1859 e 1785- 1863) na Alemanha. Entre as obras imortalizadas em coletâneas estão:Chapeuzinho Vermelho, O Gato de Botas, Cinderela, Joãozinho e Maria. Branca de Neve e os Sete Anões. Faça uma roda e conte um conto. Explore com atividades em desenhos.
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qual for a maneira que o considerem, o simples fato de o jogo encerrar um sentido implica a presença de um elemento não material em sua própria essência. (HUIZINGA, 1980, p.4)
Para Huizinga (1980), a realidade do jogo ultrapassa a esfera da vida
humana se funde com o encantamento e a magia cuja essência é ilimitada, infinita e
transbordante de energias imaginativas. Portanto, é impossível que tenha seu
fundamento em qualquer elemento racional, pois, nesse caso, limitar-se-ia à
humanidade. A existência do jogo não está ligada a qualquer grau determinado de
civilização ou a qualquer concepção do universo. Origina-se da essência do prazer,
da satisfação, do criar presentes no jogo, ao conceber novos sentidos, ao viver
tendo a imaginação como caminho para o re-significar.
Se verificarmos que o jogo se baseia na manipulação de imagens, numa certa “imaginação” da realidade (ou seja, a transformação desta em imagens), nossa preocupação fundamental será, então, captar o valor e o significado dessas imagens e dessa “imaginação” .(HUIZINGA, 1980, p.7)
A criatividade na fala e na linguagem é também uma forma de brincar com
a maravilhosa faculdade de designar, de possibilitar caminhos para que o espírito
possa saltar entre a matéria e as coisas pensadas, expressando o pensado e o
vivido em uma teia de palavras, de entrelinhas jogadas propositadamente. Assim,
toda expressão abstrata oculta uma metáfora, e toda metáfora é jogo de palavras.
Ao dar expressão à vida, o homem cria também outro mundo, um mundo poético,
significativo, rico de sentidos.
O pensamento de Huizinga reafirma que a vivacidade e a graça estão
originalmente ligadas às formas mais primitivas do jogo, pois, no momento do jogo, a
leveza despretensiosa insinua movimentos rítmicos e criativos, evidenciando a
beleza da essência humana. A beleza do corpo humano em movimento atinge seu
RISCOS E RABISCOS...Você também sabia que, para Rollo May (1982),a criatividade ocorre num ato de encontro, e deve ser compreendida como tendo por centro esse encontro. O encontro provoca a ansiedade, a intensidade que dá sentido à obra criativa. O jogo é o encontro das ações criativas e desvela arte, magia, espontaneidade. Por isso, use o jogo como recurso estratégico.
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apogeu.em suas formas mais complexas quando em jogo, saturando-se de ritmo e
de harmonia, que são os mais nobres dons de percepção estética de que o homem
dispõe. (1980, p.10)
O jogo tem como primeira característica ser ele próprio liberdade, em que
a criança tem a oportunidade de ser, sentir e fazer-se livre. Uma segunda
característica, intimamente ligada à primeira, é que o jogo não é vida “corrente” nem
vida “real”, trata-se de evasão da vida “real”, para uma esfera temporária de
atividade com orientação própria. Toda criança sabe, perfeitamente, quando está “só
fazendo de conta” ou quando está “só brincando”. A criança constrói os próprios
percursos, cria seus espaços, dentro de uma temporalidade irrestrita, traçada
espontaneamente. É o que deduz Huizinga:
O jogo distingue-se da vida “comum” tanto pelo lugar quanto pela duração que ocupa. É esta a terceira de suas características principais: o isolamento, a limitação. É “jogado até o fim” dentro de certos limites de tempo e de espaço, possui um caminho e um sentido próprios. (1980, p.11)
Segundo seu pensar, o encanto do jogo lança-se sobre nós como um
feitiço:“fascinante”;“cativante”.Ele contempla os elementos mais nobres que somos
capazes de ver nas coisas: o ritmo e a harmonia. O caráter especial e excepcional
do jogo é ilustrado de maneira flagrante pelo ar de mistério em que freqüentemente
se envolve. Desde a mais tenra infância, o encanto do jogo é reforçado por se fazer
dele um segredo.
Observa-se, segundo Huizinga (1980), que as qualidades do ritmo e da
harmonia estão presentes nas mais variadas formas de jogar. Na linguagem poética,
o encantamento é o jogar com as palavras, brincar com os ritmos, ordenando-as de
maneira harmoniosa e injetando mistério em cada uma delas, de modo tal que cada
imagem passa a encerrar a solução de um enigma.
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O elemento lúdico é de tal modo inerente à poesia, todas as formas de expressão poética estão de tal modo ligadas à estrutura do jogo que é forçoso reconhecer entre ambos a existência de um laço indissolúvel. O mesmo se verifica, e ainda em mais alto grau, quanto a ligação entre o jogo, a música e a dança. (HUIZINGA, 1980, p.181)
As imagens e expressões artísticas na visão deste autor se entrelaçam
essencialmente com esse elemento lúdico, em consonância com os mistérios
delirantes próprios do jogar, do brincar espontâneo e criativo. Até mesmo a dança,
como um dos aspectos de uma festa, é sempre, em todos os povos e em todas as
épocas, a mais pura e perfeita forma de jogo, desenhada na expressividade do
corpo.
São tão íntimas as relações entre o jogo e a dança que se torna
desnecessário exemplificá-las. Não é que a dança tenha alguma coisa de jogo, mas,
sim, que ela é parte integrante do jogo: há uma relação de participação direta, quase
de identidade essencial. A dança é uma forma especial e, especialmente, perfeita do
próprio jogo.
A situação da dança é muito especial, pois é ao mesmo tempo musical e plástica: musical, porque seus elementos principais são o ritmo e o movimento, e plástica, porque está inevitavelmente ligada à matéria. Sua interpretação depende das limitações do corpo humano, e sua beleza é a do próprio corpo em movimento. (HUIZINGA, 1980, p.184)
RISCOS E RABISCOS...Nova curiosidade;para Derdyk (1994), o desenho infantil é uma linguagem, uma espécie de jogo, em que a criança expressa sua criatividade. E desenhar objetos, pessoas, situações, animais, emoções, idéias são tentativas de aproximação com o mundo. Para esta autora, desenhar é conhecer, é apropriar-se
Figura 13
49
Ao examinarmos o estudo e a profundidade dos pensamentos de
Huisinga (1980), passamos a considerar a estreita relação das artes com a
ludicidade como diferenciadas linguagens, expressas pela essência humana,
inerentes à própria existência do Ser, em diferentes povos, desde a mais primitiva
das civilizações.
Quando contemplamos certos exemplos dos riquíssimos tesouros das artes plásticas, achamos difícil afastar a idéia de jogo e de fantasia, de criatividade lúdica do espírito ou das mãos. O grotesco das máscaras de dança dos povos selvagens, a monstruosa confusão de figura dos totens, as distorções caricaturais das formas humanas e animais, todos estes exemplos parecem sugerir que o jogo é a origem da arte. Mas é apenas uma sugestão. (HUIZINGA, 1980, p.188).
Existe a presença extremamente ativa de certo fator lúdico em todos os
processos culturais, como criador de muitas formas fundamentais da vida social. O
espírito da competição lúdica, na qualidade de impulso social é mais antigo que a
cultura, e a própria vida está toda penetrada por ele, como por um verdadeiro
fermento. O ritual teve origem no jogo sagrado. A poesia nasceu do jogo e dele se
nutriu a música. A música e a dança são puro jogo.
SAPEANDO E CONTEXTUALIZANDO: Dance com a criança.Faça uma coreografia que sugira a leveza e o encantamento da dança. A naturalidade da expressão do corpo desvela momentos de descobertas do próprio Ser, evidente em qualquer envolvimento musical, propiciando a naturalidade. Brinque de roda. Crie o movimento. Construa o cenário com desenhos, máscaras e algumas fantasias. Criatividade sensibilidade e expressividade fazem parte do momento da criança quando participa de atividades lúdicas, jogando com as cores, os movimentos, com desenhos e traçados, realizando contornos sucessivos e enigmáticos com ricas construções. Um exemplo é propiciar uma aula de descobertas e/ou aula-passeio. Como atividade, pode-se pedir desenho livre, dependendo das temáticas enfocadas ou desenho dirigido, musicalizando a ação.
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Portanto podemos perceber que, em suas fases primitivas, a cultura é um
jogo. Carrega, por conseguinte, esse estigma e, até na atualidade, ainda
percebemos que os movimentos da cultura exprimem o sentido lúdico num saber e
numa filosofia da expressividade em palavras e formas, ritos e símbolos, contos e
histórias.
Logo devemos pensar que, por meio do trabalho lúdico, a criança
desenvolve atitudes de alteridade e de respeito pelo outro, percebendo diferenças e
individualidades culturais e contextualizando situações pedagógicas que favorecem
o desenvolvimento da imaginação; da observação; da memória e dos
conhecimentos, associados a todo prazer que tal ludicidade proporciona.
Assim, as histórias e os contos também podem desempenhar papel
importante numa educação de infância que prima por seguir uma prática inter-
cultural e interdisciplinar, à medida que permitam que a criança se identifique com
múltiplos personagens que interagem em diversos contextos. Personalidades e
valores, manifestando diferentes comportamentos, possibilitando que desta maneira
a criança jogue o jogo da vida, conhecendo o outro e outros mundos,
movimentando-se em seu campo infantil.
SAPEANDO E CONTEXTUALIZANDO...Veja que interessante:o trabalho educativo realizado com música propõe a ludicidade e a interdisciplinaridade. Viabiliza uma aprendizagem de maneira tranqüila, prazerosa, curiosa e alegre. O professor pode explorar os elementos musicais, como a melodia, o ritmo e a harmonia, de forma criativa. Para isso, crie uma de bandinha rítmica, construindo instrumentos musicais por meio de projetos sobre educação musical e/ou da música como auxílio na elaboração do conhecimento. Ainda nesta vertente temos as histórias e contos que musicalizam toda uma aprendizagem num jogo de cenas, cenários, personagens e interculturalidades. O exemplo de atividade é mostrar o folclore da região.
RISCOS E RABISCOS... Essa é uma curiosidade que vale a pena: Bruno Bettelheim (1980), que desenvolveu no campo psicanalítico um trabalho paradigmático sobre o papel dos contos no desenvolvimento da criança, defende que o conto de fada faz sair a criança do mundo real, permitindo-lhe enfrentar problemas psicológicos profundamente enraizados e incidentes causadores de ansiedade, a fim de realizar sua autonomia.
51
.
A atualização e a recuperação dos jogos tradicionais infantis têm mobilizado
professores e pesquisadores, principalmente por preferirem alternativas adequadas
para fortalecer os processos interativos e enriquecer a cultura infantil.
3.1 O JOGO, A CRIANÇA E AS BRINCADEIRAS
Kishimoto (1999) observa a importância do jogo na Educação Infantil. Em
suas pesquisas, procura discutir o significado atual do jogo na educação, sua função
lúdica e pedagógica. Faz uma abordagem histórica, dá a construção do termo jogo
educativo, demonstrando suas benéficas aplicações nos brinquedos e nas
brincadeiras, desde Roma e a Grécia antigas.
Kishimoto (1999) ressalta que os jogos foram transmitidos de geração em
geração por meio de sua prática, permanecendo na memória infantil. E que a
tradicionalidade e a universalidade dos jogos são observadas pelo fato de que os
povos distintos e antigos, como os da Grécia e Oriente, brincaram de amarelinha,
empinar papagaios e jogar pedrinhas. O jogo tradicional infantil é um tipo livre,
espontâneo, no qual a criança brinca pelo prazer de fazê-lo.
Evidencia também os jogos tradicionais infantis, marginalizados em
decorrência do acelerado processo de industrialização e urbanização.
A brincadeira tradicional infantil, filiada ao folclore, incorpora a mentalidade popular, expressando-se, sobretudo, pela oralidade. Considerada como parte da cultura popular, essa modalidade de brincadeira guarda a produção espiritual de um povo em certo período histórico. (1999, P.38)
SAPEANDO E CONTEXTUALIZANDO...Sugerimos uma atividade prática: conte uma história. Faça com que as crianças vivam os personagens. Dramatize-os. Depois conte a mesma história com fantoches. Pergunte às crianças o que mais gostaram. Como atividade, peça que façam um desenho do personagem de que mais gostou. Após, crie nova história que seja um jogo de memória, por exemplo, ou outro jogo, sobre os personagens ou elementos criativos que ilustram a história.
ERA UMA VEZ....Uma professora pesquisadora chamada Tizuko Morchida Kishimoto, hoje professora Titular da Faculdade de Educação da USP. Também é coordenadora do museu do brinquedo, nesta mesma Universidade. Sempre se interessou em investigar o lúdico na educação da criança.
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Para essa autora, existe certa complexidade com relação à definição do
termo jogo. Isso se deve a uma multiplicidade de fenômenos, considerados jogos.
Por exemplo, jogos conhecidos, como faz-de-conta, simbólicos, motores, sensório-
motores, intelectuais ou cognitivos, de exterior, de interior, individuais ou coletivos,
metafóricos, verbais, de palavras, políticos, de adultos, de animais, de salão e
inúmeros outros mostram a grande variedade da categoria jogar, brincar, rodar...
O jogo é considerado uma grande família, com semelhanças e
diferenças, dependendo do significado que se quer atribuir dentro do contexto em
que são utilizados. Contudo, o jogo apresenta características comuns, que permitem
identificar e compreender sua natureza. Existem alguns pontos comuns como
elementos que interligam a grande família dos jogos:
- liberdade de ação do jogador ou o caráter voluntário;
- o prazer (ou desprazer), o não sério, ou o efeito positivo;
- as regras (implícitas ou explícitas);
- a relevância do processo de brincar (o caráter improdutivo);
- a incerteza dos resultados;
- a não-literalidade ou a representação da realidade;
- a imaginação e a contextualização, no tempo e no espaço.
A conceituação de jogo se torna dificultosa por efeito do emprego de
vários sinônimos, como jogo, brinquedo e brincadeira. A busca dos significados
SAPEANDO E CONTEXTUALIZANDO. Nova atividade reflexiva é a brincadeira de roda com músicas folclóricas. São cantigas que afloram o imaginário infantil. No momento em que brincam, cantam e dançam, recriam a realidade em forma de sonhos, fantasias, construindo um mundo colorido e feliz. Corre cotia, de noite e de dia... Ciranda, cirandinha, vamos todos cirandar!... É o jogo, provedor do encontro e da interatividade da criança com o mundo! A roda e o faz-de-conta seduzem e encantam a criança.
53
usuais dos termos jogo, brinquedo e brincadeira favorece maior compreensão e
aplicação deles.
Nesse caso, Kishimoto (1999) aponta que o brinquedo será sempre
entendido como objeto, suporte de brincadeira. Brincadeira como a descrição de
uma conduta estruturada, com regras. Jogo infantil, para designar tanto o objeto
quanto as regras do jogo da criança. Essa definição incorpora não só os brinquedos
criados pelo mundo adulto, como os que a criança produz a partir de qualquer
material ou que investe de sentido lúdico.
Dentro deste contexto, também a psicomotricidade conta com o apoio das
brincadeiras infantis, dos jogos e dos brinquedos construídos pela própria criança,
meios para desenvolver a consciência de corpo e as experiências pelo movimento,
de jogar-brincar no mundo real.
O brincar se inicia pelas experiências interativas entre a mãe e a criança,
que tem natureza simbólica, de imitação de situações do cotidiano, de gestos e
cantos. É o espaço propício para a ação iniciada da criança, o primeiro ambiente
lúdico que permite a expressão e a determinação. As idéias e ações adquiridas
pelas crianças provêm desse mundo social, incluindo a família e seu círculo de
relacionamentos.
Para Kishimoto (1999), as práticas lúdicas proporcionam subsídios para a
compreensão da brincadeira como ação livre da criança e o uso dos dons, objetos.
São valiosos suportes da ação docente, que enriquecem o trabalho pedagógico,
permitindo a aquisição de habilidades e conhecimentos, justificando, assim, os jogos
educativos.
Quando as situações lúdicas são intencionalmente criadas pelo adulto com vistas a estimular certos tipos de aprendizagem, surge a dimensão educativa. Desde que mantidas as condições para expressão do jogo, ou seja, a ação intencional da criança para brincar, o educador está potencializando as situações de aprendizagem. Utilizar o jogo na Educação
RISCOS E RABISCOS...Curiosidade: Alicia Fernandez (2001) nos convida a morar no jogar-brincar, evidenciando a leitura-postura psicodramática, e assim criarmos um admirável-viável mundo novo de possibilidades. O psicodrama com crianças é essa praia entre o sólido e o líquido, entre a mãe e o mundo, entre o outro e o eu, entre a pulsão e o pensamento.
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Infantil significa transportar para o campo do ensino-aprendizagem condições para maximizar a construção do conhecimento, introduzindo as propriedades do lúdico, do prazer, da capacidade de iniciação e ação ativa e motivadora. (KISHIMOTO, 1999, p.36-37)
No entanto, a preocupação com a escolarização da criança desvia o
brincar da infância levando a seriedade precoce ao cotidiano infantil,
desconsiderando e dissociando o lúdico das atividades escolares. No mundo
contemporâneo, as propostas de Educação Infantil se dividem entre as que
reproduzem a escola elementar, com ênfase na escolarização (alfabetização e
números) e as que buscam introduzir a brincadeira, valorizando a socialização e a
re-criação de experiências. Permitem que as concepções em sociedade envolvam a
liberdade do ser humano de se auto-determinar.
Segundo Kishimoto (1999), a criança que brinca sempre, com
determinação auto-ativa, perseverando e esquecendo sua fadiga física, pode
SAPEANDO E CONTEXTUALIANDO. Venha brincar na brinquedoteca : objetivando o resgate do brincar espontâneo como elemento essencial para o desenvolvimento integral da criança, de sua criatividade, aprendizagem e socialização, é que surgem as brinquedotecas. É o paraíso encantado, em que a criança embala seus desejos em sonhos flutuantes e prazerosos. Ao professor cabe direcionar a curiosidade infantil, propondo momentos de criação e construção, em cada canto da brinquedoteca. Contar, inventar e dramatizar histórias sobre brinquedos, permitindo a liberdade e a expressividade da criança.
Figura 14
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certamente tornar-se homem determinado, capaz de auto-sacrifício para a promoção
do seu bem e de outros.
Assim ao apontar que o brincar tem profundos significados para a criança,
pressupõe-se que as atividades lúdicas permitem o estabelecimento de relações
entre objetos culturais e a natureza, unificadas pelo mundo espiritual. E concebe o
brincar como atividade livre, espontânea e criativa, responsável pelo
desenvolvimento físico, moral e cognitivo, cujos brinquedos subsidiam essas
atividades infantis. Entende, também, que a criança necessita de orientação para
seu desenvolvimento.
É preciso, no entanto, que o educador tenha um olhar perceptivo para
compreender que a educação é ato intencional. Requer orientação por parte do
professor, cujos caminhos podem ser viabilizados por instrumentos e material que
podem ser utilizados para facilitar a construção do conhecimento por parte da
criança. “O uso do brinquedo/jogo educativo com fins pedagógicos remete-nos para
a relevância desse instrumento para situações de ensino-aprendizagem e de
desenvolvimento infantil.” (KISHIMOTO, 1999, p.36).
Há a necessidade de oferecer condições, como material destinado às
brincadeiras e espaços adequados às crianças. Para proporcionar o brincar livre, é
preciso dispor de alternativas que ofereçam possibilidades à criança, como objetos
culturais ou espaços para implementar seus projetos de brincadeira, de modo que
possa estimular o imaginário infantil.
O brincar pode integrar-se às atividades educativas, ocupando lugar nos
momentos de aprendizagem, com a tarefa de interagir com a criança por meio de
experiências lúdicas. A concepção de brincar como forma de desenvolver a
RISCOS E RABISCOS... Mais curiosidade: O sentido da alegria para Alícia Fernández (2001) é o conhecer, escutar, perguntar, abrir os olhos, olhar, falar e podem fazer sofrer, mas não matar a alegria, já que a alegria é o reconhecer--nos com a possibilidade de mudar e de mudar-nos. A alegria está presente no brincar, na liberdade de inventar, de criar, de sorrir, de interpretar o mundo criando tudo novo. A alegria abre espaço para a construção e para a força criativa.
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autonomia das crianças requer um uso livre de brinquedos e de material, que
permita a expressão dos projetos criados pela criança. Só assim, o brincar contribui
para a construção da autonomia.
A ação motora que integra toda brincadeira deve ser vista como
dependente da cognição, afetividade e sociabilidade, estabelecendo, portanto,
relação com o desenvolvimento da linguagem e oportunidades de exploração.
A utilização do jogo e das brincadeiras potencializa a exploração e a construção do conhecimento, por contar com a motivação interna, típica do lúdico, mas o trabalho pedagógico requer a oferta de estímulos externos e a influência de parceiros, bem como a sistematização de conceitos em outras situações que jogos ou brincadeiras. (KISHIMOTO, 1999, p.38)
É evidente que a aventura do viver, do brincar e do sentir podem ser
também a aventura prazerosa na aprendizagem. Isso acontece nos momentos e
situações em que as crianças conseguem se comunicar, mediante linguagens
comuns a si mesmas, às outras crianças, interagindo e explorando o mundo, em
constantes construções. A criança chega ao mundo aberta para os aprendizados da
vida. Durante a primeira infância e só neste momento possui uma abertura para
RISCOS E RABISCOS. Veja um fato interessante. Para Paulo Freire (1996), no trabalho educativo com a criança, o educador (a) deve estar atento à difícil passagem ou caminhada da heteronomia para a autonomia, atento à sua própria presença que tanto pode ser auxiliadora como pode virar perturbadora da busca inquieta dos educandos. A prática educativa não pode dificultar e nem inibir a curiosidade da criança. É necessário estimular a busca na construção da própria autonomia, baseada nas experiências e nos desafios que movem todo ser.
SAPEANDO E CONTEXTUALIZANDO. Tente essas brincadeiras:. Vale a pena. A aventura fantástica do brincar está presente nos jogos em geral. Mas os jogos que são carregados de afeto, como serra-serra, pirulito que bate-bate, passar anel, escravo-de-jó, cabra-cega, enriquecem a aprendizagem e desenvolvem a cognição e a socialização da criança. São brincadeiras interessantes que devem ser estimuladas para oferecer situações de descobertas e explorações na Educação Infantil.
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conhecer, capaz de apreender, compreender, construir, formar, desenvolver
habilidades que carrega consigo durante toda a vida.
Há na natureza uma sabedoria, um caminho natural do desenvolvimento
humano com características definidas. Ao mesmo tempo, é flexível ante as
mudanças e conseqüentes adaptações às quais nos submetemos constantemente.
O brincar é, sem dúvida, um meio natural pelo qual os seres humanos e os animais
exploram uma variedade de experiências, em diferentes situações, para diversos
propósitos.
O brincar tem todo o acervo de conteúdos, oferecendo a quem dele se
utilizar possibilidades naturais de sermos mais naturais, principalmente na infância,
em que construímos nossa base principal, suporte para toda uma vida. Uma
linguagem própria e simples.
Ser natural. Isto nos possibilita o melhor acesso a nós mesmos durante a
vida, para que possamos nos observar, ora externa, ora internamente, nessa
alternância de constante re-conhecimento de nós mesmos, para que lidemos com
boa parte de nossos conteúdos, para que, finalmente, possamos sempre nos
permitir continuar o caminhar de nosso desenvolvimento.
RISCOS E RABISCOS: sugestão de leitura muito interessante e que instiga o imaginário infantil pode ser a história: como nasceu a Alegria de Rubem Alves, que trabalha com os sentimentos, a expressividade do Ser e emoções. A criança pela linguagem oral e escrita da história se identifica e se envolve com os personagens, vivenciando uma realidade simbólica, doce, cheia de encantos e surpresas.
RISCOS E RABISCOS.Uma curiosidade importante sobre linguagem: Para Gusdorf (1970), em seu livro A Fala, que estuda e investiga a fala humana, a linguagem visa assegurar a inserção da pessoa no mundo, nas trocas com o outro, consigo mesmo e com o meio. É uma das primeiras manifestações da criança. Os pais devem valorizar, estimular, possibilitando um elo de comunicação da criança com a realidade, permitindo-lhe extravasar sua essência humana. A linguagem manifesta a transcendência da realidade humana, a única capaz de constituir o mundo. A palavra constitui a essência do mundo e a essência do homem.
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O brincar é essencial à criança. Revela-se de diversas formas, buscando
maneiras, contextos, símbolos, objetos, , movimentos reveladores do sujeito que nos
habitar. Constitui auxílio na boa formação infantil, nos aspectos emocional,
intelectivo, social, e físico. O brincar faz parte da vida e, ao oferecermos à criança a
possibilidade de brincar, oferecemos muito mais do que o ato em si mesmo, visível
aos olhos. Estendemos uma perspectiva de vida melhor. Estendemos um
desenvolvimento mais natural e eficiente, uma socialização decorrente de tão-
somente brincar e, ainda mais, a possibilidade de se reconhecer como Ser, de
expressar e concretizar criativamente seus desejos, necessidades e fantasias.
No entanto, Moyles (2002), em seus estudos, desafia as concepções
sobre o que o brincar, cheio de significados e de sentidos, pode e deve proporcionar
aos jovens aprendizes, no contexto escolar. Ver a real importância de o professor
encorajar, promover, valorizar e participar ativamente desse jogo sedutor, na sala de
aula. Abrir, assim, um espaço para justificar a inclusão efetiva da utilização dos
brinquedos e brincadeiras no currículo da Educação de Infância.
É necessária uma reflexão por parte dos educadores da infância sobre a
frequência em que deve acontecer o brincar até a escolha dos materiais lúdicos para
determinadas situações de aprendizagem. E, assim, desmaranhar o “mistério” do
brincar, como linguagem lúdica relacionada com a aprendizagem da criança. A maior
RISCOS E RABISCOS Outra nova curiosidade sobre o brincar: O brincar gera caminhos de realização e de significados. Seu sentido insinua movimento. Para Critelli (1996), é significativo o movimento que dá o mundo, o movimento que a vivência dá ao mundo, e a tudo o que nele comparece e ao próprio homem, sua chance de manifestação (ou aparência), seus significados e sentidos. São sentidos que extravasam os pensamentos, os sentimentos, as emoções, e os desejos do pequeno Ser.
ERA UMA VEZ... Uma educadora e pesquisadora que resolveu investigar sobre a questão do brincar, como meio de aprendizagem para a criança. Seu nome é Janet Moyles. Esta autora mostra por que a brincadeira é um fator fundamental no aprendizado infantil. Propõe formas de utilização de brinquedos para o desenvolvimento intelectual e motor da criança.
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aprendizagem está na oportunidade oferecida à criança de aplicar algo da atividade
lúdica dirigida a alguma outra situação, movimentando-se. Esse movimento gera
experiências e descobertas.
Logo, ao transitar pelas experiências vividas por diversos profissionais de
atuação na infância, que se utilizam do instrumento lúdico. a autora procura sinalizar,
os valores que representam o brincar no espaço escolar.
O brincar “aberto”, aquele que poderíamos chamar de a verdadeira situação de brincar, apresenta uma esfera de possibilidades para a criança, satisfazendo suas necessidades de aprendizagem e tornando mais clara a sua aprendizagem explícita. Parte da tarefa do professor é proporcionar situações de brincar livre e dirigido que tentem atender às necessidades de aprendizagem das crianças. Neste papel, o profesor poderia ser chamado de um iniciador e mediador da aprendizagem. (MOYLES, 2002, p.36-37)
As experiências lúdicas possibilitam ao educador mediar, conhecer e
compreender melhor o desenvolvimento da criança. É uma forma de acesso às
fixações e experiências mais profundamente recalcadas da criança, o que auxilia a
atuação do professor no sentido de re-orientar as ações pedagógicas em favor de
um desenvolvimento cada vez mais saudável.
As brincadeiras podem transmitir informações importantes sobre a
realidade infantil, período em que a criança ainda não possui domínio da linguagem,
capaz de revelar as infinitas sutilezas presentes em sua existência.
A brincadeira é saudável. Brincar facilita o crescimento e, portanto, a
saúde; o brincar conduz aos relacionamentos grupais; é uma forma de comunicação
consigo mesmo e com os outros. É no brincar que a criança pode ser criativa e
SAPEANDO E CONTEXTUALIZANDO. Faça com seus alunos (as) uma aula-passeio e gere conversas. A criatividade no brincar encontra na aula-passeio uma fonte de aventura associada à curiosidade da criança. O próprio contexto do passeio pode direcionar a aula na medida das descobertas significativas que a criança faz. A aula-passeio pode ser rica em informações, que favorecem o desenvolvimento das potencialidades e da personalidade da criança.
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utilizar sua personalidade integral, descobrindo o seu “eu”. Acima de tudo, o brincar
motiva e é, por isso, que proporciona clima especial para a aprendizagem.
Destarte, percebemos que o desenvolvimento infantil se encontra
particularmente vinculado ao brincar, uma vez que este último se apresenta como a
linguagem própria da criança, por meio da qual é possível o acesso à cultura e à sua
assimilação.
Assim, o brincar se apresenta como fundamental, tanto ao
desenvolvimento cognitivo e motor da criança quanto à sua socialização, importante
instrumento de intervenção da estratégia de construção do conhecimento e auto-
percepção na infância.
Entretanto, ainda chamamos a atenção à valorização das práticas lúdicas
na sala de aula como linguagem da criança na comunicação com o mundo que a
cerca. Tal valorização do brincar deve ser como a cultura da criança, que, como
qualquer outra, possui a sua própria.
Devemos oferecer uma variedade de situações e inovações dentro da sala de aula, que permitam diferentes oportunidades para diferentes crianças e, mais importante, temos de assegurar que cada criança tenha oportunidade de explorar adequadamente um novo meio ou situação – e isso significa tentar explorar as experiências com palavras, assim como por meio do brincar. (MOYLES, 2002, p.57)
Mediante suas experiências criativas e o instrumento brinquedo, em sua
utilidade maior, o brincar fornece possibilidades que derivam dos ambientes e
espaços lúdicos, facilitando o contato com a criança, na expressividade do
conhecimento e da auto-percepção. No desenvolvimento da criança podemos
encontrar agentes colaboradores, por meio do brincar, tais como o fator social entre
eles, a construção desta convivência em sociedade, o desenvolvimento emocional,
intelectivo e físico.
SAPEANDO E CONTEXTUALIZANDO.O tempo de e do brincar se faz e se cria a qualquer momento. Veja você mesmo (a) a sua importância: a sala de atividades se torna palco para as fantasias. Os jogos, como dominó, trilha, bingo e cruzadinhas, podem ter sentido maior quando relacionados com histórias, contos, poesias e músicas interpretados pela criatividade infantil, É o momento da aprendizagem com letras por meio do brincar. Confeccione um varal com letras e faça com elas relações de construção do conhecimento no cotidiano infantil.
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É importante também o uso imaginativo da linguagem falada, como
oportunidade de diversão para as crianças, enquanto tropeçam nas palavras. Brincar
com as palavras ajuda as crianças a compreender o que tem sentido e o que é
absurdo.
Podemos observar que as crianças usam a linguagem em suas
brincadeiras a maior parte do tempo, quando conversam consigo mesmas ou com os
seus brinquedos. O faz-de-conta, por exemplo, é importante para o desenvolvimento
da linguagem, da habilidade e da competência, pois constitui complexas interações
lingüísticas que promovem o imaginário e metafórico modo de comunicação no
mundo das crianças.
Brincar é experiência fundamental para qualquer idade, especialmente
para as crianças com idade entre três e seis anos, que brincam para viver interagem
com o real, descobrem o mundo que as envolve, organizam-se e se socializam.
Dessa forma, o brincar e o brinquedo já não são mais, na escola, aquelas
"atividades utilizadas pelo professor para recrear as crianças, como uma atividade
em si mesma”. Quanto mais rica for a experiência vivida pela criança, maior é o
material disponível e acessível à sua imaginação.
Assim, há a necessidade de o professor(a) ampliar, significativamente, as
vivências da criança com o ambiente físico, com brinquedos, brincadeiras e com
outras crianças. O teatro, por exemplo, é meio pedagógico que canaliza a
imaginação infantil, oferecendo possibilidades de expressão corporal e lingüística.
RISCOS E RABISCOS. Veja essa curiosidade sobre linguagem expressa por Wallon (1996). A intenção que a criança gostaria de exprimir não chega a desenvolver-se em termos sucessivos por palavras. A linguagem simbólica vem, portanto, auxiliar a expressividade infantil por meio da imitação e da representação, encontradas no brincar. Os gestos ou os símbolos que sucedem nessa atividade são na verdade um retorno ao mundo exterior e ao movimento que a ludicidade propicia
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Precisamos, na qualidade de educadores, propiciar a expressão do Ser
por meio do teatro, no sentido de trabalhar a fantasia, o irreal e o fantástico,
ingredientes fortes para despertar a emoção nas crianças. É também momento
lúdico que pode permear o espaço escolar, a fim de transformá-lo em espaço de
descobertas, de imaginação, de criatividade, enfim um lugar onde as crianças sintam
prazer pelo ato de conhecer.
Em relação à espiral do brincar, é vital explorar a linguagem, brincar com a linguagem e usar a linguagem. O fato de que as crianças também podem aprender sobre a linguagem é um ponto a mais para ser considerado. É mais provável que isso ocorra se os adultos se envolverem no brincar e oferecerem um modelo para a criança. (MOYLES, 2002, p.66)
Vale ressaltar, entretanto, a importância dos estudos de Moyles (2002),
que abre, ainda mais, a discussão sobre temática tão importante de nossas vidas,
pois, já que fomos crianças em algum tempo, o brincar natural, os brinquedos fazem
parte de nosso desenvolvimento. Cabe lembrar, ainda, que pretendemos somar
informações e valores de como ocorrem os relacionamentos entre as crianças
atualmente, dentro de seu universo do brincar, fonte de estruturação também no
campo do progresso humano.
Por meio de atividades lúdicas, o educando explora muito mais sua
criatividade. É uma linguagem que viabiliza a comunicação da criança consigo
mesma, com os outros e com o mundo. O indivíduo criativo é elemento importante
para o funcionamento efetivo da sociedade, pois é ele quem faz descobertas,
inventa e promove mudanças.
SAPEANDO E CONTEXTUALIZANDO. Uma sugestão: a realização do teatro em sala de aula...Utilize um baú ou uma caixa de surpresas para guardar roupas e tecidos (pedaços de lençóis, de tule e de retalhos) que devem ser, de vez em quando, lavados ou expostos ao sol para que não acumulem poeira ou mofo.Guarde os adereços (chapéus, adornos) objetos de uso para as cenas, como telefone, utensílios de cozinha, materiais de escritório, de consultório, numa caixa. Nos momentos destinados ao faz-de-conta, organize-os, com a ajuda das crianças, num canto da sala para que elas possam visualizá-los e dispor deles quando quiserem. Promover uma data para que as crianças tragam doações para o baú, pode ser interessante e divertido.
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Mesmo sem intenção de aprender, quem brinca, aprende, pois se
aprende brincando. Como construção social, a brincadeira é atravessada pela
aprendizagem, uma vez que os brinquedos e o ato de brincar, a um só tempo,
podem contar a história da humanidade e dela participar diretamente, evidenciando
algo aprendido e disposição inata do ser humano.
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À guisa de considerações finais
Construímos tal fascículo porque entendemos a importância do processo
lúdico na aprendizagem e na vida da criança. Procuramos expor, de forma interativa,
os construtos teóricos entrelaçados por praticidades, sugeridas ao professor (a) na
mágica arte de ensinar. Sabemos que o brincar faz parte da natureza da criança.
Todo educador (a) precisa de uma formação lúdica de conhecimentos construídos
entre pares que perfaçam o espiral de parcerias, necessárias ao Ser professor.
Tornar-se lúdico é perceber que o melhor jogo é aquele que dá espaço
para ação de quem brinca, além de instigar e conter mistérios. É identificar situações
potencialmente lúdicas, fomentando-as, de modo a fazer a criança avançar do ponto
em que está na sua aprendizagem e no seu desenvolvimento.
Enfim, realizar na sala de aula uma animação lúdica. Nossa intenção é
fazer da brincadeira infantil uma roda alegre, divertida e animada, que entre no
contexto da aula, pois brincar é como fazer poesia, é colorir um desenho, é empinar
uma pipa ou rir com um palhaço.
Procuramos enfocar o brincar em alguns contextos, desde a descoberta
do sentimento de infância, pesquisado por Ariès (1960). A esse, denominamos O
brincar e o reconhecimento da infância, mostrando o limite que tal criança
enfrentava, com poucas possibilidades lúdicas.
No capítulo 2 - O Brincar em Linguagem - evidenciamos o ato de
compreender a importância de pensar a construção de uma cultura lúdica, pautada
nos aportes teóricos de Huisinga (1980), pois vemos que este favorece a reflexão
necessária para tal compreensão. A cultura lúdica que faz a história, mostrando um
efeito de sentido do Ser em seus momentos de infância, muitas vezes ou quase
sempre demonstrado pelo brinquedo e as brincadeiras de época e das épocas.
Destarte, examinamos as pontuações de Vygotsky (1991), quando
relaciona o brincar infantil espontâneo e social, construído nas interações da criança
com o meio em que vive e de sua influência significativa na aprendizagem da
mesma. A metáfora que o brinquedo e as brincadeiras patenteiam no amplo alcance,
pode ter o sentido desse brincar.
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As palavras de Ricoeur (1983) encobrem os infinitos significados, dizem
do lúdico e como esse sugere o momento de transcendência da realidade humana
para caminhos figurativos existentes neste brincar infantil. Sugerimos que as
possibilidades de propiciar esse lúdico estejam na ciranda entre os pares teóricos e
nos ritmos interpretativos que fazem a prática, como desenhos, danças, poesias,
cenários criados que representam a existência seqüencial das interpretações
figurativas, para a ludicidade.
Rojas (2004) revela que, no enfoque criativo do livro de pano, como
recurso lúdico auxiliar para a realização do trabalho pedagógico, em sala de aula, a
criança espraia a sucessão de fantasias e símbolos mágicos que habitam sua
imaginação. Além de ser um brinquedo ao alcance de todos, pois quem não tem um
pedaço de pano?
A complementaridade de tal reflexão é observada em Jogo, brinquedo e
brincadeira: a função lúdica e pedagógica no espaço infantil, ressaltadas por
Kishimoto (1999), pesquisadora do jogo e das brincadeiras, como elementos
fundamentais para a educação da criança. Nessa esteira a linguagem do brincar,
conforme Moyles (2002), assegura também a importância do lúdico na ação
pedagógica, como meio de comunicação da criança com o mundo, com o outro e
consigo mesma, na construção criativa e espontânea de experiências de
aprendizagem que evidenciam um processo, e não apenas um produto.
Acreditamos que todas essas páginas são necessárias a nós, educadores,
que temos o compromisso de recriar o trabalho educativo com a criança. Por isso,
entre para o mundo da ludicidade e se encante com as possibilidades de ser criança
novamente...Brinque...Invente...Crie...Construa! E então, responda: O que é brincar?
Como esse brincar pode contextualizar sua prática pedagógica? Quais as
brincadeiras que você lembra, de imediato, que podem favorecer uma motivação
para a criança num relacionamento interativo?
Uma atividade reflexiva para você: Monte um projeto de ação em sala de
aula por meio do brincar. Realize e relate tal atividade. Comece com o Era uma vez,
faça sua história. Com a sua história descrita, trabalhe a importância das
experiências vividas, risque, rabisque e diga do valor do brincar como recurso de
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aprendizagem no desenvolvimento infantil. Inclua o relato do projeto, sapeando e
contextualizando a sua prática docente, dizendo daquilo que vivencia e/ou vivenciou
com o projeto/brinquedo ou com o brinquedo/projeto.
.
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Agora, que chegamos ao final do fascículo, observe a roda e perceba a importância
da ciranda de mãos dadas como construção do conhecimento que, não poucas
vezes fazemos como educadores, entre pares teóricos e os sujeitos aprendizes na
ação. Faça uma avaliação da possibilidade de dar as mãos, sempre; mãos como
pontes de afetividade, de ação e de parceria. Ouse em seu fazer, persiga suas
metas, aventure-se na sua prática. Abra-se para as mudanças, coloque alegria na
ação e inove-se a cada dia. Sucesso em seus feitos e estabeleça a roda como
mandala da vida!
Figura 15
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Sites sugeridos sobre a temática do brincar ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE BRINQUEDOTECAS. Estatuto da Associação Brasileira de Brinquedotecas. Disponível na internet. http://www.regra.net/ educação/estatuto.htm UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO. Faculdade de Educação. Departamento de Metodologia do Ensino e Educação Comparada. Laboratório de Brinquedos e Materiais Pedagógicos. Disponível na internet. http://www.regra.com.br/ educação/labrimp.htm
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SUGESTÃO DE FILMES
COLCHA DE RETALHOS, Direção de Jocelyn Moorhouse. Produção: Sarah Pillsbury e Midge Sanford Gênero: Drama. Duração: 116m. Sinopse: Enquanto elabora sua tese e se prepara para se casar, Finn Dodd (Wynona Ryder), uma jovem mulher, vai morar na casa de sua avó (Ellen Burstyn). Lá estão várias amigas da família, que preparam uma elaborada colcha de retalhos como presente de casamento. Enquanto o trabalho é feito, ela ouve o relato de paixões e envolvimentos, nem sempre moralmente aprováveis, mas repletos de sentimentos, que estas mulheres tiveram. Neste meio-tempo, ela se sente atraída por um
desconhecido, criando dúvidas em seu coração que precisam ser esclarecidas. Sinopse e pôster Colcha de retalhos. Disponível em <http://adorocinema.cidadeinternet.com.br/filmes/colcha-de-retalhos/colcha-de-retalhos.asp> Acesso em: 27 jan. 2007, 22:32.
PEIXE GRANDE E SUAS HISTÓRIAS MARAVILHOSAS. Direção: Tim Burton. Produção: Bruce Cohen e Dan Jinks. Gênero: Comédia. Duração: 125m. Sinopse: Ed Bloom (Albert Finney) é grande contador de histórias. Quando jovem, Ed saiu de sua pequena cidade natal, no Alabama, para realizar uma volta ao mundo. A diversão predileta de Ed, já velho, é contar sobre as aventuras que viveu neste período, mesclando realidade com fantasia. As histórias fascinam todos que as ouvem, com exceção de Will (Billy Crudup), filho de Ed. Até que Sandra (Jessica Lange), mãe de Will, tenta aproximar pai e filho,
o que faz com que Ed, enfim, tenha que separar a ficção da realidade de suas histórias. Sinopse e pôster Peixe grande e suas histórias maravilhosas. Disponível em <http://adorocinema.cidadeinternet.com.br/filmes/peixe-grande/peixe-grande.asp> Acesso em: Acesso em: 27 jan. 2007,21:28.
Figura 16
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Lista de Figuras Figura 1 - www.gardenofpraise.com/images/bruegel2.jpg Figura 2 - http://www.adventistasviseu.com/Livro.jpg Figura 3 - www.iies.es/buscador.htm Figura 4 - http://www.eb1-parameira.rcts.pt/imagens/lapis.gif Figura 5 - www.bohney.com.br/brinquedos.shtml Figura 6 - http://www.qdivertido.com.br/jogos.gif Figura 7 - http://revistaescola.abril.com.br/especiais/jogos_brincadeiras/especial.shtml Figura 8 – Acervo particular Jucimara Rojas – materiais pedagógicos. Figura 9 - http://www.ced.ufsc.br/~zeroseis/brincar3.html Figura 10 – Acervo particular Jucimara Rojas – Livros de Pano – ELMER, o elefante diferente e O Chapeuzinho Vermelho. Figura 11 - http://www.plus.es/media/PAGINADIGITALPLUS/Infantiles/infantil_septiembre_2005/noviembre/elcircodejojo.gif Figura 12 - http://revistaescola.abril.com.br/especiais/jogos_brincadeiras/especial.shtml Figura 13 - http://revistaescola.abril.com.br/especiais/jogos_brincadeiras/especial.shtml Figura 14 - http://revistaescola.abril.com.br/especiais/jogos_brincadeiras/especial.shtml Figura 15 – members.tripod.com/.../pintura_biedermeier.htm Figura 16 - www.abolsamia.pt