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PESQUISA FATORES DE RISCO PARA COMPLICAÇÕES EM EXTREMIDADES IN FERIORES DE PESSOAS COM DIABETES MELLlTUS RISK FACTO RS FOR FEET COMPLlCATION lN PEOPLE SUFFERING FROM DIABETES M ELLlTUS FACTORES DE RIESGO EN LAS COMPLlCACIONES DE LAS EXTREMIDADES INFER IORES DE PERSONAS CON DIABETES MELLlTUS Ana Emília Pace' Milton Cesar FOSS2 Kaia Ochoa-Vig03 Miyeko Hayashid a4 RESUMO: O estudo analisou fatores de risco para complicações em pés de pessoas com diabetes em Unidade Ambul atori al. Os dados foram obtidos por meio de entrevista semi-estruturada, avaliação de pés e exames laboratoriais. Os riscos tiveram a análise segundo Zavala e Braver e Sistema de Classificação do Consenso Internacional sobre Pé Dia bético, mediante estatística descritiva. Nos resultados, a idade média foi 53,3±1 3 anos, tempo da doença 12,9±9 e 58% tinham ensino fundamental incompleto. Dentre os riscos, identificou-se complicações microvasculares, hipertensão arteria l, nível glicêmico inadequado, sedentarismo, uso de sapatos inapropriados, somadas às alterações dermatológicas e estruturais. No risco para úlceras, obteve-se 1 9,1% entre as categorias 2 e 3. Os dados reforçaram necess idade de atendimento primário com ênfase na avaliação de riscos e educação do paciente. PALAVRAS-CHAVE: diabetes mellitus, pé diabét ico, fatores de risco ABSTRACT: This study analyzed risk factors for feet complications on people wit h diabetes assisted in an outpat ient u nit. Data were col lected by means of semi-structured in terviews, feet evaluation and laboratory tests. Risks were analyzed according to Zavala and B raver and the Classifica tion System of the International Consensus on the Diabetic Foot based on descriptive statis tics. Results showed tha t the mean age was 53.3±1 3 years old, the duration of the disease was 12.9±9 and 58% of the patients had incomplete e lementary education. Among the risks, the following were ident ified: microvascular compli cations, arter ial hypertens ion, inadequate glycemic leve i, sedentar ism and the use of inappropriate shoes in a d dit ion to dermatologica l ad struc tural al terations. Conce rning risks for ulcers, 19.1 % were obtained in categories 2 and 3. The results reinforce the need fo r p rimary care with emphasis on ri sk evaluation and patient education. KEYWORDS: diabetes mel litus, diabetic foot, risk factors RESUMEN: EI estudio analizó los factores de riesgo pa ra complicac iones en los pies de personas con diabetes en una Unidad Ambulator ial. Los datos se obtuv ieron media nte entrevista semiest ructurada, evaluación de los pies y aná lis is de laboratorio. Los riesgos se analiza ron según Zavala y Braver y po r el Sistema de C lasificación de i Consenso Internac ional sobre Pie Dia bético, mediante estadística descr iptiva. En los resu ltados, el promedio de la edad fue 53,3±13 anos, el tiempo de la enfermedad eI 12,9±9 y el 58% tenia n escolaridad fundamenta l incomp leta. Entre los riesgos, se ident ificaron compli ca ciones microvasculares, hiperten sión arte rial, n ivel de g licemia inadecuado, sedentarismo, uso de zapatos inapropiados, que se suman a las alte raciones de rmatológicas y estructu rales. En el riesgo para úlce ras, se obtuvo el 1 9, 1 % entre las categorías 2 y 3. Los datos refuerzan la necesidad de asistencia primaria con énfasis en la eva luación de los riesgos y educación dei pac iente. PALABRAS CLAVE: diabetes mellitus, pie diabético, factores de riesgo Recebido em 07/12/2002 Aprovado em 20/1 2/2002 'Docente do Departamento de Enfermagem Geral e Especializada da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo - EERP, USP. 2 Docente do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, USP. 3 Aluna do Programa Interunidades de Doutoramento em Enfermagem da Esco la de Enfermagem de São Paulo e Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, USP. 4 Enfermera Especialista em Laboratório da EERP - USP. 514 Rev. Bras. Enferm ., Brasília, v. 55, n. 5, p. 514-521 , set.lout. 2002

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PESQU ISA

FATORES DE RISCO PARA COMPLICAÇÕES EM EXTREMIDADES INFERIORES DE PESSOAS COM DIABETES MELLlTUS

RISK FACTO RS F O R F E ET COMPLl CATION lN PEOPLE S U F F E R I NG F RO M DIABETES M ELLlTUS

FACTO RES DE R I ESGO EN LAS COMPLlCAC I ONES DE LAS EXTR E MIDADES INFERIO RES DE P E RSONAS CON DIABETES M ELLlTUS

Ana Emí l ia Pace' M i lton Cesar FOSS2

Kattia Ochoa-Vig03

M iyeko Hayashida4

RESUMO: O estudo anal isou fatores de risco para compl icações em pés de pessoas com d iabetes em Unidade Ambulatorial . Os dados foram obtidos por meio de entrevista semi-estruturada, ava l iação de pés e exames laboratoria is . Os riscos tiveram a anál ise segundo Zavala e Braver e S istema de Classificação do Consenso I nternacional sobre Pé Diabético, med iante estatística descritiva . Nos resu ltados, a idade média foi 53 ,3± 1 3 anos, tempo da doença 1 2 ,9±9 e 58% t inham ensino fundamental i ncompleto. Dentre os riscos , identificou-se compl icações m icrovasculares, h ipertensão arteria l , n ível g l icêmico inadequado, sedentarismo, uso de sapatos inapropriados, somadas às alterações dermatológ icas e estrutura is . No risco para ú lceras , obteve-se 1 9 , 1 % entre as categorias 2 e 3 . Os dados reforçaram necessidade de atendimento primário com ênfase na ava l iação de riscos e educação do paciente. PALAVRAS-CHAVE: d iabetes mel l i tus, pé d iabético , fatores de ri sco

ABSTRACT: This study analyzed risk factors for feet compl ications on people with d iabetes assisted in an outpatient un it . Data were collected by means of semi-structu red i nterviews , feet evaluat ion and laboratory tests . Risks were analyzed accord ing to Zavala and Braver and the Classification System of the I nternational Consensus on the Diabetic Foot based on descriptive statistics. Results showed that the mean age was 53.3± 1 3 years old , the duration of the d isease was 1 2 .9±9 and 58% of the patients had i ncomplete elementary education . Among the risks , the fol lowing were identified : microvascu lar compl ications, arterial hypertension , i nadequate g lycemic levei , sedentarism and the use of i nappropriate shoes in add it ion to dermatological ad structural a lterations. Concern ing risks for u lcers , 1 9 . 1 % were obta i ned in categories 2 and 3 . The results rei nforce the need for pr imary care with emphasis on risk eva luat ion and patient education . KEYWORDS: d iabetes mel l i tus , d iabetic foot, r i sk factors

RESUMEN : EI estud io anal izó los factores de riesgo para compl icaciones en los p ies de personas con d iabetes en una Un idad Ambulatoria l . Los datos se obtuvieron mediante entrevista semiestructurada , eva luación de los p ies y aná l is is de laboratorio . Los riesgos se anal izaron según Zavala y B raver y por el S istema de Clas ificación dei Consenso Internacional sobre Pie Diabético , med iante estad ística descriptiva . En los resu ltados, el promedio de la edad fue 53 ,3± 1 3 anos, el t iempo de la enfermedad eI 1 2 ,9±9 y el 58% ten ian escolar idad fundamental i ncompleta . Entre los r iesgos, se identificaron compl icaciones microvascu lares, h ipertensión arter ia l , n ivel de g l icemia i nadecuado, sedentar ismo, uso de zapatos inapropiados , que se suman a las a lteraciones dermatológ icas y estructu rales. En el r iesgo para ú lceras, se obtuvo el 1 9 , 1 % entre las categorías 2 y 3. Los datos refuerzan la necesidad de asistencia pr imaria con énfasis en la evaluación de los riesgos y educación dei paciente. PALABRAS CLAVE: d iabetes mel l i tus , p ie d iabético, factores de riesgo

Recebido em 07/1 2/2002 Aprovado em 20/1 2/2002

' D ocente do Departamento de E n fermagem Gera l e Especi a l izada da Esco l a de E nfe rmagem de R ibe i rão Preto, U n iversidade de São Paulo - E E RP, U S P.

2 Docente do Departamento de C l ín ica Méd ica da Faculdade de Medic ina de R ibe i rão Preto , U S P. 3 Aluna do Programa I nteru n idades de Doutora mento em Enfermagem da Escola de Enfermagem de São Paulo e Escola

de Enfermagem de Ribe irão Preto , U S P. 4 Enfermera Especia l i sta em Laboratório da EERP - USP.

5 1 4 Rev. Bras. Enferm . , Bras í l ia , v. 55, n . 5 , p . 5 1 4-52 1 , set.lout . 2002

INTRODUÇÃO

Dentre as doenças crôn icas que vêm tendo índ ices e levados de morb imorta l idade, o d iabetes mel l i tus vem se destacando. Na Declaração das Américas sobre D iabetes (ALLEYN E , 1 99 6 ) , este d i stú rb i o é cons i de rado u m a pandemia d e proporções crescentes . Estima-se q u e até o ano 20 1 0 , o número de casos nas Américas crescerá para 45 mi lhões, levando em conta o envelhecimento demográfico da população e as tendências re lativas aos fatores de ri sco subjacentes , relacionados com o processo de modern ização dos pa íses em desenvolvimento.

O "Censo de D iabetes" , rea l izado em 1 988, na popu lação bras i l e i ra e ntre 30 a 69 anos , mostra uma prevalência de 7 ,6% (MALERB I ; FRANCO, 1 992), magnitude semelhante à de pa íses desenvolv idos. No mun ic íp io de Ribeirão Preto, o Estudo de Prevalência de Diabetes Mel l itus, rea l izado no per íodo de 1 996 a 1 997 , determ inou u m percentual d e 1 2 ,2% para a mesma faixa etária (TORQUATO et a I . , 1 999) , o que faz pensar na possib i l idade de aumento da prevalência no Bras i l , uma vez que entre os dois estudos trancorreram nove anos.

O impacto do d iabetes sobre as sociedades e os ind ivíduos é subestimado. A maior parte dos custos d i retos do d iabetes re laciona-se com as suas comp l icações , que muitas vezes podem ser reduzidas, retardadas ou, em certos casos, evitadas . Dependendo do pa ís , as est imat ivas d ispon íve is i nd icam que o d iabetes pode gerar de 5 a 1 4% das despesas de atenção de saúde .

O d iabetes é uma i mportante causa de ób ito por doença crôn ica não transmiss íve l , quer como causa básica ou associada. De acordo com o documento pub l icado pela Sociedade Brasi le i ra de D iabetes - SBD ( 1 997) , é a quarta causa de morte no Brasi l .

O s achados d e Foss et a I . ( 1 989) evidenciaram que com o passar dos anos a prevalênc ia das compl icações microang iopáticas de retina e ri ns e leva-se, especia lmente após dez a 1 5 anos de doença. No entanto , a prevalência de neuropatia d iabética já é e levada no prime i ro período (0-5 anos) após o d iagnóstico , o que pode estar relacionado com a demora na rea l ização do d iagnóstico, especificamente , n o s pacientes portadores de d iabetes t i p o 2 .

A neuropat ia perifér ica s e i n sta l a em 4 0 % dos d iabéticos após 1 5 anos de doença , 20% dos d iabét icos t ipo 1 apresentam quadro de nefropatia e , nesta mesma duração, independente do tipo de d iabetes, 1 5% apresentam reti nopatia , causa importante para a cegue i ra . Quanto a doença vascu lar periférica , esta poderá estar presente em 45% dos d i abéticos com ma is de 20 anos de doença , estimando-se que 1 5% desenvolverão ú lceras nos membros i nferiores, gangrenas e amputações ( FOSS et a I . , 1 989) .

N o s d i a b é t i c o s , a i n c i d ê n c i a de d o e n ça s cerebrovascu l a res e coronari a n as é ma io r d o q u e n a população não d iabética . A h i pertensão acomete 50% do primeiro grupo, aumentando os riscos para o desenvolvimento de ret ino, nefro e vascu lopat ias (BERNARDES, 1 993) .

Dentre as com p l i cações crôn i cas do d iabetes , destaca-se no estudo , aque las re lac ionadas com os pés, que representam um estado fis iopatológico mu lt ifacetado, caracterizado pelo aparecimento de lesões e ocorrem como conseqüência de neuropatia em 80-90% dos casos, doença

PACE , A. E . ; FOSS, M . C . ; OCHOA-VIGO, K. ; HAYASH I DA, M .

vascu lar periférica e deformidades. As lesões geralmente são precip itadas por trauma e freqüentemente compl icam-se com i nfeção, podendo term inar em amputação quando não for i nstitu ído u m tratamento precoce e adequado (SBD, 1 997 , PEDROSA et a I . , 1 998) .

As ú lceras no pé se destacam como a causa comum que precede a uma amputação e são responsáveis por grande percentua l de morbimortal idade e hospital ização entre os d iabéticos ( LEVI N , 1 996) , com um tempo médio de i nternação maior em 59% do que d iabéticos sem ú lcera (RE IBER , 200 1 ) . Ressa lta-se que , a pós instalada a ú lcera , o gasto efetuado no seu cu idado eleva-se em 5 ,4 vezes a m a i s a o c o m p a rá - l o com p a c i entes sem p rocessos u l cerat ivos ( RA M S E Y et a I . , 1 99 9 ) , sendo q u e suas hospita l i zações costumam ser pro longadas e recorrentes, com maior número de consultas ambulatoriais e necessidade de cuidado domic i l iar ( RAMSEY et a I . , 1 999, HARRINGTON et a I . , 2000) .

Es tudos vêm ressa l ta n d o a necess idade dos profiss iona is de saúde ava l ia rem os pés dos portadores de d iabetes me l l itus de forma m inuciosa e com freqüência regular, bem como, desenvolverem atividades educativas para o seu melhor auto cu idado, associado com um bom controle g l i cêmico ( B I L D et a I . , 1 989 , LEVI N , 1 996, MAYF IELD et a I . , 1 998; PEDROSA et aI . , 1 998, BOULTON , 1 998, MASON et a I . , 1 999 , F R I TS C H I , 200 1 , AMER ICAN D IABETES ASSOCIATION-ADA, 2002).

A ava l i a ç ã o d o s p é s c o n s t i u i - se um p a s s o fundamental para identificar alguns fatores d e risco que podem ser modificados e, conseqüentemente, reduzirão o risco de u lceração e amputação na população d iabética (MAYFIELD et a I . , 1 998) .

Dentre as ações básicas descatam-se a ava l ição dermatológica , estrutura l , ci rcu latória e da sens ib i l idade táti l pressória , a lém das cond ições h ig iên icas e características dos calçados, sendo estes ú ltimos fundamentais para manter a saúde dos pés. Estas ações, se executadas principalmente pelos profissionais que atuam no n ível primário de assistência, poderão contri bu i r para d im inu i r o risco de morbidades nos pés dos d iabéticos e consequentemente, suas complicações.

O enfermeiro , i ntegrante da equ ipe mu ld iscip l i nar, desempenha uma função i mportante nos d iversos n íveis de atenção à saúde , como agente cu idador e educador, em consequência de sua constante interação com a população adoecida . Este fato o compromete a atuar de forma decisiva na identificação e recrutamento de pessoas d iabéticas que apresentam risco. Desta forma , o presente estudo, tem como objetivos identificar fatores de risco para prevenção e detecção precoce de compl icações em extremidades i nferiores entre pessoas com d iabetes mel l i tus, atend idos em uma U nidade Ambulatoria l de um Hospital Un iversitário do interior do Bras i l .

METODOLOGIA

Trata-se de u m estudo descritivo t ipo transversa l , desenvolvido n o Ambulatório d e Endocrinologia e Metabologia do Hospita l das C l í n i cas da Facu ldade de Medic ina de Ribe i rão Preto da U n ivers idade de São Paulo (HCFMRP­USP) , entre abri l de 2000 a abri l de 200 1 . Neste período foram atend idos um tota l de 659 pessoas com d iagnóstico de d iabetes mel l i tus , com idade superior a 20 anos e de

Rev. B ras . Enferm . , Bras í l i a , v. 55, n. 5 , p . 5 1 4-52 1 , set.!out. 2002 5 1 5

Fatores de risco . . .

ambos o s sexos. Destes , 8 4 partic iparam vol untar iamente do presente estudo.

Os partic ipantes foram identificados casualmente pelo pesquisador a part ir dos prontuários destinados para a Un idade Ambulatória l e abordados na sala de espera antes ou após da consu lta médica previamente agendada . Os objetivos e procedimentos do estudo eram apresentados e após sol icitado o consentimento por escrito . Mediante a aquiescência dos partic ipantes, estes era m conduzidos a uma sala privada para proceder a entrevista e ao exame dos pés pe lo própr io pesq u i sador e/ou p e l o pesq u i sador assistente .

Para a coleta de dados foram uti l izados instrumentos semi-estruturados, considerando dados demográficos, esti lo de v ida, exame dos pés, doenças associadas e resu ltados de exames laboratoria is . Os instrumentos foram submetidos a ava l ição aparente e de conteúdo por profiss ionais que trabalham na área e testados com pacientes por meio do estudo pi loto. A partir das sugestões e d ificuldades/l imitações identificadas real izou-se as modificações necessárias .

Após a entrevista de aproximadamente 45 minutos , rea l izava-se o exame dos pés , que cons ist ia da aval iação de seu estado geral (presença de ú l ceras e amputações) , dermatológica (h ig iene, pele e fâneros), estrutural (curvatura p lantar, dedos em garra e/ou sobrepostos, ha l l ux va lgus) , c i rcu l atór ia ( p a l pação d e p u l sos p e d i osos e t i b i a i s posteriores, obsevação d e rubor em pendência , pa l idez à e l evação e q u e ixa d e c l a u d i ca ç ã o ) e s e n s i b i l i d a d e (monofi l amento d e Semmes-Weinsten de 1 0g . em nove reg iões p lantares) . Procedeu-se, também , nesta fase a ava l iação do t ipo de calçado utl izado.

F i n a l me nte , s o l i c i tava-se os prontu á r i o s dos pacientes no Seviço de Arqu ivo Méd ico e Estatística do hospital para completar os dados referentes aos exames laboratoria is (g l i cemia em jejum , colestero l , H DL, LDL e trig l icérid ios) e d iagnósticos de doenças associadas.

Para aná l ise dos fatores de r isco, apresentados a seguir, considerou-se os descritos por Zavala e Braver (2000) , os quais i ncluem aspectos re levantes a serem levantados na aval iação dos pés, não apenas pelos s ina is c l ín icos presentes ou ausentes , mas , também, pe los cr itér i os psicossociais, que ind iretamente influenciam no agravamento das lesões.

1 . Idade e du ração do d i abetes , p ri nc ipa lmente quando não estão sob contro le ;

2 . Pacientes do sexo mascu l i no apresentam um risco cerca de 1 ,6 vezes maior de sofrer amputações ;

3 . Baixo n ível socia l , pri nc ipa lmente dos pacientes que não tiveram acesso à educação ;

4 . Ind ivíduos que vivem sozinhos e não têm relações socia is ;

5 . Mau contro le g l icêmico; 6 . Morbidades: compl icações crôn icas do d iabetes,

pr incipalmente a nefropatia e a retinopatia . 7 . Fatores d e r i sco p a ra a a rte r ioesc le rose :

tabagismo, h ipertensão arteria l , sedentarismo, d is l i p idemia; 8 . Falta de educação para a convivência com o

d iabetes gerando fa lta de cu idados , p r i nc ipa l mente o desconhecimento e os cu idados errôneos com os pés e ;

9 . Alcoo l ismo.

Os dados também foram classificados segundo o ri sco para desenvolver ú l ceras a parti r do S istema de Classificação apresentado pe lo Consenso I nternacional sobre Pé D i abét ico ( S E C R ETAR I A SAÚ D E - D F, 200 1 ) , n o propósito d e rea l i za r u m a a n á l i se d e acordo c o m as considerações c l í n icas.

Os va lores l aboratori a i s de g l i cemia em jej um , colestero l , HDL , LDL e trig l icéridos, foram anal isados de acordo com o "Consenso de D iagnóstico, Classificação e Tratamento do D iabetes Mel l itus Tipo 2", apresentado pela Sociedade Bras i le i ra de D iabetes (2000) .

Em re lação ao índ ice de massa corpora l ( I MC) , considerou-se a classificação apresentada pe lo Manua l de de H ipertensão Arteria l e D iabetes Me l l i tus (2002) , em consonância com a Organização Mundia l de Saúde de 1 998.

Desse modo , os dados foram categorizados e transcritos para um banco de dados estruturado no programa Excel e processados no EP I I N FO. Para a apresentação dos mesmos uti l izou-se a estatística descritiva por meio de médias, desvio padrão e percentagem.

Destaca-se que o desenvolvimento deste estudo foi aprovado pelo Comitê de Ét ica em Pesqu isa do HCFMRP­USP, mediante o Processo HCRP N° 7720/99.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Nos quadros 1 e 2 estão descritas as características identificadas na população do estudo referentes aos dados demográficos , tratamento, esti lo de vida , resu ltados dos exames laboratoria i s , t ipos de d iabetes, compl icações e calçado usua l .

Estas variáve is foram agrupadas pela forma de apresentação ma is i n d icada , ou sej a , pe las méd ias e respectivos d esv io padrão e frequênc ias nu méricas e percentuais .

O q u a d ro 3 contêm a s p ri n c i p a i s a l terações identificadas nos pés por meio do exame físico. Desta forma, procurou-se apresentar, de forma resumida , os fatores de risco para comp l icações nos pés dos partic ipantes do estudo.

A classifi cação dos r iscos para o desenvolvimento de ú lceras está apresentada no quadro 4, a qual se baseou nos critérios estabelecidos pelo Consenso I nternacional de Pé D iabético em 200 1 , versão 1 999 . Esta classificação cons idera a neuropat ia e doença vascu lar periféricas , deformidades no pé , amputação ou ú lcera prévia , segundo uma graduação que varia de O a 3 , dependendo da ausência , presença e combinação entre estes fatores .

Observa-se no quadro 1 , uma população adu lta

e x =53 ,3 anos) , com tempo médio de duração da doença

maior de 1 0 anos ex = 1 2 ,9 ) ; 85 ,7% tinham d iabetes mel l itus

tipo 2 e 58,3% apenas haviam cursado o ensino fundamental i n com p l eto ( Q u a d ro 2 ) . Autores a pontam q u e estas caracte r íst icas n a popu l ação podem contr i bu i r com o agravamento do d iabetes me l l itus , mesmo que eles não estejam d i retamente associados às compl icações (FOSS et a l . , 1 989, R ICHARD, 1 997, ZAVALA ; BRAVER, 2000) .

Destaca-se n este aspecto , que a cond ição de escolar idade pode d ificultar o acesso às informações e menores oportunidades de aprendizagem quanto ao cuidado

5 1 6 Rev. Bras . Enferm . , Bras í l ia , v. 55, n . 5 , p . 5 1 4-52 1 , set.!out . 2002

PACE, A. E . ; FOSS, M . C . ; OCHOA-VIGO, K. ; HAYASH I DA, M .

Quadro 1 - Características cl ín icas d a s pessoas com d iabetes mel l itus estudadas ( n=84) , apresentadas por meio da média e desvio padrão , R ibe i rão Preto-SP - 200 1

C a racte ríst icas

I d a d e (anos) D u ração do d i a betes m e l l i tus I M C* G l ice m ia e m j ej u m ( m g/d l ) Tr i g l icérid ios ( m g/d l ) H D L ( m g/d l )** L D L ( mg/d l )** Coleste ro l (mg/d l)

* I ndice de Massa Corporal **83 pessoas

Va lor M í n imo

24 1

1 9 , 2 54 , 6 4 3 , 0 1 8 , 0 3 6 , 0 9 6 , 0

Va lor M á x i m o

8 0 35

4 1 , 7 526 , 0 547 , 0 7 3 , 0

2 82 , 0 3 50 , 0

M é d i a

5 3 , 3 1 2 , 5 2 8 , 0

1 89 , 7 1 68 , 0 4 1 , 5

1 07 , 3 1 8 1 , 9

Desvio Pad rão

1 3 ,4 8 , 5 5 , 3

9 0 , 7 1 09 , 5 1 2 , 7

4 1 , 8 6 4 8 , 6

Quadro 2 - Características c l ín icas e socia is das pessoas com d iabetes me l l itus estudadas (n=84) , apresentadas por meio da d istribu ição n umérica e percentua l , R ibe i rão Preto-SP - 200 1

C a ra cte ríst icas Sexo M/F G ra u d e esco l a ri d a d e ( e n s i n o fu n d a m e nta l i n co m p leto ) E stad o C iv i l (v iuvo o u solte i ro) D i a betes* t i p o 1 /2 Trata me nto I n s u l i n a Doenças m i crovascu l a res** H i perten são arte ri a l Ta bag i s m o Sedenta ri s m o U s o de sapatos i n a p ro pr iad os***

*79 pacientes **Nefropatia , retinopatia , neuropatia ***No momento da entrevista

N ú m e ro 37/47

4 9 3 2

1 2/6 7 6 0 2 5 5 5 2 1 5 1 4 8

Percentua l 44/56 5 8 , 3 3 8 , 1

1 4 , 3/85 , 7 7 1 , 4 2 9 , 8

6 5 , 5 2 5 , 0 6 1 , 0 5 7 , 1

Quadro 3 - Pri nc ipa is a lterações identificadas nos pés das pessoas com d iabetes me l l itus estudadas (n=84) , R ibe irão Preto-SP - 200 1

Alterações H ig iene reg u l a r/ i n sat isfatóri a A n i d rose B ro m i d rose F issura s/recha d u ra s nos ca l ca n ha res e d e d os Ca los/ca los idades Lesões d esca m at ivas i nte rd i g i ta i s F iss u ras i n te rd i g ita i s U n has espessad as H a l u x valgo Dedos e m m a rtelo/ga rra Dedos sobre postos Ausê n cia de s e n s i b i l i d a d e táti l p ressórica Ausê nc ia/d i m i n u ição d os p u l sos t i b i a l e ped i oso Corte d e u n ha s i n a d eq ua d o P resença d e ú l ce ra /a m p utação

*83 pacientes **Ú lcera venosa ( 1 ) ***Paciente com amputação e ú l cera ( 1 )

N ú me ro 24/ 1 2

3 5 1 6 48 5 1 1 7 1 2 3 8 1 8 9 9

1 1 * 1 2 4 3

1 0**/4***

Rev. B ras . E nferm . , Bras í l í a , v . 55, n . 5 , p . 5 1 4-52 1 , set.lout . 2002

Percentual 2 8 , 6/1 4 , 3

4 1 , 7 1 9 , 0 57 , 1 6 0 , 7 2 0 , 2 1 4 , 3 4 5 , 7 2 1 ,4 1 0 , 7 1 0 , 7 1 3 , 1 1 4 , 3 5 1 , 2

1 1 , 9/4 , 8

5 1 7

Fatores de risco . . .

Quadro 4 - Sistema d e C lassificação do Risco entre a s pessoas com d iabetes me l l itus estudadas (n=84) , Ribeirão Preto­SP - 200 1 .

Categ or ia R i sco

N e u ropat ia ause nte N e u ropat ia p resente

%

o 1 2

3

N e u ropat ia p resente , s i n a i s d e d o e n ça vasc u l a r perifér ica e/ou d eform i d ad es n o p é A m putação o u ú l ce ra p révia

67 1

4

1 2*

7 9 , 8 1 ,2 4 , 8

1 4 , 3

* 6 pessoas com ú lceras + neuropatia

com a saúde, especia lmente ao se cons iderar que no diabetes mell itus, os próprios portadores desenvolvem grande parte de seus cuidados d iários .

Quanto ao n ível g l icêmico em jejum, verificou-se um valor médio de 1 89 ,7 mg/d l j unto a um desvio padrão de 90 ,7%. Ao relacionar esses dados com os valores aceitáveis de g l icemia establecidos pelo "Consenso de d iagnóstico , classificação e tratamento do d iabetes tipo 2" no Brasi l (2000) , identifica-se que a população estudada esteve fora dos l imites do controle g l icêmico, apesar deste resu ltado representar apenas a situação daquele determinado momento.

Sabe-se que um i nadequado contro le g l icêmico, aumenta o r isco de neuropatia e , conseqüentemente, de am putação entre os portadores d e d i a betes m e l l i t us . Atualmente , estudos de revisão, mostram forte evidência de que um bom controle g l icêmico reduz o risco de reti nopatia , n e u ropa t i a e n efro p a t i a e n tre o s d i a b é t i cos t i p o 2 (O'CON NOR; SPAN N ; WOOLF, 1 998 , C LARK JR . et aI . , 200 1 ) . Desse modo, o adequado contro le da g l icemia , se constitu i em uma das pedras angu lares para retardar o desencadeamento de doenças associadas ao d iabetes mel l itus , com uma conseqüente melhora da qua l idade de vida.

Observa-se que a popu lação estudada, a lém de apresentar um va lor de g l i cem ia i nadequado , também apresentava d iagnóstico méd ico de h i pertensão arteria l (65 ,5%) . Situação relevante, ao considerar que a prevalência de h ipertensão em diabéticos é pelo menos duas vezes maior do que na popu lação em gera l . Por con seg u i nte , os partic ipantes do estudo , encontravam-se em elevado risco para desenvolver compl icações tanto macrovasculares, como microvascu lares, que i nc luem doença arteria l cornonariana , doença vascular periférica , ret inopatia , nefropatia e possível neuropatia instalada (ADA, 2002) . Nesse sent ido, ressalta­se que 29,8% dos participantes já tinham sido diagnósticados com a lgum tipo de doença microvascu lar.

Estudo longitud ina l rea l izado em uma população de po lon eses com d i a betes m e l l i t us t i p o 2 ( NAZ I M E K­S I EWN IAK et a I . 2002) , demonstrou que g l i cose p lasmática em jejum e pressão arterial elevadas proprocionam a lto risco para desenvolver nefropatia e retinopatia pro l i ferativa ; a pressão arteria l sangu ínea e levada está associada com alto índice de fumo e doença card iovascular.

Zavala e Braver (2000 ) apontam que a associação de doenças microvasculares, mau controle g l icêmico, tempo de duração do d iabetes e baixo n íve l socia l-escolar, podem i n te rfe r i r na p reve n ç ã o p r i m á r i a e s e c u n d á r i a d a s

compl icações nos pés. Destaca-se que, o desenvolvimento de reti nopatia neste g rupo de pessoas, pode vir a causar sérias l im itações no auto-cu idado dos pés , considerando que a d im inu ição gradativa da acu idade visua l , i nterfere d i retamente na rea l ização de h ig iene cuidadosa dos pés, inspeção da reg ião p lantar e dos espaços i nterdigita is , corte adequado de unhas , dentre outras atividades básicas de cuidados domic i l iares.

Outro dos fatores de risco considerados por Zavala & Braver (2000) constitu i o sedentarismo, que esteve presente em 61 % da população estudada. Sabe-se que a ausência de exercícios de forma regular pelos portadores de diabetes mel l itus , prejud icará o fluxo sangu íneo da pele dos pés e contribu i rá para u lceração e amputação (COLBERG et a i , 2002) . S ituação que provavelmente, conti rubuiu para que os parci t ipantes mantenham um peso corpora l acima nos

padrões norma is G =28) , co locando-os em risco para

desenvolver graus de obesidade no decorrer de suas v ida, fato que viria a piorar o estado de saúde/doença dos mesmos.

Ao a s s o c i a r o fa t o r h i p e rte n s ã o a rt e r i a l , sedentarismo, tabag ismo e d is l i p idemias como risco para as alterações em pés, observa-se que as mesmas também são contributivas para o desenvolvimento de doenças macrovascu lares, importantes para determinar a etiologia e prognóstico das ú lceras em extremidades i nferiores entre as pessoas com d iabetes me l l itus (COLWEL et a 1 .200 1 ) .

Os exerc ícios são uma importante modal idade no tratamento do d iabetes me l l i tus . Contudo, antes de i n ic iá­los, é necessário que o paciente se submeta a uma aval iação médica, na tentativa de investigar a presença de doenças que possam ser agravadas com a prática de exercícios (HASS; AHRON I , 200 1 ) , a lém de garant ir o uso de calçado apropriado.

Estudo rea l izado por Colberg et aI. (2002) aval iando o fl uxo sangu íneo na pele da reg ião dorsa l do pé , entre i nd iv íduos com ou sem d i abetes me l l i tus t ipo 2 , que praticavam ou não ativ idades fís icas, demonstrou que o exercício crôn ico está associado a um aumento de fluxo sanguíneo na pe le , sob certas cond ições, ao compará- los com os grupos sedentários. I sto , reflete a necessidade das pessoas com d i ab etes m e l l i tus tomarem c iênc ia dos múlt ip los benefícos que traz a execução de atividade fís ica de forma regular.

Q u a n to à i m p o rtâ n c i a d o u s o d e c a l ç a d o s apropriados na população estudada, destaca-se q u e 80% das ú l ceras são prec i p i tadas por trauma extrí n seco,

5 1 8 Rev. Bras. Enferm . , Bras í l ia , v. 55, n . 5 , p . 5 1 4-52 1 , set.lout . 2002

d e corre ntes estr i ta m e nte d a u t i l i z a ç ã o d e c a l ç a d o s inapropriados (SECRETARIA D E SAÚ D E - D F, 200 1 ) . Os resu ltados da população em estud o mostra ram que 57 , 1 % desta , no momento d a entrevista , faz iam uso de calçado inapropriado.

Considerou-se ca lçado i n ap ropr iado quando os mesmos eram apertados , d e b i co fi n o , abertos e sem cadarço. E ntre a s m u l h e re s , a l é m das ca racte ríst icas apontadas, fora m consideradas i n apropriadas as sandál ias que deixavam totalmente expostos os pés, os sa ltos maiores de três centímetros e aqueles extremamente largos e/ou compridos.

Vem sendo s a l i e ntado q u e o uso constante de calçados apropriados deve ser considerado fator importante no cuidado preventivo de lesões nos pés. Estudos destacam que os pontos de altas pressões, calosidades, deformidades d o s p é s , a m p u t a ç ã o de d e d o s e i n c l u s i v e , transmetata rsianos, podem ser corrig idos ou supridos com calçados confortáve i s ou especi a i s , coadj uva n d o com palmi lhas (LEV I N , 1 996 , MAY F I E LD et a I . , 1 998, FRITSC H I , 2001 , ADA, 2002) .

Pessoas c o m d i abetes mel l itus, sempre devem ser aconsel hadas a usar calçados que não deixem apertados seus pés e que ao mesmo tempo, os p rotejam de possíveis inj ú rias extrínsecas. Quando identificado neuropatia , mesmo em ausência de deformidades visíveis, o calçado deve i nclu i r palmilhas para reduzir e amortizar o efeito da tensão repetitiva . Em presença de deformidades, deve-se ind icar a uti l ização de calçados especi a i s seg u n d o a s recomend ações de peritos na á rea ( F R I T S C H I , 200 1 , FAG L l A ; FAVA L E S ; MORAB ITO, 2001 ) .

Destaca-se q u e na população estudada, dentre as pessoas que apresentavam p rocesso u l ce roso em pé ou mesmo e ntre a q u e l e s q u e t i n h a m s i d o s u b m et i d o s a amputação prévia (Quadro 3) , n e n h u m a delas fazia uso de calçados especia is seg undo suas necess idades. S ituação que se constitu i con d i ção desfavorável para a cicatrização da ú l ce ra , e c o n s e q u e n te m e n t e , e l eva o r i sco p a ra amputações e a inda, para outras amputações maiores entre aqueles com h i stória previa de a m p utação.

Reiber ( 1 996) afi rma que transcorrido um período de três anos após uma amputação de membros, a porcentagem de sobrevida é de 50% e no prazo de c inco anos, o índ ice de morta l idade é de 39 a 68% . Resutados semelhantes foram encontrados em recente estudo realizado por Fagl ia , Favales e Morabito (200 1 ) . Fato que reforça a necessidade dos p a c i e n t e s com a m p u t a ç ã o p ré v i a u s a re m ca l ç a d o s confeccionados especi a l mente face a s u a con d i ção atual . Entretanto , sabe-se q u e e m nosso m e i o , os ca lçados confeccionados especia l mente, têm u m cu sto elevado e a q u e l e s p ro p o rc i o n a d o s p e l o s i ste m a p ú b l i co , at i n g e somente a u m a reduzida população, q u e fica aguardando no mín imo de seis a doze meses.

Apesar da maiori a das classifi cações de r isco para ú lceras propostas na l iteratu ra não i ncl u i rem, como critérios , as a lterações d ermatológicas, ta is como h i g i e n e , fissuras, ca losidades, corte de u n h a s , dentre outros , descritas no quadro 3 ; considera-se os mesmos i m portantes para o p lanejame nto de ações educativas e coadj uvantes para o desenvolvi mento de lesões ou p iora do seu quadro cl ín ico. Nos resu ltados , observa-se que 60 ,7% dos partic ipantes

PACE, A. E . ; FOSS, M. C . ; OCHOA-VIGO, K.; HAYASH I DA, M.

apresentaram calos/calosidades, 57, 1 % fissuras/rachaduras nos calcanhares e dedos, 5 1 ,2% corte i nadequado de unhas, 45,5% unhas espessadas e 41 ,7% anidrose. Acredita-se que estas condições, associado a u m estado de h igiene regular/ i nsatisfatóri a , podem contri b u i r no desencadeamento de lesões nos pés e i nterfer ir no processo de recuperação e/ou cicatrização das já existente s .

M u n iz e t a I . ( 1 999) aval iando o risco para u lceração entre portadores de d i abetes m e l l itus tipo 2 em un idades ambulatoria is e em um hospita l , identificaram que 76% dos homens e 49% das m u l h eres apresentaram calosidades; 70% d o s h o m e n s e 62 % das m u l h e res t i n h a m corte i ndadequado de u n h as e, 30% dos homens e 2 1 % das m u l heres apresentara m tam bém fissu ras no calcanhar. Foi reportado i g u a l mente entre essas pessoas, presença de on icomicose (85% e m homens e 44% e m m u l heres ) e dermatofitose (56% e m homens e 44% em m u l h eres) .

E m rel ação às dermatopatias , ressalta-se que nos p a rt i c i p a ntes d o estu d o , foram observados s i n a i s q u e poderiam estar associados a a l g u m t ipo dessa alteração, dentre os quais destacaram-se a unha espessada, unha com aspecto fari náceo, a lteração de sua coloração, fissuras e lesões descamativas i nterd i g ita i s .

Para Zavala e Braver (2000), quando há antecedentes de lesões ou a m putações o u , a i n d a , se forem observados i n d ícios d e um i n ic io d e l esão (h iperceratose, mudanças na coloração d a pe le , b u l bos, descamação de pele, edemas, pele atrófica e rel uzente, a lterações tróficas ou micose na u n has) , o paciente pode ser considerado de risco muito alto. N estas con d i ções, u m a aval iação cuidadosa da pele deve ser rea l i zad a , i n d i ca n d o-se as m e d i d a s p reventivas e corret ivas necessár ias à p reve nção das lesões e d a s i nfecções, s e n d o fu n d a mental acompanhar o paciente a i ntervalos curtos de tempo, até observar s ina is de melhora na vita l idade e i nteg ridade da pele.

A classificação de risco proposta por Zavala e Braver (2000) para prevenção primária e secundária do "pé diabético", con d izem com as pre missas deste estudo em relação ao cu idado d a s com p l i cações em m e m b ros i nferiores das pessoas com d i abetes mel l i tu s . A p resen ça de a lgúm t ipo d e lesão d e rm a t ó l o g i c a , j á p red i s põe o pac iente a o a g rava m e n to d e s u a con d i ção d e r i s c o . D e s s e modo, concorda-se que o atend imento a esses pacientes deve ser, no m ín i m o , u m a vez ao mês e esta freq uência pode a inda ter intervalo menor, considerando que o enfermeiro desenvolve cuidados de preven ção pri mária e secundária com o paciente e, caso h aja n e cess idade de intervenções complexas e especial izadas, este pode sol icitar atendimento por médicos especia l istas nas á reas de cirurg i a vascu lar, neurologia e dermatolog ia .

Q u a nto à c l a s s if icação d e r isco p a ra ú l ce ra s , seg u n d o o Consenso I nternacional sobre Pé D i abético ( S E C RETARIA DE SAÚ D E - D F, 200 1 ) , não existe um s istema u n iforme que possa p rever futuras u l cerações , p o rt a n to , e s p e c i a l i st a s e nv o l v i d o s n a e l a b o ração d o C o n s e n s o , s u g e ri ra m a a d o ç ã o d o s i st e m a q u e foi con siderado para e ste estudo.

Nos resu ltados, observou-se que g rande parte dos partic ipantes (79 ,8%) , classifi caram-se n a categoria O , por não apresentarem s ina is específicos de neuropatia ao teste do monofi l amento de 1 Og. Entre as categorias 1 e 3, quando

Rev. B ras . E nferm . , Bras í l i a , v. 55, n . 5 , p . 5 1 4-52 1 , set.!out . 2002 5 1 9

Fatores de risco . . .

a n e u ro p a t i a es tá p r e s e n te , 1 8 , 1 % d a s p e s s o a s encontravam-se em maior cond ição de risco (categorias 2 e 3) , sendo que 1 4 ,3% delas tinham risco para amputação ou recidivas. Sendo que esta ú lt ima situação, req uer cuidados i ntensivos com o d iabetes de forma gera l e especificamente com os pés.

Neste ponto, recons idera-se uma vez ma is , as questões levantadas por Zava la e Braver (200 1 ) quando destacam que toda pessoa com a lgum t ipo de l esão no pé encontra-se em risco muito a lto, especialmente se associado a outras comorb idades, somados a q uestões soc ia is e econômicas . Desse modo, mu ito a ntes de se observar presença de processos u lcerativos nos pés, med idas de prevenção e tratamento precoz já devem ser implementadas, na perspectiva de retardar e/ou imped i r o desenvolvimento de processos mais agravantes nos mesmos.

Os resultados deste estudo reforçaram a importância do atendimento primário no setor saúde face a necessidade de ampl iar as ações básicas d i recionadas aos cuidados com o d iabetes mel l i tus e part icu larmente à p revenção das l e s õ e s em extre m i d a d e s i n fe r i o re s res u l t a n te s , possivelmente , d e mau contro le da doença e d e práticas inadequadas para o cu idado com os pés.

Desta forma , i n tervenções de baixa complexidade podem e devem contribu i r decis ivamente na prevenção de ú l ce r a s , m i n i m i z a n d o a i n fu ê n c i a d o s r i s c o s , e conseqüentemente, reduzindo o número de amputações.

N este contexto , reforça-se a i m portâ n c i a d o atend imento mu lt iprofiss iona l à s pessoas com d iabetes mel l itus (FERRAZ et a I . , 2000) , po is o s i nerg ismo de suas ações é fundamental para favorecer a adaptação a doença crôn ica e assim consegu i r u m bom contro le metaból ico , essencial na redução das serias compl icações advindas do d iabetes de longa duração e mau contro lada.

CONCLUSÕES

Os fatores de r isco encontrados na popu lação estudada, de acordo com os propostos por Zavala e Braver (2000) , foram: baixo grau de escolaridade (58 ,3% no ensino fundamental i ncomp leto) , tempo médio de d u ração de d iabetes ( 1 2 ,9 anos) , média g l i cêmica em jejum 1 89 ,7 mg/ di, h ipertensão arteria l (65,5%), sedentarismo (6 1 % ) , doenças microvasculares (29 ,8%) .

No exame fís ico também foram identificados fatores agravantes para o desenvolv imento de "pé d iabético" , ta is como: calos/calosidades (60 ,7%) , fissuras/rachaduras nos calcanhares e dedos (57 , 1 %), corte de unhas i nadequados (5 1 ,2%) , unhas espessadas (45 ,7%) , an idrose (4 1 , 7%) e deformidades estruturais (halux valgo 2 1 ,4%, dedos em garra/ martelo 1 0 ,7% e dedos sobrepostos 1 0 ,7%) .

Na classificação do risco para u lceração obteve-se 79,8% na categoria O (ausência de neuropatia , 4 ,8% na categoria 2 (neuropatia presente , s ina is de doença vascular periférica e/ou deformidades nos pés) e 1 4 ,3% na categoria 3 (amputação ou ú lcera prévia ) .

As pessoas c lass i f icadas nas categor ia 2 e 3 necessitariam de usar calçados especia is face as alterações presentes, porém, na prática observou-se que a população estudada não estava atendendo a esta necessidade, o que pode agravar as cond ições de risco para as u lcerações,

amputações e recid ivas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A importância da rea l ização deste estudo pode ser ana l isada no contexto da pesqu isa , do ensino e extensão un iversitária , esta ú lt ima representada pelo atendimento às pessoas com d iabetes me l l itus .

No aspecto relacionado à pesqu isa constatou-se a necessidade de estudos posteriores com uma população de estudo mais amp la para aná l ise das relações entre as variáveis de i nteresse.

Quanto às atividades de ens ino referentes ao Pé Diabético estão sendo d i recionadas aos profissionais da saúde e a lunos de g raduação, cursos de sensib i l ização , atua l ização e capacitação. Para as pessoas com d iabetes mel l itus, são fornecidas orientações ind ividuais ou junto aos fami l i a res no mometo em que comparecem aos retornos méd icos ambu latoria is , ou mesmo, quando são agendados específicamente para aval iação, cuidado ou seguimento dos pés. Neste momento, esforços são d i recionados a mudanças comportamentais que favoreçam seu auto cuidado, fato que vem sendo medido a cada retorno e oferece poss ib i l idades fortalecer as orientações quanto aos cuidados com os pés e calçados e monitorar as cond ições mórbidas associadas, a lém de estabelecer e estre itar v íncu los com as pessoas atendidas, que bem podem faci l itar a adesão ao tratamento no gera l .

R e s s a l t a - s e q u e o d e s e n v o l v i m e n to d e sta i nvestigação, poss ib i l itou também a i ntegração com outros profiss ionais que atuam na área . O estabelecimento de parcerias entre universidade e serviços trouxe contribu ições relevantes para o atend imento , com ênfase na prevenção e tratamento das comp l i cações em pés das pessoas com d iabetes mel l itus em duas un idades ambu latoria is , uma de n ível secundário e outra terciár io, compreendendo ass im, a importância do atend imento primário j unto a popu lação d iabética .

Espera-se que cada vez mais, as pesquisas possam reverter em benefícios para a prática profissional e do mesmo modo, a prática mostrar q uestões relevantes para futuras investigações e conseqüentemente , aprimorar o atendimento às pessoas q u e n ecess i ta m de acompanhamento e m un idades de saúde.

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