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Informações Econômicas, SP, v.28, n.11, nov. 1998. FATORES EXPLICATIVOS DA MECANIZAÇÃO DO CORTE NA LAVOURA CANAVIEIRA PAULISTA 1 Alceu Veiga Filho 2 1 - INTRODUÇÃO 1 2 O dinamismo tecnológico da lavoura canavieira de São Paulo é um fato conhecido e empiricamente observado. VEIGA FILHO e SAN- TOS (1995) verificaram que o crescimento da produção de cana no Estado entre 1963 e 1976, à taxa de 4,53% ao ano, teve como fontes a pro- dutividade da terra, participando com 3% (0,15); a produtividade da força de trabalho, com participa- ção de 45% (2,02); e o aumento da mão-de-obra empregada, responsabilizando-se por 52% (2,36) desse crescimento. E que, no período 1977-90, o crescimento da produção de 7,16% ao ano se devera à produtividade da terra em 16% (1,18), à produtividade da força de trabalho em 39% (2,76) e ao aumento da mão-de-obra empregada em 45% (3,22). Portanto, além de a expansão da produção ter se dado pelo aumento da área culti- vada, pouco mais da metade dela, no período mais recente, podia ser creditado às mudanças técnicas que proporcionaram acréscimos na pro- dução por unidade de área e na relação área por trabalhador, as quais representam as inovações biológicas e as inovações mecânicas introduzidas. Apesar dessas transformações no pro- cesso produtivo agrícola canavieiro, a colheita tem-se mantido retardatária na fase do corte - en- quanto o carregamento e o transporte já estão completamente mecanizados - conforme levan- tamentos efetuados para as safras 1989/90 e 1997/98, nas quais se pode verificar que os ní- veis agregados de área colhida por máquinas estiveram abaixo de 20% e não foram significati- vamente diferentes entre si, apesar do intervalo de oito anos (TOLEDO; YOSHII; OTANI, 1991 e COMISSÃO, 1997). 1 Resumo da dissertação de mestrado do autor. Apresenta- do no Workshop Agroindústria Canavieira e o Novo Am- biente Institucional. IE/UNICAMP, agosto/98. 2 Economista, Mestre, Pesquisador Científico do Instituto de Economia Agrícola. A questão que se coloca frente a esses fatos é a de compreender e explicar o porquê de uma atividade agrícola tecnicamente avançada, como a da lavoura da cana-de-açúcar no Estado de São Paulo, integrada à indústria fornecedora e à indústria processadora, ainda não ter atingido um grau completo de mudança em seu processo produtivo agrícola, principalmente na colheita - fase altamente empregadora de mão-de-obra, e cuja substituição por máquinas permite aumentar a produtividade do trabalho e reduzir custos de produção - quando, em termos genéricos, a dis- ponibilidade de tecnologia desde há muito existe em outros países, podendo ser importada ou adaptada localmente. Serão os baixos salários, historicamente recorrentes, uma razão plausível e unidimensional, geradores de custos sempre in- feriores aos da colheita totalmente mecanizada? Ou, a expectativa de rentabilidade associada ao mercado é o fator impeditivo da difusão de uma inovação de alto custo de aquisição? Ou, se deve também analisar outros fatores ainda não incor- porados? Para compreender esse fenômeno na lavoura canavieira paulista, buscou-se um esco- po teórico que permite enquadrar - a partir de uma conceituação do processo inovativo que leva explicitamente em consideração o desenvolvi- mento da tecnologia, na esfera do conhecimento, e a sua difusão, na esfera da produção - os fato- res vinculados ao lado da oferta da tecnologia que têm importância econômica, juntamente com os fatores econômicos do lado da demanda, na expectativa de que uma análise mais ampla pu- desse explicar melhor as transformações ocorri- das e a ocorrer. Antes disso, inicialmente, contextuali- za-se o ambiente macroeconômico que forma o substrato ao processo inovativo e que intera- ge positiva ou negativamente em sua dinâmi- ca evolutiva, discutindo também algumas ques- tões internas importantes para a sua continui- dade.

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In f or mações E conômi cas, S P, v . 28, n . 11, n ov. 1998.

FATORES EXPLICATIVOS DA MECANIZAÇÃO DO CORTENA LAVOURA CANAVIEIRA PAULISTA 1

Alceu Veiga Filho2

1 - INTRODUÇÃO 1 2

O dinamismo tecnológico da lavouracanavieira de São Paulo é um fato conhecido eempiricamente observado. VEIGA FILHO e SAN-TOS (1995) verificaram que o crescimento daprodução de cana no Estado entre 1963 e 1976,à taxa de 4,53% ao ano, teve como fontes a pro-dutividade da terra, participando com 3% (0,15); aprodutividade da força de trabalho, com participa-ção de 45% (2,02); e o aumento da mão-de-obraempregada, responsabilizando-se por 52% (2,36)desse crescimento. E que, no período 1977-90, ocrescimento da produção de 7,16% ao ano sedevera à produtividade da terra em 16% (1,18), àprodutividade da força de trabalho em 39% (2,76)e ao aumento da mão-de-obra empregada em45% (3,22). Portanto, além de a expansão daprodução ter se dado pelo aumento da área culti-vada, pouco mais da metade dela, no períodomais recente, podia ser creditado às mudançastécnicas que proporcionaram acréscimos na pro-dução por unidade de área e na relação área portrabalhador, as quais representam as inovaçõesbiológicas e as inovações mecânicas introduzidas.

Apesar dessas transformações no pro-cesso produtivo agrícola canavieiro, a colheitatem-se mantido retardatária na fase do corte - en-quanto o carregamento e o transporte já estãocompletamente mecanizados - conforme levan-tamentos efetuados para as safras 1989/90 e1997/98, nas quais se pode verificar que os ní-veis agregados de área colhida por máquinasestiveram abaixo de 20% e não foram significati-vamente diferentes entre si, apesar do intervalode oito anos (TOLEDO; YOSHII; OTANI, 1991 eCOMISSÃO, 1997).

1Resumo da dissertação de mestrado do autor. Apresenta-do no Workshop Agroindústria Canavieira e o Novo Am-biente Institucional. IE/UNICAMP, agosto/98.

2Economista, Mestre, Pesquisador Científico do Institutode Economia Agrícola.

A questão que se coloca frente a essesfatos é a de compreender e explicar o porquê deuma atividade agrícola tecnicamente avançada,como a da lavoura da cana-de-açúcar no Estadode São Paulo, integrada à indústria fornecedora eà indústria processadora, ainda não ter atingidoum grau completo de mudança em seu processoprodutivo agrícola, principalmente na colheita -fase altamente empregadora de mão-de-obra, ecuja substituição por máquinas permite aumentara produtividade do trabalho e reduzir custos deprodução - quando, em termos genéricos, a dis-ponibilidade de tecnologia desde há muito existeem outros países, podendo ser importada ouadaptada localmente. Serão os baixos salários,historicamente recorrentes, uma razão plausível eunidimensional, geradores de custos sempre in-feriores aos da colheita totalmente mecanizada?Ou, a expectativa de rentabilidade associada aomercado é o fator impeditivo da difusão de umainovação de alto custo de aquisição? Ou, se devetambém analisar outros fatores ainda não incor-porados?

Para compreender esse fenômeno nalavoura canavieira paulista, buscou-se um esco-po teórico que permite enquadrar - a partir deuma conceituação do processo inovativo que levaexplicitamente em consideração o desenvolvi-mento da tecnologia, na esfera do conhecimento,e a sua difusão, na esfera da produção - os fato-res vinculados ao lado da oferta da tecnologiaque têm importância econômica, juntamente comos fatores econômicos do lado da demanda, naexpectativa de que uma análise mais ampla pu-desse explicar melhor as transformações ocorri-das e a ocorrer.

Antes disso, inicialmente, contextuali-za-se o ambiente macroeconômico que formao substrato ao processo inovativo e que intera-ge positiva ou negativamente em sua dinâmi-ca evolutiva, discutindo também algumas ques-tões internas importantes para a sua continui-dade.

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8Veiga Filho, Al-

ceu 2 - POSSIBILIDADES DE DESENVOLVIMENTO

PARA A ECONOMIA CANAVIEIRA PAU-LISTA

A análise e a discussão da economiacanavieira são feitas aqui englobando o mercadointernacional e o mercado doméstico no que dizrespeito às transformações ocorridas e possibili-dades criadas para seu desenvolvimento, objeti-vando caracterizar os principais elementos ge-rais.

A situação do mercado internacionaldos anos 90 é muito diferente daquela que existiuentre 1970 e 1990. Neste último período haviaimperado um mercado fragmentado, dominadopelos acordos preferenciais que representavamem torno de 80% do volume de negócios interna-cionais, sendo os 20% restantes realizados no“mercado livre”. Entre os principais acordos esta-vam aqueles estabelecidos pelos Estados Unidosda América, do qual o Brasil ainda participa atra-vés de uma cota de exportação3; o acordoURSS-Cuba, que chegou a movimentar 5,5 mi-lhões de toneladas de cana; e os acordos entreos países europeus e suas ex-colônias na África.Uma característica dessa época era a grandevariedade de custos e de produtividade entrepaíses, acoplada à existência de políticas alta-mente protecionistas que impunham uma grandevariabilidade nos preços internacionais de açúcar.Essas políticas protecionistas viabilizaram tam-bém a manutenção de preços e custos de produ-ção internos superiores aos preços internacio-nais, conseguidos através do estabelecimento dequotas de produção, preços mínimos e subsídiosà exportação. Tratava-se de um mercado domi-nado pelo comércio de açúcar bruto (ou, cru - rawvalue), ou seja, pelo açúcar centrifugado não-pro-cessado, numa parcela de 90%, contra os 10%correspondentes ao açúcar branco centrifugado,processado e não-refinado (CERRO, 1997). Foinele que acabou ocorrendo o aparecimento desubstitutos como a isoglucose de milho ou HFCS(Hight Frutose Corn Syrup, xarope de milho dealto teor de frutose) e de outros adoçantes natu-rais e sintéticos, que passaram a concorrer nosdiversos mercados com o açúcar proveniente da

3Incluem-se aqui as cotas preferenciais dos EUA, destina-das às regiões em desenvolvimento que, no caso brasilei-ro, correspondem ao Norte e Nordeste do País (CORDEI-RO, 1997c).

cana e da beterraba4.Nesta década de 90 esse quadro co-

meçou a sofrer pressões para mudar. Apesar dacontinuidade do protecionismo nos mercadosdomésticos, as discussões a respeito da liberali-zação do comércio mundial de produtos agríco-las, iniciada em 1986 na Rodada Uruguai, conti-nuaram e devem consolidar-se em 1999-2000,tratando das taxas e direitos alfandegários e dossubsídios à exportação, que acabarão por afetaro comércio mundial de açúcar e as políticas pro-tecionistas internas. Isso já ocorre, tal como naDinamarca onde os compromissos estabelecidosno GATT afetaram a regulamentação do açúcar,e nos EUA em que o projeto de lei agrária de1996 fez alterações na política de açúcar, sendoa mais importante aquela que elimina preçosmínimos quando as importações forem inferioresa 1,36 milhão de toneladas, obrigando, nessecaso, o reembolso integral de todos os emprésti-mos feitos (BOLETIN, 1997), embora não sepossa deixar de registrar que o protecionismocontinua forte na Europa e EUA, como forma dedefesa de seus produtores de beterraba, milho ecana-de-açúcar.

Por outro lado, estas perspectivas deliberalização mundial no comércio têm se con-frontado com a formação de blocos econômicosregionais, constituídos seja por tratados aduanei-ros de livre comércio como o NAFTA, que reúneo Canadá, o México e os EUA, e no qual se con-templa o açúcar de cana e o HFCS com um re-gime especial, embora temporário, seja por mer-cados comuns do tipo do MERCOSUL - integra-do pela Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai - noqual também há um tratamento especial para oaçúcar com término previsto para 2001, quandose dará a zeragem das atuais tarifas aduaneiras(CERRO, 1997).

Mas, há vários outros fatores influen-ciando o comportamento do mercado mundial deaçúcar, além da evolução do processo de desre-gulamentação mundial e das negociações sobreas regras do comércio. Parcialmente, esse qua-dro se completa com a redução das disparidadesnas produtividades agrícolas que, em termosmundiais, têm crescido a 2,5% ao ano, e por umatransformação nos processamentos industriaisque levou ao aumento do comércio de açúcar

4Para maiores detalhes, veja-se a discussão a esse res-peito em SZMRECSÁNYI (1993) e YOSHII; CARVALHO;VEIGA FILHO (1994).

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tabranco (CERRO, 1997), resultando em grandeestabilidade nos preços de mercado, mantido nafaixa de US$9 a US$13 centavos por libra-pesona Bolsa de Nova York - entre US$198 e US$286por tonelada - de 1990 a 1997, diversamente doperíodo 1970-85, no qual se verificou com fre-qüência grandes altas e grandes quedas - comoas de 1975 com preços alcançando US$30 cen-tavos por libra, caindo para algo em torno deUS$8 centavos em 1978, depois subindo paraUS$29 centavos em 1980, tornando a cair abaixode US$5 centavos por libra em 1985 (CARVA-LHO, 1997).

Esta estabilidade - que era esperadaser mantida no médio prazo, tanto porque umaparte do estoque de passagem estava indisponí-vel na Índia para exportação, fabricado na formade açúcar não-centrifugado, como porque a de-manda mundial estava crescendo acima da taxamédia de 1,5% do final dos anos 1980, o quetenderia a estreitar a brecha entre a produção e oconsumo (HANNAH, 1997) - tem sofrido váriosabalos, chegando a cair para US$8,17 centavosem final de junho de 1998, reagindo poucos diasdepois para US$8,4. Essas quedas estão as-sociadas à revisão do crescimento do consumo,dada a crise econômica recente dos países asiá-ticos e ao crescimento da produção do Brasil,México e EUA (CORDEIRO, 1998a e 1998b eHOSSEPIAN, 1998).

Além do mais, nos mercados externos,ocorre um aumento da competitividade, tanto por-que nos países industrializados o açúcar de canaperde espaço para os adoçantes, como nos no-vos mercados há também um aumento da pro-dução interna de açúcar. Mesmo com a adoçãode medidas de liberalização no conjunto dos paí-ses, dificilmente haverá reversões abruptas e sig-nificativas em termos de abertura acentuada des-ses mercados para o açúcar de cana. Assim, asperspectivas externas são de acirramento dacompetição entre produtores pelos mercados dospaíses industrializados e dos países em desen-volvimento.

O mercado mais importante para oaçúcar brasileiro é o próprio mercado interno.Conforme CARVALHO (1997:27): “O Brasil deveconsiderar o mercado internacional de açúcarapenas como uma opção para aumentos de usoda cana que atualmente está destinada ao abas-tecimento do mercado interno de açúcar e ál-cool” . Esta afirmação, é claro, não pode ser en-carada como uma proposta de isolamento ou de

fechamento do mercado interno, mas de cons-cientização sobre a importância de se evitar cri-ses de superprodução, absolutamente freqüentesna história desse subsetor (SZMRECSÁNYI eMOREIRA, 1991), e sobre a necessidade deaumentar a competitividade setorial. Mas, há doisaspectos que podem interferir nessas questões:a) a própria desregulamentação e b) o peso doBrasil no mercado internacional.

O Brasil é importante, atualmente, pelotamanho da produção interna, pelo volume ex-portado e por ter na Região Centro-sul os meno-res custos de produção por tonelada de cana(BNDES, 1995), mesmo relativamente aos con-correntes como Austrália, Tailândia e outros, eque, adicionado pela flexibilidade em produziraçúcar ou álcool, acaba por propiciar condiçãoúnica em relação ao parque produtivo mundial.Sua capacidade de expandir a produção e de sercompetitivo em custos têm influência na formaçãode preços futuros externos (SUGAR, 1994 e BO-LLING e SUAREZ, 1996) e também agora naformação de preços internos devido ao processode desregulamentação - retardado com a medidade prorrogação da liberação de preços de cana e,em parte, pela M.P 1.670, de 24/06/98, que no-vamente amplia os poderes governamentais nacomercialização de álcool.

A desregulamentação em curso cons-titui, por outro lado, um processo que aparente-mente impede um retorno ao mercado protegido,e é o principal fator que impulsiona para a neces-sidade de se fazer ajustes, tendo em vista a cria-ção de condições para o aumento da competitivi-dade. Trata-se de mudanças que já estão ocor-rendo em algumas empresas da agroindústriacanavieira de São Paulo, e que apontam para osnovos rumos a serem seguidos.

3 - PONTOS DE ESTRANGULAMENTO A SE-REM ENFRENTADOS PARA UM MELHORDESEMPENHO SETORIAL

Os ajustes necessários estão contidosna busca de maior racionalidade econômica eatingem várias áreas-problemas, que impedemum melhor desempenho para se obter reduçõesem custos e ganhos de economias de escala ede escopo.

Uma delas é a necessidade de reduziro fornecimento da matéria-prima à indústria den-tro de um raio menor e mais econômico, dimi-

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ceu nuindo a distância entre o canavial e a unidade

industrial de processamento. Esse potencial deredução é elevado quando se sabe que apenasna região de Ribeirão Preto existem mais de 40empresas que cultivam um milhão de hectaresem terras descontínuas. Este fato começa a ocor-rer, conforme o exemplo de duas das maioresusinas do Estado, localizadas na região, quetrocaram terras e cana entre si, com a finalidadede diminuir custos de transporte, e conseguindo,na área circunscrita, abaixá-lo pela metade doque remuneravam por tonelada de cana trans-portada, seguindo o exemplo de outra grandeunidade industrial, que já há alguns anos, faz usodesse tipo de procedimento, trocando cana, con-tratos de arrendamento e fornecedores (COSTA,1997a).

Na área de transporte da matéria-primaà usina, que chega a representar 22% do custodo açúcar e do álcool (USINAS, 1997), um siste-ma que está sendo testado é o da substituição eredução da frota de caminhões pesados pelochamado sistema de “bate e volta”, que consistede carretas e cavalos mecânicos, estes engatan-do nas carretas estacionadas nas estradas e car-regadas por tratores, as quais são levadas para aunidade industrial, sendo deixadas lá, enquantoos cavalos-mecânicos voltam para buscar outrascarretas que, neste intervalo, estarão sendo car-regadas no campo (SILVEIRA, 1996). Existem,também, outras alternativas, que implicam nasubstituição daqueles caminhões por tratores ecarretas acopladas - conjunto, inclusive, que cau-sa menos impacto nos solos - terceirizando otransporte do campo à usina, ou otimizando seuuso através de planejamento operacional conju-gando a frente de corte e a entrada na usina(HAHN et al., 1995).

Outro ponto relevante é o relativo aosaltos custos portuários de embarque a países es-trangeiros, os quais têm sido enfrentados com aprivatização do porto de Santos (SP) e com aspossibilidades de se investir em terminais privati-vos para carga, descarga e armazenagem - co-mo o caso de um grupo econômico de usinaspaulistas que pretendia integralizar um volume deinvestimento de US$20,0 milhões para alcançaruma capacidade de embarque de 15,0 mil tone-ladas/dia, iniciada em 1,7 mil toneladas/dia, jácontando com capacidade estática de armazena-gem de 70,0 mil toneladas (CORDEIRO, 1997a).

A busca de economias de escala e deescopo também acontece no setor através de

fusões e incorporações, formando novos conglo-merados na produção e na comercialização. Nes-te último caso, um pool de sete usinas da regiãode Ribeirão Preto criou uma empresa que seráresponsável pela comercialização da produçãototal, avaliada em R$700,0 milhões, e futura-mente responsável pela compra conjunta de in-sumos, veículos, máquinas agrícolas e materialutilizado nas indústrias, com um potencial de eco-nomia de recursos ainda não avaliado, mas espe-rado ser alto pelo poder de negociação que anova empresa representa. Na área de fusões, umexemplo que pode ser alavancador para outrosempreendimentos é a fusão/incorporação deduas usinas da região de Ribeirão Preto, forman-do uma companhia que tem como acionista im-portante um banco brasileiro, o que pode viabili-zar novas formas de financiamento, além de sa-nar financeiramente a possível existência de dé-bitos passados (COSTA, 1997c).

Nesse contexto de reestruturação sur-gem as mudanças organizacionais e através de-las introduzem-se na cultura empresarial do sub-setor as questões sobre qualidade, aumento dacirculação de informações intra-empresa, desbu-rocratização, treinamento e uso de mão-de-obramais qualificada, exemplificadas pelo programade qualidade executado pela maior usina paulistae que implicou investimentos de R$8,5 milhões,realizados desde 1993 nas áreas industrial eagrícola, com retornos positivos em sua rentabili-dade operacional (CORDEIRO, 1997b); assimcomo em outras unidades industriais, agilizam-seestruturas hierárquicas pela redução de níveis dedecisão, e investe-se em novas tecnologias naindústria, como o estudo de EID (1996) demons-trou com relação à adoção de tecnologias deautomação no uso do controle automático da ex-tração do caldo de cana, e na utilização de siste-mas de instrumentalização digitalizados, bem co-mo, embora em menor escala, a substituição dastradicionais moendas pelo difusor, que consegueextrair até 98% da sacarose contida na cana,além de ter manutenção mais barata que a damoenda.

Uma análise mais sistemática desseprocesso de reestruturação, que envolve as mu-danças organizacionais, as novas tendências detecnologia na área industrial, as mudanças naforma de concorrência e na busca de competitivi-dade, ainda está por ser feita para que se possaestabelecer tendências e generalizações. As ilus-trações e exemplos levantados não conformam e

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tanem evidenciam uma reestruturação setorial emandamento, embora a expectativa seja a de queos exemplos isolados dessas iniciativas possamser vistos como prospectivos ou como ações es-tratégicas das empresas para se adequar a umcenário mais competitivo, e que no futuro assumi-rão uma dimensão setorial. E, nesse aspecto,três questões primordiais deverão ser decisivasna criação de alternativas e possibilidades: a re-formulação do processo de decisão sobre políti-cas públicas, com o estabelecimento de um sis-tema de preços via mercado; o aproveitamentode subprodutos; e a continuidade do PROÁL-COOL.

As discussões e os fatos, envolvidos noestabelecimento de um sistema de preços ade-quado, não começaram com a desregulamenta-ção, tendo uma longa história no Brasil. Sua mu-dança da base-peso para a base-qualidade já eraprevista no Estatuto da Lavoura Canavieira, de1941, embora tenha sido implantado, somenteem caráter experimental, em 1978/79, no Estadode Alagoas, sendo estendido aos outros estadosda Federação pelo Ato n° 32/89, do IAA, a partirde 1989, e conhecido como Pagamento de Canapelo Teor de Sacarose (PCTS)5.

A demora em sua implantação decor-reu, em parte, pelos conflitos existentes - origina-dos na assimetria de poder de negociação entrefornecedores e agroindústria (GEMENTE e STU-RION, 1981). Outras questões técnicas conflituo-sas estiveram vinculadas ao período de entrega,quando os teores de sacarose são menores - noinício e final da safra - causando deságios emrelação ao teor padrão de sacarose, mantido fixoem 12,5%, e que poderia ter sido resolvido com aadoção de um sistema móvel para a Pol6 % cana(SILVA JUNIOR, 1991). Na Austrália, conformePEARCE (1997), essa questão foi resolvida coma adoção do relative cane payment system (sis-tema de pagamento relativo de cana), que esta-belece uma relação entre o teor de sacarose dacana fornecida e a média obtida na usina. O pre-ço por tonelada segue a curva da usina, comágios e deságios que na média não trazem pre-juízos/benefícios para apenas uma das partes.

5Um bom histórico técnico do pagamento por qualidadepode ser visto em GEMENTE e STURION (1981).

6 Pol é a redução da palavra polarização, fenômeno físicoda luz, utilizado para medir o teor dos açúcares, podendoaproximar-se Pol como medida da sacarose contida nocolmo da cana.

Ressalve-se, por outro lado, que a eqüidadedesse sistema está baseada no fato de que100% da cana é produzida por fornecedores,com a colheita totalmente mecanizada e organi-zada por grupos de fornecedores, garantindo,dessa forma, o abastecimento diário às usinas euma distribuição equânime para as cotas indivi-duais de cada participante dos grupos.

A proposta atual discutida e aceita pe-los fornecedores e usineiros para vigorar após aliberação dos preços de cana é de um sistemaparecido com o australiano no aspecto do incen-tivo à melhoria na qualidade da matéria-prima.Esse sistema é composto, de um lado, pelo esta-belecimento de um padrão homogêneo de quali-dade, definido pela revisão e atualização doscoeficientes técnicos que entram na fórmula decálculo, pela divisão proporcional de renda totalem agrícola e industrial, conforme a participaçãoda matéria-prima nos custos de produção doaçúcar e do álcool e, finalmente, composta porpreços médios internos e externos. De outro lado,pretende-se que o preço final seja definido pelascondições regionais de oferta e demanda locais7.Essa sistemática de preços, para ser eficiente eeqüitativa, dependerá muito da visão de sobrevi-vência de longo prazo de suas lideranças, emfunção do maior poder de negociação concentra-do nas usinas, podendo exercer um papel positi-vo no progresso técnico setorial.

Passando-se para a questão dos sub-produtos, sabe-se que do processamento indus-trial da cana-de-açúcar extrai-se o açúcar e o ál-cool como principais produtos, o bagaço, a vinha-ça, o álcool residual, a torta de filtro, o óleo fúsel,o melaço (ou mel final) e a levedura como sub-produtos mais importantes, sendo que do proces-samento desses subprodutos, pode-se produzirco-produtos para utilização, entre outras, na in-dústria química e farmacêutica, tais como: o ál-cool etílico, os solventes e os plásticos8. Na suamaioria, a utilização desses derivados está res-trita a usos na própria usina ou dirigida a merca-dos específicos, dependendo de investimentosem tecnologia e de reduções em custos paratornar possível sua ampliação. Em outros termos,

7Informações obtidas através de entrevistas com partici-pantes envolvidos na discussão da proposta.

8Para se conhecer o processo de produção do açúcar e doálcool ver SZMRECSÁNYI (1979:130-139). Sobre subpro-dutos e co-produtos ver STUPIELLO (1987:801-803) eCOPERSUCAR (1989:39-45).

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12Veiga Filho, Al-

ceu as empresas da agroindústria sucroalcooleira,

para criar ou ampliar mercados, necessitam di-versificar sua produção a preços competitivos.SZMRECSÁNYI (1993) coloca que muitos des-ses mercados, dada sua natureza circunscrita,precisam ser enfrentados por plantas industriaiscapazes de multiplicar produtos, fato que mesmona indústria européia de açúcar acontece parapoucas empresas. Isso significa um aprofunda-mento na redução dos custos industriais, seguidodo mesmo processo na parte agrícola para ba-ratear os custos e os preços da matéria-prima,assim como foi para a produção de HFCS nosEUA que, em princípios dos anos 70, tinha amatéria-prima participando com dois terços naformação de seus custos, sendo que atualmentecontribui com apenas 15%, como resultado daprodução de subprodutos como o óleo de milho eo glúten (CERRO, 1995).

Nesse aspecto da multiplicação (e denovos aproveitamentos no setor industrial), alémda vinhaça que tem plena utilização na lavouracomo fertilizante potássico, o bagaço é o subpro-duto com maior potencial técnico e econômico.Resultante da extração do caldo da cana, tem,em sua composição, umidade de 48% a 52%,fibra com 43% a 47%, sacarose de 1,5% a 3,5%e insolúveis de 0,5% a 1,5%, podendo ser utiliza-do como combustível, por sua transformação emenergia térmica e depois elétrica, para a produ-ção de celulose, papéis e compensados, para aalimentação animal, na indústria química pela ex-tração do furfural e de seus derivados, além dapossibilidade que apresenta de produzir carvãobriquetado (STURION, 1986).

Dessas aplicações, as que têm encon-trado uso e mercado em São Paulo são a co-ge-ração de energia nas unidades industriais pelautilização e venda de excedente às empresasdistribuidoras de energia, a venda de bagaço pa-ra a indústria citrícola, e sua utilização para a pro-dução de ração animal, quando hidrolizado. MI-RANDA-STALDER e BURNQUIST (1996) evi-denciaram empiricamente sua importância atra-vés do estabelecimento das margens de comer-cialização do açúcar e do álcool e da contribuiçãoao acréscimo dessas margens pela exploraçãodo bagaço, do vinhoto e da torta de filtro, sendo oprimeiro distribuído em bagaço para venda direta,para ração animal e para energia. Como resulta-do encontraram uma margem de comercializaçãopara o açúcar de 36,78%, que subiria para53,18% somente acrescida do efeito bagaço (pa-

ra energia), cuja contribuição para esse cresci-mento é de 44,59%. No álcool, o resultado é se-melhante, podendo incrementar sua margem de49,93% para 60,81%.

Por outro lado, há uma controvérsia,ainda não resolvida, para consolidar esse pro-cesso de co-geração de energia pelas usinas esua venda às empresas distribuidoras, concreti-zada nos preços pagos por MW, consideradosnão-remuneradores aos investimentos em co-geração pelos seus produtores, e consideradosaltos e comprometedores da competitividade dasdistribuidoras, se for reajustado. Isso tem levadoque, dos 650MW gerados anualmente pelas usi-nas paulistas, apenas 25MW (4%) tenham sidovendidos (MELLONI, 1997), embora, por outrolado, esse potencial esteja sendo explorado poralgumas usinas que buscam, através de parce-rias com empresas externas, tecnologias quepermitam aumentar a geração de energia portonelada de cana, atualmente na faixa dos30KW/t de cana e possível tecnicamente de serelevado a 140KW/t (CO-GERAÇÃO, 1997), oque, se não demonstra, pelo menos evidencia anecessidade de se investir no aumento da produ-tividade para sair do impasse.

Finalmente, a questão do PROÁL-COOL e a sua reformulação têm um papel pri-mordial no desenvolvimento futuro do subsetor,que emprega algo como 60% da cana-de-açúcarproduzida no campo, tendo uma capacidadeinstalada de 16 bilhões de litros anuais, para umaprodução estabilizada, nos últimos anos, no pa-tamar de 12 bilhões de litros, abastecendo umafrota de veículos de 4,5 milhões de unidades comsua versão hidratada, e parcialmente misturado àgasolina, ao redor de 22%, em sua versão anidro.Desde a crise de abastecimento de 1989, o con-sumo veio sendo suprido complementarmentecom a importação de metanol. A frota de veículosa álcool pode ser considerada em fase de suca-teamento, pela idade avançada e baixa reposi-ção, dado que hoje as montadoras produzematualmente menos de 2% anualmente.

Discute-se, no setor privado e no go-vernamental, uma série de medidas para incenti-var a produção de álcool, pensando em garantir,sem crises, o abastecimento da frota atual, e pen-sando em acrescê-la, através de sugestões deordem tributária - como a de aumento do ICMSsobre a gasolina e incidência zero no álcool; deincentivo à expansão da produção de veículos aálcool que atinja 15% da produção anual das

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tamontadoras nacionais; a não desativação do Fre-te de Unificação dos Preços do Álcool (FUPA),utilizado pelo Governo Federal para equalizarpreços de álcool nacionalmente, mediante a co-bertura dos custos dos fretes; alíquotas especiaisde ICMS e IPI sobre veículos vendidos aos con-sumidores finais; financiamentos para a formaçãode estoques de álcool e para a formação da “frotaverde”, incentivos na compra e leasing de veícu-los a álcool; incentivos e articulação para a re-novação da frota de ônibus urbanos pela in-trodução de ônibus a álcool; e mistura de 15% deálcool anidro nos veículos movidos a diesel.

Esse conjunto de propostas, com algu-mas já implantadas, tem como essência a inten-ção de equilibrar os custos entre os veículos a ál-cool e os veículos à gasolina ou diesel e os cus-tos de produção desses combustíveis, e de criarvantagens aos primeiros em relação aos demais,sem uma prévia avaliação social dos benefícios eperdas, e sem efetuar avaliações técnico-econô-micas de viabilidades, como é o caso da misturade 15% ao diesel, ou dos ônibus urbanos a ál-cool, apoiando-se em suas prováveis contribui-ções à melhoria da qualidade ambiental nosgrandes centros urbanos como compensadorasdo maior consumo que acarretam e dos custosde adaptação - feitas sem levar em conta as de-mais alternativas de transporte urbano e de políti-cas de transporte urbano discutidas na socieda-de.

No passado esse alerta foi feito e ava-liado, analisando-se desde os efeitos do PRO-ÁLCOOL na agricultura (VEIGA FILHO; GATTI;MELLO, 1981), às questões de competitividade,mercado, desequilíbrios na produção e alternati-vas (CONSELHO, 1987); mostrando que os sub-sídios à produção e os incentivos em favor dosveículos a álcool criaram um mercado artificial deálcool carburante num volume excedente de 3,2bilhões de litros, acima do que seria consumidocaso a demanda fosse dimensionada pela ten-dência histórica (CONSELHO, 1987), e mostran-do uma concentração da produção em relação aoconsumo que determinava problemas na distri-buição do produto em nível nacional, resolvidosfinanceiramente através de subsídios, que, porsua vez, geravam déficits na “Conta Álcool” doTesouro Nacional (TRIBUNAL, 1990).

Nesse contexto, e considerando umaperspectiva de longo prazo para se encontrar

soluções equilibradas para o álcool hidratado9,resta o álcool anidro, que é o elemento dinâmicoda produção de álcool carburante, detectável peloseu consumo crescente (CARVALHO, 1997) auma taxa geométrica anual estimada em 21,27%(significante a 1%), contra uma taxa negativa decrescimento do hidratado (de -0,58% e não signi-ficativa estatisticamente). Este crescimento ocor-reu às custas do álcool hidratado, sendo conse-qüência do fato de sua demanda ser derivada docrescimento da gasolina no País - e tambémporque se aumentou o percentual da mistura -até sugerindo ser uma alternativa de longo prazo,quando poderá substituir totalmente o hidratadono mercado interno, além de ser uma alternativapotencial em termos de colocação no mercadonorte-americano - apesar do protecionismo - da-da a abertura proporcionada pelo Clean Air Act, oqual obriga o uso de oxigenados na gasolina emáreas de concentração elevada de gás carbônicoou de ozônio, sendo uma parte composta deoxigenados renováveis (VEIGA FILHO et al.,1996).

Em resumo, os fatores levantados eanalisados, de forma panorâmica, conformam ummacro-conjunto de problemas e oportunidadesrepresentativo do cenário que as empresas su-croalcooleiras e os produtores de cana-de-açúcardeverão vir a enfrentar. As transformações nomercado externo e no mercado interno, assimcomo as questões subjacentes de aumento daconcorrência e busca de maior competitividade,acabarão por se refletir no equacionamento doscustos e na necessidade de aumento de produti-vidade, e que são dependentes da difusão detecnologias incorporadas aos processos produti-vos industrial e agrícola.

Como a matéria-prima da indústriasucroalcooleira é produzida no campo e sua par-ticipação na formação dos custos do açúcar e doálcool é bastante elevada, ao redor de 60%, oprogresso técnico nesta área tem um papel cha-ve na competitividade setorial, seja pelo rebaixa-mento dos custos de produção do açúcar e doálcool, como por possibilitar a redução de preçosdos subprodutos e co-produtos ao mercado com- 9E que passam pelo equacionamento da problemática am-biental, e também pelo seu confronto com o desenvolvi-mento tecnológico atual dos motores ciclo Otto, cada vezmais eficientes em economia de combustíveis e pelas pos-sibilidades do desenvolvimento tecnológico que apontampara os chamados motores versáteis, caracterizados pelouso de combustíveis múltiplos.

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A continuidade da mecanização doprocesso produtivo agrícola - que, como se viuanteriormente, é a principal fonte de crescimento,depois da expansão da área - consolida-se namecanização da etapa do corte na colheita, aqual pode proporcionar redução de custos deprodução agrícola e industrial, aumento na pro-dutividade do trabalho e viabilizar a alternativa decolher cana crua.

4 - ARGUMENTOS TEÓRICOS

Todo fenômeno inovativo é semprecomplexo. Sua complexidade vem do fato de quesofre determinações e influências de várias or-dens, sejam elas culturais, institucionais, históri-cas e econômicas. Isso aponta para a necessi-dade de se conhecer o mais detalhadamentepossível as características do processo de inova-ção, sua natureza e dinâmica dentro do sistemaeconômico, buscando definições menos reducio-nistas. Nesse sentido, ROSENBERG (1979a:75)levanta duas questões fundamentais: se “a pro-dução do conhecimento é em geral custosa, porque as alternativas tecnológicas que representamcombinações de fatores além daquelas justifica-das pelos preços atuais deveriam ser conheci-das? Por que uma sociedade, na qual o custo docapital é baixo relativamente ao trabalho, deveriater a sua disposição informações detalhadas so-bre técnicas de produção intensivas em traba-lho”? (tradução livre).

Se, o espectro de tecnologias é limita-do à estrutura sócio-econômica e, em nível deempresas, limitado pelos preços atuais, quais-quer alterações nos preços ou nessa estruturaexigirão novos investimentos para adquirir tec-nologia, para aprender a usá-la e adequá-la efi-cientemente. A distinção entre mudanças ao lon-go da função de produção e mudanças da funçãode produção aparecem indistinguíveis, aindamais quando se acrescenta o fato de que a me-lhoria de uma técnica é dependente de conheci-mentos anteriores e de um processo cumulativode pequenas melhorias graduais. Nesse aspecto,o uso consagrado de se estabelecer a mudançatecnológica pelo deslocamento da função deprodução parece ser muito sugestivo quando sepensa em inovações radicais, mas não é ade-quado para as chamadas pequenas inovações,que muitas vezes acontecem de forma prosaica,

porém não destituída de importância econômica(ROSENBERG, 1979a).

Portanto, o conceito de inovação, en-quanto um processo econômico, precisa ser am-plo para abranger sua natureza, característicasprincipais e finalmente sua dinâmica. Nesse sen-tido, pode-se definir tecnologia como um conjuntointer-relacionado de instrumentos, máquinas eimplementos, saberes práticos de uso e de con-cepção e formas de organização produtivas,compreendidos em nível do conhecimento apli-cável. A mudança tecnológica, ou inovação, emtermos de desenvolvimento é uma ação inventivae processa-se cumulativamente na busca deviabilidade comercial, ainda na instância do co-nhecimento. Sua passagem para a produção, jácomo progresso técnico ou mudança técnica,acontece no processo de difusão.

Entretanto, as razões econômicas in-centivadoras da mudança tecnológica e do pro-gresso técnico não são apenas ou predominan-temente derivadas da demanda (mercado, com-petição, investimento, relações custo/benefício eredução de custos), mas interligadas a fatores dolado da oferta. ROSENBERG (1979b) argumentaque, antes de mais nada, deve-se demonstrar aindependência e importância da oferta, primeiroverificando-se o progresso ou evolução da ciên-cia e tecnologia em resposta a forças indepen-dentes da necessidade econômica, na medidaem que evolui ao longo de direções ou linhas de-terminadas; segundo, comprovando que essasucessão estabelece um horizonte de restriçõese oportunidades.

A comprovação de que as inovaçõesseguem linhas determinadas é um assunto bas-tante discutido na literatura e já conhecido para osetor agrícola (SALLES FILHO, 1993, capítulo I);por outro lado, sabe-se que o atual padrão pro-dutivista foi construído temporalmente, após osurgimento e evolução de vários ramos indus-triais e de desdobramentos científicos e tecnoló-gicos que permitiram a emergência de comple-mentaridades. Isso que ROSENBERG (1994)chama de natureza orientada da mudança tec-nológica (path-dependent nature of technologicalchange) é conseqüência de uma série de trade-offs (alternativas) dadas por melhorias e custos,peculiaridades e características físicas de tecno-logias complementares que estabelecem umcampo possível de atuação e de estratégias aserem seguidas. E, pelo lado das restrições eoportunidades, principalmente em inovações me-

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tacânicas, é de reconhecimento histórico e factualque o movimento entre o invento, o seu desen-volvimento, a verificação de testes e de resulta-dos e a sua difusão e posteriores melhorias re-presentam uma seqüência, ou fases, limitadas acurto prazo pelo horizonte tecnológico.

O processo de inovação, para Rosen-berg, é dirigido pelas motivações da demanda,extremamente fortes para definir uma direção ge-ral à inovação e ao progresso técnico, e pelas ca-racterísticas da oferta que impõem uma direção àatividade inventiva e afetam sua difusão. Em ter-mos da direção da atividade inovativa, ROSEN-BERG (1979c) argumenta que o horizonte tec-nológico tem imperativos que determinam umaseqüência de inovações nascidas das restriçõestécnicas ou pontos de estrangulamentos tecnoló-gicos que geram uma seqüência compulsiva,dando origem ao fenômeno do focusing devices(sistemas de enfoque).

Os fatores indutores do focusing devi-ces são:- Desequilíbrios técnicos entre processos interde-

pendentes e entre processos complementares.No primeiro caso, o desequilíbrio ocorre pelaausência de complementaridades dentro dosistema tecnológico ou dentro dos sistemas téc-nicos interligados, e, no segundo caso, por fatosque conduzem a mudanças em processoscomplementares: pela ausência ou descobertade insumos complementares, pela busca esubstituição de materiais mais resistentes e pelaprópria seqüência de mudança, no sentido deque uma inovação leva a outra.

- Dificuldades de controle sobre a mão-de-obrano que se refere à mudança, absenteísmo egreves, gerando incertezas de obtê-la na quan-tidade e qualidade desejadas, ameaçando pers-pectivas futuras de benefícios econômicos aosempreendimentos.

- Redução drástica, eliminação ou ausência defontes de oferta, advindas de fatores aleatórios,ou imposição de constrangimentos que nãoexistiam antes. Generalizando, qualquer restri-ção que reduza uma ou mais fontes de oferta,ou que ajam no sentido de conduzir a novosatos investigativos, podem ser categorizadasneste item.

No que diz respeito à difusão da tec-nologia, ROSENBERG (1979d) novamente ad-mite que as alterações nos preços relativos têmforte influência no ritmo da difusão, embora con-sidere que a rapidez da substituição de uma tec-

nologia por outra depende da superação de pro-blemas ligados ao lado da oferta, tais como:- Obtenção de melhorias incrementais. Com fre-

qüência os inventos necessitam de pequenasadaptações e ajustes contínuos, visando au-mentar sua eficiência técnica e econômica parapoder concorrer alternativamente com outra téc-nica em uso.

- Desenvolvimento de habilidades técnicas entreusuários e que exige um período de aprendiza-gem para explorá-la de maneira mais eficaz, ecuja duração depende do grau de desconheci-mento, da complexidade da nova técnica e dacapacitação existente ou transferível (learning-by-using).

- Desenvolvimento de habilidades na fabricaçãode máquinas, que depende da capacidade deprojetar, adaptar e produzir a baixos custos,num ambiente que envolve o learning-by-doing(aprender fazendo), economias de escala emercado para esses produtos, e no qual a in-dústria de bens de capital e suas estratégiasexercem um papel determinante.

- Complementaridades entre diferentes técnicas,que também exercem influência significativa nadifusão para superar certos constrangimentostécnicos e realizar potencialidades, e no qual osetor de bens de capital desempenha papel im-portante.

- Contexto institucional ligado a variáveis quepodem retardar/acelerar o processo de difusão,abarcadas de forma ampla por aspectos legais,sociais e organizacionais e que implicam melho-ria da qualidade da mão-de-obra, dada por seunível de educação geral, mudanças organiza-cionais que viabilizem a realização da adoçãode técnicas, mecanismos de financiamento eestrutura e posse de bens e riquezas.

- Restrições geográficas, que ligam a difusão àscondições ambientais derivadas da oferta de fa-tores, tais como: obstáculos topográficos e cli-máticos.

- Dotação de recursos naturais que possam im-por ritmos diferenciados na adoção, dependen-do do acesso e disponibilidade.

Todos os fatores listados têm em co-mum a perspectiva de ganhos ou perdas, repre-sentando faces interligadas de um mesmo fenô-meno - o processo de inovação - e é por issoque acabam por afetar os dois subconjuntos queo conformam: a área do conhecimento e a áreada produção, que têm o mesmo objetivo de pro-duzir uma tecnologia viável de ser difundida.

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5 - OS FATORES INDUTORES DO LADO DADEMANDA

Os fenômenos mais gerais ligados aodesempenho setorial, como a desregulamenta-ção interna dos mercados de cana, açúcar eálcool, e as transformações ocorridas no merca-do externo acabam por se refletir no sistema depreços, sinalizando, em última instância do pontode vista microeconômico, a escassez relativa defatores e a rentabilidade das diversas unidadesprodutivas. Por isso, uma análise da evoluçãodos preços de produtos e fatores, de custos einvestimento torna-se necessária para entenderseu papel no processo de inovação.

Para o caso em estudo, julgou-se rele-vante levantar séries de salários dos cortadoresde cana, de preços recebidos pelos produtoresde cana FOB campo e de preços recebidos pelosprodutores de açúcar e de álcool FOB usina,transformando-os em índices e analisando suasevoluções em termos reais e nos seus valoresrelativos, pressupondo, neste último caso, que arelação salário/preços constitui um indicador deescassez ou abundância do fator trabalho, e quesua tendência histórica sinaliza um processo desubstituição economizador do fator mais escasso(Tabela 1).

Verificou-se, inicialmente, que todos ospreços, deflacionados e atualizados para dezem-bro de 1997, tiveram um comportamento de que-da real, em média de 50%, quando comparadoscom os preços vigentes em 1976. Dos anos finaisda década de 1970 até meados da década de1980, houve maior sustentação dos preços dosprodutos, com quedas inferiores à dos saláriosreais, refletindo a proteção ao subsetor, concreti-zadas nas políticas governamentais de preços,no estímulo do mercado externo e na expansãoda economia brasileira, que começou a perder fô-lego nos anos iniciais de 1980. A queda dessespreços acelerou-se a partir de 1986/87, tendosido em parte determinada pelo comportamentoda economia brasileira, e em parte pela perda dedinamismo do mercado externo de açúcar, ocor-rida de 1985 em diante, com uma recuperação a

partir da estabilização econômica proporcionadapelo fim da aceleração do processo inflacionário,a partir da reforma monetária de 1994.

Por sua vez, o comportamento evoluti-vo dos salários acompanhou, de 1986/87 emdiante, o mesmo padrão de decréscimo dos de-mais preços, apesar de o movimento sindical terse solidificado nesse período, através de con-quistas nem sempre contabilizadas nos saláriosmonetários, tais como: as melhorias no transportee o acesso à previdência e à seguridade social,por exemplo. A relação entre os salários e ospreços recebidos de cana, medida pela razão deseus índices, mostra uma tendência de queda àtaxa de -1,02% ao ano (teste t significativo a30%) para o período como um todo, com exce-ção de 1989, o único ano da série em que houveum aumento real significativo de salários. Umaestimativa feita sem o dado de 1989, que podeser considerado atípico à série, mostra uma ten-dência decrescente para a razão salário/preço decana à taxa de -1,28% ao ano (teste t significati-vo a 4%). Isso fortalece o primeiro resultado en-contrado, sugerindo que houve uma tendência dequeda nos salários, proporcionalmente maior queo decréscimo nos preços recebidos pelos produ-tores de cana, não sinalizando escassez agrega-da na disponibilidade de mão-de-obra.

Como a maior participação na produ-ção é da chamada cana própria (produzida emáreas pertencentes às usinas ou arrendadas porelas), procurou-se dimensionar os sinais de subs-tituição do fator trabalho por máquinas colhedo-ras através das razões salário/preço do açúcar esalário/preço do álcool.

A relação salário/preço do açúcar nãoapresentou tendência definida para o períodocompleto, tanto na estimativa com o dado de1989, quanto na estimativa sem a informação,ambas sem significação estatística para o teste t.Por outro lado, visualiza-se um crescimento apartir de 1992, o qual pode estar indicando umasinalização positiva para a mecanização, devidoao possível encarecimento relativo dos salários.

Por sua vez, a relação salário/preço doálcool mostra para o período 1976-97 uma ten-dência de queda, ao ritmo de -1,30% ao ano

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taTABELA 1 - Índices Reais de Salários e de Preços de Cana, Açúcar e Álcool, Estado de São Paulo,1976 a 1997

Índices Relação (%)Ano

Salários (1) Cana (2) Açúcar (3) Álcool (4) (1)/(2) (1)/(3) (1)/(4)

1976 100 100 100 100 100 100 100

1977 94 100 100 102 94 94 92

1978 117 95 93 95 123 126 123

1979 - - - - - - -

1980 83 93 85 95 89 98 87

1981 93 89 85 98 104 109 95

1982 79 72 68 79 110 116 100

1983 70 84 77 90 83 91 78

1984 73 83 76 87 88 96 84

1985 70 81 80 92 86 88 76

1986 56 53 52 60 106 108 93

1987 - - - - - - -

1988 45 51 52 61 88 87 74

1989 72 38 36 42 189 200 171

1990 35 36 34 40 97 103 88

1991 38 39 35 42 97 109 90

1992 31 44 40 48 70 78 65

1993 30 37 34 41 81 88 73

1994 30 39 35 43 77 86 70

1995 40 39 33 43 103 121 93

1996 38 47 44 49 81 86 78

1997 39 47 34 49 83 115 80

Fonte: Dados originais do Instituto de Economia Agrícola (IEA) e do INFORMATIVO da União da Agroindústria Canavieira de São

Paulo (UNICA).

(teste t significativo a 20%) para a estimativaincluindo o aumento de salário ocorrido em 1989,e uma tendência de decréscimo a -1,59% ao ano(teste t significativo a 1%) para a estimativa sema informação de 1989, ambas apontando para anão-substituição do fator trabalho, embora sepossa visualizar uma certa reversão para cima,nos anos mais recentes da série, e que poderiaestar captando uma mudança ainda não detecta-da estatisticamente.

Os resultados desses três indicadores,em termos históricos, vão no sentido de sinalizaruma não-substituição do fator trabalho, uma vezque houve vários fenômenos econômicos interfe-rindo, ao longo dos anos - como foram os perío-dos recessivos vigentes, a aceleração do proces-so inflacionário e as políticas protecionistas - queacabaram por criar um ambiente menos propícioà mudança técnica do porte da mecanização docorte, dependente de altos investimentos e de al-terações técnicas de várias ordens, e que impli-

cam um esforço ponderável de capacitação.Apesar da insuficiência de informações, pode-seperceber, mesmo que ainda precariamente, paraos anos iniciais da década de 1990, a ocorrênciade indícios de substituição, induzidos pelo pro-cesso de ajuste dos preços dos produtos e dossalários.

Em termos de investimentos totais, RÍ-POLI e VILLANOVA (1992) estimaram o volumede recursos para a completa mecanização da co-lheita no Estado de São Paulo, para uma área de1,21 milhão de hectares (55% da área total comcana no Estado). A estimativa da necessidade derecursos foi calculada em US$1,52 bilhão, envol-vendo a compra de 2.581 máquinas colhedoras,para um rendimento diário de 250 toneladas pormáquina. Em termos de colhedoras, a estimativafoi de 520 milhões, ao custo de US$200 mil porunidade, sendo o restante dirigido para os demaisinvestimentos necessários na sistematização doscampos, transporte e recepção da matéria-prima

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ceu na usina e outros. Outra estimativa de volume de

recursos para a transformação do corte (MU-DANÇA, 1997), considerando que 70% da áreacom cana em São Paulo poderia ser mecanizada(1,0 milhão em 1994), previu uma necessidadede R$2,95 bilhões, distribuídos entre alteraçõesna recepção (5%), no preparo e moagem da ca-na (1%), na sistematização de terrenos (14%), nodesenvolvimento de variedades (2,5%), em gas-tos de P&D (0,5%), na aquisição de equipamen-tos de colheita (46%), preparo, plantio e tratosculturais (14%) e na rescisão de contratos detrabalho (17%).

Embora essas estimativas mereçamaprofundamento, atualização e melhores especi-ficações, para se ter maior certeza do volume deinvestimento exigível, têm o mérito de indicaruma faixa de magnitude, variando de 30% a 66%sobre o volume de recursos movimentados peloagronegócio canavieiro em São Paulo, em1993/94 (US$4,45 bilhões)10, mostrando, assim,o grande esforço de investimentos para a plenaconcretização do processo de mecanização docorte em São Paulo.

Outro indicador relevante é dado pelaestimativa da diferença de custos de colheita me-cânica x colheita manual. FREITAS (1981) elabo-rou estimativas para a safra 1980, comparando acolheita por corte manual e por cortadeiras me-cânicas acopladas a trator. Seus resultados indi-caram um custo 23% menor para o corte mecâ-nico e uma economia de 6% nas despesas daoperação completa da colheita.

RÍPOLI e MIALHE (1982) compararamo custo da colheita manual com carregamentomecânico versus a colheita por colhedoras auto-motrizes combinadas, para a safra 1981/82, emcinco usinas paulistas. A estimativa de custosdestes autores incluiu o cálculo de custos fixosmais custos variáveis para três níveis de vida útil:100 mil toneladas, 200 mil toneladas e 300 miltoneladas. Como resultado, verificaram que até100 mil toneladas, o custo da colheita manual eramenor em 4%, invertendo-se conforme aumenta-va a tonelagem colhida, com diferença de 19%para 200 mil e de 28% para 300 mil toneladas,em favor da colheita mecanizada.

GANDINI (1990) mostrou em seu estu-do que apesar da produtividade do corte manualna Usina Santa Luíza (SP) ter aumentado de 5,5

10Confira em VEIGA FILHO et al. (1996).

t/dia, em 1981/82, para 10,4 t/dia, em 1990/91, oscustos médios de corte haviam evoluído 40,5%entre 1985 e 1988, o que favoreceu a adoção datécnica de corte mecanizado, cujo custo para asafra 1990 foi de 8,3% inferior ao do corte ma-nual. Este resultado esteve associado a uma sé-rie de problemas no gerenciamento do fluxo decorte e transporte de cana, obrigando a paradasforçadas da colhedora por falta de caminhão nocampo. Sua análise de sensibilidade, desenvolvi-da levando em conta a evolução dos custos mé-dios/t para ambos os métodos de corte, indicoureduções proporcionalmente maiores para a co-lheita mecânica, diretamente relacionadas com oaumento de horas trabalhadas.

BALBO (1992) desenvolveu estudo decustos de colheita manual de cana queimada ede colheita mecânica de cana crua e queimadapara as áreas de domínio da Usina São Francis-co. Verificou que a comparação apenas dos sub-sistemas de corte (custos/t) mostrou vantagemdiferencial de 3% para o corte mecânico de canaqueimada em relação ao manual, e de 18% so-bre o corte de cana crua, com este último tendouma desvantagem de 19% em relação aos cus-tos da cana queimada colhida manualmente.Comparados os subsistemas de corte manualmais carregamento mecânico com os custos docorte mecânico mais infra-estrutura em canaqueimada, estes ficaram 22% mais baratos que osubsistema manual e 33% menores que os cus-tos para a cana crua, sendo este último 15% su-perior aos custos do corte manual + carrega-mento mecânico.

Pode-se dizer, para alguns resultadosobtidos acima, que as pequenas diferenças a fa-vor do corte mecânico de cana queimada relati-vamente ao corte manual foram derivadas do bai-xo custo da mão-de-obra e do menor uso da ca-pacidade operacional das máquinas, que, confor-me é aumentada, dilui custos fixos e proporcionaum diferencial maior aos custos comparados.Além disso, a diversidade de resultados encon-trados sugere as enormes dificuldades que exis-tem para a adoção dessas máquinas, conformese verá adiante. Ademais, as diferenças de cus-tos da cana crua colhida mecanicamente, maio-res do que os do corte manual de cana queima-da - cuja comparação mais correta deveria sercom o corte manual de cana crua - são indicati-vos de uma tecnologia em desenvolvimento, comas operações em campo servindo para identifica-ção de problemas. Este é o exemplo do estudo

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tade BALBO (1992), no qual os maiores custos damecanização se deveram aos obstáculos encon-trados no transporte, pela baixa densidade decarga e na inadequação do sistema de recepçãoda cana crua.

Embora os vários resultados até aquirelatados não possam ser efetivamente compa-rados entre si, dadas as diferentes metodologiasutilizadas e, principalmente, dadas as diferentescondições de uso das máquinas, pode-se inferir,para o período inicial dos anos 1990, que a intro-dução da colheita mecanizada se encontrava emfase de ajustes e desenvolvimento, na qual o im-portante era viabilizá-la em termos operacionais eeconômicos, conforme BONINE JUNIOR (1993)mostrou para uma determinada usina paulista, naqual o número de horas trabalhadas estava bas-tante abaixo da potencialidade que as colhedoraspodiam atingir. Do total de 1.400 horas possíveisde operação no ano safra 1991/92, para canaqueimada e crua, houve 690 horas de máquinasparadas, ou seja, praticamente 50% do temposem estar em operação por motivo de reparosmecânicos (16,5%), falta de peças (14,5%) eoutros itens necessários como manutenção, lim-peza preventiva, etc. A apropriação de custos pa-ra gastos diretos mostrou vantagem para o cortemanual em cana queimada, com custo/t estimadoem US$2,08, contra US$2,48 para o corte mecâ-nico. O mesmo resultado foi apontado para o cor-te manual de cana crua, que custou US$3,92/t,contra US$5,46/t para o corte mecânico.

Para os anos mais recentes, não exis-tem estudos detalhados de custos na colheitamecânica comparados com colheita manual. En-tretanto, pode-se deduzir que houve uma sedi-mentação e generalização da vantagem econô-mica do corte mecânico, tendo em vista o au-mento da capacidade efetiva das máquinas, am-pliado para a faixa de 70t/h, conforme experi-mento de FURLANI NETO et al. (1996)11. Outroindício está na maior preocupação, expressa emvários trabalhos, em determinar diferenças emganhos na qualidade da matéria-prima e na qua-lidade de extração, medidas pelo Brix % caldo,Pol % caldo, teor de fibra e outros parâmetros

11Ver também em SARTI (1997) que levantou a produtivi-dade média de 159 máquinas colhedoras, em 20 unidadesindustriais, estimando-a entre 69t/ha e 90t/ha.

tecnológicos12.Em resumo, as relações de preços fa-

tor/produtos, os níveis exigidos de investimentose as comparações de custos, atuando pelo ladoda demanda por tecnologia, não emitiram sinaisclaros e incisivos no sentido da substituição demão-de-obra por tecnologia poupadora desse re-curso no período estudado. Mas, não se podededuzir o contrário, de um lado, pela própria rea-lidade, indicando que o processo de substituiçãoestá em curso, atingindo de forma diferenciadaprodutores e regiões e, de outro, porque algunsde seus resultados, principalmente de custoscomparados, mostram-se positivamente induto-res à substituição. Além do mais, é evidente ointeresse das empresas produtoras de colhedo-ras por esse mercado em expansão (MECANI-ZAÇÃO, 1997), cujas vendas estão previstas au-mentar entre 20% e 30% ao ano, até 2.005.

As condições gerais da economia e aanálise dos preços, que definem o sentido para amudança técnica, mesmo sem serem absoluta-mente incisivas, não deixam de apontar para umadireção geral que, no caso em pauta, tem sidoaquela adotada no próprio processo produtivoagrícola da cana-de-açúcar. Em outras palavras,elas não têm impedido que se adote e se difundaa mecanização, como se pode verificar pelo con-tínuo aumento da produtividade da força de tra-balho na lavoura canavieira13 (VEIGA FILHO eSANTOS, 1995).

6 - OS FATORES INFLUENTES NA DIREÇÃODO DESENVOLVIMENTO TECNOLÓGICO

Parece evidente, portanto, que, alémdos fatores do lado da demanda, há uma deter-minação originada em aspectos específicos des-se particular processo de inovação, cuja atuaçãoindutora não é desprezível, e que exerce, ao ladoe junto às forças da demanda, um papel condi-cionador do malogro ou sucesso nessa mudançatécnica. No que se refere à direção sequencialconferida ao desenvolvimento tecnológico, mes-

12Brix ou matéria seca são os sólidos solúveis, compostospelos açúcares, sais orgânicos e minerais. Fibra é a maté-ria seca não solúvel em água.

13Ressalte-se, porém, que a relativa fragilidade desses si-nais pode ter freado o crescimento da produtividade daforça de trabalho, mantendo-o num patamar relativamentemais baixo do que se poderia esperar.

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ceu mo levando em conta que as principais empresas

fornecedoras de equipamentos são de origemestrangeira, utilizando sua própria tecnologia, eque a empresa nacional do ramo tem nos seusprodutos apenas 20% de desenvolvimento pró-prio14, o esforço em melhoria e adaptação deprodutos e processos às condições locais nãodeixa de conformar um horizonte tecnológico, cu-jos fatores determinantes são referidos a seguir.

FERNANDES e OLIVEIRA (1977), pro-curando estabelecer parâmetros para avaliar aqualidade tecnológica da matéria-prima entreguepara processamento, dada sua importância noprocesso de recuperação de sacarose, fizeramvários levantamentos nas fases do corte e docarregamento nos sistemas manual, semi-me-cânico e mecânico. Este trabalho foi realizadonas safras 1974/75 e 1976/77, efetuando-se oslevantamentos amostrais de impurezas de origemvegetal (folhas, raízes, ervas daninhas, madeirade destoca, etc.) e de origem mineral (terra, areia,pedras, etc.). Apesar das diferentes condições decolheita entre as duas safras, constatou-se que acolheita manual - corte e carregamento em fei-xes - obteve uma média de 4,6% de impurezas; ocorte semi-mecânico - corte manual e carrega-mento mecânico - também obteve média baixa epróxima à anterior, mas com alto coeficiente devariação; e a colheita mecânica obteve uma mé-dia geral alta, de 16,7% de impurezas detecta-das, sendo a participação das impurezas vege-tais acima de 90% para as várias marcas de co-lhedoras utilizadas. Embora esses autores nãotenham estudado o que provocou essa variação,atribuíram suas causas a diferenças de localiza-ção no campo, à ocorrência de chuvas e às habi-lidades dos operadores. Tratava-se, aparente-mente, de um desequilíbrio técnico no desenvol-vimento do sistema de limpeza, que não conse-guia resolver o problema da colheita no períodochuvoso, durante o qual sempre ocorre um au-mento da densidade do material vegetal devido àmaior umidade, afetando a eficiência técnica des-se sistema complementar.

Quase dez anos mais tarde, FURLANINETO (1986) desenvolveu testes para aquilatar odesempenho da colhedora ROTOR III da SAN-TAL, descrevendo os avanços técnicos obtidospela empresa nesta quarta versão do seu produ-

14Entrevista realizada com o Diretor-Presidente da SAN-TAL, Arnaldo Ribeiro A. Pinto, em 30/03/98.

to, cuja principal inovação consistiu na substitui-ção do sistema de transporte interno dos colmos,efetuado por esteiras transportadoras, pela técni-ca do arremesso da matéria-prima, feita por umrotor (um tipo de motor com pás) com aletasradiais e um duto condutor, pelo qual se processaa limpeza através de ventiladores. Esta técnicade transporte substituiu com vantagens aquelaconstituída por correias, cujos componentes (ei-xos, engrenagens, rolamentos, etc) exigem umaconstante manutenção.

Entre 1980 e 1983 haviam sido lança-das as versões ROTOR, ROTOR I e ROTOR II,com modificações e aprimoramentos técnicosdecorrentes dos testes em campo, efetuados emcolaboração com universidades, técnicos de usi-nas, etc. Os problemas detectados, relativos àqualidade da matéria-prima e a desempenhosmecânicos foram os seguintes: um aumento sig-nificativo de matéria estranha, mineral e vegetal;o esbagaçamento dos toletes de cana pelo lan-çamento do rotor, devido a falhas no corte e ar-remesso; perdas de cana; uma baixa capacidadeefetiva, causada por problemas mecânicos; oembuchamento devido ao subdimensionamentodo motor para canas acima de 120t/ha; um ele-vado centro de gravidade; o corte irregular dostoletes, ocasionado pelas velocidades iguais dasfacas e do rotor; a dificuldade de acesso às par-tes vitais para manutenção; e o posicionamentodeficiente dos ventiladores.

Para solucionar esses problemas, fo-ram feitas várias alterações, incorporadas no mo-delo ROTOR III, quais sejam: a abertura da bitolatraseira para baixar o centro de gravidade damáquina; a troca do motor por outro mais poten-te; a mudança no ângulo de subida do colmo,para reduzir impurezas; e alterações no ângulode corte do tolete, no recurvamento das aletas ena velocidade do picador, para reduzir as perdasde cana. Todas essas alterações, processadasao longo de quatro a cinco anos, visaram recupe-rar os desequilíbrios técnicos causados pela ino-vação complementar do sistema de transporteinterno e limpeza nas colhedoras - nas quais sechegou, inclusive, a introduzir um novo conjuntode circuitos e sistemas hidráulicos, em substitui-ção aos acionamentos mecânicos, destinada asuperar os desequilíbrios técnicos entre sistemasinterdependentes15.

15Idem nota 14.

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taUm estudo feito por FERNANDES eIRVINE (1986), para medir produtividade de canana colheita mecanizada versus o corte manual,detectou uma série de problemas orientadores dodesenvolvimento e do horizonte tecnológicos.Seus ensaios abrangeram uma área de 17,2hectares no corte manual e de 15,6 hectares nacolheita mecânica, e uma produção de 3.300 to-neladas de cana em 1983, 1984 e 1985, determi-nando-se o Pol % cana, a fibra % cana e a pure-za do caldo, utilizados na determinação do açú-car teórico recuperável (ATR) de ambas as co-lheitas. Os três parâmetros escolhidos foram aprodutividade de cana (t/ha), o ATR (kg/t) expres-sando a diferença entre a sacarose entregue e asacarose recuperada, e a produtividade do açú-car (t/ha), resultado da multiplicação dos dois pri-meiros. Os resultados, para a análise conjunta decinco ensaios, indicaram que a produtividade dacana não se alterou em ambos os métodos decorte, embora a produtividade do açúcar tenhasido estatisticamente superior no corte manual,rendendo 10,44t/ha contra 10,11t/ha no corte me-cânico, devido à superioridade do ATR no cortemanual, dada pelas diferenças a seu favor nasmédias obtidas naqueles valores de sacarose, fi-bra e pureza de caldo.

Pode-se deduzir o horizonte de desen-volvimento tecnológico das colhedoras dessasconclusões, qual seja, o da colheita mecanizadaprovocar perdas na qualidade pela elevação doteor de fibras e pelo menor rendimento de açúcarno campo e na fábrica, fatos ligados não somenteà sistematização do campo, habilidade do opera-dor e à variedade, mas também à ausência deavanços tecnológicos nos sistemas mecânicos,elétricos e hidráulicos que compõem as colhedo-ras.

Sob esse aspecto, SELEGATO (1992)identificou como problemas o dimensionamentoinadequado dos componentes, a má escolha dosmateriais e o mal dimensionamento dos proje-tos16. Seu estudo baseou-se nos relatórios decontrole da manutenção de frota de uma usina,nos quais se registraram como principais ocor-rências, em uma determinada marca, a necessi-dade de intervenção no sistema picador (18,5%),no sistema elétrico (14,9%) e no sistema de corte

16Ressalte-se que a análise deste autor incluiu a constata-ção de uma série de inovações técnicas melhoradoras dasperformances das máquinas, e de um bom nível de aten-dimento na assistência técnica.

de base (20,3%). No corte de base, o principalproblema detectado foi nas facas, que exigiu tro-cas e reparos, em 88,4% das vezes. No sistemapicador, houve ocorrência de troca e reparo nofacão, em 90% delas; e no sistema elétrico, hou-ve falhas prematuras em alternadores, regulado-res de voltagem e de relês. Em outra marca decolhedora utilizada, houve vários problemas téc-nicos na parte elétrica, no sistema de picador eno corte de base, com altas freqüências de trocasde lâmpadas, de trocas de facão e de facas, alémde falhas nos motores hidráulicos.

Nesta mesma linha de verificação deproblemas técnicos e de estabelecimento de ho-rizonte tecnológico foi desenvolvido o trabalho deMORAES (1992), centrado principalmente naavaliação da performance do sistema de limpeza(extratores e ventiladores), através da detecção eestudo das chamadas perdas invisíveis, compa-rando o desempenho de duas marcas de colhe-doras. Estas perdas têm sido escassamente es-tudadas, devido a dificuldades na coleta dos da-dos, por decorrerem da ação de mecanismosinternos das máquinas durante o processo decorte, picagem e limpeza dos colmos. A melhoriadesejada gira em torno do atingimento de umponto ótimo de equilíbrio entre o grau de perdas eo consumo de potência. Muitas vezes, a tentativade diminuí-las através do aumento de velocidadedo ar pode, inclusive, levar a resultados contrá-rios, junto com um aumento do consumo de po-tência do motor, dado que o sistema de extrato-res costuma utilizar 25% dessa potência.

O mesmo trabalho apresenta uma am-pla revisão bibliográfica sobre perdas em colhe-doras, mostrando a significância delas na quali-dade final da matéria-prima e também a dificul-dade de coletar as perdas invisíveis. Relata comonum estudo anterior, realizado na Flórida (EUA),toda a cana encontrada no interior da máquina foisomada à cana entregue por ela e cujo pesoresultou em um déficit de 3,2%, atribuídos a per-das invisíveis decorrentes da desintegração dostoletes e do caldo perdido em conseqüência.

Uma conclusão importante de váriosdesses trabalhos revisados pelo autor refere-se ànecessidade de se estudar o comportamento ae-rodinâmico dos toletes, folhas e pontas em rela-ção à velocidade do ar, para se poder chegar aresultados mais conclusivos. As conclusões dopróprio MORAES (1992) indicam que o sistemade limpeza pelo uso de extratores, ao invés deventiladores, apresentou maiores perdas invisí-

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ceu veis, e que a redução da velocidade de saída do

ar diminuiu as perdas em ambos os sistemas,sugerindo, em conseqüência, testes com váriostipos de extratores (aspiradores) e de ventilado-res, cujos maiores diâmetros poderiam aumentara vazão do ar e reduzir sua velocidade, contri-buindo assim para aumentar a eficiência da lim-peza, e mostrando mais uma vez que o desem-penho dos equipamentos estabelece os campossequenciais de problemas técnicos a serem de-senvolvidos no futuro, com vistas à obtenção demelhores resultados econômicos.

Um outro fator indutor à mudança tec-nológica pode ser detectado nas dificuldades decontrole sobre a mão-de-obra, fruto de incertezassobre sua disponibilidade causada por absen-teísmo ou greve, ou ainda, em decorrência demudanças na organização do trabalho. A ocor-rência destes dois processos têm sido verificadosno período posterior a 1980, a partir da maior mo-bilização dos trabalhadores e da necessidade dereorganização dos processos de trabalho.

A pressão exercida pelo maior poderde barganha dos trabalhadores, conseguido pelofortalecimento dos sindicatos e através das vitó-rias conquistadas nos dissídios coletivos, ao mes-mo tempo em que podem ter encarecido os cus-tos indiretos da mão-de-obra, teriam promovidouma perda do controle político da massa de tra-balhadores pelo patronato, a qual, no caso deSão Paulo, tem como ponto de inflexão a chama-da greve de Guariba (SP), na região de RibeirãoPreto, em 1984. Segundo ALVES (1991), o mo-vimento que resultou dessa greve consolidou de-finitivamente um papel ativo aos trabalhadoresagrícolas da cana, que passaram a atuar comoum coletivo comprometido com a sobrevivênciafutura. A reação a esse tipo de perda de controle,como forma de repressão e de quebra da resis-tência aos movimentos organizados, pode tercontribuído para a intensificação da mecanizaçãodo corte.

Além disso, este fenômeno pode seridentificado nas transformações das relações detrabalho da agricultura em direção ao assalaria-mento pleno, e na necessidade de aumentar ocontrole sobre o processo de trabalho, como for-ma de se conseguir incrementos na produtividadeda mão-de-obra. Neste sentido, foram registradaspor FISHER (1993) profundas modificações nossistemas de gestão dos processos de trabalhonas usinas paulistas, envolvendo interferênciasdiretas na contratação, seleção e administração

dos trabalhadores agrícolas canavieiros, comvistas a promover as mudanças organizacionaise tecnológicas necessárias.

Finalmente, no que se refere aos fato-res indutores pelo lado da eliminação ou ausên-cia de fontes de oferta, ou imposição de cons-trangimentos no sentido de levar à realização denovas experiências, elegeram-se como relevanteos métodos de colher cana crua, que têm assu-mido proporções crescentes e começaram a segeneralizar no Estado de São Paulo, seja porimposições econômicas, seja por necessidade deevitar a degradação ambiental causada pelaqueima antes do corte. Embora os estudos sobrequeimadas e seus efeitos no meio ambiente e nasaúde humana provoquem acirradas polêmi-cas17, fica cada vez mais difícil não atentar para oagravamento da poluição atmosférica pela emis-são de gases poluentes e sua concentração no-civa na camada denominada de troposfera (loca-lizada a 15km de altura), ou na possibilidade decontribuir para as doenças respiratórias (ALVESet al., 1997). Ao lado disso, surgem as razõeseconômicas, como aquelas apontadas por RÍPO-LI (1991), ao se referir ao desperdício energéticodo não-aproveitamento do material remanescentena colheita, representado pelos ponteiros, folhasverdes e palhas e que correspondem a 34,9% daenergia produzida em um hectare de cana e que,de acordo com seus resultados, teriam equiva-lentes energéticos em torno de 30 barris de pe-tróleo por hectare, ou um poder calórico corres-pondente a 1,08t de bagaço.

Um estudo recente (RÍPOLI et al. 1995)mostrou que o desempenho do corte manual emcana crua, relativamente à queimada, cai entre3,6 e 1,8 vez, dependendo da variedade cortada,e que o ganho diário do cortador se reduz entre32% e 40%. Portanto, para equiparar-se ao ga-nho normal com o corte de cana queimada, adiária necessitaria aumentar entre 60% e 68%,provocando aumentos de custos bastante ex-pressivos. Ou seja, o corte de cana crua acabainduzindo para a mecanização.

Assim, a pressão ambientalista e apressão econômica tendem a forçar a direção dodesenvolvimento tecnológico das colhedoras,adaptando-as à colheita da cana crua, apesar deo fato de sua adoção reduzir, atualmente, seus

17Ver, por exemplo, WONG (1997) e COSTA (1997b), quecontestam os argumentos ditos ambientalistas.

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tarendimentos em aproximadamente 20%, quandocomparada aos rendimentos obtidos na canaqueimada, além de aumentar as perdas de canaentre 5% e 12%, e de reduzir a jornada de traba-lho da máquina pela maior dificuldade de se co-lher à noite (MAGRO, 1997).

Devido à existência desses problemas,busca-se o desenvolvimento de uma colhedorade cana que contemple a alternativa de elimina-ção dos processos de picagem e de ventilação,os quais demandam alta potência. BRAUNBECKe MAGALHÃES (1997) propõem um modelo desubstituição desses processos, reduzindo a exi-gência de potência máxima de 300CV para100CV, o que provocaria uma diminuição doscustos de aquisição para uma faixa de R$100mil, o que ajudaria a ampliar o uso das máquinascolhedoras. Os mecanismos em estudo para lim-peza de cana inteira incluem: rolos raspadores,facas oscilantes e rolos puxadores, todos utiliza-dos comparativamente para identificar desempe-nho, facilidades de manutenção e de fabricação,perdas e qualidade da cana. Até o momento, omecanismo de rolos raspadores tem mostradobons resultados, enquanto os dois restantes en-contram-se em fase de aprimoramento e otimiza-ção, ainda como projetos piloto e de experimen-tação.

Este último desenvolvimento tecnológi-co constitui um bom exemplo da nova direçãoestabelecida por constrangimentos que foramsurgindo, além de também apontar para a se-quência a ser seguida na obtenção de aprimora-mentos técnicos, antes de introduzi-los e disse-miná-los no setor produtivo.

7 - OS FATORES INFLUENTES NA DIFUSÃODA COLHEDORA JUNTO AO SETORPRODUTIVO

Pelo lado dos fatores que influenciam oritmo da adoção, ou difusão da técnica, formandoe conformando esse processo por razões eco-nômicas mas independentes delas, seleciona-ram-se aqueles ligados à superação de uma téc-nica por outra, e/ou que facilitam (dificultam) arapidez dessa substituição.

Em nível das empresas produtoras demáquinas, nos aspectos que dizem respeito aoseu ambiente de learning-by-doing, mercado,economia de escala e complementaridades téc-nicas, levantaram-se algumas evidências indicati-

vas das possibilidades que podem proporcionar.Anteriormente, foram colocadas as

previsões de expansão da demanda por colhedo-ras que influenciaram as alterações na organiza-ção desse parque produtivo, provocando a entra-da de novas empresas, algumas das quais, apro-veitando-se de esquemas prévios de comerciali-zação, importando esses equipamentos e colo-cando-os no mercado, e outras, por meio de joint-venture, instalando capacidade produtiva no País,ao lado das já existentes. Neste caso importaanalisar as estratégias utilizadas pelas empresasna conquista do mercado em expansão e quefacilitam a introdução e difusão da colhedora. Issofoi feito com apoio em informações levantadasjunto a uma empresa nacional (SANTAL) e juntoa uma empresa estrangeira recém-instalada noBrasil (BRASTOFT)18.

A primeira é uma empresa tradicionalem São Paulo e que também produz outros equi-pamentos e implementos - tais como: carregado-ras automotrizes de cana. Seus investimentos emP&D representam uma percentagem relativa-mente alta do faturamento, na faixa de 3,5% a4% nos últimos anos, com a alocação de 68%dos mesmos em melhoria e adaptação de pro-dutos e processos e de 32% em desenvolvimentotecnológico. Esta última parcela subdivide-se emdesenvolvimento próprio (20%), desenvolvimentoconjunto (50%) e compra de tecnologia externa(30%). Essa empresa tem procurado aumentarsua competitividade através do lançamento denovos produtos - como as inovações do sistemaROTOR e suas melhorias - e proporcionandosuporte pós-venda, através de uma assistênciatécnica permanente. Sua principal limitação resi-de no fato de atuar por encomenda, apenas par-ticipando passivamente do mercado de colhe-doras de cana, cuja montagem constitui uma dassuas linhas de produção.

Já a BRASTOFT iniciou suas instala-ções fabris com uma estratégia de vendas maisagressiva, importando e vendendo 35 unidadesem 1996, 27 unidades em 1997, montando 50unidades na fábrica brasileira, com a meta deprodução de 93 colhedoras em 1998, sem qual-quer importação, já tendo comercializado, atémarço deste ano, 70 unidades, e que representa-ram por volta de 70% do mercado paulista. Trata-

18Entrevista concedida por Luiz Carlos T. Bicudo, Diretorde Produção da BRASTOFT, em 10/03/98.

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24Veiga Filho, Al-

ceu se de uma empresa montadora, cujas máquinas

são construídas com 60% de materiais nacionaise 40% importados. Toda sua tecnologia é de ori-gem australiana, desenvolvida pela AUSTOFT, equaisquer alterações ou problemas surgidos naoperação de suas máquinas em campo devem,por contrato, ser encaminhados para solução aodepartamento de engenharia da empresa naAustrália.

Diversamente da empresa nacional, aBRASTOFT não trabalha no sistema de enco-mendas, mas possui um plano de produção se-riada anual, e sua estratégia competitiva é a dauniversalização da marca australiana, de tecno-logia conhecida e consagrada mundialmente,atualmente incorporando a eletrônica em senso-res que substituem ou complementam mecanis-mos internos. O mercado potencial é o internobrasileiro e o externo (restante da América Lati-na), pretendendo atingir usinas e fornecedorespela venda e assistência técnica direta que com-preende a entrega técnica do produto (com trei-namento em campo), cursos de manutençãoemergencial e de nível mais elevado e cursos deoperação da máquina, além da venda de peçaspara reposição que representa um sexto do seufaturamento. O tamanho desta empresa e a in-trodução por ela de uma estratégia competitivapró-ativa no mercado nacional de colhedorastrouxeram novos elementos ao padrão concor-rencial em vigor, devendo seguramente possibi-litar uma difusão mais rápida dessas máquinas.

A assistência técnica prestada pelasempresas fabricantes, montadoras ou importado-ras, constitui outro elemento decisivo da difusão -seja prestando serviços na área de treinamento,para operação e manutenção, facilitando o lear-ning-by-using, seja providenciando uma rápidareposição de peças, sem necessidade de forma-ção de altos estoques pelos compradores-usuá-rios. Por outro lado, os avanços tecnológicos ge-rais incorporados por essas máquinas têm se be-neficiado de várias complementaridades sistêmi-cas relativas às rotas tecnológicas da mecânica,dos acionamentos hidráulicos e da eletrônica em-barcada, que permitiram quadruplicar o rendi-mento atual em comparação àquele verificado nadécada de 1970 - embora sem permitir uma re-dução de seus preços reais, que evoluíram deUS$100 mil para US$300 mil por unidade19. De

19Idem nota 14.

qualquer forma, surgiram novas possibilidadesexploradas pela indústria de bens de capital eque desempenham papel relevante na difusãodesses equipamentos.

Um importante aspecto na difusão decolhedoras vincula-se às limitações geográficas ede dotação de recursos naturais, representadaspelas condições edafo-climáticas, compreendidasnas capacidades de uso do solo e nas limitaçõesde declividade dos solos paulistas. Existem noEstado 7,4 milhões de hectares aptos à culturada cana-de-açúcar, subdivididos em quatro cate-gorias: A1, com 4,4 milhões de hectares, queapresenta condições ótimas do ponto de vistaclimático e edáfico; A2, com 2,1 milhões de hec-tares, que apresenta condições ótimas de clima ealgumas restrições de fertilidade; B1, com 619 milhectares e condições restritivas em termos declima, deficiência hídrica sazonal e ótimas condi-ções edáficas; e C1, com 316 mil hectares comrestrição moderada de clima e ótimas condiçõesde solo (SECRETARIA, 1987). Como a canaocupa atualmente cerca de 2,8 milhões de hecta-res, há uma utilização de apenas 37% da capaci-dade de uso potencial, inexistindo restrições amédio e longo prazo para a expansão da cultura.Entretanto, nem toda a área cultivada com cana ésuscetível à mecanização da colheita. No Estadocomo um todo, costuma-se atribuir uma potencia-lidade que varia de 50% a 70%, deduzidos de for-ma empírica e por critérios genéricos.

Apenas um estudo sistemático recente(SPAROVEK, 1997) foi feito, elaborado para aregião de Piracicaba (SP), utilizando uma matrizde critérios em que se leva em conta aspectossociais, econômicos, ambientais (capacidade deinvestimento, mão-de-obra, custo, legislação,etc.), físicos (declividade, distância de rede dedrenagem, solo e clima) e operacionais (sistemaconservacionista, variedade, tecnologia, tama-nho, etc.). Dos 174 mil hectares considerados,somente 31%, ou 54,7 mil hectares, estavam ap-tos à colheita mecanizada, significando uma res-trição bastante severa para essa região canaviei-ra. Assim, da área ocupada com cana na regiãode Piracicaba, no total de 86.799 hectares,45.200 hectares se localizariam em solos inaptospara a mecanização da colheita. Dado que a áreadisponível e apta, ou seja, onde ela não é cultiva-da atualmente, somavam 13.142 hectares, per-cebe-se que seriam insuficientes para compensaros 45.200 hectares ocupados nas áreas inaptas.

Para que houvesse aumento da meca-

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tanização, a produção de cana deveria sofrer des-locamento para outras regiões. Este fenômeno jáestá acontecendo, de acordo com GRUPO(1998), que descreve a liberação de 15 mil hec-tares em quatro usinas de um mesmo grupo eco-nômico, localizadas na região de Piracicaba, oqual adquiriu o controle acionário de outra usina,instalada em Jaú (SP), com solos de alta fertilida-de natural e baixa declividade, plenamente ade-quados à mecanização da colheita.

Seria conveniente investigar com omesmo rigor a ocorrência dessa restrição para asdemais regiões. Algumas delas, como a de Ribei-rão Preto, seriam provavelmente menos atingidaspor fatores como tipo de solo, o grau de declivi-dade, a capacidade de investimentos e nível detecnificação. Mas, mesmo elas não estariamisentas desses parâmetros de potencialidade dedifusão da mecanização.

Outros aspectos remetem à problemá-tica das questões ligadas ao contexto institucio-nal, que podem retardar ou acelerar o processode difusão. Entre elas destaca-se a proibição dequeimadas de cana, criada pelo Decreto Estadualno 42.056, de 06/08/97, que proibiu a despalha decana por queima, e instituiu a obrigatoriedade deextinguí-la no prazo de oito anos nas áreas me-canizáveis e de quinze anos nas áreas não-me-canizáveis, e cujos impactos se estendem parauma repercussão no emprego e um forte movi-mento espacial futuro. O decreto foi uma conse-qüência direta da conscientização da sociedadecom relação aos problemas de poluição ambien-tal, movimento que ganhou força legal pela atua-ção sistemática do Ministério Público, fortalecidona reforma constitucional de 1989, que, inicial-mente, valeu-se do Decreto Estadual n° 28.895,de 20/09/88 e da Lei n° 8.943, de 29/09/94, paracoibi-las judicialmente.

Também a concentração fundiária daprodução, vinculada historicamente ao poder po-lítico e econômico-patrimonial dos grandes pro-prietários de terra (GONÇALVES, 1997) deveráser um fator importante no processo de difusão.Diferentemente da Austrália, por exemplo, onde avelocidade de adoção das colhedoras esteve as-sociada a uma prévia mudança organizacionalque possibilitou a associação de pequenos forne-cedores, em São Paulo já se verificou o aumentoda concentração de capital e da produção nasgrandes propriedades canavieiras, em detrimentoda produção dos fornecedores, atualmente esta-bilizada na faixa dos 30%. A escala de produção

de cana em áreas contíguas, pertencentes àsusinas, tende a facilitar a difusão de colhedoras,já que as mesmas são compatíveis com as exi-gências de tamanho mínimo para se remunerar oinvestimento feito na sua aquisição.

As mudanças nos processos de traba-lho constituem também fatores de estímulo à di-fusão, impondo um ritmo independente a esseprocesso de inovação pelo tempo que exigem pa-ra as mudanças se efetivarem em nível das em-presas. Essas transformações começaram a ga-nhar corpo como forma de atender às necessida-des de maior produtividade e de melhor qualida-de, devendo assumir um papel ainda mais rele-vante com a desregulamentação do mercado su-croalcooleiro nacional. Elas passam por um in-tenso processo de seleção e de treinamento damão-de-obra, nos quais a qualificação prévia, aidade, a saúde e a capacidade de adaptação aosnovos processos de trabalho adquirem importân-cia fundamental tanto na escolha como na con-tratação dos trabalhadores (SCOPINHO, 1995).

Outra mudança organizacional que jácolabora (e irá colaborar ainda mais) no processode difusão é a relativa à compreensão de que aotimização da colheita depende de transforma-ções no planejamento da lavoura como um todoe nas suas interfaces com o transporte e recep-ção da matéria-prima na unidade processadora,além da necessidade de se adotar uma novalogística operacional. Sob este último aspecto,GENTIL (1977), por exemplo, já assinalava, hámuito tempo, que um fator de otimização estariana constituição de uma frota composta por veí-culos de manutenção em campo para trocas deóleos lubrificantes, graxas e fluidos hidráulicos,abastecimento de combustível, contendo ferra-mentas e peças de reposição à disposição, juntocom o carro oficina, para atender a colhedora nosserviços necessários, e composta também porum carro pipa para lavagem da colhedora, antesde efetuar os serviços de lubrificação e troca depeças. Seu argumento foi que o rendimento ope-racional dessas máquinas dependeria, além dahabilidade do operador, de uma eficiente estrutu-ra de apoio, dimensionada para cada frente detrabalho.

A intensificação do uso de máquinasno campo, por sua vez, tem relação direta com oaumento da compactação dos solos, prejudicialao desenvolvimento da cana no plantio e nasrebrotas. Esta conseqüência é bastante aumen-tada com o uso de colhedoras e de caminhões

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ceu de carga, devendo o conjunto ser redimensiona-

do para reduzir o “passeio” dos veículos pesados,os quais podem ser substituídos por tratores ecarretas de alta flutuação, utilizados como veícu-los de transbordo. Isso significa a possibilidadede usar, no transporte intermediário, até a unida-de industrial, caminhões ou cavalos mecânicoscom maior capacidade de carga. Essas altera-ções no desenho da frota de transporte interme-diário e na logística operacional do fluxo de maté-ria-prima dependem de investimentos, compara-ção de custos e de taxas de retorno. As decisõesresultantes, por seu turno, estarão condicionadaspor uma capacitação acumulada prévia, queacaba sendo decisiva na determinação dos ren-dimentos físicos e dos custos, e que requer detempo para se materializar.

A otimização dessas mudanças organi-zacionais depende do desenvolvimento de técni-cas complementares, de alterações e ajustes oude pequenos inventos que funcionam afetandodiretamente os desempenhos operacionais e cus-tos, colaborando para a difusão do processo deinovação. Este é o caso do arranjo dos compo-nentes físicos (colhedora, caminhões e tratores,veículos de manutenção, etc.) envolvidos na ope-ração da colheita mecanizada e sua operaciona-lidade do ponto de vista econômico, que deman-dam o desenvolvimento de métodos e, principal-mente, de levantamentos das condições locais edo estabelecimento de critérios para quantificar onúmero de veículos que racionalizem as opera-ções mecanizadas (RÍPOLI e BALASTREIRE,1976), e que, atualmente, implicam o domínio dainformática aplicada (desenvolvimento de softwa-res), ainda incipiente na área agrícola.

No que se refere às adaptações e alte-rações na sistematização dos talhões, FURLANINETO (1994) estudou-as detalhadamente, apon-tando para a necessidade de: a) alterações nocomprimento dos talhões, que, no sistema ma-nual, têm comprimento de 200m a 300m, e queprecisam ser expandidos para 400m ou maispara aumentar o rendimento das colhedoras,ocasionado pela redução das manobras de ca-beceira e estabilização da velocidade média;b) alterações na forma de se fazer as linhas dossulcos, que devem seguir paralelas às curvas denível, evitando-se a presença dos “bicos”, sulcosque vão diminuindo de tamanho e que implicamaumento de manobras da colhedora e do veículode carga sobre o talhão; c) sistematização dosterrenos, consistindo em nivelar o terreno antes

do plantio para se evitar as micro-ondulações queimpedem uma melhor evolução da velocidademédia da colhedora e prejudicam o corte basalcorreto dos colmos; e d) alteração e diminuiçãodo desnível entre o carreador e o talhão, paraevitar que as linhas de cana próximas ao carrea-dor tenham de ser cortadas manualmente.

No caso das alterações na recepção dacana, isso passa a ocorrer pela mudança no tipode corte da cana, que por ser picada em toletes,ao invés de cortada inteira, deve ser descarrega-da diretamente na mesa de recepção, sem pas-sar por lavagem. Isso implica, no mínimo, umamudança de localização física a fim de permitir odescarregamento por gravidade (RÍPOLI e PA-RANHOS, 1987).

Nesta linha de técnicas complementa-res figura também a proposição de uma nova sis-temática de plantio de cana (FURLANI NETO,1995) para melhorar o desempenho das colhedo-ras, chamado de sistema de sulcos alternadosduplos. Nesse sistema altera-se o espaçamentotradicional de 1,40m x 1,40m para 1,40m x0,80m, originando duas linhas plantadas à dis-tância de 0,80m, seguidas de outras duas linhasplantadas a 0,80m, sendo esses duplos sulcosdistanciados entre si por 1,40m, permitindo o cor-te simultâneo de duas linhas e reduzindo o tráfe-go no talhão em 36%. O menor pisoteio podecontribuir para aumentar a longevidade e produti-vidade dos canaviais, bem como para reduzircustos de operação.

As melhorias incrementais, após a in-trodução que colaboram para refrear ou impulsio-nar a difusão da mecanização, podem ser dedu-zidas do confronto de resultados obtidos na co-lheita mecânica de cana crua face à colheita me-cânica de cana queimada, conforme estudo reali-zado por FURLANI NETO et al. (1996), que de-tectaram, ao mesmo tempo, uma diferença nacapacidade efetiva do corte em cana queimada,relativamente ao corte de cana crua, e uma qua-lidade tecnológica do brix caldo, da pol caldo e dafibra significativamente superiores para a canacrua. Esses resultados refletem as alteraçõestécnicas no sistema de limpeza das colhedoras eos avanços tecnológicos incorporados nas colhe-doras atuais, enquanto as diferenças de capa-cidade estão relacionadas fortemente às caracte-rísticas varietais (maior ou menor quantidade defolhas).

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ta8 - CONCLUSÃO

Conclui-se, pelas evidências levanta-das, que os fatores do lado da demanda têmrealmente significado efetivo na definição da di-reção geral do processo de inovação. A uma re-lativa fragilidade de seus sinais, refletidos nospreços relativos dos fatores, nos diferenciais decustos e nos níveis de novos investimentos exigi-dos, tem correspondido uma baixa taxa de me-canização do corte no Estado de São Paulo,empiricamente observável. Mas, além deles, háuma gama ponderável de fatores do lado daoferta que surgem por razões econômicas e queacabam adquirindo uma dinâmica própria, deter-minadora da seqüência em que se processam asmudanças tecnológicas e da velocidade de difu-são do progresso técnico, ambas conferindo umadimensão real e factível à variável tempo.

A análise do processo de inovação pro-porcionada pelos fatores do lado da oferta de tec-nologia ajudam a compreender melhor esse fe-nômeno econômico da mecanização, embora noestágio em que ora se encontra dificilmente che-

ga a ser modelizável e, portanto, dotada de ca-racterísticas de previsibilidade. Por enquanto, per-mite apenas identificar as principais trajetórias tec-nológicas seguidas, as soluções encontradas, ohorizonte de problemas que ainda irá exigir es-forços de pesquisa e desenvolvimento, suscitan-do, ao mesmo tempo, a necessidade de conhecermelhor e de equacionar os fatores que podem re-tardar ou acelerar o processo de difusão. Tais fa-tores se inserem nas estratégias competitivas dasempresas da indústria de bens de capital, no con-texto institucional, nas restrições de solos aptos,na capacitação dos recursos humanos e nas me-lhorias complementares, entre outras.

A compreensão desse fenômeno nasua amplitude, além de permitir uma atuação depolíticas públicas, visando articular seus váriosaspectos com o objetivo de otimizá-lo, pode con-tribuir para o estabelecimento de medidas quepossibilitem adequar os impactos, seja em níveldo emprego e de suas transformações nas rela-ções sociais de produção, seja em nível das ren-das regionais, pelas mudanças espaciais quepoderão ocorrer.

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FATORES EXPLICATIVOS DA MECANIZAÇÃO DO CORTENA LAVOURA CANAVIEIRA PAULISTA

SINOPSE: A análise feita sugere - face à intensa desregulamentação econômica ora enfrenta-da pelo subsetor sucroalcooleiro, associada às mudanças nos mercados internacionais, a necessidadede ajustes para adequá-lo à nova realidade, mais competitiva - situação na qual a geração e difusão deinovações tecnológicas torna-se um vetor primordial. A maior competitividade almejada depende muitodo progresso técnico na lavoura, produtora de uma matéria-prima com alto peso na composição doscustos de açúcar e de álcool. A plena mecanização do processo produtivo agrícola da cana-de-açúcar,através da incorporação do corte mecanizado, representará um avanço técnico essencial para a reduçãodestes custos.

O caso paulista revela que certos fatores do lado da demanda - principalmente a evolução dossalários em relação aos preços - não foram até agora francamente estimulantes. Por sua vez, as evidên-cias sobre os fatores influentes na direção do desenvolvimento tecnológico mostram que houve váriosavanços incrementais e sistêmicos aumentando a adaptabilidade das máquinas e equipamentos dispo-níveis às condições da lavoura paulista, bem como à própria eficiência da colhedoras. Com o estabele-cimento de um horizonte de perspectivas e de problemas técnicos, surge a necessidade de obter melho-rias nos sistemas de limpeza da matéria-prima, face à maior demanda por corte de cana crua. No pro-cesso de difusão, por seu lado, percebem-se algumas grandes dificuldades, decorrentes da complexida-de dos fatores envolvidos, que vão desde a necessidade de adoção de nova sistemática de planeja-mento da lavoura, adequando-a ao corte mecanizado, até a restrição dos solos aptos, além de ser de-terminada pelas estratégias das empresas produtoras das máquinas, pelas mudanças organizacionaisnos processos de trabalho e na organização setorial e pelas inovações incrementais que otimizam o usodas máquinas e o rendimento físico da cultura.

Palavras-chave: mecanização, cana-de-açúcar, tecnologia.

EXPLANATORY FACTORS FOR THE CUTTING MECHANIZATION OF SÃO PAULO ‘SSUGARCANE CROP

ABSTRACT: The analysis suggests, vis-a-vis the strong economic deregulation the Braziliansugarcane industry has been facing associated with great changes in the international markets, the needfor adjustments that will conform this sector to a new and more competitive reality. In this new situation,the generation and difusion of technological innovations become prime vectors. The desired increase incompetitiveness relies heavily on the technical progress in agriculture, sugarcane being a raw materialheavily weighing in the costs composition of both sugar and ethanol. The full mechanization of its produc-tive process, through the incorporation of machine harvesting, will undoubtedly represent an essentialtechnical improvement in the reduction of these total costs.

The case of São Paulo state reveals that some demand-side factors - mainly the evolution ofwages relative to prices - have not been exceedingly stimulating up to now. On the other hand, supply-side evidence about the factors influencing the technological development trend show many incrementaland systemic advances. These amplify not only the adaptability of the machines and equipment availablefor São Paulo’s farming conditions, but also the machines harvesters efficiency. The establishment of anew horizon of technical perspectives and problems has promoted the advent of the necessity to improvethe raw material’s cleaning systems due the growing demand for the harvesting of unburn sugarcane.As for the difusion process, some great dificulties can be perceived on account of the complexity of thefactors involved. Among them are the need for adopting a new agricultural planning system and adjusting

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tait to the mechanical harvesting; the restriction of the soil’s aptitude, determined by the strategies of agri-cultural machines manufacturers, the strutural changes both in the labour processes and in the industry’sorganization, in addition to the incremental improvements that have been optimizing the use of machinesand the crops physical returns.

Key-words: mechanization, sugarcane, technology.

Recebido em 31/08/98. Liberado para publicação em 08/10/98.