FAVELAS RISCO URBANO

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Clara Waidergorn

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Livro

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C l a r a W a i d e r g o r n

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FAVELA,RISCO URBANO

2º edição - 2013

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ANO 2 - 2013 NÚMERO 2

AUTORIA Clara Waidergorn

PATROCÍNIO

Urbaniza Engenharia

COLABORADORES

Célia Aquarone de OliveiraSuzu Chazan

Denise MesquitaJosé Roberto dos Santos

Danielly Baia

ASSESSOR DE IMPRENSA

Giuliana Aquarone

REVISÃO

Sabino Ferreira Afonso

PROJETO GRÁFICO

Eduardo Briquet

IMPRESSÃO

Ayala Gráfica

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PALAVRA DA EMPRESA

Está sendo elaborado_______________________

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a empresa Urbaniza Engenharia, na figura de seu Diretor Lourenço Linhares, por colaboração, patrocínio e fornecimento de dados e fotos de trabalhos executados.

Agradeço ao professor Marcos Cintra e ao Vereador Laércio Benko, por compartilhar opiniões técnicas sobre o assunto.

E finalmente a minha família que me apoiou nesta empreitada.

CLARA WAIDERGORN

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APRESENTAÇÃO

O livro de autoria da pedagoga Clara Waidergorn pretende compartilhar experiências de intervenções sociais em favelas e aproximar o leitor da realidade de vida, desta parcela da população, em vários estados do Brasil.

O objetivo principal é o de retratar experiências vivenciadas pela autora em serviços prestados em parceria com uma empresa de engenharia onde na sua execução, teve a oportunidade de em todo o território nacional, participar do dia a dia da vida de moradores na maioria de baixa renda, de ocupações irregulares.

Pela sua formação acadêmica em pedagogia, aborda questões habitacionais relacionadas as de educação e de identidade cultural, que impactam diretamente nas soluções engendradas e ou pretendidas pelas políticas públicas utilizadas.

Embora não pretenda criticar as ações de governo e ao contrário, aponta o desenvolvimento do setor, tem como principal objetivo, buscar evidências na prioridade da educação para a concretização das modalidades de intervenções na área habitacional.

Afirma que as favelas, cada vez mais se entitulando como comunidades, representam um modo de vida não erradicado em si mesmo e só possível de erradicar, através das pessoas que a habitam.

As intervenções nestes territórios emolduram modo de vida da população, neles representados, com identidade cultural, educação, histórias. Ao arrumar seus pertences para novas realidades, as pessoas carregam estes legados em suas bagagens.

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Prefácio

Apresentação

Introdução

CAPITULO I

A casa sem endereço, no Brasil

As Favelas

As regiões e suas manifestações culturais

CAPITULO II

Nas favelas do Brasil, diferenças culturais

Fatos e fotos

CAPITULO III

A vida como ela é...

Que Jeito é esse!

CAPITULO IV

Onde está o foco?

CAPITULO V

Relatos dos moradores

CAPÍTULO VI

Bibliografia

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PREFÁCIO POR MARCOS CINTRA

Está sendo elaborado_______________________

BIOGRAFIA DO ECONOMISTAMARCOS CINTRA

Marcos Cintra é professor-titular da Escola de Administração de Empresas de São

Paulo (EAESP/FGV), onde ingressou mediante concurso público em 1969. É também

o idealizador da proposta do imposto único. Em 1997 foi eleito vice-presidente da

Fundação Getúlio Vargas, cargo que ocupa até o momento.

Obteve quatro títulos superiores pela Universidade de Harvard (EUA): Bacharel

em Economia (B.A cum laude, 1968), Mestre em Planejamento Regional (M.R.P.,

1972), Mestre em Economia (M.A., 1974) e Doutor em Economia (Ph.D.,1985). É

professor de microeconomia, macroeconomia, finanças públicas, economia agrícola

e desenvolvimento econômico nos cursos de Administração de Empresas e de

Administração Pública da FGV.

Foi chefe do Departamento de Economia da EAESP/FGV entre 1985 e 1987, e diretor

da instituição de 1987 a 1991, quando introduziu os cursos de mestrado e doutorado

em Economia de Empresas.

É autor de diversos livros sobre finanças públicas, teoria econômica e economia

agrícola, no Brasil e no exterior. Além de vários artigos técnicos (ver Platafoma

Lattes para seu memorial completo)foi a proposta do Imposto Único que o tornou

conhecido. Dos trabalhos mais conhecidos são “A Verdade sobre o Imposto Único”

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(LCTE 2003) e “Bank transactions: pathway to the single tax ideal” editado nos

Estados Unidos, também sobre a proposta do imposto único, onde também apresenta

uma visão crítica sobre impostos sobre valor agregado (IVA´s. É colunista do caderno

Dinheiro da Folha de São Paulo. É colaborador regular dos jornais Gazeta Mercantil,

Correio Braziliense, Valor Econômico, Diário do Comércio e centenas de outros

veículos em todo o país.

Foi vereador de São Paulo entre 1993 e 1996, e secretário do Planejamento,

Privatização e Parceria do Município de São Paulo em 1993.

Em 1998 foi eleito deputado federal pelo PL de São Paulo com 132.266 votos,

cargo que ocupou de 1999 a 2003. Como parlamentar foi membro das Comissões de

Finanças e Tributação e de Reforma Tributária e presidente da Comissão de Economia,

Indústria e Comércio.

Foi secretário municipal das Finanças de São Bernardo do Campo de 2003 a 2006.

Nas eleições de 2008 foi eleito vereador de São Paulo pelo PR, e logo nomeado pelo

prefeito Gilberto Kassab secretário municipal de Desenvolvimento Econômico e do

Trabalho.

Marcos Cintra apresentou e aprovou em todas as comissões parlamentares competentes

da Câmara dos Deputados o projeto do Imposto Único Federal (PEC 474/2001). O

projeto acha-se na pauta de votação naquela Casa.

Como vereador em S.Paulo foi autor da lei que criou em 1995 os CEPAC´s (Certificado

de Potencial Adicional de Construção). O tema foi posteriormente incorporado no

Estatuto da Cidade e tornou-se um dos mais importantes e inovadores mecanismos

de financiamento de investimentos públicos urbanos, sendo amplamente utilizado

na cidade de S.Paulo. Também está sendo implantado em várias outras metrópoles

brasileiras, entre elas no Rio de Janeiro.

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PREFÁCIO POR LAERCIO BENKO

Verdadeiros fenômenos urbanos, é assim que defino tão importante obra escrita

por minha amiga Clara Waidergorn. ‘As favelas nas cores do Brasil’ – a autora

traduz com propriedade toda experiência empírica nas favelas brasileiras. Longa

trajetória em uma narrativa a partir da cultura de cada região do País, visitada por

Clara, realidades que conflitam em muitos momentos com o princípio da dignidade

humana, prevista pela Constituição Brasileira de 1988, esta que conota com

relevância os direitos iguais e inalienáveis a todo cidadão deste território brasileiro,

tendo como base a liberdade, a justiça, a paz e o desenvolvimento social. E é

nesta obra que, por meio de depoimentos, a autora revela a dura realidade dos

moradores que por reiteradas vezes se veem entre os meliantes e a polícia, total

vulnerabilidade que promove aos cidadãos e seus familiares, situações de risco e

desconforto, quiçá pânico.

Outro cenário de risco é o da falta de projeto arquitetônico e de engenharia,

que visem edificações seguras. Assim, o cotidiano de milhares de moradores das

‘favelas’ ficam por conta da falta de políticas públicas em meio a um emaranhado

de construções desordenadas, e é claro, despadronizadas e tão pouco sem o

imprescindível saneamento básico alinhado a sonhada pavimentação. Mas, este

panorama não é o maior complicador registrado nesta obra, na minha visão é o

que está por vir. Entretanto, não é algo que nos tempos de hoje o faça ter uma

taquicardia. Infelizmente o dia a dia destas pessoas se transforma em dados

estatísticos e são elencados pelas editorias policiais, pautadas para linhas

sensacionalistas das principais capaz do país. Reportagens que tratam de anunciar

o crescimento abusivo do tráfico de drogas, entre outros, atrelados a ousadia dos

criminosos frente às operações policiais.

Por fim, a autora discorre e compara o conceito de comunidade a cerca das Cidades

de São Paulo, Rio de Janeiro, Maranhão entre outras. Revela ainda como foi o

trabalho social, ao qual participou no quesito intervenções de reassentamento

e encerra com os temas cujos objetivos versam sobre as ações de educação,

organização e mobilização da comunidade e o impacto de aceitação junto a estas

grandiosas comunidades urbanas.

A Clara Waidergom meus sinceros votos de muito sucesso pela obra. E aos homens

públicos do nosso país, o apelo para um olhar de compromisso e comprometimento,

pois tenho certeza que só assim a eficácia almejada por muitos nesta obra, poderá

se estabelecer nas “Favelas nas cores do Brasil” e em muitas outras que ainda estão

no anonimato.

Laercio BenkoPSH

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BIOGRAFIA DO ADVOGADOLAERCIO BENKO

Advogado Dr. Laércio Benko Lopes que trouxe consigo larga experiência nas diversas

funções exercidas:

Formado em Bacharel de Direito (Faculdade de Direito de Osasco)

Pós Graduado em Direito Tributário pelo CEU – Centro de Extensão Universitária

Atualmente é sócio majoritário da Advocacia Benko Lopes Presidente Municipal do

PHS de São Paulo

Fundador e Presidente da Associação Brasileira dos Contribuintes - www.abcbr.org.br

Presidente do Lions Clube de São Paulo Centro – em três gestões

(2003/2004 – 2005/2006 – 2006/2007)

Presidente de Divisão LC-2 A-2 – em 1 gestão (2004/2005)

Presidente do Comalc – em uma gestão (2006/2007)

Membro da divisão do Comalc Centro 2 – em uma gestão (2007/2008)

Membro da divisão do Comalc Centro 1 – em uma gestão (2008/2009)

Diretor de Relações Externas – em uma gestão (2008/2009)

Membro do Diretório Nacional do Partido Humanista da Solidariedade – PHS (desde 2011)

Presidente Estadual do Partido Humanista da Solidariedade – PHS São Paulo (desde 2011)

Vereador em São Paulo/SP, sendo membro da Comissão de Constituição e Justiça (2013/2016)

PREFÁCIO POR SILVIO FIGUEIREDO

Bomba social.

Termo que vem sendo largamente utilizado para caracterizar a baixa qualidade no

ensino, o aumento vertiginoso da criminalidade, e porque não, a segregação urbana

que ocorre no Brasil.

E todos esses temas estão intimamente ligados. A baixa qualidade da educação, que

diminui o acesso a empregos e melhores salários, levando o indivíduo a buscar por

habitações alternativas, em parcelamentos urbanos segregados, com ausência de

melhoramentos, infraestrutura e serviços públicos.

A inércia do Poder Público, que permitiu o apossamento de áreas públicas e a

especulação imobiliária desmedida, ajudando a criar esse fenômeno nas regiões

mais distantes dos grandes centros, muitas delas em áreas de risco, de mananciais

ou de áreas de preservação ambiental.

Ainda a ineficiencia do Poder Público para atender à demanda por habitações nas

últimas décadas e as dificuldades que se impõe aos empreendedores interessados

em aumentar a oferta.

Há diversas disciplinas que podem, individual ou coletivamente tratar do problema,

traçando novos paradigmas em nosso País.

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Mas só a pesquisa, dados estatísticos, empenho dos profissionais e muita

criatividade poderão propor soluções eficientes e alternativas que solucionem ou

minimizem e problema dos assentamentos precários.

Enquanto assistimos o início de um grande movimento visando promover a

regularização de milhares de parcelamentos urbanos, desde 2007, cuja intenção

primeira é evitar a favelização e resgatar a dignidade do cidadão, a autora, grande

parceira, contribuiu de forma relevante, emprestando seu conhecimento, dividindo

experiências e metodologias extremamente úteis ao nosso trabalho.

É com imenso prazer que participo desse trabalho, que deverá ser fonte de dados,

experiências e conhecimento que só o profissional que milita diariamente pode

oferecer.

Abordando dados históricos, estatísticos, sociais e culturais, a autora analisa,

critica e propõe caminhos para a solução ou diminuição desse fenômeno mundial.

E alerta para a questão fundamental envolvida nesse processo; a educação, o

conhecimento, a formação do indivíduo como um todo, enfim, o resgate da

cidadania e a dignidade social.

Silvio Figueiredo

BIOGRAFIA DO ARQUITETOSILVIO FIGUEIREDO

Arquiteto, com especialização em planejamento urbano, atua há trinta anos nas

esferas pública e privada, (Governo do Estado de São Paulo em diversos setores,

Prefeitura Municipal de Guarulhos), com ênfase nas questões habitacionais e seus

desdobramentos.

A implementação do Programa Cidade Legal e licenciamento de empreendimentos

habitacionais, nos moldes propostos pelo profissional, de forma inovadora, é

resultado de duas décadas de pesquisa aplicados às questões de forma realista e com

resultado sustentável.

2011 Ideal Arquitetura e Comunicação Ltda

( Sócio )

- Divisão de Regularização Fundiária e Licenciamentos - Prospecção de novos

empreendimentos

2007-2011 Governo do Estado de São Paulo Secretaria de Estado da Habitação

( Secretário Executivo )

- Programa Estadual de Regularização Fundiária Cidade legal - Graprohab – Grupo de

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Aprovação de Projetos Habitacionais - Assessor Técnico – Gabinete do Secretário de

Estado

2005-2006 Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo

Gabinete Deputado Estadual Paulo Sérgio – Partido Verde - Assessoria técnica

Planejamento urbano, meio ambiente e programas habitacionais – projetos de leis

1998-2007 Instituto Ambiental e Cultural Terra Azul – Guarulhos. SP

Vice Presidente

OSCIP – Organização da Sociedade Civil de Interesse Público

Organização não governamental, sem fins lucrativos, voltada a programas de

conscientização ambiental, projetos de revitalização e recuperação de áreas

degradadas, controle e preservação ambiental, assessoria e consultoria técnica

ambiental;

1986-1996 Prefeitura Municipal de Guarulhos - SP

Assessor do Gabinete - Diretor de Planejamento Urbano

Membro das comissões de estudos aeroportuários e seus diversos impactos no meio

urbano.

1984-1986 Secretaria de Estado dos Negócios do Interior- SP

CEPAM – CENTRO DE ESTUDOS E PESQUISAS DAS ADMINISTRAÇÕES MUNICIPAIS

Assessor – Gabinete do Secretário e Presidência

Articulação governamental, visando assessoria e cooperação para modernização das

administrações regionais.

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INTRODUÇÃO

01 - 0 CONTEXTO

Com o objetivo de compartilhar experiências em trabalhos com favelas no território

nacional e desmistificar um assunto polêmico e do interesse de leigos, estudiosos

e técnicos envolvidos com trabalhos similares, iniciei este livro me baseando na

oportunidade que tive na minha carreira profissional de vivenciar experiências com

moradores de favela em regiões distintas, com histórias de vida únicas e facinantes.

Quando me perguntam sobre meu trabalho, e digo que trabalho com favelas, as

reações das pessoas são as mais diversas, alguns dizem que acham muito bonito

quem cuida dos pobres, outras dizem que deve ser muito perigozo, algumas não

levam a sério e acham perda de tempo se preocupar com a escória da sociedade e na

verdade nenhum sabe direito o que faço, quais são os objetivos, e quais os resultados

pretendidos.

Afinal o termo até foi modificado para ser batizado de “comunidades” algum iluminado

achou que com isso se perderia o estígma que o pesado nome para este tipo de

moradia refletia para os residentes destes locais. Na realidade o nome não importa

e não é capaz de modificar o jeito de viver desta parcela da população, excluída do

mercado formal de habitação.

O trabalho na realidade é facinante, a experiência única e implantar ações nestes

territórios é de fato uma missão mais multidissiplinar que de fato social, esta afirmação

não pretende excluir o trabalho social tão importante no processo, mas apresentar a

problemática como um todo urbanístico, ambiental, jurídico, social, de engenharia e

acima de tudo de muita determinação e entendimento a cerca de sociedades distintas

com organização própria, com identidades culturais diversificadas, para muitos

incompreensíveis, e para os moradores o seu jeito de viver.

Estive em muitos locais, norte, nordeste, sudeste e sul do país e troxe na bagagem

mais liçoes que ensinamentos, já que aprendi a respeitar este jeito de viver, uma

identidade cultural que nos trabalhos realizados não podem ser excluídas do todo,

sem esta observância, nenhum trabalho com esta população terá sucesso.

Para alguns este conceito pode parecer irrelevante, mas o jeito de viver dos moradores

retrata cada cultura, sua história, organização, legados e também o amor a Favela e

o conceito de morar bem de cada habitante.

Nossa casa é muito mais que paredes engendradas, tem a conotação de lar de

ambiente familiar e de memória de vida, nosso território é o retrato do que somos e

nossa vida é feita de muitos tus.

O bar do Jõao, a casa da Maria, o lugar onde compro o alimento, a briga do vizinho,

os meninos que protegem as pessoas, o baile que vai acontecer, a escola dos meus

filhos, o barraco que caiu, a moça da prefeitura, a festa da fulana, o cheiro, o lixo, os

catadores, as vielas, a ponte construída, a mulher do amendoim, a surra do marido,

meus amigos, familiares, o mercadinho, os puchadinhos, os gatos de luz e água, o

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esgoto e alguns ainda o rio, o mar, as barricadas, as brincadeiras típicas, a festa

religioza, o trem, a rodovia, o córrego, a construtora e outros, retratam o dia a dia,

das tais comunidades.

Quando qualquer intervenção está prevista, o medo, a espectativa, a rádio pião, os

do contra, a resistência, os politicos, os jornalistas, as manifestações e o assunto

do local.

Para os executores o inicio de todo trabalho em favela tem esta cara, de não vai ser

facil, muitas ações terão que ser implantadas, antes, durante e após as intervenções.

As intervenções em favela ocorrem por vários motivos, ora de urbanização, ora de

regularização, ora para eliminação de riscos de vida, ambientais ou ainda legais,

por necessidade de obras viárias, de ferrovias, rodovias, transporte, construção de

equipamentos, erradicação e reassentamento, ou até para a segurança, como no

caso do RJ com as UPPs.

A metodologia utilizada nestas intervenções por motivos obvios requer um trabalho

multidissiplinar e de apoio e acompanhamento social e este é o meu trabalho. Não

cuido de pobres, nem acho perigozo e o assunto tem sim importância para todas

estas frentes e para promover o desenvolvimento social e sustentável para quem se

destina.

Ainda hoje muitos acreditam que trabalhar com favelas em remoções de moradias,

basta colocar o caminhão na porta da casa destes ocupantes de terrenos alheios,

que eles saem. Outros acham que é só fazer o cadastro, outros ainda acham que é

errado mecher com eles, são pobres carentes e coitadinhos, alguns acham que todos

são bandidos, e alguns simplismente ignoram e pedem que a prefeitura remova ou ao

menos coloque um muro bem alto para não deixar a cidade feia.

E na realidade a pretenção é de resolver o problema ambiental, urbanístico, fundiário

e social de forma definitiva, será que é possivel?

Trabalho a 20 anos com a temática e as respostas estão nas perguntas, o completo

entendimento do modo de vida desta camada da população é a base de todo o

trabalho pretendido, sem esta visão, nenuma ação será possibilitada, nenhum tijolo

poderá ser erguido e nenhuma obra será concluída.

E de casa em casa iniciamos a dificil missão de mudar de vida, de mudar o jeito de

viver destas famílias, de formar cidadãos, de tornar o produto final sustentável para

a auto gestão da oferta ou benefício, de permitir a abertura as frentes necessárias e

de remover mais a favela do morador que o morador da favela.

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TULO

01CAPÍTULO I

02 - A CASA SEM ENDEREÇO, NO BRASIL.

Como estamos falando do Brasil o próximo capítulo vai expor para os leitores o

contexto territorial e cultural onde estão inseridos estes clamados excluídos.

O Brasil, oficialmente República Federativa do Brasil, é uma república federativa

presidencialista localizada na América do Sul, formada pela união de 26 estados,

um distrito federal, divididos em 5.  565 municípios. Faz fronteira a norte com a

Venezuela, com a Guiana, com o Suriname e com o departamento ultramarino da

Guiana Francesa; ao sul com o Uruguai; a sudoeste com a Argentina e com o Paraguai;

a oeste com a Bolívia e com o Peru e, por fim a noroeste com a Colômbia. Os únicos

países sul-americanos que não têm uma fronteira comum com o Brasil são o Chile

e o Equador. O país é banhado pelo oceano Atlântico ao longo de toda sua costa

norte, nordeste, sudeste e sul. Além do território continental, o Brasil também possui

alguns grandes grupos de ilhas no oceano Atlântico como os Penedos de São Pedro

e São Paulo, Fernando de Noronha, Trindade e Martim Vaz, no Espírito Santo, e um

complexo de pequenas ilhas e corais chamado Atol das Rocas.

Com 8. 514. 876,599 quilômetros quadrados de área, equivalente a 47% do território

sul-americano, e com cerca de 190 milhões de habitantes, o país possui a quinta

maior área territorial do planeta e o quinto maior contingente populacional do

mundo. O Brasil é o único país falante do português das Américas, além de ser uma

das nações mais multiculturais e etnicamente diversas do mundo, resultado da forte

imigração vinda de muitos países.

O Brasil foi uma colônia do Império Português desde o desembarque de Pedro Álvares

Cabral em 1500 até 1815, quando se tornou um reino unido com Portugal. Em 1822

o país se tornou independente, formando o Império do Brasil, época em que esteve

sob a soberania da família imperial brasileira, um dos ramos da Casa de Bragança, por

quem era governado desde 1500, no Brasil Colônia. Em 1889 torna-se uma república,

embora a legislatura bicameral, agora chamada de Congresso, remonte à ratificação

da primeira Constituição em 1824. Desde a proclamação da república brasileira em

1889, o Brasil tem sido governado por três poderes, o judiciário, legislativo e o

executivo, em que o chefe do último, eleito a cada quatro anos pelo voto popular, é

o presidente do Brasil.

Nona maior economia do planeta em paridade do poder de compra (2008), oitava maior

em PIB nominal (2009) e maior economia latino-americana, o Brasil tem hoje forte

influência internacional, seja em âmbito regional ou global. Em 2005, encontrava-se

na 39ª posição entre os países com melhor qualidade de vida do planeta, além de

possuir entre 15 e 20% de toda biodiversidade mundial, sendo exemplo desta riqueza

a Floresta Amazônica, com 3,6 milhões de km², a Mata Atlântica, o Pantanal e o

Cerrado. O Brasil é membro fundador da Organização das Nações Unidas, do G20, do

Mercosul, da União de Nações Sul-Americanas e é um dos países BRIC.

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CAPI

TULO

01

Trinta e quatro anos após o Descobrimento, o litoral brasileiro estava sendo saqueado

a por piratas em busca de pedras preciosas e madeiras raras. Para manter o controle

do território, a coroa portuguesa decidiu criar as capitanias hereditárias, 15 faixas de

terra que se estendiam da costa até a linha imaginária do Tratado de Tordesilhas. Para

tomar conta desses primeiros “estados” do país, foram nomeados capitães-donatários.

Em 1709, os portugueses resolveram reorganizar a colônia em função dos benefícios

específicos que cada região poderia trazer para a coroa. Nasceram, então, as sete

províncias, imensas extensões de terra com fronteiras mais bem definidas. Além dos

aspectos econômicos, a criação das províncias visava obter um controle ainda maior

sobre o território, constantemente ameaçado pela ação de piratas e do “olho grande”

espanhol.

Após a Independência, em 1822, o Brasil foi repartido em diversas novas províncias,

“rascunhos” do que viriam a serem os futuros estados. O mapa atual do Nordeste,

por exemplo, já está quase todo lá. No Sul, contávamos ainda com a província da

Cisplatina, que pertenceu ao Brasil até 1829, quando um movimento separatista

obrigou o país a reconhecer a independência da região, que deu origem ao Uruguai.

Rolaram grandes mudanças no mapa após a Proclamação da República, em 1889,

como a própria adoção da palavra estado para nomear as porções do território. Em

1942, o Brasil entrou na Segunda Guerra e, como estratégia de defesa e administração

das fronteiras, o governo desmembrou algumas áreas, criando novos territórios, como

Amapá e Guaporé, no norte, e Iguaçu, no sul. Mais tarde, alguns desses territórios

viraram estados, outros foram reintegrados à sua região de origem

A partir de 1960, ano da inauguração de Brasília, as últimas mexidas que deixaram

o Brasil com a cara que tem hoje, com seus 26 estados mais o Distrito Federal. Além

da “promoção” de alguns territórios, como Acre e Rondônia, os estados, Fernando

de Noronha voltou a fazer parte de Pernambuco, e nasceram Mato Grosso do Sul

(desmembrado do Mato Grosso) e Tocantins (fatiado de Goiás).

Nos últimos anos, chegaram várias propostas ao Congresso para a criação de novos

estados e territórios no país, sendo que muitas ainda estão em curso.

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TULO

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03 - AS FAVELAS

Favela, tal como definido pela agência das Nações Unidas, UN-HABITAT, é uma área

degradada de uma determinada cidade caracterizada por moradias precárias, falta

de infraestrutura e sem regularização fundiária. Segundo a Organização das Nações

Unidas, a porcentagem da população urbana que vive em favelas diminuiu de 47%

para 37% no mundo em desenvolvimento, no período entre 1990 e 2005.

No entanto, devido ao crescimento populacional e ao aumento das populações

urbanas, o número dos moradores de favelas ainda é crescente. Um bilhão de pessoas

no mundo vivem em favelas e esse número provavelmente irá crescer para 2 bilhões

em 2030. Outro relatório da ONU, divulgado em 2010, apontou que 227 milhões de

pessoas deixaram de viver em favelas na década de 2000.

O termo tem sido tradicionalmente referido aos vastos assentamentos informais

encontrados nas cidades do mundo subdesenvolvido e em desenvolvimento.

Muitos moradores opõem-se energicamente contra a descrição de suas comunidades

como “favelas”, alegando que o termo é pejorativo e que, muitas vezes, resulta em

ameaças de despejos. Muitos acadêmicos têm criticado a UN-HABITAT e o Banco

Mundial, argumentando que a campanha criada pelas duas instituições denominada

“Cidades Sem Favelas” levou a um aumento maciço de despejos forçados.

Embora suas características geográficas variem entre as diferentes regiões, geralmente

essas áreas são habitadas por pessoas socialmente desfavorecidas. Os edifícios de

favelas variam desde simples barracos a estruturas permanentes e bem-estruturadas.

Na maioria das favelas ocorre a falta de água potável, eletricidade, saneamento e

outros serviços básicos.

A origem do termo em português brasileiro favela surge no episódio histórico

conhecido por Guerra de Canudos. A cidadela de Canudos foi construída junto a

alguns morros, entre eles o Morro da Favela, assim batizado em virtude da planta

Cnidoscolus quercifolius (popularmente chamada de favela) que encobria a região.

Alguns dos soldados que foram para a guerra, ao regressarem ao Rio de Janeiro em

1897, deixaram de receber o soldo, instalando-se em construções provisórias erigidas

sobre o Morro da Providência.

O local passou então a ser designado popularmente Morro da Favela, em referência à

“favela” original. O nome favela ficou conhecido e na década de 1920, as habitações

improvisadas, sem infraestrutura, que ocupavam os morros.

As características associadas a favelas variam de um lugar para outro. Favelas são

normalmente caracterizadas pela degradação urbana, elevadas taxas de pobreza e

desemprego. Elas normalmente são associadas a problemas sociais como o crime,

toxicodependência, alcoolismo, elevadas taxas de doenças. Um grupo de peritos das

Nações Unidas criou uma definição operacional de uma favela como uma área que

combina várias características: acesso insuficiente à água potável, ao saneamento

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TULO

01

básico e a outras infraestruturas; má qualidade estrutural de habitação; superlotação; e

estruturas residenciais inseguras. Pode-se acrescentar o baixo estado socioeconômico

de seus residentes.

Como a construção desses assentamentos é informal e não guiada pelo planejamento

urbano, há uma quase total ausência de redes formais de ruas, ruas numeradas, rede de

esgotos, eletricidade ou telefone. Mesmo se esses recursos estão presentes, eles são

desorganizados, velhos ou inferiores. As favelas também tendem a falta de serviços

básicos presentes nos assentamentos mais formalmente organizados, incluindo o

policiamento, os serviços médicos e de combate a incêndios. Os incêndios são um

perigo especial para favelas, não só pela a falta de postos de combate a incêndios e

de caminhões de bombeiros, que não conseguem acessar as estreitas ruas e vielas,

mas também devido à proximidade das edificações e da inflamabilidade dos materiais

utilizados na construção.

As favelas apresentam altas taxas de criminalidade, uso de drogas e doenças.

No entanto, o observador Georg Gerster notou que (com referência específica às

“invasões” de Brasília) as “favelas, apesar de seus materiais de construção pouco

atraentes, podem ser também um local de esperança, cenas de uma contracultura,

com um grande potencial de incentivar mudanças e de um forte impulso.” (1978)

Stewart Brand também disse, mais recentemente, que “favelas são verdes. Elas têm

densidade máxima - um milhão de pessoas por quilômetro quadrado em Mumbai - e

uso mínimo de energia e de utilização de materiais. As pessoas ficam por perto,

a pé, de bicicleta, riquixá, táxi ou das universais lotações... Nem tudo é eficiente

nas favelas, no entanto. Nas favelas brasileiras, onde a eletricidade é roubada e,

portanto, livre, Jan Chipchase, da Nokia, descobriu que as pessoas deixam as luzes

acesas durante todo o dia. Na maioria das favelas a reciclagem é, literalmente, um

modo de vida.”.

Há rumores de que os códigos sociais nas favelas proíbam que os habitantes cometam

crimes dentro de seus limites. As gangues locais acabam se tornando uma milícia

particular da região, policiando-a a sua própria maneira. No entanto, a maioria das

favelas exibe altos índices de crimes violentos, em especial homicídios. A existência

das supostas milícias, segundo alguns estudiosos, aponta para a existência de uma

espécie de “código de honra” interno, o qual caso não respeitado, pode levar à

execução por parte deste efetivo como um Estado paralelo.

Em muitas favelas, especialmente nos países pobres, muitos vivem em vielas muito

estreitas que não permitem o acesso de veículos (como ambulâncias e caminhões de

incêndio). As faltas de serviços como a coleta de resíduos permitem o acúmulo de

detritos em grandes quantidades. A falta de infraestrutura é causada pela natureza

informal das habitações e pela ausência de planejamento. Além disso, assentamentos

informais enfrentam muitas vezes as consequências das catástrofes naturais e

artificiais, tais como deslizamentos de terra, terremotos e tempestades tropicais.

Incêndios é um problema frequente.

Muitos habitantes de favelas empregam-se na economia informal. Isso pode incluir

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venda de algum produto na rua, tráfico de droga, trabalhos domésticos e prostituição.

Em algumas favelas os moradores reciclam resíduos de diferentes tipos para a sua

subsistência.

Vamos aos poucos descobrir como a diversidade cultural e de identidade... estão

distantes umas das outras, quando se visita ou trabalha com a população carente,

nas ocupações irregulares, de risco ou de impedimentos legais, que as escâncaras

retratam as reais realidades que vivem hoje 26,4% da população.

Cumpri-me no entanto informar que diminuiu de 31,5% em dez anos devido à adoção

de políticas econômicas e sociais, à diminuição da taxa de natalidade e à migração

do campo para a cidade, disse o relatório da ONU.

Entre os países pesquisados, o Brasil está atrás apenas de China, Índia e Indonésia,

que, segundo a ONU, deram “grandes passos” para combater a precariedade das

moradias.

Os autores do estudo calculam que, mantida a taxa atual, o número de habitantes

de favelas aumentará seis milhões por ano até 2020, quando chegará a 889 milhões.

Apesar do incremento de 55 milhões no número absoluto de favelados no período

pesquisado, o relatório destaca que “227 milhões de pessoas no mundo deixaram

de viver em assentamentos precários entre 2000 e 2010 e passaram a fazer parte da

cidade formal”.

“Isto significa que, coletivamente, os governos do mundo alcançaram a Meta 11 do

Objetivo 7 dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (melhorar a vida de pelo

menos 100 milhões de habitantes em assentamentos precários para o ano 2020) em

2,2 vezes”, diz o texto. “ Mas o progresso que foi feito em relação à meta das favelas

ainda não foi o suficiente para conter o crescimento de assentamentos informais nos

países em desenvolvimento.” E também sua sustentabilidade no pós ocupação ainda

não alcança total autonomia.

A diversidade cultural refere-se aos diferentes costumes de uma sociedade, entre os

quais podemos citar: vestimenta, culinária, manifestações religiosas, tradições, entre

outros aspectos. O Brasil, por conter um extenso território, apresenta diferenças

climáticas, econômicas, sociais e culturais entre as suas regiões.

Os principais disseminadores da cultura brasileira são os colonizadores europeus, a

população indígena e os escravos africanos. Posteriormente, os imigrantes italianos,

japoneses, alemães, poloneses, árabes, entre outros, contribuíram para a pluralidade

cultural do Brasil.

Nesse contexto, alguns aspectos culturais das regiões brasileiras serão abordados.

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04 - AS REGIÕES E SUAS MANIFESTAÇÕES CULTURAIS.

REGIÃO NORDESTE

Entre as manifestações culturais da região estão danças e festas como o bumba meu

boi, maracatu, caboclinhos, carnaval, ciranda, coco, terno de zabumba, marujada,

reisado, frevo, cavalhada e capoeira. Algumas manifestações religiosas são a festa

de Iemanjá e a lavagem das escadarias do Bonfim. A literatura de Cordel é outro

elemento forte da cultura nordestina. O artesanato é representado pelos trabalhos de

rendas. Os pratos típicos são: carne de sol, peixes, frutos do mar, buchada de bode,

sarapatel, acarajé, vatapá, cururu, feijão-verde, canjica, arroz-doce, bolo de fubá

cozido, bolo de massa de mandioca, broa de milho verde, pamonha, cocada, tapioca,

pé de moleque, entre tantos outros.

REGIÃO NORDESTE

A quantidade de eventos culturais do Norte é imensa. As duas maiores festas

populares do Norte são o Círio de Nazaré, em Belém (PA); e o Festival de Parintins,

a mais conhecida festa do boi-bumbá do país, que ocorre em junho, no Amazonas.

Outros elementos culturais da região Norte são: o carimbó, o congo ou congada, a

folia de reis e a festa do divino.

A influência indígena é fortíssima na culinária do Norte, baseada na mandioca e em

peixes. Outros alimentos típicos do povo nortista são: carne de sol, tucupi (caldo da

mandioca cozida), tacacá (espécie de sopa quente feita com tucupi), jambu (um tipo

de erva), camarão seco e pimenta-de-cheiro.

REGIÃO CENTRO-OESTE

A cultura do Centro-Oeste brasileiro é bem diversificada, recebendo contribuições

principalmente dos indígenas, paulistas, mineiros, gaúchos, bolivianos e paraguaios.

São manifestações culturais típicas da região: a cavalhada e o fogaréu, no estado

de Goiás; e o cururu, em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. A culinária regional é

composta por arroz com pequi, sopa paraguaia, arroz carreteiro, arroz boliviano,

maria-isabel, empadão goiano, pamonha, angu, cural, os peixes do Pantanal - como

o pintado, pacu, dourado, entre outros.

REGIÃO SUDESTE

Os principais elementos da cultura regional são: festa do divino, festejos da páscoa

e dos santos padroeiros, congada, cavalhadas, bumba meu boi, carnaval, peão de

boiadeiro, dança de velhos, batuque, samba de lenço, festa de Iemanjá, folia de reis,

caiapó.

A culinária do Sudeste é bem diversificada e apresenta forte influência do índio,

do escravo e dos diversos imigrantes europeus e asiáticos. Entre os pratos típicos

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se destacam a moqueca capixaba, pão de queijo, feijão-tropeiro, carne de porco,

feijoada, aipim frito, bolinho de bacalhau, picadinho, virado à paulista, cuscuz

paulista, farofa, pizza, etc.

REGIÃO SUL

O Sul apresenta aspectos culturais dos imigrantes portugueses, espanhóis e,

principalmente, alemães e italianos. As festas típicas são: a Festa da Uva (italiana) e

a Oktoberfest (alemã). Também integram a cultura sulista: o fandango de influência

portuguesa, a tirana e o anuo de origem espanhola, a festa de Nossa Senhora dos

Navegantes, a congada, o boi-de-mamão, a dança de fitas, boi na vara. Na culinária

estão presentes: churrasco, chimarrão, camarão, pirão de peixe, marreco assado,

barreado (cozido de carne em uma panela de barro), vinho

CAPÍTULO 2

05 - NAS FAVELAS DO BRASIL, DIFERENÇAS CULTURAIS.

Assim como existem marcantes diferenças culturais no Brasil, nas favelas elas também

estão caracterizadas, mas com uma identidade própria, relacionada com o modo de

viver único, dentro e distante das cidades. Estas diferenças se confundem entre o

que consideramos rasoáveis condições de moradia, para a interpretação dos que de

fato moram nas favelas.

A influência cultural da região está presente nos becos e vielas, mas assume

uma característica de excusão da cidade, de um universo paralelo dependente

da infraestrutura das cidades, mas independente no seu modo de viver e esta

independência é fruto de luta e desejo dos moradores. Para o trabalho social, inserir

a favela na cidade é formar cidadãos, para os moradores das favelas ser cidadão é ter

o direito de viver onde está, do seu jeito.

Os valores e conceitos se conflitam, frente as realidades vivenciadas e para as

politicas habitacionais utilizadas pressupomos um dificil trabalho, que envolve

educação para a cidadania, mudanças de habitos e cotumes, mudança de identidade

cultural, mudança radical do jeito de viver.

Assim nosso trabalho inicial consiste em buscar indicadores e obter diagnósticos

precisos destes habitantes e seus territórios, antes de iniciar qualquer intervenção.

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Muito aquem destas pesquisas realizadas através de visitas domiciliares e analises

técnicas, está a sencibilidade do executor de enchergar o todo, o contexto, as

entrelinhas e o jeito de viver daquelas famílias para de fato conhecer as diferentes

realidades de cada território que se pretende intervir.

Morar em favela, para a muitos dos moradores significa ter muitos direitos e

poucos deveres, afinal podem deixar de pagar a energia, podem deixar de pagar o

abastecimento de água, podem construir sem alvará da prefeitura, podem ser carentes

e ter proteção das redes sociais, podem se assim entenderem, criar suas próprias

leis, podem até cometer crimes e terem escudo e não terem endereço, podem ter a

proteção do governo, das ongs, da igreja seja ela qual for e podem ter a identidade

de excluído, para obtenção de benefícios.

Podem ainda ampliar suas casas ao bel prazer ou necessidade para cima ou lado

ou fundos, podem ocupar áreas com impedimentos legais ou de risco, quando uma

emergência são sempre beneficiados de alguma forma e quando quiserem podem

voltar para seus ambientes, vendendo ou comercializando o benefício, sabem que na

realidade não podem, mas sabem também que não serão punidos.

Claro que entendemos não ser a ideal condição de moradia e entendemos que ser

cidadão é uma conquista, mas será que os moradores das favelas pensam assim?

E se não pensam será que a culpa é deles? Acredito que não, é uma questão em

parte cultural... e ou ainda intervenções equivocadas tanto sociais quanto legais ou

urbanísticas.

Muitas ações sociais foram implantadas nas favelas nas maiorias das obras de

urbanização das cidades, por iniciativa dos governos e por técnicos multidissiplinares

e qualificados.

E...para as intervenções se observou o ambiente e as diferentes realidades locais

antes de iniciar todo e qualquer trabalho social apresentando seus diagnósticos. A

sustentabilidade também foi tema de todas as discussões sobre as avaliações destes

trabalhos implantados.

Na teoria um avanço...nunca houve tanto investimento no trabalho social, ambiental

e de comunicação, observou-se meios adequados de mobilizar, educar, organizar,

capacitar, gerar emprego e renda e ainda houve grande preocupação com as questões

sanitárias, ambientais e patrimoniais. Muitas atividades foram propostas, com a

participação comunitária e foram também implantadas em diversas comunidades em

todo o Brasil.

Muitos resultados obtidos...mas pontuais, neste ou naquele local, muitos em parte de

uma mesma comunidade e para a euforia dos técnicos...algumas conquistas obtidas.

É o que todos necessitam, mas ainda não o que desejam, conhecer as potencialidades

de um grupo social é uma tarefa dificil e ofertar necessidades não significa realizar

ou concretizar sonhos, estes são conquistas individuais ou até de um grupo, desde

que tenham lutado para obte-lo. As mudanças dependem muito mais dos que a

desejam do que de quem oferece.

Em 20 anos de trabalho em comunidades carentes tive a oportunidade trabalhando

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tanto na esfera pública quanto na privada com a Empresa Urbaniza, e obtive uma rica

experiência percorrendo o pais realizando trabalhos sociais na Bahia, no Maranhão,

no Pará, em Santa Catarina, em SP, no Rio de Janeiro, no Rio grande do Norte e tive

como prêmio conhecer diversificadas culturas e observar as diferentes realidades que

o pais abriga, nunca antes imaginada.

Com o objetivo de melhor retratar estas localidades, antes de escrever sobre elas,

apresento algumas fotos e fatos, para uma pequena viagem conjunta com os leitores

nesta leitura, com o único objetivo de compartilhar com todos a rica experiência.

06 - FATOS E FOTOS.

NO MARANHÃO

O Maranhão está localizado no oeste da Região Nordeste do Brasil e tem, como

limites, ao norte o Oceano Atlântico, a leste o estado brasileiro do Piauí, a sul e

sudeste o estado brasileiro de Tocantins e o estado brasileiro do Pará a oeste. Ocupa

uma área de 331 935,507 km², sendo o segundo maior estado da Região Nordeste

do Brasil e o oitavo maior estado do Brasil. Em termos de produto interno bruto, é

o quarto estado mais rico da Região Nordeste do Brasil e o 16º estado mais rico do

Brasil.

No século XVI, o atual território maranhense era ocupado por índios tupinambás no

seu litoral oeste, por índios potiguaras no seu litoral leste e por índios tremembés

no seu interior.

Os europeus só conseguiram efetivamente ocupar a região em 1612, com o projeto da

França Equinocial. Os franceses fundaram a cidade de São Luís, onde permaneceram

por três anos, até serem expulsos pelos portugueses.

Localizado entre as regiões Norte e Nordeste do Brasil, o Maranhão possui uma

grande diversidade de ecossistemas. São 640 quilômetros de extensão de praias

tropicais, floresta amazônica, cerrados, mangues, delta em mar aberto e o único

deserto do mundo com milhares de lagoas de águas cristalinas. Essa diversidade está

organizada em cinco polos turísticos, cada um com seus atrativos naturais, culturais

e arquitetônicos. São eles: o polo turístico de São Luís, o Parque Nacional dos Lençóis

Maranhenses, o Parque Nacional da Chapada das Mesas, o Delta do Parnaíba e o polo

da Floresta dos Guarás.

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NO SANTA CATARINA

Santa Catarina é uma das 27 unidades federativas do Brasil, localizada no centro

da região Sul do país. É o vigésimo estado brasileiro com maior extensão territorial

e o décimo primeiro mais populoso além de ser o nono mais povoado com 293

municípios. O catolicismo é a religião predominante.

As dimensões territoriais abrangem uma área de 95.346,181 km²,sendo maior do

que Portugal ou a soma dos estados brasileiros do Rio de Janeiro e Espírito Santo

com o Distrito Federal. Limita-se com os estados do Paraná (ao norte) e Rio Grande

do Sul (ao sul), além do Oceano Atlântico (a leste) e da Argentina (a oeste). A

costa oceânica tem cerca de 450 km, ou seja, aproximadamente metade da costa

continental de Portugal (943 km). Sua capital e sede de governo é a cidade de

Florianópolis, localizada na Ilha de Santa Catarina.

Em termos históricos, sua colonização foi largamente efetuada por imigrantes

europeus: os portugueses açorianos colonizaram o litoral no século XVIII; os alemães

colonizaram o Vale do Itajaí, parte da região sul e o norte catarinense em meados do

século XIX; e os italianos colonizaram o sul do estado no final do mesmo século. O

oeste catarinense foi colonizado por gaúchos de origem italiana e alemã na primeira

metade do século XX.

Os índices sociais do estado situam-se entre os melhores do país. Santa Catarina é o

sexto estado mais rico da Federação, com uma economia diversificada e industrializada.

Importante polo exportador e consumidor, o estado é um dos responsáveis pela

expansão econômica nacional, respondendo por 4% do produto interno bruto do país.

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NO SÃO PAULO

São Paulo é um município brasileiro, capital do estado de São Paulo e principal centro

financeiro, corporativo e mercantil da América do Sul. É a cidade mais populosa do

Brasil, do continente americano e de todo o hemisfério sul e a cidade brasileira mais

influente no cenário global, sendo considerada a 14ª cidade mais globalizada do

planeta, recebendo a classificação de cidade global alfa, por parte do Globalization

and World Cities Study Group & Network. O lema da cidade, presente em seu brasão

oficial, é “Non ducor, duco”, frase latina que significa “Não sou conduzido, conduzo”.

Fundada em 1554 por padres jesuítas, a cidade é mundialmente conhecida e exerce

significativa influência nacional e internacional, seja do ponto de vista cultural,

econômico ou político.

O município possui o 10º maior PIB do mundo, representando, isoladamente, 12,26%

de todo o PIB brasileiro e 36% de toda a produção de bens e serviços do estado de

São Paulo, sendo sede de 63% das multinacionais estabelecidas no Brasil, além de

ter sido responsável por 28% de toda a produção científica nacional em 2005. A

cidade também é a sede da Bolsa de Valores, Mercadorias e Futuros de São Paulo

(BM&FBovespa), a segunda maior bolsa de valores do mundo em valor de mercado.

São Paulo também concentra muitos dos edifícios mais altos do Brasil, como os

edifícios Mirante do Vale, Itália, Altino Arantes, a Torre Norte, entre outros.

São Paulo é a sexta cidade mais populosa do planeta e sua região metropolitana, é a

quarta maior aglomeração urbana do mundo. Regiões muito próximas a São Paulo são

também regiões metropolitanas do estado, como Campinas, Baixada Santista e Vale

do Paraíba; outras cidades próximas compreendem aglomerações urbanas em processo

de conurbação, como Sorocaba e Jundiaí. A população total dessas áreas somada à

da capital – o chamado Complexo Metropolitano Expandido – ultrapassa 29 milhões

de habitantes, aproximadamente 75% da população do estado inteiro. As regiões

metropolitanas de Campinas e de São Paulo já formam a primeira macrometrópole

do hemisfério sul, unindo 65 municípios que juntos abrigam 12% da população

brasileira.

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NO RIO DE JANEIRO

A Cultura da cidade do Rio de Janeiro possui uma forte herança do passado, desde

o final do século XIX, quando foram ali realizadas as primeiras sessões de cinema

tupiniquins e desde então, descortinaram-se vários ciclos de produção, os quais

acabaram por inserir a produção cinematográfica carioca na vanguarda experimental

e na liderança do cinema nacional. Atualmente, o Rio aglutina os principais centros

de produção da TV brasileira: o Projac da Rede Globo, o RecNov da Rede Record e o

Polo de Cinema de Jacarepaguá. Em 2006, 65% da produção do cinema nacional foi

realizada exclusivamente por produtoras sediadas na cidade, captando R$ 91 milhões

em recursos federais através da Lei Rouanet.

Na arquitetura nacional, despontaram, na ribalta das tendências vanguardistas,

nomes como Oscar Niemeyer e Lucio Costa, além dos irmãos Roberto e Afonso Eduardo

Reidy.

Contemplada por diversos museus, teatros e casas de espetáculos, e passagem

obrigatória das grandes mostras internacionais de artes ou cinema, a capital

fluminense é o destino mais procurado pelos turistas estrangeiros que visitam o

Brasil a lazer, e o segundo colocado no ranking de negócios e eventos, segundo a

Embratur.

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NA BAHIA

A cultura da Bahia é uma das mais ricas e diversificadas do Brasil, sendo o estado

considerado um dos mais ricos centros culturais do país, conservando não apenas

um rico acervo de obras religiosas, arquitetônicas, mas é berço das mais típicas

manifestações culturais populares, quer na culinária, na música, e em praticamente

todas as artes.

A Bahia tem seus expoentes, suas características próprias, resultado da rica

miscigenação entre o índio nativo, o português colonizador e o negro escravizado.

Nessa imensa vastidão cultural, entre as principais manifestações culturais estão

o carnaval de Salvador, a festa da Independência da Bahia, as festas juninas no

interior, em especial a guerra de espadas em Cruz das Almas e em Senhor do Bonfim,

a lavagem do Bonfim, a Festa de Santa Bárbara, a Festa de São Sebastião, a festa de

Iemanjá, e muitas outras.

NO RIO GRANDE DO NORTE

O estado do Rio Grande do Norte é um dos estados da federação que contém o mais

antigo marco da presença portuguesa no país. O Marco de Touros sinaliza o início

da fase moderna de ocupação da terra potiguar por populações oriundas da Europa,

África do Norte e da África Subsahariana.

Antes disso, o território do atual Estado do RN era ocupado por diversas nações

indígenas, como os potiguaras no litoral e os tararius no sertão.

A formação do povo potiguar passa pela confluência de diversos elementos étnicos,

como galegos, mouros, judeus (cristão-novos) portugueses, tupis, africanos que se

espalharam pelos vales dos grandes rios, como Ceará Mirim, Potengi, Açu, Mossoró

ou pelas regiões serranas do Sertão.

Dessa confluência nasceu uma cultura rica, marcada pela presença tanto da civilização

do couro e do algodão, quanto pela presença de uma religiosidade católica marcada

pela miscigenação com elementos judaicos e indígenas.

Folclore do Rio Grande do Norte conta com vários autos e manifestações populares.

As velhas danças do povo podem ser classificadas em dois grupos. O primeiro – e mais

importante deles – é o dos autos populares, misto de dança e espetáculo teatral em

que há um fulcro dramático central que caracteriza cada um deles. O segundo grupo

é composto por danças folclóricas de uma forma em geral.

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03CAPÍTULO III

07 - A VIDA COMO ELA É...

O Paulistano da capital acha que na sua cidade tudo é melhor: infraestrutura

exuberante, os melhores restaurantes, o maior comércio, as indústrias, o Ceasa, o

Mercado Municipal, o Centro, a Paulista, a 25 de Março, os serviços, as padarias, os

shoppings, a Bela Cintra, os melhores médicos e hospitais, a Vila Nova Conceição,

Moema, Perdizes, Aclimação, Vila Mariana, o Pátio do Colégio, o Terraço Itália, o

trabalho... O norte e nordeste acham o paulistano arrogante, exigente e equivocado,

pois o melhor mesmo são as redes, as festas, a praia e comprar tudo pronto de SP.

Em SP o consumidor é rei, no norte e nordeste o paulistano perde a majestade e tem

que aprender a ser só o segundo turista, já que o primeiro é internacional.

É...não existe de fato uma cultura nacional, no Brasil existem culturas regionais,

identidades próprias, de acordo com diversificadas realidades o que faz do Brasil um

país mágico: ora elegante e bonito, ora atrasado, ora de primeiro mundo, ora carente,

ora frenético, ora tranquilo; urbano, rural e turístico.

Na arquitetura também, diferenças marcantes, retratam modo de vida de cada povo,

tendências regionais ou ainda, de influência de sua colonização, marcam a alma de

cada povo.

A cultura brasileira é uma síntese da influência dos vários povos e etnias que formaram

o povo brasileiro. Não existe uma cultura brasileira perfeitamente homogênea, e sim

um mosaico de diferentes vertentes culturais que formam juntas, a cultura do Brasil.

Naturalmente, após mais de três séculos de colonização portuguesa, a cultura do

Brasil é, majoritariamente, de raiz lusitana. É justamente essa herança cultural lusa

que compõe a unidade do Brasil: apesar do povo brasileiro ser um mosaico étnico,

todos falam a mesma língua (o português) e, quase todos, são cristãos, com largo

predomínio de católicos. Esta igualdade linguística e religiosa é um fato raro para um

país de grande tamanho como o Brasil, especialmente em comparação com os países

do Velho Mundo.

Embora seja um país de colonização portuguesa, outros grupos étnicos deixaram

influências profundas na cultura nacional, destacando-se os povos indígenas, os

africanos, os italianos e os alemães. As influências indígenas e africanas deixaram

marcas no âmbito da música, da culinária, do folclore, do artesanato, dos caracteres

emocionais e das festas populares do Brasil, assim como centenas de empréstimos

à língua portuguesa. É evidente que algumas regiões receberam maior contribuição

desses povos: os estados do Norte têm forte influência das culturas indígenas,

enquanto algumas regiões do Nordeste têm uma cultura bastante africanizada,

sendo que, em outras, principalmente no sertão, há uma intensa e antiga mescla de

caracteres lusitanos e indígenas, com menor participação africana.

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No Sul do país as influências de imigrantes italianos e alemães são evidentes, seja na

língua, culinária, música e outros aspectos. Outras etnias, como os árabes, espanhóis,

poloneses e japoneses contribuíram também para a cultura do Brasil, porém, de

forma mais limitada.

O substrato básico da cultura brasileira formou-se durante os séculos de colonização,

quando ocorre a fusão primordial entre as culturas dos indígenas, dos europeus,

especialmente portugueses, e dos escravos trazidos da África subsahariana. A partir

do século XIX, a imigração de europeus não portugueses e povos de outras culturas,

como árabes e asiáticos, adicionou novos traços ao panorama cultural brasileiro.

Também foi grande a influência dos grandes centros culturais do planeta, como a

França, a Inglaterra e, mais recentemente, dos Estados Unidos, países que exportam

hábitos e produtos culturais para o resto do globo.

Enquanto no restante do pais temos as características próprias de cada povo, em SP

temos de todos os povos juntos, imigrantes em busca de oportunidades, fizeram de

SP um ambiente único e diversificado, onde encontramos um pedaço de cada Brasil

em cada esquina.

A cultura é tudo que resulta da criação humana, a cultura consiste nos valores de um

grupo de pessoas, nas normas que seguem e nos bens que criam ou engendram, na

alma de cada povo.

Nesta obra pretendo retratar a cultura dos grupos chamados excluídos, aqueles que

expulsos do mercado habitacional formal, criaram culturas próprias, de vida, de

moradia, de serviços, de leis, com o objetivo de compartilhar experiências vivenciadas

e também com o objetivo de melhor entender estas realidades culturais.

Muitos exemplos equivocados de intervenções propostas nestas localidades

demonstram a não observância destas realidades e muitas das ações implantadas se

perdem no vazio do indesejado, no equivoco dos sonhos e reais necessidades, para

mudanças efetivamente sustentáveis.

Estamos falando em população de baixa renda e escolaridade, como visto em vários

diagnósticos técnicos e de pesquisas científicas, onde as intervenções consideram

estes indicadores sócio econômicos, antes de iniciar qualquer trabalho ou propor

qualquer ação social, ambiental, urbanística ou legal para estas, chamadas:

Comunidades...

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Do ponto de vista ambiental, comunidade é a totalidade dos organismos vivos que

fazem parte do mesmo ecossistema e interagem entre si, corresponde, não apenas

à reunião de indivíduos e ou sua organização social e sim ao nível mais elevado de

complexidade de um ambiente. Uma comunidade pode ter seus limites definidos de

acordo com características que signifiquem algo para nós, investigadores humanos.

Mas ela também pode ser definida a partir da perspectiva de um determinado

organismo da comunidade.

As comunidades possuem estrutura, fluxo de energia, diversidade, processos de

sucessão, alma, identidade e vontade própria.

Do ponto de vista da sociologia, uma comunidade é um conjunto de pessoas que

se organizam sob o mesmo conjunto de normas, geralmente vivem no mesmo local,

sob o mesmo governo ou compartilham do mesmo legado cultural e histórico.

Mas as comunidades também caracterizam um grupo territorial de indivíduos tem

características próprias, vontades, desejos, apego ambiental, potencialidades,

relações sociais, interdependência, legados, modo de vida, e identidade própria.

Desta forma acredito que todos concordam que as intervenções das políticas públicas

habitacionais, sociais, ambientais e urbanísticas devam respeitar estas características para

obtenção do sucesso pós intervenções e também para a sua autonomia e sustentabilidade.

Para avaliar as intervenções temos que verificar sua eficácia, eficiência e satisfação

no pós ocupação ou intervenção e fazemos isso, todos os técnicos e estudiosos sobre

o assunto tem esta preocupação e os sistemas de avaliação de indicadores “antes,

durante e depois” fazem parte do cotidiano dos profissionais da área.

Caracterizamos os territórios, elaboramos diagnósticos, criamos projetos, implantamos

as ações e trabalhamos no pós ocupação e nas avaliações.

Muitas conquistas foram obtidas com melhoria nas condições de vida, mas ainda assim

a maioria dos beneficiados, retornam para situações de favelamento, comercializando

o benefício e voltando a viver do seu jeito!

08 - QUE JEITO É ESSE!

Um total de 11.425.644 de pessoas, o equivalente a 6% da população do país, ou

pouco mais de uma população inteira de Portugal ou mais de três vezes a do Uruguai.

Esse é o total de quem vive, atualmente, no Brasil em aglomerados subnormais, nome

técnico dado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) para designar

locais como favelas, invasões e comunidades com, no mínimo, 51 domicílios.

O número foi divulgado pelo instituto como complemento ao Censo 2010, do final de

abril deste ano. Além do mínimo de moradias, outro critério-chave para classificar

essas áreas como aglomerados subnormais é carência: com origem em ocupações de

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locais públicos ou particulares, a maioria sofre a falta ou a inadequação de serviços

públicos de qualidade, além de em geral, estarem dispostas densa e desordenadamente.

O contingente identificado pelos pesquisadores em todo o Brasil está em pouco mais

de 3,224 milhões de domicílios, a maioria, 49,8%, na região Sudeste – com destaque

para os Estados de São Paulo, com 23,2% dos domicílios, e Rio de Janeiro, com

19,1%. Em toda a região, são mais de 5,580 milhões vivendo nesses aglomerados.

Para retratar o modo de vida desta população, esquecendo um pouco os indicadores

que pesquisamos, mas escutando seus relatos, separei alguns deles que retratam o

jeito de viver destes ilustres e fantásticos:

Aqui no prédio novo não posso dormir, a parede cai se eu colocar ganchos para a

rede! O engenheiro me disse o nome do material que cai a parede, mas esqueci, é

estrangeiro; (Em São Luiz no Maranhão)

Aqui não posso ganhar dinheiro, pois não tenho onde colocar o meu cavalo;

(Em São Luiz no Maranhão)

Acham que eu não sou mais carente, tenho um apartamento que ganhei e as pessoas

acham que tenho que me virar só, sem ajuda; (Na maioria das regiões)

Melhorou muito, aqui tem água na torneira, mas antes eu ia buscar e não pagava

nada, agora tem um tal de condomínio e o sindico acha que é dono de tudo e obriga

as pessoas a pagar o que antes era de graça; (Em São Luiz no Maranhão)

Na favela me ensinaram a fazer um vaso com garrafa pet para por na mesa e eu não

tinha mesa, aqui, ganhei uma mesa e não sei para que serve; (No Pará)

Aqui não posso fazer barulho, e a maré não leva o lixo, tenho que colocar na lixeira,

tenho que pagar por tudo, tenho muitas cobranças e gosto mais da favela, eu era livre;

(Em São Luiz no Maranhão)

Agora tenho que pagar um tal de IPTU que serve só para o governo ganhar dinheiro e

viver como ricos; (No Rio de Janeiro)

Não vou sair da área de risco, esta é a minha casa e não tenho para onde ir, não quero

o abrigo oferecido, parece um presídio, tem horário e regras e deixam a gente lá para

sempre; (Em São Paulo)

Aqui sou protegida pelos “meninos”, não tenho medo, vivo bem, tenho ajuda dos meus

vizinhos, posso fazer tudo sem pagar nada e ganho muitas coisas da prefeitura e do

governo e até de pessoas ricas; (Na maioria das regiões)

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Queremos viver aqui mesmo e não nos apartamentos ou condomínios, aqui é muito

bom para viver; (Na maioria das regiões)

Temos muitos problemas, com o lixo, com a estrutura, com segurança, mas conheço

todos estes problemas e aprendi a conviver com eles, este é o melhor lugar do mundo

para viver; (Na maioria das regiões)

Mudei para a casa nova, mas gostava mais da favela, sinto saudades do meu lugar;

(Na maioria das regiões)

Estou vendendo o apartamento, sei que não pode, a assistente social me falou, mas

todo mundo vende e não acontece nada, vou construir uma casa na favela onde muitos

foram; (Em São Paulo)

Vou matar o meu vizinho do apartamento, ele acha que manda na minha vida, só

porque quero trazer minhas galinhas, elas são fonte do meu trabalho; como posso

melhorar de vida e pagar tudo, sem meu trabalho. (Em São Luiz no Maranhão)

Sem meus animais, não saio da favela; (No Pará)

Disseram que a vida da gente ia melhorar, mas no lugar dos meus direitos, só tenho

deveres; (Na maioria das regiões)

Aqui não posso ampliar a casa para meus filhos que casaram e construíram novas

famílias, na favela eu podia e todos moravam juntos, mas cada um no seu cantinho;

(Na maioria das regiões)

Como vou criar meus porcos não tem local nos apartamentos; (Em algumas localidades)

Na hora do cadastro, dividi a casa para fazer 5 cadastros e ganhar 5 casas, mas a

assistente social não concordou e todos estavam fazendo isso. (Em São Paulo)

Moro em outro local, mas tenho 5 casas alugadas na favela, vou retirar os inquilinos

pois sou eu que tenho o direito, gastei dinheiro para construir as casas. Vou ter 5

apartamentos para alugar ou vender. (SP e RJ)

Briguei com o meu companheiro, ele me batia e me mandou embora da casa com meus

filhos, agora ele vai ganhar uma casa pois disse que vai me matar se eu contar para a

assistente social. (Em vários locais)

E o meu comércio, vão me devolver no local que vão me levar, tem como eu trabalhar

lá, ou vão me ajudar para sustentar minha família; (Em vários locais)

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Troquei minha companheira com uma máquina de fazer caldo de cana, posso ir para o

apartamento sem a mulher e com a máquina; (Em São Paulo)

Não vamos pagar nada antes era assim, que história é essa de condomínio, água, luz;

(Em vários locais)

Não cabe nada em apartamento e não tem quintal e acaba na parede;

(Em vários locais)

Reclamaram que joguei o lixo no local errado, antes ninguém reclamava e todos

jogavam; (Em vários locais)

Disseram que agora sou cidadão, deus me livre, preferia ser favelada; (Em vários locais)

A maioria daqui já vendeu o apartamento e voltou para a favela; (Em vários locais)

Lutei muito para fazer meu barraco; e me deram esta casa sem perguntar se eu queria;

(Em vários locais)

Lá eu era livre e tinha muitos direitos, aqui só tenho deveres e vivo presa; (No Pará)

Eles vêm na comunidade e falam o que é melhor para a gente, sem saber o que de fato

é melhor; (Em vários locais)

Aqui criei meus filhos e amo este lugar, mesmo com todos os problemas, é meu jeito

de viver; (Em vários locais)

Morava em área de risco, disseram que minha casa ia cair, aceitei me mudar com a

minha família, mas ainda não me sinto no meu lugar, vem gente toda hora dizer como

devo ser ou me comportar e gosto de viver do meu jeito, vou voltar para a favela onde

eu morava; (Em São Paulo)

Na favela eu era feliz, todos eram amigos, defendiam uns aos outros, se ajudavam,

agora só brigam; (Em vários locais)

Não vou mais aceitar que me digam o que é certo ou errado, sei o que é bom para

minha família e vou viver do meu jeito; (Em vários locais)

Adorei a casa nova, tem tudo de bom para minha família, realizei meu sonho,

agora tenho uma casa, vou deixar ela linda e construir mais alguns cômodos para meus

filhos e netos; e um terraço na laje para lazer e pendurar roupas e ainda um bar na

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frente para trabalhar com mesas e cadeiras na rua; (Em vários locais)

Como vou ensaiar meu grupo de dança do Bumba meu Boi neste apartamento;

(Em São Luiz)

Mãe, aqui não tem jacaré e nem caranguejo para eu vender na rua; (Em São Luiz)

Aquilo vermelho pendurado no corredor do prédio é de brincar de fumaça e tiro;

(Em São Luiz)

Adorei o apartamento é tudo novinho e acho que a prefeitura deve cuidar para sempre

para manter assim, é nosso direito de cidadão; (Em vários locais)

Vamos ter que limpar os corredores e escadas? Quanto a prefeitura vai pagar pelo

serviço? (Em vários locais)

Não gostei dos briquedos serem coletivos, vai dar briga, queria ter para cada casa um

separado. (Em vários locais)

Meu vizinho foi reclamar na prefeitura que dou água para meu cavalo no condomínio,

mas é minha casa e meu o cavalo, tenho o direito. (Na Bahia)

A gente na favela, não escutava a gritaria das crianças brincando e aqui não consigo

dormir, sou velha e me colocaram no chão do prédio. (Em São Paulo)

Não tinha que subir escada para chegar à minha casa, e as pessoas antes amigas agora

parecem inimigas, às vezes não deixam a gente subir as escadas, pois estão fumando

maconha. (Em São Paulo)

A polícia agora tem nosso endereço, e continuam achar que somos todos bandidos,

toda hora vem aqui e o pior alguém daqui chamou, se fosse antes estava morto.

(Em São Paulo)

Que bom, vem a ambulância, o correio, posso abrir crediário com meu endereço, ficou

mais fácil arrumar emprego, mas ninguém vem aqui ajudar a gente e não temos

dinheiro para pagar tantas contas que antes era de graça. (Em vários locais)

Não quero nenhuma casa, só o dinheiro da venda para ir para outra favela. (RJ e SP)

Aqui no cadastro 3 piás e duas gurias, mas tenho que ter duas casas para meu piá

casado, daí! (Em Santa Catarina)

Finalmente vou ter uma moradia digna, logo que me mudar vou ampliar para meu filho

que vai se casar. (Em vários locais)

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Muitos outros relatos de moradores de favela eu escutei, tentei não criticar, mas

aprender com eles, afinal estas constatações não se afere em pesquisas, mas fazem

parte de sua cultura e modo de vida desta população de acordo com seu lugar de

origem, seus valores de vida, seus anseios, sonhos e jeito de viver.

Nestes relatos podemos observar que as maiorias dos moradores que serão reassentados

esperam que os conjuntos virem.... favelas, com os chamados avançadinhos que por

questões óbvias impossibilitados, com os gatos, sem regras de convivência, com

possibilidades comerciais, para que se aproximem ao máximo do jeito de viver que

sempre tiveram, comprometendo assim sua sustentabilidade.

Alguns casos lições de vida, outros nem tanto, mas todos cheios de ambiente e

identidades culturais distintas de cada local, em SP todas estas identidades moram

juntas, quase nenhum morador de favela é da cidade, mas estão aqui e muitos já com

descendentes desta mistura de cultura e origem, sem identidade cultural única.

No Rio de Janeiro uma realidade a parte, as favelas cariocas diferente das demais

favelas no pais. Poucos lugares do mundo possuem turismo ou observatórios, upps,

ou possuem tanto interesse nas favelas. Pela própria geografia da cidade, não poderia

ser diferente, a cidade é cercada por favelas e a maioria nos morros, com visão

privilegiada, em verdadeiras cidades dos morros, uma arquitetura e modo de vida

próprio e surpreendente.

Zuenir Ventura criou a visão do Rio de Janeiro como “cidade partida”, dividida entre

o asfalto e o morro, mesmo que morro plano. Diversos estudos demonstraram a

existência de diferenças das condições de trabalho e renda entre favelas cariocas e o

restante da cidade. Em particular, especial ênfase na realidade das grandes favelas da

cidade tais como Complexo do Alemão, Manguinhos e Rocinha.

O comércio e aquecido com altos preços, possíveis apenas pela informalidade.

As vias de acesso difíceis. Motos cortando os carros muita gente, insuportável, muitos

acessos impedidos por barricadas, muitos agentes do tráfico de drogas.

Além do comércio, não se percebe outra atividade produtiva. Agentes do tráfico

armados por todo canto, vielas, esgoto a céu aberto, crianças e traficantes armados

juntos, sem áreas livres, construções de madeira e alvenaria, muito lixo e ao lado

viciados em craque jogados no chão ao lado de porcos, corre corre, olheiros, bandidos

e mocinhos, turistas, todos juntos. Construções verticalizadas com diferentes

famílias já que comercializam as lajes. Cenário no complexo de Manguinhos, antes da

implantação da UPP.

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Uma realidade muito longe das favelas, por exemplo, em São Luiz ou no Pará, também

precárias as condições de habitabilidade, muitas palafitas, muitas construções em

madeira, sem carros ou motos, muitas redes, poucos comércios, sem armamento visível

salvo de facões, o lixo levado e devolvido diariamente pela maré, muitos pescadores

e algumas atividades com caranguejo, com artesanato, com grupos folclóricos e com

grande identidade cultural. Acesso na maioria irregular dos serviços de abastecimento

de água e energia, pouco ou nenhum representante formal.

No Rio de Janeiro acesso fácil e clandestino para as telecomunicações, acesso

fácil para a cidade promovido pelo governo como teleféricos, bondinhos, escadas,

acesso oficial inclusive dos serviços de abastecimento de água e energia, muitas

construções engendradas irregularmente em áreas de risco, mais representantes que

representados.

Em SP as favelas se espalham e não cercam a cidade como no RJ, a cidade formal

ou os turistas daqui não tem nenhum interesse em visitar as favelas, as condições

de moradia ora precárias, ora melhores que muitas unidades regularizadas, erradicar

núcleos de favela ainda é possível em SP e necessárias para obras e remoção de risco

habitacional.

Em SP, assim como no RJ as atividades ilegais usam a favela como escudo, muitos

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cativeiros, esconderijo de armas e drogas, mas não as escancaras como no RJ, existe

um código de segurança, mas permitem intervenções técnicas e de cunho coletivo.

No RJ muitas atividades são impedidas por ordem do tráfico, uma considerável melhora

com a implantação das UPPS em alguns territórios, mas longe de uma solução de fato

autossustentável.

No RJ a remoção ou desfavelamento não são prioridades dos governos, preferem

regularizar e ou urbanizar...não tem espaço para remover e reassentar, poucas áreas

disponíveis, para atender demandas de áreas de risco, custo altíssimo de terrenos

ou para compra assistida de moradias, pouca experiência com remoções de famílias.

No Pará a maioria da população é politizada, organizada e exagerados nos seus

direitos, interferindo nas ações técnicas dos governos, a população é fiscal

inexperiente de intervenções técnicas propostas, mas lutam pelo que querem em um

território pitoresco, cheio de culturas regionais, nas danças, na musica, na fé, e jeito

de viver.

Em Santa Catarina as favelas tem muito espaço, as casas tem quintal, a madeira é utilizada

nas construções, mas já possuem também casas de alvenaria, são mais receptivos com as

intervenções, sabem escutar, mas tem opinião e gostam do seu modo de vida.

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Na Bahia as construções irregulares são de alvenaria e também de madeira, a religião

espírita é forte e respeitada, as comunidades têm violência e tráfico, mas convivem

pacificamente com as famílias de trabalhadores nas favelas salvo algum desafeto, a

morte neste caso é inevitável.

Bem, as características sociais e econômicas dos indicadores, são semelhantes:

Baixa renda e escolaridade, são a maioria em todos os territórios tem estas

condições sócias econômicas e muitos dos diagnósticos que tive a oportunidade

de ler, apresentam quase o mesmo perfil dos habitantes das favelas com relação

aos principais indicadores aferidos, porém seus ambientes são muito diferentes, sua

história, cultura, identidade, e sonhos também.

Como implantar ações sociais para pessoas diferentes, como avaliar mais os desejos

que as necessidades, como ter sustentabilidade nas ações implantadas, como oferecer

valores de nossas vidas para a vida de outros, como avaliar potencialidades locais

excluindo das pessoas a sua história e o seu o território, como olhar o todo com

microscópio, como melhorar de fato o modo de vida destes chamados excluídos, como

mudar o jeito de viver e como ter soluções efetivamente resolutivas para as favelas

no Brasil.

É reconhecido o avanço, caracterizamos as cidades, os bairros, as comunidades e

a população, antes de iniciar qualquer intervenção em favelas, hoje implantamos

ações baseadas em diagnósticos muito complexos destas realidades, mas por vezes

esquecemos-nos de inserir e integrar o beneficiário final, nesta cidade, neste bairro

na sua história e realidade.

Basta olhar para o nosso maior gargalo no pós-ocupação, para reconhecer que alguma

coisa está errada, houve melhora nas condições de habitação, melhora nas condições

de infraestrutura, melhora nas condições de vida, exclusão do risco, melhora no

aspecto ambiental, nas relações com o governo, no transporte, na educação, na

geração de emprego e renda, todos estes setores foram pensados, estudados e muitas

ações sociais foram implantadas com este objetivo e ainda assim sua sustentabilidade

continua ameaçada.

Embora a participação comunitária nas intervenções, a criação de agentes

multiplicadores e o esforço das três esferas de governo, temos que admitir que temos

muito mais a aprender que a ensinar, muito mais a observar antes de fazer, muito mais

a estudar antes de aplicar e ainda a evasão e o retorno a situações de favelamento

são identificadas ao estarrecimento de todos os envolvidos nos principais projetos

técnicos sociais implantados.

Por este motivo acredito que o problema habitacional está atrelado ao cultural,

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e ainda ao esforço e luta de cada cidadão na conquista de seus próprios sonhos,

o problema habitacional está atrelado também ao acesso à habitação formal por

vontade própria, com esforço próprio e de escolha própria.

A casa, onde moro e sou proprietária, foi fruto de muito trabalho, meus valores com

relação ao patrimônio são sustentáveis, ser cidadão é motivo de orgulho para toda

a minha família e o trabalho foi fundamental para que a conquista fosse justa e

merecida.

Nunca ouvi de nenhum reassentado a afirmação acima e tenho como objetivo um dia,

mesmo que distante ter este prazer do dever cumprido de fato.

O conceito acima, ainda está distante da maioria dos reassentados ou beneficiados

com as intervenções até o momento implantadas no Brasil. Não pretendo aqui criticar

ações e ou políticas públicas da área habitacional, faço parte desta luta e acredito

que os governos têm ótimas pretensões nesta temática, ocorre que as ações têm

destinos diferentes e o apoderamento das ofertas por parte dos beneficiados ainda

estão distantes das suas diferentes realidades e do jeito de viver de cada família em

cada região que tive a rica experiência de conhecer e com estas realidades aprender.

Os projetos sociais a serem desenvolvidos nas comunidades devem abranger todos os

segmentos da população e estarem estreitamente relacionados à sustentabilidade da

intervenção, em seus aspectos físicos, ambientais, socioculturais e econômicos. Para

tanto, devem privilegiar a educação comunitária, considerando a teia de relações

econômicas, históricas, culturais, religiosas, interpessoais, políticas e sociais. Neste

caso, a metodologia também é, necessariamente, participativa, contribuindo assim

para despertá-lo do senso crítico e a promoção do diálogo entre os agentes.

De modo geral, o trabalho deve priorizar o investimento na auto-organização da

comunidade e no fortalecimento de sua autonomia, permitindo que as relações, ações

e conflitos vivenciados pela população formem um processo pedagógico significativo

e contribua para que os moradores assumam-se como protagonistas e gestores de

seus processos individuais e coletivos.

Como atender a estes conceitos, como cumprir uma missão tão complexa, às vezes

temos dificuldades desta natureza dentro de casa, com nossos filhos, na escola com

alunos e até nas empresas com os funcionários.

Sociólogos, psicólogos, assistentes sociais, pedagogos e até engenheiros e arquitetos

buscam estas soluções para projetos cada vez mais de acordo com as diferentes

realidades que os territórios abrigam, mas esquecem que nestes territórios foram

engendrados o modo de vida e jeito de viver de pessoas, com relação afetiva do local

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e do conceito que possuem por vezes muito diferentes dos propostos.

NO MARANHÃO

O projeto pretendeu transformar as áreas palafitadas em habitações dignas e

saudáveis, um projeto de reforma urbana, um avanço para o sistema viário da cidade,

resultando no segundo anel viário em São Luís. Obras de grande porte com impacto

na articulação e integração do território; Obras de recuperação ambiental e de bacias

hidrográficas críticas a Margem esquerda do Rio Anil e Península Ipase.

A Urbaniza vencedora da concorrência escolheu seus melhores talentos que se

mudaram para o local.

A primeira missão, remover palafitas...iniciamos o trabalho após mobilização,

assembleias, apresentações, criação de comissão de moradores, e toda a estrutura

para pela primeira vez no estado remover favelas por risco e necessidade de obras

ambientais, sociais e urbanísticas. Tínhamos muita experiência em ações similares e

já tínhamos erradicado muitas favelas em SP.

A prevenção exorbitante, aproximadamente 15.000 famílias envolvidas direta e

indiretamente e aproximadamente 1.200 para reassentar em conjuntos habitacionais

e gerenciar um projeto de trabalho técnico social.

Chegamos à primeira comunidade a ser removida para instalação de bate estaca e

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para início de aterramento para construção de um viário, muitas casas de madeira

com esgoto aberto para o rio, muito lixo no local desprovido de água e com ligações

clandestinas de luz.

A única alternativa era um alojamento chamado de Vila Provisória onde as famílias

teriam o uso do mesmo, depois seriam atendidos por unidades habitacionais

definitivas em construção.

A Vila era de lata, mas tinham o conforto de telhados e ventiladores, para atenuar

temperaturas de 35 até 40 graus. Não havia convênio ainda com o município e sem

dotação para locação social, esta era nossa única possibilidade para a abertura das

frentes necessárias.

A resistência era enorme, pois temiam perder suas casas que no ponto de vista da

população, um local ótimo e bom de viver..., o risco, o esgoto lançado ao rio, o lixo

indo e voltando pela maré em 24 horas já que assim é a maré em São Luiz vai e volta

no mesmo dia, para os desavisados barcos atolados e outros transtornos.

Dividindo espaços insalubres e em péssimas condições de vida, ainda assim, não

queriam ir para o alojamento ou vila...Após entendimentos em uma reunião com os

moradores, marcamos as primeiras mudanças, nenhum caminhão ou caminhoneiro

aceitou fazer o trabalho, ou melhor disseram que estariam lá as 7:00 horas e ninguém

apareceu e estávamos lá esperando, os meios para concretizar a missão.

Na comunidade a espera pelo transporte fez crescer o movimento dos resistentes e

o clima ficou pesado, até que apareceu o primeiro caminhão, nesta altura das 100

famílias que mudariam naquela data, 80 já informaram que não iriam mais, vieram

vereadores, imprensa e todos os que queriam impedir a ação, por motivos torpes e

pessoais ou políticos.

Não nos preocupamos com o circo armado, agora com os meios disponíveis com

ajudantes de carga e descarga, com caixas, sacos e caminhões ainda poderíamos

mudar a minoria que estava disposta a deixar o local, já lotado de máquinas e pessoal

para as obras.

Mudamos 3, depois mais 15, depois mais 30 e aqueles que estavam resistindo

desistiram e resolveram ir com a maioria para a Vila e lá uma festa, almoço na

recepção das primeiras famílias, danças folclóricas, mudanças, caixas, crianças,

idosos, técnicos, autoridades e outros. Nunca presenciei uma mudança com tanta

festa para receber as famílias, cada um que chegava era uma foto, uma calorosa

recepção...bonito de se ver e pioneiro nestas circunstâncias.

E assim..a missão cumprida, nosso cliente satisfeito e o primeiro passo para o sucesso

de todos os outros que estariam por vir.

A equipe estava toda suja de barro, e cheia de pulgas dos inúmeros cachorros que

vieram com as mudanças, muitos moradores já instalados e só à noite voltamos

para casa. Almoçamos todos juntos na Vila, com os cachorros, os moradores, as

autoridades, construtora e todos os envolvidos.

E os problemas pareciam nesta etapa superados...doce ilusão estava apenas

começando...o que seria feito com os animais silvestres que ficaram na comunidade

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aos escombros, o que faríamos com os porcos e cavalos existentes como meio de

vida de algumas famílias, o que seria do bar ou comércio desfeito, e ainda quem

pagaria a energia e a água da Vila...Na comunidade era tudo de graça e a remoção foi

involuntária, por necessidade de obra.

Os apartamentos ficariam prontos em 12 meses dizia o construtor, e outras vilas

teriam que ser construídas para pulmão das obras.

Mudamos as famílias, mas parte da favela veio com elas, antes as ações e soluções

precariamente engendradas tinham a iniciativa das próprias famílias, agora a

responsabilidade era do Governo e o gerenciamento social era nosso.

Aos poucos as soluções foram dadas e quando estava tudo parecendo bem, resolveram

implantar um sistema de aterro, sem remover o morador...uma tecnologia já utilizada

onde era retirada a areia de parte do fundo do rio e ejetada em baixo das casas, sem

remover nenhum morador até que as soluções definitivas fossem disponibilizadas!

Inédito para nós da equipe social, pensávamos....o que fariam com o esgoto já que o

mesmo ia direto para o rio e sem o rio a coisa iria ficar feia, acreditava a equipe. Como

e quem iria controlar as crianças, já que o sistema oferecia risco na sua atividade e

como a população iria reagir.

Um evento de inauguração do sistema foi elaborado com a presença de autoridades e

imprensa e logo no primeiro jato de areia, um morador foi lançado acidentalmente ao

Rio, nada de grave aconteceu, salvo que o mesmo voltou a nado e todo craquelado

de barro seco com o sol escaldante.

Meu Deus vamos ter muito trabalho pela frente! Sem hora para voltar para casa, mas

o importante será ter a obra concluída e os moradores atendidos.

Além deste sistema que foi implantado, novas vilas foram sendo construídas ou ainda

algumas construções desativadas foram adaptadas para fins residenciais provisórios.

Um técnico era responsável pelas mudanças, um homem de ação, comunicativo sabia

ser amigo dos moradores, fazia parte da equipe social, era responsável pelas mudanças

e toda a logística envolvida. Um dia foi encurralado por um indivíduo armado e só

não foi baleado pelo grande jogo de cintura, característica de sua personalidade.

Achava o meliante que era um desafeto que queria roubar sua esposa.

Imagine um paulista, de nível superior, no exercício da função com nenhum

envolvimento amoroso com as moradoras das favelas, encurralado!

Logo a notícia se espalhou no governo, sua esposa, preocupada com a vida do marido,

a empresa de SP pouco podia fazer para resolver o impasse, o governo acionado e

qual não foi nossa surpresa dos dois saírem de um beco rindo após descoberta do

engano.

Susto superado, novas mudanças e após os últimos sustos as mudanças para as

habitações definitivas, uma mega operação foi planejada com direito a festas e

vários eventos, mas para nós muito trabalho! Fazer uma mudança já é um transtorno,

imagine milhares delas e ainda para pessoas carentes onde todos os meios teriam que

ser fornecidos, desde caixotes até almoço no dia da mudança, vistoria dos imóveis e

muito trabalho no pós ocupação.

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As famílias antes viviam em habitações e ocupações irregulares, tinham relações com

a vizinhança que deveriam ser respeitadas, faziam suas necessidades em pé direto

no cano que ia para o rio, nunca viram uma bacia de banheiro, nem um chuveiro,

não pagavam luz, nem água que buscavam na bica, tinham atividades comerciais

irregulares, outras atividades com animais, alguns pescadores, outros tinham grupos

folclóricos de dança do bumba meu boi, alguns analfabetos, outros deficientes,

dormiam em redes, o lixo era jogado direto no rio, muitas ações sociais teriam que

ser repensadas.

A mudança era profunda de casas para apartamentos, uma adaptação nas paredes

foi feita para possibilitar colocar ganchos para as redes, e um condomínio deveria

ser formado, com regras de convivência, locais para o lixo, questões com barulho,

cuidado nas janelas, o extintor de incêndio nunca antes visto, os animais como seria

a questão dos cachorros de estimação, dos cavalos, dos porcos, do meio de vida de

cada um.

Ser cidadão é ter deveres e antes achavam que só tinham direitos, será o conjunto

habitacional um ambiente sustentável para quem se destina? O jeito de viver bem

para estas famílias são muito diferentes do que consideramos razoáveis condições de

habitabilidade e educar pessoas já adultas com cultura própria é uma missão difícil.

Seria como mudar os valores construídos, a cultura de um povo no seu habitat.

Inserir as favelas nas cidades é o principal objetivo do trabalho, a inclusão social

deve ser uma conquista para os beneficiados e não somente para os proponentes ou

agentes técnicos envolvidos.

A comercialização e retorno para locais de favelamento seriam para muitos inevitáveis,

por razões culturais e de modo de vida conflitante com a nova realidade.

NO RIO DE JANEIRO

Chegamos ao RJ para dois serviços, um na Favela Santa Marta e outro no Complexo

de Manguinhos este ainda sem a UPP.

No Complexo de Manguinhos, no horário comercial, várias operações policiais, através

de viaturas, veículos e helicópteros blindados, tiroteios impedindo o trabalho na

área.

Estas operações eram realizadas também através de policiais à paisana, ocorrendo

confrontos relâmpagos e inesperados na comunidade, com tiroteios e correria,

ocasionando um clima de apreensão entre os moradores da área e pânico dos

profissionais que realizam o trabalho de campo.

O problema se agravou logo após a pacificação do complexo Alemão, Mangueira,

complexo da Tijuca amplamente divulgado pela mídia em datas posteriores ao início

do nossotrabalho, sob o estarrecimento do mundo.

Manguinhos servia como território de refúgio da maioria do tráfico das comunidades

vizinhas. Os confrontos caracterizados tanto por facções rivais, quanto por inúmeras

operações policiais

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O complexo de Manguinhos foi recentemente considerado uma das comunidades mais

violentas do RJ

Para melhor retratar a realidade do local, segue abaixo algumas reportagens de

situações enfrentadas no local.

Tomada do complexo do alemão

O chefe da Polícia Civil do Rio de Janeiro, Allan Turnowski, confirmou na manhã deste

domingo (28/11/2010) que a área conhecida como Areal, que fica no centro do

Morro do Alemão, já foi tomada pelos policiais. “A Polícia Civil acaba de tomar o

Areal, um dos mais difíceis acessos do Alemão”, afirmou o delegado, acrescentando

que os agentes estão entrando no conjunto de favelas por outros pontos. “Estamos

penetrando por outros pontos, entrando por quatro pontos - Coqueiro, Joaquim de

Queiroz, do lado direito, e no Areal, tomando as duas pontas das montanhas”, disse.

De acordo com Turnowski, dois helicópteros da corporação trabalham em conjunto para

capturar criminosos. “São dois helicópteros, um que faz o combate e um que filma as

ações monitorando os criminosos e apontando onde eles estão escondidos. Muitos já

entraram em casas do Alemão, não sabemos se tem moradores ou não”,

Morro da Mangueira será Ocupado pelas UPP’s ( Publicado em 2 de junho de 2011 )

Morro da Mangueira será ocupado pela Policia até Setembro! O Principal alvo da Policia

Carioca agora é o Morro da Mangueira na zona norte do Rio de Janeiro. A policia

acredita que lá estão as principais cabeças do C.V.

Por volta das 6h deste domingo (19/06/2011), as forças policiais do Rio de Janeiro

deram início a ocupação na favela no Morro da Mangueira, em São Cristóvão. Os morros

Telégrafos e Parque Candelária também serão ocupados. A ação é o primeiro passo para

a instalação de mais uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP), a 18ª na cidade.

Segundo informações do governo estadual, a ação ocorreu sem troca de tiros ou

registro de feridos. A operação é coordenada pela Secretaria de Segurança, por meio

da Polícia Militar e da Polícia Civil, com apoio da Marinha, do Exército, da Força Aérea

Nacional, da Polícia Federal, do Corpo de Bombeiros, da Defensoria Pública do Estado e

da Prefeitura do Rio. Ao todo, cerca de 750 pessoas estão no local, afirma o governo.

A instalação da UPP deve ser finalizada entre 30 e 60 dias --após este período, os

agentes do Bope deixam o complexo.

As forças policiais contaram com a ajuda de recursos utilizados em novembro do ano

passado, durante a tomada da Vila Cruzeiro e do Complexo do Alemão, e em fevereiro

deste ano, quando da ocupação do Complexo do São Carlos.

Entre os equipamentos utilizados estão 14 blindados das polícias e dos Fuzileiros

Navais (como Piranhas, Lagartas Anfíbio - Clanf e M-113), além de quatro helicópteros,

caminhões, motos, reboques e ônibus. O M-113 é capaz de destruir as barreiras

normalmente instaladas pelos traficantes nas vias de acesso à favela para dificultar a

passagem das viaturas da polícia.

O governo estadual já anunciava a ação desde o meio da semana. Em operação realizada

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na Mangueira no dia 19 de maio, o Bope e mais quatro batalhões da PM encontraram

na comunidade um túnel de 200 metros usado por traficantes para transportar drogas

e armas sem serem vistos e também como possível rota de fuga.

Governo do Rio quer pacificar 17 favelas da Tijuca

Rio - O governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral Filho (PMDB), prometeu hoje

ocupar todas as 17 favelas da Tijuca, na zona norte da cidade, neste ano. “Setecentos

policiais formados estão disponíveis. Todas as comunidades da Tijuca e outras áreas

serão pacificadas até o final deste ano”, declarou governador. Segundo ele, 15% dos

moradores das favelas da cidade estão em comunidades policiadas pela UPP. Ataque

deixou três policiais mortos

Os confrontos envolvendo traficantes do Morro dos Macacos, obrigavam moradores a

viver em estado de tensão.

O episódio mais emblemático, em 17 de outubro do ano passado, deixou mais do que

marcas em paredes e janelas.

Após uma guerra entre traficantes de facções rivais, o helicóptero Fênix 3 da Polícia

Militar foi derrubado por tiros disparados por bandidos, provocando a morte de três

policiais.

A violência aconteceu depois que criminosos partiram do Morro de São João, no Engenho

Novo, para invadir o Morro dos Macacos. O traficante Fabiano Atanázio da Silva, o FB,

foi apontado como um dos chefes da invasão. A ação dos bandidos levou pânico aos

moradores, tanto na favela como no asfalto. Dentro de casa, eles procuravam abrigo

em cômodos fora da linha de tiro.

Operação deixa ‘puxadinho’ de pé

Ação em Manguinhos resulta em cinco mortes, motos e armas apreendidas

e barricadas destruídas. Obra irregular permanece.

Rio - Uma semana após O DIA denunciar o ‘puxadinho’ que seria construído por um

traficante num dos prédios do PAC no Conjunto Embratel, em Manguinhos, a polícia

voltou ao local numa mega-operação que resultou na morte de cinco suspeitos. Trinta

motos foram apreendidas, três pistolas, duas granadas, drogas e barricadas foram

destruídas. Mas o ‘puxadinho’ continua de pé, apesar de a Secretaria de Ordem Pública

(Seop) ter dado apoio ao Batalhão de Operações Especiais (Bope) na ação.

Cerca de 60 homens chegaram às comunidades do Mandela e Embratel por volta das

5h30. Na troca de tiros, cinco homens foram baleados e morreram a caminho do

Hospital Geral de Bonsucesso. O objetivo da PM era recuperar veículos roubados.

No início da tarde, a Polícia Civil também fez buscas nas comunidades. Inicialmente,

a equipe da 21ªDP (Bonsucesso), que voltou à casa do chefe do tráfico do Mandela,

Marcelo Fernando Pinheiro Veiga, o Marcelo Piloto. Os objetos de luxo, como móveis e

eletrodomésticos.

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Os outros apartamentos, cujas chaves haviam sido encontradas pela PM na semana

passada, continuam vazios. A 21ªDP abriu investigação para apurar as denúncias de

que traficantes estariam se apoderando de apartamentos construídos pelo PAC.

Em seguida foi a Delegacia de Roubos e Furtos de Automóveis (DRFA) que esteve na

favela, mas nada foi encontrado, além de duas réplicas de armas, um fuzil e uma

pistola, que os bandidos da área usam para assaltar motoristas.

Dois jacarés são encontrados durante operação em Manguinhos.

Além dos animais, dois menores de idade foram apreendidos.

( André Muzell / R7 )

Dois filhotes de jacaré foram apreendidos por policiais do Batalhão de Benfica (22º

BPM) durante operação em Manguinhos, na zona norte do Rio de Janeiro, na manhã

desta quarta-feira (6).

Policiais do Batalhão de Benfica (22º BPM) faziam, às 8h20 desta quarta-feira, uma

operação na favela do Mandela, em Bonsucesso, na zona norte do Rio de Janeiro, para

apreender armas e drogas.

Aproximadamente 30 policiais participaram da ação que teve início às 7h.

Segundo a PM, os agentes seguiram para Manguinhos também para apreender carros

e motos roubados.

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O comandante do batalhão, tenente-coronel Glaucio Moreira, informou que nada foi

encontrado no Mandela.

Em Manguinhos, a polícia apreendeu motocicletas.

PM passa cerol no reduto do crack

Polícia apreende quase 100 quilos da droga

Uma das maiores apreensões de crack já feitas no Rio de Janeiro aconteceu ontem, no

Mandela 3, no Complexo de Manguinhos, por policiais militares do 22º BPM (Maré).

Dentro de uma cisterna no alto de uma casa da favela, os militares encontraram 72

tabletes da droga prensada, com o desenho de um cavalo em alto relevo e o símbolo do

super-homem como embalagem. No total havia cerca de 100 quilos da droga.

A operação da Polícia Militar no conjunto de favelas da região - onde está instalada a

maior cracolândia da cidade, movimentando cerca de R$ 40 mil por dia - começou de

manhã e tinha como principal objetivo checar a informação do esconderijo das drogas.

Além do crack, foram apreendidos 36 tabletes de cocaína pura, com cerca de 40 quilos

de pó, um prejuízo inicial para os bandidos calculado em torno de R$ 560 mil. Sem

contar os R$ 60 mil dos outros 150 quilos de maconha encontrados na ação policial.

“Foi uma apreensão significativa também pelo derrame financeiro na quadrilha”,

explicou o capitão Marcos André, que coordenou a operação de ontem. Levando-se em

consideração que uma pedra de um grama de crack deixa uma pessoa viciada, pode-se

dizer que 100 mil foram diretamente beneficiadas com a apreensão.

Os militares também apreenderam, junto com as drogas, uma submetralhadora de

fabricação artesanal. Em outra incursão realizada, paralelamente, na Vila dos Pinheiros,

desta vez no Complexo da Maré, os policiais militares do 22º BPM encontraram ainda

outras duas escopetas calibre 12.

PM ferido fica encurralado em comunidade na zona norte do Rio, 48 exibições.

Nas imagens, feitas por um morador da comunidade de Manguinhos, na zona norte

da cidade, o policial aparece ferido e encurralado. Ele é resgatado por um veículo

blindado. Assista ao vídeo.

PM faz ação conjuntas em favelas do Jacarezinho, Mandela e Manguinhos

( Ana Claudia Costa )

RIO - Policiais militares do 3º BPM (Méier) fazem, na manhã desta terça-feira, uma

operação policial na Favela do Jacarezinho, na Zona Norte do Rio. O objetivo, segundo

o comandante do batalhão, coronel Rui França, é checar denúncias sobre esconderijo

de armas e drogas. Já houve confronto. Informações não confirmadas dão conta de que

traficantes teriam jogado uma bomba de fabricação caseira na direção dos policiais.

Até o momento, foram apreendidos um carregador, 200 gramas de maconha e 12

munições calibre 9 mm.

A ação na Favela do Jacarezinho é feita em conjunto com policiais do 22º BPM (Maré),

que também efetuam uma operação nas favelas de Mandela e Manguinhos. A ação uniu

os dois batalhões porque traficantes dessas comunidades, que são da mesma facção

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criminosa, utilizam a Avenida Dom Helder Câmara para atravessar de uma favela para

outra. Até o momento não há informações de presos nem feridos.

Traficantes jogam bombas artesanais em direção a jornalistas

Equipes faziam cobertura de operação policial na comunidade de Manguinhos

Traficantes da comunidade de Manguinhos lançaram duas bombas artesanais em

direção a jornalistas que faziam a cobertura da operação policial na favela na manhã

desta terça-feira (24). Os PMs do Batalhão da Maré (22º BPM) tentavam encontrar os

criminosos às 11h50.

De acordo com a polícia, os traficantes estariam escondidos dentro do canteiro de obras

do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) na favela.

Segundo relatos dos repórteres, os bandidos explodiram primeiro uma bomba próximo

às equipes. Uma outra também foi lançada, mas não chegou a explodir. Ninguém ficou

ferido.

O objetivo da operação era localizar os criminosos que mataram dois taxistas no dia 11

de maio na avenida Leopoldo Bulhões, na zona norte.

Eles tentavam encontrar ainda o grupo suspeito de assaltar o taxista Sérgio Fernando

Gouveia, que teve 50% do corpo queimado e o carro incendiado por bandidos no

sábado.

A Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro informou às 10h45 desta terça-feira

que é estável o estado de saúde dele. Segundo a secretaria, as pernas foram as partes

mais atingidas. O taxista estava internado nesta manhã no Centro de Tratamento de

Queimados Adultos do Hospital Municipal Souza Aguiar, no centro do Rio.

Polícia faz operação em cracolândia no Rio e prende mais de 70 usuários da droga

( Hanrrikson de Andrade - Especial para o UOL Notícias - No Rio de Janeiro )

Uma operação da Polícia Militar do Rio de Janeiro em conjunto com a Secretaria

Municipal de Asssistência Social retirou 76 usuários de crack nesta quarta-feira (25)

em um ponto de venda e consumo da droga na favela do Jacarezinho, na zona norte da

capital fluminense. Foram recolhidos 60 adultos e 16 menores em uma das principais

cracolândias do subúrbio carioca. Os policiais também apreenderam pedras de um tipo

de narcótico que pode ser óxi.

Os menores foram conduzidos pelo órgão municipal para a Delegacia de Proteção

à Criança e ao Adolescente (DPCA), onde serão identificados e posteriormente

encaminhados para abrigos da prefeitura que oferecerem tratamento para usuários

de drogas. Quanto aos adultos, que passarão pelo mesmo processo, 38 homens foram

levados para a 17ª DP (SãoCristóvão) e 22 mulheres à 19ª DP (Bonsucesso).

Ao observarem a chegada dos assistentes sociais, muitos usuários fugiram para o

interior da favela. Eles abandonaram pelo caminho quantidades não informadas de

crack, cocaína, maconha, pedras do que pode ser óxi, além de facas e cachimbos. Esta

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foi a terceira operação para reprimir o consumo de crack somente no Jacarezinho -- 190

pessoas foram retiradas nas outras ações.

De acordo com estatísticas da prefeitura, 691 pessoas foram presas nas cracolândias da

capital fluminense desde o fim de março. No entanto, a maioria retornou para as ruas

-- apenas 30% aceitaram o auxílio dos abrigos especializados.

Segundo investigações policiais, além da favela do Jacarezinho, há pelo menos quatro

grandes cracolândias na cidade, todas na zona norte: na comunidades de Manguinhos,

em ruas do bairros de São Cristóvão e da Pavuna, e num ponto da Avenida Brasil, em

frente ao Parque União (no acesso à Ilha do Governador).

Operação em Manguinhos deixa cinco mortos e quatro detidos

( Jornal do Brasil* Com Portal Terra )

RIO - Mais 58 usuários de crack foram recolhidos na madrugada desta terça-feira por

uma operação da Secretaria Municipal de Assistência Social na favela de Manguinhos,

com apoio das polícias militar e civil. Grande quantidade do entorpecente foi

apreendida no local, e duas pessoas foram presas em uma casa de endolação de

drogas que funcionava na comunidade. Segundo a Secretaria Municipal de Assistência

Social, muitos usuários de crack migraram para a cracolândia de Manguinhos devido à

dificuldade de acesso para a favela. Documentos roubados, facas, canivetes e tesouras

também foram apreendidos.

Dois carros blindados e quatro viaturas foram usados pela Polícia Militar, que entrou na

comunidade com 40 homens, às 5h. Na chegada, houve um pequeno confronto entre

policiais e traficantes. Ao todo, 133 pessoas participaram da ação, sendo 70 servidores

da Secretaria Estadual de Assistência Social. Já a Delegacia de Proteção à Criança e ao

Adolescente apoiou a operação com 13 policiais civis e cinco viaturas.

Ao perceberam o inicio da operação, alguns viciados invadiram um ônibus para tentarem

escapar, mas foram impedidos pelos policiais. De acordo com um levantamento da PM,

existem oito pontos de uso de drogas na região.

Entre os dependentes, havia dez crianças e adolescentes e duas mulheres grávidas. Os

recolhidos foram levados por um ônibus da prefeitura para o 22º BPM (Maré), onde

será feita uma triagem. Desde o dia 31 de março, a operação é a 16ª do tipo realizada

pela secretaria, que já recolheu 1.038 pessoas em cracolândias da cidade, sendo 203

menores.

As crianças apreendidas nesta operação serão levadas para a Central de Recepção

Carioca, onde será avaliada a necessidade de internação forçada. Atualmente, 70

crianças e adolescentes estão em tratamento compulsoriamente em quatro abrigos da

prefeitura. Esta é a 7ª operação baseada no novo Protocolo de Abordagem Social, que

permite manter os menores abrigados contra a vontade própria, medida que recebeu

apoio da Justiça e do Ministério Público . Para os adultos, haverá 28 vagas em duas

instituições parceiras da secretaria: o Retiro do Maranathá, em Engenho de Dentro, e

Emaús, em Cordovil.

Equipes da secretaria tentarão convencer as duas mulheres grávidas a aceitarem

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tratamento. No último dia 10, uma decisão da juíza Ivone Caetano, da Vara da

Infância, determinou a primeira internação compulsória de um adulto viciado em crack

. Com 22 anos, a dependente estava no oitavo mês de gestação e relutou em seguir

para o abrigo. O pedido para que ela recebesse o tratamento contra sua vontade partiu

de sua própria família.

RJ: em fuga, traficante sofre acidente de moto e é preso

Policiais do Batalhão de Operações Especiais (Bope) e do Batalhão de Choque do Rio

de Janeiro prenderam na manhã desta terça-feira o traficante conhecido como DG. Ele

foi reconhecido por policiais após sofrer um acidente de moto na avenida Leopoldo

Bulhões, em Manguinhos, na zona norte.

De acordo com a Polícia Militar (PM), ele estaria fugindo de uma operação policial

que verifica denúncias sobre tráfico de drogas na favela. O veículo blindado do Bope,

conhecido como “Caveirão”, dá apoio à operação.

Até o momento não houve troca de tiros e só o traficante DG foi preso e levado para a

21ª Delegacia de Polícia de Bonsucesso com ferimentos leves.

Rio: grávida é ferida por estilhaços de bala em ação policial

Uma grávida foi atingida por estilhaços de bala na manhã desta quarta-feira na

localidade de Boa Esperança, no bairro Jacarezinho, zona norte do Rio de Janeiro. Ela

foi ferida durante uma operação da Polícia Civil para capturar o traficante Diogo de

Souza Feitoza, o DG, resgatado por comparas de uma delegacia poucas horas depois

de ser preso.

A mulher estava ao lado do veículo blindado da polícia, conhecido como caveirão, e

foi atingida por fragmentos de bala. Ela foi socorrida no local pela ambulância da

Coordenadoria de Recursos Especiais (Core) e levada para o hospital Salgado Filho,

no Méier. Com ferimentos leves, mulher foi liberada e, logo após, ouvida pela polícia.

Segundo a assessoria da Polícia Civil, ainda não se sabe de onde partiu o tiro, mas a

capsula foi encontrada e será periciada.

Resgate

DG foi preso na manhã de ontem, após tentar furar uma barreira policial e sofrer um

leve acidente de moto na favela de Manguinhos. Ele foi levado por policiais militares

para a 25ª Delegacia de Polícia, no Engenho Novo. Enquanto os agentes faziam os

trâmites legais para registrar o flagrante, 15 bandidos fortemente armados invadiram

a delegacia, renderam os policiais e libertaram o traficante. A ação dos comparsas

foi às 14h, menos de três horas depois da prisão do traficante e durou cerca de cinco

minutos.

Desde a tarde de terça, equipes da Polícia Civil estão nas ruas em busca do traficante

e dos criminosos que fizeram o resgate. Já foram identificados 10 dos 15 homens que

invadiram a delegacia. Todos são integrantes da facção criminosa conhecida como

Comando Vermelho.

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A chefe da Polícia Civil do Rio de Janeiro, Martha Rocha, divulgou nota à imprensa

ainda ontem e pediu “ação imediata para apurar os fatos”. Os dois advogados que

acompanharam Diogo de Souza Feitoza na delegacia foram presos porque, segundo o

delegado Antenor Lopes, eles passaram informações para os traficantes que invadiram

o local.

Comando Vermelho movimentou mais de R$ 17 Milhões em Mandela,

Manguinhos e Jacaré ( Publicado em 5 de julho de 2012 )

A ousadia da ação que resgatou DG, na última terça-feira, mostrou que os comparsas

do traficante têm poder. Um relatório da Polícia Civil, feito em agosto de 2010, mostra

ainda que eles têm também dinheiro. E muito. De acordo com o documento, em nove

meses, entre maio de 2009 e janeiro de 2010, quase R$ 17 milhões foram movimentados

pela facção criminosa que domina o Complexo de Manguinhos, Mandela e Jacaré.

Os dois meses de maior movimento foram setembro e dezembro de 2009, quando as

quantias chegaram a quase R$ 2,5 milhões por mês. A análise da contabilidade do

tráfico foi feita pelo Laboratório de Tecnologia contra a Lavagem de Dinheiro da Polícía

Civil, com base numa agenda apreendida pela 21ª DP (Bonsucesso), durante operação

no Campo do Coreia, no Complexo de Manguinhos, em maio de 2010.

A quantia envolve as mais diferentes movimentações de dinheiro do tráfico, vão desde

a quantia gasta com a compra e venda de drogas e a aquisição de fuzis e munição,

até gastos com pagode, bailes funks e fogos de artifício. Frequentemente, aparecem

também na agenda gastos com remédios e consultas médicas.

Várias vezes por mês, uma parte do dinheiro da quadrilha ia para “Piloto”, como

está descrito na agenda. A mãe do traficante Emerson Ventapane da Silva, o Mão,

também estava sempre na lista. Era “fortalecida”, descrevem os bandidos. Os custos

dos traficantes incluíam ainda, mensalmente, visitas a comparsas presos, gasolina,

comida para a quadrilha, deslocamentos para vários fóruns do estado e ajuda de custo

em enterros.

Na contabilidade do tráfico, aparecem ainda gastos, no mínimo, curiosos. Em 29 de

agosto de 2009, R$ 250 são usados para “Passeio Criança”; e em 25 de maio, a mesma

quantia vai para “Passeio na Cidade”. Já no dia 26 de agosto, R$ 4.500 são destinados

para a “Liberdade Amigos”. Quase todo mês, parte da verba vai ainda para o “Projeto

Natação”.

O relatório resultante da apreensão da agenda do tráfico faz parte do processo da 33ª

Vara Criminal, onde Piloto e DG, além de outros 11 comparsas, são réus.

Polícia faz operação em busca de quadrilha que resgatou criminoso de delegacia

Rio  -  Cerca de 100 agentes da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core) e de

diversas delegacias especializadas e distritais realizam operação, nesta sexta-feira, nas

regiões do Jacarezinho, Manguinhos e Mandela, na Zona Norte. Os policiais buscam o

traficante Diego de Souza Feitosa, o DG, e seus comparsas que o resgataram da 25ª DP

(Engenho Novo) na última terça.

No Jacarezinho, policiais foram recebidos a tiros por bandidos. Não há registro de

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feridos. Agentes encontraram, na comunidade, uma motocicleta que pode ter sido usada

no resgate ao traficante DG. A moto estava abandonada em uma localidade conhecida

como Concordia, ao lado de uma parede onde estava escrita a frase “Liberdade para

DG já!”. 

Dois suspeitos já foram presos.  O delegado da Coordenadoria de Recursos Especiais

(Core), Ricardo Barbosa, reafirmou que o objetivo da incursão é localizar o traficante

e os responsáveis  pela sua fuga. “Estamos cruzando dados do nosso serviço de

inteligência com informações repassadas pelo Disque-Denúncia (2253-1177)”, disse.

Ousadia de criminosos

O resgate de DG de dentro da unidade policial não foi a primeira demonstração da

ousadia de traficantes da região com a Polícia Civil.

A audácia do ‘bonde’ de Manguinhos, Mandela e Jacarezinho foi evidenciada em

fevereiro, em confronto com a Coordenadoria de Recursos Especiais (Core), quando

um agente foi baleado. Na época, 12 homens da Core iniciaram patrulhas no entorno

das comunidades, a pedido da Chefia de Polícia, para coibir roubos de carros e a livre

circulação de homens armados nas vias.

Após a invasão à 25ª DP para resgatar preso, policiais fizeram operações em favelas de

Manguinhos, mas não conseguiram localizar bando.

Após o episódio, as rondas não foram mais feitas.Caso as patrulhas ainda existissem,

poderiam ter dificultado, por exemplo, o trânsito do comboio até a delegacia para

resgatar DG. “Em fevereiro, foram uns 50 bandidos atirando por uma hora de todos os

lados. Eles sabiam que a equipe estava encurralada”, contou um policial da Core amigo

de André Ximenes, 42, a vítima.

Para o presidente do Sindicato dos Delegados de Polícia do Rio, José Paulo Pires, o fato

contribuiu para ações mais ousadas do bando. Em fevereiro, equipe da Core flagrou um

homem armado de moto. Após perseguição, o criminoso largou o veículo e correu para

dentro de Manguinhos.

No local, policiais foram atacados, e o agente, baleado. A equipe foi retirada em

blindado da PM. No contra-ataque, um suspeito foi preso. Procurada, a Chefia de

Polícia não falou sobre o assunto ontem.

Após o resgate do preso na 25ª DP, o sindicato encaminhará pedidos à Chefia de Polícia

Civil e à Secretaria de Segurança para que sejam instaladas câmeras no perímetro

das delegacias, com monitoramento interno. Entre os dez bandidos apontados,

inicialmente, pela polícia como integrantes do bando, está um homem que usa prótese

na perna. Ontem, mais dois foram identificados.

Na noite de quarta-feira, homem que integraria o tráfico no Jacarezinho morreu na

troca de tiros com policiais da 77ª DP (Icaraí) na Favela do Viradouro, em Niterói. O

delegado Mário Luiz da Silva não descarta a possibilidade de o bando ter fugido da

favela do Rio para escapar das buscas da polícia, após o resgate de DG.

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Vídeos desacatam a polícia e comemoram resgate de DG

Dois dias após o resgate de DG, vídeos insultando a polícia e mostrando o poder bélico

do tráfico das favelas de Manguinhos e Mandela foram divulgados ontem no Youtube.

A gravação postada por um homem identificado como ‘Luciano do Youtube’ comemora

a liberdade de DG e exalta o chefão na comunidade Marcelo Fernando Pinheiro Veiga, o

Marcelo Piloto. Agentes da Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática abriram

inquérito para identificar os autores.

No dia da invasão à 25ª DP, ligação do irmão de DG, Luan de Sousa Feitosa, para o

advogado Marco Ferreira, foi um indício para a polícia suspeitar de que o segundo teria

informado ao bando a cela em que o traficante estava. O advogado foi preso.

Com o reforço no policiamento, mulher de 27 anos foi detida ontem em ônibus na

Linha Amarela. Ela seguia com drogas do Jacarezinho para a Cidade de Deus.

Perneta na 25ª DP

Sem perna, mas com disposição para afrontar a Polícia Civil. Apontado como um dos 15

homens que invadiram a 25ª DP (Engenho Novo) armados com fuzis e metralhadoras

israelenses, para resgatar o DG, Luiz Antônio Andrade, o Toinho, usa uma prótese

ortopédica em formato de coxa esquerda, canela e pé.

Segundo policiais, ele também é conhecido como Perneta. A trajetória de Toinho ou

Perneta começou a ser alvo da polícia em 2004. Ele respondeu a processo por porte

ilegal de arma, mas acabou absolvido na 35ª Vara Criminal. Cinco anos depois, ele

respondeu ainda por tráfico de drogas na 38ª Vara Criminal, mas também foi absolvido.

Desde o ano passado, o acusado da invasão à delegacia responde por tráfico de drogas

na 2ª Vara Criminal de Duque de Caxias. De acordo com investigações da Polícia Civil,

Toinho é responsável pela embalagem de pedras de crack na Favela de Antares, em

Santa Cruz, na Zona Oeste, mas também costuma ficar baseado na comunidade de

Mandela, no Complexo de Manguinhos.

Investigações revelam que o criminoso só sai da favela de moto, acompanhado de

comparsas. Ontem, na tentativa de recapturar DG e prender os invasores, agentes da

Coordenadoria de Recursos Especiais (Core) fizeram batidas em favelas da Zona Oeste.

Polícia faz operação em Manguinhos e Mandela em busca de traficantes

RIO - Policiais civis fizeram, na manhã desta quarta-feira, uma operação nas comunidades

de Manguinhos e Mandela, na Zona Norte. Segundo o subchefe operacional da Polícia

Civil, delegado Fernando Veloso, cerca de 50 policiais da Coordenadoria de Recursos

Especiais (Core) e da 22ª DP (Penha) foram a essas favelas checar informações que

poderiam levar à prisão de traficantes no local. A ação contou com o apoio de um

helicóptero blindado da Polícia. Ninguém foi preso e nada foi apreendido.

Durante a madrugada e a manhã desta quarta-feira, o policiamento foi reforçado na

25ª DP (Rocha). O aumento do efetivo teve como objetivo evitar represálias por parte

de traficantes após a operação realizada pela Polícia Civil nas Favelas do Jacarezinho e

Nelson Mandela, nesta terça-feira, quando três homens morreram e nove foram presos.

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A ação buscou localizar bandidos que participaram do resgate de Diogo de Souza

Feitosa, o DG, na semana passada, naquela mesma delegacia. Entre os mortos estavam

dois homens apontados pela polícia como participantes da invasão. Durante toda a

madrugada, o clima foi de aparente tranquilidade naquela região. Na manhã desta

terça, os nove presos foram transferidos para casas de custódia.

Na operação no Jacarezinho desta terça, morreram Fábio Correia Leitão, o Fabinho do

Pontilhão, e Cleyton Bernardes dos Santos, acusados da invasão à delegacia. As mortes

foram durante tiroteio com policiais da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core).

Dois suspeitos ficaram feridos e foram levados para o Hospital Salgado Filho, no Méier.

Na mesma favela, outros dois homens foram mortos durante confronto com policiais

militares.

Na segunda-feira, o secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, afirmou que

o resgate do traficante fez com que o estado decidisse antecipar para este ano a

implantação de uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) no Jacarezinho e nas

vizinhas favelas de Manguinhos e Mandela.

Na ação da Polícia Civil, nove traficantes foram presos. Três pistolas foram apreendidas

com o morto e os feridos, além de 50 quilos de drogas. De acordo com o subchefe

operacional da Polícia Civil, delegado Fernando Veloso, os agentes tinham informações

que poderiam levar à captura de Diogo no Jacarezinho. As equipes também tinham

recebido dicas sobre esconderijos de armas e drogas.

Já na ação desencadeada pela PM, além de um homem morto, três suspeitos foram

presos. Foram apreendidos um fuzil e uma réplica dessa mesma arma, sete motocicletas,

uma pistola calibre 45, um carro e cerca de quatro quilos de maconha. Os PMs também

retiraram barreiras feitas por traficantes para impedir a circulação de carros da polícia

na favela.

Também ontem, mas em outra região da cidade, Santa Cruz, policiais federais prenderam,

na Favela de Antares, Wanderley Barbosa da Silva, apontado como contrabandista de

armas do Paraguai para o Brasil. Outros três suspeitos foram presos. Com eles foram

apreendidos uma pistola, drogas, carregadores e radiotransmissores. A ação contou

com o auxílio de PMs.

ODIA.IG.COM - 11 DE JULHO DE 2012

Objetivo de operação no Jacarezinho seria mapear região para futura ocupação

Rio -  Uma semana após bando invadir delegacia para resgatar comparsa, cerca de 100

policiais militares e civis realizaram, nesta terça-feira, operação nas comunidades do

Jacarezinho, no Jacaré, e Mandela, em Manguinhos, ambas na Zona Norte.

Quatro suspeitos de integrar o tráfico de drogas na região foram mortos, sendo que,

segundo a polícia, dois deles teriam participado do resgate de Diogo de Souza Feitosa,

o DG, dentro da carceragem da 25ª DP (Engenho Novo). Nove pessoas acabaram presas.

O objetivo da ação seria mapear a região para futura ocupação policial. Veja o vídeo

do SBT Rio

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Fábio Correia Leitão, o Fabinho Fundão ou FB do Pontilhão, estava em uma casa na

Rua Alvarez Azevedo, quando agentes da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core)

chegaram. Ao perceber a presença do criminoso, os agentes cercaram o imóvel. Fabinho

Fundão tentou se defender e disparou contra os policiais, que revidaram.

Poucos metros depois, numa casa, os policiais encontraram Clayton Bernardes dos

Santos, o 2B ou Babão, e Fellipe Fernandes Faria de Oliveira, de 22 anos. A dupla

foi baleada e levada ao Hospital Salgado Filho, no Méier. Ambos morreram. Todos os

corpos passaram por perícia no local do fato e encaminhados ao Instituto Médico-Legal

(IML).

“A Polícia Civil não vai parar de investigar este caso até prender todos os acusados.

Hoje (ontem), foi apenas um serviço que vai se estender até a captura de todos os

envolvidos”, comentou o policial.

Polícia faz operação em Manguinhos e Mandela em busca de traficantes

RIO - Policiais civis fizeram, na manhã desta quarta-feira, uma operação nas comunidades

de Manguinhos e Mandela, na Zona Norte. Segundo o subchefe operacional da Polícia

Civil, delegado Fernando Veloso, cerca de 50 policiais da Coordenadoria de Recursos

Especiais (Core) e da 22ª DP (Penha) foram a essas favelas checar informações que

poderiam levar à prisão de traficantes no local. A ação contou com o apoio de um

helicóptero blindado da Polícia. Ninguém foi preso e nada foi apreendido.

Durante a madrugada e a manhã desta quarta-feira, o policiamento foi reforçado na

25ª DP (Rocha). O aumento do efetivo teve como objetivo evitar represálias por parte

de traficantes após a operação realizada pela Polícia Civil nas Favelas do Jacarezinho e

Nelson Mandela, nesta terça-feira, quando três homens morreram e nove foram presos.

A ação buscou localizar bandidos que participaram do resgate de Diogo de Souza

Feitosa, o DG, na semana passada, naquela mesma delegacia. Entre os mortos estavam

dois homens apontados pela polícia como participantes da invasão. Durante toda a

madrugada, o clima foi de aparente tranquilidade naquela região. Na manhã desta

terça, os nove presos foram transferidos para casas de custódia.

Na operação no Jacarezinho desta terça, morreram Fábio Correia Leitão, o Fabinho do

Pontilhão, e Cleyton Bernardes dos Santos, acusados da invasão à delegacia. As mortes

foram durante tiroteio com policiais da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core).

Dois suspeitos ficaram feridos e foram levados para o Hospital Salgado Filho, no Méier.

Na mesma favela, outros dois homens foram mortos durante confronto com policiais

militares.

Na segunda-feira, o secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, afirmou que

o resgate do traficante fez com que o estado decidisse antecipar para este ano a

implantação de uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) no Jacarezinho e nas

vizinhas favelas de Manguinhos e Mandela.

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Na ação da Polícia Civil, nove traficantes foram presos. Três pistolas foram apreendidas

com o morto e os feridos, além de 50 quilos de drogas. De acordo com o subchefe

operacional da Polícia Civil, delegado Fernando Veloso, os agentes tinham informações

que poderiam levar à captura de Diogo no Jacarezinho. As equipes também tinham

recebido dicas sobre esconderijos de armas e drogas.

Já na ação desencadeada pela PM, além de um homem morto, três suspeitos foram

presos. Foram apreendidos um fuzil e uma réplica dessa mesma arma, sete motocicletas,

uma pistola calibre 45, um carro e cerca de quatro quilos de maconha. Os PMs também

retiraram barreiras feitas por traficantes para impedir a circulação de carros da polícia

na favela.

Também ontem, mas em outra região da cidade, Santa Cruz, policiais federais prenderam,

na Favela de Antares, Wanderley Barbosa da Silva, apontado como contrabandista de

armas do Paraguai para o Brasil. Outros três suspeitos foram presos. Com eles foram

apreendidos uma pistola, drogas, carregadores e radiotransmissores. A ação contou

com o auxílio de PMs.

comentários10h50 Testemunha do caso Bruno foge de cadeia em Minas

GeraisPolícia encontra mala com mais de 100 kg de drogas ‘sortidas’

Rio  -  Policiais militares encontraram uma mala com aproximadamente 100 kg de

cocaína, crack e maconha durante as buscas no Complexo de Manguinhos, na Zona

Norte, na manhã desta sexta-feira. O Batalhão de Ações com Cães (BAC) fez ainda uma

grande apreensão de munições calibre 7.62 na região.

Homens do Batalhão de Choque, do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope)

e do BAC atuam na comunidade em mais um dia de caça do traficante Diogo de Souza

Feitoza, o DG, e seus comparsas. A ação é coordenada pelo Comando de Operações

Especiais (COE).

Policiais do BPChq prenderam três pessoas e apreenderam um menor. Segundo os

PMs, um homem e o adolescente tinham envolvimento com o tráfico de drogas. Outro

homem foi preso por receptação. Ele estava em uma motocicleta roubada. O terceiro

foi preso por homicídio. Ele era procurado pela Justiça.

Os PMs também apreenderam uma espingarda calibre 12 com munições, um fuzil 7.62

desmontado, dois facões, 140 pedras de crack, 65 papelotes de cocaína e munições

para armas calibres 9mm e 7.62. 

No Jacarezinho, agentes da Polícia Civil também procuram pelos  responsáveis  pela

ousada fuga de dentro da 25ª DP (Engenho Novo) na semana passada. Houve troca de

tiros na chegada dos policiais. Motoristas chegaram a retornar com seus veículos para

evitar as avenidas Dom Hélder câmara e dos Democráticos.

Polícia reforça segurança em delegacia

Objetivo seria evitar ataque após operação com três bandidos mortos no Jacarezinho.

O policiamento foi reforçado na madrugada desta quarta-feira (11) na Delegacia do

Engenho Novo (25ª DP), zona norte do Rio de Janeiro. A medida foi tomada pela

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Secretaria de Segurança Pública para evitar possível represália à operação realizada

terça-feira (10), no Jacarezinho, onde três homens foram mortos e nove, presos.

Segundo o DGPE ((Departamento Geral de Polícia Especializada), um dos mortos

era Fabinho do Fundão, que teria participado do  resgate do traficante Diogo de

Souza Feitoza, o DG, em 3 de julho, na delegacia.

De madrugada, grande número de policiais pôde ser visto em frente à 25ª DP e também

na esquina da rua General Belford, onde fica a unidade da Polícia Civil. Segundo

policiais, não houve anormalidade no entorno da delegacia durante toda a noite.

Advogados de traficante são presos por facilitar fuga ( 12 DE JULHO DE 2012 )

Entre os nove presos na ação de terça, no Jacarezinho, também havia um suspeito de

integrar o bonde que invadiu a delegacia, conhecido como Macarrão. Foram apreendidos

cerca de 5.000 pedras de crack e 30 tabletes de maconha.

Suspeito de integrar a quadrilha de traficantes de drogas que domina a favela do

Mandela, no complexo de Manguinhos, DG foi preso após se acidentar com uma

motocicleta perto da comunidade. Ele estava com duas granadas.

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Caça ao DG: Policiais civis trocam tiros com traficantes no Jacarezinho

Rio -  Em mais um dia de operação para capturar o traficante Diogo de Souza Feitoza,

o DG, policiais civis fazem buscas na Favela do Jacarezinho, na Zona Norte da cidade,

na manhã desta sexta-feira. Na chegada dos agentes, houve troca de tiros na região.

Motoristas que passam pelas avenidas Dom Hélder câmara e dos Democráticos tentam

voltar, evitando o local. No Complexo de Manguinhos, uma operação policial do

Batalhão de Choque (BPChq) e do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope)

acontece desde as 6h desta sexta.

Ainda não há informações de prisões ou apreensões.

Criminosos denunciados

A 12ª Promotoria de Justiça de Investigação Penal da 1ª Central de Inquéritos e a

Promotoria de Justiça junto à 16ª Vara Criminal denunciaram, nesta quarta-feira, DG

e outros 15 homens acusados de invadir a 25ª DP (Engenho Novo) para resgatá-lo. DG

foi preso, no dia 3 de julho, por posse ilegal de explosivo, receptação e participação em

falsificação de documentos públicos, e resgatado no mesmo dia. Também foi requerida

a prisão preventiva dos denunciados.

Além de Diogo, foram denunciados por quadrilha e por promoverem fuga de preso a

mão armada e mediante arrombamento do cadeado da cela Marcelo Fernando Pinheiro

Veiga, vulgo Marcelo Piloto, Davi Moraes de Sá, vulgo Davi Paraíba, Wallace Carlos da

Conceição, vulgo Churrasquinho, Eber do Nascimento Cândido, vulgo Ebinho, e Luiz

Augusto Roque de Melo Filho, vulgo Leno.

( WWW.ODIA.IG.COM.BR - RIO DE JANEIRO 13 DE JULHO DE 2012 )

Feira de drogas:

Imagens mostram bandidos recolhendo material ao perceberem presença da emissora.

O helicóptero da Rede Record flagrou no fim da tarde desta sexta-feira (13) traficantes

comercializando drogas ao ar livre na comunidade de Manguinhos. A ação dos

bandidos ocorreu logo após a saída dos policiais, que fizeram uma operação na região

e apreenderam grande quantidade de droga. Assista ao vídeo do flagrante abaixo.

Nas imagens é possível ver a ação dos bandidos que montaram uma feira de drogas ao

ar livre. Assim que perceberam a presença do helicóptero, os traficantes recolheram as

drogas e deixaram o local.

Operação na comunidade

Nesta sexta-feira, a polícia apreende uma grande quantidade de droga no Complexo de

Manguinhos, na zona norte do Rio de Janeiro. Três suspeitos foram presos e um menor

de idade apreendido durante a ação.

De acordo com a Polícia Militar, foram recolhidos 1.037 trouxinhas de maconha, 30

tabletes da mesma droga, 2.038 sacolés de cocaína, 16 tabletes de pasta base de

cocaína, 540 pedras de crack, 38 frascos de cheirinho da loló, 93 charutos de maconha,

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além de 1.102 munições calibre 5.56, munições para armas de calibre 7.62, três

carregadores de pistola calibre 9 mm e um silenciador.

Ainda segundo a PM, um homem e o menor tinham envolvimento com o tráfico de

drogas. Outro suspeito, que estava em uma moto roubada, foi preso por receptação. O

terceiro era procurado pela Justiça por homicídio.

Participaram da ação policiais do Bope (Batalhão de Operações Policiais Especiais),

BPChq (Batalhão de Choque) e Batalhão de Ações com Cães. A ação foi coordenada pelo

COE (Comando de Operações Especiais) com base em informações da Coordenadoria de

Inteligência da Polícia Militar.

Em meio esta dura realidade, o trabalho durou quase dois anos, é claro que foi muito

prejudicado, muitas vezes nossos técnicos reféns e acuados eram impedidos de entrar no

território e a missão por mais surpreendente possam ser os objetivos dos proponentes,

era regularizar a área e fornecer títulos de propriedade!

Será que a regularização poderia mudar aquela realidade? Não sei, mas finalmente o

complexo foi pacificado e uma UPP foi instalada após nossa saída do local.

Ora, esta claro que a população local ora era vítima, ora agente do crime e as crianças

que ali viviam e vivem, são frutos de um ambiente no mínimo turbulento, foram criadas

com mais medo dos policiais que dos bandidos e ainda assim a maioria dos seus pais

não quer deixar o local e ali permanecem deixando seus legados, sua identidade cultural

influenciada por aquele ambiente, a sua casa e o seu jeito de viver.

Já na Favela Santa Marta pacificada, outra realidade na mesma cidade, localizada

no Morro Dona Marta, no bairro de Botafogo, na cidade do Rio de Janeiro, no Brasil.

A origem do nome da favela remonta ao início do século XX, quando uma devota

de Santa Marta levou uma imagem da mesma para o alto do morro. Na década de

1930, foi construída uma capela para abrigar a imagem. O terreno pertencia ao

vizinho Colégio Santo Inácio, que passou a permitir que alguns de seus funcionários

morassem na encosta do morro, dando origem à atual favela.

Em 29 de maio de 2008, foi inaugurado um plano inclinado ligando as partes alta e

baixa da favela.

A favela encontra-se atualmente ocupada pela Polícia Militar do Estado do Rio de

Janeiro, que aí instalou, em 28 de Novembro de 2008, a primeira Unidade de Polícia

Pacificadora da cidade. De acordo com a Secretaria de Segurança Pública do Estado,

os pontos de venda de droga que funcionavam no local foram, então, extintos.

No início de 2009, a favela voltou aos noticiários, devido à instalação de uma rede

de internet wireless gratuita no morro, para uso da comunidade. Em 26 de junho de

2010, um ano após a morte do cantor estadunidense Michael Jackson, foi inaugurado

uma estátua em sua homenagem na favela. O local escolhido para a estátua foi a laje

onde ele havia gravado seu videoclipe They Don’t Care About Us, catorze anos antes.

A estátua foi construída pelo cartunista Ique.

Em julho de 2010, entrou no ar a Rádio Santa Marta, emissora comunitária da favela.

Através da frequência 103,3 MHZ, moradores da comunidade comunicam suas notícias

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para todo o bairro de Botafogo.

Há a quadra do G.R.E.S. Mocidade Unida de Santa Marta, na rua Jupira nº 72, onde

acontecem as principais atividades desportivas, culturais e sociais da favela, desde

o ensaio da escola de Samba até o Baile Funk, um dos melhores de zona sul, que

foi proibido pela Policia Militar. Poucos metros acima está localizado o espaço onde

improvisadamente, as crianças gostam de jogar futebol e taco, o Cantão. No alto

do morro, ou no pico, está o campinho, que é uma quadra de futebol, porém é o

campo do tortinho, localizado atrás do palácio da cidade que mantém o gosto da

comunidade como o mais tradicional da praça esportiva.

Por ser íngreme, ter becos apertados que forma um grande labirinto e pelo menos

dois pontos de fuga, o morro é ponto estratégico. O Santa Marta já presenciou

famosas guerras do passado, como em 87, a guerra entre duas quadrilhas locais,

que mobilizou praticamente toda a polícia civil e militar do Rio de Janeiro e deixou

para a posteridade uma imagem que percorreu e se popularizou pelo mundo: a

adolescente Ana Karla, de apenas 14 anos, drogada, com uma pistola 765 nas mãos.

Segundo jornais da época, Ana era um dos soldados de “Cabeludo”, o líder de uma

das quadrilhas que mais tarde foi assassinado pelo grupo rival. Outro momento de

projeção na “mídia” foi a gravação do clipe “They don’t care about us” de Michael

Jackson, em 1995. Na época, Spike Lee, o diretor do vídeo, disse ter negociado a

segurança de sua equipe com “Verdadeiros donos do lugar”, fazendo referência aos

traficantes, uma pseudo-verdade que irritou profundamente as autoridades.

Diferente do Complexo de Manguinhos foi possível a convivência pacífica entre a

comunidade e nossos técnicos, lá um projeto social foi implantado e parte da favela

que vive em área de risco deverá ser removida e os moradores desta área não querem

deixar o local. No alto do morro com vista privilegiada, se não fosse o risco um

local pitoresco, casas coloridas com muita arte é visitada por turistas, que acham

fantástico o modo de vida da população.

Para quem vive aqui, muito mais que simples modo de vida, uma cultura própria, com

características únicas e por vezes incompreendidas pela opinião pública.

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Nesta comunidade, muitos trabalhos implantados, cursos de qualificação profissional,

geração de emprego e renda, educação sanitária e ambiental, várias associações de

apoio no esporte, dança, musica e ações sociais e ambientais.

Um local bonito, com casas coloridas, vista privilegiadas, muita arte nas paredes,

esculturas e uma UPP implantada, mas ainda com características de favela, adensamento

habitacional, áreas de risco, lixo acumulado e as pessoas ainda não estão inseridas na

cidade, acreditam morar na comunidade e não em um bairro da cidade e não querem

deixar de ser uma comunidade, ser carente faz parte da identidade dos moradores,

gostam de morar no local do seu jeito e querem as melhorias desde que não interfira na

sua maneira de viver. Resistem às necessidades de remoção para obras de urbanização

e ou para excluir o risco, não querem ser transferidos para apartamentos, acham que

vão ter que pagar o condomínio, que terão regras, que serão excluídos da comunidade.

Por outro lado, faltam espaços para construção de casas, a verticalização é uma realidade

para o alto custo dos terrenos no RJ e a falta de espaços livres disponíveis, mas

urbanizar significa reconhecer que nos territórios existem moradores nele representados

e uma história de vida, onde as mudanças são possíveis, mas para que ocorram de modo

sustentável, devemos considerar a inserção desta necessidade na cultura de cada povo,

para que a necessidade se transforme em desejo, em sonho, e que seja fruto de luta e

trabalho de vontade própria, entendo que o interesse deva ser do beneficiário e para

tal antes teremos que educar para a cidadania, para o respeito ao direito do próximo,

para o amor a cidade onde se vive.

Muitas escolas na rede de ensino formal estão atentas a estas temáticas e o conteúdo

programático das escolas a muito deixou de ser elitista e tem se preocupado em adequar

o ensino a estas realidades, mas ainda vemos professores despreparados, ensinando

questões ambientais relacionadas à matéria e o esgoto correndo a céu aberto na porta

da escola, não é estudado ou priorizado para a mesma matéria abordada.

Por muitas vezes no meu trabalho, os moradores de favela estavam sendo beneficiados

com moradia definitiva e regularizada, contra sua vontade e vários técnicos que

trabalhavam no local, não tinham casa própria e tinham este sonho, mas sabiam que

só seria possível com muito trabalho e dedicação.

Aquele que sonha, deseja e luta para conquistar... preserva, sustenta, mantém, faz

sacrifícios e esta é sua cultura e jeito de viver.

As pessoas têm desejos diferentes, valores diferentes e vive cada um do seu jeito,

intervir em ambientes para urbanizar, sem respeitar estas realidades significa fazer o

certo da forma errada, beneficiar sem sustentabilidade, induzir ao retorno a situações

de favelamento, mudar tudo sem mudar nada.

É reconhecida por estudiosos e profissionais da área esta questão, hoje faz parte

da política habitacional em todas as esferas de governo a participação popular nas

diversificadas intervenções nestes territórios, o que ocorre é que surpreendentes são as

realidades locais, a cultura de cada povo, a identidade de cada comunidade, e o jeito

de viver dos chamados beneficiários.

Valores, identidade cultural, a vida que conhecemos, nos remete a infância, nossa escola,

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nossos professores, nossa casa, nosso bairro, cidade, amigos e nossos pais e avós.

Lembro-me das lições de vida que tive na infância, me recordo da mesa na hora do

almoço, do gosto e cheiro da comida, das histórias do meu pai e da voz melódica da

minha mãe que gostava de cantar na cozinha musicas de Elizete Cardozo.

E até hoje não consigo deixar de me emocionar quando me vejo em cenários da minha

infância, do meu pai me ensinando como viver e amar, até como me comportar ou

agir e como ser um bom profissional. Sou parte deste legado, tive muita influência

da cultura italiana dos meus avós e hoje posso colher os frutos destes ensinamentos.

E assim são todos os humanos, cada um com sua história de vida e até de superação,

nosso conceito de honra está relacionado com a vida que tivemos e que acreditamos

ser aquela que vamos seguir.

Os territórios que aqui retrato também tem seu legado, sua cultura e valores de vida

e respeitar estes diferentes abrigos de famílias, conhecer sua história de vida, seu

ambiente e seus sonhos é o primeiro passo de poder atender além de suas meras

necessidades e conquistar verdadeiras mudanças, aquelas que se sustentam.

NO PARÁ

O carimbó é uma dança de origem indígena e um dos passos onde mais se acentua esta

influência é quando os dançarinos fazem alguns movimentos com o corpo curvado para

frente, sempre o puxando com um pé na frente, marcando o ritmo vibrante.

O traje feminino é composto por saias bem rodadas e muito estampadas, as blusas

geralmente são brancas e os acessórios são colares e pulseiras feitos de sementes

regionais, tais como: caroços de açaí, semente de cupuaçu, de pupunha entre outras. E o

traje masculino é calça branca e camisas estampadas e chapéu de palha.

Fomos para o norte do Brasil, no Para, as cidades: Castanhal, Belém, Ananindeua e outras.

Pitorescos locais de pescadores, de índios, de floresta amazônica e muitas favelas,

conheci locais com grande organização comunitária, com população politizada,

sindicalizada, lideranças fiscalizadoras das ações de governo, identidade cultural

forte, muito diferente de SP onde nas favelas....gente de toda parte sem uma

identidade comum.

Muito bom trabalhar nas também chamadas comunidades, as intervenções similares

e as ações propostas com as mesmas características técnicas de um projeto social de

qualidade, mas o povo... aquele a qual o trabalho se destina me pareceu no início

de outro planeta, tão diferente do sul, sudeste e até do nordeste, um modo de vida

próprio cheio de magia, devotos de Nazaré levam multidões para a festa do Círio uma

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manifestação única, conta à população que a santa foi encontrada no rio e para ele

sempre retornava mostrando a todos o seu lugar.

Nas comunidades o mesmo desejo das outras que conheci ficar onde estão no seu

lugar e com o seu jeito de viver.

Melhores respostas do governo, com possibilidades ainda de construções horizontais,

lá ainda existem áreas receptoras para urbanizar e ainda assim, preferem morar nas

favelas.

Parece que entendem que a identidade de carente, atrai e promove a assistência o

cuidado a preocupação e a cidadania os remete a obrigações, deveres e fazem com

que percam sua identidade.

Todos querem melhorias e urbanização, mas que sigam seu conceito de local

urbanizado. Dizem que preferem as casas ao apartamento, pois podem ampliar e...

deixar o local parecido com o local onde viviam antes!

Desta forma fui aprendendo que outras mudanças devem anteceder as intervenções

para que de fato seja desejada e sustentável, no pós ocupação.

O grande número de etnias gera um ambiente social no qual o povo absorve o

pluralismo, o respeito às diferenças e a troca de experiências. Tal convivência pacífica

resulta em diferentes manifestações culturais e originais. Nas ocupações irregulares

o fenômeno se repete e diversificadas interpretações de vida emergem diferentes

potencialidades.

Dizem que o futuro do desenvolvimento depende da educação de hoje e mesmo que

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resolvidas as questões econômicas e de oportunidades, poucas conquistas reais serão

concretizadas se não forem atreladas a educação.

No conteúdo programático das escolas, matérias com foco em educação patrimonial,

lições de cidadania, educação cívica, sanitária e de respeito ao próximo e ao ambiente,

deveriam estar presentes em especial para população carente, desprovida de habitação

regularizada, de ambientes salubres e de situações de risco e vulnerabilidade.

Nas chamadas comunidades... uma organização social a parte, inserir favelas nas

cidades não significa apenas urbanizar territórios e regularizar a propriedades,

significa também permitir aos beneficiários a correta apropriação dos benefícios e o

coreto entendimento de que de fato ocorreu melhora nas condições de vida e a partir

dai promover sua autonomia.

Cabem aos governos promover o direito a habitação e implantar políticas habitacionais,

de acordo com as realidades diagnosticadas em cada localidade, inserida e integrada

com cada modalidade de intervenção. Cabe ao beneficiário final a compreensão de

que ser cidadão é ter direitos e também deveres e este é o maior entrave, a maioria

dos moradores das favelas acha que só tem direitos e que cabe ao governo a provisão

e a manutenção de um benefício, pois ele acredita que sua vida era boa na favela e

que o governo mudou tudo por interesse político.

É de fato um problema cultural onde as mudanças almejadas transcendem as obras e

serviços implantados e assumem um papel mais pedagógico que assistencial.

Sabe-se que muitos reassentados, removidos por motivos de obras, de risco, de

impedimentos legais ou ambientais retornam a situações de favelamento e aqueles

que permanecem nos conjuntos habitacionais não conseguem sua manutenção e ou

sustentabilidade.

Habitações novas deterioradas, garagens construídas passam a ter uso residencial,

comércios irregulares são construídos, poucos pagam o condomínio, a comercialização

é um fato, a punição muitas vezes prevaricadas, muitos reassentados com renda zero,

nas construções horizontais os chamados avançadinhos, nas verticais lixo, roupas nas

janelas, animais de grande porte, carroças e até cativeiros.

Certo que avançamos, critérios de intervenções sociais antes, durante e depois estão

mais próximas das realidades, o Ministério das Cidades e seu agente financeiro a CEF

apresentaram um caderno de orientações técnicas para a elaboração e implantação

de projetos sociais para a população de baixa renda e fornecem as diretrizes em

eixos de mobilização e organização comunitária, educação sanitária, ambiental e

patrimonial, de capacitação para potencialidades de mercado, geração de emprego

e renda. A infraestrutura do entorno é garantida, os meios logísticos fornecidos, as

distancias do local original para o local receptivo minimizada, as ofertas melhores

que as existentes.

A participação popular é exigida, são criadas comissões de acompanhamento de

obras com legítimos representantes da comunidade como agentes multiplicadores e

ainda assim temos a sustentabilidade no pós ocupação, ameaçada.

Não conseguimos de fato tirar a favela da vida do morador, só o morador da favela,

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ora urbanizada, ora regularizada, ora removida e reassentada.

Que cultura é essa, que jeito de viver é esse, para nós estarrecidos, para os moradores

um lar enraizado de cultura própria, valores próprios, interpretações distintas e de

histórias de vida surpreendentes.

NA BAHIA

Os problemas sociais do Brasil podem ser compreendidos com o auxílio e interpretação

de indicadores sociais. Houve uma evolução positiva destes indicadores na última

década, especialmente em relação ao aumento da expectativa de vida, queda da

mortalidade infantil, acesso a saneamento básico, coleta de lixo e diminuição da

taxa de analfabetismo. Apesar da melhora desses índices, há diferenças regionais,

especialmente em relação ao nível de renda.

Os problemas sociais ficam claros, sobretudo, com o IDH, o qual o Brasil, entre 187

nações e territórios, fica na 84ª posição de acordo com dados de 2011 divulgados

pela ONU, embora tenha a sétima economia do mundo.

O Brasil é considerado o país menos desigual da América Latina, embora as capitais

Goiânia, Fortaleza, Belo Horizonte, Brasília e Curitiba estejam entre as cidades

mais desiguais do mundo entre 141 cidades de países em desenvolvimento e ex-

comunistas, segundo aponta relatório da ONU divulgado em 2010.

Dados da pesquisa Contas Regionais do Brasil 2005-2009, realizada pelo IBGE e

divulgada em 2011, mostram que, em 2009, oito estados concentravam 78,1% da

riqueza econômica do país. Apenas o estado de São Paulo tinha 33,5% de participação

na economia nacional em 2009, ao passo que em 2008 concentrava 33,1%.

A renda discrepante também é perceptível na forma de acesso à oferta de alimentos.

Segundo Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) 2008-2009, a partir de uma

amostragem formada por 60 mil domicílios urbanos e rurais, 35,5% das famílias

brasileiras não têm a quantidade mensal suficiente de alimentos, mesmo em um

contexto de uma agropecuária eficiente e competitiva e um custo de alimentação

considerado baixo para os padrões mundiais. Esse mesmo indicador mostra a

desigualdade entre as regiões brasileiras: no Norte, essa parcela equivale a 51,5%

das famílias; no Nordeste, a 49,8%; no Centro-Oeste, 32%; no Sudeste, 29,4%; e no

Sul, 22,9%.

Uma pesquisa do Ipea, divulgada em 2011, estima que 39,5% dos brasileiros não têm

uma conta bancária, cujo acesso depende da renda. Este indicador também mostra

as desigualdades regionais, ao apurar que a exclusão bancária atinge 52,6% dos

nordestinos e 30% dos sulistas.

Em 2010, o Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), realizado em 2009

em 65 países, mostrou o Brasil na 53º posição. A avaliação feita com alunos de 15

anos com questões de literatura, matemática e ciências mostrou que quase metade

dos estudantes brasileiros não atinge nível básico de leitura.

Segundo dados do PNAD em 2008, a taxa de analfabetismo no país era de 10% entre

a população com mais de 15 anos. O índice cai para 4% entre os menores de 15 anos.

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O Censo 2010 do IBGE, contudo, apontou uma taxa de 9,6% em 2010 entre a

população a partir de 15 anos, taxa equivalente a 28% nos municípios com até 50

mil habitantes da região Nordeste.

Pesquisa do Unicef com dados relativos a 2005 a 2009 e divulgada em 2011 mostra

que 14,8% dos adolescentes com idade de 15 a 17 anos de idade estavam fora da

escola.

Dados de pesquisa do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente

(Conanda) em parceria com a Secretaria de Direitos Humanos identificaram cerca de

24 mil crianças em situação de rua, sendo 45,13% delas com idade de 12 a 15 anos.

Educação incipiente, falta de investimentos em oportunidades profissionais em

substituição ao trabalho “perigoso, insalubre, pouco ou nada remunerado” ou

empenho insatisfatório em políticas de promoção do lazer e convivências comunitária

e familiar expõem os adolescentes pobres do país - que respondem por 38% do total

- a problemas como criminalidade, drogas e prostituição.

Nas favelas a baixa renda e escolaridade estão caracterizadas em todas as comunidades

onde pesquisadas estes indicadores, embora a oferta de vagas na rede pública

ampliada, o conteúdo do ensino no Brasil, por vezes ainda fora da realidade de cada

região onde inserido.

Embora o esforço de brilhantes educadores, muitos livros didáticos não correspondem

as reais necessidades de aprendizado e a função básica da escola em aprender a ler e

escrever está comprometida. A maioria dos estudantes sai das escolas sem saber ler

ou escrever, alguns até das universidades com estas características.

Muitos dos testes ou provas aplicadas em estudantes de qualquer nível de escolaridade,

as respostas estão nas próprias perguntas e a interpretação deste ou aquele texto é

equivocada.

O ensino deve priorizar o espírito crítico, o raciocínio sobre um tema e o aprendizado

desta forma fornece a ferramenta necessária para o aluno aprender a criar.

Sou pedagoga de formação e talvez por este motivo relacione o meu trabalho na área

habitacional com a educação.

Na cultura de cada povo é impossível separar estes conceitos e ainda somar tantos

outros relacionados a cada meio social, a cada ambiente, ao seu entorno, cidade,

estado e pais onde se vive.

Assim como na educação as ofertas habitacionais deve considerar as diferentes

realidades que os territórios abrigam.

Nos territórios que trabalhamos nesta área existem pessoas que engendraram

precariamente por um período como agentes solitários uma forma de vida, com

muitas histórias de luta para contar, ao intervir nestes territórios, imaginamos que

iremos transformar sonhos em realidade e que a resistência não deveria existir, afinal

a oferta é de melhorias nas condições de vida.

Mas esquecemos de que esta interpretação é técnica e o entendimento acerca das

ações e necessidades de abertura das frentes envolve mudanças e nesta hora as

histórias de luta são mais dos proponentes que dos beneficiários.

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Esta equação está equivocada, a história de luta tem que estar inserida na vontade

dos beneficiários e para tal outras ações devam ser implantadas.

Na Bahia a religiosidade está caracterizada por uma variedade de religiões, seitas,

igrejas, templos, terreiros, crenças separadas ou totalmente misturadas. Na Bahia é

cena comum uma filha de santo rezando ao Senhor do Bonfim(Oxalá) ou um católico

oferecendo caruru aos Ibejes (São Cosme e Damião). É o sincretismo religioso

tão presente nas festas dos santos católicos, sinais de um tempo em que negros

disfarçavam o culto a seus deuses.

Segundo Verger(1992), é difícil precisar o momento em que o sincretismo se

estabeleceu no país ou mesmo na Bahia. É certo que os santos católicos e os

deuses africanos se aproximaram cada vez mais devido a características físicas ou

comportamentais. No entanto, as razoes para tal mistura de símbolos parecem ter

sido diversas e benéficas ora aos brancos católicos, ora aos negros animistas.

Na Bahia é comum ir ao terreiro e à igreja. Brancos, negros, mulatos, pobres ou ricos,

acreditam nos princípios católicos e do candomblé, ao mesmo tempo. O sincretismo

há muito estabelecido mantem-se e são comuns em festas católicas às manifestações

das religiões africanas.

Para a maioria dos baianos, não há festa do Senhor do Bonfim sem missa solene e

banho de pipoca nas escadarias da igreja. Por sua vez, os barracões de candomblé

possuem sempre um altar com imagens de santos católicos.

Não só com o catolicismo o candomblé se combinou e absorveu conceitos.

Houve, mais recentemente, segundo Carneiro (1977) a mistura do candomblé com o

espiritismo que resultou nas chamadas “sessões de caboclo” comuns aos terreiros de

todo o Nordeste inclusive Bahia.

Atualmente a Bahia possui grupos das mais diversas religiões e fieis que conseguem

conviver com mais de uma delas. Bom exemplo são as Damas da Boa Morte, filhas e

mães de santo que cultuam Nossa Senhora da Boa Morte, santa católica.

Ao entrar nas favelas na Bahia, nos deparamos com vários templos ou terreiros

religiosos e observamos que muitos não decidem nada antes de consultar o pai de

santo, mãe de santo, ou outro de sua fé.

Várias festas e manifestações religiosas fazem parte do dia a dia das comunidades

trabalhadas, a culinária típica e apimentada é fonte de renda de muitos moradores

das favelas em atividades comerciais informais.

Como já dizia o filho da terra, Caetano Veloso: “cada macaco no seu galho” e

estava correto, não era possível trabalhar nestas comunidades sem reconhecer sua

identidade sua realidade e cultura, característica peculiar do povo Baiano.

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EM SÃO PAULO

Um universo a parte, com várias partes em um todo, sem identidade própria e com

todas juntas, trabalhar nas favelas de São Paulo capital é uma experiência única à

diversidade está em cada esquina, quadra, viela, e até na mesma família ou casa.

Diferente do RJ as favelas não estão na maioria fixadas nos morros cercando a cidade,

elas estão espalhadas, tanto nas periferias, quanto em bairros nobres, algumas

favelas verdadeiras cidades com população maior que de muitas cidades do interior, a

maioria com construções de alvenaria, algumas com infraestrutura interna, outras bem

precárias as margens de rios, rodovias, ferrovias.

Alto adensamento populacional, mas também seu jeito de viver, suas regras, organizadas

ou não tem seu código de ética, vários locais de origem, poucos habitantes que de fato

nasceram na capital, baixa escolaridade e renda, possibilitada para a irregularidade

onde vivem e moram.

Brigam por direitos e muitas vezes chegam a induzi-los para obtenção de benefícios

as escancaras divulgados. Casos de fogo induzido para obtenção de locação social

já foram identificados, outros em áreas de risco por mais de uma vez para obter

vantagens, muitos trabalhadores e muitos bandidos também.

As atividades criminosas variam por região, nas estradas muito roubo de carga, nas

áreas mais urbanas o tráfico de drogas, nas periferias matadores, ladrões de banco, e

outros até imagináveis.

As moradias, no entanto na maioria caracterizadas por unidades familiares, com

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crianças, mulheres muita vezes arrimo de família, idosos, deficientes e carentes.

Algumas edificações com mais de 100 ² outras em situações muito precárias, algumas

verticalizadas, outras ainda em madeira ou palafitas, todos querem e pedem moradia,

na hora da oferta não querem sair nem das áreas de risco, dizem que perderam tudo

nas enchentes, mas já disseram que não tinham nada.

Assim como na cidade formal, os problemas são enormes e estas ocupações sofrem

intervenções frenéticas, tanto quanto é frenético o desenvolvimento da cidade.

As propostas são iguais as do restante do pais, mas as pessoas muito diferentes.

Em SP, assim como no RJ entrar nestas comunidades é uma missão que requer muita

experiência, um simples equivoco, pode provocar manifestações de grande impacto

na cidade.

E sabem disso, usam sua força para intimidar ações que não tem interesse ou ainda

movidos por forças políticas mudam ao bel prazer de opinião, desejo ou vontade.

Adoram convocar a imprensa e apelam para a opinião publica equivocada e leiga sobre

os assuntos técnicos abordados ou a serem implantados.

Nós da Urbaniza já trabalhamos para governos federal, estaduais, municipais, para

empresas privadas, concessionárias em centenas de favelas, ora para erradicar e

reassentar, ora para urbanizar e ou regularizar, ora para elaborar ou implantar projetos

sociais, fazer diagnósticos, pesquisas, trabalhos de negociação e ou comunicação e ou

ainda para monitoramento e trabalho de pós ocupação.

Alguns técnicos sequestrados, outros assaltados, outros na mira de armas, mas todas

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as missões cumpridas e solucionadas, em especial especialização nas remoções

e reassentamentos, esta experiência acredito deva ser compartilhada tão rica e

fascinante remete a necessidade de registro e leitura.

Escutamos muitas histórias de vida contadas no primeiro livro que tive a oportunidade

de escrever, ainda assim cada trabalho é uma nova experiência e temos que atualizar

nossas respostas para as novas perguntas.

Fizemos muitas mudanças de famílias com a oferta de todos os meios logísticos e com

acompanhamento social, as mudanças levavam pessoas e pertences e a história se

escreve também com os pertences, alguns comuns, outros nem tanto.

Transportamos pessoas com deficiência mental que achava que iriam para o castelo do

príncipe, outras com alimentos em estado de putrefação, outras com porcos, algumas

com armas, carrinho de pipoca, cachorro quente, máquinas de caldo de cana, animais.

Algumas famílias brigam umas com as outras por motivos torpes e ameaçam de morte

seus desafetos, outras carregam geladeiras sem motor e diziam que quebramos na

mudança, algumas não querem mudar sem levar o lixo, outros querem levar os fios

para fazer gatos nos locais de reassentamento.

E ainda assim, todos nos conjuntos ou casas novas regularizadas...e agora!

É sem dúvida o maior gargalo de todo o trabalho social, o pós ocupação.

Claro que por motivos óbvios, poucos vão conseguir viver em condomínio, um enorme

desafio está caracterizado e o pior problema é o retorno destas famílias para novas

situações de favelamento.

Certa vez em um trabalho de cadastramento, em érea de risco próximo a uma ferrovia,

bati na porta de um barraco e atendeu uma criança de 5 anos que me informou que a

mãe não poderia me atender, pois estava doente. Entrei na casa e na cama uma mãe

de no máximo 20 anos, loira e branca, com AIDS pesando uns 35 kilos, mal podia falar,

seus filhos ainda muito pequenos serviam o almoço fornecido por um carroceiro que

passava sempre por lá para alimentar a moça. Perguntei pelo pai e disseram que não

sabiam quem era, pois a mãe trabalhava no porto com os homens para ganhar a vida,

antes de ficar doente. A casa cheirava mal, não tinha como ficar no local por muito

tempo, consultei os vizinhos e percebi que temiam contaminação e não ajudavam para

não pegar a doença.

Em outras situações vivenciei trágicas histórias de vida, algumas claramente mostravam

que o problema emergencial não era habitacional, mas sim de saúde, econômico e de

educação, mas ainda assim nosso foco estava direcionado para questões habitacionais

de risco e com necessidade de remoção. É claro que nestes casos encaminhamos o

problema para as redes de proteção disponíveis e cada caso atendido de pronto, mas

em cada casa uma história e no território um problema, um anseio, uma expectativa

com muito receio e muitas dúvidas para aceitar o novo.

Tecnicamente o trabalho de pós ocupação deve durar de 3 a 6 meses, mesmo quando

está na própria área original urbanizada.

Para um melhor entendimento do leitor vou resumir abaixo os principais passos do trabalho

social implantado nas áreas onde possam ocorrer intervenções por obras e serviços técnicos.

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De modo geral, o trabalho deve priorizar o investimento na auto-organização da comunidade e

no fortalecimento de sua autonomia, permitindo que as relações, ações e conflitos vivenciados

pela população formem um processo pedagógico significativo e contribua para que os moradores

assumam-se como protagonistas e gestores de seus processos individuais e coletivos.

Neste contexto, a gestão social deve focar o desenvolvimento humano e planejar

atividades e projetos que se integrem e provoquem desdobramentos, por meio dos quais

se podem vislumbrar respostas ao atendimento das necessidades fundamentais, tais como:

subsistência, conhecimento, participação, lazer, criatividade, identidade com o espaço

habitado e outros.

Com isso, acredita-se na possibilidade de re-significação do espaço, das relações interpessoais

e na afirmação do sentimento de pertencimento, o que incidirá sobremaneira na qualidade de

vida das pessoas envolvidas e, consequentemente, na sustentabilidade da intervenção.

A implantação do trabalho se consolidará através da elaboração de um cenário futuro desejado

pela comunidade. Esse cenário deverá representar, da melhor forma possível, os diferentes

pontos de vista dos participantes, incorporando as aspirações da comunidade para o futuro,

no tocante à saúde, qualidade de vida, ao meio ambiente, ao rumo do desenvolvimento

social e econômico, quadro este que deverá ser traduzido para uma linguagem simples que

envolva técnicas de sensibilização e motivação, para a comunicação com as comunidades e

que será fixado no Centro de Referência e Escritórios Sociais.

As principais ações a seguir mencionadas:

• Deverá ser intensificado o esclarecimento e valorização da infra-estrutura

implantada no empreendimento como colaboradora na redução de doenças e na

melhoria dos níveis de saúde da população, na inserção urbana, mobilidade social

e a elevação da qualidade de vida das famílias;

• As ações sociais deverão preparar a comunidade beneficiada do entorno para a

correta utilização das habitações, especialmente no que diz respeito às unidades

sanitárias e à rede de esgoto;

• Deve ocorrer à demonstração das responsabilidades dos beneficiários na correta

utilização e preservação dos serviços implantados, tanto os individuais como os

coletivos;

• Promoção de campanhas educativas de saúde e de utilização e preservação

dos serviços implantados evitando o desperdício de água e energia elétrica e

contribuindo para a melhoria do orçamento familiar;

• Estimulo à busca de parcerias com o objetivo de dar continuidade em caráter

permanente às ações de educação ambiental; e.

• Divulgação de informações, programas e projetos de natureza ambiental de modo

a possibilitar a ampliação da consciência ecológica das populações.

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O diagnóstico está caracterizando o Marco Zero. Nos programas de desenvolvimento

urbano o trabalho técnico social é um componente obrigatório e deve ocorrer em sincronia

com a realização das obras físicas, apresentando algumas especificidades, tanto no que se

refere à formatação do projeto como ao seu acompanhamento, cronogramas, e avaliação.

O trabalho técnico social a ser desenvolvido deve ter um enfoque interdisciplinar,

fundamentando-se nos princípios de participação comunitária, sustentabilidade dos

empreendimentos e preservação ambiental.

O objetivo principal do trabalho é assegurar a transparência do processo e a acessibilidade

dos Adquirentes às informações relativas ao financiamento e ao empreendimento,

utilizando-se metodologias participativas que facilitem o alcance dos resultados

desejados.

Tais etapas têm uma seqüência lógica, devendo acontecer na ordem em que estão

propostas e as necessidades da proponente de acordo com a modalidade de intervenção.

A disseminação das informações deverá sempre ocorrer por meios diversos, como oficinas

para formação de agentes multiplicadores, exposições abertas para toda a população,

distribuição de informativos e outros. Essas atividades deverão contar com técnicas e

materiais de apoio que facilitem a apreensão e troca de conhecimentos.

No que se refere ao desenvolvimento das ações mais diretamente relacionadas à

intervenção urbana, prevê-se o detalhamento do projeto junto aos moradores, por meio

de atendimentos individuais, visitas domiciliares e reuniões setorizadas, de acordo com

as fases da intervenção. Nestas ocasiões, deve-se recorrer a técnicas exploratórias para

captar a percepção que possuem da cidade, do bairro/núcleo e da própria moradia,

buscando detalhar – a partir de suas próprias concepções – os conceitos de habitabilidade,

qualidade de vida e cidadania. Em decorrência, deve-se discutir com a população os

impactos da urbanização da área, quando for o caso, a necessidade de remoções, o

parcelamento dos lotes e as formas de apropriação do projeto por parte dos moradores.

Neste contexto, destaca-se a importância da participação dos representantes, lideranças e

agentes comunitários de urbanização, cabendo a eles facilitar o processo de interlocução

entre a equipe técnica e a comunidade.

Os projetos sociais desenvolvidos nas comunidades devem abranger todos os segmentos

da população e estarem estreitamente relacionados à sustentabilidade da intervenção,

em seus aspectos físicos, ambientais, socioculturais e econômicos. Para tanto, devem

privilegiar a educação comunitária, considerando a teia de relações econômicas, históricas,

culturais, religiosas, interpessoais, políticas e sociais. Neste caso, a metodologia também

é, necessariamente, participativa, contribuindo assim para despertá-lo do senso crítico e

a promoção do diálogo entre os agentes.

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Destacamos no Plano de Trabalho o cumprimento das seguintes diretrizes:

• A participação efetiva da população em todas as etapas da intervenção,

valorizando as diversas instâncias de representação da comunidade e fomentando o

desenvolvimento de novas formas de representação;

• Criar estratégias para motivar os moradores a buscar soluções conjuntas para os

problemas coletivos, estimulando suas próprias potencialidades e autonomia;

• Subsidiar a elaboração e execução das intervenções físico-urbanísticas previstas no

projeto de urbanização, quando for o caso;

• Recuperar o tecido social, a partir da criação de estratégias de enfrentamento da

pobreza, alcançando um ambiente socialmente estável;

• Promover a sustentabilidade da intervenção nos seus aspectos socioculturais,

ambientais, econômicos e urbanísticos.

• Fomentar a gestão compartilhada do novo espaço entre comunidade e poder público;

• Implementar canais de participação efetiva da população em todas as etapas da

intervenção;

• Construir espaços de reflexão e análise que propiciem a apresentação de propostas e

deem visibilidade às práticas já desenvolvidas pelos moradores, buscando fomentar

a autonomia do grupo;

• Conjugar o saber técnico com o saber do senso comum, valorizando a capacidade

expressiva e espontânea dos moradores;

• Elaborar e executar projetos de cunho sociocultural, ambiental e econômico, a partir

das necessidades e potencialidades das comunidades e em consonância com as

tendências locais e regionais;

• Estabelecer parcerias com órgãos públicos, organizações não governamentais,

universidades e empresas privadas, visando potencializar o desenvolvimento local;

• Promover a presença institucional em campo, servindo de canal de comunicação

entre o poder público na área e a população alvo da intervenção.

Para a avaliação do trabalho técnico social, a partir do diagnóstico, que estabelecemos

neste Plano de trabalho como o Marco Zero, poderemos mensurar os resultados alcançados.

Os indicadores são resultados de escolhas dos sujeitos e das múltiplas relações que se

estabelecem em um determinado contexto histórico e cultural. Devem ser escolhidos

de forma a permitir a todos os envolvidos - gestores, equipes técnicas, moradores

- observar e acompanhar a avaliação, como também deve ter como parâmetros o

projeto em questão. Indicadores são sinalizadores de processos, resultados e impactos

relativos a uma dada ação planejada. São concebidos a partir de parâmetros,

padrões e concepções expostas no projeto e plano de ação. São definidos com

base nos objetivos e estratégias de condução do projeto. A escolha de indicadores

deve considerar a disponibilidade e facilidade na obtenção de informações, a clareza

de significado (auto-explicativo), a pertinência e consistência, a universalização e a

constância do uso. Os indicadores são usados para monitorar e avaliar projetos,

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orientando a coleta de informações e a escolha de instrumentos ou meios de

verificação (observação, registro fotográfico, reunião, depoimentos, entrevistas, etc.).

O acompanhamento (via indicadores) é feito com base nos dados qualitativos e

quantitativos coletados e, num diálogo constante entre todos os parceiros. Só

assim, será possível a construção de um quadro articulado de representações que

sinalizem as diferentes formas pelas quais se compreende o plano de ação, se

incorpora seus pressupostos e se planeja e re-planeja ações para viabilizar resultados

pretendidos.

Na elaboração do projeto pretendido devemos:

a ) Estabelecer Objetivos e Metas

Essa etapa consiste na formulação dos objetivos e metas que se pretende atingir. A

delimitação, clareza e legitimidade dos objetivos são fundamentais para o êxito de

qualquer projeto, pois são eles que irão orientar o planejamento, execução e avaliação

das ações.

Os objetivos do projeto expressam uma intenção a ser implementada através de uma série

de ações e atividades, que devem ser monitoradas e avaliadas. Para que isso aconteça

é preciso que cada objetivo se explicite na forma de uma meta que é a expressão

quantitativa e temporal de cada um dos objetivos do projeto, que delimita o quanto e em

que tempo as ações e atividades relacionadas a cada um serão implementadas.

Os objetivos serão formulados em linguagem precisa e concisa. Quanto à

abrangência, serão separados em:

Objetivo Geral - expressa, em maior amplitude, o que se pretende alcançar ao final do

projeto e que será atingido pela somatória das ações de todos os envolvidos;

Objetivos Específicos - São desdobramentos do objetivo geral e orientam diretamente as

ações, expressando os resultados esperados.

b ) Indicadores de resultados

Indicadores são meios de verificação, estabelecidos a partir dos objetivos e metas do

projeto, que visam demonstrar evolução, avanço e desenvolvimento em relação aos

resultados esperados. Buscam medir como e quanto cada objetivo e meta estabelecidos

no projeto foram alcançados. São necessários para acompanhar as ações desenvolvidas e

imprescindíveis para avaliação de resultados.

Teremos indicadores:

Quantitativos: apoiados em métodos estatísticos. Visa medir resultados através da

coleta de informações numéricas que podem ser obtidos tanto através dos arrolamentos,

levantamentos em campo, etc.;

Qualitativos: centrados na análise dos processos sociais e dos sujeitos/beneficiários

envolvidos, os quais imprimem direção e dinâmica às ações desenvolvidas, utilizando

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como fontes as observações em campo, depoimentos, discussões com os envolvidos, e

cadastramento.

c ) Metodologia

A definição da metodologia engloba as concepções teóricas que nortearão o trabalho e

a escolha das ações e procedimentos necessários para alcançar os resultados desejados.

Serão adotadas metodologias participativas, com a valorização de experiências e vivências

do grupo como base para a reflexão e construção de novos referenciais de convivência e

a incorporação de novos conceitos, promovendo a capacitação dos moradores, através de

suas organizações representativas para a autonomia na gestão democrática dos processos

implantados.

Viabilizar-se-á o processo permanente e constante de informação da população sobre

o desenvolvimento do projeto físico, sendo a transparência um elemento essencial na

construção do processo participativo e na relação de confiança entre técnicos e população.

As intervenções são norteadas pelos seguintes eixos básicos:

• Ações Informativas

• Mobilização e Organização Comunitária

• Educação Sanitária e Ambiental

• Educação Patrimonial

Capacitação Profissional e Geração de Trabalho e Renda.

d ) Cronograma

O cronograma é a programação das atividades no tempo e a seqüência em que deverão

ocorrer. Através dele, o conjunto de ações que devem ser realizadas é organizado de

forma lógica e racional para a concretização dos objetivos que se deseja alcançar. Permite

identificar as ações ao longo de tempo, estimar tempo de execução de cada uma, a

ocorrência de ações simultâneas e a interdependência entre elas e seguirá as orientações

do TR, podendo ser reavaliado em função das obras e das ofertas de alternativas de

reassentamento.

e ) Custos – Orçamento

O orçamento explicita, em termos monetários, todos os recursos necessários para o

desenvolvimento do projeto, devendo detalhar, os recursos físicos, financeiros e humanos

necessários para seu desenvolvimento em observância ao explicitado no Edital.

A consolidação dos recursos e valores necessários à concretização das ações

previstas no projeto é realizada através de:

• Descrição pormenorizada de todos os recursos necessários para a realização das

atividades

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• Materiais e serviços, agrupados por itens e subitens de despesas, a serem utilizados,

de acordo com o plano de trabalho elaborado;

• Recursos humanos necessários à implementação do projeto – número de profissionais,

formação e atribuições.

• Elaboração da memória de cálculo, apontando tipo, quantidade e custos dos recursos

a serem utilizados:

• Totalização dos valores levantados por item e subitem.

e ) Cronograma de Desembolso

O cronograma de desembolso consiste na previsão dos gastos em relação à execução das

atividades planejadas para todo o período de execução do projeto. Seu acompanhamento

permite comparar o que foi programado com o efetivamente realizado e medir os

resultados do trabalho em relação aos recursos aplicados, possibilitando a obtenção de

informações relativas ao andamento dos trabalhos e eventuais necessidades de correções.

f ) Estabelecer Instrumentos de Acompanhamento e Avaliação

Os instrumentos de acompanhamento e avaliação são necessários para sistematização do

registro dos indicadores e acompanhamento do processo e devem ser definidos antes do

início da execução do projeto. Os instrumentos de registro mais comuns são os relatórios,

atas de reunião, registros em diários de campo, além de material audiovisual, como fotos,

vídeos, etc.

Lege

nda

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CAPÍTULO IV

09 - ONDE ESTÁ O FOCO?

O modelo acima na teoria é considerado como um avanço no trabalho social de

qualidade para intervenções em favelas e é base de todo o trabalho, hoje reconhecido

como necessidade para todas as obras de impacto social, ambiental e urbanístico.

Como visto, estabelecemos critérios, executamos pesquisas e diagnósticos, elaboramos

projetos, implantamos ações necessárias e temos como objetivo o desenvolvimento

sustentável, mas ainda assim poucos resultados no pertencimento e autonomia pós

intervenção são alcançados.

As conquistas não são entendidas para quem se destina, a correta apropriação não

ocorre, a autogestão de condomínios é precária, o beneficiado retorna a situações

de favelamento. A luta pela casa própria não foi fruto de trabalho e sacrifício,

o ambiente novo, diferente do jeito de viver, a identidade cultural perdida, e a

participação comunitária pequena, frente cada universo trabalhado.

O beneficiário acostumado a ter direitos, passa a ter deveres, obrigações, regras,

encargos, e deixa de ser carente para ser cidadão.

Para os técnicos o objetivo é esse, para os moradores por um problema cultural, nem tanto.

As políticas habitacionais são abrangentes, porém:

• Mais assistenciais que pedagógicas.

• Perto das realidades locais, longe de sua identidade cultural.

• Igual, para diferentes.

• Necessária, mas não idealizada.

• Participativas, mas involuntárias.

• Ofertadas, mas não conquistadas.

• Ensinadas, mas não sustentadas.

Estamos, porém no caminho de um mundo melhor, com lugares mais agradáveis de

viver e esta deve ser entendida como uma conquista para o beneficiário final e nunca

como uma mera intervenção técnica.

Afinal é o nosso povo, o povo brasileiro que não conhecemos de fato, estudamos

suas estatísticas nos indicadores sociais e econômicos, mas para conhecer de fato

seu jeito de viver nestes irregulares territórios, temos que ir além dos diagnósticos

e oferecer ferramentas para o desenvolvimento auto sustentável, desejado, fruto de

muita luta e sacrifício, sem antes sonhar, não é possível transformar realidades.

Se o desejo não existe, temos que reinventa-lo e transformar em agentes, os

espectadores.

Na cidade de São Paulo alguns eventos não posso deixar de escrever e ou compartilhar

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com o leitor em especial aqueles que necessitam de remoções para erradicar favelas

em áreas de obras de utilidade pública, ou em áreas de risco.

Estes eventos poderiam ser chamados de acontecimentos frenéticos e cheio de

emoção, após o trabalho preparatório que antecede estas remoções o dia da mudança.

Muitas empresas que trabalham nesta área, não fazem este trabalho, gerenciam e

fazem o acompanhamento social, acho por não querer relacionar o trabalho social

com a imagem de demolidores, mas nós fazemos todas etapas, incluindo as mudanças

com o fornecimento de recursos humanos e materiais necessários ao evento.

Uma operação de muitos riscos, muita paciência e requer muito planejamento.

Embalagens, lanches ou almoço, caminhões, vans ou ônibus, ajudantes de carga

e descarga, demolidores manuais, pé de cabra, marreta, fitas de segurança,

instrumentais de controle, eletricistas, encanadores e todos com experiência em

ações desta natureza.

Chegou o dia...400 famílias para reassentar e 400 casas para demolir e 400 mudanças

por fazer, isto podemos dizer que, envolve 1600 pessoas da favela, mais uns 200

profissionais de apoio.

A primeira dificuldade é a de mobilizar pessoas e empresas de transporte que aceitam

trabalhar na favela, muitos têm medo de assalto, tiroteio, acidentes e não se dispõem

a executar o serviço, depois da mobilização, cumprir aquilo que foi planejado e neste

caso aproximadamente 60 mudanças por dia, para entregar a área livre de pessoas e

pertences, em uma semana.

Um trabalho iniciado há 12 meses e os conjuntos habitacionais prontos. Ao menos,

todos iriam para o mesmo local, nem sempre isso é possível.

Priorizamos a retirada de portadores de direitos especiais, de idosos e gestantes, as

demais famílias seriam removidas, conforme cronograma pré-estabelecido.

Chegaram os caminhões e pessoal para o trabalho, e conforme retirada as famílias e

pertences as suas residências iam sendo demolidas, parece simples, mas na realidade

um caos.

Cada família um problema diferente, móveis muito quebrados impossibilitavam o

transporte, pessoas solicitando ajuda para guardar os pertences, outras deixavam

seus documentos nas caixas e não tinham como ser identificadas, outras estavam

dormindo, algumas queriam levar bacias de comida deteriorada na mudança, materiais

recicláveis mal acondicionados, fios para fazer gatos, animais, produtos inflamáveis,

roupas misturadas com alimento, carrinhos de pipoca, cachorro quente, e até outros

produtos não legalizados.

Algumas famílias com tudo arrumado e limpo, e as demolições simultâneas, barulho,

pó, paredes caindo, crianças correndo e a equipe social garantindo com fitas de

segurança o cuidado que deveria ser dos pais.

No entorno, alguns catadores buscavam nos escombros materiais para seu comércio,

apareceram não sei de onde ONGs querendo preservar os animais, ambulâncias a

postos para o caso de algum acidente, as ligações clandestinas sendo interrompidas.

O cuidado das interrupções na mão de eletricistas para evitar transtornos e queima

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de aparelhos domésticos, nas casas ainda em pé. Outra preocupação seria de evitar

um incêndio, muito comum com estes chamados gatos.

Tampões nas ligações de água, algumas espirrando, outras nem tanto, certa hora

já com aproximadas 50 demolições um acidente de um demolidor com o martelo,

correria e atendimento.

Chegou a hora de demolir uma enorme cruz que ficava junto a santos, velas e flores...

era um local onde a comunidade rezava pela morte de entes queridos, pela esperança

de dias melhores e depositavam no pé daquela cruz sua fé.

Tinha uma história, contavam os moradores mais velhos... a cruz tinha encontrado

no lixo e ao trazê-la para a comunidade, uma criança enferma tinha sarado de uma

doença grave e foi atribuída aquela cruz o milagre da vida, desde então era uma

referência de fé e acreditavam os moradores que os milagres aconteciam só para

aqueles que ali viviam.

Ninguém queria sua demolição, era um símbolo de fé e ficava ao lado de uma grande

árvore o único verde, naquele local.

As pessoas viam as casas no chão e um brilho no olhar, denotava várias emoções de

alegria e ao mesmo tempo de tristeza, os animais domésticos ficavam no entorno de

seus lares demolidos e de lá não queriam sair.

As 19: 00 horas 60 famílias estavam instaladas nos apartamentos novos, sendo

orientadas por técnicos sociais, engenheiros das construtoras, corpo de bombeiros e

pedidos de toda natureza.

No dia seguinte, muitos trabalhadores não queriam voltar, alguns foram ameaçados,

outros desrespeitados, outros gostariam de ganhar uma casa e viam que aqueles

beneficiados não davam o devido valor, já falavam em vender e voltar a viver em

favelas.

Continuamos até a demolição do último barraco ou casa de alvenaria para liberar a

área para a entrada das máquinas, durante as mudanças uma esposa foi comercializada

pelo companheiro e trocada, outra família resolveu desistir da oferta e retornar ao

seu local de origem, desmantelado aquele jeito de viver para uma nova etapa, alguns

voltavam para o local em ruína para lembrar-se de suas vidas.

Após os reparos de alguns objetos quebrados, demos por concluídos os serviços de

mudanças e agora o início de um enorme trabalho no pós ocupação.

Impossível, diziam alguns técnicos, como vamos fazer para estas pessoas se

transformarem em cidadãos, respeitarem as regras de convivência, assumirem os novos

encargos, constituírem um condomínio e fazer a manutenção do seu patrimônio!

Durante 30 anos viveram daquela forma, daquele jeito e demonstraram relações

afetivas com o território, tinham a liberdade, por eles assim conhecida e não

pagavam nenhuma conta, muitos não sabiam como viver de outra forma, nasceram

ali e criaram vínculos com o local.

Todo o peso deste legado levaram na mudança, e realmente alguns nunca iriam se

adaptar a vida em condomínio verticalizado.

Mas este era nosso trabalho e na teoria muitas ações sociais poderiam ser implantadas

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para finalmente sua autogestão e desligamento.

O trabalho social de pós-ocupação visou contribuir para estabelecer as

responsabilidades que deverão ser assumidas pelos moradores quanto à manutenção

do novo espaço físico, como: a manutenção predial e dos equipamentos condominiais,

uso e manutenção de áreas e espaços condominiais e comuns, visando a curtos e

médios prazos garantir a autonomia dos moradores quanto à organização condominial

e a busca de soluções conjuntas para os problemas coletivos.

Além do acompanhamento das ações desenvolvidas, pretendeu-se também

monitorar o trabalho social, a partir de alguns indicadores previamente

selecionados como:

• Fortalecimento da organização comunitária pré-existente;

• Surgimento de novas formas associativas em torno de interesses comuns;

• Participação dos moradores nas instâncias de representação da comunidade;

• Manifestação de interesse e adesão às ações propostas;

• Participação de adolescentes e jovens nas ações desenvolvidas;

• Capacidade propositiva da população;

• Integração dos moradores com os demais agentes envolvidos;

• Domicílios representados nas assembleias/reuniões gerais;

• Representantes eleitos pela comunidade;

• Pessoas, comissões e grupos de trabalho envolvidos nas ações;

• Jovens (15 a 24 anos) envolvidos nas ações;

• Assiduidade dos representantes/membros de comissões às reuniões;

• Criação de regras de convivência.

Prevê-se que os moradores sejam envolvidos nesse processo e que os resultados desse

monitoramento sejam permanentemente discutidos até seu desligamento.

Ações sociais foram implantadas, muitas responsabilidades deverão ser assumidas e

algumas nunca antes pensadas. Muitos encargos inexistentes farão parte do processo

de habitação instalado. Algumas ações de capacitação e geração ou complementação

de renda foram priorizadas.

Embora a metodologia seja implantada em todos os locais de reassentamento e

muitas conquistas nesta etapa são realizadas, poucos resultados alcançados, visto

que muitas famílias comercializam as unidades e retornam a situações de favelamento.

Não critico aqui as políticas públicas na área habitacional, tão pouco a metodologia

do trabalho social, na realidade para inserir e integrar o beneficiário à nova oferta

de habitação, com vistas à correta apropriação, sensação de empoderamento e

pertencimento e que estes conceitos possam justos, gerar a sustentabilidade de

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manutenção e auto gestão, temos que modificar hábitos, cultura, educação, e o jeito

de viver desta parcela da população, que fatalmente vieram na bagagem no dia da

mudança.

A BAGAGEM

Mais que objetos, mesas, redes ou camas, vieram às pessoas e seu jeito de viver, e

aí está o gargalo, nele embutido os tímidos resultados, para ser cidadão não basta

ter direitos, para a liberdade é necessário exercitar a democracia, não só na hora de

votar, democracia é muito mais que o voto, há de se respeitar o direito, do próximo.

Na alma dos moradores removidos, muita interferência ideológica do seu modo de

vida, de seus valores do certo ou errado, dos seus desejos e sonhos, seu legado, sua

história e ainda, do seu conceito de honra.

Para que a venda de uma ideia ou produto se concretize ela não pode vir separada

da diversidade inesgotável das experiências de vida e de saber das pessoas as quais

se destinam.

O emprego de argumentos, legítimos ou não, com o propósito de conseguir que

outros indivíduos adotem certa ideia é uma arte, muito além das estatísticas ou

pesquisas dos determinados perfis, dependem permitir que tais indivíduos passem a

desejar esta ideia e ainda, que lutem por ela, que seja fruto de esforço e desejo para

poder se sustentar em longo prazo.

Estes argumentos devem estar relacionados com o correto entendimento dos

indivíduos sobre a proposta, dentro das suas realidades e de seus possíveis valores

de escolha.

Não significa fazer o que querem, mas transformar aquilo que propomos em vontade

coletiva ou individual. Muitos ilustres ao longo da nossa história mudaram caminhos,

trajetórias e até destino de cidades inteiras, alguns mudaram conceitos e criaram

novas culturas, o sucesso, não foi por acaso, estavam sempre dentro de contextos,

do consciente ou inconsciente coletivo, para que a conquista se tornasse um desejo

da maioria.

O modo de vida é a soma das experiências inorganizadas dos indivíduos; transforma-

se de maneira espontânea e não imposta ou exigida e para buscar estas mudanças de

forma que elas sejam espontâneas, temos que transformar espectadores em sujeitos.

Comparo àquelas atitudes em família, nas nossas casas, onde cuidar, não significa

dizer sim para todo desejo de um filho, mas saber transformar um não em uma lição

de vida, para que o filho tenha sua própria ferramenta para a conquista do seu sim.

Não podemos passar a realidade na frente dos sonhos, temos que criar sonhos e

transforma-los em realidade desejada, e para tal, as mudanças conceituais e culturas

mais que as sociais, na oferta de um produto pronto, bom para nossos conceitos, nem

tanto para quem os recebe.

Meu saudoso pai, mestre na arte de ensinar, deixou entre suas melhores lições de

vida, que podemos e temos a arte de mudar as perguntas, e só desta forma podemos

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crescer, o aprendizado tem o seu maior valor nas mudanças, mas estas mudanças só

ocorrem quando aprendemos que não temos todas as respostas.

Mudar o jeito de viver das pessoas para melhor, não está na oferta da moradia, mas

sim no desejo de sua conquista.

Conquistas sem riscos são sonhos sem méritos. Ninguém é digno dos sonhos de não

usar as derrotas para cultivá-los. (Augusto Cury)

Segundo Lakatos (1999): Democracia é a filosofia ou sistema social que sustenta que

o indivíduo, apenas pela sua qualidade de pessoa humana, e sem consideração às

qualidades, posição, status, raça, religião, ideologia ou patrimônio, deve participar

dos assuntos da comunidade e exercer nela a direção que proporcionalmente lhe

corresponde.

A formação de uma cultura democrática como a sonhada pelo educador Pedro Demo

nasce do conhecimento enquanto instrumento político de libertação. Ela permitirá o

desenvolvimento dos potenciais de cada aluno-cidadão no meio social em que vive.

Bóbbio (2002) afirmou que “a democracia não se refere só à ordem do poder público

do Estado, mas devem existir em todas as relações sociais, econômicas, políticas e

culturais.

“Começa na relação interindividual, passa pela família, a escola e culmina no Estado.

Uma sociedade democrática é aquela que vai conseguindo democratizar todas as suas

instituições e práticas”.

Criar e fortalecer programas de educação para o respeito aos direitos e também aos

deveres nas escolas, seria um primeiro passo. No meu tempo a temática fazia parte do

currículo escolar com o nome de “Educação Moral e Cívica”, o tema foi retirado dos

currículos escolares, mas que deixou um vazio na formação dos alunos.

Para transformar a realidade, é necessário compreender a trama diária de relações,

emoções, cultura e produção do conhecimento, requer formar sujeitos sociais ativos,

protagonistas, atores sociais capazes de viver nos distintos espaços sociais, uma

consciência crítica, capaz de mudar vícios e conceitos para criar novas realidades e

um novo jeito de viver.

O trabalho social hoje praticado e implantado em muitas intervenções possuem

eixos de referência na mobilização, organização, educação sanitária, ambiental,

patrimonial, de geração e ou complementação de renda e tem como principal

objetivo, a participação da população no processo, quando este trabalho se encerra,

todas as metas foram cumpridas e as ações executadas e implantadas nas chamadas

comunidades, antes, durante e após a intervenção.

As modalidades são de urbanização, reassentamento, regularização ou outras e as

equipes multidisciplinares.

Estas intervenções são planejadas e baseadas em diagnósticos dos principais

indicadores que caracterizam a cidade, o bairro a comunidade, seu entorno e a

população a ser beneficiada.

Os beneficiários entendem que estamos fazendo nosso trabalho, acredita ser uma

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obrigação dos governos, um direito de cada um, a maioria das dúvidas por parte

da população, estão atreladas a necessidades individuais e não coletivas, nunca

presenciei questões que partiram dos moradores, relacionadas aos seus deveres, com

relação ao coletivo.

Embora o exaustivo trabalho, e o avanço na preocupação com questões antes

descartadas, o dia seguinte carrega o peso daquele jeito de viver, incompatível com

o pretendido, distante da realidade, sem a sustentabilidade almejada e na bagagem

de cada morador:

A FAVELA!

No conteúdo das atividades propostas faltaram ferramentas capazes de provocar as

mudanças, na oferta muitos direitos e poucos deveres, muitas conquistas sem mérito

ou sacrifícios, algumas ações mais assistencialistas que sociais, o foco principal não

foi inserido e integrado nas atividades educacionais propostas.

Para a cidade dos excluídos se transformar em cidade de cidadãos, não basta mudar

de endereço, é necessário que o antigo endereço não venha na bagagem dos novos e

ainda a realização do sonho da casa própria deve ser fruto de muita luta e trabalho

para que o mérito desta conquista possa ser auto sustententável.

E que a educação moral e cívica, extinta do currículo das escolas, possa voltar

de roupa nova, sem a interferência de políticas partidárias, mas com enfoque nas

necessidades básicas de aprendizado na formação de cidadãos.

Resgatar históricos, lutas e conquistas é o primeiro passo, temos que aprender a ouvir

e dividir com os moradores responsabilidades, buscar nas entrelinhas não somente a

identificação da resistência, mas o conteúdo de cultura nela instalado.

Ações de educação sanitária, não podem vir isoladas do meio ambiente cultural, a

educação patrimonial deve estar integrada com o amor a Pátria, ações dedicadas à

cidadania deve ter enfoque também nos deveres e não só nos direitos, a geração

de renda relacionada com o mercado e as reais potencialidades emergentes, os

diagnósticos inseridos e integrados ao ambiente almejado pós a intervenção, a

mobilização deve ser fruto da venda de uma ideia, do desejo, de uma conquista,

de sacrifícios, trabalho e luta e a organização comunitária virá naturalmente por

iniciativa de interessados em construir um novo jeito de viver, cheio de méritos,

honra e orgulho.

Ao elaborar, implantar ou gerenciar projetos sociais conquistamos um grande avanço,

hoje nestes territórios, não existem obras de engenharia sem vínculo com o trabalho

social, temos o diagnóstico, a metodologia, as diretrizes e seus eixos estruturantes,

a participação comunitária, o antes, o durante, o depois e ainda os investimentos

mais compatíveis à sua execução.

Nesse movimento analítico e suas engrenagens, sobre as quais as atividades culturais

ancoram as razões de ser e que faz sentido aos olhos de um universo particular e

seus integrantes, o movimento de abrangência requerido, para promover mudanças

sustentáveis, deve se orientar nestas razoes e não em suas consequências.

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200 201

“Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua

própria produção ou a sua construção.” (Paulo Freire).

“A sociedade e cada meio social particular determinam o ideal que a educação

realiza” (Émile Durkheim)

“Não há saber mais ou saber menos: Há saberes diferentes”. (Paulo Freire)

Paulo Freire, Piaget, Vygotsky, Wallon, Maria Montessori, Emile Durkheim, Anísio

Teixeira… Muitos filósofos, educadores, pedagogos e escritores já refletiram sobre

Educação.

Na realidade, equívocos prioritários no principal foco, já que não devemos acreditar

que as pessoas livres são educadas, devemos antes acreditar que apenas as pessoas

educadas, são livres.

De acordo com notícias do Estadão elevados índices de repetência e de abandono da

escola no Brasil foram apontados em relatório da Unesco SÃO PAULO - Com índices

de repetência e abandono da escola entre os mais elevados da América Latina, a

educação no Brasil ainda corre para alcançar patamares adequados para um País que

demonstra tanto vigor em outras áreas, como a economia.

Segundo o Relatório de Monitoramento de Educação para Todos de 2010, da

Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco), a

qualidade da educação no Brasil é baixa, principalmente no ensino básico.

O relatório da Unesco aponta que, apesar da melhora apresentada entre 1999 e 2007,

o índice de repetência no ensino fundamental brasileiro (18,7%) é o mais elevado

na América Latina e fica expressivamente acima da média mundial (2,9%). O alto

índice de abandono nos primeiros anos de educação também alimenta a fragilidade

do sistema educacional do Brasil.

Cerca de 13,8% dos brasileiros largam os estudos já no primeiro ano no ensino

básico. Neste quesito, o País só fica à frente da Nicarágua (26,2%) na América Latina

e, mais uma vez, bem acima da média mundial (2,2%).

Na avaliação da Unesco, o Brasil poderia se encontrar em uma situação melhor se não

fosse a baixa qualidade do seu ensino. Das quatro metas quantificáveis usadas pela

organização, o País registra altos índices em três (atendimento universal, igualdade

de gênero e analfabetismo), mas um indicador muito baixo no porcentual de crianças

que ultrapassa o 5º ano.

Problemas que a educação brasileira ainda enfrenta, a estrutura física precária das

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escolas e o número baixo de horas em sala de aula são apontados pelos técnicos da

Unesco como fatores determinantes para a avaliação da qualidade do ensino. Crise

financeira.

A crise financeira que ainda reprime o desenvolvimento de países em todo o mundo

poderá também ter um reflexo bastante negativo na educação, alerta o relatório

da Unesco. De acordo com a organização, o aumento da pobreza e os cortes nos

orçamentos públicos das nações podem comprometer os progressos alcançados na

educação na última década, principalmente nos países pobres. “Enquanto os países

ricos já estão criando as condições necessárias para sua recuperação econômica,

muitas nações pobres enfrentam a perspectiva imediata de uma degradação de seus

sistemas educativos”, alerta Irina Bokova, diretora-geral da Unesco. “Não podemos

permitir o surgimento de uma “geração perdida” de crianças privadas da possibilidade

de receber uma educação que lhes permita sair da pobreza.” Com este cenário,

a Unesco avalia que a comunidade internacional não deverá alcançar nenhum dos

seis objetivos estabelecidos em 2000, em Dacar, no Senegal, que, juntos, visam a

universalização do ensino fundamental até 2015.

Segundo o relatório, seria necessário cobrir um déficit de US$ 16 bilhões para atingir

essas metas, acabando com o analfabetismo, que hoje atinge cerca de 759 milhões de

adulto no mundo, e possibilitando que as mais de 140 milhões de crianças e jovens

que continuam fora da escola tenham a oportunidade de estudar.

Cerca de 52,3 milhões de pessoas vivem em favelas no Brasil. Grande parte das

pessoas que vivem em favelas brasileiras possuem renda média de até 3 salários

mínimos e escolaridade média no ensino fundamental incompleto. Grande parte das

moradias construídas no Brasil ocorrem de forma precária e em locais vulneráveis às

enchentes e falta de saneamento básico.

O Brasil embora o déficit, possui políticas habitacionais para a população de

baixa renda e vem elaborando projetos cada vez mais próximos das realidades desta

parcela da população, porém com foco menos indutor de sustentabilidade e mais

assistencialista e mantenedor das realidades que predendeu um dia, modificar e

melhorar.

Assim as favelas mudam de endereços: Horizontais para verticais e de verticais para

o retorno aos horizontais irregulares.

Embora os programas busquem a regularização urbanística e fundiária das edificações

e ainda o desenvolvimento social e ambiental sustentável para seus beneficiários,

ao implantar ações de políticas habitacionais, prevaricamos ao não entender que a

correta apropriação do morador para com sua nova casa, depende de mudanças não

só dos pertences e objetos, mas de vida.

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Segundo Kroeber (Parte do texto extraído do livro: Cultura. Um conceito

antropológico - Roque de Barros Laraia / Rio de Janeiro / Zahar Editor / 19ª

edição) o conceito de cultura pode ser relacionada nos seguintes pontos:

1 ) A cultura, mais do que a herança, determina o comportamento do homem e

justifica as suas realizações.

2 ) O home age de acordo com seus padrões culturais. Os seus instintos foram

parcialmente anulados pelo longo processo evolutivo porque passou.

3 ) Adquirindo cultura, o homem passou a depender muito mais do aprendizado do

que agir através de atitudes geneticamente determinadas.

4 ) Como já era do conhecimento da humanidade, desde o Iluminismo, (Os pensadores

que defendiam estes ideais acreditavam que o pensamento racional deveria ser levado

adiante substituído as crenças religiosas e o misticismo que segundo eles bloqueavam

a evolução do homem - Séc XVII) é este processo de aprendizagem (socialização

e endoculturação - endoculturação é o processo permanente de aprendizagem de

uma cultura que se inicia com a assimilação de valores e experiências a partir do

nascimento de um indivíduo e que se completa com a morte - não importa o termo)

que determina o seu comportamento e a sua capacidade artística ou profissional.

5 ) A cultura é um processo acumulativo, resultante de toda a experiência histórica

das gerações anteriores. Este processo limita ou estimula a ação criativa do indivíduo.

Paulo Freire colocava, com propriedade, que os homens se educam entre si, mediados

pelo mundo.

A cultura é exatamente um dos canais de mediação com o mundo mais relevante e

significativo, desta forma quando pretendemos mudar a vida de pessoas para melhor,

temos antes que educa-la para desejar este melhor.

A cultura, assim, remete ao caminho inverso: à desconstrução dos conteúdos

apreendidos, ao questionamento dos mesmos e à colisão dos indivíduos com seus

próprios valores e assim podemos vislumbrar de fato as mudanças de vida, antes das

mudanças de casa.

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05CAPÍTULO V

10 - RELATO DOS MORADORES

10 paginas sendo colhidas em vários estados do território nacional

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11 - BIBLIOGRAFIA

IBGE. Contagem Habitacional/96; Favelas, domicílios e moradores de 1993 a 1996.Município de São Paulo

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Váriadas notícias veinculadas nas mídias relacionadas no texto.

Depoimentos autorizados de moradores de favelas.

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A PROPRIEDADE É UMA CONQUISTA QUE REPRESENTA PARA A MAIORIA DAS PESSOAS UM GRANDE ESFORÇO E MUITO TRABALHO. PRESERVAR VALORES CULTURAIS QUE IMPLIQUEM EM DEVERES, QUE PROMOVAM O TRABALHO SIGNIFICA COLHER O RESPEITO TANTO DAQUELES QUE PROVÊM QUANTO DAQUELES QUE SÃO PROVIDOS.

C l a r a W a i d e r g o r n