Éfácil:seosangolanos queremcomprar, comprem;sequerem … · O que euposso garantirfoi...

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. 18 | Empresas | Jornal de Negócios | Segunda-Feira, 21 de Novembro de 2011 É fácil: se os angolanos querem comprar, comprem; se querem vender, vendam Especial Hora H É um presidente executivo cujo man- dato terminou há quase ano. É uma si- tuação inédita. Sente-se a prazo? O privilégio de se ter 62 anos é que não vivemos muito preocupa- doscomofuturo.Sinto-meconfor- távelemexercerasminhasfunções, emnadaafectadaspelofactodenão ter havido uma eleição dos órgãos sociais completos no Verão deste ano. Continuo a trabalhar como se estivesseemperpetuidadenasfun- ções que exerço e acho que essa é a melhor formade servir. É uma restrição à gestão? Não. O código comercial não contemplaoconceitodegestãocor- rente.Osadministradoresexercem as suas funções na plenitude dos seus deveres e responsabilidades. Como explica a investidores estrangei- ros que devem investir numa empresa que tem a gestão sem mandato? Ninguém é perpétuo no exercí- cio das suas funções. Aprópriavida pode-nos interromper qualquer responsabilidade. Exerço as fun- ções e penso alongo prazo. O seu maior accionista está vendedor. Outro está comprador. A indefinição accionista é um problema na Galp? Éprecisosaberdiferenciarares- ponsabilidade de quem é detentor do capital da responsabilidade de quem tem a procuração para gerir osactivosquelheestãoconfiados.A minharesponsabilidadeéconstruir umavisão, umprograma, umamis- são a longo prazo, é definir objecti- vos claros paraque todaaestrutura daempresaestejaunidae caminhe numadirecçãocomumereferendar estasideiasnoconselhodeadminis- tração;e,umavezreferendadas,exe- cutá-las.Equantomenosruídoexis- tir nesta comunicação da temática accionista e da gestão, melhor para todos.AGalpEnergia,todasasgran- desdecisõesquetemtomado,toma porunanimidadenoconselhodead- ministração. Mesmo no conselho executivo,asdecisõesnaesmagado- ra maioria são tomadas por unani- midade. Só assim se consegue fazer grandescoisas.Decontrário,perde- mos muito tempo nas lutas intesti- nas que não criam valor. Essas lutas intestinas existem – são en- tre accionistas e são conhecidas. Sen- te que tem a confiança de todos os ac- cionistas, incluindo da engenheira Isa- bel dos Santos? Vou dizer-lhe o que sei: nunca nenhum accionista me disse que não estava satisfeito com a minha gestão da empresa. Repito: nunca nenhum accionista, incluindo a Exxon,aEsperaza,eitalianosepor- tugueses e o Estado. Sinto-me ab- solutamente tranquilo. E já lhe disseram todos que estão satis- feitos com o seu trabalho? Como não lhes perguntei isso, não sei qual é aresposta. Os italianos da Eni estão vendedores. Os angolanos querem comprar… A Galp é como a Carochinha: muito rica, boniti- nha, mas acabapornão conseguircasar. Deixe-metentarsimplificarate- mática accionista. Um tema é o da eventualsaídadanossaestruturade capitais da Eni. AEni teria gostado de controlaranossaempresanato- talidade. Concluiu que isso não se- ria fácil ou possível, então decidiu vender,masdeumaformatranqui- lae que não destruavalornem para aprópriaEninemparaosdemaisac- cionistas. Depois há uma outra te- mática, que é adaAmorimEnergia, umaparceriacontroladapelogrupo Amorim onde há capital angolano através de uma subsidiária chama- da Esperaza. Essa entidade por si própriaécontroladapelaSonangol. Ostemasnoticiadospelosjornaisdi- zemqueosnossosaccionistasango- lanosqueremaumentarasuaparti- cipação naGalp Energiae arespos- taqueeusempredeiéextremamen- te fácil: bastacompraremacções da empresa. Ninguém pode impedir quecapitalangolanocompreacções da empresa. É uma questão de as querercomprar.Segundoponto:se- gundoosjornais,ocapitalangolano gostariadesairdaAmorimEnergia. Tantoquantosei,ninguémpodeim- pedirumainstituição de sairde ou- traaque pertence. O que tem de fa- zersimplesmenteévenderessapo- sição. Julgo que há problemas que se amplificamsemtergrande subs- tânciaportrás. A Galp é a mais valiosa empresa portuguesa. Acaba de fechar um aumento de capital no Brasil e aponta para Moçambique. Mas tem um prolongado conflito accionista e um presidente sem mandato. Ou não? Manuel Ferreira de Oliveira respondeu no Hora H PEDRO SANTOS GUERREIRO, MIGUEL PRADO, BRUNO SIMÕES, RAQUEL GODINHO; BRUNO SIMÃO (Fotografia) Ferreira de Oliveira | O seu mandato já terminou mas o gestor diz que continua a tr Explique-nos o aumento de capital de 5,2 mil milhões de dólares feito no Brasil, através da chinesa Sinopec. AGalptemhojegrandesrecur- sos no seu activo. É preciso ter competênciatécnica: tecnologia, tecnologia, tecnologia. E depois capital. Aquantidade de recursos económicos necessáriaé imensa. TemosumactivonoBrasilque foi valorizado em 12.500 milhões de dólares e montámos umaope- raçãocompetitivaetransparente nos mercados globais, seleccio- nandotrês consórcios paraparti- cipar neste processo. Nós impu- semosdesdeoprincípioque,dada a relevância estratégica da nossa presença no Brasil, teríamos de serinequivocamenteoaccionista controlador.Eistocomplicatudo. As negociações foram difíceis e hoje o que temos é uma parceria emque aGalp é contratualmente o accionistacontrolador. A Sinopec investe 5,2 mil milhões de dólares para ter 30%. Qual é o inte- resse dos investidores chineses? Os chineses, como nós, têm preocupações a longo prazo de abastecimentoenergético.Oaces- so à produção de bens essenciais emsituaçõesdecontingêncianos mercados é um activo intangível difícil de quantificar. Se amanhã houver uma calamidade, é natu- ral que os accionistas, apreços de mercado, tenham direito de pre- ferênciaparaaquisiçãodaprodu- Nunca nenhum accionista me disse que não estava satisfeito com a minha gestão da empresa. Sinto-me absolutamente tranquilo. “O preço é definido

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.18 | Empresas | Jornal de Negócios | Segunda-Feira, 21 de Novembro de 2011

É fácil: se os angolanosquerem comprar,comprem; se queremvender, vendam

Especial Hora H

É um presidente executivo cujo man-dato terminou há quase ano. É uma si-tuação inédita. Sente-se a prazo? O privilégio de se ter 62 anos é

que não vivemos muito preocupa-doscomofuturo.Sinto-meconfor-távelemexercerasminhasfunções,emnadaafectadaspelofactodenãoter havido uma eleição dos órgãossociais completos no Verão desteano. Continuo atrabalhar como seestivesseemperpetuidadenasfun-ções que exerço e acho que essaé amelhorformade servir.

É uma restrição à gestão? Não. O código comercial não

contemplaoconceitodegestãocor-rente.Osadministradoresexercemas suas funções na plenitude dosseus deveres e responsabilidades.

Como explica a investidores estrangei-ros que devem investir numa empresa que tem a gestão sem mandato? Ninguém é perpétuo no exercí-

ciodassuasfunções.Aprópriavidapode-nos interromper qualquerresponsabilidade. Exerço as fun-ções e penso alongo prazo.

O seu maior accionista está vendedor. Outro está comprador. A indefinição accionista é um problema na Galp? Éprecisosaberdiferenciarares-

ponsabilidade de quem é detentordo capital da responsabilidade dequem tem a procuração para gerirosactivosquelheestãoconfiados.Aminharesponsabilidadeéconstruirumavisão,umprograma,umamis-são alongo prazo, é definir objecti-vosclarosparaquetodaaestruturadaempresaestejaunidae caminhenumadirecçãocomumereferendarestasideiasnoconselhodeadminis-tração;e,umavezreferendadas,exe-cutá-las.Equantomenosruídoexis-tir nestacomunicação datemáticaaccionistae dagestão, melhor para

todos.AGalpEnergia,todasasgran-desdecisõesquetemtomado,tomaporunanimidadenoconselhodead-ministração. Mesmo no conselhoexecutivo,asdecisõesnaesmagado-ramaioriasão tomadas por unani-midade.Sóassimseconseguefazergrandescoisas.Decontrário,perde-mos muito tempo nas lutas intesti-nasquenãocriamvalor.

Essas lutas intestinas existem – são en-tre accionistas e são conhecidas. Sen-te que tem a confiança de todos os ac-cionistas, incluindo da engenheira Isa-bel dos Santos? Vou dizer-lhe o que sei: nunca

nenhum accionista me disse quenão estava satisfeito com a minhagestão da empresa. Repito: nuncanenhum accionista, incluindo aExxon,aEsperaza,eitalianosepor-tugueses e o Estado. Sinto-me ab-solutamente tranquilo.

E já lhe disseram todos que estão satis-feitos com o seu trabalho? Como não lhes perguntei isso,

não seiqualé aresposta.

Os italianos da Eni estão vendedores. Os angolanos querem comprar… A Galp é como a Carochinha: muito rica, boniti-nha, mas acaba por não conseguir casar. Deixe-metentarsimplificarate-

mática accionista. Um tema é o daeventualsaídadanossaestruturadecapitais daEni. AEni teriagostadodecontrolaranossaempresanato-talidade. Concluiu que isso não se-ria fácil ou possível, então decidiuvender,masdeumaformatranqui-laequenãodestruavalornemparaaprópriaEninemparaosdemaisac-cionistas. Depois há uma outra te-mática,queéadaAmorimEnergia,umaparceriacontroladapelogrupoAmorim onde há capital angolanoatravés de umasubsidiáriachama-da Esperaza. Essa entidade por si

própriaécontroladapelaSonangol.Ostemasnoticiadospelosjornaisdi-zemqueosnossosaccionistasango-lanosqueremaumentarasuaparti-cipação naGalp Energiae arespos-taqueeusempredeiéextremamen-tefácil:bastacompraremacçõesdaempresa. Ninguém pode impedirquecapitalangolanocompreacçõesda empresa. É uma questão de asquerercomprar.Segundoponto:se-gundoosjornais,ocapitalangolanogostariadesairdaAmorimEnergia.Tantoquantosei,ninguémpodeim-pedirumainstituiçãodesairdeou-traaque pertence. O que temde fa-zersimplesmenteévenderessapo-sição. Julgo que há problemas queseamplificamsemtergrandesubs-tânciaportrás.

A Galp é a mais valiosa empresa portuguesa. Acaba de fechar umaumento de capital no Brasil e aponta para Moçambique. Mas temum prolongado conflito accionista e um presidente sem mandato.Ou não? Manuel Ferreira de Oliveira respondeu no Hora HPEDRO SANTOS GUERREIRO, MIGUEL PRADO, BRUNO SIMÕES, RAQUEL GODINHO; BRUNO SIMÃO (Fotografia)

Ferreira de Oliveira | O seu mandato já terminou mas o gestor diz que continua a tr

Explique-nos o aumento de capital de 5,2 mil milhões de dólares feito no Brasil, através da chinesa Sinopec. AGalptemhojegrandesrecur-

sos no seu activo. É preciso tercompetênciatécnica: tecnologia,tecnologia, tecnologia. E depoiscapital.Aquantidadederecursoseconómicosnecessáriaéimensa.

TemosumactivonoBrasilquefoivalorizado em12.500 milhõesdedólaresemontámosumaope-raçãocompetitivaetransparentenos mercados globais, seleccio-nandotrêsconsórciosparaparti-cipar neste processo. Nós impu-semosdesdeoprincípioque,dadaa relevância estratégica da nossapresença no Brasil, teríamos deserinequivocamenteoaccionista

controlador.Eistocomplicatudo.As negociações foram difíceis ehoje o que temos é uma parceriaemqueaGalpécontratualmenteo accionistacontrolador.

A Sinopec investe 5,2 mil milhões de dólares para ter 30%. Qual é o inte-resse dos investidores chineses? Os chineses, como nós, têm

preocupações a longo prazo deabastecimentoenergético.Oaces-so à produção de bens essenciaisemsituaçõesdecontingêncianosmercados é um activo intangíveldifícil de quantificar. Se amanhãhouver uma calamidade, é natu-ralque os accionistas, apreços demercado, tenham direito de pre-ferênciaparaaquisiçãodaprodu-

Nunca nenhumaccionista medisse que nãoestava satisfeitocom a minhagestão da empresa.Sinto-meabsolutamentetranquilo.

“O preço é definido

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abalhar como se estivesse em “perpetuidade de funções”.

ção associadaàquele activo.

O que é uma calamidade? É por exemplo uma guerra…

Uma tragédia seria bloquearem aprodução à Arábia Saudita, ao Ku-wait,àVenezuela,àNigéria.Issoin-troduz distorções profundas.

Se houver queda abrupta... Seestivermosaproduzir300mil

barrisdecrude–oqueéumamédiaalcançável–,temosdireito(aGalp)acompraràsubsidiária210milbar-ris(70%)eosnossosparceirostêmdireitoacomprar90milbarris.Istoemsituaçõesdeforçamaior.EsteéointeresseestratégicoprofundodaSinopec neste projecto. Adicional-mente,háaquitambémumproces-

sodepartilhadecompetências,quenósestamosaadquiriretemoshoje,comaprópriaSinopec.

O valor implícito neste aumento de ca-pital foi muito abaixo do valor subja-cente a outra operação, com a Repsol, também de investimento chinês. Por que é que fez um mau negócio? Osnegóciosvalemaquiloqueas

pessoasestãodispostasapagarnumdeterminado momento do tempo.Oportefóliodenegóciodeleseradi-ferentedonosso.ARepsoltemmaisparticipação em menos projectos.Nós, porumaquestão de capacida-deenãoassumirtantorisco,temosmenores participações em maisprojectos… Por outro lado, o negó-cio daRepsolfoinoutro momento.

As acções da Galp desvalorizaram mais de 10%. Esvaziaram mais de mil mi-lhões de euros, era como se uma REN tivesse desaparecido da bolsa. Sente que defraudou os investidores? Havia quem dissesse que a nos-

saoperaçãopodiaservalorizadaemmais1.000ou1.500milhõesdedó-lares.Averdadeéqueopreçonãoédefinido por uma folha de cálculo.O preço é definido, na realidadedura e crua, a discutir com quemtemodinheiroparapôremcimadamesa. O que eu posso garantir foiquetudofizemosparaobterojustovalorpelos activos.

Sente que a Galp pode ser vista no Bra-sil como um cavalo de Tróia para a en-trada dos investidores chineses?

Digo-lhequalfoiaminhavidanasemanapassada. Nasegunda-feiraestavano Rio adiscutir com alide-rança da Petrobras para explicar ovalorqueestávamosacriar.Nater-çaestivecomoministrodaEnergiado Brasil, o Edison Lobão, paralheexplicaratransacção.Elefelicitou-nos, deu-me um abraço, dizendoque lhes interessaque as empresasportuguesassejamfortesnoBrasil.

Comunicou ao governo brasileiro antes de fazer a transacção? Comuniqueiaosenhorministro

daEnergiae Minas do Brasil. Che-go a Portugal na quarta-feira, vouparaoconselhodeadministraçãoena quinta-feira estou em HongKongaassinaros contratos.

A Galp mudou o seu perfil e a sua distribuição no mundo na última meia dúzia de anos. O que é hoje a Galp? A Galp Energia hoje é uma

dasdezgrandesempresaseuro-peias de petróleo e gás. Em to-das as grandes empresas de “oil& gas” o negócio principal é apesquisa, extracção e produçãodepetróleoegás.Nanossaacti-vidadeesseprojectofoilançadoporvoltade1994a1997.Ospro-jectosdeexploraçãoeprodução(E&P) demoram muito tempoa germinar. Hoje estamos a co-lherfrutos das sementes lança-das nesse período, que estive-ram congeladas entre 2000 e2006eactivaram-secompujan-ça em 2006 com o apoio de to-dos os accionistas.

AE&Pactualmentevalecer-cade 60% do valordaempresa.Nós temos como projecto claroproduzir pelo menos o que oPaísconsomeouoquenósrefi-namos, que corresponde a cer-ca de 300 mil barris por dia. Eproduzirtambémogásquecon-sumimos no nosso País, que é àvoltade 6 BCM (milmilhões demetros cúbicos) por ano. Em2000 tínhamos um plano parafazer a reengenharia completada nossa refinação, para a mo-dernizar e tornar competitivanocontextoeuropeu.Essepro-jecto foi reiniciado em 2006,com a nova estrutura accionis-taqueoapoiou,eestácompleta.

Portanto, entre 2000 e 2006… Entre 2000 e 2006 houve

uma paralisia completa nos in-vestimentosdaactividadedere-finação.

Isso é uma crítica em relação ao que foi … Não, é uma questão de con-

ceito de negócio. Entre 2000 e2006 era um negócio pensadodo mercado para o fornecedor.Anossavisãodenegócioéirdes-de o reservatório parao cliente,emque o foco estánaproduçãodoactivo,queéescasso,edepoisfazer o melhor possível paravender aos clientes. Neste mo-mento temos a nossa refinariamodernizada.Oefeitonabalan-çade pagamentos é de cercade450 milhões de euros/ano. E oefeitonovolumedeexportaçõesdanossaempresa,quehojeron-da os 2.200 milhões de euros,passarápelomenospara3.300,3.500 milhões de euros.

“Entre 2000e 2006houve umaparalisiacompleta”

por quem tem dinheiro para pôr na mesa”

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Especial Hora H

Quais são os vossos planos para Áfri-ca? Nomeadamente em Angola? Somos a empresa portuguesa

quemaisinvestiuemAngola.Onos-so activo em Angolaultrapassamilmilhõesdeeuros.Nãohaverámui-tas empresas que tenham feito omesmo. O nosso plano de investi-mentosemAngolaaté2015,2016ésemelhante. Vamos praticamenteduplicar o nosso investimento emAngola.Contudo,aescala…nóshojeestamos aproduzirvinte e pico milbarrisemAngola,evamoschegara50.Estamosnumperíododedecli-nação de reservatórios, estamos ainvestir para repor a declinação, esubir aos 40, 50 mil barris por diaemAngola.Esseprojectoestáaan-dar,estáafuncionarbem.Ondenóstemos hoje outro centro de grandedesenvolvimento, que vai exigirdanossapartevisão,perseverança,ta-lento,énaproduçãodegásemMo-çambique, nabaciado Rovuma, nafronteira com a Tanzânia, na pro-vínciade Cabo Delgado. Acaboudeserfeitaumagrandedescoberta,declassemundial,degás,quevaitrans-formarMoçambique.Estivehácer-ca de mês e pico em Moçambique,numaconferênciacomoesta,ondeestava o senhor Presidente da Re-pública,eeudisse-lhequenestadé-cada Moçambique ia sofrer umatransformação radical. Podia serumatransformaçãoparamelhorouparapior,edepoisprocureiexplicaroqueaconteceria.Porqueodinhei-ro em excesso, num país que nãoestápreparado parao utilizarbem,pode serfonte de destruição de va-lorparaaeconomialocal.

Como aconteceu em Angola? Não estou a fazer comparações

comoutro país. O que estouareco-mendar é que eu preferia dizer,como acontece claramente com aNigéria…deixe-mesódizer-lhequeMoçambique, um país amigo, temuma extraordinária oportunidadee senti no poder político a vontade

de aproveitar essa década paratransformarMoçambique.Enóste-mos um papel grande a desempe-nharnesse projecto.

No fundo, essa descoberta de gás na-tural… do ponto de vista da Galp, isso coloca Angola em segundo plano e Mo-çambique em primeiro? Com os recursos que já temos

semi-provados–apalavraprovado,tecnicamente, não tenho funda-mentaçãoparaausar–,anossapar-te, no projecto moçambicano, per-mite-nosabasteceromercadototalportuguês durante dez anos. Mastemosrecursosaindaespeculativos,sujeitosaalguma–muita–incerte-za, que nos poderão aumentar emmais 50% esses recursos. Se isso

acontecer, nós temos 10% desseprojecto – um projecto gigantesco,esesemultiplicar,issosignificaquesó nesse projecto Moçambique vaiproduzir o equivalente a 100 vezeso consumo português durante 15anos. Veja a quantidade de gás queláexiste.

Essa é uma oportunidade para outras empresas portuguesas, no lastro da Galp, investirem em Moçambique? É umaoportunidade e umares-

ponsabilidade.EstiveontemcomosenhorministrodaEconomiaparalhedizerissomesmo.Paralhedizerque nós estamos envolvidos numprojecto que está a nascer, vai terque se construir uma cidade nova,nessa cidade vai ser preciso tudo:edifícios,hotéis,casas–tudo,comoimagina. O governo português de-veria,quasequenumarelaçãobila-teral, oferecer-se para ajudar Mo-çambiqueaaproveitarestefluxodecapital que láse iráinjectar. O ope-rador do projecto em que estamosenvolvidos anunciou recentemen-tequeoinvestimentoandaráàvol-tade 50 biliões de dólares. Ao lado,há outra descoberta grande, que écontrolada pela empresa america-naAnadarko,quefalaem20a30bi-liões de dólares. Isto para investirnumadécada.Édinheiroamais,emtermos de investimento no local,paraqueMoçambiquenãoaprovei-te aoportunidade parase transfor-mar.Precisamdeformarpessoas,épreciso terem escolas técnicas, éprecisotereminfra-estruturas,des-de ETAR… para acomodar as pes-soasquealivãotrabalhar…edepoisusarbemocapital,osimpostosquederivam destes imensos recursos.Moçambique é, para as empresaportuguesas – e aGalp em particu-lar– umaoportunidade emque se-ria imperdoável se não fizéssemostudoparacooperarcomMoçambi-que,paraquesetransformepelapo-sitiva nesta nova fase da sua histó-riaemque vaientrar.

“Governo portuguêsdevia oferecer-se paraajudar Moçambique”

Moçambique vai sofrer uma “transformação radical” coma descoberta de gás na província de Cabo Delgado, projectoonde a Galp está envolvida. Ferreira de Oliveira defende queo Governo devia oferecer-se para ajudar Moçambiquea aproveitar o fluxo de capital que será injectado no país

Ferreira de Oliveira | Em vez de cortar salários é preferível criar condições para au

O dinheiro emexcesso, num paísque não estápreparado parao utilizar bem,pode ser fontede destruiçãode valor paraa economia local.

Nós temos umpapel grandea desempenharnesse projectode Cabo Delgado.

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mentar a produtividade.

Concorda que falta concorrência no sector da electricidade? A nossa presença no sector da

electricidadeétímida.EucomproaminhaelectricidadeàGalp.NósemEspanha já temos clientes em Ma-drid,nazonadeMadrid,temoscer-cade390milclientesdegáseuns15a20 milde electricidade.

Está a fugir à pergunta. O que lhe esta-va a perguntar era se acha que, em Por-tugal, falta concorrência no sector da electricidade. Eu vou-lhe dizer: o sector eléc-

tricoemPortugaltemumahistóriaeopresenteéconsequênciadahis-tóriade décadas. E ele estátão em-brulhado, em termos de contratos,quetornaascoisascomplicadas.Euentendo, mas se quisesse explicaraqui,osquesãodosectorjáoconhe-cem, e os que não são não o enten-diam.Portanto,euqueriadizer-lheque é umaestruturacomplexaquederivou da forma como a EDP foisendoconstruída,quetornaospre-çosdaelectricidadehoje...todoosis-temaeléctrico tempreços altos.

Há um excesso de subsidiação? Nãolhechamosubsidiação.Não

existeatransferênciaparaoconsu-midorinstantâneadopreçodospro-dutosqueestãoaservendidos.Eissono petróleo é absoluto, hátranspa-rênciaaominuto.Nogásjánãoéas-sim,jácomeçamanasceralgunsdé-fices tarifários, mas são coisas me-nores, irrelevantes. Naelectricida-de,sãoenormes.Issooqueéquefaz?Faz com que as empresas que ac-tuam no sector, e não é só a EDP,produzam um bem que o colocamnomercadoaumpreçoquenãoestárelacionado com asuaestruturadecustos. E, a partir daí, entrou-senumacomplexidaderegulatóriaquelevou, no caso português, àacumu-lação de défices tarifários, que nofundoédívidadoclienteaofornece-dor.Osclientesportuguesesdevemao fornecedor e têm que o pagar,maiscedooumaistarde.

Uma das questões que a troika critica... A troika analisou estas coisas e

pronunciaram-sesobre–sobrepro-dutos petrolíferos não escreveramumafrase.Omercadoestábem.

“Todo o sistema eléctricotem preços altos”

As empresasque actuam nosector colocamno mercadoum bem a umpreço que não estárelacionado coma sua estruturade custos.

Gostava de cortar salários na Galp? Oiça, eu só posso dizer-lhe uma

coisa,senãoanossacomissãodetra-balhadores jáme escreve umdocu-mento amanhã. Mas, os nossos cus-tos de trabalho, nos primeiros novemeses deste ano, foram5% inferio-resaosdoanopassadoeempregámosmais 230 pessoas. Portanto, nós es-tamosacortarsaláriostodososdias.Nãobaixamosossalários,masossa-láriosdeumaempresacomoanossatemcomponentes fixas, variáveis, enóstudoquantoépossívelcortar,es-tamosacortar,porqueachamosqueéumdever,porqueosmercadosemPortugalestãoadeprimir-se.Senãofizermosqualquercoisa,oconsumode produtos petrolíferos estáacair6/7% ao ano. Não há empresa queaguenteisso,anosatrásano.Eomes-moemEspanha.Portanto,temosqueserpermanentementerigorososnoscustoseéoqueestamosafazer.Osa-lárioéapenasumcomponentedaes-truturadecustos.

Mas se fosse possível alterar a lei, como a troika falou, para permitir cortes no-minais de salários, concordava que essa medida? Eu preferia que me criassem

condições paraaumentaraprodu-tividade do trabalho.

Quais? Sobretudoaregulamentaçãodo

trabalho. E uma das coisas que to-dos nós, empresários, sabemos éque,emboraaleinãoimponhaisso,averdadeéessa,ocertoéqueacul-turaquenóstemos,umtrabalhadorque entra numa empresa, entracom um contrato a termo, depoispassaaefectivoemuda-seosenhorou a senhora, muda de comporta-mento, de atitude. E essa é a doen-çaquenóstemosnasnossasempre-sas. O facto de um trabalhador terque, todos os dias, merecero postodetrabalhoquetem,obriga-oatra-balhar e a preparar-se, ser respon-sávelpelasuaactualização,quetodaaresponsabilidadeédaempresa.Aempresa é que tem a responsabili-dade de garantirque o senhorsabeaquiloquetemdefazer,éresponsá-vel do indivíduo. Eucostumo dizerque é desenvolvendo ele própriocompetênciasecapacidadesqueeleasseguraaperenidadedoseupostodetrabalho.Temosaquiumacultu-ra, mais do que umalegislação, queé grave.

“Nós estamos a cortarsalários todos os dias”

Durante a entrevista doHora H, 80% do públicoindicou que a Galp é um

centro de decisão nacional.E Manuel Ferreira de Oliveiraconcorda. “A nossa Galp Energiaé um centro de decisão nacional,porque as decisões se tomam no14º andar aqui das Torres de Lisboa.Portanto, nesse sentido, é”. Mas opresidente executivo da petrolíferalembrou o peso que a italiana Enitem na estrutura accionista da Galp(33,34%) e na sua administração.“Não há dúvida de que, nestemomento, nós temos um regimede co-controlo, em que um dosaccionistas tem o seu centro dedecisão em Milão”, afirmou ManuelFerreira de Oliveira. O outroaccionista, a Amorim Energia, estádividido entre Portugal e Angola,mas com a sede na... Holanda.

“A Galp Energiaé um centro dedecisão nacional”

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Especial Hora H

Cerca de 150 pessoas estiverampresentes no Hora H do Negócios, queteve como convidado Manuel Ferreirade Oliveira, presidente da Galp. A plateiaesteve com uma atenção aos níveismáximos, pare conhecer as estratégiasda empresa mais valiosa do PSI-20.Angola e Brasil estiveram na conversa,mas a grande revelação foi Moçambique

Olhos postos no líderda empresa maisvaliosa do PSI-20

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