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Silvio Dutra DEZ/2015

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O que é a fé?Como se consegue?O que ela opera em nós?Como deve ser usada?Para estas e outras perguntas você achará as respostas neste livro.As Escrituras afirmam que sem fé é impossível agradar a Deus.Não há então melhor argumento para buscarmos e nos esforçarmos para encontrar e manter então esta fé referida.A fé um dom, um presente que recebemos de Deus, e ao lado da graça constitui o que há de mais poderoso operando neste mundo.Apesar de ser invisível traz a nós uma firme convicção quanto à realidade das coisas que são invisíveis e que permanecem para sempre, bem como é um firme fundamento quanto àquilo que esperamos em Deus.

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Silvio Dutra

DEZ/2015

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Sumário

1 – Como a Palavra Produz a Fé 3 2 - O Modo Comum de Operação da Fé 7 3 - Aprendendo com Tiago Sobre a Fé Verdadeira 9 4 - Porque Deus Não Aparece de Forma Visível 20 5 - Fé, Não é Fé na Nossa Fé 22 6 - A Viúva Importuna 23 7 - “Eu não Temerei Mal Algum” (Sl 23.4) 29 8 - A Espera da Fé 32 9 - Confie nele em todos os momentos 40 10 - A Fé Que nos Vem de Deus 41 11 - “Volta. E assim por sete vezes.” (I Reis 18.43) 45 12 - “Tudo é possível ao que crê." (Marcos 9.23) 47 13 - Fé, Crer e Confiar 49 14 - Alegria e Paz em Crer 53 15 - A Fé Atua Pelo Amor 57 16 - Como Vem a Fé 66 17 - A Corda e a Caçamba 71 18 - O Assunto da Fé que é Aprovada por Deus 74 19 - Aumento da Fé - a Força de Princípios de Paz 77 20 - Como Pode Haver a Fé Verdadeira Quando Não se Crê na Verdade?

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21 - A Fé é uma Caminhada Constante 87 22 - Necessitamos Sempre Aumentar a Fé 89 23 - Viver Pela Fé 91 24 - A Fé de Raabe 94 25 - A Relação da Fé com a Bíblia 116 26 - Uma Razão Por que Deus Não se Comunica Visivelmente

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27 - Oração de Confiança 121

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1 – Como a Palavra Produz a Fé

Lucas 16:29 “... Eles têm Moisés e os Profetas; ouçam-nos.”

Na parábola do rico e do mendigo, Jesus usou esta

expressão Moisés e os Profetas, que era uma das formas de se referir a todo o conjunto das Escrituras do Antigo Testamento, que foram produzidas por revelação e inspiração de Deus.

Não é nosso propósito neste momento comentar toda a parábola, mas destacar um dos seus pontos muito importantes, para que possamos entender o modo designado por Deus para a salvação das nossas almas.

O rico, estando no inferno, pensava erroneamente que poderia ter sido salvo por um sinal poderoso que lhe fosse enviado do céu, como o envio do mendigo Lázaro a seus cinco irmãos que ainda viviam na terra, para lhes servir de testemunho, vendo o estado de glória em que ele se encontrava, pois o haviam conhecido muito bem em sua miséria quando vivia na terra, e no entender do rico, isto lhes convenceria de que havia de fato um céu.

Foi dado como resposta ao seu pedido, simplesmente que seus irmãos deveriam ouvir Moisés e os profetas, ou seja, as Escrituras, para que fossem salvos.

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Ou seja, eles deveriam dar atenção ao testemunho que as Escrituras dão relativamente à santidade de Deus e de Cristo, como também da ruína completa dos homens em face da sua natureza pecaminosa, mas que Deus, em Sua misericórdia afirma que o justo viverá pela fé, ou seja ele terá vida eterna, pela fé na Palavra do Senhor.

Este é o significado interior de se ouvir Moisés e os profetas.

È o de nos arrependermos de nossa condição caída e buscar refúgio na graça do Senhor Jesus que nos está sendo oferecida gratuitamente por darmos crédito à Sua Palavra.

O firme fundamento repousa nisto, a saber, em se honrar a Palavra do Senhor, porque Ele dá muita honra à mesma.

Por isso nos deu a revelação da Sua pessoa e vontade nas Escrituras, para que mesmo sem um sinal visível do céu, sem qualquer coisa extraordinária que nos seja enviada por Ele para ser testemunhada pela nossa visão natural, creiamos em tudo o que Ele afirma na Sua Palavra escrita, de modo que demonstramos com isso que damos de fato crédito ao que Ele tem dito.

Não foi justamente o oposto disto que aconteceu na queda do jardim do Éden?

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O homem e a mulher deram crédito à palavra da serpente e desconsideram aquilo que Deus lhes havia falado.

Então não seria por nenhum sinal enviado do céu, como o rico da parábola insistiu pedindo que outras pessoas que haviam morrido e ressuscitado, fossem enviadas a seus irmãos para que eles cressem.

Mas esta foi a resposta que lhe foi dada:

“Se não ouvem a Moisés e aos Profetas, tampouco se deixarão persuadir, ainda que ressuscite alguém dentre os mortos.”

Não porque fossem duros o bastante para não reconhecer o poder de Deus em ressuscitar, mas porque não foi este o método designado por Deus para a salvação, que é o de ter fé na Sua palavra revelada, de modo que a fé vem pelo ouvir a Palavra.

Não será pela visão do arcanjo Miguel, de um Serafim, dos querubins, do próprio Cristo, que alguém será salvo.

A salvação sempre ocorrerá somente quando acolhermos com mansidão e fé a Palavra do Senhor.

Hoje, temos mais do que Moisés e os profetas, porque por meio de nosso Senhor Jesus Cristo, temos também as Escrituras do Novo Testamento.

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Então temos uma maior e melhor razão para cremos, lendo, amando, acolhendo e praticando a Palavra de Deus. Pela fé em tudo o que nos tem sido revelado por Ele, para que crendo em Sua Palavra, que nos aponta Cristo, como nossa única esperança, sejamos salvos.

Ouvir com fé. Esta é a chave que nos conduz para o céu e para a vida do céu.

Lembremos sempre desta afirmação solene, que é a fórmula da salvação:

“...Eles têm Moisés e os Profetas; ouçam-nos.”

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2 - O Modo Comum de Operação da Fé

Nós temos fartamente exemplificado na Bíblia, em

que consiste a vida prática de fé com Deus, notadamente nas muitas batalhas que a nação de Israel teve que travar no Velho Testamento.

Apesar de estarmos na dispensação da graça e nos ser vedado tomarmos da espada aqui, contudo o princípio de operação continua o mesmo, pois se exige de nós que também batalhemos para vermos o cumprimento das promessas de Deus em resposta às nossas orações.

É muito comum a ideia errônea de que basta orarmos, porque tudo o mais é por conta de Deus. Podemos dar vários exemplos sobre isto, porém é mais interessante que o façamos no sentido contrário, a saber, na demonstração prática da interação existente entre a ação sobrenatural do Senhor e os passos que devemos dar, para ver a realização do cumprimento das coisas que formos direcionados pelo Espírito Santo a fazer.

Primeiro, temos esta direção sobre o que deve ser feito. E oramos incessantemente para que Deus dirija os nossos passos e mova os corações daqueles que Ele levantará para solucionar nossos problemas.

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Depois saímos em campo para tomar as providências práticas necessárias, sabendo antes de tudo que a nossa paciência, sabedoria e discernimento estarão sendo colocados à prova pelo Senhor, de modo que poderemos encontrar nas portas em que batermos; resistências, e aparentes frustrações, que em vez de nos demoverem de seguir adiante, devem nos estimular a buscar novas alternativas.

É possível que tenhamos a solução imediata logo de início, mas não é desta forma que Deus costuma agir para nos fazer vencer nas questões práticas da vida; senão, de outro modo, não aprenderíamos a ser perseverantes.

Caso Ele fizesse tudo por nós, e nossa parte fosse apenas a de pedir-Lhe, certamente ficaríamos mimados e inexperientes para lidar com os problemas que a vida nos apresenta, inclusive pela oposição que sofremos da parte de espíritos malignos.

Assim, vemos Davi se esforçando, lutando e sofrendo enquanto fugia de Saul, mesmo quando era rei sobre todo o Israel. Ele era um homem de fé, mas sabia que deveria agir e lutar para que as vitórias fossem alcançadas com a ajuda de Deus.

Não pensemos então, que a vida de fé seja cômoda e confortável, e tudo quanto se exige de nós é que

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apenas confiemos em Deus e fiquemos de braços cruzados esperando que Ele faça tudo por nós sem que precisemos mover sequer uma palha.

Portanto, não duvidemos de Seu cuidado, bondade e ajuda quando as coisas não estiverem acontecendo conforme pensávamos que elas ocorreriam, e por estarmos enfrentando mais resistências do que pensávamos que teríamos que enfrentar, ou dificuldades além do ponto que pensávamos que poderíamos suportar.

Em todo este processo a nossa fé está sendo refinada, e no final, para a nossa a nossa perplexidade e a glória de Deus, veremos que Ele fará muito mais, além do que possamos imaginar.

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3 - Aprendendo com Tiago Sobre a Fé Verdadeira

O apóstolo Tiago diz o seguinte, no segundo

capitulo de sua epístola:

“1 Meus irmãos, não tenhais a fé de nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor da glória, em acepção de pessoas.

2 Porque, se no vosso ajuntamento entrar algum homem com anel de ouro no dedo, com trajes preciosos, e entrar também algum pobre com sórdido traje,

3 E atentardes para o que traz o traje precioso, e lhe disserdes: Assenta-te tu aqui num lugar de honra, e disserdes ao pobre: Tu, fica aí em pé, ou assenta-te abaixo do meu estrado,

4 Porventura não fizestes distinção entre vós mesmos, e não vos fizestes juízes de maus pensamentos?

5 Ouvi, meus amados irmãos: Porventura não escolheu Deus aos pobres deste mundo para serem ricos na fé, e herdeiros do reino que prometeu aos que o amam?

6 Mas vós desonrastes o pobre. Porventura não vos oprimem os ricos, e não vos arrastam aos tribunais?

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7 Porventura não blasfemam eles o bom nome que sobre vós foi invocado?

8 Todavia, se cumprirdes, conforme a Escritura, a lei real: Amarás a teu próximo como a ti mesmo, bem fazeis.

9 Mas, se fazeis acepção de pessoas, cometeis pecado, e sois redarguidos pela lei como transgressores.

10 Porque qualquer que guardar toda a lei, e tropeçar em um só ponto, tornou-se culpado de todos.

11 Porque aquele que disse: Não cometerás adultério, também disse: Não matarás. Se tu pois não cometeres adultério, mas matares, estás feito transgressor da lei.

12 Assim falai, e assim procedei, como devendo ser julgados pela lei da liberdade.

13 Porque o juízo será sem misericórdia sobre aquele que não fez misericórdia; e a misericórdia triunfa do juízo.

14 Meus irmãos, que aproveita se alguém disser que tem fé, e não tiver as obras? Porventura a fé pode salvá-lo?

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15 E, se o irmão ou a irmã estiverem nus, e tiverem falta de mantimento quotidiano,

16 E algum de vós lhes disser: Ide em paz, aquentai-vos, e fartai-vos; e não lhes derdes as coisas necessárias para o corpo, que proveito virá daí?

17 Assim também a fé, se não tiver as obras, é morta em si mesma.

18 Mas dirá alguém: Tu tens a fé, e eu tenho as obras; mostra-me a tua fé sem as tuas obras, e eu te mostrarei a minha fé pelas minhas obras.

19 Tu crês que há um só Deus; fazes bem. Também os demônios o creem, e estremecem.

20 Mas, ó homem vão, queres tu saber que a fé sem as obras é morta?

21 Porventura o nosso pai Abraão não foi justificado pelas obras, quando ofereceu sobre o altar o seu filho Isaque?

22 Bem vês que a fé cooperou com as suas obras, e que pelas obras a fé foi aperfeiçoada.

23 E cumpriu-se a Escritura, que diz: E creu Abraão em Deus, e foi-lhe isso imputado como justiça, e foi chamado o amigo de Deus.

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24 Vedes então que o homem é justificado pelas obras, e não somente pela fé.

25 E de igual modo Raabe, a meretriz, não foi também justificada pelas obras, quando recolheu os emissários, e os despediu por outro caminho?

26 Porque, assim como o corpo sem o espírito está morto, assim também a fé sem obras é morta.”.

Tiago estava zelando pela manutenção da manifestação do poder e do amor de Deus na comunhão de todos os crentes reunidos na congregação para a adoração pública.

Ele advertiu para o grande perigo que há em se fazer acepção de pessoas, especialmente em razão da condição social delas.

Na igreja de Cristo caíram todas as barreiras ditadas por preconceitos raciais, sociais ou de qualquer outra natureza, de maneira que um escravo com o seu senhor, numa mesma congregação deveriam receber o mesmo tratamento em Cristo, e não permitirem que a comunhão deles na Igreja fosse prejudicada pela distância imposta pela condição social de ambos.

Como não é próprio da natureza terrena lembrar dos pobres e dar atenção a eles, senão aos ricos e poderosos, Tiago advertiu a Igreja para evitar o

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grande pecado de se dar preeminência aos ricos em detrimento dos pobres.

É por isso que se ordena aos que são ricos segundo o mundo que se amoldem às coisas humildes e que deem a devida atenção aos seus irmãos que vivem em baixas circunstâncias neste mundo, porque eles são agora ricos em Cristo, e não é raro, que o Senhor distribua a estes até maiores dons e graças espirituais para poderem servir com eles a todos, inclusive aos próprios ricos.

A riqueza de bens terrenos não é necessariamente um sinal do favor de Deus, assim como a pobreza não é um sinal do Seu desagrado.

Então, os crentes não devem julgar segundo a aparência externa, mas segundo a reta justiça.

Não é pelo simples fato de alguém ser rico de bens materiais que deve ser digno de receber uma atenção especial e diferenciada da parte da Igreja.

Porque é até muito comum que pelo fato de serem ricos não tenham temor de Deus e sejam opressivos em relação aos pobres, tal como o Senhor Jesus havia padecido nas mãos dos abastados sacerdotes e fariseus de Jerusalém.

Além disso, por um mistério que somente Deus conhece, não são de fato muitos os que são de nobre nascimento e que são ricos segundo o

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mundo, que são os eleitos de Deus, porque aprouve a Ele fazer os Seus eleitos pobres em sua grande maioria, neste mundo, não somente para que ninguém se glorie na Sua presença, como também para abater a todo espírito exaltado.

Não devemos desprezar a nenhum rico, antes, temos o dever de amá-los como a quaisquer outros, mas não devemos nos intimidar com a aparência deles, porque são afinal também pecadores necessitados de salvação.

Todos os homens, sejam ricos ou pobres, são mendigos da graça de Deus, porque tudo Lhe pertence e é dEle que todas coisas provêm. Como pode então o homem gloriar-se em si mesmo?

E se algum crente mostra uma deferência exagerada a um rico, ele está consequentemente diminuindo e tendo em pouca conta a única glória verdadeira e permanente, que é a de nosso Senhor Jesus Cristo.

É preciso portanto vigiar constantemente contra este pecado odioso de dar honra ao rico, e menosprezar o pobre.

Devemos lembrar que nos dias do ministério terreno de Jesus, Deus não pôs em honra apostólica a nenhum rico sacerdote ou escriba, mas a homens iletrados, pescadores e publicanos.

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Não devemos portanto nos deixar levar pela aparência exterior do traje, formação intelectual ou de qualquer outra coisa que o mundo considere elevada, senão avaliar o justo valor espiritual que cada pessoa tem diante de Deus.

As riquezas terrenas passarão, e ao sairmos deste mundo nada poderemos levar conosco, de maneira que os ricos fariam bem em atenderem à ordenança que o apóstolo Paulo dirigiu a eles em I Tim 6.9,10:

“9 Mas os que querem tornar-se ricos caem em tentação e em laço, e em muitas concupiscências loucas e nocivas, as quais submergem os homens na ruína e na perdição.

10 Porque o amor ao dinheiro é raiz de todos os males; e nessa cobiça alguns se desviaram da fé, e se traspassaram a si mesmos com muitas dores.”.

E, nos versos 17 a 19:

“17 manda aos ricos deste mundo que não sejam altivos, nem ponham a sua esperança na incerteza das riquezas, mas em Deus, que nos concede abundantemente todas as coisas para delas desfrutarmos;

18 que pratiquem o bem, que se enriqueçam de boas obras, que sejam liberais e generosos,

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19 entesourando para si mesmos um bom fundamento para o futuro, para que possam alcançar a verdadeira vida.”

Muitos andam pregando equivocadamente que o grande alvo do evangelho é nos tornar pessoas ricas de bens deste mundo, e que é este o segredo de uma fé vitoriosa.

Mas, ao contrário, a Bíblia ensina os muitos perigos, tentações e laços que há no desejo de querer ser rico, porque o grande centro das nossas atenções não será mais o tesouro celestial, senão o tesouro terreno, do qual Jesus ordenou que nos acautelássemos, de maneira que nosso coração não seja encontrado nele, senão no tesouro que é celestial.

Os que são ricos não sabem em sua grande maioria, por causa do endurecimento deles em seu egoísmo, que Deus lhes proveu de bens de forma abundante para que fossem generosos e liberais, cheios de boas obras, de modo que o nome do Senhor fosse glorificado pela disponibilidade deles em compartilhar com os necessitados.

Mais do que isso, deveriam ser ricos na fé, vivendo de modo agradável a Deus em obediência à Sua Palavra, reconhecendo que o maior e único bem duradouro que eles possuem são as suas próprias

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almas, as quais, como as de quaisquer outras pessoas, necessitam da salvação de Cristo.

Tiago mostra de modo muito claro que uma fé que não é comprovada pelas boas obras que Deus preparou de antemão para que andássemos nelas, é na verdade uma fé morta.

Ela pode ser até mesmo uma fé genuína, que está pronta a ser vivificada pelo Espírito, mediante obediência do crente, mas se ele não anda no Espírito, a sua fé estará como se fosse uma fé morta, isto é, inoperante, que não pode produzir os efeitos esperados por Deus no nosso comportamento e vida.

Tiago nos ajuda a entender que a verdadeira fé que salva, a verdadeira e única fé genuína que nos é dada como um dom de Deus, não é uma simples questão de afirmar: Eu creio! Eu creio! Mas que ela se demonstra no modo de vida santa e obediente a Deus que ela produz em nós. E não é voltada apenas para nós mesmos mas se move em amor pelo próximo e especialmente pelos irmãos em Cristo. Porque todo o que é nascido de Deus amará também aos demais que são por Ele gerados pelo Espírito Santo, a saber os crentes.

Sabemos que temos uma fé justificadora, tal como a de Abraão, quando fazemos as obras de Abraão.

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Sabemos que temos sido justificados pela fé, quando vivemos cheios das obras de justiça do evangelho, e quando sustentamos o nosso testemunho de confiança total em Deus tal como fizera Raabe nos dias de Josué.

Quando Tiago diz que o homem é justificado pelas obras, e não somente pela fé no verso 24, ele não quer dizer que Deus estabeleceu dois caminhos diferentes pelos quais podemos ser justificados; mas que a verdadeira fé nunca estará sozinha, porque se comprovará em evidência pelas boas obras da fé, em demonstração que de fato possuímos uma fé que é genuína e não morta, ou então como a fé dos demônios que creem em Deus, e tremem.

Contudo, qual boa obra os demônios podem fazer?

No entanto eles creem em Deus. Mas não possuem a verdadeira fé, e não possuem uma natureza justificada, regenerada e santificada, que possuem somente aqueles que amam a Deus e guardam os Seus mandamentos, por causa da fé que lhes foi dada como um dom pelo próprio Senhor, não para que somente creiam nEle como também possam viver do modo pelo qual importa viverem perante Ele, porque devemos viver não por vista, mas por fé.

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4 - Porque Deus Não Aparece de Forma Visível

É uma grande acusação injusta afirmar que Deus

criou o mundo e que deixou a todos entregues à própria sorte.

Uma terrível dúvida permeia as mentes mais esclarecidas quanto até mesmo sobre a existência de Deus, debaixo do seguinte raciocínio: “Se ele fosse real ele faria questão de aparecer em pessoa, para nos convencer de que é de fato uma pessoa real.”

Dizemos que há grande injustiça em tudo isto porque se Deus não se fizesse presente no mundo, especialmente pelas operações de Deus Espírito Santo, já não haveria qualquer criatura sobre a Terra, porque certamente o pecado e o diabo a tudo já teriam destruído há muito tempo.

Como a quase totalidade das operações do Espírito Santo são invisíveis, sobretudo nos corações, por conseguinte, somente aqueles que andam em comunhão com Ele em espírito podem discernir o Seu trabalho divino, para que tanto Deus Pai, quanto Deus Filho sejam glorificados.

Onde o coração não é convertido à verdade, o Espírito Santo realiza um trabalho de frear o avanço

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da iniquidade, especialmente naqueles que não têm amor a Deus.

Não seria por aparições visíveis da pessoa de Deus que nossos corações seriam transformados segundo a Sua vontade. Tanto isto é verdadeiro, que quando o Filho Unigênito de Deus, nosso Senhor Jesus Cristo, andou neste mundo fazendo o bem por toda a parte, teve poucos que o seguiram, e homens ímpios acabaram por conduzi-lo à morte de cruz.

Cumprido o tempo determinado, Deus terá concluído o trabalho da formação de uma nova criação, especialmente pela reunião de todos aqueles, que em todas as gerações, se converteram a Ele e que o conheceram do modo pelo qual importa ser conhecido, a saber, em espírito, porque Ele é espírito.

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5 - Fé, Não é Fé na Nossa Fé

Fé, biblicamente falando, não é meramente crer

na existência de Deus, nem tampouco a capacidade de crer no cumprimento ou realização de qualquer coisa; porque é somente a fé verdadeiramente bíblica que pode nos levar ao conhecimento do único Deus verdadeiro, o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo.

E esta fé é também um dom sobrenatural recebido exclusivamente de Deus, pois não se encontra em nossa natureza terrena.

Assim, ninguém pode possuir esta fé de modo natural, já que é um fruto da graça divina que nos é dado e amadurecido pela manutenção do próprio Deus, para ser aumentada, firmada e aperfeiçoada.

Então, quando dizemos: “tenha fé em Jesus”, o sentido real destas palavras é: “fixe o seu pensamento e coração em Jesus, em seu poder e em suas palavras, para que ele gere em você a fé que o ligará a ele em espírito, e assim, lhe capacite a ser, pensar, orar e a agir, conforme a Sua santa vontade.”

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6 - A Viúva Importuna

“Então, disse o Senhor: Considerai no que diz este juiz iníquo. Não fará Deus justiça aos seus escolhidos, que a ele clamam dia e noite, embora pareça demorado em defendê-los? Digo-vos que, depressa, lhes fará justiça. Contudo, quando vier o Filho do Homem, achará, porventura, fé na terra?” (Lucas 18.6-8)

Não há dever mais fortemente enfocado na

Escritura do que o da oração; nem há qualquer outro que necessite ser mais inculcado na consciência.

Para aqueles que nunca se envolveram nesta tarefa com espiritualidade real de mente, pode parecer ser de fácil realização, mas aqueles que são mais sérios no seu desempenho, encontram muitas dificuldades para serem enfrentadas.

Para nos encorajar a perseverar na oração, a despeito de todas as dificuldades, nosso Senhor falou a parábola diante de nós.

Devemos considerar o que diz o juiz injusto.

Havia uma viúva laborando sob alguma pesada opressão.

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O pecado tem universalmente armado os homens contra seus semelhantes. O mundo está cheio de roubo e opressão de todos os tipos, Sl 74.20, e os que são mais indefesos geralmente sofrem os maiores danos. Cada um está pronto para se aproveitar do órfão e da viúva. Então é o conforto deles, saber que a par de terem inimigos na Terra, que têm um amigo no céu.

A viúva foi a um magistrado para apresentar suas queixas.

A nomeação de magistrados é uma bênção rica para a comunidade, e eles deveriam ser considerados com muito respeito e gratidão. Nós não deveríamos de fato recorrer à lei por ninharias. Devemos sim resolver nossas disputas, se possível, por meio de arbitragem, mas nas circunstâncias da viúva, era correto solicitar a interferência do magistrado.

O juiz, por um longo tempo, não deu qualquer atenção ao seu pedido.

O juiz demonstrou não ser uma pessoa de caráter: ele não temia o santo, onisciente, onipotente Deus; e nem sequer considerava a boa opinião dos homens. Assim, ele não possuía qualquer regra de conduta, mas o seu próprio capricho ou interesse. Certamente, ao lado de um ministro vicioso, não pode haver maior maldição para um bairro do que um magistrado desleixado como este. Nós temos

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motivos para bendizer a Deus, no entanto, apesar de tais caracteres serem muito comuns, são raramente encontrados entre a magistratura.

Não é à toa que o tal juiz era surdo aos clamores da equidade e da compaixão.

Finalmente, ele agiu sob a importunação da viúva.

Ele se gloriava em seu desprezo a todas as leis humanas e divinas; mas não podia suportar os constantes apelos da viúva. Portanto, apenas para se livrar dela, atendeu à sua petição, e fez para sua própria comodidade, aquilo que deveria ter feito a partir de um melhor motivo. Assim, infelizmente! proclamou sua própria vergonha, mas declarou, de forma muito marcante, a eficácia da importunação.

Sua fala, ímpia como foi, pode ser vista como rentável para as nossas almas; conforme a aplicação feita por nosso Senhor.

Todos nós, do ponto de vista espiritual, nos se assemelhamos a esta viúva indefesa.

Estamos cercados de inimigos no nosso interior e também externamente: nossos conflitos com a corrupção do pecado que habita em nós são grandes e múltiplos. Temos, sobretudo, que lutar com todos os poderes das trevas; e não temos em nós mesmos qualquer força para resistir aos nossos adversários.

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Mas Deus, o juiz de todos, nos ajudará se apelarmos a ele.

Deus tem prometido ouvir as súplicas de seu povo; ele tem declarado que ele não irá lançar fora a qualquer pessoa que vier a ele.

Ele pode, de fato, por razões sábias atrasar as respostas à oração; ele pode suportar tanto tempo com a gente, como para nos fazer pensar que ele não irá ouvir, mas ele nunca vai deixar de nos socorrer em qualquer época.

Isto pode ser fortemente deduzido a partir da citada parábola.

A viúva era uma estranha sem qualquer relacionamento com o juiz; mas nós somos eleitos de Deus, seu povo peculiar e favorito. O juiz injusto não estava interessado na concessão de seu pedido; mas a honra de Deus se preocupa em aliviar as necessidades das pessoas do seu povo. Podemos até tratá-lo na língua de Davi, Sl 74.22. Havia pouca esperança de prevalecer com tal juiz injusto e não misericordioso, mas nós tratamos com um compassivo Pai de amor. Além disso, a viúva não tinha ninguém para interceder por ela, mas temos um advogado justo e todo-suficiente.

Ela estava em perigo de irritar o juiz por suas súplicas; mas quanto mais importunos somos, mais Deus se agrada de nós, Isa 62.7. Ela, apesar de todas

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as suas dificuldades, obteve resposta ao seu pedido. Quanto mais, iremos nós, que em vez de suas dificuldades, temos esses incentivos abundantes! Certamente esta dedução é tão consoladora quanto simples e óbvia, e nosso Senhor, com sinceridade peculiar, o confirma: “Digo-vos que, depressa, lhes fará justiça.“.

Há muito pouco de tal importunação para ser achada; nem é de se admirar, uma vez que há tão pouca "fé sobre a Terra".

A fé é o princípio de onde a oração sincera procede. Se nós cremos nas declarações de Deus, devemos nos sentir fracos e indefesos; se cremos nas suas promessas, vamos reconhecer a sua prontidão para nos ajudar, e se cremos na realidade e importância das coisas eternas, vamos fervorosamente buscar a ajuda de Deus; nem estaremos indispostos por esperar até que ele nos responda. Mas quão pouco há de tal fé no mundo! Quão poucos são fiéis às convicções de suas próprias consciências! Quão poucos mantêm essa constância santa e fervor na oração! Quão poucos podem ser realmente chamados de um povo íntimo de Deus!

Se Cristo viesse agora para juízo, iria encontrar esta fé em nós?

Alguns vivem sem qualquer reconhecimento de Deus na oração; eles parecem ter esquecido de que

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haverá um dia de julgamento; outros se envolvem com seus deveres habituais e ficam satisfeitos com um recital sem sentido de certas palavras. Há outros ainda que sob a pressão da aflição irão clamar a Deus, mas logo se cansarão de um serviço no qual eles não têm prazer. Poucos, muito poucos, é para ser lamentado, se assemelham à viúva importuna. Poucos oram, como se eles cressem completamente na eficácia da oração. Se Cristo viesse agora ele encontraria tal fé em nós? Ele certamente irá investigar o que diz respeito à nossa fé, como às nossas obras, e se nós não temos a fé que nos estimula à oração, ele lançará a nossa parte com os infiéis.

Tradução, adaptação e redução feitas pelo Pr Silvio Dutra, de um texto de Charles Simeon, em domínio público

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7 - “Eu não Temerei Mal Algum” (Sl 23.4)

Seria presunçoso ao extremo para qualquer um

usar uma expressão como essa, se ele olhasse apenas para o braço de carne; porque "não que, por nós mesmos, sejamos capazes de pensar alguma coisa," 2 Cor 3.5, mas, tendo como protetor nosso Senhor Jesus Cristo, nós podemos rir de todos os nossos inimigos com desprezo.

Sabemos quão poderoso, quão sutil, quão maligno é este "leão que ruge, que busca nos devorar", e sabemos que somos muito fracos e impotentes em nós mesmos como ovelhas, mas se Davi, um homem como nós, matou um leão e um urso que atacaram o rebanho de seu pai, o que Jesus não fará em nossa defesa?

Quem poderá escapar de seu olho, ou quem poderá suportar o seu braço? Ouça o que o próprio Senhor diz: "O meu povo habitará em moradas de paz, em moradas bem seguras e em lugares quietos e tranquilos, ainda que haja saraivada, caia o bosque e seja a cidade inteiramente abatida.”, Is 32.18,19. Deixe então o tímido lançar fora os seus temores, a partir de qualquer fonte que possa surgir. "Eu não temerei mal algum", disse o salmista; e nós, à vista de nossos inimigos, podemos adotar a mesma linguagem triunfante se sabemos em quem temos crido, podemos ter a certeza de que ele continuará nos guardando até aquele

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glorioso dia, quando todo o seu rebanho será reunido em um só rebanho com um só Pastor.

A minha felicidade não terá fim.

Eis como confiantemente o salmista fala sobre este assunto! "Certamente que a bondade e a misericórdia me seguirão todos os dias da minha vida." O quê! Tu não tens nenhuma dúvida sobre este grande assunto? Não. Certamente será assim. Não és presunçoso, portanto, em falar deste modo em relação a ti mesmo? Não. Será assim comigo. Mas não seria suficiente dizer que a bondade e a misericórdia não devem se afastar de ti? Não. Elas me seguirão, e também "todos os dias da minha vida" elas me seguirão, assim como a minha sombra, onde quer que eu vá. Bondade, para suprir as minhas necessidades, e misericórdia, para cobrir os meus defeitos. E tu és corajoso o bastante para levar esta confiança além túmulo? Sim: "habitarei na casa do Senhor para sempre", não somente para servi-lo em sua casa aqui embaixo, mas para admirá-lo e glorificá-lo em sua casa lá em cima.

Eis aqui a felicidade dos santos. Todo o resto do mundo está procurando pela felicidade, e ela escapa de seu alcance; mas aqueles que creem em Jesus têm a felicidade lhes seguindo: "bondade e misericórdia "são os seus anjos atendentes, que nunca por um momento se desviam deles, ou que relaxam sua atenção sobre eles.

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Tradução e adaptação feitas pelo Pr Silvio Dutra, de um texto de Charles Simeon em domínio público.

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8 - A Espera da Fé

“Deus se lembrou de Noé" (Gênesis 8.1)

Existem heróis, cujo monumento de honra não é em

nenhuma construção terrena, ao molde das que eram erigidas para os vencedores de batalhas no passado, que nunca receberam a uma medalha do tipo Vitória da Cruz, paciente, povo fiel, que tem aprendido a trabalhar ou a esperar, que teme a Deus e guarda os seus mandamentos, em meio às más línguas e dias maus; pessoas que amam a Deus e que procedem retamente, que veem seu dever diante deles, e partem diretamente para a execução, que se sacrificam a si mesmos para o bem de outros, que passam fome para que possam dar o pão das crianças, que vestem trapos para que possam vestir mulheres indignas ou maridos bêbados: esses são heróis de Deus. Muitos deles são desprezados e desconhecidos. Seus nomes nunca serão escritos no noticiário do jornal, ou esculpidos em mármore, estão escritos no céu. Deus conhece os que são Seus. Eles viveram em todas as épocas e em todos os países. Eles foram encontrados nas fileiras dos reis e mendigos, profetas e servos, porque Deus não faz acepção de pessoas.

Vamos olhar para trás agora na distância cinza-escuro do velho mundo, e tomar Noé como nosso exemplo de paciência, na espera da fé. Eu chamo herói Noé de Deus porque ele foi corajoso o

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suficiente para acreditar que Deus disse para fazer o que Deus disse a ele, e esperar pacientemente pelo cumprimento da promessa de Deus, apesar do ridículo e da oposição de um mundo incrédulo.

Eu chamo qualquer homem de herói de Deus hoje a quem faz o mesmo. O homem que acredita que Deus quer tê-lo acreditando nEle, que obedece o que Deus lhe ordena obedecer, que confia em Deus para o futuro, e nunca perde a fé, apesar de ele ser julgado e tentado e afligido; o homem que não perde o coração e a coragem de fazer o bem apesar de todos os seus companheiros estarem contra ele, que se atreve a ler a Bíblia e faz suas orações, apesar de risos e perseguição, este homem é um dos heróis de Deus.

Eu aprendo com a história de Noé, que em todas as gerações Deus tem tido Seus heróis, suas testemunhas para a verdade.

No meio do deserto de um mundo que tinha perdido de vista a Deus, está Noé, o herói, a fiel testemunha, ele e sua família formando a pequena Igreja de Deus, cercado por um povo de idólatras.

No meio das abominações inomináveis de Sodoma se levanta Ló, o fiel que se afligia com a conversação suja dos ímpios. Na selvageria do pecado e da tristeza se levanta Moisés, a mansa e paciente testemunha de Deus. No corte de falsidade de

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Acabe está Elias, o tisbita. No meio de um mundo hostil estão aqueles poucos homens e mulheres fiéis que se reuniram no cenáculo em Jerusalém.

Quando, mais tarde, o mundo corria o risco de ser contra a verdade, se levanta Atanásio para responder, "Então eu estou contra o mundo." Embora homens pecaminosos possam ser achados em qualquer época, Deus tem sempre algum fiel, que não dobrou os joelhos diante do Baal da época, ou que não se ajoelhou para a imagem de ouro que a imaginação tem criado.

Eu aprendo também da história de Noé, que é uma coisa boa ter uma arca de salvação para fugir quando vem o dilúvio. Deus providenciou tal Arca de salvação para nós, a Sua Igreja é o nosso refúgio.

Jesus, a Cabeça da Igreja da qual somos os membros, é um lugar para nos escondermos, nossa fortaleza e o nosso Libertador, um esconderijo contra o vento, e um refúgio contra a tempestade. Há sempre uma enchente de um tipo ou de outro nos ameaçando neste mundo. Agora isto é um dilúvio de tristeza que parece mesmo cobrir a nossa alma. Ainda, é um dilúvio de tentação varrendo contra nós, e prometendo nos levar junto com ele. Logo se torna um dilúvio de dúvidas e ansiedade que parece nos engolir.

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Se queremos estar a salvo do dilúvio, devemos estar na Arca. Se quisermos aprender a suportar as nossas tristezas, nossas provações e lutos, pacientemente, se devemos vencer a tentação, se quisermos guardar a nossa fé forte e limpa, devemos buscar segurança em Cristo, devemos utilizar os meios da graça, devemos guardar a Arca da Igreja que é Cristo. As pessoas do velho mundo não iriam acreditar em Noé ou na arca. Eles duvidaram da promessa de Deus que a inundação viria, ou confiaram em seus próprios recursos para escapar caso ela viesse. Assim, nestes dias há muitos que se recusam a acreditar na Arca da Igreja. Eles tentam passar através das ondas deste mundo problemático em alguma arca de sua própria elaboração. Um homem confia na sua filosofia e sua aprendizagem, ele pensa que sabe mais sobre o mundo e os homens do que Deus que o criou; ele é muito inteligente para entrar na Arca da Igreja, ou para acreditar nas palavras da Bíblia, então ele tenta atravessar as cheias de perigo, julgamento e tentação em seu pequeno barco, e orienta o seu curso por seu próprio conhecimento, em vez de fazê-lo pela Palavra de Deus. Outro faz para si mesmo uma pequena arca, e toma para ser seu lema: "Eu não sei." Se você lhe perguntar se existe um Deus, ou a vida após a morte, ou uma condição de céu ou inferno, ele responde: "Eu não sei.” E ele se recusa a crer que ele faz o que não sabe, e com um tipo de insensatez como esta ele espera passar pelo dilúvio. Outro tenta fazer a viagem em algum

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barco de sua própria concepção, e toma para o seu lema, "Eu não me importo." Ele não diz que descrê das promessas de Deus, ou de suas ameaças de punição, ele é simplesmente indiferente, ele não se importa. Estes naufragam na enchente de dúvidas, ou problemas, ou pecado.

Em seguida, eu aprendo com essa história que Noé não teve medo de ser ridicularizado. Podemos estar certos que as pessoas ímpias que viram Noé se movendo dia após dia, na construção da arca, e o ouvindo pregar sobre a justiça e o juízo vindouro, escarneciam dele, e riam de suas palavras. Agora, há algumas armas mais poderosas do que o ridículo. Muitos jovens que suportariam a dor real sem um grito, têm tanto medo do riso dos seus companheiros, que eles abandonam suas orações e suas Bíblias, e vão se arruinar na companhia de zombadores ímpios. Muitos jovens ao entrarem no exército ou marinha, ou em algum lugar grande de negócio, têm se determinado a levar uma vida boa, para orar, ler a Bíblia, para se manterem sóbrios e castos, mas não foram capazes de se levantar diante das vaias e risos de seus companheiros, e por isso caíram. Muitas almas têm sido ridicularizadas para a perdição. Conheço muitos casos de jovens que entraram na vida, que desejavam viver como parte do povo de Cristo, e que tinham medo de mostrar suas cores por causa da zombaria de seus vizinhos.

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Sempre haverá pessoas más, insensatas e impensadas para rirem de alguém como Noé, que continua fazendo o seu dever para com Deus. Algumas vezes os inimigos do homem são os da sua própria casa.

Os parentes de Ló zombaram de suas advertências e não creram em suas palavras. Em muitas famílias, entre nós, as boas resoluções e zelo santo de um membro são desativadas e destruídas pelas zombarias dos outros. Se Noé tivesse medo do riso ele nunca teria terminado a arca e sido salvo. Se Colombo temesse o ridículo ele nunca teria perseverado, e descoberto o novo mundo. Se Stephenson tivesse temido a zombaria dos ignorantes ele nunca teria iniciado a fabricação de uma estrada de ferro.

Meu irmão, não deixe que ninguém zombe de você fora da Arca da Salvação, nem levá-lo de volta para buscar um lugar melhor, isto é algo Celestial. Jovens e donzelas, vocês que temem mais o ridículo do que qualquer outra coisa, orem para que vocês possam ser corajosos para fazer o que é justo a qualquer custo. Não sejam covardes, mas sejam como homens e mulheres maduros e lutem. Se outros lhes tentam para pecar, para seguir os maus caminhos deles, tome a firme decisão de ficar de pé e diga: "não", e aqueles que quiserem rir de você, deixe que o façam. Deus vai lhe dar a força necessária. Noé nunca poderia ter se mantido como ele fez, ano

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após ano, mas pôde pela graça de Deus. Tente ser como Noé, e o Deus de Noé, que lembrou dele vai se lembrar de você.

Também, eu aprendo com a história de Noé o dever de levar outros à salvação. Noé não pensava apenas em si mesmo e em sua própria segurança, ele teve o cuidado de obedecer ao mandamento de Deus "Vem tu e toda a tua casa na arca".

Irmãos, não sejam egoístas em sua religião, que não pode ser a verdadeira religião, se é egoísta. Se você está apenas ansioso para garantir um lugar para si mesmo na Arca da Salvação, e indiferente se os seus vizinhos e parentes perecerem no dilúvio, a sua religião é falsa. Alguns de vocês estão seguros na Arca da Igreja de Cristo, vocês obedecem aos mandamentos, vocês se professam cristãos, mas que será de sua família, ou seus amigos? Vocês estão contentes em estarem seguros na Arca, e os deixarão no terrível dilúvio do pecado do lado de fora?

Os pais, empregadores, maridos, esposas, você tenta conduzir outros na Arca? Você, como Noé, oferece um sacrifício ao Senhor, em que sua família pode participar? Não podemos esperar que nossa casa seja piedosa, se a oração e louvor e ação de graças nunca são ouvidos dentro delas. Uma criança, certa vez perguntou a seu pai: "Deus está morto?"

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"Não", foi a resposta, "por que você pergunta?" "Porque, quando mamãe estava viva, costumava orar a Deus, agora nós nunca o fazemos, e eu pensei que, talvez, Deus estivesse morto, assim como a mamãe." Ó, irmãos, coloquem suas casas sem oração em ordem, reúnam suas famílias para a oração, "venha e toda a sua família na Arca," Deus se lembrou de Noé, Deus vai se lembrar de você.

Tradução e adaptação do Pr Silvio Dutra de um sermão de Harry John Wilmot – Buxton, em domínio público.

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9 - “Confie nele em todos os momentos." (Salmo 62.8)

A fé é quase como o governo tanto da vida

temporal quanto da espiritual; devemos ter fé em Deus para os nossos assuntos terrenos, bem como para os celestiais.

É somente à medida que aprendemos a confiar em Deus para o provimento de toda a nossa necessidade diária que iremos viver acima do mundo.

Nós não devemos ser ociosos, porque isto revelaria que não confiamos em Deus, que trabalha até agora, mas no diabo, que é o pai da preguiça. Não devemos ser imprudentes ou precipitados; que confiam no acaso, e não no Deus vivo, que é Deus cuidadoso e ordeiro. Agindo com toda a prudência e honestidade, estamos confiando de forma simples e inteiramente no Senhor em todos os momentos.

Deixe-me recomendar a você uma vida de confiança em Deus nas coisas temporais. Confiando em Deus, você não será compelido a se entristecer porque você usou meios pecaminosos para enriquecer. Sirva a Deus com integridade, e se você não conseguir nenhum sucesso, pelo menos nenhum pecado irá residir sobre sua consciência.

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Confiando em Deus, você não será culpado de contradizer a si mesmo. O que confia na tripulação, navega desta forma hoje, e também depois, como um navio sacudido pelo vento inconstante; mas aquele que confia no Senhor é como um navio movido a vapor, que corta as ondas, desafia o vento, e faz uma brilhante pista prateada atrás de si rumando para o seu porto de destino.

Seja uma pessoa que vive com princípios interiores; nunca se curve aos diferentes costumes da sabedoria mundana. Ande em seu caminho de integridade com passos firmes, e mostre que você é invencivelmente forte na força que a confiança somente em Deus pode conferir. Assim, você será livrado de cuidados ansiosos, você não será incomodado com a má notícia, o seu coração será firme, confiando no Senhor.

Como é agradável flutuar ao longo do córrego da Providência! Não há nenhuma maneira mais abençoada de vida do que uma vida de dependência de um Deus que guarda a aliança.

Nós não temos ansiedades, porque ele tem cuidado de nós; nós não temos nenhum problema, porque lançamos todos os nossos fardos sobre o Senhor.

Texto de Spurgeon traduzido e adaptado por Silvio Dutra.

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10 - A Fé Que nos Vem de Deus

A fé não consiste apenas no assentimento da mente para com a verdade das promessas de Deus. Sem isto, não há fé. Mas isto por si só não é a fé da qual a Bíblia fala.

Esta fé de mero assentimento é a fé que Satanás e os demônios possuem, porque eles sabem e creem que Deus é fiel em cumprir tudo o que tem prometido. E isto lhes causa dor porque não podem deixar de acreditar nisto.

A verdadeira fé além de demandar o assentimento da mente, também exige o consentimento da vontade com toda a palavra revelada de Deus.

O tipo de confiança em Cristo que a fé verdadeira possui é confiança em qualquer circunstância, tendo ou não tendo, sendo honrado ou humilhado, na saúde ou na enfermidade, nas perseguições sofridas por causa da prática ao evangelho e obediência à vontade de Deus.

A fé verdadeira habitando na alma não gera obediência mecânica a Deus, mas por amor a Ele e à sua Palavra, no poder do Espírito Santo.

A fé que nos vem como dom de Deus é purificada e aumentada nas experiências que temos com a

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fidelidade, amor e poder de Deus em nós, nas tribulações e tentações que sofremos.

Esta fé ilumina a nossa mente e espírito para entendermos a Palavra de Deus.

A fé genuína nos leva a conhecermos a nossa pecaminosidade e a nossa necessidade da aceitação de Cristo para ser a nossa justiça, que é o único meio de sermos livrados da maldição, da condenação eterna e da ira de Deus.

Por tudo o que foi afirmado até este ponto, podemos concluir que a fé não pode ser produzida pela vontade do homem, e por isso é necessário recebê-la como um dom de Deus, que não somente dá a fé, como também a mantém, aumenta e prova para que seja refinada.

Esta fé que é dom de Deus é a única que nos habilita a recebermos a Cristo da forma pela qual convém ser recebido por nós, em todos os aspectos relacionados à nossa justificação, regeneração, santificação, comunhão e tudo o mais que temos por estarmos unidos a Ele pela fé.

Todavia, ainda que uma pequena fé nos habilite a receber a justificação e a regeneração, somente pelo aumento da fé em graus podemos fazer progresso na santificação e no aumento da nossa comunhão com Deus.

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Este aumento da fé em graus se refere ao seu fortalecimento, e isto não é obtido por meio de esforço mental para crer na fidelidade de Deus em suas promessas, especialmente em circunstâncias difíceis, mas no fechamento com a vontade Deus, sem recuar ou praticar o que seja do Seu desagrado em toda e qualquer circunstância, por ter sido aperfeiçoado no conhecimento íntimo e pessoal com Jesus Cristo, experimentando de Sua presença fortificadora e consoladora em todas as situações da vida.

Assim, o crescimento na graça, na fé e no conhecimento de Cristo depende de nossas experiências com a Palavra de Deus, sendo aplicada em nossas vidas pelo Espírito Santo, no decurso de nossa jornada terrena.

Portanto, a firmeza nas tentações será tanto maior quanto maior for a nossa fé. Uma fé fraca nos levará a cair até mesmo em pequenas tentações.

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11 - “Volta. E assim por sete vezes.” (I Reis 18.43)

O sucesso é certo quando o Senhor o tem

prometido. Embora você possa ter suplicado mês após mês sem evidências de resposta, não é possível que o Senhor seja surdo quando seu povo é sincero numa questão que diz respeito à Sua glória.

O profeta no cume do Carmelo continuou a lutar com Deus, e nunca por um momento deu lugar ao medo de que ele fosse rejeitado nos átrios de Jeová.

Seis vezes o servo voltou, mas em cada ocasião, nenhuma palavra foi dita, apenas "Vá novamente."

Nós não devemos sonhar com incredulidade, mas manter a nossa fé até mesmo setenta vezes sete. A fé manda a esperança voltar e olhar, expectante, do cume do Carmelo, e se nada for visto, ela a envia outra vez. Assim, longe de ser esmagada pelo desapontamento repetido, a fé é animada para pleitear com mais fervor com seu Deus. Ela é mantida humilde, mas não é envergonhada: seus gemidos são mais profundos, e seus suspiros mais veementes, mas ela nunca relaxa nem retira sua mão.

Seria mais agradável à carne e ao sangue ter uma resposta rápida, mas as almas crentes aprenderam

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a ser submissas, e acham bom esperar pelo Senhor e no Senhor. Respostas adiadas, muitas vezes põem o coração a sondar a si mesmo, e assim levam à contrição e à reforma espiritual: golpes mortais são assim desferidos na corrupção de nossa natureza decaída no pecado, e as câmaras de imagens mentais são purificadas. O grande perigo é que os homens desfaleçam e percam a bênção.

Leitor, não caia nesse pecado, mas continue em oração e vigie.

Por fim, a pequena nuvem foi vista, a indicação certa de torrentes de chuva, e assim também com você - certamente será dado o sinal para o bem, e você subirá como um príncipe que prevalece para desfrutar a misericórdia que você buscou.

Elias era homem sujeito às mesmas paixões que nós: o seu poder com Deus não estava em seus próprios méritos. Se a sua oração da fé pôde tanto, por que não a sua? Suplique sob a cobertura do sangue precioso com insistência incessante, e lhe será feito de acordo com seu desejo.

Texto de Charles Haddon Spurgeon, Traduzido e adaptado por Iza Rainbow.

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12 - “Tudo é possível ao que crê." (Marcos 9.23)

Muitos cristãos professos estão sempre

duvidando e temendo, e desalentados pensam que é esta, necessariamente, a condição dos crentes.

Isso é um erro, pois "tudo é possível ao que crê", e é possível para nós, alcançarmos um estado no qual haverá a dúvida ou o medo, mas como um pássaro esvoaçando a alma, e nunca permanecendo na mesma.

Quando você lê sobre as elevadas e doces comunhões experimentadas por santos agraciados, você suspira e sussurra no recôndito do seu coração: "Ai de mim! isto não é para mim."

Oh alpinista, se tu tens fé, tu porás o teu pé sobre o pináculo ensolarado do templo, porque "tudo é possível ao que crê."

Você ouve sobre proezas que homens santos têm feito para Jesus - pelo que alcançaram testemunho do tê-lo agradado; ouve sobre o quanto eles têm sido semelhantes a ele, como foram capazes de suportar grandes perseguições por causa dele, e você diz: "Ah! Quanto a mim, eu sou apenas um verme, nunca poderei alcançar isto." Mas não há nada que um santo tenha sido que você não possa ser. Não há nenhum crescimento na graça, nenhuma realização espiritual, nenhuma certeza de

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segurança, nenhuma atribuição de dever, que não estejam abertos para você caso tenha apenas o poder de crer. Deixe de lado a sua veste de saco e cinzas, e suba para a dignidade da sua posição verdadeira, você é pequeno em Israel, porque você se fez assim, não porque haja alguma necessidade para isso.

Não é bom que tu deverias ser achado rastejando no pó, ó filho de um Rei. Eleve-se! O trono de ouro da segurança está esperando por você! A coroa da comunhão com Jesus está pronta para ornamentar a tua fronte. Vista-se de fino linho escarlate, e caminhe suntuosamente todos os dias, porque se cresses, tu poderias comer do melhor; tua terra manaria leite e mel, e a tua alma se fartaria, como de tutano e de gordura.

Reúna feixes dourados da graça, pois eles esperam por ti no campo da fé. "Tudo é possível ao que crê."

Texto de autoria de Charles Haddon Spurgeon, traduzido e adaptado pelo Pr Silvio Dutra.

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13 - Fé, Crer e Confiar

O texto de Habacuque 2.4, no qual se diz que o justo

viverá pela sua fé, tem esta palavra “fé” vertida do hebraico emunah, que ocorre em outras 48 passagens do Velho Testamento com o significado de ofício ministerial ou fidelidade, e isto é muito instrutivo para entendermos que a qualidade de fé aludida pelo profeta, e que nos justifica para a vida eterna que está em Cristo Jesus, tem este caráter de fidelidade a Deus e de o servirmos ministerialmente conforme o ofício que tiver designado a nós.

A fé salvífica bíblica, que é um dom de Deus, tem sempre a propriedade de gerar em nós esta ligação com Deus para que o sirvamos em fidelidade.

Daí, etimologicamente, nossa palavra portuguesa fé vem do latim fides, raiz de fidelidade.

Mas no original grego do Novo Testamento temos pistis, cujo sentido é bem mais amplo, pois significa crer, confiar, assentir e concordar com algo como sendo verdadeiro, ficar firme e seguro

Então, sempre que pensarmos na fé, ou falarmos da fé que procede de Deus, devemos ter em conta que não estamos tratando com algo que seja simplesmente nocional, ou uma afirmação de crença em algo ou alguém que não opere eficazmente no nosso interior, e que não nos

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conduza a buscar um aumento progressivo desta fé, pois ela sempre tem este caráter de busca de crescimento, pois o crescimento na graça e no conhecimento de Jesus é proporcional ao crescimento na fé, porque ela é o instrumento de recepção das graças e da intimidade com Deus.

O povo de Israel nos dias do Velho Testamento, apesar de ser o povo da aliança, e ter recebido a revelação da Palavra de Deus, não chegou a alcançar em sua grande maioria, e em todas as gerações, o descanso de Deus, ou seja, a salvação da alma pela comunhão com Ele, pois segundo o autor de Hebreus, “a palavra da pregação nada lhes aproveitou, porquanto não estava misturada com a fé naqueles que a ouviram.”(Hebreus 4.2).

Quantas vezes se afirma no texto bíblico que eles creram em Deus e nos sinais que Ele fazia, e no entanto isto de nada lhes aproveitou porque tinham um fé morta, uma crença nocional, e não uma confiança e certeza interna na pessoa de Deus, que os levasse a observar os Seus mandamentos, a temê-lo e a Sua Palavra, por um firme impulso espiritual em seus corações.

Por isso Deus não se fiava a eles pois bem conhecia a incredulidade dos seus corações. Tinham uma fé de boca mas não de coração.

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O apóstolo Paulo ensina em Romanos 10 que é por se crer em Cristo no coração que somos salvos, e não simplesmente por confessar com nossos lábios que Ele é o Salvador e Senhor.

Não é forçoso pois reconhecer que a vida de fé em toda a sua plenitude, em todas as nações da terra, e não apenas em Israel, estava reservada para a dispensação da graça - para a glória e honra de Jesus Cristo, por quem recebemos a bênção de habitação do Espírito que fora prometida desde os dias de Abraão (Gál 3.14).

Esta fé evangélica é fruto do Espírito Santo que habita nos crentes (Gál 4. ), de modo que pode-se dizer que a rigor, a vida de fé dos crentes esperada por Deus haveria de ter cumprimento somente depois que o Espírito Santo fosse derramado para que o evangelho fosse anunciado em todas as nações. De modo que se afirma em Gálatas 3.23: “Mas, antes que a fé viesse, estávamos guardados debaixo da lei, e encerrados para aquela fé que se havia de manifestar.”

Temos então a fé no Novo Testamento não apenas ligada à ideia de crer e confiar, pois ela é apresentada como algo que recebemos do alto, algo que não se encontrava inerentemente em nós, algo vivo e operante que realiza toda a dinâmica da vida espiritual e celestial em nós.

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Tal é o caráter da fé no Novo Testamento que em muitas passagens bíblicas ela é citada como fé objetiva, a saber, como sendo o próprio sistema do evangelho em toda a sua totalidade, como incorporado à vida do crente, e não apenas como sendo o dom subjetivo que opera no interior do crente levando-o a experimentar o que é espiritual, celestial e divino.

Graças a Deus portanto por nos ter dado Jesus Cristo e esta fé que nos mantém firmemente ligados a Ele em espírito.

Graças a Deus por nos ter dado o Espírito Santo porque é Ele quem opera esta fé em nós. Sem a habitação do Espírito Santo não poderíamos ter esta qualidade de fé que nos desvenda e introduz aos mistérios da pessoa de Deus.

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14 - Alegria e Paz em Crer

Parte introdutória de um sermão de Charles Haddon Spurgeon, traduzida e adaptada pelo Pr Silvio Dutra.

"O Deus de esperança vos encha de toda alegria e paz no vosso crer." (Romanos 15.13)

A alegria e a paz são, embora eminentemente desejáveis, não são evidências infalíveis de segurança. Há muitas pessoas que têm grande alegria e muita paz que não são salvas. Sua alegria brota de um erro, e sua paz é a paz falsa que não descansa sobre a rocha da Verdade Divina, mas sobre a areia de sua própria imaginação.

Eu não devo inferir porque o calor do sol está em tal e tal grau, que, portanto, devo necessariamente saltar de alegria. E, por outro lado, temos tido dias muito frios, e assim, a alegria e a paz são como dias bem ensolarados que vêm para aqueles que não têm fé e que estão no inverno de sua incredulidade, e dias estes que podem nem sempre visitar vocês que creem. Ou se tais dias ensolarados vêm, eles não podem perdurar, pois pode haver tempo frio em alguma tristeza e aflição de espírito, mesmo para uma verdadeira alma que crê em Cristo.

Entenda que você não deve olhar para a posse da alegria e da paz como sendo uma consequência absolutamente necessária da sua salvação. Um

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homem pode estar no bote salva-vidas, mas este bote pode ser tão sacudido que ele ainda pode sentir-se extremamente angustiado e pensar que ainda se encontra em perigo. Não é o seu senso de segurança que o torna seguro – ele está seguro porque ele está no bote salva-vidas - se ele está sensato disto ou não. Entenda, então, que a alegria e a paz não são infalíveis ou evidências indispensáveis de segurança, e que elas não são certamente evidências imutáveis.

Os cristãos mais brilhantes perdem a sua alegria - e alguns daqueles que se destacam bem nas coisas de Deus, e que, no entanto, entretêm muitas suspeitas acerca de si mesmos.

Alegria e paz são os elementos de um cristão, mas ele está, por vezes fora do seu elemento. Alegria e paz são o seu estado normal, mas há momentos quando, com lutas por dentro e guerras por fora, sua alegria se vai e a sua paz é quebrada. As folhas da árvore provar que a árvore está viva, mas a ausência de folhas não vai provar que a árvore está morta.

A verdadeira alegria e paz podem ser evidências muito satisfatórios, mas a ausência de alegria e de paz, durante determinadas épocas do ano, muitas vezes pode ser contabilizada em alguma outra hipótese do que a de não haver fé. E, mais uma vez, peço-vos, queridos amigos, para não buscarem a

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alegria e a paz como a primeira e principal coisa. Seja vossa oração: "Senhor, dá-me conforto, mas dá-me segurança em primeiro lugar. Impeça que eu ache conforto com exceção de Sua mão direita."

Acredite que seria melhor para você seguir toda a sua vida na escuridão e terminar na vida eterna e na luz, do que desfrutar muito do que você pensava ser a alegria celeste aqui, e, em seguida, ir para as trevas exteriores, onde há pranto e ranger de dentes. Não andem ansiosos para serem felizes, mas sejam mais ansiosos para serem santos. Sejam desejosos da paz, mas sejam mais desejosos, ainda, de ter uma boa esperança através de Cristo - Aquele através do qual a paz pode fluir.

(Nota do tradutor: Entendemos, portanto, que a alegria e a paz que eram esperadas pelo apóstolo que fossem concedidas por Deus àqueles que creem em Cristo, são aquelas que são decorrentes da esperança que temos por meio da fé no Senhor, a qual é firme e segura (Hb 6.18,19); por conseguinte, são constantes e eternas, independentemente de nossas circunstâncias presentes – daí o apóstolo se referir a Deus no texto de Romanos 5.13, como sendo o Deus de esperança. Não se trata de uma alegria e paz que são geradas por nós mesmos, por nossos sentimentos e emoções, mas a certeza interior da bem-aventurança que recebemos da parte de Deus pela Sua graça e misericórdia, e mediante e simplesmente pela nossa fé em Cristo –

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alegria e paz que percebemos que possuímos quando andamos por fé e não por vista – daí o apóstolo afirmar que isto nos é concedido no nosso crer – alegria e paz que são fruto do Espírito Santo, e cuja evidência atestamos portanto, quando andamos no Espírito.)

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15 - A Fé Atua Pelo Amor

Partes de um sermão de Charles Haddon Spurgeon, traduzidas e adaptadas pelo Pr Silvio Dutra.

"A fé que atua pelo amor." (Gálatas 5.6)

Todas as formas de justificação pelas obras

humanas e as formas exteriores são deixadas de lado pelo Apóstolo. Em uma única frase ele fecha cada estrada que é moldada pelo homem e abre o caminho do Senhor, o único caminho da salvação que é pela graça mediante a fé em Cristo Jesus.

Alguns esperam ser salvos pelo ritualismo, mas suas esperanças são quebradas com estas palavras: "nem a circuncisão para nada aproveita." Por outro lado, muitos estão confiando em sua liberdade de todas as cerimônias e colocam a sua confiança em uma espécie de antiritualismo, eles são atingidos pelas palavras, "nem a incircuncisão."

Se pensarmos que as coisas exteriores irão nos salvar porque elas são biblicamente simples, vamos errar tanto quanto aqueles que multiplicam os seus cultos lindos e procissões pomposas. Paulo diz: "nem a circuncisão para nada aproveita", mas ele não para por aí, pois acrescenta, "nem a incircuncisão." O exterior, seja decorado ou sem adornos, seja fixo ou livre, não pode salvar - a única

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coisa que pode nos salvar é a fé em Jesus Cristo, a quem Deus propôs como propiciação pelo pecado.

A fé nos põe em contato com a fonte de cura e por isso a nossa doença natural é removida. Ela se apropria, em nosso favor, do resultado do serviço e sacrifício do Redentor e por isso nos tornamos aceitos nEle. Mas qualquer coisa menos do que isso deve ser deixada - isto é o rompimento do vestuário, enquanto o coração está inquebrantável - a lavagem do exterior do copo e do prato, enquanto a parte interna está cheia de imundícia. O Apóstolo, no entanto, faz mais do que simplesmente condenar outros fundamentos além do da fé, pois distingue aqui entre a fé, em si, e suas muitas imitações. Não é todo o tipo de fé que vai salvar a alma.

A verdadeira fé, sem dúvida, salvará um homem ainda que ela seja como um grão de mostarda. Mas deve ser a verdadeira fé - a prata genuína e não um mero artigo banhado em prata. "O dinheiro responde a todas as coisas", diz o sábio, mas então deve ser a moeda corrente do reino, porque o dinheiro falso para nada servirá, exceto para condenar o homem que o tem em sua posse! A verdadeira fé nos salvará, mas falsificações irão aumentar a nossa conta e risco. A Segurança é de Deus, mas a presunção é do diabo. A prova da verdadeira fé é que ela trabalha - "a fé que atua", diz o texto. Para o efeito, deve, antes de tudo, ser

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viva, pois está claro que uma fé morta não pode trabalhar. Deve haver coração em nossa fé e o sopro do Espírito de Deus nela, ou não será a fé viva de um filho vivo de Deus.

Sendo viva, a verdadeira fé não dormirá, mas deve estar desperta, uma vez que o sono é um primo da morte. A fé torna-se ativa e vigilante, e em sua atividade encontra-se muito de sua prova. "Pelos seus frutos os conhecereis" é uma das próprias regras de Cristo para os homens – conhecemos a fé por aquilo que resulta dela - pelo que ela faz por nós e em nós e através de nós. Não vale a pena ter fé, se é infrutífera. Ela tem um nome de que vive mas está morta. Se ela não funciona não pode justificar a sua posse. Um deus morto pode ser servido por uma fé morta, mas apenas uma viva, despertada e atuante fé pode agradar ao sempre vivo e operante Jeová.

"Não foi somente por palavras que custou ao Senhor comprar o perdão para o seu povo. Tampouco será uma alma restaurada somente por palavras do Salvador.”

Uma outra distinção também é apresentada, ou seja, que a verdadeira fé "opera pelo amor." Há alguns que fazem muitas obras como o resultado de uma espécie de fé que, no entanto, não são justificados. Como por exemplo, Herodes, que acreditou em João e fez muitas coisas e ainda matou seu ministro. Sua fé funcionou, mas funcionou por

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medo e não por amor e ele temia a linguagem do segundo Elias e os julgamentos que viriam sobre ele se ele rejeitasse as suas advertências, e assim sua fé trabalhou através do medo.

O grande teste do funcionamento da fé salvadora é este: que "opera pelo amor." Se você é conduzido por sua fé em Jesus Cristo por amá-Lo e assim servi-Lo, então você tem a fé dos eleitos de Deus. Você é, então, sem dúvida, um homem salvo e pode seguir o seu caminho e se alegrar na liberdade com que Cristo o libertou.

Será uma alegria para você servir ao Senhor, porque o amor é a mola mestra do seu serviço.

Então, a FÉ sempre produz AMOR - "A fé que opera pelo amor." As duas graças divinas são inseparáveis. Como Maria e Marta, elas são irmãs e permanecem juntas em sua casa. A fé, como Maria, senta-se aos pés de Jesus e ouve as Suas palavras e então o amor vai atuar diligentemente sobre a casa e alegrar-se em honrar o Senhor Divino. A fé é a luz, enquanto o amor é o calor e em cada feixe da Graça do Sol da Justiça, você vai encontrar uma medida de cada um. A verdadeira fé em Deus não pode existir sem o amor a Ele, nem o amor sincero, sem a fé. Eles estão unidos como gêmeos siameses, e onde você encontra um pode ter a certeza de que o outro está presente.

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Isso acontece por uma necessidade da própria natureza da fé. No momento em que um homem crê em Jesus Cristo, ele o adora em consequência disto. Porque confiar no Cordeiro que sangrou por nós e não amá-lo é uma coisa que não se pode imaginar!

Assim, a fé recebe as promessas e o amor alimenta o fruto delas. Ela faz isso ainda mais docemente pela familiaridade com Deus que ela gera no coração, pois a fé é o hábito de ir a Deus com todas as suas carga e volta com a sua carga removida. A fé tem a prática diária de suplicar promessas junto a Deus, falar com Ele face a face como um homem fala com seu amigo e recebe favores da mão direita do Altíssimo! A fé começa com Deus pela manhã, como Abraão fez, e caminha com Ele no campo à noite, como Isaque. A fé abriga-se com Deus como a andorinha que construiu seu ninho sob o beiral do telhado do templo. A vida da fé está em Deus, assim como a vida de um peixe está no mar.

O seio de Jesus Cristo é o travesseiro da fé e o coração de Deus é o pavilhão da fé. Porque a fé assim nos mantém perto de Deus, que nos leva a amá-Lo. Oh, pobre alma cega, se você pudesse ver Jesus, você iria amá-Lo! Vocês que mais se opõem a Ele se tornariam Seus amigos! Não é possível para um crente estar na companhia de Cristo por uma hora que seja sem sentir seu coração aquecido.

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Porque a fé, portanto, faz-nos familiarizados com o nosso Senhor Divino, deve inevitavelmente produzir amor na alma.

Assim, o santo e o Salvador crescem unidos depois de anos de convivência –crescemos nEle em todas as coisas, pois é a Cabeça. Oh que nossa semelhança a Cristo seja tão clara e completa como nossa semelhança com os nossos queridos companheiros aqui embaixo! Você vê como o amor é assim nutrido na alma por uma semelhança cada vez maior de disposição. Onde quer que haja simpatia de gosto, mente, visão, e espírito, o amor torna-se forte e bem estabelecido. E, assim, a fé, por gerar em nós semelhança a Cristo, leva-nos a amar a Cristo para se tornar um grande poder na alma!

O amor deve ser livre, ele não pode ser comprado ou forçado. Se você crê, você vai adorar. Se você não crê, nunca vai amar até que você creia. Vá à raiz da questão. Não tente fazer crescer o jacinto de amor sem o bulbo da fé.

Deixe-me agora fazer uma observação – o AMOR é totalmente dependente da FÉ. "A fé que atua pelo amor." O amor, então, não funciona por si só, exceto na força da fé. O amor é tão inteiramente dependente da fé que, como eu já disse, não pode existir sem ela! Pode haver uma admiração do caráter de Cristo, mas a emoção que a Escritura trata como "amor", só vem ao coração quando nós

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confiamos em Jesus. "Nós amamos porque Ele nos amou primeiro." O amor a Jesus não pode existir sem a fé nEle.

Certamente o amor não pode desabrochar exceto quando a fé floresce. Se você duvidar de seu Senhor, você vai pensar em coisas duras acerca dEle e deixará de amá-lo como deveria. Se você cair em apuros e você duvidar de Sua sabedoria, ou da Sua bondade, a próxima coisa que vai ocorrer é que seu coração vai ficar frio em relação a Ele - você vai começar a pensar que seu Senhor é tirânico e cruel contigo e lutará com Ele. As duas Graças devem diminuir ou aumentar juntas! Se você alcançar uma confiança simples e infantil que se apoia em Cristo como um bebê no colo de sua mãe repousa inteiramente no seu cuidado, então o seu amor será perfeito!

Como Jesus nos amou, assim também devemos amar uns aos outros. E como Ele amou o Pai e por amor do Pai, que Ele pudesse glorificá-Lo, cumprindo a Lei e fazendo-se um sacrifício por nós, assim também, devemos estar dispostos a dar nossa vida pelos irmãos e para a glória e honra do Pai.

O amor é a essência de toda boa obra. Se há alguma virtude, zelo, consagração ou santa ousadia, sua essência é o amor. Todas as grandes obras que os heróis da Cruz apresentaram são compostas do metal sólido de amor a Jesus Cristo. Seja ela grande

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ou pequena, aquele que tem servido a Deus corretamente sempre trouxe para dentro do santuário uma oferenda de amor puro comparável ao ouro de Ofir.

A falta de confiança mútua na vida conjugal é a morte do amor, mas o amor expulsa qualquer suspeita relativa ao amado querido e fiel. Mesmo quando se supõe que há um erro, o amor o coloca para baixo e conclui que pode haver uma sensação de que ele está certo, pois o amor tudo crê, tudo suporta e não vai tolerar a desconfiança que sabe ser um verme no âmago do coração. Então você vê, onde há um grande amor de Cristo, que proíbe a dúvida e, assim, mata as raposas de desconfiança que estragam as vinhas da fé. O amor a Jesus sente que seria melhor desconfiar de todos os homens e anjos do que duvidar do querido Redentor, que derramou Seu sangue para provar o seu amor! Além disso, o perfeito amor lança fora o medo, porque o medo tem tormento e o perfeito amor lança fora o medo - a fé tem espaço para mostrar a sua força. O amor não aprendeu a ter medo, nem vai permitir que o trabalho da fé diminua e se torne o trabalho de um escravo.

O amor dá coragem e é ainda muito reverente – reverência familiar. Calafrios não são para os filhos de Deus – eles são chamados à íntima comunhão com o Pai celestial e o lugar de encontro deles não é no Sinai, mas no Calvário!

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Oh Amado, esta é a alegria do amor, que nos traz a tão estreita comunhão pessoal com Deus em Jesus Cristo! Estamos familiarizados com Ele e confiamos nEle implicitamente. Oh, queridos amigos, confiem no seu Deus em tudo! Confiem nEle nas pequenas coisas! Confiem nEle em grandes coisas! Confiem nEle em suas alegrias para mantê-los sóbrios! Confiem nEle em suas tristezas para mantê-los livres de desespero!

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16 - Como Vem a Fé

Partes de um sermão de Charles Haddon Spurgeon,

traduzidas e adaptadas pelo Pr Silvio Dutra.

"E muitos samaritanos daquela cidade creram nele, pela palavra de testemunho da mulher, que anunciara: Ele me disse tudo quanto tenho feito. Vindo, pois, os samaritanos ter com Jesus, pediam-lhe que permanecesse com eles; e ficou ali dois dias. Muitos outros creram nele por causa da sua palavra, e diziam à mulher: já agora não é pelo que disseste que nós cremos; mas porque nós mesmos temos ouvido e sabemos que este é verdadeiramente o Salvador do mundo. (João 4.39-42)

Onde existe fé, é dom de Deus. É uma planta que nunca brota espontaneamente do solo da natureza humana corrompida. Quer se trate de pouca fé ou uma grande fé, é igualmente de origem divina, e onde quer que seja encontrada: se no filho de pais piedosos que foi criado com o maior cuidado, ou em alguém que viveu toda a primeira parte de sua vida no mais vil pecado é igualmente o fruto do Espírito Santo, e o efeito da Graça de Deus.

Lançando os olhos sobre todo o mapa da Palestina, poderia ser dito que Samaria era provavelmente um lugar tão improvável como qualquer outro em todo o país no qual pudéssemos esperar encontrar

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seguidores do Senhor Jesus, pois, os samaritanos, por preconceito, não acreditariam em um judeu.

Eles nem sequer ouviam um judeu, pois, enquanto os judeus não se comunicavam com os samaritanos, os samaritanos retribuíam o sentimento e não tinham relações com eles. No entanto, foi entre os samaritanos, em que o judaísmo se deteriorou, que Cristo encontrou um grande número de seus seguidores!

O Senhor sabe que o solo onde a semente do Reino é semeada pode estar na melhor condição para a fecundidade, mesmo quando imaginamos que não pode nos dar qualquer retorno para o nosso trabalho. Se a fé é a obra de Deus, uma coisa sobrenatural, como certamente é, o que você tem e eu de julgarmos de acordo com as aparências naturais?

A fé genuína pode, por timidez, ficar escondida por um tempo, ou, possivelmente, o amor carnal pode levar alguns a esconderem a sua fé em Cristo. Mas é da própria natureza da fé que ela deve fazer a sua aparição conhecida e sentida.

Nosso Senhor sempre colocou, lado a lado com a fé que salva, o dever de confissão de fé. Suas palavras são: "Aquele que crer e for batizado será salvo." E Paulo, guiado pelo Espírito Santo, escreveu: "Se você confessar com a sua boca o Senhor Jesus, e em

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teu coração creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo. Porque com o coração se crê para a justiça e com a boca se faz confissão para a salvação."

Então, esses samaritanos, quando vieram a crer em Jesus, confessaram sua fé e eles fizeram isso, dizendo: "Agora nós acreditamos."

Evidentemente, essas pessoas não receberam o testemunho da mulher, embora outros o fizeram. Eles a ouviram e foram suficientemente movidos por ela para sair e ver o Mestre de quem ela falava, mas eles não foram levados à fé por ela. Talvez eles até lutaram com ela e levantaram questões, mas, enfim, para sua grande alegria, disseram-lhe: "Agora nós acreditamos." Temos deixado a escuridão, a dúvida e a dificuldade. E “agora nós acreditamos."

Creio que havia lágrimas nos olhos daquela pobre mulher quando ela disse aos homens: "Você se lembra que tipo de pessoa eu costumava ser, e você vê a mudança que foi trabalhada em mim. Você sabe que eu sempre falava diretamente o que eu acreditava, e este homem abençoado, que leu a minha própria alma, é o Cristo! Sei que Ele é. Então, por que você não acredita no que eu digo sobre ele?"

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Neste anúncio de fé, eu quero que você observe, também, que foi muito rápido. O Senhor Jesus Cristo esteve naquele lugar, somente durante dois dias, de modo que aqueles que disseram: "Agora, nós acreditamos", devem ter testemunhado muito rapidamente depois que eles acreditaram.

De acordo com o claro ensino da Escritura: "A fé vem pelo ouvir, e o ouvir pela Palavra de Deus." Mas a fé não é sempre criada no coração do homem pelo mesmo tipo de instrumentalidade. Ela é sempre o fruto do Espírito de Deus, mas opera de maneiras diferentes. Alguns desses samaritanos creram por causa da palavra da mulher e, suponho que na Igreja cristã, um número muito grande deriva sua fé através do poder do Espírito de Deus, a partir do testemunho pessoal de outras pessoas que foram convertidas. Agora olhem, queridos amigos, todos vocês, para esta mulher, e sejam encorajados a usar o seu testemunho pessoal de Cristo! Ela era a mãe espiritual de muitos crentes Samaritanos, no entanto, ela fora uma mulher de mau caráter. Um mau cheiro estivera sobre seu nome, todo mundo em Sicar deve ter olhado para ela como uma pessoa perigosa, de amor inconstante e de falta de maneiras e ainda, depois de ter encontrado Cristo, ela não hesita em dizer a seus vizinhos sobre Ele e Deus não se recusou a abençoar o seu testemunho!

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Aqui estava uma pobre mulher caída e ainda, depois de sua conversão, ela se tornou um missionário de Cristo para a cidade de Sicar!

Se você perguntar: "Qual será a minha mensagem?" Deixe sua mensagem ser o seu próprio testemunho pessoal, o que você tem, você mesmo, viu, ouviu, provou, manuseou e sentiu da boa Palavra de Deus. Eu não suponho que essa mulher arrumou um sermão com três divisões, ou que ela tinha uma introdução e uma conclusão e tudo o mais, mas ela só foi aos homens da cidade e disse: "Vinde ver um homem que me disse tudo que eu tenho feito –não é este o Cristo?" Esse era o seu pequeno sermão e quantas vezes ela repetiu uma e outra vez, ela falou e deu à luz o seu testemunho pessoal, e por isso ela trouxe os homens de Sicar a Cristo.

Você vai ter ouvintes atentos quando você falar sobre suas próprias relações com Cristo, as maravilhas que Cristo tem trabalhado em você e para você, e que você pode testemunhar, porque são a sua própria experiência!

Entretanto, muitos não creram por este meio, senão por ouvirem a Palavra de Deus ungida pelo Espírito, como ocorreu com muitos em Samaria, ao ouvirem o Evangelho de dos próprios lábios de nosso Senhor Jesus Cristo, naqueles dois dias em que havia permanecido com eles.

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17 - A Corda e a Caçamba

“Mas, como é santo aquele que vos chamou, sede vós também santos em todo o vosso procedimento”. I Pe 1.15

É a fé que misturada com a boa nova na palavra do

evangelho, que produz os efeitos esperados por Deus na transformação do nosso viver.

Portanto, estas duas coisas devem caminhar juntas, a saber: a fé e a Palavra, porque se ajudam mutuamente, porque não há fé sem ouvir a pregação da Palavra, e não há verdadeira pregação da Palavra que não seja acompanhada pela fé.

E esta mistura de fé com Palavra mistura-se também com a alma do crente transformando-se em graça e poder que santificam a sua vida.

Portanto, quando alguém não é santificado na Igreja, não é porque haja falta de poder inerente na própria Palavra, mas porque não há fé naquele que a ouve. Ou então não há nenhuma Palavra verdadeira sendo pregada com vida pela unção do Espírito.

Esta fé não se resume apenas ao ato de crer naquilo que está escrito, nas promessas do Senhor na Bíblia, mas incorporá-las à nossa vida, por uma santa disposição em se consagrar inteiramente

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à vontade de Deus para honrá-lo e fazer a Sua vontade.

É requerida, uma união da mente com a verdade da Palavra, para que haja uma verdadeira santidade.

Onde isto não estiver presente as pessoas continuarão vivendo de acordo com suas próprias

imaginações e vontades, sem qualquer conhecimento, verdadeiro experiencial, da vontade de Deus na própria vida.

A mente natural não pode receber os dons de Deus porque se manifestam somente numa mente renovada pelo Espírito, que pode discernir as coisas espirituais.

Daí a necessidade da existência de uma fé viva, operante, ativa, para que se possa conhecer e praticar a vontade de Deus.

A fé é o firme fundamento das coisas que se esperam. Estas coisas que são esperadas, são também aquelas que se esperam de nós conforme a verdade revelada.

Estão incluídas, também e principalmente, a plena certeza quanto às promessas contidas nas Escrituras, sobre o poder do Espírito que nos transformará e operará toda a vontade de Deus

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para a Sua Igreja através da nossa instrumentalidade pelo canal da fé.

Não se pode portanto, viver aquilo que Deus espera de nós, sem uma fé autêntica e que seja aumentada cada vez mais em graus.

Porque uma fé pequena não poderá nos conduzir a toda a plenitude de Deus, conforme é a Sua expectativa para todos os Seus filhos.

Devemos ter em consideração que uma fé que aumente em graus destruirá o pecado na mesma proporção do tamanho progressivo que esta fé alcance, e daí entendermos que à medida que avance o tamanho da fé, maior é a intensidade da comunhão com Deus e da santificação da vida.

À medida que ocorre o despojamento progressivo do velho homem, pelo aumento da fé, e pela renovação da mente pela Palavra da verdade, aumenta também a manifestação da nova vida recebida, a vida da nova criatura em Cristo, e isto se traduz em aumento da plenitude de Deus no nosso próprio ser.

Permanecer vivendo na carne, segundo o homem natural, que está em inimizade contra Deus,

impossibilita portanto, o aumento da fé e da santificação.

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18 - O Assunto da Fé que é Aprovada por Deus

O assunto da fé verdadeiramente bíblica, que

procede como um dom de Deus para nós, está relacionado intimamente ao nosso conhecimento do caráter de Deus e de confiarmos, aceitarmos e praticarmos em nossas próprias vidas a Sua Palavra, mormente no que se refere ao nosso comportamento sendo moldado à semelhança ao de Cristo.

Sem este tipo de fé é impossível agradar a Deus, e é dela que a Bíblia dá testemunho que Ele não tem prazer em todo aquele que não a manifesta em seu viver (Hebreus 10.38).

Temos um bom exemplo da fé de origem divina na pessoa de Abraão, o amigo de Deus e designado como pai da fé dos crentes por causa do seu procedimento modelar em relação à vontade do Senhor.

Depois do encontro com Melquisedeque, Abraão teve uma visão na qual lhe veio a palavra do Senhor dizendo que não temesse, porque Ele era o seu escudo, isto é, a sua proteção, e, que seu galardão seria grandíssimo.

O Senhor reafirmou a promessa feita, trazendo Abraão para fora de sua tenda, e, mostrando-lhe as

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estrelas do céu disse que as contasse, caso pudesse; afirmando que sua descendência seria tão numerosa como aquelas estrelas, de um herdeiro que seria gerado pelo próprio Abraão.

E, contra qualquer tipo de evidência que lhe fosse favorável, Abraão deu crédito às palavras do Senhor, e creu inteiramente no que Ele disse, apesar de nada ter diante de si, senão apenas a promessa que lhe fora feita. A Escritura registra que a fé de Abraão lhe foi imputada como justiça.

A fé de Abraão é, portanto uma fé que descansa nas promessas e no poder de Deus; e não nas evidências e própria capacidade. Este é o tipo de fé que se manifesta na perseverança e confiança, fazendo aquilo que lhe é agradável; é exatamente o tipo de fé viva que salva e justifica, e por isso se diz que isto foi imputado a Abraão como justiça. Daí se dizer que o justo viverá pela fé; e que a salvação é ela graça, mediante a fé.

Mas, observe que não é um tipo qualquer de fé que justifica, mas a mesma qualidade de fé que teve Abraão, cuja autenticidade era evidenciada por suas obras.

Assim, o que justificou a Abraão não foi sua justiça própria, mas o próprio Deus, com base na fé dele, que permaneceu firme em confiar no Senhor e em

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Suas promessas, apesar de não ter nada além para crer senão na própria promessa.

Assim, todos os que creem em Cristo são salvos por crerem na promessa que Deus tem feito a Abraão, de abençoar a todos os que estiverem unidos pela fé ao seu descendente, que é Cristo.

Abraão foi justificado pela sua fé, assim como o são todos os verdadeiros cristãos; e é por isso que já não há nenhuma condenação para eles, como se lê em Rom 8.1, e conforme foi predito pelo salmista no Sl 34.22:

“O Senhor resgata a alma dos seus servos, e dos que nele confiam, nenhum será condenado.

Agora, esta fé que é justificadora, é também santificadora, e é por se santificar, em inteira confiança na Palavra do Senhor, em tudo o que a Sua boa tem proferido na Bíblia, para ser praticado voluntariamente, que a alma encontra descanso, paz e alegria.

Porque a incredulidade num único preceito conduzirá a alma as uma condição má de sofrer muitos tormentos e dores, por ter permitido desviar-se de uma completa inteireza de fé e uma boa consciência para com Deus.

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19 - Aumento da Fé - a Força de Princípios de Paz

Citações de um sermão de C. H. Spurgeon, traduzidas e adaptadas por Silvio Dutra.

"Os apóstolos disseram ao Senhor, aumenta a nossa fé." (Lucas 17.5)

Nosso último sermão pregado – Vencer o Mal com

o Bem - em que eu sinceramente me esforcei para inculcar a doutrina de vencer o mal com o bem e o franco e completo perdão de todas as injúrias que sofremos por causa de Cristo, tem levantado muita discussão. Eu sei que assustou muitos de vocês e que vocês têm muitas perguntas entre si mesmos, assim como se tais preceitos são praticáveis por cristãos comuns. Pelo que eu não estou nada surpreso, porque quando o nosso Senhor pregou a mesma doutrina, seus discípulos ficaram tão espantados que os apóstolos exclamaram com surpresa: "Senhor, aumenta a nossa fé."

Isto é o mais importante neste caso para vermos a conexão do texto, ou você vai deixar de ver a sua importância. Não foi por causa de milagres que os apóstolos buscaram maior fé. Não foi para suportar as provações presentes ou futuras e nem foi para que lhes fosse concedido receber algum misterioso artigo da fé. Sua oração se refere a um dever

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cotidiano comum ordenado pelo Evangelho - o perdão daqueles que nos fazem o mal, conforme se infere dos versículos anteriores: "Acautelai-vos. Se teu irmão pecar contra ti, repreende-o; se ele se arrepender, perdoa-lhe. Se, por sete vezes no dia, pecar contra ti e, sete vezes, vier ter contigo, dizendo: Estou arrependido, perdoa-lhe." (Lucas 17.3,4).

E foi por ouvir isso que os apóstolos clamaram: "Aumenta a nossa fé." Se vocês, queridos amigos, têm ficado surpresos, com o alto padrão do dever cristão que meu Senhor estabeleceu para vocês, eu somente confio que esta surpresa possa conduzi-los ao mesmo ponto a que levou os primeiros servos do Senhor, e os obrigue a apelarem por ajuda Àquele que emitiu o comando. Ele não vai nos ajudar a andar nos Seus caminhos? Quando sentimos que os Seus mandamentos são extremamente amplos, para quem devemos apelar por ajuda, senão Àquele que é o nosso Líder em toda santa conversão e piedade? Ele não vai recusar a sua ajuda para realizá-lo!

Observe que os apóstolos não o fizeram, porque tinham pecado contra este preceito em ocasiões anteriores, e concluíram que eles não tinham fé. Eles não concluíram que o preceito estava muito acima deles e que, portanto, eles eram incrédulos. O desespero não ajuda o dever cristão! Duvidar de nosso discipulado não vai nos ajudar a obedecer

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nosso Senhor. Se algum de vocês se cortaram a si mesmos da família da fé, porque ficaram aquém das mais nobres formas de amor cristão, peço-lhe para começar de novo e, em vez de duvidar da existência da sua fé, peça para que seja aumentada. Há uma fonte aberta para o seu passado impuro e poder santificador para sua vida futura!

Nem os discípulos rejeitaram o preceito como totalmente impossível, nem se desculparam com base em suas circunstâncias peculiares que deveriam ser modificadas. Eles não se queixaram de que era esperar demais da natureza humana, nem consideraram o mandamento como única opção para os que habitam em Utopia. Não, eles respeitaram o preceito que os surpreendeu e admiraram a sua virtude. Como fiéis seguidores do Senhor Jesus, se sentiram obrigados a seguir onde Ele apontou o caminho, pois eles acreditavam que Ele era sábio demais para emitir um comando impossível, e também para ensinar um código impraticável de moral e honestidade, de padrão por demais elevado para que qualquer mortal pudesse, em qualquer medida, alcançar. Eles olharam para o Seu comando e eles sentiram tanta confiança nEle, que, em vez de recuarem, resolveram que deveria ser obedecido a todo custo.

Sua determinação era fazer a Sua vontade, mas com a sensação de que eles não poderiam alcançá-la em sua própria força, começaram a orar e a sua oração

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foi por fé. Eles sentiram que só a fé pode funcionar como uma maravilha do amor paciente! Isto estava muito fora da linha comum de ação e carne e sangue não poderiam realizá-lo - a mera determinação não o alcançaria – a fé deve fazê-lo e até mesmo a fé, em si mesma, necessitaria de reforço ou irá falhar na tentativa. Sentiram também, que o tipo de fé que poderia perdoar até setenta vezes sete deve ser sobrenatural e, portanto, eles disseram ao Senhor: "Aumenta a nossa fé." Eles precisavam de tanta fé quanto Ele poderia dar a fim de que pudessem desempenhar as funções que Ele ordenou.

Amados, imitem o exemplo destes apóstolos! Sempre que vocês sentirem que têm algo a fazer que está além de vocês, parem um momento e façam uma oração por mais força.

Nosso Mestre, em Seu ensino, continuamente conectou o perdão aos outros com o exercício da fé. Nosso Senhor também ensinou que é preciso haver fé na oração, pelo que Ele também insistiu em que a oração deve ser sempre ligada a um espírito de perdão. Na verdade, na oração-modelo, segundo a qual devemos sempre moldar nossas petições, Ele nos ensinou a dizer: "Perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores", ou "Perdoa-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos os que nos têm ofendido."

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Ele nos tem permitido, por assim dizer, estabelecer para nós mesmos a medida do perdão que queremos receber, e que a medida deve ser exatamente aquilo que estamos preparados para dar aos outros. Deus vai nos perdoar na proporção em que estejamos dispostos a perdoar! Se você tem uma culpa que você não pode perdoar, Deus também tem um pecado imperdoável escrito em seu livro contra você. Quero dizer imperdoável, enquanto você permanecer implacável. Se você só vai perdoar lentamente, e depois de uma forma mesquinha, você não pode desfrutar da gratuidade e da generosidade da misericórdia ilimitada de Deus! Então você vê, como nosso Senhor tinha ligado o sucesso na oração, tanto com o perdão quanto com a fé, e Ele havia sugerido o aumento de um tendo em vista a realização do outro.

Nenhum homem pode orar com sucesso, enquanto ele estiver em um estado implacável (imperdoável) de mente. Portanto aquele que ora com sucesso é portanto, um crente que está pronto para perdoar. Quanto mais a fé aumenta mais nos tornamos capazes de ignorar as provocações que suportamos.

Afinal, as façanhas que a maioria de vocês devem realizar não são nem milagres, nem a manutenção de orfanatos, mas atos de amor na vida comum! Vocês não têm que fechar as bocas dos leões, mas vocês têm a tarefa igualmente difícil de fechar suas próprias bocas quando estão em um temperamento

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irritado! Você não é chamado para extinguir a violência do fogo, exceto quando se queima em sua própria ira! Você não tem que ferir nenhum filisteu, mas os seus próprios pecados, e nem derrubar paredes, mas seus próprios preconceitos!

Devemos crer que Jesus pode transformar nosso temperamento de leão em de cordeiro, e o nossos espírito de corvo em de pomba. E se não temos fé suficiente para isso, devemos orar por isso.

Portanto, ore hoje: "Senhor, aumenta a minha fé, restitui-me mais uma vez a alegria da tua salvação." Quando você retornar de sua apostasia e se alegrar no Senhor de todo o seu coração, você vai achar que é fácil o suficiente perdoar o seu pior inimigo.

O homem que crê, entra em descanso e se torna calmo de espírito. E isso o impede de buscar vinganças mesquinhas. Ele sabe que, aconteça o que acontecer, está tudo certo para sempre. Ele sabe em quem ele tem crido e caminha na integridade do seu coração e, portanto, ele não é um homem que é susceptível de ser irritado facilmente.

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20 - Como Pode Haver a Fé Verdadeira Quando Não se Crê na Verdade?

Alguém quando criança, ou então até que tivesse

chegado à idade do entendimento, costumava ouvir, na igreja que costumava frequentar, que o evangelho consistia em que os homens não se dirigissem aos cultos sem usar terno, e que as mulheres não usassem vestidos modernos ou usassem batom, maquiagem, enfim, que não se adornassem, porque isto é um grave pecado diante de Deus.

Dizemos, com apoio nas Escrituras que isto, e todo tipo de recomendação de igual teor, não é pecado e nem mesmo Evangelho.

O grande problema é que muitos ficam escandalizados, como não poderia ser de modo diferente, com tal tipo de ensino que nada tem a ver com o ensino de Jesus e dos apóstolos, e acabam tendo aversão ao que não chegaram a conhecer de fato, a saber, a genuína mensagem do evangelho e em que consiste a verdadeira vida cristã.

É preciso que cada um, de per si, faça um exame acurado, com espírito reverente, de tudo o que está contido nas Escrituras, e especialmente no Novo Testamento, para que, por meio da instrução do Espírito Santo, uma vez tendo nascido de novo,

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obtendo uma nova natureza celestial e divina, possa conhecer e viver o que é de fato o Evangelho de Jesus Cristo.

Outro grande impedimento para o acesso à verdadeira fé por parte de muitos, é que deram crédito à grande mentira de que a Bíblia foi inventada pela imaginação dos homens, e que portanto, sendo de autoria humana, está cheia de erros e não corresponde à verdade em relação às coisas que são efetivamente de Deus.

A isto respondemos em primeiro lugar com o próprio Pentateuco, ou seja, os cinco primeiros livros da Bíblia (de Gênesis a Deuteronômio) que foram escritos por Moisés, e cuja autoria foi atestada pelo próprio Jesus Cristo, conforme vemos no Evangelho. E quem era este Moisés? Ele foi o escolhido de Deus para conduzir a nação de Israel do Egito para a terra de Canaã, e foi o instrumento ao qual revelou a Sua vontade e a história da criação da humanidade desde o primeiro homem, a queda no pecado, e a forma pela qual o pecador seria resgatado da condenação eterna decorrente do pecado.

Quando nos voltamos para o Novo Testamento, no qual o Velho tem o seu significado e razão, encontramos o próprio Deus, na pessoa de Seu Filho Jesus Cristo, revelando-nos que Ele viera a este mundo para que pudéssemos ser livrados pela fé

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nEle, da condenação do pecado e do diabo, bem como para sermos santificados pelo Espírito Santo e pela Palavra revelada que seria registrada no Novo Testamento, como o temos ainda hoje há cerca de dois mil anos.

E o Novo Testamento foi escrito pelos apóstolos do Senhor, e estes registraram os Seus atos e palavras, e foram diretamente instruídos por Ele acerca do significado do Evangelho que deveriam pregar e ensinar para que os pecadores fossem salvos.

Ora, se rejeitamos portanto, este único ensino que corresponde à exata revelação de Deus, quer através de Moisés, dos profetas que falaram das coisas que se cumpririam em Cristo, e ainda, do próprio Deus Filho, em pessoa, quando esteve na Terra, encarnando a Verdade e a Graça, que foram comunicadas aos apóstolos por palavras e pelo ensino do Espírito Santo, como poderemos ser salvos?

E ainda, que sentido Jesus faria para alguém que não crê que Ele veio ao mundo para que sejamos justificados, regenerados e santificados, por pensar que não há vida depois da morte, ou mesmo que voltará a reencarnar em outra pessoa no futuro para continuar sendo aperfeiçoado através de sucessivas reencarnações?

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Ele veio para remover a nossa culpa no aqui e agora e para sempre. Ele veio para que comecemos a ser santificados desde o momento em que nos convertemos a Ele. Por isso morreu na cruz no nosso lugar e está se oferecendo a si mesmo para ser a nossa JUSTIÇA, para que sejamos justificados diante da santidade absoluta de Deus. É portanto, somente nEle que podemos achar a remissão e o perdão de todos os nossos pecados, e sermos feitos filhos e herdeiros de Deus.

Todos nós estaríamos em grandes trevas eternas, se o próprio Senhor Jesus não nos atraísse a Si, e removesse o nosso endurecimento e cegueira, para que possamos ver e participar das coisas espirituais que são relativas ao Reino de Deus. Graças eternas portanto, ao Seu grande Nome.

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21 - A Fé é uma Caminhada Constante

Dizer simplesmente que se crê ou não em Deus não

é algo muito significativo.

Somente crer que Deus existe e não conhecê-lo, em nada muda a minha condição perante ele, e esta é igual às do que afirmam não crerem nele.

Por que isto?

A fé que salva não é mera crença intelectual mas o poderoso dom de Deus que nos converte a ele de todo o nosso coração, e que nos conduz ao seu conhecimento e ao desejo de viver para fazer a sua vontade conforme está revelada na Bíblia.

Sem esta fé salvadora é impossível ter prazer nas coisas divinas, porque elas combatem as paixões da nossa alma e nos conduzem ao processo da santificação operada pelo Espírito Santo.

Por outro lado, a expressão “crer em Deus” ou “crer em Jesus Cristo” foi banalizada e restringida em seu significado, podendo ser aplicada a vários usos generalizados de culto e de adoração.

De modo que uma fórmula mais específica seria a da confissão: “creio no Deus e Jesus da Bíblia”.

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A fé no Deus da Bíblia demanda inclusivamente a fé em Cristo, porque ele afirma na mesma Bíblia que:

João 5:22 E o Pai a ninguém julga, mas ao Filho confiou todo julgamento,

João 5:23 a fim de que todos honrem o Filho do modo por que honram o Pai. Quem não honra o Filho não honra o Pai que o enviou.

João 14:6 Respondeu-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim.

Concluímos assim que a genuína fé em Deus e em Cristo consiste em caminhar pelo único Caminho que conduz à vida eterna, que é o próprio Cristo, e saberemos que estamos no Caminho quando virmos sendo aplicadas pelo Espírito Santo às nossas vidas o procedimento santo que está revelado nas Escrituras.

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22 - Necessitamos Sempre Aumentar a Fé

Deus dispôs a criação de tal forma para que

exibisse o Seu poder infinito.

Ele tem prazer em manifestar a Sua graça, amor, misericórdia, condescendência num mundo que ficou sujeito à miséria do pecado, mas também é Seu prazer exibir o Seu grande poder contra todo o mal, e especialmente contra os poderes que se levantam contra Ele e contra o Seu povo.

E este poder se manifestará aonde quer que se encontrem aqueles que esperam e confiam na força do Seu braço, enfim aqueles que como Davi, não ficam assombrados com os gigantes que atravessam o caminho deles, porque a sua fé não está depositada no seu próprio poder e capacidade, mas somente em Deus.

Mas, quando nós olhamos para o estado e condição da igreja no mundo, nós vemos quão fraca é a fé da maioria dos cristãos, com seus grandes temores e desânimos, por causa das grandes tentações, oposições e perseguições que lhes sobrevêm.

Quão vigorosamente e nitidamente estas coisas impressionam os seus espíritos, dando vantagens a seus adversárias espirituais - então será sempre

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manifesta a necessidade de aumentar a fé nAquele em quem podemos todas as coisas por causa do Seu poder infinito.

Assim, se a nossa paz interior ou exterior parecer enfraquecer quanto à necessidade desta consideração de que o Espírito Santo é um Consolador Onipotente, nós devemos pelo exercício da fé nesta verdade, fazer provisão para o futuro, considerando que nós não sabemos o que pode nos acontecer no mundo.

E se nós viveremos para ver a igreja em tempestades, como certamente ela terá que enfrentar, então o nosso principal amparo e suporte deve ser o Consolador todo-poderoso.

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23 - Viver Pela Fé

“Eis o soberbo! Sua alma não é reta nele; mas o justo viverá pela sua fé.” (Hab 2:4)

Esta foi a revelação que Deus fez ao profeta Habacuque em sua perplexidade em razão de que muitos morreriam em Israel sob o poder dos babilônios, e o restante do povo de Deus seria levado em cativeiro.

Onde, quando e como se cumpririam as boas promessas de paz e de vida da parte de Deus para Israel?

Habacuque não podia entendê-lo, até que lhe veio a resposta da parte do Senhor.

Vida e paz é algo que está associado à justiça divina, que é obtida por fé.

Aquele que a possui viverá para sempre, ainda que morra fisicamente.

É para este propósito que o pecador é justificado pela fé em Cristo.

Daí o apóstolo ter afirmado em Romanos 6:

“Oferecei-vos a Deus, como ressurretos dentre os mortos, e os vossos membros, a Deus, como instrumentos de justiça.”

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“E, uma vez libertados do pecado, fostes feitos servos da justiça.”

Como Deus poderia se comprazer, se agradar de quem anda de modo contrário à verdade revelada nas Escrituras?

Como poderia aprovar tal comportamento que é contrário à Sua vontade?

Por exemplo: o que Deus espera de uma mãe em relação a seus filhos, senão que seja exemplo para eles e lhes ensine a caminhar na justiça do evangelho.

Isto demandará sobretudo que os corrija, discipline e repreenda, segundo a doutrina da Palavra de Deus, com amor e longanimidade.

Em suma, ela deve se esforçar através da oração e do ensino, até ver Cristo formado neles.

Este é o principal aspecto da prática justiça que Deus espera ver numa mãe que é cristã.

O mesmo se aplica aos deveres dos esposos, dos filhos, dos líderes, dos servos.

O cristão não recua na fé para a perdição da alma.

Mas se diz que, Deus não se compraz nele, caso venha a recuar, ou seja, a não perseverar na prática

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da Palavra, pois foi justificado para ser justo, para viver pela fé na verdade e na justiça.

Daí nosso Senhor afirmar no Sermão do Monte que são bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça.

Estes são saciados por Deus em sua fome e sede para poderem viver segundo o padrão da justiça divina, revelada no Evangelho.

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24 - A Fé de Raabe

Texto de Charles Haddon Spurgeon, traduzido e adaptado por Silvio Dutra.

“Pela fé, Raabe, a meretriz, não foi destruída com os desobedientes, porque acolheu com paz aos espias.” (Hb 11.31)

Em quase todas as capitais da Europa há variedades

de arcos do triunfo ou colunas, que são recordações dos valiosos feitos dos generais do país, seus imperadores, ou seus monarcas. Você encontrará, em alguns as muitas batalhas de um Napoleão, e em outros, você encontrará retratadas as vitórias do Almirante Nelson.

Parece então que, consequentemente, essa fé, que é mais poderosa do que todos os poderosos, deveria ter uma coluna levantada em sua honra, na qual suas ações valorosas fossem registradas.

O autor de Hebreus tomou para si a responsabilidade de levantar a estrutura, e ele erigiu a mais magnífica coluna no capítulo diante de nós. Ele relata as vitórias da fé. Começa com um triunfo da fé, e então prossegue com os demais.

Nós temos, em um lugar, a fé triunfando sobre a morte; Enoque não penetrou os portões do hades,

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mas alcançou o céu por uma outra estrada diferente daquelas que são habituais aos homens.

Nós temos a fé, em um outro lugar, medindo forças com o tempo; Noé, advertido por Deus a respeito das coisas que não se viam ainda, lutou com o tempo, pois o dilúvio estava cento e vinte anos adiante; no entanto, na confiança da fé, ele creu contra toda a expectativa racional, contra toda a probabilidade, e sua fé era mais do que compatível com o tempo demasiado que deveria aguardar.

Nós temos a fé triunfando sobre a fraqueza. Abraão teve um filho em sua idade avançada. E então nós temos a fé triunfando sobre a afeição natural, porque nós vemos Abraão escalar o alto do monte e levantar a faca para matar o seu único e amado filho sob o mandado de Deus.

Nós vemos a fé, outra vez, sendo alistada nas fraquezas da idade avançada e os sofrimentos do último esforço, como nós lemos, "pela fé Jacó, quando estava morrendo, abençoou os filhos de José, e adorou, inclinando-se sobre o seu bordão.”.

Então nós temos a fé combatendo a sedução de uma corte rica. Pela fé Moisés “considerou o opróbrio de Cristo por maiores riquezas do que os tesouros do Egito”. Nós vemos a fé destemida em coragem quando Moisés abriu mão do Egito, não temendo a fúria do faraó, e igualmente paciente no

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sofrimento quando permaneceu vendo Aquele que é invisível.

Nós temos a fé dividindo mares, e ruindo abaixo paredes fortificadas. E então, como se a grande vitória devesse ser registrada por último, nós temos a fé entrando nas fileiras do pecado, e vencendo uma luta com a iniquidade, e revelando alguém mais do que vencedor. “Raabe, não foi destruída com os desobedientes, porque acolheu com paz aos espias.”. Que esta mulher não era nenhuma mera anfitriã, mas uma real prostituta, eu tenho demonstrado abundantemente a cada ouvinte sincero enquanto leio este capítulo. Eu estou persuadido disto, que nenhum comentarista estaria disposto a negar o pecado dela. Eu penso que este triunfo da fé sobre o pecado não é o único aqui registrado, mas se há alguma superioridade atribuível às façanhas da fé, esta é, em certo sentido, a maior delas. O quê? Fé, tu lutarias com a luxúria horrenda? "Sim", a fé responderia. "eu encontrei esta abominação de iniquidade; eu livrei esta mulher das câmaras nojentas do vício, da armadilha maliciosa do encantamento, e da terrível penalidade da transgressão; sim, eu a trouxe para fora, salva e resgatada, dei-lhe pureza de coração, e renovei nela a beleza da santidade; e seu nome será gravado agora no rol de meus triunfos como a mulher completamente cheia de pecados, que foi contudo salva pela fé.".

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Eu terei algumas coisas para dizer a respeito desta vitória notável da fé sobre o pecado, que levará vocês a verem que isto foi realmente um triunfo proeminente da fé. Eu farei minhas divisões de maneira que você possa recordar. A fé desta mulher era uma fé: a) salvadora, b) singular, c) estável, d) abnegada, e) simpatizante e f) santificadora.

Destaquemos então tais particularidades da fé desta mulher:

I. Em primeiro lugar, a fé desta mulher era FÉ SALVADORA. Todas as demais pessoas mencionadas em Hebreus 11 foram salvas, sem dúvida, pela fé; mas eu não encontro registrado especialmente no que concerne a alguns deles que não pereceram em razão da sua fé; enquanto a respeito desta mulher se diz que somente ela foi salva em meio à destruição geral de Jericó por causa da sua fé. E, sem dúvida, a sua salvação não foi meramente de natureza temporal, não meramente o livramento do seu corpo da espada, mas a redenção de sua alma do inferno. Óh! Que coisa poderosa é a fé, quando livra a alma de ir para o fundo do abismo! Quão poderosa é a torrente do pecado que está sempre a jorrar, que nenhum braço é suficientemente forte para fazê-la cessar, a não ser o braço da divindade, que pode fazer o pecador parar de estar correndo sempre e apressadamente para baixo, como um rio, na

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direção das trevas do golfo do desespero, e, quando se aproxima deste golfo, tão impetuosa é a torrente da ira divina, que nada pode arrebatar a alma da perdição, mas somente uma expiação que seja tão divina quanto o próprio Deus. E a fé é o instrumento que realiza todo o trabalho. Ela retira o pecador do córrego do pecado, e assim, sob a onipotência do Espírito Santo, o salva desse grande redemoinho de destruição no qual a sua alma estava sendo conduzida. Que coisa grande é salvar uma alma!

Você nunca poderá saber quão grande é isto, a menos que você tivesse a qualidade de um salvador de outros homens. Você, o homem heróico que, ontem, quando a casa estava pegando fogo, escalou a escada que rangia, e sufocado pela fumaça, entrou no quarto superior, pegando um bebê em sua cama e uma mulher na janela, sustentando a ambos em seus braços, e os salvou do perigo com o risco da sua própria vida, e todos puderam dizer-lhe quão grande coisa é ser salvo por um amigo. Aquele nobre coração da juventude que, ontem, saltou no rio, colocando-se a si mesmo em perigo, e arrebatou da morte um homem que estava se afogando, fez com que ele sentisse quando chegou em segurança à margem do rio, que grande coisa era salvar uma vida. Ah! mas você não pode dizer quão grande coisa é salvar uma alma. Isto é somente para nosso Senhor Jesus Cristo que pode lhe dizer isso, porque é o único que foi dado como Salvador dos pecadores. E recorde, você somente pode saber

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como a fé é uma grande coisa sabendo o valor infinito da salvação de uma alma.

Agora, “pela fé, Raabe, a meretriz, não foi destruída”. Que ela foi realmente salva, não somente no sentido evangélico, como também no sentido temporal, parece-me estar provado na sua recepção dos espiões que eram símbolo da entrada da Palavra no seu coração, e a sua preservação pelo fio vermelho era uma evidência da fé, retratando a fé no sangue de Jesus, o Redentor. Mas quem pode medir o comprimento e a largura da palavra salvação. Ah! Este foi um poderoso resultado da ação da fé quando ela a ganhou em segurança. Pobre pecador! Tenha conforto. A mesma fé que salvou Raabe pode salvá-lo. És uma das irmãs de Raabe no tocante à culpa? Ela foi salva, e você também o será se Deus te conceder o arrependimento. Mulher! Sentes repulsa por ti mesma? Se porventura você se encontra nesta congregação pensando consigo mesma: “eu estou envergonhada de estar aqui, eu sei que eu não tenho o direito de estar entre pessoas que são puras e honestas”. Eu te convido ainda a permanecer; e fazer desta igreja a tua casa de oração. Tu não és uma intrusa! Tu és bem-vinda! Tu tens o direito sagrado de frequentar a corte da misericórdia. Tu tens o direito sagrado de estar aqui; porque os pecadores são convidados a estarem aqui, semelhantemente como tu. Creia em Cristo, e

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então, como Raabe, não perecerás juntamente com os desobedientes, mas serás salva.

E agora há algum cavalheiro na audiência que possa estar pensando: "será que há um evangelho para mim; um tipo de santuário para homens maus, pelo qual, até a pior pessoa possa ser salva?”. Sim, há um tal evangelho. Esta é a antiga objeção que Celso usou contra Orígenes em sua discussão. "Mas," disse Orígenes: "é verdade, Celso, que o evangelho de Cristo é um santuário para ladrões, usurpadores, assassinos e prostitutas. Mas saiba isto, ele não é meramente um santuário, ele é também um hospital, para curar os pecados deles, livrando-os de suas doenças, e eles não serão mais tarde o que eles foram antes de receberem o evangelho.". Eu não peço que nenhum homem venha hoje a Cristo, e que continue então em seus pecados. Se assim fora, eu estaria lhe pedindo um absurdo.

Nós repetimos outra vez, que o principal dos pecadores é bem-vindo tanto quanto o melhor dos santos. A fonte cheia de sangue foi aberta para o imundo, a veste de Cristo foi tecida para os despidos; o bálsamo do Calvário foi preparado para os doentes; a vida veio ao mundo para levantar os mortos. E Oh! vocês perecendo com suas almas culpadas, possa Deus dar-lhes a fé de Raabe, e vocês acharão a salvação e estarão com vestes brancas imaculadas cantando um interminável aleluia a Deus e ao Cordeiro.

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II. A fé de Raabe era uma FÉ SINGULAR. A cidade de Jericó estava a ponto de ser atacada; dentro de seus muros havia muitas pessoas de todas as classes e caracteres, e sabiam muito bem isto, que se a sua cidade fosse atacada todos eles estariam condenados à morte; mas ainda assim, é estranho dizer, não havia um só deles que tivesse se arrependido do pecado, ou quem tivesse pedido misericórdia, exceto esta mulher que tinha sido uma prostituta. Ela, e somente ela seria salva, solitariamente no meio de uma multidão. Agora, você percebeu quão difícil é ter uma fé singular? É a coisa mais fácil do mundo crer quando todos os outros creem, mas a dificuldade é crer em algo sozinho, quando ninguém mais pensa como você; ser um campeão solitário da causa da justiça quando o inimigo passa em revista seus milhares na batalha. Esta era a fé de Raabe. Ela não teve ninguém que tivesse sentido como ela havia sentido, que pudesse penetrar em seus sentimentos e avaliar o valor da sua fé. Ela se levantou só. Óh! é uma coisa nobre ser seguidor solitário da verdade menosprezada. Há alguns que poderiam lhe dizer como permaneceram firmes de pé solitariamente. Houve dias em que o mundo derramou continuamente sobre eles um rio de infâmia e calúnia, mas eles obstruíram a corrente, e, continuaram pela graça, tirando força da sua própria fraqueza, e em seu sucesso foram elogiados

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e aplaudidos por muitos daqueles que os haviam desprezado anteriormente. Fizeram então com que o mundo lhes desse o nome de “grandes”. Mas onde registraram a sua grandeza?

Eles permaneceram firmes de pé na tempestade, assim como estiveram firmes na calmaria – eles estavam contentes em servir a Deus solitariamente assim como quando corriam com cinquenta. Para sermos bons nós devemos ser singulares. Os cristãos devem nadar contra a correnteza. Os peixes mortos sempre são levados pela correnteza, mas a força dos peixes vivos os capacita a nadar contra a mesma. Agora, os homens religiosos mundanos irão apenas como vão todos os demais.

Ó! não há nenhuma grande virtude em um homem, nenhuma grande força de vontade perfeita, a menos que ele ouse ser singular. A maioria de vocês está sempre receosa em ficar fora de moda, e vocês gastam mais dinheiro do que deveriam porque vocês pensam que devem ser respeitáveis. Vocês não ousariam mover-se em oposição a seus irmãos e irmãs do seu círculo de convivência, e consequentemente, envolvem-se em dificuldades. Vocês fecham os olhos nas ricas lojas de modas, e em seguida muitas coisas erradas são toleradas porque é o costume. Mas um homem com força de vontade não é um que tenta ser singular, mas que ousa ser singular, quando sabe que ser singular é

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o correto. Agora, a fé de Raabe, pecadora que era, teve esta glória, esta coroa sobre sua cabeça, que ela ostentou sozinha, cheia de fé entre os incrédulos entre os quais se encontrava. E por que Deus não concederia a mesma fé a você, pobre pecador, mas arrependido ouvinte? Você vive em uma rua sem importância, numa casa que nada contém, e cujos moradores não guardam o dia do Senhor, e onde residem homens e mulheres irreligiosos. Mas se você tiver a graça em seu coração você ousará fazer o certo. Você não pertence a um clube de infiéis; se você lhes fizesse um discurso sobre a sua própria consciência, eles certamente o vaiariam; e se você abrisse mão da companhia deles, eles o perseguiriam. Vá e tente isto. Ouse. Veja, se você pode fazê-lo; porque se você tiver medo dos homens, você pode cair numa armadilha que lhe trará aflição e poderá ser seu pecado. Lembre-se, o pior dos pecadores pode tornar-se o mais audaz dos santos; os piores homens no exército do diabo, quando se convertem, tornam-se os mais fiéis soldados de Jesus.

A esperança da cristandade tem sido liderada geralmente pelos homens que têm provado a alta eficácia da graça num grau eminente por terem sido salvos entre os maiores pecadores. Vá e o Senhor lhe dará esta elevada fé singular! Lembre-se de Raabe que era uma prostituta, e deixou-nos este maravilhoso exemplo de fé vencedora singular que

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transformou a sua vida, e levou Deus a honrá-la incluindo-a na genealogia de nosso Senhor Jesus Cristo. A sua fé e santidade a tornaram uma mulher notável e ela veio a ser desposada por um dos príncipes de Judá, Salmon (Mt 1.5), e viria a ser mãe de Boaz, que desposou Rute, e que viria a ser a bisavó do Rei Davi (Rute 4.17-22).

Mas esta mulher era tão forte na fé que toda sua família foi salva da destruição. Mulher jovem! você tem um pai, e ele odeia o Salvador. Óh! ore por ele. Mãe! você tem um filho: ele zomba de Cristo. Clame a Deus por ele. Ah, meus jovens amigos, nós temos orado pouco pela salvação dos nossos familiares. Eu sinto que eu nunca seria abençoado por Deus sem as orações de minha mãe. Eu pensava que era um grande incômodo ter semelhante tempo gasto em oração, e mais especialmente para clamar, como minha mãe costumava fazer. Eu teria rido diante da ideia de alguém me falando acerca destas coisas, mas quando ela orava ela dizia: “Senhor, salve meu filho Charles”, e então eu era quebrantado e chorava. Ah! E quanto a você jovem! Sua mãe está morrendo, e a única coisa que pode tornar amargo o seu leito de morte é você zombar de Deus e odiar a Cristo. Óh! este é o último grau da impiedade, quando alguém não se importa com os sofrimentos de sua mãe. Eu esperaria não ter os tais aqui, mas quantos de vocês têm sido tão abençoados, como têm nascido de homens piedosos e mulheres que podem levar isso em consideração: que perecer com

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as orações da mãe é perecer horrivelmente; porque se as orações de uma mãe não puderam nos trazer a Cristo, elas são como gotas de óleo que caem nas chamas do inferno que as farão queimar mais ferozmente sobre a alma eternamente. Tome cuidado para não apressar a sua ida para o inferno sob as orações de sua mãe!

Há uma anciã chorando. Você sabe por que? Eu creio que tenha filhos também, e que os ama. Eu deparei com um pequeno incidente outro dia, após pregar. Havia um menino pequeno no canto da mesa, e seu pai perguntou-lhe, "o que faz seu pai amar você, John?". Disse o pequenino prontamente, "porque eu sou um menino bom.". "sim." disse o pai, "não o amaria se você não fosse um menino bom.". Eu virei para o bom pai e o adverti, que eu não estava completamente convicto sobre a verdade da última observação, porque eu acredito que o amaria ainda que ele fosse ruim.

III. Além disso, a fé desta mulher era UMA FÉ ESTÁVEL, que ficou firme no meio da dificuldade. Eu tenho ouvido de um cristão que certa ocasião foi solicitado pelo dirigente da sua igreja, depois de um longo período de seca, que orassem a Deus pedindo que chovesse. “Bem", ele disse, "meu bom homem, eu obedecerei, mas não é de nenhum proveito, fazê-lo quando o vento está no leste, eu tenho certeza disto.". Há muitos que têm esse tipo de fé: creem quando as probabilidades são

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favoráveis a eles, mas quando a promessa e a probabilidade se separam, então seguem a probabilidade e não ficam com a promessa. Dizem, "a coisa é provável, consequentemente eu acredito nela.". Mas isto não é fé, isto é vista. A fé verdadeira exclama, "a coisa é improvável, contudo eu creio nela.". Isto é fé real. Fé é dizer que "montanhas, quando escondidas na escuridão, são tão reais quanto quando o dia está claro.". Fé é olhar através dessa nuvem, não com o olho da vista, que nada viu, mas com os olhos da fé, que tudo viram, e dizer: "Eu confio nele quando eu não o posso localizar; eu ando sobre o mar tão firmemente como se fosse uma rocha; Eu ando tão firmemente na tempestade quanto sob a luz do sol, e descanso quando surgem as ondas do oceano tanto quanto em minha cama.”. A fé de Raabe era um tipo de fé como esta, porque era firme e duradoura.

Temos que ter uma conversa com Raabe esta manhã, porque eu suponho que a velha Incredulidade comungou com ela. Agora, minha senhora, você não vê o absurdo desta situação ? Porque, o povo de Israel estava do outro lado do rio Jordão, e não havia nenhuma ponte: como eles atravessariam? Certamente eles deveriam dirigir-se para muito além, num ponto acima do rio, onde se poderia passar pelo Jordão a pé; e então Jericó estaria segura por um longo tempo. Eles teriam que passar por outras cidades antes de chegarem a

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Jericó, e, além dos cananitas serem fortes, os israelitas não passavam de um bando de escravos; eles seriam em breve, feitos em pedaços, e isto seria o fim deles; consequentemente, não abrigue estes espiões. Por que arriscar sua vida em uma tal improbabilidade?”. "Ah", ela diz, "eu não me importo com o Jordão; minha fé pode crer além do Jordão, senão seria somente uma fé em terra seca.". Não muito depois, depois abriu as águas do rio, e eles marcharam através do Jordão a pé enxuto, e a fé ficou mais forte. "Ah!" ela diz, secretamente consigo, o que ela teria dito de todo o coração aos seus vizinhos: "vocês não acreditarão agora? vocês não suplicarão agora pela misericórdia?". "Não" eles dizem: "os muros de Jericó são fortes; poderá a tropa de Israel resistir-nos? E olhe, amanhã as tropas terão ido embora, e o que eles irão fazer? Eles simplesmente só sabem tocar chifres de carneiros”; os vizinhos dela dizem: "por que você, Raabe, não pretende dizer no que você crê agora? Eles estão furiosos, gritando como se fossem loucos.". O povo está apenas rodeando a cidade, e todos preparam suas línguas, exceto uns poucos sacerdotes que tocam chifres de carneiros.”. "Porque isto é ridículo. Era completamente uma coisa nova na guerra ouvir homens tomar uma cidade tocando chifres de carneiros.". Isso foi no primeiro dia; provavelmente no dia seguinte, pensou Raabe, eles viriam com escadas para escalar os muros; mas não, chifres de carneiros outra vez, até o sétimo dia; e esta mulher manteve o fio

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escarlate na janela por todo o tempo, guardando seu pai, sua mãe, irmãos e irmãs na casa, e não os deixou sair, e no sétimo dia, quando o povo fez um grande barulho, o muro da cidade caiu ao chão; mas sua fé superou sua timidez feminina, e permaneceu dentro da casa, embora o muro tivesse caído em terra

A casa de Raabe permanecera sozinha sobre o muro, como um fragmento solitário entre uma ruína universal, e ela e sua casa foram salvas. Agora você teria pensado como uma planta tão rica pôde crescer num solo tão pobre - que fé forte poderia crescer em um coração pecaminoso como o de Raabe? Ah! mas é justamente aqui que Deus manifesta a sua grande administração. "Meu pai é o lavrador", disse Cristo. Todo agricultor pode retirar uma boa colheita de um bom solo; mas Deus é o lavrador que pode fazer crescer cedros nas rochas, que pode não somente pôr o hissopo em cima do muro, mas põe o carvalho lá também e faz a maior fé aparecer na posição mais improvável. Toda a glória à Sua graça! Pecadores podem chegar a ter uma grande fé. "Tenha então bom ânimo, pecador! Se Cristo pode conduzir-te ao arrependimento, tu não tens qualquer necessidade em pensar em ser o menor na família. Óh! não, teu nome pode ser escrito entre os poderosos, e podes vir a ser um memorável e triunfante exemplo do poder da fé.

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IV. A fé desta mulher era uma FÉ ABNEGADA. Ela ousou arriscar sua vida por causa dos espiões. Sabia que se fossem encontrados em sua casa seria condenada à morte; mas embora ela estivesse enfraquecida diante do seu ato culposo, diante dos de Jericó, ainda assim ela preservou os espias, e tornou-se tão forte que ela correria o risco de ser morta para salvar aqueles dois homens. Isto é uma coisa que podemos fazer quando somos aptos a negarmo-nos a nós mesmos. Um americano disse certa ocasião: "Eu tenho uma boa religião; da melhor espécie de religião; que não me custa um centavo ao ano; no entanto eu acredito que eu sou verdadeiramente um homem religioso como qualquer um.". "Ah!" disse alguém que o tinha ouvido: "o Senhor tenha misericórdia da sua alma mesquinha e miserável, porque se você tivesse sido realmente salvo não ficaria contente por gastar apenas um centavo ao ano.”. “um centavo ao ano"! Eu considero perigosa tal afirmação, que nada há na fé deste homem que não exercita a abnegação.

Se nós nunca damos qualquer coisa à causa de Cristo, trabalhemos para Cristo, neguemo-nos a nós mesmos por Cristo. Eu poderia chamar alguns de vocês de hipócritas: vocês cantam, "e se eu pudesse fazer alguma reserva, e o dever não chamasse, eu amo meu Deus com zelo tão grande, que eu lhe daria tudo de mim.". Sim, mas

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vocês não são diferentes deste; porque vocês sabem bem que aquilo que vocês fazem não é tudo, nem meio, nem ainda a milésima parte do que deveriam fazer. Eu suponho que vocês pensam que vocês são pobres, entretanto o ganho anual de vocês é certo, mas vocês o retêm para si mesmos, sob a noção de que “quem tem dado ao pobre, tem emprestado ao Senhor.". Isto é investimento e não abnegação, ou renúncia.

Esta mulher disse, "se eu tivesse que morrer por estes homens, eu o faria; eu estou preparada, até para, de um mau nome, e uma má fama, como os que eu tenho para ter um nome pior ainda; como uma traidora do meu país. Eu estou preparada para ser entregue à infâmia, se isto for necessário, por ter traído meu país alojando estes espiões estrangeiros, porque eu sei o que Deus fará.". Irmãos, não confiem em sua fé, a não ser que tenha uma abnegação como esta. A fé e a abnegação, são como gêmeos siameses, que crescem unidos e devem viver unidos, e o alimento que alimentou um, alimentará a ambos. Mas esta mulher, pobre pecadora como era, negaria a si mesma. Ela derramou sua vida, assim como uma outra mulher, que era uma pecadora e entregou seu valioso vaso de alabastro, e quebrando-o, ungiu com ele a cabeça de Cristo.

V. A fé desta mulher era UMA FÉ SIMPATIZANTE. Ela não creu somente para o bem de si mesma; ela

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buscou misericórdia para o próximo. Ela disse: “assim como usei de misericórdia para convosco, também dela usareis para com a casa de meu pai; e que me dareis um sinal certo, de que conservareis a vida a meu pai e a minha mãe, como também a meus irmãos e a minhas irmãs, com tudo que têm, e de que livrareis as nossas vidas da morte.”. Eu conheço um homem que caminha sete quilômetros cada Domingo para ouvir a pregação do evangelho em determinado lugar. Você sabe muito particularmente, que há todo o tipo de evangelho para os mais variados gostos refinados, cujo espírito consiste em mau gênio, segurança carnal, arrogância, e em consciência cauterizada. Mas este homem havia se encontrado um dia com um amigo, que lhe disse, "onde está sua esposa?". "Esposa?" respondeu-lhe. "Oh! não", disse o homem; "ela nunca vai a qualquer lugar.". "Bem, mas," disse ele, "você não tenta trazê-la, e as crianças?". "Não; o fato é o seguinte, eu penso que se eu olhar por mim mesmo é o suficiente.". "Bem," disse o outro, "e você acredita que você é um eleito de Deus?". "Sim.", ele respondeu. "Bem, então," disse o outro, "eu não penso que você seja, porque você é pior que os gentios e os publicanos, porque você não se importa com sua própria casa; consequentemente eu penso que você não tem muita evidência de ser um eleito de Deus, porque ele ama os que são seus.". Assim por mais certa que seja a realidade da nossa fé é necessário que ela deseje alcançar a outros. Você dirá, "você quer fazer

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proselitismo."Sim; e você replicará, que Cristo disse aos fariseus: "Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! Porque rodeais o mar e a terra para fazer um prosélito; e, uma vez feito, o tornais filho do inferno duas vezes mais do que vós.”. O espírito de proselitismo é o espírito do cristianismo, e nós deveríamos ser desejosos de possui-lo. Se qualquer homem disser, "eu acredito que tais e tais coisas são verdadeiras, mas eu não desejo que ninguém mais creia nisto, eu direi a você, isto é uma mentira; ele não crê, porque é impossível, crer em algo de todo o coração e realmente crer em algo, sem desejar que outros creiam da mesma maneira. E eu estou certo disto, apesar de ser impossível saber o valor da salvação sem desejar ver outros sendo salvos. O pastor renovado, Whitefield disse isto: "tão logo que me converti, eu quis usar de todos os meios para a conversão de todos os meus conhecidos. Havia um bom número de jovens com os quais eu havia jogado cartas, com quem eu havia pecado, e transgredido juntamente. A primeira coisa que eu fiz, foi ir às suas casas para ver se eu podia trazê-los à salvação, e eu não pude descansar enquanto eu não tive o prazer de ver muitos deles sendo salvos pelo Senhor.”. Este é o primeiro fruto do Espírito, uma espécie de instinto do novo convertido. Ele deseja que os outros experimentem o que ele experimentou. Disse um jovem, ao escrever-me esta semana, "eu estou orando pelo meu companheiro no escritório. Eu tenho desejado que ele seja salvo, mas até o presente não há nenhuma

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resposta às minhas orações.". Não dê um centavo pela piedade do homem que não dilatar-se a si mesmo. A menos que nós desejemos que outros provem os benefícios que nós temos experimentado, nós somos então monstros desumanos ou hipócritas cruéis. E disse-me um ministro à mesa, "eu tive um exemplo disto ontem. Eu entrei na casa de uma mulher que teve um filho que se perdeu inteiramente na vida, e ela estava tão cheia de saudade do seu filho como se ele fosse o Primeiro Ministro, ou tivesse sido o filho mais fiel do mundo.”. Bem, jovem, você retrocederá ante o amor como neste caso ? O amor que lhe dará satisfação, e não se voltará contra você ?

Mas talvez essa mulher – eu a vi chorando ainda agora – cuja mãe, já se foi há muito tempo atrás, e que era casada com um marido brutal, que a deixou pobremente viúva; traz à sua mente os dias da infância, quando uma grande Bíblia era aberta e lida junto á lareira, e “Pai nosso que estás no céu” era sua oração noturna. Agora, talvez, Deus está começando algo bom em seu coração. Óh! que ele a trouxesse agora, apesar dos seus setenta anos de idade, a amar o Salvador! Então ela teria um novo começo de vida em seus últimos dias, que serão os seus melhores dias.

VI. A fé de Raabe era uma FÉ SANTIFICADORA. Raabe continuou sendo uma prostituta depois de ter crido? Não. Ela não continuou. Eu não creio que

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ela era uma prostituta quando os espias vieram à sua casa, apesar do mau nome que ela carregava, mas eu estou convicto de que ela não era uma prostituta quando foi desposada depois por Salmon, príncipe de Judá, e o seu nome foi incluído entre os ancestrais de nosso Senhor Jesus Cristo. Ela veio depois a ser mulher de piedade eminente e que era temente a Deus. Agora, você pode ter uma fé morta que arruinará a sua alma. A fé que o salvará é uma fé que santifica. "Ah!" diz o bêbado, "eu gosto do evangelho, senhor; eu creio em Cristo;" então ele vai ao bar hoje à noite, e começa a embriagar-se. “Senhor, aquele não é o cristão em Cristo?”. "Sim," dizem outros, "eu creio em Cristo;" e quando começa a falar o faz com palavras superficiais, talvez permaneça na lascívia e no pecado como dantes. Senhor, você fala falsamente; você não crê em Cristo. Essa fé que salva a alma é uma fé real, e uma fé real santifica os homens. Faz-lhes dizer: "Senhor, tens perdoado os meus pecados; eu não pecarei mais. Tens sido tão misericordioso comigo que eu renunciarei à minha culpa; tens-me tratado tão amavelmente, que eu te servirei até morrer, e se me deres a graça, e socorrer-me, eu serei santo como tu és santo.”. Você pode não ter fé, e ainda viver no pecado. Crer é ser santo. As duas coisas têm que caminhar juntas. A fé morta é uma fé corrompida, que vive no pecado, não a fé que teve Raabe, que fez dela uma mulher santa. O mesmo Deus que santificou a muitos está aqui! O mundo tem buscado todos os

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processos e maneiras de reformar os homens: mas só há uma coisa que reformará os homens para sempre. E isto é a fé na pregação do evangelho. Mas nesta época, a pregação tem sido muito desprezada. Você lê os jornais, você lê um livro, você ouve o professor; você assiste à TV, e gasta muito tempo com ela, mas onde está o pregador?

Nós queremos ser mais sinceros, na apresentação do discurso relativo à verdade e apelamos às consciências, e até que o consigamos, nós nunca veremos qualquer grande permanente reforma. Mas pregadores da Palavra de Deus, embora pareça loucura, prostitutas são transformadas, ladrões tornam-se honestos, e o pior dos homens vêm ao Salvador. Mais uma vez, deixem-me afetuosamente convidar o mais vil dos homens, a se entregar a Cristo.

"Venham, necessitados, venham e sejam bem vindos ao generoso prêmio da glorificação, com verdadeira fé e verdadeiro arrependimento. Perto está a graça que ele nos traz. Venha a Jesus e a compre sem dinheiro.”.

Seus pecados serão perdoados, suas transgressões serão afastadas, e você, de agora em diante não viverá mais pecando, e Ele o guardará até o fim.

Possa Deus abençoar-nos em nome de Jesus! Amém!

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25 - A Relação da Fé com a Bíblia

Enquanto alguém permanecer na condição de não

convertido a Cristo, e por conseguinte sem a habitação do Espírito Santo, não poderá aceitar toda a Bíblia como sendo a vera Palavra de Deus, e nem mesmo entendê-la adequadamente.

Isto porque Deus associou a revelação do significado da Palavra à fé em Jesus Cristo. De modo que, sem confiar no Senhor, e sem a instrução, direção e iluminação do Espírito Santo, não é possível compreender as Escrituras e nem mesmo aceitá-la como a verdade que deve ser aplicada à nossa vida.

Primeiro a fé, e somente depois a compreensão e a experiência.

Abraham Kuyper se expressou muito bem a tal respeito da seguinte maneira:

“A fé não é o operar de uma faculdade inerente no homem natural; nem um novo sentido acrescentado aos cinco; nem uma nova função da alma; nem uma faculdade primeiramente latente e agora ativa; mas uma disposição, um modo de ação, implantado pelo Espírito Santo na consciência e na vontade da pessoa regenerada, através da qual ela torna-se capacitada para aceitar a Cristo.

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A relação entre Escritura e fé é facilmente determinada. Ambas existem para o bem do pecador, em virtude do pecado, e para remover o pecado; uma não sem a outra, ambas pertencendo uma à outra. Sem a Bíblia, a fé é um olhar sem sentido. Sem a fé, a Bíblia é um livro fechado.

A experiência o prova. Pessoas agraciadas com a faculdade da fé, mas ignorantes quanto à Sagrada Escritura, ou erroneamente instruídas, não fazem nenhum progresso; uma vez instruídas, elas vivem e se fortalecem. Ao contrário, para pessoas familiares com a Bíblia desde tenra idade, mas sem fé, a Bíblia se lhes parece como um livro fechado; a Palavra não penetra neles. Mas quando a Escritura e a fé salvadora abençoam a alma, então a glória do Espírito Santo aparece; pois foi Ele quem primeiro proporcionou a graça particular da Escritura, e então também aquela graça particular, da fé.

Esta é a razão porque os argumentos pela verdade da Escritura nunca beneficiam nada. Alguém a quem a fé é concedida, gradualmente aceitará a Escritura; se não agraciado com a fé, ele nunca aceitará a Escritura, embora fosse inundado com apologética. Certamente que é nossa a tarefa de assistir almas sedentas, explicar ou remover dificuldades, algumas vezes mesmo para silenciar um escarnecedor; mas fazer com que alguém não cristão tenha fé na Escritura encontra-se completamente além da capacidade humana.

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A fé e a Escritura pertencem-se juntamente; o Espírito Santo designou uma para a outra. A última é arranjada de tal forma a ser aceita pelo pecador que seja agraciado com a fé. E a fé é uma disposição, reconciliando completamente a consciência e a Escritura. Portanto o "testimonium Spiritus Sancti" deveria ser tomado, não no sentido racionalista ou Ético de ser a operação sobre uma certa disposição universal, mas como um testemunho real do Espírito Santo, quem habita na consciência e nos dá a experimentar a adaptação - como aquela do olho à cor - da Escritura à fé.”

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26 - Uma Razão Por que Deus Não se Comunica Visivelmente

Deus quer ser conhecido por nós em Sua essência

e caráter.

Por isso se comunica conosco em espírito e mediante a fé.

Ele nos leva a conhecê-lo pelo que vemos a passar a existir em nossa própria personalidade como fruto resultante da nossa comunhão espiritual com Ele, e segundo confirmação do testemunho das Escrituras.

Sabemos que Deus é...

longânimo por Ele nos tornar longânimos,

misericordioso por nos ensinar a ser misericordiosos,

amor, por nos habilitar a amar com o Seu amor.

E isto se aplica ao conhecimento de todos os Seus demais atributos, excetuando-se a Sua onisciência, onipresença e onipotência.

Qual proveito haveria, para este propósito, em que Deus se manifestasse a alguém apenas por lhe

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permitir ter visão de Sua pessoa ou audição do som da Sua voz?

É assim que chegamos a conhecer outros seres humanos?

Não necessitamos conviver com aqueles que desejamos conhecer, e andar com eles em nossa jornada para ter um vislumbre correto da sua personalidade e caráter?

Quanto mais isto se aplica a Deus se tivermos por alvo conhecê-lo de fato e de verdade.

“a quem, não havendo visto, amais; no qual, não vendo agora, mas crendo, exultais com alegria indizível e cheia de glória,” (I Pedro 1.8)

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27 - Oração de Confiança

Dá ouvidos, ó Deus, à minha oração; não te

escondas da minha súplica. Atende-me e responde-me; sinto-me perplexo e ando perturbado, por causa da opressão que há na Terra, pois o amor de muitos tem esfriado como tu dissestes que ocorreria em nossos dias, por causa da multiplicação da iniquidade. Quão poucos são os que buscam a paz que é decorrente da santidade, da busca de um coração puro e santo para contigo. Mesmo entre os que dizem que te conhecem há muitos que buscam a paz que é dada pelo mundo, e falam de revoltas, contendas e rebeliões, procurando estabelecer a paz na Terra pelo caminho da violência e da opressão. Eu todavia, continuarei esperando pela tua vinda, pois sei que o teu Reino não é deste mundo, assim como tu não és do mundo e todos aqueles que livraste dos grilhões do pecado e do diabo. Não quero a paz que o mundo dá, pois sempre negocia com a verdade e pede que renunciemos aos teus mandamentos. Quero a tua luz e não as trevas disfarçadas de justiça e de bondade; pois o nosso Inimigo se transfigura em anjo de luz, e os seus ministros em ministros de justiça.

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Livra-me e a todos os que te amam, do engano que nos afasta de ti e da vida que é segundo o evangelho. O teu Reino é justiça, paz e alegria no Espírito Santo. A tua paz demanda a conversão e santificação do coração. Não permita portanto que eu busque a paz e a justiça que são baratas, e que o mundo e o diabo oferecem, pois não exige transformação de caráter e santificação. Assim sempre te invocarei no dia da calamidade e não buscarei no homem e nem nos arranjos políticos da Terra a paz e a segurança verdadeiras e eternas que somente em ti podem ser encontradas. A ti somente confio todos os meus cuidados, pois sei que tu me susterás como me tens sustentado até aqui, para que eu nunca seja abalado. Estando firme na tua graça juntamente com todos os teus amados... te serviremos por todos os dias de nossas vidas aqui embaixo, até que sejamos recebidos na glória para a qual nos tens preparado. Amém.