FEIRA DE MAIO AZAMBUJA

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Maria do Céu Corça e o fado da rosa enjeitada PUB ECONOMIA 19 de Maio de 2011 O MIRANTE EMPREGOS VII CLASSIFICADOS XVI PUB A canção portuguesa vai ser rainha na próxima edição da Feira que anima a vila de 26 a 30 de Maio. A gastronomia, os toiros e os cavalos ajudam a fazer a festa 2 Fado e toiros na Feira de Maio de Azambuja João “Careca” lança morteiros a avisar que os toiros vão sair Durante a alvorada é lançada centena e meia de foguetes 3 História de uma cantadeira telefonista na fábrica de tomate de Azambuja 6 Manter a tradição a todo o custo O MIRANTE foi ouvir alguns empresários que acham que a Feira deve manter sempre o mesmo figurino, embora notem que a maneira de participar se vai alterando 4 Feira de Maio - Azambuja Primeira corrida da nova praça de toiros de Azambuja marcada para 9 de Julho A corrida de toiros à portuguesa que vai inaugurar a nova praça de Azambuja - que será baptizada com o nome do ganadeiro e veterinário Ortigão Costa - está marcada para a noite de 9 de Julho, sábado. Entre os cavaleiros do cartel estará Manuel Jor- ge de Oliveira, António Telles, Luís Rou- xinol, Moura Caetano, Filipe Gonçalves e Duarte Pinto. Em praça entrarão também os Forcados Amadores de Azambuja e os Forcados Ama- dores de Alcochete. O programa definitivo será confirmado mais próximo do evento. A organização está a tentar que o espec- táculo conte com seis toiros da ganadaria Ortigão Costa como forma de homenage- ar a ilustre figura que contribuiu para a construção da antiga praça de toiros de Azambuja. A obra da praça de toiros deverá ficar concluída no final de Junho. Este ano, por- que ainda decorrem as obras por altura da Feira de Maio, não será realizada a tradi- cional corrida da festa. A nova Praça de Toiros de Azambuja, que vai custar 600 mil euros, terá menos lugares do que a antiga, que já não apre- sentava condições para a realização de espectáculos e foi interditada. Em vez dos 2800 lugares o novo espaço contará apenas com 1800, segundo informação que cons- ta na página oficial da Câmara Municipal de Azambuja.

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Maria do Céu Corça e o fado da rosa enjeitada CLASSIFICADOS XVI Durante a alvorada é lançada centena tomate de Azambuja 6 e meia de foguetes 3 História de uma cantadeira telefonista na fábrica de participar se vai alterando 4 19 de Maio de 2011 O MIRANTE foi ouvir alguns empresários que acham que a Feira deve manter sempre o mesmo figurino, embora notem que a maneira de Feira de Maio - Azambuja PUB PUB PUB

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Maria do Céu Corça e o fado da rosa enjeitada

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ECONOMIA

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19 de Maio de 2011O MIRANTE

EMPREGOS VII

CLASSIFICADOS XVI

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A canção portuguesa vai ser rainha na próxima edição da Feira que anima a vila de 26 a 30 de Maio. A gastronomia,

os toiros e os cavalos ajudam a fazer a festa 2

Fado e toiros na Feira de Maio de Azambuja

João “Careca” lança morteiros a avisar queos toiros vão sairDurante a alvorada é lançada centena e meia de foguetes 3

História de uma cantadeira telefonista na fábrica de tomate de Azambuja 6

Manter a tradição a todo o custoO MIRANTE foi ouvir alguns empresários que acham que a Feira deve manter sempre o mesmo fi gurino, embora notem que a maneira de participar se vai alterando 4

Feira de Maio - Azambuja

Primeira corrida da nova praça de toiros de Azambuja marcada para 9 de Julho

A corrida de toiros à portuguesa que vai inaugurar a nova praça de Azambuja - que será baptizada com o nome do ganadeiro e veterinário Ortigão Costa - está marcada para a noite de 9 de Julho, sábado. Entre os cavaleiros do cartel estará Manuel Jor-ge de Oliveira, António Telles, Luís Rou-

xinol, Moura Caetano, Filipe Gonçalves e Duarte Pinto.

Em praça entrarão também os Forcados Amadores de Azambuja e os Forcados Ama-dores de Alcochete. O programa definitivo será confirmado mais próximo do evento.

A organização está a tentar que o espec-táculo conte com seis toiros da ganadaria Ortigão Costa como forma de homenage-ar a ilustre figura que contribuiu para a construção da antiga praça de toiros de Azambuja.

A obra da praça de toiros deverá ficar

concluída no final de Junho. Este ano, por-que ainda decorrem as obras por altura da Feira de Maio, não será realizada a tradi-cional corrida da festa.

A nova Praça de Toiros de Azambuja, que vai custar 600 mil euros, terá menos lugares do que a antiga, que já não apre-sentava condições para a realização de espectáculos e foi interditada. Em vez dos 2800 lugares o novo espaço contará apenas com 1800, segundo informação que cons-ta na página oficial da Câmara Municipal de Azambuja.

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Fado e toiros na Feira de Maio de Azambuja Festa arranca na quinta-feira, 26 de Maio, e só termina na segunda, dia 30A canção portuguesa vai ser rainha na próxima edição da Feira de Maio de Azambuja - que anima a vila de 26 a 30 de Maio. A gastronomia, os toiros e os cavalos ajudam a fazer a festa.

O fadista Marco Rodrigues e o grupo Deolinda são os cabeças de cartaz da centenária Feira de Maio de Azam-buja que decorre de 26 a 30 de Maio e vai trazer música, gastronomia, toiros e cavalos (ver caixas) à vila. O espectáculo com Marco Rodrigues está marcado pa-ra 26 de Maio, quinta-feira, à meia-noite, no Páteo do Valverde. No sábado, 28 de Maio, o destaque vai para a actuação do grupo Deolinda, à mesma hora, junto à Escola Secundária.

A quinta-feira, 26 de Maio, dia das ter-túlias, começa com uma demonstração da confecção do torricado, às 11h30, na Praça do Município. No Campo da Feira, a “Praça das Freguesias” apresenta dois pratos: gastronomia regional e a anima-ção artística típica de cada uma das nove freguesias do concelho de Azambuja. A

variedade é grande e inclui folclore, ban-das e danças de salão.

No recinto estarão, também, os pavi-lhões das Actividades Económicas e do Artesanato “Artes e Ofícios”. As tertúlias particulares, a ornamentação castiça de fachadas e janelas tornam a feira num evento genuíno e único.

O desfile das tertúlias pelas ruas da vi-la acontece às 16h00 de quinta-feira. Às 17h00 é inaugurada oficialmente a feira com a colaboração da Fanfarra da Associa-ção dos Bombeiros Voluntários de Azam-buja, campinos e elementos das tertúlias na Praça do Município. Meia hora depois são inaugurados os Pavilhões do Artesa-nato, Turismo e Actividades Económicas.

Às 21h00 o fado vadio visita das tertúlias. Na manhã de domingo, pelas 09h30,

ocorre o momento mais solene da feira, com a tradicional homenagem ao campi-no na Praça do Município. Este ano é ho-menageado Victor Manuel Guerreiro da Silva. Será entregue o pampilho de hon-ra gravado com com o nome de Amadeu Valada da Silva “Casca d’Alhos”.

A encerrar as festividades, na segunda--feira, 30 de Maio, os alunos do 1º Ciclo do Ensino Básico do concelho vão encher as ruas da vila com muita animação e ale-gria. A última largada, ao fim da tarde, e um fogo-de-artifício à meia-noite coloca-rão o ponto final na Feira de Maio 2011.

Largadas, mesa da tortura e

provas equestresA primeira entrada de toiros conduzi-

dos por campinos nas ruas da vila, uma das grandes atracções da Feira de Maio de Azambuja, está marcada para quinta--feira, 26, às 19h00.

Para o início da noite de sexta-feira, 27 de Maio, está reservado um dos momen-tos altos da festa. O desfile dos campinos com o gado à luz de archotes pelas ruas principais, seguido de uma emocionan-te largada de toiros nocturna, às 22h00. No sábado a entrada de toiros arranca às 18h30. No domingo as largadas aconte-cem às 10h30 e na segunda-feira às 18h30.

A mesa da tortura, prova de resistên-cia e bravura, vai decorrer quinta-feira à 1h30 no largo do município, e regressa novamente às 2h00 de sábado. No sábado as actividades com éguas, condução de cabrestos e campinos arrancam às 11h00 no terreiro de actividades equestres, na

várzea do Valverde. Há animação de rua, às 20h30, com romaria a cavalo. No do-mingo, às 22h00, decorre o espectáculo equestre “Lusitânia”, no Páteo Valver-de, e na segunda-feira, às 15h30, há aula prática de toureio no terreiro das activi-dades equestres.

Na quinta-feira às 14h30 haverá de-monstração de uma “Ferra Antiga” no Largo do Rossio. A vacada inicia-se às 15h00 no mesmo sítio. Na sexta-feira, 27 de Maio, um toureio a burro vai animar a praça do município, às 15h30. Segue-se, às 18h00, uma homenagem na Poisada do Campino a José Pereira da Silva “Zé Pau Preto” pela dedicação e colaboração na Feira de Maio Poisada do Campino.

No sábado, dia dos cavalos, a manhã começa às 9h30 com romagem aos ce-mitérios à campas de Georgino Rodri-gues “Falcão”, António José Correia da Silva “Ferrobico” e João Batista Amen-doeira e João Diniz (Azambuja), à cam-pa de Inocêncio Carrilho Lopes (Torres Vedras) e campa de José Tavares (Vila Franca de Xira).

Sardinha gratuita, pão e vinho

A partir da meia noite de sexta--feira, dia 27 de Maio, há distribuição gratuita de sardinha assada, pão e vi-nho em diversos locais da vila - um dos momentos altos de convívio na Feira de Maio. Os postos de distribui-ção funcionam no Largo do Rossio, Largo da Fonte de Santo António, Praça do Município, Largo de Pal-mela, Largo dos Pescadores e Largo Estátua ao Bombeiro.

Pela noite dentro seguem os ar-raiais até ao romper do dia no Largo do Rossio com o conjunto musical “Geração XXI” e no Largo de Palmela com o grupo “Antecipação”. O Largo da Fonte de Santo António e o Largo dos Pescadores terá o tradicional pro-grama de fado vadio com actuação iti-nerante dos grupos: Bandinha da Ale-gria, Xaral’s Dixie e Groove da Villa.

Mês da Cultura Tauromáquica soma e segue

Dois toiros vão ser largados na Vár-zea do Valverde, na sexta-feira, 20 de Maio, no âmbito do XIII Mês da Cul-tura Tauromáquica, em Azambuja, que arrancou a 7 de Maio e culmina como é tradição com mais uma edição da Feira de Maio, que decorre de 26 a 30 de Maio.

O dia 21 de Maio será dedicado a ac-tividades taurinas. Logo pelas 9h30 rea-liza-se o tradicional cortejo de campinos com cabrestos e também de muitos ca-valeiros e amazonas pelas ruas da vila.

Já na Várzea do Valverde, durante a manhã, terão lugar provas de cam-pinos (condução de cabrestos e do boi da guia e uma picaria para campinos e amadores). À tarde decorrerá uma aula prática da Escola de Toureio de Azam-buja e um treino do Grupo de Forcados Amadores de Azambuja. Para as 18h30 está marcada uma largada com dois toiros, que serão recolhidos a cavalo.

No dia 25, quarta-feira, abrem-se as portas do Auditório Municipal - Páteo Valverde para a exibição do filme “As nossas raízes”, às 21h30. À semelhan-ça das doze anteriores edições o Mês da Cultura Tauromáquica culmina em grande com a centenária Feira de Maio de Azambuja.

O desfile dos campinos com o gado à luz de archotes pelas ruas principais, seguido de uma emocionante largada de toiros nocturna, às 22h00

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João Pereira da Silva - João “Careca” para os amigos – lança foguetes à alvorada e morteiros e super-morteiros a que chama “canhões” para avisar que os toiros vão sair à rua na Feira de Maio de Azambuja.

Um morteiro estala para avisar que o toiro vai sair à rua. É assim todos os anos nas largadas que animam a tra-dicional Feira de Maio de Azambuja. O mestre da arte pirotécnica chama-se João Pereira da Silva mas ninguém o conhece por este nome. Para além da alcunha que herdou de família, João Pau Preto (já ao pai e ao avô paterno chamavam assim por serem morenos), é conhecido entre os amigos por João “Careca”.

“Perdi o cabelo todo aos 13 anos, inex-plicavelmente. Os meus pais ainda ten-taram um tratamento em Espanha mas sem sucesso. Na adolescência sofri um pouco com aquilo mas rapidamente ul-trapassei esse trauma”, diz.

É João “Careca”, 59 anos, que garante as alvoradas nos dias da feira. A partir das 8h00 só quem tem sono pesado dorme em Azambuja. As queixas surgem em tom de brincadeira. “Dizem-me: «Oh João, acordaste-nos cedo!»”. Em cada manhã são lançados 130 a 150 foguetes. João Pereira da Silva tem um ajudante que lhe passa cada um dos foguetes que vai lançando. Para incendiá-los utiliza uma mecha feita de um saco de serapilheira enrolado que se mantém acesa.

Três a quatro segundos é quanto de-mora cada foguete a disparar no céu. “Incendeia-se o cartucho que quando sentimos que tem força suficiente para subir largamos”, descreve.

Há dois anos um foguete não quis su-bir. O calor já estava a chegar aos dedos quando João Pereira da Silva o fez reben-tar no chão de forma segura. Uma outra vez lançou um foguete que não subiu e seguiu pela rua dos campinos. Só parou quando bateu numa parede. “Ninguém

ficou ferido”, conta. O “canhão”, mais estridente que o fo-

guete, ouve-se para a entrada de toiros, que passam a grande velocidade do Pá-tio do Barros para os curros. O primeiro morteiro solta-se para avisar que dentro de segundos vão sair dois animais. Um para o Largo dos Bombeiros e outro pa-ra o Rossio. Para anunciar a entrada do terceiro toiro, para a zona da Pastelaria Favorita, solta-se mais um. E segue-se outro morteiro para o toiro para o lar-go da câmara. João Pereira da Silva, por esta altura a acompanhar a distribuição dos toiros no largo do município, recebe a informação por telemóvel para saber quando poderá anunciar o toiro que fi-cará na zona dos curros (junto à Caixa Geral de Depósitos). Quando não exis-tiam telefones portáteis era preciso cor-rer, muito, para dar a indicação na hora certa. Na altura eram largados apenas três toiros. Hoje são cinco.

Ao domingo, dia de maior movimento e mais barulho, usa um canhão em vez de um morteiro nas largadas para que o aviso seja sentido em todo o recinto. Quando os toiros são recolhidos uma dúzia de canhões avisam que a passa-gem está livre.

João Pereira da Silva tomou as rédeas das artes da pirotecnica na Feira de Maio em 1976 quando o anterior encarregado da tarefa desistiu. Tem uma licença (nº 3868) que comprova que está tecnica-mente habilitado para o lançamento e queima de outros fogos de artifício. Com-bateu no Ultramar (Angola – 1972 - 1974) mas fugiu sempre das armas mesmo em cenário de guerra.

É divorciado e tem dois filhos. A ne-ta, de oito meses, vai assistir à primeira feira. Desde que os filhos nasceram João Pereira da Silva, natural de Azambuja, apaixonado pela terra e pelas suas gen-tes, deixou de “brincar” com os toiros nas largadas. O peso da responsabilida-de impediu-o de correr riscos. “Ganhei juízo”, diz entre gargalhadas o motoris-ta de transportes colectivos da Câmara Municipal de Azambuja.

João “Careca” lança morteiros para avisar que os toiros vão sair à ruaDurante a alvorada, às oito da manhã, é lançada centena e meia de foguetes

Reformou-se em Abril. Como funcio-nário da autarquia por alturas de Abril e Maio ia ajudar a fazer e montar as tran-queiras com o auxílio do carpinteiro. Antes de ser funcionário público traba-lhou nas obras, foi padeiro e bombeiro voluntário. Faz parte dos corpos sociais da Poisada do Campino e é quem abre a porta dos curros na praça de toiros que está em obras.

Para João Pereira da Silva a Feira de

Maio não se faz só de foguetes, mortei-ros e canhões. Há sardinha assada, pão e vinho na tertúlia familiar. Ao domin-go há ensopada de enguias por tradição. Às vezes, no final da feira, participa no lançamento do fogo de artifício que en-cerra a festa. “Já lá vai o tempo em que era preciso acender cada um dos rasti-lhos. Hoje é tudo automático. Às vezes carrego no botão mas não tem a mesma graça”, sentencia.

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Manter a tradição a todo o custoHá comerciantes que optam por dar visibilidade aos seus negócios durante a Feira de Maio. Há outros, principalmente os da restauração, para quem a Feira significa um pouco mais de dinheiro em caixa. E há também aqueles que são obrigados a encerrar e a ceder

o seu espaço de trabalho para amigos e familiares que querem ter um lugar privilegiado sobre o que se passa nas ruas. Para o público em geral a Feira deve manter sempre o mesmo figurino, embora alguns notem que a maneira de participar dos cidadãos se vai alterando.

Mário Simões, Consultor Imobiliário, 41 anos, Azambuja

“Se alterarem formato da festa estragam”

Para Mário Simões a tradicional Fei-ra de Maio de Azambuja deve continuar com o mesmo formato. Largadas de toi-ros, sardinhada na sexta-feira e concerto no sábado à noite são a receita do suces-so. “A feira é um ex-libris para a vila na qual não devemos mexer. Se alterarmos estragamos o formato”, afirma.

Consultor imobiliário da Remax Chal-lenger de Azambuja, Mário Simões vai ter, à semelhança de outros anos, um stand no salão de exposições. Esta é uma forma de divulgação da empresa. “A fei-ra não serve para fazermos negócios mas sim para trocarmos contactos. Durante os cinco dias de festas milhares de pessoas visitam Azambuja e tomam contacto com os imóveis que temos em lista”, realça.

Mário Simões não é grande adepto de largadas. Prefere ver os toiros do lado de trás das tronqueiras. O facto de não ter nascido no Ribatejo influencia, na sua opinião, a sua falta de aficion. “Gosto mais do convívio com as pessoas e visitar as tertúlias”, diz.

Luís Murta, comerciante, 40 anos, Azambuja

Facturação aumenta nos dias de festa

Para Luís Murta os cinco dias em que decorre a Feira de Maio são “mui-to” vantajosos para o seu negócio. Com um café/restaurante na rua principal da vila onde se realiza a festa são mui-tos os visitantes que entram no seu es-tabelecimento. “O volume de negócio aumenta sempre durante os dias de festa”, explica.

O empresário do ramo da restaura-ção opta por não ter stand no pavilhão de negócios devido à falta de tempo. “Eu já mal tenho tempo para estar aqui no café quanto mais ter um espaço na feira. Não compensa”, reflecte. Luís Murta costuma visitar a feira sobretu-do para ver as novidades mas também para rever os amigos que não conse-gue ver com tanta frequência durante o ano inteiro e conviver.

Como não cresceu em Azambuja, o empresário garante que não sente gran-de fascínio pela festa brava apesar de ver as largadas. Na sua opinião a festa deve manter-se no formato habitual sendo fiel às tradições.

Rui Leitão, empregado balcão, 35 anos, Azambuja

Largadas não se deviam realizar à hora do trabalho

Nos dias da feira vende-se um pou-co mais mas a loja onde Rui Leitão tra-balha, Peças de Eleição, ligada ao ra-

mo automóvel não ganha muito com a tradicional festa. A loja não vai estar representada em nenhum stand da feira porque, diz, não compensa. Durante as largadas de toiros têm vista privilegiada sobre o espectáculo uma vez que este se realiza à porta do estabelecimento onde trabalha.

Amante da festa brava e das tradições Rui Leitão defende a continuidade da Feira de Maio em Azambuja. “Sempre me lembro desta feira e acho que devem fazer um esforço por preservar esta tra-dição tão antiga no concelho”, afirma. O empregado de balcão só lamenta que as largadas se realizem à hora do tra-balho. “Não consigo ver tão bem como gostaria”, diz.

Rui Leitão gosta de ver largadas mas não vai brincar. Há uns anos apanhou um susto em Alenquer que jurou para nunca mais. “Não fui colhido mas qua-se porque as pessoas colocam-se mesmo em cima das tronqueiras e depois quem está dentro do recinto quer fugir e não consegue”, alerta.

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Daniela Duarte, 31 anos, empregada de escritório, Casais da Alagoa

Tradições devem ser preservadas e mostrar aos jovens como se vivia antigamente

Apesar de não ser muito aficionada Daniela Duarte considera que a vila de Azambuja deve continuar a preservar a tradição para mostrar aos mais jovens como se vivia antigamente. “Já existem muitas diferenças com a vida há trinta anos”, diz. Daniela Duarte costuma visi-tar a feira sobretudo ao fim-de-semana. Nesses dias aproveita para se divertir com os amigos.

A empregada de escritório considera que também nas tasquinhas as pessoas estão mais individualistas. “Hoje ficam apenas numa tasquinha, normalmente na dos amigos ou conhecidos, e não saem dali durante os cinco dias. Antes as pes-soas circulavam por todas as tasquinhas e não havia confusões. Acho que as pes-soas estão mais individualistas”, defende.

Funcionária da agência de seguros Go-te, Daniela Duarte considera que a Feira de Maio serve apenas para dar a conhe-cer a empresa não sendo nestes dias de festa que fecham negócios. Daniela gosta de ver largadas mas não muito perto. A jovem defende as tradições e a continui-dade desta festa considerada por muitos como uma festa castiça.

Suzete Varino, 60 anos, Florista, Azambuja

“Enquanto os toiros estão na rua estou em aflição”

O que Suzete Varino menos gosta na Feira de Maio são as largadas de toiros. A florista não consegue esconder o me-do ao ver os toiros na rua. As largadas passam à porta do seu estabelecimento e a florista conta que vê sempre mui-ta gente nas tronqueiras. “Quem está dentro do recinto e quer fugir do toiro não tem como fazer porque as pesso-as estão penduradas nas tronqueiras. Enquanto os toiros estão na rua estou sempre em aflição”, confessa.

É o movimento e o colorido que a festa proporciona que Suzete Varino mais aprecia. Os cinco dias de festa servem para conviver com os amigos e rever conhecidos. A comerciante de-fende a preservação das tradições. “A maioria dos jovens desconhece como era a vida há cinquenta anos e é im-portante mostrarmos-lhes esse lado da nossa história”, afirma.

Apesar de gostar muito da Feira de Maio Suzete tem noção que esta pou-co contribui para o aumento de vendas do seu negócio. “As pessoas quando es-tão em crise financeira, como é o caso, cortam nas coisas mais supérfluas e, in-felizmente, as flores são considerados como um bem supérfluo”, sublinha.

Sandra Gomes, 33 anos, cabeleireira, Azambuja

“Amigos invadem salão para assistirem às largadas das janelas”

Quanto mais longe estiver de toiros e cavalos melhor para Sandra Gomes. A ca-beleireira que tem pavor de toiros casou com um aficionado de gema que adora tudo o que esteja relacionado com a festa brava. As várias janelas do seu cabeleireiro situado na rua central onde se realizam as largadas são uma tentação para os amigos que vêm de Lisboa, propositadamente, pa-ra assistir ao espectáculo. “Na sexta-feira tenho que fechar o salão mais cedo porque os meus amigos e marido aparecem aí pa-ra assistir às largadas e para me sujarem o estabelecimento”, confessa entre risos.

Desde que foi pai que o marido deixou de participar em largadas mas Sandra Go-mes está sempre com o coração nas mãos por causa dos amigos. A cabeleireira não dispensa o concerto de sábado à noite e a sardinhada na noite anterior. “Gosto da luz e boa disposição que a feira apresenta durante dos dias em que se realiza”.

Daniela Duarte considera que a vila de Azambuja deve continuar a preservar a tradição para mostrar aos mais jovens como se vivia antigamente. “Já existem muitas diferenças com a vida há trinta anos”

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| O MIRANTE19 Maio 201106 FEIRA DE MAIO DE AZAMBUJA|

A noite de Lisboa perdeu uma fadista. A fábrica de transformação de tomate de Azambuja ganhou uma telefonista. Maria do Céu Corça, valor reconhecido na terra, viu a sua carreira promissora silenciada pelos brandos costumes de então. O destino não lhe calou a voz e as “fadistices” continuam a fazer parte da sua vida.

Ana Santiago

A rapariga, telefonista na fábrica de transformação de tomate de Azam-buja, cantava Rosa Enjeitada: “Sou essa rosa, caprichosa, sem ser má/ Flor de al-ma pura e de ternura ao Deus dará/ Que viu um dia, que sentia um grande amor/ E de paixão o coração estalar de dor”. E a mãe interrogava-se. Mas porquê esta música, porquê, sobre uma rosa enjeita-da “sem mãe sem pão sem ter nada?”.

O tema vibrava no íntimo de Ma-ria do Céu Corça - “Afinal desventu-rada quem és tu?” – mas a rapariga acabou por deixar levar-se na música dos brandos costumes de então. “Na-quela altura era muito feio que uma rapariga fosse para Lisboa cantar o fa-do”, diz não totalmente conformada, à distância de várias décadas, a mulher que tem o coração em forma da rosa, tema imortalizado pela voz de D. Ma-

Maria do Céu Corça e o eterno fado da rosa enjeitada História de uma cantadeira telefonista na fábrica de tomate de Azambuja

ria Teresa de Noronha, o seu ídolo de sempre no fado.

Há quem diga que o timbre de Ma-ria do Céu Corça, hoje com 67 anos, ca-sada e com dois filhos, se assemelha à voz da aristocrata com alma de fadista. Os primeiros quatro discos (singles) da “diva” Maria Teresa de Noronha, foram oferecidos a Maria do Céu Corça por Joaquim Ramos, actual presidente da Câmara Municipal de Azambuja, que para a fadista amadora continua a ser o “Quitó”.

São incontáveis as vezes que Maria do Céu Corça lançou a agulha no gira--discos para ouvir a voz que a inspirou. “Só canto fados dela”, diz com orgu-lho. O irmão é um poeta especial que faz questão de também interpretar. A letra que escreveu dedicada à mãe es-tá no repertório (ver caixa) da fadista. Tudo começou há 52 anos nas récitas do grupo de teatro no salão paroquial da terra. Cantava Simone de Oliveira, Maria de Fátima Bravo, Lurdes Resen-de e Madalena Iglesias. O fado surgiu alguns anos depois, em 1965. Tinha 21 anos. O à vontade nas lides do fado levaram-na a ser convidada, como ou-tros fadistas da zona, para cantar nos arredores: Alenquer, Carregado e Vi-la Franca de Xira. A acompanhar: um acordeonista cego.

Só quando um chefe da fábrica e a esposa a convidaram para uma noite de fados na “Parreirinha de Alfama”, em Lisboa, Maria do Céu Corça interpre-tou um fado tendo as guitarras como cúmplices. Nesse dia conheceu Maria da Fé que tinha chegado do Porto e estava a iniciar carreira. O seu destino foi diferente. Provavelmente Maria do Céu Corça passou ao lado de uma

grande carreira no fado. “Cheguei a fa-lar nisso mas nem os meus pais nem os meus irmãos me incentivaram. Gosta-vam de ouvir mas queriam que ficasse por perto”, diz a fadista que ajuda a alegrar as noites da Feira de Maio nos apontamentos de fado vadio que se or-ganizam do Largo dos Pescadores, no Largo de Santo António e pelas tertú-lias da vila.

As letras das músicas “Rosa Enjei-tada” e “Cavalo Russo, com letra de um poeta da terra (ver caixa), foram decoradas de tanto as ouvir em disco e na rádio. Em 1965 teve o privilégio de cantar ao lado de Maria Teresa de Noronha numa festa de beneficência. Ainda era o Valverde uma quinta.

Maria do Céu Corça não aprendeu a cantar na escola mas é uma entusias-ta do trabalho que tem desenvolvido a Escola de Fado de Azambuja, secção do Centro Cultural Azambujense, que tem trabalhado para dar a conhecer os novos talentos.

Tem uma cassete gravada e integra um grupo de fadistas numa compilação em CD. Entrou no filme sobre Azam-buja. A cura de um linfoma custou-lhe parte das cordas vocais mas não a fez perder o amor ao fado.

“Cavalo Russo” nasceu em Azambuja

A letra da música sobre o Cavalo Russo “que se chamava gingão” nas-ceu em Azambuja e é da autoria de Paulo José de Carvalho Vidal, um dos filhos do patrão do pai de Maria do Céu Corça, que foi feitor da Casa Vidal du-rante mais de meio século. “Foi o meu pai que amansou esse cavalo russo”, diz com orgulho a fadista natural de Azambuja, onde o tema dos toiros an-da de mãos dadas com o fado. A mãe ia ajudar a fazer o enxoval das filhas e o pai ajudou a criar os filhos quando a senhora Vidal enviuvou. A ligação com a família continua.

“Eu tive um cavalo russo/ Que se cha-mava Gingão/ De uma capona bravia que eu queria sentia/ Como um bom ir-mão/ Era o cavalo mais lindo, que nasceu no Ribatejo/ Eu nunca tive outro assim, tão manso que enfim/ Ainda o desejo! / Saltava que era um primor/ Tudo fazia com graça/ Era bom a tourear a derribar sem vacilar/ No campo ou na praça/ Cor-ria lebres com gosto/ E nenhum galgo o passava/ Quando o viam a correr e com prazer e sem sofrer/ A todos pasmava!/ A brincar lá na lezíria, podiam admirar! / A brincar lá na lezíria, podiam admi-rar! / Ainda parece que o vejo à beira do Tejo, a correr a saltar/ Foi um toiro que o matou,/ num dia de infelicidade/ eu nunca mais montei nem sei se o farei, /tal é a saudade”.

Agora choro em silêncio

Foi a chorar que eu nasci/ Mas muito cedo aprendi/ A rir com a minha mãe/ Se a tivesse aqui agora/ Ria sempre a toda a hora/ Não sei rir com mais nin-guém. / Mas quis Deus que ela partisse/ No dia triste e não disse/ Quantas sau-dade deixou/ Partiu nas asas do vento/ num feliz contentamento/ Foi um anjo que a levou./ Agora choro em segredo/ Sinto até às vezes medo/ de não ver mais, não ter esperança/ Se aqui esti-vesses mãe querida/ eu só riria na vi-da/ Voltaria a ser criança.

António Pedro Corça

As letras das músicas “Rosa Enjeitada” e “Cavalo Russo, com letra de um poeta da terra (ver caixa), foram decoradas de tanto as ouvir em disco e na rádio. Em 1965 teve o privilégio de cantar ao lado de Maria Teresa de Noronha numa festa de beneficência